MATHEUS DUTINE DE MELO | RA. 817115281; NATANAEL RODOLFO PIAUHY DE OLIVEIRA | RA. 817115773. QUESTÕES SOBRE O CASO PRÁTICO
1. É possível a referida lei criar hipóteses de dispensa da licitação, como
descrito no caso acima, aplicáveis somente à ALIMENTOS DO BRASIL S/A? 2 Explique. Sim. Dispõe o artigo 37, XXI, da Carta Magna, que ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante licitação. Ademais, a Lei Complementar (que possui status hierárquico superior às leis ordinárias) nº 8.666/93, em seu Art. 1º, § 1º, dispõe que se subordinam a ela, as empresas públicas e sociedades de economia mista. Seguindo tal linha, dispõe o artigo 173, §1º, da CF, que PODERÃO ter estatuto próprio para licitações e contratos as EPs e SEM que explorem atividade econômica. A Sociedade de Economia Mista em questão explora típica atividade econômica em sentido estrito, visto que a produção e venda de alimentos básicos não constitui serviço público, em conformidade com o artigo 173, §1º, CF, conforme ensina Eros Grau: “Por certo que, no art. 173 e seu §1º, a expressão conota atividade econômica em sentido estrito. O art. 173, caput, enuncia as hipóteses nas quais é permitida ao Estado a exploração direta de atividade econômica. Trata-se, aqui, de atuação do Estado – isto é, da União, do Estado-membro e do Município – como agente econômico, em área da titularidade do setor privado. Insista-se em que atividade econômica em sentido amplo é território dividido em dois campos: o do serviço público e o da atividade econômica em sentido estrito. As hipóteses indicadas no art. 173 do texto constitucional são aquelas nas quais é permitida a atuação da União, dos Estados-membros e dos Municípios neste segundo campo.”. (GRAU, Eros Roberto, A ordem econômica na constituição de 1988, 15º ed., São Paulo: Malheiros editores, 2012, p. 101). Além do mais, a situação de seca é um fator caracterizante da justificativa para que haja o permissivo da medida excepcional em tela. Irene Patrícia Nohara ensina que: “Intervenção estatal por participação é medida excepcional. De acordo com o art. 173: ‘ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.’.”. (NOHARA, Irene Patrícia, Direito administrativo, São Paulo: Editora atlas, 2011, p. 433). 3 Uma vez que a empresa em epígrafe tenha sua atividade configurada como atividade econômica, a mesma restará subordinada às normas da Lei Geral de Licitações, bem como aos princípios da Administração Pública, contidos no artigo 37 da Carta Magna, bem como, levando em conta o disposto na legislação vigente do Título da Ordem Econômica e Financeira, ao disposto na Lei 13.303/2016, que estabelece o estatuto jurídico das sociedades de economia mista que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços. A Lei 13.303/2016, em seu Art. 28, §3º, inciso I, dispõe que as sociedades de economia mista estão dispensadas das regras de licitação quando seu objeto social estiver estritamente ligado aos serviços prestados pelas mesmas. Ademais, no tocante à capacidade de legislar sobre tal matéria, o artigo 22, XXVII, CF, determina que a União irá regular as licitações e contratações das sociedades de economia mista, nos termos do artigo 173, §1º, III, CF. In verbis: Ora, uma vez que a ALIMENTOS DO BRASIL S/A está exercendo suas atividades fins e meio em estrita conformidade com o objeto social, que é: “produção e venda de alimentos básicos, nas regiões Norte e Nordeste do país, considerando a seca em diversas regiões.”, constata-se que não há impeditivo para que haja a dispensa de licitação, estando o caso concreto em comento dentro da legalidade, sendo a regulação interna sobre licitação total plausível, desde que respeitado o disposto na lei 13.303/2016. Por fim, seguindo a linha de raciocínio de que a ALIMENTOS DO BRASIL S/A pode sim ter as mesmas atribuições de entidades plenamente privadas com o intuito de garantir que possua celeridade para competir com as demais empresas do ramo, mas mantendo ainda a necessidade, como as já mencionadas, de realizar licitação para contratar com a Administração Pública, a jurisprudência já decidiu que quando tratar-se de SEM devem ser aplicadas medidas que aproximem-na das empresas privadas, de forma a garantir o princípio da livre concorrência, devendo, para todos os efeitos, ser realizada a licitação para os casos em que haja a contratação com a Administração Pública, mas não para atingir suas atividades fim e meio (TJ-MG - AC: 10024056325442002 MG, Relator: Duarte de Paula E TJ-SP - APL: 10004539020168260333 SP 1000453-90.2016.8.26.0333, Relator: Manoel Ribeiro) 4
