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Extensivo
7 - História
41 - Geografia

81 - Química
123 - Física

145 - Biologia
165- Matemática

209 - Linguagens
Da Vinci Vestibulares - Extensivo 2016 4
Da Vinci Vestibulares - Extensivo 2016 5

Conversa
com o estudante
Caro Estudante,

Este material didático foi desenvolvido com


o intuido de ajudá-lo a se preparar para as provas do
Enem e dos demais vestibulares do país. Sabemos
que teremos muito trabalho pela frente. Por isso,
esperamos que você se dedique ao máximo, realize
os exercícios propostos, tire todas as suas dúvidas
para que, ao final dessa longa jornada, consiga sua
tão almejada vaga na Universidade.
Nós, professores do Da Vinci, estaremos ao
seu lado durante todo o percurso, porque a vitória
será de todos os participantes desse projeto que co-
meça agora.

Grande Abraço..


6 Da Vinci Vestibulares
Extensivo 7

História
8 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 1: ANTIGUIDADE CLÁSSICA - GRÉCIA povoadores no princípio da formação da sociedade grega.


Destaquemos a Ilha de Creta, onde uma antiga socie-
CONCEITO SOBRE HISTÓRIA dade precedeu aos gregos e as duas principais cidades-estados
que se destacaram ao longo da História do povo Heleno: Ante-
O que é História e para que serve essa disciplina? O nas e Esparta. Classicamente, os historiadores dividem a forma-
historiador Marc Bloch, em sua obra denominada Introdução à ção da sociedade grega nos seguintes períodos:
História, afirmava que além de outras coisas, a História tem a
função de nos dar prazer.
Assim, toda produção do conhecimento acerca dos
processos vivenciados pelos homens devem ser narrados de
modo atrativo, agradável, possibilitando uma leitura aprazível
ao leitor.
Durante muitos anos definia-se a História a partir de
uma premissa positivista que dizia: “História é o estudo do pas-
sado para se compreender o presente e transformar o futuro”.
Essa concepção tornava a História enfadonha, pois engessava o
passado, como se fosse um tempo imutável, havendo uma so-
brevalorização de datas e eventos “eleitos” arbitrariamente pelo
historiador.
Nessa perspectiva, não havia espaço para a história
das multidões, das pessoas comuns, das mulheres, das crianças, Figura 1 - O mundo grego.
dos velhos, dos pobres, dos marginalizados, enfim, daqueles
que não faziam parte dos círculos do poder de uma determina- 1- Pré-homérico (séculos XX-XII a.C):
da sociedade. A História restringia-se a apontar nomes de reis,
rainhas, presidentes, governadores, prefeitos etc. • Ilíada e Odisséia de Homero.
Hoje, a nossa disciplina tem valorizados outros atores • Comunidade gentílica – clãs.
sociais. Par tindo do princípio de que a História é um campo de • Invasão dos Aqueus, Dórios, Eólios e Jônios.
conhecimento que estuda as ações humanas ao longo do tempo,
concebemos as transformações econômicas, sociais, religiosas, 2-Homérico: (séculos XII e VIII a.C)
culturais, mentais, materiais, imateriais e políticas como resul-
tados da intervenção direta dos diferentes grupos sociais e de • Dissolução das comunidades gentílicas e a formação das
cada indivíduo que compõem uma sociedade e não apenas fruto Cidades-Estados ou Polis.
da determinação de um só sujeito. Nestes termos, tomamos a
História como uma disciplina que estuda a vida dos homens 3-Arcaico (Séculos VII a VI a.C.)
e mulheres em seu tempo, considerando os seus aspectos cul-
turais, manifestações religiosas, condições de vida, modos de • Destaque para as Cidades-Estados: Atenas e Esparta.
pensar e agir no âmbito de sua sociedade e em seu tempo. • Conquistas e expansão territorial dos gregos.

4-Clássico: (séculos V e IV a.C.):


AS SOCIEDADES CLÁSSICAS DA
ANTIGUIDADE • Supremacia da Cidade-Estado Atenas.
• Ampliação das conquistas territoriais.
Consideramos o período clássico da antiguidade a épo- • As Guerras Médicas (500-479 a.C.)
ca de emergência, apogeu e declínio das duas principais socie- • A Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.)
dades do mundo ocidental, cujos legados ainda estão presentes
no mundo contemporâneo (dias atuais). Trata-se da sociedade 5-Helenístico: (séculos III e II a.C.)
grega e do Império Romano, modelos de formações sociais que
dominaram o cenário europeu desde inícios do século II a.C ao •Predomínio Macedônico: Alexandre Magno, O Grande.
V d.C. Comecemos por explicar primeiramente os gregos.
Um breve histórico dos principais períodos da Grécia:
A Grécia antiga Homérico: É o espaço temporal onde as principais fontes de in-
formações são as obras de Homero; A Ilíada e a Odisséia. Trata-
A sociedade grega originou-se a partir de processos -se dos mais antigos documentos literários gregos (ocidentais)
migratórios de populações nômades, de origem indo-européia. que chegaram aos dias atuais. O período Homérico inicia-se
Eram eles: os Aqueus, os Jônios, os Dórios e os Eólios. A Héla- quando os Dórios invadem o Peloponeso e impõe um violento
de, ou o território dos antigos gregos, abrangia o Sul dos Bálcãs domínio, causando redução da atividade agrícola, diminuição
(que é a Grécia continental), a Península do Peloponeso (a Gré- da produção artesanal, paralisação do comércio, além do fim
cia Peninsular) e as Ilhas do Mar Egeu (a Grécia Insular). Ainda da civilização Micênica e imigração dos Jônios e Eólios para
compunha seu território, as colônias na costa da Ásia Menor as Ilhas do Egeu e da Ásia Menor. Vejamos o mapa da diáspora
e a região conhecida como Magna Grécia – Sicília e o Sul da grega para melhor compreendermos esse processo:
Península Itálica.
O mapa abaixo nos mostra as áreas de ocupação dos
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senvolvido, além do fácil acesso ao Mar Egeu, o que facilitava


a circulação de mercadorias por todo o Mediterrâneo. Já a sua
rival, Esparta, em virtude das dificuldades de acesso ao mar, o
comércio não logrou grande importância, sendo a agricultura a
base da economia dessa cidade devido à fertilidade dos solos
das áreas próximas ao rio Eurotas. Cultivava-se, sobretudo, a
vinha e a oliveira o que tornou aquela região grega o importante
pólo produtor de vinho de boa qualidade e azeite de oliva puro.


Figura 2 - A Diáspora Grega.

Período Clássico

Época de hegemonia e imperialismo do mundo grego.


Destacam-se as principais Cidades-Estados, Atenas e Esparta,
as quais desenvolveram modelos políticos e organização social
bastante distintas. Enquanto Esparta tornou-se uma cidade alta-
mente militarizada e oligárquica, Atenas destacou-se pela pri-
mazia da Democracia aristocrática. É de bom alvitre salientar
que o conceito de Democracia entre os atenienses não equivale
ao que nós concebemos nos dias atuais, pois, tanto as mulheres,
como os escravos e os estrangeiros não possuíam o direito de
participar das decisões políticas na Polis.
Na Atenas antiga, os únicos indivíduos a possuírem Figura 3: Escultura representando um discóbolo (arremessador de dis-
plenos direitos políticos eram os considerados cidadãos, ou seja, co), exemplo de padrão de beleza dos gregos antigos
homens livres, filhos de pais atenienses e membros da classe
aristocrática. Eram eles que se reuniam em Assembléia nos an- O Helenismo
fiteatros para decidirem os rumos da política local.
Em Atenas existiam basicamente três classes sociais: os cida- O período Helenístico corresponde à época entre a
dãos – Eupátridas - que compunham a nobreza citadina; os me- morte de Alexandre, O Grande, em 323 a.C e à anexação da
tecos, que eram artesãos e comerciantes estrangeiros e os escra- Península Grega e suas Ilhas por Roma em 147 a.C. Tratou-se
vos, os quais eram geralmente prisioneiros de guerra e/ou filhos da consolidação de um ideal de Alexandre que pretendia levar e
de pessoas escravizadas. Em razão da vida ociosa levada pela difundir a cultura grega aos territórios conquistados por ele. Foi
classe nobre e da ausência de guerras constantes, Atenas tam- uma época marcada pelo declínio do esplendor grego e a ascen-
bém se destacou, em seu tempo, pelo desenvolvimento das artes são de Roma, a qual viria mais tarde conquistar todo o Medi-
e da cultura, caracterizando-se por ser uma sociedade de es- terrâneo.
plendor intelectual.
Enquanto o ócio, a reflexão e a valoração das artes fa-
Durante a fase de expansão alexandrina, foram fun-
dadas várias cidades que se tornaram centros de difusão da
ziam parte do universo cultural dos atenienses, em Esparta a
cultura helenística, entre as quais podemos destacar Alexan-
classe privilegiada priorizava a formação de soldados corajosos,
dria, considerada, na época, uma dos mais importantes cen-
obedientes e bem treinados. Alguns historiadores chegaram a
tros urbanos do mundo ocidental. Nessa cidade, dentre outras
afirmar que Esparta mais parecia um acampamento militar que
maravilhas,encontrava-se a famosa biblioteca que reunia prati-
propriamente uma cidade-estado com vida social estável.
camente todo o saber científico e filosófico da época.
Nessa cidade, com forte vocação para a guerra, prati-
camente não havia mobilidade social entre os três grupos exis-
O legado cultural grego
tentes. Os esparciatas formavam a classe aristocrática, a qual
era composta pelos filhos dos patriarcas que se julgavam funda-
Os gregos se destacaram pelas mais variadas contri-
dores da sociedade espartana.
buições culturais de seu tempo. A filosofia foi um dos grandes
Além da classe nobre, em Esparta havia os periecos,
expoentes do pensamento helenístico. Também ampliaram sig-
que eram os habitantes das partes periféricas da cidade e forma-
nificativamente os conhecimentos nas áreas da matemática, da
vam o grupo menos favorecidos e os hilotas, servos pertencen-
astrologia, da medicina, da literatura, nas artes e nas belas pro-
tes ao estado espartano.
jeções arquitetônicas. Mas foi especialmente em três áreas que
Do ponto de vista econômico, existiam algumas di-
os gregos deixaram para a posteridade os seus maiores legados.
ferenças entre as duas Cidades-Estados. Em Atenas, devido à
A adoção de procedimentos racionais e a descoberta da dialética
existência de solos inférteis, a agricultura não assumiu papel
foram contribuições sem precedentes. Os gregos também nos
de destaque. Sua vocação para a atividade econômica manu-
deixaram impressionantes obras no ramo do teatro, além das
fatureira fez dela um importante centro comercial bastante de-
10 Da Vinci Vestibulares

O IMPÉRIO DE ALEXANDRE. Brasil, Abril Coleções Civi-


famosas tragédias. Destacam-se, dentre outras peças, o mito de lizações Perdidas. 1999, 50 min.
Prometeu acorrentado e o drama de Édipo Rei, adaptado para ALEXANDRE. Direção de Oliver Stone. Estados Unidos.
novela na TV brasileira nos anos oitenta. Foram grandes histo-
2004, 176 min.
riadores, tendo Heródoto como seu maior expoente e até hoje
considerado o pai da nossa disciplina. HÉRCULES. Direção de Pietro Francisci Italia, 1959, 97 min.
No aspecto político destaca-se o aprimoramento das
instituições representativas e as formas de superação das crises
políticas enfrentadas, principalmente, em Atenas, capital da De- EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
mocracia restrita.

1. (FUVEST) O estudo do chamado Período Homérico da His-
Reformas políticas
tória da Grécia fundamenta-se na Ilíada e na Odisséia. Em li-
Em meio a uma crise política em 623.a.C. em Atenas, nhas gerais, quais os temas centrais dessas obras?
o Par tido Aristocrático sentiu-se compelido a fazer reformas
para acalmar os ânimos do Partido Democrata. Nesse momen- 2. (FUVEST) Explique o processo de colonização grega:
to é que surge a figura do Legislador. Em 621 a.C., Drácon já a) identificando no mapa a seguir as áreas abrangidas;
havia preparado uma legislação para Atenas, diferentemente de
todas as outras existentes, pois, até então a os códigos legislati-
vos eram orais. Drácon aprovou a nova Legislação formalmente b) destacando a contribuição das novas colônias.
escrita e essa foi uma mudança significativa na vida política de
Atenas. 3. (FUVEST)
Com a nova Legislação a administração da justiça dei- I “Há muitas maravilhas mas nenhuma é tão maravilhosa quan-
xou de ser um privilégio da aristocracia e passou a ser atribuição to o homem. (...)homem de engenho e artes inesgotáveis... sou-
do estado que se fortaleceu. Porém, essa legislação não resolveu
be aprender sozinho a usar a fala e o pensamento mais veloz que
a crise por não atender as reivindicações das camadas popu-
lares. Em 594 a.C., Sólon foi indicado como novo Legislador, o vento... sagaz de certo modo na inventiva além do que seria de
fazendo reformas que abrangeram três aspectos fundamentais esperar e na destreza, que o desvia às vezes para a maldade, às
em Atenas: Econômicos, sociais e políticos. A legislação de Só- vezes para o bem....” (ANTÍGONA, Sófocles, 497 - 406, a.C.)
lon foi de extrema relevância para a sociedade ateniense. Entre-
tanto, rivalidades entre partidos políticos opositores, impediram II “Este animal previdente, sagaz, complexo, penetrante, dotado
a implementação da Legislação.
de memória, capaz de raciocinar e de refletir, ao qual damos o
Assim, agitações sociais e políticas criaram condições
para o aparecimento de homens que se apoderaram do poder. nome de homem... Único entre todos os vivos e entre todas as
Esses homens ficaram conhecidos como Tiranos. O primei- naturezas animais, só ele raciocina e pensa.
ro deles foi Psistrato, aristocrata que governou Atenas por 19 Ora, o que há... de mais divino que a razão, que chegada à ma-
anos. No seu governo ocorreram diversas reformas, entre elas a turidade e à sua perfeição é justamente chamada de sabedoria?”
reforma agrária e ampliou a participação dos cidadãos nas As- (SOBRE AS LEIS, Cícero, 106 - 43, a.C.)
sembléias e tribunais, além de estimular o comércio marítimo.
Hiparco e Hípias, assumiram o poder em Atenas. O primeiro
seria assassinado em 514 a.C., e Hípias seria expulso de Atenas III “Eu não te dei, Adão, nem um lugar predeterminado, nem
em 510 a.C.. Em 512 a.C., Iságoras assume e inicia uma polí- quaisquer prerrogativas.... Tu mesmo fixarás as tuas leis sem
tica de restauração dos privilégios da Aristocracia e, ao passar estar constrangido por nenhum entrave, segundo teu livre arbí-
por um momento de forte oposição, pede ajuda a Esparta que trio, a cujo domínio te confiei.... Poderás degenerar à maneira
intervém em Atenas para garantir a supremacia da Aristocracia. das coisas inferiores, que são os brutos, ou poderás, segundo
Insatisfeitos com tal atitude, os Diacrianos e Paralia-
tua vontade, te regenerar à maneira das superiores, que são as
nos, liderados por Clístenes, expulsam os espartanos e derru-
bam Iságoras. Após esse episódio, Clístenas assume o poder e divinas.” (SOBRE A DIGNIDADE DO HOMEM, Pico della
realiza reformas, entre elas a divisão territorial da Península em Mirandola, 1463 - 1494).
três regiões: litorânea, Citadina e interiorana. Com essas refor-
mas, iniciou-se um período de estabilidade em Atenas, permi- a) Qual o assunto dos textos e como é denominada a concepção
tindo a formação de um sistema coeso, capaz de enfrentar lon- neles presente?
gos períodos de perturbações externas, a exemplo das guerras.

PARA SABER MAIS: b) Qual a relação existente entre o universo cultural de Pico
della Mirandola e o de Sófocles e Cícero?
300. Direção de Zack Snyder. Estados Unidos, 2007, 117 min.
HELENA DE TROIA. Direção de Robert Wise. Estados Uni- 4. (FUVEST) Freud, Brecht e Pasolini, entre muitos outros,
do, 2004, 118min. recorreram a ela em seus trabalhos. O primeiro, ao utilizar os
TROIA. Direção de Wolfgang Petersen. Estados Unido, 2004, termos “Complexo de Édipo” e “Complexo de Electra”; o se-
162min. gundo nas “Notas sobre a Adaptação de Antígona”, e o terceiro,
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a) Identifique a arte grega evocada acima e dê o nome de dois (E) Consolidou-se o monopólio político dos eupátridas, estabe-
de seus autores. lecendo que as altas magistraturas e os cargos da administração
seriam privativos dessa classe.
b) A que se deve sua permanente atualidade?
8. (UFSCar) Há muitas maravilhas, mas nenhuma é tão mara-
vilhosa quanto o homem. (...) Soube aprender sozinho a usar a
5. (FUVEST) “Então Alexandre aproximou-se ainda mais dos fala e o pensamento mais veloz que o vento e as leis que disci-
costumes bárbaros que ele também se esforçou em modificar plinam as cidades, e a proteger-se das nevascas gélidas, duras
mediante a introdução de hábitos gregos, com a idéia de que de suportar a céu aberto... (Sófocles, Antígona, trad.Mário da
essa mistura e essa comunicação recíproca de costumes dos Gama Kury. RJ: Jorge Zahar Editor, 1993, p. 210-211.)
O fragmento acima, apresentação do Coro de Antígona, drama
dois povos... contribuiria mais do que a força para solidificar
trágico de autoria de Sófocles, manifesta uma perspectiva típica
seu poder...” (Plutarco, VIDAS PARALELAS) da época em que os gregos clássicos
(A) enalteciam os deuses como o centro do universo e subme-
a) Quem eram os bárbaros? tiam-se a impérios centralizados.
(B)criaram sistemas filosóficos complexos e opuseram-se à es-
b) No que consistiu a sua política de conquista? cravidão, combatendo-a.
(C) construíram monumentos, considerando a dimensão huma-
na, e dividiram-se em cidades-estados.
(D) proibiram a representação dos deuses do Olimpo e entraram
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES: em guerra contra a cidade de Troia.
E) elaboraram obras de arte monumentais e evitaram as rivali-
6. (UNIFESP) “Nunca temi homens que têm no centro de sua dades e as guerras entre cidades.
cidade um local para reunirem-se e enganarem-se uns aos ou-
tros com juramentos. Com estas palavras, Ciro insultou todos os 9. (UNESP) Dentre os legados dos gregos da Antigüidade Clás-
gregos, pois eles têm suas agorás [praças] onde se reúnem para sica que se mantêm na vida contemporânea, podemos citar:
comprar e vender; os persas ignoram completamente o uso de (A) a concepção de democracia com a participação do voto uni-
agorás e não têm lugar algum com essa finalidade”. (Heródoto, versal.
Histórias, séc. V a.C.) (B) a promoção do espírito de confraternização por intermédio
O texto expressa do esporte e de jogos.
(A) a inferioridade dos persas que, ao contrário dos gregos, não (C) a idealização e a valorização do trabalho manual em todas
conheciam ainda a vida em cidades. suas dimensões.
(B) a desigualdade entre gregos e persas, apesar dos mesmos (D) os valores artísticos como expressão do mundo religioso e
usos que ambos faziam do espaço urbano. cristão.
(C) o caráter grego, fundamentado no uso específico do espaço (E) os planejamentos urbanísticos segundo padrões das cidades-
cívico, construído em oposição aos outros. -acrópoles.
(D) a incapacidade do autor olhar com objetividade os persas e
descrever seus costumes diferentes. 10. Na atualidade, praticamente todos os dirigentes políticos,
(E) a complacência dos persas para com os gregos, decorrente no Brasil e no mundo, dizem-se defensores de padrões demo-
da superioridade de seu poderio econômico e militar. cráticos e de valores republicanos. Na Antigüidade, tais padrões
e valores conheceram o auge, tanto na democracia ateniense,
7. Dentre as reformas propostas por Sólon (594-591 a.C.) en- quanto na república romana, quando predominaram
contramos o regime censitáro. Essa proposta condiciona a parti- (A) a liberdade e o individualismo.
cipação política à renda do cidadão. Há uma importante diferen- (B) o debate e o bem público.
ça entre o regime censitário estabelecido por Sólon e o que se (C) a demagogia e o populismo.
implantou na época da tirania de Pisístrato (561-528 a.C.), que (D) o consenso e o respeito à privacidade.
imprimiu uma nova dinâmica à política ateniense, devido ao rá- (E) a tolerância religiosa e o direito civil.
pido desenvolvimento mercantil, verificado após a criação da
moeda ateniense própria, o dracma. 11. Escreveram peças para teatro, durante o “Século de Péri-
Assinale a alternativa que indica essa mudança. cles” (séc.V a.C.):
(A) Foram colocadas no mesmo plano a renda da terra e a do (A) Homero, Tucídides, Heródoto e Xenofonte
comércio, o que permitiu a participação, nos altos escalões do (B) Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanes
governo, dos comerciantes e armadores. (C) Sócrates, Protágoras, Platão e Aristóteles
(B) Criou-se o Conselho dos Quinhentos, o Bulé, que iria con- (D) Eratóstenes, Arquimedes, Euclides e Pitágoras
trabalançar o poder do Areópago, órgão tradicional aristocráti- (E) Píndaro, Alceu, Safo e Hesíodo
co, que se restringiu às suas atribuições religiosas e judiciárias.
(C) Foi restaurada a escravidão por dívidas, favorecendo a de- 12. Na Grécia Clássica, os deuses eram concebidos à imagem
pendência econômica dos pequenos e médios proprietários em e semelhança do homem, postura invertida na Roma Imperial,
relação à aristocracia rural. na qual os cristãos viam o homem feito à imagem e semelhança
(D) A diarquia foi definitivamente implantada, concedendo aos de Deus.
metecos o direito de eleger na Assembléia Popular o seu repre- Relacione a visão religiosa com a estrutura sócio-política
sentante junto ao Areópago. em cada um dos casos acima.
12 Da Vinci Vestibulares


13. (FUVEST) Na Antigüidade, a Europa mediterrânea e o
Oriente Próximo viram o surgimento e o esfacelamento de di-
versos impérios. Sobre eles pode-se afirmar que
(A) a unidade política acabou depois de algum tempo por se
fazer acompanhar de uma unidade religiosa.
(B) a diversidade racial e cultural enfraquecia-os, apesar da
existência de mecanismos que pretendiam estabelecer uma real
unidade.
(C) os centros políticos coincidiam sempre com os centros eco-
nômicos.
(D) com exceção do Império Romano, todos nasceram de con-
federações de cidades-Estado em constante luta interna.
(E) seus centros dinâmicos localizavam-se nas zonas litorâne-
as, por terem economias essencialmente mercantis.

14. (FUVEST) Ajudaram os espartanos a vencer os atenienses


na Guerra do Peloponeso, mas não foram eles que acabaram por
conquistar toda a Grécia. Pelo contrário, posteriormente, eles
foram também conquistados e integrados a um novo império.
Trata-se dos
(A) egípcios e do Império Romano.
(B) fenícios e do Império Cartaginês.
(C) persas e do Império Helenístico.
(D) siracusanos e do Império Siciliota.
(E) macedônios e do Império Babilônico.

15. (FUVEST) Na estratificação da sociedade ateniense, os


eupátridas constituíam:
(A) a aristocracia, compondo a camada dirigente possuidora
das melhores terras.
(B) o campesinato, com direito a uma parte das terras.
(C) a plebe, que não dispunha de nenhum direito político.
(D) o segmento servil, que exercia o trabalho doméstico.
(E) a população escrava, reduzida a completa sujeição política
e econômica.
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milagrosamente criados por uma loba, resultando na fundação


MÓDULO 2: ANTIGUIDADE CLÁSSICA - ROMA de Roma e mais tarde no estabelecimento da Monarquia.
♦ a lenda do ‘rapto das Sabinas’, união entre os latinos e sabinos
ROMA através do rapto das mulheres Sabinas, que mais tarde deram
origem a segunda geração romana de sangue misto, como já
Localização: A sociedade Romana desenvolveu-se na penínsu- eram os Latinos.
la Itálica ou península Apenina, região de solo fértil e de litoral ♦ a lenda da casta Lucréia que justifica a expulsão dos reis etrus-
pouco recortado. Banhada pelos mares Mediterrâneo, Tirreno, cos, marcando o final do período monárquico romano.
Adriático e Jônio, essa região era habitada por diferentes povos
como os gauleses, etruscos, latinos e gregos. Entretanto, Roma Essas lendas, juntamente com as pesquisas arqueológi-
sofreu influência, sobretudo, dos latinos em sua formação. cas, contribuíram para se compreender as origens e evolução
de Roma.
Os Latinos que deram origem a Roma, não eram um
grupo étnico puro, mas resultado de uma síntese em que os in-
vasores indo-europeus assimilaram os Mediterrânicos para dar
origem a um novo povo.
Os etruscos exerceram uma profunda influência sobre
a nascente cidade romana, seu espírito de expansão contribuiu
para transformar a aldeia romana em cidade. Foram responsá-
veis também pela primeira forma de governo em Roma: a
monarquia.

Monarquia ou Realeza (753 – 509 a.C.)



Período marcado por uma economia baseada na agri-
cultura e no pastoreio. A sociedade, de caráter estamental e pa-
triarcal, era formada por patrícios, plebeus, clientes e escravos.

PATRÍCIOS: Formavam a aristocracia, cidadãos romanos que


eram grandes proprietários de terras, gados e escravos. Tinham
direitos políticos, podiam ter funções no exército,
na religião, na justiça e na administração.

PLEBEUS: Maioria da população, eram imigrantes que vie-


ram das primeiras conquistas de Roma. Eram livres, dedicados
Figura 4: Povos Pré-Romanos na Península Itálica (Séculos ao comércio, artesanato e a agricultura. Não eram considera-
X - VIII a.C.) dos cidadãos de Roma, então não poderiam participar de cargos
públicos e nem da Assembléia Curial. Suas famílias não eram
Origens legalmente reconhecidas

Estrategicamente fundada às margens do rio Tibre (Lá-


CLIENTES: Alguns eram estrangeiros e alguns plebeus que
cio), região a certa distância da costa o que lhe garantia proteção
para sobreviver se associavam aos patrícios. Eles lhe prestavam
contra os possíveis invasores vindos do mar, Roma resultou da
diversos serviços pessoais em troca de ajuda econômica e pro-
união de aldeias de agricultores latinos e Sabinos que buscavam
teção social. Eram os derrotados de guerras. Trabalham em ser-
com essa união defender-se contra as incursões constantes dos
viços domésticos, agricultura, capatazes, artesãos,
Etrucos.
professores, etc.
Por volta do século VIII a. C. (753 a. C.) surge a aldeia
romana iniciando-se a evolução dessa sociedade, marcada por
grandes conquistas. Roma viveu três grandes períodos: a Mo- ESCRAVOS: Eram como propriedade, seu Senhor tinha auto-
narquia ou Realeza, a República e o Império. nomia para castigá-los, vendê-los, alugar seus serviços e decidir
Entretanto, a origem de Roma é marcada por um con- sobre sua vida ou sua morte.
junto de lendas criadas com o objetivo de justificar a grandiosi-
dade dos romanos. As passagens mais conhecidas dessa “tradi- Durante esse período, sete reis se sucederam, sendo 2 Latinos, 2
ção lendária” foram: Sabinos e 3 Etruscos. O rei acumulava as funções religiosa, exe-
♦ contam que o povo latino resultava da fusão de duas raças, cutiva, judiciária e legislativa, nessa última seus poderes eram
os Aborígenes, saídos dos troncos das árvores, e os Troianos, limitados, tinham que passar pela aprovação do Senado ou Con-
companheiros de Enéias, vindos da longínqua Frígia depois do selho dos Anciões. O Senado era formado por cidadãos idosos
desastre que se abateu sobre a sua pátria. (esta concepção da (anciãos) que chefiavam as maiores famílias do reino. Eles ti-
origem mista do povo latino, onde os ‘nascidos do solo’ teriam nham a função de propor novas leis e fiscalizar as ações dos reis.
sido civilizados.).
♦ a disputa entre os irmãos gêmeos Rômulo e Remo, que foram
14 Da Vinci Vestibulares


VOCÊ SABIA: A localização de Roma às margens do rio Ti- EXPANSÃO ROMANA
bre,” o mais caudaloso e regular de toda a Itália central, permitia
o transporte de mercadorias pesadas não só entre Roma e o Por volta de 275 a. C., os romanos já haviam conquis-
mar, mas também para o interior e, quando deixava de ser nave- tado a península Itálica, tornando-se imprescindível a conquista
gável, o seu vale continuava a ser via de comunicação preciosa
de outros territórios fora da Itália.
que penetrava bastante em direção ao norte. (...) o Tibre desem-
penhou um papel essencial na grandeza de Roma, ao permitir
que o jovem Estado tivesse, desde cedo, um ‘pulmão marítimo’,
o que determinou em parte a sua vocação de metrópole colonial
e ao canalizar para ela – e, depois, ao submeter ao seu controle
– as correntes comerciais e étnicas que convergiam dos vales
dos Apeninos e se dirigiam para o sul.” GRIMAL, Pierre. A Civi-
lização Romana. Lisboa: Edições 70, 1988, p. 12-3.

Entretanto, as leis após aprovação pelo Senado eram


ratificadas pela Assembléia (Cúria), formada pelos cidadãos em
idade militar. A fase final da Monarquia, segunda metade do
século VII a. C., foi marcada pelo domínio dos etruscos.

República (509 – 27 a. C.)

Com a deposição de Tarquínio último rei de origem


etrusca, por volta de 509 a.C., tem início a República roma-
na. Tarquínio, o Soberbo, foi deposto por uma rebelião liderada
pela elite patrícia senatorial, no seu lugar o Senado se tornou o
órgão máximo da República. Estabelecendo-se em Roma uma
nova estrutura político-administrativa.
No lugar do rei, os patrícios elegiam dois líderes que Figura 5 - Povos Pré-Romanos na Península Itálica
tinham plena autoridade sobre os assuntos civis, militares e reli- (Séculos X - VIII a.C.)
giosos por um ano.
Eram eles:
Roma, sentindo-se preparada para sua expansão, desa-
CÔNSULES que propunham leis, presidiam o Sena- fia o Império cartaginês, uma poderosa ex-colônia fenícia estra-
do e as Assembleias e os PRETORES que administravam a tegicamente bem localizada (norte da África), que controlava o
justiça. Além do Senado e das magistraturas, ocupados pelos Mediterrâneo ocidental, dando início ás Guerras Púnicas (264
patrícios, existiam três assembleias que completavam as insti- – 146 a. C.).
tuições políticas da República romana: Assembleia Centuriata, Os romanos disputavam com Cartago o controle co-
Assembleia Curiata e Assembleia Tribal. mercial do Mediterrâneo. Cartago possuía muitas colônias na
Cada uma das Assembleias cumpria seu papel dentro Córsega, Sardenha, Sicília e Península Ibérica. Após batalhas
da República romana. Entretanto, o caráter oligárquico da Re- violentas, os romanos derrotaram Cartago e escravizando seus
pública garantia aos patrícios o monopólio do poder. Surgindo, habitantes. Com o fim das Guerras Púnicas, Roma inicia campa-
com isso, uma série de problemas para a plebe gerando guerras nhas militares adquirindo o controle de quase toda a península
constantes, aumento de tributos, o endividamento e a escravidão Ibérica, Gálias, parte da Germânia
por dívida. , Egito, Grécia e Oriente. Com o controle da orla Mediterrânea
As divergências entre patrícios e plebeus levaram às os romanos passaram a chama-lo de mare nostrum (nosso mar).
lutas de classe. Essa luta durou mais de um século até eles con- A sociedade romana sofreu grandes transformações
seguirem privilégios dentro de Roma. durante as conquistas. O estilo de vida romano passou a ser lu-
xuoso, requintado e exótico para alguns patrícios. Os fatores
Entre eles: fundamentais para essas mudanças sociais na sociedade romana
♦ Ganharam representação e participação política através dos foram:
Tribunos da Plebe: tinham direito ao veto e eram considerados ♦ A grande quantidade de riqueza oriunda das conquistas (pi-
invioláveis; lhagem).
♦ As Leis das XII Tábuas: primeira compilação de leis escritas ♦ A decadência do pequeno agricultor, impossibilitado de con-
em Roma; correr com os grandes proprietários escravistas.
♦ A Lei Canuleia: permitia o casamento entre patrícios e ple- O crescimento do escravismo, transformando o modo de pro-
beus; dução romano.
♦ A Lei Licínia Sextia: aboliu a escravidão por dívidas e abriu ♦ O surgimento de novas classes sociais.
a possibilidade aos plebeus a participação no consulado. Com as mudanças promovidas pela expansão de Roma
Com isso, a plebe conquistou, gradativamente, o direi- muitos plebeus empobreceram e viram-se obrigados a vender
to a participação em todas as magistraturas da República roma- seus bens, abandonar os campos, migrando para as cidades
na. (êxodo rural).
Extensivo 15


Com o objetivo de superar a crise que se instalou em ♦ Constantino (313 – 337) concedeu liberdade de culto aos
Roma, principalmente com relação aos pequenos proprietários cristãos, fundou Constantinopla que seria, com o tempo, a se-
ou agricultores, alguns setores se mobilizaram em busca de re- gunda capital do Império.
formas. Nesse contexto destacaram-se, por sua ação, dois tribu- ♦ Teodósio (378 – 395) ficou conhecido pela oficialização do
nos da plebe: Tibério e Caio Graco. cristianismo e a divisão do império em duas partes: Império
Os irmãos Graco, como ficaram conhecidos, vendo a Romano do Ocidente (capital Roma) e Império Romano do
situação em que Roma se encontrava propuseram reformas. En- Oriente (capital Constantinopla).
tre elas a distribuição das terras entre os camponeses plebeus Vários foram os fatores que contribuíram para a queda
pondo fim aos grandes latifúndios e a Lei Frumentária, distri- do império romano. O declínio do número de escravos - crise do
buição de trigo a preços baixos. escravismo, queda da produção nos latifúndios, altos impostos,
Os patrícios reagiram contra os irmãos Graco. Tibério crise do comércio, a ruralização e a regionalização da economia,
e seus seguidores forma assassinados e Caio Graco, temendo ter entre outros. Entretanto, não podemos deixar de citar a grande
o mesmo fim de seu irmão ao ser cercado em uma colina próxi- presença de bárbaros no Exército romano.
ma a Roma, ordenou a um escravo que o matasse. Todos esses fatores conjuntamente com as invasões
Após a conhecida Revolta dos Gracos, ocorreu a radi- bárbaras nos séculos IV e V, puseram fim ao Império Romano.
calização política fazendo com que a República romana entras-
se em crise. As disputas entre os cidadãos de Roma pelo poder
aumentou a instabilidade política levando o Senado a eleger
três líderes políticos: Júlio César, Pompeu e Crasso. Eles forma-
ram o I Triunvirato (governo de três pessoas). Com a morte de
Crasso em combate, na Pérsia (54 a.C.) e a derde Pompeu em
49 a.C., Júlio César tornou-se o único governante de Roma até
sua morte em 44 a.C.
Logo estabeleceu-se o II Triunvirato composto por
Marco Antônio, amigo de um dos fortes generais de Júlio Cé-
sarLépido e Otávio. Lutas internas pelo poder levaram Otávio a
declarar guerra a Marco Antônio e seus aliados, o qual derrotou
em 31 a.C.
Otávio tornou-se o senhor de Roma, recebendo vários Figura 6: Povos Pré-Romanos na Península Itálica
títulos, entre eles o de “divino” (Augustus). (Séculos X - VIII a.C.)

Império (27 a.C. – 476 d.C.): PARA SABER MAIS:

Com as conquistas territoriais e o desenvolvimento A queda do Império Romano. Direção de Anthony Mann,Estados
acelerado do modo de produção escravista, Roma alcançou a Unidos,1964,172min.
riqueza e a hegemonia do mundo antigo. Gladiador. Direção de Jean Jacques Annaud,Estados
Primeiro Imperador de Roma, Otávio Augusto (27 Unidos,2000,130min.
a.C. – 14 a.C.) acabou com os conflitos internos, criou a Guarda
Pretoriana, cuja função era proteger o imperador e a capital do SITES PARA PESQUISA
Império, promovia a distribuição de trigo e a organização de es-
petáculos públicos (Pão e Circo), fez magníficas obras públicas Hystoria na WEB – http://hystoria.hpg.ig.com.br
tornando Roma a Cidade Eterna. Mundo Antigo – http://planeta.terra.com.br/arte/mundoantigo/
Durante seu governo, nasceu Jesus Cristo, fundador do História do Mundo - http://www.historiadomundo.com.br/
cristianismo, nova religião que ganhou seguidores em todo o Mini WEB Educação - http://www.miniweb.com.br/ historia/Roma1.
império romano. Com a morte de Otávio Augusto em 14 d.C., html
Roma foi governada pelas dinastias: Júlio-Claudiana até 68
d.C., seguida pela dinastia Flaviana até 96 d.C. e pela dinastia EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
dos Antoninos até o ano de 192. O Alto Império foi marcado por
diversas dinastias a última a governar Roma foi a dos 1. (FUVEST) A(s) questão(ões) seguinte(s) é(são) composta(s)
Severos. por três proposições I, II e III que podem ser falsas ou verda-
Os sucessores de Otávio Augusto não conseguiram deiras. Examine-as identificando as verdadeiras e as falsas e em
manter as estruturas de governo por ele implantadas contribuin- seguida marque a alternativa correta dentre as que se seguem:
do para a gradual desestruturação do império. O descontrole po-
lítico, a imoralidade pessoal e também administrativa fez parte (A) se todas as proposições forem verdadeiras.
dos governos de Tibério, Calígula e Nero. Este último perseguiu (B) se apenas forem verdadeiras as proposições I e II.
os cristãos que não o cultuavam como deus e mandou incendiar (C) se apenas forem verdadeiras as proposições I e III.
Roma. (D) se apenas forem verdadeiras as proposições II e III.
No período caracterizado como Baixo Império alguns (E) se todas as proposições foram falsas.
imperadores tentaram controlar a crise, foram eles:
♦ Diocleciano (284 – 305) promoveu várias reformas com o 1. I. Do século IX ao VII a.C., os assírios organizaram um po-
intuito de conter as crises. deroso exército com cavalaria, carros e máquinas de guerra,
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conquistando um vasto império cuja queda foi acelerada pela (E) a tolerância religiosa e o direito civil.
crueldade com que trataram os povos submetidos.
II. As instituições políticas da Cidade-Estado de Atenas, ao con- 7. (FUVEST) Sobre as invasões dos “bárbaros” na Europa Oci-
trário de sua rival Esparta, não evoluíram no sentido de uma dental, ocorridas entre os séculos III e IX, é correto afirmar que:
democracia. (A) foi uma ocupação militar violenta que, causando destruição
III. Os maiores legados da civilização romana foram o Direito e barbárie, acarretou a ruína das instituições romanas.
(base de todos os atuais), as línguas latinas, a arquitetura, a es- (B) se, por um lado, causaram destruição e morte, por outro
cultura e a pintura. contribuíram, decisivamente, para o nascimento de uma nova
civilização, a da Europa Cristã.
2. Na Grécia Clássica, os deuses eram concebidos à imagem e (C) apesar dos estragos causados, a Europa conseguiu, afinal,
semelhança do homem, postura invertida na Roma Imperial, na conter os bárbaros, derrotando-os militarmente e, sem solução
qual os cristãos viam o homem feito à imagem e semelhança de de continuidade, absorveu e integrou os seus remanescentes.
Deus. Relacione a visão religiosa com a estrutura sócio-política (D) se não fossem elas, o Império Romano não teria desapa-
em cada um dos casos acima. recido, pois, superada a crise do século III, passou a dispor de
uma estrutura sócio-econômica dinâmica e de uma constituição
política centralizada.
3. Indique e comente quatro elementos da antigüidade greco- (E) os Godos foram os povos menos importantes, pois quase
-romana presentes ainda hoje no mundo ocidental. não deixaram marcas de sua presença.

8. (UNICAMP) Os princípios do cristianismo chocaram-se com


4. (FUVEST) “Em verdade é maravilhoso refletir sobre a gran- os valores romanos, em especial a partir do momento em que
deza que Atenas alcançou no espaço de cem anos depois de se os imperadores passaram a ser vistos como divindades. Entre
livrar da tirania... Mas acima de tudo é ainda mais maravilhoso os séculos I e III, as perseguições aos cristãos foram constantes.
observar a grandeza a que Roma chegou depois de se livrar de
seus reis.” (Maquiavel, “Discursos sobre a primeira década de a) Cite três características do cristianismo naquele período.
Tito Lívio”).
Nessa afirmação, o autor b) Explique por que os princípios cristãos eram uma ameaça ao
(A) critica a liberdade política e a participação dos cidadãos poder político dos imperadores romanos.
no governo.
(B) celebra a democracia ateniense e a República romana. 9. (FUVEST) O mundo greco-romano e o mundo ocidental mo-
(C) condena as aristocracias ateniense e romana. derno criaram colônias ultramarinas e usaram o trabalho escra-
(D) expressa uma concepção populista sobre a antigüidade vo.
clássica.
(E) defende a pólis grega e o Império romano. Indique as diferenças entre esses dois períodos históricos no que
se refere à colonização e à escravidão.
5. “A história da Antigüidade Clássica é a história das cidades,
porém, de cidades baseadas na propriedade da terra e na agri-
cultura.” (K. Marx. “Formações econômicas pré- capitalistas.”) 10. (UNICAMP) “Os jovens eram educados para serem fortes
Em decorrência da frase de Marx, é correto afirmar que para a guerra. No Campo de Marte, perto de Roma, aprendiam
(A) os comerciantes eram o setor urbano com maior poder na a manejar a espada, a lançar o disco e as lanças, a correr, saltar,
Antigüidade, mas dependiam da produção agrícola. nadar e cavalgar. Aprendiam a obedecer para depois saberem
(B) o comércio e as manufaturas eram atividadesdesconhecidas mandar.” (Bruna R. Cantele, HISTÓRIA DINÂMICA ANTIGA
nas cidades em torno do Mediterrâneo. E MEDIEVAL)
(C) as populações das cidades greco-romanas dependiam da Com base no texto, responda:
agricultura para a acumulação de riqueza monetária. a) qual era a função da educação romana?
(D) a sociedade urbana greco-romana se caracterizava pela au-
sência de diferenças sociais. b) qual foi a sua importância na expansão do império?
(E) os privilégios dos cidadãos das cidades gregas e romanas se
originavam da condição de proprietários rurais. 11. (FUVEST) A expansão de Roma durante a República, com
o consequente domínio da bacia do Mediterrâneo, provocou
sensíveis transformações sociais e econômicas, dentre as quais:
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES: (A) marcado processo de industrialização, êxodo urbano, endi-
vidamento do Estado.
6. Na atualidade, praticamente todos os dirigentes políticos, no (B) fortalecimento da classe plebéia, expansão da pequena pro-
Brasil e no mundo, dizem-se defensores de padrões democráti- priedade, propagação do cristianismo.
cos e de valores republicanos. Na Antigüidade, tais padrões e (C) crescimento da economia agro-pastoril, intensificação das
valores conheceram o auge, tanto na democracia ateniense, exportações, aumento do trabalho livre.
quanto na república romana, quando predominaram (D) enriquecimento do Estado romano, aparecimento de uma
(A) a liberdade e o individualismo. poderosa classe de comerciantes, aumento do número de escra-
(B) o debate e o bem público. vos.
(C) a demagogia e o populismo. (E) diminuição da produção nos latifúndios, acentuado processo
(D) o consenso e o respeito à privacidade. inflacionário, escassez de mão-de-obra escrava.
Extensivo 17

12. (FUVEST) Importantes transformações políticas, econômi-


cas e sociais ocorreram com a expansão romana pelo Mediter-
râneo, entre elas:
(A) fortalecimento econômico da elite patrícia, concentração da
população nas zonas rurais, crescimento do trabalho livre.
(B) supremacia política dos generais, abolição do trabalho es-
cravo, fixação da plebe no campo.
(C) austeridade moral, monopólio dos cargos públicos pelos
plebeus e erradicação da influência da cultura grega.
(D) emigração da população do campo para a cidade, predo-
mínio da atividade comercial, grande aumento do número de
escravos.
(E) fortalecimento da família tradicional, concentração da eco-
nomia nas atividades agropastoris, preservação do monoteísmo.

13. (FUVEST) Em relação à formação dos reinos bárbaros:

a) Explique os motivos que permitiram as invasões bárbaras


no Império Romano do Ocidente.

b) Mencione três povos bárbaros que invadiram o Império Ro-


mano do Ocidente.

14. (FUVEST) Várias razões explicam as perseguições sofridas


pelos cristãos no Império Romano, entre elas:
(A) a oposição à religião do Estado Romano e a negação da
origem divina do Imperador, pelos cristãos.
(B) a publicação do Edito de Milão que impediu a legalização
do Cristianismo e alimentou a repressão.
(C) a formação de heresias como a do Arianismo, de autoria do
bispo Ário, que negava a natureza divina de Cristo.
(D) a organização dos Concílios Ecumênicos, que visavam pro-
mover a definição da doutrina cristã.
(E) o fortalecimento do Paganismo sob o Imperador Teodósio,
que mandou martirizar milhares de cristãos.

15. (UNICAMP) Na Roma antiga, o escravo era considerado


um animal de trabalho sobre o qual o senhor
detinha o direito de vida e de morte.

a) Em quais condições alguém se tornava escravo na Roma


antiga?

b) Relacione três das principais atividades em que a mãode-obra


escrava era utilizada.
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servil permanecer no feudo, em caso do falecimento do pai ou


MÓDULOS 3E 4: A IDADE MÉDIA de outros entes queridos.
♦ Tostão de Pedro ou Dízimo: 10% da produção do servo era
[...]vemos o chamado império romano em grande parte destru- pago à Igreja, utilizado para a manutenção da capela local.
ído; todavia, enquanto durarem os reis da França que devem ♦ Taxa de justiça: Taxa que o servo ou o vilão pagava ao senhor
dominar o dito império, a dignidade desse império não perece- feudal para que se fizesse justiça dentro do feudo. Quando o
rá, pois se conservará em seus reis. E alguns dos nossos dou- servo cometia uma infração, o senhor cobrava a taxa para que
tores dizem que um dos reis da França dominará todo Império o julgamento acontecesse em um tribunal presidido pelo senhor
romano - e será perto fim do mundo -, que finalmente, tendo ou seu representante.
bem governado seu reino, conduzirá seu poderio a Jerusalém,
e, ao depositar no monte das Oliveiras sua coroa, será o fim do A Mulher
Império romano [...], e esse reinado será o ultimo reinado de
todos os reinados do mundo, e jamais cessará até que, sob Je- As mulheres na Idade Média eram totalmente submetidas ao pai
sus Cristo, tenha abarcado todo o domínio temporal do mundo e aos seus maridos. Em sua maioria tinham como função cui-
universal, constituindo a sede deste em Roma restituída, como dar do espaço doméstico e estavam voltadas para a procriação
o papa eterno na Terra Santa [...]. E assim Jesus Cristo será um e educação dos filhos. As mulheres eram tidas como frágeis e
só rei e pastor. G. Postel, Le thresor des propheties de l´univers, de fácil sedução pelo mal. Muitas delas foram perseguidas pelo
ed.Fr.Secret,Haia,Martinus Nijhof,1969,pp.98-9. Tribunal da inquisição, acusadas de bruxas, sobretudo, quando
residiam sozinhas e possuíam o domínio das ervas medicinais.
Com o fim do Império Romano no Ocidente, ocorreu
na Europa o fenômeno da ruralização. Praticamente todas as ci-
dades foram despovoadas e as pessoas buscaram nas grandes
propriedades rurais a forma de garantir minimamente a segu-
rança, uma vez que o período conhecido como “as invasões bár-
baras” transformou as antigas áreas dominadas pelos romanos
no imenso território instável e perigoso. A Idade Média foi di-
vidida em dois momentos distintos: Alta Idade Média e Baixa
Idade Média.

♦ A Alta Idade Média - do século V ao X, teve como principais


características: a formação e o desenvolvimento do feudalismo
e concentração de poderes pela Igreja Católica.
♦ A Baixa Idade Média - durou do século XI ao XV, caracte-
rizou-se pelo apogeu e crise do feudalismo e a expansão das
Cruzadas, movimento bélico incentivado pela Igreja Católica. Figura 7 - Mulher sendo acusada de bruxaria.

FEUDALISMO Estamentos e Hierarquia Social

O Feudalismo foi um fenômeno típico da Idade Média Os historiadores franceses, especialistas em Idade Média,
na sociedade Centro-Ocidental da Europa. O Feudalismo repre- preferem classificar a sociedade feudal como uma sociedade composta
sentou a fase de grande autoridade política; econômica; ideoló- exclusivamente por estamentos, ou ordens. Entendemos por sociedade
gica e cultural da Santa Sé. A base de sustentação do Sistema estamental uma forma de organização onde a estratificação social com
Feudal era o trabalho servil. O servo era originado da decadên- camadas mais fechadas do que as classes e mais abertas do que as cas-
cia Romana. Esse trabalhador recebia proteção de seu Senhor e tas, reconhecidas por lei e geralmente ligadas ao conceito de honra.
retribuía na forma de pagamentos de tributos em produtos ou na Na Idade Média, praticamente inexistia mobilidade social,
forma de prestação dos mais variados serviços. uma vez que a condição social do individuo era determinada pela tra-
Os servos, além de trabalharem no campo tinham a dição, pelos laços de consangüinidades, e pela hereditariedade. Em ou-
obrigação de pagar impostos na forma de produtos agrícolas, tros termos, era praticamente impossível o filho de um servo chegar a
animais, manufatura, tecelagem e/ou prestarem serviços. condição de nobre.
Jacques Le Goff, importante historiador Francês medieva-
Impostos lista, assim classificou a sociedade do medievo: “O Feudalismo é um
sistema de organização econômica, social, cultural e política baseado
♦ Corvéia: Trabalho gratuito realizado de duas a três vezes por nos vínculos de dependência de homem a homem, no qual uma classe
semana, no manso senhorial; na construção e reparação das es- de guerreiros especializados – os senhores -, subordinavam-se uns aos
tradas; pontes, moinhos, na casa senhorial e na construção de outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina a massa
represas. campesina que explora a terra e lhes fornece com que viver”.
♦ Talha: Par te da produção agrícola que era entregue ao Senhor Já, Georges Duby, outro grande historiador da Idade Média,
feudal. gostava muito da definição dada pelo Bispo Adalberon de Laon, mor-
♦ Banalidade: Pagamento pelo uso dos instrumentos de traba- to em 1031 d.C, acerca do lugar de cada indivíduo naquela socieda-
lho no feudo. de: “Na sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham
♦ Captação: Imposto pago pela moradia no feudo.
♦ Mão morta: Era o pagamento de uma taxa para a família
Extensivo 19

onde todos formam um conjunto inseparável e o trabalho de uns Principais Fatores da Baixa Idade Média
permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta
apoio aos outros”. I- Expansão das Cruzadas: As cruzadas foram um importante
capitulo da Baixa Idade média, ela representou o choque cul-
Principais Caracteristicas da Sociedade Feudal tural-religioso entre o ocidente e o oriente, ou seja, a Europa
Cristã Católica contra o Oriente Médio islâmico.
♦ Heterogeneidade Social - Nobres, cavaleiros, sacerdotes e II - Novas rotas comerciais.
camponeses. III- Centralização política: formação das monarquias nacionais
♦ Pouca Mobilidade Social - Sociedade estamental. IV-Apogeu e crise do feudalismo:
♦ Patriarcalismo - Desfavorecimento e perseguição as mulhe- O feudalismo acabou devido às melhorias tecnológi-
res (caça as bruxas). cas; surgimento de excedente econômico; revitalização das ati-
♦ Sociedade Teocentrica - Principal foco: a salvação. vidades comerciais e re-surgimento das cidades. O aparecimen-
to da burguesia muda a sociedade e a economia feudal.

IDADE MÉDIA ORIENTAL

Império Bizantino (Roma Oriental)

Parte do império Romano da Ásia que sobreviveu até o


século XV. A Roma Ocidental se feudalizou, já a parte oriental
ficou fundamentada no comércio e na vida urbana.
A atual Turquia é hoje o país que corresponde ao an-
tigo Império Bizantino. Localizada entre a Europa e a Ásia, a
Turquia é uma rota de comércio e culturas. Neste país coexistem
culturas européias e asiáticas. A maior autoridade política e mi-
litar do Império Bizantino é o Cézar Bizantino.
O Império Bizantino preservou a cultura Greco-Ro-
mana, quando os turcos invadiram Constantinopla (capital do
Império) muitos sábios Bizantinos migraram para a Europa. No
continente europeu esses sábios difundiram a cultura Greco Ro-
mana contribuindo para o renascimento do século XV.

Igreja Católica Medieval

O controle ideológico aplicado pela Igreja e a repres-


são militar imposta pelos senhores feudais impedia qualquer
revolta camponesa. Em sua maioria eram os próprios filhos da
classe nobre aqueles que formavam os quadros do clero e, dessa
maneira, asseguram o controle político e social por meio do dis-
curso ideológico fortemente marcado pelo ideal de abnegação e
votos de pobreza na terra para a garantia de vida eterna após a Figura 8 - Império bizantino
morte.
A partir do século XIV algumas mudanças ocorridas
Principais Fatores da Alta Idade Média
no seio da sociedade Ocidental deram claros sinais de que o
tempo “quase imóvel” da Idade média chegava ao fim. No cam-
I-Formação e desenvolvimento do feudalismo
po das relações econômicas, a introdução da moeda, como valor
II-Concentração de poderes pela Igreja Católica
de troca universal, intensificou as relações comerciais em nível
III- Expansão do Islamismo
mais amplo. É bem verdade que desde a Idade Medieval a mo-
Os sucessores de Maomé difundiram a fé Islâmica em diferentes
eda existiu, porém, agora ela deixava de ser, aos poucos, uma
partes do globo, esta difusão não tinha os mesmos critérios polí-
referência local e adquiria, cada vez mais, um caráter regional e
ticos e econômicos, mas possuía a mesma concepção religiosa.
nacional, possibilitando relações comerciais de longa distância.
O mundo Islâmico é bastante diversificado mais a religião é o
Isso só foi possível graças a uma série de mudanças
grande elo entre esses povos.
ocorridas nas propriedades feudais, fruto de um conjunto de
IV- Descentralização política.
20 Da Vinci Vestibulares

fatores interligados. Em primeiro lugar há de se considerar que EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:


após a “peste Negra” ou “peste bubônica”, a qual dizimou um
terço da população européia, a demografia ocidental retomou 1. (FUVEST) “...o desejo de dar uma forma e um estilo ao sen-
aos níveis de crescimento lentamente, mas isso também se deu timento não é exclusivo da arte e da literatura; desenvolve-se
graças às mudanças nas técnicas de cultivos, novos incrementos também na própria vida: nas conversas da corte, nos jogos, nos
agrícolas, introdução de instrumentos de trabalho, além de um desportos... Se, por conseguinte, a vida pede à literatura os mo-
fator muito significativo: a comutação das prestações senhoriais. tivos e as formas, a literatura, afinal, não faz mais do que copiar
O que foi isso? a vida.” (Johan Huizinga, O Declínio da Idade Média).
Bem, vimos que na Idade Média, os senhores tributa- Na Idade Média essa relação entre literatura e vida foi exercida
vam os servos de diferentes maneiras, sobretudo, cobrando-lhes principalmente pela
formas de trabalho e retirando-lhes parte de tudo aquilo que (A) vassalagem
eles produziam nas lavouras, na criação de animais e no espaço (B) guilda
doméstico por meio do trabalho familiar. Com a dinamização (C) cavalaria
da economia, ocasionada pelo renascimento comercial com o (D) comuna
Oriente, os senhores passaram a se interessar em adquirir pro- (E) monarquia
dutos oriundos das mais distantes regiões e que não eram pro-
duzidos em suas propriedades. Isso fez com que os mesmos 2. (UFTM-2007) A formação do sistema feudal, dominante
adotassem uma nova maneira de explorar os servos e obter a principalmente nos territórios do Império Carolíngio, durante a
referência de troca no comércio das cidades. Foi então que os Idade Média, esteve ligada
senhores resolveram adotar a cobrança de tributo em moedas. (A) à integração de instituições romanas e germânicas, tais
Desse modo, os servos viram-se obrigados a produzir não só como o colonato e o Comitatus.
para a sua sobrevivência, mas também fomentar um excedente (B) ao fim da importância das leis baseadas nos costumes e aos
da produção a fim de levá-lo à cidade e a comercializá-lo nas ataques vikings.
feiras ou nos entrepostos comerciais. Ao ganharem essa auto- (C) às constantes invasões dos bárbaros germânicos, que leva-
nomia, a classe servil sentiu-se estimulada em aumentar a sua ram à queda do Império Bizantino.
produção uma vez que sendo o tributo Pré-fixado isso criava as (D) à decadência do escravismo romano e ao gradativo processo
condições para eles ampliarem seus ganhos com as vendas dos de êxodo rural.
produtos nos mercados. (E) ao fortalecimento do poder real, devido à distribuição de
Alguns historiadores afirmam que esse fenômeno foi benefícios aos guerreiros fiéis.
responsável pelo surgimento das duas futuras classes que se
oporiam no sistema capitalista: a burguesia e o proletariado. Por 3. (UEMG-2007) Leia, a seguir, o fragmento de uma obra
quê? Bem, os servos ganharam autonomia para comercializar do historiador Marc Bloch.
seus produtos nas cidades e isso os estimulou cada vez mais “De um lado, a língua de cultura, que era, quase uniformemente,
a produzir em maior escala. Por outro lado, eles também esta- o latim; do outro, na sua diversidade, os falares de uso diário.
vam sujeitos às oscilações e variações dos preços dos produtos [...] Esse dualismo era característico da civilização ocidental
nos mercados. Dessa maneira, aqueles que lograram sucesso propriamente dita e contribuía para a colocar fortemente em
na sua relação comercial tornaram-se homens de negócio, atra- oposição aos seus vizinhos: os mundos celta e escandinavo,
vessadores e se libertaram do jugo senhorial por meio de inde- que possuíam ricas literaturas, poéticas e didáticas, em línguas
nização. Outros, menos afortunados, ao não obterem sucesso nacionais; o Oriente grego; o Islão, pelo menos nas zonas real-
almejado nas feiras livres, tornaram-se homens endividados e mente arabizadas”.
sem condições de arcar com as prestações senhoriais.
O resultado disso foi a expulsão em massa daqueles Assinale a alternativa que completa CORRETAMENTE o se-
infelizes dos feudos e a conseqüente migração para as cidades. guinte enunciado:
Em poucos séculos as cidades européias já vislumbravam uma Nesse fragmento, o historiador trata
multidão de vagabundos, crianças órfãs, mães chefes de família, (A) do choque entre culturas, que tem marcado as relações Oci-
trabalhadores que recebiam péssimos salários e extensas jorna- dente e Oriente.
das de trabalho, enquanto uma pequena classe de ricos, denomi- (B) da experiência feudal vivida no Ocidente europeu.
nada de burgueses, enriquecia às custas do trabalho e exploração (C) do desdobramento do Humanismo renascentista no campo
alheia. Esse será um tema melhor detalhado quando tratarmos das letras, com a afirmação dos falares nacionais.
da Revolução Industrial no século XVIII. (D) do obstáculo que o processo de formação dos Estados Na-
cionais Modernos encontrou para a criação de um idioma co-
Para saber mais: mum aos seus habitantes.

Coração Valente. Direção de Mel Gibson, Estados Unidos, 4. (FUVEST-2010) “A instituição das corveias variava de acor-
1995, 177 min. do com os domínios senhoriais, e, no interior de cada um, de
“Peste Negra” - documentário, Estados Unidos, 2005, Produ- acordo com o estatuto jurídico dos camponeses, ou e seus man-
ção: The History Channel, 90 min. sos [parcelas de terra].” Marc Bloch. Os caracteres originais da
O nome da rosa. Direção de Jean-Jacques Annaud. Alemanha, França rural, 1952.
1986, 130 min. Esta frase sobre o feudalismo trata
O poço e o pêndulo. Direção de Stuart Gordon, Estados (A) da vassalagem.
Unidos,1991,103min. (B) do colonato.
El Cid. Direção de A. Mann, Estados Unidos,1961, 184 min. (C) do comitatus.
Extensivo 21

(D) da servidão. regiões da Península Ibérica.


(E) da guilda. (D) os reinos árabes floresceram no sul do continente africano,
nas regiões de florestas tropicais, berço do monoteísmo islâmi-
Observe a figura. co.
(E) os árabes ultrapassaram os Pirineus e mantiveram o domínio
sobre o reino Franco, até o final da Idade Média ocidental.

7. (UNIFESP-2008) Houve, nos últimos séculos da Idade Mé-


dia ocidental, um grande florescimento no campo da literatura e
da arquitetura. Contudo, se no âmbito da primeira predominou
a diversidade (literária), no da segunda predominou a unidade
(arquitetônica).
O estilo que marcou essa unidade arquitetônica corresponde ao
(A) renascentista.
(B) românico.
(C) clássico.
(D) barroco.
(E) gótico.

8. (UFSCar-2008) O Quarto Concílio de Latrão, em 1215, de-


cretou medidas contra os senhores seculares caso protegessem
heresias em seus territórios, ameaçando-os até com a perda dos
domínios. Já antes do Concílio e como consequência dele, as
autoridades laicas decretaram a pena de morte para evitar a dis-
seminação de heresias em seus territórios, a começar por Ara-
gão em 1197, Lombardia em 1224, França em 1229, Roma em
1230, Sicília em 1231 e Alemanha em 1232. (Nachman Falbel.
5. O ícone, pintura sobre madeira, foi uma das manifestações Heresias medievais, 1976.) A respeito das heresias medievais, é
características da Civilização Bizantina, que abrangeu amplas correto afirmar que
regiões do continente europeu e asiático. A arte bizantina re- (A) o termo heresia designava uma doutrina contrária aos prin-
sultou cípios da fé oficialmente declarada pela Igreja Católica.
(A) do fim da autocracia do Império Romano do Oriente. (B) os heréticos eram filósofos e teólogos que debatiam racio-
(B) da interdição do culto de imagens pelo cristianismo primi- nalmente a natureza divina e humana da Trindade no século
tivo. XIII.
(C) do “Cisma do Oriente”, que rompeu com a unidade do cris- (C) a Igreja tinha atitudes tolerantes com os hereges de origem
tianismo. popular, que propunham uma nova visão ética da instituição
(D) da fusão das concepções cristãs com a cultura decorativa eclesiástica.
oriental. (D) os primeiros heréticos apareceram nos séculos XII e XIII
(E) do desenvolvimento comercial das cidades italianas. e defendiam antigas doutrinas difundidas pelo império otoma-
no.
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES: (E) a heresia era conciliável com o poder temporal do Papa, mas
provocou a ruptura das relações entre a Igreja e o Estado.
6. (VUNESP-2009) As caravanas do Sudão ou do Niger trazem
9. (VUNESP-2008) O culto de imagens de pessoas divinas,
regularmente a Marrocos, a Tunes, sobretudo aos Montes da
mártires e santos foi motivo de seguidas controvérsias na histó-
Barca ou ao Cairo, milhares de escravos negros arrancados aos
ria do cristianismo. Nos séculos VIII e IX, o Império bizantino
países da África tropical (...) os mercadores mouros organizam
foi sacudido por violento movimento de destruição de imagens,
terríveis razias, que despovoaram regiões inteiras do interior.
denominado “querela dos iconoclastas”. A questão iconoclasta
Este tráfico muçulmano dos negros de África, prosseguindo
(A) derivou da oposição do cristianismo primitivo ao culto que
durante séculos e em certos casos até os mais recentes, desem-
as religiões pagãs greco-romanas devotavam às representações
penhou sem dúvida um papel primordial no despovoamento
plásticas de seus deuses.
antigo da África. (Jacques Heers, O trabalho na Idade Média.)
(B) foi pouco importante para a história do cristianismo na Eu-
O texto descreve um episódio da história dos muçulmanos
ropa ocidental, considerando a crença dos fiéis nos poderes das
na Idade Média, quando
estátuas.
(A) Maomé começou a pregar a Guerra Santa no Cairo como
(C) produziu um movimento de renovação do cristianismo em-
condição para a expansão da religião de Alá, que garantia aos
preendido pelas ordens mendicantes dominicanas e francisca-
guerreiros uma vida celestial de pura espiritualidade.
nas.
(B) atuaram no tráfico de escravos negros, dominaram a Áfri-
(D) deixou as igrejas católicas renascentistas e barrocas despro-
ca do Norte, atravessaram o estreito de Gibraltar e invadiram a
vidas de decoração e de ostentação de riquezas.
Península Ibérica.
(E) inviabilizou a conversão para o cristianismo das multidões
(C) a expansão árabe foi propiciada pelos lucros do comércio
supersticiosas e incultas da Idade Média europeia.
de escravos, que visava abastecer com mão de obra negra as
22 Da Vinci Vestibulares

10. (UNIFESP-2007) O mosteiro deve ser construído de tal for- 13. Dentre os fatores que possibilitam o reino da França afirmar-
ma que tudo o necessário (a água, o moinho, o jardim e os vários -se como a primeira potência européia no século XIII, podemos
ofícios) exerce-se no interior do mosteiro, de modo que os mon- destacar:
ges não sejam obrigados a correr para todos os lados de fora, (A) O rei da França controla diretamente uma grande e fértil
pois isso não é nada bom para suas almas. (Da Regra elaborada parte dos territórios do reino.
por São Bento, fundador da ordem dos beneditinos, em meados (B) Os reis da França detêm o título imperial e contam com o
do século VI.) O texto revela sustento dos reis da Inglaterra, seus vassalos.
(C) A união incondicional entre a Igreja e os reis franceses per-
(A) o desprezo pelo trabalho, pois o mosteiro contava com os mitiu a reunião de grandes fortunas e extensões de terras férteis,
camponeses para sobreviver e satisfazer as suas necessidades passando a constituir-se um dos primeiros núcleos dos estados
materiais. nacionais.
(B) a indiferença com o trabalho, pois a preocupação da ordem (D) O reino da França é o maior e o mais populoso da uropa.
era com a salvação espiritual e não com os bens terrenos. Os soberanos consolidam as instituições monárquicas e a cen-
(C) a valorização do trabalho, até então historicamente inédita, tralização do poder, exercendo um forte controle sobre a feuda-
visto que os próprios monges deviam prover a sua subsistência. lidade.
(D) a presença, entre os monges, de valores bárbaros germâni-
cos, baseados na ociosidade dos dominantes e no trabalho dos 14. O fenômeno das cruzadas se estende ao longo de dois sécu-
dominados. los de história européia. Desde a conquista de Jerusalém pelos
(E) o fracasso da tentativa dos monges de estabelecer comunida- turcos (séc. XI) até a queda de São João D’Acre, última forta-
des religiosas que, visando a salvação, abandonavam o mundo. leza cristã (séc.XIII) dominada pelos turcos muçulmanos. Das
inúmeras causas da difusão do “espírito da cruzada”, destaca-se:
11. (Mack-2007) Foi nesse terreno de cerca de 3,5 milhões de (A) A necessidade dos abastados nobres europeus de encontrar
km2 e predominantemente desértico que, na primeira quadra do aventura, glória e de obter o principal prêmio: o casamento com
século VII, se constituiu (...) a religião (...), a qual, num espa- uma jovem nobre, bela e rica.
ço de tempo relativamente exíguo, o empolgaria por inteiro, e (B) O cumprimento de uma obrigação religiosa: combater o in-
foi também a partir dele que, na quadra seguinte, os conversos fiel muçulmano era uma ação santa e representava a possibili-
saíram para fazer a sua entrada decisiva no palco da história uni- dade de salvação eterna.
versal, construindo um dos mais poderosos impérios da face da (C) A presença de um profundo zelo religioso, característico da
Terra e ampliando de maneira considerável o número de adeptos medievalidade, acompanhada de motivos econômicos e sociais
da nova fé. Adaptado de Mamede M. Jarouche, Revista Entre da Europa.
Livros, nº 3. (D) A predominância de interesses econômicos das cidades co-
merciais que desejavam expandir suas atividades mercantis.
O texto acima faz menção a uma religião
(A) que abriga a crença na existência de vários deuses, todos 15. (UECE-2007) A “morte” do estado, como era concebida no
eles personificações dos astros (sobretudo o Sol) e de fenôme- mundo antigo, coincide com a afirmação do feudalismo.
nos da natureza (como o raio e o trovão). Isso pode ser explicado, pois:
(B) cuja denominação (Islã) indica um de seus mais importantes (A) A autoridade central delegou cada vez mais o exercício dos
princípios, ou seja, a submissão do fiel à vontade de Alá, “único poderes públicos aos senhores feudais, que se tornaram pratica-
Deus”. mente soberanos em seus feudos.
(C) que possui entre seus dogmas a absoluta intolerância em (B) A figura do soberano se reduz àquela de um fantoche nas
relação a povos de religiões diversas, ineptos para a conversão e mãos da Igreja e dos grandes senhores feudais.
para os quais resta, apenas, o extermínio pela guerra. (C) A nobreza aproveitou-se para conseguir, do poder do sobe-
(D) cujos fiéis devem praticar a antropofagia ritual, considerada rano, concessões cada vez maiores, como a hereditariedade dos
fonte de virilidade e bravura guerreira. feudos.
(E) que suprimiu completamente a crença em profetas (“os (D) O controle das freqüentes insurreições camponesas contra o
anunciadores da vontade de Deus”) e em anjos (“os protetores abuso de poder dos senhores e do mal governo torna-se difícil.
dos homens”).

12. (UNIFESP-2007) Sobre as cidades européias na época mo-


derna (séculos XVI a XVIII), é correto afirmar que, em termos
gerais,
(A) mantiveram o mesmo grau de autonomia política que ha-
viam gozado durante a Idade Média.
(B) ganharam autonomia política na mesma proporção em que
perderam importância econômica.
(C) reforçaram sua segurança construindo muralhas cada vez
maiores e mais difíceis de serem transpostas.
(D) perderam, com os reis absolutistas, as imunidades políticas
que haviam usufruído na Idade Média.
(E) conquistaram um tal grau de auto-suficiência econômica
que puderam viver isoladas do entorno rural.
Extensivo 23

MÓDULOS 5 E 6: O RENASCIMENTO E em formação. Alguns autores afirmam que as Monarquias Na-


AS GRANDES NAVEGAÇÕES. cionais foram verdadeiros estados representantes da burguesia
em ascensão. Já outros, como Perry Anderson, assinalam o cará-
ter aristocrático e feudal dos Estados Nacionais que emergiram
das ruínas do Feudalismo. Mas, ao analisar o nascimento das
Monarquias é preciso cautela e buscar entender as particulari-
dades de cada um deles.
Certamente o caso clássico e que mais se aproximou
daquilo que ficou consagrado como “estado absolutista” foi o
caso Francês, sobretudo, na época de Luis XIV, o Rei Sol. Mas
esse modelo não se aplicaria em situações como a Inglaterra,
onde os reis nunca submeteram os poderes locais ao centralismo
político, o que explica até hoje o caráter de uma monarquia
constitucional. Também não se pode dizer o mesmo dos Estados
Português e Espanhol, ambos, fruto do processo de Reconquis-
ta dos territórios da Península Ibérica ocupados pelos Mouros.
Também não se aproveita esse modelo explicativo aos casos
dos estados nacionais formados tardiamente: Alemanha e Itália.
Ainda poderíamos citar os casos dos Países Baixos – Holanda
-, Rússia e outras nações do Leste Europeu. Por tanto, o modelo
Figura 9 - O Homem Vitruviano explicativo clássico nos serve para compreendermos alguns ca-
sos de monarquias surgidas na Europa Ocidental, emparticular
RENASCIMENTO E CULTURA CITADINA o caso da França.
Para os historiadores Christopher Hill e René Rémond,
A nova historiografia tem tratado o fenômeno conhe- a monarquia inglesa constitui um caso peculiar e especifico, de-
cido como Renascimento de uma maneira mais ampla do que vido ao modo pelo qual o poder político se organizou no país,
tradicionalmente era feito. Para historiadores como Jean Delu- após o século XI, com assinatura da Carta Magna (1215). Es-
meau o Renascimento, longe de ter sido apenas e tão somente tatuto político tipicamente feudal, a Magna Carta não pretendia
um fenômeno artístico e cultural ocorrido na Itália, ele represen- ser um documento popular, no sentido de garantir liberdades ao
tou a convergência de episódios sem precedentes na História da cidadão comum. Ela estabelecia os limites do poder real, fixan-
humanidade ocorridos nos vários países que se formavam na do os direitos e deveres da monarquia e de seus vassalos da alta
Europa Moderna. E não foram apenas mudanças do ponto de nobreza. Mas quando foi instituído o Parlamento na Inglaterra,
vista da estética nas artes, foi algo muito mais profundo do que no século XIII, seu alcance se estendeu.
isso.Vejamos então o porquê disso. O Parlamento era composto pela Câmara dos Lordes,
Desde a Alta Idade Média, muitas contribuições cientí- que reunia nobres leigos e eclesiásticos, estes escolhidos pelo
ficas foram gestadas, ainda que a Igreja Católica tentasse impe- rei, e pela Câmara dos Comuns, formadas por elementos da bai-
dir o avanço da ciência. Mas, foi na aurora da modernidade que xa nobreza (gentry) eleitos por voto censitário (voto vinculado
brotaram uma série de inventos científicos que mudaram os ru- a posse do eleitor). As duas Câmaras passaram a exercer fun-
mos da história européia e do restante do mundo. Em primei ro ções legislativas e a controlar a cobrança dos tributos do Estado.
lugar falemos das inovações marítimas, quando as novas em- O modelo de Estado Nacional permanece desenvolvido na
barcações, como as caravelas movidas à força dos ventos possi- Inglaterra entre os séculos XIII e XVII permanece objeto de
bilitou a conquista de novos continentes pelos europeus. discussão. As várias correntes historiográficas diferem quanto
Além dos vasos de grandes calados - caravelas, naus, a apresentação da monarquia inglesa, mostrando-a ora como
galeras - a invenção da bússola, do barômetro, a ampliação das absolutista, ora como aristocrática autoritária.
cartas geográficas, orientaram os navegadores nas investidas no A discussão gira em torno da divisão dos poderes: ar-
mar alto – Oceano Atlântico – fazendo-os chegar a lugares mais gumento utilizado pelos adeptos da segunda teoria é o de que os
longínquos de sua terra natal. Ademais, o invento do canhão, poderes Executivos, Legislativo e Judiciário não se concentra-
dos mosquetes e de outros tipos de armas de fogo, com a incor- vam nas mãos do soberano.
poração da pólvora chinesa, deu aos ocidentais a supremacia
bélica sobre os demais povos do globo e foram as responsáveis A Primazia Portuguesa
pelas conquistas e colonização dos vários continentes.
A própria expansão marítima e comercial foi um fenô- Portugal foi o primeiro país a se lançar na jornada ul-
tramarina e a instaurar um Império Colonial, ao lado da Espa-
meno típico da modernidade e fez parte do Renascimento.
nha. A primazia portuguesa se explica por várias razões, dentre
elas destaquemos as seguintes:
Os Estados Nacionais 1-A precoce formação do seu estado nacional de caráter capita-
lista, ocorrido em 1140.
O nascimento dos Estados Nacionais na Europa, entre os sécu- 2-A Escola de Sagres como centro de formação de grandes na-
los XIV ao XVIII, foi resultado do enfraquecimento dos pode- vegadores.
res locais; do sentimento de insegurança que permeava a men- 3-A tradição portuguesa de ser uma região da Península Ibérica
talidade senhorial, temerária por conta das crescentes revoltas exportadora de pescados e sal, o que significa dizer que parte
camponesas; do surgimento do capitalismo e como resultado da de sua população já vivia de atividades econômicas ligadas ao
complexidade econômico, político e social desse novo sistema oceano.
24 Da Vinci Vestibulares

4-A formação de uma classe de comerciantes com vocação para Leão, Navarra e Aragão, o que proporcionou a implantação de
o comércio de longa distância e ansiosa por descobrir novos um modelo de feudalismo muito particular, ao mesmo tempo
caminhos que os levasse às índias. em que as guerras levavam à formação do poder da monarquia.
5-interesses comuns entre Rei, Igreja Católica e classe burgue- Entre os episódios que marcaram o período, eviden-
sa na busca de novas áreas por conquistar. ciam-se o casamentos dos reis católicos, Fernando de Aragão e
No limite das nossas explicações é de bom alvitre sa- Isabel de Castela e a formação do Reino da Espanha.
lientarmos as principais características gerais das Monarquias Colombo: o grande navegador:
Nacionais européias: O limitado conhecimento marítimo dos espanhóis fez
♦ Exército permanente formado muitas vezes por mercenários. com que eles buscassem inspiração nas experiências de outros
♦ Burocracia permanente e letrada. países europeus, como Por tugal e Itália.
♦ Sistema fiscal nacional. No início da década de 1490, um navegador genovês,
♦ Codificação do direito e os princípios do mercado. Cristovão Colombo, propôs aos reis católicos um plano para
♦ Retomada do Direito Romano como base jurídica das leis. chegar às Índias, apoiado na teoria da esfericidade da terra. As-
♦ Manutenção dos privilégios da classe nobre por meio da con- sim, financiado pela Coroa espanhola, Colombo descobriu em
cessão de cargos públicos e pensões vitalícias. (Renda Feudal 1492, o continente americano.
Centralizada). Em vista das viagens espanholas, estabeleceu-se a
♦ Mercantilismo como modelo econômico ditado pelo Estado competição internacional entre Espanha e Por tugal. A contenda
como gestor dos negócios em função dos interesses da Nobreza. inicialmente foi resolvida pela autoridade religiosa, uma vez
♦ Belicismo como prolongamento da tradição Feudal – con- que se tratava de dois países católicos, com a Igreja representada
quistar para pilhar. na época pelo Papa Alexandre VI. A mediação entre os dois pa-
♦ Inexistência de fronteiras entre o público e o privado. íses foi estabelecida, em 1493, através da Bula Inter Coetera,
♦ Nacionalismo latente, sistema mercantil como marca da resultado que não agradou aos portugueses, uma vez que através
presença da burguesia ascendente. daquela divisão, utilizando como referência 100 milhas a oeste
do Arquipélago de Cabo Verde, determinava que Portugal fica-
ETAPAS DA EXPANSÂO PORTUGUESA ria com a parte Leste e a Espanha,com a parte Oeste. Ou seja,
o continente americano como um todo pertenceria à Espanha
O processo de expansão portuguesa iniciado em 1415 ficando Por tugal apenas com águas do Atlântico. Após vários
com a conquista de Ceuta, ao norte da África, lançou-se à na- desentendimentos, as duas nações entraram num acordo e assi-
vegação do litoral africano. Completou o contorno ocidental em naram, em 1494, o Tratado de Tordesilhas.
1488, quando Bartolomeu Dias dobrou o cabo da Boa Esperan- Para melhor compreensão dos conflitos entre Espanha
ça (antes conhecido como Cabo das Tormentas), no extremo sul e Portugal envolvendo terras descobertas e a descobrir, observe
do continente africano. Esse feito completou-se o mapa da divisão do mundo abaixo.
em 1498, com o estabelecimento, por Vasco da Gama, do novo
caminho para a Índia.
Ao procurar regularizar as viagens para o Extremo
Oriente, seu objetivo maior, usando a rota já definida por Vasco
da Gama, os portugueses acabaram por atravessar o Atlântico
no seu sentido leste-oeste e chegaram ao continente sul-ameri-
cano em 1500.
Na compreensão do “Descobrimento do Brasil, pro-
cesso histórico que preferimos chamar de invasão e conquista
sangrenta, esse fato está relacionado com o processo de reco-
nhecimento, uma vez que desde o ano de 1494, com a assina-
tura do Tratado de Tordesilhas, Por tugal já sabia que possuía
terras naquela parte da América. Para melhor visão, recorremos
à cronologia dos acontecimentos portugueses na expansão.

Navegação Espanhola

Antecedentes – depois de Por tugal, foi a Espanha o país mais


importante no processo das grandes navegações. A participa-
ção espanhola nas navegações iniciou-se nos fins do século XV
com a viagem de Cristovão Colombo e resultou na formação de
um imenso Império Colonial na América. É bom salientar que
a construção desse império custou aproximadamente a vida de
25 milhões de ameríndios que aqui viviam e foram massacrados
durante as guerras de conquista, mortos pelas epidemias ou ex-
terminados
pelo excessivo trabalho escravo aos qual foram submetidos.
No século XV, a Espanha deu prosseguimento à Re-
conquista iniciada no século XI na Península Ibérica, ocupada Figura 10 - O tratado de Tordesilhas. Fonte:http://www.lai.at/wis-
pelos mouros e Judeus. Foi assim que surgiram os reinos de senschaft/lehrgang/semester/ss2005/rv/files/
Extensivo 25

A Expansão inglesa, francesa e holandesa dades cometidos pelos europeus, as epidemias como o cólera,
a varíola, o tifo, a sífilis transmitida sexualmente, o sarampo e
Inglaterra, França e Holanda, comparadas com Por tu- outros tipos de doenças também mataram milhares de comu-
gal e Espanha, tiveram uma participação tardia na expansão, e nidades nativas americanas. Além das doenças contagiosas, as
em função do Tratado de Tordesilhas que, de validade inter- mulheres indígenas foram alvo de estupros e se viram obrigadas
nacional, impedia a navegação das outras nações europeias na a conviver maritalmente com conquistadores que praticavam a
região do Atlântico. Aquelas nações recorreram à prática da pi- poligamia abertamente longe dos olhos da igreja Católica ou
rataria do corso. Ainda assim, mesmo que tardiamente, essas contando com a cumplicidade dos jesuítas que aqui chegaram
nações conquistaram algumas possessões como podemos obser- com a missão de “evangelizar”.
var nas descrições abaixo. Como se não bastasse todo tipo de exploração e sub-
missão do povo autóctone, na América espanhola a implantação
♦ Expansão Francesa- Não ocorreu no século XV, e sim no dos tribunais da Inquisição no México, na Colômbia, no Peru
século XVI, em função dos problemas internos, como a Guerra assassinaram em praças públicas milhares de chefes religiosos
dos Cem Anos e as lutas entre o poder centralizador da realeza e indígenas, os xamãs, os quais foram queimados vivos em fo-
a nobreza Feudal. Na década de 1520, o poder central, no gover- gueiras sob a acusação de serem feiticeiros. Em poucos anos
no de Francisco I, liderava a expansão, contestando o Tratado praticamente a maior parte das lideranças religiosas ameríndia
de Tordesilhas e atacando, principalmente a América Portugue havia sido exterminada. Ainda assim, a religião tida como pagã
sa. Lançaram-se os fundamentos de um Império Colonial da dos aborígenes sobreviveu de modo sorrateiro, pois os índios
América do Norte (Canadá e Lousiana). Também foram con- continuaram a praticar os seus cultos sagrados escondidos e ve-
quistados alguns pontos na Índia. nerar os seus ancestrais em locais onde o poder repressor da
♦ Expansão inglesa – Os ingleses também tiveram que esperar igreja Católica não tinha alcance.
o século XVI para iniciar a expansão; Isso devido a duas guerras Nos primeiros séculos a mão-de-obra indígena serviu
que envolveram a Grã-Bretanha: a Guerra dos Cem Anos e a como base de exploração para a execução dos mais variados ti-
Guerra das Duas Rosas. Mas foi no primeiro reinado de Henri- pos de trabalho na extração da riqueza da América. As primeiras
que XVIII que os ingleses começaram a procurar uma passagem áreas a serem exploradas foram as Ilhas do Caribe, a exemplo de
para a Ásia, pelo extremo norte da América. Desse Cuba, onde Cortez fincou o estandarte da conquista.
modo,estabeleceram pontos na costa da Índia. No Reinado de Lá a população autóctone foi rapidamente dizimada e,
Elizabeth I, foi realizada a viagem de circunavegação, sob o como os conquistadores não acharam imediatamente metais pre-
comando de Francis Drake. Devemos destacar, nesse período, a ciosos, partiram então para a conquista do continente, território
pirataria oficializada contra a Espanha, quando as atividades de desconhecido, mas bastante atraente em razão da exuberância
pirataria passaram a contar com o apoio do poder real através da natureza, da riqueza da fauna, da flora e da perspectiva que
da Carta do Corso. Ainda no século XV, os ingleses iniciaram se criava em torno da descoberta das minas de ouro e da prata.
o tráfico de escravos, comércio de seres humanos que tornaria Ao desembarcarem no continente os procedimentos
a Inglaterra uma das maiores potências econômicas do globo. não foram diferentes. Maus-tratos, escravização do aborígene e
Ironicamente, mais tarde, no século XIX, seria a própria a Ingla- assassinatos daqueles que resistiam à dominação espanhola. O
terra a defensora incondicional da abolição do tráfico de cativos constante decréscimo populacional provocado pelos crimes e
africanos. Certamente não foram as razões humanitárias que de- doenças contagiosas, criou as condições para a implantação do
terminaram tal posição. trabalho escravo do africano. A escravização de africanos já não
♦ Expansão holandesa- Apesar de ter conhecido um precoce era nenhuma novidade, pois este já havia sido experimentado
desenvolvimento comercial na Baixa Idade Média e de possuir nas Ilhas de Madeira, açores e no Mediterrâneo. Porém, ago-
grandes cidades com uma burguesia poderosa, a Holanda, po- ra se tratava de uma diáspora sem precedentes, onde milhões
liticamente, pertencia à Espanha. Inicialmente, a participação de africanos foram obrigados a imigrar para outro continente
da Holanda foi indireta, através do financiamento da expansão a fim de serem submetidos a trabalhos exaustivos, os quais en-
marítima portuguesa. À medida que Por tugal declinava do seu curtavam a vida desses seres humanos. A escravidão africana
comércio com a Ásia, passando a se interessar mais pelo Brasil, também faria parte de todo um sistema altamente rentável do
a Holanda assumia a dianteira do comércio asiático, ao mesmo comércio internacional da economia nascente capitalista, a qual
tempo em que assumia grande parte dos lucros com a implan- ligava colônia americana, tráfico de seres humanos e circulação
tação da agroindústria no atual Nordeste brasileiro. Além disso, de mercadorias a nível mundial.
os holandeses foram os grandes pioneiros no tráfico de escravos A principal função da colônia era fornecer as riquezas
de origem africana, abastecendo não só o Brasil, mas também para as nações européias em formação, sobretudo os metais pre-
muitas ilhas do Caribe, onde as plantações de cana e de café ciosos para a cunhagem da moeda. Ademais, com o crescimento
foram desenvolvidas. demográfico, novas áreas de cultivo se faziam necessárias para
alimentar a população que se avolumava nas cidades. A busca
A Conquista da América desesperada pela prata e pelo ouro levou os espanhóis a aden-
trarem cada vez mais no interior do continente americano na
O processo de conquista e colonização do continente busca de jazidas e da lenda do “El Dourado”. Dentre as minas
americano foi um dos mais trágicos episódios da História da mais famosas do período colonial destacou-se a de Potosi, no
humanidade. Calcula-se que somente nos primeiros cem anos Peru. Ali, durante quatro séculos, milhares de vidas humanas de
de contato do homem branco com os ameríndios, aproximada- africanos e indígenas foram consumidas na extração incessante
mente 25 milhões de aborígenes morreram em guerra, por do- de toneladas da prata existente naquele lugar. Para se ter uma
enças ou devido à exploração excessiva do trabalho escravo nas idéia, Potosi se tornou a mais populosa cidade do Novo mundo
minas e nas lavouras. Além dos mais, variados tipos de atroci- em um curto espaço de tempo.
26 Da Vinci Vestibulares

No curso da conquista espanhola, a coroa buscou esta- SAIBA MAIS


belecer mecanismos de controle administrativos para impedir a
perda do território e mesmo a prática do contrabando. Foram “Na cidade colonial de Potosi, a extração da prata proporcio-
criados os vice-reinos, entre os quais se destacaram o do Mé- nou a criação de extraordinária riqueza ao lado da organiza-
xico, o do Peru e mais tarde o do Rio da Prata, onde hoje estão ção de um perverso sistema de exploração do trabalho indí-
localizados os atuais países da Argentina e Uruguai. Instituições gena. O cerro de Potosi foi provavelmente a mais importante
judiciárias, como as corregedorias, audiências e os Cabildos jazida de prata do mundo em todos os tempos. Continuamente
formavam as instâncias governativas do sistema colonial. explorada por quatro séculos, proporcionou à Espanha, du-
Enquanto no continente as regiões foram se especiali- rante o período colonial, a impressionante soma 30.000 to-
zando na produção de gêneros voltados para a exportação e para neladas de prata. A instituição da Mita – a forma de trabalho
o consumo interno, nas Antilhas o predomínio das plantations forçado utilizada pelos espanhóis para submeter os índios
exigia cada vez mais um número maior de africanos para o tra- – tornou-se tristemente célebre e deu origem a uma verda-
balho nas lavouras. Em Ilhas como Cuba, Barbados, Santo Do- deira leyenda negra. Descoberta a prata em Potosi, em 1545,
mingo, Guianas, o plantio de café e da cana-de-açúcar passou imediatamente iniciou-se a retirada do metal pelos espanhóis.
a se intensificar por estes terem ser tornado produtos muito va- Se no início, os mineradores encontravam a prata em veios
lorizados no mercado internacional, sobretudo na Europa. correndo na superfície e nas partes mais altas das montanhas,
No continente, controlado pelos espanhóis, no Méxi- rapidamente foi necessária a escavação de túneis para dentro
co as haciendas de criação de animais, o cultivo de hortifrutes da montanha, tornando a tarefa de exploração cada vez mais
abastecia o mercado interno com couro, a carne, o leite e os perigosa e insalubre. Em 1573, os túneis haviam atingido a
produtos retirados do solo. Mais ao Sul, na Península de Yucatã profundidade de 200 metros. Todos os índios do sexo mas-
a valorização do anil, da cochinilha, do café e do cacau se desta- culino, entre 18 e 50 anos, distribuídos numa determinada
caram, assim como ocorrera na Venezuela. Na região do Rio da região próxima a Potosi, estavam submetidos à mita, sendo
Prata, pelas características das pradarias expandiu-se a criação obrigados a prestar serviço nas minas por um período de qua-
de gado de corte. tro meses a cada quatro anos, recebendo uma remuneração
Na Colômbia, a riqueza dos minerais, principalmente para tanto. Entretanto, esse prazo dificilmente era cumprido
do ouro fizeram com que os conquistadores corressem imedia- e os relatos sobre o infierno que era estar dentro da montanha
tamente para aquela região e construíssem uma cidade-fortaleza de Potosi foram constantes. O Vice-rei do Peru, Francisco de
denominada Cartagena de Índias, cujas largas muralhas até hoje Toledo, que chegou em 1569, foi o grande responsável pelo
se mantém de pé e é alvo de visitas de milhares de turistas o ano sistema de controle da exploração da prata, pela organização
inteiro. Por diversas vezes aquela cidade fora atacada por cor- do trabalho da mita e pelas regras de urbanização de Potosi.
sários franceses e ingleses cujos objetivos era saquear a cidade Impressiona pensar que a população de potosi em 1573, se-
e roubar os muitos quilos de ouro guardados na casa da moeda gundo certos estudiosos, chegava a 120.000 habitantes, 90%
existente no interior da cidade emuralhada. dos quais eram indígenas; no mesmo ano, para uma compara-
Todas as cidades, povoados e Cabildos (Câmaras Mu- ção, a importante e comercial cidade de Sevilha tinha 90.000
nicipais) foram erguidas sobre as ruínas dos antigos Impérios pessoas.” IN: PRODANOV, Cleber Cristiano. Cultura e So-
mais conhecidos das Américas: No vale central do México, Her- ciedade Mineradora. Potosi. 1569-1670. São Paulo, Annablu-
nán Cortés em 1519 comandou uma tropa de aproximadamente me, 2002. PP.13-14.
150 homens e algumas dezenas de cavalos que, ao chegarem às
portas da cidade de Tenochtitlán, capital do Império Asteca, já
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
somavam milhões de adeptos, pois no curso do caminho em di-
reção à capital os índios foram se juntando às forças espanholas
1. (Vunesp-1999) A partir do século XII, em algumas regiões
sob a falsa ilusão de que eles seriam os libertadores da política
européias, nas cidades em crescimento, comerciantes, artesãos
imperialista de montezuma, o monarca dos Astecas.
e bispos aliaram-se para a construção de catedrais com grandes
Na Península de Yucatã, quando os espanhóis chega-
pórticos, vitrais e rosáceas, produzindo uma “poética da luz”,
ram àquela região, os Maias já haviam desaparecido por cir-
abóbodas e torres elevadas que dominavam os demais edifícios
cunstâncias ainda pouco conhecidas. E no Alto Peru, Francisco
urbanos. O estilo da arte da época é denominado:
Pizarro, seus irmãos e Diego de Almagro chefiaram o grande
(A) renascentista.
massacre que pôs fim a uma das mais belas sociedades existen-
(B) bizantino.
tes na Cordilheira dos Andes.
(C) românico.
Esses pequenos detalhes servem apenas para ilustrar
(D) gótico.
que bem diferente do que a História Oficial durante muito tem-
(E) barroco.
po tentou reproduzir, a conquista da América foi marcada pelo
extermínio de milhões de seres humanos, a violação da sua cul-
2. O Humanismo foi um movimento que não pode ser definido
tura e o completo desrespeito ao seu modo de vida. Mesmo as-
por:
sim, os aborígenes mostraram capacidade de resistência e não é
(A) ser um movimento diretamente ligado ao Renascimento,
sem razão que ainda hoje somos capazes de vislumbrar rituais
por suas características antropocentristas e individuais.
sagrados que todos os anos se repetem nas mais diferentes áreas
(B) ter uma visão do mundo que recupera a herança grecoroma-
das Américas, como é o caso do Iti Hainin, culto em homena-
na, utilizando-a como tema de inspiração.
gem à colheita do milho.
(C) ter valorizado o misticismo, o geocentrismo e as realizações
culturais medievais.
(D) centrar se no homem, em oposição ao teocentrismo, enca-
Extensivo 27

rando-o como “medida comum de todas as coisas”. (D) um ideal de equilíbrio, expresso pela noção de distribuição
(E) romper os limites religiosos impostos pela Igreja às mani- simétrica de volumes e cores na superfície pintada.
festações culturais. (E) a liberdade do artista no momento de realização de seu tra-
balho, exprimindo suas paixões e seus sentimentos mais exal-
3. O Renascimento, amplo movimento artístico, literário e cien- tados.
tífico, expandiu-se da Península Itálica por quase toda a Europa,
provocando transformações na sociedade. Sobre o tema, é cor- EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:
reto afirmar:
(A) O racionalismo renascentista reforçou o princípio da autori- 6. (FUVEST) Observe o mapa:
dade da ciência teológica e da tradição medieval.
(B) Houve o resgate, pelos intelectuais renascentistas, dos ide-
ais medievais ligados aos dogmas do catolicismo, sobretudo da
concepção teocêntrica de mundo.
(C) Nesse período, reafirmou-se a idéia de homem cidadão, que
terminou por enfraquecer os sentimentos de identidade nacio-
nal e cultural, os quais contribuíram para o fim das monarquias
absolutas.
(D) O humanismo pregou a determinação das ações humanas
pelo divino e negou que o homem tivesse a capacidade de agir
sobre o mundo, transformando-o de acordo com sua vontade e
interesse.
(E) Os estudiosos do período buscaram apoio na observação,
no método experimental e na reflexão racional, valorizando a Explique:
natureza e o ser humano.
a) Por que não estão representados todos os continentes?
4. Em O RENASCIMENTO, Nicolau Sevcenko afirma:
“O comércio sai da crise do século XIV fortalecido. O mesmo
ocorre com a atividade manufatureira, sobretudo aquela ligada b) Quais os conhecimentos necessários na época, final do século
à produção bélica, à construção naval e à produção de roupas e 15, para se confeccionar um mapa com essas características?
tecidos, nas quais tanto a Itália quanto a Flandres se colocaram
à frente das demais. As minas de metais nobres e comuns da 7. (UERJ)
Europa Central também são enormemente ativadas. Por tudo
Isso muitos historiadores costumam tratar o século XV como Mar Português
um período de Revolução Comercial.”
A Revolução Comercial ocorreu graças: Ó mar salgado, quanto do teu sal
(A) às repercussões econômicas das viagens ultramarinas de São lágrimas de Portugal!
descobrimento. Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
(B) ao crescimento populacional europeu, que tomava impera- Quantos filhos em vão rezaram!
tiva a descoberta de novas terras onde a população excedente Quantas noivas ficaram por casar
pudesse ser instalada. Para que fosses nosso, ó mar!
(C) a uma mistura de idealismo religioso e espírito de aventura, Valeu a pena? Tudo vale a pena
em tudo semelhante àquela que levou à formação das cruzadas. Se a alma não é pequena.
(D) aos Atos de Navegação lançados por Oliver Cromwell. Quem quere passar além do Bojador
(E) à auto-suficiência econômica lusitana e à produção de exce- Tem que passar além da dor.
dentes para exportação. Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
5. Leonardo da Vinci foi, além de artista, um dos teóricos de arte (Fernando Pessoa)
do Renascimento italiano. Em seu Tratado de Pintura escreve
que a beleza consiste numa gradação de sombra — “Demasiada O poema de Fernando Pessoa descreve aspectos da expansão
luz é agressiva;demasiada sombra impede-se que se veja” — e, marítima portuguesa no século XV, dando início a um movi-
mais à frente, define a pintura como imitação de “todos os pro- mento que alguns estudiosos consideram um primeiro processo
dutos visíveis da natureza (...) todos banhados pela sombra e de globalização. Identifique duas motivações para a expansão
pela luz.” A partir destes fragmentos do Tratado de Pintura, portuguesa e explique por que essa fase de expansão pode ser
pode-se concluir que a concepção artística do Renascimento considerada um primeiro processo de globalização.
pressupõe
(A) um trabalho desenvolvido pelo artista dentro de ateliês, con- 8. (UFG) Pensando no tema fronteiras, é perceptível o estabele-
siderando que o controle da iluminação se torna fundamental. cimento de uma nova ordenação do espaço, resultante das gran-
(B) uma associação entre estética e luz, entendendo a luz, em des navegações. As novas descobertas redefiniram, no século
uma perspectiva teocêntrica, como a presença de Deus no mun- XVI, a concepção de mundo que se abria ante o desconhecido
do. . Neste sentido, analise a configuração espacial do mundo no
(C) a separação entre o desenho, a representação do movimento, século XVI, destacando as rivalidades e conflitos decorrentes da
os limites da figura e o fundo ou a atmosfera. expansão marítima e comercial.
28 Da Vinci Vestibulares

9. (UFRJ) Leia o texto adiante sobre a expansão comercial e (B) a Espanha, com base no Tratado de Tordesilhas, impedia a
marítima portuguesa e, com base nele, responda às questões a resença portuguesa nas Américas, policiando a costa com expe-
seguir. dições bélicas.
Em 1498, o português Vasco da Gama consegue che- (C) as forças e atenções dos portugueses convergiam para o
gar a Calicute, nas Índias, contornando o Cabo da Boa Esperan- Oriente, onde vitórias militares garantiam relações comerciais
ça. Em seguida, as frotas portuguesas procuraram estabelecer lucrativas.
um maior controle do oceano Índico. À medida que as rotas de (D) os franceses, aliados dos espanhóis, controlavam as tribos
navegação se consolidam, Portugal centraliza o comércio das indígenas ao longo do litoral bem como as feitorias da costa
especiarias alterando o papel a ser desempenhado pelas cidades sul-atlântica.
de Gênova e Veneza. THEODORO, J. “Descobrimentos e Re- (E) a população de Portugal era pouco numerosa, impossibili-
nascimento”. São Paulo: Contexto, 1991. p. 20. tando o recrutamento de funcionários administrativos.

a) Mencione duas razões que explicam o pioneirismo português 14. (UFPI) O período da nossa história conhecido como Pré-
nas navegações e descobrimentos dos -colonizador pode ser caracterizado pelos seguintes pontos:
séculos XV e XVI. I. A descoberta de metais preciosos, particularmente, prata e
diamantes na região amazônica.
b) Estabeleça uma relação entre práticas mercantilistas e a as- II. A montagem de estabelecimentos provisórios, conhecidos
sim chamada expansão comercial e marítima. como feitorias, onde eram feitas trocas comerciais entre os na-
vegantes portugueses e os povos indígenas do Brasil.
10. (UNICAMP) Contestando o Tratado de Tordesilhas, o rei da III. A criação das cidades de São Vicente e Desterro no litoral da
França, Francisco I, declarou em 1540: América Portuguesa.
“Gostaria de ver o testamento de Adão para saber de que forma IV. A utilização da mão-de-obra indígena para a exploração de
este dividira o mundo.” (Citado por Cláudio Vicentino, HISTÓ- madeira, particularmente, do pau-brasil.
RIA GERAL, 1991)
Dentre as afirmativas anteriores estão corretas apenas:
a) O que foi o Tratado de Tordesilhas? (A) I e II
(B) II e III
b) Por que alguns países da Europa, como a França, contesta- (C) II e IV
vam aquele tratado? (D) III e IV
(E) I e IV
11. (UNICAMP) A expansão marítima da Península Ibérica (Es-
panha e Portugal) nas Américas foi orientada por um projeto co- 15. (Pucmg) Sobre o expansionismo ultramarino europeu, entre
lonizador que, além da exploração econômica das terras, tinha os séculos XV-XVII, é correto afirmar que, EXCETO:
por objetivo a imposição de uma cultura européia e cristã. (A) a tomada de Constantinopla pelos turcos e a segunda con-
quista de Ceuta pelos portugueses são os marcos iniciais da ex-
Qual foi o papel da Igreja Católica nesse projeto colonizador? pansão.
(B) os descobrimentos e a colonização das terras do Novo Mun-
do constituíram-se num desdobramento da expansão comercial.
12. (FUVEST) Sobre o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 (C) o afluxo de metais preciosos das áreas coloniais, principal-
de junho de 1494, pode-se afirmar que objetivava: mente ouro e prata, contribuiu para a superação da crise econô-
(A) demarcar os direitos de exploração dos países ibéricos, ten- mica europeia.
do como elemento propulsor o desenvolvimento da expansão (D) o deslocamento do eixo econômico do Mediterrâneo para
comercial marítima. o Atlântico contribuiu para a ampliação das fronteiras geográ-
(B) estimular a consolidação do reino português, por meio da ficas.
exploração das especiarias africanas e da formação do exército (E) a consolidação dos Estados Nacionais e a absolutização dos
nacional. regimes europeus têm relação também com os efeitos das via-
(C) impor a reserva de mercado metropolitano, por meio da gens ultramarinas.
criação de um sistema de monopólios que atingia todas as ri-
quezas coloniais.
(D) reconhecer a transferência do eixo do comércio mundial do
Mediterrâneo para o Atlântico, depois das expedições de Vasco
da Gama às Índias.
(E) reconhecer a hegemonia anglo-francesa sobre a exploração
colonial, após a destruição da Invencível Armada de Felipe II,
da Espanha.

