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ESPLENDOR OU DECLÍNIO?

A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII


NO TERRITÓRIO «PORTUGUÊS»1
POR

PAULO ALMEIDA FERNANDES

«apareceu assim, pelos meados do século VII, uma arte amadurecida nos conceitos e
plasticização, com fortes tendências para entrar numa fase de estabilidade,
infelizmente cortada cerce pela invasão árabe»
(Almeida, 1962: 71)

«O século VII não deixa de ser um grande enigma,


parecendo forçadas as tentativas da corrente tradicionalista em o impor
como um período brilhante no plano arquitectónico»
(Real, 1999: 34)

RESUMO efectuar sistematizações cronológicas entre os séculos V a VII


no Ocidente peninsular.
Caracterizar a arquitectura do século VII em território «por-
tuguês» transformou-se numa tarefa impossível face aos dados
da investigação científica actual. Os tradicionais monumentos SUMMARY
atribuídos a esse período, ao abrigo de um marco historiográ- Considering the current scientific context, it is not a simple
fico que consagrava ao último século de domínio visigótico um task to feature the architecture dated to the seventh century in
notável esplendor artístico, revelaram-se, afinal, produtos ar- Portugal. The monuments traditionally ascribed to this period
quitectónicos posteriores à invasão islâmica de 711. E ao con- according with a historiographic context that defended an im-
trário do que sucede para os séculos V e VI, notoriamente enri- portant artistic life in the seventh century seem now to be later
quecidos em anos recentes por descobertas arqueológicas, não than the Islamic invasion occurred in 711. While the recent ar-
têm surgido novos e inequívocos dados que se possam atribuir chaeological works have enlarged the group of buildings dated
ao século VII. to the fifth and sixth centuries, there are not enough certain
A prudência e a relativização científica necessárias às nos- facts dated to the seventh century.
sas tão incompletas incursões pela História impõem uma abor- Caution and scientific context are necessary to offer a
dagem distinta: em vez de atribuir a cada período um número new vision. Instead of ascribing some monuments to each pe-
significativo de monumentos emblemáticos —processo, para o riod, considering the scarce of chronological evidences, it
qual, de resto, escasseiam indicadores cronológicos precisos—, could be more helpful to research the territory as a different
há que voltar a interrogar o território e, por essa via, tentar res- way of getting new material elements in order to feature the
gatar os elementos materiais caracterizadores da época visigó- Visigothic period. Only trough the territorial research, the
tica. Só com um amplo esforço de investigação territorial, de study of the regional dynamics and the knowledge of the ma-
aproximação às dinâmicas regionais e de reconhecimento das terials it will be possible to systemize the chronology of the
especificidades materiais, poderemos, a seu tempo, voltar a period between the fifth and seventh centuries in the western
of the Iberian peninsula.

PALAVRAS-CHAVE: Arquitectura; Visigótico; Pré-Româ-


1 Agradeço o convite / desafio que me foi dirigido por Luís nico; Historiografia; Território.
Caballero Zoreda e Maria Ángeles Utrero para participar neste
quarto encontro Visigodos y Omeyas. Inicialmente pensei em KEY WORDS: Architecture, Visigothic, Pre-romanesque, His-
abordar todo o período entre os séculos V e VII, mas a grande toriography, Territory.
dispersão que daí resultaria (na prática triplicando os monu-
mentos a mencionar) fez-me recuar nessa pretensão. Optei,
então, por concentrar-me no século VII e no problema historio- As duas passagens com que inicio este trabalho
gráfico que hoje enfrentam todos quantos se dedicam ao estudo
da Alta Idade Média peninsular. Fi-lo tendo por ponto de par-
correspondem a momentos marcantes no discurso his-
tida e de chegada a historiografia produzida em Portugal. toriográfico, produzido em Portugal, acerca do que
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terá sido o século VII no ocidente peninsular. Ilustram tensa menor valia artística —com a igreja de São Pe-
dois antagónicos ciclos de entendimento sobre uma dro de Lourosa a encabeçar essa lista—, por perten-
mesma realidade histórica, duas visões em confronto cerem ao ciclo moçárabe. Não se falava ainda do
sobre um mesmo tabuleiro conceptual. avanço da monarquia asturiano-leonesa pelo entre-
Uma e outra não se restringem, evidentemente, ao Tejo-e-Douro e os séculos VIII a XI correspondiam a
debate sobre o último século de domínio nominal visi- uma época mal estudada, genericamente caracteri-
gótico, e muito menos ao território hoje português; elas zada como de intensa luta militar: «A entrada dos
abrangem um campo diacrónico muito mais dilatado, Árabes e as lutas da Reconquista, só deixaram de pé
que se inicia com a entrada do Cristianismo na Hispa- um ou outro monumento em locais afastados dos
nia e só termina com a acção de D. Fernando, o centros ou das grandes vias de comunicação; edifí-
Magno, em meados do século XI, e a «natural» adesão cios pequenos, esquecidos, a isso devem o ter podido
da religiosidade peninsular às determinantes cluniacen- persistir» (Almeida, 1962: 8).
ses e romanas no Concílio de Burgos de 1080. Neste No pensamento de Fernando de Almeida (forte-
complexo panorama, o século VII ocupa um lugar ci- mente influenciado por Camps Cazorla, Helmut Sch-
meiro no debate, pela contradição óbvia entre a pre- lunk e, principalmente, Pere de Palol), os séculos da
tensa realização de uma arte visigótica de excepcional presença islâmica e da luta pelo território a partir do
qualidade num período que é, reconhecidamente, de Norte não tinham motivado qualquer impulso cons-
franca decadência da instituição política que suportava trutivo relevante e, a ter-se verificado uma ou outra
o regime. Nas últimas décadas, esta contradição foi realização, ela estaria ainda na dependência de valo-
agravada em três vectores essenciais: os dados forneci- res estéticos atingidos na época visigótica.
dos pela arqueologia; a reavaliação de inúmeras peças O caso das peças escultóricas procedentes do an-
resgatadas nos séculos XIX e XX e descontextualizadas tigo Mosteiro de Chelas e actualmente no Museu Ar-
dos seus locais originais em museus ou colecções pri- queológico do Carmo (Lisboa) é exemplar para se per-
vadas; e, finalmente, os progressos verificados na his- ceber o que Fernando de Almeida pensava a respeito
toriografia que, à luz de novas descobertas, continua- do sucesso da arte de época visigótica. Em 1958,
mente evidencia contradições e insuficiências nos quando revelou a coerência estilística deste grupo, o
processos de caracterização histórica. autor admitiu serem produto do século IX, na de-
No reduzido panorama científico português dedi- pendência de modelos bizantinos contemporâneos da
cado a este complexo período, a primeira corrente viagem que o conde asturiano Servando empreendeu
corresponde a uma interpretação tradicional, estabili- ao Mediterrâneo Oriental para resgatar as relíquias de
zada em alguns meios universitários e consagrada em Santo Adrião e seus companheiros de martírio (Al-
múltiplas obras de síntese, cujos autores não pondera- meida, 1958: 12; numa perspectiva comparativa, o au-
ram suficientemente dados fornecidos por investi- tor publicou reproduções de tecidos bizantinos que da-
gações mais recentes, porque normalmente apresenta- tou dos séculos VIII e X). Mais tarde, recuou as
das em congressos ou publicações muito específicas. propostas cronológicas deste núcleo até ao século VII,
A segunda corrente enferma da natural dificuldade de mas o facto de equacionar uma realização em plena
implantação de qualquer ideia nova, porque necessa- época de domínio nominal islâmico, não inviabilizava
riamente encontra resistências por parte do ciclo his- a integração das peças lisboetas num largo capítulo ci-
toriográfico anterior. Há muito, todavia, deveríamos vilizacional da «arte de época visigótica»: por um
todos saber que a «certeza», no que diz respeito à Alta lado, porque o contributo do povo visigodo foi siste-
Idade Média peninsular, é um valor tão efémero maticamente secundarizado nas abordagens historio-
quanto discutível. gráficas, valorizando-se muito mais os fenómenos de
continuidade em relação à época romana e os de pre-
tenso impacto do mundo bizantino, únicas realidades a
PARTE I - (DES)CONSTRUINDO garantir a qualidade e monumentalidade das reali-
zações cronologicamente situadas entre os séculos V e
1. INSUFICIÊNCIAS DO PARADIGMA VII; por outro lado, porque o Islão, e a vaga destruidora
VISIGÓTICO que então se lhe associava, não teria sido suficiente
para parar por completo uma dinâmica civilizacional
Em meados do século XX, Fernando de Almeida continuada, em linhas muito gerais, pelo reduto astu-
reuniu num largo capítulo estilístico tudo o que não riano. Uma atitude idêntica em relação aos pilares de
pertencia ao Romano e ao Românico. De fora fica- Chelas foi adoptada por Fernando de Almeida acerca
ram apenas alguns monumentos considerados de pre- igreja de San Pedro de la Nave, «uma das mais notá-
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veis do período visigótico e também uma das mais tar- lução estritamente hispânica para explicar o produto
dias (século VIII? IX?)» (Almeida, 1962: 101). final de Montélios, evolução essa que paradoxalmente
O que está subjacente a esta perspectiva é o facto não teria passado por Toledo, pois não identifica
de a arte de época visigótica ser uma continuidade qualquer analogia entre a obra que atribui ao tempo
natural da romana, ao abrigo de uma progressiva de- de São Frutuoso e a fábrica da igreja de San Juan de
generação artística pela Alta Idade Média. Para Fer- Baños (1986: 167). A influência bizantina, todavia,
nando de Almeida, quanto mais afastadas cronologi- estaria presente nas peças de Chelas / Lisboa, nos fri-
camente estavam as realizações do Império, menor sos de Quintanilla de las Viñas, etc., produtos artísti-
relevância qualitativa teriam (Fernandes, 2003: 208- cos cuja «qualidade» e «execução» derivam «de mo-
209), mas tal não impedia que resquícios de visigo- delos da região bizantina» (1986: 169).
tismo sobrevivente no período islâmico pudessem ter Ainda dentro do paradigma visigotista, mas repre-
continuado a seguir um partido estético tremen- sentando já uma assinalável ruptura, devem colocar-
damente activo nos séculos VI e VII. se os trabalhos de Carlos Alberto Ferreira de Almeida.
Neste processo de progressiva decadência, teria Este autor contrariou algumas propostas de integração
existido, todavia, uma excepção: precisamente o sé- cronológico-cultural (como se verá adiante no ponto
culo VII. Nesta centúria, a pretensa estabilização do 2), mas atribuiu também algumas realizações —hoje
reino visigótico sob o signo do Catolicismo e o exces- consideradas pelo menos duvidosas— ao período vi-
sivo brilhantismo de alguns monarcas, entre os quais sigótico, em concreto ao século VII. Confontado com a
o egitanense Wamba, teria motivado um feliz contacto dificuldade em coincidir os grandes monumentos no
com o renovado império romano, agora bizantino, cu- período católico do reino de Toledo —à excepção de
jas tropas ocuparam uma extensa parcela do Sul da Vera Cruz de Marmelar, que situou nos «meados do
Península por essa altura. Teria sido este contacto, século VII» (1986: 48)— Ferreira de Almeida referiu-
vincadamente marítimo (também sugerido por muitos -se bastante mais aos vestígios escultóricos dispersos
outros autores), a possibilitar a construção do «monu- um pouco por todo o país, por si considerados como
mento mais belo deste período, a capela de S. Fru- testemunhos de uma compartimentação espacial dos
tuoso de Montélios (…) bizantina e [onde] a influên- templos, generalizada somente no último século de
cia peninsular (…) não é marcante no conjunto» domínio visigótico (1986: 64). Foi desta forma que
(Almeida, 1962: 107). O bizantinismo do século VII catalogou muitas peças descontextualizadas como
representava, assim, uma inflexão pontual mas efec- pertencentes ao século VII, com especial destaque para
tiva na sequência degenerativa que, com a conquista os núcleos de Sines, Elvas e Beja, embora o texto
islâmica inevitavelmente se acentuaria. As peças de onde enumera estas realizações nem sempre seja claro
Chelas, produzidas em época de nominal domínio quanto a uma datação precisa, porque privilegia o
muçulmano, seriam a mais evidente excepção à regra, agrupamento de peças a partir de uma base geográfica
pelo claro contacto com Bizâncio proporcionado pela (1986: 48-61), metodologia que seguiu também para a
viagem do Conde Servando. sistematização da arte românica do centro e norte do
Estas são algumas das linhas marcantes do pensa- país.
mento de Fernando de Almeida a respeito do período
aqui analisado. Outros investigadores, por vias algo
distintas mas genericamente coincidentes, reforçaram 1.1. VELHAS E NOVAS TEORIAS ACERCA DA INFLUÊNCIA
o essencial do que aquele autor deixou escrito. Theo- BIZANTINA NA ARTE PENINSULAR ALTIMEDIEVAL
dor Hauschild, reconhecendo a escassez de testemun-
hos dos séculos V e VI (1986: 156), vislumbrou um sé- O bizantinismo como factor diferenciador de qua-
culo VII pleno de qualidade artística, plasmado em lidade artística, superior à que pretensamente a Penín-
«novas formas» arquitectónicas, «de excelente e cui- sula havia gerado na Alta Idade Média, é um assunto
dadosa execução técnica» (1986: 165). Como muitos recorrente na produção de investigadores que conti-
outros autores, separando os períodos ariano e cató- nuaram as linhas de interpretação deixadas por Fer-
lico, Hauschild pressupôs um processo de renovação nando de Almeida. Em boa verdade, o problema da
artística cujo arranque se pode situar na época de influência bizantina no ocidente peninsular é uma
transferência da capital para Toledo, mas que só se constante historiográfica que percorre todo o sécu-
inicia «em muitos locais na segunda metade do sécu- lo XX, desde a síntese de Vergílio Correia, em 1928,
lo VII» (ibidem). Para este facto, os contactos com até às mais recentes propostas de Manuel Justino Ma-
Ravena e com Bizâncio teriam sido determinantes, ciel a respeito da origem e filiação de algumas igrejas
apesar de o autor equacionar a existência de uma evo- cruciformes altimedievais, ou à suposta trajectória
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qualitativa do foco decorativo emeritense nos sécu- segunda metade do século VII, a História provou que o
los VI e VII em território hoje português, sustentada Mediterrâneo se manteve aberto à navegação extra-
por Torres, Correia, Macias e Lopes, 2007: 186. O islâmica, e, evidentemente, os produtos oriundos do
efectivo reconhecimento de uma via «bizantina» tem- Império bizantino que continuamente atravessaram
-se revelado uma questão com implicações directas aquela estrada-mar não se circunscreveram à época
sobre o século VII, período em que o Sul da península coincidente com o reino visigótico. Em meados do sé-
esteve politicamente vinculado ao Império Romano culo VIII, com a subida ao poder dos abássidas, a into-
do Oriente. lerância do Islão para com Bizâncio afroxou e, nos
Para Maciel, só os derradeiros tempos de domínio tempos seguintes, as relações comerciais entre ambos
visigótico teriam garantido a paz e a prosperidade im- os impérios foi uma evidência. Quanto aos omíadas,
prescindíveis ao desenvolvimento de uma arte excep- instalados na Península, os primeiros tempos de luta
cional. Insiste na unidade religiosa e política da His- no Mediterrâneo Oriental deram lugar a uma atitude
pania como aspectos basilares do sucesso artístico cordial e de relativa proximidade entre Bizâncio e a
(1995: 131), um progresso assente em mudanças de Península, sendo conhecida a resposta de Abd al-Rah-
orientação estética e planimétrica, materializado no mann II à carta de Teófilo, em que o Imperador havia
aparecimento das igrejas cruciformes (1995: 133) e reconhecido os omíadas como única dinastia legítima
cujo primeiro momento se verifica na Gallaecia do Islão.
sueva, em plena actividade de São Martinho de Dume O problema da influência artística bizantina na Pe-
(1995: 135). Neste contexto, a influência bizantina, nínsula tem sido explorado por alguns investigadores,
por via ravenática, é a característica marcante do concretamente Maria Cruz Villalón para o caso de
grupo de igrejas cruciformes que data do século VII Mérida, pelo carácter mais abrangente das perguntas
(Montinho das Laranjeiras, São Frutuoso de Monté- que formula a este respeito: «nos encontramos ante el
lios), a que se juntam os templos de São Gião da problema de concretar el momento de transmisión de
Nazaré, a basílica de Recópolis e as igrejas de El un elemento iconográfico que está entroncado con las
Trampal, Quintanilla, Baños, Melque, Bande e La tradiciones orientales, sasánidas, y que tiene la posibi-
Mata (Maciel, 1995: 133-136; Maciel, 1996: 99). Para lidad desta doble vía, la bizantina de los siglos VI y VII
além desta perspectiva, o autor defende o alegado bien establecida en la cultura de tiempos visigodos, o
apogeu verificado no século VII, ao incluir no mesmo la posterior islámica» (Cruz Villalón, 1995: 172). A
impulso construtivo que aquelas igrejas outros monu- verdade, porém, é que são já assinaláveis os ecos de
mentos peninsulares como San Pedro de la Nave, influência bizantina no tempo da monarquia astu-
Quintanilla de las Viñas, etc. riano-leonesa que provam uma continuada relação en-
Ora, sabe-se hoje que alguns destes monumentos tre os dois extremos da Cristandade medieval muito
pertecem a contextos posteriores, designadamente para cá do fim do reino visigótico. Os medalhões do
moçárabes e asturiano-leoneses, realidades civiliza- palácio / igreja de Naranco (Noack-Haley, 1992: 176;
cionais que, do ponto de vista da maioria dos investi- Arias Páramo, 1994: 25-29), os capitéis bizantino-leo-
gadores situados no que chamamos de «visigotismo», neses do século X na zona de León (Corzo, 1989: 82-
apenas residualmente manifestariam aquela pretensa 84) ou a integração de motivos aparentemente sassâni-
influência bizantina dos século VI e VII. Mas por que das em iluminuras leonesas (Millán Crespo, 1999:
razão algumas realizações moçárabes, e outras pré- 73-110) são algumas das realizações onde se identifi-
-românicas, revelam reflexos do mundo bizantino? A cou a influência bizantina e muitas outras há a explo-
resposta a esta questão não está suficientemente deba- rar, designadamente em contextos moçárabes. É mais
tida, nem será este o local para aprofundar o pro- uma vez o núcleo moçárabe de Lisboa que parece dar
blema, até pelas implicações mais vastas do assunto respostas mais fundamentadas. Quer Fernando de Al-
ao nível dos «classicismos» na arte pré-românica meida (1958), quer Carlos Alberto Ferreira de Al-
(veja-se o que se diz a este propósito em Real, 2000 e meida (1986), em dois dos mais importantes momen-
Fernandes, 2005). Importa esclarecer que, na actuali- tos de codificação da «arte de época visigótica» no
dade, equacionam-se várias vagas de influência vin- Ocidente Peninsular, manifestaram a sua inclinação
das do Mediterrâneo Oriental durante a época islâ- para considerar este conjunto como obra posterior a
mica, a começar, evidentemente, pelo próprio mundo 711. Alguns autores circunscreveram as analogias ar-
omíada, transplantado do Próximo Oriente para a fi- tísticas deste núcleo a fenómenos estritamente islâmi-
nisterra ocidental. cos, mas os trabalhos mais recentes têm acentuado
Não obstante as tentativas omíadas para enfraque- uma gama de influências mais vasta, partindo da tra-
cer as chamadas ilhas bizantinas, verificadas logo na dição sassânida e, do meu ponto de vista, repetindo,
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com extrema fidelidade, modelos de tecidos bizanti- mudança e de permanência, do que há duas ou três dé-
nos (Fernandes, 2005: 274-275, reforçando alguma cadas poderíamos supor, e há muito que a linear re-
bibliografia anterior no mesmo sentido). lação de causa-efeito aplicada aos fenómenos artísti-
A questão é, necessariamente, mais complexa do cos situáveis entre os séculos IV e XI deixou de ser
que aqui deixo expresso. Por um lado, pela clara insu- uma resposta satisfatória aos nossos problemas de ca-
ficiência de conhecimentos a respeito da evolução ar- racterização desse largo período.
tística peninsular da esfera cristã ao longo de quase Em Portugal, são ainda bem recentes alguns tra-
oito séculos. Por outro, pelas múltiplas rupturas civili- balhos que admitem, por princípio, uma especifici-
zacionais verificadas no Mediterrâneo Oriental, em dade própria da escultura de época visigótica como
particular a transferência de centros de produção para eixo indicador de cronologia (Almeida, 1986; Torres
locais anteriormente considerados periféricos, como e Correia, 1993). Mas neste cada vez mais complexo
Real, 2000 sugere a respeito da criação de tecidos ar- panorama, qual é o verdadeiro valor da escultura em
ménios a partir de modelos bizantinos. Finalmente, matéria de atribuição cronológica? A resposta a esta
pela possibilidade de existir um carácter anti-bizan- pergunta tem vindo a ser sucessivamente reduzida,
tino (certamente político-ideológico) em algumas rea- numa relação inversamente proporcional à progres-
lizações construtivas, como parece deduzir-se pelas siva exigência científica colocada nas abordagens his-
campanhas arquitectónicas verificadas nos templos de toriográficas. À medida que os sítios vão sendo inves-
Elo e Ilici na transição para o século VII (Márquez Vi- tigados sob uma perspectiva de entendimento global,
llora, 1996: 394), ainda que com propostas cronológi- cada vez mais a escultura dispersa em museus nos diz
cas não inteiramente consensuais. menos sobre o período específico de edificação de
Procurei, neste ponto, evidenciar que a pretensa monumentos desaparecidos.
influência bizantina, considerada por alguns como Em Mérida, onde as séries decorativas apresentam
vector diferenciador da arte produzida no século VII, maior homogeneidade e estão já estudadas sob o
está longe de se restringir ao período de vigência do ponto de vista formal, há motivos que percorrem toda
reino visigótico e foi efectiva o suficiente para deixar a cronologia de época visigótica e, inclusivamente,
a sua marca em realizações posteriores bem mais em- penetram nos tempos de domínio islâmico. As múlti-
blemáticas para o poder político que aquelas invoca- plas variantes de uma mesma composição pouco
das para o período anterior à invasão de 711 (in- aportam em matéria cronológica, tendo presente a na-
cluindo-se também as peças de Lisboa nesse vínculo tural longa duração de oficinas e os também naturais
simbólico à monarquia ovetense). ritmos lentos de recepção e de assimilação de novas
fórmulas, e posterior dispersão por um vasto território
de influência, ele próprio a várias velocidades cultu-
1.2. O QUE NOS DIZ A ESCULTURA? rais. É por isso que os autores que privilegiam o mé-
todo comparativo são continuamente «surpreendidos»
A esmagadora maioria da escultura que chegou até pelo aparecimento de motivos escultóricos e icono-
hoje está descontextualizada de qualquer realidade ar- gráficos de origem distante, no tempo e no espaço, al-
queológica concreta, fruto de sucessivas recolhas des- guns de codificação pré-romana, outros frequentes no
tituídas de planos científicos de investigação. Esta Mediterrâneo Oriental pós-visigótico.
evidência, no entanto, não impediu que, ao longo do Neste capítulo específico do processo científico,
século XX, esse mesmo espólio tenha servido para ca- há que tentar separar claramente o que parece ser a fi-
talogar cronologicamente inúmeras obras, por aproxi- liação temática dos motivos decorativos e o paralelo
mação estilístico-tipológica para com outros exempla- estilístico-tipológico formal imediato, mais próximo
res escultóricos igualmente descontextualizados ou no tempo e no espaço, de determinada solução. Só
integrados em monumentos considerados de época vi- desta forma poderemos conceber que esquemas deco-
sigótica. rativos aparentemente dominantes na época visigótica
O método comparativo, quando única proposta (como os cachos de uvas ou os círculos secantes) apa-
metodológica aplicada ao universo altimedieval pe- reçam em materiais cujos indícios mais fortes apon-
ninsular, tem conduzido a conclusões necessaria- tam para períodos mais tardios. As pilastras de Co-
mente abusivas. Bastará lembrar a repetida alusão ao nimbriga (Fig. 1) e de Lorvão (Fig. 2) e a placa do
modelo do santuário de Gala Placídia como fonte castelo de Soure (Fig. 3), repetidas vezes atribuídas à
única da obra de Montélios para perceber isso mesmo. época visigótica, porque partindo do princípio que a
A realidade é que a Alta Idade Média peninsular se peça conimbrigense se encontrava bem datada em
apresenta bem mais complexa nas suas dinâmicas de contextos arqueológicos específicos (veja-se o que se
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Fig. 1. Conímbriga. Mu- Fig. 2. Mosteiro do Fig. 3. Castelo de Soure. Possível placa de altar reaproveitada como aximez
seu Monográfico de Co- Lorvão, Penacova. Po- numa porta da torre de menagem (século IX?).
nímbriga. Pilastra altime- rmenor do friso que
dieval (séculos IX-X?). decora a torre sineira
(século IX?).

