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GOIÂNIA
1999
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
AUDIOLOGIA CLÍNICA
GOIÂNIA
1999
“Toda a vida (ainda das coisas que não
têm vida) não é mais que uma união. Um união de
pedras é edifício; uma união de tábuas é navio;
uma união; uma união de homens é exército. E
sem esta união tudo perde o nome e mais o ser. O
edifício sem união, é ruína; o navio sem união é
naufrágio; o exército sem união é despojo. Até o
homem (cuja vida consiste na união de alma e
corpo) com união é homem, sem união é um
cadáver.”
Padre Antônio Vieira (1908-1967)
Dedicatória
SUMMARY (ABSTRACT). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
RESUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1. INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2. DISCUSSÃO TEÓRICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4. Ruído. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1. E FEITOS A UDITIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Auditiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.3. Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou Mudança Permanente no Limiar
2. E FEITOS N ÃO -A UDITIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3. RUÍDO AMBIENTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1. P OLUIÇÃO S ONORA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
SUMMARY (ABSTRACT)
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2. DISCUSSÃO TEÓRICA
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fisiológicos dos sons. Sendo assim, a diferença básica entre Audiologia e
Psicoacústica encontra-se na metodologia empregada. A primeira está
empenhada em pequenas diferenças e efeitos sutis, e a segunda dirige-se para
a aplicação de testes simples e rápidos a fim de determinar a natureza do
distúrbio e local da lesão. Porém, não se pode dissociá-las, pois em conjunto
fornecem informações preciosas para a integridade do Sistema Auditivo.
Os testes audiométricos subjetivos utilizados na audiologia para
medir a acuidade auditiva do indivíduo são chamados de testes psicométricos
ou psicoacústicos, os quais, além de outros aspectos, determinam a área de
sensibilidade do ouvido humano, constituindo-se, como dito, uma a base da
outra.
13
RUSSO (1998) relata que a unidade denominada Bel foi concedida
em homenagem a Alexandre Graham Bell, inventor do telefone. Foi usada para
medições de perdas nas linhas telefônicas, nos EUA, como medida relativa de
intensidade, a qual amplia uma ampla variação de escala linear de intensidade
pelas transformações desta em uma escala logarítmica.
MENEGOTTO & COUTTO (1998) acrescentam que há outros tipos
de escalas de decibels, como dBNA, dBA, dBNS, dBC e outros. Os exames
audiológicos são normalmente relacionados numa escala chamada de dBNA.
1.4. Ruído
Grande parte dos sons são complexos, com diferentes ondas
superpostas como a fala, a música e os ruídos. Não existe diferença, em termos
físicos, entre som e ruído.
A preocupação com os níveis de ruído em relação ao meio ambiente
e à saúde, data desde os primórdios do tempo, constituindo um problema de
2.500 anos atrás.
Os primeiros relatos com relação à surde z dos moradores que
viviam próximos às cataratas do rio Nilo, no Egito, estabelecendo uma relação
causal entre ruído e a perda da audição. Foram descritos por Hipócrates e
Plínio, o Velho.
CRUZ & COSTA (1994) confirmam que a clássica descrição de que
o interesse dos sons ambientais sobre as pessoas existe desde a antiga Roma,
quando veículos puxados por animais andando pelas primeiras vias
pavimentadas, incomodavam as pessoas dentro de suas casas durante
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conversas informais e o sono.
No Brasil atualmente já existem estudos direcionados ao ruído e
seus efeitos, como por exemplo, pesquisadores de Belo Horizonte confirmam
que o ruído pode afetar de forma direta ou indireta, através de estresse ou
perturbações no ritmo biológico, gerando distúrbio do sono e da saúde, em
geral, no cidadão urbano.
Conforme CLARK (1992), o ruído é um incômodo e COSTA & CRUZ
(1994) completam que, em grande quantidade e de forma constante, torna-se
mais que um incômodo, passando a ser agente causador de doenças.
RUSSO (1993), considera o termo ruído, para descrever um sinal
acústico aperiódico, originado da superposição de vários movimentos de
vibração com diferentes freqüências, as quais não apresentam relação entre si.
LACERDA (1976) aponta que no ruído podem-se distinguir dois
fatores principais. O primeiro diz respeito à freqüência, que consiste no número
de vibrações por segundo emitidas pela fonte sonora, medida em Hz, atribuindo
aos ruídos a seguinte classificação: de baixa freqüência (graves) entre 20 a 300
Hz; freqüências médias de 30 a 6.000 Hz; altas freqüências (agudas) os de
6.000 a 20.000 Hz. Os sons abaixo de 20 Hz são denominados de infra-sons e
acima de 20.000 Hz, de ultra-sons. Os sons de alta freqüência são mais
nocivos à orelha humana e os ruídos de baixa freqüência, mesmo sendo
suportáveis pela orelha, produzem efeitos orgânicos mais acentuados. O
segundo fator ligado ao ruído é a intensidade, medida em decibel (dB),
considerando que os ruídos inferiores a 40 dB são apenas desagradáveis,
enquanto os ruídos entre 40 - 90 dB são capazes de favorecer distúrbios
nervosos, e, os superiores a 90 dB agem de forma traumatizante na orelha.
De acordo com a Norma - ISO 2204/1973 (INTERNATIONAL
STANDARD ORGANIZATION), os ruídos podem ser classificados segundo a
variação de seu nível de intensidade com o tempo, como: contínuo, cujas
variações de nível são desprezíveis (aproximadamente 3 dB), apresentando
maior duração durante o período de observação; intermitente , que apresenta
uma variação contínua de um valor aplicável (aproximadamente 3 dB) no
período de observação e de impacto ou impulso, seus picos de energia acústica
de duração são inferiores a um segundo. FEIDMAN & GRIMES (1985), citados
por RUSSO (1993), caracterizam-no como um fenômeno acústico associado a
explosões e é considerado um dos ruídos mais nocivos à audição, com
intensidades que variam de 100 dB − ruído de impacto − e acima de 140 dB −
ruído impulsivo.
A exposição contínua a ruídos acima de 85 dBA pode provocar
perdas auditivas permanentes e, com aumento de apenas 5 dB, representa uma
15
redução do tempo de exposição ao ruído pela metade. (Tabela 1)
16
corticosteróides. BERGAMINI et al. (1976) dizem que os órgãos alvos incluem
vísceras, como: glândulas endócrinas ou exócrinas, órgãos sexuais, sistemas
hormonais, etc.
Em seus estudos PIMENTEL-SOUZA (1992) cita SELYE (1965) que
atribui ao ruído estressante três fases, que promovem efeitos psicofisiológicos e
fisiológicos decorrentes da atividade simpática e hipotálamo-hipofisária. A
primeira fase (estresse agudo) caracteriza-se por resposta do SNA simpático
com liberação de norodrenalina no sangue. A segunda fase (estresse crônico)
representa o período de resistência, quando o organismo adapta-se ao agente
agressor, permanece defendendo-se e passa a liberar mais adrenalina que, em
conjunto com a anterior, constituem os hormônios do medo, raiva e da
ansiedade. A terceira fase (estresse de exaustão) corresponde ao período pré-
agônico, com permanência das secreções destes hormônios e queda das
gonadrotrofinas e oxitocinas, afetando a persistência, comportamentos sociais e
sexuais, levando à depressão psicológica, à deficiência imunológica, à
desintegração orgânica, óssea, muscular etc.
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mais suscetível à lesão por ruído − fator lateralidade.
OLIVEIRA (1989) atribui aos antibióticos aminoglicosídeos como
potencializadores de lesões auditivas por ruído. Outros fatores observados: a
prematuridade, em que verifica-se que as crianças imaturas são suscetíveis a
lesões auditivas por ruído (barulho da incubadora). Em idade avançada existe
uma relação inversa: quanto maior a idade, menor a susceptibilidade, sendo
considerado que, em idade avançada, a mulher é mais sensível às perdas
auditivas por ruído.
Não se pode deixar de ressaltar que outros fatores são importantes,
como: a duração, a influência e a continuidade e discontinuidade do ruído. A
duração diz respeito ao tempo em que o indivíduo encontra-se exposto ao ruído.
A influência está relacionada à susceptibilidade, que é muito variável entre os
indivíduos e aos ruídos que causam alterações auditivas. A continuidade e
descontinuidade, encontra-se na freqüência do ruído e a sensibilidade do som
audível.
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O CAE tem 2,5 cm de comprimento e conduz as ondas sonoras à
MT. Possui duas porções: a primeira cartilaginosa e segunda óssea, que é mais
estreita. É recoberto por pele, possui pêlos e glândulas que produzem cera, com
função de proteger a MT contra a ação de corpos estranhos. O seu formato
também contribui na amplificação e ressonância, destacando a sensitividade
para determinados sons. Contudo, a freqüência ressonante é variável entre os
indivíduos, de acordo com a extensão e características físicas do pavilhão
auricular e CAE. Pode-se dizer que essa amplificação varia de 10 a 20 dB para
freqüências entre 2.000 e 4.000 Hz.
MENEGOTTO & COUTO (1998) ressaltam que a ressonância
própria do CAE parece ser invariável, mas a ressonância do pavilhão auricular é
extremamente dependente da direção do som. Assim, o som que chega a MT
apresenta variações características conforme a posição da fonte sonora, o que
fornece pistas para a sua localização.
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BONALDI et al. (1998) consideram que a PARS TENSA ou lâmina
própria, a segunda, e responsável pela compliância da MT e transmissão de
vibração para a orelha média devido o arranjo de fibras que contém. O cabo do
martelo situa-se firmemente aderido às fibras da camada média, sendo o
ossículo constantemente tracionado para dentro por ligamentos e pelo músculo
tensor do tímpano, o que mantém a membrana tensa e permite a transmissão
das vibrações sonoras.
Do ponto de vista funcional a MT pode ser dividida em três zonas;
que se diferenciam pela composição de suas fibras e o modo de vibração: zona
central, zona intermediária e zona periférica.
Os autores acima citados, acrescentam que, de modo geral, a
vibração é transferida das zonas central e periférica para a intermediária, no
entanto podem ser diferenciados movimentos vibratórios com relação à
freqüência de estimulação.
De acordo com STINSON (1985), citado por MENEGOTTO &
COUTO (1998), até 2 ou 3 Khz aproximadamente a MT vibra como um todo, em
movimentos de vaivém. Acima disso, vibra por partes, com suas porções
respondendo de forma diferenciada às diversas freqüências.
ZORZETTO (1994) diz que a cadeia ossicular é composta por três
ossículos: martelo, bigorna e estribo, articulados entre si, situados no interior da
cavidade timpânica. Encontram-se suspensos por ligamentos e músculos que
em conjunto e o formato característico dos ossículos lhes permite um padrão
próprio de movimentação. O martelo tem uma das suas extremidades ligada à
porção mais central da MT e a outra ligada à outra bigorna que, por sua vez,
articula-se com o estribo, que tem sua base inserida na janela oval.