13. (FUVEST) Os portugueses chegaram ao território, depois


denominado Brasil, em 1500, mas a administração da terra só
foi organizada em 1549. Isso ocorreu porque, até então,
(A) os índios ferozes trucidavam os portugueses que se aventu-
rassem a desembarcar no litoral, impedindo assim a criação de
núcleos de povoamento.
Extensivo 29

MÓDULOS 7 : REFORMA E CONTRARREFORMA lismo emergente, eram vistos como práticas condenáveis pelos
religiosos. Por outro lado, o papa arrecadava dinheiro para a
ANTECEDENTES construção da basílica de São Pedro em Roma, com a venda das
indulgências (venda do perdão).
Desde o renascimento do Sacro Império Romano por No campo político, os reis estavam descontentes com
Otão I em 962, os Papas e os Imperadores envolveram-se numa o papa, pois este interferia muito nos comandos que eram pró-
contínua luta pela supremacia ( A Querela das Investiduras). prios da realeza.
Este conflito resultou geralmente em vitórias para o partido pa- O Cisma do Ocidente (1378-1417) fragilizou gra-
pal, mas criou um amargo antagonismo entre Roma e o Império vemente a autoridade pontifícia e tornou premente a ne-
Germânico, o qual aumentou com o desenvolvimento de um cessidade de reformar a Igreja. O Renascimento e a in-
sentimento nacionalista na Alemanha durante os séculos XIV e venção da imprensa reacenderam as críticas à Igreja: a
XV. O ressentimento contra os impostos do Papa e a submissão corrupção e hipocrisia do clero em geral e, em particular, a ig-
do clero à autoridade distante e estrangeira do Papado manifes- norância e superstição das ordens mendicantes; a ambição dos
tou-se também noutros países da Europa. Papas, cujo poder temporal originava divisões entre os crentes;
No século XIV, o reformador inglês John Wycliff e a teologia das escolas responsável pela deturpação e desuma-
distinguiu-se por traduzir a Bíblia, contestar a autoridade pon- nização da mensagem cristã.. Estas críticas serviram de base
tifícia e censurar o culto dos santos das relíquias. Jan Hus di- a Martinho Lutero e João Calvino para clamarem pela Bíblia,
fundiu aquelas doutrinas na Boémia e pugnou pela criação de mais do que a Igreja como fonte de toda a autoridade religiosa.
uma Igreja nacional. A execução, em 1415, de Hus na fogueira O novo pensamento renascentista também fazia oposi-
acusado de heresia levou diretamente às guerras hussitas, uma ção aos preceitos da Igreja. O homem renascentista começava a
violenta expressão do nacionalismo boémio, suprimido com di- ler mais e formar uma opinião cada vez mais crítica.
ficuldade pelas forças aliadas do Sacro Império Romano e do Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, co-
Papa. Estas guerras foram precursoras da guerra civil religiosa meçaram a discutir e a pensar sobre as coisas do mundo. Um
na Alemanha na época de Lutero. Em 1516, a concordata entre pensamento baseado na ciência e na busca da verdade através
o rei e o Papa colocou a Igreja francesa substancialmente sob a de experiências e da razão.
autoridade régia. Antigas concordatas com outras monarquias
Intolerância
nacionais prepararam também a autonomização das Igrejas na-
cionais. Em diversos países europeus as minorias religiosas
foram perseguidas e muitas guerras religiosas ocorreram, fru-
Fatores que impulsionaram o movimento reformista tos do radicalismo. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), por
exemplo, colocou católicos e protestantes em guerra por moti-
No início do século XVI, a mudança na ‘mentalidade vos puramente religiosos. Na França, o rei mandou assassinar
das sociedades europeias repercutiu também no campo religio- milhares de calvinistas na chamada Noite de São Bartolomeu.
so. A Igreja, tão onipotente na Europa medieval, foi duramente
criticada. A instituição católica estava em descompasso com as Novas interpretações da bíblia
transformações de seu tempo. Por exemplo, condenava o luxo
excessivo e a usura. Além disso, uma série de questões propria- Com a difusão da imprensa, aumentou o número de
mente religiosas colocavam a Igreja como alvo da crítica da so- exemplares da Bíblia disponíveis aos estudiosos, e um clima
ciedade: a corrupção do alto clero, a ignorância religiosa dos pa- de reflexão crítica e de inquietação espiritual espalhou-se entre
dres comuns e os novos estudos teológicos. As graves críticas a os cristãos europeus. Surgia, assim, uma nova vontade indivi-
Igreja já não permitiam apenas consertar internamente a casa. dual de entender as verdades divinas, sem a intermediação dos
As insatisfações acumulram-se de tal maneira que desencade- padres. Desse novo espírito de interiorização da religião, que
aram um movimento de ruptura na unidade cristã: a Reforma levou ao livre exame das Escrituras, nasceram diferentes inter-
Protestante. Assim, a Reforma foi motivada por um complexo pretações da doutrina cristã. Nesse sentido, podemos citar, por
de causa que ultrapassaram os limites da mera contestação reli- exemplo, uma corrente religiosa que, apoiada na obra de Santo
giosa. Vejamos detalhadamente algumas dessas causas. Agostinho, afirmava que a salvação do homem seria alcançada
somente pela fé. Essas ideias opunham-se à posição oficial da
Motivos Igreja, baseada em Santo Tomás de Aquino, pela qual a salvação
do homem era alcançada pela fé e pelas boas obras.
O processo de reformas religiosas teve início no século
XVI. Podemos destacar como causas dessas reformas : abusos Corrupção do Clero
cometidos pela Igreja Católica e uma mudança na visão de mun-
do, fruto do pensamento renascentista. A Igreja Católica vinha, Analisando o comportamento do clero, diversos cris-
desde o final da Idade Média, perdendo sua identidade. Gastos tãos passaram a condenar energicamente os abusos e as cor-
com luxo e preocupações materiais estavam tirando o objetivo rupções. O alto clero de Roma estimulava negócios envolvendo
católico dos trilhos. Muitos elementos do clero estavam desres- religião, como, por exemplo, a simonia (venda de objetos sagra-
peitando as regras religiosas, principalmente o que diz respeito dos) tais como espinhos falsos, que coroaram a fronte de Cristo,
ao celibato. Padres que mal sabiam rezar uma missa e coman- panos que teriam embebido o sangue de seu rosto, objetos pes-
dar os rituais, deixavam a população insatisfeita. A burguesia soais dos santos, etc. Além do comércio de relíquias sagradas, a
comercial, em plena expansão no século XVI, estava cada vez Igreja passou a vender indulgências (o perdão dos pecados).
mais inconformada, pois os clérigos católicos estavam conde-
Mediante certo pagamento destinado a
nando seu trabalho. O lucro e os juros, típicos de um capita-
30 Da Vinci Vestibulares

Nova ética religiosa lisamos sua reação aos camponeses da região da Renânia que,
uma vez convertidos, passaram a apoderar-se dos bens da Igre-
A Igreja católica, durante o período usura) e defendia o ja Católica Romana. Lutero apoiou uma violenta repressão aos
preço justo. Essa moral econômica entrava em choque com a camponeses em 1525 dizendo: “A espada deve se abater sobre
ganância da burguesia. Grande número de comerciantes não se estes patifes! Não punir ou castigar, não exercer esta sagrada
sentia à vontade para tirar o lucro máximo nos negócios, pois missão é pecar contra Deus!” Na Dieta de Augsburgo, convo-
temiam ir para o inferno. Os defensores dos grandes lucros eco- cada pelo Imperador Carlos V em 1530, estabeleceram-se as
nômicos necessitavam de uma nova ética religiosa, adequada ao bases fundamentais da nova religião luterana. Ficava abolido
espírito capitalista comercial. Essa necessidade da burguesia o celibato ao clero protestante; proibido o culto a “imagens de
foi atendida, em grande parte, pela ética protestante, que surgiu escultura e a Virgem Maria”; proclamava a Bíblia e sua inter-
com a Reforma. pretação subjetiva do leitor como autoridade, renegando os dog-
mas de Roma, entre outras medidas.
Os intermitentes períodos de guerra civil religio-
Sentimento nascionalista
sa terminaram com a Paz de Augsburgo. Este tratado decidiu
que cada um governadores dos Estados alemães, que forma-
Com o fortalecimento das monarquias nacionais, os
vam cerca de 300 estados, optaria entre o Catolicismo Ro-
reis passaram a encara a Igreja, que tinha sede em Roma e utili-
mano e o Luteranismo e subordinou a opção religiosa à au-
zava o latim, como entidade estrangeira que interferia em seus
toridade do príncipe. O Luteranismo, perfilhado por metade
países. A Igreja, por seu lado, insistia em se apresentar como
da população alemã, receberia finalmente o reconhecimento
instituição universal que unia o mundo cristão. Essa noção de
oficial, mas a antiga unidade religiosa da comunidade cristã da
universalidade, entretanto, perdia força à medida que crescia
Europa ocidental sob a suprema autoridade pontifícia foi des-
o sentimento nacionalista. Cada Estado, com sua língua, seu
truída.
povo e suas tradições, estava mais interessado em afirmar as
diferenças do que as semelhanças em relação a outros Estados.
A Suiça
A Reforma Protestante correspondeu a esses interesses nacio-

nalistas. A doutrina cristã dos reformadores, por exemplo, foi
O movimento reformista na Suíça, contemporâneo da
divulgada na língua nacional de cada país e não tem latim, o
Reforma na Alemanha, foi conduzido pelo pastor suíço Ulrico
idioma oficial da Igreja católica.
Zwínglio, que, em 1518, ficou conhecido pela sua vigorosa de-
núncia à venda das indulgências. Zwínglio considerava a Bíblia
A Alemanha e a reforma luterana
a única fonte da autoridade moral e procurou eliminar tudo o
que existia no sistema do Catolicismo Romano que não derivas-
Tradicionalmente diz-se que a Reforma Protestante foi
se especificamente das Escrituras.
iniciada por Martinho Lutero, monge agostiniano alemão (1483
De Zurique, este movimento alastrou por todo o ter-
– 1546), cujo pensamento sofreu profunda influência de São
ritório suíço, originando um conflito entre 1529-1531. A paz
Paulo de Tarso. Numa Epístola de Paulo aos Romanos encon-
permitiu a escolha religiosa de cada cantão. O Catolicismo
trou a “chave” para consolidar uma idéia nova de salvação: “O
Romano prevaleceu nas províncias montanhosas do país e o
justo viverá pela fé.” E “não são as obras, mas é a fé que conduz
Protestantismo implantou-se nas grandes cidades e nos férteis
à salvação”. Não importa como você aja no mundo. Se a sua fé
vales.
for “do tamanho de uma raiz de mostarda” você está no cami-
Após a geração de Lutero e de Zwínglio, a figura do-
nho da salvação, não importa o que faça. Desprezando olimpi-
minante da Reforma foi Calvino, um teólogo protestante fran-
camente os vários trechos bíblicos que rezam: “o que é a fé sem
cês, que fugiu da perseguição de França e que se instalou na
as obras?”; “A fé sem as obras é morta!” e “Mostra-me a tua fé
nova república independente de Genebra, em 1536. Apesar da
sem as obras que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha
Igreja e do Estado estarem oficialmente separados, cooperavam
fé!” Lutero criou um novo sistema religioso abrindo um cisma
tão estreitamente que Genebra era virtualmente uma teocracia.
com a Igreja Católica Romana.
Para reforçar a disciplina moral, Calvino instituiu uma rígida
Em 1517 afixou na Abadia de Wittenberg suas famosas
inspeção à conduta familiar e organizou um consistório, com-
“95 Teses Contra a Venda de Indulgências”, sendo excomun-
posto por pastores e leigos, com um grande poder compulsivo
gado e correndo o risco de, a exemplo de Jan Hus e Thomas
sobre as comunidades. O vestuário e o comportamento pessoal
Münzer, ser martirizado pela Igreja. A diferença é que estes
dos cidadãos era prescrito ao mínimo pormenor: dançar, jogar
dois, com profunda sinceridade de coração, desejavam voltar ao
às cartas e aos dados e outros divertimentos eram proibidos e a
princípio da fé cristã, em grande medida desvirtuada pela Igreja,
blasfêmia e a linguagem imprópria severamente punidas. De-
mas para tanto aliaram-se aos pobres, aos desvalidos e deser-
baixo deste regime severo, os inconformistas eram perseguidos
dados da sociedade. Já Lutero, espertamente, aliou-se aos prín-
e, por vezes, condenados à morte. Para encorajar a leitura e o
cipes interessados, como se disse, em apoderar-se das terras
entendimento da Bíblia, todos os cidadãos tinham pelo menos
da Igreja... Lutero encontrou terreno fértil à sua pregação nas
uma educação elementar. Em 1559, Calvino fundou a Universi-
regiões em que era interessante aos nobres se apoderarem das
dade de Genebra, famosa pela formação de pastores e professo-
terras da Igreja Católica. Aliando-se aos príncipes, conseguiu
res. Mais do que qualquer outro reformista, Calvino organizou
principalmente o apoio do Imperador do Sacro Império Roma-
o pensamento Protestante num claro e lógico sistema. A difusão
no-Germânico Carlos V, que convocou a “Dieta de Worms” em
das suas obras, a sua influência como educador e a sua gran-
1521. As doutrinas luteranas causaram grande agitação, prin-
de habilidade de organizador da Igreja e do Estado reformistas
cipalmente sua ideia subversiva de confiscar os bens da Igreja.
criaram um movimento de adeptos internacionais e deram às
Sua aliança aos príncipes fica mais clara à medida em que ana-
Igrejas Reformistas, de acordo com o termo como as Igrejas
Extensivo 31

Protestantes eram conhecidas na Suíça, França e Escócia, um Anglicana, que representa um compromisso entre a doutrina
cunho inteiramente calvinista, quer na religião quer na organi- calvinista e a liturgia católica. Pelo Acto de Supremacia, votado
zação. novamente em 1559, Isabel I detinha a autoridade em matéria
eclesiástica.
França
CONTRARREFORMA - A REAÇÃO CATÓLICA CON-
A Reforma na França começou no início do século XVI TRA O AVANÇO PROTESTANTE
através de um grupos de místicos e humanistas que se juntaram
em Meaux, perto de Paris, sob a liderança de Lefèvre d’Étaples.
Tal como Lutero, d’Étaples estudou as Epístolas de S. Paulo e
fez derivar delas a crença na justificação da fé individual, ne-
gando a doutrina da transubstanciação. Em 1523, traduziu para
francês o Novo Testamento. No princípio, os seus textos fo-
ram bem recebidos pela Igreja e pelo Estado, mas, a partir do
momento em que as doutrinas radicais de Lutero começaram
a espalhar-se em França, o trabalho de Lefèvre foi visto como
similar e os seus seguidores foram perseguidos.
Apesar de todos os esforços para evitar a expansão do
Protestantismo em França, os Huguenotes cresceram imenso
e a guerra civil entre 1562-1598 foi generalizada. As mútuas
perseguições entre católicos e Huguenotes originaram episódios
como o massacre de S. Bartolomeu, na noite de 23 para 24 de
Agosto de 1572, durante o qual foram assassinados os protes-
tantes que estavam em Paris, para assistir ao casamento de Hen-
rique IV. A guerra terminou com o Edito de Nantes, em 1598,
que concedeu a liberdade de culto aos Huguenotes. Em 1685,
Luís XIV revogaria este edito, expulsando do país os protes-
tantes.
Figura 11 - Inquisição católica
Inglaterra
Convocando o Concílio de Trento (1545 – 1563), a
Vários pregadores e potentados ingleses estavam an- Igreja Católica estabeleceu um conjunto de medidas defensivas
siosos para aderir também à Reforma e, com isso, confiscar ter- e ofensivas. A fim de impedir a contaminação pelo protestan-
ras da Igreja a exemplo do que havia ocorrido em boa parte da tismo dos países ainda não atingidos, criou um Index Libro-
Europa continental. O rei inglês Henrique VIII (1509 – 1547), rum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos), dentre os quais
contudo, era muito devoto e recebeu uma comenda do papa Cle- encabeçavam as obras de Lutero, Calvino, etc. Reativou o Tri-
mente VII: “Defensor Perpétuo da Fé Católica”. De repente, um bunal da Santa Inquisição, com a finalidade de reprimir here-
coup de foudre (paixão avassaladora) muda os rumos da situ- sias. Criou o catecismo, catequese e os seminários com vistas
ação: casado por interesse com Catarina de Aragão, Henrique a discutir e persuadir os fiéis reconquistando o terreno perdido.
VIII apaixona-se cegamente por Ana Bolena e solicitou ao papa Além disso, receberam incentivo as novas Ordens de prega-
a anulação de seu casamento para que pudesse contrair novas dores apostólicos romanos com vistas a “levar a fé católica ao
núpcias. Diante da resposta do papa “o que Deus uniu o homem “Novo Mundo”. Neste contexto surge a Companhia de Jesus, de
não separará” e da pressão dos príncipes e pregadores ingleses, Inácio de Loyola, subordinada diretamente ao papa e que levava
pelo Ato de Supremacia proclamado pelo rei e votado pelo Par- sua pregação ao continente americano e até à Ásia.
lamento inglês, a Igreja, na Inglaterra, ficava sob total autorida- Jamais houve uma discussão ou um debate sério entre
de do monarca. um papa e qualquer autoridade protestante acerca de temáticas
Inicialmente o anglicanismo manteve todas as caracte- doutrinárias. Todos ficam presos às suas metáforas e interpreta-
rísticas da Igreja Católica Romana, excetuando-se o direito ao ções diferentes dos mesmos textos bíblicos e muito sangue foi
divórcio (de interesse do rei!) e a obediência à infalibilidade do derramado por causa disso.
papa. Com o passar dos anos a Igreja Anglicana agrega muitos A relembrar ainda a coincidência entre o protestantis-
dos valores do Calvinismo, afastando imagens de escultura, fa- mo e o capitalismo e, de outro lado, entre o catolicismo e o
zendo uma leitura singular da Bíblia, etc. Na Inglaterra, a ruptu- tradicionalismo. Os países mais prósperos, do ponto de vista
ra política deu-se primeiro, como resultado da decisão de Hen- burguês, capitalista (ou (“capetalista”, como preferem os pu-
rique VIII para se divorciar da sua primeira esposa, e a mudança ristas) seguem todos majoritariamente a fé protestante em seus
na doutrina religiosa veio depois, nos reinados de Eduardo VI e diversos matizes: EUA, Inglaterra, Suíça, Holanda, Alemanha,
de Isabel I. Após o divórcio com Catarina de Aragão, Henrique Suécia. Por outro lado, aqueles ligados ao catolicismo e à éti-
VIII casou com Ana Bolena, mas, em 1533,o papa excomun- ca do amor ao próximo, que não foram profundamente tocados
gou-o. Em 1534, através do Acto de Supremacia, o Parlamento pelo protestantismo, seguem subdesenvolvidos do ponto de vis-
reconhecia a coroa como chefe da Igreja da Inglaterra e entre ta capetalista – casos dos países Ibéricos e da América Latina,
1536-1539 os mosteiros eram suprimidos e as suas propriedades por exemplo.
anexadas pelo rei e distribuídas pela nobreza adepta da refor- Diante dos movimentos protestantes, a reação inicial e
ma. No reinado de Isabel I (1558-1603), estabelece-se a Igreja imediata da Igreja católica foi punir os rebeldes, na esperança
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de que as idéias reformistas não se propagassem e o mundo cris- passou a se encarregar, por exemplo, de organizar uma lista de
tão recuperasse a unidade perdida. Essa tática, entretanto, não livros proibidos aos católicos, o Index librorum prohibitorum.
obteve bons resultados. O movimento protestante avançou pela Uma das primeiras relações de livros proibidos foi publicada
Europa, conquistando crescente número de seguidores. em 1564.
Diante disso, ganhou força um amplo movimento de
Consequências da Reforma Religiosa
moralização do clero e de reorganização das estruturas admi-
nistrativas da Igreja católica, que ficou conhecido como Refor-
Apesar da diversidade das forças revolucionárias do
ma Católica ou Contra-Reforma. Seus principais líderes foram
século XVI, a Reforma teve grandes e consistentes resultados
os papas Paulo III (1534-1549), Paulo IV (1555-1559), Pio V
na Europa ocidental. Em geral, o poder e a riqueza perdidos
(1566-1572) e Xisto V (1585-1590) Um conjunto de medidas
pela nobreza feudal e pela hierarquia da Igreja Católica Romana
forma adotadas pelos líderes da Contra-Reforma, tendo em vis-
foram transferidos para os novos grupos sociais em ascensão e
ta deter o avanço do protestantismo.
para a coroa. Várias regiões da Europa conseguiram a sua inde-
Entre essas medidas, destacam-se a aprovação da or-
pendência política, religiosa e cultural.
dem dos jesuítas, a convocação do Concílio de Trento e o resta-
Mesmo em países como a França e na região da atual
belecimento da Inquisição.
Bélgica, onde o Catolicismo Romano prevaleceu, um novo indi-
vidualismo e nacionalismo foram desenvolvidos na cultura e na
Ordem dos Jesuítas
política. A destruição da autoridade medieval libertou o comércio
e as atividades financeiras das restrições religiosas e promoveu
No ano de 1540, o papa Paulo III aprovou a criação
o capitalismo. Durante a Reforma, as línguas nacionais e a lite-
da ordem dos jesuítas ou Companhia de Jesus, fundada pelo
ratura foram estimuladas através da difusão dos textos religiosos
militar espanhol Inácio de Loyola, em 1534. Inspirando-se na
escritos na língua materna, e não em latim.
estrutura militar, os jesuítas consideravam-se os “soldados da
A educação dos povos foi, também, estimulada pelas
Igreja”, cuja missão era combater a expansão do protestantismo.
novas escolas fundadas por Colet na Inglaterra, Calvino em
O combate deveria ser travado com as armas do espírito, e para
Genebra e pelos príncipes protestantes na Alemanha. A religião
isso Inácio de Loyola escreveu um livro básico, Os Exércitos
deixou de ser monopólio de uma minoria clerical privilegiada e
Espirituais, propondo a conversão das pessoas ao catolicismo,
passou a ser uma expressão mais direta das crenças populares.
mediante técnicas de contemplação. A criação de escolas reli-
Todavia, a intolerância religiosa manteve-se inabalável e as di-
giosas também foi um dos instrumentos da estratégia dos je-
ferentes Igrejas continuaram a perseguir-se mutuamente, pelo
suítas. Outra arma utilizada foi a catequese dos não-cristãos,
menos, durante mais de um século.
com os jesuítas empenhando-se em converter ao catolicismo os
povos dos continentes recém-descobertos. O Objetivo era ex-
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
pandir o domínio católico para os demais continentes.
1.(PUCCAMP) Considere os itens abaixo.
Concílio de Trento
I. Combate sistemático aos protestantes.
II. Recuperação de áreas sob influência de protestantismo atra-
No ano de 1545, o papa Paulo III convocou um con-
vés da educação, com a criação de colégios.
cílio (reunião de bispos), cujas primeiras reuniões foram reali-
III. Difusão do catolicismo entre povos não cristãos, por meio
zadas na cidade de Trento, na Itália. Ao final de longos anos de
da catequese.
trabalho, terminados em 1563, o concílio apresentou um con-
IV. Contenção do protestantismo através dos Tribunais da In-
junto de decisões destinadas a garantir a unidade da fé católica
quisição.
e a disciplina eclesiástica.
Eles identificam:
Reagindo às idéias protestantes, o Concílio de Trento
(A) as Ordenações Eclesiásticas de Calvino.
reafirmou diversos pontos da doutrina católica, como por exem-
(B) o Ato de Supremacia de Henrique VIII.
plo:
(C) a Dieta de Angsburgo.
I. a salvação humana: depende da fé e das boas obras humanas.
(D) a Reforma Luterana.
Rejeita-se, portanto a doutrina da predestinação;
(E) a Contrarreforma.
II. a fonte da fé: o dogma religioso tem como fonte a Bíblia
(cabendo à Igreja dar-lhe a interpretação correta) e a tradição
2. (FESP) A Reforma Protestante abalou as estruturas da Igreja
religiosa (conservada e transmitida pela igreja). O papa rea-
Católica. Não foi no entanto, um movimento que teve apenas,
firmava sua posição de sucessor de Pedro, a quem Jesus Cristo
repercussões religiosas. Podemos afirmar que:
confiou a construção de sua Igreja; III. a missa e a presença de
(A) a participação dos camponeses nas manifestações contra a
Cristo: a Igreja reafirmou que n ato da eucaristia ocorria a pre-
Igreja contribuíram para reforçar a liderança de Lutero.
sença de Jesus no Pão e no Vinho. Essa presença real de Cristo
(B) houve um grande interesse da nobreza com a ampliação do
era rejeitada pelos protestantes. O Concílio de Trento determi-
movimento na França e na Espanha.
nou, ainda, a elaboração de um catecismo com os pontos fun-
(C) a Contra-Reforma conseguiu neutralizar as repercussões,
damentais da doutrina católica, a criação de seminários para a
recuperando o antigo prestígio da Igreja.
formação dos sacerdotes e manutenção dos celibatos sacerdotal.
(D) Lutero e Calvino foram as lideranças mais expressivas da
No ano de 1231, a Igreja católica havia criado os tribunais da
Reforma, mas tinham profundas divergências.
Inquisição, que, com o tempo, reduziram suas atividades em
(E) as repercussões da Reforma não conseguiram abalar o pres-
diversos países. Entretanto, com o avanço do protestantismo, a
tígio da Igreja na Península Ibérica.
Igreja reativou, em meados do século XVI, a Inquisição. Esta
Extensivo 33

3. Assinale a opção que completa corretamente as lacunas: que, segundo o provérbio, um bom pagador é senhor de todas as
Admitia também que existiam indícios dessa predestinação. bolsas... A par da sobriedade e do trabalho, nada é mais útil a
Para ele, Deus organizou todas as coisas por determinação de um moço que pretende progredir no mundo que a pontualidade
sua vontade e atribuiu a cada um uma vocação particular, cujo e a retidão em todos os negócios”. Tendo em vista a rigorosa
objetivo era sua glorificação. Assim, o capital, o crédito, os ban- educação religiosa do autor, esses princípios econômicos foram
cos, o grande comércio seriam desejados por Deus e tão dese- usados para exemplificar a ligação entre:
jáveis como o salário de um trabalhador ou o aluguel de uma a) protestantismo e permissão da usura.
propriedade. O pagamento de ______________ seria tão natu- b) anglicanismo e industrialização.
ral quanto o pagamento de uma renda pela utilização de terra. c) ética protestante e capitalismo.
______________ afirmava “O trabalho é o que mais se asse- d) catolicismo e mercantilismo.
melha a Deus... Um homem que não quer trabalhar não deve e) ética puritana e monetarismo.
comer... o pobre é suspeito de preguiça, o que constitui uma
injúria a Deus.” Itaussu A. Mello, Leonel, História Moderna e 7. Durante o reinado de Carlos IX (1560-1574),acirrou-se a luta
Contemporânea, Editora Scipione, 1999; 5ª Edição P. 63. entre católicos e huguenotes (na França os protestantes calvinis-
(A) Capital / Lutero tas). A facção católica, liderada pela família Guise, que tinha o
(B) Lucro / Henrique VIII apoio de Catarina de Médicis, mãe do rei, e a huguenote, dirigi-
(C) Burguesia / Paulo III da pelos Bourbons, colocaram em confronto a nobreza católica
(D) Juros / Calvino defensora dos antigos privilégios feudais e a burguesia mercan-
(E) Crédito / Loyola. til calvinista. Cláudio Vicentino O texto, apresenta parte do ce-
nário das Guerras de Religião em França no século XVI. Dentre
4. A partir do início da Idade Moderna o Protestantismo se ex- os acontecimentos abaixo, pode ser considerado o ponto máxi-
pandiu por toda a Europa. Vários países como a Inglaterra e a mo desse conflito:
Suíça se desligaram da Igreja Católica, que perdeu boa parte de a) o Tratado de Verdun.
seus bens. Numa tentativa de conter a expansão do Protestantis- b) a Noite de São Bartolomeu.
mo, alguns papas tentaram promover uma reformulação moral, c) a Guerra de Reconquista.
política e econômica na Igreja Católica. É nesse contexto que d) a Rebelião Jacquerie.
é realizado o Concílio de Trento, a fundação da Companhia de e) o Massacre de Lyon.
Jesus e o Tribunal da Santa Inquisição.
O texto acima se refere ao processo 8. (MACKENZIE) As transformações religiosas do século XVI,
conhecido como: comumente conhecidas pelo nome de
(A) Reforma Calvinista. Reforma Protestante, representaram no campo espiritual o que
(B) Reforma Protestante. foi o Renascimento no plano cultural; um ajustamento de ideias
(C) contra-Reforma. e valores às transformações sócioeconômicas da Europa. Dentre
(D) Reforma Absolutista seus principais reflexos, destacam-se:
(E) Reforma Luterana. (A) a expansão da educação escolástica e do poder político do
papado devido à
5. O início dos Tempos Modernos foi marcado por inúmeras extrema importância atribuída à Bíblia.
transformações, entre as quais se destaca a Reforma, movimen- (B) o rompimento da unidade cristã, expansão das praticas capi-
to de caráter religioso, responsável pela quebra da unidade do talistas e fortalecimento do poder das monarquias.
cristianismo na Europa Ocidental. (C) a diminuição da intolerância religiosa e fim das guerras pro-
vocadas por pretextos religiosos.
(D) a proibição da venda de indulgências, término do index e
Sobre a Reforma é correto afirmar, EXCETO:
o fim do principio da salvação pela fé e boas obras na Europa.
(A) O Renascimento, criticando os valores medievais, contri-
(E) a criação pela igreja protestante da Companhia de Jesus em
buiu para a eclosão do movimento, pois estimulou o desenvol-
moldes militares para monopolizar o ensino na América do Nor-
vimento do humanismo e da leitura e interpretação dos textos
te.
bíblicos.
(B) O conflito entre a posição da Igreja e os interesses dos co-
09. (PUCMG) No século XVI, época das reformas religiosas na
merciantes, banqueiros e governantes muito contribuiu
Europa, a Igreja Católica:
(C) Lutero defendia, nas suas “95 Teses”, uma ruptura total com
(A) opõe-se vigorosamente às terríveis guerras religiosas.
o cristianismo e a afirmação da salvação pelas boas obras como
(B) torna-se tolerante para atrair as ovelhas desgarradas.
forma de fortalecer os governantes.
(C) revê seus dogmas, adaptando-se aos novos tempos.
(D) Calvino, outro importante reformador, defendia a doutrina
(D) reafirma a Bíblia como fonte única da verdade divina.
da predestinação e limitou os sacramentos ao batismo e à
e) “associa-se” ao projeto colonizador da América ibérica.
comunhão.
10 - (PUCMG) Diante do avanço do protestantismo, o Papa
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:
Paulo III convoca o XVIII Concílio Ecumênico da Igreja Cató-
lica, reunido em Trento, na Itália, partir de 1545, apresentando
6. (FUVEST) Em 1748, Benjamin Franklin escreveu os seguin-
como resultados, EXCETO:
tes conselhos a jovens homens de negócios: “Lembra-te que o
(A) a) o reconhecimento do batismo e do casamento como úni-
tempo é dinheiro... Lembra-te que o crédito é dinheiro... Lem-
cos sacramentos válidos.
bra-te que o dinheiro é produtivo e se multiplica... Lembra-te
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(B) a instituição dos seminários destinados à formação dos clé- como nós, ele está colocado acima de todos nós e chama-nos
rigos. tocando um tambor. Vós que partis são muito numerosos? Nós
(C) o fortalecimento da autoridade pontifical através da infali- somos uma multidão; às vezes cinco mil ou mais. (...) “ (Carlo
bilidade do Papa. Ginsburg. Os andarilhos do bem.) A citação anterior é parte de
(D) a adoção do latim como língua litúrgica oficial da Igreja um interrogatório inquisitorial de 1580, em que o réu era acu-
Católica. sado de heresia, fato que se tornou corriqueiro com o advento
(E) a determinação do celibato clerical e o combate aos movi- da Reforma Protestante, sobre a qual é INCORRETO afirmar:
mentos heréticos. (A) foi um movimento que resultou, dentre outras coisas, das
divisões internas do Catolicismo e da inadequação entre o prin-
11. Em 1517 começa, no Sacro Império Romano-Germânico, o cípio católico do “justo preço” e os princípios que inspiravam a
movimento de reforma liderado por Martinho Lutero, que de- transição para o Capitalismo;
fendia: (B) propagou-se, em sua maioria, no Sacro Império Romano-
(A) a fé como elemento fundamental para a salvação dos indi- -Germânico, Suíça e Inglaterra, regiões caracterizadas ou pela
víduos. fragmentação política ou pela fragilidade da Igreja diante do
(B) o relaxamento dos costumes dos membros da Igreja daquela Estado;
época. (C) pregava a venda de indulgências, a condenação dos lucros
(C) a confissão obrigatória, o jejum e o culto aos santos e már- excessivos, a infalibilidade da Bíblia e a incontestável submis-
tires. são do homem a Deus;
(D) o princípio da predestinação e da busca do lucro por meio (D) pelo seu significativo impacto social, provocou o advento
do trabalho. de um movimento de reação a seus princípios, conhecido como
(E) o reconhecimento do monarca como chefe supremo da Igre- Contra-Reforma.
ja.
15. A Reforma Religiosa do século XVI teve como desdobra-
12. O estudo da Reforma Luterana e Calvinista e fatores mento
econômicos envolvidos permitem afirmar: (A) a consolidação do poder dos príncipes do Império Germâ-
I - Lutero pertencia à ordem dos Agostinianos, preterida na ven- nico.
da de indulgências na Alemanha, dado que os Dominicanos fo- (B) a constituição de mais de uma igreja cristã no ocidente.
ram escolhidos. (C) a divisão da Igreja em ramos: Ortodoxo e Romano.
II - Muitos nobres alemães, em cujas terras o clero católico pos- (D) a subordinação da Igreja Católica ao Estado.
suía extensas propriedades, apoiaram Lutero após este ter reco-
mendado a confiscação de tal patrimônio.
III - Embora a Igreja Católica tivesse restrições aos juros e lu-
cros, estas estavam abrandadas no século XVI, sendo católicos
os poderosos banqueiros “Fuggers”, de Augsburgo.
IV - Quando ocorreu a Revolta dos Camponeses, inspirada em
interpretações próprias da Bíblia, nobres católicos e protestan-
tes uniram-se para defender suas terras.
V - João Calvino ensinou que as pessoas que prosperavam nos
negócios e profissões tinham no sucesso a marca divina da “pre-
destinação”, que eram favorecidas por Deus.
(A) Somente as opções I e IV estão corretas.
(B) Somente as opções II e III estão corretas.
(C) Todas as opções estão corretas.
(D) Somente as opções I, II e IV estão corretas.
(E) Somente as opções I, III e V estão corretas.

13. (UFC) O Calvinismo se destacou dentre as demais correntes


protestantes, uma vez que defendia:
(A) valorização do próprio trabalho como um serviço de Deus,
que legitimava os anseios da burguesia.
(B) condenação ao individualismo, como uma reação aos ideais
burgueses, que ameaçavam a difusão das ideias reformistas.
(C) concepção de combate à burguesia, que se manifestava fa-
vorável à usura e ao controle dos gastos.
(D) o misticismo e a vida de reclusão em mosteiros, valorizando
uma religiosidade apolítica.
(E) a desagregação dos ideais de fraternidade e respeito ao pró-
ximo, a fim de garantir a força da liberdade individual.

14. (UFJF) “(...) - Não se faz outra coisa além de deixar o es-
pírito abandonar o corpo e partir. Quem é que vem vos cha-
mar, Deus, um anjo, um homem ou um demônio? É um homem
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MÓDULO 8: FORMAÇÃO DOS ESTADOS NA- absolutista, porque o poder estava concentrado nas mãos de
CIONAIS E ABSOLUTISMO. poucos ( reis e ministros) que se aproveitavam das limitações
dos grupos sociais dominantes( a nobreza e a burguesia) para
controlar a política. Além disso, dependia dos impostos arreca-
O ESTADO MODERNO E O MERCANTILISMO dados sobre as atividades comerciais e manufatureiras. Por isso
era necessário o estado ter burgueses em cargos do governo,
A idade moderna inicia-se em 1453, com a tomada incentivar o lucro, a expansão do mercado e a exploração das
de Constantinopla pelos turcos e estende-se até 1789 com o colônias.
início da revolução francesa. No contexto das transformações
que marcaram a transição do feudalismo para o capitalismo, a Crise do século XIV
constituição dos Estados Nacionais estabeleceu-se como uma
importante alternativa para reorganizar as forças produtivas no ♦ Dissolução das relações de servidão
conturbado cenário europeu do século XIV. ♦ Enfraquecimento dos laços de dependência pessoal
A crise do século XIV, na Europa, levou ao progressivo ♦ Revoltas camponesas e urbanas
enfraquecimento do poder dos senhores feudais e, conseqüente- ♦ Contestação do poder universal da Igreja
mente, reforçou a tendência de centralização política e fortaleci-
mento do poder real. Esta crise iniciou o processo de dissolução A formação dos Estados Nacionais, embora ocorren-
das relações de servidão, enfraqueceu os laços de dependência do de forma diversificada nas diversas regiões da Europa, não
pessoal e foi marcada pela eclosão de revoltas camponesas ( implicou a superação do Modo de Produção Feudal. O Estado
ex.: jaqueries na França) e urbanas. Outra tendência observada Moderno, na forma de uma Monarquia Nacional, representa a
foi a contestação ao poder universal da Igreja, que atingiria seu exigência de uma regulamentação jurídica para os conflitos so-
momento máximo com a Reforma Protestante do século XVI. ciais que se desenvolviam. Esse Estado continua sendo a ex-
O século XV marcou uma nova fase do processo his- pressão da hegemonia da nobreza que, através da reorganiza-
tórico da Europa Ocidental. Estruturou-se uma nova ordem ção estatal, reforça sua dominação sobre a massa camponesa. A
sócio-econômica – o capitalismo comercial. Onde a nobreza formação do Estado Nacional teve o apoio da burguesia, pois a
mantinha as “aparências” de poder por causa das suas terras e esta classe interessava o fim dos entraves que as relações servis
títulos. Embora estivessem em dificuldades financeiras, ainda de produção impunham aos seus negócios, assim como a supe-
sim queriam se impor segundo as novas regras da economia. Já ração da crise econômica do século XIV.
a burguesia, mesmo com próspero comércio, não conseguia ser
a classe dominante junto à aristocracia.
Estado Moderno
A idade moderna , na verdade pode ser considerada
como um período de transição, que valorizou o comércio e a
♦ Necessidade de conter os conflitos sociais (Reforçar
capitalização, que serviam de base para o desenvolvimento do
os controle sobre os camponeses)
sistema capitalista. Esse período foi bem diferente da idade mé-
♦ Manutenção do poder da nobreza (Ocupação de Car-
dia. Pode-se dizer que suas características foram bem opostas.
gos Públicos; Privilégios como isenção de impostos)
A idade média foi marcada por:
♦ Bom para as elites comerciais: a formação dos Esta-
♦ regionalismo político- onde os feudos e as comunas tinham
dos Nacionais possibilitou a superação da crise econô-
autonomia política, causando a fragmentação no sistema admi-
mica do século XVI com o Expansionismo Marítimo
nistrativo;
comercial.
♦ o poder da igreja- que enfatizava e colocava a autoridade do
Também foram superados os entraves às atividades
Papa sobre os reinos da época.
mercantis: diminuição do poder dos senhores feudais,
No estado moderno desenvolveu-se a noção da soberania, ou
a unificação das fronteiras e dos aspectos relativos às
seja, a ideia de que o soberano ( governante) tinha o direito de
finanças como moeda e impostos, além dos pesos e me-
consolidar suas decisões perante seus súditos( ou governados)
didas.
que morassem no seu território.
Para isso ocorrer, o estado desenvolveu vários meios
para controlar a política de seu território. Alguns deles foram:
Características gerais dos Estados Modernos:
♦ Burocracia - funcionários que cumpriam ordens do rei e de-
sempenhavam as tarefas de administração pública. Estes cargos ♦ Centralização e unificação administrativa, com a eliminação
eram ocupados pela nobreza palaciana e pela alta burguesia. da autonomia dos poderes locais e das cidades;
♦ Poder militar- incluía toda as forças armadas- marinha, exér- ♦ Formação de uma burocracia, isto é, um grupo de pessoas
cito e polícia- para assegurar a ordem pública na sociedade e o especializadas nos negócios administrativos;
poder do governo. ♦ Formação de um exército nacional permanente, com soldados
♦ União da justiça- a legislação passou a valer em todo o ter- profissionais pagos;
ritório nacional. ♦ Arrecadação de impostos “reais”, necessários para custear as
♦ Sistema tributário - ou seja, sistema de impostos regulares e despesas com o exército e a burocracia;
obrigatórios para manter o governo e a administração pública. ♦ Unificação do sistema de pesos e medidas, destacando-se a
♦ Idioma oficial - um mesmo idioma falado em todo território unificação monetária
do estado, que transmitia as leis, ordens e tradições da nação, ♦ Imposição da justiça real, baseada no direito romano, que se
além de valorizar seus costumes e cultura. sobrepõe à justiça senhorial.
O Estado moderno também é conhecido como estado ♦ Definição das fronteiras e do mercado nacional.
36 Da Vinci Vestibulares

A base do absolutismo e do Mercantilismo Inglaterra anglicana e a Rússia ortodoxa.

A base teórica do absolutismo foi dada por Jacques Consequências:


Bossuet e Thomas Hobbes. Bossuet defendia o direito divino
dos reis; seus atos eram superiores ao julgamento dos homens. 1 - O Direito divino dos Reis: a autoridade do rei vem de Deus
Já Hobbes justificou o absolutismo , a partir do fato dos homens e a ninguém ele devia explicação de suas atitudes. Sua pessoa
entrarem em um acordo , em que o poder ficaria como rei e a é sagrada.
ordem seria estabelecida. 2 - A unidade política se fundamentava na unidade religiosa: um
Essas monarquias regulavam suas economias de acor- Rei, uma Fé, uma Lei. Quem não seguia a religião do rei era pri-
do com as práticas mercantilistas que tinham por base: vado dos direitos políticos (cargos públicos) e civis (liberdade
♦ aumentar a qualquer custo as economias da Coroa; de domicílio, de trânsito, de profissão, de propriedade).
♦ vender mais do que comprar; 3 - A Religião do Estado: nos países católicos, a religião católica
♦ incentivar a produção interna, incluindo as colônias, para as- era a única permitida. Era dever do rei defendê-la e promovê-
sim ter uma balança comercial favorável; -la, impedindo o proselitismo, a difusão de livros contrários à
♦ adotar medidas de proteção para as manufaturas e controlar as religião e considerando os delitos contra a religião como delitos
taxas alfandegárias sobre os produtos contra o Estado.Cumprir os deveres religiosos era pressuposto
importados; para o gozo de certos direitos civis. Aos domingos era proibido
» conquistar colônias e explorar manter abertos os botecos e divertir-se em público durante as
produtos de alto valor comercial na Europa; funções religiosas. As transgressões eram punidas pelo braço
» a aliança da burguesia mercantil secular. A própria autoridade eclesiástica: as Cúrias, os inquisi-
com os reis em favor dos seus interesses dores, bispos e superiores religiosos, para proteger a moralidade
econômicos. Com isso a burguesia pública, possuíam meios para castigar os culpados.
conseguiu até mesmo formar um exército A censura eclesiástica à imprensa era sancionada pelo
forte. Estado, mas tendo um preço muito alto: o Estado censurava as
Nesse período, teve um estado próprias Cartas Pastorais dos Bispos e Documentos Pontifícios.
interventor, que atuava em todos os A estrutura cristã tira assim a liberdade cristã.
setores da vida nacional. Na economia, 4 - À Igreja era reconhecido o monopólio assistencial e da ins-
essa intervenção manifestou-se através do trução: o Estado não se interessa pela instrução pública, que
mercantilismo. ficava nas mãos dos religiosos (jesuítas, barnabitas, beneditinos,
irmãos das escolas cristãs...). As obras assistenciais também es-
Absolutismo: Aliança entre Rei e Igreja tavam nas mãos da Igreja, que possuía e recebia os meios para
mantê-las, sendo este seu grande título de glória.
O Concílio Vaticano II nos mostrou que a Igreja pré- 5 - As imunidades dos nobres são estendidas à Igreja e ao clero.
-conciliar estava divorciada da civilização da sociedade con-  Imunidades reais: os bens eclesiásticos eram isentos de taxas
temporânea, caminhando por vias diversas, quando não opostas. e inalienáveis;
Tentaremos explicar a gênese do fenômeno.  Imunidades locais: direito de asilo conferido às Igrejas e edi-
A partir do século XVII até a Revolução Francesa fícios anexos;
(1789) e mesmo entrando no século XIX (a Restauração de  Imunidades pessoais: isenção do serviço militar, direito de
1814-1848), vigorou na Europa o regime político denominado serem julgados por um tribunal eclesiástico. Era o foro eclesi-
“Absolutismo”. Foi o ponto de chegada de um processo iniciado ástico.
na Idade Média e que representou a derrota da nobreza pela mo- Enquanto isso, sobretudo a partir dos século XVII-
narquia e a afirmação do soberano (Rei) e do Estado nacional. -XVIII, o Estado começou a caminhar para a laicização da so-
Isso foi possível pelo cansaço das guerras de religião, pela ri- ciedade e para a subordinação da Igreja ao Estado. De fato, os
queza provinda das novas descobertas e o apoio da burguesia. privilégios distanciavam a Igreja do povo e, a uma Igreja que se
O Absolutismo foi o regime da centralização: os so- afasta do povo, corresponde um povo que se afasta da Igreja.
beranos passaram a concentrar todos os poderes, ficando os ci-
dadãos excluídos de qualquer participação e controle na vida Uma Igreja controlada pelo Estado
pública.
A base social do Absolutismo era o privilégio: honras, O apoio do Estado foi acompanhado de um pesado
riquezas e poderes eram reservados a um pequeno grupo de pes- controle deste sobre a Igreja e toda sua atividade, já que o rei
soas. Eram: julgava receber de Deus uma verdadeira missão eclesiástica.
♦ privilégios sociais (acesso exclusivo a cargos, oficialato no Príncipes, encorajados por escritores, viam na intervenção es-
exército, colégios, distinção nas vestes...); tatal o único meio eficaz para a renovação religiosa. Competia,
♦ privilégios jurídicos (direito de passar testamento, tribunais e portanto, ao Estado: regular a administração dos bens eclesiás-
penas especiais); ticos, a nomeação de bispos e párocos, a disciplina do clero e
♦ privilégios econômicos (isenções de impostos que recaíam dos fiéis e, inclusive, o culto. Em poucas palavras, a Igreja era
sobre os pobres). reduzida à sacristia. Esse sistema recebeu o nome de Jurisdicio-
A Igreja e o Estado caminhavam num perfeito parale- nalismo. De todos os direitos e deveres do Estado, dois eram
lismo: o político usa o sagrado e o sagrado usa o político. O fundamentais e, por isso mesmo, mais prejudiciais à Igreja:
proibido ou permitido na ordem religiosa o é também na civil. ♦ O Direito de Nomeação (atribuía ao soberano a nomeação dos
Daí a expressão que melhor define o sistema: a união Trono e bispos, abades e funcionários eclesiásticos). Na França, entre
Altar. Isso valia para os países católicos, a Prússia protestante, a 1516-1905 (ano da separação), todos os bispos foram nomeados
Extensivo 37

pelo Estado. Ao Papa cabia a instituição canônica; EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:


♦ O Direito de veto (o rei poderia excluir pessoas de determina-
das funções. A aplicação mais clamorosa acontecia nos concla- 6.(ALFENAS) “O Estado sou Eu”. Essa frase de Luís XIV indi-
ves, com o uso do “veto” por parte das potências católicas, na cava uma particular organização do Estado Moderno. São suas
eleição dos papas. O “veto” foi utilizado até 1903 quando Pio X características:
proibiu, sob pena de excomunhão, qualquer tentativa de impedir (A) dirigir a economia, legislar, nomear ministros e criar tribu-
a eleição de algum candidato ao Trono pontifício. tações.
Após Adriano VI (1522), somente italianos terem sido (B) manipular a nobreza e a burguesia.
eleitos, foi, em grande parte, a rivalidade entre a Espanha, Fran- (C) concentrar poderes à disposição do parlamento.
ça e Áustria: o pavor que uma sentia em imaginar um Papa de (D) estabelecer a balança comercial favorável e o metalismo.
nacionalidade que não a sua, fazia-o pender para a “solução ita- (E) manter o monopólio e criação de tributos.
liana”. A tradição foi quebrada somente em 1978, com a eleição
do polonês Karol Wojtylla. 7.(UNIBH) Leia o trecho abaixo com atenção, pois suas afirma-
tivas podem ser falsas ou verdadeiras.
O Absolutismo Monárquico foi a forma política que predo-
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS: minou nos Tempos Modernos e que consiste “num poder não
partilhado, concentrado na pessoa do rei. Seu caráter pessoal é
1. As características do Estado moderno foram opostas a que o que os sociólogos políticos chamam hoje de personalização
características do sistema feudal? do poder”. Na França, o absolutismo atingiu o seu auge com a
(A) regionalismo político e o poder da igreja; dinastia Bourbon.
(B) poder centralizado e união nacional; Pode-se afirmar que o texto acima é
(C) cada feudo com seu poder, mas sujeitos as autoridades reais; (A) parcialmente correto, pois o absolutismo predominou na
(D) nenhuma das alternativas anteriores. Idade Média.
(B) parcialmente correto, já que o poder era partilhado com o
2. Para o Estado poder controlar a política monárquica de seu Parlamento.
território foi preciso desenvolver vários meios para alcançar (C) totalmente falso.
esse objetivo. Alguns deles foram: (D) totalmente verdadeiro.
(A) regionalismo político;
(B) sistema tributário, força militar, 8.(FUVEST) “Após ter conseguido retirar da nobreza o poder
burocracia administrativa e idioma oficial; político que ela detinha enquanto ordem, os soberanos atraíram
(C) somente a criação de impostos mais pesados para a popu- para a corte e lhe atribuíram funções políticas e diplomáticas”
lação; Esta frase, extraída da obra de Max Weber, “Política como Vo-
(D) a criação de um estado baseado em um idioma oficial, fala- cação” refere-se ao processo que, no Ocidente,
do em todo território; (A) destruiu a dominação social da nobreza, na passagem da
Idade Moderna para a Contemporânea.
3. Quais alguns dos pensadores que deram a base teórica do (B) estabeleceu a dominação social da nobreza, na passagem da
absolutismo: Antiguidade para a Idade Média.
(A) Colbert e Luis XIV; (C) fez da nobreza uma ordem privilegiada, na passagem da
(B) interventores e clérigos; Alta Idade Média para a Baixa Idade Média.
(C) Jacques Bossuet e Thomas Hobbes; (D) conservou os privilégios políticos da nobreza, na passagem
(D) Thomas Bossuet e Jacques Hobbes; do Antigo Regimepara a Restauração.
(E) permitiu ao Estado dominar politicamente a nobreza, na
4. As práticas mercantilistas regulamentavam as economias da passagem da Idade Média para a Moderna.
monarquia e tinham por base:
I) vender mais do que comprar; 9.(PUC - MG) “O Estado sou eu”. Essa frase de Luís XIV, rei de
II) incentivo a produção interna, França, expressa de fato:
principalmente nas colônias; (A) a indefinição de funções no Antigo Regime.
III) alianças entre reis, burgueses e camponeses; (B) o conceito de nação nos Tempos Modernos.
IV) ter medidas de proteção para as manufaturas e controle das (C) o nacionalismo exacerbado da transição feudal – capitalista.
taxas alfandegárias sobre os produtos importados; (D) o poder ilimitado dos reis no Estado Absolutista.
V) conquistar e explorar colônias com produtos de pouco valor (E) a identificação dos monarcas com suas nações.
comercial na Europa;
(A) somente as alternativas I e IV estão corretas. 10. (PUC - MG) Oriundo da crise do feudalismo, o Estado Ab-
(B) Somente as alternativas II e III estão corretas. solutista representou a orga-nização política dominante na so-
(C) Todas as alternativas estão corretas. ciedade européia entre os séculos XV e XVIII, podendo ser
(D) Somente as alternativas I e II e IV estão corretas. caracterizado pela:
(E) Somente as alternativas I III e V estão corretas. (A) supressão dos monopólios comerciais, possibilitando o de-
senvolvi-mento das manufaturas nacionais.
5. Quais os países que se destacaram no mercantilismo durante (B) quebra das barreiras regionalistas do feudo e da comuna,
os séculos XVI – XVIII, e em que campos se destacaram? agilizando e integrando a economia nacional.
(C) abolição das formas de exploração das terras típicas do feu-
dalismo, tornando a sociedade mais dinâmica.
38 Da Vinci Vestibulares

(D) ascensão política do grupo burguês, que passa a gerir o Es- 14. (UFPB) O absolutismo foi o regime político genuíno dos
tado se-gundo seus interesses particulares. tempos modernos. Entre os seus teóricos, destaca-se Thomas
(E) ausência efetiva de instrumento de controle, quer no plano Hobbes, autor de “O Leviatã”. A sua concepção de poder pode
moral ou temporal, sobre o poder do rei. ser assim resumida:
(A) Todas as atividades destinadas ao benefício do Estado são
11.(PUC - PR) - O Absolutismo Real foi consagrado no pla- legítimas, uma vez que os fins justificam os meios.
no teórico por alguns filósofos e pensadores, que o explicaram (B) A política e a moral não se separam, pois o bem do Estado
como necessário e justo. está ligado ao bem do indivíduo.
Numere a coluna II pela coluna I, e depois assinale a alternativa (C) O melhor Estado é o democrático, entendido como um con-
que contém a seqüência correta: trato entre o soberano e seus súditos.
(D) A monarquia hereditária é o melhor governo, pois tem ori-
Coluna I gem divina, é mais natural e se perpetua por si mesma.
( 1 ) Nicolau Maquiavel (E) O poder do Estado soberano é ilimitado, onde a lei, a pro-
( 2 ) Jean Bodin priedade e as doutrinas devem ser rigidamente por ele contro-
( 3 ) Thomas Hobbes ladas.
( 4 ) Jacques Bossuet
15. (UFPEL) Maquiavel aconselhou aos governantes do início
Coluna II da Idade Moderna formas de como manter o poder. “É de notar-
( ) Seis livros da República -se, aqui, que, ao apoderar-se de um Estado, o conquistador
( ) O Leviatã deve determinar as injúrias que precisa levar a efeito, e executá-
( ) Política resultante das Sagradas Escrituras -las todas de uma só vez, para não ter que renová-las dia a dia.
( ) O Príncipe Deste modo, poderá incutir confiança nos homens e conquis-
(A) 2 - 3 - 1 - 4 tar-lhes o apoio, beneficiando-os. Quem age por outra forma,
(B) 4 - 3 - 1 - 2 ou por timidez ou por força de maus conselhos, tem sempre
(C) 3 - 2 - 4 - 1 necessidade de estar com a faca na mão e não poderá nunca
(D) 2 - 3 - 4 - 1 confiar em seus súditos, porque estes, por sua vez, não se po-
(E) 2 - 4 - 1 - 3 dem fiar nele, mercê das suas recentes e contínuas injúrias. As
injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, to-
12.(PUC - RS) O filósofo inglês Thomas Hobbes, no século mando-se-lhes menos o gosto, ofendam menos. E os benefícios
XVII, defendeu ferrenhamente o poder absoluto dos reis para devem ser realizados pouco a pouco, para que sejam melhor
governar. Seus pressupostos políticos são encontrados na obra saboreados.”(MAQUIAVEL, Nicolau. “O Príncipe”. (Coleção
(A) O príncipe. Os Pensadores) 1º ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 44).
(B) Utopia. Suas idéias são características da conjuntura histórica que, na
(C) Leviatã. Europa, favoreceu
(D) Segundo tratado sobre o governo. (A) a Escolástica e as Corporações de Ofício nas cidades.
(E) Do espírito das leis. (B) o Teocentrismo e a fragmentação política do Império Ro-
mano.
13. (UFLA) Apresentamos abaixo, três obras representativas do (C) o Renascimento e a centralização política que levou à for-
absolutismo (coluna 1) e as principais ideias nelas contidas (co- mação dos Estados Nacionais.
luna 2). Numere a coluna 2 de acordo com a coluna 1 e identifi- (D) o Iluminismo e o Liberalismo Econômico.
que a alternativa que apresenta a seqüência CORRETA: (E) o Despotismo Esclarecido e a Revolução Industrial.

COLUNA 1 GABARITO:
1. O Príncipe (1513-16)
2. Leviatã (1651) MÓDULO 1:
3. A República (1576)
1. Epopéia grega, tomada de Troia e as conquistas de Ulisses.
COLUNA 2 2a) A colonização deu-se pela disputa por terras férteis na pe-
( ) Defende a soberania do Estado e o caráter divino do monar- nínsula grega levando-os a colonizar
ca, não havendo limites à autoridade do mesmo; o Norte da África, a Magna Grécia e a entrada do Mar Negro.
( ) Afirma haver a necessidade de um Estado nacional forte, in- 2b) As colônias mantinham intercâmbio cultural e forneciam
dependente da Igreja e encarnado na figura do chefe de alimentos para os peninsulares.
governo; 3a) Os três textos exaltam o gênero humano e sua capacidade
( ) Justifica o surgimento do Estado enquanto um contrato so- criadora. A concepção neles presente é o humanismo.
cial. Sem a existência do Estado, a humanidade viveria em per- 3b) Pico della Mirandola exalta o humanismo renascentista que
manente situação de guerra. foi buscar no passado grecoromano
(A) 2, 1, 3 que reviveram Sófocles e Cícero.
(B) 1, 3, 2 4a) Arte teatral, intensamente influenciada pela mitologia. São
(C) 3, 2, 1 expoentes: Eurípedes, Ésquilo e Sófocles.
(D) 3, 1, 2 4b) Sob enfoque antropocentrista, o teatro aborda todas as vi-
(E) 1, 2, 3 cissitudes humanas. Vícios, paixões, emoções, etc são temas
abordados
Extensivo 39

veram como causas:


5a)Bárbaros eram os povos pertencentes ao Império Persa que - pressões sofridas pelos povos germânicos pelos mongóis que
Alexandre conquistou. vinham do oriente;
5b) Aproximou-se da cultura dos povos orientais e introduziu - crises na administração interna de um Império muito grande;
costumes gregos. Essa é a origem da cultura helenística. - exército desorganizado e ineficiente.
6.C 13b) Os principais povos bárbaros que invadiram as fronteiras
7.A do Império Romano foram os francos, ostrogodos, visigodos,
8.C vândalos, saxões e hunos.
9.B 14. A
10.B 15a) Por dívidas antes da Lei Licínia ou por conquistas milita-
11.B res.
12.Na Grécia o politeísmo refletia o espírito humanista e o ca- 15b) Agricultura, minas, artesanato e comércio.
ráter antônimo das cidades e da sociedade grega. No império
romano, a não aceitação do imperador como divindade pelo mo- MÓDULO 3:
noteísmo cristão questionava-o como autoridade política.
13.B 1.C
14.C 2.A
15.A 3.B
4.D
MÓDULO 2: 5.D
6. B
1. C 7. E
2. Na Grécia o politeísmo refletia o espírito humanista e o ca- 8. A
ráter antônimo das cidades e da sociedade grega. No império 9. A
romano, a não aceitação do imperador como divindade pelo mo- 10. C
noteísmo cristão questionava-o como autoridade política. 11.B
3. - A racionalidade grega presente no pensamento filosófico e 12.D
científico. 13.D
- O conceito de cidadania e democracia que fortaleceu a política 14.D
em detrimento da religião. 15.A
- A organização do Direito, herdada dos romanos.
- O Latim, língua dos romanos que originou a formação de lín- MÓDULOS 4 E 5:
guas modernas como o português e o espanhol.
4. B 1.C
5. E 2.C
6. B 3.E
7. D 4.A
8a) Religião proibida, oferecia-se uma cosmovisão e era prati- 5.D
cada principalmente por escravos e os mais pobres. 6a) O mapa de 1498 não retrata a Oceania e a América que,
8b) Pois não aceitavam o imperador como divindade, acarretan- embora já tivesse sido alcançada por Colombo em 1492, tinha
do uma desobediência política. sido ainda pouco explorada.
9. Na antiguidade as colônias tinham autonomia política e eram 6b) Eram necessários conhecimentos de Matemática (principal-
pontos estratégicos como bases militares e(ou) comerciais. mente Geometria), Geografia, Astronomia e Cartografia para
Eram pontos de afluxo migratório de excedentes populacionais. elaboração de um mapa como o Mapa Mundi de Martellus.
A escravidão, de modo geral, era resultante de dívidas ou pro- 7. Dentre os fatores que impulsionaram Portugal para a expan-
duto de guerras. Os escravos eram utilizados no setor produtivo são marítima destaca-se a busca por riquezas na costa africa-
e doméstico. Muitos escravos gregos se notabilizaram por to- na (ouro, pimenta, marfim e escravos), a busca de um caminho
marem parte importante na educação dos filhos de senhores ro- marítimo para as Índias (especiarias) e a ideia de expansão da
manos. Na época moderna as colônias são parte fundamental na fé cristã católica. A exploração de novos territórios produziram
política econômica mercantilista. São fornecedores obrigados trocas culturais, políticas e comerciais ampliando o mundo até
de produtos para a metrópole e são mercados consumidores for- então conhecido pelos europeus, configurando assim, um pri-
çados de produtos da metrópole. A escravidão foi praticada con- meiro processo de globalização.
tra os índios americanos e negros africanos. Foram utilizados 8. A partir do século XVI, com a colonização do Novo Mundo,
na produção em grandes propriedades. O comércio e o tráfico condicionada à expansão comercial europeia, ocorreu uma am-
de escravos poderia ser também um fator de enriquecimento da pliação espacial dos territórios até então conhecidos pelos euro-
metrópole. peus. Além disso, estabeleceu-se o Sistema Colonial, definindo
10a) Formar um exército disciplinado e bem treinado. a Europa como área metropolitana e a América e os demais con-
10b) Foi a base do império, o exército romano foi responsável tinentes como áreas coloniais. A partir daí, as nações europeias
pelo último e maior império da antigüidade. instituíram a política mercantilista como forma de superação
11. D econômica em relação às concorrentes, desencadeando conflitos
12. D políticomilitares entre os países europeus protagonistas e coad-
13a) As invasões bárbaras no Império Romano do Ocidente ti- juvantes no processo da expansão marítima.
40 Da Vinci Vestibulares

9a) O pioneirismo português nas Grandes Navegações pode ser ção ultramarina.
explicado pela centralização política precoce de Portugal no 6.A
contexto da Guerra de Reconquista contra os mouros (muçul- 7.D
manos) na Península Ibérica. Além disso, ocorreu a consolida- 8E
ção e o fortalecimento do Estado Nacional com a Revolução de 9.D
Avis (1383-1385) que promoveu uma aproximação entre o rei e 10.B
a burguesia mercantil, condição que assegurava o gerenciamen- 11.D
to da empreitada por parte do Estado e os recursos financeiros 12.C
junto aos burgueses. 13.D
9b) As conquistas decorrentes da Expansão Marítima e Comer- 14.E
cial proporcionaram a possibilidade de aumento dos lucros para 15.C
a burguesia mercantil e o aumento da arrecadação de impostos
pelo Estado, adequando-se assim, à política econômica mercan-
tilista.
10a) O Tratado de Tordesilhas estabeleceu os limites das terras
conquistadas e a serem conquistadas entre Portugal e Espanha.
10b) Os países europeus excluídos dessa partilha, destacando-se
a França, passam a questionar o tratado e a exigir o acesso às
possessões coloniais de Portugal e da Espanha.
11. A Igreja Católica deu suporte para Portugal e Espanha con-
cretizarem suas ambições mercantis e foi grande aliada dos es-
tados europeus em questão no processo de europeização e cris-
tianização que se estabeleceu no Novo Mundo.
12. A
13. C
14. C
15. A

MÓDULOS 6 E 7:

01.E
02.E
03.D
04.C
05.C
06.C
07.B
08.B
09.E
10.A
11.A
12.C
13.A
14.C
15.B

MÓDULO 8:

1. A
2. B
3.C
4.D
5. França, Inglaterra, Espanha e Portugal. França- na produção
e no comércio , além da construção naval. No reinado de Luis
XIV, orientado pelo ministro das finanças, Colbert, desenvol-
veu-se na exportação de artigos de luxo. Inglaterra, teve o in-
centivo na construção naval e na criação de leis que proibiam
o transporte de produtos das metrópoles ou das colônias ingle-
sas, por navios estrangeiros. Incentivou as atividades financei-
ras por criar diversas companhias de comércio. Espanha, com
o enriquecimento devido os metais preciosos de suas colônias.
Destacando-se o ouro. Portugal, na construção naval e explora-
Extensivo 41

Geografia
42 Da Vinci Vestibulares

Módulos 1 e 2: Cartografia mental em comum: o espaço. E este espaço não pode ser con-
siderado sem a relação primordial de sua existência: sociedade-
-natureza. Esta relação, portanto, atribui o caráter degeográfico
ao espaço. Sendo assim, o geógrafo estuda o espaço geográfico
e sua organização, que é o resultado dinâmico e interativo e em
constante transformação de ordens e desordens de diversas di-
mensões, sejam cosmogônica, microfísica ou antropogênica,
incluindo as inúmeras ramificações dessas dimensões.
Ao entender que a organização do espaço geográfico é
o objeto de estudo da Geografia, é necessário considerar na aná-
lise dessa organização a compreensão das múltiplas dimensões
que atuam no processo de produção do espaço. É importante
ressaltar, também, que a sociedade, através das técnicas e in-
tervenções neste espaço, é o elemento que mais transforma o
espaço geográfico, mas não pode ser considerado o único, co-
existindo com uma infinidade de variáveis, o que resulta em
uma complexidade socioespacial. Nenhum dos elementos cons-
tituintes do espaço pode ser analisado de maneira isolada ou de
Figura 1: FONTE: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/ma forma linear.
pas_pdf/brasil_densidade_demografica.pdf Tomaremos como exemplo hipotético uma cidade
qualquer para explicar a organização espacial. Para construir
A Geografia, por muito tempo foi considerada a Ci- uma cidade, é necessário ter, obviamente, uma superfície e so-
ência que descrevia o planeta Terra e sua superfície. Este fato bre ela serão construídas diversas infraestruturas, tais como:
deve-se à atuação do geógrafo e à etimologia da palavra Geo- estradas, redes de distribuição de água, esgoto e energia; edi-
grafia que possui origem grega: o prefixo “Geo” significa Terra ficações para diversas finalidades: habitacionais, comerciais,
e o sufixo “grafia” quer dizer descrição. Desta forma, no início estatais. Toda esta organização visa acomodar as demandas dos
da difusão do conhecimento geográfico o importante era descre- seus habitantes, mas por muitas vezes, tudo isto é concretizado
ver, diferenciar e, se possível, cartografar os locais estudados. sem o devido planejamento. Estas formas estão inseridas em
Esta fase ocorreu por um longo período e sua transfor- uma tipologia de relevo, em um determinado tipo de clima, um
mação se iniciou quando a Geografia, no século XIX, começou substrato geológico com suas diversas características de insta-
a estruturar-se como uma ciência sistematizada, ou seja, quando bilidade ou estabilidade, entre outros fatores a serem conside-
foi empregado a este ramo do conhecimento um conjunto de rados. A depender da função que esta cidade possui (comercial,
métodos e princípios para se obter o que seria o conhecimento turística, administrativa, portuária, universitária, ou outra), ou
geográfico. Este evento ocorreu na Alemanha durante o período de sua economia e de seu papel político, a cidade pode apresen-
de sua unificação, e os principais nomes da ciência Geográfica tar um crescimento espacial maior ou menor em função da com-
dessa fase foram Alexander Von Humboldt, Karl Ritter e Frie- binação destas características. Isto transforma continuamente o
derich Ratzel. espaço geográfico. Porém um evento sísmico (terremoto) ou
Após esse período, os estudiosos em Geografia produ- evento climático extremo como chuvas torrenciais pode alterar
ziram diferentes abordagens sobre o conhecimento geográfico. rapidamente a superfície terrestre, transformando, desta forma,
Durante um considerável tempo, a temática central da produção o espaço geográfico e, consequentemente, a vida das pessoas.
geográfica se deu em torno do objeto de estudo da geografia. Isto mostra que, ao observarmos a organização espacial, inúme-
Para entender qual é o objeto de estudo do saber geográfico, é ros fatores e processos devem ser considerados para um correto
interessante compreender alguns acontecimentos durante a evo- uso e ocupação, a fim de não expor as pessoas ao risco.
lução da produção de seu pensamento:
A Geografia foi concebida como ciência através da for- Breve histórico do pensamento geográfico:
te influência do pensamento cartesiano, que preconiza a dicoto-
mia e a fragmentação do objeto na maior quantidade de partes A Geografia foi sistematizada cientificamente no sé-
possíveis. Por isso surgiu não apenas uma geografia, mas sim culo XIX. Até os dias atuais, a maneira de se pensar e fazer a
“diversas geografias”; ciência geográfica se altera ao longo do tempo. A origem da
Surge, assim, a separação “maior” do conhecimento Geográfi- ciência remonta à Antiguidade Clássica. Os gregos tinham re-
co: gistros, conhecimentos e informações singulares sobre a super-
fície terrestre, mas o saber geográfico é anterior a eles. Embora
♦ Geografia Humana X Geografia Física. Essa dicotomia alguns autores, como Eratóstenes, século II a.C. autor da obra
fez emergir diversos ramos da Geografia que não ‘Geografia’ e Estrabão, dois séculos após, tenham desenvolvido
se articulavam. Na Geografia Humana, existia a Geografia trabalhos nesta área do conhecimento, é Heródoto que é consi-
Agrária, Geografia Urbana, Geografia Econômica, Geografia derado o pai da Geografia.
Política, Geografia Cultural dentre outras. Na Geografia Física, O conhecimento do espaço evoluiu com a civilização
surgiu: a Climatologia, a Geomorfologia, a Biogeografia, den- em função das necessidades da humanidade e as buscas por no-
tre outras. O problema em si desta situação não é a separação, vos territórios. Tais conhecimentos, como as práticas agrícolas,
e, sim, a ausência de considerações de interações nas análises as relações campo-cidade e as relações homem-natureza foram
geográficas, e, por fim, desenvolvidos desde a pré-história à Idade Média e, na Idade
Todas estas geografias tinham um elemento funda- Moderna, se dá na Alemanha a sistematização da geografia
Extensivo 43

A luz do pensamento positivista com Friederich Rat- diálogo sociedade-natureza através da organização do espaço,
zel, Karl Ritter e Alexandre Von Humboldt, durante o período que se torna geográfico. Para auxiliar neste entendimento, é ne-
da unificação da Alemanha, surge a Escola Determinista a qual cessário compreender que tudo que está no espaço está inserido
considera o homem como produto do meio. Opondo-se ao pen- no tempo. Porém é preciso compreender o que é o tempo. O
samento determinista, sob a luz do liberalismo, nasce na França, tempo, ele existe por si só ou foi apenas uma criação arbitrária
com Vidal de la Blache, no final do século XIX, momento de da humanidade para delimitar o acontecimento de algum fenô-
sua expansão e melhor controle do espaço, a Escola Possibilista meno? É necessário recorrer novamente a um exemplo: uma
que tem o Homem no mesmo patamar da natureza. A natureza, árvore, um animal, as pessoas, as coisas que conhecemos, facil-
então, é vista na Geografia Possibilista, como fornecedora de mente identificamos quando estão novos ou velhos. A atribuição
possibilidades para a ação humana e o homem um ser ativo. La destes adjetivos (novo, velho) carrega em si uma noção de tem-
Blache define o conceito de ‘gênero de vida’ o qual foi herda- po e conclui-se que este realmente existe.
do do determinismo, como um acervo de técnicas, hábitos usos Para a Geografia, é necessário compreender este tempo
e costumes os quais permitem modificar o espaço geográfico. que pode ser chamado de linear ou histórico. Entretanto também
Surge a Geografia Regional que alguns autores elegem como existe o tempo cíclico, ou seja, o tempo das coisas que aconte-
uma corrente do pensamento geográfico a qual tem Richard cem e que tornam a acontecer de forma periódica.
Hartshorne como um dos maiores pensadores. Outros geógrafos Como exemplo é possível citar um agricultor que sabe
consideram um ‘tentáculo’ da corrente possibilista vista como quando ocorrerá o período de chuvas, e que este evento ocorre
fase de transição da geografia tradicional para a geografia mo- sazonalmente. Se não chover no período em que o agricultor
derna. A influência da Escola Francesa no Brasil remonta ao está acostumado, algum evento interferiu no tempo cíclico que
início do século XX, mas ganha força a partir da década de 30 ele conhecia. Além dos tempos cíclicos e lineares, os geógrafos
com a institucionalização da Geografia nos cursos superiores e necessitam analisar o caráter do que está no tempo, a isto se
com a criação da Associação de Geógrafos Brasileiros – AGB. denomina temporalidade. Esta necessidade surge ao conceber
A partir de meados da década de 40 (do século XX), que a sociedade não está conectada a um mesmo e irreversível
com o advento da expansão capitalista e suas consequências na tempo. A velocidade das técnicas, da informação, das interven-
organização do espaço e na estrutura da sociedade num contexto ções da sociedade e dos acontecimentos não é comum a todos.
da ciência moderna, surge a Nova Geografia também denomina- Portanto os fenômenos ocorrem espacialmente e temporalmen-
da de Geografia Quantitativa ou Teorética. te, constatando a coexistência do espaço-tempo.
Com base no positivismo lógico, os estudos geográfi-
cos são abordados à luz de modelos de arranjos espaciais com
ANÁLISES ESPACIAIS
uso de técnicas estatísticas e matemáticas. Na análise do espaço

geográfico, desprezam-se as relações sociais e escamoteiam-se
Para estudar o espaço geográfico, é imprescindível re-
as questões políticas com uma postura de ciência ‘neutra’. No
correr a categorias de análises espaciais que possibilitem iden-
Brasil, esta corrente predominou na fase da ditadura militar, es-
tificar a organização espacial e as relações existentes entre a
tando a serviço do Estado. Rebatendo a Geografia Quantitati-
sociedade e a natureza. Estas categorias são utilizadas de forma
va, nasceu a Geografia Crítica intitulada também de Geografia
isoladas ou integradas para compreender um fenômeno geográ-
Marxista, com herança da Geografia Radical cujo berço foi os
fico. Na sequência, temos as categorias de análises utilizadas na
Estados Unidos, nos anos 60, proveniente da situação de contes-
Geografia e suas definições conceituais que permitem a opera-
tação à guerra do Vietnã tem como características a relevância
ção dos estudos geográficos.
social, e a preocupação em ser atuante, ou seja, dá voz às ques-
tões sociais e às lutas de classes com base no pensamento de
♦ Espaço Geográfico: De acordo com Milton Santos (2004),
Karl Marx. No Brasil, A Geografia Crítica surgiu na década de
espaço geográfico é um conjunto indissociável, solidário e con-
70, tendo como um dos expoentes Milton Santos a partir de sua
traditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não consi-
postura política e de uma relevante produção acadêmica. Na
derados isoladamente, mas, no quadro único no qual a história
atualidade, temos diversas tendências que retratam a Geografia
se dá. Esse sistema de objetos (formas) pode ser da natureza ou
Contemporânea como a Humanística, a Idealista e a Ecológica
da sociedade bem como o sistema de ações (intervenções) pode
com trabalhos de renovação do pensamento geográfico. A li-
ser concretizado pela sociedade ou pela natureza. Existe, tam-
nha humanística caracteriza-se por valorizar a experiência do
bém, nas análises geográficas, leitura diferenciada do espaço
indivíduo ou de grupos sociais a partir da percepção e do sentir
geográfico em percebido e vivido. O espaço percebido conside-
destes sobre o território. As relações do indivíduo são anali-
ra as relações conflituais hierárquicas existentes no espaço que
sadas desde seu habitat natural, tanto num contexto local quanto
se refere à produção e à reprodução social. Já o espaço vivido é
global.
o espaço das representações e do simbolismo, que são reprodu-
A partir dele, temos o ‘norte’ para entender porque a
zidos no cotidiano, sendo considerada, desta forma, a soberania
Geografia lança mão de diferentes áreas do conhecimento para
do ser humano no espaço.
estruturar seus conceitos e categorias, e, no olhar de Ab’Saber,
como a ciência geográfica faz a leitura das vivências do homem
e como a sociedade transforma a paisagem de forma dinâmica e
♦ Território: É a apropriação de um espaço. Essa apropriação
em perpétua evolução, carregada de heranças oriundas de pro-
pode ser realizada pelo Estado, ou seja, institucionalizado juri-
cessos multiescalares.
dicamente (ex. Território brasileiro), pode ser apropriado atra-
vés de representações materiais e simbólicas que são chamadas
O ESPAÇO GEOGRÁFICO: ESPACO X TEMPO
de territorialidades (ex.Território Indígena ou Quilombola). As

relações de poder são preponderantes nesta categoria analítica.
O olhar geográfico se caracteriza por compreender o
44 Da Vinci Vestibulares

♦ Paisagem: É toda forma espacial que é apreendida através da reduzida. A Geografia contribui muito na Cartografia, no que
utilização dos sentidos. Então, a paisagem é a forma espacial se refere aos seus conhecimentos sobre o espaço geográfico,
que pode ser apreendida pela visão, audição, tato, olfato. Para tais como: conhecimento sobre a geomorfologia, a
Ab’Saber (2003) a paisagem é sempre uma herança de proces- hidrografia, a organização urbana e populacional, econômica,
sos fisiográficos e biológicos conjugados com a atuação da so- etc. Esses conhecimentos serão abordados mais adiante.
ciedade em um espaço. A representação do espaço geográfico em forma de
mapas é mais antiga do que a própria escrita, como vemos na
figura abaixo, o mapa feito numa placa de barro no ano de 2500
♦ Região: É uma extensão territorial na qual há um conjunto de a.C. Mas o que seria um mapa? Para Raisz (1968), o mapa é
elementos (ambientais, econômicos, socioculturais) que o dis- uma representação do que de melhor se conhece da superfície
tinguem de outra área. Para Moreira (2008) é uma subcategoria terrestre, vista de cima. No estudo e na confecção de um mapa,
do território. devem ser considerados: escala, sistema de projeções, conven-
ções cartográficas (elementos representados por símbolos), le-
genda para explicar o significados dos símbolos e um título para
♦ Lugar: É o espaço do acontecer do cotidiano, da existência. o mapa.
Um lugar é construído através de signos e significados, além
do sentimento de pertencimento e de afeto em um determinado
espaço. Sua extensão pode possuir limites, mas não é uma ca-
racterística fundamental do lugar. Para Moreira (2008), também
é uma subcategoria do território.

♦ Rede: As redes são o meio, caracterizado pelas ligações, atra-


vés do qual se desenvolvem e se manifestam os diferentes tipos
de fluxos. Os fluxos coexistem com os fixos, estes últimos pos-
suem uma expressão espacial. Na geografia, são analisadas com
maior frequência as redes: urbanas, de transportes e de comuni-
cações. De acordo com Moreira (2008), assim como a região, a
rede é uma sub-categoria do território.

♦ Sociedade: É o conjunto de pessoas e suas relações depen-


dentes que possuem caráter conflituoso e solidário. A produção
social por via de seu comportamento, pensamento e valores são
considerados cultura. Desta forma, podemos considerar a socie-
dade como uma unidade e provedora de diversas culturas.

♦ Natureza: É o conjunto indissociável de matéria e energia


existente no universo. Esta categoria comumente é associada
com o conceito de ambiente ou meio ambiente, sendo, porém,
os três conceitos distintos. Uma maneira incorreta de emprego Figura 2: FONTE: Museu online de Topografia – UFRGS, 2010
deste conceito é dissociá-lo da cultura (produção da sociedade).
A sociedade é Natureza e não está apenas inserida na natureza. Este é considerado um dos mapas mais antigos, datado
De acordo com Gonçalves (2001), a cultura é considerada, de de 2500 a.C., foi encontrado na região da Mesopotâmia. Repre-
forma errônea, como algo superior e que conseguiu dominar e senta o rio Eufrates e acidentes geográficos adjacentes, sendo
controlar a Natureza. Nas análises geográficas, a Natureza não feito uma pequena estela de barro cozido que cabe na palma da
pode ser considerada apenas como matéria-prima ou recurso mão e que foi descoberta perto da cidade de Harran, no nordeste
para as atividades da sociedade. do Iraque atual.

REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO ESCALA


SURGIMENTO E IMPORTÂNCIA DA CARTOGRAFIA
O mapa é uma representação reduzida da superfície
terrestre. Esta redução é feita através da escala cartográfica, que
Existem diversas formas de se representar o espaço
é a relação entre o valor de uma distância medida sobre a su-
geográfico, sejam por meio de desenhos artísticos, técnicos, fo-
perfície da Terra e o comprimento medido no mapa, expressado
tografias, mapas, etc. A ciência responsável pela representação
pela seguinte expressão matemática:
gráfica do espaço geográfico, tendo como produto final o mapa,
é a Cartografia. Mas por que se estudar Cartografia? É por conta
dela, com a ajuda de diversas áreas, principalmente da Geogra-
fia, que se consegue reunir e analisar dados e medidas das diver-
sas regiões da Terra e representar graficamente em uma escala
Extensivo 45

No mapa existem dois principais tipos de escalas: a


escala numérica e a escala gráfica. Escala: 1:100.000
♦ Escala Numérica: é posta em forma de relação matemática.
Por exemplo: 1:1.000.000 ou 1/1.000.000, onde o número 1,
que fica no numerador, é a medida (em centímetros) a ser usada
no mapa; e todo número que aparece após os dois pontos ou a
barra corresponde à medida (em centímetros) a ser aplicada no
terreno. No caso, 1 centímetro no mapa corresponde a 1.000.000
de centímetros a serem medidos na superfície.
♦ Escala Gráfica: representada por uma régua graduada.

TAMANHO DA ESCALA

Para a representação da superfície através dos mapas é


preciso se fazerem reduções dos fenômenos a serem cartogra-
fados.
Por meio disto, existem 3 tamanhos de escala que re-
presentam o grau de detalhamento dos fenômenos nos mapas:
grande, média e pequena. Em resumo, trata-se de uma questão Figura 4: FONTE 2: MMA, Acessado em 01/02/2011
da necessidade ou não da exigência de detalhes.
Um mapa com escala grande apresenta um alto grau de
detalhamento dos objetos/fenômenos a serem mapeados, ou
seja, a representação gráfica dos elementos da superfície chega Escala 1:250.000.000
próximo do real. Ex.: plantas de construção de condomínios,
plantas cadastrais de cidades; escalas menores que 1:25.000 No
mapa de escala média apresenta-se um grau de detalhamento re-
gular do terreno, no qual são utilizadas formas geométricas para
representá-los. Ex.: Cartas Topográficas; escalas entre 1:25.000
e 1:250.000
Contudo, se um mapa não apresentar um grau de deta-
lhamento razoável, ele é tido com um mapa de escala pequena.
Esta escala é utilizada quando se fazem representações generali-
zadas dos fenômenos desejados. Ex.: Mapas de Estados, países
e Mapa-Mundi; escalas maiores que 1:250.000. Observe as fi-
guras abaixo mostrando os diferentes níveis de análise em suas
escalas:

Escala: 1:10.000

Figura 5: FONTE 3: Scriba Blog, Acessado em 01/02/2011

Para Oliveira (1993), o grande drama da Cartografia é


o de representar a superfície curva que a Terra possui para uma
superfície plana, que é o mapa. Então, um mapa-mundi tem a
superfície da Terra toda alterada, sendo, então, o globo terres-
tre a representação mais fiel que temos da superfícia da Terra.
Segundo Tamdjian e Mendes (2005), o termo projeção
deriva dos processos e metodologias usados para a elaboração
dos mapas, que são baseados na utilização de uma fon-
Figura 3: FONTE 1: INFORMS, Acessado em 01/02/2011 te de luz dentro do globo terrestre. A projeção dos paralelos,
46 Da Vinci Vestibulares

dos meridianos e de outras características geográficas sobre A projeção plana é aquela que mais tem caráter geopo-
uma superfície colocada ao lado do globo são ilustradas na lítico, pois permite a centralização de qualquer país. Observa-
figura abaixo: -se que não existe uma “projeção ideal” e, sim, a projeção que
melhor representa a área a ser cartografada. Portanto cada proje-
ção atenderá a uma determinada necessidade, podendo ser esta
a necessidade de mapear a forma dos objetos, a distância entre
localidades a serem percorridas ou a área específica a ser retra-
tada. Sendo assim, as projeções cartográficas são classificadas
em:

♦ Projeções conformes: ocorre a deformação de continentes e


países, não se preocupando com as áreas e as distâncias, cuja
principal preocupação é manter as mesmas formas dos conti-
nentes exatamente na latitude e na longitude. As principais pro-
jeções são as de Mercator (1569) e Robinson (1961), sendo elas
cilíndricas.
♦ Projeções Equivalentes: mantêm a proporcionalidade das
áreas, criando uma grande deformação dos ângulos das coorde-
nadas e nas distâncias reais. As principais projeções equivalen-
tes são as de Gall (1855) e Peters (1973), assim como a projeção
confirma, a equivalente também é cilíndrica.
♦ Projeções Equidistantes: se conservam as distâncias, porém
ocorrendo distorção nas áreas e nas formas dos continentes e
países, servindo para fins específicos tais como o mapeamento
central de um país, assim como a projeção plana.

ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO

A necessidade de localização e orientação no espaço


geográfico tornou-se e é uma das principais preocupações da
sociedade. Quando andamos em uma cidade em direção a um
Figura 6: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005. local onde nunca fomos, sempre procuramos informações sobre
as proximidades e os pontos de referências para se chegar ao
destino desejado. Porém, quando uma pessoa está em alto-mar
Porém, hoje, existem diversas formas de projeções ser- ou no meio do deserto, não existem pontos de referência para
vintes para representação da Terra, algumas são mais utilizadas se localizar no espaço. Ao longo da história da humanidade,
do que as outras: cilíndrica, cônica e plana. foram desenvolvidas diversas técnicas de localização e orien-
tação. Foi percebido que o Sol, por exemplo, nasce sempre no
mesmo lado do horizonte e se põe do lado oposto. A partir desta
observação foram criadas as direções de E – Leste (onde o Sol
nasce ou oriental) e W – Oeste (onde o Sol se põe ou ocidental);
logo depois, difiniu-se o N – Norte (setentrional ou boreal) e
o S – Sul (meridional ou austral). Definidas estas direções, foi
criada a rosa-dos-ventos, composta por um disco graduado de
0º a 360º, sendo dada uma volta completa no horizonte (como o
ponteiro de um relógio), com a finalidade de orientação com ou
Figura 7: FONTE: LABTATE, 2011 sem pontos de referência, por exemplo. Nela estão registrados
os pontos cardeais (N, S, E e W), colaterais (NE, SE, SW e NW)
e subcolaterais (NNE, ENE, ESS E, SS E, SS W, WSW, WNW
♦ Projeção Cilíndrica: a Linha do Equador é a única coordena-
e NNW).
da que mantém a dimensão original; logo, as localidades quan-
to mais próximas forem do Equador, menor será a distorção e
quanto mais afastada, as distorções são maiores.
♦ Projeção Cônica: nesta projeção, somente um dos hemisfé-
rios podem ser cartografados de cada vez; logo, os terrenos mais
próximos dos polos e do Equador apresentam maiores distor-
ções. Essa projeção é muito utilizada para mapear, por exemplo,
a Europa e os EUA.
♦ Projeção Plana: também é conhecida com azimutal oupolar,
tendo como características principais: o centro domapa pode ser
localizado; logo, as localidades mais próximasdo ponto central
estão representadas com maior fidelidade.
Figura 7: Rosa dos Ventos. FONTE: Weekale Blog, 2011.
Extensivo 47

COORDENADAS GEOGRÁFICAS MOVIMENTOS DA TERRA



Na tentativa de solucionar a questão da localização, A Terra é um corpo celeste e está em constante movi-
foi sendo desenvolvido, ao longo dos tempos, um conjunto de mento no espaço, seja em torno do seu eixo polar, seja em
linhas imaginárias, traçadas sobre a esfera da Terra nos sentidos torno do Sol a partir do plano da ecliptica. Além destes dois
Norte-Sul e Leste-Oeste, formando um quadriculado a partir do movimentos, a Terra executa uma infinidade de outros movi-
cruzamento destas linhas, ou seja, uma rede geo gráfica de loca- mentos de longas durações, alguns deles conhecidos como
lização com o objetivo de se ter a localização exata de qualquer ciclos de Milancovitch.
ponto na superfície. Porém, para os estudos geográficos, existem dois prin-
Essas linhas imaginárias foram denominados de para- cipais movimentos realizados pela Terra: o movimento de rota-
lelos e meridianos, sendo medidas em grau, minuto e segundo. ção e o movimento de translação, sendo estes os movimentos
(Ex.: Trópico de Câncer 23º 27’ N). que mais influenciam na vida humana.
♦ Paralelos: definem as diferentes latitudes, são linhas ♦ Movimento de Rotação: é o movimento executado
que têm como parâmetro a Linha do Equador (0º), partindo em em torno do seu eixo polar, levando, aproximadamente, 24 ho-
90º ao Norte e ao Sul, marcando a distância entre os polos. Os ras para completar um giro de 360º, com direção W-E, fazendo
paralelos delimitam, por exemplo, as zonas climáticas da Terra com que o Sol tenha um movimento aparente de L-W. Este mo-
(zonas quentes, temperadas e glaciais). vimento é o responsável pela contagem dos dias e das noites.
Porém a Terra possui uma inclinação no seu eixo, de 23º27’,
o que não permite que o Sol ilumine todos os lugares da Terra
igualmente.

Figura 8: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005.

♦ Meridianos: definem a longitude, são linhas que têm


como referência o Meridiano de Greenwich (0º), partindo em
180º para Leste e para Oeste, convergindo para os polos norte
e sul. A interseção entre os meridianos e paralelos dá-se em um
ângulo reto. É, com base na localização dos meridianos, que fo-
ram criados os fusos horários, sendo o meridiano de Greenwich
a referência da hora mundial.

Figura 10: FONTE: Adaptado de Uma Liberdade


Virtual Blog - Acessado em 22/01/2011
FONTE: Adaptado de ADAS, 200.

♦ Movimento de Translação: é o movimento reali-


zado em torno do Sol, assim como os outros planetas do Siste-
ma Solar, percorrendo um percursso em forma de elipse, sendo
este um movimento muito importante para a Geografia no que
tange a determinação das estações do ano. Possui à duração de
365 dias e 6 horas, aproximadamente, com a Terra ficando mais
próxima do Sol (periélio) e mais distante (afélio). No interva-
lo de 4 anos, tem a ocorrência do ano bissexto, com 366 dias.
Figura 9: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005. Com a combinação do movimento de translação e da inclinação
do eixo terrestre terrestre, ocorre a determinação da maneira
48 Da Vinci Vestibulares

e da intensidade que os raios solares atingem a Terra, conheci- origem inglesa) adotava esse meridiano. Por razões político-
dos como estações do ano. As estações do ano estão diretamen- -administrativas, a linha do fuso horário não é uma “reta”.
te relacionadas ao desenvolvimento das atividades humanas,
como a agricultura e como a pecuária. Além disso, determinam
os tipos de vegetação e clima de todas as regiões da Terra de
acordo com a época do ano e a localização na Terra. Quando
no hemisfério Norte é inverno, no hemisfério Sul é verão. Da
mesma maneira, quando for primavera em um dos hemisférios,
será outono no outro.

Figura 12: FONTE: Impactogeo Blog – Acessado em 19/01/2016

Por conta da grande extensão territorial leste-oeste de


alguns países, é adotada uma hora legal que nem sempre corres-
ponde exatamente ao fuso em que está localizado. Por exemplo,
a Rússia possui 12 horas diferentes, o Canadá 8, os EUA adotam
6 horas diferentes e o Brasil possuia 4 horários distintos. Hoje, o
Figura 11: As estações do ano. Brasil possui 3 fusos horários.
A compreensão dos fusos horários é de extrema im-
Em diferentes épocas do ano, a Terra ocupará uma po- portância, principalmente para as pessoas que realizam viagens,
sição em relação ao Sol que determinará os fenômenos conheci- contato com pessoas, relações comerciais com locais de fusos
dos como Equinócio e Solstício. distintos dos seus, proporcionado, portanto, o conhecimento de
O Equinócio ocorre quando os raios solares incidem horários em diferentes partes do globo.
perpendicularmente sobre a linha do Equador, tendo o dia e a
Para se calcular o horário de um local, primeiramente
noite a mesma duração na maior parte dos lugares da Terra; no
deve-se observar em qual hemisfério ele se localiza. As loca-
hemisfério norte, ocorre o equinócio de primavera e, no hemis-
lidades, a leste de Greenwich, têm suas horas adicionadas e, a
fério sul, ocorre o equinócio de outono; no dia 21 de março e no
oeste de Greenwich, são reduzidas, e depois divididas por 15º
dia 23 de setembro, ocorre o contrário.
(equivalente a cada fuso horário). Se as localidades estiverem
O Solstício ocorre quando os raios solares incidem
em hemisférios diferentes, as longitudes são somadas e dimi-
perpendicularmente sobre o trópico de Câncer, situado a 23o
nuídas, quando estiverem no mesmo hemisfério. Por exemplo,
27’, no hemisfério norte, ocorrendo o solstício de verão, nesse
a cidade Madras (Índia) está localizada na longitude de 80º E. A
hemisfério, no período de 21 de junho, sendo o dia mais longo
cidade Salvador, no Brasil, assim como toda a sua região Nor-
e a noite mais curta do ano, que marcam o início do verão. En-
deste está localizada na longitude de 45º W. Quando em Salva-
quanto isto, no hemisfério sul, acontece o solstício de inverno,
dor as pessoas estão saindo para o trabalho às 6 horas que horas
com a noite mais longa do ano, marcando o início da estação
serão em Madras?
fria. No dia 21 de dezembro, ocorre o fenômeno oposto.
Porém essas datas de ocorrência dos equinócios e dos
solstícios (estações do ano) não são fixas. Os fenômenos se ini-
ciam, verdadeiramente, quando a Terra e o Sol estão numa po-
sição em que os raios solares incidem perpendicularmente na
linha do Equador (primavera e outono) ou a um dos trópicos
(verão e inverno).

FUSOS HORÁRIOS

Juntamente com preocupação da localização das pes-


soas, no espaço geográfico, atentou-se, também, para situa-las
no tempo. Em 1883, na Conferência de Roma (Itália), optou-se
por dividir a circunferência da Terra (360º) em 24 fusos horários
de 15º cada, os quais correspondem a cada hora diária.
No ano seguinte, na Conferência de Washington
(EUA), cerca de 25 países adotaram o meridiano de Greenwich
como ponto zero, porque a maior parte dos mapas da época (de
Extensivo 49

FUSOS HORÁRIOS DO BRASIL Tramitam na Câmara dos Deputados três projetos de


lei, de autoria dos deputados Mário de Oliveira (PSCMG), Ar-
Pela extensa dimensão leste-oeste do território brasi- mando Abílio (PTB-PB) e Valdir Colatto (PMDBSC), que pre-
leiro, o país possuía 4 fusos horários. Porém, de acordo com o tendem abolir o horário de verão no Brasil.
projeto de lei 11.662/08, do Senador Tião Viana (PT/AC), apro- A justificativa apresentada é que os benefícios com
vado no Congresso e sancionado pelo presidente da República, a redução da carga máxima de energia elétrica em horário de
se estabelecem apenas 3 fusos horários no Brasil. pico não atingem a maior par te dos cidadãos, enquanto que os
Esse projeto determinou que o estado do Pará seguirá o prejuízos à saúde e à segurança pública afetam principalmente
fuso horário de Brasília (hora oficial) e que o Acre estará incluí- pessoas que precisam acordar cedo e ir à escola ou ao trabalho
do no 3° fuso brasileiro, desaparecendo portanto o 4° fuso antes enquanto as ruas ainda estão escuras.
existente. Os fusos brasileiros são, respectivamente, Arquipéla-
go de Fernando de Noronha e Ilha da Trindade (-2h de GMT /
30°W) Litoral do Brasil até o Distrito Federal (Brasília), abran-
gendo os Estados interiores. (-3h de GMT / 45°W) Mato Gros-
so, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre
(-4h de GMT / 60°W).

Figura 14: FONTE: Astronomia no Zênite - Acesso em 19/01/2011.

GLOSSÁRIO

Carta Topográfica: é a representação, em escala, sobre um


plano dos acidentes naturais e artificiais da superfície terrestre
de forma mensurável, mostrando suas posições planimétricas
e altimétricas. A posição altimétrica ou relevo é normalmente
Figura 13: Mudanças no fuso horário brasileiro. determinada por curvas de nível, com as cotas referidas ao nível
do mar.
HORÁRIO DE VERÃO Ciclos de Milankovitch: ocorre periodicamente, fazendo com
que a radiação solar chegue de forma diferente em cada hemis-
O Horário de Verão é a alteração do horário de uma re- fério terrestre de tempos em tempos. Esta variação provoca as
gião, designado apenas durante uma determinada época do ano, variações glaciares, que são períodos de longos verões e longos
adiantando-se em geral uma hora no fuso horário oficial local. invernos. Os fatores que causam essa variação são a precessão
O procedimento é adotado costumeiramente durante o verão, dos equinócios, excentricidade orbital e a inclinação do eixo ter-
quando os dias são mais longos, em função da posição da Terra restre. A Terra completa um ciclo completo de precessão, apro-
em relação ao Sol. ximadamente, a cada 26000 anos.
Contribui para reduzir o consumo de energia, mas a
medida tem maior funcionabilidade em regiões distantes da li- ACESSE E ASSISTA:
nha do equador, porque, nesta estação do ano, os dias se tornam
mais longos e as noites mais curtas. Porém, nas regiões pró- Divisão Serviço da Hora: http://pcdsh01.on.br/DecHV.html
ximas ao equador, como a maior parte do Brasil, os dias e as Noções Básicas de Cartografia – IBGE: http://www.ibge.gov.
noites têm duração próxima da igualdade, ao longo do ano, e br/home/geociencias/cartografia/manual_nocoes/indice.htm
a implantação do horário de verão, nesses locais, traz muito FILME: “Volta ao mundo em 80 dias”, baseado no livro de Júlio
pouco ou nenhum proveito. Contudo, seu maior efeito é diluir Verne.
o horário de pico, evitando, assim, uma sobrecarga do sistema
energético. Exercícios essenciais:
Segundo a Divisão Serviço da Hora (DSHO, 2010), no
Brasil, o horário de verão foi adotado pela primeira vez em 01 1. O desenho do artista uruguaio Joaquín Torres-García trabalha
de outubro de 1931, através do decreto 20.466, abrangendo todo com uma representação diferente da usual da América Latina.
o território nacional. Porém houve vários períodos em que este Em artigo publicado em 1941, em que apresenta a imagem e
horário não foi adotado (entre 1969 e 1984). Desde 1985, o ho- trata do assunto, Joaquín afirm\a: “Quem e com que interesse
rário de verão é adotado anualmente. Nesse período, a abran- dita o que é o norte e o sul? Defendo a chamada Escola do Sul
gência, inicialmente nacional, foi reduzida sucessivas vezes até por que na realidade, nosso norte é o Sul. Não deve haver norte,
que, em 2003, o horário de verão passa a ser adotado nas regiões senão em oposição ao nosso sul. Por isso colocamos o mapa ao
Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Desde 2008, o início ocorre, no revés, desde já, e então teremos a justa ideia de nossa posição,
terceiro domingo de outubro, e o final, no terceiro domingo de e não como querem no resto do mundo. A ponta da América as-
fevereiro, exceto quando este coincide com o carnaval, sendo, sinala insistentemente o sul, nosso norte”. TORRES-GARCÍA,
então, o horário prorrogado em uma semana. J. Universalismo constructivo. Buenos Aires: Poseidón, 1941.
50 Da Vinci Vestibulares

Sendo assim, a Lua na fase ilustrada na figura acima poderá ser


observada no ponto mais alto de sua
trajetória no céu por volta de:
(A) meia-noite.
(B) três horas da madrugada.
(C) nove horas da manha.
(D) meio-dia.
(E) seis horas da tarde.

4. (ENEM) Entre outubro e fevereiro, a cada ano, em alguns


estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os relógios
permanecem adiantados em uma hora, passando a vigorar o
O referido autor, no texto e imagem acima, chamado horário de verão. Essa medida, que se repete todos os
(A) privilegiou a visão dos colonizadores da América. anos, visa:
(B) questionou as noções eurocêntricas sobre o mundo. (A) promover a economia de energia, permitindo um melhor
(C) resgatou a imagem da América como centro do mundo. aproveitamento do período de iluminação natural do dia, que é
(D) defendeu a Doutrina Monroe expressa no lema “América maior nessa época do ano.
para os americanos”. (B) diminuir o consumo de energia em todas as horas do dia,
(E) propôs que o sul fosse chamado de norte e vice-versa propiciando uma melhor distribuição da demanda entre o perío-
do da manhã e da tarde.
2. (ENEM) Pensando nas correntes e prestes entrar no braço (C) adequar o sistema de abastecimento das barragens hidrelé-
que deriva da Corrente do Golfo para o norte, lembrei-me de tricas ao regime de chuvas, abundantes nessa época do ano nas
um vidro de café solúvel vazio. Coloquei no vidro uma nota regiões que adotam esse horário.
cheia de zeros, uma bola cor rosa-choque. Anotei a posição e (D) incentivar o turismo, permitindo um melhor aproveitamento
data: Latitude 49°49’N, Longitude 23°49’W. Tampei e joguei do período da tarde, horário em que os bares e restaurantes são
na água. Nunca imaginei que receberia uma carta com a foto de mais freqüentados.
um menino norueguês, segurando a bolinha e a estranha nota. (E) responder a uma exigência das indústrias, possibilitando
KLINK, A. Parati: entre dois polos. São Paulo: Companhia das que elas realizem um melhor escalonamento das férias de seus
Letras, 1998 (adaptado). funcionários.

No texto, o autor anota sua coordenada geográfica, que é 5. (ENEM)


(A) a relação que se estabelece entre as distâncias representadas
no mapa e as distâncias reais da superfície cartografada.
(B) o registro de que os paralelos são verticais e convergem para
os polos, e os meridianos são círculos imaginários, horizontais
e esquidistantes.
(C) a informação de um conjunto de linhas imaginárias que per-
mitem localizar um ponto ou acidente geográfico na superfície
terrestre.
(D) a latitude como distância em graus entre um ponto e o Me-
ridiano de Greenwich, e a longitude como a distância em graus
entre um ponto e o Equador.
(E) a forma de projeção cartográfica, usado para navegação,
onde os meridianos e paralelos distorcem a superfície do pla-
neta.

3. (ENEM) No Brasil, verifica-se que a Lua, quando esta na


fase cheia, nasce por volta das 18 horas e se põe por volta das
6 horas. Na fase nova, ocorre o inverso: a Lua nasce às 6 horas As terras brasileiras foram divididas por meio de tra-
e se põe às 18 horas, aproximadamente. Nas fases crescente e tados entre Portugal e Espanha. De acordo com esses tratados,
minguante, ela nasce e se põe em horários intermediários. identificados no mapa, conclui-se que
(A) Portugal, pelo Tratado de Tordesilhas, detinha o controle da
foz do rio Amazonas.
(B) o Tratado de Tordesilhas utilizava os rios como limite físico
da América portuguesa.
(C) o Tratado de Madri reconheceu a expansão portuguesa além
da linha de Tordesilhas.
(D) Portugal, pelo Tratado de San Ildefonso, perdia territórios
Extensivo 51

na América em relação ao de Tordesilhas. 10. “A primavera começa hoje às 13h30min no hemisfério sul.
(E) o Tratado de Madri criou a divisão administrativa da Améri- É quando ocorre o equinócio, momento astronômico em que o
ca Portuguesa em Vice-Reinos Oriental e Ocidental. Sol cruza a linha do Equador. A expectativa do meteorologista
da empresa Climatempo, Alexandre Nascimento, para a nova
Exercícios complementares: estação, é de comportamento climático normal, porque não
ocorreu e nem devem ocorrer, neste ano, os efeitos do El Niño
(UNICAMP) Se a Terra emprega vinte e quatro horas para girar e do fenômeno La Niña”. Adaptado de O Estado de São Paulo
em torno de seu eixo, começa a ocidente do centésimo octo- — 22.09.2004
gésimo meridiano um novo dia, e a oriente temos ainda o dia A partir do momento da ocorrência do equinócio:
anterior. Meia noite de sextafeira, aqui no navio, é meia-noite (A) as noites ficam cada vez mais curtas e os dias mais longos.
de quinta-feira na Ilha. Se da América para a Ásia viajas, perdes (B) as noites e os dias passam a ter a mesma duração.
um dia; se, no sentido contrário viajas, ganhas um dia: eis o mo- (C) os dias ficam cada vez mais curtos e as noites mais longas.
tivo por que o [navio] Daphne percorreu o caminho da Ásia, e (D) as médias térmicas tendem a diminuir, pois é evidenciada
vós, estúpidos, o caminho da América. Tu és agora um dia mais uma maior inclinação dos raios solares.
velho do que eu! Não é engraçado? (Adaptado de Umberto Eco, (E) as médias térmicas tendem a aumentar, pois os raios solares
A Ilha do Dia Anterior. Rio de Janeiro: Record, 1995, p. 260). incidem perpendicularmente quando se dirigem em direção ao
Trópico de Câncer.
a) Por que os marinheiros que viajavam da América para a
Ásia ficaram um dia mais velhos do que aqueles que 11.Localizadas a Oeste de Greenwich, duas cidades,A e B, en-
viajaram no navio Daphne? contram-se, respectivamente, a 105° e 45°. Numa quarta-feira,
um avião saiu de A às 14h30min e chegou a B depois de 5 horas
b) Por que no navio Daphne é meia-noite de sexta-feira e na Ilha de viagem. O horário de chegada em B foi:
é meia noite de quinta-feira? (A) 18h30min da quarta-feira.
(B) 19h30min da quarta-feira.
c) Um avião cargueiro decola da cidade de Rio Branco (AC) às (C) 23h30min da quarta-feira.
21h00 (horário local) do dia 21 de novembro de 2004, com des- (D) 0h30min da quinta-feira.
tino ao aeroporto internacional de Viracopos, Campinas (SP). (E) 2h30min da quinta-feira.
Sabe-se que o vôo terá duração de cinco horas e que a cidade de
Rio Branco (AC) está a dois fusos a oeste do fuso da hora oficial 12. Considerando que a distância real entre duas cidades é de
do Brasil. Qual será o horário e o dia da aterrissagem do avião 120km e que a sua distância gráfica, num mapa, é de 6cm, pode-
no aeroporto internacional de Viracopos? mos afirmar que esse mapa foi projetado na escala:
(A) 1 : 1.200.000 (B) 1 : 2.000.000
7. (VUNESP) Que horas devem marcar os relógios (C) 1 : 12.000.000 (D) 1 : 20.000.000
em Nova York, que fica no quinto fuso a oeste de Greenwich, (E) 1 : 48.000.000
quando em São Paulo, que fica no terceiro fuso, também a oeste,
são doze horas, no horário de verão? 13. Localizadas a Oeste de Greenwich, duas cidades,A e B, en-
(A) Duas horas. contram-se, respectivamente, a 105° e 45°. Numa quarta-feira,
(B) Nove horas. um avião saiu de A às 14h30min e chegou a B depois de 5 horas
(C) Treze horas. de viagem. O horário de chegada em B foi:
(D) Quinze horas. (A) 18h30min da quarta-feira.
(E) Dezenove horas. (B) 19h30min da quarta-feira.
(C) 23h30min da quarta-feira.
8.(MACKENZIE) A última prova da Olimpíada de Atenas, em (D) 0h30min da quinta-feira.
agosto de 2004, a Maratona, iniciou-se às 12 horas (horário de (E) 2h30min da quinta-feira.
Brasília). Sabendo que a diferença entre o horário oficial brasi-
leiro e o de Atenas, considerando o seu horário de verão, é de 6 14. Considerando que a distância real entre duas cidades é de
horas, assinale a alternativa correta. 120km e que a sua distância gráfica, num mapa, é de 6cm, po-
(A) Atenas encontra-se a leste de Brasília e possui 6 horas atra- demos afirmar que esse mapa foi projetado na escala:
sadas em relação à capital brasileira. (A) 1 : 1.200.000 (B) 1 : 2.000.000
(B) Por estar no hemisfério ocidental, toda a Grécia possui ho- (C) 1 : 12.000.000 (D) 1 : 20.000.000
ras atrasadas com relação ao meridiano principal. (E) 1 : 48.000.000
(C) A diferença entre Brasília e Atenas é inferior a 60º.
(D) As duas cidades encontram-se no mesmo hemisfério oci- 15. Sobre um mapa, com escala 1:750.000, um geógrafo demar-
dental e, portanto, a maratona ocorreu no mesmo dia em ambas. ca uma reserva florestal com formato de um quadrado, apre-
e) Em relação ao meridiano de Greenwich, Brasília encontra-se sentando 8cm de lado. A área da reserva florestal medirá, na
3 horas atrasadas, enquanto Atenas está com 3 horas adiantadas. realidade,
(A) 3,6km2 .
9. Uma estrada possui, em linha reta, 13 quilômetros. Ao ser (B) 36 km2
representada em um mapa de escala 1:500.000, qual o tamanho (C) 360 km2
da representação em centímetros? (D) 3.600 km2
(A)65 (B)20,6 (C) 26 (D) 0,26 (E) 2,6 (E) 36.000 km2
52 Da Vinci Vestibulares

MÓDULOS 3 E 4: ESTUDOS GEOLÓGICOS NA


TERRA
Iluminismo, onde o ser humano deixou de lado as explicações
A Geologia (do grego geo = terra, e logos = ciência) sobrenaturais para fenômenos da Terra por leis naturais com
é a ciência que tem por objeto a descrição dos materiais que base em pesquisas científicas e emprego do senso comum; e a
constituem o globo terrestre, o estudo das transformações atuais Revolução Industrial, sendo incrementada a demanda por maté-
e passadas que se processaram na Terra, além do estudo dos rias-primas e por recursos energéticos oriundos da Terra.
fósseis, sendo este direcionado à Paleontologia. Para a compreensão sobre a datação dos fenômenos
Com o aumento da demanda por materiais provenien- geológicos, foram desenvolvidos diversos métodos, por exem-
tes da Terra, o conhecimento e os trabalhos de pesquisa sobre a plo, os chamados relativos e os absolutos; desde observações de
crosta terrestre nos seus mais variados aspectos vêm aumentan- camadas de sedimentos (Nicolau Steno – sécs. XVII e XVIII),
do, principalmente no que diz respeito à exploração de petróleo superposição e sucessão biótica (Charles Darwin – séc. XIX),
e derivados, carvão mineral e minérios metálicos e não-metáli- mecanismos de resfriamento gradual da Terra (Lorde Kelvin –
cos. 1862) até a descoberta da radioatividade em 1896 por H. Bec-
querel.
CONCEPÇÃO DA IDADE DA TERRA Com os avanços da ciência, foram feitos elementos
químicos, como o Carbono 14, Potássio Argônio, por exemplo.
Segundo Teixeira (2000), a ideia de que a Terra pode- (Teixeira, 2000). A partir de sucessivas tentativas da datação da
ria ser extremamente antiga, só veio à tona, nos últimos dois Terra, elaborou-se um quadro que mostra a sua evolução con-
séculos, como consequência de dois grandes movimentos da forme se vê abaixo:
cultura ocidental que consolidaram a Geologia como ciência:

intimamente unidos, porém, embora coesa e dura, a rocha não


Figura 15: Fonte: Adaptado de LEINZ (1987) e TEIXEIRA (2000). é homogênea. Ela não apresenta a continuidade física de um
ESTUDOS DOS MATERIAIS DA TERRA mineral, podendo ser subdividida em todos os minerais cons-
tituintes.
A estrutura da crosta terrestre é formada por inúme- De acordo com a composição das rochas, percebere-
ros matérias, tais como minerais e rochas. Mas, afinal de contas mos a existência de diversos tipos de rochas, sendo os seus
existe diferença entre rochas e minerais? Para alguns não exis- principais: ígneas, sedimentares e metamórficas.
tem. Minerais são elementos ou compostos químicos resultante As rochas ígneas ou magmáticas resultam do res-
de processos inorgânicos, e cristalizados a partir de composi- friamento do magma. Quando o resfriamento ocorre no interior
ções químicas geralmente definidas, sendo encontrados na cros- da Terra (cristalização dos minerais constituintes ocorre mais
ta terrestre ou em corpos extraterrestres. A rocha é um agregado lentamente) resultará na formação do tipo ígnea intrusiva ou
natural, formado de um ou mais minerais que acabam ficando plutônica, sendo o granito o mais abundante na crosta terres-
Extensivo 53

tre; quando o resfriamento do magma ocorre muito rápido (sem mente de silicatos aluminosos e tem uma composição global
cristalização dos minerais constituintes) resulta na formação do semelhante à do granito = SIAL) e crosta oceânica (composta
tipo ígnea extrusiva ou vulcânica, sendo o basalto o mais abun- essencialmente de basalto, formada por silicatos magnesianos =
dante deste tipo. SIMA). Quase metade (47%) deste envoltório da Terra é com-
As rochas sedimentares são formadas a partir do ma- posta de oxigênio. A crosta é formada basicamente de óxidos
terial originado da destruição erosiva de qualquer tipo de rocha de silício, alumínio, ferro, cálcio, magnésio, potássio e sódio. A
produzida pela ação dos agentes de intemperismo e pedogênese sílica (óxido de silício) é o principal componente, e o quartzo, o
sobre uma rocha preexistente, após serem transportados pela mineral mais comum nela. (CPRM, 2011).
ação dos ventos, das águas ou pelo gelo do seu ponto de origem Logo abaixo da crosta, está o manto, que é a camada
até o local de deposição e posterior litifcação (compactação) mais espessa da Terra. Ele possui uma espessura de 2.950 qui-
da rocha. Portanto, é necessário que exista uma rocha anterior lômetros e formou-se há 3,8 bilhões de anos. O manto divide-se
para a formação das rochas sedimentares. É nestas rochas que em manto superior e manto inferior. O superior ou astenosfera
se localizam a maioria dos fósseis já encontrados na Terra. São tem, logo abaixo da crosta, uma temperatura relativamente bai-
também economicamente importantes na medida em que po- xa (100 °C), sendo por ele que permite que a crosta terrestre mo-
dem ser utilizados como material construção. vimenta-se; a astenosfera é a responsável pelo equilíbrio isos-
As rochas metamórficas resultam da transformação tático, que leva os blocos da crosta que recebem mais material
de uma rocha preexistente no estado sólido, dando-se a trans- na superfície a afundarem e os que, ao contrário, são erodidos
formação sob novas condições pressão e/ou temperatura sobre a a subirem. No manto inferior, registra-se uma temperatura bem
rocha preexistente. Esta adaptação é que dá origem ao nome da mais alta, variando de 2.200 ºC a 3.500 °C.
rocha. Dependendo do caso, poderá ou não mudar a composição Há, no manto terrestre, alguns pontos mais quentes que
mineralógica da rocha. Os principais tipos de rochas metamór- o restante, chamados de hot spots (pontos quentes). Nesses lo-
ficas existentes na crosta terrestre são o mármore e a ardósia, cais, o material do manto tende sempre a subir e a atravessar
muito utilizados em interiores de casas e edifícios. a crosta. Quando ele consegue isso, forma-se na superfície da
Terra um vulcão. Como a crosta é formada de placas em movi-
mento, esse vulcão, com o tempo, sai de cima do ponto quente
FORMA E ESTRUTURA DA TERRA
e, ao ocorrer nova erupção, forma-se outro vulcão.

Isso pode repetir-se várias vezes, e o resultado é uma
Ao contrário do que muitos pensam e falam, a Ter-
fileira de vulcões, dos quais só o último (e mais jovem) está em
ra não é redonda. Ela é ligeiramente achatada nos seus polos
atividade. No caso de algumas ilhas, estas são formadas a partir
(elipsoidal ou geoide). A partir de medições indiretas, através
a ação dos hot spots. (CPRM, 2011). O núcleo é a mais profun-
do estudo de ondas sísmicas, medida da superfície sabe-se que
da e menos conhecida das camadas que compõem o globo ter-
o planeta possui mais de 6000 km de profundidade, mostrando
restre. Acredita-se que o núcleo terrestre seja formado de duas
que ele é formado por três camadas de composição e proprie-
porções, uma externa, de consistência líquida e outra interna,
dades diferentes, a crosta, o manto e o núcleo. (CPRM, 2011)
sólida e muito densa, composta principalmente de ferro (80%) e
Essas camadas, por sua vez, possuem algumas variações e são,
níquel (por isso, era antigamente chamada de NIFE). O núcleo
por isso, subdivididas em outras, como mostra a figura:
da Terra gira, como todo o planeta, e acreditam os cientistas
que isso gere uma corrente elétrica. Como uma corrente elétrica
gera sempre um campo magnético, estaria aí a explicação para o
magnetismo terrestre, que faz nosso planeta comportar-se como
um gigantesco ímã. Estudos recentes mostram que o núcleo in-
terno gira um pouco mais depressa que o resto do planeta (As-
sista ao filme “Núcleo – Viagem ao centro da Terra).

DINÂMICA INTERNA E EXTERNA DA TERRA

A Terra é um planeta em constante movimento. Se fos-


se fotografada a cada ano, veríamos um planeta azul contorcen-
do-se com os continentes, ora se colidindo ora se afastando.
Esse contorcimento dos continentes é possível, pois a
litosfera não é contínua. Ela é dividida como um “quebra-cabe-
ça”, onde suas “peças” são conhecidas como placas tectônicas
que se movimentam sobre o manto da Terra.
Essa constatação de que a litosfera terrestre é dividida
deu-se com a elaboração de duas teorias principais: a Deriva
Continental e a Tectônica de Placas. origem da Deriva Conti-
Figura 16: FONTE: CPRM, 2011.
nental ocorreu em 1960, onde, o filósofo inglês, Francis Bacon
observou nos primeiros mapas elaborados da costa dos conti-
A crosta terrestre ou litosfera é a porção externa da
nentes que haveria um encaixe “perfeito” entre o continente sul-
Terra, a mais delgada de suas camadas e a que conhecemos me-
-americano e o africano dando ideia da sua união no passado.
lhor. Embora seja composta de material rochoso, portanto sóli-
do e aparentemente de grande resistência, é, na verdade, muito
frágil. Está dividida em crosta continental (formada essencial-
54 Da Vinci Vestibulares

Figura 16: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005 tendo em vista que essas regiões foram cobertas por camadas de
gelo em uma época de clima glacial. Porém esta teoria não con-
Mais tarde, em 1912, o geógrafo e clima tolo- seguiu explicar quais são as forças que movem os continentes.
gista alemão, Alfred Wegener lançou que os continentes No início da década de 1960, foi elaborada a teoria da
foram unidos há cerca de 220 milhões de anos, formando Tectônica de Placas, postulada pelo geólogo americano Harry
um super-continente chamado Pangea, dando início a sua Hess, baseada em estudos de magnetismo do fundo oceânico,
fragmentação em dois continentes (norte e sul) Laurásia e realizados na porção nordeste do Oceano Pacífico, trouxeram
Gondwana, como é visto da figura abaixo: subsídios a favor do conceito da expansão do fundo oceânico,
trazendo o material magmático do manto à superfície, forman-
do uma enorme cadeia de montanhas submarinas, denominadas
Dorsal Meso-Oceânica. Este material magmático, ao atingir a
superfície, se movimentaria lateralmente, deixando uma fenda
na crista da dorsal, porém não continua a crescer porque o es-
paço deixado pelo material que saiu para formar a nova crosta
oceânica é preenchido por novas lavas, que, ao se solidificarem,
formam um novo fundo oceânico. Portanto, a Deriva continen-
tal e a expansão do fundo dos oceanos seriam uma consequência
das correntes de convecção (figura acima), onde os continentes
viajariam como passageiros, fixos em uma placa, como se esti-
vessem em uma esteira rolante (TEIXEIRA, 2000).

Figura 17: FONTE: PADOGEO, 2011 – Acessado em 20/01/2011.

Esta teoria foi apoiada por evidências geológicas en-


contradas, por exemplo, a presença de fósseis da mesma espécie
em regiões da África e Brasil, sendo que esta espécie não po-
deria nem voar nem nadar; outra é a evidência de glaciação há
aproximadamente 300 milhões de anos, na região Sudeste do Todas essas movimentações geram fenômenos tectôni-
Brasil, Sul da África, Índia e Oeste da Austrália e Antártica, cos que vêm a se formar no relevo que observamos na superfí-
Extensivo 55

Os principais são: orogênese, epirogênese, vulcanis- as de ferro, ouro, manganês, prata, cobre, alumínio, estanho. A
mo e abalos sísmico (terremotos). A orogênese é o conjunto pressão do magma sobre estas estruturas antigas provoca fratu-
de movimentos tectônicos que ocorrem de forma horizontal, e ras ou falhas na litosfera e, posteriormente, o deslocamento ver-
pode ter duas configurações: convergente, quando duas placas tical de grandes blocos, soerguendo e rebaixando a superfície.
se chocam; e divergente, quando duas placas se afastam. A pri- Já as Bacias Sedimentares começaram a se formar apenas na
meira provoca a formação ou o rejuvenescimento de montanhas era Paleozoica, resultando da acumulação de sedimentos prove-
ou cordilheiras, a exemplo da Cordilheira dos Andes (Chile) e nientes do desgaste das rochas; de organismos vegetais ou ani-
do Himalaia (Índia e China) causadas pela deformação com- mais; ou mesmo de camadas de lavas vulcânicas solidificadas. É
pressiva de região mais ou menos extensas de litosfera conti- nestas estruturas que se formam importantes recursos minerais
nental, formando dobramentos e falhas geológicas. A segunda energéticos, como o petróleo e o carvão mineral.
responde pela formação das dorsais (cordilheiras submarinas).
A orogênese se produz sempre em bordas de placas, ESTRUTURA GEOLÓGICA DO BRASIL
ou seja, nas regiões contíguas ao limite entre duas placas litos-
féricas cujos terrenos destacados convergem ou divergem. A realização de estudos direcionados ao conhecimen-
A epirogênese refere-se a um conjunto de processos to geológico é de extrema importância para saber quais são as
que resultam no movimento vertical da crosta terrestre, sem fa- principais jazidas minerais e quantidades que existem no subso-
lhamentos e fraturamentos significativos. Quando este desloca- lo.
mento dá para cima chamamos de soerguimento e, para baixo, Tal informação proporciona o racionamento da extra-
de subsidência. A epirogênese acontece em função de acomoda- ção de determinados minérios (termo utilizado apenas quando
ções isostáticas, ou seja, de equilíbrio entre a costa continental o mineral ou rocha apresentar um importância econômica),
e a astenosfera. Um bom exemplo é a Falha em Salvador (BA) de maneira que não comprometa sua reserva para o futuro. O
que divide a cidade em Cidade Alta e Cidade Baixa. Brasil, por apresentar uma grande extensão territorial, possui
O termo vulcanismo abrange todos os processos e estrutura geológica composta por três tipos distintos: escudos
eventos que permitem e provocam a ascensão de material mag- cristalinos, bacias sedimentares e terrenos vulcânicos.
mático do interior da terra à superfície terrestre, seja em estado Os Escudos Cristalinos ocupam aproximadamen-
gasoso, líquido e sólido (LEINZ, 1987). Os vulcões que conhe- te 36% do território nacional, ocorrendo sua formação na era
cemos, ou não, são formados pelo acúmulo externo de material Précambriana. Ela apresenta composição diferente conforme os
magmático resultantes do levantamento das camadas preexis- terrenos arqueozoicos (32% do território nacional) e proterozói-
tentes por forças interiores. Graças a sua localização geográfica cos (4% do território). No primeiro, é possível encontrar rochas
sobre a Placa Sul-Americana, o Brasil não possui vulcões ativos como o granito, gnaisses, grafita e elevações como a Serra do
em sua área, porém na era Mesozoica, principalmente na região Mar, estendida a 1500 km do litoral do Espírito Santo ao litoral
Sul, ocorreram intensas atividades vulcânicas, dando origem sul de Santa Catarina. Sua formação é a mais antiga, apresen-
aos solos ricos em basalto, conhecidos como terra-roxa. tando pequena riqueza mineral. Já nos terrenos proterozoicos,
Os terremotos são movimentos naturais da crosta ter- há rochas metamórficas que formam jazidas minerais (ferro,
restre que se propagam por meio de vibrações. São registrados níquel, chumbo, ouro, prata, diamantes e manganês). A serra
mais de 1 milhão de abalos sísmicos por ano na Terra. As regi- dos Carajás, no estado do Pará, é um terreno proterozoico, onde
ões que mais sofrem com esses abalos são as localizadas nas localiza-se a maior mina de ferro a céu aberto do mundo, tendo
bordas da placas tectônicas ou zonas tectônicas instáveis. Mais o minério de ferro dessas jazidas o mais puro do mundo.
uma vez o Brasil está isento de abalos sísmicos por localizar-se As Bacias Sedimentares recobrem cerca de 60% do
ao centro da Placa Sul-Americana, porém não está isento de território brasileiro, sendo constituídas de espessas camadas de
sentir as vibrações dos terremotos continentais ocasionados em rochas sedimentares, consequência da intensa deposição de se-
localidades próximas ao seu território, como no Chile, Bolívia e dimentos de origem marinha, glacial e continental nas partes
Peru, por exemplo, assim também como são sentidos em alguns mais baixas do relevo. Nesses terrenos, é possível encontrar pe-
lugares do Brasil os abalos de terremotos oceânicos. tróleo e carvão mineral, além de minerais radioativos (urânio
Nas áreas emersas, a crosta terrestre é formada por três e tório), xisto betuminoso, areia, cascalho e calcário. No Brasil,
tipos de estruturas geológicas, as quais são caracterizadas pelos existem bacias sedimentares de grande extensão (a Amazônica,
tipos de rochas predominantes e o seu processo de formação, e do Parnaíba – chamada também de Meio-Norte -, a do Paraná e
pelo tempo geológico em que surgiram. Essas estruturas geoló- a Central) e de pequena extensão (do Pantanal Mato- Grossense,
gicas são os dobramentos modernos, os maciços antigos (escu- do São Francisco - esta muito antiga -, do Recôncavo Tucano -
dos cristalinos), e as bacias sedimentares. produtora de petróleo - e a Litorânea.
Os Dobramentos Modernos são os trechos da crosta Os terrenos vulcânicos no Brasil são áreas que so-
terrestre de formação recente e, por essa razão, compostos por freram a ação de derramamentos vulcânicos, localizados, prin-
rochas mais flexíveis e maleáveis, situadas relativamente próxi- cipalmente, na Bacia do Paraná (Sul do país). Esse processo
mas às zonas de contato entre placas tectônicas (zonas conver- originou a formação de rochas como o basalto, onde a sua de-
gentes). Devido à pressão de uma placa sobre a outra, esta parte composição é responsável por fertilizar o solo, que no Brasil,
da crosta dobra-se num processo lento e contínuo, dando origem essas áreas são denominadas de “terra roxa”. Durante o fim do
às montanhas. Os Maciços Antigos, também chamados escu- século XIX e o início do século XX, foram plantadas nestes
dos cristalinos, são os terrenos mais antigos da crosta terrestre, domínios, grandes lavouras de café, fazendo com que surgis-
datando das eras Pré-cambrianas e constituídas basicamente por sem várias ferrovias e propiciasse o crescimento de cidades,
rochas magmáticas e metamórficas. como São Paulo, Londrina, Itu, Ribeirão Preto e Campinas.
Nos maciços que se formaram na era Proterozoica Atualmente, além do café, são plantadas outras culturas, como
ocorrem as jazidas de minerais metálicos, como, por exemplo, algodão, cana-de-açúcar e laranja. A Bacia do Paraná não se
56 Da Vinci Vestibulares

destaca somente pela concentração de terraroxa, as também por da União: a Petrobrás. Mas sua instalação só foi concluída em
alocar um imenso depósito de água potável: o Aquífero Guara- 1954, ao herdar do Conselho Nacional de Petróleo duas refina-
ni, um enorme lençol freático que ocupa uma área de 1.200.000 rias, a de Mataripe (BA) e a de Cubatão (SP). Elas passaram a
km², estendendo-se, além do Brasil, por Argentina, Uruguai e ser os primeiros ativos (patrimônio) da empresa. Em 10 de maio
Paraguai. deste ano, a empresa começa a operar, com uma produção de
2.663 barris, equivalente a 1,7% do consumo nacional.
Neste ano, o petróleo e seus derivados já representam
54% do consumo de energia no país. Encontrar petróleo exigiu
da Petrobrás conhecimento e tecnologia, além de ousadia e cria-
tividade. (PETROBRÁS, 2011)

Figura 18: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005.

APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS MINERAIS


Figura 19: FONTE: Portal São Francisco - Acessado em 12/01/2011

Os minerais têm uma grande importância por conta das


Existem dois tipos de petróleo encontrados, principal-
suas diversas utilidades no cotidiano de nossas vidas, tendo a
mente no Brasil: o pesado e o leve. O pesado é encontrado em
litosfera como a principal fonte de extração desses minerais.
campos marítimos e terrestres, necessitando, na parte do seu
Os minérios, que dela são extraídos, por exemplo,
processamento, uma capacidade maior das suas unidades de
tornaramse imprescindíveis para a manutenção das atividades
refino para que seja convertido em combustíveis nobres, além
agrícolas, industriais e de construção civil, além de serem pro-
de exigir um maior esforço para o escoamento dos poços até as
dutos que utilizamos no cotidiano, como baterias de relógio,
refinarias por conta da sua alta densidade e viscosidade. Já o
joias, a grafite com a qual escrevemos o giz do professor e o sal
petróleo leve é o óleo de alta qualidade facilitando o seu proces-
de cozinha. E como já foi dito, recebem esta denominação, os
samento nas refinarias, produzindo maior volume de gasolina
minerais que obtêm uma importância econômica.
e óleo diesel, por exemplo; em 2007, foi descoberta uma nova
Os minerais apresentam-se na natureza de diferentes
fronteira exploratória na camada do pré-sal (este assunto será
maneiras. Alguns deles são encontrados isoladamente, outros
mais abordado em outros módulos), composta por uma enorme
fazem parte da composição de rochas. As rochas exploradas
quantidade de óleo leve (estimativas de 5 a 8 bilhões de barris).
comercialmente, como o basalto, o mármore e a argila, são re-
(Petrobras, 2011). Nas refinarias, o óleo bruto passa por uma
tiradas da natureza em estado bruto e posteriormente tratadas
série de processos até a obtenção dos produtos derivados, como
conforme a sua finalidade de uso. O basalto é muito conhecido
gasolina, diesel, lubrificantes, nafta, querosene de aviação. Ou-
e utilizado no mundo todo, especialmente na pavimentação de
tros produtos obtidos a partir do petróleo são os petroquímicos.
estradas e na construção civil; o mármore, mineral bastante
Eles substituem uma grande quantidade de matérias-primas,
comum na superfície da Terra é muito utilizada na construção
como madeira, vidro, algodão, metais, celulose e até mesmo as
civil, principalmente como ornamentação; e a argila é formada
de origem animal, como lã, couro e marfim.
de sedimentos muito finos e, quando misturados com a água,
torna-se uma massa maleável, muito utilizada na fabricação de
utensílios como vasos, azulejos, pisos, etc.

PETRÓLEO E SEUS DERIVADOS

O petróleo faz parte de diversos produtos do nosso


dia-a-dia. Além dos combustíveis, ele também está presente em
fertilizantes, plásticos, tintas, borracha, entre outros. Esse óleo
de origem fóssil, que levou milhões de anos para ser formado
nas rochas sedimentares, se tornou a principal fonte de energia
do mundo moderno. Aqui no Brasil, a maior parte das reservas
está nos campos marítimos, em lâminas d’água com profundi-
dades maiores do que as dos demais países produtores.
Em 3 de outubro de 1953, no então governo do presi-
dente Getúlio Vargas, foi criada uma empresa estatal com o ob-
Figura 20: FONTE: Cotidiano Nacional Blog – Acessado em
jetivo de executar as atividades petrolíferas no Brasil em nome
Extensivo 57

EXERCÍCIOS ESSENCIAIS: cos coordenados e previsíveis.


(E) encostam uma na outra e bloqueiam seu movimento natural,
1. (UFRGS- 2010) A figura a seguir representa processos asso- causando abalos nos mares.
ciados à tectônia de placas
Observe o mapa a baixo e com base na leitura deste responda os
enunciados das questões 04 e 05:

Identifique os processos destacados pelas letras A, B e C, res-


pectivamente.

(A) orogenia – subducção – movimentos convectivos


(B) orogenia – erosão – subducção
(C) dobramentos modernos – orogenia – movimentos convec-
tivos
(D) erosão – subducção – dobramentos modernos
(E) dobramentos modernos – erosão – subducção 4. A relação entre as margens ativas de placas tectônicas e a
morfologia do relevo terrestre está corretamente expressa, EX-
2. Assinale com V (verdadeiro) e F (falso) as afirmações abaixo, CETO:
referentes à dinâmica das placas litosféricas.
(A) pela presença de grandes alinhamentos montanhosos.
( ) A primeira teoria a defender que a crosta terrestre é uma (B) pela ocorrência de arcos de ilhas.
camada composta de fragmentos móveis e, não, uma camada (C) pela ocorrência de superfícies de aplainamento.
rígida inteiriça de rochas ficou conhecida como Teoria do Ciclo (D) pela presença de fossas oceânicas.
Geográfico.
( ) O afastamento ou a colisão entre placas litosféricas é um 5. A partir da observação do mapa, é CORRETO afirmar em
movimento muito lento, que ocorre a uma velocidade média de relação ao movimento das placas tectônicas:
dois a três centímetros por ano.
( ) O deslocamento das placas litosféricas é decorrente de forças (A) Predominam movimentos divergentes, o que indica que os
endógenas do planeta, geradas pelas correntes de convecção no agentes internos, modeladores do relevo terrestre, estão pouco
interior do manto terrestre. ativos.
( ) O movimento entre duas placas, em sentido contrário, provo- (B) Porções centrais de placas tectônicas podem tornar-se ativas
ca grandes dobramentos em suas bordas de cantata, devido ao e gerar novas placas, como está acontecendo no leste africano.
fenômeno de subducção . (C) Placas tectônicas podem apresentar movimentos paralelos
e, nesse contato, gerar cadeias montanhosas.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima (D) O movimento das placas se faz preferencialmente no senti-
para baixo, é do Norte-Sul e promove a reciclagem de material crustal.

(A) V - F - F - V. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:


(B) F - V - V - F.
(C) V - F - F - F. 6. As lavas mais antigas estão justamente nas ilhas mais afasta-
(D) F - F - V - V. das da Cadeia Médio-Atlântica; por outro lado, as mais jovens
(E) F - V - F - F. são encontradas nas ilhas adjacentes à referida Cadeia. Esta
ocupa posição mediana no Atlântico, acompanhando paralela-
A teoria da “tectônica de placas”, hoje mais do que comprovada mente as sinuosidades da costa da África e da América do Sul.
empiricamente, explica fenômenos como vulcões, terremotos e Portanto, o assoalho submarino está em processo de expansão.
tsunamis. Segundo essa teoria, as placas tectônicas Esses dados mencionados apoiam a ideia de um importante mo-
delo teórico empregado pela Geografia Física e pela Geologia.
(A) atritam entre si nas extremidades da Terra, derretendo as
calotas polares. Qual alternativa contém esse modelo?
(B) movem-se porque flutuam debaixo dos solos dos oceanos, (A) Uniformitarismo das cadeias oceânicas
causando abalos no continente. (B) Teoria da Tectônica Global
(C) deslizam sobre o magma do interior da Terra e chocam-se (C) Modelo da Litosfera Quebradiça
em alguns pontos da crosta. (D) Teoria do Quietismo Crustal
(D) movimentam-se em conjunto, desenvolvendo abalos sísmi- (E) Migração dos Polos Geográficos
58 Da Vinci Vestibulares

7. A dinâmica interna e a externa da Terra provocam modifi- trália a hegemonia, embora a Vale ainda lidere, isoladamente,
cações no relevo terrestre. São considerados, respectivamente, o comércio do insumo. A mineradora brasileira trabalha agora
agentes modeladores internos (endógenos) e externos (exóge- com um horizonte de cinco anos para que o País recupere o
nos) da Terra: mercado perdido em meio à crise.
(A) Erosão e intemperismo. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,brasil-perde- li-
(B) Águas correntes e vulcanismo. deranca-na-producao-de-minerio-,916731,0.htm
(C) Geleiras e vento.
(D) Vulcanismo e tectonismo. De acordo com a notícia acima, a mineradora brasileira Vale
(E) Tectonismo e intemperismo. é a maior exportadora mundial de minério de ferro. Sobre ela,
responda:
8. No início do século XX, um jovem meteorologista alemão,
Alfred Wegener, levantou uma hipótese que hoje se confirma, a) Onde estão situadas as maiores jazidas da empresa?
qual seja: há 200 milhões de anos, os continentes formavam uma
só massa, a Pangeia, que em grego quer dizer “toda a terra”, ro- b) Como essa produção é escoada para os mercados
deada por um oceano contínuo chamado de “Pantalassa”. Com a externos?
intensificação das pesquisas, também se pode afirmar que, além
dos continentes, toda a litosfera se movimenta, pois se encon- 12. Considerando a formação geológica do Rio Grande do Sul,
tra seccionada em placas, conhecidas como “placas tectônicas”, é INCORRETO afirmar que esse estado apresenta
que flutuam e deslizam sobre a astenosfera, carregando massas
continentais e oceânicas. Muitas teorias foram elaboradas para (A) formações cristalinas.
tentar explicar tais movimentos e, recentemente, descobriu-se (B) derrames e fissuras basálticas.
que a explicação está relacionada: (C) sequência sedimentar antiga.
(D) dobramentos modernos.
(A) ao vulcanismo que movimenta o magma. (E) sedimentação recente.
(B) ao princípio da isostasia (ísos = igual em força + stásis =
parada). 13. (UFMT) Os derrames de lavas basálticas da Formação Serra
(C) ao princípio formador de montanhas conhecido por orogê- Geral representam um dos mais volumosos vulcanismos conti-
nese. nentais do planeta, com uma área superior a 1200000 km2. Em
(D) aos terremotos e vulcanismos, em razão de sua força na certos locais, os derrames sucessivos de lavas possuem centenas
alteração das paisagens. de metros de espessura.
(E) ao movimento das correntes de convecção que ocorrem no
interior do planeta. A paisagem descrita é encontrada
(A) nas ilhas de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
9. Placas tectônicas são gigantescos blocos que compõem a ca- (B) no litoral de Ilhéus, na Bahia.
mada sólida externa do planeta e que estão suspensas pelo mag- (C) as áreas serranas da Mantiqueira, na zona da Mata Mineira.
ma incandescente do interior da Terra. Existem 10 placas tec- (D) nas cataratas do rio Iguaçu, no Paraná.
tônicas na crosta terrestre que provocam dobramentos e falhas. (E) nas encostas litorâneas da Serra do Mar.
São exemplos desses dobramentos e falhas, respectivamente:
(A) terremotos e cordilheiras montanhosas. 14. (UFPA) A Amazônia, até o Terciário Médio, comportava-
(B) cordilheira montanhosas e terremotos. -se como um paleogolfão[1] da fachada pacífica do continente,
(C) terremotos e tsunamis. intercalado entre os terrenos do escudo guianense e o escudo
(D) terremotos e erupções vulcânicas. brasileiro. Era uma espécie de mediterrâneo de “boca larga”,
(E) cordilheiras montanhosas e erupções vulcânicas. voltada para o oeste. Quando se processou o desdobramento e
soerguimento das Cordilheiras Andinas, restou um largo espaço
10. Para a atual proposta de identificação das macro-unidades no centro da Amazônia, exposto à sedimentação fluvio-lacustre
do relevo brasileiro, elaborada por Ross (1989), foram funda- e fluvial extensiva. Aziz Nacib Ab’ Saber (1924-2012) Escritos
mentais os trabalhos de Ab’Saber e os relatórios e mapas produ- Ecológicos – São Paulo:Lazuli Editora, 2006- paginas 130-131.
zidos pelo Projeto Radambrasil. Ross passou a considerar para Adaptado .
o relevo brasileiro, conforme as suas origens, as unidades de
planaltos, depressões e planícies. Adaptação: ROSS, J. L. S. Ge- Glossário: Paleogolfão: ampla reentrância da costa, com grande
ografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2005. abertura, constituindo em amplas baías, constatada em antiga
era geológica.
Quais as unidades do relevo brasileiro que, de acordo com a gê-
nese, segundo Ross, são resultantes de deposição de sedimentos As características atuais do domínio morfoclimático amazônico
recentes de origem marinha, lacustre ou fluvial? têm sua origem na dinâmica dos processos naturais que ocorre-
(A) Planícies. ram no passado, conforme explica o geógrafo Aziz Ab ́Saber.
(B) Depressões. Sobre esses processos mencionados, avalia-se que
(C) Planaltos cristalinos. (A) contribuíram para a formação das planícies e dos tabuleiros.
(D) Planaltos orogenéticos. (B) favoreceram a gênese da bacia sedimentar.
(C) alteraram a direção da drenagem, de leste para oeste.
11. Líder no mercado mundial de minério de ferro até a defla- (D) atenuaram as características do clima regional.
gração da crise financeira de 2008, o Brasil perdeu para a Aus- (E) provocaram a expansão do cerrado sobre a floresta.
Extensivo 59

As forças exógenas promovem, ao longo do tempo, a degrada-


MÓDULO 5: GEOMORFOLOGIA E RELEVO ção de áreas mais elevadas e agradação (deposição) nas áreas
BRASILEIRO mais rebaixadas, modelando continuamente as formas na super-
fície terrestre. Podemos dizer que o motor principal na dinâmi-
ca dessas forças exógenas é a energia solar, que desencadeia
diversos fenômenos atmosféricos e hidrológicos, estes gerando
a ação dos ventos, chuvas, neve, correntes marítimas, etc., que
se configuram como os principais agentes externos do relevo.
Esses agentes externos geram o processo de erosão do
relevo que, de maneira geral, ocorrem em três fases: decompo-
sição ou desagregação, transporte e deposição ou sedimenta-
ção.
A decomposição ou desagregação é o fenômeno de
desmanche das rochas e minerais que constituem as formas do
relevo, ocorrendo devido a ação das mudanças atmosféricas,
como as variações de temperatura entre os dias e as noites e
as diferenças pluviométricas (de chuvas) entre as estações do
ano; também conhecida como termoclastia: fragmentação da
rocha devido a oscilação de temperatura diária. As sucessivas
variações térmicas acabam fragmentando as rochas em pedaços
menores, abrindo fendas por onde penetra a água das chuvas,
onde esta reage com os minerais que formam as rochas, altera
Figura 20: FONTE: adaptado de CHRISTOFOLETTI, 1974. sua composição química, facilitando sua desagregação; este fe-
nômeno também é conhecido com crioclastia (alternância de
A geomorfologia é conhecida com o estudo das for- gelo e degelo nas fissuras das rochas) e haloclastia (cristaliza-
mas do relevo, mas ela vai além disso, pois preocupa-se com a ção e estufamento dos sais nas fissuras das rochas).
origem e os processos que resultaram nas formas que hoje en- O transporte representa a fase em que os sedimentos
contramos. As formas representam a expressão de uma superfí- desagregados são deslocados de um local para outro por meio
cie, existindo, pois foram esculpidas pela ação de determinados de agente como ventos, água das chuvas e dos rios, a neve der-
processos, existindo, então, um relacionamento entre as formas retida ou, ainda, pelo deslocamento das correntes marítimas,
do relevo e os processos que os geraram.Considerando que esta no caso das áreas localizadas no litoral. E “por fim”, quando
relação é o centro da Geomorfologia, podemos distinguir siste- os agentes erosivos não possuem mais energia suficiente para
mas importantes para a compreensão das formas do relevo, tais transportar os sedimentos, criam-se áreas de deposição ou se-
como o sistema climático, biogeográfico, geológico e antrópico. dimentação em rios ou no litoral, a exemplo da formação dos
O relevo sempre foi notado pelo ser humano no con- deltas, que são depósitos de sedimentos trazidos em suspensão
junto de componentes da natureza pela sua beleza, imponência pelas águas correntes, que se formam na desembocadura ou foz
e/ou forma. E, com a sua capacidade de raciocínio e suas obser- dos rios (no mar ou em lagos). Um exemplo é o Delta do Parna-
vações, tornaram possível estabelecer relações entre as formas íba, localizado no norte da região Nordeste do Brasil.
de relevo e seus processos geradores, principalmente, hoje em Portanto é percebido que as regiões mais antigas do
dia, nas situações do seu dia-a-dia, como assentar o relevo para globo são as que possuem modelados bastante desgastados por
estabelecer moradia, melhores caminhos de locomoção, locali- processos erosivos. No sentindo evolutivo, as formas refletem
zar seus cultivos, criar seus rebanhos ou definir os limites dos um comportamento dinâmico, ao estar continuamente sujeitas a
seus domínios. ajustes em seu modelado, como resultado de suas relações com
os processos que atuam sobre elas. A importância conjunta da
SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DO RELEVO rocha e do clima, por exemplo, traz dificuldades para estabele-
cer um critério geral para a classificação do relevo.
Para atingir o conhecimento do que são e o que repre-
sentam, uma ou todas, as formas de relevo, identificadas em RELEVO BRASILEIRO
diferentes escalas espaciais e temporais, é preciso compreender
e explicar como elas surgem e evoluem. Este também se encai- O relevo brasileiro apresenta uma grande diversidade
xa como um objeto de estudo da Geomorfologia: os processos morfológica em seu território. As principais formas que apare-
responsáveis pelas ações capazes de criar ou destruir as formas cem são: planaltos, planícies e depressões.
de relevo, de fixá-las num local ou deslocá-las, de ampliar ou Os planaltos são as classificações dadas a formas de
reduzir suas dimensões, de modelá-las contínua ou descontinu- relevo constituídas por uma superfície elevada, com topo mais
amente, de mantê-las preservadas ou modificá-las. ou menos nivelado, geralmente devido à erosão eólica ou pelas
Portanto existem diversas forças que atuam na forma- águas, que podem ser regulares ou não. Neles o processo de
ção e na modelagem do relevo, com origens de forças endóge- degradação (erosão) é maior que os de agradação (deposição).
nas (orogênese, epirogênese, vulcanismo e tectonismo, respon- As planícies são grandes áreas geográficas com pouco
sáveis pela formação), forças exógenas (erosão e energia solar ou nenhum tipo de variação de altitude, sendo quase completa-
responsáveis pela modelagem) e até mesmo forças antropogê- mente aplainadas e delimitadas por aclives (subidas de relevo),
nicas (ação do homem na criação e destruição do relevo). Os e os processos de erosão (deposição) superam os de agradação
processos endógenos já foram abordados no capítulo anterior. (deposição). São formadas pela ação dos rios, mares e ventos.
60 Da Vinci Vestibulares

Eles carregam sedimentos que vão se acumulando até formar


uma superfície uniforme. Não por acaso, a maioria das planícies
está localizada às margens de rios e mares. O nome de algumas
planícies brasileiras deixa clara essa relação: planície do Rio
Amazonas, por exemplo.
As depressões são mais planas que o planalto e sem
irregularidades, por conta do desgaste sofrido por causa da ação
do vento e da água (intemperismo), tendo leve inclinação e al-
titude que pode ir de 100 a 500 metros, apresentando altitudes
mais baixas do que as áreas ao redor. Existem dois tipos de de-
pressão: absoluta (região abaixo do nível do mar) e a relativa
(região acima do nível do mar).

Figura 23: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005

Mas nem sempre foi dada esta classificação ao relevo


brasileiro. Uma das mais antigas divisões do relevo foi elabo-
rada na década de 1940 por Aroldo de Azevedo, que acabou
servindo de base para todas as outras divisões realizadas pos-
teriormente. A sua classificação levou em consideração as dife-
renças de altitude; desse modo, as planícies foram classificadas
como partes do relevo relativamente planas com altitudes até
200 metros e os planaltos como formas de relevo levemente on-
duladas, com altitudes acima de 200 metros, dividindo, assim, o
Figura 21: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005
território brasileiro em planaltos (59%) e planícies (41%).
No final da década de 1950, Aziz Nacib Ab’Saber
aperfeiçoou a divisão de Aroldo de Azevedo, introduzindo as-
pectos geomorfológicos, especialmente no que diz respeito as
noções de sedimentação e erosão. As áreas onde o processo de
erosão é mais intenso foram chamadas de planaltos e as áreas
onde o processo de sedimentação supera o de erosão foram de-
nominadas de planícies.
Porém, somente em 1989, Jurandyr Ross elaborou
outra classificação do relevo “mais completa” que as anteriores,
levando em consideração importantes fatores geomorfológicos:
a morfoestrutura (origem geológica), o paleoclima (ação de an-
tigos agentes climáticos) e o morfoclima (influência dos atuais
agentes climáticos). Com base nesses critérios estabelecidos,
identificaram-se três tipos de relevo: os planaltos - porções re-
siduais salientes do relevo, que oferecem mais resistência à ero-
são; as planícies – superfícies essencialmente planas, nas quais
a sedimentação supera a erosão; e as depressões – áreas rebai-
xadas por erosão que circunda as bordas das bacias sedimenta-
res, interpondo-se entre estas e os maciços cristalinos. Portanto,
esta é a classificação utilizada até hoje para diferenciação do
relevo brasileiro.
Desde os primórdios da civilização, a importância do
conhecimento espacial despertou interesse. Primeiramente, era
Figura 22: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005
necessário: a) conhecer onde, no espaço, se localizavam os fe-
nômenos; b) como esses mesmos fenômenos se distribuíam no
Extensivo 61

espaço; e c) por que ocorriam daquela forma. Platô, apresenta pequenas elevações levemente onduladas, for
A Geomorfologia serve de base para a compreensão mando uma espécie de continuação das terras baixas da Planície
das estruturas espaciais, não só em relação à natureza física Amazônica.
dos fenômenos, como em relação à natureza socioeconômica ♦ Região Serrana: situada na porção Norte do Planalto, acom-
dos mesmos. Hoje, sem a utilização de sistemas operacionais, panha de perto as fronteiras do Brasil com as Guianas e com
como os Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s), torna-se a Venezuela. Dominada por dois arcos de escarpas (o Maciço
praticamente inviável a elaboração de projetos ambientais entre Oriental e o Maciço Ocidental), separados por uma área depri-
outros. Os planos diretores sejam regionais, urbanos ou rurais, mida e aplainada no noroeste de Roraima. O Maciço Oriental
devem levar em consideração as limitações e as potencialidades é caracterizado por pequenas altitudes que raramente superam
dos recursos naturais relativos aos meios físico, biótico e tam- os 600 m, onde se encontram serras como as de Tumucumaque
bém às condições sócio-econômicas. Dessa forma, a aplicação e Açari, enquanto no Maciço Ocidental encontram-se as maiores
do planejamento se dá à medida que se ocupa ordenadamente o altitudes absolutas do Brasil, destacando-se na serra do Imeri ou
meio físico, buscando adequada proteção ambiental e uso racio- Tapirapecó o pico da Neblina, com 3.014 m de altitude (ponto
nal do solo, norteados para atividades agropastoris, obras civis culminante do país); na fronteira do estado do Amazonas com
e outros (GUERRA & CUNHA, 1994). a Venezuela, o pico 31 de Março, com 2.992 m; e na serra de
Podemos observar que o relevo terrestre é parte impor- Pacaraima o monte Roraima, com 2.727 m.
tante do palco, onde o homem, como ser social, pratica o teatro
da vida. Os grandes projetos para a implantação de usinas hidro
e termoelétricas, rodovias, ferrovias, assentamentos de núcleos
de colonização, expansão urbano, reassentamento rural, entre
outros são atividades que interferem do modo acentuado no
ambiente, quer seja ele natural ou já humanizado. Portanto, se,
por um lado, não se pode coibir a expansão da ocupação dos
espaços, reorganização dos já ocupados e fatalmente a amplia-
ção do uso dos recursos naturais, tendo-se o nível de expansão
econômica e demográfica da atualidade, por outro lado, se é im-
perativo ao homem como ser social expandir-se, tanto demogra-
ficamente como técnica e economicamente, torna-se evidente
que apareçam, nesse processo, os efeitos contrário da natureza
(ROSS , 1996).
O território brasileiro é constituído, basicamente, por
grandes maciços cristalinos (36%) e grandes bacias sedimen-
tares (64%). Aproximadamente 93% do território brasileiro
apresenta altitudes inferiores a 900 m. Em grande parte as estru-
turas geológicas são muito antigas, datando da Era Paleozóica
à Mesozóica, no caso das bacias sedimentares, e da Era Pré-
-Cambriana, caso dos maciços cristalinos.
As bacias sedimentares formam-se pelo acúmulo de
sedimentos em depressão. É um terreno rico em combustíveis
fósseis, como carvão, petróleo, gás natural e xisto betuminoso.
Os maciços são mais antigos e rígidos e se caracterizam pela
presença de rochas cristalinas, como granitos e gnaisses, e são
ricos em riquezas minerais metálicas, como ferro e manganês.
O relevo brasileiro não sofre mais a ação de vulcões e terremo-
tos, agentes internos básicos para a formação de grandes formas
estruturais. Porém, os agentes externos, como chuvas, ventos,
rios, marés, calor e frio, continuam sua obra de esculpir as for-
mas do relevo. Eventualmente, em determinados pontos do ter- Figura 24: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005
ritório brasileiro podem-se sentir os reflexos dos tremores de
terra ocorridos em alguns pontos distantes, como no Chile e Planalto Brasileiro: É uma das mais vastas regiões planálticas do
Peru. mundo, estendendo-se do sul da Amazônia ao Rio Grande do Sul e
As unidades do relevo brasileiro são: de Roraima ao litoral Atlântico. É dominado por terrenos cristalinos
amplamente recobertos por sedimentos. Por motivos didáticos e pe-
a) Planaltos: das Guianas e Brasileiro (formado pelo Planalto las diferenças morfológicas que apresenta, pode-se dividi-lo em três
Central, Atlântico e Meridional). subunidades:
♦ Planalto Central: Abrange uma extensa região do Brasil
Planalto das Guianas: Ocupando a porção extremo setentrio- Central, englobando partes do Norte, Nordeste, Sudeste e prin-
nal do país, tem sua maior parte fora do território brasileiro, cipalmente do Centro- Oeste. Apresenta terrenos cristalinos
em terras da Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. antigos fortemente erodidos e amplamente recobertos por se-
Constituído por rochas cristalinas pré-cambrianas, pode ser di- dimentos paleozóicos e mesozóicos. Além de planaltos cristali-
vidido em duas porções: nos, destacam-se as chapadas recobertas por sedimentos, como
♦ Planalto Norte-Amazônico: também chamado de Baixo dos Parecis, entre Roraima e Mato Grosso.
62 Da Vinci Vestibulares

♦ Planalto Atlântico ou Planalto Oriental: Estende-se do largamente no verão. Os pontos mais elevados da planície, que
Nordeste, onde é bastante largo, ao nordeste do Rio Grande do ficam a salvo das cheias, levam o nome de “cordilheiras”, e as
Sul. Pode-se também dividi-lo em duas subunidades distintas: partes mais baixas, “baías” ou “lagos”.
Região das Chapadas no Nordeste: além dos planaltos e ser- Planície Costeira: Estendendo-se por quase todo o litoral bra-
ras cristalinas, como o planalto da Borborema e as serras de Ba- sileiro, do Pará ao Rio Grande do Sul, é uma área de sedimentos
turité, predominam chapadas recobertas por sedimentos, como recentes: terciários e quaternários. Em alguns trechos, princi-
Diamantina na Bahia, e as de Ibiapaba, entre Ceará e Piauí, palmente no Sul e Sudeste, a planície é interrompida pela pro-
Araripe, entre Ceará e Pernambuco, e Apodi, entre Ceará e Rio ximidade do planalto Atlântico, dando origem às falésias; em
Grande do Norte. alguns pontos surgem as baixadas litorâneas, destacando-se a
♦ Região Serrana: predominam as terras altas do Sudeste, baixada Capixaba no Espírito Santo, a baixada Fluminense no
constituídas por serras cristalinas de terrenos pré-cambrianos. Rio de Janeiro, as baixadas Santista e de Iguape em São Paulo,
Destacam-se aí as serras do Mar, da Mantiqueira (Caparaó), na a de Paranaguá no Paraná e a de Laguna em Santa Catarina. É
divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo, onde está localizado na planície Costeira, ainda, que aparecem as praias, as restingas,
o pico da Bandeira com 2.890 m, terceiro ponto mais elevado os tômbolos, as dunas, os manguezais e lagoas costeiras.
do Brasil. É nessa região que se encontram as maiores altitudes Planície Gaúcha ou dos Pampas: Ocupa, esquematicamente,
médias do país, cujo relevo apresenta formas arrendondadas, a metade sul do Rio Grande do Sul, constituída por sedimentos
constituindo o chamado “Mar de Morros” ou “Relevo Mamelo- recentes; apresenta-se plana e suavemente ondulada, recebendo
nar”, resultado da ação do intemperismo ao longo de milhares a denominação de Coxilhas.
de anos.
Planalto Meridional ou Arenito Basáltico: Abrange grande
parte das terras da região Sul, o centro-oeste de São Paulo, o sul
de Minas Gerais e o Triângulo Mineiro, o sul de Goiás e parte
leste do Mato Grosso do Sul, correspondendo às terras drenadas
pela bacia do rio Paraná. Predominam terrenos sedimentares,
assentados sobre o embasamento cristalino, sendo os terrenos
mesozóicos associados a rochas vulcânicas, provenientes do
derrame de lavas ocorrido nessa era. Essas rochas vulcânicas,
em especial o basalto e o diabásio, com o passar do tempo sofre-
ram desagregação pela ação dos agentes erosivos, dando origem
a um dos solos mais férteis do Brasil, a chamada “terra roxa”.
As áreas onde predominam sedimentos paleozóicos e mesozói-
cos (arenitos), associados às rochas vulcânicas, constituem uma
subunidade do planalto Meridional. Outra subunidade é a De-
pressão Periférica, uma estreita faixa de terrenos relativamente
baixos que predominam arenitos, que se estende de São Paulo
a Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul. É no planalto
Meridional que aparece com destaque o relevo de “Cuestas”,
costas (escarpas) sucessivas de leste para oeste.

b) Planícies: Amazônica, do Pantanal, Costeira e Gaúcha.

Planície Amazônica: Vasta área de terras baixas e planas que


corresponde à Bacia Sedimentar Amazônica, onde se distin-
guem alongadas faixas de sedimentos paleozóicos que afloram
na sua porção centro-oriental, além de predominar arenitos,
argilitos e areias terciárias e quaternárias. Localizada entre o
planalto das Guianas ao norte e o Brasileiro ao sul, a planície
é estreita a leste, próximo ao litoral do Pará, e alarga-se bas-
tante para o interior na Amazônia Ocidental. A imensa área de
terras planas e baixas (a altitude raramente supera os 200 m) Figura 25: FONTE: TAMDJIAN & MENDES, 2005
que constitui a planície, quando observada com maior cuidado,
demonstra que a suposta homogeneidade é aparente, sendo pos-
sível distinguir pelo menos três áreas distintas, que se sucedem EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
a partir das margens dos rios: várzeas, teso e firmes (Baixo Platô
– Norte e Tabuleiro – Sul). 1. (UNICAMP-2009) Em 1883, a violenta erupção do vulcão
Planície do Pantanal: Ocupando quase toda metade oeste do indonésio de Krakatoa riscou do mapa a ilha que o abrigava e
Mato Grosso do Sul e o sudeste do Mato Grosso, a planície do deixou em seu rastro 36 mil mortos e uma cratera aberta no fun-
Pantanal se estende para além do território brasileiro, em áreas do do mar. Os efeitos da explosão foram sentidos até na França;
do Paraguai, Bolívia e extremo norte da Argentina, recebendo barômetros em Bogotá e Washington enlouqueceram; corpos
nesses países a denominação de “Chaco”. Com terras muito pla- foram dar na costa da África; o estouro foi ouvido na Austrália e
nas e baixas (altitude média de 100 m), o Pantanal se constitui na Índia (Simon Winchester. Krakatoa — o dia em que o mundo
numa grande depressão interior do continente que se inunda explodiu. São Paulo: Objetiva, contracapa, 2003).
Extensivo 63

a) Explique por que no sudeste da Ásia, onde se localiza a (A) I e II.


Indonésia, há ocorrência de vulcões, diferentemente do (B) I e III.
que ocorre no território brasileiro. (C) II e III.
(D) II e IV.
(E) III e IV.
b) Alguns vulcões, como o Krakatoa, são extremamente
explosivos, enquanto outros, como o Kilauea, no Havaí, 5. Analise o perfil esquemático do relevo paulista e escolha a
não apresentam fortes explosões. Por que isso ocorre? resposta que, ao mesmo tempo, identifique a unidade de relevo e
o problema ambiental que mais a caracteriza, dados seus aspec-
2. (FUVEST-2010) Em se tratando de commodities, o Brasil tos paisagísticos e a despeito das intervenções humanas.
tem papel relevante no mercado mundial, graças à exportação
de minérios. Destacam-se os minérios de ferro e de manganês,
bases para a produção de aço, e a bauxita, da qual deriva o alu-
mínio. A relação entre minério e sua localização no território
brasileiro está corretamente expressa em:

A) 1 — Planalto sedimentar / voçorocas;


2 — Depressão periférica / deslizamento de encostas;
3 — Planalto cristalino arqueado / inundações.
B) 1 — Planalto orogênico / deslizamentos de encosta;
2 — Planície fluvial / inundações;
3 — Planalto sedimentar / voçorocas.
C) 1 — Planalto cristalino arqueado / inundações;
2 — Planície flúvio-lacustre / deslizamentos de encosta;
3 — Planalto sedimentar / contaminação de aqüíferos.
D) 1 — Planalto sedimentar / voçorocas;
3. (UNICAMP-2006) “O Paquistão não tem condições de re- 2 — Depressão periférica / contaminação de aqüíferos;
alizar os trabalhos de resgate e atendimento às vítimas do ter- 3 — Planalto orogênico / deslizamentos de encosta.
remoto. A afirmação é do presidente do país, Pervez Mushar- E) 1 — Planície sedimentar / deslizamentos de encosta;
raf. Dezenas de milhares de pessoas no norte do Paquistão e 2 — Depressão periférica / inundações;
da Índia passaram a noite a céu aberto por causa da devastação 3 — Planalto residual / voçorocas.
causada pelo terremoto. A área mais afetada pelo terremoto fica
no alto das montanhas, onde a temperatura cai bastante à noi- EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:
te.” (http://www.estadao.com.br/internacional/noticias/2005/
out/10/4.htm)
6. (FUVEST-2009) Considere duas hipóteses sobre a
a) O terremoto a que se refere o texto alcançou, no Paquistão e origem do homem americano, que teria ocorrido há mais
na Índia, aproximadamente 7,5 graus na escala Richter. Como de 10.000 anos.
são ocasionados terremotos como este ocorrido na Ásia? Hipóteses:
I. Migrações oriundas da Ásia, passando pelo estreito de
Bering.
b) Estabeleça a diferença entre escala Richter e a escala de Mer- II. Migrações oriundas da Polinésia, via Oceano Pacífico.
cali utilizadas para medições de terremotos. Quanto a fatos geográficos que as sustentam, é correto afirmar
que a hipótese
(A) I apóia-se em uma grande elevação do nível do mar, fato
c) Explique as diferenças entre bordas convergentes e bordas que também teria aumentado a navegabilidade nessa região.
divergentes das placas tectônicas. (B) I explica-se pela ocorrência de glaciações que, diminuindo o
nível do mar, teriam unido o Alasca à Sibéria, por terra.
4. Leia as afirmações a seguir sobre as características das gran- (C) II associa-se à ocorrência de inúmeras glaciações que teriam
des estruturas geológicas da Terra. melhorado a navegabilidade, justificando a vinda pelas ilhas do
I. Os continentes são constituídos basicamente por escudos cris- Pacífico.
talinos, bacias sedimentares e dobramentos modernos. (D) II relaciona-se à existência de diversas ilhas no Pacífico, que
II. Os escudos cristalinos aparecem de forma residual nos con- teriam se ligado muitas vezes por terra, durante as glaciações.
tinentes, pois são formações muito antigas e, por isso, muito (E) II refere-se à ocorrência de correntes marinhas equatoriais
desgastadas pela erosão. e de glaciações, que teriam facilitado a navegação no Pacífico.
III. As bacias sedimentares foram formadas pela deposição con-
tínua e posterior sedimentação de materiais erodidos de rochas 7. (UNICAMP-2007) Rochas são agregados naturais de grãos
dos escudos cristalinos. de um ou mais minerais. São formadas por diferentes processos,
IV. Os dobramentos modernos constituem a maior porção dos podendo ser classificadas como sedimentares, metamórficas e
continentes, aparecendo sob a forma de planaltos, planícies e magmáticas. A partir dessas afirmações, responda:
cadeias de montanhas.
Está correto o que se afirma em :
64 Da Vinci Vestibulares

a) Quais são as principais diferenças entre as rochas sedimenta- (D) apenas III está correta
res e as magmáticas? (E) I, II e III estão corretas

b) Como se forma uma rocha metamórfica? 10. No século XX, muitas dúvidas sobre a estrutura de nosso
planeta começaram a ser explicadas de forma convincente e se-
dutora. Uma das teorias mais importantes que vão nessa direção
c) No Brasil, entre o Jurássico e o Cretáceo, houve o surgimento é a célebre teoria da deriva continental. Verificando que os con-
de vários diques de diabásio com direção NW, além de campos tornos da América do Sul e da África correspondiam, Alfred
de derrames basálticos. A que podemos relacionar o apareci- Wegener, geofísico alemão, admitiu a hipótese de um continen-
mento de tais diques e derrames basálticos? te único (Pangéia), no passado, que teria se dividido em duas
partes, devido ao movimento de deslocamento das massas sóli-
8. (UNICAMP-2006) O mapa abaixo, proposto por Fernando das sobre massas líquidas. Essa hipótese abre caminho para a te-
Flávio Marques de Almeida, apresenta as diferentes unidades oria das placas tectônicas. Assim, juntando-se a teoria da deriva
geomorfológicas do Estado de São Paulo. continental à teoria das placas tectônicas, temos o apoio expli-
cativo para um conjunto de fenômenos de nosso planeta.
Assinale a alternativa incorreta.
(A) A teoria da deriva continental ajuda, em muitos casos, a
explicar as semelhanças e as diferenças de espécies animais e
vegetais distribuídos nos cinco continentes do planeta.
(B) A teoria das placas tectônicas explica a gênese dos dobra-
mentos modernos (Andes, Montanhas Rochosas, Himalaia etc.),
que teriam ocorrido a partir do choque dessas placas.
(C) Apoiado na teoria das placas tectônicas, o entendimento
da dinâmica dos terremotos se torna mais claro, assim como a
identificação das áreas mais afeitas a essas ocorrências.
(D) A divisão do continente único até a configuração atual mo-
dificou a distribuição das superfícies sólidas e líquidas do pla-
neta, resultando em mudanças climáticas ao longo do tempo.
(E) Os processos erosivos que esculpem os relevos, dando-lhes
as formas conhecidas no interior dos continentes, são explica-
dos, fundamentalmente, com base na teoria das placas tectôni-
A partir da observação do mapa: cas.

a) Identifique as unidades geomorfológicas assinaladas pelas 11. (UNICAMP-2010) Uma das definições de desenvolvimento
letras A e B. sustentável é: o desenvolvimento capaz de suprir as necessida-
des da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender
às necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que
b) Caracterize as unidades geomorfológicas da Província Cos- não esgota os recursos para o futuro. (Adaptado de http://www.
teira e das cuestas. wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/desenvolvimen-
to_sustentavel/)
a) O solo é um recurso fundamental para a subsistência da po-
c) Indique o tipo de rocha predominante no Planalto Atlântico. pulação mundial. Que práticas de conservação do solo podem
garantir sua preservação para as gerações futuras?
9. (Mack-2005) “Brasil quer ampliar área marítima” — O Brasil
apresentou na ONU (Organização das Nações Unidas) o levan-
tamento de sua plataforma continental que, se aprovado, dará b) Segundo o INPE, nos últimos meses de novembro, dezembro
direito exclusivo de explorar os recursos sobre o solo e o sub- e janeiro, foram registrados, na Amazônia Legal, 754 km² de
solo marítimo de 900 mil quilômetros quadrados além da Zona desmatamentos por corte raso ou degradação progressiva. In-
Econômica Exclusiva. Folha de São Paulo Considerando o tex- dique o principal objetivo desse desmatamento e as consequên-
to e seus conhecimentos, analise as afirmativas. cias ambientais dessa ação.
I. A Zona Econômica Exclusiva compreende as 200 milhas
náuticas de onde o país tem o direito de explorar os recursos 12. (UNICAMP-2008) No dia 26 de dezembro de 2004, logo
naturais. após o natal, a região indo-asiática, mais particularmente Su-
II. A Plataforma Continental é riquíssima em recursos minerais, matra, foi assolada por um tsunami que atingiu três continentes
como o carvão. O interesse do atual governo é que tenhamos e 12 países. Estimou-se o número de 163 mil mortos apenas na
auto-suficiência nesse recurso. ação direta do tsunami e calculou-se que o número total de mor-
III. A Plataforma Continental coincide com o Mar Territorial, tes tenha chegado a 300 mil, contando as vítimas de epidemias,
ou seja, é a área contígua do território, chegando a 12 milhas como a cólera, o tifo, etc. (Adaptado de Paulo Roberto de Mo-
náuticas. Então: raes, “É possível prever as ondas do horror?”. Mundo em Fúria,
(A) apenas I está correta.. ano 1, n. 1, 2005, p. 22-23).
(B) apenas I e II estão corretas. a) Explique os principais mecanismos que atuam na formação
(C) apenas II e III estão corretas. de um tsunami.
Extensivo 65

b) Quando ocorre um tsunami, por que as ondas são quase im-


perceptíveis em alto mar, enquanto na costa podem atingir até
50 metros de altura?

13. (Mack-2008) As frentes de cuestas, produzidas pela erosão


diferencial nas estruturas arenito-basálticas, são feições de re-
levo características de diversas áreas do território brasileiro e
são comuns
(A) na Planície e no Pantanal Mato-grossense.
(B) nos Planaltos e nas Chapadas da Bacia do Paraná.
(C) nos Planaltos e nas Serras do Atlântico leste-sudeste.
(D) nas Planícies e nos Tabuleiros Litorâneos.
(E) na Depressão da Amazônia Ocidental.

14. (UFU-2006) Há bilhões de anos, as rochas da crosta terres-


tre vêm sofrendo um contínuo processo de formação e transfor-
mação. Atualmente, é possível identificar grandes conjuntos de
estruturas geológicas.
Sobre tais estruturas da Terra, assinale a alternativa correta.
(A) As cadeias orogênicas, formadas por rochas magmáticas,
metamórficas e sedimentares, são consideradas as mais antigas
do planeta.
(B) As cadeias orogênicas são constituídas por espessas cama-
das de rochas formadas, sobretudo, no Paleozóico.
(C) Os crátons são compostos por extensos terrenos sedimenta-
res que recobrem a superfície dos continentes.
(D) Os crátons são terrenos que comportam formas de relevo
intensamente desgastadas por longos períodos de erosão.