diz em Fernandes, 2002), passam a dispor de novos lo VII: Montélios; Balsemão; Santo Amaro de Beja;
dados de caracterização em contextos pré-românico e São Torcato de Guimarães e três torres da cerca velha
moçárabe, até há pouco insuspeitos, mas que se coa- de Évora.
dunam com um todo regional bem mais vasto em re- Theodor Hauschild (1986: 165) foi o autor que
dor da Coimbra asturiano-leonesa dos séculos VIII a X. mais fielmente seguiu as linhas de caracterização do
Mas se a maior parte da escultura decorativa está paradigma visigotista. Segundo a sua opinião, os
arqueologicamente descontextualizada, alguma foi in- grandes monumentos de silharia do actual território
corporada em monumentos. E essa, como veremos de português pertencem integralmente ao século VII,
seguida, é de uma utilidade extrema na hora de atri- eventualmente às suas décadas finais: Montélios; Bal-
buir datações a algumas fases construtivas dos «mo- semão; Marmelar e, um tanto paradoxalmente, São
numentos da discórdia». Gião da Nazaré (cuja tipologia de aparelho contrasta
evidentemente com os restantes edifícios). Manuel
Justino Maciel manteve Montélios no século VII e
2. MONUMENTOS DA DISCÓRDIA acrescentou a igreja cruciforme do Montinho das La-
ranjeiras (1995: 133-136). Implícito no seu pensa-
Os autores que seguiram uma caracterização «visi- mento está, porém, o século VII como período áureo
gotista» não representam uma corrente inteiramente da arte de época visigótica, porque dinamizada pela
unitária, fruto dos avanços e recuos próprios de um influência bizantina, o que faz com que grande parte
processo historiográfico demasiado frágil para asse- dos monumentos não mencionados directamente por
gurar a efectiva datação da maioria dos monumentos. si, se incluam nesse período. A propósito da Passio de
Sobre o actual território português, as discordâncias São Manços, conclui pela existência de uma arquitec-
de atribuição cronológica são mais efectivas que as tura esplendorosa nos finais do século VII (1995: 136-
sintonias, permanecendo apenas consensualmente 138), infelizmente desaparecida sob as vagas civiliza-
atribuído ao século VII o templo de São Frutuoso de cionais posteriores.
Montélios (o único que, em boa verdade, podia ser re- Carlos Alberto Ferreira de Almeida teceu várias crí-
lacionado com dados históricos concretos - os últimos ticas ao modelo até então seguido, colocando, por
anos de vida do santo). exemplo, São Gião da Nazaré no século X, Santo
Importa, por isso, perceber que monumentos fo- Amaro de Beja num contexto moçárabe e o templo de
ram atribuídos pela corrente tradicional à centúria fi- Odrinhas numa linha evolutiva próxima da Recon-
nal de domínio visigótico e quais as razões encontra- quista definitiva da região de Lisboa, ocorrida apenas
das pelos autores para esse posicionamento. Fernando no século XII. Atribuiu também São Pedro de Balsemão
de Almeida, apesar de reconhecer um período áureo a a um impulso asturiano-leonês. Manteve, todavia, al-
essa época, incluiu apenas 5 monumentos no sécu- guns monumentos no século VII, como a igreja de Vera
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Cruz de Marmelar, preferindo caracterizar os últimos tico altimedieval que chegou até hoje. Ela constitui um
tempos de domínio visigótico à luz da escultura de Si- testemunho ímpar em território nacional, sem aparentes
nes, Beja ou Lisboa. Na avaliação historiográfica da semelhanças com outras obras contemporâneas próxi-
Alta Idade Média, devemos a Ferreira de Almeida um mas, facto que tem levado a interpretações e datações
dos momentos de ruptura (ainda que parcial) em re- antagónicas para o monumento. Com efeito, se durante
lação às dominantes visigotistas com que se vinham algum tempo se pensou estar diante da capela-mauso-
encarando alguns emblemáticos monumentos desde os léu de São Frutuoso, hoje são mais fortes os argumen-
trabalhos de Vergílio Correia, Abel Viana, João de tos que apontam para uma cronologia a rondar os iní-
Moura Coutinho e Fernando de Almeida. cios do século X, quando o culto do bispo foi renovado,
no âmbito do repovoamento de Afonso III.
Esta é a apreciação geral sobre o monumento. A
2.1. SÃO FRUTUOSO DE MONTÉLIOS verdade, porém, é que ainda não se conseguiu identi-
ficar que parcelas correspondem à época visigótica
A pequena capela de Montélios deve a sua existên- (se existem) e quais as que são fruto da reconstrução
cia a São Frutuoso, bispo de Dume e de Braga durante pré-românica. Sem escavações arqueológicas, sem o
a época visigótica, que aqui escolheu ser sepultado, conhecimento e análise de todos os registos fotográfi-
na década de 60 do século VII. À sua volta existiu um cos realizados aquando do restauro (uma primeira
conjunto monástico bem maior (o texto da vida de S. abordagem encontra-se em Brito, 2001) e pratica-
Frutuoso fala em ecclesiae - Maciel, 1996: 90), centro mente sem a possibilidade de se recorrer à Arqueolo-
religioso da região neste período, mas que terá su- gia da Arquitectura (pela generealizada adulteração
cumbido, muito provavelmente no início do sécu- dos alçados), a interpretação actual do monumento
lo XVI, quando se procederam às obras de reedificação privilegia duas abordagens cronológicas distintas,
do Mosteiro por parte dos franciscanos. embora a complementariedade entre ambas crie ou-
A capela, de planta centralizada, de quatro ábsides tros problemas de interpretação. Deve-se a Manuel
iguais articuladas em redor de um cruzeiro quadrangu- Luís Real, 1995: 65 a primeira tentativa de caracteri-
lar (Figs. 4-5), é o único elemento do complexo monás- zação das partes pré-românicas, reconhecendo vestí-