MORATA & SANTOS (1994) assinalam que, como a transmissão do
som de um meio aéreo (orelha média) para um meio líquido (orelha interna), é
extremamente ineficiente (há uma perda de energia correspondente a 30 dB)
devido a grande diferença de mobilidade entre os dois meios, a cadeia ossicular
atua como um transformador mecânico que equaliza as impedâncias.
RUSSO (1993) diz que a posição que o conjunto tímpano-ossicular
oferece à passagem da onda sonora que penetra no CAE é denominada da
impedância mecânica da orelha média, parte da energia acústica que incide na
MT é refletida para fora, e a outra parte é transmitida para a orelha média pela
vibração da MT.
A orelha média tem como função principal facilitar a transmissão
das ondas sonoras do ar para os fluídos da orelha interna; considerando que o
ar tem baixa impedância, enquanto os fluídos cocleares apresentam uma alta
impedância, portanto é necessário o casamento entre as impedâncias por meio
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da ação transformadora da cadeia ossicular.
RUSSO (1993) afirma que a impedância da orelha média é
determinada por três fatores; o primeiro denominado massa, relacionada ao
peso e à densidade dos elementos dentro do sistema (cadeia ossicular), MT e
fluídos da orelha interna; o segundo diz respeito à rapidez, relacionada ao
movimento da platina do estribo e à resistência dos fluídos cocleares,
contribuindo para manter a forma e posição do sistema móvel. Estes dois
fatores são conhecidos como reactância, que é a parte da impedância que
depende da freqüência sonora, sendo que estes não atuam na faixa de
freqüência, denominada de zona de ressonância, que compreende as
freqüências entre 500 a 4.000 Hz. O último dos três fatores é a resistência,
oriunda da transformação da energia aplicada no sistema ossicular, conhecida
como fricção ou atrito; está vinculada à suspensão dos ossículos pelos
músculos e ligamentos.
LOPES Fº (1972), citado por RUSSO (1993), define a resistência
como a parte da impedância que não depende da freqüência sonora, sendo
função da densidade do meio e da velocidade de propagação do som no meio.
O ajustamento entre duas diferentes impedâncias (ar e fluído
cocleares) é realizado por dois sistemas de amplificação mecânica, o sistema de
alavanca e redução de área.
MORATA & SANTOS (1994) assinalam que o sistema de alavanca
aumenta a força de transmissão da MT em 1,3 vez. Esta relação, multiplicada
pela diferença da área da membrana e a placa do estribo, que é de dezesseis
vezes, faz com que a pressão sobre o líquido da cóclea seja 22 vezes (17 x 1,3)
maior que a exercida pela onda sonora sobre a MT.
RUSSO (1993) acrescenta que a contribuição dada pelo sistema de
alavanca é de aproximadamente 2,5 dB, ao passo que o aumento da intensidade
sonora, fornecido pela relação de área, é de cerca de 27 dB.
O sistema tímpano-ossicular desempenha outro papel importante, a
seleção de entrega de energia acústica para uma só das janelas cocleares,
compensando a perda de energia, anteriormente citada de 99,9% e
harmonizando as diferentes impedâncias, e com isso, alterando a inércia que o
meio líquido tem no ar.
A seleção de entrega de energia acústica, para uma só das janelas
cocleares, consiste no movimento simultâneo das duas janelas, ou seja,
enquanto a janela oval se move para dentro, a janela redonda se move para fora
(inversão de fases).
21
1.5.3. Mecanismo de Proteção da Orelha Média (Reflexo
Estapediano)
A orelha humana contém alguns mecanismos de proteção auditiva.
A orelha média possui a capacidade de regular a passagem de sons
extremamente intensos, que, por sua vez, podem lesar as estruturas da orelha
interna. Este mecanismo de proteção se faz através dos músculos intra-
auriculares-estapedianos e tensor do tímpano, que apresentam como função a
modificação do padrão de movimentação da cadeia ossicular.
RUSSO (1993) refere que, quando a intensidade de um som de
baixa freqüência ascende acima de um valor crítico (70 a 90 dB NS para as
freqüências situadas entre 450 a 4.000 Hz), o modo de vibração da cadeia
ossicular muda, passando a platina do estribo a rodar em torno de seu eixo
longo. A amplitude do movimento é diminuída e menor pressão é transmitida
para a cóclea, reduzindo o risco de lesões das células ciliadas do órgão de
Corti.
MORATA & SANTOS (1994) completam que o músculo tensor do
tímpano traciona o cabo do martelo para dentro e o estapídio para fora,
provocando maior rigidez no sistema e reduzindo a transmissão de sons,
principalmente de baixas freqüências, menores do que 1.000 Hz. Estes mesmos
autores afirmam que o músculo estapídio é responsável pelo reflexo acústico
(ou estapediado), particularmente na presença de ruídos intensos e,
aparentemente, é mais sensível a sons complexos que a sons puros. A duração
desse reflexo é de 35 a 150 milessegundos, para sons de aproximadamente 80
dB acima do limiar auditivo. Sendo que a atenuação propiciada varia de 15 a 33
dB, ou seja, 15 dB a partir do limiar do reflexo, portanto somente 5 dB de um
estímulo sonoro com intensidade de 20 dB acima do limiar do reflexo será
transmitido à cóclea. Na presença de estimulação sucessiva aparentemente o
reflexo se adapta ou relaxa após 15 segundos de exposição a um ruído intenso
e contínuo. Ressaltam os mesmos autores que os músculos não são
irreversivelmente fatigados, uma vez que o reflexo gradualmente relaxa durante
uma estimulação contínua, devido a um gradual decréscimo na sensação de
intensidade (LOUDNESS) que ocorre com estímulos de longa duração
(adaptação neural)
DURRANT F. (1972), citado por MORATA & SANTOS (1994),
refere que a existência de um intervalo de tempo entre a ocorrência do estímulo
e o início da contração muscular (de aproximadamente 10 mseg) limita sua
efetividade na atenuação de ruído de impacto.
