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GÊNESE DO AMOR

Nei Calvano*

Com efeito, não se trata, como nas outras paixões humanas, de


uma desgraça, ou de uma vantagem individual, mas da existên-
cia e da constituição especial da humanidade futura: a vontade
individual atinge, neste caso, o seu mais alto poder, transforma-se
em vontade da espécie (Schopenhauer, s/d, p.26)

Resumo
Este artigo é a tentativa de recorrer aos estudos de natureza biológico-evolucionária para a compre-
ensão da gênese do amor, da existência de uma herança biológica, por acreditarmos que também
somos produto de um longo processo de evolução. Podem assim emergir inúmeras reflexões,
discussões e dimensões sobre o que é inato e aprendido; desta forma, é possível refletir, com a
mesma intensidade, sobre as teorias relacionadas às emoções, para nós, especificamente, a emo-
ção do amor.

Abstract
This paper is an attempt to draw on biological-evolutionary nature studies so that we can understand
the genesis of love, a biological heritage existence, because we believe that we are the outcome of
a long evolutionary process. It allows us to have many reflections, debates and dimensions concerning
what is innate and learned, thinking that way with the same intensity in theories of emotions, which
are for us specifically the loving emotion.

A natureza e a origem deste fenômeno con- Fato é que Harlow, em seu discurso ao assumir
siderado universal são amplas. Está como cria- a presidência da American Psychological
ção de Deus, assim como na linguagem da ci- Association, em 1958, falou: “os psicólogos têm
ência. Aqui, consideramos o amor como um falhado em sua missão. O pouco que nós sa-
comportamento emocional. bemos sobre o amor não transcende a simples
Acreditamos que, para compreender o estu- observações, e o pouco que nós escrevemos
do desta emoção amorosa, devamos começar tem sido melhor escrito pelos poetas e nove-
com a sua gênese. Gênese, considerada aqui listas”.
como uma série de fatos e causas que concor- Os trabalhos teóricos, até então, se limita-
reram para o surgimento desta emoção no ho- vam a contribuições de Freud, “Pulsiones y des-
mem. Logo, recorremos a alguns estudos de tinos de pulsión” (1915) 1, Bowlby, com sua
natureza biológica-evolucionária para compre- trilogia, “Apego, Separação e Perda” (1984), e
endermos melhor esta gênese, ou seja, nossa Harlow (1958), com o artigo intitulado, “A Natu-
herança biológica, pois acreditamos que somos reza do Amor”. Apesar de suas distintas con-
produto de um longo processo da evolução. cepções teóricas, há nesses trabalhos um pon-
O estudo do amor conduzido pelos psicólo- to em comum. Todos admitem que este senti-
gos de certa forma é extremamente recente. mento tem origem na formação de vínculo en-

*
Doutor em Psicologia. Coordenador do Curso de Psicologia da Faculdade Estácio de Sá Méier.
1
O texto escrito por Freud foi traduzido inicialmente por Instintos e suas Vicissitudes, entretanto sofreu várias
críticas, tendo em vista, que não refletia exatamente o conceito proposto por ele, pois em alemão não se refere
a INSTINKT, e sim a TRIEB, hoje traduzido como PULSÃO.