Fig. 4. S. Frutuoso de Montélios, Braga. Pormenor das arcadas Fig. 5. S. Frutuoso de Montélios, Braga. Vista parcial do exte-
interiores (séculos IX-X). rior (séculos VII e IX-X).
248 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

Fig. 6. S. Frutuoso de Montélios, Braga. Fragmento de aximez Fig. 7. S. Frutuoso de Montélios, Braga. Fragmento de pilastra
encontrado durante o restauro (séculos IX-X). de época visigótica encontrado durante o restauro (século VII).

gios de mudança a partir da primeira fiada na parede porar no exterior das ábsides, ao nível dos frontões
Sul do braço recto, no aparelho da torre central, na classicizantes (Fig. 6) (Barroca, 1990: 111).
evidência de o cruzeiro ter sido abobadado pelo me- Desta forma, não restam dúvidas de que terá exis-
nos duas vezes, etc. Estes indícios implicam que o tido uma fase visigótica. Se ainda se poderá discutir a
projecto do tempo de São Frutuoso era, planimetrica- forma da planta original, sobreviveram alguns frag-
mente, muito semelhante ao que o pré-românico edifi- mentos escultóricos que provam essa etapa. No mini-
cou, diferindo pontualmente na organização em al- -museu ali instalado observa-se parte de uma cancela
tura, nos focos de iluminação e, eventualmente, na com decoração catalogável dentro do marco visigó-
organização interna do conjunto. tico (Fig. 7), assim como um «duplo capitel», deco-
Assim, a primitiva edificação terá seguido um
modelo planimétrico orientalizante (ravenaico-bi-
zantino, pela relação de modelo-cópia que existe en-
tre a obra bracarense e o mausoléu da Gala Placídia):
planta em cruz grega; exterior decorado com arcos
cegos, alternadamente de volta perfeita e em mitra;
cruzeiro abobadado. No século X, reconquistada a
região e iniciado o repovoamento, a capela foi ob-
jecto de uma reconstrução, que lhe conferiu o as-
pecto geral que hoje possui. As ábsides, que eram de
planta interna quadrangular, passaram a ter a forma
semicircular e, à entrada de cada uma, construiu-se
uma tripla arcada de arco em ferradura. A torre-cru-
zeira terá sido a parcela mais modificada, com in-
clusão de novo abobadamento (Caballero e Arce,
1995: 202 salientam a semelhança desta abóbada
para com outras influenciadas pelo mundo omíada)
e, especialmente, com um friso de arcos cegos rasga-
dos, ao centro, por aximez. No restauro identificou-
-se um segundo aximez, cuja terminação em dupla
Fig. 8. S. Frutuoso de Montélios, Braga. Capitel com duas fases
água admite pensar tratar-se de uma peça para incor- de utilização (séculos VII e IX-X).
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 249

rado nas duas faces em épocas dis-


tintas, cuja feitura mais antiga se
pode estilisticamente situar na Alta
Idade Média pré-islâmica (Fig. 8)
(Real, 1965: 65).
De um ponto de vista historio-
gráfico, o debate entre «visigotis-
tas» e «moçarabistas» abriu-se
aquando do restauro, na viragem
para a década de 30 do século XX.
Numa primeira fase, e sob o co-
mando de João de Moura Coutinho,
o monumento foi intervencionado
tendo como modelo as construções
tardo-antigas de Ravena. Para isso,
chegaram a reproduzir-se elemen-
tos decorativos, iguais a outros apa-
recidos aquando da desmontagem
de numerosas construções adjacen-
tes. No entanto, o arrastamento do Fig. 9. S. Frutuoso de Montélios, Braga. Pormenor da decoração interior e do estado ina-
processo por parte da DGEMN e, cabado em que ficou o restauro, interrompendo-se o friso do interior das ábsides.
especialmente, o aparecimento de
um aximez (Monteiro, 1949), determinou a parali- confirmar-se, algum dia, a relação desta uilla com o
sação dos trabalhos e o consequente abandono do pro- templo, teremos mais um exemplo da continuidade
jecto. Apesar das posteriores tentativas, o restauro de ocupação que caracteriza já um considerável nú-
nunca foi concluído, ficando a obra inacabada ao nível mero de sítios altimedievais no país. Esta cir-
das coberturas e de alguns enchimentos das paredes, cunstância poderá, também, trazer novos dados so-
facto ainda hoje bem visível para quem visita a capela bre a época de construção dos seus capitéis,
(Fig. 9). Este inconclusivo restauro prova que, desde reconhecidamente reutilizados na edificação, por se
pelo menos a década de 30 do século XX, parece ser adaptarem mal às colunas que encimam e por serem
evidente uma fase pré-românica (longamente conside- significativamente distintos do restante material es-
rada moçárabe). Tal evidência, todavia, não impediu cultórico empregue (Fig. 11).
que Montélios fosse sistematicamente classificada O reaproveitamento de materiais romanos não
como visigótica, perspectiva que, comprovadamente, deve estranhar-se quer se equacione uma edificação
peca por redutora. em contexto visigótico, quer pré-românico. Mas
quando se terá edificado a capela? Para os defensores
de uma cronologia de época visigótica, assume espe-
2.2. SÃO PEDRO DE BALSEMÃO cial importância uma lápide datada de 588 e aparecida
na cidade (Correia, 1928, p. 373; Barroca, 2000, vol.
A capela de São Pedro de Balsemão (Fig. 10) é III: 27 esclarece que esta lápide se presta a alguns
um monumento tão relevante cientificamente quanto equívocos, admitindo como mais provável a sua pro-
problemática é a sua cronologia e forma original. cedência de Moimenta da Beira, concretamente da
Nos últimos cem anos, a historiografia divide-se em Capela de Nossa Senhora de Seixas). Outros argu-
duas propostas cronológicas antagónicas: a época vi- mentos, invocados por Lampérez y Romea, foram a
sigótica (séculos VI-VII) e a expansão do reino astu- forma ultrapassada do arco triunfal e o plano basilical
riano (séculos IX-X). Até ao momento, não foi possí- adoptado. A partir daqui, e de outros contributos mui-
vel confirmar rigorosamente qualquer destas tas vezes indirectos acerca do que teria sido a arte de
sugestões. época visigótica, a ideia de uma igreja dos séculos VI-
No local onde o templo se implanta, ou muito -VII ganhou forma e foi sucessivamente repetida por
próximo, parece ter existido uma uilla romana, nomes marcantes como Schlunk, Fernando de Al-
como o atestam algumas inscrições, um terminus au- meida, Hauschild, etc.
gustalis do tempo de Cláudio e as aras reaproveita- Nos últimos anos, todavia, ganhou maior relevo a
das como altares (Alarcão, 1990, vol.1, p. 377). A hipótese de o templo datar de finais do século IX ou
250 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

Fig. 10. S. Pedro de Balsemão, Lamego. Fachada lateral (actualmente a principal) de acesso à igreja (século XVII).

inícios do seguinte. O primeiro autor a propor esta mas, como a sugestão de uma ábside única rectangu-
ideia foi Joaquim de Vasconcelos, há quase cem lar, aparentemente mais característica da época visi-
anos (Vasconcelos, 1911, p. 79), por analogia com a gótica, ou o aparecimento, num silhar, do símbolo
igreja de São Pedro de Lourosa, epigraficamente da- dos condes de Portucale, na viragem para o sécu-
tada de 912. No entanto, o sucesso do modelo «visi- lo XII. Os trabalhos de Manuel Luís Real apontam
gotista», proposto pelos autores anteriormente cita- para a possibilidade de existirem, pelo menos, três
dos, praticamente inviabilizou esta proposta, que só fases construtivas, todas em época pré-românica: o
muito recentemente foi retomada por Manuel Real, clípeo foi entendido como obra aparentada com os
Carlos Alberto Ferreira de Almeida, Mário Barroca e medalhões de San Miguel de Lillo (1999: 268); no
Ricardo Teixeira, entre outros. século X, eventualmente no reinado de Ramiro II,
Com efeito, a identificação de um clípeo (me- poder-se-á ter realizado uma empreitada de «melho-
dalhão), de um pé de altar decorado com a tradicio- ramentos arquitectónicos» (Ibid.); e, finalmente, no
nal cruz asturiana, de um fragmento de aximez mol- século XI, após a conquista da cidade por Fernando,
durado e a utilização de impostas de rolo decoradas o Magno, e muito possivelmente já na vigência do
com motivos cordiformes (Fig. 12), são indicadores Condado Portucalense, ter-se-á registado nova cam-
de uma cronologia avançada, a que o classicismo das panha. Até que se efectue uma escavação arqueoló-
formas (tão demonstrado na reutilização de capitéis gica no local, que logre identificar novos materiais
coríntios tardo-antigos) confere verdadeiro valor contextualizáveis com os já conhecidos, o mais pru-
estilístico, aproximando-o de construções como São dente é referirmo-nos a Balsemão como uma capela
Pedro de Lourosa (onde também aparece um me- do século XVII que incorporou materiais altimedie-
dalhão circular), a controversa Mesquita-Catedral de vais, situáveis tipologicamente em diferentes fases
Idanha-a-Velha ou a basílica do Prazo (Real, 1999, pré-românica mas não em qualquer etapa visigótica.
p. 268). Por outro lado, a única parcela original aparente-
A chegada a um consenso da cronologia de Bal- mente preservada é a constituída pelas duas faces da
semão está, assim, longe de esgotar todos os proble- parede do arco triunfal (Fig. 13), cuja melhor aná-
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 251

Fig. 12. S. Pedro de Balsemão, Lamego. Imposta de rolos do


arco triunfal (séculos IX-X).

bispo egitanense. Partindo dos dados documentais


desse período, Fernando de Almeida desenvolveu as
suas teses acerca deste edifício à luz de um ideal esti-
lístico visigótico, que assumiu como perfeitamente de-
finido pelos anos 60 do século XX. O amplo interior de
três naves (a que faltava apenas a cabeceira), a proxi-
Fig. 11. S. Pedro de Balsemão, Lamego. Capitel tardo-antigo midade para com materiais provenientes de basílicas
reaproveitado no corpo da igreja (séculos IV-V?).
então consideradas de época visigótica (designada-

lise, de acordo com as metodolo-


gias da Arqueologia da Arquitec-
tura, se impõe.

2.3. A «CATEDRAL» DE IDANHA-A-


VELHA

Meio século depois do início


das escavações arqueológicas no
edifício e na sua área envolvente
não existem ainda suficientes da-
dos que confirmem absolutamente
a cronologia e a funcionalidade
deste conjunto arquitectónico. A
uma primeira fase de catalogação
visigotista, relacionada com o esta-
tuto diocesano da Egitânia, sucede-
ram-se novas pistas de análise e de
interpretação, cujos argumentos
não foram igualmente aceites por
toda a comunidade científica.
Aparentemente vinculada ao
reino suevo, data dos meados do sé-
culo VI a primeira referência a um Fig. 13. S. Pedro de Balsemão, Lamego. Arco triunfal (séculos IX-X).
252 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

mente San Juan de Baños) e a docu-


mentação acerca da actividade dio-
cesana egitanense dos séculos VI e
VII, levaram este investigador a ca-
talogar o edifício como visigótico,
sugestão reforçada, em 1962, com a
descoberta do primeiro baptistério.
Em vão Fernando de Almeida ten-
tou identificar a cabeceira. Do lado
Sul, o baptistério impedia a existên-
cia dessa monumental estrutura e, a
Norte, a área de escavação não foi
alargada (Figs. 14-15). Tal facto,
contudo, não impediu que a inter-
pretação de que se estava perante a
antiga Catedral dos Bispos visigóti-
cos da Egitânia, fosse assumida
pelo seu autor e constantemente re- Fig. 14. Monumento de Idanha-a-Velha. Vista geral da nave central, no sentido Sul-Norte
petida nas décadas seguintes. O pri- (séculos VIII-X).