15. Sobre os sistemas ambientais do Estado do Ceará, pode-


-se afirmar que estas áreas são geologicamente muito recentes,
ecologicamente diversificadas e ambientalmente muito vulne-
ráveis. Tais características são constatadas principalmente nos
sistemas:
(A) Litorâneos
(B) Sertanejos
(C) Serranos
(D) dos Planaltos sedimentares


66 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 6: ESTUDO DO SOLO Portanto, para ocorrer a pedogênese (ou seja a forma-
ção dos solos), é necessária a existência de uma rocha que so-
A pedologia é um dos ramos científicos responsáveis frerá modificações devido aos processos atuantes. Desta forma,
por estudar e compreender os solos, entendendo-os como um os solos são resultados do intemperismo que atua nas rochas, ou
corpo formado a partir da dinâmica natural ambiental. seja, pela desagregação mecânica ou decomposição química e
Existe, também, outro ramo da ciência que estuda os solos que biológica do material de origem. Nestas condições, os solos se
é a Edafologia. Esta considera o solo apenas na sua característi- constituem de agregados ou partículas formadas por fragmentos
ca de suporte à vida vegetal. Para a ciência Geográfica, é impor- minerais combinados com diversas matérias (óxidos de ferro,
tante compreender os solos através da ótica da Pedologia, pois matéria orgânica, por exemplo).
esta contempla o estudo integrado dos aspectos condicionantes As variáveis que condicionam o processo pedogené-
para a formação dos solos (pedogênese) tais como o clima, o tico de forma interdependente e considerado como fatores de
relevo, as rochas e os organismos vivos. formação do solo são: material de origem, clima, relevo, orga-
nismos vivos e o tempo.
OS SOLOS: Os solos podem ser definidos como a superfície ♦ Material de origem - Pode ser de origem mineral (rochas)
inconsolidada que recobre as rochas e mantém parte do com- ou orgânica. Quando de origem mineral estes são trabalhados
plexo biológico do planeta. Os solos possuem elevada rele- ou retrabalhados para originar os solos. Os de origem orgânica
vância ao sistema ambiental, e em especial à sociedade. São são constituídos pela decomposição de vegetais ou animais e
indispensáveis à reprodução da vida, pois seu estabelecimento ocorrem em áreas menos extensas do que as de origem mineral.
em um determinado local possibilita a fixação dos produtores Um mesmo material de origem pode originar solos diferentes
primários, que através da fotossíntese são capazes de produzir a depender da intensidade e frequência dos agentes intempéri-
sua alimentação e oferecem contribuição fundamental para a cos que pode ser condicionados por outros fatores de formação,
sequência da cadeia trófica. Estes são essenciais ao desenvolvi- como o relevo.
mento das bases elementares produtivas da organização huma- ♦ Clima – As variáveis climáticas mais importantes para ocor-
na: a agricultura. Desta forma, a existência dos solos é condição rência da pedogênese são umidade e temperatura. A umidade
essencial à manutenção da vida na Terra, pois direta ou indire- através da precipitação que dependendo da permeabilidade do
tamente todos os seres vivos dependem de suas características solo e da intensidade e freqüência das chuvas pode propiciar a
lixiviação e o empobrecimento das cartacterísticas minerais do
PEDOGÊNESE: É o processo que ocorre para a formação dos solo. Já a temperatura condiciona a intensidade da atividade mi-
solos. Em um determinado período, o planeta era composto, em crobiana e biológica alemã das reações físicas de desagregação
sua superfície, apenas por rochas oriundas da intensa atividade das rochas.
endógena do planeta. Com esta manifestação espacial, a dinâ- ♦ Relevo – Sua importância está, principalmente, no transporte
mica natural proporcionada pelos agentes intempéricos tornou da água a depender da declividade. Outro fator está associado
possível a formação dos solos. Os processos físicos, químicos com a erosão do relevo que pode alterar também a configuração
e, posteriormente biofísicos, são determinantes para ocorrer a das propriedades do solo.
pedogênese. Estes processos não acontecem isoladamente, mas ♦ Organismos – São um dos responsáveis pela conversão de
simultaneamente. Por exemplo, em clima secos predomina o parte do material de origem mineral em solos. Os líquens que
intemperismo físico, mas também ocorre o intemperismo quí- são microorganismos produzem ácidos que degradam as rochas.
mico. Já nos climas úmidos, acontece o inverso. As raízes das plantas, as minhocas auxiliam nas alterações quí-
No quadro a seguir, é possível observar os agentes do micas do solo.
intemperismo no material de origem dos solos (rochas) e sua ♦ Tempo – Os processos de ocorrência espacial também são
classificação processual na dinâmica pedogenética. Quadro de de ocorrência temporal. Desta forma, entende-se que o tempo
identificação dos eventos intempéricos nos processo formado- determina a intensidade e freqüência dos outros fatores de for-
res de solos. mação do solo. A pedogênese ocorre de forma dinâmica através
da dependência de diversos eventos sendo que, que são depen-
dentes da manifestação temporal de seus acontecimentos.

UNIDADE DE ESTUDO DOS SOLOS



O perfil do solo se constitui na unidade básica de es-
tudos dos solos, pois, através de um corte vertical feito no solo,
desde a superfície até o material de origem, é possível efetuar
uma análise dos atributos e características do solo. As camadas
do perfil são conhecidas como horizonte. Cada horizonte possui
características físico-químicas distintas entre si e a cor é a vari-
ável visual que permite observar diferenças, como a espessura.
Através da observação do perfil do solo e da espessura
dos seus horizontes, é possível inferir sobre a idade do solo.
Comumente, quanto mais jovem for um solo, menos horizontes
visíveis poderão ser observados no perfil. As características dos
horizontes podem ser distintas de acordo com a diversidade ti-
pológica do solo. Desta forma, os horizontes frequentemente
apresentam estas características:
Extensivo 67

demonstra a perda desigual do solo proporcionada por quatro


♦ Horizonte O ou Orgânico – quando encontrado é o mais atividades distintas.
superficial e pouco profundo. Como a denominação sugere é a
camada que contém maiores quantidades de matéria orgânica
(folhas e animais em decomposição) quando comparado como
outros horizontes. Ocorre em áreas na qual há pouco revolvi-
mento do solo, ou seja, em áreas de vegetação nativa.
♦ Horizonte A – possui interferências climáticas e dos seres vi-
vos, pois é a camada mais próxima da superfície, portanto mais
suscetível à erosão. O acúmulo de matéria orgânica e a perda
de materiais para o horizonte B são as características principias
deste horizonte.
♦ Horizonte B – possui materiais removidos pela ação da água
em camadas do solo superiores e por isso é chamado também de
horizonte de acumulação.
Horizonte C – é configurado por agregados de minerais que
pouco foram intemperizados. A rocha pouco alterada também é
conhecida por saprólito. A mecanização do campo agrava a erosão dos solos.
Horizonte R – Rocha matriz. Por isso, o cultivo de algodão, que normalmente possui colheita
Estes horizontes não estão necessariamente contidos em um mecanizada, se destaca entre as culturas que desgastam o solo.
tipo de solo. Um solo pode ter três horizontes enquanto em ou- Quanto menos revolvimento do solo e menor quantidade re-
tro perfil é possível encontrar cinco ou mais. tirada do estrato herbáceo da vegetação, menor será a erosão.
Quando acontece o inverso, há uma diminuição progressiva do
CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS DA DEGRAÇÃO DO potencial produtivo dos solos. Algumas práticas conservacio-
SOLO nistas como o plantio direto podem diminuir a quantidade de
perdas por erosão e proporcionar uma recuperação na estrutura
Algumas práticas da sociedade podem interferir de do solo, bem como aumentar a recarga dos aqüíferos.
forma negativa nos solos e, consequentemente, no sistema am- Um exemplo prático de degradação do solo é o cultivo
biental. A intensidade do uso do solo de maneira indiscriminada de eucalipto que impossibilita a o crescimento do estrato her-
pode alterar, por exemplo, a dinâmica natural do escoamento báceo e com isso eleva a erosão, causando danos ao solo e, por
hídrico superficial, diminuindo este escoamento com asfalta- conseguinte ao sistema ambiental como um todo (Tricart, 1977)
mento de ruas ou elevando o escoamento sub-superficial, po- ou ainda a utilização de pesados equipamentos agrícolas ou uso
dendo acelerar a ocorrência de laterização (lixiviação intensa) excessivo de insumos que afetam a estrutura e propriedades do
que empobrece o solo com a retirada excessiva de minerais. solo.
A degradação do solo possui sua gênese através da
ação da erosão. È importante ressaltar que os processos erosivos EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
fazem parte da dinâmica natural de um sistema ambiental. O
que está acontecendo nas últimas décadas é a aceleração do 1. Uma empresa norte-americana de bioenergia está expandindo
ritmo da erosão pelas atividades da sociedade. A expansão de suas operações para o Brasil para explorar o mercado de pi-
áreas para o desenvolvimento da agricultura e a expansão para nhão manso. Com sede na Califórnia, a empresa desenvolveu
a ocupação urbana através, respectivamente, da eliminação da sementes híbridas de pinhão manso, oleaginosa utilizada hoje
capa superficial do solo e da ausência de planejamento, para na produção de biodiesel e de querosene de aviação.
a instalação de habitações e/ou infraestruturas, podem ocasio- MAGOSSI, E. O Estado de São Paulo. 19 maio 2011 (adapta-
nar degradação com elevada frequência e baixa intensidade ou do). A partir do texto, a melhoria agronômica das sementes de
gerar deteriorações com baixa frequência, porém com elevada pinhão manso abre para o Brasil a oportunidade econômica de
intensidade, sendo que estas podem ser caracterizadas como ca-
tástrofes ambientais como as que assistimos recentemente nos (A) ampliar as regiões produtoras pela adaptação do cultivo a
noticiários. diferentes condições climáticas.
Além das áreas já destinadas ao desenvolvimento da (B) beneficiar os pequenos produtores camponeses de óleo pela
agricultura, a abertura de novas fronteiras agrícolas no Brasil, venda direta ao varejo.
tais como a Amazônia ou o Cerrado, necessitam de um maior (C) abandonar a energia automotiva derivada do petróleo em
cuidado, pois, ao contrario do que se pensa, são constituídas de favor de fontes alternativas.
solos altamente vulneráveis ao manejo incorreto. A implantação (D) baratear cultivos alimentares substituídos pelas culturas
de monoculturas colabora para o empobrecimento do solo por energéticas de valor econômico superior.
meio de seu intenso revolvimento que desagrega e transporta (E) reduzir o impacto ambiental pela não emissão de gases do
partículas minerais e orgânicas. Nos estados do Espírito Santo, efeito estufa para a atmosfera.
Rio de Janeiro, São Paulo e oeste do Paraná, o cultivo histórico
de café reduziu drasticamente a fertilidade dos solos, e em algu- 2. Um dos principais objetivos de se dar continuidade às pes-
mas áreas como as situadas no Vale do Paraíba, ainda não foram quisas em erosão dos solos é o de procurar resolver os proble-
recuperadas (GUERRA, SILVA e BOTELHO, 1999). Para cada mas oriundos desse processo, que, em última análise, geram
tipo de atividade que a sociedade necessita ao utilizar o solo, uma série de impactos ambientais. Além disso, para a adoção de
isto implica em sua perda através da erosão. O quadro a seguir técnicas de conservação dos solos, é preciso conhecer como a
68 Da Vinci Vestibulares

a água executa seu trabalho de remoção, transporte e deposi- ção foi o avanço da
ção de sedimentos. A erosão causa, quase sempre, uma série de (A) industrialização voltada para o setor de base.
problemas ambientais, em nível local ou até mesmo em grandes (B) economia da borracha no sul da Amazônia.
áreas. GUERRA, A. J. T. Processos erosivos nas encostas. In: (C) fronteira agropecuária que degradou parte do cerrado.
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atu- (D) exploração mineral na Chapada dos Guimarães.
alização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, (E) extrativismo na região pantaneira.
2007 (adaptado).
A preservação do solo, principalmente em áreas de encostas, 5. A Floresta Amazônica, com toda a sua imensidão, não vai
pode ser uma solução para evitar catástrofes em função da in- estar aí para sempre. Foi preciso alcançar toda essa taxa de des-
tensidade de fluxo hídrico. A prática humana que segue no ca- matamento de quase 20 mil quilômetros quadrados ao ano, na
minho contrário a essa solução é última década do século XX, para que uma pequena parcela de
(A) a aração. brasileiros se desse conta de que o maior patrimônio natural do
(B) o terraceamento. país está sendo torrado. AB’SABER, A. Amazônia: do discurso
(C) o pousio. à práxis. São Paulo: EdUSP, 1996.
(D) a drenagem. Um processo econômico que tem contribuído na atualidade para
(E) o desmatamento. acelerar o problema ambiental descrito é:
(A) Expansão do Projeto Grande Carajás, com incentivos à che-
3. O açúcar e suas técnicas de produção foram levados à Europa gada de novas empresas mineradoras.
pelos árabes no século VIII, durante a Idade Média, mas foi (B) Difusão do cultivo da soja com a implantação de monocul-
principalmente a partir das Cruzadas (séculos XI e XIII) que a turas mecanizadas.
sua procura foi aumentando.Nessa época passou a ser importa- (C) Construção da rodovia Transamazônica, com o objetivo de
do do Oriente Médio e produzido em pequena escala no sul da interligar a região Norte ao restante do país.
Itália, mas continuou a ser um produto de luxo, extremamente (D) Criação de áreas extrativistas do látex das seringueiras para
caro, chegando a figurar nos dotes de princesas casadoiras. os chamados povos da floresta.
CAMPOS, R. Grandeza do Brasil no tempo de Antonil (1681- (E) Ampliação do polo industrial da Zona Franca de Manaus,
1716). São Paulo: Atual, 1996. Considerando o conceito do visando atrair empresas nacionais e estrangeiras.
Antigo Sistema Colonial, o açúcar foi o produto escolhido por
Portugal para dar início à colonização brasileira, em virtude de EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:
no Estado de São Paulo, a mecanização da colheita da cana-de-
-açúcar tem sido induzida também pela legislação ambiental,
que proíbe a realização de queimadas em áreas próximas aos 6. Antes, eram apenas as grandes cidades que se apresentavam
centros urbanos. Na região de Ribeirão Preto, principal polo su- como o império de técnica, objeto de modificações, suspensões,
croalcooleiro do país, a mecanização da colheita já é realizada acréscimos, cada vez mais sofisticadas e carregadas de artifício.
em 516 mil dos 1,3 milhão de hectares cultivados com cana-de- Esse mundo artificial inclui, hoje, o mundo rural. SANTOS, M.
-açúcar. BALSADI, O. et al. Transformações Tecnológicas e a A Natureza do Espaço. São Paulo: Hucitec, 1996.
força de trabalho na agricultura brasileira no período de 1990- Considerando a transformação mencionada no texto, uma con-
2000. Revista de economia agrícola. V. 49 (1), 2002. sequência socioespacial que caracteriza o atual mundo rural
O texto aborda duas questões, uma ambiental e outra socioeco- brasileiro é
nômica, que integram o processo de modernização da produção (A) a redução do processo de concentração de terras.
canavieira. Em torno da associação entre elas, uma mudança (B) o aumento do aproveitamento de solos menos férteis.
decorrente desse processo é a (C) a ampliação do isolamento do espaço rural.
(A) perda de nutrientes do solo devido à utilização constante de (D) a estagnação da fronteira agrícola do pais.
máquinas. (E) a diminuição do nível de emprego formal.
(B) eficiência e racionalidade no plantio com maior produtivi-
dade na colheita. 7. A maioria das pessoas daqui era do campo. Vila Maria é hoje
(C) ampliação da oferta de empregos nesse tipo de ambiente exportadora de trabalhadores. Empresários de Primavera do
produtivo. Leste, Estado de Mato Grosso, procuram o bairro de Vila Maria
(D) menor compactação do solo pelo uso de maquinário agrí- para conseguir mão de obra. É gente indo distante daqui 300,
cola de porte. 400 quilômetros para ir trabalhar, para ganhar sete conto por
(E) poluição do ar pelo consumo de combustíveis fósseis pelas dia. (Carlito, 43 anos, maranhense, entrevistado em 22/03/98).
máquinas.) o lucro obtido com o seu comércio ser muito van- Ribeiro, H. S. O migrante e a cidade: dilemas e conflitos. Arara-
tajoso. quara: Wunderlich, 2001 (adaptado).
O texto retrata um fenômeno vivenciado pela agricultura brasi-
4. O Centro-Oeste apresentou-se como extremamente receptivo leira nas últimas décadas do século XX, consequência
aos novos fenômenos da urbanização, já que era praticamen-
te virgem, não possuindo infraestrutura de monta, nem outros (A) dos impactos sociais da modernização da agricultura.
investimentos fixos vindos do passado. Pôde, assim, receber (B) da recomposição dos salários do trabalhador rural.
uma infraestrutura nova, totalmente a serviço de uma economia (C) da exigência de qualificação do trabalhador rural.
moderna. SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. São Paulo: (D) da diminuição da importância da agricultura.
EdUSP, 2005 (adaptado). (E) dos processos de desvalorização de áreas rurais.
O texto trata da ocupação de uma parcela do território brasilei-
ro. O processo econômico diretamente associado a essa ocupa- 8. Coube aos Xavante e aos Timbira, povos indígenas do Cer-
Extensivo 69

O impacto das ferrovias na promoção de projetos de coloniza-


rado, um recente e marcante gesto simbólico: a realização de ção com base em imigrantes europeus foi importante, porque
sua tradicional corrida de toras (de buriti) em plena Avenida
Paulista (SP), para denunciar o cerco de suas terras e a degrada- (A) o percurso dos imigrantes até o interior, antes das ferrovias,
ção de seus entornos pelo avanço do agronegócio. RICARDO, era feito a pé ou em muares; no entanto, o tempo de viagem era
B.; RICARDO, F. Povos Indígenas do Brasil: 2001-2005. São aceitável, uma vez que o café era plantado nas proximidades da
Paulo: Instituto Socioambiental, 2006 (adaptado). capital, São Paulo.
(B) a expansão da malha ferroviária pelo interior de São Paulo
A questão indígena contemporânea no Brasil evidencia a rela- permitiu que mão-de-obra estrangeira fosse contratada para tra-
ção dos usos socioculturais da terra com os atuais problemas balhar em cafezais de regiões cada vez mais distantes do porto
socioambientais, caracterizados pelas tensões entre de Santos.
(C) o escoamento da produção de café se viu beneficiado pelos
(A) a expansão territorial do agronegócio, em especial nas re- aportes de capital, principalmente de colonos italianos, que de-
giões Centro-Oeste e Norte, e as leis de proteção indígena e sejavam melhorar sua situação econômica.
ambiental. (D) os fazendeiros puderam prescindir da mão-de-obra europeia
(B) os grileiros articuladores do agronegócio e os povos indíge- e contrataram trabalhadores brasileiros provenientes de outras
nas pouco organizados no Cerrado. regiões para trabalhar em suas plantações.
(C) as leis mais brandas sobre o uso tradicional do meio am- (E) as notícias de terras acessíveis atraíram para São Paulo gran-
biente e as severas leis sobre o uso capitalista do meio ambiente. de quantidade de imigrantes, que adquiriram vastas proprieda-
(D) os povos indígenas do Cerrado e os polos econômicos re- des produtivas.
presentados pelas elites industriais paulistas.
(E) o campo e a cidade no Cerrado, que faz com que as terras 11. Apesar do aumento da produção no campo e da integração
indígenas dali sejam alvo de invasões urbanas. entre a indústria e a agricultura, parte da população da América
do Sul ainda sofre com a subalimentação, o que gera conflitos
9. Até o século XVII, as paisagens rurais eram marcadas por pela posse de terra que podem ser verificados em várias áreas e
atividades rudimentares e de baixa produtividade. A partir da que frequentemente chegam a provocar mortes. Um dos fatores
Revolução Industrial, porém, sobretudo com o advento da re- que explica a subalimentação na América do Sul é
volução tecnológica, houve um desenvolvimento contínuo do (A) a baixa inserção de sua agricultura no comércio mundial.
setor agropecuário. São, portanto, observadas consequências (B) a quantidade insuficiente de mão-de-obra para o trabalho
econômicas, sociais e ambientais inter-relacionadas no período agrícola.
posterior à Revolução Industrial, as quais incluem (C) a presença de estruturas agrárias arcaicas formadas por lati-
(A) a erradicação da fome no mundo. fúndios improdutivos.
(B) o aumento das áreas rurais e a diminuição das áreas urbanas. (D) a situação conflituosa vivida no campo, que impede o cres-
(C) C a maior demanda por recursos naturais, entre os quais os cimento da produção agrícola.
recursos energéticos. (E) os sistemas de cultivo mecanizado voltados para o abasteci-
(D) a menor necessidade de utilização de adubos e corretivos mento do mercado interno.
na agricultura.
(E) o contínuo aumento da oferta de emprego no setor primário 12. 13. A luta pela terra no Brasil é marcada por diversos aspec-
da economia, em face da mecanização. tos que chamam a atenção. Entre os aspectos positivos, destaca-
-se a perseverança dos movimentos do campesinato e, entre os
10. O suíço Thomas Davatz chegou a São Paulo em 1855 para aspectos negativos, a violência que manchou de sangue essa
trabalhar como colono na fazenda de café Ibicaba, em Campi- história. Os movimentos pela reforma agrária articularam-se
nas. A perspectiva de prosperidade que o atraiu para o Brasil por todo o território nacional, principalmente entre 1985 e 1996,
deu lugar a insatisfação e revolta, que ele registrou em livro. So- e conseguiram de maneira expressiva a inserção desse tema nas
bre o percurso entre o porto de Santos e o planalto paulista, es- discussões pelo acesso à terra. O mapa seguinte apresenta a dis-
creveu Davatz: “As estradas do Brasil, salvo em alguns trechos, tribuição dos conflitos agrários em todas as regiões do Brasil
são péssimas. Em quase toda parte, falta qualquer espécie de nesse período, e o número de mortes ocorridas nessas lutas.
calçamento ou mesmo de saibro. Constam apenas de terra sim-
ples, sem nenhum benefício. É fácil prever que nessas estradas
não se encontram estalagens e hospedarias como as da Europa.
Nas cidades maiores, o viajante pode naturalmente encontrar
aposento sofrível; nunca, porém, qualquer coisa de comparável
à comodidade que proporciona na Europa qualquer estalagem
rural. Tais cidades são, porém, muito poucas na distância que
vai de Santos a Ibicaba e que se percorre em cinquenta horas
no mínimo”.
Em 1867 foi inaugurada a ferrovia ligando Santos a Jundiaí, o
que abreviou o tempo de viagem entre o litoral e o planalto para
menos de um dia. Nos anos seguintes, foram construídos outros
ramais ferroviários que articularam o interior cafeeiro ao porto
de exportação, Santos. DAVATZ, T. Memórias de um colono no
Brasil. São Paulo: Livraria Martins, 1941 (adaptado).
70 Da Vinci Vestibulares

OLIVEIRA, A. U. A longa marcha do campesinato brasileiro: áreas rurais no Brasil, conclui-se que
movimentos sociais, conflitos e reforma agrária. Revista Estu- (A) imóveis improdutivos são predominantes em relação às
dos Avançados. Vol. 15 n. 43, São Paulo, set./dez. 2001. demais formas de ocupação da terra no âmbito nacional e na
Com base nas informações do mapa acerca dos conflitos pela maioria das regiões.
posse de terra no Brasil, a região (B) o índice de 63,8% de imóveis improdutivos demonstra que
(A) conhecida historicamente como das Missões Jesuíticas é a grande parte do solo brasileiro é de baixa fertilidade, impróprio
de maior violência. para a atividade agrícola.
(B) do Bico do Papagaio apresenta os números mais expressi- (C) o percentual de imóveis improdutivos iguala-se ao de imó-
vos. veis produtivos somados aos minifúndios, o que justifica a exis-
(C) conhecida como oeste baiano tem o maior número de mor- tência de conflitos por terra.
tes. (D) a região Norte apresenta o segundo menor percentual de
(D) do norte do Mato Grosso, área de expansão da agricultura imóveis produtivos, possivelmente em razão da presença de
mecanizada, é a mais violenta do país. densa cobertura florestal, protegida por legislação ambiental.
(E) da Zona da Mata mineira teve o maior registro de mortes. (E) a região Centro-Oeste apresenta o menor percentual de área
ocupada por minifúndios, o que inviabiliza políticas de reforma
13. Entre 2004 e 2008, pelo menos 8 mil brasileiros foram liber- agrária nesta região.
tados de fazendas onde trabalhavam como se fossem escravos.
O governo criou uma lista em que ficaram expostos os nomes 15. Observe a imagem e responda:
dos fazendeiros flagrados pela fiscalização. No Norte, Nordes-
te e Centro-Oeste, regiões que mais sofrem com a fraqueza do
poder público, o bloqueio dos canais de financiamento agrícola
para tais fazendeiros tem sido a principal arma de combate a
esse problema, mas os governos ainda sofrem com a falta de in-
formações, provocada pelas distâncias e pelo poder intimidador
dos proprietários. Organizações não governamentais e grupos
como a Pastoral da Terra têm agido corajosamente acionando as
autoridades públicas e ministrando aulas sobre direitos sociais
e trabalhistas. “Plano Nacional para Erradicação do Trabalho
Escravo”. Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em:
17 mar. 2009 (adaptado).
Nos lugares mencionados no texto, o papel dos grupos de defesa
dos direitos humanos tem sido fundamental, porque eles
(A) negociam com os fazendeiros o reajuste dos honorários e a
redução da carga horária de trabalho. O esquema representa um processo de erosão em encosta. Que
(B) defendem os direitos dos consumidores junto aos armazéns prática realizada por um agricultor pode resultar em aceleração
e mercados das fazendas e carvoarias. desse processo?
(C) substituem as autoridades policiais e jurídicas na resolução (A) Plantio direto.
dos conflitos entre patrões e empregados. (B) Associação de culturas.
(D) encaminham denúncias ao Ministério Público e promovem (C) Implantação de curvas de nível.
ações de conscientização dos trabalhadores. (D) Aração do solo, do topo ao vale.
(E) fortalecem a administração pública ao ministrarem aulas aos (E) Terraceamento na propriedade.
seus servidores.

14. 14. O gráfico mostra o percentual de áreas ocupadas, segun-


do o tipo de propriedade rural no Brasil, no ano de 2006.
Área ocupada pelos imóveis rurais

De acordo com o gráfico e com referência à distribuição das


Extensivo 71

MÓDULOS 7 E 8: HIDROGRAFIA importância no cotidiano das pessoas, pois possui diversas fun-
cionalidades, sejam estas atribuídas pela sociedade ou caracte-
O ramo da ciência geográfica dedicado a estudar as rísticas próprias da água. Dentre os principais usos sociais dos
condições de existência e a disposição da água no planeta é a recursos hídricos, é possível identificar alguns: o abastecimento
hidrografia. A água existente nos diferentes ambientes como os humano (dessedentação humana, limpeza doméstica, limpeza
mares, oceanos, rios, geleiras, atmosfera, lagos dentre outros é de vias públicas); para fins de irrigação; para a pecuária (des-
objeto de estudo da hidrografia. É reconhecida a importância sedentação de animais); para a produção de energia; para utili-
vital deste elemento natural que, através de sua dinâmica, auxi- zação industrial (produção, resfriamento, liberação de rejeitos);
lia na manutenção das condições ambientais do planeta, que não pesca; lazer e navegação.
são estáticas e se transformam continuamente. De acordo com Considerando as características da água, esta auxilia
Guerra (2003), a hidrografia é a parte da Geografia Física que no(a): regulação térmica; produtividade agrícola; transporte
estuda as águas correntes, águas paradas, águas oceânicas e as de pessoas, animais, mercadorias. (por viabilizar que meios de
águas subterrâneas. transporte possam fluir em sua extensão).
A radiação solar é o motor inicial que permite uma tro- Como a água se apresenta nas mais diversas maneiras em am-
ca ininterrupta da água no conjunto da hidrosfera. Esta permuta bientes igualmente diversificados, há uma divisão para o estudo
contínua é conhecida como ciclo da água ou ciclo hidrológico, aprofundado de cada um destes ambientes.
que sinteticamente pode ser definido como o processo no qual
a água, a partir da transferência de energia, muda de estado e 1. OCEANOGRAFIA
se movimenta na atmosfera, superfície, em ambientes subterrâ-
neos, nas plantas, nos animais e na sociedade em seus estados Este ramo da ciência estuda os oceanos. Estes podem
gasoso, líquido ou sólido. ser considerados como imensas porções de água salgada sobre a
Isto significa que a água está inserida em diversos litosfera. Sobre a classificação da água com relação à quantida-
espaços, mas não permanece em repouso, pois ela pode ser de de sais, observe o quadro a seguir:
transportada entre estes ambientes. Os principais processos de
transferência da água no planeta são: evaporação, precipitação e
escoamento.

O oceano poderia ser considerado como um apenas em


todo planeta, porém, de acordo com sua localização e caracte-
rísticas físicas, estes são diferenciados em três grandes oceanos:
Atlântico, Índico e Pacífico e dois menores: Glacial Ártico e
Glacial Antártico.
No interior dos oceanos, existem correntes que, in-
fluenciadas pelo movimento de rotação da Terra, funcionam
Figura 26: Ciclo da água. como verdadeiros rios de água salgada. Estas correntes possuem
certa homogeneidade de características que a diferenciam de
Devido ao processo de renovação contínuo da água é outras tais como: temperatura, salinidade e densidade. As cor-
possível considerar que á água é um elemento renovável. Mas, rentes são classificadas em quentes e frias.As correntes quentes
nas condições atuais do planeta, esta renovação tem limites que normalmente saem da zona tropical em direção às zonas polares
precisam ser considerados, o que permite considerar os limites e, quando ocorre o movimento inverso, as correntes são frias.
finitos de exploração das reservas de água potável, tema que As correntes marítimas funcionam como condicionan-
será abordado posteriormente. tes climáticos, podendo elevar ou diminuir a umidade em deter-
A água recobre aproximadamente 71% da superfície minadas áreas. Grandes desertos são formados devido à atuação
do planeta Terra. Do total de água existente, apenas 3% é con- das correntes marítimas, como o deserto do Atacama no Chile, e
siderado doce. Destes 3%, 2,4% estão situados em geleiras e o de Kalahari, localizado entre os países da Namíbia, África do
0,6% em outros locais como rios, lagos e aquíferos. Sul e Botswana.
De acordo com Rebouças (2006), o termo água refe- A formação destes desertos teve influência direta da
rese, em geral, ao elemento natural, sem vínculo com qualquer corrente fria de Humboldt e pela corrente fria de Benguela. Tal
uso potencial. Porém, quando se atribui um caráter econômico- correlação é facilmente visível na figura a seguir, onde são evi-
financeiro a este elemento, utiliza-se o termo recurso hídrico denciadas as áreas de atuação global das principais correntes
para designar esta substância. Os diversos usos da água (indus- marítimas.
triais, agrícolas, urbanos) necessitam, por parte de agentes pú- Ao observarmos esta figura, percebemos que a maior
blicos e privados, de um planejamento e gestão eficaz para que extensão dos oceanos está localizada no hemisfério Sul. Na se-
haja a diminuição dos conflitos que ocorrem para se ter acesso quência, apresentamos algumas características dos principais
à água. oceanos:
A água é o elemento essencial à vida e de fundamental
72 Da Vinci Vestibulares

As porções de água próxima aos continentes são chamadas de


mares. Denominam-se mares também porções de água salgada
existentes no interior dos continentes. Quando o mar adentra o
continente e na paisagem visualizam-se reentrâncias da costa
em formas côncavas horizontais, ocor rem os golfos, baías e
enseadas. O que diferenciam estas três formações litorâneas é o
tamanho já que o golfo possui uma extensão maior do que a baía
e esta é maior do que a enseada.

1.1 MOVIMENTO DOS MARES

Figura 27: Oceanos e mares. Os mares executam diversos movimentos que podem
interferir no relevo litorâneo. A erosão marinha remodela cons-
Oceano Atlântico: segundo maior oceano do mundo, tantemente, através do trabalho erosivo, os ambientes costeiros
possui importância econômico-financeira acentuada, pois é a devido à ação das correntes marítimas e dos fluxos de marés.
menor distância entre as grande potencias mundiais (EUA e os O movimento das águas do mar sobre o litoral dos con-
países da Europa). É dividido pela dorsal meso-atlântica que é tinentes e ilhas devido às forças gravitacionais é chamado de
uma cadeia de montanhas submersas. As correntes marítimas maré. O fenômeno do vaivém das águas causado pela ação dos
que perpassam a extensão do oceano no hemisfério norte são: ventos em movimento oscilatórios é chamado de onda. Estas
Norte-Equatoriais, das Canárias e do Golfo; e, no hemisfério podem modelar o relevo de forma lenta ou através de eventos
Sul: corrente do Brasil, de Benguela e a Sul-Equatorial. catastróficos como os tsunamis que são causados por distúrbios
Oceano Pacífico: é o maior oceano e ocupa uma área sísmicos em áreas oceânicas. Quando eles acontecem, promo-
superior ao total das terras emersas do globo. Também é o que vem um acentuado deslocamento de volume de água. Durante a
apresenta as maiores profundidades, sendo a Fossa das Maria- ocorrência deste evento, as ondas podem alcançar mais 160km
nas (11.033m) a mais profunda do planeta. Banha toda a costa de extensão em alto-mar e se propagar a uma velocidade de 800
ocidental do continente americano. Devido a sua extensão, o km/h em direção à costa o que lhe confere um elevado poder de
Oceano Pacífico é o menos influenciado pelas massas de ar con- destruição das zonas litorâneas e também continentais.
tinentais. Para alguns estudiosos, o oceano glacial Antár tico faz
par te deste oceano. 2. ÁGUAS CONTINENTAIS
Oceano Índico: dos principais, é o menor oceano. A
importância econômico-financeira ocorre devido ao escoamen- As águas que ocorrem nas superfícies continentais são
to das embarcações petroleiras, já que o Golfo Pérsico (área de divididas segundo estes principais tipos: lagos, lagoas, rios,
maior extração petrolífera do mundo) está situado neste oceano. aquíferos, geleiras dentre outras. Na sequência, é possível ob-
Possui a média térmica mais elevada quando comparado com servar a diferença de cada uma destas disposições das águas
os outros oceanos. Isto ocorre devido à maior concentração de continentais.
sua extensão na faixa equatorial, determinado também as mais
altas taxas de salinidade dentre os oceanos. É neste oceano que Águas Subterrâneas:
se origina o fenômeno das monções.
Quando ocorre a precipitação, acontecem dois proces-
1.1. RELEVO SUBMARINO sos que propiciam a formação de águas subterrâneas: infiltração
e escoamento sub-superficial. Ao infiltrar-se nos solos e nas ro-
Assim como nas superfícies emersas, o relevo submer- chas permeáveis, a água pode estacionar em aquíferos confina-
so possui diversas formações tais como montanhas, depressões. dos ou continuar a percorrer caminhos, originando os lençóis
De acordo com a profundidade, o relevo submarino está dividi- freáticos. O nível hidrostático ocorre quando a água se con-
do desta maneira: centra em um determinado nível de profundidade onde não está
sujeita à evaporação capilar.
Em alguns países, a água subterrânea é de suma impor-
tância para o abastecimento humano e para os demais fins. Pode
ser disponibilizada através de poços comuns ou artesianos.
O Brasil possui sob seu território parte da maior re-
serva subterrânea de água doce América do Sul, denominado
Aquífero Guarani. Este manancial está situado em local trans-
fronteiriço, pois sua extensão, além do Brasil, abrange partes do
território da Argentina, Uruguai e Paraguai. Desta forma, este
aquífero se tornou uma reserva estratégica e atualmente abaste-
ce 80% das cidades do centro-sul brasileiro.
Há a crença de que os aquíferos são apenas grandes
áreas de concentração contígua de água, porém estas se apre-
sentam compondo e preenchendo os poros de terrenos arenosos
ou de outra natureza. Mesmo possuindo elevada quantidade de
água doce, a maior parte das águas do Guarani é salobra, ou
seja, imprópria para o consumo humano se não tratadas devida-
Extensivo 73

formadas em áreas onde a queda de neve é superior ao degelo. ♦ Pluvial: São dependentes da regularidade e/ou intensidade
Estão distribuídas nas zonas polares e em áreas de elevada al- das precipitações pluviométricas No Brasil e na Bahia predo-
titude. Quando a temperatura se eleva, porções de gelo podem minam
se desgarrar e são direcionadas aos oceanos onde permanecem este tipo de regime. Ex: Rio São Francisco e Rio Paraguaçu.
flutuando, estas poções são denominadas de icebergs. De acordo ♦ Nival: Os rios deste tipo de regime são influenciados pelo
com Guerra (2003), os icebergs são blocos de gelo oriundos dos derretimento da neve das montanhas. Acontecem em áreas de
continentes glaciais (geleiras continentais). Estas massas de elevadas latitude ou altitude. Ex Rio Reno (Europa)
gelo flutuantes são carregadas pelas correntes marinhas e cons- ♦ Misto: Quando o período de cheia e vazante é influenciado
tituem grande perigo à navegação. A parte que fica emersa cor- por mais de um fenômeno seja este pluviométrico ou de derreti-
responde a uma pequena fração, apenas 1/10 do seu total. mento da neve. Ex: Rio Amazonas.
Lagos e Lagoas – são massas de água localizadas no interior
dos continentes. Quando essas massas possuem extensão menor 3.2. TIPOS DE RIOS
do que a dos lagos, estas são chamadas de lagoas. Estas podem
ser temporárias, ocorrendo apenas nos períodos de pluviosidade Os rios podem possuir algumas classificações. Estas
elevada, concentrando parcialmente a água dos processos de es- podem ocorrer de acordo com o tipo de relevo por qual sua água
coamento. Lagos de água salgada também são chamados de ma- escoa ou quanto à forma de escoamento. No quadro a seguir, é
res. Há diversas origens para a formação de lagos que podem ser possível observar esta distinção.
classificados em: vulcânicos, tectônicos, glaciais e represados.
♦ Lagos vulcânicos: são formados em crateras de vulcões ex-
tintos; normalmente apresentam elevada concentração de subs-
tâncias nocivas que impedem sua utilização.

♦ Lago glacial: quando são originados a partir de geleiras. Ao


deslizarem, as geleiras carregam consigo gelo e sedimentos e
durante um longo período estes sedimentos podem acumular-se
em determinadas porções do terreno e conter a água resultante
do degelo. Este processo pode formar este tipo de lago nas de-
pressões e vales próximos as montanhas.

♦ Lago tectônico: são originadas em falhas ou fraturas da su-


perfície terrestre devido à movimentação das placas tectônicas
em zonas continentais.

♦ Lagos represados: são originados a partir da intervenção hu-


mana, construindo barragens e, com isso, concentrando elevada
quantidade de água. Ex: Lago de Sobradinho (Bahia).

3. ÁGUAS CORRENTES

É denominada água corrente toda água continental que


se desloca sobre os continentes. O tipo mais importante de água
corrente é o rio que, de acordo com Guerra (2003), é uma cor-
rente líquida resultante da concentração do lençol de água num
vale. Os rios possuem importância socioeconômica e por esta
condição são considerados recursos hídricos, pois são fontes de
alimentos, de recursos energéticos, de transportes, dentre outras
funções. Além disto, os rios modelam o relevo através do tra-
balho que executam de transporte de águas e detritos, além da A água que flui na foz dos rios representa as caracterís-
deposição de sedimentos. Dentre as partes componentes dos ticas dos processos de erosão fluvial que ocorrem ao longo de
rios, podem-se destacar as principais como: a nascente (local de seu leito e, de acordo com estes processos, a foz dos rios pode
onde o rio aflora), leito (o curso do rio), margens (partes late- ser classificada em:
rais do rio), meandro (sinuosidades existentes nos rios), afluente
(quando um rio descarrega suas águas em outro rio) e foz (local ♦ Delta: Quando ocorre elevada quantidade de deposição se-
onde o rio deságua). dimentar, formando banco de areias no formato de leques. È
possível observar ilhas próximas à foz deste tipo.
3.1. REGIME FLUVIAL ♦ Estuário: Ocorrem quando o rio possui poder erosivo atenua-
do por motivos como vazão dos rios e características dos solos.
Os rios podem variar de acordo com o local onde este- A foz deste tipo se expressa é um único canal o que favorece a
jam e também pela origem do abastecimento de sua nascente e construção de portos.
leito. Os regimes fluviais representam o motivo das oscilações
dos períodos de cheias. Os regimes fluviais podem ser:
74 Da Vinci Vestibulares

3.3. BACIA HIDROGRÁFICA O rio Amazonas está situado, predominantemente,


em áreas de planície e possui aproximadamente 7.000 afluen-
É uma área da superfície na qual os divisores topográ- tes. Como está localizado próximo às zonas equatoriais, possui
ficos auxiliam que o escoamento superficial se direcione para afluentes nos hemisférios Sul (margem direita) e Norte (margem
uma determinada área é denominada bacia hidrográfica. De esquerda), o que permite a abundância constante do volume de
acordo com Guerra (2003), a bacia hidrográfica consiste em um água visto que, quando o verão ocorre em um hemisfério, é in-
conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluen- verno no outro, e as chuvas, nas zonas equatoriais, são distribu-
tes. ídas com maior frequência do verão (Ab’Saber, 2003).
A convergência do escoamento das águas de uma bacia A construção de usinas hidrelétricas nessa bacia são
hidrográfica pode ser proporcionada pela estrutura geológica, eventos polêmicos, pois confrontam ambientalistas e desenvol-
possuindo um determinado padrão de drenagem. O escoamento vimentistas, que assumem posições diferenciadas com relação
destas águas se dá em direção ao mar, aos lagos ou aos ambien- às obras e à instalação destes empreendimentos. Os desenvolvi-
tes subterrâneos. Estas características das bacias hidrográficas mentistas alegam a necessidade da eficiência energética nacio-
permitem sua classificação de acordo com os padrões de escoa- nal enquanto os ambientalistas denunciam que as áreas alagadas
mento, como é possível observar no quadro a seguir: alteram bastante o sistema ambiental regional. Nesta bacia se
encontram as usinas de Samuel, no rio Jamari, em Rondônia;
Balbina, no rio Uatumã, no Amazonas, e as usinas de Curuá-
-Uma, no rio que leva o mesmo nome e, no Pará, a construção
da usina de Belo Monte, no rio Xingú.
Bacia Tocantins-Araguaia – Bacia integralmente situada em
território nacional e ocupa o terceiro lugar em potencial hidre-
létrico no país, atrás apenas das bacias Amazônica e do Paraná.
A grande carga deposicional do rio Araguaia possibilitou, no
rio Tocantins, a formação da ilha do Bananal que é a maior ilha
fluvial do mundo.
O potencial hidrelétrico é subutilizado, considerando
que há apenas a usina de Tucuruí, situada no rio Tocantins, na
porção inserida no estado do Pará. Esta usina abastece o proces-
so da mineração em Carajás.
Bacia do São Francisco – esta bacia é responsável por 7,5%
da drenagem do país. O rio principal, São Francisco (também
conhecido como Velho Chico) nasce na Serra da Canastra, no
estado de Minas Gerais e deságua no município alagoano de
Piaçabuçu, situado na divisa com o estado de Sergipe.
4. HIDROGRAFIA BRASILEIRA O rio São Francisco é considerado o rio da integração
nacional por conectar duas regiões populosas (Sudeste e Nor-
A rede hidrográfica brasileira é majoritariamente com- deste), além dos incentivos estatais em seu potencial para esti-
posta por rios. No Brasil, há também a predominância de rios mular o desenvolvimento de áreas semi-áridas do Nordeste, De
planálticos. A maior parte do território nacional está inserida em acordo com Ab’ Saber (2003), é o único rio perene da região
áreas de climas tropicais, o que propicia em maior parte rios de semi-árida brasileira. É um rio de planalto, mas possui longo
regime pluvial. Os rios brasileiros possuem importância econô- trecho navegável que se estende desde o município de Pirapora
mica elevada, pois aproximadamente 86% da energia elétrica até Juazeiro, no estado da Bahia.
nacional são provenientes das usinas hidrelétricas. O potencial hidrelétrico é utilizado de forma intensa
No Brasil, os rios desembocam em foz do tipo estuário desde o estado de Minas Gerais nas usinas de Três Marias até as
como é o caso do Rio São Francisco. usinas de Xingó, perpassando a usina de Sobradinho pelo com-
Desde a instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos plexo Paulo Afonso, composto por cinco usinas. Ultimamente,
pela Lei 9.433/97, a unidade de gestão dos recursos hídricos é a é alvo de projetos de deslocamento de águas conhecido como
bacia hidrográfica. transposição de São Francisco. Este projeto do governo Federal
Desta forma, o Brasil está dividido em quatro bacias prevê a construção de dois canais que beneficiariam parte da
principais (São Francisco, Amazônica, Tocantins-Araguaia e sociedade.
Paraná) e outras quatro bacias secundárias (Atlântico Norte e O problema é parte que será beneficiada, pois a água
Nordeste, Atlântico Leste, Atlântico Sudeste e Bacia do Uru- transposta será utilizada pela agroindústria, enquanto o proble-
guai). ma maior não seria resolvido: a dessedentação humana. Outro
Bacia Amazônica – maior bacia hidrográfica do planeta. Além projeto polêmico é o do Baixio de Irecê, inserido nas obras do
do Brasil, oito países da América do Sul compõem essa bacia: PAC (programa de Aceleração do Crescimento), que irá retirar
Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Venezuela, Colômbia, água do São Francisco pra construir 100km de canais para ir-
Equador, Bolívia, Peru. A nascente do rio Amazonas, principal rigar áreas voltadas para o chamado agronegócio. As obras já
rio da bacia (maior rio do planeta), está situada no Peru, na foram iniciadas e há uma busca para completar a obra numa PPP
Cordilheira dos Andes, onde é denominado Apurimac. Quando (Parceria Público Privada).
entra no Brasil, é chamado de Solimões e ao encontrar-se com Bacia do Paraná – nesta bacia, está situado o maior sistema hi-
o Rio Negro, recebe o nome de Amazonas. drelétrico do país: a usina de Itaipu. Sua importância econômica
também é comprovada pelo elevado escoamento de produtos
Extensivo 75

brasileiros para outros países da América do Sul (Argentina,


Uruguai e Paraguai).
A bacia do Paraná conjuntamente com as Bacias do
Paraguai e do Uruguai formam a Bacia Platina. São diversas
usinas hidrelétricas construídas na área da bacia. As principais
são: Furnas, São Simão, Barra Bonita e Jupiá.

EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:

1. O Brasil tem aproveitado escassamente as suas bacias hidro-


gráficas para a navegação, apesar de imenso potencial. São pou-
cas as eclusas construídas, são poucos os trechos de rios draga-
dos. Existem apenas dois grandes sistemas
hidroviários construídos. Qual dos conjuntos e bacias citados a
seguir apresenta maior volume de tráfego de mercadorias?
(A) O sistema do Tietê, recém-concluído, ligando os arredores
de São Paulo com o Centro-Oeste.
(B) A Bacia do São Francisco, no trecho Pirapora-Juazeiro, após
a conclusão das eclusas em Paulo Afonso.
(C) A Bacia Amazônica, que apresenta quase 30.000 km de rios
Figura 28: Bacias hidrográficas brasileiras. navegáveis.
(D) A Bacia Tocantins-Araguaia, responsável pelo escoamento
da produção de soja do Centro-Oeste.
5. DEGRADAÇÃO E USO INADEQUADO DOS RECUR- (E) O sistema Jacuí/Taquari-Lagoa dos Patos, construído com
SOS HIDRÍCOS eclusas e retificações, escoando as safras gaúchas

A ineficiência da gestão dos recursos hídricos pode ser 2. O texto abaixo se refere à construção da barragem de Sobra-
observada em diversos países do mundo. A contaminação das dinho, no sertão nordestino:
águas correntes, subterrâneas prejudica o bem-estar das socie- “O homem chega e já desfaz a natureza tira gente, põe represa,
dades. Este prejuízo ocorre através das indústrias que liberam diz que tudo vai mudar (...) e passo a passo vai cumprindo a pro-
rejeitos nos rios, esgotos lançados sem o devido tratamento, ir- fecia do beato que dizia que o sertão ia alargar o sertão vai virar
rigação descontrolada. mar (...) Adeus, Remanso, Casa Nova, Santo Sé adeus, Pilão Ar-
Estes usos inadequados podem causar a escassez de cado, vem o rio te engolir debaixo d’água lá se vai a vida inteira
água potável, mas também ocasionam enfermidades. As doen- por cima da cachoeira o gaiola vai subir” (Sá e Guarabira)
ças de veiculação hídrica preocupam cada vez mais a sociedade.
Como exemplos destas doenças são possíveis citar: o Explique a importância dessa barragem para a expansão das ati-
cólera, a febre tifóide, hepatite A e a amebíase, dentre outras. vidades econômicas do Nordeste.
De acordo com Gonçalves (2004), o discurso da escassez de re-
cursos hídricos atualmente é proferido de forma errônea, sobre 3. “A terra atrai irresistivelmente o homem, arrebatando-o na
a ótica malthusiana, ou seja, se a população cresce, a demanda própria correnteza dos rios (..) do Iguaçu ao Tietê, traçando ori-
por água se eleva exponencialmente. E para contrapor está ideia ginalíssima rede hidrográfica (...) Rasgam facilmente aqueles
difundida, ela utiliza dados do Canadá onde, no período com- estratos em traçados uniformes, sem talvegues deprimidos e dão
preendido entre os anos de 1972 e 1991, enquanto a população ao conjunto dos terrenos (...) a feição de largos plainos ondula-
do Canadá cresceu 3% a demanda por água se elevou a 80%. dos, desmedidos”.
Em outros países menos desenvolvidos eco- Adapt. de Euclides da Cunha, Os Sertões.
nomicamente, onde a população também cresceu, a demanda Os termos sublinhados referem-se, respectivamente,
por água não teve uma elevação tão acentuada como no Canadá. (A) aos rios que correm de leste para oeste, devido à localização
Para ele, isto evidencia que os padrões de uso dos recursos hí- dos divisores de água; / à ausência de montanhas dobradas no
dricos praticados por países com padrão de vida estadunidense relevo brasileiro.
ou europeu cresceram bastante. (B) às Sete Quedas, que desapareceram com a construção de
No Brasil, o uso da água é maior na atividade agrícola Itaipu; / às margens largas das planícies sedimentares.
como é possível observar no quadro a seguir: (C) aos rios que correm de leste para oeste, devido à localização
dos divisores de água; / à linha de maior profundidade no leito
fluvial.
(D) às Sete Quedas, que desapareceram com a construção de
Itaipu; / à linha de maior profundidade no leito fluvial
76 Da Vinci Vestibulares

(E) aos rios de planalto que servem tanto para a navegação to de produção, capacitar e educar pessoas, entre outras ações.
como para gerar energia; / à ausência de montanhas dobradas (Adaptado. Ciência Hoje, volume 37, número 217, julho de
no relevo brasileiro. 2005)
Os diferentes pontos de vista sobre o megaprojeto de transpo-
4. Sendo, se diz, que minha terra representa o elevado reserva- sição das águas do Rio São Francisco quando confrontados in-
tório, a caixa-d’água, o coração branco, difluente, multivertente, dicam que
que desprende e deixa, para tantas direções, formadas em cau- (A) as perspectivas de sucesso dependem integralmente do de-
dais, as enormes vias - o São Francisco, o Paranaíba e o Grande senvolvimento tecnológico prévio da região do semi-árido nor-
que fazem o Paraná, o Jequitinhonha, o Doce, os afluentes para destino.
o Paraíba, e ainda, - e que, desde a meninice de seus olhos- (B) o desenvolvimento sustentado da região receptora com a
-d’água, da discrição de brejos e minadouros, e desses monteses implantação do megaprojeto independe de ações, sociais já
riachinhos com subterfúgios, Minas é a doadora plácida. existentes.
Sobre o que, em seu território, ela ajunta de tudo, os extremos, (C) o projeto deve limitar-se às infra-estruturas de transporte
delimita, aproxima, propõe transição, une ou mistura: no clima, de água e evitar induzir ou incentivar a gestão participativa dos
na flora, na fauna, nos costumes, na geografia, lá se dão encon- recursos hídricos.
tro, concordemente, as diferentes partes do Brasil. Seu orbe é (D) o projeto deve ir além do aumento de recursos hídricos e
uma pequena síntese, uma encruzilhada; pois Minas Gerais é remeter a um conjunto de ações para o desenvolvimento das
muitas. São pelo menos, várias Minas. (J.Guimarães Rosa, Ave regiões afetadas.
Palavra) (E) as perspectivas claras de insucesso do megaprojeto inviabi-
a) Por que o autor afirma que Minas Gerais é a “caixa d’água” lizam a sua aplicação, apesar da necessidade hídrica do semi-
e a “doadora plácida”? -árido.

7. Os Comitês de Bacia são instrumentos de gestão dos recursos


b) Escolha duas sub-regiões mineiras que apresentam seme- hídricos no Estado de São Paulo, criados na década de 1990,
lhanças naturais (vegetação) econômicas com os respectivos para
Estados vizinhos. (A) evitar a inflação e proteger os consumidores contra aumen-
tos abusivos da água.
5. “A hidreletricidade tem sido historicamente, no Brasil, a al- (B) organizar a população contra a privatização dos serviços de
ternativa preferencial de geração de energia e, ao lado da opção água no Estado.
pela hidreletricidade, tem sido o modelo grande hidrelétrica, um (C) coibir o consumo exagerado de água e evitar seu raciona-
modelo que se consagra na década de 70, a opção tecnológica mento.
privilegiada para viabilizar o chamado desenvolvimento indus- (D) substituir os órgãos estaduais na gestão da água no Estado.
trial no país. Essa vinculação é forte no Brasil de tal modo que (E) reunir vários atores sociais que definem políticas para a água
há quase uma associação naturalizada entre a hidreletricidade no Estado.
e grande hidrelétrica. Foi nesta opção tecnológica que o país
investiu e inclusive se destaca no cenário internacional”. MA- 8. Considerando dois cursos fluviais hipotéticos, o rio Amarelo
GALHÃES, Sônia Barbosa. As grandes Hidrelétricas e as po- (de planície) e o rio Azul (de planalto) e, considerando as se-
pulações camponesas. In A Amazônia e crise da modernização. guintes características e/ou usos a eles relacionados, como:
Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1994. 1) maior gradiente fluvial
2) maior potencial hidroviário
A adoção desse modelo grande hidrelétrica na Amazônia (como 3) erosibilidade mais acentuada
por exemplo Tucuruí e Balbina) é responsável pela existência 4) acúmulo maior de sedimentos
de problemas, como os fortes impactos sócioambientais. Cite e 5) maior potencial hidroelétrico
explique dois desses problemas. 6) ocorrência de meandros abandonados, escolha a alternativa
que apresente as características e/ou usos mais adequados a
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES: cada um deles, comparativamente, a despeito de intervenções
humanas:
(A) Rio Amarelo: 1, 2 e 6; Rio Azul: 3, 4 e 5.
6. Segundo a análise do Prof. Paulo Canedo de Magalhães, do (B) Rio Amarelo: 2, 5 e 6; Rio Azul: 1, 3 e 4.
Laboratório de Hidrologia da COPPE, UFRJ, o projeto de trans- (C) Rio Amarelo: 3, 4 e 6; Rio Azul: 1, 2 e 5.
posição das águas do Rio São Francisco envolve uma vazão de (D) Rio Amarelo: 2, 4 e 6; Rio Azul: 1, 3 e 5.
água modesta e não representa nenhum perigo para o Velho (E) Rio Amarelo: 1, 2 e 3; Rio Azul: 4, 5 e 6.
Chico, mas pode beneficiar milhões de pessoas. No entanto, o
sucesso do empreendimento dependerá do aprimoramento da 9. Os vazanteiros que fazem horticultura no leito dos rios que
capacidade de gestão das águas nas regiões doadora e receptora, cortam serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas
bem como no exercício cotidiano de operar e manter o sistema os técnicos insensíveis dirão com enfado: “a cultura da vazan-
transportador. Embora não seja contestado que o reforço hídrico te já era”. Sem ao menos dar qualquer prioridade para a rea-
poderá beneficiar o interior do Nordeste, um grupo de cientis- locação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles
tas e técnicos, a convite da SBPC, numa análise isenta, aponta se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços
algumas incertezas no projeto de transposição das águas do Rio irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados. De
São Francisco. Afirma também que a água por si só não gera de- imediato,porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e
senvolvimento e será preciso implantar sistemas de escoamen- colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, nos
Extensivo 77

O texto do professor Aziz Ab’Saber refere-se às contradições I Investir em mecanismos de reciclagem da água utilizada nos
sobre o projeto da processos industriais.
(A) utilização dos rios Jacuí e Guaíba na Campanha Gaúcha. II Investir em obras que viabilizem a transposição de águas de
(B) hidrovia Tietê-Paraná, que será importante escoadouro para mananciais adjacentes para os rios poluídos.
o Mercosul. III Implementar obras de saneamento básico e construir esta-
(C) implementação da hidrovia do rio Paraguai, alterando um ções de tratamento de esgotos.
dos maiores ecossistemas do mundo. E adequado o que se propõe
(D) transposição do rio São Francisco para o setor norte do Nor- (A) apenas em I.
deste Seco. (B) apenas em II.
(E) ocupação da área semi-árida do norte de Minas Gerais, onde (C) apenas em I e III.
os rios são a fonte de sobrevivência para a população ribeirinha. (D) apenas em II e III.
(E) em I, II e III.
10. Leia atentamente as afirmativas abaixo que se referem à
situação atual dos recursos hídricos no Brasil, no tocante aos 13. “Porque todos os córregos aqui são misteriosos — somem-
aspectos de distribuição, usos e impactos. -se solo a dentro, de repente, em fendas de calcário, viajando,
I. As regiões Sul, Sudeste e Nordeste respondem pelas maiores ora léguas, nos leitos subterrâneos, e apontando, muito adian-
demandas hídricas para irrigação, produção industrial e consu- te, num arroto ou numa cascata de rasgão....” João Guimarães
mo humano. Rosa, Sagarana, 2001.
II. As bacias Amazônica e Platina têm importante papel ecológi- Neste trecho, o autor
co, econômico e social, destacando-se como fundamentais para
o desenvolvimento do Brasil. (A) utiliza o sentido figurado para descrever como ocorre a
III. No Brasil, a baixa ocupação populacional das bacias hidro- infiltração das águas nos diversos tipos de rochas.
gráficas litorâneas gera, na área costeira, impactos negativos (B) utiliza-se da metáfora “córregos misteriosos” para retratar o
qualitativa e quantitativamente pouco significativos. desconhecimento dos cientistas a respeito dos rios subterrâneos.
Com base nas assertivas é correto afirmar que: (C) relata o turbilhão de águas superficiais, comum em áreas de
(A) apenas I é verdadeira. terrenos cristalinos e chuvas torrenciais.
(B) apenas II é verdadeira. (D) descreve uma situação inexistente de processos fluviais com
(C) apenas I e II são verdadeiras. a intenção de utilizá-la como recurso literário.
(D) apenas I e III são verdadeiras. (E) descreve, em linguagem literária, como é o comportamento
(E) apenas II e III são verdadeiras. de águas subterrâneas e superficiais em rochas calcárias.

11. O rio Tietê desempenhou, ao longo da história da cidade de 14. A proposta do Ministério da Integração Nacional é “Equili-
São Paulo, um papel importante sob vários aspectos. brar as oportunidades para a população residente na região se-
Sobre suas características e história leia as seguintes afirmati- miárida, com água doce [...]. Promover a população de sua área
vas: de influência direta, nos Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande
do Norte e Pernambuco de fontes hídricas mais seguras para o
I. O rio Tietê nasce em Salesópolis, na Serra do Mar, e segue em 18 | Projeto Medicina – www.projetomedicina.com.br abasteci-
direção ao interior do estado de São Paulo, desaguando no lago mento público e produção de alimentos, especialmente nas vár-
formado pela barragem de Jupiá no rio Paraná. zeas fluviais próximas, ocupadas com a pequena produção agrí-
II. Ao longo do rio Tietê foram construídas muitas barragens cola”. Ministério da Integração Nacional, Site, www.mi.gov.br
para aproveitamento hidrelétrico. A Light construiu sua primei- O fragmento do texto refere-se:
ra usina hidrelétrica no rio, na altura da cidade de Santana do (A) Ao plano de desenvolvimento da SUDENE.
Parnaíba, em 1901. (B) Ao aumento dos perímetros irrigados no Rio São Francisco.
III. Em várias barragens, ao longo do rio Tietê, foram imple- (C) À política implementada pelo MST.
mentados sistemas de eclusas. A hidrovia Tietê- Paraná permite (D) À transposição das águas do Rio São Francisco.
a navegação desde a cidade de Santana do Parnaíba até a barra- (E) Ao plano de ação do INCRA.
gem de Jupiá.
(A) As afirmativas I e III estão corretas. GABARITO:
(B) Nenhuma das afirmativas está correta.
(C) Todas as afirmativas estão corretas. MÓDULOS 1 E 2:
(D) As afirmativas I e II estão corretas.
(E) As afirmativas II e III estão corretas. 1.B/C
2.E
12. A situação atual das bacias hidrográficas de São Paulo tem 3.A
sido alvo de preocupações ambientais: a demanda hídrica e 4.D
maior que a oferta de água e ocorre excesso de poluição indus- 5.C
trial e residencial. Um dos casos mais graves de poluição da 6a.O movimento de rotação da Terra ocorre no sentido Oeste-
água e o da bacia do alto Tiete, onde se localiza a região me- -Leste, o que significa dizer que as horas estão atrasadas a Oeste
tropolitana de São Paulo. Os rios Tiete e Pinheiros estão muito e adiantadas a Leste, tomando-se por referência o fuso inicial
poluídos, o que compromete o uso da água pela população. (GMT). No meio desse fuso,encontra-se o meridiano de Gre-
Avalie se as ações apresentadas abaixo são adequadas para se enwich, que por convenção é o marco zero grau de longitude. O
reduzir a poluição desses rios. meridiano oposto ao de Greenwich, que está a 180º, tornou-se,
78 Da Vinci Vestibulares

por referência o fuso inicial (GMT). No meio desse ções vulcânicas. O Brasil, ao contrário, localiza-se no meio da
fuso,encontra-se o meridiano de Greenwich, que por convenção Placa Sul-americana, zona de relativa estabilidade.
é o marco zero grau de longitude. O meridiano oposto ao de 1b. Os vulcões podem expelir magma bastante ácido, com ele-
Greenwich, que está a 180º, tornou-se, também por convenção, vada percentagem de sílica e com solidificação rápida (pouco
a Linha Internacional de Data (LID). Ao atravessar a LID, no fluida), o que leva à obstrução de suas chaminés e
sentido Oeste, o viajante volta para o dia anterior. No sentido os torna explosivos, como o Krakatoa. Ao contrário, os vulcões
contrário, ele entra no dia seguinte. Assim, os marinheiros que como o Kilauea têm magma básico, com pouca sílica, o que
viajavam da América para a Ásia, atravessando a LID, estavam permite que a lava escorra rapidamente e se espalhe, criando
se deslocando no sentido contrário ao da rotação terrestre, e vulcões mais baixos e menos explosivos.
conseqüentemente eles voltavam ao dia anterior, tendo já vivido 2.D
um dia a mais do que os viajantes do Daphne. 3a. Os terremotos são ocasionados pelo movimento das placas
6b. Pressupõe-se que o navio está ancorado na ilha, mas separa- tectônicas, que geram atritos nas suas zonas de contato, promo-
do dela pela LID. Dessa forma, na ilha é meia-noite da quinta- vendo o acúmulo lento de tensões, que são liberadas rapidamen-
-feira (24h00), e no navio, situado a Leste dela, após a LID, já é te em certos instantes.
zero hora da sexta-feira (na verdade, dizer que é meia-noite da 3b. A escala Richter mede a magnitude do terremoto pela ener-
sexta-feira, como no enunciado, está errado). gia liberada. Já a escala de Mercali classifica a intensidade do
6c. O avião chegara no aeroporto internacional de Viracopos às tremor, conforme os efeitos por ele causados.
4h00 do dia 22 de novembro de 2004. O cálculo a ser feito é o 3c. As placas tectônicas têm bordas convergentes e divergentes.
seguinte: quando o avião sai de Rio Branco (AC), em Viracopos Nos limites convergentes, as placas colidem com a mais densa
(SP) já são 23h00, já que esse aeroporto está dois fusos a Leste sofrendo subducção (afundamento) e a outra se sobrepondo. Já
do Acre. Contando-se 5 horas a partir desse instante, chega-se nos limites divergentes, as placas
ao resultado.Vale destacar que se a banca considerar o horário afastam-se, gerando aberturas que levam à formação de novas
de verão haverá uma hora a mais no horário de Viracopos, ou porções da crosta.
seja, o avião aterrizaria às 5h00. 4.B
7.C 5.D
8.E 6.B
9.E 7a. As rochas sedimentares e as magmáticas diferenciam-se tan-
10.A to pelo processo de formação quanto por suas características
11.C físicas. As rochas Magmáticas formaram-se pela solidificação
12.B do magma no interior da crosta (intrusivas ou ígneas) ou no
13.C exterior (extrusivas ou vulcânicas). Também são denominadas
14.B rochas cristalinas. As rochas sedimentares formaram-se a partir
15.C da compactação e cimentação de sedimentos provenientes de
rochas preexistentes que sofreram ação dos agentes do intem-
MÓDULOS 3 E 4: perismo. São menos resistentes e, dependendo da origem dos
sedimentos que as formaram, originam estratos de diferentes
1.A
colorações ou até mesmo característica combustível.
2.A
7b. As rochas Metamórficas resultam da transformação de ro-
3.C
chas preexistentes. Essas, ao passarem por determinados pro-
4.C
cessos geológicos (responsáveis pelo aumento de pressão e tem-
5.B
peratura dessas rochas, sem que os minerais que as compõem
6.B
atinjam o ponto de fusão), transformam-se em novas rochas,
7.E
com arranjos estruturais diferenciados das originais.
8.E
7c. Entre o período Jurrássico e o Cretáceo ocorreu, devido à
9.B
tectônica de placas, o desmantelamento da Pangea, com a se-
10.A
paração da América do Sul da África e a formação do Oceano
11a.As maiores jazidas da Vale localizam-se na Serra dos Cara-
Atlântico Sul. Esse processo originou inúmeras alterações no
jás, no estado do Pará e no Quadrilátero Ferrífero, no estado de
relevo do atual território brasileiro. Dentre elas destaca-se o
Minas Gerais.
significativo derrame de magma ocorrido na Bacia do Paraná
11b.A exportação de minério de ferro da Vale se dá a partir da
(devido a falhamentos profundos na crosta, decorrentes de mo-
Estrada de Ferro Carajás até o porto de Itaqui (MA), e da Estra-
vimentos epirogenéticos), e a formação de diques de diabásio,
da de Ferro Vitória-Minas até o porto de Tubarão (Vitória-ES).
que correspondem à consolidação do magma dentro das falhas,
12.D
após os derrames.
13.D
8a. Temos a representação do Planalto Ocidental Paulista (A) e
14.B
da Depressão Periférica (B).
8b. A Província Costeira corresponde à planície litorânea e
MÓDULO 5:
ao Vale do Ribeira do Iguape, de formação sedimentar. A
zona das cuestas é uma formação de transição caracteriza-
1a. O sudeste da Ásia localiza-se na região de contato da Placa
da pela presença de importantes costões íngremes, onde se
Indiana com a Placa do Pacífico. O atrito entre essas placas ori-
verifica a sobreposição de camadas areníticas e basálticas.
gina uma zona de alta instabilidade onde
8c. As rochas dominantes no Planalto Atlântico são
ocorrem numerosos e intensos terremotos, maremotos e erup-
Extensivo 79

as vários cursos Hidrográficos, pois na região temos várias serras


cristalinas de origem metamórfica e vulcânica, como o gnaisse e algumas chapadas que funcionam como “divisores de águas”.
e o basalto. Temos a região do “Triangulo Mineiro” que se assemelha ao
9.A norte do estado de São Paulo(clima tropical e presença de ves-
10.E tígios de Mata Atlântica) e o Vale do Jequitinhonha onde a
11a. Entre as práticas agrícolas que colaboram para a conser- realidade é mais próxima do sertão nordestino (semi-aridez e
vação do solo, pode-se citar: rotação de culturas, associada à caatinga).
criação animal; a utilização de curvas de níveis nas áreas em 5. Com o alagamento de grandes áreas podemos ter a extinção
declive; a manutenção de resíduos vegetais sobre o solo, para de espécies vegetais a proliferação de insetos nas ares vizinhas
minimizar a erosão pluvial; redução da prática de queimadas, às barragens, pois a água fica praticamente parada e a necessida-
que ressecam o solo e destróem a matéria orgânica presente em de de deslocar a população da região a ser inundada.
sua composição. 6.D
11b. O desmatamento por corte raso (remoção da cobertura ve- 7.E
getal), ou degradação progressiva, tem como principal objetivo 8.D
desenvolver atividades ligadas à produção agropecuária, mine- 9.D
ral e, também, implantar infraestrutura de transporte e de hi- 10.C
droeletricidade. Dentre as consequências desse desmatamento 11.C
pode-se citar o empobrecimento orgânico dos solos, a acelera- 12.C
ção do processo erosivo dos solos e o assoreamento dos rios. 13.E
12a.Um tsunami pode formar-se em razão de: movimentação 14.D
de placas tectônicas que provocam terremotos nos fundos oce-
ânicos, explosões vulcânicas de vulcões em áreas costeiras,
vulcões submarinos ou deslizamentos de massas de terra que
atingem o oceano.
12B. Ao se propagar pelo oceano, as ondas do tsunami apresen-
tam comprimento de onda de vários quilômetros e apenas cerca
de um metro de altura, o que faz com que as ondas sejam quase
imperceptíveis em alto mar. No entanto, ao se aproximarem das
águas mais rasas da costa, as ondas vão perdendo velocidade
devido ao atrito com a plataforma continental e aumentam, as-
sim, a sua energia acumulada, o que faz com que apresentem
altura de até 50 metros.
13.B
14.D
15.D

MÓDULO 6:

1.A
2.E
3.B
4.C
5.B
6.B
7.A
8.A
9.C
10.B
11.C
12.B
13.E
14.A
15.D

MÓDULOS 7 E 8:

1.A
2.A barragem de Sobradinho, além de servir para gerar eletrici-
dade, regularizar a vazão do rio São Francisco, também serve
para suprir projetos de irrigação no sertão nordestino.
3.C
4.Porque em Minas Gerais encontramos o centro dispersor de
80 Da Vinci Vestibulares
Extensivo 81

QUÍMICA
82 Da Vinci Vestibulares

MÓDULOS 1 E 2: ESTRUTURA DA MATÉRIA instalações industriais, a energia elétrica é transformada em


outros tipos de energia. Dois tipos particulares de energia
Uma característica intransferível da química é sua são extremamente importantes, a energia cinética e a energia
presença, mesmo que parcialmente oculta, em praticamente potencial. A primeira está relacionada com o movimento dos
tudo o que se refere ao desenvolvimento humano. Isto vale para corpos enquanto a segunda representa a reserva energética de
os benefícios da modernidade, como os produtos de informática um corpo disponível para realizar trabalho, isto é, a energia que
e medicamentos mais eficientes, mas infelizmente também se pode ser usada para transformar a matéria.
aplica à produção de lixo e poluição dos ambientes naturais. A
vantagem é que a química também nos fornece as ferramentas 1.3. Unidades De Medida
necessárias para remediar e mesmo prevenir uma série de
impactos indesejáveis da ação do homem. A primeira coisa que Em química, para realizar qualquer experimento,
precisamos saber sobre a química é que ela não é boa nem má, além dos conceitos básicos de matéria e energia, também é
isto será definido pelo o uso que a humanidade fará dela. necessário conhecer algumas unidades de medida. A medida
Por definição a química estuda as transformações de uma grandeza é um número que expressa uma quantidade,
sofridas pela matéria no seu nível mais fundamental: átomos e comparada com um padrão previamente estabelecido. Os
moléculas. A química quer saber como uma substância se múltiplos e submúltiplos do padrão são indicados por prefixos.
transforma em outra, quais são as condições para que estes Existem vários sistemas de medidas sendo o mais usado em
fenômenos ocorram e como podemos reproduzi-los de forma química o Sistema Internacional (SI). As unidades básicas deste
minimamente segura. sistema são o metro (m), o kilograma (kg) e o segundo (s),
Didaticamente a química está dividida em quatro por isso também é conhecido como sistema “mks”. Destas três
grandes campos de interesse: a química das substâncias unidades derivam todas as outras.
inorgânicas, a química dos produtos do carbono (ou química
orgânica), a físico-química e química analítica. No entanto, 1.3.1. Massa
de modo simplificado, podemos enumerar, três grandes áreas
de estudo fundamentais: o estudo dos estados de agregação Massa (m): a quantidade de matéria que existe num
da matéria, especialmente suas propriedades e condições corpo. Essa definição é simplificada, pois o conceito de massa
de equilíbrio; o estudo da dinâmica das reações, com várias não é absoluto. De acordo com 2ª Lei de Newton, a massa de
aplicações tecnológicas (siderurgia, combustíveis, plásticos, um corpo está relacionada com a medida da sua inércia, ou
baterias, etc.) e o estudo da cinética das reações (ou “como seja, medida da dificuldade que um corpo tem para variar a sua
manipular a velocidade de uma reação”) aplicado, por exemplo, velocidade (massa inercial). Há também outra definição — a de
na conservação de alimentos e medicamentos, na produção de massa gravitacional, cuja medida depende da existência de força
derivados químicos em escala industrial, etc. gravitacional. Neste caso, a massa de um corpo pode ser medida,
No texto que segue discutiremos alguns conceitos e por exemplo, mediante o uso de balanças.
procedimentos básicos e estabeleceremos alguns pontos de A determinação da massa de um corpo é feita pela
referência no que podemos chamar de “linguagem química”, comparação da massa desconhecida desse corpo com outra
isto é, seremos apresentados a algumas palavras e expressões massa conhecida, um padrão. Para esta determinação usa--se
amplamente utilizados na química e nas ciências naturais como um aparelho chamado balança.
um todo. A massa de um objeto é uma medida numérica da
quantidade de matéria do objeto. A unidade fundamental do
1.1. Matéria Sistema Internacional (SI) para a massa é o quilograma (kg).
Outra propriedade que é determinada pela massa de um objeto
A matéria é o que constitui fisicamente o universo; é o seu peso. No planeta Terra, o peso de um objeto é a força
é tudo que tem massa, ocupa lugar no espaço e está sujeita à gravitacional que atrai o objeto para a Terra, e ela depende da
inércia. Em Latim materia significa “aquilo do qual um objeto é massa do objeto e de dois outros fatores: (1) a massa da Terra e
feito”. O estudo da química abarca todo o mundo material que (2) a distância entre o objeto e o centro da Terra.
nos rodeia. O seu corpo, as roupas que veste, os objetos que
usa e o ar que respira são amostras de matéria. Estudar a estrutura 1.3.2. Volume
da matéria é estudar a forma como a matéria é organizada.
Volume (V): é a extensão de espaço ocupado por
1.2. Energia um corpo. O volume de um corpo com a forma de um cubo é
determinado multiplicando-se seu comprimento por sua altura
Na verdade, não existe uma definição satisfatória para e por sua largura.
energia. Porém, pode-se afirmar que o conceito de energia está
diretamente relacionado à realização de trabalho, ao fato de V = comprimento x altura x largura
provocar modificações na matéria, por exemplo, na sua posição,
fase de agregação, natureza química. No SI, a unidade-padrão de volume é o metro cúbico
A energia pode se manifestar de muitas formas (m3). No entanto, a unidade mais usada em Química é o litro (L).
diferentes podendo inclusive alternar entre estas formas durante Num laboratório, os volumes dos líquidos podem ser obtidos de
um processo físico ou químico. Uma das formas de energia mais várias maneiras, usando-se diferentes aparelhos, em função do
utilizadas é a elétrica, que pode ser obtida de várias maneiras: volume de líquido a ser determinado. Esses equipamentos são
usinas hidrelétricas, energia eólica (ar em movimento), energia utilizados na obtenção de medidas volumétricas de líquidos.
solar, usinas nucleares etc. Ao chegar em sua casa ou em
Extensivo 83

1.3.4. Pressão

Pressão (P): a relação entre a força exercida na dire-


ção perpendicular, sobre uma dada superfície, e a área dessa
superfície. A Terra está envolvida por uma camada de ar que
tem espessura aproximada de 800 km. Essa camada de ar exerce
pressão sobre os corpos: a pressão atmosférica.
A diminuição do número de partículas do ar em gran-
des altitudes pode ser a causa de problemas para pessoas desa-
costumadas a essa condição.
Pelo Sistema Internacional (SI), a unidade-padrão é o
pascal (Pa), que se relaciona com a unidade atmosfera na se-
guinte proporção:

1 atm = 101325 Pa ou, aproximadamente, 1 atm = 100 kPa

1.3.5. Densidade

Densidade (d): é a relação (razão) entre a massa de


um material e o volume por ele ocupado. A expressão que per-
mite calcular a densidade é dada por: Para sólidos e líquidos, a
densidade geralmente é expressa em gramas/centímetros cúbi-
cos (g/cm3); para gases, costuma ser expressa em gramas/litro
(g/L).

Figura 1: Vidrarias comuns utilizadas em laboratórios de Química


para medir e verter volumes de líquidos.

1.3.3. Temperatura

Temperatura (T): relaciona-se com o estado de agita-


ção das partículas que formam um corpo e com a capacidade
Nas regiões polares, é comum a presença de grandes
desse corpo de transmitir ou receber calor. Os valores de tempe-
blocos de gelo (água doce), os icebergs, flutuando na água do
ratura são determinados por um aparelho chamado termômetro,
mar (água e outros materiais). Isso ocorre porque a densidade
que consiste de um fino tubo de vidro graduado e parcialmente
do gelo (0,92 g/cm3) é menor que a densidade da água do mar
cheio de mercúrio ou álcool colorido. À medida que a tempera-
(1,03 g/cm3).
tura aumenta, o líquido se expande e se move ao longo do tubo.

A graduação do tubo indica a variação de temperatura
do líquido. Essa graduação é a escala termométrica do aparelho
(existem várias escalas em uso, atualmente). A escala de gradu-
ação mais comumente usada nos trabalhos científicos é a escala
Celsius. Ela possui dois pontos de referência: o congelamento e
a ebulição da água ao nível do mar, que correspondem, respec-
tivamente, a 0 ºC e 100 ºC. Existem outras escalas centígradas,
como a Kelvin, recomendada pelo SI e conhecida como escala
absoluta.

Figura 3: Icebergs flutuando na água do mar

2. PROPRIEDADES GERAIS DA MATÉRIA



São as propriedades da matéria observadas em qual-
quer corpo, independente da substância que é feito.
Extensão: propriedade que a matéria tem de ocupar
um lugar no espaço. O volume mede a extensão de um corpo.
Seu corpo, por exemplo, tem a extensão do espaço que você
ocupa.
Figura 2: Comparação entre as escalas de temperatura Kelvin e
Celsius
84 Da Vinci Vestibulares

Inércia: propriedade que a matéria tem em permane- 4. ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA


cer na situação em que se encontra, seja em movimento, seja em
repouso. Quanto maior for a massa de um corpo, mais difícil A matéria é formada de pequenas partículas e, depen-
será de alterar seu movimento, e maior a inércia. A massa mede dendo do maior ou menor grau de agregação entre elas, pode
a inércia de um corpo. ser encontrada, para fins didáticos, em três estados físicos (pois,
Impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar, na verdade, existem cinco estados físicos da matéria): sólido,
simultaneamente, o mesmo lugar no espaço. líquido e gasoso. As pedras, o gelo e a madeira são exemplos de
Compressibilidade: propriedade da matéria que con- matéria no estado sólido. A água, o leite, a gasolina e o mel es-
siste em ter volume reduzido quando submetida à determinada tão no estado líquido. Já o gás hidrogênio, o gás oxigênio e o gás
pressão. carbônico estão no estado gasoso. Cada um dos três estados de
Elasticidade: propriedade que a matéria tem de retor- agregação apresenta características próprias - como o volume, a
nar seu volume inicial depois de cessada a força que age sobre densidade e a forma - que podem ser alteradas pela variação de
ela. temperatura (aquecimento ou resfriamento) e pressão. Quando
Divisibilidade: propriedade que a matéria tem de ser uma substância muda de estado, sofre alterações nas suas carac-
dividida em partes cada vez menores. Quebre um pedaço de giz terísticas macroscópicas (volume, forma, etc.) e microscópicas
até reduzi-lo a pó. Você é capaz de dizer quantas vezes você (arranjo das partículas), não havendo, contudo, alteração em
dividiu o giz? sua composição. Algumas propriedades desses estados estão
Indestrutibilidade: a matéria não pode ser criada nem relacionadas a seguir. Sendo respectivamente: Forma, Volume,
destruída, apenas transformada. Ex.: Ao ser queimada, a matéria Influência de pressão e influência de temperatura.
se transforma em gases, fumaça e cinzas.

3. PROPRIEDADES ESPECÍFICAS DA MATÉRIA



São as propriedades que variam conforme as substân-
cias, de que a matéria é feita.

3.1. Organolépticas (características percebidas pelos nossos


órgãos sensoriais):

♦ Cor: a matéria pode ser colorida ou incolor. Esta propriedade


é percebida pela visão;
♦ Brilho: a capacidade de uma substância de refletir a luz é a que
determina o seu brilho. Percebemos o brilho pela visão;
♦ Sabor: uma substância pode ser insípida (sem sabor) ou sápida
(com sabor). Esta propriedade é percebida pelo paladar;
♦ Odor: a matéria pode ser inodora (sem cheiro) ou odorífera
(com cheiro). Esta propriedade é percebida pelo olfato;
♦ Forma e estado físico: percebidos pelo tato;

3.2. Outras

♦ Dureza: é definida pela resistência que a superfície oferece


quando riscada por outro material. Um material é considerado
mais duro que o outro quando consegue riscar esse outro dei-
xando um sulco. Para determinar a dureza dos materiais, usa-
mos uma escala de 1 a 10. O valor um corresponde ao mineral
menos duro que se conhece, o talco. O valor 10 é a dureza do
diamante, o mineral mais duro que se conhece. Com ele, se con-
segue cortar e riscar materiais como o vidro.
♦ Maleabilidade: propriedade que permite à matéria ser molda-
da. Existem materiais maleáveis e não-maleáveis.
Exs.:cobre, prata, ouro.
♦ Ductibilidade: Propriedade que permite transformar mate-
riais em fios. Exs.:cobre, prata, ouro.
♦ Densidade: encontrada através da razão (divisão) entre a
massa de uma substância e o volume por ela ocupado.
♦ Magnetismo: Algumas substâncias têm a propriedade de se-
rem atraídas por imãs. Tais substâncias são ditas substâncias
magnéticas. Ex.:metais ferríticos.
Extensivo 85

4.1. Mudanças de Estado Físico

O diagrama abaixo mostra as mudanças de estado, com


os nomes particulares que cada uma delas recebe.

Figura 4: Mudança das fases de agregação da matéria

4.1.1. Ponto de Fusão e Ponto de Ebulição Figura 6: Gráfico de aquecimento de uma mistura.

O ponto de fusão é uma temperatura característica na qual


Os pontos de fusão e de ebulição são medidas quanti-
determinada substância sofre fusão (durante o aquecimento)
tativas importantes para caracterização de substâncias. Assim,
ou solidificação (durante o resfriamento), ou seja, trata-se da tempera-
podemos distinguir uma substância de uma mistura, com
tura característica quando uma determinada substância passa do estado
base nas temperaturas de fusão e de ebulição.
sólido para o estado líquido, ou do estado líquido para o estado sólido.
Durante o aquecimento, as substâncias apresentam
O ponto de ebulição é uma temperatura característica na
temperaturas de fusão e de ebulição constantes (Figura 05), en-
qual determinada substância sofre ebulição (durante o quecimento) ou
quanto com as misturas ocorrem variações da temperatura du-
condensação (durante o resfriamento), ou seja, trata-se da temperatura
rante a fusão e a ebulição (Figura 06).
característica quando uma determinada substância passa do estado lí-
É importante salientar que nem todas as misturas apre-
quido para o estado gasoso, ou do estado gasoso para o estado líquido.
sentam esse comportamento durante o aquecimento, pois exis-
tem situações particulares, como as misturas azeotrópicas e as
eutéticas.
4.1.1. Ponto de Fusão e Ponto de Ebulição
4.1.2. Mistura Azeotrópica
O ponto de fusão é uma temperatura característica na

qual determinada substância sofre fusão (durante o aquecimen-
Algumas misturas homogêneas de líquidos – fervem à
to) ou solidificação (durante o resfriamento), ou seja, trata-se da
temperatura constante.
temperatura característica quando uma determinada substância
passa do estado sólido para o estado líquido, ou do estado líqui-
Exemplos de misturas azeotrópicas:
do para o estado sólido.
O ponto de ebulição é uma temperatura característica
♦ álcool 96º GL, uma mistura azeotrópica 96% em volume
na qual determinada substância sofre ebulição (durante o aque-
de álcool e 4% de água apresenta temperatura de ebulição
cimento) ou condensação (durante o resfriamento), ou seja,
constante de 78,1ºC.
trata-se da temperatura característica quando uma determinada
♦ uma mistura de acetona (86,5%) e etanol (13,5%) apresenta
substância passa do estado líquido para o estado gasoso, ou do
ponto de ebulição de 56ºC.
estado gasoso para o estado líquido.
♦ uma mistura de álcool etílico (7%) e clorofórmio (93%)
apresenta ponto de ebulição de 60ºC.

4.1.3. Mistura Eutética

Algumas misturas homogêneas de sólidos (ligas metá-


licas) – fundem-se à temperatura constante.

Exemplos de misturas eutéticas:

♦ uma liga metálica com 40% de cádmio e 60% de bismuto


funde-se a 140ºC.
♦ uma liga metálica com 87% de chumbo e 13% de antimônio
funde-se a 246ºC
♦ a solda comum, uma mistura eutética de estanho (37%)
e chumbo (63%), funde-se à temperatura constante de
183ºC.
Figura 5: Gráfico de aquecimento de uma substância pura.
86 Da Vinci Vestibulares

é uma substância triatômica. Já o ar atmosférico é considerado


uma mistura por conter moléculas de oxigênio, nitrogênio, gás
carbônico, átomos de argônio dentre outros.
Na natureza dificilmente observaremos substâncias
puras de fato, é natural que substâncias que apresentam certa
afinidade se misturem formando sistemas muito estáveis e di-
fíceis de separar. Nas linhas abaixo veremos alguns conceitos
necessários para descrever adequadamente uma mistura e os
métodos de separação mais comuns.
♦ Componente: cada uma das substâncias que compõe uma
mistura. Se existem dois componentes chamamos a mistura de
binária, três, ternária e assim por diante.
♦ Fase: cada uma das porções que apresenta aspecto visual ho-
mogêneo (uniforme), o qual pode ser contínuo ou não, mesmo
Figura 7: Gráfico de aquecimento de uma mistura eutética. quando observado ao microscópio comum.
♦ Dessa maneira, as misturas são classificadas em função de seu
5. CLASSIFICAÇÃO DA MATÉRIA número de fases:
♦ Mistura homogênea (sistema homogêneo): toda mistura que
Cada tipo de matéria é chamada de substância, poden- apresenta uma única fase. As misturas homogêneas são chama-
do estas serem encontradas puras ou em misturas. Considera- das soluções. Alguns exemplos: água de torneira, vinagre, ar,
mos uma substância pura quando um dado sistema é composto álcool hidratado, gasolina, soro caseiro, soro fisiológico e algu-
por unidades químicas iguais, sejam átomos, sejam moléculas, mas ligas metálicas. Além dessas, todas as misturas de quais-
e por esse motivo apresentando propriedades químicas e físicas quer gases são sempre misturas homogêneas.
próprias. Se num mesmo sistema existem unidades químicas di- ♦ Mistura heterogênea (sistema heterogêneo): toda mistura que
ferentes, por exemplo, moléculas de águas e moléculas de açú- apresenta pelo menos duas fases. Alguns exemplos de misturas
car, dizemos que temos uma mistura. heterogêneas: água e óleo, areia, granito, madeira, sangue, leite,
As substâncias podem ser classificadas da seguinte forma: água com gás.
Independentemente de uma amostra de qualquer mate-
5.1. Quanto ao número de elementos rial ser uma substância pura ou uma mistura, ela será denomina-
da um sistema - tudo que é objeto da observação humana.
♦ Substâncias simples: substância formada por um ou mais áto-
mos de um mesmo elemento químico é classificada como substância
pura simples ou, simplesmente, substância simples. Exemplos: Gás hé-
lio (He), gás oxigênio (O2), gás ozônio (O3), gás
hidrogênio (H2), grafite (C), etc.

♦ Substâncias compostas: Quando as moléculas de determinada


substância são formadas por dois ou mais elementos químicos, ela é
classificada como substância pura composta ou, simplesmente,
substância composta. Exemplos: Água (H2O), gás carbônico (CO2),
amônia (NH3), ácido sulfúrico (H2SO4), etc.

5.2. Quanto ao número de átomos Figura 8: Representação dos sistemas homogêneos e heterogêneos

IMPORTANTE:

Alguns elementos químicos possuem a ca-
pacidade de se apresentarem em formas diferen-
tes, cada uma delas com propriedades químicas
Nas fórmulas das substâncias existem índices, abaixo e e físicas diferentes e específicas, como acontece
à direita do símbolo de cada elemento químico, que informam a com o Oxigênio e o Ozônio, por exemplo, além do
quantidade de átomos dos elementos que entram na composição Carbono, na forma de diamante, grafite e fulereno,
de cada molécula da substância. Dizemos que o índice expressa etc. Este fenômeno se chama alotropia e a figura 9
a atomicidade da substância. mostra alguns exemplos.
Podemos, então, dizer que: o gás oxigênio (O2) é uma
substância simples diatômica, pois cada uma de suas moléculas
é formada por dois átomos iguais de oxigênio. O ozônio (O3)
Extensivo 87

Figura 9: Exemplos de variedades alotrópicas e algumas de suas características.

6. PROCESSOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS

Um dos grandes desafios da Química sempre tem sido


a obtenção de substâncias puras a partir de misturas, já que a
maioria dos materiais presentes na natureza é formada por mis-
turas de substâncias. Assim, para obtermos uma determinada
substância, é necessário usar métodos de separação. O conjunto
de processos físicos que não alteram a natureza das substâncias
é denominado análise imediata. Para cada tipo de mistura —
heterogênea ou homogênea — usamos métodos diferentes.

6.1. Decantação

Processo utilizado para separar dois tipos de misturas hetero- Figura 10: Sistema de decantação.
gêneas.
6.2. Centrifugação
a) Líquido e sólido
É uma maneira de acelerar o processo de decantação
Exemplo: areia em água - deixa-se repousar a mistura durante envolvendo sólidos e líquidos, realizada num aparelho denomi-
algum tempo para que se deposite o sólido, e depois se transfere nado centrífuga. Na centrífuga, devido ao movimento de rota-
com cuidado o líquido para outro recipiente. ção, as partículas de maior densidade, por inércia, são arremes-
Esse processo permite fazer uma separação grosseira, sadas para o fundo do tubo.
pois as partículas menores do sólido podem ficar ainda em sus-
pensão
no líquido.

b) Líquido e líquido

Exemplo: óleo em água - líquidos imiscíveis - decantação em


funil - coloca-se a mistura num funil de decantação, e deixa-se
repousá-la.
As fases separam-se espontaneamente; logo após,
abre-se a torneira, e recolhe-se o líquido mais denso (água); e,
em outro recipiente, recolhe-se o líquido menos denso (óleo).
Figura 11: Centrifuga manual
88 Da Vinci Vestibulares

Figura 12: Centrifuga automatizada.