1
tre pais e filhos, como protótipo de todas as O surgimento das atividades de caça-coleta
relações amorosas. A relação amorosa desen- foi provavelmente o período que se apresenta
volvida nesta fase tenra da infância teria rele- com a característica estável e permanente em
vância no futuro emocional dos adultos. De- nossa evolução biológica desde o Homo
monstram que, na relação da criança com a Erectus ao Homo Sapiens e, como conseqüên-
mãe, a primeira reação de afeto é mais do que cia, ao homem moderno. Leakey (1981) afirma
o prazer que a criança tem ao estar com a mãe que, “dada a importância da caça-coleta duran-
e de interagir com esta, legitimando assim uma te milhões de gerações de nossos ancestrais,
genuína relação humana. este estilo de vida pode muito bem ser parte
Para uma maior compreensão sobre as pri- indelével do que nos fez humanos” (p. 97). In-
meiras reações de afeto no homem, admite-se fere-se que alguma forma de organização soci-
que não há maiores explicitações sobre a ori- al existia, pois há registros de que essas ativi-
gem do sentimento de amor, na literatura psi- dades se centravam em moradias-base, forman-
cológica. Sentimos a necessidade de fazermos do pequenas comunidades2. Nessas comuni-
incursões a alguns trabalhos de etnólogos, an- dades, os arranjos sociais incluíam formas de
tropólogos, psicobiologistas e etólogos para casamento e família, formas essas que não
podermos afirmar e confirmar nossa perspec- possuíam o mesmo sentido que as atuais insti-
tiva de que esse vínculo é de natureza universal tuições. Entendia-se por comunidade lugares pri-
e não um fenômeno local ou histórico, como mários onde pequenos grupos de adultos e cri-
afirma Rougemont (1988), quando refere-se ao anças se reuniam para comer e dormir, havendo
amor cortês como um produto do século XIII. um padrão de vida rígido por uma formação bio-
Para nós há fortes evidências que o amor, a for- lógica, que ressaltava na proteção das crianças,
mação de um vínculo especial entre um homem o que desenvolveu a tendência de manter os pe-
e uma mulher, existe desde períodos remotos, quenos grupos unidos por um período de vários
pois foi através deste vínculo que se mantive- anos. Evidencia-se desta maneira uma forma de
ram as condições favoráveis para que a nossa vínculo estabelecida entre homens e mulheres,
espécie tivesse êxito na evolução. Portanto, para indicando alguma forma de preferência sexual
analisar o estudo da emoção amorosa, iremos para que houvesse a formação do vínculo e as-
examinar as sociedades primitivas, os caça- sim a garantia da reprodução.
coletores, e as evidências de alguns paleontó- Sobre esta preferência3 de um macho por
logos e arqueólogos sobre a vida de nossos uma fêmea em particular, e vice-versa, devemos
ancestrais. Sentimos essa necessidade, pois só nos remeter aos estudos desenvolvidos com
com esse tipo de exame é que nos daríamos macacos, assim como a espécies relativamen-
por satisfeitos em compreender o que pode se te promíscuas, como os chipanzés, que for-
considerar como gênese. mam até haréns, sendo que alguns permane-

2
A propriedade era comunitária, onde mulheres e homens viviam em grupos matrilineares, isto é, a linhagem de
uma família era traçada a partir da linha materna, e não em famílias nucleares encabeçadas por homens.
Nesses grupos, a paternidade possuía pouca importância, praticava-se comumente o divórcio e o adultério e
as mulheres recolhiam tantos alimentos quantos os homens, além de serem responsáveis pela administração
familiar.
3
Diz respeito à diversidade de investimento entre homens e mulheres, denominado de investimento parental,
que é a contribuição que o homem ou a mulher fazem para o sucesso reprodutivo de seus descendentes. O
investimento que a mulher faz é maior por ser ela que traz consigo o feto e também pela própria determinação
biológica, que faz com que ela possua um número de óvulos pré-determinado desde o nascimento, o que as
leva a serem mais seletivas. Já os homens têm a possibilidade de produzirem o seu material reprodutivo
durante um maior espaço de tempo e por isso apresentam-se mais ansiosos e menos discriminatórios. Devido
à pouca discriminação masculina, a mulher assume o papel da escolha e sedução.