Fig. 15. Monumento de Idanha-a-Velha. Planta, seg. Alexandre Alves Costa, 2002 (séculos VIII-X).

meiro restauro a que o edifício foi sujeito, na década mandou algumas revoltas contra o emirato de Cór-
de 50, revela bem essa sujeição a um estilo entendido dova. Por um lado, a inexistência de uma cabeceira
como visigótico (Fernandes, 2000). levava a que a orientação espacial do interior pudesse
Foi preciso esperar pelo ano de 1992 para que uma ser outra, diferente da que caracteriza os templos
nova teoria tivesse relativo sucesso na historiografia cristãos. Por outro, as analogias estilísticas que o au-
nacional. Nesse ano, Cláudio Torres propôs que o mo- tor encontrou reforçavam uma datação tardia, já pelo
numental edifício fosse uma mesquita, construída século X, dado o mesmo «ar de família» que se sentia
provavelmente no consulado de Ibn Marwan, um dis- em Idanha e em São Pedro de Lourosa (Figs. 16-17).
sidente islâmico que, pelos finais do século IX, co- Esta nova visão significou um enorme passo adiante
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 253

nas linhas com que se vinha carac-


terizando a Alta Idade Média em
Portugal. No entanto, foram várias
as resistências, próprias de uma ar-
gumentação que deixava, ainda,
grandes questões por responder. A
sensação de proximidade estilística
para com monumentos asturiano-
leoneses, como é o caso de Lou-
rosa, a par de outros dados docu-
mentais, levou à manutenção de
uma prevalência cristã (Real,
2000). E a pretensa acção de Ibn
Marwan em Idanha-a-Velha não
está, ainda, confirmada (Fernandes,
2001; 2006).
Em recentes escavações, José Fig. 16. Monumento de Idanha-a-Velha, 1998. Pormenor da arcaria que separa as naves
Cristóvão identificou um segundo central e ocidental (séculos VIII-X).
baptistério (que não tem aparentes
relações com o primeiro, nem com
o actual edifício) (Fig. 18), bem
como numerosas outras estruturas,
que fazem com que o monumento
que hoje subsiste possa ser apenas
uma parte de um conjunto bem
maior (Cristóvão, 2002). Poste-
riormente, o estudo de Arqueo-
logia da Arquitectura (Caballero,
2006) veio trazer algumas respos-
tas sobre problemas que se arrasta-
vam há décadas: a contemporanei-
dade dos aparelhos de silhares e de
silharia (o que contraria frontal-
mente aquela sistematização da
arte de época visigótica em duas
Fig. 17. S. Pedro de Lourosa, Oliveira do Hospital. Pormenor da arcaria que separa as
fases com base nas características naves central e lateral Norte (século X).
do aparelho); a concepção unitária
do monumento, segundo um projecto original; a tos.2 Mais uma vez, o edifício monumental que se con-
evidência de pisos superiores, ainda que não total- serva dificilmente se incluirá na etapa visigótica, mas
mente explicados devido à «invisibilidade» de muitas tal não invalida a existência anterior de um edifício, por
parcelas constituintes; etc.
Apesar de todos estes avanços, Idanha-a-Velha con- 2 Fernandes, 2006: 67, nota 17: «Almeida, 1962: 248-249

tinua a ser um enigma e as questões que suscita na ac- menciona o aparecimento de «três pequenas pilastras em már-
more branco» e uma «placa rectangular», concebida como
tualidade são demasiadas para incluir nesta pequena mesa de altar, igualmente dotada de cavidade para lipsanoteca.
abordagem crítica. O mais interessante para o que aqui Segundo a descrição do autor (confrontada com o que diz na
se debate é a existência segura de uma construção de p. 175), estes elementos apareceram no exterior do edifício,
pelo lado Sul, onde Fernando de Almeida procurava encontrar a
época visigótica, contemporânea do baptistério do lado suposta ábside da catedral e, sintomaticamente, onde apareceu,
Sul, criticamente datado do século VI (Fig. 19). Ao pouco depois, o primeiro baptistério, podendo aqueles elemen-
longo dos anos tem aparecido abundante material de tos escultóricos estar em relação com esta estrutura religiosa.
Em Idanha-a-Velha, no depósito de materiais em que se encon-
conteúdo litúrgico, como pilastras e fragmentos de can- tra transformado o palheiro de São Dâmaso, conserva-se um
celas, cuja decoração é catalogável no universo visigó- pequeno pilar, aparentemente de decoração visigótica e, mais
tico (Fig. 20), se bem que atribuí-lo ao século VII será recentemente, temos notícia de novas descobertas que aguar-
dam publicação, em princípio identificadas no exterior do con-
demasiado ousado pela ausência de referentes concre- junto (secção nascente)».
254 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

invariavelmente contrariam a atri-


buição tradicional. Carlos Alberto
Ferreira de Almeida, 1986: 137-140,
entre outros argumentos, evidenciou
o recurso a uma entrada de lintel
recto sobrepujada por arco de des-
carga de volta perfeita (Fig. 21),
como em Lourosa, e a existência de
uma tribuna ocidental, característica
das igrejas asturianas (cf. também
Almeida, 2001: 30-31). Manuel
Luís Real, 1995: 61-62 referiu-se ao
estatuto do templo como «um posto
avançado na progressão da influên-
cia galaico-asturiana», retomando
os argumentos de Ferreira de Al-
meida e aduzindo outros como o da
Fig. 18. Monumento de Idanha-a-Velha, 2006. 2º baptistério (lado Norte).
Cronologia indeterminada.

Fig. 20. Monumento de Idanha-a-Velha.


Fragmento de pequeno pilar de época
visigótica (séculos V-VII). Palheiro de
Fig. 19. Monumento de Idanha-a-Velha, 2006. 1º baptistério (lado Sul) (séculos V-VII). São Dâmaso.

enquanto completamente desconhecido, erguido em reutilização de material anterior, presumivelmente visi-


conexão com o baptistério meridional. gótico. Finalmente, o estudo de Arqueologia da Arqui-
tectura (Caballero, Arce e Utrero, 2003), esclareceu al-
gumas das anteriores suspeitas e acrescentou novas
2.4. SÃO GIÃO DA NAZARÉ evidências. A primeira —e possivelmente a mais im-
portante para afastar a recorrente atribuição visigó-
Desde a sua descoberta, nos anos 60 do século XX, tica— é o facto de os muros integrarem fragmentos es-
que a pequena igreja da orla costeira da Nazaré tem cultóricos que podemos catalogar como de época
sido catalogada como visigótica. Esta «certeza» levou, visigótica (Fig. 22), facto que pressupõe uma cons-
mesmo, Helmut Schlunk, 1971, a propor uma leitura da trução posterior à perda de simbolismo desses mate-
arquitectura da liturgia de época visigótica, tendo por riais. Paralelamente, as próprias características arqui-
base este monumento. tectónicas do conjunto afastam-no do universo
Os trabalhos mais recentes de escavação e, princi- visigótico e aproximam-no extraordinariamente do res-
palmente, de Arqueologia da Arquitectura trouxeram trito número de templos asturianos, conforme se com-
novos dados para a caracterização do monumento, que prova pela existência de tribuna ocidental e câmara su-
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 255

época final visigótica, argumento


que mereceu grande aceitação em
outros autores, formando uma co-
rrente muito homogénea no marco
historiográfico de pendor visigo-
tista, que viu na diferença de aparel-
hos (de silharia para silhares) um
dos vectores diferenciadores entre a
arquitectura dos séculos V-VI e a do
VII. Segundo este autor, partindo de
um pressuposto claramente subjec-
tivo face às evidências materiais do
monumento, Nazaré é «probable-
mente el templo cristiano más anti-
guo que se nos conserva en restos
sustanciales en todo el territorio pe-
Fig. 21. S. Gião da Nazaré, 2005. Portal principal: vão de lintel recto sobrepujado por ninsular».
arco de descarga de volta perfeita (séculos IX-X?).

2.5. VERA CRUZ DE MARMELAR

Os vestígios arquitectónicos e escultóricos de Vera


Cruz de Marmelar têm sido objecto de catalogação
díspar por parte dos autores que se dedicaram ao es-
tudo deste monumento. Almeida, 1954, Hauschild,
1986: 168 e Almeida, 1986: 48 consideraram-nos vi-
sigóticos (da segunda metade do século VII para este
último), enquanto que Real, 1995: 44 e Caballero e
Arce, 1995: 201 entenderam estar-se perante elemen-
tos mais tardios, já de época moçárabe. O conjunto
nunca foi arqueologicamente intervencionado, pelo
que, naturalmente, têm-se privilegiado as aproxi-
Fig. 22 - S. Gião da Nazaré, 2003. Fragmento de friso de época mações estilístico-tipológicas como meio de datação.
visigótica reutilizado como material de enchimento dos muros De ambos os lados da remodelada capela-mor (Fig.
do templo (séculos V-VII).
25) existem dois pequenos absidíolos, de planta rec-
tangular, cobertos com abóbada em ferradura e não de
pra-absidal (Fig. 23). A juntar a estas evidências, há volta perfeita. Ao nível do arranque das abóbadas
que aprofundar o estudo estilístico dos capitéis da eiko- existe um friso composto por elementos decorativos
nosthasis (Fig. 24), cujo vegetalismo e organização em reaproveitados, uma vez que são visíveis cortes, ruptu-
andares aponta também, ainda que com tratamento me- ras e diferenças de tamanho entre eles. Ao centro do
nos saliente do campo escultórico, para os característi- absidíolo Sul, na sua face nascente, existe uma janela
cos capitéis vegetalistas asturianos. concheada (Fig. 26) que se encontra também reapro-
Em São Gião entronca grande parte das contra- veitada, pois a moldura vegetalista que a enquadra foi
dições de variantes interpretativas geradas no seio do parcialmente cortada para se adaptar ao restante apa-
modelo visigotista. Enquanto que Fernando de Al- relho que forma o conjunto.3 A capela-mor não parece
meida, 1968: 5 equacionou uma influência bizantina
(portanto, situada no século VII) e Jacques Fontaine,
3 Não parecem restar grandes dúvidas a respeito da con-
1992: 453 referiu que uma parte significativa das ca-
dição de reaproveitamento dos elementos decorativos das ábsi-
racterísticas do edifício se encontram em realizações des de Marmelar. Eles foram, ainda, sujeitos a posteriores inter-
asturianas e moçárabes, outros autores apontam para venções, como se comprova pela integral supressão do relevo
uma cronologia muito mais recuada. Arbeiter, 1989: numa das secções da ábside Sul. A moldura ornamental que en-
quadra a janela-nicho compõe-se de dois registos com preen-
164 e 168, nota 52 (retomado em 2003) realça o apa- chimento heterogéneo (no inferior sucessões de hastes de vi-
relho destituído de silhares como característica da deira com cachos de uvas nos espaços internos e no superior
256 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

ter sido assim tão remodelada em


épocas recentes, pois apresenta
ainda parte do aparelho original e
vestígios de orifícios de ambos os
lados do que seria o arco triunfal,
que sugerem a existência de uma
cancela.
No exterior da cabeceira, na sua
face voltada a nascente e acima do
limite conservado do aparelho de
grandes silhares, foram reaprovei-
tadas outras peças, concretamente
dois pequenos frontões triangulares
com moldura exterior relevada e
preenchimento interior com moti-
vos geométricos e vegetalistas, de
disposição radial, organizados em
dois registos (Fig. 27). A dispo-
sição equidistante destes frontões e
a repetição aparente da sua deco-
ração supõe que exista, pelo me-
nos, mais um, ocultado pela torre
medieval adossada à face posterior
da capela-mor.
Fig. 23. S. Gião da Nazaré. Proposta de reconstituição do templo altimedieval, segundo O que acabamos de descrever
Luís Caballero Zoreda, que inclui uma tribuna ocidental e um possível espaço superior
sobre a nave transversal, restando a dúvida sobre a existência de uma câmara supra-absidal. corresponde a dois momentos dis-
tintos de construção do monumento:
a escultura, que pode ser de época visigótica (embora as
abordagens mais recentes realcem influências omíadas
- cf. Hoppe, 2000: 253), e a arquitectura, que é poste-
rior, de época moçárabe. Quando se edificou a cabe-
ceira de Marmelar, reaproveitaram-se anteriores ele-
mentos decorativos como forma de monumentalizar o
conjunto. A integração da janela-nicho entre molduras e
frisos simetricamente dispostos e a preocupação pela
equidistância dos frontões do exterior são valores que
provam a efectiva cenografia da obra arquitectónica, re-
forçada pela inclusão de contrafortes em relação axial
com os frontões (pelo menos, assim o sugere a posição
entre o contraforte e o frontão visível do lado Sudeste).
Estas considerações pressupõem uma outra: a de que,
no momento de se realizar a obra de arquitectura, os
elementos decorativos não detinham já valor simbólico
que lhes permitisse manter a mesma localização rela-
tiva no interior do templo, funcionando presumivel-
mente como evocadores de um passado cristão. É um
Fig. 24. S. Gião da Nazaré. Capitel da eikonostasis do templo facto que se desconhece a sua função primitiva, mas
(séculos IX-X?).
não pode deixar de se equacionar a realização daqueles
elementos escultóricos como possíveis peças de conte-
elementos vegetalistas a sugerir planos sobrepostos organiza- údo litúrgico, em eikonosthakis, altares, cancelas, etc.
dos de forma verticalizante); paralelamente, o registo superior Dito isto, qual a cronologia possível a atribuir aos
possui uma linha de cachos de uvas de diferente dimensão que múltiplos fragmentos escultóricos dispersos pelo local?
as do registo inferior, outra evidência que comprova a reutili-
zação destas peças. A resposta não é, evidentemente, decisiva. No estudo
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 257

do monumento existem ainda dema-


siados constrangimentos para que se
possa, em rigor, sugerir uma da-
tação para os elementos escultóri-
cos. Em primeiro lugar, o local
nunca foi intervencionado arqueolo-
gicamente, faltando a informação e
o espólio que uma escavação certa-
mente trará. Em segundo lugar, a
cabeceira da igreja não é inteira-
mente conhecida, quer no exterior,
ao qual se adossa o paço, quer no in-
terior, onde grandes parcelas perma-
necem invisíveis. Finalmente, não
há um inventário rigoroso dos frag-
Fig. 25. Vera Cruz de Marmelar. Vista geral da cabeceira.
mentos escultóricos, que permita
avaliar o conjunto e reconhecer pa-
ralelos estilísticos imediatos.
Neste panorama, o que a seguir
se diz carece de prova arqueoló-
gica. Não é certo que todo o espó-
lio escultórico pertença a uma
mesma época. Se existem peças
catalogáveis à luz das dominantes
estilísticas de Mérida (onde, como
vimos, também existem impasses
de datação) (Fig. 28), outras pare-
cem apontar para contextos poste-
riores, conforme sugere a maior
complexificação compositiva. A
correcta classificação da janela-ni-
cho não é inteiramente consensual,
uma vez que a recorrente analogia
para com a janela da igreja de San
Fig. 26. Vera Cruz de Marmelar. Janela concheada do absidíolo Sul (séculos VIII-X).
Pedro de La Nave não impõe uma
cronologia em pleno século VII.4
Jean Marie Hoppe, 200: 353 refe-
riu-se ao «espírito evoluído da arte
omíada» para caracterizar este ele-
mento e, tendo em conta que as
suas partes constituintes se encon-
tram reutilizadas, o mais natural é
estar-se a falar de dois momentos
construtivos em contextos moçára-
bes.

