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GRUPO DE ESTUDOS E DIFUSÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO (GEDAC)

MATERIAL DE ESTUDOS PARA O 6º ENCONTRO


DATA: 11/10/2014

LEITURA BÁSICA

Texto 01: “A análise funcional: aplicação dos conceitos”

BENVENUTI, M. F. Uso de drogas, recaída e o papel do condicionamento


respondente: possibilidades do trabalho do psicólogo em ambiente natural. In:
ZAMIGNANI, D.; KOVAC, R.; VERMES, J. S. (Org.). A clínica de portas abertas:
experiências e fundamentação do acompanhamento terapêutico e da prática clínica
em ambiente extraconsultório. 1 ed. São Paulo: Paradigma, 2007, p. 307-225.

Texto 02: “Uma visão crítica das políticas de descriminalização e


patologização dos usuários de drogas”

NASCIMENTO, A. B. Uma visão crítica das políticas de descriminalização e


patologização dos usuários de drogas. Psicologia em Estudo, v. 11, p. 185-190,
2006.
CAPÍTULO 13
Uso de drogas, recaída e o papel do
condicionamento respondente: possibilidades do
trabalho do psicólogo em ambiente natural
Marcelo Frola Benvenuti

Este texto analisa, com base nas contribuições de estudos sobre


condicionam ento respondente, o problem a da recaída, da reincidência no
uso de drogas após período de abstinência. O conhecimento do processo de
condicionam ento respondente (tam bém cham ado condicionam ento clássi­
co ou pavloviano) perm ite com preender como aspectos do ambiente natural
de usuários ou ex-usuários de drogas podem participar do quadro conhecido
com o sinârome de abstinência, que, por sua vez, tom a provável a reincidência
no uso de drogas, m esm o depois de tratamentos especializados dos mais dife­
rentes tipos. O objetivo deste artigo é auxiliar o psicólogo na análise do papel
do condicionam ento respondente no problema da recaída. O entendimento
do problem a abre possibilidades inéditas para o trabalho do psicólogo, pois
enfatiza a importância da atuação no ambiente natural do usuário de drogas
lícitas e ilícitas.

0 PROBLEMA DA REINCIDÊNCIA NO USO DE DROGAS: TOLERÂNCIA, DEPENDÊNCIA


E SÍN DRO M E DE ABSTINÊNCIA
Para a análise do problema da recaída é necessária a compreensão de como
interagem os processos de tolerância, síndrome de abstinência e dependência,
pois são conceitos que descrevem fenômenos centrais para o entendimento
dos mecanismos das interações com portam ento/uso de drogas.

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A tolerância ao uso de um a droga pode ser definida com o a diminuição
nos efeitos iniciais ao longo de sucessivas administrações. C om o desenvol­
vim ento de tolerância, tom a-se necessária um a quantidade cada vez m aior
da droga para que sejam obtidos os m esm os efeitos iniciais. Para atingi-los,
exigem-se quantidades da droga que, p o r vezes; o organism o n ão teria supor­
tado de início. U m usuário tolerante de heroína, por exem plo, pode chegar
a consum ir um a quantidade até cem vezes m aior do que a inicial; o efeito,
p o r sua vez, é bastante sem elhante o u pouco mais acentuado do que o das
prim eiras administrações.
No uso médico de drogas, com o ocorre com a morfina, a tolerância é espe­
rada e exige a administração de doses crescentes pelo médico. A identificação da
tolerância, contudo, não serve para a identificação da dependência, feita princi­
palm ente a partir da existência de síndrome de retirada ou síndrome de abstinência,
que ocorre na medida em que alguém esteja sem o uso de um a droga consumida
repetidas vezes. A síndrome de abstinência é um a das principais evidêndas para
se constatar o desenvolvim ento de dependênda e costum a envolver reações
bastante severas e desagradáveis. No caso da cocaína, por exemplo, a síndrome
de abstinênda dessa droga estimulante costum a envolver depressão; no caso de
drogas opióides, com o a morfina e a heroína, aparecem sintomas com o aum en­
to da sensibilidade à dor, ou hiperalgesia, além de irritabilidade, inquietação e
insônia; com o uso de cafeína, a síndrome de abstinência envolve prindpalm en-
te sonolênda; no caso do uso do álcool, aparecem efeitos com o trem edeira e
aum ento da tem peratura corporal. Os efeitos da síndrome de abstinênda são,
com um ente, opostos aos efeitos da droga, caracterizando o que se convencio­
nou cham ar de dependência química do organismo a um a determinada droga.
Além de servir com o principal referênda para a identificação e avaliação
do grau da dependência, sintom as da síndrom e de abstinência são um novo
m otivo para retom ar o consum o da droga, que agora passa a ser consumida
com o m aneira de evitar ou escapar dos sintom as desagradáveis prom ovidos
pela abstinênda. Um dos sinais da síndrom e de abstinência é, indusive, descrito
co m o ^ rte desejo - cham ado popularm ente de/tssu m -p ela droga à qual o usuá­
rio não tem acesso no m om ento. A relação entre dependênda e síndrom e de
abstinência pode ser vista, a seguir, nas duas passagens da CID10 (Organização

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M undial da Saúde, 1998). Na primeira delas, a sindrome de dependência pode ser
diagnosticada quando:

o uso de um a substância ou de um a classe de substâncias alcança uma


prioridade m uito m aior para um determ inado indivíduo que outros
com portam entos que antes tinham m aior valor. Uma característica
descritiva central da sindrom e de dependência é o desejo (freqüente­
m ente forte, algumas vezes irresistível) de consum ir drogas psicoativas
(as quais podem ou não terem sido medicamente prescritas), álcool ou
tabaco. (Idem, p. 74)

Estado de abstinência, por sua vez, é definido como:

u m conjunto de sintomas de agrupamento e gravidade variáveis, ocor­


rendo em abstinência absoluta ou relativa de um a substância, após uso
repetido e usualmente prolongado e / ou uso de altas doses daquela subs­
tância. (idem, p. 74)

N o tratam ento de dependentes, a sindrome de abstinência é uma das prin­


cipais causas de recaída, a retom ada do consumo de drogas depois de algum
tem po sem consumi-la. Assim, lidar com os sintomas da sindrome de abstinên­
cia é central para evitar a recaída. Costumeiramente, o tratamento com depen­
dentes é feito com medicamentos e atendimento de psicólogos quando o usuá­
rio está longe de seu ambiente natural: por exemplo, em clínica de reabilitação,
prisões ou internações por decisão de outros, com o familiares. Nesses casos,
deixar de apresentar sintomas de abstinência é um dos principais critérios para
identificar a possibilidade de final do tratam ento. A sindrome de abstinência
costum a reaparecer, contudo, assim que a pessoa volta a seu ambiente natural,
to m an d o a recaída m uito provável (O’Brien, 1976). O'Brien relatou o caso de
um a pessoa presa por uso sistemático de drogas. A pessoa passou seis meses
na prisão e, nas semanas iniciais, experimentou fortes sintomas de abstinência.
Pouco antes de voltar para casa, os sintomas já haviam desaparecido. Na volta
para casa, contudo, experimentou novamente os sintomas de abstinência perto

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do bairro onde m orava. No m etrô, lugar em que costum ava com prar e usar
drogas, sentiu-se pior ainda e sintom as m uito desagradáveis persistiram por
dias, acom panhados de pensam entos e forte desejo p o r drogas. Poucos dias
depois, houve a recaída. O relato não é u m feto isolado, m uitos autores têm
dem onstrado a relação entre sintom as de abstinência e determ inado contexto
ambiental, com o é o caso exemplificado por ele e tam bém p o r outros autores,
que m ostraram a relação da síndrom e de abstinência com a visão da paraferná­
lia para a aplicação de medicam entos (equipamentos para injeção etc.) e m es­
m o diante de um contexto no qual pessoas falam sobre drogas (ver O'Brien,
1976; Siegel 8CRamos, 2002).
A relação entre sinais de síndrom e de abstinência e determ inados con­
textos ambientais m ostra que os sintom as que servem para determ inar a de­
pendência química não podem ser entendidos exclusivamente a partir de um a
descrição fisiológica dos efeitos das drogas. O com portam ento do usuário de
drogas tam bém deve ser levado em conta, pois determ inados processos com-
portam entais podem m odular o efeito de drogas, ou seja: processos compor-
tam entais estão T e la c io n a d o s com os efeitos descritos pelos conceitos de tole­
rância, síndrom e de abstinência e dependência. A evidência de que sintomas
de abstinência podem depender de contexto m ostra um a relação entre efeito
de drogas e ambiente que deve ser explorada. Um processo com portam ental
que pode m odular o efeito de drogas é cham ado de condicionamento respondente
oupavloviano : a partir do condicionamento, respostas antes eliciadas p o r certas
substâncias no organism o p o d e m passar a ser eliciadas p o r eventos ambientais
que sistem aticam ente acom panharam essas substâncias.