RUSSO (1993) afirma que essa ação mecânica do conjunto
tímpano-ossicular contribui para a função protetora da orelha média.
22
1.5.4. Função Ventilatória
A tuba auditiva, Faringotimpânica ou Trompa de Eustáquio, tem
como função principal a ventilação e o equilíbrio da pressão da orelha média;
durante os processos de contração muscular do véu palatino (deglutição).
Consiste em um tubo achatado, que comunica a cavidade timpânica com a
nasofaringe. Apresenta uma porção óssea e outra cartilaginosa. RUSSO (1998)
comenta que a porção cartilaginosa dessa tuba possui um orifício que se abre
mediante algumas ações, tais como: bocejar, deglutir, tossir, respirar,
permanecendo o resto do tempo fechado. Cita a mesma autora que, ao abrir-se
o orifício da tuba, ocorre a ventilação da orelha média e a pressão do meio
interno é igualada à do meio externo.
BONALDI et al. (1998) acrescentam que a função biológica da tuba
auditiva é arejar a orelha média e equalizar a pressão do ar externo com a
pressão na orelha média, protegendo a orelha de mudanças rápidas de pressão
e mantendo a sua mucosa em bom estado.
23
separadas pela membrana de Reissnerr (ou vestibular) e as escalas média e
timpânica, separadas pela membrana basilar. Consideram que, para fins de
compreensão da transmissão, as escalas vestibular e média são consideradas
como única. O campo sensorial, localizado sobre a membrana basilar (interior
da escala média), representado pelo órgão de Corti, contém milhares de células
sensitivas, células ciliadas, em número de 20.000, que transformam as ondas
sonoras em impulsos nervosos, em resposta às vibrações da membrana basilar.
BONALDI et al. (1998) referem que o órgão de Corti é o conjunto de
membrana tectória, células de sustentação e células ciliadas. Sob a forma de
uma cúpula gelatinosa acima das células ciliadas, a membrana tectória é presa
à lâmina espiral óssea do modíolo e entra em contato com os cílios das células
externas durante as vibrações da membrana basilar.
Podem-se destacar com relação às células de sustentação as
células de BOETTCHER, células de HENSEN (delimitam o túnel externo);
células de DEITERS, células pilares internas (formam o órgão de Corti) e células
pilares externas.
MORATA & SANTOS (1994) registram que as bases e os lados das
células ciliadas estão incluídos numa rede de terminações do nervo coclear.
As células ciliadas são células sensoriais, as quais distinguem-se
células ciliadas internas e células ciliadas externas. São observadas várias
diferenças entre elas, tais como: anatômicas, quantidade e o aspecto funcional.
As células ciliadas internas encontram-se dispostas em uma única
fileira, em torno de 4.000, com aproximadamente 50 a 70 cílios sensoriais por
célula, em posição linear e têm uma forma que assemelha-se a um franco
arrendondado, e seus cílios não alcançam a membrana tectória, banhada por
endolinfa. Cerca de 95% das fibras do nervo auditivo fazem sinapse com as
células ciliadas internas. Consoante BONALDI (1998), essas possuem um
potencial de repouso (na ausência de sons) de – 40 MV e são responsáveis pela
transdução sensorial, ou seja, produzem uma mensagem elétrica codificada que
é enviada através das vias nervosas ao logo temporal; apresentam seletividade
de freqüência fina e estão relacionadas a sons mais tensos.
Aproximadamente em número de 12.000 células, dispostas em três
fileiras ao longo das espiras cocleares, as células ciliadas externas têm forma
de um tubo de ensaio e cada uma tem de 100 a 300 esteriocílios com disposição
de “V” ou “W”. São menores na base e maiores no ápice, encontram-se fixadas
à membrana basilar, banhadas por endolinfa no pólo ciliar e perilinfa nas partes
laterais. Apresentam alturas diferentes em seus cílios; os mais internos são
mais curtos e os mais externos são mais longos e encontram-se introduzidas na
membrana tectória. O ligamento de elastina mantém os esteriocílios ligados
24
entre si, constituindo uma unidade. Estudos recentes citados por BONALDI et al.
(1998) demonstram que estas células possuem proteínas contráteis como
actina, miosina, tropomiosina e agentes moduladores como a calmodulina.
Estabelecem os mesmos autores que as células ciliadas externas não são
receptoras, ou seja, não codificam a mensagem sonora e estão relacionadas a
sons menos intensos. Possuem contrações rápidas e lentas, constituindo-se em
efetores cocleares ativos e funcionam como um sistema de aplicador coclear,
aumentando em até 50 dB a intensidade de um estímulo, com capacidade de
seletividade de freqüências.