4 A abordagem à janela-nicho de Mar-

melar não pode deixar de ter em conta o


que muito se tem escrito ultimamente a
respeito do templo de la Nave (cf. as po-
sições que relacionam este templo com
contextos moçárabes e pré-românicos em
Fig. 27. Vera Cruz de Marmelar. Cabeceira. Integração de elementos escultóricos na Caballero, 1997; Real, 1995: 45, Hoppe,
cabeceira. Cronologia indeterminada. 2000; Real, 2000: 62-63, etc.).
258 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

Fig. 28. Vera Cruz de Marmelar, 1956. Pormenor de reutili-


zação de um fragmento de pilastra como degrau de uma esca-
daria do antigo paço (séculos VI-VII).

2.6. O SISTEMA DEFENSIVO DE ÉVORA


A tradição cristalizou a denominação de «Torre de
Sisebuto» a uma das torres poligonais da cerca velha
de Évora5 (Fig. 29). Fernando de Almeida referiu-se Fig. 29. Évora. Torre de Sisebuto.
escassamente à possibilidade de parte da muralha ter
sido intervencionada no século VII, precisando que se Abordagens posteriores não confirmaram esta teo-
tratam de três torres, «duas (…) da cerca romana e ria. Manuel Justino Maciel (1997) coloca o discurso
uma terceira metida no convento do Salvador» (Al- historiográfico a um nível mais cultural e menos ar-
meida, 1962: 190). A cronologia apontada pelo autor queológico (pelo menos no que respeita a Évora), re-
é a segunda metade do século VI, «quando os Bizanti- flectindo sobre os fenómenos de aculturação entre
nos ocuparam o Algarve e pretendiam alargar as suas uma sociedade visigótica plena de debilidades e um
conquistas para o Norte» (Idem, 1962: 191). Há, evi- mundo bizantino civilizacionalmente superior.6 Túlio
dentemente, uma contradição na passagem com que o Espanca (1993: 115-116) refere-se à muralha «ro-
autor se refere a estes três monumentos: erguidos para mano-islâmica», sem diferenciar etapas construtivas e
defesa do sistema militar de origem romana contra as sectores, embora em trabalho muito anterior (1945),
tropas bizantinas mas, paradoxalmente, seguindo um adopte o termo «muralha romano-goda»; desconhece-
mesmo esquema planimétrico e volumétrico «de al- -se, todavia, se estas diferenças apontam para uma
gumas torres da segunda cintura de muralhas de evolução do pensamento do autor que mais estudou
Constantinopla, mandada erguer por Teodósio» esta cidade, ou se, como pensamos, são antes o re-
(Idem, 1962: 191). flexo subconsciente dos distintos tempos historiográ-
ficos. Carmen Balesteros e Élia Mira (1994) realça-
ram as transformações ocorridas na Baixa Idade
5 Desconhecemos quando se terá formado a ideia de asso- Média, em particular no século XIV, deixando contudo
ciar a torre ao monarca visigótico Sisebuto. No denso caminho aberta a perspectiva de a torre de Sisebuto ser de ori-
do eruditismo eborense, que percorreu toda a Idade Moderna e
dispôs ainda de importantes vultos no século XX, decerto não gem romana. Miguel Lima (2004: 14) refere-se à
faltarão momentos de cristalização do glorioso passado da ci- «cerca romano-goda» mas, nas páginas seguintes, não
dade. Enquanto aguardamos por novos dados fornecidos pela
reavaliação de inúmero material disperso pela herança histórica
da cidade, não deixa de ser motivo de interesse o facto de o rei
visigótico mencionado ser Sisebuto, um dos principais agentes 6 Maciel, 1997: 35: «Muitos dos monumentos, obras de arte

da derrota bizantina no Sul da Península mas, também, um dos e fortificações reportados à época de ocupação, tanto poderiam,
monarcas altimedievais mais radicalmente católicos, cuja acção à partida, ter a marca de bizantinos como de visigodos, pois a
se pautou por uma clara intolerância perante outras perspecti- aculturação existiu dos dois lados, embora com preponderância
vas religiosas. da cultura bizantina».
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 259

menciona um único vestígio deixado pelo poder tole-


dano.
Os dados da arqueologia estão longe de provar
qualquer campanha construtiva em época visigótica
ou, sequer, bizantina. A parcela da muralha melhor
investigada, se bem que escassamente publicada, lo-
caliza-se sob a Casa nobre da Rua de Burgos (Fig.
30), tendo os trabalhos identificado os alicerces da
muralha tardo-romana, implantados sobre um nível
de aterro que destruiu estruturas habitacionais e urba-
nas de cronologia romana plena. A Alta Idade Média
encontra-se mal documentada, não sendo possível
perceber a partir de que altura se começam a adossar
edifícios à cerca, sobrepondo-se estruturas habitacio-
nais de difícil interpretação. Na Rua da Alcárcova de
Cima, as escavações revelaram a existência de um
fosso de aparente origem romana, paulatinamente en-
tulhado ao longo dos tempos (Ballesteros e Gonçal-
ves, 2007: 159).7 No Largo da Misericórdia, onde a
cerca também passa, as escavações realizadas em
2000 colocaram a descoberto estruturas do que po-
derá ter sido uma torre da cerca tardo-romana, mas
são omissas no que diz respeito à possível evolução
do sistema defensivo nos séculos imediatamente se-
guintes. E os vestígios da Torre de Caroucho, identifi-
cados em 2002, aparentemente não revelaram níveis Fig. 30. Évora. Troço de muralha da cerca romana conservada
no piso inferior da Casa de Burgos (século IV com transfor-
de ocupação coincidentes com o período visigótico. mações posteriores).
Por outro lado, a seguir ao circuito tardo-romano,
defendido por torres quadrangulares, tem-se valori- tudo especificamente dirigido para as dominantes cons-
zado a época islâmica, em particular o século X trutivas da velha muralha, que expusesse, por exemplo,
(pouco depois de a cidade ter sido saqueada por Or- algo tão fundamental como as características do seu
donho II em 913) (Vilar e Fernandes, 2007: 7-9), e aparelho e as possíveis linhas de ruptura provocadas
os tempos finais de domínio almorávida e almóade. por campanhas posteriores.
Finalmente, chama-se a atenção para o facto de as As investigações mais recentes desenvolvidas no
torres octogonais não serem uma marca inequívoca centro histórico não têm revelado grandes dados sobre
da arquitectura militar bizantina. Algum tempo de- outros contextos construtivos, desde logo religiosos.
pois do fim do reino visigótico, o território meridio- Ao contrário do que seria de supor numa cidade que foi
nal ocidental começou a pontuar-se de fortalezas sede episcopal desde, pelo menos, o Concílio de Elvira,
islâmicas, algumas das quais evidenciando torres de os vestígios altimedievais encontrados em Évora têm
secção poligonal, como Silves ou Tavira (Catarino, sido pouco mais que decepcionantes. Resumem-se a
1997: 455). um pequeno elemento arquitectónico de mármore (30
O debate acerca do bizantinismo de parte da cerca cm × 13 cm × 11 cm), aparecido no entulho de um silo
velha de Évora perdeu fulgor nos últimos anos mas, em escavado em 1995 junto ao Templo de Diana (Haus-
rigor, não se pode negar absolutamente que o século VII child, 1996). O depósito encontrava-se cheio de mate-
não tenha deixado qualquer marca nos muros da ci- riais tardios, datáveis dos derradeiros tempos da pre-
dade. O troço de muralha posto a descoberto na Casa sença islâmica e dos inícios do domínio português
de Burgos, por exemplo, evidencia múltiplos sinais de sobre o território, sendo este cimácio o único elemento
transformações e até agora não se efectuou uma leitura altimedieval. Trata-se, assim, de um vestígio dupla-
de arqueologia da arquitectura dessa parcela. Assim mente descontextualizado, integrado num recheio de
como, até ao momento, não houve um projecto de es- entulho e sem a companhia de outros elementos situá-
veis no mesmo período.
7 Ao que foi possível apurar, a muralha tardo-romana foi Theodor Hauschild situou esta pequena peça nos
alvo de derrube parcial, mas já no período moderno. séculos VI-VII (com maior pendor para este último) e
260 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

em contexto litúrgico cristão, podendo tratar-se quer Outra das grandes conquistas dos recentes proces-
de um capitel, quer de um ponto de apoio a uma mesa. sos revisionistas é a identificação de várias fases
As únicas parcelas decoradas são as inferiores, em construtivas, ou, pelo menos, a possibilidade deixada
plano inclinado, que apresentam um característico tri- em aberto pela análise dos elementos visíveis. Mesmo
foliado, frequente no espólio de Mérida, com recurso tendo em conta os múltiplos limites de investigação
a escultura através de bisel. (ausência de escavações arqueológicas; inexistência
Datar um elemento arquitectónico altimedieval de leituras de paramentos; deficiente documentação
descontextualizado de qualquer realiadade arqueoló- gráfica dos monumentos; etc.), algumas abordagens
gica é, em si mesmo, um processo que comporta o estritamente estilísticas apontam já para a materiali-
inevitável risco de erro. Os conjuntos emeritenses zação de diferentes momentos de construção. Bal-
deste tipo foram colocados tanto no século VI, como semão é um caso emblemático, pela notória inclusão
no século VII, ao abrigo de uma influência artística bi- de diversos elementos de épocas aparentemente dis-
zantina (Cruz Villalón, 1985: 388-392). Infelizmente, tintas, mas Montélios é também um sítio a explorar e
os exemplares «portugueses», por serem mais disper- os próprios capitéis da igreja de Santo Amaro de Beja
sos e apresentarem maior grau de descontextuali- evidenciam diferentes épocas. Se se acrescentar a este
zação, não permitem qualquer aproximação à questão facto as distintas fases construtivas identificadas em
cronológica, sendo preferível equacionar-se uma Idanha-a-Velha e São Gião da Nazaré (nestes dois
longa duração de influência emeritense, já que as edifícios com recurso a métodos bastante mais fiáveis
peças do lado ocidental localizam-se maioritaria- que o permitido pelo método comparativo), deixar-se-á
mente, em pontos de contacto com a capital da Lusitâ- de encarar estes grandes monumentos como obras
nia (Idanha-a-Velha, onde existem três peças aparen- cristalizadas de um só impulso construtivo, passando
tadas, Beja, Mértola e Silveirona, no distrito de a reconhecer neles uma história que deixou diversas
Évora). Mais uma vez, a pretensa influência bizantina marcas, incomparavelmente mais diversificada do
directa no território meridional merece ser reequacio- que à partida se poderia supor.
nada, à luz da recepção de modelos por parte de Mé- Mesmo por via estilística, os monumentos são de-
rida e respectiva difusão a partir da capital lusitana. cididamente mais do que aquilo que parecem.
Quanto à funcionalidade, não parecem restar gran-
des dúvidas acerca da sua inclusão num projecto ar-
quitectónico de conteúdo cristão, ainda que não seja 2.7.2. A reutilização de materiais escultóricos.
clara a proveniência da acrópole eborense. Lembra- Uma dominante comum.
mos que, por exemplo, uma das pilastras de Chelas
foi encontrada na Casa dos Bicos, quando estava pres- Nos dois únicos monumentos intervencionados ar-
tes a ser transferida de local, pelo que a maior mobili- queologicamente (São Gião da Nazaré e Idanha-a-
dade destes elementos arquitectónicos deve ser um -Velha), os dados surgidos inviabilizam uma inequí-
valor a ter em conta em futuras abordagens a mate- voca atribuição ao século VII, sugerindo, com bases
riais descontextualizados. mais sólidas, contextos construtivos posteriores,
ainda que não totalmente individualizados. Uma cir-
cunstância, todavia, percorre a esmagadora maioria
2.7. ALGUMAS CONCLUSÕES A RESPEITO DESTE NÚCLEO destes monumentos: a inclusão de elementos escultó-
ricos anteriores, passíveis de datarem de época visigó-
2.7.1. Os «argumentos tipológicos» invalidam tica. Tratam-se de materiais maioritariamente litúrgi-
os «argumentos tipológicos» cos, presumivelmente associados a altares, cancelas e
eikonosthakis, reutilizados fora dos seus contextos
A sumária análise aos monumentos integrados originais, umas vezes servindo como elementos dife-
pela corrente visigotista no século VII prova que os renciadores colocados em locais emblemáticos (como
argumentos de natureza estilístico-tipológica são de- em Marmelar, na mesquita-catedral de Idanha-a-
masiado frágeis para continuarem a sustentar uma -Velha ou nos arcos triunfais de Balsemão e Nazaré),
atribuição segura à época de domínio visigótico. outras vezes incorporados deliberadamente nos mu-
Acontece, até, o inverso: uma mais cuidada argumen- ros, como material de enchimento, sem qualquer va-
tação nesse sentido revela, afinal, uma muito maior lor simbólico para os novos construtores (como apa-
coerência cronológica para com contextos posterio- rece também em São Gião da Nazaré). A este facto
res, vinculados à autoridade asturiano-leonesa ou aos junta-se um outro: o de que os monumentos escon-
grupos culturais moçárabes. dem, no sub-solo, outros elementos não incorporados.
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 261

