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No final do século XX, uma das maiores preocupações dos interessados na questão indígena e

ra a perspectiva de extinção do índio brasileiro, cuja população, estimada em alguns milhõe


no século XVI, reduzira-se a menos de 120.000 indivíduos na década de 1970. A declina
nte curva demográfica mostrou, porém, a partir da década de 1980, uma tendência geral de
reversão que, embora não se verifique em todos os grupos étnicos, já permitiu deslocar
o foco de atenção para a situação social, política e econômica dos índios, bem como para o
or de sua contribuição na preservação ambiental.
Entende-se por índio todo indivíduo pertencente aos contingentes humanos que se mantêm
vinculados à tradição pré-colombiana por costumes, hábitos ou identificação étnica e que,
nseqüência disso, apresenta um processo diferenciado de adaptação à sociedade nacional. Em
sentido mais amplo, índio é todo indivíduo reconhecido como membro por uma comunidade
que se identifica como diversa da sociedade brasileira e que é considerado perten
cente a uma comunidade indígena pela população regional brasileira com a qual se acha
em contato.
A caracterização do índio brasileiro do fim do século XX, porém, exige novas abordagens, e
m função de alterações no contexto social e político. Como resultado da mobilização da comu
ade indígena, bem como de organizações políticas e civis convencidas da importância da def
esa dos direitos dos índios para o futuro do país, a constituição brasileira de 1988 tro
uxe duas inovações conceituais importantes. Em primeiro lugar, abandonou-se a perspe
ctiva assimilacionista que sempre marcou a tradição constitucional brasileira e a po
lítica indigenista oficial. A principal medida nesse sentido foi o fim da atribuição d
e direitos civis com base em critérios de aculturação dos índios. Além disso, o direito à p
sse da terra foi reconhecido como "originário", derivado do fato histórico de terem
sido os índios os primeiros ocupantes do Brasil, e não em atenção à necessidade de proteção
r serem frágeis.
A importância das novas abordagens da questão indígena no fim do século XX reside não só na
identificação do índio com outras minorias em seu direito à diferença, mas também em sua ín
a associação com a questão ambiental.
Origem das populações pré-colombianas.
A hipótese da autoctonia do homem americano está hoje definitivamente afastada pelos
seguidores das duas correntes teóricas que forneceram as contribuições mais important
es sobre o tema. Segundo Ales Hrdlicka, apoiado por outros autores da escola ame
ricana (William Henry Holmes, Alfred Louis Kroeber, Franz Boas, Clark Wissler, e
ntre outros), por Paul Rivet e outros adeptos da escola histórico-culturalista fra
ncesa, o continente americano foi povoado por grupos humanos alóctones, que nele p
enetraram há cerca de dez mil anos, no período correspondente ao neolítico europeu, ou
seja, em pleno holoceno.
Para Hrdlicka, povos mongolóides penetraram em terras americanas em ondas migratória
s sucessivas, pelo estreito de Bering. Rivet admite a possibilidade de quatro gr
andes deslocamentos humanos: a migração mongolóide, pelo estreito de Bering; a migração ma
laio-polinésia, por mar, para a costa oeste da América do Sul; a migração australiana, q
ue teria alcançado a Patagônia pelo pólo sul; e a migração mais recente, dos esquimós, liga
a ao ciclo ártico. Apesar das evidências dessas migrações, demonstradas por pesquisas an
tropológicas, arqueológicas e lingüísticas, as culturas desenvolvidas na América apresenta
m-se, no entanto, tão distanciadas das culturas asiáticas que é possível encará-las como p
roduto da experiência acumulada no novo habitat.
Populações tribais do Brasil à época do descobrimento.
As informações mais precisas sobre os grupos tribais que habitavam o Brasil à época do d
escobrimento, chamados genericamente tupinambás, e sobre as primeiras iniciativas
colonizadoras dizem respeito às terras litorâneas, onde primeiro se fixou o europeu.