MORATA & SANTOS (1994) propõem que as células ciliadas
internas têm uma função sensorial, transmitindo informações sobre o estímulo
auditivo do sistema nervoso central, enquanto as células ciliadas externas
desempenham uma função motora, através de mudanças em sua forma que
alterariam o padrão de movimentação das membranas basilar e tectória.
RUSSO (1998) descreve que a força mecânica, amplificada e
transmitida da orelha média para a interna pelos ossículos, é transformada em
pressão hidráulica, que comunica movimento ao ducto coclear e às células
ciliadas do órgão de Corti, o centro da audição. As ondas de pressão na cóclea
iniciam sua trajetória pela janela oval, passando pelas escalas (rampas)
vestibular e timpânica, indo finalizar na janela redonda.
A transformação da energia mecânica em eletroquímica e nervosa
(transdução mecanoelétrica) se faz através da movimentação da membrana
basilar. Esta movimentação é inversa e permite o deslocamento tangencial dos
cílios das células ciliadas externas contra a membrana tectória (despolarização),
que determina a produção de substâncias químicas, as quais estimulam os
terminais nervosos (impulso eletronervoso) que será conduzido pelas fibras do
nervo auditivo até o cérebro.
MORATA & SANTOS (1994) concluem que, devido à sofisticada
estrutura da membrana basilar e sua forma (fibrosa), ela não vibra
uniformemente por toda a sua extensão, existindo padrões diferentes de
vibração para sons de diferentes freqüências.
RUSSO (1998) completa que, por ter menor quantidade de massa e
ser mais rígida na base da cóclea, entre em ressonância com freqüências altas
e, à medida que vai recebendo maior número de fibras, tornando-se, assim,
mais densa e mais flexível, entre em ressonância com freqüências médias e
baixas, na proximidade do ápice.
BONALDI et al. (1998) referem que, segundo George Von Békésy,
que descreveu a Teoria da Ondas Viajantes, a cóclea apresenta uma
organização tonotópica, observada através das características do movimento da
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membrana basilar em relação às diferentes freqüências do estímulo sonoro.
RUSSO (1998) acrescenta que a cóclea atua como um microfone, reproduzindo
a forma da onda sonora original traduzida em sua correspondente eletronervosa
e esse é o chamado microfonismo coclear.
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Em número de três, os canais semicirculares situam-se póstero-
superiormente ao vestíbulo, com comprimentos diferentes, formando entre si
ângulos retos. São denominados canal externo ou lateral (horizontal), canal
anterior (vertical) e canal posterior (vertical). Cada um possui uma extremidade
dilatada, ampular, que contém no seu interior a crista de neuroepitélio
especializado – órgão meconorreceptor.
LACERDA (1976) diz que os canais semicirculares são receptores
sensíveis às acelerações (dos movimentos de rotação da cabeça para frente,
para trás e para os lados). Estes canais podem ser acionados por estímulos
mecânicos, rotatórios e calóricos. Este mesmo autor acrescenta que os
estímulos proprioceptivos dos diferentes receptores do labirinto posterior são
conduzidos aos núcleos vestibulares do bulbo, através do ramo vestibular do
VIII nervo, por meio dos gânglios de Scarpa. Dos núcleos vestibulares do bulbo,
as fibras nervosas aferentes seguem três vias: vestíbulo-ocular, vestíbulo-
espinhal e vestíbulo cerebelar, que integram a função do equilíbrio. Participam
ainda desta função outros sistemas, como: a visão e as sensações
proprioceptivas, partindo dos músculos, tendões e articulações.
27
1.5.8. Sensação do Som
A movimentação do estribo na janela oval produz ondas de pressão
hidráulica que se propagam pelos líquidos que ocupam a cóclea – perilinfa e
endilinfa. A membrana basilar, por meio da movimentação, estimula as células
ciliadas a dobrar os seus cílios, colocando-os em contato com a membrana
tectória, gerando a despolarização e repolarização.
MORATA & SANTOS (1994) confirmam: quando a membrana basilar
vibra em direção à rampa vestibular as células despolarizam, e quando retorna
em sentido contrário, hiperpolarizam, gerando uma diferença de potencial que
estimula as fibras nervosas (Figura 3), representação esquemática da fisiologia
da audição.
Após desencadear o impulso nervoso, as fibras nervosas fazem
sinapse no gânglio espiral de Corti e deste saem fibras em direção a núcleos
bulbares, onde fazem sinapse que são transmitidas aos núcleos olivares
superiores ipsi e contralateral.
A via auditiva segue em direção ao colículo inferior e, por último,
atinge o córtex auditivo, situados no lado temporal.
RUSSO (1998) acrescenta que, em algumas estações de
retransmissão, dispostas na via auditiva, algumas fibras se encaminham para o
hemisfério cerebral correspondente à orelha estimulada e outras cruzam,
agrupando-se de acordo com a freqüência dos sinais sonoros que transportam.
MORATA & SANTOS (1994) completam que são nos diversos níveis
do sistema nervoso em que o som é interpretado quanto à freqüência,
intensidade e discriminação da direção da fonte que o originou e onde tem
origem uma série de reflexos involuntários e inconscientes, por exemplo o virar
da cabeça para a fonte de ruído, o fechar os olhos à explosão, os sobressaltos
com estímulos que alteram a circulação, a respiração, o processo digestivo e
todos os efeitos extra-auditivos induzidos pelo ruído.