Referimo-nos às peças encontradas no interior do mo- mais recentemente, Mértola têm fornecido dados de
numento de Idanha-a-Velha e ao fragmento do Museu alguma relevância. Naquela, o registo arqueológico
de Montélios. tem sido praticamente omisso para o século VII, prefe-
Tudo isto prova que houve, pelo menos uma etapa rindo os autores referir-se aos materiais escultóricos e
construtiva anterior aos actuais edifícios, presumivel- a fragmentos de placas de cinturão (Man, 2006: 45 e
mente de época visigótica, mas cujos vestígios de ar- 72) que, como se sabe, não são cronologicamente de-
quitectura, infelizmente, nos faltam. Evidentemente, cisivos. Nesta, a reavaliação funcional da chamada
não podemos assegurar que esses vestígios correspon- Torre do Rio fez com que, pela primeira vez, se admi-
dem ao século VII. tisse ter a cidade sido objecto de obras durante a ocu-
A valorização que aqui fazemos da escultura deco- pação bizantina (Torres, Correia, Macias e Lopes,
rativa não tem um carácter absoluto em termos crono- 2007: 183).9 A grande distância de conhecimento en-
lógicos, como foi tão frequente ao longo da historio- tre os séculos VI e VII, contudo, é uma incontornável
grafia do século XX. Ela é mais um dado (em alguns evidência para a caracterização da cidade do Gua-
casos, o «único» dado) para melhor contextualizar os diana, sendo flagrante o dinamismo cultural das pri-
edifícios que chegaram até hoje e, como vemos, com meiras décadas do século VI (atestado pelo notável
resultados surpreendentes sobre a totalidade dos «mo- conjunto epigráfico da Basílica do Carmo) e as duvi-
numentos da discórdia», diferenciando, claramente, dosas atribuições à centúria seguinte de vestígios ma-
duas fases ocupacionais dos locais e uma constante teriais que, em boa verdade, estão descontextualiza-
opção pela reutilização de materiais. dos de qualquer realidade arqueológica.
Este panorama sobre duas das mais importantes
cidades do território ocidental não difere substancial-
PARTE II - (RE)CONSTRUINDO mente do que atrás se disse sobre os monumentos da
discórdia. Assiste-se, assim, à falência da tradicional
1. OS DADOS DA INVESTIGAÇÃO. tentativa para fazer coincidir os dados documentais
UM TERRITÓRIO «EM (em particular as referências às cidades episcopais)
DESMONUMENTALIZAÇÃO»? com os monumentos evocadores dessa realidade de
afirmação do Cristianismo. E, também por essa via,
Estudar hoje o século VII implica reconhecer quer chega-se a uma abordagem nova e distinta do territó-
as insuficiências dos modelos visigotistas, quer os rio. Enquanto que os meios urbanos se tornam cada
avanços e recuos próprios da investigação arqueoló- vez mais mudos em relação a um capítulo da História
gica nas últimas décadas. Em duas importantes cida- a que se sobrepuseram outros momentos de muito
des para o mundo visigótico —Recópolis e Mérida—, maior impacto estratigráfico, a investigação em con-
as investigações mais recentes provaram uma pro-
gressiva debilidade urbana e construtiva precisamente
no século VII (Olmo Enciso, 2000: 390-392; Alba Cal- importante sector urbano da cidade pós-romana, detectou-se
zado, 1997). Os resultados obtidos por estes investi- um nível de abandono no primeiro quartel do século VII, ao
gadores são de primeira importância, tendo em conta mesmo tempo que a cultura material aparenta decair de quali-
dade (Ramallo Asensio, Laiz Reverte e Berrocal Caparrós,
o imenso desconhecimento sentido pela investigação 1998: 464) coincidindo precisamente com a retoma da cidade
científica no estudo específico das cidades tardo-anti- para o domínio visigótico, depois de algumas décadas de
gas. É conhecido o estatudo da cidade como centro vínculo ao Império Bizantino. Na antiga cidade de Ilici (Elche),
as escavações identificaram mutações urbanas importantes
das estruturas real e religiosa (Olmo Enciso, 1998: numa fase avançada do domínio visigótico, situáveis no século
261), mas, nestes centros, a maior sobreposição de VII por datação estilística de algumas peças escultóricas identi-

eras, dificulta o reconhecimento da fase de época visi- ficadas na basílica altimedieval. Tratam-se de alterações em
edifícios com existência segura desde os séculos IV e V, efec-
gótica.8 No território português, só Conímbriga e, tuadas com recurso a aparelho construtivo de pior qualidade
(Llobregat, 1996: 73), o que pressupõe uma progressiva de-
cadência na arte construtiva da cidade. E a lista poderia conti-
8 Existem, todavia, algumas constantes que importa salien- nuar abarcando outros sectores da Península.
tar: a mais importante é a que atribui as principais codificações 9 Macias, 2006: 195 e 199, situa a torre do rio (assim como

urbanísticas ao período entre os séculos IV e VI, estando nesta o criptopórtico-cisterna) em altura posterior ao século V, possi-
última centúria já perfeitamente implantados os edifícios que velmente no período de apogeu da cidade, já durante a primeira
definem a nova ordem cristã e visigótica (as basílicas e os con- metade do século VI. Anteriormente, Lopes, 2003: 86-89 consi-
juntos palatinos). Valência parece ser um desses casos, de- derou-a obra tardo-antiga (séculos III-IV), por analogias cons-
caíndo de importância no século VII (Olmo Enciso, 1998: 264), trutivas com alguns dispositivos do sistema defensivo de Lugo.
período em que é possível verificar uma relativa redução do pe- E não faltam opiniões sobre a sua possível construção em
rímetro urbano, com avanço claro dos espaços de enterramen- época romana ou islâmica. Mais uma vez, faltam os dados pro-
to em zonas anteriormente habitadas. Em Cartagena, no mais porcionados pela arqueologia.
262 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

textos rurais (decididamente menos intervencionados nominal dependência bizantina durante as primeiras
pela mão humana no último milénio) tem revelado décadas do século VII. A distinção, nesta região, do que
dados muito interessantes a respeito da evolução do corresponde a um contexto visigótico e o que pertence
povoamento peninsular entre a Antiguidade Tardia e a a outro, bizantino, tem sido um problema suplementar
época islâmica. Quer isto dizer que, ao se esvaziar colocado aos investigadores que se debruçaram sobre a
progressivamente a última etapa de domínio visigó- Alta Idade Média. Por outro lado, alguns autores sobre-
tico de alguns dos seus tradicionais monumentos em- valorizam o século VII na evolução artística peninsular,
blemáticos, não se está a negar a existência de activi- o que secundariza eventuais realizações anteriores,
dade construtiva e artística nesse período; nem, concretamente dos séculos V e VI (Gomes, 2002: 384,
evidentemente, o poderia fazer, pois tenho, sobretudo, por exemplo, reduz a presença visigótica ao lapso tem-
tentado valorizar os fenómenos de continuidade e de poral que medeia entre a expulsão bizantina, ocorrida
complexidade numa Alta Idade Média hispânica di- em 624, e a invasão islâmica de 711).
versificada e, muito possivelmente, a várias velocida- Apesar destas condicionantes, o Algarve tem re-
des, faltando ainda uma abordagem às distintas e/ou velado abundantes vestígios de povoamento altime-
complementares dinâmicas regionais. dieval, fruto de um notável avanço da arqueologia na
A crítica simplista de que uma nova corrente de in- região. Com efeito, nas últimas três décadas multi-
vestigadores «esvazia» o derradeiro capítulo visigótico plicaram-se os projectos de investigação e a publi-
de monumentos, não pode ser encarada de forma ver- cação de resultados tem sido constante. Nesse
dadeiramente séria: não só não se pretende «esvaziar» processo, importa realçar a actividade de alguns ar-
um contexto civilizacional (como outros o fizeram, e queólogos, como Helena Catarino, Rosa Varela Go-
alguns ainda fazem, em relação ao moçarabismo), mes e Mário Varela Gomes, Teresa Júdice Gamito,
como é certo que a época visigótica está repleta de no- José Luís de Matos, Manuel Justino Maciel, Hélder
vidades trazidas a luz nos últimos anos. O que se passa Coutinho, Isabel Inácio, Ana Gonçalves, Janine Lan-
é que os resultados da investigação arqueológica na cha, Sandra Cavaco, para além das investigações la-
Alta Idade Média estão a modificar o nosso entendi- terais de Félix Teichner, Maria Maia e Manuel Maia,
mento acerca dos fenómenos de povoamento durante a Ana Arruda ou João Pedro Bernardes. É graças a
época visigótica e o panorama é, reconhecidamente, este crescente grupo de investigadores que podemos,
bem mais vasto que aquele que o paradigma visigotista hoje, compreender um pouco melhor como se pro-
estabeleceu durante décadas, através de obras de sín- cessaram as dinâmicas de povoamento, de continui-
tese e, muito em particular para o século VII. dade e de ruptura, durante a Alta Idade Média na
Até há poucos anos, a etapa visigótica surgia como zona mais meridional do território hoje português.
um período de ténues vestígios, cujo «silêncio» era Não existem grandes monumentos que engrossam as
ultrapassado pontualmente por necrópoles dispersas e páginas de debate historiográfico, mas a investi-
por monumentos de qualidade ímpar, de difícil con- gação arqueológica continuada revela um panorama
textualização com o que se sabia acerca da progres- bem mais complexo que a linear redução da etapa al-
siva decadência do reino visigótico. O influxo exte- timedieval a um ou dois monumentos emblemáticos,
rior à Península, com clara preponderância para uma visíveis acima de um «deserto» de povoamento.
recorrente vaga de influência bizantina, surgiu, desta
forma, como a resposta óbvia aos problemas de carac-
terização estilística desses monumentos. 2.1. AS MURALHAS DA CIDADE DE FARO
Ora, o panorama parece ser, decididamente, outro.
Se houve cidade dominada pelo Império romano
do Oriente foi Ossónoba, constituindo mesmo a úl-
2. O ALGARVE: UM CASO DE ESTUDO10 tima praça-forte das tropas bizantinas a resistir à in-
vestida visigótica da década de 20 do século VII. Um
«no Algarve aparecem-nos peças visigóticas dado já referido por vários autores, desde Goubert,
um pouco por toda a parte» (Almeida, 1962)

O Algarve apresenta um quadro mais complexo que


entretanto alguns contributos recentes, como os constantes da
o restante território hoje português, porque esteve sob dissertação de mestrado de Isabel Inácio ou os resultantes de
projectos arqueológicos de alguma importância para a época
visigótica, como o que tem vindo a ser desenvolvido no Castelo
10 Este capítulo foi escrito em Novembro de 2006 e repre- de Alferce, conduzido por Johny Meulemeeste, Mathieu Granjé
senta o ponto de situação nessa altura. Não foi possível integrar e Joke Dewulf.
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 263

1950: 281, dá conta da ausência do seu bispo nos con-


cílios toledanos de 597 e 633. Se a ausência na pri-
meira data pode significar a integração do bispo osso-
nobense numa estrutura eclesiástica vinculada à
autoridade bizantina, a não participação em 633 é de
mais difícil entendimento, uma vez que a cidade esta-
ria já em poder dos Visigodos há quase uma década.
Deve-se a Teresa Gamito a sugestão de parte da
cerca velha de origem tardo-romana ter sido re-
forçada em época bizantina. Segundo a autora, os
vestígios desse empreendimento encontram-se no
sector nascente, concretamente no «súbito arranque,
a meia altura dos torreões, que, de arredondados pas-
sam a facetados em heptágono» (Gamito, 1997: 349)
(Figs. 31-32). O tipo de aparelho aí utilizado, à base
de silharia miúda, contrasta com os silhares regulares
de encaixe perfeito entre si que caracterizam a obra
romana, mas também não se contextualizam com as
parcelas islâmicas do sistema defensivo, facto que
permite atribuí-lo a um terceiro período, neste caso
intermédio. Tipologicamente, a secção poligonal das
torres difere dos torreões redondos ou quadrangula-
res do dispositivo romano e das torres albarrãs qua-
drangulares de época islâmica, aumentando-se, por Fig. 31. Muralha de Faro. Torreão de secção octogonal voltada
isso, as probabilidades de pertencerem à Alta Idade ao adro de S. Francisco (século IV com transformações poste-
Média, concretamente ao período de domínio bizan- riores, uma delas nos séculos VI-VII?).
tino da cidade.11
Esta perspectiva de caracterização não responde a
outras perguntas fundamentais, como a cronologia em
que se efectuaram as obras. Pode supor-se que terão
sido no século VII, algum tempo antes da conquista da
cidade pelos Visigodos. O facto de só se ter reforçado a
parcela voltada a nascente (a terra), e de todo o projecto
parecer algo apressado, porque privilegiou um sector
em detrimento de todos os outros, são elementos indi-
rectos que vêm em benefício de uma cronologia mais
tardia. Mas o contrário permanece igualmente válido,
equacionando-se um primeiro reforço estrutural ainda
no século VI, logo após a entrada das tropas de Justi-
niano na principal cidade do Sudoeste peninsular.
De local não identificado no interior do recinto
medieval procede um capitel que Fernando de Al-
meida catalogou como visigótico, embora sem atri-
buir uma cronologia mais precisa (Almeida, 1962).
Foi entretanto reaproveitado como pia de água de
benta na Igreja da Misericórdia, facto que permitiu a
sua sobrevivência até hoje.