2
cem juntos por meses e até anos, independen- grupo social. Esta divisão de trabalhos entre
te do ciclo estrual4. Logo, estabelecem um laço os sexos é, de fato, observada na maioria das
comunidades modernas de caçadores coleto-
especial entre machos e fêmeas de modo par-
res” (p. 95).5
ticular, caracterizando-se uma possível existên-
cia de vínculo. Isso pode ser explicado pela hi- Enquanto algumas espécies de mamíferos,
pótese de que os macacos possuem um po- tais como os primatas, possuem determinados
tencial genético para formar preferências indivi- programas rígidos de comportamento, quanto
duais e, talvez, em desenvolver laços macho- a caça e hábitos alimentares, os protohumanos
fêmea em situações particularmente vantajosas, pareciam possuir uma certa flexibilidade neste
e que tal potencial possa fazer parte de uma comportamento, não seguindo nenhum padrão
herança genética dos hominídeos. rígido. Eles carregavam sua caça nos ombros,
por uma longa distância, para reparti-la com os
Um outro aspecto a ser levado em conta no
outros de sua comunidade, fundamentalmente
período de caça e coleta é o que diz respeito
porque queriam, o que denotava algum senti-
aos hábitos alimentares, no sentido dos indívi-
mento de ligação, vínculo com as fêmeas e cri-
duos compartilharem os alimentos.
anças de sua comunidade. Mellen (1981) sugere
Alguns antropólogos apresentam como fa- que tal força motivacional é provida por um gran-
tor de convivência o interesse econômico nas de recurso mamífero de emoções, mais especifi-
comunidades de base, como assinala Isaac camente, e que parte deste vasto recurso era
(1976): canalizado para um potencial afetivo que os anti-
“A coleta de carne, particularmente quando gos hominídeos possuiam em comum com al-
envolve a caça ativa, conduz os indivíduos para guns outros primatas e que iria ser desenvolvido
mais longe em campo aberto do que a coleta
posteriormente. Portanto, as tendências inatas
de vegetais. Na busca de carne também exis-
te a possibilidade de perigo físico. De modo deste tipo são transmitidas geneticamente pelos
que faz sentido as mulheres, estorvadas por machos adultos para seus próprios filhos; são
filhos pequenos, irem em busca de forragem também transmitidas através de uma seleção de
e alimentos vegetais, deixando a carne para parentes, já que muitos dos protohumanos com-
os homens. O contrato de economia mista de
partilhavam uma comunidade em particular,
subsistência seria portanto, essencialmente
entre homens e mulheres no interior de um estando relacionados uns com os outros por

4
Período biologicamente determinado na fêmea, em que esta se apresenta receptiva ao macho para iniciar o
intercurso sexual, com fins reprodutivos.
5
Nesse tipo de grupo familiar pode-se notar uma clara influência do matriarcado na sua estrutura, e esse
assunto é, até hoje, tratado com certo cuidado, pois, apesar da pouca evidência de sua ausência ou de sua
presença, tal conceito é defendido por muitos estudiosos contemporâneos, que tomam por base a sobrevivên-
cia das deusas gregas e romanas, as misteriosas figuras femininas do folclore europeu, dos contos de fadas e
dos desenhos de figuras semelhantes a deusas que existem nas cerâmicas e nos afrescos antigos. Gimbutas in
Fisher (1995) postula que na Europa de sete mil anos atrás existiam sociedades matriarcais, e que esses povos
foram então dominados por saqueadores provenientes das estepes russas que traziam com eles costumes de
linhagens patrilineares e regras patriarcais.
Assim, apesar da divisão do trabalho, as mulheres possuíam algum destaque na sociedade, pois, por serem
responsáveis pela parte da coleta, faziam a maior parte do trabalho. As mulheres permaneciam nas aldeias,
cuidando das crianças, cozinhando e coletando raízes e frutos em locais próximos, de modo que seus filhos
continuassem sempre por perto.
Contudo, com o surgimento do arado e a criação de animais, houve uma grande modificação nas relações entre
homens e mulheres, modificações que vieram a dar origem a outras nos padrões humanos de sexo e amor. Isso
se deu devido ao fato de que tornou-se necessária uma força muito maior do que a que as mulheres dispunham
para puxar o arado, fazendo com que a maior parte do trabalho passasse a ser uma tarefa masculina, acarretan-
do a perda do antigo e privilegiado papel de coletoras. Com o passar do tempo, os homens tornaram-se
proprietários de bens valiosos - a terra e os animais - e utilizaram este poder econômico para instituir a
patrilinearidade e, posteriormente, o patriarcado.