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2. EFEITOS DO RUÍDO NO ORGANISMO
1. Efeitos Auditivos
Frente à exposição a ruídos em geral, as orelhas são dotadas de
mecanismos protetores que alteram a sensibilidade auditiva durante e após a
estimulação acústica. O primeiro mecanismo protetor é o mascaramento ,
quando a percepção de um só é diminuída em presença de um ruído de
intensidade que encubra esse som. O segundo é a adaptação auditiva, ou seja,
a sensibilidade auditiva é reduzida durante a apresentação de um estímulo
sonoro intenso e duradouro. O terceiro diz respeito à fadiga auditiva, que ocorre
após a cessação dos estímulos, podendo ser também chamada por mudança
temporária. Consequentemente, há diferença entre adaptação e fadiga auditiva.
A primeira constitui um fenômeno peri-estimulatório e a segunda, pós-
estimulatório.
Conforme SELIGMAN (1997), os sintomas auditivos relacionados ao
ruído assinalam em primeiro lugar à perda auditiva, dificuldades no
entendimento da fala.
Quanto a perda auditiva, verifica-se que a orelha humana é
extremamente sensível à ação do ruído. As lesões da orelha interna resultantes
da exposição a ruídos levam ao esgotamento físico e a alterações químicas,
metabólicas e mecânicas do órgão sensorial auditivo, refletindo na lesão das
células sensoriais (externas e internas), com lesão parcial ou total do órgão de
Corti e consequentemente a deficiência auditiva, podendo o ruído atuar sob a
forma de dois mecanismos.
1. Por exposição aguda; Trauma Sonoro e Mudança Temporária no Limiar (TTS
- “Temporary Threshold Shift”)
2. Por exposição Crônica - Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou
Mudança Permanente no Limiar (PTS - “Permanente Threshold Shift”)
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ocorrer vasoconstrição local. HUNGRIA et al. (1995) acrescentam que há
redução do aporte de oxigênio ao órgão de Corti, sendo a cóclea muito sensível
à deficiência de oxigênio.
31
da fala.
SELIGMAN (1997) diz que é a queixa que envolve a habilidade de
diferenciar os sons da fala. O mesmo autor, cita SMITH (1990) acrescenta que
o ruído produz um efeito mascaramente sobre a palavra e outros sinais sonoros
úteis, em especial os sinais de alarme, dando origem a acidentes profissionais
e ocasionando graves prejuízos sociais.
Outros sintomas são observados, como: algiacusia (aumento
desproporcional da sensação sonora frente a um som intenso), plenitude
auricular (sensação de ouvido tapado ou cheio), sensação de audição abafada e
dificuldades de localização sonora.
Em decorrência à perda auditiva induzida por ruído (PAIR), estudos
relatam que as alterações anatomopatológicas e histopatológicas são diversas e
irreversíveis.
OLIVEIRA (1997) refere-se em seus estudos a PATUZZI & RATAN
(1992) que observam alterações no fluxo coclear e nos esteriocílios
(amolecimento, colapso, fusão e alongamento), aumento no número de células
ciliadas lesadas ao longo da exposição do ruído, redução dos processos ativos
das células ciliadas externas, como a capacidade de contração rápida das
mesmas, formação de escaras e degeneração de fibra nervosa do órgão de
Corti. Deve-se considerar que tais alterações dependem da extensão da lesão e
sua localização, da freqüência do som, nível de pressão sonora e duração da
exposição.
2. Efeitos Não-Auditivos
Além dos Sintomas Auditivos, o ruído exerce ação geral sobre
várias funções orgânicas, apresentando reações distintas, com características
comuns, mas com diferentes significados, como: Reações de alarme, que
consistem em resposta rápida de curta duração sob a ação de um ruído
repentino. Essa atitude reflexa se manifesta através do ato de fechar os olhos,
há aumento da freqüência cardíaca e respiratória, aumento da pressão arterial e
secreção salivar, dilatação pupilar, contração brusca da musculatura e aumento
da secreção dos hormônios e Reações neurovegetativas, em que a ação geral
do ruído exerce uma resposta lenta com variações durante a estimulação
auditiva, influenciando e promovendo transtornos considerados como
verdadeiras doenças de adaptação de instabilidade do sistema neurovegetativo;
como por exemplo, o aumento do tônus muscular, hiperreflexia, redução do
peristaltismo intestinal, distúrbios digestivos, angústia, inquietação, variações na
dinâmica circulatória e aumento da amplitude respiratória.
SELIGMAN (1997) relata que alguns autores não consideram
32
seguros os dados referentes às manifestações não-auditivas do ruído, mas
deve-se considerar que atualmente existem estudos que foram revistos na
literatura científica dos últimos 20 anos e que comprovam que o indivíduo
urbano encontra-se dia-a-dia em exposição ao ruído, seja de forma direta ou
indireta e, consequentemente, há a promoção de estresse ou perturbação do
ritmo biológico, gerando transtornos, tais como:
• Transtornos Neurológicos.
Especialistas nesta área citam como alterações o aparecimento de
tremores nas mãos, diminuição da reação aos estímulos visuais, dilatação
pupilar, motilidade e tremores dos olhos, mudança na percepção visual das
cores de desencadeamento ou piora de crises de epilepsia.
• Transtornos Vestibulares
Durante a exposição do ruído ou mesmo após, muitos indivíduos
apresentam alterações tipicamente vestibulares, descritas como vertigens, que
podem ou não ser acompanhadas de náuseas, vômitos e suores frios,
dificultando o equilíbrio e a marcha, nistagmos, desmaios e dilatação das
pupilas.