11 Recentemente, fizeram-se escavações no sector Nordeste

da cidade, cujos resultados aguardam publicação. Falta, ainda, a


comprovação arqueológica, ao contrário do que sucedeu com Fig. 32 - Muralha de Faro. Torreão de secção octogonal, con-
Cartagena, por exemplo, onde as escavações revelaram troços da servada junto à antiga fábrica da cerveja (século IV com trans-
muralha bizantina da cidade, reconquistada por Sisebuto em 615. formações posteriores, uma delas nos séculos VI-VII?).
264 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

2.2. CAPELA DE NOSSA SENHORA DA ROCHA

Subsistem muitas dúvidas acerca das origens da


capela de Nossa Senhora da Rocha, bem como do pre-
sumível forte que, inicialmente, aqui existiu. A locali-
zação privilegiada do promontório onde se situa levou
a que, desde cedo, o local fosse fortificado, «domi-
nando toda a costa» entre Ossonoba (Faro) e Laco-
briga (Lagos) (Gamito, 1997: 356) e protegendo uma
«praia originariamente com acesso apenas por via
marítima», «um porto fechado entre amplas falésias»
(Maciel, 2003: 119).
A actual configuração do templo é de difícil cata-
logação. Por um lado, reaproveitaram-se capitéis
tardo-antigos, o que pressupõe uma construção em
Fig. 33. Capela de Nossa Senhora da Rocha, Lagoa. Capitel
plena Alta Idade Média (Fig. 33). Por outro, as suces- reaproveitado na colunata da galilé (séculos IV-VII).
sivas obras de pintura exterior, a par da inexistência
de escavações arqueológicas, impossibilitam uma los VI-VII, quer para os séculos IX-XI. Já a localização
mais rigorosa análise do monumento, o que contribui num promontório dominante sobre a costa, se, por um
para as dificuldades de datação e de contextualização lado, permite equacionar uma possível relação com o
estilística da obra. templo moçárabe de Nossa Senhora do Cabo, ou do
Nos últimos anos, diferentes autores propuseram Corvo, por outro parece inviabilizar qualquer fixação
distintas hipóteses acerca da origem do templo, cristã em época islâmica, altura em que as condições
qualquer delas carecendo de prova material. Teresa excepcionais do local certamente determinaram um
Gamito, ao estudar a presença bizantina no Algarve, aproveitamento militar.
viu nesta capela uma evidência da vitalidade e do al- A capela compõe-se de dois espaços essenciais:
cance da (re)conquista bizantina da Península, colo- um narthex rectangular, aberto ao exterior por uma ar-
cando-a a par de um sector das muralhas de Faro, que cada tripla assente em colunas e dois capitéis corín-
situou também neste contexto civilizacional (Gamito, tios de cronologia altimedieval, largo período a que
1997: 356-357). Para a autora, a configuração do átrio podem corresponder também as bases das colunas; e
e as pretensas analogias com a igreja de São Pedro de o corpo, quadrangular e coberto por uma cúpula oita-
Balsemão eram a prova que confirmava «a origem bi- vada dominante, sem paralelos aparentes na restante
zantina do templo», cuja tipologia orientalizante se arquitectura religiosa regional (Fig. 34). No interior,
verificava também no mundo visigótico. Apesar das esta cúpula é coberta por tecto de madeira e articula-
óbvias reticências aos argumentos de Gamito (que se -se com o retábulo moderno, tripartido, que se ajusta à
refere indistintamente a uma época visigótico-bizan- parede nascente.
tina, quando a contaminação entre
estes dois blocos opostos não está
suficientemente provada, e toma
por certa a cronologia visigótica de
Balsemão), a sua tese foi recente-
mente retomada por Manuel Jus-
tino Maciel, que sistematizou de
forma mais clara estes indícios,
mas não acrescentou novos dados
(Maciel, 2003: 118-119).
Igualmente problemática é a
proposta de Cláudio Torres, que viu
nesta capela «um centro de peregri-
nação na época moçárabe» (Torres,
1999: 161). O facto de se reutiliza-
rem capitéis tardo-antigos é um ar-
gumento válido quer para os sécu- Fig. 34. Capela de Nossa Senhora da Rocha, Lagoa. Vista geral do templo.
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 265

A atribuição dos capitéis à época


tardo-romana não é pacífica e só
uma mais rigorosa avaliação de sen-
tido comparativo pode trazer novos
indícios. A este respeito, importa ter
em conta as analogias entre estes
elementos e um capitel encontrado
nas imediações da Sé de Silves, que
Gomes, 2003: 106 datou prudente-
mente dos séculos VI-VIII, mantendo
assim em aberto a possibilidade de
corresponder aos primeiros tempos
do domínio islâmico, realidade que
a autora, em outros trabalhos, clara-
mente sobrevaloriza, face à escassez
de dados concretos relativos ao esta-
belecimento de contigentes islâmi-
cos no Sul da antiga Lusitânia.12 Fig. 35. Montinho das Laranjeiras, Alcoutim. Vista parcial da igreja cruciforme
Também a contextualização destes (séculos V-IX).
elementos com as colunas e com as
bases onde assentam não pode ser assumida como indi- 2.3. MONTINHO DAS LARANJEIRAS
cador claro de contemporaneidade, parecendo, de resto,
mais fortes as sugestões que apontam para uma readap- Posta a descoberto por uma cheia do rio Guadiana
tação destes materiais a uma realidade construtiva em 1876, o sítio arqueológico do Montinho das La-
inteiramente nova. O monumento, todavia, permanece ranjeiras compõe-se, genericamente, de uma uilla ro-
por estudar em toda a linha, nunca se tendo colocado à mana, mas revela ocupação que se prolonga por toda
vista o aparelho construtivo, submerso pelas camadas a Alta Idade Média, chegando, mesmo, às vésperas da
de cal que o revestem. (re)conquista cristã do território. Na origem, o entre-
Se a cronologia da capela é duvidosa, o mesmo posto romano aqui sediado beneficiou da proximi-
acontece com a fortaleza. Só possuímos informações dade do rio, servindo de base de apoio ao comércio do
seguras para os finais do século XVI, altura em que Guadiana para Mértola e Mérida e, destas cidades,
Tomé Gonçalves é mencionado como governador para o Mediterrâneo. Um porto parece ter estado sem-
(Coutinho, 1997, p. 116), mas é certo que desde tem- pre activo, independentemente das vagas civilizacio-
pos mais recuados estaria em funcionamento. Em nais que se sucederam no domínio pelo território. A
1821, encontrava-se já muito destruída, não se identi- uilla encontra-se ainda longe de estar escavada na sua
ficando grandes parcelas do perímetro original (Idem, totalidade, mas é possível reconhecer algumas estru-
p. 116) e, na actualidade, é pouco o que resta, mercê turas habitacionais romanas, maioritariamente qua-
das sucessivas derrocadas provocadas pelo mar, que drangulares, por vezes associadas a pátios centrais,
começam, mesmo, a ameaçar a própria estrutura da em torno dos quais se dispõem racionalmente os com-
capela. É importante ter em conta que as mais recen- partimentos, revelando-se, desta forma, alguma
tes abordagens arqueológicas confirmaram a presença monumentalidade na habitação romana aqui cons-
de um território islâmico militarizado, contando-se truída.
quatro possíveis pontos fortificados nas imediações O principal motivo de interesse para este estudo
—Castelo de Porches; Castelo de Estombar; Alcaria é a existência de uma igreja cruciforme, ao que tudo
da Bemposta e Povoado do Carvoeiro—, todos eles indica «a mais antiga com este tipo de planta que co-
carecendo de investigações mais cuidadas.13 nhecemos na Península Ibérica, assim como aquela que
nos surge mais a sul» (Maciel, 2003: 119) (Fig. 35). A
cronologia exacta a atribuir ao monumento apresenta
12 É conhecida a tese de que parte das muralhas de Silves po-
dificuldades semelhantes às que se verificam na Ca-
dem pertencer ao século VIII, teoria ainda escassamente provada pela de Nossa Senhora da Rocha, em Lagoa, se bem
pela arqueologia (Gomes, 1989: 34, entre outros trabalhos). que aqui estejamos melhor informados acerca das rea-
13 Ainda na costa do actual concelho de Lagoa, conhece-se
lidades arqueológicas em presença. Os estudos mais
o sítio da Praia da Marinha, estação que, apesar de pratica-
mente inédita, revelou já abundante espólio islâmico. concretos devem-se a Manuel Justino Maciel que, ao
266 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

Fig. 36. Montinho das Laranjeiras, Alcoutim. Planta da igreja cruciforme, segundo Manuel Justino Maciel, 1995.

longo da última década e meia, se tem dedicado ao lo- gas estruturas, a igreja é de planta centralizada, de
cal. De acordo com as suas conclusões, são duas as braços praticamente iguais. A cabeceira voltava-se a
fases construtivas da ecclesia, reveladoras de distintos SE. e articula-se, para Ocidente, com um braço relati-
momentos civilizacionais. A primeira construção (a vamente mais longo e de três compartimentos, con-
que corresponde, genericamente, a planta do templo) tendo o último o baptistério. A entrada principal si-
verificou-se nos «fins do século VI, princípios do tuava-se, presumivelmente, do lado NE., através de
século VII», em pleno período de domínio bizantino um átrio de dupla entrada, que teria correspondência
do Sul da Península (Maciel, 1996: 94). Ao que tudo com o braço oposto, também ele com uma habitação
indica adaptando-se a um urbanismo pré-existente, de dupla entrada (Idem: 95 - planta) (Fig. 36). Em ter-
determinado pela localização paralela ao rio das anti- mos estilísticos, este edifício integra-se numa corrente
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 267

ravenaico-bizantina de raiz mediterrânica, com deco- mente, os paralelos tipológicos que Maciel encon-
ração rica que poderia integrar motivos ao longo das trou para o pavimento de mosaico são invariavel-
paredes e da cobertura (Idem: 100). mente dos séculos V-VI e não VII (Maciel, 1996: 96-
Algum tempo depois, numa cronologia que oscila 97; Maciel, 2003: 119). Sem pretender inviabilizar
entre o derradeiro século de domínio visigótico e o ad- uma proposta cronológica situável nos inícios do sé-
vento do moçarabismo, a igreja terá sido objecto de culo VII, parece-nos que, sintomaticamente, é a
uma reforma. Acrescentou-se uma nova cabeceira à ausência de referentes concretos para essa centúria
anteriormente existente e refizeram-se os esquemas de um dado a retirar da escavação de Justino Maciel.
acesso e de circulação; paralelamente, uma parte con-
siderável do interior foi aproveitado para enterramen-
tos e desta fase parece datar um fragmento de imposta 2.4. A IGREJA DE CLARINES
que, «pela pobreza do material, pelas reduzidas di-
mensões e pela grande imperfeição técnica» da sua de- Em Clarines existiu um templo de época visigó-
coração, foi considerada uma obra já tardia, «talvez si- tica, de cronologia ainda duvidosa. A vila foi um
nal de um abrandamento no calor económico das ponto de centralidade regional desde a época romana
transacções efectuadas através do Guadiana, posterior- (Catarino, 1997/98, vol. I: 447; vol. II: 544-545) e,
mente aos meados do século VII» (Idem: 98 e 100). até há poucos anos, conservavam-se à vista alguns
A arqueologia não resolveu ainda os problemas de fragmentos escultóricos integrados aleatoriamente
transição para a época islâmica. A identificação de no aparelho da moderna capela. Fernando de Al-
cerâmicas califais (Coutinho: 1996; 2003) e, mais re- meida havia já publicado um fragmento de placa
centemente, de alguma almóada, veio colocar nume- (cancela?) (Almeida, 1962: 213; XXVI, fig. 190)
rosas perguntas ainda sem respostas. A opinião mais (Fig. 37) e outras obras, decoradas com rosetas ins-
consensual é a de que o Montinho tenha servido de critas em círculos secantes, foram identificadas, con-
mosteiro moçárabe, mas, de momento, a «única cer- cretamente um friso e uma imposta (Maciel, 2003:
teza» é o facto de a igreja ter permanecido «aberta ao 120). Uma das pilastras aqui resgatadas foi catalo-
culto durante a ocupação islâmica» (Real, 1995: 51; gada por Cruz Villalón como pertencente ao sécu-
Catarino, 1997/98, vol. I: 100). lo VII ou algo posterior, mas o local aguarda, ainda,
Perante os dados revelados pela arqueologia po- por uma investigação mais profunda. O estatuto cen-
deremos, sem hesitação, atribuir a primeira fase da tral de que desfruta na região (alicerçado numa vasta
igreja aos finais do século VI, inícios do VII, como área de dispersão de materiais) é um factor que deve
pretende Maciel? São várias as dúvidas que perma- motivar a definição de um plano arqueológico mais
necem. A orientação do templo é uma delas, estando ponderado.
a cabeceira demasiado voltada para Sudeste (Real, O que se pode, para já concluir, é que Clarines
1995: 51). Não conhecemos um estudo especifica- dispôs de um edifício religioso cristão, de época vi-
mente dirigido para este fenómeno, mas importa in- sigótica ou já moçárabe, cujos elementos arquitectó-
vestigar a cronologia de alguns templos duvidosos, nicos são absolutamente desconhecidos. O povoado
cuja cabeceira segue este mesmo modelo, ao contrá- continuou a ser ocupado em época islâmica, admi-
rio de outros que, pela mesma altura (ou não?), tindo-se que tenha sido sede de uma paróquia de
adoptam orientações mais canónicas. A estratigrafia época visigótica e, posteriormente, de uma alcaida-
praticamente desapareceu e a identificação de fases ria muçulmana (Catarino, 1997/98, vol. II: 852).
proposta por Maciel, com base na tipologia dos mu-
ros, está longe de servir como vector de cronologia.
Por outro lado, a imposta de mármore com deco- 2.5. OUTRAS MARCAS ALTIMEDIEVAIS NO ALGARVE E A
ração de época visigótica não foi encontrada asso- MAIOR DIVERSIDADE OCUPACIONAL
ciada a nenhum nível ou estrutura coerentes e Ma-
ciel, 1996: 97-98 pondera que possa pertecer à 2.5.1. Silves, o Barlavento e o centro do território
segunda fase do monumento, a mesma fase que o au-
tor admite que seja do período moçárabe.14 Final- Silves ocupa um capítulo de crescente importância
na história do Algarve altimedieval, até há pouco
tempo insuspeito. A estruturação romana da cidade
14 «Pela pobreza do material, pelas reduzidas dimensões e tem vindo a ser realçada sob a densa sobreposição
pela grande imperfeição técnica com que a decoração se encon- islâmica e apareceram algumas peças que provam a
tra talhada, esta imposta datará da 2ª fase do monumento (…)
visigótica tardia ou mesmo já moçárabe» (Maciel, 1996: 98). vitalidade da cidade durante os períodos de domínios
268 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