CONDICIONAMENTO RESPONDENTE (OU PAVLOVIANO)


Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) ganhou o prêm io Nobel em 1904 por
seus estudos dos processos digestivos. D urante os estudos experimentais, que
envolviam quase sempre cães com o sujeitos, Pavlov e seus colaboradores n o ­
taram um fenôm eno exemplificado com o clássico experim ento dos cães que
salivavam diante de aspectos do ambiente que sistematicamente precediam a
presença de alimento na boca. A salivação produzida por esses novos estímulos,
primeiramente descrita com o salivação psíquica, ficou conhecida com o o exem-

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pio paradigmático do reflexo condicional. O processo que toma possível um refle­
xo condicional, por sua vez, passou a ser chamado de condicionamento do reflexo,
condicionamento clássico ou pavloviano ou, com mais freqüência nos trabalhos de
análise do comportamento, condicionamento respondente. O termo respondente é
preferível porque diferencia claramente o comportamento elidado do compor­
tam ento operante, que é estabelecido e mantido por conseqüências. No compor­
tam ento respondente, a relação básica a ser analisada é entre instândas de estímu­
los e respostas (S-R), enquanto no comportamento operante a unidade básica a ser
analisada é entre dasses de resposta e suas conseqüêndas reforçadoras (R-S).
N o com portam ento respondente, respostas são eliciadas por estímulos.
Alguns estímulos elidam respostas a despeito da história pessoal do organismo,
com o é o caso de alimento eliciando a resposta de salivar, ou um sopro de vento
eliciando o piscar, ou ainda a batida no joelho eliciándo a resposta de extensão
da perna. Todos esses são exemplos de respondentes incondidonais, relações
que existem a despeito da história pessoal do organismo. Respondentes incon­
didonais dependem da história de variação e seleção responsável pela cons­
trução da espécie. Por convenção, no respondente incondicional, o estímulo
é cham ado de estímulo incondidonal (US, do inglês unconditional stimulus) e a
resposta, de resposta incondidonal (UR, do inglês unconditional response).
O valor óbvio de sobrevivênda dos reflexos incondidonais, que garan­
tem o equilíbrio fisiológico do organismo, é complementado pelo processo de
condicionam ento respondente. No condicionamento, tal qual demonstrado
nos experimentos de Pavlov e seus colaboradores, respostas com valor para a
sobrevivência dos m em bros de uma espéde podem passar a ser emitidas após
a apresentação de outros estímulos. Estímulos inidalm ente neutros passam
a elid ar respostas dos organismos na medida em que precedem sistematica­
m ente os estímulos da relação respondente incondicional. Pavlov ressaltou a
im portânda do processo de condicionamento da seguinte maneira:

O equilíbrio garantido por esses reflexos [absolutos, incondicio­


nais] só poderia ser perfeito se o m undo exterior fosse constante, im utá­
vel. Entretanto, como o meio exterior, além de sua extrema diversidade,
está em contínua transformação, os reflexos absolutos, como conexõps
perm anentes não bastam para assegurar esse equilíbrio e devem ser
com plem entados por reflexos condicionais, isto é, por conexões tem po­
rárias. (Pavlov, 1980, p. 54.)

A relação respondente condicional depende de um a história de relações


entre estím ulosao longo da vida de um organismo específico. Freqüentem ente,
diz-se que é necessário o paream ento ou a associação entre estímulos, m as o
mais correto é dizer que, para a criação de um a relação respondente condi--
cional, são necessárias relações de contingência entre um estím ulo de início
neutro (não-elídador) e um US. Uma relação de contingência pode ser descrita
na form a condicional "se...então” e pode envolver relações entre respostas e
am biente (contingência R-S) ou entre am biente e outros aspectos do ambien­
te (contingência S-S) (Todorov, 1991). Dessa forma, é possível dizer que u m
respondente condicional é formado na m edida em que há um a contingência
S-S que descreve que há um a relação "se...então” envolvendo u m estím ulo de
início neutro (se estímulo...) e outro estím ulo elidador incondicional (...então
US). Os experimentos de Pavlov lidavam com o arranjo de contingência S-S des­
te tipo: se fosse apresentado um tom , então logo em seguida era apresentado
alimento. O to m funcionava com o o estím ulo inicialmente neutro para eliciar
salivação; o alimento, p o r sua vez, funcionava com o um US, eliáando salivação
assim que entrasse em contato com receptores especiais na boca do cão. Depois
de algumas relações tom /apresentação de alimento, o tom apresentado sozi­
nho podia eliciar a salivação. Por convenção, o estímulo condicional da nova
relação respondente é abreviado CS (do inglês conditional stimuli«) e a resposta
eliciada é abreviada CR (do inglês contitional response). N o condicionam ento
respondente, portanto, um estím ulo de início neutro (com o eliciador) passa
a funcionar com o CS por m anter um a determ inada relação condicional (se...
então) com o US.
C om o m ostra a passagem de Pavlov, a relação condicional é necessa­
riam ente "tem porária", isto é, pode ser quebrada, pode deixar de existir.
O pró p rio te rm o condicional sugere que a relação estím ulo-resposta criada
pela experiência depende de relações estímulo-estímulo, o que é verdade tanto
para a aquisição com o para a m anutenção da relação condicional. Q uando

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o CS é apresentado sem que seja tam bém apresentado o US, o CS perde gra-
dativam ente sua função eliciadora, deixando de eliciar a CR. O processo de
enfraquecim ento da função eliciadora condicional é chamado de extinção res­
pondente. Nos experimentos de Pavlov, o tom (CS) perdia a capacidade de eliciar
a salivação condicional na medida em que era apresentado algumas vezes sem
que o alim ento tam bém o fosse. A extinção respondente ocorre porque rompe-
se a contingência que existia entre CS e US.
A discussão sobre o processo de condicionam ento respondente tem sido
feita em diferentes contextos teóricos. Rescorla (1988) recuperou parte das
teorias associacionistas para discutir o papel do condicionamento, afirman­
do que o condicionam ento respondente depende do caráter "informativo"
de u m estím ulo; o CS adquire sua função eliciadora quando um organismo
é "surpreendido” e, assim, obrigado a modificar suas associações estímulo-
resposta. Alguns autores questionam o caráter ‘‘tem porário” da noção pavio
viana de relação condicional. Bouton (1994), p o r exemplo, afirma que na
m edida e m que o CS é apresentado sem que o US tam bém o seja, acontece
u m a nova aprendizagem e não o enfraquecim ento da relação condicional
estímulo-resposta. A relação condicional permanece intacta no repertório do
organism o, podendo reaparecer segundo mudanças no contexto de treino e
teste da relação condicional.
Para Skinner (1987), o condicionamento respondente desempenha um pa­
pel im portante como mecanismo adaptativo na medida em que respostas pre­
paradas pela seleção natural podem ser apresentadas diante de estímulos inicial­
m ente neutros como eliciadores. Os estímulos que adquirem função de CS são,
obviamente, aqueles com os quais determinado organismo se relaciona ao longo
de sua história de vida. De certa forma, como apontou Culler - quando a psicolo­
gia já havia tomado interesse pelo estudo do condicionamento respondente a
função de CS é "fazer ajustes preparatórios para um estímulo por vir [...] a CR, em
resumo, é o m odo natural de estar-se preparado para um estímulo importante”
(1938, p.136). Para Skinner, respondentes, condicionais ou não, relacionam-se
com a "fisiologia interna do organismo” (1953, p. 59), e, nesse sentido, a idéia
de equilíbrio interno do organismo é de grande importância. Como o condicio­
nam ento respondente prepara o organismo para o efeito de outro estímulo, sua

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função é sempre de recuperar um equilíbrio perdido. A idéia do condicionamen­
to como um mecanismo de manutenção do equilíbrio interno, fisiológico, do
organismo, é de grande importância para a compreensão de como esse processo
reladona-se ao efeito de drogas sobre o organismo.