Crônicas e relatos dos séculos XVI e XVII são ricos em informações a respeito dos tupinam
bás, o que permitiu reconstruir, com apreciável rigor, elementos de sua cultura e or
ganização social, como na obra de Florestan Fernandes A organização social dos tupinambás
(1949). Quanto às populações que habitavam o interior, de penetração penosa e arriscada, a
s notícias são escassas e imprecisas.
Tupinambás. Cronistas e viajantes do século XVI denominaram tupinambás grupos indígenas
distintos, do tronco língüístico tupi, que habitavam o litoral do Rio de Janeiro, Bahi
a, Pará, Maranhão e ilha de Tupinambarana, na foz do rio Madeira, no Amazonas. Apres
entavam traços culturais básicos comuns, como revela o clássico Tratado descritivo do
Brasil em 1587, de Gabriel Soares de Sousa. Os do Rio de Janeiro ocupavam grande
parte do litoral e, para o interior, penetravam cem quilômetros na altura de Angr
a dos Reis e tinham aldeias por cerca de quarenta quilômetros de terras ao longo d
o rio Paraíba do Sul.
Desde 1519 os tupinambás mantiveram relações amistosas com os portugueses e, a partir
de 1525, estabeleceram comércio com os franceses. Segundo Anchieta, em 1531 repudi
aram a amizade dos lusos, "em virtude dos agravos recebidos". Empenharam-se então
em guerras constantes, que tiveram conseqüências desastrosas. O último foco de resistênc
ia indígena foi desbaratado em Cabo Frio, em 1574, com número incalculável de mortos e
cerca de dez mil prisioneiros. Migraram então em todas as direções. No rio dos Patos,
no Sul, entraram em conflito com os carijós, grupo que habitava entre a barra de
Cananéia e o Rio Grande do Sul. No sertão, formaram novos aldeamentos e se tornaram
conhecidos como ararapes. Na terceira década do século XVII viviam no rio São Francisc
o, junto aos amoipiras, ramo tupinambá segregado. No fim desse século, praticamente
desapareceram dos registros.
Os tupinambás da Bahia viviam no litoral, entre Ilhéus e a foz do São Francisco, adent
rando quase 500km pelo sertão. Também empenhavam-se em lutas constantes com grupos t
ribais vizinhos: pelo norte, com os caetés, distribuídos do São Francisco à Paraíba, e com
os potiguares, das costas da Paraíba e do Rio Grande do Norte; pelo sul, com os b
otocudos, oriundos do rio Caravelas, e os tupiniquins; pelo interior, com divers
os grupos tapuias e com os tupinas. Em 1567, oitenta mil índios estavam aldeados p
elos catequistas ou haviam sido escravizados.
Os sobreviventes perambulavam pelos sertões e, nessas caminhadas, juntaram-se aos
do Rio de Janeiro e a grupos que deixavam Pernambuco. Entre 1560 e 1580 dissemin
aram-se pelo Nordeste, ocupando terras desde a serra de Ibiapaba até afluentes do
rio Amazonas. Suas concentrações maiores eram Tapuitapera, Cumá e Caeté, no Maranhão. Pouc
o mais tarde, estabeleceram-se na ilha do Maranhão e fundaram aldeias por toda a r
egião do Amazonas, até 500km da foz.
Ao findar o século XVII, a colonização progressiva empreendida pelos europeus havia ba
nido definitivamente os tupinambás do litoral. A escala seguinte foi a ilha de Tup
inambarana, ocupada a partir de 1600 por contingente numeroso, que dali prossegu
iu para o interior, até atingir, em 1639, o rio Negro.
Em 1660, os jesuítas tentaram a catequese dos índios de Tupinambarana, seguindo a técn
ica usual de promover aldeamentos aos quais incorporavam índios de outros grupos,
como os poraioamas, os mojoaras, os pataruanas, os andirás, os areretus e os sapapés
. Em meados do século XVII já não existiam ali grupos tupinambás independentes e, ao fin
dar o século seguinte, já não causavam problemas aos novos donos das terras. Terminara
, para a história oficial, sua contribuição ao processo de formação da sociedade colonial
brasileira.