3
meio de vários laços de parentesco. ção e cuidado do macho pela fêmea, assim
No que concerne à sexualidade, há uma gran- como sua consumação, até que tais tendências
de probabilidade de que, nos machos, os sin- se tornassem gerais e intensas entre alguns in-
tomas de afeição que se desenvolveram primei- divíduos, sempre, porém, permeadas pela evo-
ro foram aqueles de atração por uma fêmea lução cultural que, certamente, reforçou tal de-
adulta, porque o impulso sexual é muito pode- senvolvimento.
roso e teria se expressado de várias formas. Os seres humanos possuem uma variedade
Mellen (1981) atribui essa força poderosa e as de comportamentos, e até no instinto materno
suas variedades de expressões ao desapareci- há muitas diferenças entre os indivíduos, como,
mento do ciclo estrual como sinal de ovulação, por exemplo, algumas mulheres perfeitamente
o que afetou o comportamento sexual e social, normais e que são mães, porém não experien-
facilitando portanto a receptividade na fêmea e ciam todos os sentimentos comumente asso-
a excitação no macho, que pode ser alcançada ciados à maternidade. Mellen (1981) sugere que
em qualquer tempo e em qualquer situação. “O os tipos distintos de sentimento maternal, são
significado disto é que a perda do estrus é uma biologicamente determinados por uma forma-
mudança que parece ter iniciado no estágio da ção complexa proveniente não apenas de um
evolução dos primatas pré-humanos” (Mellen, único gene, mas de um número de genes que
1981, p.109), caracterizando-se assim que es- podem estar separados, reunidos ou através
ses “seres” não necessitariam mais de um perí- de uma combinação.
odo específico para a reprodução. A receptivi- Há mulheres que indicam uma propensidade
dade sexual feminina e a excitação masculina de revelar a sua emoção maternal através de
poderiam ser obtidos a qualquer momento. uma visível resposta prazerosa para um bebê
Com essa mudança, as fêmeas protohuma- de outra mulher, um pronto interesse por qual-
nas e humanas se tornam mais acessíveis con- quer criatura que esteja fraca ou sofrendo ou
tinuamente, o que veio a facilitar o estabeleci- então necessitada, e existem mulheres que pra-
mento de uma ligação mais duradoura, de modo ticam o infanticídio em certas sociedades, o que
a incluir um vínculo emocional preferencial que apresenta uma certa disparidade. No entanto,
durava anos entre o macho e uma ou mais fê- a explicação para o infanticídio não é necessa-
meas com quem ele compartilhava na comuni- riamente um sinal de falta de amor materno, mas
dade. pode resultar de um interesse interno da mãe
“O estrus, ou o período do “ardor” feminino pelas necessidades de diversas crianças já vi-
foi substituído pela atividade sexual contínua. vas e crescendo, em detrimento de crianças não
Copulação é iniciada não pela resposta ao si- aptas para a sobrevivência, por não poderem
nal do estrus convencional dos primatas, tais ser cuidadas adequadamente e, assim, compro-
como mudanças ao longo dos órgãos sexuais
metendo a manutenção da espécie. Tal ato im-
e liberação dos feronomas, mas pela extensa
estimulação mútua dos parceiros” (Wilson, plica na hipótese de uma mínima tendência
1981, p.547). materna universal nas mulheres, conduzindo a
uma reinterpretação sobre o fenômeno do in-
Evidencia-se assim que a seleção natural6 é
fanticídio, que os etnógrafos reportavam como
tida como favorecedora de sentimentos tais
praticados em certas sociedades. No Plio-
como o aumento de desejo sexual e de vínculo
pleistoceno, este fenômeno pode ser interpre-
pessoal pelo macho e dependência da prote-

6
Darwin desenvolveu uma teoria, na qual estabelece em dois tipos a escolha sexual: em seleção intrasexual e
seleção “epigâmica”. A seleção intrasexual é resultante da competição entre membros do mesmo sexo, ou seja,
os machos tendem a competir entre si pela atenção e pela oportunidade de reprodução com a fêmea, enquanto
que a segunda é proveniente do fato de mulheres fazerem suas escolhas sobre quais membros do sexo oposto
elas preferem para ser responsável pela sua prole. A soma destes dois aspectos constitui o que se chama de
“seleção sexual”.