CONDICIONAMENTO E O EFEITO DE DROGAS


Pavlov (1980) pon tu o u que a adm inistração de um a droga pode ser en­
tendida a p artir dos conceitos aplicados à situação de condicionam ento. O
efeito de um a droga pode ser visto com o um a UR elidada pelo agente farma­
cológico em ação n o organismo; n a m esm a medida, a situação de aplicação
'da droga pode ser vista com o um CS, por estar sistem aticamente precedendo
a droga n o organismo. Por exemplo, a ação da morfina, pertencente à família
das drogas opióides, pode ser vista com o um a relação incondicional, na qual a
própria droga desempenharia o papel de US que elidaria o efeito de analgesia
com o UR.
Entre os efeitos incondidonais de uma droga estão reações que de certa
forma compensam seus efeitos inidais. Na medida em que uma droga é aplicada
no organismo, produzem-se efeitos opostos, que compensam os efeitos inidais e
mais característicos da droga. Conforme foi pontuado por Siegel & AUan (1998),
esse fato tem relação com a noção de homeostase: diante de um distúrbio fisio­
lógico, um organismo reage com processos regulatórios, opostos aos iniciais,
compensando seus efeitos e restabelecendo o equilíbrio fisiológico anterior.
Esse processo regulatório, tal qual os efeitos iniciais da droga, é desencadeado a
despdto da experiênda do organismo que recebe a droga, seja um sujeito experi­
mental no laboratório, um usuário inidante ou mesmo um usuário já habituado
à droga. Nesse sentido, o efeito compensatório é incondicional, tal qual o efeito
inidal da droga.
Trabalhos experimentais com condicionamento respondente têm de­
monstrado como o processo regulatório eliciado pela ação de uma droga pode
passar a acontecer diante de novos eventos ambientais. A partir do condidona-
mento respondente, o processo regulatório, compensatório em sua natureza,
pode ser elidado por um estímulo condicional que esteve associado sistemati­
camente aos efeitos inidais da droga, naquilo que pode ser chamado de condi­

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cionamento de respostas compensatórias (Siegel & Allan, 1998). A lógica, a vanta­
gem do condicionamento para o organismo, é a mesma do condicionamento
respondente em geral: a partir desse processo, o organismo prepara-se para um
estim ulo que está por vir. No caso de drogas, perturbadoras do equilíbrio fisio­
lógico, o organismo "prepara-se” pois a situação precedente da ação da droga
produz efeitos opostos aos da droga, que atenuam os efeitos da própria droga
quando ela age no organismo.
Consideremos um exemplo, oferecido p o r um experimento realizado por
Siegel (1975) com o sugestivo título Evidências d í ratos de que a tolerância à morfi­
na é uma resposta aprendida. Em um dos procedimentos experimentais, um rato
foi testado em um a superfície quente, aquecida a cerca de 54° C, para avaliar a
sensibilidade à dor. A reação do animal nessa condição levemente incômoda é
lam ber as patas. Medidas da latênda dessa resposta, sem qualquer administra­
ção de droga, funcionaram como um a medida de linha de base para o efeito
analgésico da morfina: aum ento na latência indica analgesia; latênda menor
indica o efeito contrário, hiperalgesia. Na primeira aplicação da morfina (15
m g/kg), obteve-se um evidente efeito de analgesia, verificado pelo aum ento
na latên d a da resposta de lamber a pata, em relação à medida de linha de base,
quando o animal foi colocado na superfície quente. Em três administrações
nos dias seguintes, seguidas de teste na superfície quente, a latênda de lamber
a pata foi diminuindo gradualmente, a ponto de, na quarta administração, a
latên d a ser praticamente idêntica àquela obtida na linha de base. Esses resul­
tados indicam a tolerânaa aos efeitos analgésicos da morfina. Depois de duas
sem anas sem receber morfina, o mesmo rato recebeu placebo e foi testado na
superfíde quente. A latênda do lamber a pata foi m uito mais cinta do que a
obtida na linha de base, indicando hiperalgesia, o efeito oposto ao elidado pela
ingestão de morfina. Ao longo de mais três tentativas de teste, em seguida à
ingestão de placebo, a latênda da resposta de lamber a pata retom ou aos índices
obtidos n a linha de base. Esses resultados foram analisados como conseqüência
do condidonam ento: a morfina no organismo do rato funcionava como US que
eliciava a analgesia; a condição de teste - superfíde quente - funaonava como
estím ulo condidonal que elidava uma resposta compènsatória, hiperalgesia.
N a condição em que droga e teste são apresentados, o efeito é nulo ao fim de

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algumas administrações, pois a hiperalgesia compensa os efeitos analgésicos
da morfina. Q uando apenas o CS é apresentado - quando o rato é colocado na
situação de teste tendo recebido o placebo apenas a CR é apresentada, ou seja,
a resposta condicional ou hiperalgesia.
As interpretações de Siegel foram mais tarde confirmadas e ampliadas para ■
outras situações e outras drogas. Em o utro experimento com morfina, Krank,
Hinson & Siegel (1984) m ostraram os efeitos da tolerância condicional com a
administração de um a quantidade m aior da droga (40 m g / kg), m ostrando tam ­
bém que os efeitos condicionais são m aiores dependendo do núm ero de rela­
ções ambiente-droga. Os efeitos de tolerância dependente de contexto (portan­
to, dependente de condicionamento respondente) podem ser vistos com drogas
licitas e de uso cotidiano, como o álcool (Lê, Poulos 8t Cappel, 1979), cafeína
(Rozin, Reflf, Mark & Schull, 1984) e nicotina (Epstein, Caggiula õc Stiller, 1979);
bem com o com drogas de uso médico, com o benzodiazepínicos (Siegel apud
Siegel ÔCAllan, 1998); pentobarbitais (Cappel, Roach & Poulus, 1981); e drogas
imunossupressivas, como a ciclofosmamída (Ader & Cohen, 1975).
Para Siegel 8C Allan (1998) a dem onstração mais dram ática de que a to ­
lerância depende do contexto em que a droga é sistematicamente utilizada é
fornecida por estudos com tolerância aos efeitos letais de um a droga, Siegel,
Hinson, Krank & McCully (1982), p o r exemplo, m ostrou que a m orte por um a
dose letal de heroína aconteceu em cerca de 94% dos ratos de um grupo que re­
cebeu apenas a dose letal, sem história anterior de desenvolvim ento de tolerân­
cia. Esse índice de m ortalidade dim inuiu quando a dose letal foi administrada
para ratos tolerantes, que haviam recebido doses crescentes da heroína antes
do teste. O índice de mortalidade, foi de cerca de 64% para os ratos que recebe­
ram a dose letal num am biente diferente daquele em que havia se desenvolvido
a tolerânda e de apenas cerca de 32% se a dose letal fosse administrada no mes­
m o am biente em que se desenvolveu tolerância.
A apresentação dos estímulos condicionais que antecederam à ingestão
da droga pode ser suficiente, tam bém , para produzir os sintomas da síndrome
de abstinência característicos da interrupção do uso de um a droga. Na medida
em que certos aspectos do ambiente passam a funcionar com o CS, por precede­
rem sistematicamente os efeitos da droga, a simples apresentação do CS pode

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desencadear todos os sintomas condicionais caracterizadores da síndrome de
abstinência, exatamente os efeitos opostos aos produzidos inicialmente pela
ingestão da droga. Os sintomas da síndrom e de abstinência, com o já exem­
plificado, incluem os efeitos opostos aos da droga. Nesse caso, são elidadas as
respostas compensatórias que preparariam o organismo para receber a droga,
mas a droga não é apresentada. Sem o US, o organismo só apresenta a CR, ou
seja, o quadro de respostas que caracterizam a síndrome de abstinênda.
A elidação dos sintomas da síndrome de abstinência constitui novo m oti­
vo para a retom ada ao uso de drogas, na medida em que são bastante aversivos.
Nesse sentido, a síndrome de abstinência, que pode ser gerada pelo condidona-
m ento respondente, fundona como uma operação m otivadonal que dificulta
o usuário ou o ex-usuário a manter-se sem consumir a droga, mesmo depois de
tratam ento especializado da chamada dependência quimica. E embora os sinto­
mas de abstinênda tenham sido superados, é possível que ressutjam tão logo
o ex-usuário volte para seu ambiente natural, lugar no qual costumeiramente
havia utilizado drogas.
A identificação do papel do condicionamento respondente naquilo que
pode ser descrito como tolerância e síndrome de abstinênda mostra que o efeito
de um a droga, e dos fenômenos que cercam esse efeito, não pode ser descrito
apenas do ponto de vista farmacológico. Processos comportamentais estão en­
volvidos na modulação dos efeitos de uma droga sobre o funcionamento fisio­
lógico do organismo. A partir da experiênda de cada indivíduo, a partir do con­
dicionamento respondente, estímulos ambientais passam a atuar "preparando”
o organism o para o efdto da droga que está por vir: se a droga é apresentada, o
condicionamento é responsável pelo efeito reduzido da droga; se a droga não é
apresentada, o condicionamento explica a apresentação de sintomas da síndro­
me de abstinência, mesmo que a pessoa já esteja abstinente há algum tempo. A
m aior implicação do conhecimento de interações droga/experiência é para o
papel do psicólogo: com base no conhecimento dessas interações, são possíveis
muitas alternativas de tratamento para dependentes, com objetivo de lidar com
os efeitos da tolerânda e da síndrome de abstinência a fim de se evitar a recaída,
tão com um nesses casos.
IMPLICAÇÕES DO MODELO DE CONDICIONAMENTO PARA TOLERÂNCIA E SÍNDRO M E
DE ABSTINÊNCIA