6.3. Filtração
Figura 14: Sistema de destilação simples.
É utilizada para separar substâncias presentes em mis-
turas heterogêneas envolvendo sólidos e líquidos ou de gases Na destilação fracionada, são separados líquidos mis-
com partículas sólidas em suspensão. Passa-se a mistura por um cíveis cujas temperaturas de ebulição (TE) não sejam muito
material poroso, como papel de filtro, porcelana etc, que deixa próximas. Durante o aquecimento da mistura, é separado, ini-
passar a fase líquida ou a gasosa e retém as partículas sólidas. cialmente, o líquido de menor TE; depois, o líquido com TE in-
A filtração que envolve mistura de gás e sólido pode ser feita termediária, e assim sucessivamente, até o líquido de maior TE.
mediante o uso de aspirador de pó. À aparelhagem da destilação simples é acoplada uma coluna de
fracionamento. Conhecendo-se a TE de cada líquido, pode-se
saber pela temperatura indicada no termômetro, qual deles está
sendo destilado.

Figura 13: Sistema de filtração sólido-líquido.


Figura15: Sistema de destilação fracionada.
6.4. Destilação
FIQUE ATENTO:
É utilizada para separar cada uma das substâncias pre-
sentes em misturas homogêneas envolvendo sólidos dissolvi- Evaporação e ebulição são dois processos pelos quais
dos uma substância muda do estado líquido para o estado gasoso
em líquidos e líquidos miscíveis entre si. (Vaporiza). A diferença fundamental é a temperatura em que
Na destilação simples de sólidos dissolvidos em líqui- estes processos ocorrem. A ebulição se dá numa temperatura
dos, a mistura é aquecida, e os vapores produzidos no balão de denominada ponto de ebulição, e a evaporação pode ocorrer em
destilação passam pelo condensador, onde são resfriados pela temperaturas menores do que a do ponto de ebulição. Uma poça
passagem de água corrente no tubo externo, se condensam e são de água pode secar ao sol e ao vento, sem que a temperatura
recolhidos no erlenmeyer. A parte sólida da mistura, por não ser ambiente seja 100°C, que é a temperatura de ebulição da água.
volátil, não evapora e permanece no balão de destilação.
Extensivo 89

EXERCÍCIOS ESSENCIAIS: 5. Para se isolar a cafeína (sólido, em condições ambientais) de


uma bebida que a contenha (exemplos: café, chá, refrigerante
1. A preparação de um chá utilizando os já tradicionais saqui- etc.) pode-se usar o procedimento simplificado seguinte.
nhos envolve, em ordem de acontecimento, os seguintes pro- “Agita-se um certo volume da bebida com dicloroetano e deixa-
cessos: -se em repouso algum tempo. Separa-se, então, a parte orgânica,
contendo a cafeína, da aquosa. Em seguida, destila-se o solvente
(A) filtração e dissolução. e submete-se o resíduo da destilação a um aquecimento, rece-
(B) filtração e extração. bendo-se os seus vapores em uma superfície fria, onde a cafeína
(C) extração e filtração. deve cristalizar.”
(D) extração e decantação. Além da destilação e da decantação, quais operações são utiliza-
(E) dissolução e decantação. das no isolamento da cafeína?
(A) Flotação e ebulição.
2. A água potável é um recurso natural considerado escasso (B) Flotação e sublimação.
em diversas regiões do nosso planeta. Mesmo em locais onde a (C) Extração e ebulição.
água é relativamente abundante, às vezes é necessário submetê- (D) Extração e sublimação.
-la a algum tipo de tratamento antes de distribuí-la para con- (E) Levigação e condensação.
sumo humano. O tratamento pode, além de outros processos,
envolver as seguintes etapas: EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:

I. manter a água em repouso por um tempo adequado, para a 6. As provas de natação da Olimpíada de Beijing foram reali-
deposição, no fundo do recipiente, do material em suspensão zadas no complexo aquático denominado “Water Cube”. O vo-
mecânica. lume de água de 16.000m3 desse conjunto passa por um duplo
II. remoção das partículas menores, em suspensão, não separá- sistema de filtração e recebe um tratamento de desinfecção, o
veis pelo processo descrito na etapa I. que permite a recuperação quase total da água. Além disso, um
III. evaporação e condensação da água, para diminuição da con- sistema de ventilação permite a eliminação de traços de aromas
centração de sais (no caso de água salobra ou do mar). das superfícies aquáticas.

Neste caso, pode ser necessária a adição de quantidade conve- a) O texto acima relata um processo de separação de misturas.
niente de sais minerais após o processo. Dê o nome desse processo e explique que tipo de mistura ele
Às etapas I, II e III correspondem, respectivamente, os proces- permite separar.
sos de separação denominados
(A) filtração, decantação e dissolução. b) A desinfecção da água é realizada por sete máquinas que
(B) destilação, filtração e decantação. transformam o gás oxigênio puro em ozônio. Cada máquina é
(C) decantação, filtração e dissolução. capaz de produzir cerca de 240 g de ozônio por hora. Conside-
(D) decantação, filtração e destilação. rando-se essas informações, qual a massa de gás oxigênio con-
(E) filtração, destilação e dissolução. sumida por hora no tratamento da água do
complexo?
3. Uma das formas utilizadas na adulteração da gasolina con-
siste em adicionar a este combustível solventes orgânicos que 7. Pode-se imaginar que o ser humano tenha pintado o próprio
formem misturas homogêneas, como o álcool combustível. corpo com cores e formas, procurando imitar os animais multi-
Considere os seguintes coloridos e assim adquirir as suas qualidades: a rapidez da gaze-
sistemas, constituídos por quantidades iguais de: la; a força do tigre; a leveza das aves... A pintura corporal é ain-
1 — gás oxigênio, gás carbônico e gás argônio; da muito usada entre os índios brasileiros. Os desenhos, as cores
2 — água líquida, clorofórmio e sulfato de cálcio; e as suas combinações estão relacionados com solenidades ou
3 — n-heptano, benzeno e gasolina; com atividades a serem realizadas. Para obter um corante ver-
melho, com o que pintam o corpo, os índios brasileiros trituram
todos nas condições normais de temperatura e pressão. sementes de urucum, fervendo esse pó com água. A cor preta é
a) Indique o número de fases dos sistemas 1, 2 e 3 e classifique- obtida da fruta jenipapo ivá. O suco que dela é obtido é quase
-os como sistema homogêneo ou heterogêneo. incolor, mas depois de esfregado no corpo, em contato com
o ar, começa a escurecer até ficar preto.
a) No caso do urucum, como se denomina o processo de obten-
b) Se fosse adicionado querosene ao sistema 3, quantas fases ção do corante usando água?
este apresentaria? Justifique sua resposta.
b) Cite dois motivos que justifiquem o uso de água quente em
4. O magnésio pode ser obtido da água do mar. A etapa inicial lugar de água fria no processo extrativo do corante vermelho.
deste processo envolve o tratamento da água do mar com óxido
de cálcio. Nesta etapa, o magnésio é precipitado na forma de: c) Algum dos processos de pintura corporal, citados no texto,
(A) MgCl2. envolve uma transformação química? Responda sim ou não e
(B) Mg(OH)2. justifique.
(C) MgO.
(D) MgSO4.
(E) Mg metálico
90 Da Vinci Vestibulares

8. Considere amostras de: (B) 2, 4, 1, 5 e 3


I. petróleo (C) 1, 5, 3, 2 e 4
II. água potável (D) 1, 5, 3, 6 e 4
III. ar liquefeito (E) 6, 4, 3, 5 e 1
IV. latão
Destilação fracionada é o processo apropriado para separar 13. O tratamento para obtenção de água potável a partir da água
os componentes de: dos rios pode envolver sete processos:
(A) I e II. . coagulação;
(B) I e III. . floculação;
(C) II e III. . decantação;
(D) II e IV. . filtração;
(E) III e IV. . desinfecção com cloro gasoso, Cl2;
. correção de pH com óxido de cálcio, CaO; e
9. Frequentemente, toma-se conhecimento de notícias sobre . fluoretação.
acidentes com navios petroleiros. Os vazamentos de petróleo Considerando-se esses processos, é CORRETO afirmar que
geralmente são identificados por grandes manchas negras que (A) a decantação e a filtração são processos químicos.
se formam sobre a superfície dos oceanos, causando sérios pre- (B) a adição de óxido de cálcio aumenta o pH da água.
juízos à vida marinha. (C) a desinfecção e a correção de pH são processos físicos.
Essas manchas ocorrem porque o petróleo é basicamente cons- (D) a água tratada é uma substância quimicamente pura.
tituído por uma mistura de
(A) hidrocarbonetos insolúveis em água. 14. Durante a preparação do popular cafezinho brasileiro, são
(B) macromoléculas solúveis em água. utilizados alguns procedimentos de separação de misturas.A al-
(C) sais solúveis em água. ternativa que apresenta corretamente a seqüência de operações
(D) minerais insolúveis em água. utilizadas é
(A) destilação e decantação.
10. O Rio Grande do Norte é o maior produtor brasileiro de (B) destilação e filtração.
cloreto de sódio (usado como sal de cozinha), obtido a partir da (C) extração e decantação.
água do mar, sob condições favoráveis de incidência solar e de (D) extração e filtração.
ventos.
Na obtenção do cloreto de sódio, dois processos destacamse: 15. Considere as afirmações:
(A) centrifugação e decantação. I. Na etapa A, a separação dos gases pode ser efetuada borbu-
(B) decantação e dissolução. lhando-se a mistura gasosa numa solução aquosa alcalina.
(C) dissolução e evaporação. II. Na etapa B, N2 e O2 podem ser separados pela liquefação
(D) evaporação e precipitação. do ar, seguida de destilação fracionada.
(E) precipitação e sublimação. III. A amônia, formada na etapa C, pode ser removida da mistu-
ra gasosa por resfriamento.
11. Considere uma mistura de parafina (hidrocarboneto de cadeia Está correto o que se afirma
longa) finamente dividida e açúcar (sacarose – C12H22O11) re- (A) em I apenas.
finado. Selecione os processos de separação, na seqüência indi- (B) em II apenas.
cada, mais adequados para esta mistura. (C) em III apenas.
0-0) Dissolução em água, filtração, evaporação (D) em II e III apenas.
1-1) Filtração, evaporação, combustão (E) em I, II e III.
2-2) Dissolução em água, floculação, decantação
3-3) Destilação fracionada a 50°C
4-4) Combustão, destilação

12. A extração de substâncias químicas - como as que apresen-


tam atividade farmacológica, obtidas a partir de qualquer ma-
terial de origem natural, seja ele vegetal ou animal - envolve
diversas operações de laboratório.
Nesse sentido, numere a 2ª coluna de acordo com a 1ª, relacio-
nando as operações de laboratório com os respectivos equipa-
mentos utilizados.
1. secagem ( ) funil de Büchner
2. filtração a vácuo ( ) proveta
3. destilação ( ) estufa
4. medidas de volume de líquidos ( ) almofariz e pistilo
5. trituração ( ) condensador
6. filtração

A sequência numérica correta é:


(A) 6, 4, 1, 5 e 3
Extensivo 91

MÓDULO 3 E 4: ESTRUTURA ATÔMICA 1.2. Modelo Atômico de Thompson



A química tem como objeto de estudo a matéria e suas Joseph John Thompson (1856-1940)
transformações, não apenas as modificações superficiais dos
corpos, mas essencialmente, as mudanças que ocorrem no seu
nível mais fundamental, quer dizer, a química investiga a trans-
formação de uma substância em outra.
Não é possível compreender satisfatoriamente os fenô-
menos químicos se não conhecemos com alguma segurança a
estrutura interna da matéria, ou mais especificamente de que
a matéria é realmente constituída no seu nível mais elementar.
Esta pergunta inicialmente motivou os filósofos gregos Demó-
crito e Leucipo a enunciarem o que viria a ser o primeiro mode-
lo atômico 500 anos antes de Cristo. Aliás, a palavra grega que
dá nome a esta entidade fundamental carrega em si o próprio
conceito, ou seja, para os filósofos gregos deveria existir um
pedaço mínimo de matéria que não mais poderia ser dividido,
o ÁTOMO.

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA Na época de Dalton os fenômenos relacionados à ele-


tricidade ainda não eram dominados nem as suas causas conhe-
1.1. Modelo Atômico de Dalton cidas. Esta falta de informação fez com que o pioneiro do mode-
lo atômico não considerasse a natureza elétrica da matéria, fato
John Dalton (1766-1844) corrigido décadas mais tarde por Joseph John Thompson.
No final do século XIX, Thompson se dedicava ao es-
tudo das ampolas de Crookes. Estes dispositivos eram construí-
dos fazendo-se vácuo num tubo de vidro e polarizando eletrica-
mente dois eletrodos posicionados em suas extremidades como
mostram as figuras abaixo:


John Dalton é merecidamente considerado o autor do
primeiro modelo atômico “científico”. A princípio o seu concei-
to não é muito diferente do modelo grego, todavia ele se baseou
em fatos experimentais para construí-lo, e enunciou postulados
que se confirmaram úteis para explicar alguns fenômenos natu-
rais amplamente conhecidos, como a conservação da massa (Lei
de Lavoisier), por exemplo. Segundo Dalton os átomos eram (1)
pequenas partículas indestrutíveis, extremamente pequenas e
eram os constituintes de toda espécie de matéria. (2) Os átomos Figura 16: Tubo de raios catódicos
de um dado elemento químico eram idênticos em todas as suas
propriedades, inclusive a massa. (3) Uma substância na verdade
é o resultado da combinação de alguns átomos de dois ou mais
elementos unidos numa proporção definida e (4) numa reação
química o que de fato ocorre é uma redistribuição destes átomos
em proporções diferentes.
Como podemos observar Dalton utiliza nos postulados
3 e 4 a “Lei da Proporção Definida” de Proust e a “Lei da Con-
servação da Massa” de Lavoisier, respectivamente, para nortear
o seu modelo atômico, fato que garante até hoje a utilidade deste
modelo. Não é por acaso que sempre que fazemos um balanço
de massa numa equação química (normalmente para efetuarmos
cálculos estequiométricos) estamos utilizando o modelo atômi-
co de Dalton. Figura 17: Representação do experimento em tubos de raios ca-
tódicos.
92 Da Vinci Vestibulares

A partir de uma dada pressão surgia uma luminosidade Como pudemos perceber, até aqui o modelo atômico
difusa no interior do cilindro de vidro que se transformava em para a estrutura da matéria está diretamente relacionado com
um raio luminoso quando a pressão do gás confinado no reci- o contexto histórico-científico do período em que foi desen-
piente atingia valores ainda menores. Como o raio surgia no volvido. Isto é um fato corriqueiro em ciência, principalmente
pólo negativo (cátodo) e se dirigia ao pólo positivo, a ampola de quando falamos de modelos teóricos. No fim das contas estamos
Crookes ficou conhecida como “tubo de raios catódicos”, sen- tentando descobrir a estrutura de algo que nunca vimos de fato
do ainda hoje empregado em lâmpadas fluorescentes e tubos de e tudo o que nos resta é testar a eficiência do modelo explicando
imagens de televisores convencionais. os fenômenos já observados e prevendo outros que ainda não o
Após uma série de experimentos Thompson percebeu foram.
que os tais raios apresentavam propriedades de partículas eletri- O modelo de Thompson infelizmente não previa os
camente carregadas. Por exemplo, os raios viajavam em linha fenômenos radioativos descobertos acidentalmente por Henri
reta, mas eram desviados por campos elétricos e magnéticos, Becquerel em 1895, nem os resultados do clássico experimento
produziam sombras bem definidas e ao se colocar uma peque- de Ernest Rutherford usando partículas α incidentes sobre uma
na ventoinha no caminho do raio esta se movimentava quando fina lâmina de ouro.
o dispositivo era acionado, sugerindo claramente que além de A Figura 19 mostra o experimento de Rutherford.
apresentar carga elétrica (negativa) os raios deveriam ser forma- Como podemos perceber as partículas α se chocam em movi-
dos por pequenas partículas capazes de transferir energia numa mento retilíneo com a fina Lâmina e são detectadas por um fil-
colisão com um anteparo como a ventoinha. me fluorescente.

Figura 18: Representação do átomo de Thompson Figura 19: Representação do experimento de Rutherford

Em 30 de abril de 1897 o físico inglês apresentou o seu


modelo, até hoje conhecido como “pudim de passas” pela ale- Ao analisar os resultados Rutherford percebeu que a
goria que ele utilizou para explicá-lo aos colegas da Royal Ins- grande maioria das partículas passou sem alterações de trajetó-
titution da Grã-Bretanha. Pela primeira vez considerou-se o fato ria pela lâmina de ouro, o que chamou a atenção do cientista,
do átomo poder ser dividido em partículas ainda menores. Se- no entanto, foram as poucas partículas que sofreram desvios e
gundo o modelo de Thompson a esfera maciça e indestrutível aquelas que foram literalmente refletidas pelo anteparo.
ainda estava lá, mas agora ela apresentava carga positiva e es- A Figura 20 mostra a interpretação que Rutherford deu
tava incrustada com pequenas partículas de carga negativa que ao fenômeno. Segundo ele as partículas desviadas ou refletidas
podiam ser arrancadas ou depositadas na superfície com certa tiveram a “azar” de se chocar, ou passar muito perto, de uma
facilidade e eram responsáveis pelo região do espaço muito densa e positivamente carregada. A ló-
fenômeno dos raios catódicos. gica deste raciocínio está nas propriedades da própria partícula
O nome elétron veio como referência ao âmbar radioativa usada por Rutherford, esta era muita “pesada” e tinha
(elektron, em grego), resina fossilizada que desde a antiguidade carga positiva de modo que somente uma partícula semelhante
sabia-se ser possuidora de propriedades “interessantes”, poste- poderia repeli-la ao ponto de provocar desvios em sua trajetória.
riormente explicadas pela facilidade de ser carregada com ele-
tricidade estática, adquirindo carga negativa. O âmbar também
deu origem à palavra eletricidade.

1.3. Modelo Atômico de Rutherford

Ernest Rutherford (1871-1937)

Figura 20: Representação esquemática do comportamento das


partículas
Extensivo 93

Obviamente as que passaram em linha reta não haviam Se ficassem parados perto do núcleo eles seriam atra-
encontrado tal obstáculo, e como este grupo era a grande maio- ídos e fatalmente provocariam o colapso do átomo quando se
ria, Rutherford concluiu que o átomo era na verdade um gran- chocassem contra ele. A possibilidade de estarem em movimen-
de espaço vazio, no centro deste espaço se encontrava uma re- to também foi descartada pelas teorias do eletromagnetismo.
gião muito pequena, mas de elevada massa e de carga positiva. Segundo James Klerk Maxwell, se o elétron girasse em
Em 1912, pela primeira vez, Rutherford usou a palavra núcleo torno do núcleo ele seria obrigado a se manter em constante
quando se referiu a esta parte do átomo. aceleração por causa da atração eletrostática, o que provocaria
uma perda contínua de energia potencial fazendo-o descrever
Observações e conclusões de Rutherford uma órbita em espiral na direção do núcleo.
O resultado seria o mesmo da hipótese anterior. Assim
o modelo de Rutherford permaneceu “inacabado” até que um
dos seus alunos propôs uma solução um tanto revolucionária.

1.4. Modelo de Bohr

Niels Bohr (1885-1962)

Em 1911 o dinamarquês Niels Bohr chegou a Cam-


bridge, Inglaterra, para trabalhar com J. J. Thompson. Infeliz-
mente o primeiro encontro entre os dois não deu muito certo e
em março de 1912 Bohr se transferiu para Manchester, também
1.3.1. A Falha do Modelo de Rutherford na Inglaterra, para trabalhar com Rutherford.
Como não havia nesta ocasião amostras radioativas que pudes-
Não havia como negar a existência do núcleo e a partir se usar em suas atividades experimentais, Bohr se envolveu na
de 1911 o modelo atômico de Rutherford para o átomo era o interpretação do espectro atômico do hidrogênio. Basicamente
mais aceito. Os resultados do experimento simplesmente não os elementos químicos emitem luz quando são excitados com
podiam ser explicados com base no modelo de Thompson, que eletricidade ou calor, por exemplo. Ao contrário da luz emitida
previa uma distribuição uniforme de massa e cargas elétricas pelo sol, que é composta por todas as cores visíveis e formam
em todo o átomo. No entanto não ocorreu a Rutherford uma o que chamamos de espectro contínuo (ver Figuras 22 e 23), os
explicação convincente para a seguinte pergunta: “Aonde estão elementos emitem apenas algumas cores, ou linhas espectrais
os elétrons?” (ver Figura 24)

Figura 22: A luz branca, ao passar pelo prisma, é decomposta em


um espectro.

Figura 23: Cores do espectro contínuo

Figura 24: Espectros de elementos químicos.


Figura 21: Diagrama mostrando como um elétron poderia perder
energia ao girar em torno do núcleo
94 Da Vinci Vestibulares

Com base no trabalho de Max Planck, que pela primei- 2. ARRANJO GENÉRICO DE PARTÍCULAS SUBATÔ-
ra vez levantou a hipótese que a energia era transferida entre os MICAS
corpos em quantidades discretas, ou pequenos pacotes chama-
dos de quantum (ou no plural, quanta), Bohr desenvolveu um O modelo conhecido como de Rutherford-Bohr não é o
modelo matemático que explicava satisfatoriamente a estrutura mais moderno, mas definiu a estrutura básica do átomo e ainda
eletrônica dos átomos, em outras palavras Bohr começou a res- hoje nos ajuda a explicar com certa simplicidade um sem núme-
ponder à pergunta: “Afinal, onde estão os elétrons dentro do ro de fenômenos e propriedades relacionadas à matéria.
átomo?”. Segundo o modelo até aqui apresentado o átomo se di-
O modelo eletrônico de Bohr consistia em dividir a vide em duas partes: o núcleo e a eletrosfera. Bohr contribuiu
eletrosfera, região do átomo na qual os elétrons estão localiza- definindo inicialmente que a eletrosfera estava dividida em ca-
dos, em camadas. Cada uma destas camadas apresentava uma madas nas quais os elétrons (partícula fundamental de carga elé-
quantidade de energia bem definida. Ao contrário do que pre- trica negativa) descreviam orbitas estáveis ao redor do núcleo.
viam as equações de Maxwell (lembra do gargalo do modelo de Sommerfeld acrescentou depois que estas órbitas deveriam ser
Rutherford?) os elétrons não podiam passear livremente entre as elípticas, fato que motivou a representação clássica do átomo
camadas, uma vez que a quantização da energia não permitia em filmes de ficção científica e histórias em quadrinhos, mas
que elétrons absorvessem ou liberassem qualquer quantidade que não se confirma pelos estudos mais recentes.
de energia. Para entender melhor a diferença entre o que dizia
Maxwell e o que Planck e Bohr acreditavam podemos fazer a
seguinte alegoria: No mundo macroscópico estudado pela física
clássica a energia se desloca em grandes quantidades subindo
ou descendo uma rampa, portanto, qualquer quantidade de ener-
gia pode ser trocada entre os corpos. Já no mundo microscópio
e invisível estudado pela nova física, a física quântica, a energia
se desloca em pequeníssimas quantidades subindo e descendo
uma escada. Como sabemos não é possível estar entre dois de-
graus da escada, ou estamos no degrau de baixo ou no de cima,
nunca entre eles. Para subir precisamos de energia, não qualquer
quantidade, mas exatamente a necessária para chegar ao próxi-
mo degrau. Assim espera-se que dentro de um corpo tão peque-
no quanto um átomo a energia só possa ser transferida em quan-
tidades discretas, os quanta de energia, do latim quantidade.
Para mudar de órbita, ou de camada, o elétron deveria
perder ou ganhar uma quantidade exata de energia, o quantum.
Desta forma ele garantia que o elétron tivesse uma órbita está-
vel. Ao invés de se deslocar em espiral em direção ao núcleo o
elétron permanecia girando na sua órbita por tempo indetermi- Figura 26: Representação clássica do átomo
nado. Quando recebia um quantum de energia ele avançava para
uma camada superior e para voltar à camada original deveria
liberar o mesmo quantum que recebeu. Era justamente neste Já o núcleo foi primeiramente descrito por Rutherford
momento que o átomo emitia luz (atualmente acreditamos que e concentra o próton (partícula fundamental muito pesada e de
esta luz também é emitida em pacotes, ou pequenas partículas carga positiva) e o nêutron (partícula fundamental muito pesada
luminosas chamadas fótons). e de carga elétrica nula), este último descoberto por Chadwick
um pouco depois.
Cada elemento pode ser identificado pelo seu número
de prótons, ou número atômico (Z), uma vez que este determina
a quantidade de elétrons no estado fundamental e conseqüente-
mente as suas propriedades químicas (lembre-se que a matéria
é normalmente neutra e, portanto o número de prótons deve ser
igual ao número de elétrons). Existem átomos de um mesmo
elemento que podem apresentar números de nêutrons diferen-
Figura 25: Emissão e absorção de energia pelo elétron, segundo tes, por exemplo, o hidrogênio tem apenas um próton e nenhum
Bohr nêutron, enquanto o Deutério tem um próton e um nêutron. Eles
devem ser considerados o mesmo elemento, pois têm a mesma
estrutura eletrônica, mas apresentam número de massa diferente
Bohr provou matematicamente que cada transição ele- por causa do peso extra provocado pelo nêutron do Deutério.
trônica estava relacionada com uma das linhas espectrais (a cor Este fenômeno se chama isotopia.
que podia ser vista no espectro atômico) e calculou todas essas A seguir você verá algumas outras informações impor-
linhas para o átomo de hidrogênio determinando as órbitas nas tantes sobre o átomo.
quais o seu único elétron poderia estar, tanto no estado funda-
mental (o estado de mais baixa energia) quanto os diversos es-
tados excitados possíveis.
Extensivo 95

2.1. Número Atômico e Número de Massa de Um Átomo Vejamos um exemplo:

Um átomo é geralmente representado especificando


dois números inteiros: o número atômico (Z) e o número de
massa (A).
♦ Número atômico (Z): o número que indica a quantidade de
prótons existentes no núcleo de um átomo.

Z = nº de prótons.
2.2. Semelhanças Atômicas
Como os átomos são sistemas eletricamente neutros, o
número de prótons é igual ao de elétrons. A maioria dos elementos químicos é constituída por
uma mistura de isótopos, os quais podem ser encontrados, na
Vejamos alguns exemplos: natureza, em proporção praticamente constante. Isótopos: são
átomos que apresentam o mesmo número atômico (Z), por per-
Cloro (Cl) Z = 17 prótons = 17, elétrons = 17. tencerem ao mesmo elemento químico, mas diferentes números
Sódio (Na) Z = 11 prótons = 11, elétrons = 11. de massa (A).

Número de massa (A): a soma do número de prótons (p) com o Veja abaixo alguns exemplos de isótopos:
número de nêutrons (n) presentes no núcleo de um átomo.
Isótopos mais comuns de alguns elementos
A=p+n

Como tanto o número de prótons (p) quanto o de nêu-


trons (n) são inteiros, o número de massa (A) sempre será um
número inteiro.
O número de massa é, na verdade, o que determina a
massa de um átomo, pois os elétrons são partículas com mas-
sa desprezível, não tendo influência significativa na massa dos
átomos.

Vejamos alguns exemplos:

A descoberta dos isótopos derrubou um dos postulados


Elemento químico: é o conjunto formado por átomos da teoria de Dalton. Este postulado prevaleceu por mais de um
de mesmo número atômico (Z). século e afirmava: “os átomos de um dado elemento são idên-
Atualmente, conhecemos um total de 118 elementos ticos, não só quanto à massa, mas, também quanto às outras
químicos, entre naturais e artificiais, com números atômicos propriedades”.
variando de 1 a 118.
A cada elemento químico corresponde um número atô-
mico (Z) que o identifica. De acordo com a IUPAC (sigla em FIQUE ATENTO
inglês da União Internacional de Química Pura e Aplicada), ao
representar um elemento químico, devem-se indicar, junto ao Isótopos radioativos - Alguns isótopos emitem determinados ti-
seu símbolo, seu número atômico e seu número de massa. pos de radiação e, por isso, são conhecidos por radioisótopos.
Uma forma esquemática dessa representação é a se- Os radioisótopos podem ser usados na Medicina no estudo de
guinte: certas doenças e distúrbios fisiológicos. Administrados ao pa-
ciente, têm a propriedade de se concentrar em determinados
órgãos ou tipos específicos de células e permitem, pela sua de-
tecção, determinar a existência de possíveis alterações.
96 Da Vinci Vestibulares

Vejamos abaixo alguns exemplos de radioisótopos utilizados A palavra latina quantum (no plural, quanta) significa
em Medicina. unidade mínima, indivisível e foi utilizada pela primeira vez por
Max Planck no ano de 1900 justamente quando este cientista
alemão propôs uma equação que se ajustava perfeitamente ao
espectro de emissão de um corpo negro. De forma simples po-
demos definir estes objetos como corpos que, quando aquecidos,
emitem luz. Inicialmente a luz é avermelhada, mas à medida
que a temperatura aumenta outras freqüências vão se somando
(no sentido do vermelho para o violeta) até que a luz emitida se
torna branca (a soma de todas as cores visíveis).
Você já deve ter observado isto num carvão em brasa
ou no filamento de uma lâmpada incandescente.
Infelizmente Planck não sabia como explicar os seus
resultados em bases teóricas, afinal, para chegar à sua famosa
Outro isótopo radioativo, o iodo-123, quando injetado equação ele considerou que havia nos objetos certas partículas
no organismo em pequenas quantidades, permite-nos obter ima- que absorviam e emitiam luz e que a energia envolvida neste
gens do cérebro. (Fonte: Usberco e Salvador, 2003). processo devia estar divida em quantidades mínimas, os quanta
de energia.
ESTRUTURA ATÔMICA DA MATÉRIA II A física normalmente admite que suas grandezas po-
dem ser contínuas, ou seja infinitamente divisíveis como o tem-
“Quanta, do latim, plural de quantum, po, ou descontínuas (discretas) como a carga elétrica. Para se ter
Quando quase não há idéia do significado da expressão quantum em física podemos
Quantidade que se medir, dizer que o elétron, por exemplo, é o quantum de eletricidade,
Qualidade que se expressar a unidade fundamental. O problema é que intuitivamente a físi-
Fragmento infinitésimo ca sempre acreditou que a energia era uma grandeza contínua,
Quase que apenas mental que podia ser infinitamente dividida em partes cada vez meno-
Quantum ondulado do mel res. Você mesmo deve pensar assim. O quantum de energia era,
Quantum granulado do sal...” portanto, um mero artifício matemático, forçado na teoria para
(trecho da música Quanta de Gilberto Gil) justificar os resultados.
A teoria começou a ganhar força em 1905, quando por
outros meios, o jovem Albert Einstein chegou à explicação para
1. INTRODUÇÃO (BREVE HISTÓRICO)
o efeito fotoelétrico utilizando o conceito de quantum de ener-
gia. O efeito fotoelétrico nada mais é do que o aparecimento
No final do século XIX três grandes mistérios ainda
de uma corrente elétrica na superfície de um metal polido e no
estavam por ser desvendados pela física: o espectro de emissão
vácuo quando exposto a uma fonte de luz. Einstein concluiu que
de um corpo negro, o efeito fotoelétrico e o espectro atômico
a própria luz era quantizada, dividida em pequenas partículas
de linhas. Maxwell chegou a declarar que antes de chegar o sé-
conhecidas atualmente como fótons.
culo XX estes fenômenos seriam explicados e os físicos teriam
alguns anos de tranqüilidade, sem muito com que se preocupar.
O fato é que a explicação para estes três fenômenos suscitou
uma verdadeira revolução nas ciências físicas. Uma revolução
quântica, por assim dizer.

Figura 28: Representação esquemática do efeito fotoelétrico.

A energia do fóton necessária para fazer surgir a cor-


rente elétrica na superfície do metal era diretamente proporcio-
nal à sua freqüência (por exemplo, um fóton vermelho de baixa
freqüência não tinha energia suficiente para fazer surgir uma
corrente na superfície do metal, já um fóton azul, de alta fre-
Figura 27: Espectro de emissão do corpo negro
quência conseguia realizar este feito) e podia ser calculada usando a
mesma equação de Planck para o corpo negro.
Extensivo 97

2.1. O Princípio da Incerteza

Um destes fatos teóricos (não foi uma observação experimental,


mas uma conseqüência das equações que embasavam a teoria
quântica) foi desenvolvido no início dos anos 20 por um jovem
alemão chamado Werner Heisenberg. Em suas pesquisas sobre Sendo E a energia, m a massa, c a velocidade da luz, h
as propriedades quânticas das partículas subatômicas Heisen- a constante de Planck e f a freqüência da onda.
berg concluiu que algumas informações sobre os sistemas mi- Fazendo-se algumas substituições o resultado foi a
croscópicos, como velocidade e posição de um elétron, eram equação:
impossíveis de serem conhecidas com precisão.
De um modo mais simplificado podemos afirmar que a
medição da posição de um elétron é influenciada pelo próprio
método utilizado para medi-la, é como se você quisesse medir
a temperatura de uma gota de água. Se você usar um termôme-
tro comum, muito maior e mais pesado que a gota, a tempe- Este resultado é revolucionário uma vez que combina
ratura registrada na escala de mercúrio certamente estará mais comprimento de onda (λ) com massa e velocidade (momento
próxima da temperatura original do termômetro que da tempe- linear) propriedades exclusivas das ondas e das partículas, res-
ratura da gota. Isto ocorre porque para medir a temperatura o pectivamente. O mais interessante é que em 1927 Davisson e
termômetro tem que retirar calor do corpo sob observação. Se Germer conseguiram provar experimentalmente a teoria de De
o referido corpo é uma piscina com milhares de litros de água Broglie confirmando que o elétron, até aqui entendido como
a perda de calor para um pequeno termômetro é desprezível e partícula, sob determinadas circunstâncias pode ter proprieda-
você pode confiar no resultado. Se no entanto estamos falando des de onda (na verdade eles conseguiram promover a difração
daquela pequenina gota o calor perdido é tanto que altera a sua de elétrons).
temperatura original. De fato para descrever uma partícula em movimento é
O que Heisenberg concluiu é que toda vez que os físi- necessário conhecer sua velocidade e a posição em que se en-
cos mediam a posição ou a velocidade do elétron eles eram obri- contra, como ocorre, por exemplo, nas equações horárias da
gados a alterar estas grandezas de modo que o resultado nunca cinemática. Para uma onda, no entanto toda esta informação é
seria confiável. Em resumo não se pode conhecer, com exatidão, absolutamente desnecessária uma vez que ela deve ocupar uma
a posição em que o elétron se encontra e a velocidade com que região inteira do espaço e não apenas um ponto específico. Se
ele se desloca na eletrosfera ao mesmo tempo. Quanto maior a observar a luz da sala de aula perceberá que ela ocupa todo o
exatidão em relação a uma destas medidas menor a certeza que ambiente , em alguns lugares com mais intensidade, em outros
se tem da outra. nem tanto, mas ela está lá em toda a sala. O princípio da Duali-
dade Onda-Partícula apresentava agora uma nova possibilidade:
2.2. A Dualidade Onda-Partícula descrever os elétrons como onda, ao contrário do que tinha sido
feito até aqui, pelo menos enquanto eles estivessem na eletros-
O Princípio da Incerteza de Heisenberg tem conse- fera.
qüências interessantes e muito preocupantes. Uma delas é que,
sendo os elétrons partículas que se movem em órbitas esta- 2.3. A Equação de Schrödinger
cionárias ao redor do núcleo, as suas trajetórias e velocidades
nunca seriam conhecidas com precisão, e conseqüentemente as Desde a primeira metade dos anos de 1920 a física
propriedades dos elementos químicos não poderiam ser relacio- quântica se dividia por duas correntes de pensamento aparente-
nadas às suas estruturas eletrônicas. mente antagônicas. Uma era encabeçada por Einstein, Schrödin-
Este fato certamente colocava em xeque o modelo ger e outros físicos deterministas enquanto a outra era lidera por
proposto por Bohr, principalmente quando se pretendia ampliar Bohr e ficou conhecida como escola de Copenhagen.
este modelo para explicar o espectro de elementos mais compli- O grupo de Bohr, dentre os quais estava Heisenberg,
cados que o hidrogênio. “desistiu” de tentar montar o quebra cabeças que apresentaria
Um fato curioso, no entanto, desencadeou uma revira- todas as causas das propriedades quânticas observadas, fato re-
volta na teoria quântica. Em 1924 o francês Louis De Broglie forçado pelo Princípio da Incerteza de Heisenberg, e se debru-
apresentou uma tese de doutorado que defendia a dualidade da çou sobre uma matemática complicada que deu origem ao que
matéria e das ondas eletromagnéticas. Desde Newton já se dis- ficou conhecido como Mecânica Matricial.
cutia a natureza da luz, se era onda ou partícula. Na ocasião a Em 1926 Schrödinger publicou uma série de artigos,
difração de feixes de luz, feita por Young em 1800, colocou uma com um tratamento matemático bem mais simples que o da
pedra sobre o assunto, afinal difração é um fenômeno exclusivo mecânica matricial, comentando a teoria de De Broglie. Nestes
de ondas. artigos ele propôs uma equação capaz de descrever o compor-
Fatos experimentais e teóricos, no entanto reavivaram tamento ondulatório do elétron na eletrosfera que por motivos
a dúvida. Desde que os raios X foram descobertos evidencias óbvios ficou conhecida como Equação de Schrödinger. Basica-
indicavam tanto um comportamento ondulatório quanto corpus- mente quando se resolvia esta equação chegava-se a três so-
cular e o próprio Einstein já havia proposto a existência de par- luções que poderiam ser representadas por um único número
tículas de luz, os fótons, quando explicou o efeito fotoelétrico inteiro cada uma. Cada número dava uma informação diferente
(fato que lhe rendeu o prêmio Nobel da Física em 1921). e complementar sobre a localização de cada elétron presente
De Broglie se interessou pelo assunto e acabou por na eletrosfera do átomo e ficaram conhecidos como números
combinar a equação de Planck com a de Einstein. quânticos.
98 Da Vinci Vestibulares

Mesmo a contragosto do próprio Schrödinger as duas Apesar da palavra orbital ser uma homenagem ao mo-
escolas se fundiram dando origem ao que chamamos hoje de delo de Bohr, é importante observar que as órbitas de Bohr eram
Mecânica Ondulatória ou simplesmente Mecânica Quântica. bidimensionais, como se o elétron fosse um dos planetas giran-
Como você deve ter percebido o modelo mais avança- do ao redor do sol em nosso sistema solar. O orbital atômico, ao
do para o átomo não recebe o nome de nenhum autor em parti- contrário, é uma região tridimensional (o orbital s, por exemplo,
cular, como ocorreram com os anteriores. Isto é fruto da contri- não é um círculo, é uma esfera) na qual o elétron se encontra.
buição exaustiva de diversos cientistas, alguns muito famosos
outros nem tanto, sendo conseqüência do amadurecimentode 2.5. O Spin Eletrônico e a Regra de Pauli
ideias, conceitos e, claro, muita experimentação.
Se este modelo é definitivo não sabemos, mas até agora Além dos números quânticos derivados da equação de
ele tem funcionado bem e foi responsável por muitas inovações Schrödinger mais um número quântico é necessário para deter-
tecnológicas, como lasers, computadores, CDs e outros. O mais minar com o máximo de precisão possível a estrutura eletrônica
interessante é que a qualquer momento uma outra revolução de de um átomo. Este último número quântico surgiu da observa-
pensamentos e teorias pode acontecer, talvez motivada por um ção de linhas espectrais adicionais que surgiam quando o ele-
fenômeno sem importância que até agora ninguém conseguiu mento em estudo era submetido a um campo magnético e foi
explicar, e mudar tudo o que já sabemos sobre o nosso universo. chamado de Spin. Numa interpretação clássica o spin eletrônico
está relacionado à rotação do elétron.
2.4. Os Números Quânticos (n, m e l) Esse número quântico é utilizado para distinguir os
elétrons de um mesmo orbital. A um deles atribui-se arbitra-
Como já fomos informados cada número quântico é a riamente o valor +1/2 e ao outro, o valor –1/2. A representação
representação de uma solução da equação de Schrödinger e re- gráfica dos elétrons num mesmo orbital pode ser feita de duas
vela uma informação preciosa sobre a estrutura eletrônica dos maneiras:
átomos.

2.4.1. Principal (N)

Indica o nível de energia do elétron

N= 1, 2, 3,..., +∞

2.4.2. Secundário (l) Este tipo de distribuição evidencia a ordem de ocupa-


ção dos orbitais atômicos pelos elétrons e obedece a dois princí-
Está associado ao subnível de energia pios fundamentais:
♦ Princípio da exclusão de Pauli: Num orbital existem no máxi-
Valores do número quântico secundário mo 2 elétrons com spins opostos.
♦Regra de Hund: Os orbitais de um mesmo subnível são preen-
chidos de modo que se obtenha o maior número possível de elé-
trons isolados (desemparelhados). Isto significa que ao preen-
2.4.3. Magnético (m) cher os orbitais de um determinado subnível devemos primeiro
posicionar um elétron em cada orbital e só completar os orbitais
Está associado à região de máxima probabilidade de se quando não mais houver orbital vazio.
encontrar o elétron, denominada orbital. ♦Diagrama de Linus Pauling: Nem sempre os elétrons de maior
N são os mais energéticos, por exemplo, devemos sempre pre-
Valores do número quântico magnético encher o subnível 4p antes do 3d. O diagrama de Linus Pauling
foi desenvolvido com o objetivo de orientar a distribuição ele-
trônica por ordem crescente de energia, de modo que este prevê
a ordem correta para o preenchimento dos subníveis e orbitais.

No final das contas os orbitais são uma distribuição de


probabilidade e podem ser representados graficamente. Na fi-
gura abaixo você pode ver o orbital “s” e os orbitais do subnível
“p”.

Representação espacial dos orbitais s e p


Extensivo 99

Para a correta distribuição eletrônica você deve seguir 3. A ordem crescente de energia dos subníveis eletrônicos pode
as linhas em diagonal, como mostra a figura, obedecendo ao ser determinada pela soma do número quântico principal (n) ao
número máximo de elétrons que o orbital suporta indicado no número quântico secundário ou azimutal (l). Se a soma for a
índice superior ao símbolo do subnível. mesma, terá maior energia o mais afastado do núcleo (>n).Co-
Vejamos alguns exemplos de distribuição eletrônica locar em ordem crescente de energia os subníveis eletrônicos:
por ordem crescente de energia com a atribuição dos quatro nú- 4d 4f 5p 6s
meros quânticos ao elétron de maior energia.
4. Quais são os quatro números quânticos do último elétron re-
presentado, seguindo a regra de Hund, ao efetuar a representa-
ção gráfica de 9 elétrons no subnível 4f?

5. Uma distribuição eletrônica possível para


um elemento X, que pertence à mesma família do elemento
bromo, cujo número atômico é igual a 35, é:
(A) 1s2, 2s2, 2p5
(B) 1s2, 2s2, 2p6, 3s2, 3p1
(C) 1s2, 2s2, 2p2
(D) 1s2, 2s2, 2p6, 3s1
(E) 1s2, 2s2, 2p6, 3s2, 3p6, 4s2, 3d5

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:

6. Na dissolução em água do cloreto de hidrogênio gasoso (ou


gás clorídrico), formam-se íons H3O1+ e Cl 1–. A respeito des-
2.7. Distribuição Eletrônica por Camada
se fenômeno, fazem-se asafirmações.
Dado: número atômico H = 1; O = 8; Cl = 17.
Uma vez que a distribuição por subnível foi finalizada
I) As moléculas do HCl, por serem polares, são atraídas
podemos fazer a distribuição por camada agrupando os subní-
fortemente pelas moléculas de água.
veis que possuem o mesmo N (número quântico principal).
II) Há a quebra da ligação covalente no HCl.
Somando-se o número de elétrons de cada subnível te-
III) A reação é de ionização.
remos o total de elétrons por camada ou nível de energia.
IV) O ânion produzido tem oito elétrons na última camada.
Para o exemplo acima podemos dizer que a distribuição eletrô-
nica do “O” por camada é a seguinte:
Estão corretas
(A) I e II, somente.
(B) I, III e IV, somente.
(C) II e III, somente.
Sendo K correspondente a n=1 e L a n=2. (D) I, II e III, somente.
(E) I, II, III e IV.

EXERCÍCIOS ESSENCIAIS: 7. Átomos do elemento químico potássio, que possuem 20 nêu-


trons, estão no quarto período da tabela periódica, na família
dos metais alcalinos.
1. Faça a distribuição eletrônica em subníveis de energia:
Em relação a seus íons, é correto afirmar que
(A) têm Z = 18.
A) 8O
(B) têm 20 elétrons e A = 40.
B) 11Na
(C) têm 18 elétrons e A = 39.
C) 18Ar
(D) são cátions bivalentes.
D) 21Sc
(E) têm A=38
E) 35Br
F) 40Zr
8.Assinale a afirmativa correta.
(A) O nuclídeo Ar40 possui 18 prótons, 18 elétrons e 20 nêu-
2. Escreva a distribuição eletrônica nos níveis e subníveis de
trons.
energia para os seguintes íons. Após, diga qual o número de
(B) Os nuclídeos U238 e U235 são isóbaros.
elétrons presentes em cada camada.
(C) Os nuclídeos Ar40 e Ca40 são isótopos.
(D) Os nuclídeos B11 e C12 são isótonos.
A) 19K+
(E) Os sais solúveis dos elementos da família dos alcalino terro-
B) 27Co2+
sos formam facilmente, em solução aquosa, cátions com carga
C) 27Co3+
1+.
D) 16S2-
E) 12Mg2+
F) 25Mn2+
G) 32Ge4+
100 Da Vinci Vestibulares

9. Quando o isótopo do hidrogênio,11H, cede um elétron, resul- número atômico desses metais,
ta numa espécie química constituída unicamente por (A) aumenta a energia de ionização.
(A) um nêutron. (B) diminui o número de oxidação.
(B) um próton. (C) diminui o caráter metálico.
(C) dois elétrons, igual ao He(Z=2). (D) aumenta a afinidade eletrônica.
(D) um próton e um elétron. (E) diminui a eletronegatividade.
(E) um próton, um elétron e um nêutron.
15. O átomo, na visão de Thomson, é constituído de
10. O desenvolvimento científico e (A) níveis e subníveis de energia.
tecnológico possibilitou a identificação de átomos dos (B) cargas positivas e negativas.
elementos químicos naturais e também possibilitou a (C) núcleo e eletrosfera.
síntese de átomos de elementos químicos não encontrados (D) grandes espaços vazios.
na superfície da Terra. (E) orbitais.
Indique, entre as alternativas abaixo, aquela que identifica o
átomo de um determinado elemento químico e o diferencia
de todos os outros.
(A) Massa atômica
(B) Número de elétrons
(C) Número atômico
(D) Número de nêutrons

11. As luzes de neônio são utilizadas em anúncios comerciais


pelo seu poder de chamar a atenção e facilitar a comunicação.
Essas luzes se aproveitam da fluorescência do gás Neônio (Ne)
mediante a passagem de uma corrente elétrica. O neônio é um
elemento químico de símbolo Ne, número atômico 10 e número
de massa 20.
Sobre esse elemento químico, considere as afirmações a seguir.
I. Possui 10 prótons, 10 elétrons e 10 nêutrons.
II. Pertence à família dos metais alcalino-terroso e apresenta 2
elétrons na última camada eletrônica.
III. Na última camada eletrônica de seus átomos, encontram-se
8 elétrons.
É valido o contido em apenas
(A) I.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) I e III.

12. Há cem anos, foi anunciada ao mundo inteiro a descoberta


do elétron, o que provocou uma verdadeira “revolução” na ci-
ência. Essa descoberta proporcionou à humanidade, mais tarde,
a fabricação de aparelhos eletroeletrônicos, que utilizam inúme-
ras fiações de cobre.
A alternativa que indica corretamente o número de elétrons
contido na espécie química 29Cu2+ é:
(A) 25
(B) 27
(C) 31
(D) 33

13. O alumínio que tem número atômico igual a 13:


(A) pertence ao grupo 1A da tabela periódica.
(B) forma cátion trivalente.
(C) tem símbolo Am.
(D) pertence à família dos metais alcalino-terrosos.
(E) é líqüido à temperatura ambiente.

14. Os metais alcalinos-terrosos, à temperatura e pressão am-


biente, são sólidos prateados, de baixa dureza, e reagem facil-
mente com a água e o oxigênio do ar. À medida que aumenta o
Extensivo 101

MÓDULOS 5 E 6: PROPRIEDADES PERIÓDICAS


E LIGAÇÕES QUÍMICAS Dmitri Ivanovich Mendeleev (1834-1907)

1. PERIODICIDADE QUÍMICA

Nas aulas anteriores, fomos apresentados ao que hoje


entendemos ser a estrutura de um átomo. A questão é: por que
isto é tão importante para os químicos?
Na verdade o que de fato nos interessa é a estrutura da
eletrosfera, perceba, é interessante saber a respeito do núcleo,
conhecer os prótons e neutros, mas numa reação química quem
de fato determina o rumo dos acontecimentos são os elétrons.
Especificamente os elétrons mais externos.
A razão para isto é simples. A química se interessa
pelos mecanismos que transformam uma substância em outra,
como vimos na primeira parte deste módulo. A esta altura dos Observe abaixo a classificação periódica de Mendeleev:
acontecimentos já podemos prever que esta transformação se
deve ao rearranjo dos átomos que formam cada tipo de matéria.
Logicamente estes átomos devem estabelecer interações atrati-
vas, que logo estudaremos com o nome de ligações químicas, e
a região mais provável dessas interações acontecerem é na parte
externa dos átomos, ou na camada mais externa da eletrosfera.
Agora surge outra pergunta: o que impulsiona uma
transformação química e como os químicos conseguem prever
algumas destas transformações?
O que podemos afirmar com relação a estas observa-
ções é que os elementos químicos formam em geral grupos com
características semelhantes, por exemplo, lítio, sódio e potássio
formas sais solúveis e reagem explosivamente com a água for-
mando bases fortes. Se observarmos com um pouco mais de
cuidado as suas estruturas eletrônicas veremos que, na última
camada, eles são idênticos. Seguindo o raciocínio das linhas an-
teriores podemos concluir que estruturas eletrônicas semelhan-
tes determinam um comportamento químico igualmente pareci-
do. Nestes módulos, vamos estudar a relação entre a estrutura CURIOSIDADES:
eletrônica na camada de valência (a camada mais externa do
átomo) e as propriedades químicas. Perceberemos também a Na tabela de Mendeleev havia imperfeições; O cientis-
importância de se organizar estas informações numa tabela e ta russo as atribuía, com muita firmeza, a erros no cálculo das
como usá-la para resolver diversos problemas envolvendo as massas atômicas. Por causa destas imperfeições deixou alguns
propriedades químicas dos elementos. espaços vagos na sua tabela, justificando que esses locais eram
reservados para o eventual ordenamento de elementos, na épo-
1.1. A Tabela Periódica ca, ainda desconhecidos, denominando-os de:
♦ Eka-boro (abaixo do boro);
Antes mesmo que Bohr anunciasse os postulados que ♦ Eka-aluminio (abaixo do alumínio);
descreviam a estrutura eletrônica do átomo de hidrogênio a quí- ♦ Eka-silício (abaixo do silício).
mica já tinha aprendido a reconhecer comportamentos seme-
lhantes em certos grupos de elementos químicos. Obviamente
Demonstrando grande sagacidade científica, Mendele-
descrever estas semelhanças em imensos livros não era nada
ev definiu as propriedades desses elementos ainda desconheci-
prático quando se precisa de informações básicas com alguma
dos. Deve-se ressaltar que foi o próprio que demonstrou que o
agilidade. A solução mais óbvia era organizar estas informações
Gálio era o Eka - alumínio
em uma tabela simples e fácil de ser interpretada. Muitos foram
Como a Figura 29 mostra, os elementos eram agrupa-
os que se aventuraram nesta tarefa, no entanto a primeira que
dos em colunas, cada uma delas contendo os elementos com
merece destaque neste texto é a tabela desenvolvida por Dimitri
propriedades semelhantes, igual à tabela moderna. Nas linhas
Mendeleev em 1869.
horizontais, ou períodos, as propriedades dos elementos vizi-
Nesse ano o russo Mendeleev e o alemão Lothar Meyer
nhos são ligeiramente deferentes de modo que nas extremida-
publicaram trabalhos nos quais a periodicidade das proprieda-
des as propriedades são praticamente opostas. Infelizmente a
des dos elementos químicos seguia o contínuo aumento de suas
massa atômica não é o parâmetro mais adequado para indicar
massas atômicas. O arranjo de Mendeleev é sem dúvida o pre-
a identidade de um elemento, como sabemos hoje dois átomos
cursor da tabela periódica moderna, e por isso ele levou o crédi-
de elementos diferentes podem ter a mesma massa (isobaria)
to pelo desenvolvimento da primeira lei periódica: “As proprie-
enquanto átomos do mesmo elemento podem se apresentar com
dades dos elementos químicos variam de acordo com a ordem
massas diferentes (isotopia). É claro que Mendeleev não tinha
crescente de suas massas atômicas”.
102 Da Vinci Vestibulares

outro parâmetro melhor, já que na sua época estes conceitos aceitação do modelo de Bohr pela comunidade cientifica.
ainda não existiam e o núcleo, com seus prótons e nêutrons, se Hoje está claro que o número de prótons define o nú-
quer havia sido proposto. Não é por isto que a genialidade do mero de elétrons que um átomo deve ter no estado fundamental
físico russo deve ser questionada, muito pelo contrário, sem o (considerando que cada elétron negativo compensa a carga de
apoio de uma teoria atômica adequada ele foi capaz de prever um próton positivo mantendo o átomo eletricamente neutro),
com uma precisão admirável as propriedades de elementos que determinando conseqüentemente o número de elétrons que este
ainda não haviam sido descobertos. terá em sua camada de valência e suas propriedades químicas.

1.2. Estrutura da Tabela Periódica Moderna

Atualmente a tabela periódica está organizada em perí-


odos (linhas horizontais) e grupos, ou famílias (linhas verticais).
O termo período tem como objetivo evidenciar que nesta di-
mensão as propriedades estão sendo gradativamente alteradas
de modo que nas extremidades as propriedades são antagôni-
cas, por exemplo, se do lado esquerdo do terceiro período (linha
horizontal) existe um metal fácil de ser oxidado, na outra ex-
tremidade existe um não-metal fortemente oxidante. A ideia se
conclui quando, encerrado o período, as propriedades voltam a
se repetir. Cada período também corresponde ao número de ca-
madas dos átomos que o compõem, isto é, se um elemento está
no quarto período ele tem quatro camadas eletrônicas, se está
no sétimo período a sua última camada é justamente a sétima.
A conseqüência disto é que os elementos que estão posiciona-
dos na mesma linha vertical terão propriedades semelhantes e
são considerados uma família ou são simplesmente chamados
de grupos. Ao todo são 18 grupos numerados da esquerda para
direita em ordem crescente. Uma classificação mais antiga da
IUPAC dividia a tabela em dois grupos principais, 08 grupos A
e 08 grupos B, sendo que a família VIII B era composta por três
linhas verticais vizinhas.

Organização dos grupos e períodos na tabela periódica


Figura 29: As descobertas de Mendeleev.

Henry Gwinh Albericosdete-Jeffreys Moseley (1887-1915)

As colunas da tabela periódica reúnem as famílias dos


elementos químicos, sendo que algumas possuem nomes espe-
cíficos.

A lei periódica moderna só foi enunciada em 1913


quando Henry Moseley, estudando os espectros de raios X dos
elementos conhecidos, observou que a identidade do elemento
estava associada ao seu número de prótons e não à sua massa.
Hoje parece ser óbvio, mas naquela época provocou uma peque-
na revolução na química. Até então o número atômico de um
elemento (a posição que ocupa na tabela periódica) era definido
pela sua massa atômica, como determinava a lei Periódica de
Mendeleev, a partir da descoberta de Moseley o próprio núme-
ro de prótons definia a sua posição na tabela. Esta modificação
alterou as posições de diversos elementos e corrigiu uma série
de imperfeições da tabela de Mendeleev, além de consolidar a
Extensivo 103

CURIOSIDADES tativos ou de transição ou podem ser classificados também de


acordo com o subnível mais energético. Por exemplo, os ele-
O símbolo de um elemento deve ser formado por uma mentos dos grupos 1 e 2 terminam a sua distribuição eletrônica
letra maiúscula, preferencialmente a letra inicial do seu nome em um subnível “s” enquanto que os elementos dos grupos 13
em latim. Caso exista mais de um elemento com a mesma letra ao 18 terminam num subnível “p”, estes elementos são consi-
inicial um deles deve ter o seu símbolo formado pela inicial derados representativos sendo os primeiros chamados de ele-
maiúscula seguida de outra letra minúscula. mentos do bloco “s” e os últimos de elementos do bloco “p”. Os
elementos de transição por sua vez terminam em subníveis “d”,
Em geral as tabelas mostram uma série de informações transição externa, e “f”, transição interna (lantanídeos e actiní-
sobre as propriedades físicas dos elementos. Abaixo você deos, também conhecidos como terras raras). Esta informação é
pode ver um exemplo: extremamente útil quando se pretende distribuir os elétrons dos
elementos sem a ajuda do diagrama de Linus Pauling e princi-
palmente quando o objetivo é tão somente definir a estrutura
eletrônica da camada de valência.
IMPORTANTE

A CONVENÇÃO CERNE DO GÁS NOBRE

Uma simplificação é freqüentemente usada na representação


de configurações eletrônicas. É a convenção cerne do gás nobre. Os
gases nobres compreendem os elementos hélio, neônio, argônio, crip-
tônio, xenônio e radônio, cujos números atômicos são 2, 10, 18, 36, 54
e 86, respectivamente. Cada um destes elementos é um gás a tempe-
ratura e pressão ambiente, e é nobre, significando que estes elementos
têm pouca tendência a reagir quimicamente. Excetuando-se o hélio,
as configurações eletrônicas dos demais gases nobres são semelhantes
para a última camada: dois elétrons no orbital s e seis nos três orbitais
do subnível p desta camada. Esta configuração geral é representada por
ns2 np6,onde n é o número quântico principal da camada mais exter-
na. A exceção, hélio, tem a configuração s2. Seguindo o procedimento
de Aufbau, periodicamente encontramos um átomo de um gás nobre.
Para um átomo posterior ao do gás nobre, na seqüência, a parte da
configuração eletrônica do gás nobre pode ser abreviada, colocando-
Figura 30: Representação do elemento na tabela periódica -se o símbolo do gás nobre entre colchetes e findando a configuração.
Por exemplo, a configuração eletrônica do átomo de silício é 1s2 2s2
A seguir você pode ver o nome latino de alguns ele- 2p6 3s2 3p2 Como a primeira parte desta seqüência (1s2 2s2 2p6) é a
mentos e seus respectivos símbolos. configuração eletrônica do neônio (Ne), abreviamos a configuração do
neônio por [Ne] e expressamos a configuração do silício como [Ne]
3s2 3p2. Desse modo, podemos representar a configuração eletrônica
de um átomo de potássio de uma forma mais simplificada de 1s2 2s2
2p6 3s2 3p6 4s1 para [Ar] 4s1 (Fonte: RUSSEL, 1994).

Os elementos ainda podem ser classificados como me-


tais (posicionados à esquerda da tabela, formam a grande maio-
ria dos elementos) e não-metais, além se dividirem também em
elementos naturais (encontrados na natureza) ou artificiais (sin-
tetizados em laboratório).

Além dos grupos e períodos existem outras formas de


classificar os elementos. Eles podem ser considerados represen-
104 Da Vinci Vestibulares

1.2.1. Estrutura Eletrônica e Periodicidade Química Tendências do aumento dos raios atômicos dos elementos

Uma vez que conhecemos a estrutura básica da tabela
e algumas das informações que podemos obter dela devemos
investigar com cuidado a relação da estrutura eletrônica da ca-
mada de valência com as propriedades dos elementos químicos.
Como já vimos estruturas semelhantes significam característi-
cas semelhantes, especialmente se estamos falando de elemen-
tos representativos.

1.2.1.1. Raio Atômico e Iônico

Não é fácil definir exatamente em que ponto o átomo


termina. Como vimos no capítulo anterior (ESTRUTURA
ATÔMICA DA MATÉRIA II) o orbital atômico é uma região de O raio iônico segue a mesma linha de raciocínio desen-
probabilidade de se encontrar o elétron. À medida que se dis- volvida até aqui. Se o átomo perde elétrons a força de atração na
tancia do núcleo esta probabilidade diminui, mas nunca se torna camada de valência aumenta. Isto porque um mesmo número
realmente nula. Como aparentemente o átomo não tem limites de prótons está atraindo um número menor elétrons. Se o áto-
mensuráreis precisamos achar um modo de comparar o seus mo ganha elétrons o seu raio aumenta uma vez que o número
raios. A solução é ligar dois átomos iguais, medir a distância de elétrons que o núcleo tem que atrair é maior, diminuindo a
entre os dois núcleos e dividir o resultado por dois. força de atração. Conclui-se portanto, que o cátion sempre será
menor que o átomo neutro e que o ânion sempre será maior que
Raio atômico: o átomo neutro.

1.2.1.2. Energia de Ionização



A energia de ionização (EI) é a energia necessária para
que um átomo isolado, no estado gasoso libere um de seus elé-
trons.


A resposta é o valor do raio que você vai encontrar em Esta propriedade é, portanto uma grandeza absoluta,
tabelas de dados, incluindo algumas tabelas periódicas mais so- passível de ser medida experimentalmente. Muitas vezes con
fisticadas. Embora seja uma informação importante (serve como fundimos a EI com a tendência que um átomo tem de perder
parâmetro para um série de outras propriedades), infelizmente elétrons e isto é muito perigoso. Observe que a tendência de per-
este dado não é absoluto, isto é, se o elemento A tem um raio der elétrons é uma característica de apenas alguns elementos,
tabelado de 1,5 Angstrom e o elemento B de 1,0 Angstrom não notadamente os metais, enquanto que a EI é uma propriedade
é garantido que a distância entre eles, quando unidos por uma de todos os elementos químicos. A confusão vem justamente
ligação química, seja de 2,5 Angstrom, as forças de atração en- do fato de que quem tem baixa energia de ionização perde elé-
tre o núcleo e os elétrons de ligação tem papel predominante no trons com facilidade, por razões óbvias. O fato da EI ser baixa
resultado desta equação. significa necessariamente que uma quantidade relativamente
Com base nisto podemos afirmar que inicialmente pequena de energia é suficiente para retirar o elétron deste áto-
duas coisas influenciam no tamanho de um átomo. Uma é a for- mo. A correlação correta, portanto, deve ser elementos de baixa
ça com que o núcleo atrai os elétrons de valência, outra é o nú- EI têm tendência perder elétrons. Para prever a variação desta
mero de camadas que o átomo apresenta. Quanto maior a força propriedade na tabela periódica vamos aplicar um raciocínio se-
de atração do núcleo pelos elétrons mais externos mais estes melhante ao que usamos para o raio atômico. Se a atração do
elétrons se aproximam do próprio núcleo, reduzindo o tamanho núcleo pelo elétron é alta será necessária uma quantidade de
do átomo. Esta força normalmente aumenta à medida que mais energia igualmente alta para fazer este elétron sair da influência
prótons vão sendo acrescidos ao núcleo, desde que o número de do núcleo, logo, no período, a EI aumenta da esquerda para a
camadas permaneça constante. direita, ao contrário da variação do raio atômico.
No período, portanto, quando todos os elementos têm Semelhantemente, na família, a EI aumenta de baixo
o mesmo número de camadas, à medida que o número atômico para cima acompanhando a diminuição do número de camadas,
vai aumentando o raio diminui como conseqüência do aumento isto é, quanto mais próximo do núcleo maior a força de atração
da atração entre núcleo e elétrons de valência. Já na família, o e mais energia será demandada para a ejeção do elétron. Desde
aumento do número atômico vem acompanhado por um aumen- que haja energia suficiente todos os elétrons de um átomo po-
to no número de camadas. Os elétrons das camadas anteriores dem ser “arrancados”, no entanto a segunda EI será maior que a
bloqueiam a atração dos prótons que foram acrescentados ao primeira e assim sucessivamente.
núcleo e fazem a atração deste pelos elétrons mais externos di-
minuir provocando o aumento do raio.
Extensivo 105

1.2.1.3. Afinidade Eletrônica trons (por apresentarem alta AE) e esta por sua vez é marca dos
não-metais.
Ao contrário da EI a Energia de Afinidade Eletrônica No próximo capítulo discutiremos como estas pro-
(AE) é “a energia que um átomo isolado, no estado gasoso pre- priedades influenciam no tipo de ligação química que metais e
cisa liberar para conseguir estabilizar um elétron extra na sua não-metais estão habilitados a realizar e começaremos de fato a
eletrosfera”. compreender o mecanismo que gerencia os processos químicos.

1.2.1.4. Outras Propriedades Periódicas

CARÁTER METÁLICO ou ELETROPOSITIVIDADE


Lembre-se dos postulados de Bohr “se um elétron se
desloca para uma camada mais distante do núcleo a sua energia É a capacidade que um átomo possui de doar elétrons.
aumenta e para que ele retorne a uma camada mais interna é Nas famílias e nos períodos, a eletropositividade aumenta con-
necessário que o excesso de energia seja liberado”. forme aumenta o raio atômico, pois, quanto maior o raio, menor
Ganhar um elétron significa que esta partícula se des- a atração do núcleo pela eletrosfera, mais fácil de doar elétrons.
loca de uma região extremamente distante do átomo até ficar Também não está definida para os gases nobres.
presa em sua eletrosfera atraída pelo núcleo. Este movimento
equivale a um elétron que deixa um nível de energia superior e Tendência do aumento da eletropositividade dos elementos
desce para uma camada mais interna e isto implica em liberar o
excesso de energia para a vizinhança.
Do mesmo modo que ocorre com a EI a AE é confun-
dida com a tendência de ganhar elétrons. Na verdade somente
quem apresenta alta AE, ou seja, aqueles elementos que são ca-
pazes de liberar uma quantidade de energia significativa quando
recebem um elétron extra, têm tendência de ganhar elétrons.
Apesar de aparentemente a AE ser o oposto da EI estas
propriedades tem um comportamento complementar. Na verda-
de só quem segura os seus próprios elétrons com muita força
tem condições de segurar na sua camada de valência um elétron
extra, logo, terão alta AE os mesmos elementos que possuem REATIVIDADE
alta EI, os que estão na parte superior dos grupos e à direita dos
períodos. A reatividade de um elemento químico está associada à
sua maior ou menor facilidade em ganhar ou perder elétrons.
Tendência geral da afinidade eletrônica dos elementos Assim, os elementos mais reativos serão tantos os metais que
perdem elétrons com maior facilidade, quanto os ametais que
ganham elétrons com maior facilidade. Pela figura podemos
observar que, entre os metais, o mais reativo é o frâncio (Fr) e
entre os ametais, o mais reativo é o flúor (F).

Tendência do aumento da reatividade dos elementos

As exceções mais importantes são os gases nobres. Es-


tes elementos têm uma atração por seus elétrons de valência
muito alta o que assegura uma alta EI, no entanto para ganhar
um elétron extra eles precisam ocupar uma camada eletrônica
mais externa. Isto significa que a atração por este novo elétron é
substancialmente mais fraca. Como conseqüência os gases no-
bres, ao contrário dos outros elementos, apresentam altas EI e
baixas AE. PROPRIEDADES FÍSICAS DOS ELEMENTOS
Estas duas propriedades também explicam o compor-
tamento de metais e não-metais. Se observar com atenção os As propriedades físicas são determinadas experimen-
metais estão localizados do lado esquerdo da tabela periódica, talmente, mas, em função dos dados obtidos, podemos estabele-
região em que a energia de ionização é baixa, enquanto que os cer regras genéricas para sua variação, considerando a posição
não-metais estão do lado oposto numa região de alta Afinidade do elemento na tabela periódica.
Eletrônica. O que podemos concluir é que de um lado estão ele-
mentos que perdem elétrons com certa facilidade (por apresen- a) Densidade: Densidade (d) de um elemento é a razão entre
tarem baixa EI) e esta é uma característica dos metais, enquanto sua massa(m) e seu volume (V).
do outro lado estão elementos com facilidade para ganhar elé-
106 Da Vinci Vestibulares

Nota sobre a eletronegatividade:

Por conveniência a eletronegatividade não foi trata-


da como propriedade periódica neste momento. Não obstan-
te o fato desta ter um comportamento evidentemente perió-
dico ela será melhor compreendida quando combinada com
Nas famílias, a densidade aumenta de cima para bai- os conceitos relacionados às ligações químicas que serão
xo, pois, nesse sentido, a massa cresce mais que o volume. Nos discutidos no próximo capítulo.
períodos, a densidade aumenta das extremidades para o centro,
pois, quanto menor o volume, maior a densidade, já que a varia-
ção de massa nos períodos é muito pequena. Assim, os elemen- LIGAÇÕES QUÍMICAS
tos de maior densidade estão situados na parte central e inferior
da tabela, sendo o Ósmio (Os) é o elemento mais denso (22,5 g/
cm3). A tabela apresenta densidade obtida a 0°C e 1 atm. 1. INTRODUÇÃO

Tendência do aumento da densidade dos elementos

b) Ponto de Fusão (PF) e Ponto de Ebulição (PE): Os pon- Figura 31: Materiais gerados por diferentes tipos de ligação
tos de fusão e ebulição são, respectivamente, as temperaturas (quartzo e aço)
nas quais o elemento passa do estado sólido para o líquido e
do estado líquido para o gasoso. Na família IA (alcalinos) e na Olhe ao seu redor e tente identificar os objetos que es-
família IIA (alcalinos terrosos), IIB, 3A, 4A, os elementos de tão ao seu alcance. Você sabe dizer de que material eles são
maior ponto de fusão (PF) e ponto de ebulição (PE) estão situ- feitos? Talvez plástico, metal e madeira sejam as substâncias
ados na parte superior da tabela. De modo inverso, nas demais mais comuns e fáceis de identificar. O fato é que estamos cerca-
famílias, os elementos com maiores PF e PE estão situados na dos de matéria, de diversos tipos diferentes. Cada tipo de maté-
parte inferior. Nos períodos, de maneira geral, os PF e PE cres- ria é chamado de “substância” e mais recentemente a expressão
cem das extremidades para o centro da tabela. Entre os metais “material” está cada vez mais sendo utilizada para especificar
o tungstênio (W) é o que apresenta o maior PF: 5900°C. Uma um tipo especial de matéria com aplicações tecnológicas e in-
anomalia importante ocorre com o elemento químico carbono dustriais. Por exemplo, já existe uma profissão chamada “en-
(C),um ametal: Ele tem uma propriedade de originar estrutu- genheiro de materiais” e à priori este profissional deve ser res-
ras formadas por um grande número de átomos, o que faz com ponsável pela pesquisa de novas substâncias e de novos usos
que esse elemento apresente elevados pontos de fusão (PF = industriais para os materiais já conhecidos. Para tanto ele preci-
3550°C) sa de sólida formação em química e física, além das competên-
Esquematicamente podemos representar por: cias habituais das engenharias. A chave para compreender esta
“ciência” se encontra no que chamamos de interações químicas.
Tendência do aumento dos pontos de fusão e ebulição dos De fato existe um número limitado de elementos químicos, mas
elementos eles podem se combinar de infinitas formas. O mesmo átomo de
ferro que agora se encontra ligado ao carbono numa chapa de
aço, amanhã pode estar na ferrugem que recobre a própria cha-
pa, só que agora ligado ao oxigênio. Compreender como e por-
que as ligações químicas acontecem pode nos ajudar a explorar
com alguma segurança o universo dos materiais, nos permitindo
estabelecer uma correlação satisfatória entre propriedades peri-
ódicas, interações químicas e propriedades das substâncias.

1.1. Porque Ocorrem as Ligações Químicas?

Como já comentamos anteriormente, o universo pode


ser dividido em matéria e energia. Até aqui já discutimos um
pouco sobre ambos, mas nos falta ainda estabelecer uma ligação
entre estas entidades.
Extensivo 107

Parece razoável considerar que a energia é tudo que que só permanecerão ligados os átomos que conseguirem esta-
apresenta capacidade de modificar a matéria, por exemplo, o belecer um equilíbrio entre estes processos (repulsão e atração),
seu corpo gasta energia para digerir os alimentos bem como a alcançando uma distância internuclear que permita que a força
energia acumulada numa pilha pode fazer um carrinho de con- de atração seja superior às forças de repulsão presentes. Esta
trole remoto se mover. A mesma energia é capaz de fazer os elé- distância é o que chamamos de comprimento de ligação e va-
trons de um átomo se moverem entre a camadas da eletrosfera ria de acordo com o tipo e com a força da interação. A energia
ou mesmo para fora e para dentro do próprio átomo como vimos liberada durante o choque deve ser a mesma necessária para
em relação às propriedades periódicas (Energia de Ionização e separar os átomos novamente sendo esta chamada de energia
Afinidade Eletrônica). de ligação.
Outra coisa que podemos afirmar com segurança é que Desde já podemos imaginar que alguns átomos já são
quanto maior a energia acumulada em um corpo maior a pro- estáveis o suficiente para existirem isolados por tempo indeter-
babilidade que este tem de se modificar, se envolver em algum minado. Os gases nobres podem ser a chave para decifrarmos os
processo. Por exemplo, quando as pilhas de um brinquedo se segredos das ligações químicas.
acabam este costuma perder os movimentos e conseqüentemen-
te a sua utilidade para a as crianças. 2. A ESTRUTURA DOS GASES NOBRES E A REGRA DO
Trocando em miúdos, muita energia impulsiona o sis- OCTETO
tema a se transformar, por exemplo, fornecemos calor a uma
panela para cozinhar os alimentos. Por outro lado isto significa No início deste módulo comentamos sobre o que faria
que a falta de energia paralisa estes sistemas, ou melhor, uma um átomo estabelecer uma ligação química. No entanto, saben-
quantidade reduzida de energia, seja ela de que tipo for, faz com do que todos os elementos químicos fazem ligações com exce-
que os corpos fiquem mais estáveis. ção dos gases nobres de modo que seria razoável discutir o que
Nesta linha de raciocínio concluímos que, na maioria impede estes elementos de efetivar tais interações. Esta inversão
das ocasiões, os átomos isolados possuem um excesso de ener- de raciocínio pode nos levar com facilidade a estabelecer regras
gia que precisa ser liberada para que eles fiquem mais estáveis, que nos permitam prever o comportamento de alguns elementos
ou mais “tranqüilos, por assim dizer, e a forma com que esta num processo químico.
energia se dissipa é através do estabelecimento de uma ligação Se observarmos com cuidado a estrutura eletrônica dos
química. gases da família 18 da tabela periódica, poderemos observar
um padrão, todos, com exceção do hélio (He), tem oito elétrons
na camada de valência. Esta primeira resposta norteou uma re-
gra muito útil, apesar de carecer de fundamentação teórica mais
aprofundada, conhecida como regra do octeto. A idéia é sim-
ples, e apesar de falhar em alguns casos se mostra extremamen-
te útil em outros tantos. Basicamente os átomos devem ganhar
e perder elétrons até que possuam oito elétrons na camada de
valência, assim elementos como sódio, com apenas um elétron
de valência, prefere perder este a disputar outros sete.
Com um elétron a menos ele vira um cátion (íon de
carga positiva) monovalente (carga elétrica +1) e pode ser atra-
Figura 32: Forças de atração e repulsão da molécula de H2 ído por qualquer ânion (íon de carga negativa) formando uma
ligação muito forte chamada de ligação iônica por motivos ób-
vios.
A ligação só deve ocorrer obviamente quando os áto- Esta regra, no entanto, não explica como o boro (B)
mos se encontrarem, o que no mundo microscópico obrigatoria- pode ficar satisfeito com apenas seis elétrons de valência, ou
mente significa colisão. Ao se aproximarem a uma determinada porque o enxofre (S) pode precisar de até doze elétrons para se
velocidade os átomos devem sentir a repulsão entre suas ele- estabilizar. É claro que nós precisamos nos voltar novamente
trosferas negativas (iguais se repelem), no entanto esta repulsão aos gases nobres em busca de repostas mais precisas. Com um
não deve ser suficiente para evitar o choque. É natural que as pouco mais de cuidado podemos perceber que os oito elétrons
eletrosferas sejam as primeiras a sentirem o impacto, justamen- dos gases nobres estão preenchendo completamente os subní-
te por estarem na região mais externa dos átomos, isto, todavia veis s e p da camada mais externa. Colocar mais um elétron
não impede que os núcleos se aproximem, considerando que os na eletrosfera de um gás nobre o forçaria a posicioná-lo numa
elétrons possuem pouca massa (praticamente desprezível com a camada vazia, mais externa que a atual.
relação à massa total do átomo) e estão dispostos em uma região Como a carga do núcleo permaneceria a mesma, a
imensa (quase todo o volume do átomo é ocupado pela eletros- atração por este elétron seria extremamente fraca resultando
fera). A baixa densidade desta região faz com que o núcleo de em uma pequena energia de Afinidade Eletrônica. Em outras
um átomo se superponha à eletrosfera do outro, iniciando um palavras por ter os subníveis “s” e “p” completos na camada de
processo de atração que logo será acompanhado por outro tipo valência, os gases nobres não conseguem receber em condições
de repulsão. triviais novos elétrons e também têm dificuldade de perder os
Esta outra repulsão ocorre porque os átomos se apro- que já possuem devido à alta atração que o núcleo exerce so-
ximam além da conta (em alta velocidade não é possível parar bre estes (como visto em propriedades periódicas). Em resumo
imediatamente, é como um carro se dirigindo em alta velocida- os gases nobres não fazem ligações químicas porque não estão
de contra outro) e os núcleos (de carga positiva e extremamente inclinados nem a perder (alta energia de ionização) nem a ga-
densos) passam a se repelir com muita intensidade. Obviamente nhar novos elétrons (baixa afinidade eletrônica), ou seja, eles
108 Da Vinci Vestibulares

possuem uma configuração eletrônica suficientemente estável por pura atração eletrostática dando origem a um composto iô-
para permanecerem por tempo indeterminado exatamente como nico, assim chamado por razões evidentes.
estão, isolados. Todavia dois não-metais não vão chegar tão facilmente
Esta linha de raciocínio se aplica inclusive ao He, que a um acordo quanto à posse do elétron de valência e, graças
tem apenas dois elétrons preenchendo o subnível “s” da sua pri- à forte atração que o núcleo destes elementos exerce sobre os
meira e única camada. Se lembrarmos que no primeiro nível de elétrons mais externos, vão compartilhar os mesmos numa re-
energia (camada) só pode existir o subnível “s” as conclusões gião intermediária internuclear (ou entre os núcleos). Já entre
serão as mesmas e poderemos reescrever a regra do octeto: “os os metais ocorre o oposto. Num pedaço de ferro, por exemplo,
átomos fazem ligações químicas até que alcancem a configura- encontram-se vários átomos com baixa EI e igualmente baixa
ção eletrônica estável de um gás nobre”. AE. Isto significa que eles pretendem se livrar dos elétrons e não
aumentar o número de partículas negativas presas às camadas
3. REPRESENTAÇÃO DE LEWIS mais externas da eletrosfera. Como não existem átomos capazes
de receber estes elétrons eles acabam soltos no meio de cátions
Os elétrons envolvidos em ligações químicas são os de Ferro (Consideramos cátions de ferro porque os átomos li-
elétrons de valência, os localizados no nível incompleto mais beraram os seus elétrons adquirindo carga negativa). Como a
externo de um átomo. O químico americano G. N. Lewis (1875- nuvem eletrônica tem carga negativa os cátions ficam presos
1946) sugeriu uma maneira simples de mostrar os elétrons de a ela, mas não compartilham individualmente nenhum elétron,
Valência dos átomos e seguir o rastro deles durante a formação considera-se que os elétrons formam uma grande nuvem deslo-
da ligação, usando o que conhecemos como símbolos de pontos calizada. Esta é a base da ligação metálica.
de elétrons ou simplesmente símbolos de Lewis. O Símbolo de Em resumo podemos contar três tipos de ligação entre
Lewis para um elemento consiste do símbolo químico do ele- os átomos: iônica, covalente e metálica. Cada uma delas é con-
mento mais um ponto para cada elétron de valência. O enxofre, seqüência de uma combinação de propriedades periódicas, ou
por exemplo, tem a configuração eletrônica [Ne]3s2 3p4; logo, seja, um metal combinado com um não metal (baixa EI e alta
seu símbolo de Lewis mostra seis elétrons de valência: AE) resulta numa ligação iônica, Dois ametais (altas EI e AE)
vão originar uma ligação covalente e quando átomos metálicos
se combinam (baixas EI e AE) o resultado é uma ligação me-

tálica.
Os pontos são colocados nos quatro lados do símbo-
Relação entre propriedades periódicas e tipo de ligação
lo atômico: acima, abaixo e dos lados esquerdo e direito. Cada
lado pode acomodar até dois elétrons. Todos os lados do símbo-
lo são equivalentes; a colocação de dois elétrons em um lado e
um elétron do outro é arbitrária.

4. PROPRIEDADES PERIÓDICAS E LIGAÇÕES QUÍ-
MICAS

Já observamos que determinados grupos de elementos
apresentam propriedades periódicas semelhantes, por exemplo,
alguns manifestam uma tendência a doar elétrons outros, por
5. TIPO DE LIGAÇÃO E PROPRIEDADES DOS COM-
outro lado, apresentam certa facilidade em acomodar elétrons
POSTOS
extras na sua eletrosfera. Da mesma forma que acontece com as
propriedades periódicas (na verdade por causa delas) grupos di-
5.1. A Ligação Iônica
ferentes de elementos químicos tendem a interagir quimicamen-
te de forma diferente, por exemplo, não é comum que um metal
A razão pela qual os átomos ficam estáveis numa li-
faça ligação covalente, da mesma forma um não metal dificil-
gação iônica é a atração entre os íons de cargas opostas. Esta
mente formará compostos ligados por ligação metálica.
atração provoca uma grande liberação de energia (energia po-
Como já informamos isto é uma conseqüência ime-
tencial) e mantém os contra-íons fortemente unidos em um ar-
diata do comportamento periódico das propriedades químicas.
ranjo regular chamado rede ou retículo cristalino.
Duas destas propriedades são de fundamental importância para
compreendermos este fenômeno, a Energia de Ionização (EI) e
a Afinidade Eletrônica (AE). Elementos que possuem baixa EI
cedem elétrons com facilidade. Estes são invariavelmente me-
tais e estão localizados do lado esquerdo da tabela periódica. Já
os elementos do lado oposto, chamados de não-metais apresen-
tam alta AE (com exceção dos G.N.) e conseqüentemente tem
tendência a ganhar elétrons. Combinando estas propriedades
podemos prever que quando um metal interage com um não-
-metal é quase inevitável que o segundo tome o elétron de va-
lência do primeiro de modo que resultarão deste encontro dois
íons de cargas opostas. Como cargas elétricas de sinais opostos
se atraem mutuamente é de se esperar que estes íons se liguem
Figura 33: Representação da formação de uma ligação iônica
Extensivo 109

5.1.1. Determinação das Fórmulas dos Compostos Iônicos

A fórmula correta de um composto iônico é aquela que


mostra a mínima proporção entre os átomos que se ligam, de
modo que se forme um sistema eletricamente neutro. Para que
isso ocorra, é necessário que o número de elétrons cedidos pelos
átomos de um elemento seja igual ao número de elétrons recebi-
dos pelos átomos do outro elemento. Há uma maneira prática,
portanto rápida, de determinar a quantidade necessária de cada
íon para escrever a fórmula iônica correta:

Figura 34: Estrutura cristalina do cloreto de sódio.

A quantidade relacionada à formação e estabilização


de um cristal iônico é chamada de energia reticular ou energia
de rede, esta pode ser definida como “a energia necessária para Figura 36: Maneira prática de determinar fórmulas iônicas
separar um mol de um composto iônico sólido e transformá-lo
em íons gasosos”.
5.2. A Ligação Covalente

Uma ligação covalente é caracterizada pelo comparti-


lhamento de um par de elétrons entre dois átomos, estes elétrons
Energias reticulares para sais do tipo MX. devem estar desemparelhados, isto é, devem estar sozinhos no
seu orbital atômico garantindo assim “espaço” suficiente para
o companheiro com o qual vai se emparelhar para manter os
núcleos dos dois átomos atraídos e conseqüentemente ligados.
Este conceito foi introduzido por G. N.
Lewis em 1916 e é responsável por explicar a estabili-
dade da grande maioria dos compostos conhecidos. Basicamen-
te quando dois átomos não-metálicos colidem seus elétrons de
valência acabam posicionados na região internuclear e são dis-
putados pelos dois núcleos. Como ambos os elementos apresen-
tam altas EI e AE nenhum dos dois cede o seu elétron de valên-
cia e a atração mútua dos dois núcleos pelos mesmos elétrons
mantém os átomos unidos.Uma característica importante da
ligação covalente é que ela é altamente direcional. Ao contrário
da ligação iônica (um íon positivo atrai todos os íons negativos
que estiverem ao seu redor) na maioria das vezes uma ligação
covalente ocorre especificamente entre dois átomos. Isto deter-
Esta forte ligação faz com que os compostos iônicos mina uma atribuição exclusiva deste tipo de ligação: a formação
sejam duros, mas quebradiços. Isto quer dizer, eles são difíceis de moléculas.
de serem riscados, mas se quebram com certa facilidade quando
submetidos a uma pressão pontual. São sólidos isolantes, mas
conduzem eletricidade se forem fundidos ou dissolvidos em
água. Por falar nisto muitos destes compostos são solúveis em
água, mas não todos. Como você deve imaginar isto tem haver
com a energia reticular, algumas ligações são tão fortes que nem
a forte polaridade da água consegue separar.

Figura 37: Representação da formação de uma ligação covalente

Figura 35: Estrutura cristalina do NaCl.


110 Da Vinci Vestibulares

Ao contrário do que se pensa, nem todos os compostos são ♦ Três pares de elétrons compartilhados = ligação tripla (N2).
formados por moléculas, somente os gerados por ligação covalente.
Isto ocorre porque uma molécula é um conjunto finito e bem definido
de átomos. Se a ligação for iônica os contra-íons vão se atraindo indefi-
nidamente formando um aglomerado de cátions e ânions, que é o cris-
tal iônico. Com átomos unidos por covalência o número de átomos é Figura 39: Fórmulas estruturais do H2, O2 e N2
definido pelo número de ligações que cada partícula elementar é capaz
de fazer, por exemplo, cada átomo de hidrogênio faz apenas uma liga- Em geral, a distância entre os átomos ligados diminui
ção covalente enquanto os de oxigênio podem fazer duas. O resultado é à medida que o número de pares de elétrons compartilhados au-
a molécula de água formada por um átomo de oxigênio ligado simulta- menta.
neamente (em extremidades diferentes) a dois átomos de hidrogênio.
Num copo d’água existe uma infinidade destas moléculas 5.4. Ligações Coordenadas
unidas por forças de interação que trataremos mais adiante por for-
ças intermoleculares, ao contrário um pedaço de giz é composto de Em algumas situações moléculas com pares de elé-
inúmeros cátions cercados por uma quantidade igualmente incontável trons não ligantes, isto é, elétrons que já estavam emparelhados
de ânions, sem distinção de uma unidade fundamental, apenas ligação e por isso não se envolveram em ligações covalentes normais,
iônica para todos os lados. podem doar estes pares para átomos que apresentem orbitais
O número de ligações que um determinado elemento pode atômicos vazios.
fazer é definido pelo número de elétrons desemparelhados que ele pos- Este tipo de ligação é chamada coordenada, ou coor-
sui. Normalmente é fácil de descobrir quantas ligações um átomo pode denativa, e requer que o átomo doador já tenha efetuado todas
fazer observando sua distribuição eletrônica na camada de valência e as ligações covalentes convencionais possíveis. Antigamente
distribuindo estes últimos elétrons nos seus respectivos orbitais atô- estas ligações eram representadas por setas (e eram chamadas
micos (diagrama orbital). Alguns elementos, no entanto, são capazes de ligações dativas), todavia atualmente não é preciso distinguir
de desemparelhar alguns elétrons, num processo chamado hibridização esta ligação das demais (quando se escreve a fórmula estrutural)
(ver Box) e fazer um maior número de ligações do que seria possível uma vez que depois de finalizada ela é na prática indistinguível
nas suas condições originais. de qualquer outra ligação covalente. O exemplo clássico dessa
ligação é o dióxido de enxofre (SO2):
IMPORTANTE:

A hibridização consiste na interação de orbitais


atômicos incompletos que se combinam (ou se misturam),
originando novos orbitais, em igual número. Esses novos
orbitais são denominados orbitais híbridos.

Figura 40: Representação da formação de uma ligação coordenada

Dois exemplos muito comuns de coordenada envol-


vendo o cátion H+ são a formação dos cátions amônio (NH4 +)
e hidroxônio (H3O+).
Figura 38: Tipos de hibridização do carbono
5.5. Geometria Molecular e Polaridade das Moléculas
Este é o caso do carbono. Apesar de no estado funda-
mental este elemento possuir apenas dois elétrons desempare- O estágio mais radical do que chamamos polaridade é
lhados ele faz quatro ligações covalentes, nem mais nem menos, a ligação iônica. Isto quer dizer que de um lado existe uma partí-
todo átomo de carbono faz obrigatoriamente quatro ligações cula efetivamente negativa e do outro o seu pólo oposto, ou seja,
covalentes. Esta propriedade confere ao carbono características uma partícula efetivamente negativa.
especiais, como por exemplo, formar sólidos reticulares (um Nos compostos covalentes temos casos mais brandos,
aglomerado de átomos só que ligados por covalência), como é o quer dizer, é possível (na verdade muito provável) que lados
caso do grafite e do diamante, e cadeias como os hidrocarbone- diferentes da ligação tenham cargas elétricas ligeiramente dife-
tos. Estas últimas serão mais bem estudadas nos capítulos que rentes. De um lado pode existir uma concentração de elétrons
tratam de química orgânica. maior que do outro. Isto é provocado por uma propriedade que
chamamos de eletronegatividade (EN), uma propriedade de
5.3. Ligações Múltiplas comportamento periódico definida como “a capacidade que o
átomo tem de atrair mais para si o par eletrônico de uma ligação
Ocorre quando mais de um par de elétrons é comparti- química”.
lhado entre dois átomos: Ao contrário da EI e da AE a eletronegatividade não
♦ Um par de elétrons compartilhado = ligação simples (H2); é uma grandeza absoluta, mas relativa. O átomo precisa estar
♦ Dois pares de elétrons compartilhados = ligação dupla (O2); ligadoa outro. Se o par eletrônico fica mais perto dele então ele
Extensivo 111

é mais eletronegativo do que seu opositor. A conseqüência ime-


diata desta informação é que a EN para os gases nobres não está
definida, ela simplesmente não pode ser medida uma vez que
estes elementos resistem a formar compostos.
É de se esperar que somente sejam apolares as ligações
entre átomos iguais, porém é possível que moléculas formadas
por ligações polares não apresentem uma polaridade resultante.
Para compreender este mistério precisamos conhecer as estru-
turas moleculares e relembrar o que já sabemos sobre vetores.
polaridade de uma ligação é representada por meio de
um vetor chamado “momento de dipolo” e tem seu módulo cal-
culado multiplicando-se a carga elétrica pela distância com que
os átomos estão afastados ( , sendo o momento de dipolo, q a
carga elétrica e d a distância entre os pólos da molécula). Se
numa molécula existem muitas ligações químicas a polaridade
só pode ser definida quando fizermos o produto vetorial de todas
as ligações, por exemplo, no CO2 estes vetores são idênticos,
mas estão apontados para lados opostos. Como eles possuem o Figura 42: Geometria para as moléculas AB2 e AB3 (RPECV)
mesmo módulo (intensidade), estão na mesma direção (horizon-
tal, na figura), mas estão em sentidos opostos o produto vetorial A Tabela seguinte mostra como encontrar a geometria
é nulo, quer dizer eles se cancelam e a molécula de CO2, apesar de uma molécula por meio do número de elétrons que o átomo
de ter ligações polares é apolar. central possui e do número de ligações que ela pode fazer.