• Transtornos Digestivos
SELIGMAN (1997) cita GÓMEZ (1983), BORG (1981) afirmam que
pode-se encontrar diminuição do peristaltismo e da secreção gástrica, com
aumento da acidez, seguidos de enjôos, vômitos, perda do apetite, dores
epigástricas, gastrites e úlceras e alterações que resultam em diarréia ou
mesmo prisões de ventre.
• Transtornos Cardiovasculares
Indivíduos submetidos a elevados níveis de ruído (acima de 70 dB)
podem sofrer constrição dos pequenos vasos sangüíneos, reduzindo o volume
de sangue e conseqüente alteração em seu fluxo, causando taquicardia e
variações na pressão arterial.
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• Transtornos Hormonais
COSTA (1994) relata que a produção dos “Hormônios de Estresse”
é alterada quando o indivíduo é submetido à tensão em ambientes com níveis
elevados de ruído, existindo um aumento dos índices de adrenalina e cortizol
plasmático, com possibilidades de desencadeamento de diabetes e aumento de
prolactina, com reflexo na esfera sexual.
• Transtorno do Sono
RICHTER (1966) citado por SELIGMAN (1997), considera que o
ruído interfere na profundidade e qualidade do sono, surtindo efeitos
desastrosos ao dia-a-dia, com visíveis alterações no trabalho e mesmo na vida
social.
• Transtornos Comportamentais
O ruído gera alterações neuropsíquicas, com mudanças na conduta
e no humor, falta de atenção e de concentração, cansaço, insônia e inapetência,
cefaléia, redução da potência sexual, ansiedade, depressão e estresse.
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3. RUÍDO AMBIENTAL
1. Poluição Sonora
Considera-se a poluição sonora como sendo a perturbação que
envolve maior número de incomodados, e diante dos danos dramáticos
causados, ocupa a terceira prioridade entre as doenças ocupacionais.
Embora o ruído ultrapasse o limite de tolerância de 80 - 85 dB, em
certos locais, a exposição a esse não é contínua, como nos ambientes
profissionais, mas intermitente, sendo menos lesivo à audição.
AZEVEDO (1990), em seus estudos, relata que as cidades
brasileiras mais barulhentas são o Rio de Janeiro e São Paulo. Nestas, as
medições nas ruas e nas casas ultrapassam 85 dB (A), produzindo na maioria
de seus habitantes níveis de estresse avançados. Segundo GÓMEZ (1989) as
doenças oriundas por agrotóxicos e as osteo-auriculares ocupam a primeira e
segunda prioridades no Estado de São Paulo. Sendo assim, a poluição sonora
constitui mais um dos fatores de risco da grande parte das pessoas do país,
agravando as doenças cardio-vasculares e infecciosas, interferindo na
recuperação dos enfermos e tornando-se mais fácil o adoecer dos sãos.
Para HUNGRIA (1995) a poluição sonora dos grandes centros
urbanos afeta o psiquismo de seus habitantes.
As condições psicológicas são afetadas, principalmente em
indivíduos com predisposições, acarretando instabilidade de humor,
irritabilidade, alterações emocionais (depressões e excitações), redução da
memória e estresse.
WHO (1980) assinala que, pelas reações fisiológicas conhecidas, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) considera 55 dB (A) o início do estresse
auditivo. TUFIK (1991) acrescenta que o estresse em estágios iniciais pode
atuar de forma benéfica, na medida que funciona como excitante ocasional. Por
conseguinte, BONAMIN (1990) afirma que, ao tornar-se crônico, começa a
degradar o corpo e o cérebro, conduzindo à exaustão rapidamente.
Atribui-se aos veículos automotores a maior causa da poluição
sonora. Também são excessivamente ruidosos os aparelhos domésticos e
mecânicos; não se pode deixar de citar os setores industriais e boêmios, devido
à localização nas ruas residenciais e a promoção de eventos ruidosos à noite.
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corpo lentamente e somente com o tempo percebem-se alterações como a
surdez que vem, às vezes, acompanhada de assustadores desequilíbrios
psíquicos e de doenças degenerativas.
PIMENTEL-SOUZA (1992) comenta que muitas pessoas perdidas
no redemoinho das grandes cidades não conseguem identificar o ruído como um
dos principais agentes agressores e, cada vez mais, vão ficando desorientadas
por não saberem localizar a causa de tal mal.
DOWGHERTY & WELSH, citados por LACERDA (1976), nos EUA,
estimavam que “a contaminação da atmosfera urbana” pelo ruído se converteu
em ameaça à saúde pública. LACERDA (1976) acrescenta que graves prejuízos
poderiam advir para a audição e a saúde em geral de milhares de pessoas, em
conseqüência da poluição acústica, causada pelos ruídos excessivos dos
grandes centros urbanos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ruído até 50
dB (A) pode perturbar, mas é adaptável. A partir de 55 decibéis acústicos a
poluição sonora provoca estresse, causando dependência e gerando durável
desconforto. Efetivamente, o estresse degrativo inicia-se em torno de 65 dB (A)
com o desequilíbrio bioquímico, elevando o risco de infarte, derrame cerebral,
infecções, osteoporose e outros.
Em torno de 80 dB (A) o organismo já libera morfinas biológicas no
corpo, provocando prazer e completando o quadro de dependência. Por volta de
100 dB (A) pode ocorrer perda imediata da audição.