Identificando estímulos eliciadores


A síndrom e de abstinência leva ao consum o de droga. Nesse sentido, lidar
com a síndrome de abstinência é tarefa fundam ental do psicólogo. Dim inuindo
a chance ou m esm o a intensidade dos seus efeitos, é possível dim inuir em gran­
de medida o problem a da recaída. Há, contudo, muitas dificuldades para iden­
tificar situações ambientais que to m am provável a síndrom e de abstinência.
Situações ambientais que, com o CS, elicíam os sintomas da síndrome de
abstinência não podem ser definidas de antem ão, pois dependem da experiên­
cia concreta de um indivíduo com seu meio. Essas situações podem envolver
um lugar, certas companhias, horários do dia, uso de outras drogas etc. Um dos
papéis do psicólogo que lida com dependentes que sofrem com o problem a da
síndrom e de abstinênda deve ser identificar quais são esses estímulos e o grau
com que eliciam a CR. Nesse ponto, é possível identificar um a fonte potencial
de contribuição do trabalho do psicólogo em am biente natural, pois, ju n to
com o dependente, é possível identificar essas situações no cotidiano. O'Brien
(1976), a partir de sua experiênda com o tratam ento de dependentes, levantou
algumas situações ambientais que freqüentem ente antecedem o uso de drogas
e, por esse m otivo, funcionam com o CS que eliciam os efeitos característicos
da síndrom e de abstinênda. Entre essas situações, pode-se destacar: a visão de
um colega utilizando a droga, o falar sobre drogas em um grupo de terapia, a
visão de alguém utilizando drogas em fotos de campanhas antidrogas. A partir
do processo de condicionamento respondente, essas são algumas das situações
que mais freqüentem ente podem funcionar com o CS que provoca um a CR que
caracteriza a síndrome de abstinênda ou um forte desejo para consum ir a dro­
ga. É interessante notar que, pela lista de O'Brien, é possível identificar situa­
ções utilizadas para evitar o consum o ou reinddência no consum o de drogas.
Essa análise m ostra que o trabalho descuidado de quem lida com dependentes
pode prejudicar e não ajudar; o trabalho descuidado pode, indusive, fornecer
alguns dos motivos que tom am a recaída mais provável. Uma análise do papel
do condicionam ento e de seus efeitos posteriores, porém , pode ser um a fer­

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ram enta im portante para a identificação daquelas situações diante das quais
deve-se tom ar especial cuidado com o perigo da recaída.
A identificação da função de um estím ulo sobre o responder de um
organism o é tarefa difícil. A identificação de estímulos eliciadores não é exce­
ção a essa regra mais geral sobre o trabalho do analista do comportamento. Em
prim eiro lugar, porque é necessário um levantamento individual; a função de
estímulos eliciadores condicionais depende do intercâmbio de um organismo
concreto com seu ambiente concreto. A história de interação desse organismo
com seu ambiente, bem com o os produtos dessa história, é necessariamente
única. Um levantamento do padrão do que é mais com um ajuda pouco, embo­
ra possa oferecer idéias de por onde se deve começar uma investigação.
Por exemplo, o ritual de aplicação com um ente precede o uso de uma dro­
ga e é provável que, para muitos usuários, começar a preparar um a droga para
seu uso já forneça estimulação condicional responsável pela eliciação de CR
que, po r sua vez, tom a o organismo tolerante à substância ingerida. Contudo,
essa estimulação pode vir de aspectos mais sutis do ambiente, que não podem
ser identificados prontamente. É difícil a identificação de estímulos eliciadores
porque identificá-los, como ocorre com a análise da função de qualquer estí­
m ulo, exige u m teste direto. Eventualmente, o com portam ento verbal pode
ser enganador, porque um a pessoa pode não possuir repertório descritivo que
envolve “saber” dos eventos ambientais que a afetam ou não saber das rela­
ções entre eventos ambientais e com portam ento que produzem certos efeitos
ambientais.
O trabalho do psicólogo no ambiente natural pode ajudar na superação
das dificuldades discutidas acima. Em ambiente natural, é possível observar
diretam ente o efeito de um estímulo sobre o comportamento. Podem-se obser­
var quais partes do ambiente atuam como CS que eliciam as respostas típicas da
síndrome de abstinência. Mais do que observar, é possível a v a lia r diretamente a
intensidade com que esse estímulo afeta o organismo. Tanto a identificação dos
estímulos como a determinação da intensidade de sua função eliciadora podem
ser feitos com confiabilidade e precisão.
A dificuldade de identificação de um CS fica mais evidente quando consi­
dera-se a análise de Siegel (2005), que mostra a existência de fontes de estimu­

319
lação condicional m uito sutis que cercam a atividade do usuário freqüente de
drogas. O com portam ento de buscara droga, ou seja, todo o conjunto de respos­
tas que tem com o conseqüência final a produção da droga para seu consum o,
pode fornecer estimulação condicional suficiente para evocar um a CR que en­
volve respostas opostas àquelas elidadaspela substânda buscada. Assim, com ­
prar drogas, ligar para amigos para com binar seu uso ou ir a um a festa na qual
freqüentem ente se usa drogas são situações que tipicamente p odem produzir
os efeitos da síndrome de abstinência. O utra fonte de estimulação, im portante
de ser levada em conta é o próprio efeito inidal das drogas. M esmo que esses
efeitos inidais não sejam sodalm ente problem áticos para um usuário regular,
pára aquele que está habituado a grandes quantidades, o efeito inidal da droga
pode elid ar um a forte CR que aum enta a chance de uso de quantidades m aio­
res. Para explicar porque isso acontece basta entender que, no passado, efeitos
da droga de pequena magnitude sistematicam ente foram seguidos de efeitos de
m agnitude maior. Portanto, a contingênda que nesse caso deve ser analisada é:
se efeito pequeno, então, logo depois, efeito maior. Depois dessa relação entre
condições do organismo (que fundonam com o estímulos), o efeito de m enor
m agnitude pode passar e eliciar a CR. Essa explicação, segundo a análise de
Siegel, justifica a preocupação das A ssodações de Alcoólatras Anônim os em
relação a "evitar o prim eiro gole". O "prim eiro gole*' pode evocar reações que
servem com o CS para a CR que caracteriza a síndrome de abstinênda, tom ando
a continuidade do consum o do álcool espedalm ente provável.

Lidando com estímulos eliciadores


Na medida em que os estímulos que funcionam com o CS para eliciar a
síndrom e de abstinência vão sendo identificados, tom a-se possível elaborar
diferentes m odos de lidar com o dependente a fim de se evitar a recaída. A pri­
m eira possibilidade é m anter o ex-usuário longe de estímulos que provocam a
CR. Esse é o caso da experiênda “natural" dos soldados americanos que foram à
guerra do Vietnã, conforme análise de O ’Brien (1976). O uso de heroína era fre­
qüente entre eles e antecipava-se u m enorm e problema sodal quando voltas­
sem aos EUA, Muitas medidas foram tom adas para que os usuários de heroína
passassem por tratam entos de “desintoxicação'’, mas a expectativa era de 80%

320
a 90% de recaída na volta aos EUA - o m esm o índice esperado de dependentes
de drogas opióides, segundo estatísticas americanas. O índice de recaída, con­
tudo, foi de apenas 7%. O núm ero surpreendente é coerente com a análise do
papel do condicionamento respondente: a recaída foi m enor porque, de volta
aos EUA, os antigos soldados mantinham-se afastados dos estímulos diante dos
quais havia se dado o consumo de heroína. A CR que caracteriza a síndrome de
abstinência não era eliciada porque não havia apresentação de CS.
Porém , m anter o dependente longe do ambiente em que utilizou drogas
nem sem pre é possível. O utro m odo de prevenir recaída decorrente dos sinto­
mas da síndrom e de abstinência é extinguir a função elidadora do CS. Isso pode
ser feito na medida em que se "quebre" a contingência estímulo-estímulo res­
ponsável pelo condidonam ento, apresentando o CS sem que seja apresentado,
logo em seguida, o US.
Para o tratam ento do uso abusivo de drogas, algumas publicações têm
analisado o que passou a ser chamado de tratamento de exposição a dicas (ver,
por exem plo, Conklin & Tiffany, 2002; H averm ans & Jansen, 2002). Esse tra­
tam en to , em linhas gerais, envolve a exposição àquelas situações, “dicas”,
que sistem aticam ente precederam o uso de drogas, ganhando a função de CS.
A exposição ao CS deve ser feita, naturalm ente, sem que o ex-usuário volte
a consum ir a droga. Exposição a dicas não é sinônim o do procedimento que
ficou conhecido como simplesmente “exposição", que pode envolver tanto
a apresentação do US com o a do CS. A ênfase do tratam ento de exposição
a dicas é n o enfraquecim ento da função do CS a partir da extinção respon­
dente. Estudos com esse procedim ento têm sido feitos com usuários com
histórico de abuso de drogas com o a nicotina (ver Corty ÔC McFall, 1984),
drogas opióides (ver Dawe, Powell, Richards, Gossop, Marks, Strang & Gray,
1993), cocaína (ver O'Brien, Childress, McLelian 8C Ehrm an 1990) e álcool
(ver D ru m m o n d & Glautier, 1994).
Conklin & Tiffani (2002) realizaram um a metanálise de resultados apre­
sentados em publicações que avaliaram o tratam ento baseado em exposição
a dicas para reduzir a recaída. Foram analisados 18 artigos, com diferentes
procedim entos de apresentação de dicas, núm ero de sessões, critérios de en­
cerram ento da exposição, presença ou não de follow up etc. Interessante notar