Relação da geometria das moléculas com o número de nuvens ele-


trônicas localizadas ao redor do átomo central

Figura 41: Análise vetorial do momento de dipolo CO2


5.6. Estruturas de Ressonância
5.5.1. Teoria das Repulsões dos Pares Eletrônicos da Cama-
da de Valência As estruturas de ressonância são tentativas de represen-
tar uma estrutura real, que é uma mistura entre várias possibili-
A geometria ou forma da molécula compromete muitas dades extremas. Algumas moléculas não são bem representadas
das propriedades físicas e químicas das mesmas. A geometria pelas estruturas de Lewis. Normalmente, as estruturas com liga-
da molécula está diretamente relacionada com as repulsões dos ções múltiplas podem ter estruturas similares às ligações múl-
elétrons do seu átomo central, principalmente, os elétrons da tiplas entre diferentes pares de átomos. Exemplos comuns: O3,
camada de valência. Essas repulsões fazem com que os átomos NO3 - , SO4 2-, NO2 e benzeno. Experimentalmente, o ozônio
se organizem de tal maneira que a molécula adquira a maior tem duas ligações idênticas, ao passo que a estrutura de Lewis
estabilidade possível. A estabilidade será maior quanto menor requer uma simples (mais longa) e uma ligação dupla (mais cur-
forem as repulsões entre os pares de elétrons ao redor do átomo ta).
central. Essa é a base da Teoria das Repulsões dos Pares Ele-
trônicos da Camada de Valência, uma das teorias criadas para
explicar a geometria de espécies poliatômicas. Para prevermos
a forma molecular, supomos que os elétrons de valência se re-
pelem e, conseqüentemente, a molécula assume qualquer geo-
metria 3D que minimize essa repulsão.
Existem formas simples para as moléculas AB2 e AB3.
Figura 42: Estrutura de Lewis do O3
112 Da Vinci Vestibulares

No ozônio, as possibilidades extremas têm uma liga- (C)causa efeito estufa, gerando aquecimento na superfície ter-
ção dupla e uma simples. A estrutura de ressonância tem duas restre.
ligações idênticas de caráter intermediário, é mais ou menos (D) provoca chuva ácida a partir da formação de óxidos na atmosfera.
como se tivesse uma ligação e meia de cada lado. Claro que
meia ligação não é possível, seria como uma meia ponte e isto 2. O uso de água com altos teores de íons Ca2+, HCO3 - e CO3 2- em
não existe. Admite-se, portanto que os elétrons das ligações cir- caldeiras, nas indústrias, pode gerar incrustações nas tubulações, devi-
culam entre os três núcleos gerando uma ligação de comprimen- do à formação do carbonato de cálcio, CaCO3. A remoção das incrus-
to intermediário entre uma ligação simples e uma ligação dupla. tações é realizada com ácido clorídrico, HCl. Os produtos resultantes
Para representar esta estrutura desenhamos a molécula com as da reação do CaCO3 com o HCl são:
ligações simples e duplas alternando as posições como podemos
ver na Figura 43. (A) CaCl2, CO2 e H2O
(B) CaHCO3, CO2 e H2O
(C) CaC2 e CO2
(D) NaC2, CO2 e H2O
(E) CaO, CO2 e H2O

3. Considere as seguintes propriedades:


Figura 43: Estrutura de ressonância do O3 — configuração eletrônica da camada de valência ns2 np3;
— boa condutividade elétrica;
5.7. A Ligação Metálica — baixa energia de ionização;
— alta afinidade eletrônica.
Resta-nos agora comentar a ligação entre átomos me- A seqüência de elementos que apresentam as propriedades rela-
tálicos. A principal característica destes elementos são as baixas cionadas, na ordem dada, é
EI e AE. Assim como nos compostos iônicos e covalentes (só- (A) N, Pt, Cl e F..
lidos reticulares como o diamante) os átomos estão arranjados (B) Ca, Cu, K e Br.
em rede, mas, ao contrário do que ocorre numa rede iônica, a (C) Al, Au, Cl e Na.
atração eletrostática não está entre as unidades atômicas que (D) P, Cu, Na e Cl
compõem o cristal, isto é, não existem íons positivos e negati- (E) As, Cl, K e Br.
vos se atraindo mutuamente. A tração eletrostática se dá entre os
átomos do metal, transformados em cátions por causa da baixa 4. Considere os átomos X, Y e Z. O átomo X é um metal alca-
EI, e os elétrons livres que formam uma nuvem deslocalizada lino, Y representa um elemento do grupo VA (ou 15) da tabela
gerada como conseqüência da baixa AE. Isto garante aos metais periódica e Z é um halogênio. Considere que todos os três áto-
excelente condutividade elétrica e térmica, além de maleabili- mos pertençam ao mesmo
dade (capacidade se ser transformado em lâminas) e ductibili- período (2° ou 3°). A partir destas informações julgue as afirma-
dade (capacidade de ser transformado em fios). O movimento tivas abaixo como verdadeiras ou falsas:
livre e contínuo dos elétrons na superfície do cristal também é 0-0) o átomo X possui maior afinidade eletrônica que o átomo Z
responsável pelo brilho característico que estes materiais apre- 1-1) dos três átomos, o átomo Z possui a maior energia de io-
sentam quando polidos. Esta explicação para a ligação metálica nização
é conhecida como Teoria do Mar de Elétrons. 2-2) os átomos X e Z formarão sólidos cristalinos iônicos
3-3) o íon X+ possui raio maior que o íon Y3–
4-4) os átomos Y e Z formam moléculas com ligações covalen-
tes polares

5. Dos íons, abaixo, aquele(s) que possui(em) o seu último elé-


tron representado em 2 p6 , de acordo com o diagrama de Pau-
ling, é (são):
I) 11Na+
II) 19K +
III) 20Ca2+
IV) 9F -
Assinale a afirmativa correta:
Figura 44: Representação da ligação metálica (A) II, III e IV
(B) I e IV
(C) I e III
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS: (D) II e III

1. O enxofre, contaminante presente na gasolina e no óleo com-


bustível, pode afetar a qualidade do ar nos grandes centros urba- EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
nos. A presença desse poluente em combustíveis
(A) é responsável pela inversão térmica a baixas temperaturas. Entre as alternativas abaixo, relacionadas com as ligações quí-
(B) destrói a camada de ozônio atmosférico, aumentando a in- micas, escolha a verdadeira
cidência solar.
Extensivo 113

(A) Os orbitais híbridos sp3 d 2 direcionam-se para os vértices CHCl3(g) + Cl2(g) → CCl4(g) + HCl(g)
de uma pirâmide pentagonal.
B) O ângulo entre os átomos de hidrogênio na molécula do gás a) Ao reagir 11,9 g de CHCl3 em um ambiente contendo gás
sulfídrico é maior que entre os átomos de hidrogênio na molé- cloro em excesso, qual a massa de CCl4(g) e de HCl(g) produ-
cula da água. zida se a reação apresentar 75 % de rendimento?
(C) O CF6 2- tem uma geometria octaédrica com os átomos
de flúor direcionados para os vértices do octaedro. b) Quais os nomes das substâncias CHCl3 e CCl4 segundo a
(D) O paramagnetismo da molécula do oxigênio experimental- IUPAC?
mente comprovado, sinaliza para uma estrutura de Lewis com
elétrons desemparelhados. c) Que tipo de ligação química existe entre os átomos de H
(E) A molécula do oxigênio é diamagnética e não paramagné- e de Cl na molécula de HCl?
tica, de tal forma que a estrutura de Lewis, na qual todos os
elétrons aparecem em pares, está correta. 13. As propriedades exibidas por um certo material podem ser
explicadas pelo tipo de ligação química presente entre suas uni-
7. Apresente as fórmulas eletrônicas e estruturais do trióxido de dades formadoras. Em uma análise laboratorial, um químico
enxofre, do hidróxido de sódio e do perclorato de cálcio. identificou para um certo material as seguintes propriedades:
• Alta temperatura de fusão e ebulição
8. Suponha que um pesquisador tenha descoberto um novo ele- • Boa condutividade elétrica em solução aquosa
mento químico, M, de número atômico 119, estável, a partir • Mau condutor de eletricidade no estado sólido
da sua separação de um sal de carbonato. Após diversos expe- A partir das propriedades exibidas por esse material,
rimentos foi observado que o elemento químico M apresenta- assinale a alternativa que indica o tipo de ligação
va um comportamento químico semelhante aos elementos que predominante no mesmo:
constituem a sua família (grupo). (A) metálica
(B) covalente
a) Escreva a equação balanceada da reação entre o elemento (C) dipolo induzido
M em estado sólido com a água (se ocorrer). (D) iônica

b) O carbonato do elemento M seria solúvel em água? 14. Quase todos os metais da Tabela Periódica podem ser en-
Justifique a sua resposta. contrados em placas de circuito impresso que compõem equipa-
mentos eletroeletrônicos.
9. Na ligação entre átomos dos elementos químicos 15P Sobre os metais dessa tabela é CORRETO afirmar que
31 e Ca, que tem 20 prótons, forma-se o composto de fórmula: (A) formam ligações químicas covalentes com os halogênios.
(A) CaP (B) reagem com ácidos liberando dióxido de carbono.
(B) Ca3P (C) são constituídos por ligações entre íons e elétrons livres.
(C) CaP3 (D) são depositados no anodo de uma cela eletroquímica.
(D) Ca2P3
(E)Ca3P2 15. Apesar da posição contrária de alguns ortodontistas, está
sendo lançada no mercado internacional a “chupeta anticárie”.
10. Em relação à combinação de 1 mol de átomos de fluor (Z = Ela contém flúor, um já consagrado agente anticárie, e xylitol,
9) com 1 mol de átomos de hidrogênio (Z = 1), pode-se afirmar um açúcar que não provoca cárie e estimula a sucção pelo bebê.
que: Considerando que o flúor utilizado para esse fim aparece na
Eletronegatividade: F = 4,0 e H = 2,1 forma de fluoreto de sódio, a ligação química existente entre o
(A) a ligação iônica é predominante. sódio e o flúor é denominada:
(B) formam-se moléculas apolares. (A) iônica
(C) cada átomo de fluor liga-se a dois átomos de hidrogênio. (B) metálica
(D) predomina a ligação covalente polar. (C) dipolo-dipolo
(E) formam-se 2 mols de moléculas. (D) covalente apolar

11. Dados os compostos:


I - Cloreto de sódio
II - Brometo de hidrogênio
III - Gás carbônico
IV - Metanol
V - Fe2O3
apresentam ligações covalentes os compostos:
(A) I e V
(B) III e V
(C) II, IV e V
(D) II, III e IV
(E) II, III, IV e V

12. Considere a reação abaixo:


114 Da Vinci Vestibulares

MÓDULOS 7 E 8: FORÇAS INTERMOLECULARES Até agora discutimos as forças responsáveis pela exis-
E OS ESTADOS FÍSICOS DE AGREGAÇÃO DA MATÉRIA tência das diversas substâncias que conhecemos (compostos iô-
nicos, metálicos e moleculares). Estas forças, porém nem sem-
pre explicam o estado de agregação em que estas substâncias
Desde tempos remotos a humanidade vem tentando
se encontram (sólido, líquido ou gás) e muito menos porque a
identificar os diversos tipos de matéria (substâncias) e classifi-
maioria absoluta delas está normalmente misturada homogene-
cá- las de acordo com a forma com que se apresenta em deter-
amente umas às outras formando um sistema que chamamos de
minadas condições.
“solução”. Outra pergunta ainda não respondida é porque a água
A expressão “estado físico” normalmente está associa-
é líquida nas condições ambientais e porque este líquido é capaz
da a estes modos de manifestação da matéria, mas também pode
de dissolver um número tão grande de substâncias.
ser interpretada como uma descrição das variáveis de estado de
Neste tópico veremos as forças responsáveis por estas
um dado sistema ou corpo, isto é, podemos definir um conjunto
proezas, conhecidas como ligações intermoleculares.
de informações como temperatura, pressão, volume, densidade,
etc. como o estado físico de um sistema da mesma forma que o
1.1. Tipos de Interações Intermoleculares
seu estado de saúde pode ser evidenciado com base em medidas
de temperatura corporal, pressão arterial, freqüência cardíaca, e
♦ Dipolo Induzido – Dipolo Induzido (Dispersão de London)
outras informações disponíveis mediante exames biomédicos.
Essas forças ocorrem em todos os tipos de moléculas, mas são
Por conta disto é mais conveniente que chamemos cada uma
as únicas que acontecem entre as moléculas apolares. Quando
destas formas de apresentação das substâncias de Estados Fí-
essas moléculas estão no estado sólido ou líquido, devido à pro-
sicos de Agregação da Matéria, uma vez que é importante es-
ximidade existente entre elas, ocorre uma deformação momen-
pecificar que estamos falando de uma maneira em particular da
tânea das nuvens eletrônicas, originando pólos - e +. Alguns
matéria se organizar em sua estrutura mais elementar: átomos e
exemplos de substâncias formadas por moléculas apolares que
moléculas. A palavra agregação tem justamente esta conotação
interagem por forças intermoleculares dipolo induzido-dipolo
e pode ser entendida como “a forma com que as partículas (áto-
induzido: H2, CO2, CH4, C2H6, etc.
mos, íons e moléculas) estão organizadas no espaço”.
Pelo menos três destes estados de agregação (sim,
existem outros) merecem um destaque especial, são eles o esta-
do sólido, o estado líquido e o estado gasoso. Estes três podem
ser facilmente identificados no cotidiano e podem ser diferen-
ciados com base em duas propriedades: forma e volume. Como
sabemos os sólidos têm forma e volume definidos, ao contrário
dos gases que mudam de forma e de volume em função do re-
Figura 45: Representação da Formação de Dipolos Induzidos (Dis-
cipiente que os contêm. Os líquidos têm forma variável como
persão de London)
gases, mas mantêm o volume constante como os sólidos, o que
nos faz pensar se este estado de agregação não é uma espécie de
Dipolo – Dipolo (Forças de Van der Waals) Esse tipo de força
transição entre os dois primeiros.
intermolecular é característico de moléculas polares. Veja como
Sob o ponto de vista microscópico esta é a conclusão
exemplo a interação que existe no HCl sólido:
mais óbvia, vejamos: o que de fato define a forma fixa de um
sólido é a força com que as suas partículas estão ligadas, e con-
seqüentemente a distância entre elas. As fortes ligações entre as
unidades que formam o sólido (ou unidades reticulares) deixam
estas partículas tão próximas que mesmo sob a força da gravi-
dade elas não escoam, permanecem juntas quase sem sair do
Figura 46: Representação da Atração Dipolo-Dipolo no HCl
lugar. Se a pressão aumenta muito o sólido não pode “encolher”
porque as partículas já estão na distância mínima possível, se
Esse tipo de interação é semelhante à que ocorre entre os íons
por outro lado a pressão diminui as partículas não podem se
Na+ e Cl– no retículo do NaCl (ligação iônica), porém com in-
afastar por causa da intensa força que as mantêm unidas. Com
tensidade bem menor. Alguns exemplos de substâncias polares
os gases as coisas ocorrem de modo diferente, praticamente não
em que suas moléculas interagem por dipolo-dipolo: HF, SO2,
existem forças efetivas de ligação entre as partículas e, portanto
H2S, etc.
estas se encontram extremamente afastadas umas das outras. A
conseqüência é que o gás sempre ocupa todo o recipiente que
♦ A ligação de hidrogênio
o contém independente da forma e do volume. O que podemos
concluir com relação ao estado líquido é que as forças não são
Formando um grupo à parte aparecem as ligações de
fortes o bastante para impedir que ele escoe, isto é, mude de for-
hidrogênio (ou pontes de hidrogênio como preferem alguns
ma quando se troca o recipiente, mas são efetivas o suficiente
autores). Elas ocorrem sempre que o hidrogênio está ligado
para impedir que as suas unidades elementares se afastem livre-
diretamente a Flúor, Oxigênio ou Nitrogênio. A diferença de
mente quando há alguma variação de pressão. Assim os líquidos
eletronegatividade nestes grupos faz com que a polaridade se
são fluidos como os gases, embora também seja considerado um
torne exageradamente alta gerando uma atração eletrostática
estado condensado (não muda o volume por variação de pres-
muito mais intensa que num dipolo-dipolo convencional. Este
são) como os sólidos.
tipo de ligação, dentre outras coisas, faz com que a água seja
1. FORÇAS INTERMOLECULARES
Extensivo 115

líquida entre 0 e 100oC e seja um excelente solvente para molé-


culas polares e compostos iônicos.

TRANSFORMAÇÃO
Lei de Boyle-Marriote ISOTÉRMICA
(T1 = T2)

Figura 47: A ligação de hidrogênio e a estrutura de um cristal de


gelo

2.1. O Estado Gasoso

A palavra gás é derivada do grego chaos, e obviamente


descreve um sistema absolutamente desorganizado (caótico).
Isto se deve ao fato de não existirem nos gases perfeitos forças
de atração que mantenham as partículas unidas e organizadas
como no caso dos estados condensados (líquidos e sólidos).
A consequência disto está nas suas propriedades, ele não tem
forma nem volume definidos, ocupam todo o recipiente que o TRANSFORMAÇÃO ISOMÉTRICA,
contém assumido sempre a sua forma. Lei de G.Lussac ISOCÓRICA ou ISOVOLUMÉTRICA
Estas características tornam a manipulação de um gás (T1 = T2)
problemática, principalmente se a substância manipulada apre-
senta algum perigo ao ambiente e/ou aos seres humanos. Por
outro lado a descrição física de um sistema gasoso pode ser ex-
tremamente simplificada. Se as forças que unem as partículas
são desprezíveis então praticamente todos os gases se compor-
tam da mesma forma e podem ter este comportamento descrito
por uma equação geral aplicável a qualquer gás perfeito.

2.1.1. As Leis Empíricas dos Gases

Basicamente três estudos experimentais, ou empíricos,


serviram de base para o desenvolvimento da teoria (e suas equa-
ções) que atualmente descreve o comportamento de gases per-
feitos. Combinando estas três leis numa única equação chega -se à
Equação Geral de Estado do gases:
♦ Lei da transformação isobárica, ou Lei de Charles: O volume
é diretamente proporcional à temperatura se a pressão
permanece constante.
♦ Lei da transformação isotérmica ou Lei de Boyle-Marriote:
O volume é inversamente proporcional à pressão se a tempera-
tura é mantida constante.
♦ Lei da transformação isométrica, isocórica ou isovolumétrica,
ou Lei de Gay-Lussac: A temperatura é diretamente proporcio-
nal à pressão se o volume permanece constante. Esta equação pode ser aplicada para prever qualquer
As equações abaixo mostram estas relações: transformação física que um gás possa sofrer desde que não
ocorra perda de matéria para a vizinhança ou por reação quí-
TRANSFORMAÇÃO mica, isto é, a quantidade de matéria (número de mols do gás)
Lei de Charles ISOBÁRICA dentro do sistema deve permanecer constante. Uma outra com-
(P1 = P2) binação entre estas leis pode ser feita adicionando- se mais uma
variável, o próprio número de mols, e uma constante chamada
Constante Universal do Gases.
116 Da Vinci Vestibulares

A Teoria Cinética dos gases foi sintetizada com o in-


tuito de explicar as propriedades e o comportamento interno dos
gases. A compreensão dessa teoria é fundamental para o enten-
dimento das leis empíricas, do comportamento dos gases em
misturas e da lei de efusão/difusão de Graham. A teoria Cinética
dos gases se fundamenta nos seguintes postulados:
P = pressão - Todo gás é composto de inúmeras moléculas que se movimen-
V = volume tam de forma desordenada e com uma alta velocidade. Essa mo-
T = temperatura vimentação é chamada agitação térmica. O grau dessa agitação
n = quantidade de matéria (mol) serve para identificar a temperatura dos gases.
R = constante universal dos gases perfeitos - As moléculas dos gases têm um tamanho desprezível em re-
lação às distâncias entre elas, o que faz com que o volume ocu-
Esta equação é conhecida como Equação de Clapeyron pado pelas moléculas de um gás seja praticamente desprezível.
ou Lei dos Gases Ideais e por considerar o número de mols como - O gás ocupa todo o espaço do lugar onde está contido, devido
uma variável pode ser usada para prever o comportamento do às moléculas dele se movimentarem em todas as direções.
gás mesmo quando uma reação química está em andamento. - O fato do movimento das moléculas dos gases serem perpétu-
os, é que, o choque delas contra si mesmas e contra as paredes
2.1.2. Misturas Gasosas do recipiente onde o gás está contido é perfeitamente elástico, o
que faz com que as moléculas não percam energia cinética nem
Além das transformações físicas a que um gás está su- quantidade de movimento.
jeito outras propriedades dos gases são de interesse da huma- - As moléculas de um gás só interagem entre si quando elas
nidade. Por exemplo, o que acontece quando gases diferentes colidem. Fora as colisões elas apresentam movimento retilíneo
ocupam o mesmo recipiente? Algo semelhante ocorre quando uniforme (MRU).
enchemos o pulmão de ar, uma mistura de oxigênio, nitrogênio,
argônio e outros constituintes menores. Nos pulmões o ar perde Vale lembrar que a capacidade que os gases têm de se
oxigênio para o sangue e recebe dele o gás carbônico produzido comprimir facilmente e a sua grande dilatação térmica, vêm do
pela respiração celular mudando a sua composição. John Dalton fato de suas moléculas terem tamanho praticamente desprezí-
enunciou uma equação que prevê as variações nas propriedades vel.
de um sistema composto por uma mistura de gases perfeitos. Tal
equação é conhecida como Lei de Dalton para uma mistura de 2.2. O Estado Líquido
gases ideais.
Ao contrário dos gases perfeitos, que não apresentam
Pt = P1 + P2 + ... +Pn forças de interação significativas, os estados condensados (lí-
quidos e gases) se diferenciam justamente pela natureza destas
A lei de Dalton se baseia na seguinte regra: “Em uma forças e conseqüentemente pela intensidade com que estas man-
mistura gasosa, a pressão de cada componente é independente têm as unidades fundamentais unidas. A conclusão mais imedia-
da pressão dos demais, a pressão total (Pt) é igual à soma das ta é que não deve ser simples escrever uma equação geral que
pressões parciais dos componentes”. Exemplificando: se mis- atenda a todos os líquidos ou todos os sólidos. Isto posto pode-
turarmos volumes iguais de dois gases como o Argônio (Ar) mos continuar a descrever o estado líquido com base nas suas
e Hélio (He) que estiverem mantidos na mesma temperatura, propriedades e na relação destas com as forças de agregação.
chegaremos à Lei de Dalton se considerarmos que a soma das
pressões que os componentes exercem é a pressão total do siste- 2.2.1. Propriedades do Estado Líquido:
ma correspondente:
♦ Viscosidade: Podemos definir viscosidade como uma oposi-
PTotal= PHe + PEr ção ao escoamento, ou seja, quanto mais viscoso maior a difi-
culdade que o líquido terá de fluir ou alterar a sua forma. Dois
Outra situação importante está relacionada à velocida- fatores são determinantes para compreender a viscosidade dos
de com que um gás se espalha no ambiente, especialmente se o líquidos. (1) forças de interação e (2) volume molecular. O pri-
gás é perigoso, ou com que velocidade um gás confinado num meiro fator define justamente a intensidade com que as molé-
cilindro escapa quando uma válvula de abertura é acionada, culas do líquido estão presas umas às outras, quanto maior a
como numa lata de tinta tipo spray. A Lei da Efusão/Difusão força desta interação maior a dificuldade que o líquido terá para
de Graham determina que a velocidade de difusão (quando um fluir, assim a glicerina extremamente polar e cheia de ligações
gás se mistura a outro) ou efusão (quando um gás pressurizado de hidrogênio entre as suas moléculas é extremamente viscosa,
escapa por um pequeno orifício para uma região de menor pres- enquanto o álcool etílico muito menos polar é pouco viscoso.
são) de um gás é inversamente proporcional à sua densidade ou Os óleos vegetais são praticamente apolares, mas mes-
à sua massa molar. mo assim são muito viscosos, como o óleo de soja por exemplo.
Isto deixa claro que a força intermolecular não é o único fator
relacionado à viscosidade. Neste caso específico podemos ex-
plicar a grande dificuldade de escoamento com base no volume
molecular, isto é, o volume que a molécula ocupa individual-
mente no sistema.
Extensivo 117

Tensão superficial: do
chamamos de pressão de vapor, esta depende exclusivamente
Você já deve ter visto fotos de insetos e lagartos que es- da temperatura e está diretamente associada com a volatilidade
tão “planando” sobre as águas. Isto ocorre por que toda vez que da substância.
a superfície de um líquido é pressionada ela tenta resistir a esta Raciocinemos da seguinte forma, se numa dada tem-
pressão impedindo que a sua superfície seja violada. Acontece peratura o líquido A tem pressão de vapor (Pv) igual a 25 torr,
que na superfície dos líquidos as forças intermoleculares enquanto a do líquido B é 60 torr, estamos dizendo que o líquido
estão concentradas em apenas algumas direções (para os lados B, nas mesmas condições do A, “liberou” um maior número de
e para baixo) moléculas para o estado gasoso. Se o recipiente estivesse aberto
e estas moléculas fossem perdidas para a vizinhança o volume
restante do líquido B seria menor que do líquido A (consideran-
do volumes iniciais iguais).
A pressão de vapor e a volatilidade dependem certa-
mente das forças intermoleculares, quanto maior a intensida-
de da ligação menor a pressão de vapor, o que torna o líquido
menos volátil. Todavia não se pode negligenciar a influência
do peso molecular, moléculas mais pesadas, ao se vaporizarem,
enfrentam maior dificuldade de vencer a força da gravidade que
Figura 48: Tensão superficial dos líquidos as puxa para baixo, assim o óleo mineral, muito usado como
laxante, apesar de apolar é menos volátil que a água.
Uma outra propriedade relacionada à pressão de vapor
Este “desequilíbrio” de forças tem uma conseqüência, é o ponto de ebulição de um líquido. Considerando que a ebuli-
as moléculas da superfície estão mais fortemente ligadas umas ção é na verdade um estado de equilíbrio entre as fases líquida
às outras do que as que estão no volume. e gasosa espera-se que o líquido só encontre este estado (em
recipiente aberto e ao nível do mar) quando a sua pressão de
vapor se igualar à pressão atmosférica (pressão de oposição à
vaporização).
Se uma substância é pouco volátil (baixa pressão de
vapor) precisará de uma temperatura mais alta para entrar em
ebulição, isto porque a pressão de vapor aumentar com a
temperatura, logo se um líquido tem ponto de ebulição normal
(pressão de oposição de 1,0 atm) a 180ºC é porque nesta
temperatura a sua pressão de vapor é exatamente igual a 760
torr ou 1,0 atm.

♦ Capilaridade:
Esta é uma das mais interessantes propriedades dos lí-
Figura 49: Representação vetorial das interações intermoleculares quidos. Você já deve ter percebido que quando se tenta transferir
num líquido um pouco de água de um copo para o outro parte do líquido
acaba escorrendo pelas laterais do copo e molhando tudo ao
E é justamente isto que faz a superfície de qualquer redor. Esta aderência da água em superfícies de vidro também é
líquido oferecer resistência a algum corpo estranho que tenta responsável pela formação do menisco numa proveta (Figuras
penetrá-lo. Obviamente em alguns líquidos, como a água, esta 50 e 51) ou por fazer a água subir por um fino tubo capilar (Fi-
resistência é bem maior, isto se deve mais uma vez à natureza gura 52).
das ligações intermoleculares, quanto mais polar for a molécula
(e a água é muito polar) maior será a intensidade da ligação en-
tre elas e conseguintemente maior a tensão superficial.
Pressão de vapor (volatilidade): Se um líquido estiver
confinado dentro de uma garrafa com espaço “vazio” acima da
superfície algumas de suas moléculas, impelidas pela energia
cinética, evaporam. Se a garrafa está firmemente tampada o
vapor vai se acumular nesta região até um determinado limite.
Este limite surge da dinâmica do processo, isto é, da mesma
forma que algumas moléculas se “soltam” da fase líquida e vi-
ram vapor, outras que já vaporizaram podem se chocar com a Figura 50: Foto de menisco num balão volumétrico
superfície do líquido ficando aprisionadas. Quanto mais molé-
culas estiverem na fase gasosa maior a freqüência com que estes
choques ocorrem e em determinado ponto a velocidade com o
que as moléculas escapam se torna a mesma com as que já esca-
param voltam à fase líquida.
A esta pressão máxima que o vapor de um líquido pode
atingir quando confinado num recipiente hermeticamente fecha-
118 Da Vinci Vestibulares

♦ Viscosidade: Como se pode imaginar a viscosidade de um


sólido pode ser considerada infinita, uma vez que os sólidos
não escoam devido à estrutura cristalina e às forças de interação
muito intensas, isto obviamente impede que as partículas “ro-
lem” umas sobre as outras.

♦ Pressão de Vapor (volatilidade): Ao contrário do que se


possa imaginar alguns sólidos são voláteis. Apesar das fortes
ligações substâncias de baixa polaridade como naftaleno (naf-
talina) e o iodo podem passar diretamente para a fase vapor em
temperatura e pressão ambientes. Este processo não inclui a
passagem para a fase líquida e é chamado de sublimação. Na
Figura 51: Foto de menisco numa proveta graduada verdade qualquer sólido pode sublimar, desde que as condições
de pressão e temperatura sejam adequadas.
♦ Tensão Superficial: Assim como no caso da viscosidade po-
de-se considerar que a tensão superficial de um sólido é infinita,
uma vez que a superfície do sólido resiste a qualquer tentativa
de penetração.

2.3.2. Tipos de Sólidos

De modo geral os sólidos podem ser classificados com


relação à estrutura e às forças de interação. Quanto à estrutura
os sólidos podem ser cristalinos (sólidos verdadeiros) ou amor-
fos (pseudo sólidos). Definimos como sólidos cristalinos aque-
les que apresentam geometria definida e repetitiva na organi-
zação das suas unidades fundamentais, ou unidades reticulares
(átomos, moléculas ou íons). Esta geometria depende basica-
Figura 52: Fenômeno da capilaridade mente do tamanho das partículas que estão agregadas ao cristal
e são representadas por uma cela unitária (Figura 53 ), estrutura
Por conta deste último fenômeno chamamos de capi- básica que tem a capacidade de representar todo o retículo cris-
laridade, a tendência que os líquidos têm de aderir e se deslocar talino. Em outras palavras o retículo cristalino é constituído por
na superfície de um sólido mesmo contra a ação da gravidade. infinitas celas unitárias alinhadas entre si de forma quase perfei-
Basicamente podemos atribuir este fenômeno a duas forças de ta.
interação presente no sistema, a força de coesão, que mantém
as moléculas do líquido unidas (ligações de hidrogênio no caso
da água) e a força de adesão, aquela que mantém as moléculas
da superfície do sólido unidas às moléculas do líquido numa
região que chamamos interface. No caso específico do tubo ca-
pilar mostrado na Figura 52, as moléculas do vidro atraem as
moléculas de água para cima (adesão) e estas arrastam as outras
moléculas de água que estão no volume (coesão). Se o tubo ti-
vesse um diâmetro um pouco maior o peso da massa de água
faria o centro da coluna ficar mais baixo, como numa corda de
varal carregada de roupas, formando os menisco das Figuras 51
e 52.

2.3. O Estado Sólido

Assim como para o estado líquido, não existe uma úni-


ca equação de estado simples que descreva satisfatoriamente o Figura 53: Representação de uma rede cristalina (a cela unitária
estado sólido. Algumas equações podem, no entanto, ser úteis está em azul)
para prever deformações em estruturas sólidas e mesmo as mu-
danças de volume provocadas por variações de temperatura e de Os sólidos amorfos obviamente não apresentam retícu-
pressão. lo cristalino e, portanto, não têm uma cela unitária que represen-
É importante observar que mesmo estas equações pre- te a sua estrutura interna. Alguns autores também descrevem os
cisam de parâmetros (constantes) específicos para cada tipo de sólidos amorfos como líquidos super-resfriados. Isto se deve ao
sólido, e, portanto não têm a mesma utilidade das equações para fato de a estrutura destes sólidos não apresentarem organização,
os gases se não estiver acompanhada de uma tabela de dados como ocorre nos líquidos. A intensidade da força de agregação
físicos. é que impede estes sólidos de escoarem, todavia, por falta de
retículo cristalino estes sólidos não apresentam ponto de fusão
2.3.1. Propriedades dos Sólidos: definido (não fundem a temperatura constante), à medida que
Extensivo 119

são aquecidos a viscosidade diminui gradativamente e eles pas- 2.4.1. A Dilatação Anômala da Água
sam a fluir. O exemplo mais conhecido é o vidro.
Quanto às forças de interação os sólidos cristalinos po- Os sólidos e líquidos, em geral, têm seu volume dimi-
dem ser iônicos, covalentes, moleculares ou metálicos. A dife- nuído conforme abaixamos a temperatura. Entretanto existem
rença está, como o critério de classificação sugere, na natureza algumas substâncias que em determinados intervalos de tempe-
da força que une as unidades reticulares. Os sólidos iônicos são ratura, apresentam um comportamento inverso, ou seja, aumen-
formados por íons de cargas opostas, portanto a natureza da li- tam de volume quando sua temperatura diminui. Assim essas
gação é eletrostática. Isto faz com estes sólidos tenham altos substâncias têm o coeficiente de dilatação negativo nesses inter-
pontos de fusão, alto grau de dureza, mas suscetíveis a fraturas. valos. Um exemplo destas substâncias é a água, que apresenta
Os sólidos covalentes são formados por átomos unidos cova- essa anomalia em temperaturas abaixo de 4ºC, isto é, abaixo
lentemente. É como se o cristal fosse uma grande molécula e a desta temperatura o volume da água aumenta com a diminuição
força da interação está justamente no compartilha mento de elé- da temperatura ao contrário dos outros líquidos. A isso chama-
trons. Como conseqüência da forte interação estes sólidos são mos de dilatação anômala da água.
muito duros e apresentam altíssimos pontos de fusão, a exemplo
de diamante, sílica e grafite. 2.4.2. Fluídos Supercríticos
Já os sólidos moleculares são formados por moléculas
unidas pro forças intermoleculares (Van der Waals, dispersão Os fluídos supercríticos são produzidos pelo aqueci-
de London). A força da interação é de natureza eletrostática mento de um gás, acima da sua temperatura e pressão críticas. A
(dipolo-dipolo), mas bem menos intensa que as interações dos temperatura crítica de uma substância é a temperatura acima da
cristais iônicos. Como conseqüência estes sólidos são moles e qual a fase líquida não pode existir independentemente da pres-
de baixo ponto de fusão, alguns inclusive sublimam com fa- são. Acima desta temperatura e sob pressão elevada (acima do
cilidade. Exemplo: gelo, naftalina, gelo seco, etc. Os sólidos ponto crítico, ver diagrama de fases) o gás adquire a densidade
metálicos têm as interações mais peculiares dentre os sólidos próxima de um líquido, embora conserve a fluidez do estado
cristalinos. A rigor suas unidades reticulares são íons positivos gasoso.
mergulhados em um “mar” de elétrons. Isto se deve principal- Sob estas condições o volume molar é o mesmo, quer
mente à fraca interação que os átomos metálicos exercem sobre a forma original tenha sido líquido ou gás. Os fluídos supercríti-
os seus elétrons de valência. Quando confinados num cristal for- cos têm densidades, viscosidades e outras propriedades que são
mado exclusivamente por átomos metálicos estes elétrons são intermediárias entre aquelas da substância no seu estado gasoso
liberados e não têm para onde ir, formando uma nuvem de elé- e no seu estado líquido. O dióxido de carbono é o fluído super-
trons deslocalizados ou simplesmente um “mar” de elétrons li- crítico mais usado devido ás suas baixas temperaturas críticas
vres. A interação se deve à atração eletrostática entre os cátions (31ºC).
deixados pelos elétrons e a nuvem eletrônica, de modo que estes
sólidos apresentam maleabilidade, ductibilidade e excelente ca-
pacidade de condução elétrica e térmica.

2.4. Diagramas de Fase

Qualquer substância pode ser observada como gás, lí-


quido ou sólido. Depende das condições de temperatura e pres-
são a que estão submetidas. A água, por exemplo, quando está
sobre pressão atmosférica (760 torr ou 1,0 atm) é líquida entre
0 e 100º C, acima desta temperatura e sob esta pressão só é
possível observá-la no estado gasoso. Exatamente a 0º e 100ºC
duas fases estão em equilíbrio (existem simultaneamente). No
primeiro caso pode-se observar gelo e água líquida, no segundo
água líquida e vapor d’água. Para simplificar a visualização de
todas estas possíveis situações as informações referentes às fa-
ses observadas em dada condição de temperatura e pressão po-
dem ser organizadas na forma de um gráfico chamado diagrama
de fases. A Figura 54 mostra um exemplo. Figura 55: Diagrama de fase da água

EXERCÍCIOS ESSENCIAIS

1. Uma indústria química comprou certa quantidade de plástico


de um fabricante, antes de ser usado, colhe-se uma amostra e
submete-se a mesma a uma série de testes para verificações. Um
desses testes Consiste em colocar uma fração da amostra num
equipamento e aquecê-la até o plástico derreter. A fração sofreu:

Figura 54: Diagrama de fases (A) sublimação


120 Da Vinci Vestibulares

(B) solidificação Assim, se a temperatura da substância estiver


(C) ebulição (A) abaixo do seu ponto de fusão, ela se encontra no estado
(D) condensação líquido.
(E) fusão (B) acima do seu ponto de ebulição, ela se encontra no estado
sólido.
2. A naftalina, nome comercial do hidrocarboneto naftaleno, é utilizada (C) acima do seu ponto de fusão, ela se encontra no estado só-
em gavetas e armários para proteger tecidos, papéis e livros do ataque lido.
de traças e outros insetos. Assim como outros compostos, a naftalina (D) entre o ponto de fusão e o ponto de ebulição, estará no es-
tem a propriedade de passar do estado sólido para o gasoso sem fundir- tado gasoso.
-se. Esse fenômeno é chamado de: (E) entre o ponto de fusão e o ponto de ebulição, estará no es-
tado líquido.
(A) liquefação.
(B) sublimação. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
(C) combustão.
(D) ebulição. 6. Os compostos orgânicos possuem interações fracas e tendem
(E) solidificação. a apresentar temperaturas de ebulição e fusão menores do que
as dos compostos inorgânicos. A tabela apresenta dados sobre as
3. As propriedades de um material utilizadas para distinguir-se um ma- temperaturas de ebulição e fusão de alguns hidrocarbonetos.
terial do outro são divididas em Organolépticas, Físicas e Químicas.
Associe a primeira coluna com a segunda coluna e assinale a alternati-
va que apresenta a ordem correta das respostas.

PRIMEIRA COLUNA

(A) Propriedade Organoléptica


(B) Propriedade Física Na temperatura de –114 ºC é correto afirmar que os estados físi-
(C) Propriedade Química cos em que se encontram os compostos, metano, propano, eteno
e propino, são, respectivamente,
SEGUNDA COLUNA (A) sólido, gasoso, gasoso e líquido.
(B) líquido, sólido, líquido e sólido.
( ) Sabor (C) líquido, gasoso, sólido e líquido.
( ) Ponto de Fusão (D) gasoso, líquido, sólido e gasoso.
( ) Combustibilidade (E) gasoso, líquido, líquido e sólido.
( ) Reatividade
( ) Densidade 7. Um pouco de água à 20 C° foi colocado em um copo conten-
( ) Odor do uma pedra de gelo. Pode-se afirmar que:
( ) Estados da Matéria (A) com o tempo o gelo resfria a água a 0 C, ° e ele não derrete
no processo.
(A) A, B, C, C, B, A, B (B) a água aquece o gelo a 20 C° derretendo-o no processo, sem
(B) A, B, C, A, B, C, B que a água se resfrie.
(C) A, C, B, C, B, C, B (C) enquanto a água e o gelo estão juntos no copo, o gelo derrete
(D) A, B, C, B, B, A, B e a água se resfria em uma temperatura de 0 C. °
(E) C, B, A, C, B, A, B (D) o contato da água com o gelo força a água a se congelar a
20 C. °
4. Quanto às características das substâncias puras e das mistu- (E) o contato da água com o gelo força o gelo a se congelar a
ras, assinale o que for correto. 0 C. °
01) Misturas sólidas homogêneas não podem ser consideradas
soluções. 8. Conservação de alimentos é o conjunto dos métodos que
02) Densidade e ponto de ebulição são propriedades que podem evitam a deterioração dos alimentos ao longo de um determi-
diferenciar uma substância pura de uma mistura. nado período. O objetivo principal desses processos é evitar
04) O ponto de ebulição de uma substância pura não sofre a as alterações provocadas pelas enzimas próprias dos produtos
influência da pressão atmosférica. naturais ou por micro-organismos que, além de causarem o apo-
08) Uma substância pura sempre constituirá um sistema mono- drecimento dos alimentos, podem produzir toxinas que afetam
fásico. a saúde dos consumidores. Mas também existe a preocupação
16) Misturas azeotrópicas são misturas homogêneas com ponto em manter a aparência, o sabor e conteúdo nutricional dos ali-
de fusão constante. mentos. Uma das técnicas utilizadas é a desidratação, em que se
remove ou se diminui a quantidade de água no alimento, para
evitar que sejam criadas condições propícias para o desenvolvi-
5. Conhecidos os pontos de fusão e de ebulição de uma subs- mento dos micro-organismos, já que a água é essencial para que
tância à pressão de 1 atm, é possível prever seu estado físico eles existam. O bacalhau e a carne-seca, por exemplo, são assim
em qualquer temperatura, o que auxilia o desenvolvimento de conservados com adição prévia de sal de cozinha, que desidrata
métodos de separação de misturas em laboratório e na indústria. o alimento por osmose.
Extensivo 121

Quando a água é eliminada do alimento exposto ao sol, a exem-


plo da produção de carne-seca, a água sofre (A) se somente a afirmativa I é correta.
(A) fusão. (B) se somente a afirmativa II é correta.
(B) sublimação. (C) se somente a afirmativa III é correta.
(C) vaporização. (D) se somente as afirmativas I e II são corretas.
(D) solidificação. (E) se as afirmativas I, II e III são corretas
(E) condensação.
13. Dentre as opções abaixo, marque a que apresenta fortes indí-
9. Quando um automóvel é abastecido com álcool ou gasolina cios de que a amostra nela descrita é um elemento.
em um posto de abastecimento, as pessoas que estão nas proxi- (A) Um sólido azul que é separado em dois por método físico.
midades do veículo sentem o cheiro do combustível. Esse fato (B) Um líquido preto que apresenta faixa de temperatura duran-
evidencia a ocorrência da mudança de estado físico conhecida te a ebulição.
como (C) Um líquido incolor que se transforma em sólido incolor por
(A) calefação. resfriamento.
(B) liquefação. (D) Um sólido branco que, por aquecimento, se torna amarelo e,
(C) sublimação. depois, novamente branco, ao resfriar.
(D) fusão. (E) Um sólido preto que queima completamente em oxigênio,
(E) vaporização. produzindo um único gás incolor.

10. Referindo-se às propriedades dos estados físicos da matéria, 14. A naftalina, nome comercial do hidrocarboneto naftaleno, é
é INCORRETO afirmar que utilizada em gavetas e armários para proteger tecidos, papéis e
a) a mudança de estado de um material altera o modo como livros do ataque de traças e outros insetos. Assim como outros
as partículas se organizam e movimentam sem Referindo-se às compostos, a naftalina tem a propriedade de passar do estado
propriedades dos estados físicos da matéria, é INCORRETO sólido para o gasoso sem fundir-se. Esse fenômeno é chamado
afirmar que de:
(A) a mudança de estado de um material altera o modo como (A) liquefação.
as partículas se organizam e movimentam sem modificar sua (B) sublimação.
natureza. (C) combustão.
(B) os sólidos apresentam máxima organização interna e suas (D) ebulição.
partículas efetuam movimentos de vibração em torno de um (E) solidificação.
ponto de equilíbrio.
(C) as partículas se encontram mais distantes umas das outras 15. Uma pessoa comprou um frasco de álcool anidro. Para se
nos líquidos do que nos gases, e as forças de interação entre elas certificar de que o conteúdo do frasco não foi fraudado com a
são desprezíveis. adição de água, basta que ela determine, com exatidão,
(D) as partículas que constituem os gases apresentam entre si
grandes espaços vazios e fracas forças de interação, favorecen- I. a densidade
do sua expansão e compressão. II. o volume
III. a temperatura de ebulição
11. Uma indústria química comprou certa quantidade de plásti- IV. a massa
co de um fabricante, antes de ser usado, colhe-se uma amostra e Dessas afirmações, são corretas SOMENTE
submete-se a mesma a uma série de testes para verificações. Um (A) I e II
desses testes Consiste em colocar uma fração da amostra num (B) I e III
equipamento e aquecê-la até o plástico derreter. A fração sofreu: (C) I e IV
(A) sublimação (D) II e III
(B) solidificação (E) III e IV
(C) ebulição
(D) condensação GABARITO:
(E) fusão
MÓDULOS 1 E 2
12. No texto: “Um escultor recebe um bloco retangular de már-
more e, habilmente, o transforma na estátua de uma celebridade 1. Alternativa: C
do cinema”, podemos identificar matéria, corpo e objeto e, a 2. Alternativa: D
partir daí, definir esses três conceitos. 3. Resposta:
a) Sistema 1: monofásico, homogêneo Toda mistura de gases
I. Matéria (mármore): tudo aquilo que tem massa e ocupa lugar forma sempre um sistema homogêneo. Sistema 2: trifásico, he-
no espaço. terogêneo O clorofórmio é insolúvel em água, e o sulfato de
II. Corpo (bloco retangular de mármore): porção limitada de cálcio é muito pouco solúvel em água. Sistema 3: monofásico,
matéria que, por sua forma especial, se presta a um determinado homogêneo Todas as substâncias presentes na mistura são hi-
uso. drocarbonetos e, portanto, solúveis (miscíveis) entre si.
III. Objeto (estátua de mármore): porção limitada de matéria. b) Os componentes do querosene também são hidrocarbonetos,
assim a nova mistura seria um sistema monofásico.
Assinale a alternativa correta:
122 Da Vinci Vestibulares

4.B b) M2CO3 seria solúvel em água porque, como regra, os sais de metais
5.D alcalinos são solúveis em água.
6.
a) Filtração. Este processo serve para separar uma 9.E
mistura heterogênea (sólido - líquido ou sólido - gás). 10.D
b) Como a massa se conserva numa reação química, cada 11.D
máquina, produzindo 240 g de ozônio por hora, consome 12.
igual massa de gás oxigênio no mesmo período. Assim, sete a) 11,9 g de CHCl3 correspondem a 0,1 mol, que, ao
máquinas consomem 1680 g de O2 (7 x 240). reagir, produz 0,075 mol de HCl e 0,075 mol de CCl4,
7. considerando-se o rendimento de 75 %. Esses valores
a) Esse processo denomina-se extração. equivalem a, aproximadamente, 2,74 g de HCl, e 11,55 g de
A água aquecida extrai do pó das sementes de urucum a CCl4.
substância responsável pela coloração vermelha. b) CHCl3: triclorometano, e CCl4: tetraclorometano
b) Primeiro: a solubilidade do corante em água quente é c) Ligação covalente polar
maior que em água fria. 13.C
Segundo: o aumento da temperatura aumenta a velocidade 14.A
do processo de extração. 15.A
c) Sim. A reação entre o suco de jenipapo ivá (incolor) e o
ar forma um composto de coloração preta. MÓDULOS 7 E 8
8. B
9. A 1.E
10.D 2.B
11.VFFFF 3.A
12.B 4.02
13.B 5.E
14.D 6.E
15.D 7.C
8.C
MÓDULOS 3 E 4 9.E
10.C
1. 11.E
2. 12.A
3. 13.E
4. 14.B
5.A 15.B
6.E
7.C
8.D
9.B
10.C
11.E
12.B
13.B
14.E
15.B

MÓDULOS 5 E 6

1.D
2.A
3.D
4.FVVFV
5.B
6.D
7.Trióxido de enxofre, SO3: Hidróxido de sódio, NaOH: O hidróxido
de sódio é iônico, apresentando o cátion Na+ e o ânion OH– , que tem
as seguintes fórmulas: Perclorato de cálcio, Ca(ClO4)2: O perclorato
de cálcio é iônico, apresentando o cátion Ca2+ e o ânions ClO4 – , que
tem as seguintes fórmulas: No primeiro e no terceiro casos, poderiam
ser representadas também ligações “dativas”, e vale lembrar que foi
representada uma das possíveis formas canônicas de ressonância.
8. a) M(s) + H2O(l) → M+(aq) + OH–(aq) +2/1 H2(g)
Extensivo 123

física
124 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 1: CARGA E FORÇA ELÉTRICA 3. ELETRIZAÇÃO

1. CARGA ELÉTRICA Normalmente, os objetos à nossa volta possuem o mes-


mo número de prótons e elétrons e não apresentam propriedades
A matéria é composta por átomos e estes são consti- elétricas (estão neutros). As propriedades elétricas se manifes-
tuídos por prótons, nêutrons e elétrons. Os prótons e elétrons tam quando um corpo perde ou ganha elétrons. Um corpo fica
possuem uma propriedade chamada de carga elétrica. A carga eletrizado com carga negativa quando ganha elétrons e eletri-
elétrica é a propriedade física responsável pelos fenômenos elé- zado com carga positiva quando perde elétrons.A carga total de
tricos. um corpo sempre será um múltiplo inteiro da carga elementar:
Onde: Q, q, q1, q2, qn = Carga elétrica (Coulomb - C)
Q=ne
Ao longo desse módulo você será apresentado a ex-
pressões matemáticas com variáveis. Sempre que surgir uma Onde: n = número de prótons em excesso (n positivo) ou núme-
variável nova, ela será apresentada a você seguida de uma le- ro de elétrons em excesso (n negativo)
genda indicando o que ela significa e, entre parênteses, a sua
unidade no Sistema Internacional de Unidades (S.I.). 3. Eletrização por atrito
A carga elétrica de 1,0 C é obtida com 6,25 . 1018 pró-
tons. Há dois tipos de cargas elétricas: positivas e negativas. Os Ao atritar corpos de diferentes materiais, permite-se
prótons possuem a mesma quantidade de carga elétrica que os que alguns elétrons sejam transferidos de um material para ou-
elétrons, porém, eles têm carga elétrica positiva e os elétrons, tro.
negativa. Quando se aproximam dois corpos com cargas elétri- Assim, os corpos adquirem cargas de mesmo módulo (valor nu-
cas, surgem forças que podem ser de repulsão (cargas de mesmo mérico) e sinais opostos (um positivo e o outro negativo).
sinal) ou atração (cargas de sinais opostos). Condições para que ocorra a eletrização por atrito:
♦ Os corpos devem ser de materiais diferentes.
Q do próton = + 1,6 · 10-19C ♦ Um deles deve ser isolante.
Q do do elétron = - 1,6 · 10-19C
A série a seguir apresenta uma ordem em que o ma-
O valor 1,6 . 10-19 C é chamado de carga elementar e. Portan- terial ganha elétrons se for atritado com outro à sua esquerda
to o próton possui carga elétrica+e enquanto o elétron, carga e perde elétrons quando atritado com outro à sua direita (série
elétrica-e. triboelétrica):

Onde: e = carga elementar

2. CONDUTORES E ISOLANTES

Para que um material seja condutor de eletricidade ele


precisa ter portadores de carga elétrica (elétrons ou íons) livres
para se movimentar. No caso dos metais, os átomos possuem
Eletrização por Contato
alguns elétrons que não estão fortemente ligados aos núcleos.
Eles são chamados de elétrons livres e são os responsáveis pela
Ocorre por meio do contato de um corpo eletrizado
condutividade elétrica nesses materiais. Em líquidos e gases
com um corpo neutro ou entre dois corpos já eletrizados.
condutores, a condutividade pode ser causada pela presença de
♦ Se os dois corpos são condutores, a carga elétrica se distribui-
íons positivos ou negativos (ver tabela 1.1). Nos isolantes, os
rá uniformemente pela superfície de ambos.
elétrons estão firmemente ligados a seus núcleos (ou a suas es-
♦ Se um dos corpos for isolante, a carga não se distribuirá por
truturas moleculares), dificultando a condução de eletricidade.
sua superfície, mantendo-se na região de contato.
Os isolantes também são chamados de dielétricos.
♦ Após o contato, os corpos adquirem cargas de mesmo sinal (a
não ser quando o contato ocorre entre dois corpos de cargas de
mesmo módulo e sinais contrários, neste caso os corpos ficam
neutros após o contato).
♦ Qualquer condutor eletrizado fica neutro quando entra em
contato com o solo. Chamamos esta ligação de “fio terra”
ou “aterramento”.

Figura 1: Símbolo do fio terra.

Tabela 1.1: Principais condutores elétricos e seus portadores de cargas elé-


tricas.
Extensivo 125

5. Eletrização por indução:

Neste tipo de eletrização não há contato entre os cor-


pos. Um corpo eletrizado (indutor) é aproximado de um corpo
neutro (induzido). Esta aproximação provocará um movimento
de cargas negativas no induzido.

Figura 2: Sequência de aproximação indutor negativo e induzido.

Uma força de atração surgirá entre o indutor e o indu-


zido. Para eletrizar o induzido, devemos aterrá-lo, mantendo o
indutor ainda próximo. Em seguida, desliga-se o aterramento e Figura 4: Força elétrica da carga Q sobre cargas q.
afasta-se o indutor. O induzido estará eletrizado.
MÓDULO 2: CAMPO E POTENCIAL ELÉTRICO

1. CAMPO ELÉTRICO

É a região do espaço onde uma carga elétrica Q tem


Figura 3: Sequência de aterramento do induzido e consequente influência. Isto é, nessa região, uma força elétrica F pode surgir
eletrização em uma carga elétrica q (chamada carga de prova) se ela for
colocada lá. Toda carga elétrica cria em torno de si um campo
Observações: elétrico .
♦ O indutor poderá ser condutor ou isolante;
♦ O induzido deverá ser condutor para poder ser eletrizado;
♦ Caso o induzido seja isolante, a separação das cargas só acon-
tece no nível de suas moléculas. Isto é, ele não é eletrizável e
passará a ter polos (negativo e positivo) durante o tempo em
que o indutor estiver próximo a ele e sendo também atraído pelo
indutor. É o que acontece quando esfregamos uma caneta no
cabelo (eletrização por atrito) e a usamos para atrair pequenos
pedaços de papel (indução).

6. LEI DE COULOMB
Figura 5: Campos elétricos E gerados por cargas Q
A Lei de Coulomb é usada para determinar o módulo
da força elétrica F (grandeza vetorial) que atua entre duas car- O sentido do campo elétrico de uma carga Q depende do seu
gas elétricas Q e q pontuais (que ocupam um ponto) separadas sinal.
por uma distância d. Se as duas cargas tiverem o mesmo sinal, ♦ Se Q for positivo, então o campo “sai” da carga
então a força será repulsiva. Caso os sinais sejam opostos, será ♦ Se Q for negativo, o campo “entra” na carga
atrativa.
Para simplificar as equações, será usada a letra da vari- A força elétrica em uma carga de prova tem:
ável (F) sem a indicação vetorial (F ) quando se tratar de módu- ♦ a mesma direção e sentido do campo caso a carga seja
lo de uma grandeza vetorial. O módulo da força elétrica é dado positiva
por: ♦ a mesma direção e sentido contrário caso a carga seja
negativa

O campo elétrico sobre uma carga “q” sofrendo a ação


de uma força elétrica “F” pode ser dado por:

Onde: F= força elétrica (Newton - N); d = distância entre as


cargas (metro - m); k = constante da Lei de Coulomb (N.m2/
C2). No vácuo, k0 = 9,0 . 109N.m2/C2.
126 Da Vinci Vestibulares

Onde: E = campo elétrico (newton/Coulomb - N/C ou


volt/metro - V/m)

2. CAMPO ELÉTRICO GERADO POR UMA CARGA


PONTUAL

Sabendo que para duas cargas pontuais Q e q separadas


por uma distância d o módulo da força elétrica F é dado por:

Logo, o módulo do campo elétrico que a carga Q gera


no local onde foi colocada uma carga de prova q pode ser dado
por:


Note que, segundo essa expressão, o campo elétrico
não depende do valor da carga de prova q. Essa expressão é útil,
portanto, para calcular o campo elétrico em um ponto qualquer
a uma distância d de uma carga qualquer Q, como mostra a figu-
ra abaixo:

Figura 6: Campos elétricos E gerados por uma carga Q em um


ponto. Figura 7: Configurações espaciais das linhas de campo gerados
por uma ou duas cargas elétricas.
O cálculo do campo elétrico em um ponto a uma d que
está sob a influência de várias cargas elétricas é realizado a par- 4. CAMPO ELÉTRICO UNIFORME
tir da soma vetorial dos campos elétricos de todas as cargas.
Um campo elétrico é uniforme quando seus vetores têm o mes-
3. LINHAS DE CAMPO OU LINHAS DE FORÇA mo módulo, direção e sentido em qualquer posição do espa-
ço onde o campo elétrico exista. O campo elétrico uniforme é
Linhas de campo ou linhas de força são linhas que representam representado por linhas paralelas. Placas paralelas eletrizadas
a distribuição do campo elétrico no espaço. com cargas elétricas de sinais contrários geram um campo elé-
Algumas características das linhas de campo são: trico uniforme em seu interior.

♦ O vetor campo elétrico E é tangente às linhas de campo e tem


o mesmo sentido que elas.

♦ O módulo (ou intensidade) do campo elétrico é proporcional


ao número de linhas de campo distribuídas numa determinada
área.
As linhas de campo saem das cargas positivas e entram nas car-
gas negativas.
Figura 8: Placas paralelas eletrizadas gerando campo elétrico
uniforme.
Extensivo 127

5. ENERGIA POTENCIAL ELÉTRICA RELATIVA A


DUAS CARGAS PUNTIFORMES

Suponha um sistema composto por duas cargas elétri-
cas puntiformes, separadas por uma distância d. Sabe-se que
existe uma energia associada a esse sistema por que a força elé-
trica pode provocar o deslocamento dessas cargas. Essa energia,
chamada de energia potencial elétrica, pode ser dada por:
Figura 10: Um ponto p, a uma distância d de uma carga Q, possui
um potencial elétrico a ele associado, independente da existência
de uma carga sobre ele.
Onde: Ep = Energia potencial elétrica (joule - J)
Em um sistema constituído por várias cargas. O poten-
cial elétrico num ponto p qualquer é dado pela soma escalar dos
potenciais elétricos de todas as cargas.

8. DIFERENÇA DE POTENCIAL ELÉTRICO (DDP OU


TENSÃO)

Se uma carga elétrica se desloca de um ponto A para


um ponto B na presença de um campo elétrico, uma força elé-
Figura 9: A energia potencial elétrica (ou energia elétrica) é a ener-
trica realizará trabalho sobre essa carga (aumentando ou dimi-
nuindo sua quantidade de energia elétrica). Assim, afirma-se
gia associada a um conjunto de cargas elétricas e à distância que que há uma diferença de potencial elétrico (ddp) entre A e B
as separa. que corresponde à quantidade de energia que cada unidade de
carga ganha ou perde devido ao deslocamento.
6. POTENCIAL ELÉTRICO

Uma carga elétrica qualquer produz uma influência no
espaço a sua volta chamada de campo elétrico. Nessa região,
uma partícula carregada ficará sujeita a uma força elétrica que
poderá realizar um trabalho sobre ela. Portanto, essa partícula,
sob a influência do campo elétrico, possuirá uma energia poten-
cial elétrica (que é igual ao trabalho que a força elétrica pode
realizar para levá-la ou trazê-la de bem longe). Essa energia
potencial “armazenada” sobre a carga elétrica que se encontra
no campo elétrico é proporcional à quantidade de carga que ela
tem. Assim, se outra partícula com o dobro de carga for co-
locada no mesmo ponto, ela “armazenará” o dobro de energia
elétrica do que a primeira. Figura 11: A ddp entre os pontos A e B corresponde ao trabalho da
Dizemos então que neste ponto há um potencial elétri- força elétrica para cada unidade de carga “levada” do ponto A ao
co dado pela quantidade de energia elétrica adquirida para cada ponto B.
unidade de carga posicionada sobre ele:

Onde: V = potencial elétrico (volt - V)

7. POTENCIAL ELÉTRICO EM RELAÇÃO A UMA


CARGA PONTUAL

A energia elétrica que uma carga q a uma distância d de Onde: VAB = ddp (volt - V); TAB = trabalho da força elétrica
outra carga pontual Q é dada por: (joule - J), dAB= distância entre A e B próxima da carga (metro
– m).

A ddp entre os pontos A e B também pode ser dada por:

Sabendo que o potencial elétrico é essa energia dividi- VAB = VA - VB


da pela própria quantidade de carga q, então em qualquer ponto
Onde: VA = potencial em A (V); VB = Potencial em B (V)
p, a uma distância d de uma carga Q, o potencial elétrico poderá
ser dado por:
128 Da Vinci Vestibulares

9. SUPERFÍCIES EQUIPOTENCIAIS Além disso, sabe-se que em um campo elétrico unifor-


me, o trabalho é igual ao produto da força elétrica pelo desloca-
Superfícies equipotenciais são superfícies onde o po- mento que ele realiza na mesma direção da força.
tencial elétrico é constante. Assim, a ddp entre dois pontos de Isto é, se o deslocamento tiver o mesmo sentido da
uma mesma superfície equipotencial é nula. Todo ponto situado força o trabalho é positivo. Se o deslocamento tiver o sentido
à mesma distância R de uma carga elétrica, por exemplo, tem contrário, será negativo. Se o deslocamento for perpendicular
o mesmo potencial. Além disso, as linhas de campo elétrico sem à força, o trabalho será nulo (na Figura anterior, o trabalho do
presão normais (formam 90º) com as superfícies equipotenciais. ponto 1 para 2 é nulo porque o deslocamento é perpendicular à
força elétrica). Assim, o trabalho pode ser dado por:

Portanto:

Sabendo a relação entre campo elétrico e força elétrica,


ddp entre os pontos a e bpode ser expressa por: Vab= E.dab.
É importante lembrar que o deslocamento dab corres-
ponde à distância entre superfícies equipotenciais a e b quais-
Figura 12: Superfície equipotencial (em vermelho) em torno de
quer:
uma carga pontual.

A força elétrica não realiza trabalho em uma carga elé-


trica que se move em uma superfície equipotencial. Na figura
2.9, o Trabalho da força elétrica sobre uma carga que se move
do ponto 1 ao ponto 2 (T12) e a ddp entre esses pontos (V12)
são nulos porque eles estão na mesma superfície equipotencial.
O trabalho da força elétrica sobre uma carga que se move do
ponto 1 ao ponto 3 (T13) e a ddp entre esses pontos (V13) é
igual ao trabalho e a ddp entre 2 e 3 (T23 e V23), pois o que
importa é a distância entre as superfícies equipotenciais.

Figura 14: Deslocamento de uma carga q entre duas superfícies


equipotenciais a e b devido ao efeitode um campo elétrico uniforme
E que gera uma força elétrica F .

11. MOVIMENTO ESPONTÂNEO DE CARGAS ELÉ-


TRICAS

Sobre o movimento de cargas elétricas, é possível destacar que:


a) em cargas positivas:
♦ a força elétrica aparece no mesmo sentido das linhas de cam-
po,
♦ movem-se do maior para o menor potencial.
Figura 13: Superfícies equipotenciais “a” e “b” em um campo
b) cargas negativas:
elétrico uniforme.
♦ a força elétrica aparece no sentido contrário às linhas de cam-
po,
10. DIFERENÇA DE POTENCIAL (DDP) EM UM CAM-
♦ movem-se do menor para o maior potencial.
PO ELÉTRICO UNIFORME
Também é bom lembrar que as linhas de campo sem-
Sabe-se que a ddp entre duas superfícies equipoten-
pre saem do maior para o menor potencial.
ciais a e b do campo elétrico uniforme é dada pelo trabalho rea-
lizado pela força elétrica para cada unidade de carga:
MÓDULO 3: CONDUTOR EM EQUILÍBRIO ELE-
TROSTÁTICO

Um condutor está em equilíbrio eletrostático quando


o campo elétrico e o potencial elétrico se mantêm constantes
Extensivo 129

em cada um de seus pontos. Com relação aos condutores em colocado no interior deste condutor estará protegido de qual-
equilíbrio eletrostático, pode-se afirmar que: quer ação elétrica externa. O condutor oco oferece então ao
♦ O excesso de carga elétrica se situa na superfície externa do objeto colocado em seu interior uma blindagem eletrostática.
condutor, Na verdade, essa blindagem ocorrerá mesmo nos casos em que
♦ Se o formato do condutor for irregular, as cargas se distribuem o condutor ainda não estiver em equilíbrio eletrostático, pois,
mais densamente nas regiões pontiagudas. Um condutor que mesmo nessa situação, existe uma tendência das cargas elétricas
possui pontas dificilmente permanece eletrizado, pois o excesso se distribuírem pela superfície do condutor (efeito de pele).
de cargas tem maior facilidade de escapar pelas pontas (poder Uma telametálica envolvendo certaregião do espaço
das pontas). também constitui uma blindagem satisfatória. A blindagem ele-
♦ No interior de um condutor em equilíbrio eletrostático o cam- trostática é utilizada para a proteção de aparelhos elétricos e ele-
po elétrico é nulo (mesmo sob a ação de cargas elétricas exte- trônicos contra efeitos elétricos externos. Aparelhos de medida
riores). mais sensíveis estão acondicionados em caixas metálicas para
♦ Na superfície de um condutor em equilíbrio eletrostático o que as medidas não sofram influências externas. As estruturas
campo elétrico não é nulo. O vetor campo elétrico é perpendi- metálicas de aviões, carros e prédios constituem blindagens ele-
cular à superfície. trostáticas que protegem as pessoas em seu interior das descar-
♦ Todos os pontos de um condutor em equilíbrio eletrostático gas elétricas atmosféricas.
possuem o mesmo potencial elétrico.
♦ A diferença de potencial (tensão) entre dois pontos de um con- 3. RAIOS, RELÂMPAGOS E PARA-RAIOS
dutor em equilíbrio eletrostático é nula.
♦ Essas propriedades são válidas independentemente de o con- As nuvens de tempestade apresentam-se, em geral, ele-
dutor ser oco ou maciço. trizadas. Entre essas nuvens, dentro delas ou entre a nuvem e o
solo estabelecem-se campos elétricos. Quando esses campos se
Suponha um condutor esférico de raio R carregado ele- tornam suficientemente intensos, o ar se ioniza e ocorre uma
tricamente com uma carga elétrica Q (Figura 3.1). A tabela 3.1 descarga elétrica, denominada raio, sob a forma de uma faísca.
apresenta os valores de campo elétrico e potencial elétrico em O raio é formado porcargas elétricas em movimento orientado,
um ponto p em função da sua localização em relação ao centro isto é, uma corrente elétrica.
do condutor esférico. A luz que acompanha o raio, efeito luminoso da cor-
rente elétricanos gases, resulta da ionização do ar, constituindo
o relâmpago. O elevado aquecimento do ar, efeito térmico das
correntes elétricas, causa uma brusca expansão do ar, produzin-
do um estrondo que é o trovão. Os para-raios são dispositivos
que oferecem um caminho mais seguro para as descargas elétri-
cas atmosféricas.

4. PARA-RAIOS DE FRANKLIN:

Criado por Benjamim Franklin (1706-1790), ele é constituído


basicamente por uma haste comprida disposta verticalmente na
parte mais alta da estrutura a ser protegida. A extremidade su-
Valores de campo elétrico e potencial elétrico em um ponto pem perior da haste possui uma ou várias pontas de material com
função da sua localização em relação a um condutor esférico ele- elevado ponto de fusão. A outra extremidade é ligada a barras
tricamente carregado. metálicas cravadas profundamente no solo. Se uma nuvem ele-
trizada estiver sobre as pontas do pararaios, o campo elétrico
entre a nuvem e as pontas se torna muito intenso (poder das
pontas), favorecendo a queda do raio no para-raios e transferin-
do a descarga elétrica para o solo, protegendo seu entorno.

MÓDULO 4: CIRCUITOS ELÉTRICOS

1. INTRODUÇÃO

O objetivo de um circuito elétrico é promover a trans-


formação de energia elétrica em outras formas de energia. No
circuito de um chuveiro, por exemplo, ocorre a transformação
de energia elétrica em térmica (calor).
Figura 15: Condutor não pontual, esférico, em equilíbrio eletrostá- Todo circuito elétrico, por mais complicado que pare-
tico, de raio R e as distâncias R e d. ça, é composto por três partes: receptores, geradores e conexões
entre esses dois. Veja a seguir as características reais desses
2. BLINDAGEM ELETROSTÁTICA componentes.
Receptores – São as partes do circuito que transformam a ener-
Imagine um condutor oco em equilíbrio eletrostático. gia elétrica em outras formas de energia. Existem dois tipos de
Como o campo elétrico em seu interior é nulo, qualquer objeto receptores.
130 Da Vinci Vestibulares

As resistências elétricas, que transformam a energia elétrica em


térmica (chuveiro, ferro de passar roupa, lâmpadas incandes-
centes, etc.) e os chamados geradores de força contra eletro-
motriz, que transformam a energia elétrica em outras formas
de energia exceto a térmica (motores, carregadores de bateria,
etc.). Na prática, sempre há uma perda de energia na forma de
calor em qualquer receptor. Assim, é possível dizer que junto ao
gerador de força contra eletromotriz sempre há uma resistência
interna responsável por essa perda.
Geradores – São as partes do circuito que transformam algum
tipo de energia em energia elétrica (pilhas e baterias, usinas de
eletricidade, etc.). Na prática, sempre há uma perda de energia
na forma de calor em qualquer gerador. Assim, é possível dizer
que o gerador é composto por duas partes: um gerador de for-
ça eletromotriz responsável pela geração de eletricidade; e uma
resistência interna responsável pela perda, na forma de calor, de
parte da energia gerada.
Conexões: Materiais condutores utilizados para conectar gera-
dores e receptores.
Atenção: um circuito elétrico só está fechado (ou li-
gado) se geradores, receptores e conexões formam um caminho
fechado. Somente se o circuito estiver fechado é que ocorre-
rão as transformações de energia desejadas. Num circuito real,
ocorrem perdas de energia na forma de calor inclusive nas co-
nexões, portanto, até elas têm uma resistência interna.
Neste módulo serão trabalhados apenas circuitos que Tabela 4.1: Alguns símbolos utilizados em esquemas elétricos
possuem geradores e resistências. Além disso, serão descon-
sideradas quaisquer resistências internas nos geradores ou nas 4. TENSÃO ELÉTRICA
conexões. Isso não é um problema porque frequentemente essas
resistências internas têm um valor muito pequeno quando com- É a diferença de potencial V entre dois pontos quais-
paradas com o restante do circuito, podendo ser desprezadas nos quer do circuito correspondendo ao trabalho T realizado pela
cálculos. força elétrica sobre cada unidade de carga q deslocada através
desses pontos.
2. ESQUEMA ELÉTRICO: Para simplificar os desenhos de V=T
circuitos elétricos lança-se mão de esquemas. A Tabela 4.1 apre- q
senta os símbolos mais comuns utilizados em esquemas elétri- Essa ddp é conhecida também como tensão elétrica ou,
cos. mais popularmente, voltagem.

3. CIRCUITO SIMPLES 5. CORRENTE ELÉTRICA

Um circuito simples é composto por um gerador co- É o movimento direcionado decargas elétricas em um
nectado a uma resistência. No caso do gerador ser uma bateria, condutor. Em um metal, a corrente elétrica se deve ao movimen-
por exemplo, energia química é transformada em energia elétri- to de elétrons livres. Em uma solução iônica, a corrente elétrica
ca ao provocar uma diferença de potencial elétrico (tensão) en- é devida ao movimento de íons positivos e negativos. Por ra-
tre seus terminais. Se o circuito estiver fechado, cargas elétricas zões históricas, o sentido convencional da corrente elétrica no
se moverão de um polo a outro do gerador, passando pela resis- circuito começa no polo positivo e termina no negativo do ge-
tência, estabelecendo uma corrente elétrica no circuito. A potên- rador (veja o sentido da corrente na Figura4.1). Em um metal,
cia dissipada na resistência corresponde à quantidade de energia os elétrons livres movem-se no sentido contrário ao da corrente
elétrica transformada em calor em cada unidade de tempo. As convencional. A intensidade da corrente elétrica pode ser dada
grandezas tensão (V), corrente (i), resistência (R) e potência (P) por:
são as principais grandezas presentes em um circuito elétrico.

Onde: i = corrente elétrica (Ampère - A ou C/s); |Q| =


módulo da carga que atravessa um ponto do condutor (C); rt=
intervalo de tempo que se observa a passagem da carga elétrica
(segundo - s). Baterias e pilhas possuem um polo positivo e um
polo negativo fixos. Quando se conecta uma bateria ou uma pilha
a um circuito, a corrente elétrica se estabelece sempre no mesmo
A bateria estabelece uma ddpV entre seus terminais e uma corrente i passa sentido, saindo do positivo e se dirigindo para o negativo. Nesse
a circular no circuito. Na resistência R, a potência P dissipada indica a taxa caso, passará pelo circuito uma corrente contínua (C.C. ou D.C.)
de transformação de energia elétrica em térmica ao longo do tempo.
Extensivo 131

Os terminais elétricos de uma tomada residencial não


possuem polaridade fixa. Um dos terminais é chamado de neu-
tro e seu potencial é zero. O segundo terminal alterna sua pola-
ridade entre um valor positivo e o mesmo valor negativo (isso
acontece 60 vezes a cada segundo no Brasil).
Quando se liga um aparelho a uma tomada, a corrente
se estabelece no fio ora num sentido (saindo do positivo e indo
para o neutro), ora no sentido contrário (saindo do neutro e indo
para o negativo). Nesse caso,passa pelo circuito uma corrente
alternada (C.A. ou A.C.).

Figura 18: Gráfico V x i apresentando a faixa onde o resistor se


comporta como condutor ôhmico.

8. 2ª LEI DE OHM

A segunda lei de Ohm determina o valor da resistência


de
condutores ôhmicos tal que:
♦ R é proporcional ao comprimento do fio ( L )
♦ R é inversamente proporcional à área(A) da seção transversal
do condutor (espessura do condutor)
♦ R depende do material que é feito o condutor.
Tal que:
Figura 17: Imagem de uma tomada normal. Observe que o orifício
de baixo é neutro (potencial nulo) e o de cima possui um potencial
que oscila entre valores positivos (+127 V ou +220 V) e negativos
(-127 V ou -220 V). Observe que nem sempre o neutro encontra-se Onde: ρ = é a resistividade do material (Ω .m); L = o compri-
em baixo. mento do fio (metros – m); A = área da seção transversal do fio
(metros quadrados – m²).

6. RESISTÊNCIA ELÉTRICA 9. POTÊNCIA ELÉTRICA E EFEITO JOULE

A resistência elétrica corresponde à dificuldade que o A potência dissipada por um elemento de um circuito é
condutor oferece à passagem de corrente. Essa dificuldade se dada por:
deve à transferência de energia do movimento das cargas para
a estrutura molecular do condutor provocando aquecimento e P=V .i
dissipação de energia na forma de calor. A resistência de um
componente do circuito é dada pela razão entre a tensão a que Onde: P = potência dissipada num componente do circuito
ele está submetido e a corrente que o atravessa. (Watt-W) Em uma resistência ocorre a transformação de energia
elétrica em energia térmica. Ataxa de transformação é dada pela
potência dissipada na resistência. Esse fenômeno é chamado
efeito joule.
Onde: R = resistência elétrica (Ohm - Ω) P=V.i ou P=R .i2

Onde: P = potência dissipada pelo efeito joule no elemento re-


7. 1ª LEI DE OHM sistivo (W)

A 1ª Lei de Ohm estabelece a existência de um grupo


de condutores que possui resistência R constante para um con- 10. APARELHOS DE MEDIDA
junto de valores de tensão V a que estão submetidos. Na prática,
isso significa dizer que em um gráfico de voltagem por corrente Medidor de corrente: (A) amperímetro - ligado em
elétrica, esse resistor será representado por uma linha reta. No série com o circuito e possui resistência interna próxima de 0.
gráfico a seguir é possível ver intervalos em que a relação entre Medidor de ddp: (V) voltímetro - ligado em paralelo com o cir-
voltagem e corrente não é linear (nãoôhmica) e onde é linear cuito e possui resistência interna tendendo ao infinito.
(ôhmica). Destaca-se que em todas as situações a relação “V =
R . i” continua válida. O que muda é o fato da resistência ser ou
não constante.
132 Da Vinci Vestibulares

Figura 19: Esquema de um circuito indicando o amperímetro e o Figura 21: Exemplo de associação de resistências em paralelo e seu
voltímetro esquema, onde i indica a corrente total, i1 e i2 são as correntes que
seguem para as resistências R1 e R2, respectivamente, e V1 e V2
11. ASSOCIAÇÃO EM SÉRIE DE RESISTÊNCIAS são as diferenças de potenciais que há entre os terminais de cada
resistência.
Numa associação em série, um componente é ligado
após o outro no mesmo fio, tal que a corrente elétrica percorre Algumas relações importantes são:
o mesmo caminho ao passar por todos. As características de um
circuito com resistências em série são: i=i1+i2e V=RT .i
i1=V1/R1 e P1=(V1²)/R
♦ A corrente é a mesma em todos os pontos do circuito i2=V2/R2 e P2=(V2 ²)/R
♦ A tensão se divide proporcionalmente a cada resistência P=P1+P2e P=V.i
1/RT =1/R1+1/R2 e V=V1=V2

MÓDULO 5: GERADORES E RECEPTORES

No módulo anterior foram estudados os circuitos elé-


tricos compostos apenas por geradores e resistências, sem con-
siderar a resistência interna dos geradores e sem acrescentar
os componentes que transformam energia elétrica em outras
Figura 20: Exemplo de associação de resistências em série e seu es- formas de energia além da térmica (geradores de força contra
quema, onde V1 e V2 apresentam a diferença de potencial quando eletromotriz). Agora, serão consideradas as presenças de resis-
a corrente passa por R1 e R2, respectivamente. tências internas e geradores de força contra eletromotriz em cir-
cuitos.

Relações importantes nos circuitos em série: 1. GERADORES DE FORÇA ELETROMOTRIZ



V1=R1 .i e P1=R1 .i2 Imagine uma pilha comum ligada a uma lâmpada (Fi-
V2=R2 .i e P2=R2 .i2 gura 22). Parte da energia elétrica gerada pela pilha é dissipada
V=V1+V2 dentro dela em função do efeito Joule (aquecimento da pilha).
P=P1+P2 e P=V.i Assim, deve-se entender que o esquema de uma pilha real é
formado por um gerador de força eletromotriz e uma resistên-
Entende-se por resistência total ou equivalente (Rt) o cia interna. O circuito pilha-bateria encontra-se representado
valor da resistência elétrica que poderia substituir todas as resis- na figura.
tências sem alterar a correntetotal do circuito. Em um circuito
em série, ela é dada por Rt=R1+R2

12. ASSOCIAÇÃO EM PARALELO DE RESISTÊNCIAS


Numa associação em paralelo, cada componente é li-
gado de modo independente do outro e a corrente elétrica se
divide em caminhos diferentes para passar por todos eles. Suas
características são: Figura 22: Circuito formado por uma pilha e uma lâmpada acom-
panhado do seu esquema, onde V é a ddp nos polos da pilha, R é a
♦ Todos os ramos do circuito que estão em paralelo possuem resistência da lâmpada, é o gerador de força eletromotriz e r é a
a mesma tensão. resistência interna da lâmpada.

♦ A corrente se divide para cada resistência de forma inversa- Para entender o funcionamento da pilha, deve-se ima-
mente proporcional ao valor da resistência. ginar que ela tem uma parte que fornece energia às cargas elé-
tricas que irão circular pelo circuito. Essa parte é chamada de
“gerador de força eletromotriz” e está representada pelo símbo-
Extensivo 133

do gerador acompanhado da letra e . A força eletromotriz (fem)


é a quantidade de energia adquirida por cada unidade de carga
elétrica na pilha. Ou seja, a fem corresponde ao trabalho (Tab)
realizado para separar cada unidade de carga (q) entre os termi-
nais do gerador.

Note que a fem tem uma expressão parecida com a


ddp. A fem é dada em volts (ddp e fem são chamadas de “volta-
gens”).
Figura : 24 Gráfico de voltagem x Corrente para um gerador
O que acontece no circuito?
2. GERADOR DE FORÇA CONTRA ELETROMOTRIZ
Imagine que na pilha da figura 5.1 exista uma fem= 1,5V. Isso
quer dizer que cada 1C de carga elétrica queatravessa seus ter- Imagine que na figura 5.2 a lâmpada seja substituída
minais recebe 1,5J de energia. Porém, essaenergia não vai toda por um motor (figura 5.4.a). Parte da energia fornecida pela pi-
para o circuito. Parte dela é transformadadentro da pilha em sua lha será transformada em energia mecânica no motor, fazendo-o
resistência interna r devido o efeito Joule. O resto vai para o girar. Mas o motor também aquece, transformando parte da
circuito, onde a lâmpada (resistência R do circuito) a transfor- energia elétrica fornecida pela pilha em calor. Entende-se, por-
ma em calor e luz. Assim, a fem totalda pilha é igual addpna tanto, que há uma resistência interna (r’) no motor, a qual seria
resistência interna Vr acrescentada à ddp que vai para o circuito: responsável pelo efeito Joule. Além disso, o motor retira energia
do circuito (transforma a energia elétrica em energia cinética).
ε = V + Vr Assim, diz-se que o motor possui um gerador de força contra
eletromotriz (fcem). O circuito “pilha-motor” será representado
então como no esquema da figura 5.4.b. E a grandeza fcem ε’,
semelhante à grandeza fem ε, pode ser dada pelo trabalho reali-
zado sobre cada unidade de carga que atravessa o motor.

Onde:ε’ = força contra eletromotriz (V)



Figura 23: Distribuição das “voltagens” no circuito pilha-lâmpada

Como Vr=r .i

Encontra-se então a expressão que fornece a voltagem


(ddp) que a pilha fornece ao circuito (equação do gerador):
V = ε – r.i
A equação do gerador aponta para uma relação linear entre a Figura 25: Circuito formado por uma pilha e um motor acompa-
voltagem e a corrente que a pilha pode fornecer ao circuito (ver nhado do seu esquema. Nele, V representa a ddp nos terminais da
Figura 5.3). Se o circuito estiver aberto, isto é desligado, não pilha, Vr’ representa a ddp devido a resistência interna r’ do motor
haverá corrente elétrica. Portanto não haverá transformação e ’ indica a força contra eletromotriz do motor.
de energia no gerador. Nesse caso V = ε. Ao ligar o circuito,
quanto maior a corrente, menor a voltagem que o gerador con- Usando raciocínio análogo, tem-se que:
segue fornecer ao circuito. Se for provocado um curto circuito
na pilha, haverá uma corrente máxima passando pela resistên- V = ε’ + r.i
cia interna. Portanto, a ddp entre os seus terminais será nula.
A inclinação do gráfico (ε/icc) fornece a resistência interna do Que é a equação do gerador de fem. A corrente do circuito pode
gerador. Note que, quanto maior o valor da resistência interna, ser dada por:
maior a perda de energia no próprio gerador e menor a volta-
gem que ele consegue fornecer para o circuito. Um exemplo
prático disso são as pilhas comuns. Quando estão novas, pos-
suem resistência interna baixa e fornecem voltagem suficien-
te para o funcionamento do circuito. Porém, após muito uso,
aumenta a sua resistência interna e diminuem a voltagem for-
necida para o circuito, comprometendo seu funcionamento.
134 Da Vinci Vestibulares

Para o circuito da figura 5.4: A capacitância equivalente, analogamente ao resistor


equivalente, representa o capacitor que é capaz de substituir um
conjunto de capacitores e apresentar o mesmo resultado no cir-
cuito elétrico. No caso de uma associação em série ela é dada
por:
MÓDULO 6: CAPACITORES

1. DEFINIÇÃO

Capacitores são dispositivos constituídos por duas superfícies
condutoras (armaduras) separadas por um dielétrico (isolante).
São muito utilizados em circuitos elétricos por sua capacidade Onde: CT = Capacitância equivalente (F)
de acumular carga elétrica quando submetidos a uma determi-
nada tensão (ddp).

Figura 27: Capacitores em paralelo

Figura 26: Capacitores e seu símbolo No caso de uma associação em paralelo, a capacitância equiva-
lente pode ser dada por: CT = C1 + C2 + C3.
Denomina-se de capacitância a grandeza que mede a quantidade
de carga acumulada em um capacitor para cada unidade de ten- MÓDULOS 7 E 8: QUESTÕES DO VESTIBULAR E
são que ele é submetido: DO ENEM

C=Q 01. (PUC) Sabemos que a corrente elétrica é produzida pelo


V movimento de cargas elétricas em certos materiais e que os me-
C = Capacitância (Faraday – F) tais são conhecidos como bons condutores de corrente elétrica.
Das afirmações abaixo, apenas uma é verdadeira.
O valor de capacitância igual a 1F é muito grande, Assinale-a.
equivalente a 1 C/V. Por isso, é mais comum o uso de submúl- (A) Em um metal, a corrente elétrica é produzida pelo movi
tiplos do Faraday (os múltiplos e submúltiplos serão vistos no mento dos prótons e elétrons de seus átomos.
próximo capítulo): (B) Na passagem de corrente elétrica em um metal, os elétrons
se deslocam para a extremidade onde o potencial elétrico é me-
nor.
(C) Na passagem de corrente elétrica em um metal, os elétrons
Observações: A carga de um capacitor refere-se à carga de apenas se deslocam no mesmo sentido que os prótons.
uma de suas armaduras, pois a carga total de um capacitor é nula (D) Quando as extremidades de um fio metálico ficam sujeitas
(a carga de uma armadura positiva é igual à carga da armadura a uma diferença de potencial, os elétrons se deslocam para a ex-
negativa). tremidade onde a tensão é maior e os íons positivos, em mesmo
número, para a outra extremidade.
2. FATORES QUE INFLUENCIAM NA CAPACITÂNCIA (E) Em um metal, os elétrons são os únicos responsáveis pela
condução de eletricidade.
I. A capacitância é proporcional à área das armaduras (A).
II. A capacitância é inversamente proporcional à distância entre 02. O circuito apresenta uma célula fotoelétrica que recebe luz.
as placas (espessura do dielétrico - d) O galvanômetro G registra a corrente 1,6.10-6A.. A placa P, so-
III. A capacitância depende do tipo de dielétrico utilizado. bre a qual a luz incide, é mantida com potencial negativo.

3. ASSOCIAÇÃO DE CAPACITORES EM SÉRIE


Extensivo 135

A carga de elétron é 1,60.10-19 C. O número de elétrons que, (D)


por segundo, sai de P é igual a:

03. Uma carga elétrica move-se numa circunferência de raio


com velocidade escalar constante . A intensidade média da cor-
rente elétrica em um ponto da circunferência é:

(E)

04. (FUVEST) Estuda-se como varia a intensidade da corrente 05. (VUNESP) Um resistor de resistência está inserido entre os
que percorre um resistor, cuja resistência é constante e igual a pontos e de um circuito elétrico como mostra a figura:
Ω, em função da tensão aplicada aos seus terminais. O gráfico
que representa o resultado das medidas é:

(A)

Se as correntes que passam pelos fios 1 e 2, chegam a P, são


respectivamente, i1 e i2, a diferença de potencial entre P e Q é
(B) igual a:

(C)

06. A tabela abaixo reúne características de três condutores cor-


respondentes à corrente elétrica que eles conduzem. Para quais
desses condutores é válida a Lei de Ohm?
(A) Apenas A
(B) A e B
(C) A e C
(D) B e C
(E) Apenas C
136 Da Vinci Vestibulares

10. (UNICAMP) Sabe-se que: A intensidade da corrente elétrica


que atravessa um fio condutor é inversamente proporcional à
resistência elétrica do fio;
A resistência elétrica de um fio condutor é inversamente propor-
cional à área de sua secção reta.

Baseado nessas informações resolva os itens abaixo:


a) Como a intensidade da corrente de um fio condutor está rela-
cionada com a área da secção reta do fio?

b) Se a corrente que atravessa um fio de 1 mm de raio é de 5A,


qual será a corrente que atravessa um fio do mesmo material, de
mesmo comprimento e raio igual a 2mm, submetido a mesma
diferença de potencial?

11. (UESB) Os conceitos de trabalho e energia são importantes


tanto na Física quanto na vida cotidiana. Existem muitas formas
07. Uma tensão variável foi aplicada aos terminais de um resis- de energia, como, por exemplo, a cinética, que está associada
tor ôhmico de 20 ohms. Para cada tensão aplicada foi medida a ao movimento de um corpo, a potencial, que está associada à
corrente elétrica configuração de um sistema, como a distância de separação en-
tre dois corpos que se atraem mutuamente, e a térmica, que está
associada ao movimento aleatório das moléculas constituintes
de um sistema.
Com base nos conhecimentos de Energia, é correto afirmar:
(A) Uma pessoa sobre uma bicicleta e movendo-se em uma tra-
jetória circular, com velocidade constante, não tem nenhuma
força realizando trabalho sobre ela.
(B) Apenas a força resultante atuante sobre um corpo pode
realizar trabalho, que é numericamente igual à variação de
sua energia potencial.
(C) Se apenas forças conservativas atuarem sobre uma partícu-
la, sua energia potencial não é alterada.
(D) A força gravitacional não pode realizar trabalho, porque ela
atua a uma certa distância.
(E) O trabalho é igual à área sob a curva força versus tempo.