4
tado favoravelmente através do critério de se- retardar o desenvolvimento mental da criança e
leção natural, porque é resultante de uma rede pode lesar sua personalidade mais ou menos
salvadora das vidas das crianças. permanentemente.
Este infanticídio é visto no sentido de prote- As crianças também necessitam de uma
ção às outras crianças. Com o novo bebê, a interação com a figura paterna. Apesar de não
mãe iria se dividir a tal ponto que não consegui- haver fatos empíricos suficientes, infere-se que
ria dar conta dos outros já existentes. Isto seria há indicações que a interação de uma criança
visto como uma forma de amor para com a sua com seu pai é importante principalmente num
prole já estabelecida. estágio posterior do desenvolvimento, possivel-
Os bebês humanos possuem faces expres- mente entre os 5 e 10 anos.
sivas e seus primeiros sorrisos são interpreta- É observado, desde os comportamentos de
dos pelos etologistas como uma adaptação que animais mamíferos muito pequenos, uma sina-
tem a função de atrair a atenção da mãe e esti- lização de sua presença e de sua necessidade
mular seu interesse e afeição. Estes oferecem de cuidado, o que demonstra um potencial de
uma quantidade de evidências empíricas, de- solicitude paternal e, possivelmente, afeição por
monstrando que as adaptações filogenéticas parte dos adultos da mesma espécie.
da relação mãe-filho podem contribuir para se Nos primórdios de uma afeição paternal real,
compreender de forma mais profunda a forma- há também o desenvolvimento intenso de uma
ção do vínculo emocional. Os bebês humanos seleção natural, onde as crianças de um grupo
possuem como características a cabeça gran- teriam grande chance de sobrevivência quando
de em relação ao tronco, testa alta e saliente, tinham apoio emocional e a proteção de um
bochechas insufladas, extremidades pequenas macho adulto assim como cuidado maternal.
e arredondadas e boca com perfil de “sucção”. Aqui, também, a evolução cultural teve uma im-
Estas são objetos-estímulos desencadeadores portante contribuição.
de respostas afetuosas pelos adultos. O esfre-
O amor paterno, embora usualmente pode-
gar da boca é outro exemplo. Eibl-Eibesfeldt
roso, parece ser diferente em diversas manei-
(1977) relata, ao estudar as relações das mu-
ras do amor materno. É provavelmente menos
lheres “Waikas” com seus filhos, que estas so-
universal, não é físico ou sensual como o ma-
pravam bem próximo da boca deles, assim
terno. Embora seja usualmente acompanhado
como esfregavam seus narizes com os deles
por um senso de responsabilidade, é menos
para que estes se alegrassem, o que ele cha-
contínuo, não sendo necessária a sua exposi-
mou de “beijo afetuoso”. Em sua interpretação,
ção todos os dias.
isto seria a origem do beijo, como uma função
Há ainda algumas diferenças entre os amo-
primitiva do ato de alimentar, além da troca de
res materno e paterno que podem ser notadas
carinho, pois a “alimentação boca a boca en-
na linha evolucionária: o amor do pai por seu
tre mãe e filho, enquanto pequeno, é pratica-
filho tem uma história evolucionária muito me-
do nos mais diversos tipos de cultura” (p. 180).
nor do que o da mãe, assim como diferente.
Há uma grande evidência de que uma crian-
Ele é desconhecido entre os mamíferos inferio-
ça está apta a sofrer um enfraquecimento du-
res; seus antecedentes aparecem principalmen-
radouro se, em tenra idade, ela não recebe
te em alguns dos primatas não humanos, onde
amor, carinho da mãe ou de uma figura mater-
o macho adulto assume uma responsabilidade
na, pois uma intensa interação mãe-criança du-
generalizada em relação a todos os jovens ani-
rante os primeiros dois ou três anos de idade
mais. Mellen (1981) assinala que no estágio dos
da criança é uma condição necessária para um
caça-coleta do período plio-pleistocênico é o
ótimo desenvolvimento, e que se um estágio
ínicio provável da afeição paterna, pois “basi-
da interação é perdido por um período exten-
camente deve ter dado a eles um adicional