Goitacás, tupiniquins, guaianás e carajás.
Segundo Jean de Léry, no século XVI os goitacás habitavam a faixa litorânea situada entr
e o rio Paraíba do Sul e Macaé RJ. Por volta de 1630, os portugueses ocuparam suas t
erras e os sobreviventes foram aldeados pelos jesuítas. Na segunda metade do século
XIX, alguns remanescentes viviam nas proximidades de Campos dos Goitacases e Cab
o Frio.
Os domínios dos tupiniquins estendiam-se da enseada de Camamu até as vizinhanças do Es
pírito Santo. Hans Staden faz referências a grupos que tinham aldeias na zona costei
ra ao sul de Angra dos Reis. Aliados dos portugueses nos primeiros tempos da col
onização, desempenharam papel importante na expulsão dos franceses e na luta contra os
tupinambás.
Os índios guaianás habitavam, no século XVI, a capitania de São Vicente. Documentos anti
gos situam-nos no planalto de Piratininga, onde foi fundada a cidade de São Paulo.
Com inúmeros subgrupos, acredita-se que tenham sido os ancestrais dos índios cainga
ngues, que atualmente vivem em regiões do Paraná e de Santa Catarina.
Os carajás, que no século XVI ocupavam as terras situadas ao norte do domínio dos tupi
nambás, e de amplas regiões no sertão dos atuais estados de Minas Gerais, Goiás e Pará, vi
vem atualmente ao longo do rio Araguaia, desde Leopoldina MG até Conceição do Araguaia
PA. Divididos em vários subgrupos, têm a ilha do Bananal como um de seus redutos pr
incipais.
Tapuias.
O termo tapuia era empregado pelos índios tupinambás e pelos cronistas da época para d
esignar, de modo geral, grupos indígenas de fala não-tupi. Gabriel Soares de Sousa e
stendeu o nome a grupos que habitavam entre o Rio Grande do Sul e o rio da Prata
, provavelmente de língua chamada "tupi do sul". Pero de Magalhães Gândavo afirmou que
os tapuias do rio Maranhão apresentavam afinidades com os botocudos.
Fernão Cardim, em 1548, relacionou 76 tribos tapuias, citando, no entanto, a diver
sidade de línguas e cultura. Para Karl Friedrich Philipp von Martius, que os ident
ificou com os grupos de língua jê, o termo tapuia significa, em língua tupi, "os inimi
gos" ou "aqueles que moram a oeste". O termo não é mais usado pela etnologia brasile
ira em sentido classificatório.
Indígenas brasileiros no século XX.
A população indígena brasileira em 1990 era de aproximadamente 250.000 indivíduos, ou 0,
2% da população nacional, distribuídos em cerca de 200 povos que falavam mais de 170 lín
guas diferentes. Um mapeamento feito em 1988 registrou a existência de 82 áreas que
mantinham índios sem contato oficial com a sociedade nacional. A eles a constituição b
rasileira reconhece direitos originários e usufruto exclusivo (exceto do subsolo)
sobre oitenta milhões de hectares (cerca de dez por cento do território nacional). A
s terras são bens da União e se encontram em diversos estágios do processo de reconhec
imento oficial, que passa pelas etapas de identificação, delimitação, homologação e regular
zação.
A regularização das terras indígenas -- quase sempre situadas em regiões de imensas riqu
ezas naturais -- enfrenta toda sorte de dificuldades práticas, além daquelas imposta
s pela profusão de interesses em jogo, entre eles os de latifundiários, mineradoras,
madeireiras, posseiros, garimpeiros etc. A constituição reconhece o direito dos índio
s sobre as áreas por eles habitadas e também "as utilizadas para suas atividades pro
dutivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-es
tar e as necessárias para sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes
e tradições", mas o próprio estado tem interesse nas terras indígenas no caso de certos
projetos de desenvolvimento, abertura de estradas e construção de hidrelétricas.
Até 1990, menos de 14% das terras indígenas estavam totalmente regularizadas, pouco
mais de 20% tinham sido homologadas e menos de 13% delimitadas. O governo federa
l procurava dar prioridade ao reconhecimento das terras indígenas localizadas pert
o de fronteiras internacionais, como foi o caso da reserva dos ianomâmis, em Rorai
ma, perto da Venezuela, que tiveram uma área de 94.000km2 homologada em novembro d
e 1991. Os ianomâmis -- que em 1990 eram cerca de dez mil no Brasil e 15.000 na Ve
nezuela -- são um dos grupos indígenas mais primitivos do mundo. Na Venezuela, o gov
erno optou por deixar aos ianomâmis, de forma definitiva, a área de 83.000km2 (9,1%
do território nacional) que eles ocupam há centenas de anos, transformada em reserva
da biosfera e parque nacional.
Usos e costumes.
A maioria da população indígena do Brasil vive da agricultura, mas a coleta, a caça e a
pesca figuram também como importante atividade de subsistência. A tecnologia é rudimen
tar; como fonte de energia utilizam apenas a força humana e o fogo, já que não emprega
m tração animal nem energia hidráulica. O cultivo intensivo do solo em pouco tempo con
duz a seu esgotamento, obrigando à migração das populações em busca de terras férteis. A di
isão social do trabalho funda-se nos princípios básicos de sexo e idade, com tarefas b
em definidas.
Como em todas as culturas ágrafas, a estrutura social dos grupos indígenas do Brasil
tem como referência o sistema de parentesco consensualmente aceito. A unidade básic
a de agrupamento social é a família nuclear, isto é, pais e filhos, formada pelo casam
ento, união sancionada entre um homem e uma mulher, de acordo com critérios preferen
ciais e/ou impeditivos, constantes das normas do grupo. O casamento pode ser mon
ogâmico ou poligâmico.
Do ponto de vista demográfico, a maior parte dos povos indígenas brasileiros é formada
de microssociedades. Segundo dados coligidos em 1990 pelo Centro Ecumênico de Doc
umentação e Informação (CEDI), 84 povos indígenas brasileiros tinham uma população de até 2
divíduos; 45 tinham entre 200 e 500 indivíduos, e 30 entre 500 e 1.000, perfazendo u
m total de 77% dos povos com população inferior a mil indivíduos. Na faixa de mil a ci
nco mil indivíduos encontram-se 35 povos. Guajajaras, potiguares, xavantes e ianomâm
is são os povos cuja população, em 1990, estava entre cinco e dez mil indivíduos. Terena
s, macuxis, ticunas e caingangues tinham, cada um, entre dez e vinte mil indivíduo
s, e apenas os guaranis contavam com uma população de mais de vinte mil indivíduos. Em
várias cidades brasileiras, a população indígena é numericamente significativa e, na Amazô
ia, chega a ser majoritária em alguns municípios, como São Gabriel da Cachoeira, Tabat
inga, São Paulo de Olivença e Amaturá, no estado de Amazonas, e Normandia, em Roraima.
Formas de organização e representação.
A política propriamente indígena é autônoma e permanente. De forma fundamentalmente loca
l e descentralizada operam as instituições políticas tradicionais de cada povo, como a
Casa dos Homens, entre os caiapós, e o Conselho dos Velhos, entre os xavantes. Po
r isso, os indigenistas recomendam que as negociações e audiências com povos indígenas s
ejam sempre feitas na própria aldeia, de forma a preservar as instituições tradicionai
s desses povos.
Nas últimas décadas do século XX, começaram a surgir as organizações indígenas "registradas
cartório", reconhecidas constitucionalmente como partes legítimas para ingressar em
juízo em defesa dos direitos e interesses dos índios. Algumas eram organizações vincula
das a uma aldeia de certa etnia; outras, organizações com pretensões de representação inte
rlocal e regional. Freqüentemente, porém, essas organizações não-tradicionais eram vistas
pelas comunidades indígenas apenas como canais para tratar e receber recursos e se
rviços externos, num contexto de crise dos serviços de assistência oficial. O caso da
União Nacional Indígena (UNI), criada em 1979, é peculiar, pois desempenhou com eficácia
o papel de referência simbólica da indianidade genérica na conjuntura de democratização p
or que passou a sociedade brasileira e que culminou na elaboração da constituição de 198
8.
Política indigenista brasileira.
Desde a chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil, especialmente dos religio
sos jesuítas encarregados da catequese, os problemas ligados à integração do índio à socied
de em formação oscilou do extremo interesse ao total descaso. Durante a colônia e o im
pério, numerosos decretos, leis, cartas-régias etc. foram estabelecidos, embora rara
mente cumpridos. Em 20 de julho de 1910 foi criado o Serviço de Proteção aos Índios e Lo
calização dos Trabalhadores Nacionais. Seu objetivo era solucionar os graves conflit
os de posse da terra entre populações tribais e integrantes das frentes pioneiras de
ocupação.
A tônica dos ideais positivistas, apesar das dificuldades para fazê-los valer em rel
ação ao índio, conseguiu prevalecer na orientação imposta ao serviço por seu organizador e
rimeiro diretor, o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. O regulamento da lei
de criação do Serviço de Proteção aos Índios foi modificado por um decreto de 1911, que fix
u as bases da política indigenista a ser adotada no Brasil. Reconhecida como model
o pela XXXIX Conferência Internacional do Trabalho reunida em Genebra em 1956, tin
ha como pontos centrais o respeito à autodeterminação individual, no que se refere às ex
pectativas de desenvolvimento espontâneo de seus próprios padrões culturais, a proibição d
o desmembramento da família indígena e a proteção do patrimônio tribal, garantido por poss
e permanente e inalienável.
No primeiro meio século de vigência de uma política indigenista brasileira, registrara
m-se êxitos na pacificação dos chamados grupos hostis, atividade que atendia aos inter
esses da sociedade nacional em expansão, mas eram muitos os fracassos no que se re
fere à assistência aos grupos "pacificados". Sujeitos a epidemias avassaladoras resu
ltantes do contato com o homem branco, necessitados de meios que permitissem a r
acionalização de sua subsistência diante das novas necessidades criadas pelo contato e
, muitas vezes, pela mudança compulsória para habitats inteiramente diversos daquele
s aos quais estavam acostumados, muitos grupos tribais "pacificados" sofreram um
a drástica redução por morte de seus contingentes populacionais. Isso quando não foram s
umariamente extintos, como os 78 grupos mencionados por Darci Ribeiro na obra Cu
lturas e línguas indígenas do Brasil (1957), apesar do esforço de idealistas dedicados
a prestar assistência médica ao índio, como o médico sanitarista Noel Nutels, responsável
pela organização e funcionamento das Unidades Sanitárias Aéreas.
Em 1967 foi autorizada e no ano seguinte criou-se a Fundação Nacional do Índio (Funai)
, destinada a fundir num único organismo o Serviço de Proteção aos Índios, o Conselho Naci
onal de Proteção aos Índios (cuja criação data de 1939) e o Parque Indígena do Xingu.
Estudos antropológicos no Brasil.
A literatura sobre a exploração e a conquista do território brasileiro, desde o século X
VI, contém informações que permitem, descontados excessos provenientes da imaginação fanta
siosa e da falta de formação científica de cronistas, viajantes e missionários, o levant
amento histórico da cultura desses grupos e dos processos de mudança ocorridos depoi
s do contato com o homem branco.
Durante o século XIX o tema começou a ganhar feição científica. Nomes importantes desse pe
ríodo são os dos naturalistas estrangeiros em viagem ao Brasil, como Von Martius, Ka
rl von den Steinen e Max Schmidt, como também os dos brasileiros Sílvio Romero e Cou
to Magalhães. Na primeira metade do século XX, Nina Rodrigues, que estudou os contin
gentes negros do Brasil, seu discípulo Artur Ramos e Roquete Pinto foram outros no
mes de relevo da antropologia brasileira.
