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22/12/2019 Nossa imaginação precisa da literatura mais do que nunca | Opinião | EL PAÍS Brasil

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Nossa imaginação precisa da literatura mais do


que nunca
Nenhuma forma de arte ou objeto cultural guarda a potência escondida
por aquele monte de palavras impressas na página

EL PAÍS

22 FEB 2018 - 18:44 BRT

Vamos partir de uma situação que grande parte de nós já vivenciou.


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Estamos saindo do cinema, depois de termos visto uma adaptação de um
Dezenove livros
livro do qual gostamos muito. Na verdade, até que gostamos do filme
escritos por
também: o sentido foi mantido, a escolha do elenco foi adequada, e a trilha mulheres que os
sonora reforçou a camada afetiva da narrativa. Por que então sentimos homens
deveriam ler
que algo está fora do lugar? Eu penso logo em Fim de Caso, do inglês
Graham Greene, levado às telas por Neil Jordan. Mas você pode pensar em
A brasileira
Harry Potter, em Alice no País das Maravilhas, em qualquer um dos filmes Verónica Stigger
baseados em romances do Cormac McCarthy. No meu caso, eu tinha a e outras 19
vozes essenciais
Julianne Moore no papel feminino principal, e com ela nada pode dar muito
para entender a
errado, né? Então, por que me senti um pouco traída e com uma sensação América Latina
de que havia faltado alguma coisa? em 2018

Carlos Heitor
O que sempre falta em um filme sou eu. Parto dessa ideia simples e
Cony, a rua e a
poderosa, sugerida pelo teórico Wolfgang Iser em um de seus livros, para memória
afirmar que nunca precisamos tanto ler ficção e poesia quanto hoje,
porque nunca precisamos tanto de faíscas que ponham em movimento o

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mecanismo livre da nossa imaginação. Nenhuma forma de arte ou objeto cultural guarda a
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potência escondida por aquele monte de palavras impressas na página.

Essa potência vem, entre outros aspectos, do tanto que a literatura exige de nós, leitores.
Não falo do esforço de compreender um texto, nem da atenção que as histórias e poemas
exigem de nós – embora sejam incontornáveis também. Penso no tanto que precisamos
investir de nós, como sujeitos afetivos e como corpos sensíveis, para que as palavras se
tornem um mundo no qual penetramos. É sempre bom ver Julianne Moore na tela... O
problema é que ela, ali, toma o espaço que, de alguma forma, eu havia preenchido na
narrativa quando a li.

Somos bombardeados todo dia, o dia inteiro, por informações. Estamos saturados de dados
e de interpretações. A literatura – para além do prazer intelectual, inegável – oferece algo
diferente. Trata-se de uma energia que o teórico Hans Ulrich Gumbrecht chama de
“presença” e que remete a um contato com o mundo que afeta o corpo do indivíduo para
além e para aquém do pensamento racional.

Muitos eventos produzem presença, é claro: jogos e exercícios esportivos, shows de música,
encontros com amigos, cerimônias religiosas e relações amorosas e sexuais são exemplos
óbvios. Por que, então, defender uma prática eminentemente intelectual, como a
experiência literária, com o objetivo de “produzir presença”, isto é, de despertar sensações
corpóreas e afetos? A resposta está, como já evoquei mais acima, na potência guardada
pela ficção e a poesia para disparar a imaginação. Mas o que é, afinal, a imaginação, essa
noção tão corriqueira e sobre a qual refletimos tão pouco?

Proponho pensar a imaginação como um espaço de liberdade ilimitada, no qual, a partir de


estímulos do mundo exterior, somos confrontados (mas também despertados) a responder
com memórias, sentimentos, crenças e conhecimentos para forjar, em última instância,
aquilo de faz de cada um de nós diferente dos demais. A leitura de textos literários é uma
forma privilegiada de disparar esse mecanismo imenso, porque demanda de nós todas
essas reações de modo ininterrupto, exige que nosso corpo esteja ele próprio presente no
espaço ficcional com que nos deparamos, sob pena de não existir espaço ficcional algum.

A imaginação entra em cena para ampliar as contradições, sem,


contudo, tornar a experiência incoerente

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Mais ainda, a experiência literária nos dá a chance de vivenciarmos possibilidades que, no


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cotidiano, estão fechadas a nós: de explorarmos essas possibilidades como se
estivéssemos, de fato, presentes. E a imaginação é o palco em que a vivência dessas
possibilidades é encenada, por meio do jogo entre identificações e rejeições.