so, ou se é seriamente deficiente ou distorcido,
sentido de segurança — segurança de estar
a privação resultante é tão séria que é apta a
alimentado, e segurança contra os perigos dos
5
animais de grande porte o que excedia os em particular. Tais circunstâncias tornam difícil
poderes da mãe” (p.131). identificar com certeza os fatores genéticos cuja
Em nosso mundo, há um outro fenômeno evolução seria interessante explorar.
que parece ocorrer quase que regularmente: De acordo com um estudo de E. Westermarck
aquele onde os adolescentes rompem com a (1922), sobre o amor em sociedades mais primiti-
autoridade dos pais. Isso é comum em pessoas vas nas Américas, na Austrália, África, Índia,
muito jovens, especialmente em garotos e ra- Indonésia e ilhas do Pacífico, há existência de vín-
pazes, com o intuito de se afirmar contra a au- culos emocionais entre homens e mulheres nes-
toridade dos pais, especialmente a do pai, po- tas sociedades, variando da afeição conjugal
dendo possivelmente refletir predisposições estabelecida até a paixão suicida.
genéticas. Nos garotos e rapazes pode estar Um ponto a ser discutido é aquele que diz
associado à níveis crescentes de sexualidade, respeito ao tipo de amor. Dentro da totalidade
agressividade e competitividade. das culturas antigas e contemporâneas, há al-
Portanto, na discussão do amor entre pais e gumas em que a existência do amor ardente é
filhos, a atenção foi focalizada no componente tido como bastante raro, possivelmente não
genético. Porém, todas as culturas também existente, e mesmo nas quais ele é observado,
contribuíram substancialmente, não só em não é universal. Ao contrário, o caso do “casa-
transmitir informações consideradas úteis para mento por amor” nem sempre é tido como pa-
com o cuidado, a proteção e o desenvolvimen- drão que prevalece, e em muitas sociedades,
to das crianças, mas também em estabelecer antigas ou atuais, talvez na maioria delas, é dada
normas sociais e, eventualmente, prover assis- a preferência a outros critérios para a formação
tência para as crianças necessitadas. Todavia, de vínculo.
tais construções culturais parecem ser essen- Na tendência de um homem e uma mulher se
cialmente reforçadas ou suplementadas, sen- amarem há algumas falhas, em que, em alguns
do razoável supor que foram fáceis de estabe- casos, a afeição conjugal pode se desenvolver
lecer, porque elas concordavam com um com- em casamentos inicialmente sem amor; em ou-
plexo de tendências emocionais geneticamen- tros, um caso de amor pode ocorrer fora do ca-
te desenvolvidas. samento, e ainda em outros podem haver tendên-
Embora muitas pesquisas tenham sido fei- cias emocionais válidas que simplesmente não
tas sobre muitos assuntos, não tem havido alcançam o preenchimento, a completude.
muito progresso no que diz respeito ao amor Contudo, uma coisa é certa: a predisposi-
entre homens e mulheres, quanto à sua origem. ção para o amor é abrangente, a maioria dos
Existem várias informações derivadas da expe- homens e mulheres nascem com uma capaci-
riência pessoal, da observação pessoal e da li- dade genética e uma necessidade para formar
teratura, há poucas informações quantitativas vínculos duradouros de caráter emocional. Uma
sobre a freqüência, duração e correlação dos maioria considerável possui a propensão para
estados emocionais nos quais homens e mu- sustentar o amor. Em alguns, a necessidade de
lheres regularmente experienciam o amor em amor é compulsiva; eles devem ter sempre um
estágios sucessivos em suas vidas. relacionamento emocional contínuo com algu-
Uma das causas de tal falta de informação ma pessoa do sexo oposto, não podendo pro-
quantitativa é a enorme variação e plasticidade gredir sem tal relacionamento.
nos indivíduos. Graças à plasticidade, alguns Recapitulando, a explicação evolucionária é
dos mais familiares padrões de amor entre uma esta: nossos ancestrais adquirem tendências
mulher e um homem são altamente influencia- a formar vínculos emocionais entre um macho
