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RESUMO: Este artigo procura demonstrar algumas das mudanças ocorridas na historiografia brasileira do
século XIX, inicialmente com uma breve analise dos textos produzidos na época colonial e posteriormente as
mudanças ocorridas com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838, analisando o
primeiro exemplar de sua revista produzida em 1839. PALAVRAS- CHAVES: historiografia brasileira do
século XIX, IHGB, revista do IHGB.
ABSTRACT: This article wants to show some changes which occurred in brazilian historiography in the XIX
century. First, with a brief analysis about the texts produced in the colonial period and, at last, subsequent
changes to the establishment of the Historic and Geographic Brazilian Institute in 1838, analyzing the first
exemple of your magazine, produced in 1839. KEY-WORDS: brazilian historiography in the XIX century, IHGB,
IHGB magazine.
A historiografia surge enquanto ciência apenas no século XIX, com a ramificação das
ciências sugerida pelo positivismo. É nesse momento que se estabelecerá a forma e as técnicas
de analisar documentos considerados importantes para reconstituição da “história da Nação”.
Este acontecimento chega ao Brasil com o processo de Independência (1822), quando
nota-se um crescente sentimento nacionalista e buscando no passado fatos para exacerbar a
grandeza da Pátria.
Podemos dizer que o grande representante histórico desse momento foi o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro do Rio de Janeiro.
A principal proposta apresentada por Januario Barbosa é a escrita dos grandes homens,
dando à história um caráter exemplar.
3
Revista do IHGB, 3 ed. tomo 1, 1908 p. 5
4
idem, p. 9-18
Logo, Barbosa explicita o sentido da afirmação do exemplo: Sua base estava em um
modelo tradicional de história como mestra da vida, onde o trabalho dos historiadores devia,
antes de tudo, servir à nação, a partir da exibição – ou ressurreição – de figuras exemplares.
Finalmente, o projeto prevê que a história de nossos grandes homens seja escrita por
nossos historiadores nacionais.
O primeiro secretário do IHGB estava lançando a pedra fundamental o culto à nação
estava por ser instaurado. Cabendo ao IHGB a responsabilidade de organizar uma galeria
homens ilustres. Tal projeto pode ser verificado já na primeira RIHGB, logo na página 117, é
escrita a biografia dos brasileiros ilustres pelas ciências, letras, armas e virtudes, neste caso a
de José Basílio da Gama.
O IHGB desejava criar a História do Brasil destacando suas grandes personagens e
heróis, trazendo "à luz o verdadeiro caráter da Nação brasileira".
5
Revista do IHGB, 3 ed. tomo 1, 1908, p. 12
6
idem, p. 13
7
Revista do IHGB, 3 ed. tomo 1, 1908, p. 12.
Januário lembra ainda o fato de que, durante mais de três séculos, a metrópole não
autorizou a instalação de tipografias em solo colonial. Os escritores do país dependiam de
uma permissão de Portugal, circunstância que limitava consideravelmente a produção e a
divulgação de suas obras.
Fato ratificado na primeira sessão do dia 1 de dezembro de 1838, onde Januario
discursa:
“Proponho que na próxima sessão entre já em discussão o ponto seguinte: - Determinar-se as
verdadeiras épocas da historia do Brazil, e se esta se deve dividir em antiga e moderna, ou
quaes devem ser suas divisões.”8
Assim, em uma nova fase de sua história, na qual o Brasil é independente de Portugal,
o brasileiros estão, finalmente, capacitados a empreender a recuperação de seu passado.
Porém, a boa execução dessa manobra intelectual depende de uma cronologia que tenha por
fonte, justamente, esses primeiros escritos. Nesse sentido a tarefa inicial do IHGB é
reafirmada:
“O Instituto Histórico e Geographico Brazileiro tem por fim colligir, methodizar, publicar ou
achivar os documentos necessários para a historia e geographia do Império do Brazil ... logo
que o seu cofre proporcione esta despeza.”9
11
Revista do IHGB, 3 ed. tomo 1, 1908. p.52.
12
idem.
13
idem p.113.
É montada uma comissão para esse fim e ao final do ano é aprovado pela câmara –
onde figuravam alguns dos membros do Instituto – um subsídio no valor de um conto de réis.
Esse subsídio foi fundamental para as finanças do Instituto, que de acordo com
GUIMARÃES (1988, p.9), cinco anos após a sua fundação, as verbas do estado imperial
constituía cerca de 75% do orçamento do IHGB.
“Se a introducção dos escravos africanos no Brazil embaraço a civilisação dos nosso
indígenas, dispensando-se-lhes o trabalho, que todo foi confiado a escravos negros. Neste
caso qual é o prejuízo que soffre a lavoura Brazileira?”14
Januario Barbosa deixa claro que é contra a escravidão tanto de negros quanto de
índios, pelo simples fato de se desenvolver a pratica do trafico que cobriria terra e o mar de
salteadores, segundo ele “Em qualquer parte em que o homem for reduzido a uma mercadoria,
não haverá crime, que a cobiça não cometta, para augmentar sua fortuna.”15
Aponta como principal causa do retardamento de nossa civilização, a “barbara
cobiça”, dos portugueses ao escravizar os índios.
Tal cobiça serio causa de toda destruição e miséria, que se encontram a sociedade
indígena. Contudo:
“O padre Vieira usou, nesta informação a El-Rei, de toda a eloqüência e força de
raciocinio, que lhe era mui própria, para defender a liberdade dos índios, ou reviver a
execução de leis anteriores a este respeito. Mas foi tal o seu zelo nesta parto, que
esquecido de que a escravidão obstava a civilização dos indígenas, foi de parecer,
que o governo introduzisse, nos Estados do Grão- Pará e Maranhão, escravos negros
que se occupassem dos trabalhos da lavoura e outras fabricas, para os quaes já
faltavam índios.”16
14
Revista do IHGB, 3 ed. tomo 1, 1908 p.123.