12. (UESB) Enquanto, há exatamente um século, não existia


O gráfico da tensão em função da corrente corresponde a uma mais do que umas poucas lâmpadas elétricas, atualmente, a hu-
das curvas no sistema de eixos. Essa curva é a: manidade está extremamente dependente da eletricidade em sua
(A) 1 vida cotidiana. Os ancestrais gregos, observando os fenômenos
(B) 2 elétricos, notaram que, atritando o âmbar, pequenos objetos
(C) 3 eram atraídos.
(D) 4 Com base nos conhecimentos sobre Eletricidade, é correto afir-
(E) 5 mar:
(A) O campo elétrico pode ser representado pelas linhas de
08. (UNICAMP) Sabe-se que a resistência elétrica de um fio campo elétrico que se originam nas cargas negativas e terminam
cilíndrico é diretamente proporcional ao seu comprimento e nas cargas positivas.
inversamente proporcional à área de sua secção reta. O que (B) Uma carga positiva livre, para mover-se em um campo elé-
acontece com a resistência do fio quando triplicamos o seu trico, acelera na direção perpendicular ao campo.
comprimento? O que acontece com a resistência do fio quando (C) O campo elétrico, no interior de um condutor, em equilíbrio
duplicamos o seu raio? eletrostático, é constante e diferente de zero.
(D) A superfície de um condutor, em equilíbrio eletrostático, é
09. (PUC) Dois fios condutores F1 e F2 têm comprimentos uma superfície equipotencial.
iguais que oferecem à passagem da corrente elétrica a mesma (E) Um dielétrico colocado entre as placas de um capacitor di-
resistência. Tendo a secção transversal de F1 área igual ao dobro minui sua capacitância.
da de F2 e chamando p1 e p2, respectivamente, os coeficientes
de resistividade de F1 e F2, a razão p1/p2 tem valor: 13. (UESB 2010.2) Uma bateria fornece uma diferença de po-
(A) 4 tencial de 16,0V aos terminais da combinação em paralelo dos
(B) 2 resistores de 3,0Ω e 6,0Ω mostrada na figura.
(C) 1
(D) 1/2
(E) 1/4
Extensivo 137

Com base nessas informações, é correto afirmar que a 17. (UERJ) Deseja-se montar um circuito composto de:
(A) resistência equivalente da associação é igual a 9Ω. ♦ Uma bateria V, para automóvel, de 120 V;
(B) intensidade da corrente elétrica total na associação é igual ♦ Duas Lâmpadas incandescentes, iguais, de lanterna, L1 e L2
a 8,0A. , inicialmente testadas e perfeitas, cuja tensão máxima de fun-
(C) potência dissipada no resistor de 3,0Ω é igual a 80,0W. cionamento é 1,5V;
(D) potência total dissipada na associação é igual a 120,0W. Um resistor R de proteção às duas lâmpadas.
(E) corrente que circula no resistor de 6,0Ω é menor que 1,5A. Durante a montagem, um dos fios rompe-se, e o circuito resul-
tante fica da seguinte forma:
14. (UEFS 2010.1) O átomo de hidrogênio tem um próton em
seu núcleo e um elétron em sua órbita. Cada uma dessas partícu-
las possui carga de módulo q=1,6.10-19 C e o elétron tem uma
massa m=9.10-31 kg. Sabendo-se que a constante eletrostática
do meio é igual a 9.109 C2 N.m2 , a órbita do elétron é circu-
lar e que a distância entre as partículas d=9.10-10 m, é correto
afirmar que a velocidade linear do elétron, em 106 m/s, é, apro-
ximadamente, igual a
(A) 0,27
(B) 0,38
(C) 0,49 Afirmação que descreve melhor o estado final das lâmpadas é:
(D) 0,53 (A) Ambas estão acesas
(E) 0,61 (B) Ambas não estão queimadas
(C) L1 está apagada e L2 está acesa
15. No esquema da figura abaixo, temos que R1= 3Ω e (D) L1 está queimada e L2 está apagada
R2=R3=R4=R5=R6=R (em Ω).
18. (UNIRIO)

No circuito acima temos três lâmpadas em paralelo. Sabendo-se


Qual a resistência equivalente entre A e B? que a corrente elétrica na lâmpada R2 é igual a 1,0 A , determi-
ne:
16. Considerando o esquema abaixo e os valores neles indica- a) A resistência equivalente;
dos, o valor absoluto da diferença de potencial entre os pontos
X e Y, em volts, é igual a: b) A tensão entre os pontos AB;

c) O que ocorre com o brilho das outras lâmpadas, se R2 for


retirada. Justifique sua resposta.

19. (UEFS 2010.1) Duas esferas condutoras, isoladas e em equi-


líbrio eletrostático, tem cargas Q1=4,0 μC e Q2=-2,0 μC e raios
R1=4,0cm e R2=5,0cm . Sabendo-se que as esferas são postas
em contato através de um fio condutor, é correto afirmar que o
potencial de equilíbrio, em 105 V, é igual a
(A)1,0
(B) 1,5
(C) 2,0
(D) 2,5
(E) 3,0

20. (UEFS 2010.1) Dois capacitores C1 e C2 de capacitâncias


respectivamente iguais a 6 μF e 4 μF, são ligados em paralelo
(A) 10 e submetidos a uma diferença de potencial de 6,0 V. Nessas con-
(B) 20 dições, é correto afirmar que a energia potencial armazenada no
(C) 50 sistema, em 10-4 J, é igual a
(D) 90 (A)2,0
(E) 150 (B) 1,8
(C) 1,6
(D) 1,4
(E) 1,2
138 Da Vinci Vestibulares

21. (UEFS) Em uma árvore de Natal, trinta pequenas lâmpadas As figuras acima apresentam dados referentes aos consumos
de resistência elétrica 2,0Ω, cada uma, são associadas, em série. de energia elétrica e de água relativos a cinco máquinas in-
Essas lâmpadas fazem parte da instalação de uma casa, estando dustriais de lavar roupa comercializadas no Brasil. A máquina
associadas, em paralelo, com um chuveiro elétrico de resistên- ideal, quanto a rendimento econômico e ambiental, é aquela que
cia 20,0Ω e um ferro elétrico de resistência de 60,0Ω. gasta, simultaneamente, menos energia e água. Com base nessas
Considerando-se que a ddp, nessa rede domiciliar, é de 120,0V, informações, conclui-se que, no conjunto pesquisado,
é correto afirmar que a (A) quanto mais uma máquina de lavar roupa economiza água,
(A) resistência elétrica da associação das lâmpadas de Natal é mais ela consome energia elétrica.
50,0Ω. (B) a quantidade de energia elétrica consumida por uma máqui-
(B) resistência elétrica correspondente a todos os elementos ci- na de lavar roupa é inversamente proporcional à quantidade de
tados é igual a 15,0Ω. água consumida por ela.
(C) corrente em cada lâmpada da árvore de Natal tem intensi- (C) a máquina I é ideal, de acordo com a definição apresentada.
dade igual a 1,5A. (D) a máquina que menos consome energia elétrica não é a que
(D) potência total dissipada na associação descrita é 1,2kW. consome menos água.
(E) potência dissipada pelo chuveiro elétrico é igual a 7,2kW. (E) a máquina que mais consome energia elétrica não é a que
consome mais água.
22 (UEFS) O gerador elétrico é um dispositivo que fornece
energia às cargas elétricas elementares, para que essas se man- 25. (UESC) Considere que uma lâmpada de filamento, de re-
tenham circulando. Considerando-se um gerador elétrico que sistência elétrica igual a 10,0Ω, é ligada a uma tensão contínua
possui fem = 40,0V e resistência interna r=5,0Ω, é correto afir- de 100,0V. Sabendo-se que 5% da potência elétrica dissipada é
mar que convertida em radiação luminosa, pode-se afirmar que a inten-
(A) a intensidade da corrente elétrica de curto circuito é igual sidade luminosa a 10,0m da lâmpada é igual, em 10-1 W/m2, a
a 10,0A. (A) 0,82 π-1
(B) a leitura de um voltímetro ideal ligado entre os terminais do (B) 1,25 π-1
gerador é igual a 35,0V. (C) 5,60 π-1
(C) a tensão nos seus terminais, quando atravessado por uma (D) 1,05 π-1
corrente elétrica de intensidade i = 2,0A, é U = 20,0V. (E) 2,50 π-1
(D) a intensidade da corrente elétrica que o atravessa é de 5,6A,
quando a tensão em seus terminais é de 12,0V. 26. (UESC)
(E) ele apresenta um rendimento de 45%, quando atravessado
por uma corrente elétrica de intensidade i = 3,0A.

23. (UEFS) Quatro esferas condutoras iguais têm, respecti-


vamente, cargas elétricas Y, Q, e 2Q. Colocando-se todas em
contato e, depois, separando-as, cada uma ficou com uma carga
elétrica igual a 5Q/4. Sabendo-se que as esferas trocaram cargas
elétricas apenas entre si, é correto afirmar que a carga elétrica
Y, da primeira carga elétrica, era igual a
(A) Q/2
(B) Q
(C) 3Q/2
(D) 2Q Considere um circuito elétrico constituído por duas baterias de
(E) 5Q/2 forças eletromotrizes 1=20,0V e 2 =8,0V e de resistências in-
ternas iguais a 1,0Ω, um resistor de resistência elétrica igual a
24. (ENEM) 10,0Ω, um amperímetro ideal A e um voltímetro ideal V.
Nessas condições, as leituras no amperímetro e no voltímetro
são, respectivamente, iguais a
(A) 2,4A e 28,0V
(B) 2,0A e 18,0V
(C) 1,2A e 20,0V
(D) 1,0A e 19,0V
(E) 0,8A e 8,0V

27. (UESC) Um motor elétrico tem resistência interna igual a


5,0Ω e está ligado a uma tomada de 200,0 V. Sabendo-se que
recebe uma potência de 2000,0 W, a força contraeletromotriz do
motor é igual, em V, a
01) 150
02) 140
03) 130
04) 120
05) 110
Extensivo 139

28. (UESC)

O voltímetro indica 12V. Calcule a indicação do am-


perímetro. A seguir, os resistores (1) e (2) são ligados a outro
gerador, como ilustra o esquema abaixo, no qual o voltímetro e
A figura representa um circuito elétrico. o amperímetro são ideais.
Sabendo-se que I1= 1,0A e I2= 6,0A, marque com V as afirma-
tivas verdadeiras e com F, as falsas.
( ) A resistência R é igual a 4Ω.
( ) A força eletromotriz é igual a 14V.
( ) A corrente que atravessa a resistência R é igual a 5,0A.
A alternativa que indica a sequência correta, de cima para bai-
xo, é a
(A) F V V
(B) V V F
(C) V VV
(D) V F V
(E) F V F
O voltímetro indica 20V. Calcule a indicação do amperímetro
29. Em uma residência, estão ligados um ferro elétrico de
400,0W, três lâmpadas de 60,0W e uma geladeira que consome 31. (ENEM) Os motores elétricos são dispositivos com diversas
300,0W. Sabendo-se que a ddp na rede elétrica é de 110,0V, a aplicações, dentre elas, destacam-se aquelas que proporcionam
corrente total que está sendo fornecida nessa residência, em A, conforto e praticidade para as pessoas.
é igual a: (observação, essa questão foi anulada porque todas as É inegável a preferência pelo uso de elevadores quando o ob-
opções estão erradas) jetivo é transporte de pessoas pelos andares de prédios eleva-
(A) 9,2 dos. Nesse caso, um dimensionamento preciso da potência dos
(B) 8,8 motores utilizados nos elevadores é muito importante e deve
(C) 7,4 levar em consideração fatores como economia de energia e se-
(D) 6,9 gurança.
(E) 6,2 Considere que um elevador de 800Kg, quando lotado
com oito pessoas ou 600Kg, precisa ser projetado. Para tanto,
30. (UFRJ) O gráfico a seguir representa as características ten- alguns parâmetros deverão ser dimensionados. O motor será li-
são-corrente de dois resistores (1) e (2). gado à rede elétrica que fornece 220 volts de tensão. O elevador
deve subir 10 andares, em torno de 30 metros, a uma velocidade
constante de 4 metros por segundo. Para fazer uma estimativa
simples da potência necessária e da corrente que deve ser forne-
cida ao motor do elevador para ele operar com lotação máxima,
considere que a tensão seja contínua, que a aceleração da gra-
vidade vale 10m/s2 e que o atrito pode ser desprezado. Nesse
caso, para um elevador lotado, a potência média de saída do mo-
tor do elevador e a corrente elétrica máxima que passa no motor
serão respectivamente de
(A) 24 kW e 109 A.
(B) 32 kW e 145 A.
(C) 56 kW e 255 A.
(D) 180 kW e 818 A.
(E) 240 KW e 1090 A.
Inicialmente, os resistores (1) e (2) são ligados a um
gerador, como ilustra o esquema a seguir, no qual o voltímetro 32. (ENEM-2009) A instalação elétrica de uma casa envolve
e o amperímetro são ideais. várias etapas, desde a alocação dos dispositivos, instrumentos
e aparelhos elétricos, até a escolha dos materiais que a com-
põem, passando pelo dimensionamento da potência requerida,
da fiação necessária, dos eletrodutos*, entre outras. Para cada
aparelho elétrico existe um valor de potência associado. Valores
140 Da Vinci Vestibulares

típicos de potências para alguns aparelhos elétricos são apre- acendem com o mesmo brilho por apresentarem igual valor de
sentados no quadro seguinte: corrente fluindo nelas, sob as quais devem se posicionar os três
atores?

(A) L1, L2 e L3.


(B) L2, L3 e L4.
(C) L2, L5 e L7.
(D) L4, L5 e L6.
(E) L4, L7 e L8.

34. (ENEM) Todo carro possui uma caixa de fusível que são
utilizados para proteção dos circuitos elétricos. Os fusíveis são
constituídos de um material de baixo ponto de fusão, como o
*Eletrodutos são condutos por onde passa a fiação de uma ins- estanho, por exemplo, e se fundem quando percorridos por uma
talação elétrica, com a finalidade de protegê-la. corrente elétrica igual ou maior do que aquela que são capazes
A escolha das lâmpadas é essencial para obtenção de uma boa de suportar. O quadro a seguir mostra uma série de fusíveis e os
iluminação. A potência da lâmpada deverá estar de acordo com valores de corrente por eles suportados.
o tamanho do cômodo a ser iluminado. O quadro a seguir mos-
tra a relação entre as áreas dos cômodos (em m2) e as potências
das lâmpadas (em W), e foi utilizado como referência para o
primeiro pavimento de uma residência.

Um farol usa uma das lâmpadas de gás hidrogênio de 55w de


potência que opera com 36v. Os dois faróis são ligados sepa-
radamente, com um fusível para cada um, mas, após um mau
funcionamento, o motorista passou a conectálos em paralelo,
usando apenas um fusível. Dessa forma, admitindo-se que a fia-
ção suporte a carga dos dois faróis, o menor valor de fusível
adequado para proteção desse novo circuito é o
(A) Azul
(B) Preto
(C) Laranja
(D) Amarelo
(E) Vermelho

35. (ENEM) A energia elétrica consumida nas residências é


medida, em quilowatt-hora,por meio de um relógio medidor
de consumo. Nesse relógio, da direita para a esquerda, tem-se
o ponteiro da unidade, da dezena, da centena, e do milhar. Se
Obs.: Para efeitos dos cálculos das áreas, as paredes são um ponteiro estiver entre dois números, considera-se o último
desconsideradas. Considerando a planta baixa fornecida, com número ultrapassado pelo ponteiro. Suponha que as medidas
todos os aparelhos em funcionamento, a potência total, em wat- indicadas nos esquemas seguintes tenham sido feitas em uma
ts, será de cidade em que o preço do quilowatt-hora fosse de R$ 0,20.
(A) 4.070.
(B) 4.270.
(C) 4.320.
(D) 4.390.
(E) 4.470.

33. (ENEM) Considere a seguinte situação hipotética: ao pre-


parar o palco para a apresentação de uma peça de teatro, o ilu-
minador deveria colocar três atores sob luzes que tinham igual
brilho e os demais, sob luzes de menor brilho. O iluminador
determinou, então, aos técnicos, que instalassem no palco oito
lâmpadas incandescentes com a mesma especificação (L1 a
L8), interligadas em um circuito com uma bateria, conforme
mostra a figura. Nessa situação, quais são as três lâmpadas que
Extensivo 141

O valor a ser pago pelo consumo de energia elétrica registrado (D)


seria de
(A) R$ 41,80
(B) R$42,00
(C) R$43,00
(D) R$43,80
(E) R$44,00

36. (ENEM) Observe a tabela seguinte. Ela traz especificações


técnicas constantes no manual de instruções fornecido pelo fa- (E)
bricante de uma torneira elétrica.

38. (FUVEST) Quatro lâmpadas idênticas L, de 110V, devem


er ligadas a uma fonte de 220V a fim de produzir, sem queimar,
a maior claridade possível. Qual a ligação mais adequada?

(A)
Considerando que o modelo de maior potência da versão 220v
da torneira suprema foi indevidamente conectada a uma rede
com tensão nominal de 127V, e que o aparelho está configurado
para trabalhar em sua máxima potência. Qual o valor aproxima-
do da potência ao ligar a torneira?
(A) 1.830W.
(B) 2.800W.
(C) 3.200W.
(D) 4.030W.
(E) 5.500W.
(B)
37. (UFF) Um pequeno motor M conectado a uma bateria deve
ser protegido por um fusível F. A tensão aplicada ao motor deve
ser medida por um Voltímetro V. A figura que melhor ilustra a
ligação correta desses elementos é:

(A)
(C)

(D)
(B)

(C)
(E)
142 Da Vinci Vestibulares

39. A figura abaixo representa, em (I), uma associação de 3 re- (D) 10A
sistores iguais, R, ligados a uma tensão V, percorrida por uma (E) 24A
corrente elétrica Is·. Em (II) estão representados os mesmos re-
sistores numa associação em paralelo, ligada à mesma tensão V, 42. Dois elementos de circuito, um ôhmico e o outro não, têm
percorrida pela corrente ip. suas curvas tensão X corrente mostradas abaixo. Eles são liga-
dos em série com uma bateria ideal, de força eletromotriz igual
a 9,0Volts.

Pode-se afirmar que é válida a relação:

Nessas condições, a intensidade da corrente que atravessa o cir-


cuito, em mA, e a ddp, em V, nos terminais do elemento não
ôhmico, em V, valem, respectivamente:
(A) 1,0 e 3,0
(B) 1,0 e 6,0
(C) 2,0 e 3,0
(D) 3,0 e 3,0
(E) 3,0 e 6,0

43. Uma estudante que ingressou na universidade e, pela pri-


meira vez, está morando longe da sua família, recebe a sua pri-
meira conta de luz:

40. (PUC) No circuito abaixo,

Se essa estudante comprar um secador de cabelos que consome


1000 W de potência e considerando que ela e suas 3 amigas uti-
lizem esse aparelho por 15 minutos cada uma durante 20 dias no
(A) M1 e M2 são amperímetros mês, o acréscimo em reais na sua conta mensal será de
(B) M1 e M2 são voltímetros (A) R$ 10,00
(C) M1 é amperímetro M2 é voltímetro (B) R$ 12,50
(D) M1 é voltímetro M2 á amperímetro (C) R$ 13,00
(E) M1 é ohmímetro M2 á amperímetro (D) R$ 13,50
(E) R$ 14,00
41. Um eletricista instalou numa casa, com tensão de , 10
lâmpadas iguais. Terminando o serviço verificou que havia se 44. (ENEM) Duas irmãs que dividem o mesmo quarto de es-
enganado, colocando todas as lâmpadas em série. Ao medir tudos combinaram de comprar duas caixas com tampas para
a corrente no circuito encontrou 5,0.10-2 A. Corrigindo o erro, guardarem seus pertences dentro de suas caixas, evitando, as-
ele colocou todas as lâmpadas em paralelo. Suponha que as sim, a bagunça sobre a mesa de estudos. Uma delas comprou a
resistências das lâmpadas na variam com a corrente. Após a metálica, e a outra, uma caixa de madeira de área e espessura
modificação ele mediu, para todas as lâmpadas acesas, uma lateral diferentes, para facilitar a identificação. Um dia ad me-
corrente total de: ninas foram estudar para a prova de Física e, ao se acomodarem
(A) 5,0A na mesa de estudos, guardaram seus celulares ligados dentro
(B) 100A de suas caixas. Ao longo desse dia, uma delas recebeu ligações
(C) 12A telefônicas, enquanto os amigos da outra tentavam ligar e rece-
Extensivo 143

biam a mensagem de que o celular estava fora da área de cober-


tura ou desligado. Para explicar esta situação, um físico deveria
afirmar que o material da caixa, cujo telefone celular não rece-
beu as ligações é de
(A) Madeira, e o telefone não funcionava porque a madeira é
um bom condutor de eletricidade.
(B) Metal, e o telefone não funcionava devido à blindagem ele-
trostática que o metal proporcionava
(C) Metal, e o telefone não funcionava porque o metal refletia
todo tipo de radiação que nele incidia.
(D) Metal, e o telefone não funcionava porque a área lateral da
caixa de metal era maior.
(E) Madeira, e o telefone não funcionava porque a espessura
desta caixa era maior que a espessura da caixa de metal.

45. O governo federal tem uma série de leis e projetos para pro-
teger o consumidor. Dentro desse contexto, apresente o papel
do selo PROCEL.
(A) Seu papel é indicar ao consumidor a durabilidade de um
aparelho frente as condições adversas de temperatura.
(B) Permitir que o consumidor tenha informações detalhes para
economizar em sua conta de luz.
(C) Promover a livre circulação de produtos importados, facili-
tando o crescimento do comércio.
(D) Informar aos consumidores sobre a presença de substância
tóxicas na composição dos aparelhos.
(E) Indicar o procedimento correto para a reciclagem do apare-
lho quando este parar de funcionar corretamente e for descar-
tado.

GABARITO:
144 Da Vinci Vestibulares
Extensivo 145

biologia
146 Da Vinci Vestibulares

MÓDULOS 1 E 2 - BOTÂNICA: INTRODUÇÃO por meiose, voltando ao início do ciclo (figura1).

As plantas são organismos eucariontes, fotossinteti-


zantes (autótrofos), multicelulares e com diferenciação de te-
cidos. O ramo da biologia que estuda as plantas é a Botânica.
A história da evolução das plantas na conquista do am-
biente terrestre tem com ancestral as algas verdes (clorofíceas).
Por mais de 500 milhões de anos as algas ficaram limitadas a
água, devido ao processo de reprodução ser dependente dela.
Para ganhar o ambiente terrestre muitas estruturas foram pro-
videnciada para evitar a dessecação e a exposição a radiação
ultravioleta, tais como a presença de celulose e a presença de
clorofila a como pigmento fotossintetizante, clorofila b e ca-
rotenóides como pigmentos acessórios. Ao ocuparem o meio
terrestre, os vegetais sofreram muitas adaptações morfológicas
necessárias à sua sobrevivência, a saber:
* Cutícula, relativamente impermeável, nas super fícies exter- Figura 1: Ciclo de vida das plantas com alternância de gerações (haplóide e
nas para evitar a perda excessiva de água; diplóide).
* Presença de estômatos, que são células epidérmicas modifi-
cadas, responsáveis por manter as trocas gasosas (CO2; H2O e Apesar das plantas apresentarem um ciclo haplodi-
O2) entre o interior da planta e o ambiente. plobionte, a geração haplóide é responsável pela maior par te
* Domínio da fase diplóide sobre a haplóide, dependente de do ciclo de vida em musgos, ao contrário do que ocorre com
água. as gimnospermas e angiospermas. Nos musgos, hepáticas e sa-
* Estrutura de suporte, os tecidos vasculares (xilema e mambaias, o gametófito é o que se vê a olho nu, sendo res-
floema), que permitiriam o crescimento ver tical das plantas no ponsável pela fotossíntese. Na maioria das plantas vasculares
ambiente terrestre, resultando hoje nas árvores. os gametófitos são muito menores que o esporófito. Em plantas
* Presença de sementes. Este fato foi responsável pela adapta- com sementes, os gametófitos são dependentes dos esporófitos,
ção da prole ao ambiente terrestre, uma vez que seu embrião ou seja, quando observamos uma gimnosperma ou angiosperma
fica dentro de um meio desidratado rico em alimento e envol- o que vemos é um
vido por um revestimento protetor, ficando inativo até que as esporófito, responsável pela nutrição ( fotossíntese e absorção
condições do meio sejam favoráveis a germinação. de água e nutrientes) do gametófito.
No final do século XIX, as plantas foram divididas em
dois grandes grupos: criptógamas e fanerógamas. O termo Crip- BRIÓFITAS
tógamas (do grego kryptos = escondido e gamos = gametas)
significa “órgãos reprodutivos escondidos”. Já o termo faneró-
Existem cerca de 24.700 briófitas, sendo o grupo
gamo (do grego phaneros = visível e gamos = gametas) significa
composto por organismos bem simples. Não possui vasos
“órgãos reprodutivos evidentes”.
condutores, o que limita o seu porte, que é bastante pequeno
As plantas Fanerógamas são também conhecidas como Esper-
e não ultrapassa 7cm de altura. Os gametófitos são mais evi-
matófitas (do grego sperma = sementes e phyton = planta) que
dentes que os esporófitos e em algumas vezes apresentam a cor
significa plantas com sementes, que são divididas em dois gru-
acastanhada ou cor de palha na maturidade (detalhe da figura 2).
pos: Gimnospermas, plantas de sementes nuas e desprovidas de
Esses organismos são encontrados em meio aquático
frutos e Angiospermas que são plantas que as sementes estão
doce e terrestre úmido, sendo abundantes nas regiões
contidas (protegidas) dentro dos frutos.
tropicais e temperadas. Assim como as algas, o corpo das
As plantas são também classificadas conforme a presença de
briófitas é um talo, mas com duas diferenças básicas:
vasos condutores de seiva, sendo denominadas de avasculares,
Nas briófitas os talos apresentam tecidos simples e organizados,
isto é, sem vasos condutores, como é o caso das briófitas e as
mas com a ausência do tecido condutor;
vasculares, que apresentam os vasos condutores.
Suas células apresentam muitos cloroplastos, enquanto
que nas algas geralmente existe um por célula.
AS PLANTAS E OS CICLOS DE VIDA As briófitas são classificadas em três divisões: 1) as hepáticas
(divisão Hepatophyta); 2) antóceros (divisão Anthoceroto-
O ciclo de vida das plantas inicia com o esporófito di- phyta) e musgos (divisão Bryophyta) – no entanto todas são
plóide que sofre meiose para produzir esporos haplóides (fique vulgarmente chamadas de briófitas. Estes vegetais não possuem
atento que não são gametas!). A meiose ocorreu anteriormen- raízes, caule e folhas verdadeiras, mas apresentam estruturas
te nas estruturas denominadas de esporângios, onde as células morfologicamente semelhantes à raiz (rizóides) que consiste de
mãe-de-esporos (diplóide) após sofrem sucessivas divisões pro- várias células que absorvem a água por osmose, as folhas (filói-
duziram cada uma quatro esporos haplóides. Os esporos divi- des) que apesar aparência super ficial verde e a lâmina achatada
dem-se por mitose, produzindo um gametófito, haplóide multi- esses filóides têm pouco em comum com as folhas verdadeiras,
celular. Nessa fase conhecida como gametofítica são produzidos pois não apresentam feixe vascular ou estômatos, sendo forma-
gametas haplóides por mitose que fundem-se formando o zigoto das por células haplóides. Por fim, temos o caule denominado
e posteriormente o embrião (diplóide). Este transforma-se em de caulóide (detalhe figura 2). A reprodução
esporófito haplóide, produzindo o esporângio, também haplóide
Extensivo 147

das briófitas apresenta alteração de gerações. Na fase inicial: permitiu que elas se mantivessem eretas e possibilitou o apare-
sexuada – GAMETOFÍTICA- ocorre à formação dos gametas. cimento de espécies com porte arbustivo. A existência de vasos
Esta fase é permanente ou duradora, que é sucedida por uma (xilema e floema) possibilitou também o transpor te mais efi-
fase assexuada – ESPOROFÍTICA- ocorre a formação de espo- ciente de água e sais minerais até as folhas, e de seiva elaborada
ros. Esta é a fase transitória. das folhas para as demais partes da planta.
Nas samambaias, o esporófito apresenta um caule ho-
Ciclo reprodutivo das briófitas rizontal, denominado de rizomas, cujas raízes emergem aos
lados. As folhas geralmente se desenvolvem na ponta dos rizo-
O ciclo reprodutivo das briófitas inicia com duas mas, sendo enroladas quando jovens. A maioria das samambaias
briófitas adultas que apresentam a capacidade de produzir são homosporadas, ou seja, produzem distintos esporângios,
gametas, por isso são chamadas de gametófitos. Existe um ga- geralmente aglomerados e denominados de soros, encontrados
metófito masculino e outro feminino. No ápice do gametófito normalmente na face adaxial das folhas. Os soros muitas vezes
masculino encontra-se o anterídio, uma estrutura durante o seu desenvolvimento são protegidos por uma película
responsável por formar os gametas masculinos, denominados transparente, que a princípio pode ser confundido com um in-
de anterozóides. No momento que o anterídio está maduro ele fecção na planta.
se rompe e libera os anterozóides (haplóides), que são biflage-
lados e se deslocam em meio aquoso na direção do gameta fe- Ciclo reprodutivo das pteridófitas
minino, a oosfera.
No ápice do gametófito feminino encontra-se uma O ciclo reprodutivo das pteridófitas começa com um
estrutura responsável pela formação dos gametas feminino, adulto que apresenta raiz, caule (rizoma) e folha. Essa pteridófi-
que é o arquegônio. Esse arquegônio produz uma substância ta adulta produz esporos por meiose em uma estrutura chamada
química que atrai os anterozóides para a oosfera (que é haplói- de esporângio. Quando os esporângios sofrem a ruptura liberam
de). Esse processo é denominado de Quimiotactismo positivo. os esporos que caem no solo úmido e germinam. Cada esporo
Quando ocorre a fusão do anterozóide com a oosfera, forma- germinado dá origem a uma lâmina verde em forma de folha,
rá uma célula ovo ou ZIGOTO (2n), que dividi-se por mitose que é o PROTALO. O protalo irá formar gametas, por tanto, é
e desenvolve-se o ESPORÓFITO que apresenta em seu ápice denominado de gametófito.
uma cápsula, que por meiose formar os esporos. Na fase inferior do protalo encontra-se o anterídio, que
Quando o esporângio está maduro, rompe o opérculo é a estrutura responsável pela formação do gameta masculino,
e libera os esporos, que caindo no solo úmido germina, forman- o anterozóide. Na região mais acima do anterídio encontra-se
do filamento verde, o PROTONEMA, que se desenvolve dando o arquegônio, que é a estrutura responsável por formar o gameta
origem a um novo gametófito (Figura. 2). feminino, a oosfera.
Quando ocorre a fusão do anterozóide com
a oosfera forma o zigoto (2n), que originará o espo-
rófito, que desenvolve retirando os nutrientes do solo.
Com isso, a medida que o esporófito se desenvolve o
protalo regride progressivamente e desaparece fican-
do apenas um novo esporófito adulto (figura 3).
Observe no ciclo de vida que tanto o gametófito quan-
to o esporófito são fotossintética ativa e podem viver
de forma independente. A água é necessária a fer tili-
zação, pois os gametas são liberados na par te inferior
do gametófito e nadam no solo úmido para os game-
tófitos vizinhos.

Figura 2. Ciclo reprodutivo das briófitas, no detalhe o musgo do gênero Polytri-


chum (As “folhas” per tencem ao gametófito. As hastes marrom-amarelada e a
cápsula juntos formam o esporófito, enquanto apenas a cápsula é o esporângio).

PTERIDÓFITAS

As pteridófitas foram às primeiras plantas vasculares,


sendo a maioria representada pelas samambaias, com cerca de
12.000 espécies vivas. O registro fóssil indica que elas se ori-
ginaram durante o período Devoniano, cerca de 350 milhões de
anos atrás e tornou-se abundante e variada no período Carboní-
fero até o presente momento. Segundo Raven, no seu livro de
Biologia Vegetal, há cerca de 11.000 espécies de samambaias Figura 3. Ciclo de vida da pteridófita.
atuais, sendo o mais diverso grupo depois das angiospermas.
Isso ocorre devido à presença de tecidos de sustentação que
148 Da Vinci Vestibulares

EXERCÍCIOS ESSENCIAIS: dominante a fase gametofítica (produtora de gametas).


Soma ( )
01. (UFPR) Nas Briófitas, como os musgos e as hepáticas, a
fase duradoura é o: EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:

(A) esporófito. 6. Se o gametófito de uma briófita como um musgo possui um


(B) gametófito. número X de cromossomos, quantos cromossomos possuirão as
(C) arquegônio. seguintes estruturas, respectivamente:
(D) anterídio.
(E) caliptra. (A) esporófito
(B) esporo
02. Vegetais terrestres de pequeno porte, avasculares que não (C) protonema
produzem flores ou sementes e vivem na dependência de som- (D) rizóides
bra e umidade podem ser
7. (FATEC-SP) Nos musgos, uma divisão meiótica originará
(A) grama
(B) musgos (A) anterozóides.
(C) selaginelas (B) esporos.
(D) samambaias (C) oosferas.
(E) avencas (D) óvulos.
(E) zigotos.
03. (UFRJ) No ciclo vital das briófitas como os musgos e as
hepáticas são consideradas as seguintes etapas: 8. Ao falamos em gametófitos estamos nos referindo a

I - produção de esporos; (A) uma bela samambaia de metro.


II - fecundação; (B) uma plantinha de musgo.
III - produção de gametas; (C) um cogumelo comestível.
IV - esporófito; (D) um grupo de líquens que cobrem árvores.
V - protonema. (E) uma alga microscópica.

A seqüência correta em que essas etapas ocorrem é 9. (UFPE) Considere as seguintes características:
I - presença de tecidos de condução
(A) II, V, IV, I e III. II - nítida alternância de gerações
(B) II, III, I, IV e V. III - ocorrência de meiose espórica
(C) III, II, IV, I e V.
(D) V, III, IV, I e II. Um musgo (briófita) e uma samambaia (pteridófita) apresentam
(E) III, IV, I, II e V. em comum:

4. (UNB) Os musgos que crescem nos muros úmidos são (A) I e II


(B) I, II e III
a) gametófitos de briófitas. (C) I e III
b) gametófitos de pteridófitas. (D) II e III
c) esporófitos de briófitas. (E) nenhum dos itens
d) esporófitos de pteridófitas.
e) esporófitos de gimnospermas. 10. (UFC) Na maioria dos sistemas de classificação, o reino das
plantas é dividido em dois filos denominados Briófitas e Tra-
5. (UFSC) As BRIÓFITAS, que formam verdadeiros tapetes queófitas. O filo das briófitas caracteriza-se por:
verdes, promovem a retenção da água das chuvas e, como con-
seqüência, evitam a erosão dos solos. Algumas são bastante uti- (A) Apresentar vaso condutor de seiva e não apresentar semen-
lizadas na horticultura como fonte de nutrientes para as plantas tes.
e para melhorar a capacidade de retenção de água pelo solo. (B) Não apresentar vaso condutor de seiva e apresentar semente.
Por serem muito sensíveis aos resíduos tóxicos, são excelentes (C) Apresentar raiz, caule, folha e semente.
indicadores de poluição ambiental. A respeito das Briófitas é (D) Apresentar raiz, caule, folha e não apresentar semente.
verdadeiro afirmar que: (E) Não apresentar vaso condutor de seiva e não apresentar se-
mentes
01. a ausência de tecido especializado para o transporte de sei-
vas, explica, pelo menos em parte, o seu pequeno porte;
02. independem da água para a reprodução;
04. são classificadas como FANERÓGAMAS, por possuírem
órgãos reprodutores bem visíveis (as flores);
08. vivem preferencialmente em locais secos e ensolarados;
16. a reprodução ocorre por alternância de gerações, sendo pre-
Extensivo 149

11. (FUVEST) Com relação à conquista do meio terrestre, al-


guns autores dizem que as briófitas são os anfíbios do mundo
vegetal. Justifique essa analogia.

12. (FUVEST) Num filme ficção científica havia musgos gigan-


tes, do tamanho de coqueiros. Qual sistema, ausente nos musgos
reais, deveria estar presente nos gigantes para que eles atingis-
sem tam tamanho? Por que?

13. (UMC-SP) Comparando os esporófitos de um musgo e de


uma samambaia, quais as diferenças que você pode assinalar?

14. (UFMG) Observe as figuras A, B, e C, referentes a grupos


vegetais nos quais algumas estruturas foram indicadas por nú-
meros.
Com base nessa análise e supondo-se que os esporos produzidos
por essa espécie apresentem seis cromossomos, os números de
cromossomos presentes em 1, 2 e 3 são, respectivamente,
(A) 24, 12 e 12
(B) 12, 6 e 6
(C) 6, 12 e 12
(D) 12, 12 e 6

Com relação as figuras cite o que se pede.

a) Cite as funções das estruturas um e dois.


Cite a(s) figura(s) que correspondem à fase esporofítica

b) Cite o(s) grupo(s) que apresenta(m), durante o seu desen-


volvimento, a estrutura apontada pela seta 8 na figura D. Cite
o número de cromossomos da estrutura indicada pela seta 8,
considerando-se que a espécie apresenta 2n=60.
O tipo de reprodução que origina a estrutura indicada pela seta
8.

c) Cite a função das estruturas indicadas por três.

Cite a principal condição ambiental que favorece a proliferação


dos grupos A e B em um jardim.

15. (UFVJM-JULHO/2007) Analise a ilustração abaixo. Trata-


-se de três estruturas (1, 2 e 3) presentes no ciclo reprodutivo
de dois indivíduos adultos, de sexos diferentes, de uma espécie
de musgo.
150 Da Vinci Vestibulares

com folhas pequenas e escamiformes, habitando regiões áridas


AULAS 3 E 4: AS GIMNOSPERMAS E e semi-áridas do mundo. O último gênero, Welwitschia apresen-
ANGIOSPERMAS ta as espécies mais estranhas, pois ficam enterradas nos solos
arenosos, deixando apenas exposta na superfície um disco ma-
A conquista definitiva do ambiente terrestre pelas plan- ciço e lenhoso de onde parte duas folhas com forma de fita que
tas ocorreu quando elementos que permitiram a independência se prolonga pelo chão com o passar dos anos (Figura 4b).
da água para a reprodução, isso devido ao surgimento dos grãos Apesar da relação existente entre os gêneros do filo
de pólen, dos óvulos e das sementes. Gnetophyta eles diferem entre si pelas suas características,
As primeiras traqueófitas (plantas dotadas sistemas como supracitada. No entanto, esses gêneros apresentam muitas
vasculares, com tecidos condutores especializados: xilema e característica semelhantes as angiospermas, tais como: simi-
floema, que asseguram a circulação interna de água, nutrien- laridades dos estróbilos com as inflorescências das angiosper-
tes e produtos do metabolismo fotossintético) que apresentaram mas, presença de elementos de vaso análogos aos do xilema e
essa condição foram as Gimnospermas. Há quatro divisões das ausência de arquegônio em Gnetum e Welwitschia. Embora as
Gimnospermas com representantes atuais: Cycadophyta (ci- semelhanças com angiospermas, estudos recentes, afirmam que
cadáceas), Ginkgophyta, (ginkgo) Coniferophyta (coníferas) e nesses grupos as características derivaram de maneira indepen-
Gentophyta (gentófitas). O nome Gimnosperma significa “se- dente ao longo do processo evolutivo.
mente nua”. Essa é uma das principais características das plan-
tas pertencentes a essas quatro divisões.
A mais conhecida das gimnospermas são os pinheiros
do gênero Pinus que estão amplamente distribuídos pela Amé-
rica do Norte, Ásia e todo o hemisfério Sul. Segundo Raven
(2007) há cerca de 90 espécies de Pinus entre as coníferas atu-
ais que apresentam um arranjo foliar único, cuja forma é muito
semelhante à agulhas. Esse formato das folhas de Pinus assim
como de outras coníferas são adaptações para crescer em con- Figura 4. Encephalartos transvenosus, uma Cycadophyta africana (A); We-
dições de estresse hídrico, devido ao solo congelado na maior lwitschia mirabilis, uma espécie dos três gêneros da Gnetophyta (B); Ginkgo
biloba, o único exemplar vivo que representa o filo Ginkgophyta (C). Imagens
parte do ano. As folhas e outras par tes do esporófito têm canais retiradas do livro Biologia Vegetal, Raven (2007).
em que em torno das células são secretadas resinas que impe-
dem a perda de água, ataque de insetos e fungos.
No Brasil, as Matas de Araucárias, comuns nas regiões CICLO REPRODUTIVO DAS GIMNOSPERMAS
mais frias do Brasil, como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul, apresentam uma das mais valiosas espécies da família Nas Gimnospermas, os elementos relacionados à re-
Araucariaceae, pois até recentemente eram conhecidos apenas produção sexuada (grãos de pólen e óvulos) encontram-se em
dois gêneros sobreviventes da família – Agathis e Araucaria, estruturas denominadas de estróbilos. Há os estróbilos femi-
sendo a exemplar brasileira conhecida como de pinheiro-do-pa- ninos que abrigam os óvulos e os estróbilos masculinos onde
raná (Araucaria angustifolia). Nos Estados Unidos a espécie de desenvolvem os grãos de pólen. Os esporos femininos são de-
conífera que chama atenção pela altura, recebendo o título de nominados de megásporos e os masculinos de micrósporos. O
espécie vegetal mais alta do planeta, com 115 metros de altura é ciclo reprodutivo da maioria das gimnospermas leva apenas
a Sequoia sempervirens.Outros filos impor tantes de gimnosper- um ano, exceto pelas espécies do gênero Pinus. Assim, para a
mas são as Cycadophyta, Ginkgophyta e Gnetophyta. maioria das espécies de coníferas as sementes são produzidas na
As Cycadophyta são plantas semelhantes a palmeiras, mesma estação em que os óvulos são fecundados, sendo que o
encontradas nas regiões tropicais e subtropicais, apresentam um tempo entre a polinização e a fecundação varia entre três dias a
crescimento lento devido ao crescimento secundário a par tir do três ou quatro semanas, em vez de 15 meses aproximadamente,
câmbio vascular. As cicadófitas atuais estão representadas por como visto no ciclo da figura 5.
11 gêneros e 140 espécies. Essas gimnopermas,normalmente, O ciclo reprodutivo das Gimnospermas começa com
abrigam cianobácterias e desempenham um papel impor tan- uma planta adulta, denominada de ESPORÓFITO (2n). Nela
te na fixação de nitrogênio nos locais de ocorrência, como por encontra-se o estróbilo masculino (microstróbilos) e o estróbi-
exemplo jardins ( Figura 4a). No filo Ginkgophyta o único lo feminino (megastróbilos). Os microstróbilos são geralmen-
membro vivo é a espécie Ginkgo biloba (Figura 4c). O Ginkgo te pequenos com 1 a 2 cm de comprimento e são conhecidos
é uma árvore dióica, isto é, que apresenta as estruturas de re- popularmente como pinhão.Nele observam-se os microsporó-
produção masculina e feminina em indivíduos separados, com filos, que é uma estrutura espiralada , onde são produzidos os
crescimento lento atingindo a altura de aproximadamente 30 microsporângios ou células-mãe de micrósporos. Na primavera
metros ou mais; suas folhas apresentam uma coloração dourada os microsporócitos sofrem meiose e cada microsporócitos se
antes da senescência, que ocorre no outono. Segundo o Raven desenvolve num grão de pólen alado, constituído de quatro cé-
(2007) é provável que não haja nenhuma população natural de lulas, sendo duas células protalares, uma célula geradora e uma
Ginko em nenhuma parte do mundo, sendo introduzida em par- célula do tubo. Esse grão de pólen corresponde ao gametófito
ques e jardins, principalmente por ser uma espécie resistente masculino, que será liberado e dissipado pelo vento.
à poluição aérea. Por fim, temos o filo Gnetophyta que com- Os megastróbilos dos pinheiros são muito maiores
preende três gêneros: Gnetum, Ephedra e Welwitschia. O gê- quando comparado ao masculino e popularmente são conheci-
nero Gnetum apresenta cerca de 30 espécies encontradas nos dos como pinha. No megastróbilo tem-se a escama ovulífera –
trópicos úmidos, sendo representado por árvores e trepadeiras cada uma por tando dois óvulos na sua par te superior – e uma
com folhas grandes e coriáceas. Cerca de 35 espécies do gênero escama bracteal estéril, que fica localizada na porção inferior.
Ephedra são constituídas por arbustos Cada óvulo consiste em um megasporângio rodeado por um te-
Extensivo 151

Contudo, somente um desses megásporo é funcional; e os Normalmente são fecundadas as oosferas de todos os
outros três mais próximos da micrópila logo degeneram. O arquegônios presentes no megagametófito e dois ou três zigotos
megásporo funcional se divide por sucessivas mitoses ori- começa, a se desenvolver. Na maioria das vezes, ocorre apenas de
ginando o megagametófito, onde se diferenciam os arque- um embrião conseguir completar o desenvolvimento, nutrido pelas
gônios, geralmente em número de dois ou três por óvulo. células do gametófito feminino ao seu redor.
Com a formação do tubo polínico há uma divisão mitóti- O tegumento do óvulo consiste de três camadas celula-
ca da célula generativa, que irá originar a célula estéril e a res, uma das quais endurece e origina a casca da semente. Quando
célula espermatogênica. E, seguida, pouco antes de o tubo esta semente amadurece, o embrião em seu interior já apresenta
polínico atingir o gametófito feminino, a célula espermató- primórdios de raiz, caule e oito folhas embrionárias, denominadas
gena dividi-se por mitose e origina as duas células esper- de cotilédones. Nesse estágio, a semente desprende-se do estróbilo
máticas, completando assim o amadurecimento do game- feminino e cai no solo, onde germinará.
tófito masculino. Com a polinização, o tubo polínico atinge
a oosfera e suas membranas fundem-se. Uma das células
espermáticas degenera, e o núcleo da outra se funde ao nú-
cleo da oosfera.

Figura 5- Ciclo de vida das gimnospermas, tendo com modelo o pinheiro (gênero Pinus)

ANGIOSPERMAS
Os gametófitos reduzidos, assim como nas Gimnosper-
Com a maior diversidade de espécies e maior dis- mas, também se desenvolvem sobre o esporófito, só que agora em
tribuição na vegetação mundial, as Angiospermas (do grego estruturas reprodutivas espe cializadas – as flores. As flores exibem
angion = vaso, e sperma = semente) são caracterizadas pela uma diversidade de formas, tamanhos, texturas. Há ainda as que
presença de flores e fr utos. Ao longo da história evolutiva, estão agrupadas de diversas formas, formando verdadeiros buquês
as Angiospermas são um grupo de plantas com sementes naturais, sendo denominados de inflorescências. O eixo da inflo-
que apresentam características peculiares: flores, frutos rescência, que a conecta com o caule é denominado de pedúnculo,
e característica no seu ciclo de vida que são próprias do enquanto
que os eixos das flores individuais de uma inflorescência
grupo. Acredita-se que as Angiospermas atuais são todas é conhecido como pedicelo. A flor é uma estrutura especializada
descendentes de um ancestral comum, possivelmente um muitas possuem folhas “fér teis” produtoras de esporângios e fo-
antigo integrante das Gimnospermas. lhas “estéries”, que não produzem esporos. Uma flor completa
Há duas grandes, as Monocotiledôneas, com cerca apresenta quatro conjuntos de folhas especializadas, cada um deles
de 90.000 espécies e as Eudicotiledôneas, com pelo menos constituindo um ver ticilo. Os ver ticilos florais são:
200.000 espécies. As monocotiledôneas incluem plantas
como gramas, lírios, íris, orquídeas e palmeiras. Enquanto, Verticilos externos ou Verticilos Internos ou
as eudicotiledôneas são mais diversificadas e incluem apro- protetores reprodutores
ximadamente todas as árvores e arbustos que conhecemos,
exceto pelas coníferas estudadas acima. Cálice - formado por Androceu - formado por
Assim como as Pteridófitas e Gimnospermas, as sépalas. estames.
Angiospermas também possuem o esporófito como fase du-
Corola - formada de Gineceu - formado pela
radoura, a planta em si.
pétalas. fusão de folhas carpelares.
152 Da Vinci Vestibulares

gumento maciço com uma abertura, a micrópila. Cada Megaspo- outras duas chamadas de núcleos polares. ao estigma da flor. O
rângio contém um só megasporócito ou célula-mãe de megáspo- estigma produz substância viscosa que facilitam a aderência do
ro, que sofre meiose, dandoorigem a quatro megásporo. grão de pólen. Quando o grão de pólen é umedecido pelo estig-
O androceu (do grego andros, homem, e oikos, casa) ma começa a “germinar” formando o tubo polínico, que penetra
é o conjunto e folhas férteis formadoras do grão de pólen. Ele no estilete em direção ao ovário, onde está o óvulo. O núcleo da
é formado por unidades denominadas de estames. Cada estame célula vegetativa, do grão de pólen, degenera e a célula geradora
consta de duas partes: Filete – um filamento longo que fixa na sofre divisão mitótica, dando origem a dois núcleos espermá-
base da flor; Antera – uma dilatação na ponta do filete e onde ticos. Estes são os gametas masculinos, e o tubo polínico é o
são produzidos os grãos de pólen. O gineceu é formado pela fu- gametófito masculino maduro.
são de folhas modificadas, chamadas carpelos ou folhas carpela- Quando o tubo polínico atinge o óvulo, um dos núcleos
res. Essa é estrutura que melhor define a flor. Ele apresenta uma espermáticos une-se à oosfera, dando origem ao zigoto diplóide
porção basal dilatada, que corresponde ao ovário (no interior do e outro se funde com os dois núcleos polares, dando origem a
qual está os óvulos) e uma porção alongada chamada de estilete um núcleo triplóide (3n). Essa é uma característica exclusiva das
une o ovário ao estigma, porção apical do gineceu. Angiospermas, a dupla fecundação. O zigoto (2n) dá origem ao
embrião, que dará origem a outro indivíduo diplóide ( esporófi-
to) e o núcleo triplóide dará origem ao endosperma ou albúmen,
que é a reserva nutritiva do embrião.O desenvolvimento do em-
brião, do endosperma e demais partes do óvulo forma a semente.

Figura 6. Diagrama floral de uma angiosperma.

A diversidade de formas das flores permitiu mecanis-


mos diversificados de polinização. Provavelmente o grande su-
cesso das Angiospermas está ligado à co-evolução entre as flores
e os polinizadores. Enquanto, nas Gimnospermas a polinização Figura 7- Ciclo de vida das angiospermas
ocorre apenas pelo vento, nas Angiospermas, além da poliniza-
ção pelo vento (anemofilia) ou pela água (hidrofilia), tem-se a
polinização feita pelos animais como insetos (entomofilia), aves MORFOLOGIA VEGETAL
principalmente os beija-flores (ornitofilia) e morcegos (quirop-
terofilia). Há também muitas espécies hermafroditas, que pos- Assim como nós, as plantas também possuem órgãos-
sibilita a autofecundação. Contudo, há também muitas espécies raiz, caule, folha, flor, fr uto e semente- e o ramo da botânica
vegetais que desenvolveram mecanismo dificultam a autofecun- responsável por estudar cada órgão, bem como suas particulari-
dação, como a formação de grãos de pólen e oosferas em épocas dades é a morfologia vegetal. Esses órgãos são formados durante
distintas, isso possibilita a fecundação cruzada, ou seja, entre a germinação da semente devido à divisão das células meriste-
flores diferentes, e normalmente, as plantas polinizadas por ani- máticas apicais da raiz e do caule (figura 8). Observar a planta
mais apresentam pétalas. por dentro, ou seja, analisar a forma e função anatômica de cada
tecido entendendo como esses órgãos são constituídos é algo
CICLO REPRODUTIVO DAS ANGIOSPERMAS mais complexo, e que foge ao escopo dessa apostila. No entanto,
é necessário compreender, mesmo que de forma sucinta, como
Nas anteras estão os esporângios, onde haverá a forma- uma semente pode torna-se uma frondosa árvore.
ção de esporos por meiose. Cada esporo é composto por célula O crescimento é efetivado pela combinação de divisão
haplóide e envolto por revestimento rígido, inicia a formação e expansão celular, sendo os meristemas apicais da raiz e do
do gametófito. Formam-se duas células: a vegetativa e a ge- caule responsáveis por essa divisão. As células do meristema
radora. O conjunto formado por essas células protegidas pelo que se mantém em contínua divisão são chamadas de iniciais.
revestimento externo rígido é o grão de pólen, e este abriga o As células iniciais se dividem de tal forma, que uma das células
gametófito masculino imaturo. Nos carpelos, cada esporângio é irmãs permanece no meristema como inicial, enquanto a outra
protegido por um tecido de revestimento chamado tegumento e se torna uma nova célula do corpo ou derivada. Essas células
o conjunto esporângio mais tegumento é chamado de óvulo. No derivadas, por sua vez vão dividir-se próximo aos meristemas
esporângio feminino há formação por meiose de apenas um es- antes de ocorre a diferenciação, processo pelo qual as células
poro haplóide funcional, que se divide, dando origem ao game- que antes eram idênticas tornam-se diferentes, formando assim
tófito feminino. Quando ocorre a fecundação, o grão de pólen os tecidos.
prende-se

Este é formado por oito células, sendo que uma delas a oosfera e
Extensivo 153

O crescimento é efetivado pela combinação de divisão na qual os cotilédones são elevados acima do solo (Fig. 9a), e
e expansão celular, sendo os meristemas apicais da raiz e do a hipógea na qual os cotilédones permanecem abaixo do solo
caule responsáveis por essa divisão. As células do meristema (Fig. (9b). No caso o milho o coleóptilo é empurrado até a super
que se mantém em contínua divisão são chamadas de iniciais. fície do solo, onde aparece as primeiras folhas. No decorre da
As células iniciais se dividem de tal forma, que uma das células germinação as reservas nutricionais são digeridas e os produtos
irmãs permanece no meristema como inicial, enquanto a outra realocados para o desenvolvimento e da nova planta, que agora
se torna uma nova célula do corpo ou derivada. Essas células apresenta seus órgãos definidos: raiz, caule e folhas(órgãos ve-
derivadas, por sua vez vão dividir-se próximo aos meristemas getativos) flor, frutos e novas sementes ( órgãos reprodutivos).
antes de ocorre a diferenciação, processo pelo qual as células
que antes eram idênticas tornam-se diferentes, formando assim
os tecidos.

Figura 9. A- Germinação da semente de feijão (Phaseolus vulgaris) do tipo epí-


gea.

Figura 8. Estrutura geral de uma planta, mostrando a raiz e o caule em desen-


volvimento primário. Note que todas as par tes da raiz e do caule são derivados
da divisão celular do meristema apical da raiz e do caule. Adaptado de Simpson
Michael ( livro Plant Sytemtics, 2006).

GERMINAÇÃO DA SEMENTE: do embrião a


planta adulta

A formação do embrião é essencialmente a mesma para
todas as angiospermas, começando o processo com sucessivas
divisões do zigoto no interior do saco embrionário do óvulo (
ver ciclo de vida das angiospermas).. Em todos os estádios de
formação, o embrião recebe um fluxo contínuo de nutrientes da
planta-mãe aos tecidos do óvulo, isso permite um acúmulo de
reservas nutricionais no endosperma, formando os cotilédones.
Nas extremidades opostas do eixo do embrião estão o meristema
apical do caule e da raiz, responsável pelas divisões celulares e
o crescimento do embrião.
O sistema caulinar embrionário pode ser dividido em
duas partes, sendo uma constituída pelo eixo caulinar denomi-
nado de epicótilo, com uma ou mais folhas e o meristema apical
acima (epi-) dos cotilédones. E a outra com o eixo caulinar abai-
xo (hypo-) dos cotilédones sendo conhecido como hipocótilo (
Figura 9). to da nova planta, que agora apresenta seus órgãos
definidos: raiz, caule e folhas(órgãos vegetativos) flor, fr utos B - Germinação da semente de milho (Zea mays) do tipo hipógea. Adapta-
e novas sementes ( órgãos reprodutivos). Na extremidade infe- do de Raven, Biologia Vegetal (2007).
rior do hipocótilo pode ocorrer uma raiz embrionária ou radícu-
la, com características típicas de raiz. A forma como o sistema
caulinar emerge na semente durante a germinação varia com a
espécie, sendo conhecidos dois tipos de germinação: a epígea,
154 Da Vinci Vestibulares

Raiz
As raízes, normalmente, têm como função a fixação As raízes de muitas plantas eudicotiledôneas apresentam es-
e absorção de sais minerais. São órgãos subterrâneos, aclorofi- pecializações que as permite classificá-las em diferentes tipos:
lados, com ramificações, e originados na radícula do embrião. (figura 10)
Não possuem gemas e, portanto não possuem nós e entrenós. ♦ Raízes-escoras (ou raiz suporte) – são raízes que se desen-
Algumas são capazes de armazenar reservas nutritivas (cenou- volvem a partir de certas regiões do caule, e tem como função
ra, nabo, beterraba, rabanete, mandioca, batata-doce etc.). Há aumentar a sustentação da planta em solos pouco firmes. Ex:
dois tipos de sistemas radiculares: sistema axial (ou pivotante), milho
com uma raiz principal, comum a muitas plantas eudicotiledô- ♦ Raízes respiratórias (ou pneumatóforos) – são raízes projeta-
neas (cenoura, alface); e sistema fasciculado, que não possui das para fora do solo e são adaptadas a realização de trocas ga-
raiz principal, formando um emaranhado de raízes, comum nas sosas em ambiente pouco oxigenado, como os dos manguezais.
monocotiledôneas (cebolinha e milho). Na estrutura típica da Ex: espécies do gênero Avicennia (mangue-siriúba ou mangue-
raiz podem-se reconhecidas as seguintes regiões quando se -preto).
olha do ápice para a base: ♦ Raízes aéreas – crescem expostas ao ar e apresentam um re-
Zona meristemática – fica protegida por uma camada de cé- vestimento chamado de velame, que é uma epiderme multies-
lulas, a coifa, que protege a parte mais sensível da raiz onde se tratificada capaz de absorver a umidade do ar. Ex: orquídeas.
dão as divisões celulares. ♦ Raízes sugadoras – apresenta uma estrutura denominada de
Zona de alongamento ou distensão - onde as células recém- haustório, responsável fixação e extração de alimentos (seiva
-divididas aumentam de tamanho e empurram a ponta da raiz elaborada) da planta hospedeira. Ex: cipó-chumbo (Cuscuta
solo adentro. sp.).
Zona de maturação - onde os tecidos da raiz se diferenciam ♦ Raízes tabulares- atingem grande desenvolvimento e apresen-
e onde se localizam os pêlos absorventes. tam o aspecto de tábuas perpendiculares ao solo, dando a planta
Zona de ramificações - A região entre a raiz e o caule é a zona maior estabilidade.
de transição, o colo.

Figura 10. A- Raiz pivotante. B- Raízes adventícias. C- raiz suporte. D- Raízes sugadoras, com os haustórios. E- Raiz tuberosa da espécie
Raphanus sativus. F- Raiz tabular da espécie Ficus rubiginosa. G. H- Raízes respiratórias, também denominadas de pneumatóforos da espécie
Avicena germinans, típica de mangue. Adaptado de Simpson Michael ( livro Plant Sytemtics, 2006)

Caule
trepadores e rastejantes. Os caules subterrâneos são responsá-
O caule é reconhecido como a parte aérea do vegetal e que veis pelo armazenamento de reservas nutritivas para a planta,
sustenta as folhas, flores e fr utos. Tem as funções de trans- especialmente amido, sendo muito utilizado pelo homem na
portar, sustentação, armazenamento de reservas nutritivas e alimentação, por exemplo: emplo: os rizomas, que crescem ge-
de reprodução vegetativa (assexuada). Os caules são cons- ralmente horizontal ao solo, emitindo brotos aéreos foliares e
tituídos por uma região apical ou meristemática, respon- floríferos, assim como raízes, como no caso das bananeiras; os
sável pelo seu desenvolvimento, a região dos nós, onde se tubérculos que caracterizam-se por ser um caule que armazena
desenvolvem as folhas lateralmente, e a região entre os nós, grande quantidade de reserva nutritiva como o amido, tendo
sem folhas, denominadas entrenós. Assim como as raízes, com principal exemplo a batata-inglesa; e por fim os bulbos que
os caules também podem ser classificados em três tipos bá- são formados por um eixo cônico que constitui o prato (caule),
sicos: subterrâneos, aéreos ou aquáticos. Os representantes dotado de gema e rodeado por catafilos,que são folhas reduzi-
mais conhecidos dos caules aéreos são: troncos, estipes, das como exemplo de bulbo temos o alho, onde os “dentes” são
colmos e hastes. Há ainda os caules volúveis, que são re- denominados de bulbilho, e a cebola, sendo a parte comestível
lativamente finos e longos, sendo denominados de volúveis folhas modificadas, denominadas de catafilos suculentos.
Extensivo 155

Existem outras adaptações dos caules, como as gavinhas, que se


enrolam ajudando a prender plantas trepadeiras, por exemplo,
chuchu e maracujá; os cladódios, que são caules verdes despro-
vidos de folhas, suculentos e que armazenam água, um exemplo
comum são os cactos e os espinhos que são formações pontia-
gudas originadas a partir do caule, por exemplo, os espinhos a
laranjeira.

Folha

A folha é geralmente um órgão laminar formado por


tecido clorofilado, normalmente com uma nervura principal e
nervuras secundárias, que são os locais com feixes de xilema e
floema, por onde ocorrem as trocas gasosas com o meio (fotos-
síntese, respiração, transpiração). A folha é o órgão que apresen-
ta a maior diversidade de formas, sendo isto é um reflexo das
adaptações aos diferentes tipos de ambiente em elas vivem. Na
folha podem-se identificar três par tes básicas:
Figura 11. A- Gavinha da espécie Lathyrus vestitus. B- Folhas modificadas
em espinhos endurecidos de um cacto. C- Brácteas do gênero Bougainvillea.
Limbo – é a porção laminar da folha D- Folhas insetívoras da espécie Dionaea muscipula.
Pecíolo – é uma haste cilíndrica que prende o limbo ao caule.
Bainha – é uma dilatação do pecíolo que insere no ramo.
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
Algumas folhas apresentam, na base do pecíolo, um
par de projeções filamentosas ou laminares, denominadas de 1. (FUVEST) A ramificação de caule origina-se de gemas axila-
estípulas. Os diferentes tipos de limbo e de estrutura foliares res, cuja natureza histológica é:
permite diferenciar as folhas das monocotiledôneas, que apre-
sentam um limo não-dividido, sendo por isso denominado de (A) parênquima
folhas simples. Enquanto, algumas dicotiledôneas basais e eu- (B) xilema
dicotiledôneas podem ser simples ou compostas. Nas folhas (C) colênquima
compostas, o limbo é dividido em folíolos; estes se reúnem para (D) meristema
formar um pecíolo comum, que liga a folha ao nó caulinar. As (E) esclerênquima
variações na estrutura das folhas são influenciadas principal-
mente pelo habitat, podendo até mesmo ser caracterizada de 2. Quais são os tipos radiculares encontrados, com freqüência,
acordo como o meio na qual está inserida. nas angiospermas dicotiledôneas e angiospermas monocotile-
As plantas que requerem ambientes que não seja nem dôneas?
seco, nem muito úmido são conhecidas como mesófitas. En-
quanto, as que requerem um grande suprimento de água ou 3. (UFMS) As flores são estruturas que têm função na reprodu-
crescem parcial ou completamente submersas são denominadas ção sexual das plantas angiospermas, onde se podem distinguir
de hidrófitas, e por fim, há as plantas que sobrevivem em ha- diferentes verticilos florais, entre os quais:
bitats áridos e semi-áridos são caracterizadas como xerófitas.
Apesar das diferenças nas formas em combinação com os tipos (A)Tépalas: conjunto de pétalas de cores diferentes; Corola:
ecológicos, as folhas são especializadas como órgão fotossin- conjunto de sépalas; Gineceu: sistema reprodutor masculino;
tético. (B) Corola: conjunto de sépalas; Cálice: conjunto androceu-
Além de ser um dos principais órgãos responsável pela -gineceu; Perianto: conjunto de pétalas;
fotossíntese em muitas plantas, as folhas adaptaram a outras (C) Corola: conjunto de sépalas; Gineceu: sistema reprodutor
funções, como defesa contra herbívoros, fixação em superfícies, masculino; Perianto: conjunto androceu-gineceu;
atração de polinizadores e nutrição. Nos cactos, as folhas foram (D) Cálice: conjunto de pétalas; Androceu: sistema reprodutor
transformadas em espinhos para diminuir a super fície de con- feminino; Perigônio: conjunto de pétalas iguais;
tato e evitar a perda de água, e em algumas trepadeiras as folhas (E) Cálice: conjunto de sépalas; Androceu: sistema reprodutor
ou partes delas são transformadas em gavinhas, que permite a masculino; Gineceu: sistema reprodutor feminino.
fixação da planta no suporte. As folhas também podem desem-
penhar o papel de raízes na absorção de nutrientes, como é o 4. (Fuvest-SP) Na maioria das angiospermas, o fruto é uma es-
caso de algumas bromélias, em que as folhas absorvem água e trutura formada a partir do desenvolvimento:
minerais, e algumas plantas carnívoras, onde as folhas ou par-
te delas são transformadas em armadilhas para capturar insetos (A) Do ovário;
que são animais capturados são digeridos por células especiali- (B) Do óvulo fecundado;
zadas das folhas. Existem também as brácteas, que são folhas (C) Do zigoto;
modificadas, geralmente coloridas, encontradas nas bases do (D) Da parede do epicarpo;
receptáculo floral, exercendo o papel de atração para poliniza- (E) Da oosfera fecundada.
dores.
156 Da Vinci Vestibulares

5. Assinale a alternativa incorreta.


9.(UFRJ) Um Engenheiro Agrônomo recomendou para um
(A) O ciclo de vida das gimnospermas e angiospermas se as- agricultor que utilizasse plantas com raízes fasciculadas para
semelha muito, mas os órgãos reprodutores das gimnospermas controlar a erosão. Estas plantas, que também possuem folhas
são os estróbilos, enquanto que nas angiospermas são as flores. com nervuras paralelas, são classificadas como:
(B) As angiospermas são os únicos vegetais que apresentam
frutos. (A) briófitas.
(C) As flores das angiospermas podem ser classificadas em (B) pteridófitas.
completas e incompletas. (C) gimnospermas.
(D) O processo da autofecundação é extremamente importante (D) monocotiledôneas.
para as angiospermas, pois dessa forma elas conseguem manter (E) dicotiledôneas.
as mesmas combinações gênicas em suas descendências, garan-
tindo assim a existência da espécie. 10. (UFPE) Uma planta feminina de angiosperma com genótipo
(E) A polinização das angiospermas pode ser anemófila, ento- PP foi cruzada com uma masculina pp. As sementes resultantes
mófila, ornitófila e quiropterófila. devem apresentar embrião e endosperma, respectivamente,

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES: (A) PP e pp


(B) Pp e Pp
6. Complete a frase a seguir: (C) Pp e PPP
“O fruto das angiospermas é constituído pelo _________ que se (D) Pp e PPp
divide em _________, parte mais externa, ___________, parte (E) PP e Ppp
comestível e ___________ parte mais interna.”

7. (Fuvest-SP) O endosperma da semente de angiospermas con- 11. (UFPR) Através da Lei Estadual nº 7957, de 21/11/84, o
tém: Governo do Estado do Paraná declara a gralha-azul ave símbolo
do Paraná. Esta ave, muito festejada pelo folclore paranaense,
(A) Material genético de cada genitor em quantidades iguais. está intimamente ligada ao pinheiro-do-paraná porque realiza:
(B) Somente material genético materno.
(C) Somente material genético paterno. (A) abertura do estróbilo masculino.
(D) Maior quantidade de material genético materno. (B) anemofilia, uma vez que as flores são unissexuadas.
(E) Maior quantidade de material genético paterno. (C) o transporte do fruto, facilitando a disseminação da espécie.
(D) os mecanismos da ornitofilia.
8. Analise as estruturas numeradas na figura a seguir e as propo- (E) disseminação da semente.
sições apresentadas a respeito das mesmas.
12. (UFPA) O pinhão, estrutura comestível produzida por pi-
nheiros da espécie ‘Araucaria angustifolia’, corresponde a que
parte da planta?

(A) Cone (estróbilo) masculino repleto de pólen.


(B) Cone (estróbilo) feminino antes da fecundação.
(C) Fruto simples sem pericarpo.
(D) Folha especializada no acúmulo de substâncias de reserva.
(E) Semente envolta por tegumento.

13. No processo de reprodução de uma GIMNOSPERMA:

(A) não há formação de tubo polínico


(B) os óvulos, de tamanho microscópicos, estão contidos em
grandes ovários
(C) os óvulos não estão contidos num ovário
(D) há formação de frutos sem sementes
( ) Na figura é mostrado o esquema da flor de uma angiosperma
em fecundação. 14. (PUC) O nucelo é:

( ) Em a é mostrado o 1º verticilo floral - a corola, formada por (A) megasporângio


sépalas, de função atrativa. (B) megásporo
( ) Em b tem-se o 2º verticilo floral - o cálice, conjunto de péta- (C) megasporófilo
las e que tem função nutritiva para o saco embrionário. (D) microsporófilo
( ) Em c é mostrado um estame, que é formado por filete, co- (E) gametófito
nectivo e antera.
( ) Em d é mostrado o 4º verticilo floral - o gineceu, com indica-
ção do ovário (1), estilete (2) e estigma (3).
Extensivo 157

15. (PUCC) A figura indica um micrósporo de Pinus sp (pinhei-


ro) germinando um tubo polínico. As setas 1, 2, 3 e 4 indicam
respectivamente as células:

(A) protalares, pedicular, espermatógenas e vegetativa;


(B) protalares, pedicular, vegetativa e espermatógena;
(C) pedicular, protalares, vegetativa e espermatógena;
(D) pedicular, protalares, espermatógena e vegetativa
(E) n.d.a.
158 Da Vinci Vestibulares

AULAS 5 E 6: FISIOLOGIA VEGETAL ♦ Clorofila a – ocorre em todos os organismos fotossintetizan-


tes, com exceção das bactérias fotossintetizantes, pois estas pos-
ENTENDENDO COMO AS PLANTAS FUNCIONAM: suem o pigmento bacterioclorofila, que absorve comprimentos
de onda correspondentes ao infravermelho;
Respiração e Fotossíntese: faces de uma mesma moeda ♦ Clorofila b – ocorre em todas as plantas terrestres e nas algas
No tópico acima foi apresentado a diversidade de formas das verdes;
folhas. Mas, agora vamos entrar no mundo celular e conhecer ♦ Clorofila c – ocorre nas algas pardas e nas diatomáceas;
os orgânulos envolvidos na fotossíntese (cloroplasto, mitocôn- ♦ Clorofila d- ocorre nas algas vermelhas.
drias) e as etapas bioquímicas desse processo que movimenta a
vida no planeta Terra A fotossíntese (cloroplastos) e a respiração Além das clorofilas, existem outros pigmentos en-
(mitocôndrias) são duas atividades metabólicas distintas, mas volvidos na absorção de luz durante a fotossíntese. Entre estes
muito relacionadas. Enquanto na fotossíntese a energia lumi- estão os carotenos, as xantofilas e as ficobilinas.Para entender
nosa é transformada em energia química, havendo, portanto como esses pigmentos absorvem a luz vinda do sol é necessário
a produção de energia na forma de ATP, na respiração há um entender o que vem a ser Luz.
consumo da energia química armazenada para o desempenho
de outras funções metabólicas. Na fotossíntese, o gás carbôni- Luz: conceitos básicos
co (CO2) é ligado à água, formando os açúcares e absorvendo
energia luminosa do sol. Assim, o açúcar formado é uma forma A luz corresponde a uma pequena fração do espectro
de armazenar energia química. Na respiração, essa energia quí- eletromagnético que conseguimos observar, pois isso corres-
mica é utilizada na sua oxidação, consumindo oxigênio e rege- ponde ao comprimento de onda do espectro que sensibiliza os
nerando gás carbônico e água – é um ciclo energético do qual nossos pigmentos visuais. Como toda onda eletromagnética, a
nós fazemos parte, chamado ciclo do carbono. luz tem um comportamento duplo, hora assumindo proprieda-
des ondulatórias, hora assumindo a propriedade de partículas.
FOTOSSÍNTESE As unidades ou pacotes de energia da luz são denominados de
fótons. A energia do fóton é inversamente proporcional ao com-
É o processo de conversão da energia luminosa em primento de onda. Assim fótons com energia elevada possuem
energia química, ele consiste basicamente na produção de subs- comprimentos de onda muito curtos, tais como os presentes nos
tâncias orgânicas (carboidratos) a partir de dióxido de carbono raios UV-B, que são extremantes prejudiciais aos seres vivos,
(CO2), água (H2O) e energia luminosa. pois atingem moléculas orgânicas das células, e arrancam elé-
Veja a equação: trons de sua estrutura. Enquanto, os fótons de comprimento de
onda mais longos, na faixa do infravermelho, têm um baixo ní-
12 H20 + 6 CO2 C6H12O6 + 6 H20 +6 O2 vel energético, assim podem excitar as elétrons entre os orbitais
eletrônicos das moléculas promovendo reações químicas ( re-
As plantas verdes não são os únicos organismos ca- ações fotoquímicas) e conseqüentemente reações bioquímicas.
pacitados a realizar fotossíntese. Organismos procariontes e
eucariontes unicelulares e coloniais são também capazes de fi- Fotofosforilação e produção de ATP
xar carbono pela via fotossintética. Várias algas tais como as
diatomáceas (Chrysophyta), algas verdes (Chlrophyta), algas O processo de fotossíntese pode ser dividido em três
marrons (Chryptophyta), euglenas (Euglenophyta) podem reali- etapas: A etapa fotoquímica, dependente da energia luminosa
zar a fotossíntese. Mais da metade da produção anual global de para a produção de NADPH e ATP na cadeia transportadora de
carbono da biosfera terrestre é devida a estes microorganismos elétrons; etapa difusiva responsável pela entrada de CO2 nas
fotossintetizantes. Além disto, outros microorganismos proca- folhas através dos estômatos; e bioquímica que é responsável
riontes tais como as cianobactérias e várias famílias de bacté- pela fixação de CO2 pelas ação de enzimas coma a rubisco e
rias, tais como as bactérias sulfurosas purpúreas, podem tam- a utilização do ATP e NADPH na formação dos carboidratos
bém realizar a fotossíntese. (sacarose).
As cianobactérias são encontradas praticamente em A fotofosforilação é o processo que envolve a produ-
todos os ambientes aquáticos principalmente na região tropi- ção de ATP utilizando a energia proveniente da luz. Na fase cla-
cal. Elas são talvez os organismos mais auto-suficientes que se ra ou fotoquímica é caracterizada pela absorção de luz pelas clo-
conhece, pois além de fixar o CO2 são também capazes de fixar rofilas, fotólise da água e síntese de adenosina trifosfato (ATP).
o nitrogênio atmosférico. Microcystis aeruginosa é um impor- Esta etapa ocorre nas partes clorofiladas dos cloroplastos que
tante representante deste grupo, que ocorre em muito lagos rico são as lamelas e os grana.
em nutrientes na região tropical.
A fotossíntese ocorre em todos os organismos que pos- Fotólise da água
suem clorofila. A clorofila é um pigmento verde que absorve
luz com maior eficiência nos comprimentos de onda correspon- Sob a ação da luz, a água é decomposta liberando oxi-
dentes ao azul e ao vermelho, utilizando-os para a fotossíntese. gênio (O2) e hidrogênio (H+). O oxigênio é liberado para o meio
Os comprimentos de onda correspondente a luz verde, pratica- ambiente como um subproduto da fotossíntese e o hidrogênio é
mente não são utilizados, sendo refletidos. Vale ressaltar que a captado por uma substância aceptora de prótons, o NADP (ni-
clorofila é verde exatamente porque reflete essa cor. cotinamida-adenina-dinucleotídeo- fosfato). Forma-se, assim, o
NADP reduzido, representado pela sigla NADPH2. Esta síntese
Existem vários tipos de clorofila, sendo que as principais é chamada de fotofosforilação acíclica.
são:
Extensivo 159

Absorção de luz e síntese de ATP Os fótons que saíram do complexo antena excitam os
centros de reação (P680 para o PSII e o P700 para o PSI) e
A captação de luz pelas plantas ocorre devido a presen- ejetam elétrons. O elétron passa, então por uma série de carrea-
ça de uma família de proteínas denominadas de LHCI e LHCII, dores, e eventualmente, reduz o P700 ( para os elétrons vindos
que funcionam como verdadeiras antenas na captação e transfe- do PSII) ou NADP+ (para os elétrons vindos do PSI). Assim,
rência dessa energia aos centros de reações, formados por clo- todos os processos químicos que perfazem as reações luminosas
rofila especiais denominadas de P680 e P700, ou fotossitema II da fotossíntese são realizados por 4 principais complexos pro-
(PSII) e fotossistemaI (PSI) respectivamente. téicos: fotossistema II, o complexo citocromo b6f , fotossistema
O fotossistema I absorve preferencialmente a luz na I e ATPsintase (Figura 12).Esses complexos estão inseridos na
faixa do vermelho com comprimento de onda de 680 nm. En- membrana dos tilacóides para funcionar da seguinte forma:
quanto o fotossistema II absorve a luz na faixa do vermelho- ♦ O fotossistema II oxida a água a O2 no lume do tilacóide e
-distante com o comprimento de onda de 780nm. Na sequência durante esse processo libera também prótons (H+ ).
de pigmentos ( carotenóides, clorofila b e clorofila a) a energia é ♦ O citocromo b6f atua com um ponto de triagem, ejetando os
transferida, sendo que a clorofila em seu estado de menor ener- prótons para o lume e transferindo os elétrons para a plastocia-
gia, absorve os fótons e faz uma transição para o estado mais nina e posteriormente para a PSI
energético ou excitado(figura 11). A distribuição dos elétrons na ♦ O fotossistema I (PSI) reduz o NADP+ a NADPH no estroma
molécula excitada é de certa forma diferente da distribuição da pela ação da ferrodoxina (Fd) e da flavoproteína ferredoxina-
molécula no seu estado base, pois quando excitada a clorofila é -NADP redutuase (FNR).
extremamente instável e rapidamente libera parte da sua ener- A síntese de ATP ocorre pela passagem de prótons
gia para o meio na forma de calor e a outra parte transfere para (H+) através da membrana do tilacóides. Os prótons se deslo-
o centro de reação (PSII ou PSI). Os dois fotossistemas estão cam do estroma para dentro do tilacóide, onde se acumulam.
ligados a cadeia transportadora de elétrons, onde as reações de Com o excesso de H+ no interior dos tilacóides há uma difusão
químicas de oxidação e redução levam ao armazenamento de para o estroma. Essa saída é feita por um “motor molecular” que
energia na forma de ATP e NADPH (Figura 12). é o complexo ATP-sintetase, que girar como a passagem dos
íons H+, levando a produção de ATP.

Figura 12: Transferência e elétrons e prótons na membrana o tilacóide é feita por quatro complexos protéicos. A água é oxidada e os prótons (H+) são libe-
rados no lume pelo PSII. O PSI reduz o NADP+ a NADPH no estroma, por meio da ferredoxina (Fd) e da flavoproteína ferredoxina-NADPredutase (FNR).
Os prótons são também transportados para o lume pelo complexo citocromo b6f e contribuem para o gradiente eletroquímico.Tais prótons necessitam,
então difundir-se até a enzima ATPsintase, onde sua difusão através do gradiente de potencial eletroquímico será utilizada para sintetizar ATP no estroma.A
plastoquinona reduzida(PQH2) e a plastocianina transferem elétrons para o citocromo b6f e para o PSI, respectivamente. As linhas tracejadas representam a
transferência de elétrons e a linha contínua representam o movimento de prótons. Fonte: Taiz e Zeiger (Livro Fisiologia Vegetal, 2004)
160 Da Vinci Vestibulares

Ciclo das pentoses: ciclo de Calvin-Benson císico e Etileno. Eles apresentam efeitos diversos, dependendo
do local onde atuam, do estágio de desenvolvimento do órgão e
A etapa bioquímica da fotossíntese é constituída pelas de sua concentração.
reações enzimáticas de fixação de CO2 e síntese de açúcares
(representados pela sacarose). Essa etapa é movida pelo ATP e Auxinas:
pelo poder redutor gerados durante o processo fotoquímico, na
cadeia transportadora de elétrons, estudada acima. A principal auxina é o ácido indolacético (AIA). Ele é
O ciclo de Calvin-Benson pode ser dividido em três fases: produzido por células meristemáticas a partir do aminoácido
a carboxilativa, a redutiva e a regenerativa. Triptófano nos seguintes locais: Gema apical do caule e da raiz;
♦ 1. Fase carboxilativa – Compreende a reação catalisada pela Folhas jovens; Frutos; Semente em desenvolvimento. O AIA é
enzima Ribulose-1,5-bisfosfato, conhecida como rubisco. Cada sintetizado principalmente na gema apical do caule e transpor-
molécula de CO2 fixada pela rubisco dá origem a duas molécu- tado de modo polar para a raiz, onde promoverá o alongamento
las de 3-fosfoglicerato (3PGA). Cada molécula de 3-fosfoglice- celular e conseqüentemente o crescimento celular. A ação da
rato corresponde a uma volta no ciclo de Calvin! AIA em órgãos vegetais De um modo geral a auxina promove
♦ 2. Fase redutiva – O 3PGA é convertido a gliceraldeído-3- o crescimento por alongamento, sobretudo por aumentar a ca-
-fosfato (3 PGald) através de duas reações que utilizam o ATP e pacida de extensão da parede celular, este crescimento da raiz e
o NADPH produzidos na etapa fotoquímica da fotossíntese. O 3 do caule depende da concentração do hormônio, pois uma con-
PGald é o primeiro carboidrato gerado no ciclo. centração muito elevada inibe o crescimento celular e, portanto,
♦ 3. Fase regenerativa – ocorre a partir da formação do gli- o crescimento dos órgãos.
ceraldeído-3-fosfato (3 PGald). Esse monossacrídeo é rever-
sivelmente convertido em Diidroxiacetona-fosfato (DHAP) Raiz e caule
através da enzima triose-fosfato isomerase. Os dois açúcares
fosfato, contendo três carbonos, são denominados trioses-fosfa- As raízes são geralmente muito mais sensível á ação
to (triose-P). Uma série de reações enzimáticas interconvertem da AIA do que os caules. Isso significa que a concentração de
açúcares-fosfato de três, quatro, cinco seis e sete átomos de AIA exigida pelas raízes é inferior que a concentração de AIA
carbono, e regeneram a molécula receptora primária de CO2, a exigida pelos caules. Por isso, concentrações ótimas para as ra-
ribulose-1,5- bisfosfato. ízes, não provocam o crescimento dos caules, por falta de AIA.
Em contrapartida, concentração ótima de AIA para o caule inibe
fortemente o crescimento das raízes.

Dominância apical

O AIA produzido pelo broto apical inibe o desenvol-


vimento dos brotos laterais; porém quando retirado o broto
apical(poda), cessa a inibição e os brotos laterais “despertam” e
começam a crescer formando ramos, folhas ou flores.

Folhas

O AIA controla a permanência da folha no caule ou sua


queda (abscisão) de um modo geral quando a concentração de
AIA for maior que no caule, a folha permanece unida ao caule .
Quando a concentração de AIA na folha ficar menor do que no
caule, a folha se destaca e cai.

Frutos

Figura 13: Ciclo de Calvin operando nas três fases: (1) carboxilação, em que o Neste caso, como ocorre com a folha, o AIA controla
CO2 é covalentemente ligado a um esqueleto de carbono, (2) redução, onde o
a permanência ou queda dos frutos (abscisão). As auxinas quan-
carboidrato é formado com gasto de ATP e dos equivalentes redutores na forma
de NADPH, e (3) regeneração, etapa na qual o aceptor de CO2 ribulose-1,5-bis- do aplicadas artificialmente nos frutos e folhas evitam sua que-
fosfato é reconstituído. Fonte: Taiz e Zeiger (livro de Fisiologia Vegetal, 2004). da.

HORMÔNIOS VEGETAIS Estacas

Os hormônios vegetais são substâncias orgânicas, que São caules cortados dos vegetais os quais plantados
atuam no crescimento e no desenvolvimento das plantas. En- são capazes de originar novas plantas. Quando se aplica auxina
tende-se por crescimento o aumento em volume do vegetal na base de estacas, obtemos um enraizamento muito mais rá-
decorrente das diversas multiplicações celulares, enquanto o pido.
desenvolvimento implica aquisição de novas estruturas que ca-
pacitam o vegetal a desempenhar um conjunto de atividades que Flores
lhe proporcione a sobrevivência e perpetuação. Os principais
fitormônios são as Auxinas, Giberilinas, Citocininas, ácido Abs- A aplicação artificial de auxinas em flores não fecun-
Extensivo 161

dadas é capaz de provocar a partenocarpia isto é, o desenvolvi- EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:


mento do ovário e conseqüentemente obtenção de frutos des-
providos de sementes. 1. “Pretendendo observar a sequência gradativa do crescimento
das plantas, dirigimos nossa atenção sobre a planta no momento
GIBERELINAS exato em que ela se desenvolve da semente. Nessa época, pode-
mos reconhecer fácil e nitidamente as partes que lhe pertencem.
As giberelinas induzem um marcante alongamento de Não vamos considerar agora os invólucros que ela deixa na ter-
entrenós em alguns tipos de plantas, como em espécies anãs ou ra. Em muitos casos, assim que a raiz se firma na terra, a planta
em rosetas e gramíneas. Outros efeitos fisiológicos da gibereli- leva à luz os primeiros órgãos superiores, já existentes anterior-
nas incluem alterações no desenvolvimento e na sexualidade da mente, sob o invólucro das sementes” (GOETHE, 1996, p. 11-
flor e na promoção do estabelecimento e crescimento do fruto 12)
e da germinação de sementes. As giberilinas, juntamente com
a auxina, estimulam o crescimento de frutos partenocárpicos e
com a citocinina estimula a germinação da semente.

CITOCININAS

As citocininas são sintetizadas:

♦ Em raízes;
♦ Nos embriões em desenvolvimento;
♦ Em Folhas jovens.

