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Atenção à saúde
DE EDUCAÇÃO da pessoa privada
PERMANENTE de liberdade
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA
UNIDADE
Atenção integral
2
à saúde do
homem privado de
liberdade
Nesta unidade, vamos abordar, de maneira específica, a saúde dos homens que se encon-
tram em privação de liberdade e que vivenciam o sistema penitenciário brasileiro. Iremos
trabalhar isso reconhecendo sua situação de vulnerabilidade, que emana de diversos aspec-
tos relacionados à vida intramuros, mas também a vivência desse sujeito antes do cárcere,
o perfil epidemiológico dessa parcela populacional e o processo de trabalho da equipe de
saúde para garantir a assistência integral da saúde no âmbito do SUS.
Ainda, para além da legislação específica que trata da saúde da pessoa privada de liberda-
de – a PNAISP – existem outras políticas transversais de cuidado para a população que se
encontra inserida no SUS, como a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do
SUS (HumanizaSUS). E, de forma específica, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
do Homem (PNAISH) que visa o acolhimento das necessidades de saúde masculinas.
Dessa forma, com o objetivo de prestar atenção integral aos homens reclusos, suas práticas
devem estar embasadas por diversas políticas que irão contribuir para o alcance das metas
propostas, exemplificadas em nossa situação problema!
Como vimos na reunião da equipe de saúde da nossa situação problema, a equipe da ESF apre-
senta como dever prestar assistência integral à população que vive em privação de liberdade
em penitenciárias localizadas em seu território. E, portanto, em situação de vulnerabilidade.
Assim, a integralidade compreende esse homem, a sociedade que o permeia e todas as suas
relações e o ambiente em que vive, de maneira ampla. Desse modo, a manutenção da inte-
gralidade na assistência à saúde é complexa, mas fundamental para entender o perfil epide-
miológico que emerge do cenário prisional nacional. E como a epidemiologia pode contribuir?
Como observa-se na figura a seguir, o adoecimento das PPL é motivado por diversas causas,
entre as quais a superlotação – vista anteriormente – é um problema chave para as demais
mazelas que assolam o sistema penitenciário nacional, uma vez que sua presença entrava os
demais processos que fortaleceriam a dignidade da pessoa humana privada de liberdade.
Figura 1 – Fatores que interferem negativamente sobre a saúde do homem privado de liberdade.
Para que haja sucesso no controle dessa doença, nas unidades prisionais nacionais, é fun-
damental considerar e respeitar as singularidades que permeiam o ser privado de liberdade
e o ambiente carcerário, a fim de traçar medidas específicas e articuladas. Em relação aos
altos índices das IST/AIDS juntos as PPL, esses estão associados à atividade sexual desprote-
gida, entre diferentes opções sexuais e ao uso de drogas injetáveis com compartilhamento
de seringas, e essas pessoas relatam que esses comportamentos de risco observados são
realizados durante e anteriormente a detenção (BRAVO, 2009).
Assim como a tuberculose, observa-se que os índices de hepatite são maiores entre a
população privada de liberdade quando comparadas à população em geral (MARCHEWKA,
2000). Esse cenário é resultante de uma série de fatores que aumentam o risco entre
os homens encarcerados, a saber: uso de drogas ilícitas injetáveis, e o posterior com-
partilhamento de seringas, práticas sexuais desprotegidas e realização de tatuagem.
De modo geral, as doenças de caráter crônico e/ou não contagiosas estão relacionadas às
condições de moradia e de assistência à saúde em que se encontram as pessoas em pri-
vação de liberdade. E, além dos espaços institucionais, a equipe de saúde pode contribuir,
de forma significativa, nas orientações sobre os condicionantes e determinantes sociais
em saúde. Que tal conhecermos um pouco acerca das doenças e agravos mais associados
a essa população?
O sistema respiratório é especialmente alvo das doenças que acometem a população encar-
cerada e a porcentagem dessas tende a aumentar em uma relação diretamente proporcio-
nal ao tempo de aprisionamento (MINAYO; RIBEIRO, 2016). Doenças e agravos como pneu-
monias, bronquites e asma – frequentemente diagnosticados entre homens que vivem em
cárcere – relacionam-se ao ar frio e à falta de agasalhos em locais com baixas temperaturas,
à constante situação de aglomeração nas unidades prisionais brasileiras, à circulação ine-
ficiente de ar e também à alimentação pobre em nutrientes, sendo assim, constituem-se
elementos primordiais para o adoecimento dessa população (CESAR, 2015).
Por fim, as doenças do sistema genital masculino mais frequentemente observadas são:
problemas de próstata, cistite e uretrite. Sabe-se que os homens apresentam dificuldades
maiores para procurar a assistência médica, pois o acesso ineficiente e o preconceito – que
ainda permeia esse gênero – constituem-se entraves para a assistência. Contudo, há relatos
em que os homens afirmam que sua situação de saúde melhorou após o encarceramento,
devido à possibilidade de acesso, à disposição de tempo livre e a busca por ações de promo-
ção da saúde e prevenção de doenças (MINAYO; RIBEIRO, 2016).
Nesse sentido, cursistas, após as considerações dessa aula e as leituras completares, dei-
xamos a seguinte reflexão: como a equipe de saúde da nossa situação problema poderá
adentrar na instituição prisional do seu território de atuação, de forma mais efetiva e eficaz,
a fim de promover a saúde e prevenir doenças? Reflitam e até a próxima aula!
Muitos fatores podem influenciar a não realização de ações de saúde ou sua efetivação
de forma fragmentada e desarticulada da realidade prisional, entre os quais a falta de estru-
tura para transporte do apenado para o atendimento da Rede de Atenção à Saúde (RAS),
a inadequabilidade dos protocolos de segurança, o não reconhecimento da importância de
oferecer cuidados integrais de saúde as PPL e o desconhecimento das atribuições da ESF
junto a essa população. Por isso, a preocupação da enfermeira Daniela da nossa situação
problema! Ela falou, inclusive, da ausência de recursos e de apoio, não foi mesmo?
Contudo, a pessoa em privação de liberdade mantém seus demais direitos, incluindo o direi-
to a assistência integral e resolutiva de seus problemas de saúde, por meio da rede assisten-
cial do SUS (BRASIL, 2014a). Para tanto, a princípio é essencial que os profissionais de saúde
reconheçam esse direito referente aos homens que habitam as prisões brasileiras.
De acordo com a PNAISP as equipes de saúde que atuam junto a população privada de liber-
dade representam a “porta de entrada” e o “ponto de atenção” da RAS, a fim de garantir assis-
tência à saúde integral e intersetorial (BRASIL, 2014). Assim, realizar o acolhimento é condição
inicial e essencial para o seguimento do itinerário terapêutico desse sujeito na RAS.
Em que momento esse sujeito deve ser acolhido pela equipe de saúde?
O acolhimento e as demais ações de saúde para esse sujeito devem ser iniciados pela equipe
da ESF desde a entrada dos custodiados no itinerário carcerário, que em geral acontece nas
delegacias de polícia ou pelos distritos policiais, em seguida pelas cadeias públicas ou pelos
centros de detenção provisória e penitenciárias (BRASIL, 2014).
Acolhimento
Gostaram do mapa conceitual anterior? Vamos apresentar outro dele a seguir: Mapa concei-
tual para promoção da saúde, adaptado de Medina et al. (2014).
Contudo, de modo geral, observa-se que esse tipo de atividade é timidamente desenvolvida
pela equipe de saúde para a população em geral, de modo que para a população privada de
liberdade torna-se ainda mais escassa, portanto, é fundamental adotar medidas que esti-
mulem o empreendimento dessas atividades (MEDINA et al., 2014).
No âmbito da atenção primária à saúde, a adoção dos protocolos clínicos visa reorganizar
o processo de trabalho das equipes multidisciplinares, a partir de uma visão ampla do usu-
ário e de uma assistência adequada e pautada na evidência científica (RODRIGUES; NASCI-
MENTO; ARAUJO, 2011). Em consonância com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB),
a PNAISP também defende a utilização dos protocolos clínicos junto à população privada de
liberdade para reger as ações de saúde desenvolvidas (BRASIL, 2014a).
Ainda, a população masculina é alvo da PNAISH, cujo objetivo está relacionado com a orienta-
ção das ações e serviços de saúde integrais, equânimes e humanizados, por meio da adoção
de protocolos clínicos, consonantes com as diretrizes nacionais da atenção (BRASIL, 2009a).
Imunização
Chegamos ao final da unidade, mas é importante ressaltar que aqui é apenas a parte inicial
de atenção ao homem privado de liberdade! A legislação internacional defende a assistência
igualitária entre os reclusos e a população geral, assim como o Brasil. Dessa forma, reflita
sobre a situação problema do módulo diante das dificuldades da equipe de saúde em abor-
dar esse tema, utilize seus conhecimentos e demais publicações oficiais para garantir uma
assistência integral, equânime e resolutiva para essa população.