2. Disserte sobre a possibilidade, ou não, de criação de uma modalidade nova
de contrato administrativo exclusiva para a ALIMENTOS DO BRASIL S/A? Dispõe o art. 22, XXVII, da Carta Magna, que é competência privativa da União legislar sobre as normas gerais de licitação e contratação para as sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, §1º, III, devendo-se sempre respeitar o disposto no artigo 37, XXI. Na mesma linha, já se posicionou a jurisprudência no sentido de que: “Compete à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas e indiretas, cabendo aos municípios regrar os assuntos de interesse local, bem como suplementar a legislação federal e estadual, no que couber” (TJ-RS - ADI: 70079284279 RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Data de Julgamento: 15/04/2019, Tribunal Pleno, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 29/04/2019). Com base nesse fato, Irene Patrícia Nohara ensina: “O art. 54, caput, da Lei de licitações e contratos estabelece que os contratos administrativos obedecem aos preceitos de direito público, aplicando-se-lhes, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado. Não obstante, o art. 62, §3º, I, da Lei determina que se aplicam, no que couber, os arts. 55 e 58 a 61 da lei, que prescrevem normas de orientação publicística, ‘aos contratos de seguro, de financiamento, de locação em que o Poder Público seja locatário, e aos demais cujo conteúdo seja regido, predominantemente, por norma de direito privado’.”. “A Emenda nº 19/98 procurou modificar a sistemática de submeter entes da Administração Direta, autarquias e fundações ao mesmo regime jurídico das estatais que desenvolvem atividade econômica. [...] Assim, dispõe atualmente o art, 173, §1º, III, da Constituição Federal que para as empresas públicas e sociedades de economia mista e subsidiárias que explorem atividade econômica em sentido estrito há a necessidade de criação de Lei específica que trate de licitações e contratos.”. (NOHARA, Irene Patrícia, Direito administrativo, São Paulo: Editora atlas, 2011, p. 386). Dessa forma, podemos afirmar que a matéria no tocante aos contratos administrativos das sociedades de economia mista que exerçam atividade econômica está regulada pela atual Lei 13.303/2016, devendo, para todos os efeitos, 5 a ALIMENTOS DO BRASIL S/A submeter-se ao disposto nela, elaborando seu regimento interno em conformidade com o texto legal. Hely Lopes Meirelles, em sua obra atualizada por Eurico de Andrade Azevedo e Vera Monteiro, ensina que:
“As empresas públicas ou sociedades de economia mista que
explorem ou desenvolvam atividade econômica, estas, sim, podem ter regulamentos especiais para suas licitações e contratações, também sob a égide do Direito Privado, mas atendendo aos princípios administrativos, desde que tais regulamentos tenham esteio em lei. Isso quer dizer que não podem licitar ou contratar de qualquer forma ou com a mesma liberdade como as entidades do setor privado: evidentemente, continuam sujeitas aos princípios basilares que regem a Administração Pública, também norteadores das licitações: Legalidade, moralidade, publicidade, competitividade etc. Portanto, se as estatais que exploram atividades econômicas devem dispor de normas especiais para realizar seus negócios com mais agilidade, nem por isso devem olvidar do fato de que seus recursos são majoritariamente públicos.”. (MEIRELLES, Hely Lopes, Licitação e contrato administrativo, São Paulo: Malheiros editores, 14ª ed, 2007, p. 202). Ora, se as sociedades de economia mista, dentre as quais se encontra a ALIMENTOS DO BRASIL S/A, devem respeitar o disposto sobre contratos administrativos na Lei 13.303/2016, resta-nos claro que a regulação de modo específico (não geral) da forma de contratação da empresa encontra-se respaldada pelo artigo 22, XXVII, de nossa Carta Magna. Entretanto, deverá, claramente, o contrato que será feito pela empresa em tela, seguir as cláusulas que já estão previamente fixadas sobre contratos das sociedades de economia mista na Lei 13.303/2016. Ademais, o STF já decidiu a respeito da competência da União para legislar sobre as modalidades de contratos administrativos (STF - ARE: 1023066 RJ - RIO DE JANEIRO, Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento: 24/02/2017, Data de Publicação: DJe-040 03/03/2017).