representação do Agnus Dei. E é bem conhecida a


placa de marfim, hoje depositada no Museu de Silves,
decorada com um cordeiro e datada consensualmente
do século X. A representação do animal de perfil, em
posição heráldica, com uma das patas dianteiras
avançada, a marcação dos traços fisionómicos, o
baixo-relevo em que foi executado, mas definindo
claramente dois panos sobrepostos de representação
e, finalmente, a inserção do animal num mundo ve-
getalista limitado por molduras, são características
que aproximam esta peça do crescente número de
peças moçárabes da faixa atlântica.
O Barlavento algarvio já tinha fornecido outros
vestígios de povoamento altimedieval, concretamente
nas necrópoles de Caldas de Monchique (escavada
em 1990 mas sem grandes resultados devido à erosão
do local) e, especialmente, na de Poço dos Mouros,
Silves. Esta última, composta por oito sepulturas es-
cavadas na rocha, foi datada dos séculos VI-VII (Go-
mes, 2002: 386-288), embora o mesmo autor, em al-
guns passos do texto, refira concretamente a «segunda
metade do século VII» (Idem: 387).15 Ainda no con-
celho de Monchique, no sítio da Alcaria, foi identifi-
cada um troço de antiga via romana a que se associam
ruínas de edificações e, possivelmente, de uma mu-
ralha de cronologia duvidosa, faltando ainda investi-
Fig. 37. Igreja de Clarines, 1987 (fot. Helena Catarino). Reutili-
zação de fragmento de friso como material de enchimento nos gar mais profundamente. E em Bensafrim, a par de al-
muros da igreja (séculos V-VII). gumas necrópoles de cronologia duvidosa, avulta uma
placa de cinturão com decoração zoomórfica (Al-
visigótico e bizantino. Já nos referimos ao capitel sur- meida, 1962: 245).
gido nas imediações da Sé, mais um elemento que No centro do distrito, algumas escavações têm for-
apareceu descontextualizado e em condições ainda necido elementos situáveis na Alta Idade Média, mas
nebulosas. Muito perto, em escavação recente, Gomes destituídos de monumentalidade. É o que acontece na
e Gomes, 2000 identificaram séries cerâmicas em ní- uilla do Cerro da Vila (Loulé), onde os lotes cerâmi-
veis que dataram dos séculos VI-VII, mas onde não cos provam uma continuidade de ocupação entre os
apareceu qualquer elemento estrutural. De um outro períodos romano e islâmico, embora nenhum vestígio
local não identificado da área urbana procede um arquitectónico tenha aparecido. Também em Milreu
fragmento de imposta de mármore (Gomes, 2003: (Faro) a continuidade de povoamento está confir-
106), decorado com característicos losangos inseridos mada, ainda sem aparentes fases construtivas assina-
em círculos secantes e ornamentados internamente láveis, e a uilla da Retorta (Loulé), que integra uma
por circunferências de pendor vegetalista. Trata-se de necrópole altimedieval, forneceu uma placa de cin-
uma decoração repetida vezes sem conta no período turão (Almeida, 1962: 244; Martins, 1988: 181) e ou-
visigótico (que aparece, por exemplo, no Montinho tro espólio situável neste período, entre o qual um
das Laranjeiras e em Clarines), embora a cronologia fragmento de capitel de acantos, que Gomes, 2002:
das suas muitas variantes não permita uma visão dia- 384 datou do século VII, mas por analogia estilística
crónica mais precisa, integrando-se no largo tempo
dos séculos VI-VII e algo mais… A estas evidências há
15 Gomes, 2002: 387 realça, como factor de provável cro-
que juntar a reavaliação de numeroso espólio cerâ-
nologia, «a relativa escassez e pobreza dos espólios exuma-
mico, retirado das sucessivas escavações na cidade. dos», esclarecendo que é «genérico o empobrecimento verifi-
Gomes, 2003: 109-110, refere conjuntos exumados cado nos mobiliários funerários a partir dos finais do século VI
dentro do recinto do castelo e, especialmente, junto ao e da centúria seguinte». O mesmo investigador identificou, no
sítio da Bica Alta (São Bartolomeu de Messines), um «passador
poço-cisterna, entre os quais alguns de conteúdo litúr- litúrgico de bronze» (Gomes, 2002: 385), que aguarda uma ca-
gico, concretamente uma patera que integraria uma talogação cronológica mais precisa.
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 269

com obras exteriores à Península. De Torre de Apra época altimedieval, de acordo com as conclusões de
(Loulé) procedem dois capitéis de acantos e uma Isabel Inácio, arqueóloga responsável pela escavação.
mesa de altar, atribuídos à época visigótica (Gomes, Nas imediações existem ainda vestígios de alicerces
2002: 384; Martins, 1988: 127-131 não refere este que formam um edifício, cujo aparelho reaproveitou
material) e na colecção de J. Rosa Madeira, dada a elementos tardo-romanos e que pode corresponder ao
conhecer por Franco e Viana, 1945, constava uma fi- templo altimedieval a que se associou a necrópole
vela de cobre proveniente da freguesia do Ameixial,16 (Catarino, 1997/98, vol.2: 547). A hipótese de este ha-
cuja decoração, apesar de estilizada, é muito suges- bitat ter sido originado a partir de uilla romana, apro-
tiva, compondo-se de dois animais afrontados. Em veitando as favoráveis condições de proximidade do
Loulé Velho, Gomes e Serra, 1996: 48 identificaram o Guadiana é uma forte possibilidade de caracterização
alicerce da ábside de um templo cristão, atribuível aos do local.
primeiros tempos de Cristianismo, ainda pelo sécu- Em São Martinho de Cortes Pereira, no lugar
lo IV, cuja vitalidade terá permanecido até aos tempos onde existe hoje uma arruinada capela de cronologia
finais do domínio visigótico, como parece atestar al- tardo-medieval, terá existido um templo de cronolo-
gum espólio cerâmico tardio aí encontrado (Idem: gia altimedieval, testemunhado pelo aparecimento
43). Centieiros é um local ainda escassamente explo- de um elemento arquitectónico de mármore (Cata-
rado, mas que pode dar, a seu tempo, frutos interes- rino, 1997/98, vol.2: 545-546), cujo fabrico em
santes. As cerâmicas aqui identificadas, apesar de época tardo-romana não se deve descartar, pelas
resultado de escavações pouco pormenorizadas, apon- evidências de ocupação romana da zona.17 O sítio
tam para horizontes cristãos altimedievais, faltando, das Pedrinhas de São Brás, onde a tradição local
todavia, um estudo mais rigoroso. Também o povoado cristalizou a existência de uma igreja dedicada a este
islâmico da Portela 3 (São Bartolomeu de Messines) santo, conserva importantes indícios de uma ocu-
forneceu uma fase pré-islâmica, ilustrada por uma se- pação altimedieval em associação com um templo,
pultura provavelmente cristã (orientada canonica- ao qual pertenceriam diversos fragmentos arquitec-
mente), parcialmente destruída pela construção de um tónicos de mármores aparecidos no local (Catarino,
silo islâmico (Pires e Ferreira, 2003: 283-285 e 303 1997/98, vol.2: 548).18
colocam a hipótese dessa sepultura ser o que resta de Esta concentração de locais no actual concelho de
uma necrópole mais vasta). Alcoutim deve motivar algumas reflexões, em parti-
cular pela quase total ausência de sítios com ocupação
atribuída à Alta Idade Média visigótico-bizantina nas
2.5.2. O Sotavento vizinhas circunscrições de Cachopo (Tavira) e Castro
Marim. Do primeiro caso, um vasto território de mon-
Mas é no leste do território algarvio que mais tanha confinante com o de Alcoutim, apenas há a notí-
abundantes indícios da presença de época visigótica cia do aparecimento de um aureus de Justiniano em
têm sido identificados. Já me referi aos casos do Mon- Alcaria Alta II, habitat de ocupação diacrónica com-
tinho das Laranjeiras e de Clarines e muitos outros lo- plexa e ainda não explorada arqueologicamente, cuja
cais foram prospectados por Helena Catarino e Ma- posição dominante na paisagem sugere a MAIA e
nuel Justino Maciel, que confirmam um povoamento MAIA, 2000: 35 um estatuto de torre de vigia. Neste
bem mais vasto, embora ainda escassamente explo- mesmo contexto existe uma necrópole ainda não in-
rado, cuja característica dominante parece ser o re- vestigada, sem espólio cronológico-cultural aproxi-
curso a contingentes populacionais relativamente es- mado e, na zona, permanecem importantes vestígios
cassos, porém longamente implantados nos locais, de ocupação islâmica. Do segundo caso, um território
sugerindo ocupações praticamente ininterruptas pela
Alta Idade Média (Catarino, 1997/98: 540-549).
A necrópole de Vale de Condes, infelizmente 17 Do local foi resgatado uma ara funerária consagrada aos

pouco publicada, é um dos locais de clara prepon- deuses Manes, datada da segunda metade do século II d. C. As
prospecções revelaram um povoado de apreciáveis dimensões,
derância, pelo aparecimento de estruturas arquitectó- «uma villa ou, eventualmente, um grande povoado, mesmo um
nicas que parecem configurar um pequeno templo de vicus» (Catarino, 1997/98, vol. 2: 546).
18 Catarino, 1997/98, vol. 2: 541, refere-se anda à possibili-

dade de o sítio de São Bento Velho ter albergado uma comuni-


dade cristã altimedieval, as prospecções efectuadas não revela-
16 No território de Benafim há notícia de achados dos derra- ram quaisquer vestígios claros, resumindo-se a fragmentos
deiros tempos do Império romano, concretamente uma sepul- cerâmicos tardo-romanos. Alvergil é outro dos locais prospec-
tura datada pelo aparecimento de um tridente de Eudócia (421- tados cujo aprofundamento de investigação poderá trazer dados
450) (Martins, 1988: 182). interessantes sobre este período.
270 El siglo VII frente al siglo VII. Arquitectura Anejos de AEspA LI

perto da foz do rio Guadiana e vinculado à antiga ci- BIBLIOGRAFIA


dade romana de Baeserus, o panorama é desolador no
que à época visigótico-bizantina diz respeito. Apenas ALARCÃO, JORGE DE, Roman Portugal, 4 vols., War-
o Cerro dos Castelhanos parece ter uma ocupação si- minster, Aris & Phillips, 1990.
tuável entre os séculos IV a VII, embora de contornos ALBA CALZADO, MIGUEL, «Ocupación diacrónica del
muito pouco definidos e certamente suplantados pela área arqueológica de Morería (Mérida)», Mérida.
presumível importância do local durante a época islâ- Excavaciones arqueológicas. 1994-1995, Mérida,
mica, altura em que se terá convertido em recinto de- 1997, pp. 285-301.
fensivo.19 ALMEIDA, CARLOS ALBERTO FERREIRA DE, «Arte da
A meio caminho entre a foz do Guadiana e Mér- Alta Idade Média», História da Arte em Portugal,
tola, o território do actual concelho de Alcoutim vol.2, Lisboa, Alfa, 1986.
prova uma evidente vitalidade de povoamento alti- ALMEIDA, CARLOS ALBERTO FERREIRA DE, História da
medieval até há pouco tempo relativamente insus- Arte em Portugal, vol. 1 (O Românico), Lisboa,
peita. Não se pode, evidentemente, atribuir os vestí- Presença, 2001.
gios mencionados a um período tão específico como ALMEIDA, FERNANDO DE, Pedras Visigodas de Vera
o século VII (veja-se o que atrás disse a propósito do Cruz de Marmelar, Lisboa, 1954.
Montinho das Laranjeiras e de Clarines), mas não ALMEIDA, FERNANDO DE, «Pedras visigodas de Lis-
devem restar grandes dúvidas sobre a vitalidade da boa», Revista de Guimarães, vol. LXVIII, Gui-
região nessa mesma altura, numa perspectiva de marães, Câmara Municipal de Guimarães, 1958,
ocupação diacrónica bem mais vasta, iniciada, em separata pp. 3-25.
moldes gerais, na época romana e continuada, nas ALMEIDA, FERNANDO DE, Arte visigótica em Portugal,
suas grandes linhas, no período islâmico. A concen- Lisboa, Dissertação de Doutoramento apresentada
tração de locais não pode deixar de merecer uma lei- à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
tura espacial com o vizinho território de Mértola 1962.
onde, de resto, os últimos anos foram de grandes ALMEIDA, FERNANDO DE, «Problemas da capela de S.
descobertas para a Alta Idade Média, evidenciando Frutuoso de Montélios», Bracara Augusta, vol.
um território pontuado de pessoas e não o «deserto» XXI, nº s. 47-50 (59-62) (Actas do Congresso de
com que se vinha caracterizando a região (ideia tam- Estudos da Comemoração do XIII Centenário da
bém efectiva para o período romano, cuja imensa morte de S. Frutuoso), Braga, Câmara.Municipal
quantidade de sítios revelados pelas prospecções de Braga, 1967, tomo I, pp. 33-37 (separata,
permanecem praticamente inéditos). 1968)
O leste do território algarvio confirma, de resto, o ARBEITER, ACHIM, «Sobre los precedentes de la arqui-
que se sugere para as cidades de Silves e de Faro / tectura eclesiástica asturiana en la época de Al-
Ossónoba - a continuidade de populações pela cada fonso II», III Congreso de Arqueologia medieval
vez menos traumática invasão de 711. Já me referi à española, (Oviedo, 1989), Oviedo, Universidad de
possibilidade de a placa de Silves pertencer a um Oviedo, 1992, pp. 161-173.
contexto moçárabe e outros indícios existem no ARBEITER, ACHIM, «Los edificios de culto cristiano:
território que provam a vitalidade das comunidades escenarios de liturgia», Repertorio de arquitectura
cristãs pela época de domínio muçulmano. Em cristiana en Extremadura: época tardoantigua y
grande parte dos locais mencionados, a recolha de altomedieval, Anejos de Archivo Español de Ar-
cerâmicas de fabrico islâmico é uma evidência, com queología, vol. XXXIX, Madrid, CSIC, 2003, pp.
particular destaque para os «isolados» locais do con- 177-230.
celho de Alcoutim, em particular Clarines que, pela ARIAS PÁRAMO, LORENZO, Prerrománico asturiano.
sua posição interior face ao curso do Guadiana, difi- El arte de la monarquía asturiana, Oviedo, Trea,
cilmente poderia albergar uma continuidade assim 1994.
tão esclarecedora. BALLESTEROS, CAMEN e MIRA, ÉLIA, «As muralhas de
Évora», A Cidade - Jornadas Inter e Pluridiscipli-
nares, Lisboa, Universidade Aberta, 1994, sepa-
19 A orla costeira do Sotavento aparece como uma vasta
rata.
área praticamente «vazia» de testemunhos. É consensual que a
linha de torres defensivas que pontuam o antigo termo oriental BALLESTEROS, CARMEN e GONÇALVES, GERARDO VI-
de Faro não recua a épocas pré-islâmicas e, por exemplo, no LAR, «Intervenções arqueológicas no centro histó-
concelho de Olhão, apenas se conhece a necrópole de Sobra- rico de Évora, 2000-2002», Monumentos, nº 26,
dos, composta por cerca de 20 sepulturas abertas na rocha,
ainda não objecto de intervenção arqueológica. Lisboa, DGEMN, 2007, pp. 156-163.
Anejos de AEspA LI ESPLENDOR OU DECLÍNIO? A ARQUITECTURA DO SÉCULO VII… 271

BARROCA, MÁRIO, «Contribuição para o estudo dos COUTINHO, HÉLDER M. R., «Cerâmica Muçulmana do
testemunhos pré-românicos de Entre-Douro-e- Montinho das Laranjeiras», Arqueologia Medie-
Minho», Actas do Congresso Internacional do IX val, nº 2, 1993, pp. 39-54.
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