321
nos artigos analisados que o tipo de estím ulo apresentado durante a exposição
variou entre estímulos visuais, auditivos, estímulos imaginados e estimulação
in vivo. Estímulos visuais incluíam fotos ou sltdes de equipam entos utilizados
para o uso de drogas, bem com o de pessoas utilizando drogas. Alguns estudos
utilizaram tam bém vídeos em quç erarn mostradas pessoas utilizando as dro­
gas. Estimulação auditiva incluía apresentação de gravações nas quais pessoas
relatavam estar consum indo drogas, conversas típicas do m o m en to do uso
ou ainda conversas que caracterizavam o com portam ento de buscar a droga.
Estimulação "imaginada" envolvia a solicitação para que o ex-usuário imagi­
nasse situações de consum o ou de preparação para consum o, bem com o si­
tuações que tipicamente precedem o consum o, com o u m dia atribulado etc.
Exposição in vivo incluía contato com equipam entos para uso de drogas, inges­
tão de pequenas doses da droga (no caso do álcool) e exposição ao ambiente
no qual a pessoa freqüentem ente havia consum ido drogas. Conklín fií TiíFani
m ostraram que apenas cinco dos 18 artigos analisados haviam m ostrado clara
eficiência tendo em vista seus objetivos. A discussão dos autores passa pelo exa­
m e dos processos básicos que devem ser discutidos para o planejam ento efetivo
de um a intervenção, m ostrando que grande parte das falhas nos tratam entos
pode ser analisada e explicada a partir das contribuições da pesquisa básica
com com portam ento respondente. Nesse sentido, um exame mais sistemático
dos processos básicos relacionados ao processo de condicionam ento é, para
Conklin & Tiffani, a chave para um a m elhoria na efetividade dos tratam entos
baseados em exposição a dicas. Por exemplo, um dos aspectos considerados
pelos autores da metanálise é o que se tem cham ado de recuperação espontâ­
nea, resultado freqüentem ente encontrado em estudos de condicionam ento
respondente com sujeitos infra-humanos. Pesquisas que têm observado esse
fenôm eno recorrentem ente cham am a atenção para a im portância de se con­
siderar o contexto com o variável fundam ental para a determ inação do con­
dicionam ento ou da extinção respondente. A recuperação espontânea pode
acontecer quando um a determ inada parte do am biente em que se realizou o
condicionamento não aparece na situação de extinção. Essa determ inada parte
pode aparecerem seguida, elidando-se a CR que se julgava enfraqueada. Essas
"partes” do am biente que m antém o efeito eliriador condicional podem ser

322
extrem am ente sutis e freqüentemente podem passar despercebidas para o ex­
perim entador, no laboratório, o u para o psicólogo, em sua atividade prática.
Para os objetivos deste texto, vale observar com mais cuidado o que acon­
teceu nos cinco estudos analisados p o r Conklin ÔCTiffani que m ostraram efe­
tividade no controle dos efeitos da síndrome de abstinência. Ambos incluíram
entre seus procedim entos apresentação de estímulos in vivo e atribuíram boa
parte da efetividade do estudo a esse procedim ento especial. Apresentação dos
estím ulos tn vivo parece reduzir os problemas aparentem ente presentes em
um a extinção parcial, enganadora das funções condicionais que se supunha
estarem enfraquecidas a partir do tratam ento. Parece que, a partir da análise
de C onklin ôí Tiffani, quanto mais distantes as condições de aquisição (no
am biente natural, a partir da história de vida do dependente) e de tratam ento,
mais dificilmente o tratam ento de exposição a dicas terá sucesso em extinguir
respostas que caracterizam a síndrom e de abstinência. O sucesso na extin­
ção envolve proximidade entre as condições de aquisição e tratam ento, de
m aneira que a eficiência do tratam ento do dependente é facilitada se feito
em condições mais próximas de seu ambiente natural. O trabalho realizado
por Rohsenow et al. (2001), com usuários de álcool, é interessante de ser exa­
m inado p o r utilizar outro procedim ento em conjunto à exposição a dicas.
Rohsenow et al. expuseram os participantes do estudo, dependentes de álcool,
a situações com o tocar ou segurar copo de bebidas e cheirar a bebida alcoólica
no copo. As exposições às dicas eram realizadas de m odo a prom over a extin­
ção respondente. Os participantes tam bém eram solicitados a imaginar situ­
ações em que o consumo de álcool era especialmente provável. O utros pro­
cedim entos do estudo tinham com o objetivo o treino de habilidades sociais,
em especial habilidades de recusar bebida em encontros sociais e habilidades
de assertividade mais gerais. A efetividade dos procedimentos foi avaliada em
follow up seis meses ou um ano depois dos procedimentos.
A efetividade dos procedimentos de exposição a dicas em contexto aplica­
do, com o apontam Conklin & Tiffany (2002), em resumo, ainda não é clara, mas
bastante promissora. As dificuldades do procedimento, contudo, não parecem
estar relacionadas à análise do problema com base no condicionamento respon­
dente e sim na criação de procedimentos aplicados coerentes com os princípios

323
básicos do condicionamento. Eventualmente, o tratam ento com base no condi­
cionam ento respondente pode ser mais efetivo se complementado com técnicas
baseadas na análise de processos operantes. Nesse ponto, fica mais um a vez claro
o potencial do trabalho do psicólogo no ambiente natural de dependentes. A
efetividade com o tratam ento in vivo sugere fortem ente essa conclusão. Além de
identificar CR que eliciem síndrome de abstinência, o papel do psicólogo está em
lidar com situações que promovam a extinção respondente. A extinção respon­
dente parece ser tão mais bem-sucedida quanto mais próximos são 05 estímulos
do tratam ento com aqueles do dia-a-dia do usuário, diante dos quais houve o
consum o das drogas. Eventos desse tipo podem ser objetos utilizados para uso
'de drogas que podem ser trazidos ao consultório, mas principalmente podem ser
companhias, assuntos, locais específicos nos quais houve o consumo e, eventual­
m ente, aspectos do com portam ento do usuário que acontecem nesses lugares
específicos. Esses estímulos dificilmente podem ser analisados com o elidadores
no tratam ento em ambiente fechado, bem como dificilmente podem ser trazi­
dos a clínica com facilidade. De fato, a m aior parte deles não aparece na clínica
da m esma forma, mesmo que sejam feitos esforços técnicos para isso (aparato
de uso de drogas, por exemplo, é um tipo de estimulação na clínica e outro tipo
com pletam ente diferente fora dela, quando usado para aplicação das drogas).
A análise do papel do condicionam ento respondente n o efeito de drogas
conduz para a necessidade do tratam ento com exposição a dicas no ambiente
no qual o usuário utilizou a droga e diante do qual, sem ela, experimenta os sin­
tom as de abstinência. Esse é necessariamente o ambiente natural do usuário. A
importância do treino de habilidades sodais é outro ponto indicativo para a con­
sideração do repertório do dependente em ambiente natural. Pois em ambiente
natural é mais fácil identificar quais os repertórios necessários e quais são as
condições para instalá-lo. O treino de repertórios pode incluir indusive o treino
de habilidades que ajudem a evitar situações nas quais é m uito provável o contato
com um CS que poderia elidar um a CR que tom aria a recaída mais provável.
Em resum o, fica evidenaada pela análise de algumas relações entre uso de
drogas e condidonam ento respondente a im portânda da análise do papel do
am biente natural no trabalho com dependentes. O am biente natural do usuá­
rio ou ex-usuário é fonte im portante de dados para a identificação de situações

324
que funcionam como CS para CR que caracterizam a síndrome de abstinência,
que, por sua vez, tom a a recaída especialmente provável. O ambiente natural é
tam bém o lugar privilegiado para exposição direta ao CS, de maneira a prom o­
ver a extinção da CR. O manejo do com portam ento no ambiente natural parece
ser especialmente importante para que a extinção respondente produza resul­
tados confiáveis e duradouros. A análise da relação entre consumo de drogas
e condicionamento respondente abre, portanto, possibilidades inéditas para o
profissional de psicologia que tem se preocupado com análises e intervenções
em am biente natural.