Destaca-se nesse período o alemão Curt Unkel, que em 1906 adotou o nome indígena de Cu
rt Nimuendaju, dedicado ao estudo de 31 grupos tribais em quarenta anos de perma
nência entre os silvícolas. Seus trabalhos sobre a organização social dos índios do tronco
lingüístico jê, publicados a partir de 1937 nos Estados Unidos, constituem a parte ma
is importante de sua obra, formada por mais de cinqüenta publicações e numerosos manus
critos inéditos, conservados no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Em 1937 Herbert Baldus, etnólogo e professor germano-brasileiro, publicou Ensaios
de etnologia brasileira, obra que trata principalmente do problema da aculturação in
dígena. Posteriormente, os trabalhos de Baldus voltaram-se para a preservação de cultu
ras tribais, envolvendo igualmente assuntos relacionados com a política indigenist
a brasileira.
Em meados do século XX surgiram trabalhos sobre o contato de culturas indígenas com
as chamadas subculturas rurais do interior do país, fundamentados nos estudos cien
tíficos de autores como Charles Wagley e Eduardo Galvão. Data também desse período a con
tribuição do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss ao conhecimento dos indígenas brasilei
os, expressa fundamentalmente na obra La Vie familiale et sociale des indiens na
mbikwara (1948; A vida familiar e social dos índios nhambiquaras) e Tristes tropiq
ues (1955; Tristes trópicos). Os trabalhos de Darci Ribeiro, organizador da seção de e
studos e pesquisas do extinto Serviço de Proteção aos Índios marcaram também a antropologi
a brasileira dessa época. Entre eles se inclui Religião e mitologia cadiueu (1950).
Depois de 1960 houve uma considerável mudança nas linhas teóricas adotadas pela antrop
ologia brasileira. Até então predominavam os chamados estudos culturalistas, que enf
atizavam os aspectos culturais das populações indígenas. Acompanhando a tendência manife
stada principalmente no Reino Unido e na França, antropólogos brasileiros dirigiram
as pesquisas no sentido de privilegiar o conceito de sociedade, endossando formu
lações da antropologia social.
O pioneiro desse tipo de abordagem foi Roberto Cardoso de Oliveira, que tomou co
mo ponto de partida os estudos africanistas de Georges Balandier, principalmente
as proposições contidas em Sociologie actuelle de l'Afrique noire (1955; Sociologia
cultural da África negra), onde o sociólogo francês esboça uma teoria do contato a part
ir da noção de "situação colonial". Cardoso de Oliveira endossou os princípios enunciados
por Balandier e lançou o conceito de "fricção inter-étnica" (contato entre grupos tribai
s e segmentos da sociedade brasileira). A necessidade de identificar na realidad
e do contato os fatores que melhor ilustram a oposição entre a ordem tribal e a orde
m nacional levou o autor a privilegiar a esfera política do relacionamento. Orient
ou-se posteriormente a caracterizar, no Brasil, os "centros de dominação", ou focos
irradiadores de comportamentos que a sociedade nacional pretende impor ao índio, c
omo forma de garantir os fins a que se propõe. Posteriormente, esse antropólogo form
ulou o conceito de "potencial de integração", como "aquelas características do sistema
interétnico que, presentes na situação de contato, poderão ser tomadas como elementos r
esponsáveis pela integração".
A linha teórica adotada por Cardoso de Oliveira, serviu como ponto de partida para
muitos antropólogos brasileiros. Alguns dos mais importantes nomes das gerações poste
riores de antropólogos são Júlio César Melatti e João Pacheco de Oliveira, entre outros. N
as últimas décadas do século XX o índio atraiu o interesse de antropólogos estrangeiros, c
omo o americano Anthony Seeger.
Autoria: Paulo Negri Filho

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