Resta pensar por que é tão importante encenar possibilidades. Em primeiro lugar, como o
escritor Bernardo Carvalho destacou recentemente, estamos vivendo uma confusão
generalizada entre realidade e representação artística, em que esta última vem sofrendo
sanções violentas, por se haver perdido a medida da diferença entre o real e a retomada
desse real em obras artísticas. Carvalho inicia seu texto afirmando, muito acertadamente,
que rejeitar ou proibir a representação ficcional do horror que há no mundo é sintoma de um
desespero – o desespero causado pela impossibilidade de eliminarmos o horror real. Além
disso, diz ele mais adiante, recusar a legitimidade ou a existência de determinadas obras de
arte denota o temor à ambivalência dos nossos próprios desejos, sentimentos e certezas.

Aprendemos desde cedo que, para que haja vida em sociedade, não podemos pôr em
prática, na vida cotidiana, toda essa ambivalência. Um dos poderes da obra de arte é,
precisamente, o de oferecer uma experiência cuja própria premissa é a existência de
paradoxos – afinal, a ficção cria um mundo que, fora dela, não existe, mas no qual
precisamos acreditar. A imaginação entra em cena para ampliar as contradições, sem,
contudo, tornar a experiência incoerente: estamos, agora, no domínio da associação livre e
espontânea entre o que lemos, o que lembramos, o que sabemos e sentimos. Idealmente,
ao lermos uma obra literária, não caímos na confusão entre a realidade e a representação
dela, e sim nos conectamos a uma realidade cotidianamente inacessível, por meio da
interação entre o que o texto propõe e a nossa imaginação. Nesta, acessamos aqueles que
somos, mas também aqueles que poderíamos ser – maravilhosos ou terríveis.

Há, ainda, outra defesa para a primazia da literatura como “disparadora” da imaginação.
Para ela, recorro a uma história real, que se desenrola neste momento, na Universidade
Stanford, uma das melhores do mundo e, além disso, localizada em meio ao Vale do Silício.
Lá, hoje se desenvolve boa parte das pesquisas científicas mais importantes sobre
inteligência artificial – assunto, aliás, que até pouco tempo atrás só era central em obras de
ficção científica (e nem me deixem começar a falar da imaginação de gente como Ursula Le
Guin ou Philip K. Dick!)

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Se aos cientistas cabem os esforços e a ambição virtualmente


irrestritos de inventar o futuro, cabe a nós, das ditas humanidades,
oferecer um terreno aberto de discussão sobre esse futuro

Em Stanford, encontramos uma dessas figuras que só um ambiente absurdamente


privilegiado é capaz de produzir (e de que meritocracia nenhuma, sozinha, pode dar conta):
o americano Sam Ginn está no terceiro ano de sua graduação, e irá se formar em ciência da
computação e... em literatura comparada (desde 2014, a universidade oferece e incentiva a
prática de dupla graduação em computação e em uma área das humanidades). O principal
interesse de Sam é na replicação artificial da consciência humana. E um dos principais
autores que guiam a pesquisa dele não é um neurocientista ou um programador como ele
próprio, mas o filósofo Martin Heidegger (ele fala sobre isso nesta entrevista incrível). Vale
contar, também, que, quando não está em sala de aula, Sam atua no laboratório de
inteligência artificial da universidade, um trabalho pelo qual recebe, aos 20 anos, um salário
que deixaria bastante felizes muitos pesquisadores brasileiros experientes.

No começo deste mês, em um evento em homenagem à obra de Gumbrecht, Sam lembrou


a uma plateia formada por professores e pesquisadores de história, filosofia e literatura, que
muitas elucubrações que sempre haviam sido do domínio da ficção hoje se tornaram objeto
de pesquisas reais. Disse ainda que, se aos cientistas cabem os esforços e a ambição
virtualmente irrestritos de inventar o futuro, cabe a nós, das ditas humanidades, oferecer
um terreno aberto de discussão sobre esse futuro. Esse terreno constituiria uma base não
propriamente ética (o que seria um encargo que excede as nossas capacidades, por mais
que alguns de nós se achem aptos a ele...), mas simplesmente humanista, no melhor
sentido do termo: um espaço de debate não calcado em posições preconcebidas ou
objetivos concretamente delimitados. Entre os futuros imaginados por jovens como ele,
Sam mencionou – provocando taquicardia em muitos, e em mim – a possibilidade concreta
de uma existência em que a morte terá sido derrotada pela ciência. Se isso será bom ou
ruim, não me cabe dizer. Sei apenas que a imaginação humana tem muito trabalho pela
frente, e que nenhum esforço da literatura para despertá-la terá sido em vão.

Ligia G. Diniz é doutora em literatura pela UnB e recebeu, em 2017, o prêmio CAPES de melhor tese em Letras
pelo seu trabalho, intitulado Por uma Impossível Fenomenologia dos Afetos: Imaginação e Presença na
Experiência Literária.

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