325
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Teoria e Pesquisa, 7,59-70.


UMA VISÃO CRÍTICA DAS POLÍTICAS DE DESCRIMINALIZAÇÃO E DE
PATOLOGIZAÇÃO DO USUÁRIO DE DROGAS

*
Ari Bassi Nascimento

RESUMO. Concorda-se que conseqüências da manufatura, síntese, tráfico e uso de drogas resultem em ameaça ao bem-estar
coletivo. Todavia, o Estado dispõe de políticas públicas que só simbolicamente previnem a materialização dessa ameaça. É
possível identificar duas políticas públicas com vistas a atenuar problemas derivados do uso de drogas. A primeira
fundamenta suas ações sobre os princípios do estatuto punitivo brasileiro, perpetuando uma afronta ao princípio da lesividade,
já que constitucionalmente a autolesão não tipifica conduta criminosa. A segunda ampara-se sobre uma abordagem de
descriminalização, mas patologiza o usuário. O objeto de ação das duas políticas é a conduta ou o usuário e ambas se
fundamentam sobre o viés filosófico da retributividade ou da máxima de que punição resulta em educação; tratando-o como
criminoso ou como doente, as conseqüências dessas políticas resultam em robustez da economia da droga e iatrogenia do mal
a ser tratado.
Palavras-chave: políticas públicas, economia da droga, criminalização.

PUBLIC POLICIES’ ATTEMPTS TO REDUCE THE DRUGS USE EITHER BY


CRIMINATING OR TREATING THE DRUG USER

ABSTRACT. If the welfare state is threatened either by synthesis, manufacture, traffic or drugs use, it is expected that State formulates
public policies to prevent injuries to the common good In layman terms, activities related to the use abusive of drugs are able to
threaten that common good. So, public policies should prevent the materialization of such threat. Two sorts of public policies intending
to attenuate the social problems raised by drug abuse can be identified. The first is supported by a punitive philosophy which
approaches the problem by criminating the drug user. By using penal rights, it does force users to face the consequences of the law,
such as prison. The second seeks protection in a de-criminalization approach, but pathologizes the user. The object of action of the two
politics is the conduct or the user, and both are based in the philosophical belief of compensation or in the rule of conduct that
punishment results in education. Be the user treated as a criminal or as a sick individual, the consequences of those politics result in
increase of the drug economy and iatrogenicity of the illness to be treated.
Key words: Public policies, drug economy, criminalization.

O OBJETO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS por que quaisquer prejuízos nessas instâncias de ação
PERTINENTES AO CONSUMO DE DROGAS resultam em prejuízos econômicos.
As tentativas de reduzir o impacto desses
O uso abusivo de drogas constitui um problema prejuízos não prosperaram. É possível que esse
social. Há que se entender essa afirmação como fracasso em prevenir as conseqüências desses
verdadeira, mas de forma muito restritiva. Afinal, o que prejuízos seja explicado em função de: (i) ausência
constitui um problema social são os prejuízos de outro tipo de ação estatal que não seja o combate
econômicos (no sentido lato) resultantes do abuso de ao comportamento de consumir drogas pela via do
drogas. Esses prejuízos devem decorrer da interação direito penal; e (ii) o Estado põe em prática ações
indivíduo-droga e se materializam de formas diversas. aparentemente divorciadas dos objetivos da
Algumas se situam na esfera afetiva, outras nas esferas sociedade em relação à economia de drogas,
produtiva, educativa e da saúde ou nas relações sociais. mostrando-se pouco eficaz em promover ações que
Em qualquer uma dessas esferas de ação as relações diminuam essa economia e as conseqüências que são
dos indivíduos implicam em custos e em benefícios, daí próprias dela.

* Doutor. Professor Associado do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade Estadual de
Londrina. Bacharel em Direito.

Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 185-190, jan./abr. 2006


186 Nascimento

Quando algo - um conjunto de ações ou as primeira abordagem de combate à conduta de consumir


conseqüências destas - revelam-se um problema social, drogas.
comumente esse problema torna-se objeto de políticas A segunda filosofia fundamenta-se nos pilares do
cujas ações tendem a inibir, diminuir ou prevenir os modelo médico. O modelo médico é tradicional e tem
fatores ditos causais. É por meio de políticas públicas poderes extraordinários sobre quase todas as camadas
que o Estado adquire legitimidade para agir sobre um da sociedade. Assim, não é surpresa que o processo
grupo de indivíduos ou sobre um dado segmento da legislativo seja fortemente influenciado pelo lobby
sociedade, na tentativa de implementar suas ações. executado pelos defensores do modelo. Para o modelo,
Não obstante, os problemas sociais derivados do o usuário de drogas desenvolve adicção à substância e
uso abusivo de drogas e das atividades que tornam a disso segue um estado patológico. Várias são as
droga objeto de tráfico parecem imunes aos efeitos das conseqüências da execução de ações sobre a conduta
políticas públicas vigentes. Talvez seja apropriado de consumir drogas nos termos deste modelo. Essas
afirmar que não há políticas públicas estruturadas e conseqüências serão descritas mais adiante, quando se
eficazes em reduzir aqueles problemas. De fato, o tratar da segunda abordagem.
Estado apenas tateia entre ações que visam a punir ou
tratar o consumidor de drogas. De forma objetiva, o
que se aparenta como política pública vigente A REDUÇÃO DO CONSUMO DE DROGAS VIA
pertinente ao consumo de drogas visa unicamente ao UMA POLÍTICA PÚBLICA CUJA FILOSOFIA
combate da conduta de consumir drogas. SEJA A DE CRIMINALIZAR A
Aparentemente, isso é apenas uma tautologia. Afinal, CONDUTA DO USUÁRIO
se houver uma política cujo objetivo for reduzir o
consumo de drogas, mas cujas ações se concentrem na A primeira abordagem orienta as ações estatais
prevenção da conduta de usar drogas, então se está quanto à conduta de consumir drogas. O aspecto
diante de uma circularidade. Há demonstrações de que material que justifica a ação do sistema estatal é a
não se afeta o comportamento do consumidor conduta de consumir drogas. Obviamente, requer-se
simplesmente retirando transitoriamente do contexto que anteriormente o Estado tenha disposto normas
onde tal comportamento seja possível. Qualquer proibindo aquela conduta. Geralmente, o comando
iniciativa fundamentada nessa pressuposição parte de legal penal visa regular uma parte da atividade humana,
lugar nenhum e reafirma a ineficiência estatal em levar e o faz selecionando alguns comportamentos cujas
a cabo a consecução de objetivos de suas políticas, se conseqüências sejam relevantes ao indivíduo ou ao
esses forem a redução do consumo de drogas. meio social. O Estado, ao descrever uma ação típica,
Qualquer política pública que vise dar combate ao descreve um comportamento proibido. Para ser típico,
consumo de drogas de abuso requer algum tipo de esse comportamento revela o desvalor da ação e revela
filosofia que a norteie. Nesse aspecto, é mais fácil o desvalor do resultado. Daí o cabimento da pena
identificar filosofias que políticas. Podem ser quando se constatar a tipicidade material. A tipicidade
identificadas duas filosofias. A primeira vê o usuário material dá-se quando a conduta resulta em lesão a um
de drogas como criminoso; a segunda trata o usuário de bem jurídico relevante (Delmanto, Delmanto, Delmanto
drogas como doente, independentemente de a droga que Junior & Delmanto, 2002). Uma questão relevante aqui
consome ser reprovada legalmente ou aceita é demonstrar que a conduta de consumir drogas de
socialmente. A proposição de filosofias diferentes abuso resulta em lesão a um bem jurídico e que este se
deriva de uma concepção analítica, privilegiando, situa na esfera do patrimônio jurídico de um sujeito
inicialmente, uma separação entre as ontologias diferente daquele que seja usuário de drogas.1
criminosa e patológica; todavia, uma concepção
sintética dessas filosofias levará o leitor à compreensão 1
A discussão jurídica atual tende a classificar a conduta de
de que as duas abordagens fundamentam-se num único consumir drogas como sinônima de autolesão que, como a
princípio filosófico: o da punição. tentativa de suicídio, não é crime e afastaria o principio da
A primeira filosofia deriva seu sistema normativo lesividade. Nos termos do princípio da lesividade, as
do estatuto punitivo do direito penal brasileiro. As condutas que serão incriminadas pela lei penal exigirão
sujeito ativo e sujeito passivo (vítima), aquele que tenha
conseqüências das ações orientadas segundo esta
sofrido abalo em seu patrimônio jurídico (Batista, 2001;
perspectiva são prisão, aplicação de medida de Greco, 2005; Lopes, 1997; Rebêlo, 2000). Assim, mesmo
segurança ou transação penal. Essas conseqüências que uma conduta formalmente atinja um bem jurídico, se a
serão discutidas a seguir e apresentadas como a exteriorização dela não ultrapassar o âmbito do próprio
autor não haverá crime. Já se sabe que as recomendações

Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 185-190, jan./abr. 2006


Políticas públicas e uso de drogas 187

Em termos simples, a primeira abordagem combate As ações estatais orientadas pela primeira
problemas derivados do uso ilícitos de drogas de abuso abordagem têm-se caracterizado como as estratégias
ao criminalizar a conduta do usuário. A cominação de pelas quais o Estado intervém na economia da droga.
penas dependerá de vários fatores, mas a abordagem é Todavia, o uso efetivo dessa abordagem provoca uma
baseada no sistema penal vigente e direciona suas hipertrofia do sistema repressivo. Essa hipertrofia,
ações a prevenir a sociedade dos problemas sociais além de não resultar em benefícios para a sociedade,
derivados do consumo de drogas unicamente pela via ainda torna os praticantes daquela economia muito
da restrição do direito de ir e vir do infrator. A prisão – mais eficientes. Isso porque quanto mais o Estado aja
em sua acepção ambígua – consiste em penalizar a repressivamente sobre o usuário, mais ele favorecerá o
conduta do usuário e ao local onde os direitos de ir e vir aperfeiçoamento dos fatores macro e microeconômicos
do usuário ficam restritos. Assim, a prisão decorre de da economia da droga. Em parte isso ocorre porque as
uma ação de intervenção e de prevenção, ações estatais resultam em um tipo de pressão seletiva
simultaneamente. Entretanto, as concepções político- sobre os praticantes daquela economia.
criminais atuais questionam a validade de que, com a A conseqüência de curto-prazo de uma ação
primeira ação, o Estado estabeleça para o usuário de repressiva massiva sobre a conduta do usuário será
drogas um preço justo a pagar por ter produzido lesão a redução do custo (custo lato) da droga para a
um bem jurídico relevante resultante de sua conduta de sociedade. Essa redução dar-se-á tanto em termos de
consumir droga. Com a segunda ação, o Estado previne número de usuários como em termos de quantidades
a sociedade da probabilidade de ter seu bem jurídico consumidas. Infelizmente, a sociedade não se
lesado futuramente pela repetição da conduta do beneficiará desses resultados, porquanto junto a eles
usuário em consumir drogas.2 seguir-se-á o aparecimento de fornecedores de menor
potencialidade econômica, cujas ações eram suprimidas
pelas leis econômicas do mercado das drogas. Eles
político-criminais atuais sugerem que não, conquanto a
conduta de uso possa ser sinônima de autolesão, pois ainda ofertarão drogas mais baratas, de forma local e segura
que seja típica uma atitude, se ela não causar uma lesão ,e não serão alvos – por certo tempo – das ações
relevante ao patrimônio jurídico do sujeito passivo não repressivas estatais nem de ações retaliatórias de
poderá ser incriminada penalmente. Mas a questão de fato grandes fornecedores. Já a médio-prazo haverá mais
interessante, se não intrigante, é se o uso abusivo de droga disponível por um preço menor, com
substâncias ditas entorpecentes deve ou não ser coibido
probabilidade de se aumentar o número de
penalmente. O uso do termo “entorpecente” é fatal.
Nitidamente predispõe o observador a avaliações consumidores (Kopp, 1998). O que se pode dizer é que
cautelosas quanto ao “poder de discernimento” do usuário. ações orientadas pela primeira abordagem não são
É óbvio que não se investiga a historicidade dos contextos eficientes para se prevenir que o custo social marginal
em que o uso do termo resultou de uma prática verbal útil da droga aumente.
para uma certa comunidade. Todavia, o uso fortalecido do
termo favoreceu o desenvolvimento de concepções que
apontam para prejuízos de juízo crítico do sujeito que faz
uso de drogas entorpecentes. Noutros termos, efeitos
UMA POLÍTICA PÚBLICA QUE
históricos, contextuais e farmacológicos dessas drogas AO DESCRIMINALIZAR A CONDUTA
parecem ter o poder de deixar o indivíduo pouco DE USAR DROGAS PATOLOGIZA O USUÁRIO
susceptível às contingências de ordem. Daí a prevenção – PODE SER EFICAZ?
inclusive criminal, já que vigente o art. 16 da Lei 6.368/76
– contra o uso dessas drogas. A questão, entretanto, é bem A segunda abordagem intervém sobre o domínio
mais complexa e seria proveitoso se o adjetivo do uso de drogas de forma diferente. Em vez de
“entorpecente” fosse abandonado. Afinal, se a droga for
criminalizar a conduta de consumir certa quantidade de
aceita socialmente, pouco – se não nada – se faz quanto à
prevenção da conduta que leva ao seu consumo. Aliás, já um tipo particular de droga, as ações norteadas
há defesa no sentido de que inclusive o art. 16 da referida segundo os termos dessa abordagem visam rotular o
lei seja inconstitucional, dado que o poder de definir qual usuário como alguém que requer cuidados, geralmente
substância seja entorpecente cabe à ANVISA, e não à de ordem médica e/ou psicológica. Nisso não há muita
norma contida no dispositivo, que é entendida como uma novidade. A novidade será a adoção de uma estratégia
norma penal em branco. O que se defende é que a inclusão
de novas substâncias (criminalização) ou exclusão
que vise descriminalizar a conduta de consumir drogas
(descriminalização) dar-se-á sem a participação do poder por um lado e patologizar o usuário, por outro.
competente para legislar em matéria penal (Copetti, 2000). A estratégia de descriminalização apresenta
2
Para uma visão crítica destes dois pontos, o leitor deve precedentes. Primeiro, há casos em que a conduta de
consultar a nota de rodapé anterior. consumir um tipo particular de droga materializa

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188 Nascimento

claramente uma conduta tipificada, portanto ilícita. somente post factum. Quer-se dizer com isso que a
Entretanto, mesmo em casos assim o Estado abre mão conduta de usar droga ou substância dita ilícita, ou que
das suas prerrogativas de aplicar pena de prisão e cause dependência física ou psíquica (termos
aplica ao usuário o que é conhecido como medida de absolutamente impróprios, porém constantes de lei),
segurança, sem, contudo, abrir mão de exercer o poder tipificará crime de uso e, quase sempre, implicará a
de jus puniendi; e ao exercer sua faculdade de punir, o participação do Ministério Público na proposição de
Estado o fará somente se comprovados os elementos do ação penal contra o usuário. Nestes termos, o
tipo (material ou formal), a antijuridicidade e a tratamento legal dispensado ao usuário de drogas é o da
culpabilidade. Segundo, há ainda outros casos em que criminalização da conduta de uso; porém, o que ocorre
as polícias brasileiras orientam-se pela não-prisão do a partir do ato do Ministério Público de oferecer a
usuário quando se demonstra que o tipo e a quantidade denúncia de ação penal contra o usuário de droga é
de drogas parecem não ofensivos ao usuário e à extraordinário. Com esse ato abrem-se duas
sociedade, mas destinados apenas ao uso eventual do possibilidades: uma da descriminalização da conduta
usuário. Terceiro, um indivíduo – dependendo da de uso e a outra da patologização do usuário.
circunstância em que tenha sido flagrado portando ou No estágio atual da legislação, a descriminalização
consumindo um dado tipo e quantidade de drogas – só será possível após a criminalização da conduta de
poderá ser encaminhado ao Poder Judiciário, e caso sua uso. Está claro que isso não caracteriza qualquer forma
conduta tipifique os termos do artigo 16 da Lei 6.368, de descriminalização, mas uma decorrência da ação
de 19763, caberá ao Estado aplicar-lhe pena de penal. A descriminalização deve preceder a qualquer
detenção não inferior a seis meses e não superior a dois ação do Ministério Público, de forma a retirar deste a
anos. Como a pena cominada ao tipo penal é de titularidade para propor ação penal contra o usuário de
detenção, e não superior a dois anos, a competência droga, ou não será descriminalização. Mas isso
para julgar a ação penal será do juizado especial implica, como se discute abaixo, em outras mudanças
criminal, obedecendo ao rito processual especificado na legislação que cuida do assunto. A outra
pela lei 9.099, de 19954. Em fórum de juizado, caberá possibilidade é a da patologização do indivíduo. Os
ao Ministério Público, em fase preliminar da ação cinco parágrafos do artigo 12, da Lei 10.409, de 20025,
penal, propor a aplicação imediata de pena de multa ou apontam que ao dependente deve ser dispensado
pena restritiva de direitos. tratamento multiprofissional, cabendo ao Ministério da
Esses três pontos dão mostra de que o Poder Saúde regulamentar as ações que visem à redução de
Legislativo tem produzido leis mais flexíveis quanto à danos sociais e à saúde. Enquanto empresas privadas
gravidade penal da conduta de consumir dada que contam com programas de reinserção no mercado
quantidade de um tipo de droga. Adicionalmente, as de trabalho de adictos aos efeitos de drogas estão aptas
interpretações dadas aos estatutos legais que abordam a receber benefícios ainda a ser definidos pela União e
o consumo de droga, tendo este como objeto de seus entes, hospitais gerais e psiquiátricos enviarão ao
interesse principal, revelam que a dialética das partes Conselho Nacional Antidrogas – CONAD, a cada mês,
de uma lide junto ao Poder Judiciário resulta em um mapa estatístico dos casos atendidos no mês anterior
paradigma que se volta à não-penalização da conduta contendo o código da doença segundo especificações
de consumir drogas. Entretanto, as iniciativas derivadas da OMS, omitindo o nome do atendido.
dos poderes Legislativo e Judiciário somente fomentam Não obstante, não importando que decorrer desse
um campo para as discussões do que pareça ser a campo de discussões, as orientações futuras implicarão
filosofia que norteará as ações estatais pertinentes a em mais instrumentos normativos que regularão as
como agir sobre os problemas sociais derivados do relações de indivíduos relativas ao uso de drogas. Se
consumo de drogas. essas orientações, ao regular essas relações, adotarem
Essa filosofia já se aparenta claramente o princípio da descriminalização da conduta de
delimitada. Ela tem cara de ação descriminalizante consumir drogas, elas o farão com muita
restritividade; e, ainda assim, abrirão caminho para se
3
Lei nº. 6.368, de 21 de setembro de 1976. Dispõe sobre
medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso 5
Lei nº. 10.409, de 11 de janeiro de 2002. Dispõe sobre a
indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem prevenção, o tratamento, a fiscalização, o controle e
dependência física ou psíquica, e dá outras providências. repressão à produção, ao uso e ao tráfico ilícitos de
4
Lei nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os produtos, substâncias ou drogas ilícitas que causem
Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras dependência física ou psíquica, assim elencados pelo
providências. Ministério da Saúde, e dá outras providências.