15
idem, p.123.
16
idem, p.124-125.
17
idem, p.125.
18
idem, p.126.
Portanto, os portugueses não podendo mais fazer uso dos índios, voltaram ao trafico
dos “míseros africanos” tratados com a mesma barbaridade que era dispensada aos índios.
Januario Barbosa, usa do testemunho do padre Viera, para introduzir o problema da
falta de cumprimento de promessas - índios somente fugiram da catequese e se embrenharam
no sertão, devida ao medo, pois nas missão dos jesuítas, através da catequese era lhe
prometido paz e civilização, no entanto os portugueses viam e os arrancavam de lá e os
punham a ferros – devido a sua cobiça. Aponta que a continuação da catequese empregada
pelos jesuítas traria progresso a civilização brasileira:
“Como somos da opinião que só a catechese se podem desentrar os indígenas de sua mattas, e
trazê-los aos primeiros caminhos da civilização, cremos, por isso mesmo, que a introdução
dos índios é um grande obstáculo a nossa empreza.[plano civilizatório]”19
Com isso os portugueses desejosos de mão-de-obra, trataram de transportar africanos e
esqueceu-se da civilização indígena. Assim o Cônego levanta a seguinte tese:
“A experiência nos mostra, que os índios são aptos para todos os trabalhos, a que
appliquem, ou em terra, ou nos rios e mares. O que hoje fazem os negros, elles o
faziam, posto que violentados, e por isso mesmo sem proveito de seu adiantamento.
Parece que o primeiro cuidado, que deveríamos ter para os fazer passar do estado
nômade, em que vivem quasi todos, para o de pastor e agricultor, deveria ser
converte-los a religião christãa, e crear nelles certas necessidades, que os obrigassem
a pequenos trabalhos, com que houvesse os objectos então necessários. Este
comercio seria de certo um de seus mais fortes vínculos sociaes; e ainda que seja mui
difficil crear novos hábitos em homens totalmente filhos da natureza, todavia esses
hábitos iriam nascendo em seus filhos, aperfeiçoando-se pela nossa communicação,
e averiguando-se pelo correr dos tempos.”20
Portanto, afirma se tivéssemos continuado com a pratica da catequese dos jesuítas, não
alimentando entres os índios o sentimento de horror e desconfiança do colonizador - os
civilizariamos aos poucos e com isso não se extinguiriam como aconteceu.
Assim agora com o passar das gerações, não mais habituados a vida nômade, os filhos
e netos desde índios apresentado a luz da catequese e da civilização seriam uma classe
trabalhadora, que faria por dispensar o uso dos africanos. A necessidade de mão-de-obra
obrigaria os fazendeiros a serem mais dóceis e a cumprir as convenções, se não fosse tão
facilitado a possibilidade de adquirir escravos negros.
Neste caso qual é o prejuízo que sofre a lavoura brasileira?
19
Revista do IHGB, 3 ed. tomo 1, 1908, p.127.
20
idem, p.127.
“... é fácil conjecturar-se pela pouca perfeição e adiantamento, que sempre se encontra
em trabalhos forçados.” 21
Januario, parte para uma analise mais universal e trata da sociedade européia e os
avanças na agricultura alcançados ao passo que estas sociedades abdicaram do uso do
escravo. Fica claro aqui a relação que o IHGB, na figura de seu secretario perpetuo, faz entre
o escravismo e atraso em que se encontra a nação diante das sociedades européias.
21
Idem, p.128.
22
Revista do IHGB, 3 ed. tomo 1, 1908, p.77-80.
O manuscrito, parcialmente devorado pelos cupins — e, por isso, ocultando o nome do
autor —, começa falando de uma expedição de bandeirantes que percorria o interior do Brasil
e encontraram uma cidade sem habitantes com entrada formada por três arcos de grande altura
com inscrições antigas, com relatos de casas, praças e de uma estatua.
Após tomar ciência de tal relato, o cônego Benigno Jose de Carvalho e Cunha,
comprometeu-se a localizar a “cidade antiga”, dirigiu uma petição diretamente ao imperador,
a fim de captar recursos, argumentando que o apoio a tal empresa reforçaria para gerações
futuras a imagem de um monarca amigo “das ciências e letras”. Porem, mesmo após V. M. I.
lhe conceder apoio, tal cidade nunca fora encontrada.
Apesar de ter relatado estas duas empresas mal sucedidas, tal pratica era adotada com
freqüência, coerente com o objetivo a que se propôs, de esboçar o quadro na nação, o IHGB.
Era apresentada ao Estado (principal investidor) a natureza pratica dessas expedições,
sobretudo, a questão econômica que iam desde a viabilidade de integração de novas terras
para o cultivo agrícola e a descoberta de eventuais riquezas minerais; politicamente, tal
projeto poderia contribuir para a interiorização da civilização e reconhecimento das fronteiras
ocidentais do Império como forma de melhor protegê-las. Fazendo uma demarcação das
fronteiras por meio da argumentação histórica.
Em suma, o IHGB daria à monarquia brasileira uma nova história, uma iconografia
original e uma literatura épica. Neste local, enquanto o passado era relembrado de forma
enaltecedora, a partir de uma natureza grandiosa e de indígenas envoltos em cenários
românticos, já a realeza surgia como um governo acima de qualquer instituição e a escravidão
era literalmente esquecida.
Referências Bibliográficas: