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Luiza Mahin foi uma Africana do século 19 que, ainda criança, foi sequestrada,
separada do Continente: viveu durante o segundo ciclo de escravidão no Brasil –
período no qual, em se falando da região de onde os traficantes de Africanos
exploravam seu lucro, compreendia toda a região denominada Costa da Mina –
Gana, Togo, Benin e Nigéria – por vezes, Costa do Ouro, ou ainda, Costa da Guiné –
tendo sido escravizada na Bahia; comprou sua alforria por volta de 1812.
Sobre esse mito em torno de Luiza Mahin, Lélia Gonzalez chega mesmo a afirmar –
baseada nos parâmetros para se fazer história do seu tempo, que não levavam em
conta o fator oral tanto quanto é levado hoje, mas baseava-se apenas nos
“documentos oficiais”, ou aqueles, “legitimados”...: “Na realidade ela nunca existiu,
é apenas uma criação de Pedro Calmon. Essa afirmação é baseada em pesquisas e
mais pesquisas, onde não se tem nenhuma referência à pessoa de Luiza Mahin”.
Historiadores “consagrados” como João José Reis reforçam tal perspectiva, para ele
é “extravagante a ideia de que uma mulher pagã pudesse liderar um grupo de
homens muçulmanos” – palavras de Dulcilei da Conceição Lima em ‘Luiza Mahin:
história, mito, ficção? Repensando uma figura enigmática’ – e, por outro lado, Reis
(...) aponta prováveis responsáveis pelo feito. Reis afirma que Arthur Ramos vai
promover a figura de Luiza Mahin, mas que provavelmente teria se inspirado em
Pedro Calmon que, em 1933, publicou Malês: a insurreição das senzalas , romance
que mistura história e ficção. Calmon fez de Luiza Mahin sua protagonista e a
intitulou princesa, no romance ela é tratada como Luiza Princesa e seria nomeada
rainha após a vitória dos insurretos . Assim como na carta de Luiz Gama, teria
Mahin uma quitanda, onde comercializava verduras. Esse tipo de atividade
permitia uma grande mobilidade e contato com as pessoas, fatores essenciais na
organização da revolta. O autor situa Luiza numa posição central, como uma das
lideranças da revolta, seria ela a responsável pela articulação entre africanos
islamizados, nagôs, minas e outros, tendo portanto acesso a vários espaços e
grupos. Em sua casa estocava armas, fazia batuques do candomblé e organizava
reuniões para preparação da grande rebelião (...)
Sou filho natural de uma negra, Africana livre, da Costa Mina (Nagô de Nação), de
nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha
mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um preto retinto e sem
lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida
e vingativa.
***
Saravá às Rainhas-Mães!
1 QUITANDEIRAS. Negras livres, mais abastadas, que se dedicavam ao comércio de legumes e frutas.
Contavam com a ajuda de um negro livre, operário, para o pagamento do aluguel e das roupas, e com o
restante de seu lucro abasteciam sua mercearia e adquiriam dois moleques que educavam no trabalho ou
no comércio de rua. Na sua maioria, essas negras casavam-se com negros livres operários. MOURA,
Clóvis; Dicionário da escravidão negra no Brasil (Editora da Universidade de São Paulo, 2004).
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