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Políticas públicas e uso de drogas 189

implantar a segunda abordagem. Em parte porque as aos efeitos de drogas não é superior a dez por cento
ações de criminalizar ou de descriminalizar – adotadas (Milby, 1988).
exclusivamente uma em relação à outra – parecem
A abordagem que trata o usuário de droga como
mostrar-se ineficazes; em parte também porque não se
criminoso alega que drogas são fontes de financiamento
podem excluir os componentes médico-farmacológicos
político, de corrupção, de geração de riquezas e do
e psicobiológicos intrínsecos à conduta de consumir
aumento do custo social marginal. Tautologicamente,
drogas. O problema aqui é considerar em que medida
as drogas são fontes de crimes. A abordagem que trata
se aplicarão os fundamentos das duas abordagens, de
a conduta do usuário como patológica representa um
maneira que, ao se orientar pelos princípios de uma
erro duplo da sociedade. O primeiro é que negligencia
abordagem, não se excluam os princípios da outra.
em proceder via prevenção optando pela via da
Vistas sob essas perspectivas, as ações estatais que
intervenção; o segundo, que ignora que a via da
visem prevenir o consumo de drogas são estáticas por
intervenção seja fonte de iatrogenia do comportamento
um lado e dinâmicas por outro. Elas são estáticas
de adicção aos efeitos de drogas.
porque o Estado, mediante suas ações ou suas políticas
públicas, não desloca o objeto da intervenção da Por fim, se por um lado o espelho da droga é a
conduta do usuário ou do usuário propriamente dito. conduta do usuário de drogas, por outro lado, o
Ainda que as ações estatais se modifiquem, o alvo tratamento é a vitrine da sociedade que se vê refletida
delas continua sendo a conduta do usuário (no sentido nas preocupações do Estado, paladino da manutenção
penal) ou o próprio usuário. A visão de que a economia de bens jurídicos sociais como ordem, segurança e
da droga e os problemas derivados dela possam ser direitos à propriedade. A “eliminação” do usuário pode
combatidos concentrando ações sobre a conduta ou até permitir ao Estado a garantia desses bens. Todavia,
sobre o usuário é extremamente limitada. Sejam as ao agir assim, sociedade e Estado somente agravarão as
ações criminalizantes, descriminalizantes ou resultantes da relação havida entre drogas e usuário.
patologizadoras do usuário – que constituem a Será preciso reorientar as concepções da sociedade
dinâmica das ações estatais –, elas continuam presas ao
e as ações do Estado a outras direções. Isso implica em
último elo da cadeia da economia da droga. Assim, mudar o foco da atenção. A conduta do usuário
mesmo que essas ações apareçam num domínio de
interessará a quaisquer políticas somente se constituir
continuidade evolutiva, revelando o dinamismo com o aquilo que a farmacologia comportamental entende ser
qual a sociedade encara os problemas sociais derivados
seu objeto de estudo. Qual seja, a relação entre drogas
do abuso de drogas, os méritos desse dinamismo serão
e usuário será relevante quando se constituir em um
mitigados por conta de essas ações não se deslocarem conjunto de relações comportamentais, caracterizado
para além da conduta ou do próprio usuário.
pelos comportamentos de procurar, adquirir e consumir
drogas cujas conseqüências inviabilizem parcial ou
totalmente a disponibilidade do indivíduo como recurso
UMA SÍNTESE SOBRE AS POLÍTICAS
PÚBLICAS QUE VISAM COMBATER O USO DE
produtivo ou, alternativamente, levem o indivíduo a
DROGAS COM USO DE MODELOS PENAL E atividades dilapidadoras, resultando em prejuízos de
MÉDICO ordem econômica, produtiva, legal, afetiva e moral.

Uma política pública de combate às drogas Se esses indicativos ausentarem da relação


orientada por uma filosofia que trate o usuário como indivíduo-droga, sociedade e Estado deverão olhar em
criminoso materializa a máxima de que a punição direção (1) aos fatores que concorrem para a
resulta em educação. A outra política, norteada pela disponibilidade de drogas, (2) às mudanças culturais
filosofia de que usuários de drogas demonstram que autorizam dispor sobre a proibição ou aceitação
padrões patológicos de condutas resulta também em um social da droga, (3) a uma modernização da
modelo de intervenção no sentido de dispensar terminologia, cuidando-se de rótulos impróprios para
tratamentos ao usuário. Os tratamentos derivam de descrever as relações entre usuário e drogas e evitar a
conhecimentos e práticas de campos de conhecimento classificação de drogas como lícitas ou ilícitas, já que
diversos e podem ser agrupados em dois modelos: esses rótulos não cabem a elas, mas às atividades
médico-farmacológico e psicossosociocultural. Sob humanas, (4) à economia da droga como uma
quaisquer perspectivas bem animadoras, a eficácia atividade de comércio de penetração social ampla e (5)
desses modelos juntos sobre o tratamento da adicção olhar para as conseqüências de suas atividades
interventivas que, ainda que indesejável, resultam em

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190 Nascimento

aumento do consumo de drogas, aumento do lucro dos Delmanto, C., Delmanto, R., Delmanto Junior, R. &
traficantes drogas, aumento da corrupção dos agentes Delmanto, F. M. A. (2002, 6ª ed. atualizada e ampliada).
Código penal comentado. Rio de Janeiro: Renovar.
estatais envolvidos na operacionalização dessas
políticas e aumento do custo social marginal da droga, Greco, R. (2005, 5ª ed.). Curso de direito penal. Rio de
Janeiro: Impetus.
que tem sido e será pago – é claro – pela sociedade. Ao
atentar a esses cinco pontos, sociedade e Estado Kopp, P. (1998). A economia da droga. (M. E. O. O.
Assumpção, Trad.). Bauru: EDUSC.
envidariam ações eficazes para reduzir os danos
Lopes, M. L. (1997). Princípio da Insignificância no Direito
decorrentes do consumo de drogas. Ao insistir em
Penal. RT.
intervenções sobre a conduta do usuário, ora o tratando
Milby, J. B. (1988). A dependência de drogas e seu
como criminoso, ora o tratando como doente, esses dois
tratamento. (S. M. Carvalho, Trad.). São Paulo: Editora da
entes não irão além de perpetrar práticas cujas Universidade de São Paulo.
conseqüências estão descritas em 1 e 5.
Rebêlo, J. H. G. (2000). Princípio da insignificância:
interpretação jurisprudencial. Belo Horizonte: Del Rey.

REFERÊNCIAS

Batista, N. (2001) Introdução crítica ao direito penal Recebido em 10/06/2005


brasileiro. (5ª ed.). Rio de Janeiro: Revan. Aceito em 27/10/2005
Copetti, A. (2000) Direito penal e estado democrático de
direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado.

Endereço para correspondência: Ari Bassi Nascimento. Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento,
Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina, Campus Universitário,
Caixa Postal 6001, CEP 86051-990, Londrina–PR. E-mail: bassi@uel.br

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