PIMENTEL-SOUZA (1992) afirma que a ativação permanente do
Sistema Nervoso Simpático do morador da metrópole pode condicionar
negativamente a sua atuação com as agressões. Muitas pessoas procuram se
livrar dessa reação, por tornar-se desagradável (por exemplo, de uma
palpitação), usando drogas (tranquilizantes ou cigarro), para bloqueá-la. O corpo
se vê diante de um conflito, sendo atacado sem saber o motivo e como se
defender. É um conflito gerador de ansiedade, pois o nível de ruído do ambiente
urbano encontra-se quase sempre acima dos limites do equilíbrio, conduzindo
para o caminho de estresse crônico.
O ruído estressante libera substâncias excitantes no cérebro,
tornando os indivíduos sem motivação própria, incapazes de suportar o silêncio.
Também libera substâncias anestesiantes, tipo ópio e heroína, provocando
prazer, conduzindo ao uso de fortes drogas psicotrópicas.
A dependência do ruído gera depressão nas pessoas na presença
de ambientes silenciosos, promovendo agitação e incapacidade para meditação
e reflexões.
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1.2. Efeitos Sincronizadores e Perturbadores do Ruído no Sono
PIMENTEL-SOUZA (1992) refere que a percepção de
SCHOPENHAVER previu há mais de um século as provas científicas de hoje ao
afirmar que “o barulho é a tortura do homem de pensamento”. A ciência tem
desvendado nobres funções do sono, como: as psicológicas, as intelectuais, as
da memória, as do humor e as da aprendizagem. O sono parece ser o período
mais propício para consolidar os traços mnemóricos e geradores de criatividade.
Segue ainda observando que o ruído é um dos sincronizadores ou perturbadores
mais importantes do ritmo do sono. Distúrbios do ritmo do sono produzem sérios
efeitos à saúde mental.
CIPOLLA - NETO (1989) e FISCHER et al. (1989), citados por
PIMENTEL-SOUZA (1992), verificaram em seus estudos que os operários de
turnos noturnos geralmente possuem um sono de má qualidade no período
diurno, muitas vezes incontroláveis e responsáveis pelo maior número de
acidentes entre 3 a 5 horas da manhã.
CZEILER et al. (1981) consideram que o atraso contínuo do sono
pelos horários de trabalho e variações do ritmo das atividades sociais,
facilitados pelo uso de luz elétrica e atrações noturnas, podem levar à constante
insônia.
Segundo as Associações Internacionais de Distúrbios do Sono
(ASDA, 1990), cerca de 5% das insônias são causadas por fatores externos ao
organismo, principalmente pelo ruído, 10% são devidas a má higiene do sono,
ou seja, comportamento inadequado para o sono, sobretudo nas duas horas que
o precedem, e 15% são resultantes de internalizações no cérebro dos fatores
perturbadores externos por meio de mecanismos de condicionamento
apreendidos de forma involuntária.
Num mundo moderno predominantemente visual, em que as
informações variam em 90% do universo atual, atribui-se ao ruído uma
importante contribuição indireta através do estresse diurno e noturno. Além de
gerar má higiene do sono, produz efeitos traiçoeiros que passam
desapercebidos pelos indivíduos por não terem efeitos imediatos e não
deixarem pistas visíveis; tornando o sono mais leve, causando danos
fisiológicos, psicológicos e intelectuais.
O Centro de Estudos de Perturbações e de Energia (CERNE, 1979),
na França, reconheceu que o ruído de baixos níveis permite adaptação. Mas,
após vários anos, os déficits no sono sob níveis de até 55 dB (A) internos são
acumulativos, modificando a estrutura do sono como se fossem de pessoas
envelhecidas precocemente. Pessoas de 35 anos estudadas estavam dormindo
como se fossem de 55 - 60 anos, não expostas ao barulho. Conclui que dormir e
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desempenhar mal não são necessariamente causados pela idade.
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Nas principais capitais nordestinas como Salvador, Recife,
Fortaleza, entre outras é comum encontra nas principais ruas um veículo de
transporte, denominado trio-elétrico, com instalações de vários alto-falantes
unidos a amplificadores de alta potência, tocando por várias horas, enquanto as
pessoas seguem dançando e cantando pelas ruas.
RUSSO et al. (1995) consideram que, tendo em vista os elevados
níveis sonoros que tais veículos geram, oferecem riscos à audição tanto de seus
músicos quanto dos que se aproximam demasiadamente deles; efeitos que
serão percebidos a médio e longo prazo, do mesmo modo que a perda auditiva
induzida pelo ruído no ambiente de trabalho.
JORGE JR et al. (1996) dizem que o agravante é que os indivíduos
que estão expostos a estas intensidades sonoras são, na maioria, jovens que,
mesmo antes de iniciarem as fases produtivas de suas vidas, já podem
apresentar lesão de um órgão de comunicação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALDAS, N.; LESSA, F.; NETO, S.C. Lazer como risco à saúde − O ruído dos
trios elétricos e a audição. Rev. Bras. de Otorrinolaringologia: 63(3)
mai./jun. p. 224-251. 1997.
COSTA, S.S. da; CRUZ, L.M.; OLIVEIRA, J.A.A. de. e cols. Otorrinolaringologia
- Princípios e Prática. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre. 1994. p. 12-56
LACERDA, A.P. de. Audiologia Clínica.. Rio de Janeiro. Ed. Guanabara. 1976.
199 p.
44
RUSSO, I. C. P. Acústica e Psicoacústica Aplicadas à Fonoaudiologia. 2ª
edição. Revisada & Ampliada. São Paulo. Ed. Lovise Ltda. 1999. 263 p.
45