dos por fatores culturais, isto é, são ditados e uma ou mais fêmeas com a finalidade de pro-
pelas percepções e normas sociais de um lu- ver alimentação e proteção durante vários anos
gar e de um tempo em particular, e condiciona- para suas crianças excepcionalmente indefesas.
dos pelas tradições e modelos de uma cultura
6
Apesar das discussões acerca de tal senti- Quando duas pessoas se apaixonam, o mes-
mento, nas quais são levadas em conta carac- mo processo fisiológico está funcionando numa
terísticas que fazem os seres humanos os mais escala maciça. Em adição, capacidades psico-
atraentes tais como acessibilidade da fêmea, lógicas humanas vitalmente importantes entram
tamanho do pênis e orgasmo, a conclusão que nesta operação. Superpostos a tudo isso, fa-
se chega é que sob condições estáveis, cada tores culturais e ambientais enxertam suas influ-
espécie é atraente o suficiente para tornar a re- ências poderosas; em parte, eles fornecem mo-
produção assegurada. A grande expansão ou delos normativos e tradicionais de sentimentos,
enriquecimento dos impulsos reprodutivos em que podem ir de crueza à delicadeza extrema, da
humanos é a evolução de uma tendência na mai- mediocridade emocional à paixão intensa.
oria dos homens e mulheres de amar um ao ou- O amor entre homem e mulher tal como é
tro — mais precisamente, a tendência de um ho- visto na civilização ocidental atual não é simples-
mem em particular e uma mulher em particular de mente um fenômeno local, posto que foi encon-
amar um ao outro por um período de tempo. trado nas civilizações antigas e em outras cul-
A nível de seres humanos, o relacionamento turas. Isso permite concluir que as premissas
deve ser um relacionamento seletivo. Apesar da básicas de machos e fêmeas em formar um vín-
maleabilidade e da longevidade humanas, ho- culo emocional faz geneticamente parte do ser
mens e mulheres são tão mais psicologicamente humano, sendo reforçado pela evolução cultural.
complexos do que outros animais, e suas ne- Deste modo, a partir da análise do compor-
cessidades individuais e idiossincrasias são tão tamento dos ancestrais do homem, assim
numerosas, que para muitos deles é de fato como sua filogênese, pode-se ver que a sele-
difícil encontrar alguém com quem possa com- ção feita por meio de trazer alimentação à co-
partilhar um amor profundo e duradouro. munidade denota um certo estado de consci-
Para muitas pessoas, talvez a maioria delas, ência, aliado às faculdades de memória e ima-
há a descoberta na adolescência de uma estra- ginário visual (necessário para caça com suces-
nha e doce euforia associada à mera presença so), na medida em que a própria dieta alimentar
de uma moça ou rapaz em particular, e incontá- associava-se com a diminuição na freqüência
veis vezes, mais tarde, uma excitação ao se de saídas, que mantinham o homem primitivo
encontrarem próximas de uma mulher ou ho- distante de suas comunidades básicas, fazen-
mem atraente. Tentando descrever estas sen- do-o agora permanecer mais tempo próximo à
sações, as pessoas às vezes falam de vibra- sua comunidade. Considerando que o homem
ções, radiações, eletricidade, e até mesmo de tendeu para a formação de vínculos, em que
alterações bioquímicas que nós denominamos pai e mãe empenhavam-se na proteção de suas
de comportamentos viscerais-autonômicos, crias, dado que a relação homem-mulher trans-
respostas estas que foram a via de acesso para cendeu ao simples compartilhar, na medida em
a Psicologia experimental estudar as emoções. que havia diversas formas de atração, admiti-
O que acontece realmente é que, após a mos que os estudos desenvolvidos com o de-
puberdade, os hormônios que geram inclina- correr do tempo apresentam uma certa legiti-
ções reprodutórias percorrem o sistema em midade, nos permitindo inferir que os aspectos
volumes crescentes quando eliciados por um acima expostos, podem ser considerados a
estímulo apropriado. origem do amor.

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