As citocininas participam na regulação de muitos pro-


cessos do vegetal, incluindo a divisão celular, a morfogênese da
parte aérea e das raízes, a maturação do cloroplasto, o alonga-
mento celular e a senescência.
A partir de análises, com base nas informações incluídas
ÁCIDO ABSCÍSICO no texto e nas ilustrações, pode-se inferir:
01) As ilustrações referem-se a processos que estabelecem a
Ácido abscísico é sintetizado em quase todas as células que pos- fase gametofítica no ciclo biológico da planta.
suem plastídios e transportado tanto pelo xilema quanto pelo 02) A ocorrência da fotossíntese desde o início da germinação
floema. garante a disponibilidade da biomassa exigida no desencadea-
É considerado um fitormônio inibidor, do crescimento e do de- mento do processo.
senvolvimento, induzindo: 03) Estratégias coevolutivas, principalmente interações entre
insetos e plantas, contribuíram para a maior expansão e diversi-
♦ A dormência de gemas e de sementes; ficação das gimnospermas no grupo das fanerógamas
♦ A abscisão de folhas, flores e frutos; 04) As ilustrações que representam sequenciadamente o proces-
♦ A senescência de folhas, flores e frutos; so sugerem a preservação dos cotilédones como componente
♦ O fechamento dos estômatos. permanente da futura planta.
05) Os movimentos de tropismos evoluíram em função da voca-
Etileno ção autotrófica e condição sedentária das plantas

O etileno é formado em muitos órgãos dos vegetais su- 2. “Esses primeiros órgãos são conhecidos pelo nome de coti-
periores. Tecidos senescentes e frutos em amadurecimento pro- lédones chamados também de grãos, pevides ou folhas de se-
duzem mais etileno que tecidos jovens ou maduros. O precursor mentes, indicando com esses nomes diferentes formas. Muitas
do etileno in vivo é o aminoácido metionina. O etileno regula vezes esses órgãos têm aparência disforme, como se estivessem
o amadurecimento de frutos e outros processos associados com cheios de uma matéria grosseira e bastante distendidos, tanto na
senescência de flores e folhas, abscissão de flores, frutos, desen- espessura como na largura. Seus recipientes são pouco visíveis
volvimento de pêlos radiculares e o crescimento de plântulas. e não podem ser distinguidos da substância geral. Em muitas
plantas, eles se aproximam da forma das folhas.” À luz da Bio-
Práticas agrícolas decorrentes dos conhecimentos so- logia atual, a interpretação do texto, escrito com base em conhe-
bre a ação do etileno. cimentos do século XVIII, exige a compreensão de que:
01) As reservas nutritivas em sementes de plantas monocoti-
♦ Pulverização do fitormônio durante a colheita; ledôneas estão localizadas caracteristicamente em um único e
♦ Desfolhante; Indutor de floração; bem desenvolvido cotilédone.
♦ Conservação de frutos para longas viagens: vegetais manti- 02) As formações cotiledonares são estruturas anexas, derivadas
dos em ambientes frios e ricos em CO2 têm o seu processo de da flor, não sendo produto do desenvolvimento preliminar do
maturação retardado; tais condições inibem a produção do fi- zigoto.
tormônio. 03) A matéria “grosseira” que está incluída nos cotilédones é
habitualmente uma reserva celulósica que pode ser utilizada na
construção das estruturas de sustentação da planta.
162 Da Vinci Vestibulares

04) A desidratação da semente, preservando a reserva orgânica dução de gametas e considerada transitória devido as limitações
da decomposição bacteriana, condiciona a sua germinação, que reprodutivas presentes nesse grupo vegetal.
é dependente de água, a um ambiente propício ao desenvolvi- (D) O zigoto formado no grupo das fanerógamas este sempre
mento do embrião e da jovem planta. acompanhado de uma estrutura de proteção e dispersão do em-
05) Os cotilédones, no processo de evolução das plantas, se es- brião denominada de fruto.
tabeleceram com diversas funções entre as quais a função eco- (E) A ausência de vasos condutores nas briófitas também e con-
lógica de proporcionar alimento para o homem. siderada como um dos fatores limitantes na adaptação ao am-
biente terrestre devido a pouca eficiência desse grupo na capta-
3. As células vegetais realizam processos bioquímicos para ob- ção e transporte de água em solos onde o lençol freático e mais
tenção de energia essenciais para sua sobrevivência e seu de- profundo.
senvolvimento. De acordo com os conhecimentos acerca desses
processos bioquímicos, é correto afirmar: EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:
01) A passagem de elétrons através da cadeia transportadora, o
acúmulo de prótons no interior do tilacoide e o conseqüente di- 6. (UFBA- 2007) Com base nas relações entre plantas e animais
recionamento de prótons através da ATP- -sintase possibilitam a — insetos, aves e mamíferos. Justifique a grande expansão das
formação de ATP no processo de fotossíntese. plantas com flores em relação aos demais
02) A respiração celular caracteriza-se pela combinação de mo- grupos vegetais.
léculas de oxigênio e água para produção de glicose.
03) O gás carbônico liberado pelas plantas, ao realizarem fotos- 7. (UESB -2010) Dados parciais do Atlas dos Remanescentes
síntese, é aproveitado em uma das etapas do Ciclo de Krebs, no Florestais da Mata Atlântica revelam que a Mata Atlântica per-
processo de respiração. deu 20857 hectares de sua cobertura vegetal, durante os anos
04) As reações de luz da fotossíntese caracterizam-se pela pro- de 2008 a 2010, o que equivale à metade da área do município
dução de ATP e NADH acoplados à oxidação de H2O a CO2 . de Curitiba (PR). Esses dados foram divulgados em 27 de maio
05) O ciclo das pentoses é responsável pela produção de glicí- pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) durante
dios a partir de CO2 e H2O, durante o processo de respiração evento em comemoração ao dia nacional deste bioma. (MATA
celular em vegetais. ATLÂNTICA..., 2010). Analise as alternativas a seguir, relacio-
nadas à perda da cobertura vegetal da Mata Atlântica e os con-
4. O surgimento da fotossíntese aeróbica é considerado um mar- sequentes danos ambientais ocasionados, identificando-as como
co na história de vida na Terra e isso se deve, principalmente, a: verdadeiras (V) ou falsas (F).
01) Esse processo metabólico ter possibilitado às primeiras cé-
lulas, eucarióticas, a obtenção de alimento e energia diretamente ( ) A Mata Atlântica remanescente sofreu um intenso processo
do ambiente em que se encontravam. de fragmentação que acarreta a redução da composição da flora
02) Possibilidade de conversão de moléculas orgânicas pré- e fauna desse bioma.
-formadas a moléculas de ATP, as quais seriam utilizadas como ( ) A ocupação urbana, apesar de prejudicial ao meio ambiente,
fonte de energia para outras reações metabólicas. teve pequena influência sobre a redução da cobertura vegetal
03) Possibilidade de realização de reações de glicólise anaeró- que compõe a Mata Atlântica.
bica que apresentam rendimento energético superior em relação ( ) A formação de fragmentos florestais leva à recuperação desse
às reações metabólicas até então existentes. bioma, uma vez que influencia a ocorrência de processos natu-
04) Liberação de dióxido de carbono responsável pelo aqueci- rais, tais como sequestro de carbono.
mento gradual da superfície terrestre, o que possibilitou a biodi- ( ) A redução das áreas florestais compromete a reprodução de
versidade hoje existente. espécies vegetais e animais, devido a mudanças que ocorrem na
05) Alteração progressiva da atmosfera terrestre devido à libe- interação entre esses organismos.
ração do gás oxigênio pela ação dos organismos fotossinteti- A alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo,
zantes. éa
01) F V V F
5. “A restrição das briófitas a ambientes úmidos também esta 02) V V F F
ligada ao fato de elas dependerem da água para a reprodução 03) F V F V
sexuada, pois seus gametas masculinos, chamados anterozói- 04) V F F V
des, são flagelados, deslocando-se apenas em meio liquido. Ao 05) V F V F
atingir o gameta feminino, chamado oosfera, forma ao zigoto,
que e imóvel.” (LOPES, 2008. p. 444). 8. (UESC- 2007) Análise da estrutura e fisiologia da folha evi-
Em relação a adaptação dos grupos vegetais ao am- dencia aspectos que contribuem para a sua eficiência fotossinté-
biente terrestre ao longo de sua historia evolutiva, pode-se con- tica, entre os quais se pode reconhecer:
siderar: 01) A folha, realizando a transpiração, proporciona a ascensão
(A) As briófitas, apesar da presença de algumas limitações, da seiva mineral, diminuindo a perda de água pela planta.
desenvolveram densas florestas no ambiente terrestre anterior- 02) A elevada permeabilidade do revestimento epidérmico, con-
mente ao advento do grupo das pteridófitas. trolando o intercâmbio de gases no processo.
(B) A solução desenvolvida pelas pteridófitas para resolver as 03) A localização predominante dos estômatos na superfície su-
limitações, em relação a reprodução sexuada, consistiu no de- perior da epiderme foliar, permitindo maior captação de energia
senvolvimento de estruturas especificas para a fecundação, e proporcionando maior eficiência na fotossíntese.
como, por exemplo, os estróbilos. 04) A utilização, na construção da biomassa, de toda a energia
(C) A etapa do ciclo de vida das briófitas que apresenta a pro- incidente na folha.
Extensivo 163

05) A organização do tecido clorofiliano adaptado a condições forma de proteção contra agressões ambientais
variáveis de luminosidade, estabelecendo, na folha,
uma ampla superfície relativa. 12. (UESC- 2010) A Área de Proteção Ambiental da Lagoa En-
cantada, criada pelo Decreto Estadual N.º 2.217, de 14/07/93,está
9. (UEFS-2010) O modo como ocorreu a evolução dos proces- localizada no Município de Ilhéus. São 11.800 hectares com-
sos sexuados e dos ciclos de vida nas plantas foi de fundamen- postos de Mata Atlântica associada ao cultivo de cacau, além
tal importância para a conquista do ambiente terrestre. Pode-se de manguezais, restingas, pastagens, vilarejos, condomínios de
considerar como um desses fatores evolutivos na formação do praia e cachoeiras. A proteção da área foi proposta pela Prefei-
grupo vegetal: tura de Ilhéus, para ampliar e assegurar a vocação turística da
(A) A alternância de gerações entre uma fase sexuada e uma cidade, permitindo que o visitante possua mais uma alternativa
outra fase assexuada, ao longo do ciclo de vida. de lazer. A rica fauna aquática representada principalmente por
(B) A presença, a partir das pteridófitas, de uma fase esporofíti- peixes, como robalos e carapebas, serve de sustento às comuni-
ca mais desenvolvida e nutricionalmente independente da fase dades ribeirinhas, aliada ao turismo que vem sendo uma nova
gametofítica. opção de renda no local. Os principais conflitos observados na
(C) O advento das flores, frutos e sementes nos indivíduos do APA são a falta de saneamento básico, sem instalações de esgo-
grupo das fanerógamas. tamento sanitário, e as poucas fossas sépticas que existem são
(D) A presença de vasos condutores que condicionou uma me- mal construídas e encontram-se saturadas pelo nível do lençol
lhor adaptação das briófitas aos ambientes com menor disponi- freático. Existem, ainda, casos graves de casas que despejam
bilidade de água. seus dejetos no rio e ainda utilizam essa mesma água para ba-
nho. Observa-se também uma ocupação desordenada do solo
10. Até pouco tempo atrás, geologicamente falando, os humanos por conta dos pequenos aglomerados de casas simples dos pes-
eram caçadorescoletores. Deslocavam-se em busca de alimento, cadores e trabalhadores rurais. (Relatório de Aspectos Sócio-
efetuando longas migrações e enfrentando períodos de escassez. -ambientais. PDITS — Lit. Sul. Prodetur NE II. BNB).
Era certamente penoso, mas sustentável. Há cerca de 10 000
anos, porém, inventamos a agricultura e, com isso, nos seden- Com base no texto e nos critérios de utilização racional dos re-
tarizamos. Passamos a produzir mais comida do que o estrita- cursos do ambiente, a ação que deve ser considerada como a
mente necessário e, com esse novo poder, criamos impérios. mais correta a ser adotada para a preservação da APA da Lagoa
(GUIMARÃES, 2010). Encantada seria:
01) Restringir o impacto causado pela ocupação humana de-
A aplicação dos pesticidas nas lavouras contribui para a produ- sordenada através da implementação de um plano diretor com
ção de alimentos em larga escala, porém tem produzido muitos diagnóstico, zoneamento e plano de ação e metas para a região.
danos ao meio ambiente e aos organismos que os consomem e 02) Limitar as formas de exploração turística da região, já que
manipulam. Com relação aos pesticidas pode-se afirmar: os danos normalmente causados pelo turismo são irremediáveis
01) A degradação lenta no meio ambiente e o acúmulo progres- para a natureza.
sivo de pesticidas organoclorados, como o DDT, ao longo da 03) Transferir a rica fauna aquática presente na lagoa Encantada
cadeia alimentar, torna-os extremamente nocivos aos organis- para regiões onde a proteção à vida animal seja mais rigorosa.
mos vivos. 04) Proibir a utilização da área para obtenção de alimento pela
02) A utilização de luvas, máscaras e outros equipamentos de comunidade nativa ribeirinha, que deverá encontrar novas for-
proteção individual não são capazes de proteger os agriculto- mas de subsistência.
res durante a aplicação de pesticidas na plantação, devido à sua 05) Promover intensamente o avanço da ocupação imobiliária
grande toxicidade. com o incentivo na construção de grandes hotéis, shopping cen-
03) Os pesticidas tendem a se acumular em maiores quantidades ters e industrias relacionadas ao turismo.
nos níveis tróficos mais inferiores das cadeias alimentares.
04) A manipulação e o consumo de pesticidas ocasionam a mor- 13. (UFBA- 2009)
te rápida de seres humanos, não podendo nem mesmo serem
diagnosticados danos à saúde decorrentes de intoxicação.
05) O uso de pesticidas reduz o tamanho de frutas e legumes,
torna-os sem brilho e com pequenas manchas, devido à produ-
ção de danos em menor escala às células vegetais.

11. (UESC-2007) As “plantações verdes” são uma alternativa


para a crise energética na sociedade, por que:
01) São virtualmente ilimitadas, podendo substituir sem com-
prometimento ecológico, extensas áreas silvestres.
02) São procedimentos com estratégias tecnológicas que garan-
tem autonomia do processo em relações a fatores ambientais.
03) São estratégias capazes, em si mesma, de manter o supri- A figura faz alusão à importância do reino vegetal para o Plane-
mento de oxigênio necessário à vida. ta. A radicalidade dessa importância revela-se em um processo
04) Produzem biomassa utilizável como combustível, mantendo bioenergético que sustenta a vida em suas diversas manifesta-
o balanço entre o CO2 liberado na queima e o absorvido na ções.
plantação.
05) Necessitam de áreas distantes dos centros urbanos como Em relação a esse processo:
164 Da Vinci Vestibulares

a) explique de que modo a energia luminosa se converte em


energia química e destaque a importância desse processo para
as relações tróficas;

b) comente, numa perspectiva evolutiva e ecológica (evo-eco),


o advento da utilização da água como doadora de elétrons nesse
processo.

14. (UESC- 2007)


“Essa capacidade de armazenar energia recebida do Sol faz das
plantas uma fonte energética virtualmente inesgotável. Surge
daí a idéia de “plantações verdes”, ou seja, cultura de espécies
vegetais que possam servir direta ou indiretamente como fonte
de energia”. (CARVALHO, Ciência Hoje, 2006, p. 32).
Pela capacidade de armazenar energia recebida do Sol, as plan-
tas se constituem fonte energética virtualmente inesgotável que
impulsiona a vida, mantendo a dinâmica da Biosfera traduzida
em
01) Conservação da mesma quantidade de biomassa a cada ní-
vel de consumidor.
02) Estruturação do ecossistema na transferência de biomassa
através de relações alimentares.
03) Organização das cadeias alimentares com número ilimitado
de níveis tróficos.
04) Reciclagem de energia pela atividade de decompositores em
todos os níveis tróficos.
05) Paralelismo na realização dos ciclos biogeoquímico fluxo
energético.

15. (UEFS-2010) A figura esquematiza a relação entre duas es-


pécies de planta do gênero Mimulus com o beija-flor e a abelha
mamangaba.

A partir da análise da ilustração, apresente duas carac-


terísticas decisivas na evolução de cada um dos grupos repre-
sentados e o significado biológico da relação planta/ animal em
destaque.
Extensivo 165

matemática
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TEORIA DOS CONJUNTOS


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Linguagens
&
Códigos
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MÓDULO 1: A LÍNGUA PORTUGUESA: DAS A Constituição da Língua Portuguesa no Brasil


ORIGENS AOS DIAS ATUAIS
A constituição do Português no Brasil também decor-
Neste módulo, discutiremos como a língua portuguesa reu de um processo, porém, menos longo do que a formação das
se constituiu, como se disseminou pelo mundo e como o por- línguas nacionais a partir do latim.
tuguês que usamos hoje no Brasil se distinguiu daquele falado Inicialmente, ocorreu o contato do português, vindo
em Portugal. Você já deve estar pensando: qual a importância da Europa através dos colonizadores (a partir de 1532), com
disso? Nosso objetivo é que você tome consciência de alguns as línguas indígenas. Hoje, no país, há aproximadamente 180
processos lingüísticos que ocorreram na história da formação de línguas indígenas. Não se sabe quantas existiam na época da
nossa língua, para que alguns preconceitos que ocorrem hoje se- chegada dos jesuítas, mas se pode pensar que a quantidade era
jam dirimidos. Um exemplo de preconceito muito arraigado em bem maior, já que o número de habitantes também o era (esti-
nossa sociedade é o de que somente em Portugal “fala-se bem/ ma-se que havia 300 línguas diferentes).
corretamente” o português. Ao compararmos as duas variedades De acordo com alguns autores, há aproximadamente
da Língua Portuguesa, veremos que, entre elas, há apenas dif- 250.000 índios no Brasil, e calcula-se que, na época do início
erenças, sem que os julgamentos de melhor ou pior, bonito ou da colonização, havia entre 2 e 3 milhões de habitantes em tri-
feio sejam válidos. bos indígenas. Já em 1595, houve, em Portugal, a impressão da
gramática escrita pelo jesuíta Padre Anchieta - sobre o que de-
Origem da Língua Portuguesa nominou ser a “língua brasílica” - com base em dados que recol-
heu de línguas do tronco lingüístico tupi do litoral brasileiro.Foi
Do latim derivaram o português, o espanhol, o italiano, esta versão da língua indígena o primeiro modo de interação
o francês, o romeno e o catalão. Este processo de uma língua lingüística entre os portugueses que chegavam e os índios (nota-
derivar outra(s) resulta de um longo percurso histórico. No caso damente os do tronco tupi) até meados do século XVIII, período
da formação das línguas neolatinas, temos de nos reportar a um após o qual, entre a população brasileira, começa a se difundir
período bastante longínquo. Com a expansão do Império Roma- mais forte-mente a língua portuguesa propriamente dita.Vale
no, a partir do século V a.C., vários territórios foram conquis- ressaltar, no entanto, que muito da apreensão da “língua geral”
tados e incorporados a ele. Como a língua do vencedor, nessa (como essa língua de contato foi chamada) se deu aos poucos e,
época, era o latim, qualquer relação lingüística entre conquista- com a colonização adentrando os interiores do Brasil, foi sen-
do e conquistador passava a ser feita na língua deste: o latim. O do realizada através da oralidade. Desse modo, desde o século
número de falantes desta língua, então, em muito se ampliou. XVI, a língua geral já era heterogênea. A partir de 1538, foram
No entanto, o latim falado pela aristocracia romana e trazidos 18 milhões de escravos africanos, vindos de áreas dis-
usado na literatura e na magistratura (o chamado “latim clássi- tintas deste continente e, portanto, com línguas diversas.
co”), cada vez mais, distanciava-se do latim vulgar, falado pelos
plebeus e escravos. Essas duas variedades do latim, portanto, O Português Brasileiro e o Português Europeu
coexistiram no mesmo período.Aos poucos, o latim clássico foi
ficando reservado às situações mais formais. Paralelamente, at- É comum ouvirmos dizer que o brasileiro não sabe
ravés do contato entre o latim vulgar e as línguas faladas pelos português, ou que os portugueses, sim, é que falam bem esta
povos conquistados, foi surgindo uma vasta gama de dialetos. língua. Dizemos que falamos português, por questões de nossa
Com o tempo, especialmente após a queda do Império Romano, colonização. Porém, a língua falada no Brasil apresenta uma
alguns desses dialetos, devido a aspectos políticos, econômicos gramática bem diferente da de Portugal. Essas diferenças vêm
ou culturais das regiões em que eram falados, passaram a vig- sendo investigadas por vários de nossos linguistas.
orar, inclusive, em regiões vizinhas, dando origem às línguas Para ficar mais claro, costumamos dizer Português Eu-
nacionais.No caso específico da Península Ibérica, surgiram lín- ropeu (PE) ou Português de Portugal (PP) e
guas como o catalão, o castelhanoe o galego-português. Português do Brasil (PB).
Desta última, derivaram o galego (uma língua falada Se você já pôde ter a experiência de ler um texto escri-
apenas na região da Galícia, na Espanha) e o português, falado to por um português, deve ter notado que,
no sul da faixa ocidental da província, na região de Lisboa. Esta apesar de algumas diferenças de ortografa, é possível
língua consolidou-se com o tempo e com a expansão do Império compreender muito bem o conteúdo transmitido.
Português. A partir do século XII, já se falava uma forma arcai- Todavia, se você já pôde ouvir um português falando,
ca de português, ainda com a infuência do galego. deve ter tido dificuldade em entender algum momento desta
Foi nesta forma arcaica que os trovadores da época fala. Temos diferenças não só lexicais (ex: menino/moleque, em
começaram a escrever (nas aulas de literatura, certamente, você PB; gajo/ putos, em PE) ou fonéticas (como “diferent”, para
terá contato com textos escritos nesta forma, quando estudar “diferente”), como também sintáticas (ex: “Me diga”, em PB;
o Trovadorismo). Com a intensa produção literária renascen- “Diga-me”, em PE).
tista de Portugal, a partir do século XVI – especialmente a de Com todas essas diferenças, novamente o que fica cla-
Camões – o português passou a adquirir as características atuais ro é que uma língua sempre muda, a despeito de todas e quais-
da língua. quer tentativas de barrar esse processo.
Além disso, com a publicação da primeira Gramática O que é lamentável é que, geralmente, muitas pessoas
da Linguagem Portuguesa, por Fernão de Oliveira, em 1536, tomam esses fatos de mudança linguística não como algo nor-
o português passou a ser definitivamente uma língua nacional mal e revelador da idiossincrasia e história de um povo e de
constituída. uma cultura, mas como indicativo de que estamos, por exemplo,
deturpando a língua portuguesa ou que estamos deixando de
falar o bom português.
Extensivo 211

Acompanhe abaixo o que diz Marcos Bagno: e Príncipe.


Se você um dia ouvir, por exemplo, um angolano falan-
“É curioso como muitos brasileiros assumem esse mesmo pre- do, notará que há muitas ocorrências linguísticas bastante próxi-
conceito negativo também em relação a outras línguas, defen- mas às do PE (em geral, o “sotaque” é a primeira característica
dendo sempre a língua da metrópole contra a língua da ex-co- a ser sentida). Isso se explica porque cada uma das localidades
lônia. É o eterno trauma de inferioridade, nosso desejo de nos mencionadas acima, embora também tenha sido colonizada
aproximarmos, o máximo possível, do cultuado padrão ‘ideal’, pelos portugueses, apresentou uma história de constituição da
que é a Europa. Todo santo dia tenho de ouvir alguém me dizer língua portuguesa de modo próprio, já que, em cada um desses
que prefere o inglês britânico, porque acha o inglês americano locais, o cenário linguístico, quando da chegada dos portugue-
‘muito feio’ [...] Se algum de nós disser a um norte-americano ses, era único, distinto dos demais. Aliás, também nessas locali-
que ele ‘não sabe inglês’ ou que o inglês falado nos Estados dades, ainda hoje o português é apenas uma das línguas faladas,
Unidos é ‘errado’ ou ‘feio’, ele decerto vai ficar chocado com isto é, além da existência de variedades linguísticas do portu-
nossa ignorância. Afnal, existe um argumento mais do que guês, esses países podem ainda apresentar outras línguas.
convincente para rebater essa acusação: o tamanho do país e
a quantidade de falantes de inglês que ali vivem, além da im- Leitura complementar:
portância dos Estados Unidos no panorama mundial.O mesmo
argumento vale para o português do Brasil. Nosso país é 92 Dicas para quem for a Portugal algum dia:
vezes e meia maior que Portugal, e nossa população é 15 vezes 1) Se perguntarem seu apelido, dê o sobrenome, pois quando
superior! Quando se trata de língua temos de levar em conta quiserem o apelido, dirão “qual a tua alcunha?”
a quantidade: só na cidade de São Paulo vivem mais falantes 2) Jamais peça para ir ao banheiro, pois pensarão que você está
de português do que em toda a Europa! Além disso, o papel procurando por um salvavidas. Peça para ir à casa de banho.
do Brasil no cenário político-econômico mundial é, de longe, 3) Quando quiser saber onde fica a bilheteria, pergunte pela bi-
muito mais importante que o de Portugal. Não tem sentido ne- lheteira.
nhum, portanto, continuar alimentando essa fantasia de que os 4) Independente de ser homem ou mulher, sinta-se à vontade
portugueses são os verdadeiros ‘donos’ da língua, enquanto nós para colocar a camisola, que é simplesmente um suéter. Mas,
a utilizamos (e mal!) por ‘empréstimo’”. (BAGNO, 2003: 30-1) se for mulher e precisar de calcinhas, dirija-se a uma loja de
lingerie feminina e diga que precisa de cuecas (por incrível que
Os preconceitos são muitos. Desde considerar que isso possa parecer).
devemos falar x ou y porque em Portugal se fala assim, até 5) Se precisar comprar carne, procure por um talho e não por
imaginar que nós erramos e os portugueses não. Em Portugal, um açougue.
também há dialetos, também há variações linguísticas! Marcos 6) Ao se machucar, peça um adesivo e não um esparadrapo.
Bagno, ao comentar a desvalorização do PB em relação ao PE, 7) Para as mulheres vaidosas, que gostam de fazer as unhas, ha-
exemplifica com uma reportagem da revista Época (de 14 junho verá, nas lojas de cosméticos, muito verniz, e nada de esmalte.
de 1999), que trazia, num quadro intitulado “Como escrever 8) E o nosso querido gerúndio terá que dar espaço a uma ou-
bem. Dicas para brasileiros de todas as idades”, a recomenda- tra construção: ao invés de dizer: “Estou fazendo um trabalho”,
ção de que não devemos usar gerúndio em textos, porque isso diga “Estou a fazer um trabalho” e se, de repente, precisar usar
os empobrece, e acrescentava: “Lembre que não existe gerúndio um pronome, jamais diga “Estou fazendo ele”, mas sim “Estou
no português falado em Portugal”.Leia abaixo o comentário de a fazê-lo”.
Bagno sobre tal reportagem:“[...] 9) E, por falar em pronome, em Portugal, jamais comece uma
A dica, além de deixar à mostra sua inspiração neoco- oração com pronome do caso oblíquo (Me conta, te expliquei
lonialista, também afirma uma inverdade linguística: no portu- etc.). Diga: “Conte-me”, “expliquei-te”. E, no meio de uma
guês de Portugal existe, sim, o gerúndio. A título de curiosida- frase, não tenha dúvida: coloque o pronome depois do verbo:
de, lembrome do “Fado do ciúme” – sucesso na voz de Amália “Vou dizer-lhe a verdade”, “Ela emprestou-me o livro”.
Rodrigues, uma das maiores cantoras portuguesas de todos os 10) E, quanto à pronúncia, ouvidos atentos: “s” depois de vogal
tempos -, cuja letra a certa altura diz: ‘antes prefro morrer/do deve ser pronunciado como o “s” carioca, chiado, como em “es-
que consigo viver/sabendo que gostas dela’. Esse sabendo outra tou” e “mas”. Lá, o nosso “e” vira “â”, como em “sei” e assim
coisa não é senão um gerúndio. (Aproveito para chamar atenção por diante.
para o antes prefiro... do que, indício de que os portugueses
também ‘erram’ na hora de usar o verbo preferir...)” (BAGNO, EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
2003:28-9)
Com esses esclarecimentos, o autor faz “cair por terra” 01. (FUVEST) O autoclismo da retrete RIO DE JANEIRO – Em
tanto a ideia de que devemos usar a língua do mesmo modo que 1973, fui trabalhar numa revista brasileira editada em Lisboa.
os portugueses a usam, como a ideia de que, em Portugal, não Logo no primeiro dia, tive uma amostra das deliciosas diferen-
há variação. ças que nos separavam, a nós e aos portugueses, em matéria de
língua. Houve um problema no banheiro da redação e eu disse
O Português no Mundo Hoje à secretária: “Isabel, por favor, chame o bombeiro para conser-
tar a descarga da privada.” Isabel franziu a testa e só entendeu
Segundo alguns autores, o português está entre as cin- as quatro primeiras palavras. Pelo visto, eu estava lhe pedindo
co línguas mais faladas no mundo. Além de Portugal, a língua que chamasse a Banda do Corpo de Bombeiros para dar um
portuguesa é falada no Brasil, em alguns pontos da Ásia (como: concerto particular de marchas e dobrados na redação. Por sor-
Macau, Timor, Goa, península da Malaia), em Guiné-Bissau, te, um colega brasileiro, em Lisboa havia algum tempo e já
Angola, Moçambique, Cabo Verde, Ilha da Madeira e São Tomé escolado nos meandros da língua, traduziu o recado: “Isabel,
212 Da Vinci Vestibulares

chame o canalizador para reparar o autoclismo da retrete.”E só 04) (UNICAMP)


então o belo rosto de Isabel se iluminou.(Ruy Castro, Folha de Perguntado em fins de 1997 pelo Jornal das Letras (Lisboa) se
S. Paulo.) seu nome seria uma boa indicação para o Prêmio Nobel de Li-
teratura, junto com os nomes, sempre lembrados pela imprensa,
a) Em São Paulo, entende-se por “encanador” o que no Rio de de José Saramago e António Lobo Antunes, o escritor português
Janeiro se entende por “bombeiro” e, em Lisboa, por “canali- José Cardoso Pires deu a seguinte resposta: “A Imprensa tem lá
zador”. Isto permitiria afirmar que, em algum desses lugares, as suas razões. Durante anos e anos passei a vida a assinar pa-
ocorre um uso equivocado da língua portuguesa? Justifique sua péis a pedir um Nobel para um escritor português e isso não ser-
resposta. viu de nada. De modo que o facto da Imprensa agora prever isto
ou aquilo... Uma coisa eu sei: o Prémio Nobel dado a um escri-
tor português de qualidade beneficiava todos os escritores por-
tugueses. Que todos gostariam de ter o Prémio Nobel também é
b) Uma reforma que viesse a uniformizar a ortografia da língua verdade, mas se um ganhar ganhamos todos. De qualquer modo
portuguesa em todos os países que a utilizam evitaria o proble- o critério actual é o dos mais traduzidos e os mais traduzidos são
ma de comunicação ocorrido entre o jornalista e a secretária. o Saramago e o Lobo Antunes. Eu sou menos. Mas isso não me
Você concorda com essa afirmação? Justifique. preocupa nada. Sinceramente”.

2. Leia abaixo frases retiradas de um mesmo romance (O evan- a) Aponte, na resposta de Cardoso Pires, as características de
gelho segundo Jesus Cristo) de José Saramago, escritor portu- acentuação e grafa que a identificam como um texto em portu-
guês: guês europeu.
I – “O sol mostra-se num dos cantos superiores do rectângulo, o
que se encontra à esquerda de quem olha [...]” b) Aponte, na mesma resposta, as construções que a caracteri-
II - “[...] Não se sabe quem aqui pôs estes restos e com que fim o zam como um texto em português europeu e dê os prováveis
teria feito, se é apenas um irónico e macabro aviso aos infelizes equivalentes brasileiros dessas construções.
supliciados sobre seu estado futuro [...]”
III – “[...] Este personagem, tão novinho, com o seu cabelo aos c) Sabemos que o Nobel de Literatura foi ganho em 1998 por
cachos e o lábio trémulo, é João [...]” José Saramago. A partir de qual passagem do texto poderíamos
IV – “[...] ao contrário do ladrão do outro lado, que mesmo no desconfiar que, na opinião do entrevistado, não necessariamente
transe fnal, de sofrimento agónico, ainda tem valor [...]” o vencedor é o melhor?
V – “[...] Tal como José de Arimateia, também esconde com o
corpo o pé desta outra árvore [...]” 5. (ENEM) Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga
VI – “[...] aquela vara vertical de luz, anunciadora do dia, que com a carta de Pero Vaz de Caminha:
acabara por imaginar, sem ligar ao absurdo da ideia [...]” “A terra é mui graciosa,
Tão fértil eu nunca vi.
a) Aponte as palavras que, do ponto de vista ortográfico e de A gente vai passear,
acentuação, revelam uma convenção distinta da existente no No chão espeta um caniço,
português brasileiro atual. No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
b) Procure apresentar a hipótese de qual a regra que o sistema Tem goiabas, melancias,
de acentuação do PE parece seguir nas palavras que foram aqui Banana que nem chuchu.
evocadas, através das frases de Saramago, e no que elas diferem Quanto aos bichos, tem-nos muito,
de nosso sistema. De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
3. “Em Portugal [...] o plural de tu não é vós, como querem as Diamantes tem à vontade
gramáticas normativas. O plural de tu é vocês. Pois bem, na Esmeralda é para os trouxas.
hora de usar os possessivos, os portugue-ses usam vosso/vossa, Reforçai, Senhor, a arca,
que, teoricamente, só poderiam ser usados com referência a vós: Cruzados não faltarão,
‘Vocês trouxeram os vossos filhos?’ E num livro editado Vossa perna encanareis,
em Portugal encontrei a seguinte pergunta: ‘Não vos sucede Salvo o devido respeito.
sentirem-se por vezes um pouco indefinidos?’ É a famosa ‘mis- Ficarei muito saudoso
tura de tratamentos’, que causa tanto arrepio e dor de estômago Se for embora daqui”.
nos gramáticos conservadores [...]” (BAGNO, 2003: 31-2) (MENDES, Murilo. Murilo Mendes – poesia completa e prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.)
a) Explique no que consiste a mistura de tratamentos que acon-
tece no PE, segundo o trecho acima. Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, crian-
do um efeito de contraste, como ocorre em:
b) Como seriam as frases apontadas pelo autor, se quiséssemos (A) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais
manter a uniformidade dos pronomes? (B) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
(C) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
c) Cite exemplos que revelam que a mistura de pronomes tam- (D) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
bém ocorre no português brasileiro. E explique no que consiste (E) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
essa mistura.
Extensivo 213

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES: Observe a tirinha e responda:

6. Observe a cena e responda:

a) O cartum procura criticar uma prática muito comum entre os


falantes do português. Que prática é essa?

b) Comprove sua resposta à questão anterior através de elemen-


tos do cartum.

7. (FUVEST) Conta-me Cláudio Mello e Souza.


Estando em um café de Lisboa a conversar com dois amigos
brasileiros, foram eles interrompidos pelo garçom, que pergun-
tou, intrigado:
— Que raio de língua é essa que estão aí a falar, que eu perce-
bo(*) tudo? (Rubem Braga) (*) percebo = compreendo
9. Qual é o pressuposto da personagem que defende o acordo
a) A graça da fala do garçom reside num paradoxo. Destaque
ortográfico entre os países de língua portuguesa? Por que esse
dessa fala as expressões que constituem esse paradoxo. Justi-
pressuposto é inadequado?
fique.

b) Transponha a fala do garçom para o discurso indireto. Co-


10. Explique como esse pressuposto é quebrado.
mece com: O garçom lhes perguntou, intrigado, que raio de lín-
gua...

8. (UNESP) Árabe, iorubá, tupi, cantonês, catalão, provençal.


A cada vez que você abre a boca para falar o bom e velho por-
tuguês brasileiro, acaba soltando palavras dessas línguas e de
outras 30. As palavras estrangeiras aportuguesadas são como
fósseis: contam a história dos povos que conviveram com quem
falava a “língua de Camões”. Povos guerreiros enriqueceram o
nosso vocabulário sobre a guerra. “Canivete”, “bando”, “trégua”
e a própria “guerra” vieram dos bárbaros germânicos (suevos e
visigodos) que dominaram a Península Ibérica entre os séculos
V e VII. (Revista Superinteressante, abril de 2002. Adaptado.)

Levando em conta o texto lido, responda às seguintes questões:

a) Qual era a “língua de Camões”?

b) Por que o autor do texto empregou a palavra fósseis para


referir-se às palavras estrangeiras?
214 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 02: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA — “Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém
ciente, nem têm o legítimo — o livro que aprende as palavras...
“ Que importa que uns falem mole É gente pra informação torta, por se fingirem de menos igno-
Descansado râncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres
Que os cariocas arranhem os erres na garganta não me dou: eles logo engambelam... A bem. Agora, se me faz
Que os capixabas escancarem mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado:
As vogais? o que é que é, o que já lhe perguntei?”
Que tem quinhentos réis meridional Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:
Vira tostões do Rio pro Norte? — Famigerado?
Juntos formamos este assombroso Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço:
De misérias e grandezas, o verivérbio.
Brasil, nome de vegetal ...” — Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”...
(Mário de Andrade) — “Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender.
Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Far-
O poema de Mário de Andrade serve de introdução ao sância? Nome de ofensa?”
nosso próximo assunto, a VARIAÇÃO LINGUÍSTICA . Como — Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de
sabemos, a língua não é um elemento imutável, pelo contrário, outros usos...
passa o tempo todo por alterações. Quando ouvimos na rua uma — “Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em
gíria nova ou lemos uma edição mais antiga de determinada dia-de-semana?”
obra literária, por exemplo, estamos diante do fenômeno da va- — Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, res-
riação linguística. peito... (João Guimarães Rosa, do conto Famigerado, in Pri-
meiras estórias).
A variação histórica
Variação sociocultural
A variação histórica ocorre ao longo de um determina-
do período de tempo e pode ser identificada ao se compararem Agrupa alguns fatores de diversidade: o nível sócioeconômico
dois estados de uma língua. O processo de mudança é gradual. determinado pelo meio social onde vive o falante; seu grau de
A forma antiga permanece ainda entre as gerações mais velhas, educação; idade e o sexo. A variação sociocultural não compro-
período em que as duas variantes convivem; porém com o tem- mete a compreensão entre indivíduos, como poderia acontecer
po a nova variante torna-se normal na fala, e finalmente consa- na variação regional; além disso, o uso de certas variantes pode
gra-se pelo uso na modalidade escrita. As mudanças podem ser indicar qual o nível sócio-econômico de uma pessoa.
de grafia ou de significado. Será que você consegue identificar o
poema abaixo? Alguns exemplos:

Media in via
Media in via erat lapis
erat lapis media in via Variação socio-cultural por idade:
erat lapis
media in via erat lapis.
Non ero unquam immemor illius eventus
pervivi tam míhi in retinis defatigatis.
Non ero unquam immemor quod media in via
erat lapis
erat lapis media in via
media in via erat lapis.
(Carlos Drummond de Andrade)

A variação geográfica ou regional


Variação sociocultural por classe social:
No Brasil, esse tipo de variação lingüística é bastante grande e
pode ser facilmente observada. É uma variante cujas marcas se Vício na fala
notam principalmente na pronúncia (sotaque), mas que possui
também modificações quanto ao uso do léxico e em estruturas Para dizerem milho dizem mio
sintáticas. Para melhor dizem mió
Vejamos um exemplo: Para pior pió
Para telha dizem teia
— “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o Para telhado dizem teiado
que é mesmo que é: fasmisgerado... fazmegerado... falmisgeral- E vão fazendo telhados.
do... familhas-gerado...? (...) (Oswald de Andrade)
— “Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem pa-
rar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar
a pregunta, pelo claro...” (...)
Extensivo 215

Variação sociocultural por grupos sociais:

Variação sociocultural por profissões:

EXERCÍCIOS ESSENCIAIS:
pra mim, mano. O senhor, que já tá velhinho, não sabe como é
1. Leia o trecho abaixo: difícil hoje em dia agradar a mulherada.
O poeta da roça *******
Sou fio da roça, cantô da mão grossa,
Trabaio na roça, de inverno e de estio. Noel Querido,
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mio. No próximo dia 24 vou oferecer uma ceia para alguns amigos
(...) em minha casa, “en petit comité”. Eu adoraria poder contar com
Não tenho sabença, pois nunca estudei, sua presença. E, se você
Apenas eu sei o meu nome assiná. quiser trazer um presente para a anfitriã, não vou me impor-
Meu pai, coitadinho! Vive sem cobre, tar, pelo contrário, até dou uma sugestão: você já viu a nova
E o fo do pobre não pode estudá. linha de monitores de plasma da Gradiente? É um must! Design
Meu verso rastero, singelo e sem graça, clean, tecnologia de última geração. Ficaria o máximo ao lado
Não entra na praça, no rico salão, da minhas obras modernistas. Apenas um pedido, querido. Por
Meu verso só entra no campo e na roça favor, não entre pela chaminé para não assustar os convidados.
Nas pobre paioça da serra ao sertão. Um beijo.
(...) ________________________________
(Patativa do Assaré. Cante lá que eu canto cá: filosofia seu nome
de um trovador, 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1984. p.20). RSVP: com minha secretária.

Identifique, neste texto, marcas que permitem fazer uma hipóte- A propaganda acima foi idealizada a partir do pressu-
se sobre a origem geográfica e a classe social do poeta. posto de que consumidores diferentes teriam formas específicas
de formular seu pedido ao bom velhinho. Levando em conside-
2. Observe a propaganda veiculada pela Gradiente ração a linguagem utilizada em cada uma das cartas, explicite
por ocasião do Natal: qual a imagem provável que o leitor da propaganda fará do au-
A gradiente vai ajudar você a ganhar o melhor presente tor de cada uma das cartas. Justifique sua resposta com exem-
neste Natal. plos retirados das cartas.
E aí, Papai Noel? Belê?
A parada é a seguinte: eu, _______________(seu nome), tô 3. (FUVEST)
muito a fm, tô a fnzaço mesmo, de ter um Mini System Tita- Você pode dar um rolê de bike, lapidar o estilo a bordo de um
nium da Gradiente no meu quarto, aquele que reproduz MP3 skate, curtir o sol tropical, levar sua gata para surfar. Consi-
com 5.000 watts derando-se a variedade lingüística que se pretendeu reproduzir
de potência, tá ligado? Sabe como é: eu queimo uns CDs MP3, nesta frase, é correto afirmar que a expressão proveniente de
convido a mina pra ouvir um som da hora, a gente troca umas variedade diversa é:
idéias e aí, meu velho, você tá ligado, né? E então? Quebra essa
216 Da Vinci Vestibulares

(A) “dar um rolê de bike” lo, representando idade de 30 a 35 anos, com os seguintes sig-
(B) “lapidar o estilo” naes: altura mediana, côr fula, corpo delgado, rosto comprido
(C) “a bordo de um skate” e um pouco entortado, boca regular e falta de 2 ou 3 dentes da
(D) “curtir o sol tropical” parte de cima, um signal de cada lado das maçans do rosto, ca-
(E) “levar sua gata para surfar” bello cortado rente; a entrada da testa do lado esquerdo é maior
do que a do lado direito, falla manso mostrando humildade.
4. (FUVEST) Sabe lêr e escrever e costuma inculcar-se forro e voluntário da
As aspas marcam o uso de uma palavra ou expressão de varie- pátria.
dade lingüística diversa da que foi usada no restante da frase Levou vestido paletot e calça de casimira preta com pouco uso
em: e uma trouxa de roupa com calças e paletots brancos. Usa tam-
(A) Essa visão desemboca na busca limitada do lucro, na apo- bem bigode e barba rapada. Quem o prender e trouxer em Cam-
logia do empresário privado como o “grande herói” contempo- pinas e pozer na Cadêa receberá de gratifcação 100$000 do sr
râneo. Joaquim Candido Thevenar (Gazeta de Campinas, 17 de julho
(B) Pude ver a obra de Machado de Assis de vários ângulos, sem de 1870).
participar de nenhuma visão “oficialesca”.
(C) Nas recentes discussões sobre os fundamentos da economia Animal Desaparecido
brasileira, o governo deu ênfase ao “equilíbrio fiscal”.
(D) O prêmio Darwin, que “homenageia” mortes estúpidas, foi Na noite de Domingo para Segunda-feira, foi roubado em frente
instituído em 1993. do Chico Pinto um animal com os seguintes signaes ruano, cal-
(E) Em fazendas de Minas e Santa Catarina, quem aprecia o çado dos quatro pés, tem no queixo um osso saliente para fora,
campo pode curtir o frio, ouvindo “causos” à beira da fogueira. andar de trote.
O referido estava arreado com basto, novo, pellego imitação
5. (ENEM) de carneiro, sobrexincha de cadarço verde. Quem der notícias
Só falta o Senado aprovar o projeto de lei [sobre o uso de ter- certas ou entregar ao proprietário, será gratifcado com 50$000.
mos estrangeiros no Brasil] para que palavras como shopping Antonio Victorino da Silva. Jahú, 1º de agosto de 1897. (Correio
center, delivery e drive-through sejam proibidas em nomes de do Jahu, 08 de agosto de 1897).
estabelecimentos e marcas. Engajado nessa valorosa luta contra
o inimigo ianque, que quer fazer área de livre comércio com a)Sem considerar as diferenças de ortografa, identifique no
nosso inculto e belo idioma, venho sugerir algumas outras me- anúncio da Gazeta de Campinas duas expressões que hoje não
didas que serão de extrema importância para a preservação da seriam correntes e, portanto, para serem adequadamente com-
soberania nacional, a saber: preendidas, exigiriam algum tipo de pesquisa histórica ou lin-
•Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer “Tu vai” em güística.
espaços públicos do território nacional;
Nenhum cidadão paulista poderá dizer “Eu lhe amo” e retirar b)Explicite pelo menos duas semelhanças no conteúdo dos dois
ou acrescentar o plural em sentenças como “Me vê um chopps anúncios.
e dois pastel”;
•Nenhum dono de borracharia poderá escrever cartaz com a pa- c) Que traço da mentalidade escravocrata pode ser identificado
lavra “borraxaria” e nenhum dono de banca de jornal anunciará pela comparação dos dois anúncios?
“Vende-se cigarros”;
•Nenhum livro de gramática obrigará os alunos a utilizar colo- 7. (UFF)
cações pronominais como “casar-meei” ou “ver-se-ão”. (PIZA, SAUDOSA MALOCA (fragmento)
Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de S. Paulo, São Pau- e fumo pro meio da rua
lo, 8/04/2001). apreciá a demolição
que tristeza que eu sentia
No texto acima, o autor: cada tauba que caía me doía no coração
Matogrosso quis gritá mas em cima eu falei
a) mostra-se favorável ao teor da proposta por entender que a os home tá com a razão
língua portuguesa deve ser protegida contra deturpações de uso. nóis arranja outro lugar
b) ironiza o projeto de lei ao sugerir medidas que inibam deter- só se conformemo quando Joca falou
minados usos regionais e socioculturais da língua. Deus dá o frio conforme o cobertô
c) denuncia o desconhecimento de regras elementares de con- E hoje nóis pega palha nas grama do jardim
cordância verbal e nominal pelo falante brasileiro. E pra esquecê nóis cantemo assim:
d) revela-se preconceituoso em relação a certos registros lin- Saudosa maloca
güísticos ao propor medidas que os controlem. Maloca querida
e) defende o ensino rigoroso da gramática para que todos apren- Dindindonde nóis passemo
dam a empregar corretamente os pronomes. dias feliz de nossa vida
(Adoniran Barbosa)
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES:
No fragmento acima, observa-se o emprego estilístico de um
6. Escravo Fugido registro de língua que:

Fugio no dia 30 de Junho p o escravo de nome Anacleto; creou-


Extensivo 217

a) apresenta exemplo vivo da fala de um personagem enuncia- conteúdo emotivo da carta.


dor de determinado padrão sociocultural; d) utiliza, conscientemente, registros que se opõem à norma cul-
b) ao se afastar da norma culta, passa a configurar erros grossei- ta, com o propósito de se fazer entender pelo namorado.
ros que impedem a comunicação; e) usa expressões que sugerem a percepção de que a modalidade
c) representa uma situação de linguagem figurada rejeitada, escrita difere da modalidade falada, apesar de não dominar a
mesmo em textos poéticos; norma culta.
d) ao utilizar a fala de personagem de segmento social excluído,
exemplifica um registro inaceitável; No contexto da carta, o uso de certas expressões como: “Es-
e) discute a variante lingüística usada por falantes descompro- crevo-te estas poucas linhas, estarei morta para teu coração?”,
missados com o ensino escolar. “sou tua na expressão da verdade”, A mesma sugere que a per-
sonagem:
8. O texto “O FMI vem aí. Viva o FMI”, do articulista Luiz a) utiliza a linguagem acadêmica, típica das cartas de amor, para
Nassif, publicado na revista ÍCARO, está redigido no português dissimular seus sentimentos.
culto característico do jornalismo, e contém, inclusive, um bom b) utiliza clichês, acreditando estar usando linguagem culta ade-
número de expressões típicas da linguagem dos economistas, quada ao gênero epistolar.
como “desequilíbrio conjuntural”, “royalties”, “produtos primá- c) usa linguagem terna e carinhosa para enganar o namorado.
rios”, “política cambial”. No entanto, contém também termos d) quer aproximar a língua escrita da língua falada.
ou expressões informais, como na seguinte frase: “Há um ou e) escreve de forma irônica a fm de ridicularizar José.
outro caso de mudanças estruturais no mundo que deixa os pa-
íses com a broxa na mão”. Leia o trecho abaixo, que é parte
do mesmo artigo, e responda às questões: Países já chegam ao
FMI com todos esses impasses, denotando a incapacidade de
suas elites de chegarem a fórmulas consensuais para enfrentar
a crise – mesmo porque essas fórmulas implicam prejuízos aos
interesses de alguns grupos poderosos. Aí a burocracia do FMI
deita e rola. Há, em geral, economistas especializados em deter-
minadas regiões do globo. Mas, na maioria das vezes, as fórmu-
las aplicadas aos países são homogêneas, burocráticas, de quem
está por cima da carne-seca e não quer saber de limitações de
ordem social ou política. (...) Sem os recursos adicionais do
Fundo, a travessia de 1999 seria um inferno, com as reservas
cambiais se esvaindo e o país sendo obrigado ou a fechar sua
economia ou a entrar em parafuso. O desafo maior será produzir
um acordo que obrigue, sim, o governo e Congresso a acelera-
rem as reformas essenciais (ÍCARO, 170, out. 1998)

a) Transcreva outras três expressões do trecho que tenham a


mesma característica de informalidade.
b) Substitua as referidas expressões por outras, típicas da lin-
guagem formal.

Texto para as questões 9 e 10.

Querido José
Escrevo-te estas poucas linhas para recordar o passado entre nós
dois. José desde aquele dia em que me encontrei com você na
praça Tiradentes e depois você não veio mais falar comigo, eu
fquei muito triste mas não deixei de pensar em ti, (…) peço que
venha falar comigo, que daí nós se acertamos, eu quero ser feliz
com você, é triste a gente andar como cigana, jogada de um
canto a outro, estarei morta para teu coração? (…) sou tua na
expressão da verdade. Maria. P. S. Tenho certeza que desculpas
a minha letra, bem sabes que sou quase analfabeta. A mesma.
(Dalton Trevisan)

9. A linguagem do texto denota que a personagem:


a) comete erros em função de seu estado emocional, embora
domine a norma culta e a modalidade escrita da língua.
b) tem consciência de que comete falhas gramaticais, já que as-
socia seu quase analfabetismo à caligrafa.
c) tem domínio da modalidade escrita da língua, haja vista o uso
do pronome tu, mais adequado ao
218 Da Vinci Vestibulares

MÓDULOS 3 E 4: ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE em língua portuguesa:


PALAVRAS 1. Raiz/Radical: parte principal de significação de uma palavra.
2. Desinências nominais: terminações das categorias nominais
“Com as palavras também podemos desenhar. Aranhas (substantivos, artigos, adjetivos, pronomes) que servem para in-
ou o que nos apetecer. E dizer: “Arre, arre, arrrranha, dicar gênero e número.
arrranhisso, arranhaço”. Poema de Salete Tavares 3. Desinências verbais: terminações dos verbos que servem para
indicar pessoa, número, tempo e modo.
Nestes módulos, pensaremos um pouco em como se 4. Afixos (prefixos e sufixos): elementos que se acrescentam no
estruturam e formam as palavras em língua portuguesa. É claro início ou no final das palavras e que têm um significado prees-
que, conscientemente ou não, todos nós, falantes desta língua, tabelecido.
em nosso dia-a-dia, deduzimos o sentido de muitas palavras 5. Vogal temática: vogal que serve para indicar a conjugação à
com base no signifcado das partes que a estruturam. qual um verbo pertence (1ª., 2ª. ou 3ª.).
6. Vogais e consoantes de ligação: vogais e consoantes que se
Estrutura das Palavras acrescentam por questões de eufonia (bom som). “Indelével”,
por exemplo, soa melhor que “indélvel”, “cafezal”, melhor que
Para que fique mais evidente o fato para o qual chamamos aten- “cafeal”.
ção acima, leia o texto abaixo e procure pensar em algumas situ-
ações semelhantes pelas quais você já possa ter passado: Analisemos agora a estrutura de outras palavras:

“A intensidade com que mergulhara naquela narrativa não po- 1) Meninas → Menin (radical) + a (desinência de gênero) + s
deria ser quebrada por uma simples palavra... “Indeléveis” – (desinência de número)
era este o termo que martelava na cabeça de Joana e truncava 2) Amávamos → Am (raiz) + a (vogal temática) + va (desinên-
sua leitura, impedindo que ela entendesse o que seriam as tais cia modo-temporal) + mos (desinência número-pessoal).
“marcas indeléveis do tempo”. O início da palavra permitia-
lhe deduzir que nela havia algum sentido de negação, como Obs. 1: Nos verbos, as ideias de tempo e modo sempre estarão
em “incorreto” ou “incoerente”, enquanto o final da mesma expressas em um mesmo morfema, e as ideias de número e pes-
fazia-lhe supor que se tratava de um adjetivo, que qualificaria soa em outro. No caso dos tempos verbais primitivos (que dão
as marcas, afinal muitos outros adjetivos terminavam do mesmo origem a outros e ainda serão estudados por nós), aparece so-
modo: “formidáveis”, “agradáveis”, “louváveis”. Entretanto, mente desinência número-pessoal, como, por exemplo, o verbo
o centro da palavra parecia-lhe impenetrável... Impenetrável? amar conjugado no presente do indicativo – “amamos”
Sem querer acabara de formar mais um adjetivo que, coinci-
dentemente, tinha início e final exatamente iguais aos da pala- Processos de formação de palavras:
vra que a angustiava.
“Impenetrável”: aquilo que não se pode penetrar... Legal... E DERIVAÇÃO: Processo de formação de palavras a partir do
“indelével”? – continuava sem saber! Cansada de pensar, cor- qual se formam vocábulos simples (apenas um radical), temos
reu até o dicionário, onde descobriu, com um misto de alegria em língua portuguesa seis tipos de derivação:
e indignação, que “indelével” era nada mais, nada menos do
que...?!? Aquilo que não se pode apagar! Descobriu também Prefixal (ou prefixação) – é acrescido um prefixo a um radical.
que a palavra tinha sua origem no latim em “delir”, o mesmo Exemplo: desfazer, inútil.
que apagar. A alegria se dava em virtude de entender o que lera
e a indignação explicava-se por uma simples questão que ela Sufixal (ou sufixação) – é acrescido um sufixo a um radical.
se colocava: por que não “inapagáveis” – marcas inapagáveis Exemplo: carrinho, livraria.
do tempo?, muito mais simples e fácil de entender...” (Clarice
Lispector in: Perto do Coração Selvagem). Prefixal e Sufixal (prefixação e sufixação) – são acrescidos
prefixo e sufixo independentemente ao radical.
Os escritores gostam mesmo de complicar a nossa Exemplo: despoluição ( existe só poluição)
vida! – pensou consigo. Agora sim poderia continuar sua leitura
e rezava para que nenhuma outra palavra inconveniente viesse Parassintética – processo de derivação pelo qual é acrescido
a perturbar-lhe...Após ter lido este texto, podemos pensar em um prefixo e sufixo simultaneamente ao radical. Exemplo: anoi-
como se estrutura a palavra “indelével”: tecer, pernoitar.

IN prefixo que dá ideia de negação. Regressiva - processo de derivação em que são formados subs-
DEL raiz da palavra, que vem de “delir” tantivos abstratos a partir de verbos.
E vogal de ligação Exemplo: Ninguém justificou o atraso. (do verbo atrasar)
VEL sufixo formador de adjetivo que quer dizer “aquilo que é O debate foi longo. (do verbo debater)
possível”.
Imprópria - processo de derivação que consiste na mudança de
Neste sentido, tal palavra seria formada por quatro classe gramatical da palavra sem que sua forma se altere.
morfemas. Toda palavra se estrutura pela junção de morfemas, Exemplo: O jantar estava ótimo. (jantar é verbo, mas aqui tor-
sendo o radical o único morfema obrigatório. nou-se substantivo)

Veja agora quais são os morfemas que podem formar palavras


Extensivo 219

COMPOSIÇÃO: é o processo pelo qual a palavra é formada 2. (FUVEST)


pela junção de dois ou mais radicais. A composição pode ocor- Só os roçados da morte
rer de duas formas: compensam aqui cultivar,
e cultivá-los é fácil:
Justaposição – quando não há alteração nas palavras e continua simples questão de plantar;
a serem faladas (escritas) da mesma forma como eram antes da não se precisa de limpa,
composição. de adubar nem de regar;
Exemplo: girassol (gira + sol), pé-de-moleque (pé + as estiagens e as pragas
de + moleque) fazem-nos mais prosperar;
e dão lucro imediato;
Aglutinação – quando há alteração em pelo menos uma das nem é preciso esperar
palavras seja na grafia ou na pronúncia. pela colheita: recebe-se
Exemplo: planalto (plano + alto) na hora mesma de semear.
(João Cabral de Melo Neto, Morte e vida Severina)
Além da derivação e da composição existem outros
tipos de formação de palavras: O mesmo processo de formação da palavra destacada em “não
se precisa de limpa” ocorre em:
Empréstimo ou estrangeirismo - quando usamos termos de a) “no mesmo ventre crescido”.
outra língua: b) “iguais em tudo e na sina”.
Exemplo: hot-dog; fast food; office-boy c) “jamais o cruzei a nado”.
d) “na minha longa descida”.
Abreviação ou redução e siglas - é a forma reduzida apresen- e) “todo o velho contagia”.
tada por algumas palavras:
Exemplo: auto (automóvel), quilo (quilograma), moto (motoci- 3. Pobre brasileiro estuda menos que o africano
cleta), onu (organização das nações unidas) Os brasileiros que estão entre os 40% mais pobres, frequentam
menos anos de escola do que a população do mesmo estrato so-
Onomatopeia - consiste na criação de palavras para imitar vo- cial em países como Gana e Tanzânia — cujo PIB “per capita”
zes ou sons da natureza. é, em média, três vezes inferior ao do Brasil.A conclusão está
Exemplo: fonfom, cocoricó, tique-taque, boom! em relatório do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimen-
to).(Folha de S. Paulo, 17.07.98, pág.1.1)
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
A palavra pobre, primariamente, é um adjetivo.
1. A criação de palavras novas não é privilégio de literatos ou Nesse contexto, porém, está funcionando como substantivo,
de escritores famosos. O falante comum também tem participa- configurando um caso típico de derivação imprópria. A mesma
ção nesse processo, usando, ainda que inconscientemente, os análise é válida para a palavra africano no mesmo trecho?
mesmos processos de criação. Como as palavras novas são for-
madas a partir de elementos já conhecidos, é possível presumir 4. Observe os três enunciados a seguir.
o sentido produzido pela recombinação resultante.Em nos itens I. “Eugênio agarra com força o corrimão, o coração a bater-
que seguem, há uma palavra criada, que não consta dos dicio- -lhe com desesperada fúria.” (Érico Veríssimo. Olhai os lírios
nários. do campo.)
II. “O gado pasta nos campos, um quero-quero solta o grito es-
I - Caetano Veloso, que assinou a trilha sonora de Dois Filhos tridente, um cachorro late longe.” (Érico Veríssimo. Olhai os
de Francisco, cunhou um neologismo ao dizer que o filme re- lírios do campo.)
presentava o processo final de “desbregalização” da música ser- III. “Os chineses minaram nos anos 70 suas fronteiras com o
taneja. Vietnã, enquanto os norte-americanos fizeram o mesmo na fron-
teira entre as duas Coreias.” (Folha de S.Paulo.)
II - Conta-se que o escritor Ariano Suassuna, ao ser eleito para
a Academia Brasileira de Letras, teria dito: Sobre o processo de formação das palavras destacadas em cada
— Imortal eu já sou. Agora, o que eu queria mesmo é me tornar item, só é incorreta uma das alternativas a seguir.
imorrível. a) As três palavras são compostas.
b) A palavra corrimão é composta por aglutinação.
c) A palavra quero-quero é composta por justaposição.
a) Transcreva-a. d) A palavra norte-americanos é formada por justaposição.
e) Todas as palavras são compostas por aglutinação.
b) Descreva o processo pela qual foi formada.
5. A propósito de criação de palavras novas, eis o que diz o po-
c) Explique o sentido. eta Manuel Bandeira:

Tenho um amigo que não vai com Guimarães Rosa escritor:


“Gosto da prosa pão pão, queijo queijo”, diz ele. “Rosa é tor-
cicoloso”.Respondo-lhe que também gosto da prosa pão pão,
queijo queijo, mas Rosa, como Joyce, há que aceitar-se como
220 Da Vinci Vestibulares

como exceções (…) Rosa inventa palavras, deforma-as, desin- 8. (FUVEST)


tegra-as, recompõe-nas, faz alquimias, cirurgia plástica, sei lá o E não há melhor resposta
que seja (…) já fez hitlerocidade, monstro esplêndido (…) Uma que o espetáculo da vida,
das invenções mais surpreendentes de Rosa foi aquilo de falar vê-la desfiar seu fio
“nesta outra vida de aquém-túmulo”. O que eu não dava para que também se chama vida,
ter fabricado isso! Agora é tarde, está achado, e o único jeito é ver a fábrica que ela mesma,
plagiar. (Manuel Bandeira. Seleta em prosa e verso.) teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
Manuel Bandeira não concorda com o amigo e cita casos de em nova vida explodida;
criação de palavras em que Guimarães Rosa se mostrou invejá- mesmo quando é assim pequena
vel: hitlerocidade e aquém-túmulo. a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
a) Qual é o processo usado para criar hitlerocidade? como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.”
b) O que terá levado Bandeira a considerar hitlerocidade um ( João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina)
monstro esplêndido?
a) A fim de obter um efeito expressivo, o poeta utiliza, em “a
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES fábrica” e “se fabrica”, um substantivo e um verbo que têm o
mesmo radical. Cite da estrofe outro exemplo desse mesmo re-
6. Este texto foi extraído da revista Placar (maio de 1996, pág. curso expressivo.
80):
Vicente Matheus* confessa que alimentou a fama de cunhar fra- b) A expressividade dos seis últimos versos decorre, em par-
ses desastradas (…) te, do jogo de oposições entre palavras. Cite desse trecho um
“Nunca quis desmenti-las. Todos sabem que eu não estudei exemplo em que a oposição entre as palavras seja de natureza
mesmo. E assim eu ficava na boca do povo.” Dentre as frases a semântica.
seguir, atribuídas ao ex-presidente, em apenas uma o efeito de-
sastroso é provocado pela má formação da palavra. Assinale-a: 9. (UFSCAR)
a) “Quem está na chuva é para se queimar.” Luto da família Silva
b) “Peço aos corintianos que compareçam às urnas para naufra- (...)
gar nossa chapa.” João da Silva – nunca nenhum de nós esquecerá seu nome. Você
c) “O difícil, vocês sabem, não é fácil.” não possuía sangue azul. O sangue que saía de sua boca era
d) “Agradeço à Antártica pelas brahminhas.” vermelho – vermelhinho da silva” (...)
e) “O Sócrates é invendável e imprestável.” No texto, a expressão “vermelhinho da silva” traduz a ideia de:
* Ex-presidente do Sport Club Corinthians Paulista.
a) intensidade
7. (UEM) A charge abaixo é de autoria do jornalista Ricardo b) carinho
Borges. c) pequenez
d) ironia
e) desprezo

10. (FUVEST)
“Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a
testa, achando a frase extravagante. Aves mataram bois e cabras,
que lembrança! Olhou a mulher, desconfIado, julgou que ela
estivesse tresvariando.”
(Graciliano Ramos, Vidas Secas)

O prefixo assinalado em tresvariando traduz a ideia de:


a) substituição
b) contiguidade
c) privação
CHAPELULA E LOBUSH d) inferioridade
e) intensidade
a) Que processo de formação de palavras ocorre em Chapelula
e Lobush? 11. (UNICAMP)

Millôr Fernandes, considerado um dos maiores humoristas bra-


b) Explique a relação existente entre essas formações e o ponto sileiros, escreveu o texto “Leite quéqué isso?” em sua coluna no
de vista do chargista. Caderno 2, no jornal O Estado de S. Paulo de 22/08/99. Abaixo,
está um excerto desse texto. Leia-o com atenção e responda:
Extensivo 221

Vocês, que têm mais de 15 anos, se lembram quando a gen- a chamado geral?
te comprava leite em garrafa, na leiteria da esquina? Lembram (...)
mais longe, quando a vaca leiteira, que não era vaca coisa ne- Ficamos sem saber o que era João
nhuma, era caminhonete-depósito, vinha vender leite na porta e se João existiu
de casa? Lembram mais longe ainda, quando a gente ia comprar de se pegar.
leite no estábulo e tinha aquele cheiro forte de bicho, de bosta e (Carlos Drummond de Andrade, em Correio da Manhã,
de mijo, que a gente achava nojento e só foi achar genial quan- 22/11/1967, publicado em Rosa, J. G. agarana. Rio de Janeiro:
do aprendeu que aquilo tudo era ecológico? Lembra bem mais Nova Fronteira, 2001.)
longe ainda, quando a gente mesmo criava a vaca e pegava nos
peitinhos dela pra tirar o leite dos filhos dela, com muito jeito, a) No título, ‘chamado’ sintetiza dois sentidos com que a pala-
pra ela não nos dar uma cipoada? Mas vocês não lembram de vra aparece no poema. Explique esses dois sentidos, indicando
nada, pô! Vai ver que nem sabem o que é vaca. Nem o que é lei- como estão presentes nas passagens em que ‘chamado’ se en-
te. Estou falando isso porque agora mesmo peguei um pacote de contra.
leite – leite em pacote, imagina, Tereza! – na porta dos fundos
e estava escrito que é pausterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem b) Na primeira estrofe do poema, ‘fábula’ é derivada em ‘fabu-
vitamina, é garantido pela embromatologia, foi enriquecido e o lista’ e ‘fabuloso’. Mostre de que modo a formação morfológica
escambau. e a função sintática das três palavras contribuem para a forma-
ção da imagem de Guimarães Rosa.
a) A palavra “embromatologia” soa como um termo técnico,
mas não é. Diga por que parece e por que não é. 14. Na tira de Angeli, observamos um jogo de associações entre
a frase-título ‘O imundo animal’ e a sequência de imagens.
b) O texto mostra que a moda pode afetar nossos gostos. Em
que passagem?

c) As informações técnicas que acompanham muitos produtos


não necessariamente esclarecem o consumidor, mas impressio-
nam. Transcreva a passagem do texto em que o autor alude a tal
problema nesses textos.

12. (FUVEST) Observe o trecho abaixo:

Cultivar amizades, semear empregos e preservar a cultura fa-


zem parte da nossa natureza.

a) Explique o efeito expressivo que, por meio da seleção lexical,


se obteve nesta frase.

b) Reescreva a frase, substituindo por substantivos cognatos os


verbos cultivar, semear e preservar, fazendo também as adapta-
ções necessárias.

13. Os versos seguintes fazem parte do poema “Um chamado a) A frase-título ‘O imundo animal’ nos remete a uma outra fra-
João” de Carlos Drummond de Andrade em homenagem póstu- se. Indique-a e explicite as relações de sentido entre as duas
ma a João Guimarães Rosa. frases, fazendo referência ao conjunto da tira.

Um chamado João b) A frase-título ‘O imundo animal’ sugere um processo de pre-


fixação. Explique.
João era fabulista?
fabuloso? 15. No quadrinho de Caco Galhardo, outras associações com a
fábula? crise política podem ser observadas.
Sertão místico disparando a) “Vossa Excelência me permite um aparte” é uma expressão
no exílio da linguagem comum? típica de um espaço institucional. Qual é esse espaço e quais as
Projetava na gravatinha palavras que permitem essa identificação?
a quinta face das coisas
inenarrável narrada? b) A expressão ‘um aparte’ pode ser segmentada de outra manei-
Um estranho chamado João ra. Qual a expressão resultante dessa segmentação? Explique o
para disfarçar, para farçar sentido de cada uma das expressões.
o que não ousamos compreender?
(...) c) Levando em consideração as relações entre as imagens e as
Mágico sem apetrechos, palavras, explique como se constrói a interpretação do quadri-
civilmente mágico, apelador nho.
de precípites prodígios acudindo
222 Da Vinci Vestibulares

GABARITO: aquela que estavam lá a falar, que ele percebia tudo.

MÓDULO 1 8.
a) Era a língua portuguesa do século XVI, em Portugal.
1. b) “Fósseis” pode significar o que é muito antigo. Em paleonto-
a) Não se trata de equívoco, mas de variações ou diferenças logia, tem o sentido mais restrito de: vestígios enterrados e que
entre os dialetos do português falados em Portugal e nas cidades revelam uma origem mais primitiva. Os dois sentidos podem ser
brasileiras mencionadas. aplicados à expressão “fósseis” referindo-se às palavras apor-
No caso, as diferenças são lexicais, ou seja, dizem respeito ao tuguesadas, pois, no próprio texto, encontramos: “as palavras
vocabulário empregado e às variações regionais no sentido das estrangeiras aportuguesadas [...] contam a história dos povos”
palavras. de cuja língua se originaram.
b) Não, pois a uniformização ortográfica não afeta as diferenças
lexicais, que dizem respeito ao emprego do vocabulário e ao 9. O pressuposto é o de que a unificação ortográfica garantiria
sentido das palavras. a unidade linguística. Esse pressuposto é inadequado, uma vez
que a língua não é constituída apenas por sua ortografia mas
2. também por aspectos semânticos, sintáticos, morfológicos, fo-
a) rectângulo, irónico, trémulo, agónico, Arimateia, ideia. nológicos e discursivos que implicam a relação histórica do fa-
b) Das quatro palavras proparoxítonas apresentadas, três re- lante com a língua que se territorializa em um dado espaço e
cebem acento agudo, diferentemente do PB, em que recebem tempo.
acento circunfexo: irônico, trêmulo e agônico.
10. A quebra se dá na dificuldade de compreensão semântica de
3. itens lexicais usados no português de Portugal como “bicha”,
a) Trata-se de uma reorganização do sistema pronominal da lín- “bica” (que, no português brasileiro, têm significados diferen-
gua (falada), que mescla vosso(a) (usado, como “manda” a gra- tes) e “peúgas”
mática quando se usa o pronome vós) com vocês (forma de tra- (que não é usado no português do Brasil); explicita-se nessa
tamento que, em PE, é usado como segunda pessoa do plural). quebra uma das várias diferenças entre o português brasileiro
b) “Vocês trouxeram os seus flhos?” e “Não lhes sucede sen- e o europeu.
trem-se por vezes um pouco indefinidos?” Ou: “Não sucede a
vocês sentrem-se por vezes um pouco indefinidos?” MÓDULO 2
c) Em PB, misturamos o pronome de tratamento você com o
pronome oblíquo “te” ou o possessivo “teu/tua”, por exemplo: 1. A linguagem utilizada no poema de Patativa de Assaré nos
“Eu não posso viver sem você. Eu te amo”. Uma explicação permite visualizar uma variedade regional – a “caipira” – espe-
para essa mistura é que, na fala, tanto “tu” (2ª p.) quanto “você” cialmente pela troca de “lh” por “i” (fo, trabaio, paia de mio) e
(3ª p.) referem-se à pessoa com quem se fala. pela queda do “r” quando esta é a consoante fnal de uma palavra
(cantô, assiná, estudá). A linguagem utlizada também permite
4. dizer que o poeta pertence a uma classe econômica socialmente
a) Acentuação: prémio, em PB, recebe acento circunfexo: prê- desfavorecida, já que o próprio autor deixa claro que, em decor-
mio. Ortografa: facto e actual não apresentam a consoante c: rência de sua situação social, não pôde estudar, o que explica
fato e atual, em PB. os vários desvios de sua fala em relação à norma culta, como
b) A estrutura “passei a vida a assinar papeis a pedir um Nobel” ocorre em: chupana (choupana), sabença (sabedoria), rastero
corresponde, em PB, a passei a vida assinando papéis e pedindo (rasteiro).
um Nobel. Além disso, o verbo “beneficiar”, em “beneficiava
todos os escritores portugueses”, em PB, apareceria no futuro 2. O primeiro consumidor é homem, provavelmente um jovem,
do pretérito (beneficiaria). pois não se preocupa com sua forma de expressão e utiliza-se
c) O trecho “o critério actual é o dos mais traduzidos e os mais com freqüência de gírias, como ocorre em: “a parada é a se-
traduzidos são o Saramago e o Lobo guinte”, “tô muito a fm”, “tô afinzaço, tá ligado”, “um som da
Antunes” dá a entender que a quantdade de vendas é o critério hora”, “quebra essa pra mim, mano”. Além disso, é alguém “an-
mais importante para o Prêmio Nobel. tenado” com uma tecnologia de ponta como demonstra o trecho
5. A “eu queimo uns CDs MP3” e paquerador como se evidencia em
6. “é dificil agradar a mulherada”. O segundo consumidor é uma
a) A prática diz respeito ao uso de palavras estrangeiras em ex- mulher, como se pode deduzir pelo uso da palavra “anfitriã”; re-
cesso e a dificuldade em compreender a língua finada, exigente e moderna, como se vê em seu pedido da “nova
materna. linha de monitores de plasma da Gradiente, tecnologia de última
b) O uso de palavras estrangeiras (inglês) reforça essa tese. geração”. Além disso, trata-se de alguém preocupada com sua
forma de expressão e que, além do português, conhece outras
7. línguas “en pett comité”, “É um must! Design clean”, “RSVP
a) Ocorre um paradoxo quando há falta de lógica, contradição. (répondez s’il vous plaît)” e se interessa por artes, como se evi-
O paradoxo, responsável pela graça na fala do garçom, ocorre dencia em “Ficaria o máximo ao lado da minhas obras moder-
porque o rapaz pergunta que língua é aquela na qual falam os nistas”.
clientes (o que revela que ele não reconhece que língua é), mas a 3. B
compreende (já que diz: “eu percebo tudo”). 4. E
b) O garçom lhes perguntou, intrigado, que raio de língua era 5. B
Extensivo 223

6. 10. E
a) “Costuma inculcar-se forro e voluntário da pátria”, “côr 11.
fula”. a) A palavra “embromatologia” denota ser técnico pela termi-
b) Mencionam um desaparecimento; procuram identificar o nologia “logia”, que seria um tipo de ciência. Mas não é porque
desaparecido por suas característcas fsicas e por seus trajes/ no final do texto, o autor utiliza da expressão escambau”, depre-
arreios; oferecem uma recompensa em dinheiro. ciando o termo.
c) Os escravos e os animais eram igualados de alguma forma b) “... e só foi achar genial quando aprendeu que aquilo tudo era
(como objetos de posse, de valor, bens, peças sujeitas a avalia- ecológico?”
ção em dinheiro etc.). c) “... que é pausterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem vitamina,
7. A é garantido pela embromatologia...”
8. 12.
a) 1) “Deita e rola”, 2) “está por cima da carne-seca”, a) Cultivar, semear e preservar são verbos que remetem ao uni-
3) “seria um inferno”, 4) “entrar em parafuso” verso da natureza agrícola. A escolha lexical sugere que o ho-
b) 1) Faz o que quer, 2) de quem determina as regras mem aplique o mesmo processo da natureza em sua conduta
do jogo, 3) difcil/ problemátca, 4) entrar em colapso. social.
9. E b) O CULTIVO de amizades, a SEMEADURA de empregos e
10. B a PRESERVAÇÃO da cultura fazem parte da nossa natureza.
13.
MÓDULOS 3 E 4 a) ‘Chamado’, presente no título do poema, encontra-se tam-
bém na segunda estrofe, em ‘um estranho chamado João’, e na
1. I. terceira estrofe, em ‘[acudindo] a chamado geral’. Percebemos,
a) Desbregalização. no título, um trabalho de síntese dos dois sentidos de ‘chama-
b) — De brega, formou-se bregalizar — por derivação sufixal; do’ presentes nessas duas estrofes do poema. Na passagem ‘um
De bregalizar, formou-se desbregalização — por derivação pa- estranho chamado João’, ‘chamado’ significa “denominado”.
rassintética. Não se cobrará, mas cabe explicitar que se trata de um particí-
c) Desbregalização significa o ato de libertar a música sertaneja pio, com função adjetiva, que atribui ao ‘(homem) estranho’ a
da má fama de breguice. qualidade de ser denominado como ‘João’. Deve-se notar nesse
II. trecho que João é um nome próprio muito comum, muito usual,
a) Imorrível. que se presta a exemplificações do tipo “um João qualquer”. Por
b) De morrer, formou-se imorrível pela agregação simultânea isso, tratar ‘João’ como um termo que designa, nomeia, qua-
do prefi xo in (o n cai antes de palavras iniciadas por m) mais lifica o homem, ressalta a singularidade desse específico João
sufixo vel. Trata-se de uma formação or parassíntese. (Guimarães Rosa). Na passagem ‘[acudindo] a chamado geral’,
c) Imortal, nesse trecho, foi usado em sentido não literal de al- ‘chamado’ significa “evocação”, “convocação”, “pedido”.
guém que não deixa de ser lembrado, que tem a memória perpe- Igualmente não se cobrará, mas é importante notar que se trata
tuada, como é o caso dos imortais da Academia. Imorrível, pois de um substantivo, ou melhor, do mesmo particípio, substanti-
se opõe a imortal, tem sentido literal: aquele que não deixa de vado na língua portuguesa. No título, ‘chamado’ pode ser enten-
viver, que não está sujeito à morte biológica. dido na síntese dos sentidos acima descritos: pode-se ler, nesse
enunciado, ora ‘um (homem) chamado João’, isto é, um homem
2. C denominado como João; ora, ainda, ‘uma evocação denominada
3. Dentro desse contexto, não. Interpretado como substantivo, João’, caracterizada como típica de João. Nesta leitura, João é
africano significaria o povo africano (todo o conjunto), e o título quem caracteriza o chamado, sendo assim, João passa a ser uma
não teria coerência com o resto do texto.Por coerência com o qualidade, em função da força de sua obra. Sobretudo a um lei-
desenvolvimento da notícia, só faz sentido interpretar africano tor familiarizado com o estilo de Guimarães Rosa, é lícito de-
como adjetivo, referindo-se ao substantivo pobre (implícito): o senvolver mais profundamente este sentido: em última análise,
pobre brasileiro estuda menos que o (pobre) africano. a formulação permite-nos dizer que João é o próprio chamado.
4. E
5. Processo de composição por aglutinação: Hitler + atrocidade b) Em termos morfológicos, no primeiro verso, ‘fábula’, acres-
= hitlerocidade cido do sufixo –ista, gera ‘fabulista’ (“alguém que escreve fá-
b) Com certeza, além do aspecto da sonoridade, a ideia de bulas”); no segundo verso, acrescido de –oso, gera ‘fabuloso’
monstro esplêndido se deve à fusão de duas palavras carregadas (“imaginoso”, “cheio de fábula”, ou seja, “que tem a qualidade
das conotações de perversidade, pavor, crueldade. de ser incrível”, “extraordinário”). O jogo com a formação mor-
6. E fológica das palavras contribui para a construção da imagem
7. de Guimarães Rosa no poema, visto que sugere uma imitação
a) As palavras Chapelula e Lobush são formadas por aglutina- do estilo do poeta homenageado. Em termos sintáticos, as três
ção. palavras acabam por atribuir uma qualidade ao sujeito, visto que
b) O cartunista faz uma relação entre a charge e a historinha in- funcionam como seu predicativo. Nos versos 2 e 3 da primeira
fantil, passando, assim, a informação de que como Chapeuzinho estrofe, essa função sintática – predicativo do sujeito – se re-
foi iludida pelo lobo, Lula é iludido por Bush. conhece pela percepção da elipse do verbo “era”, presente no
8. primeiro verso. Desse modo, o sentido de ‘fabulista’ designa o
a) Desfiar e fio profissional, destacando a atividade de escritor, ao passo que o
b) As palavras que se opõe: explosão e franzina de ‘fabuloso’ remete, de modo mais geral, a uma característica
9. A pessoal desse escritor, a de ser incrível. Já a construção ‘(era)
224 Da Vinci Vestibulares

fábula?’ identifica o escritor com sua própria obra. Forma-se as-


sim uma imagem do poeta como tão extraordinário, que supera
o incrível (‘fabuloso’) e se confunde com o mito (‘fábula’).
14.
a) A outra frase é ‘o mundo animal’. O jogo semântico se cons-
trói com a remissão das imagens do conjunto dos homens ca-
racterizados na tira como mascarados e engravatados, que se
referem ao conjunto de políticos brasileiros envolvidos em
corrupção, à expressão “imundo animal”, que imediatamente
estabelece a associação com “mundo animal”, típica da classifi-
cação biológica. É importante observar que na relação entre as
imagens e as expressões “imundo animal” e “mundo animal” se
afirma a coletividade dos políticos corruptos e a sordidez de sua
conduta enquanto um mundo específico.
b) Embora na tira o jogo semântico entre ‘imundo’ e ‘mundo’
permita pensar num processo de prefixação,
já que ‘in-’ (também sob as formas i-, im-, il-, ir-) é um prefixo
de negação que compõe muitas palavras da língua portuguesa,
as relações sincrônicas de nossa língua não mantêm entre as pa-
lavras ‘mundo’ e ‘imundo’ qualquer aproximação semântica, o
que impossibilita justificarmos sincronicamente a construção de
‘imundo’ por prefixação. (No latim mundus tinha o sentido de
‘limpo’, mas esse sentido não se manteve no português atual.
Portanto, o processo de prefixação para ‘imundo’ só se justifica
no caso de um estudo etimológico).

15.
a) O espaço institucional é o do âmbito político e/ou do âmbi-
to jurídico. Tanto o pronome de tratamento ‘Vossa Excelência’
quanto a palavra ‘aparte’ permitem essa identificação, pois am-
bas são típicas desses espaços institucionais.
b) Essa segmentação pode resultar em ‘uma parte’ e/ ou em ‘um
à parte’. ‘Um aparte’ significa comentário, acréscimo, interrup-
ção na fala do outro. ‘Uma parte’ significa um pedaço, um bo-
cado, vantagem, propina, mensalão. ‘Um à parte’ significa algo
conseguido ilicitamente ou uma conversa em particular.
c) No quadrinho, a fala de um dos ratos apresentando as expres-
sões ‘Vossa Excelência’ e ‘um aparte’ identifica esses animais
como membros de um espaço institucional político e/ou jurí-
dico. Consensualmente significado como um animal imundo e
repulsivo, a associação entre rato e político leva ao sentido de
‘político corrupto, imoral’. A imagem de um dos ratos junto ao
pedaço de queijo relacionada à expressão ‘aparte’ traz a asso-
ciação com ‘uma parte’, que significa o queijo como algo a ser
dividido, remetendo a favorecimento, propina e ao mensalão. O
conjunto das expressões verbais e das imagens constrói o qua-
dro da crise política brasileira no que se refere especificamente
ao mensalão.
Extensivo 225

Literatura
226 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 1: GÊNEROS LITERÁRIOS fidelidade me trouxesse algum sossego, e que assim eu ficasse
numa situação mais aliviada sem dores ainda maiores. Chegara
Iniciaremos agora nossos estudos de literatura que é até a formar uns leves projetos de empregar todos os esforços
arte que se manifesta pela palavra, seja ela falada ou escrita., de que fosse capaz para me sarar, se viesse a ter a certeza de
falando um pouco sobre os chamados gêneros literários. que me esqueceras de todo. O teu afastamento, alguns rebates
de devoção; o receio de estragar sem remédio a pouca saúde
OS GÊNEROS LITERÁRIOS: que me resta com tantas vigílias e apoquentações; a minguada
esperança no teu regresso, a frieza da tua afeição e dos teus úl-
Há muitas teorias e discussões em torno dos gêneros timos adeuses, a tua partida fundamentada em pretextos fracos,
literários. A palavra gênero, etimologicamente, implica um e mil outras razões boas demais e demasiado simples pareciam
conjunto de seres dotados de características comuns. Assim, de oferecer-me um amparo firme, se dele necessitasse. Só e tendo
maneira simplificada, poderíamos dizer que gênero literário é de batalhar comigo mesma, mal podia desconfiar de todas as
um conjunto de obras dotadas de características comuns. minhas fraquezas, nem adivinhar tudo o que hoje padeço. (Tre-
Desde a Grécia antiga, os gêneros literários foram di- cho de Cartas Portuguesas, Sóror Mariana de Alcoforado)
vididos em três categorias: o lírico, o dramático e o narrativo,
tendo por base as três faculdades da alma humana considera- DRAMÁTICO: quando os “atores, num espaço especial, apre-
das essenciais (fontes de toda mensagem verbal): sensibilida- sentam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento”. Re-
de, vontade e inteligência. Daí originaram-se três funções da trata, fundamentalmente, os conflitos humanos.
linguagem, manifestadas em qualquer obra literária: a função
emotiva ou expressiva (pela sensibilidade), a função apelativa
ou conotativa (pela vontade) e a função informativa ou referen-
cial (pela inteligência).
Na prática, entretanto, tal divisão mostra-se discutível,
visto que não encontramos um gênero puro, uma vez que a cria-
ção artística mistura esses três elementos. Críticos modernos,
como Todorov, ensinam que os gêneros literários devem ser es-
tudados indutivamente, a partir das características da obra e não
a partir de nomes classificatórios.
Alguns ainda fazem alusão a um outro gênero literário,
o didático, despido de ficção e não identificado com texto lite-
rário no sentido estrito. Segundo Wolfgang Kayser, “o didático
costuma ser delimitado como gênero especial, que fica fora da O gênero dramático compreende as seguintes modali-
verdadeira literatura”.. dades:
♦ Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de
Vejamos um pouco mais de perto os três gêneros literários provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia
clássicos: era “uma representação duma ação grave, de alguma extensão e
completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não nar-
LÍRICO: quando um “eu” nos passa uma emoção, um estado; rando, inspirando dó e terror”.(*)
centra-se no mundo interior do Poeta apresentando forte car-
ga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica ♦ Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no
marcante do lírico. O Poeta posiciona-se em face dos “mistérios sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costu-
da vida”. A lírica já foi definida como a expressão da “primeira mes. Sua origem grega está ligada às festas populares, celebran-
pessoa do singular do tempo presente”. do a fecundidade da natureza.(*)

♦ Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos


trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real
com o imaginário.(*)

♦ Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural,


que crítica a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema la-
tino Ridendo castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes).

(Entra a mulher com uma bandeja).


A MULHER : Eis aqui a ceia.
MACÁRIO: Ceia! que diabo de comida verde é essa? Será al-
gum feixe de capim? Leva para o burro.
A MULHER: São couves.
Que vai ser de mim, e que queres tu que eu faça? Estou MACÁRIO: Leva para o burro.
longe de tudo o que futurei! Contava que me escrevesses de A MULHER: É fritado em toicinho
todas as terras por onde passasses e que as tuas cartas fossem MACÁRIO
muito grandes. Cuidava que desses alento à minha paixão com a Leva para o burro com todos os diabos!
esperança de tornar a ver-te; que uma confiança completa na tua (Atira-lhe o prato na cabeça. A mulher sai. Macário come).
Extensivo 227

ÉPICO: quando temos uma narrativa de fundo histórico; são os romance histórico, etc.(*)
feitos heróicos e os grandes ideais de um povo o tema das epo-
péias. A palavra “epopéia” vem do grego épos, ‘verso’+ poieô, ♦ Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distin-
‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, de um fato ção entre novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o
grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia número de páginas. Entretanto, podemos perceber característi-
objetiva, impessoal, cuja característica maior é a presença de cas qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento,
um narrador falando do passado (os verbos aparecem no preté- um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais
rito). O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heróico rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume
da história de um povo. uma maior importância como contador de um fato passado.(*)

♦ Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um


episódio da vida. O crítico Alfredo Bosi, em seu livro O con-
to brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do
conto “já desnorteou mais de um teórico da literatura ansioso
por encaixar a forma conto no interior de um quadro fixo de
gêneros. Na verdade, se comparada à novela e ao romance, a
narrativa curta condensa e potencia no seu espaço todas as pos-
sibilidades da ficção”.(*)

♦ Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que


tem como objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente
a fábula trabalha com animais como personagens. Quando os
personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a
denominação de apólogo.
Ulisses e as sereias. A fábula é das mais antigas narrativas, coincidindo
seu aparecimento, segundo alguns estudiosos, com o da própria
Dentre as principais epopéias (ou poemas épicos), des- linguagem. No mundo ocidental, o primeiro grande nome da
tacamos: fábula foi Esopo, um escravo grego que teria vivido no sécu-
♦ Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra lo VI a.C. Modernamente, muitas das fábulas de Esopo foram
entre Grécia e Tróia). retomadas por La Fontaine, poeta francês que viveu de 1621 a
♦ Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos) 1695. O grande mérito de La Fontaine reside no apurado traba-
Paraíso Perdido (Milton, Inglaterra) lho realizado com a linguagem, ao recriar os temas tradicionais
♦ Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália) da fábula. No Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa semelhan-
♦ Os Lusíadas (Camões, Portugal) te, acrescentando, às fábulas tradicionais, curiosos e certeiros
comentários dos personagens que viviam no Sítio do Picapau
Na literatura brasileira, as principais epopéias foram Amarelo.
escritas no século XVIII:
♦ Caramuru (Santa Rita Durão) EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
♦ O Uraguai (Basílio da Gama)

NARRATIVO: O Gênero narrativo é visto como uma varian- Texto 1:


te do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em
prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as Brincar com palavras – nos jogos verbais, exercícios
principais manifestações narrativas são o romance, a novela e de literatura Você sabe o que é um palíndromo? É uma palavra
o conto. (*) ou mesmo uma frase que pode ser lida de frente pra trás e de trás
Em qualquer das três modalidades acima, temos repre- pra frente mantendo o mesmo sentido. Por exemplo, em portu-
sentações da vida comum, de um mundo mais individualizado guês: “amor” e “Roma”; em espanhol: “Anita lava la tina”. Ou,
e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas então, a frase latina: “Sator arepo tenet opera rotas”, que não só
narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo pode ser lida de trás pra frente, mas pode ser lida na vertical,
maravilhoso, povoado de heróis e deuses. na horizontal, de baixo pra cima, de cima pra baixo, girando os
As narrativas em prosa, que conheceram um notável olhos em redor deste quadrado:
desenvolvimento desde o final do século XVIII, são também
comumente chamadas de narrativas de ficção. SAT O R
AREPO
♦ Romance: narração de um fato imaginário, mas verossímil, TENET
que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do OPERA
homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte R O TAS
mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas
e complexas, com passagem mais lenta do tempo. Dependendo Essa frase latina polivalente foi criada pelo escravo ro-
da importância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao es- mano Loreius 200 anos antes de Cristo, e tem dois significados:
paço, podemos ter romance de costumes, romance psicológico, “O lavrador mantém cuidadosamente a charrua* nos sulcos” e/
romance policial, romance regionalista, romance de cavalaria, ou “o lavrador sustém cuidadosamente o mundo em sua órbita”.
228 Da Vinci Vestibulares

”. Osman Lins construiu o romance “Avalovara” (1973) em tor- 03) De qual dos jogos verbais referidos no texto I o texto II se
no desse palíndromo. aproxima? Explique.
Muita gente sabe o que é um caligrama - aqueles textos que
existiam desde a Grécia em que as letras e frases iam desenhan- 04) Explique a exploração dos recursos visuais e sonoros no
do o objeto a que se referiam - um vaso, um ovo, ou então, como texto II e o efeito de sentido que provoca.
num autor moderno tipo Apollinaire, as frases do poema se ins-
crevendo em forma de cavalo ou na perpendicular imitando o TEXTO III
feitio da chuva.
Mas pouca gente sabe o que é um lipograma. Lipo significa ti- FUNÇÃO
rar, aspirar, esconder. Portanto, um lipograma é um texto que (01) Me deixaram sozinho no meio do circo
sofreu a lipoaspiração de uma letra. O autor resolve esconder (02) Ou era apenas um pátio uma janela uma rua uma
essa letra por razões lúdicas*. Já o grego Píndaro havia escrito /esquina
uma ode, sem a letra “s”. Os autores barrocos no século XVII (03) Pequenino mundo sem rumo
também usavam este tipo de ocultação, porque estavam envol- (04) Até que descobri que todos os meus gestos
vidos com o ocultismo, com a cabala e com a numerologia. (05) Pendiam cada um das estrelas por longos fios
Por que estou dizendo essas coisas? /invisíveis
Culpa da Internet. (06) E havia súbitas e lindas aparições como aquela das
Esses jogos verbais que vinham sendo feitos desde as cavernas /longas tranças
agora foram potencializados com a informática. Dizia eu numa (07) E todas imitavam tão bem a vida
entrevista outro dia que estamos vivendo um paradoxo riquíssi- (08) Que por um momento se chegava a esquecer a sua
mo: a mais avançada tecnologia eletrônica está resgatando o uso /cruel inocência de bonecas
lúdico da linguagem e uma das mais arcaicas atividades huma- (09) E eu dizia coisas tão lindas
nas - a poesia. Os poetas, mais que quaisquer outros escritores, (10) E tristes
invadiram a Internet. Se em relação às coisas prosaicas se diz (11) Que não sabia como tinham ido parar na minha boca
que a vingança vem a cavalo, no caso da poesia a vingança veio (12) E o mais triste não era que aquilo fosse apenas um
a cabo, galopando eletronicamente. Por isto que toda vez que /jogo cambiante de reflexos
um jovem iniciante me procura com a angústia de publicar seu (13) Porque afinal um belo pião dançante
livro, aconselho-o logo: “Meu filho, abra uma página sua na (14) Ou zunindo imóvel
Internet para não mais se constranger e se sentir constrangido (15) Vive uma vida mais intensa do que a mão ignorada
diante dos editores e críticos. Estampe seu texto na Internet e /que o arremessou
deixe rolar”. (16) E eu danço tu danças nós dançamos
(ROMANO, Affonso de Sant’Anna. O Globo, 15/09/1999.) (17) Sempre dentro de um círculo implacável de luz
Sem saber quem nos olha atenta ou distraidamente
*charrua: arado, lúdico:que se refere a jogos /do escuro...
(QUINTANA, Mário. Antologia poética.)
(UERJ) O autor avalia as inovações introduzidas pela Internet,
diante das tradições da literatura. 05) (UERJ) No poema de Mário Quintana, a vida é uma encena-
ção num palco ou picadeiro, e o homem um joguete submetido
01) Aponte dois aspectos que, segundo ele, são positivos no uso aos caprichos da sorte. Esta idéia é expressa metaforicamente
da Internet. pelo seguinte trecho:

02) Há muitos séculos, já se exploravam as possibilidades de a) “todos os meus gestos / Pendiam (...) das estrelas por longos
distribuição das palavras no espaço de modo análogo ao que fios invisíveis ” (v. 4 -5)
passou a ocorrer nas telas de computador. Cite dois exemplos do b) “por um momento se chegava a esquecer a sua cruel inocên-
texto que evidenciam a exploração dessas possibilidades. cia de bonecas ” (v. 8)
c) “Vive uma vida mais intensa do que a mão ignorada que o
arremessou ” (v. 15)
TEXTO II d) “E eu danço tu danças nós dançamos ” (v. 16)
e) “Sempre dentro de um círculo implacável de luz” (v.17)
AONDA
a onda anda 06) Procure explicar a resposta dada na questão anterior
aonde anda
a onda? TEXTO IV
a onda ainda
ainda onda POÉTICA
ainda anda 1
aonde? Que é a poesia?
aonde? Uma ilha
a onda a onda Cercada
De palavras
in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. Por todos
Os lados.
Extensivo 229

2. centro, e muitos se deixam levar, empurrados, sobrenadando


Que é o Poeta? quase, com os mais fracos
Um homem rolando para os lados e os mais pesados tardando para trás, no
Que trabalha o poema coice da procissão.
Com o suor do seu rosto. — Eh, boi lá!... Eh-ê-ê-eh, boi!... Tou! Tou! Tou...
Um homem As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros,
Que tem fome batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada,
Como qualquer outro com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques,
homem e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com
Cassiano Ricardo muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá
do sertão...
07) O eu-lírico no texto IV, de Cassiano Ricardo, expressa uma “Um boi preto, um boi pintado,
definição sobre a elaboração da poesia. Essa definição é seme- cada um tem sua cor.
lhante ao conteúdo do seguinte fragmento: Cada coração um jeito
de mostrar o seu amor.”
a) “Como varia o vento – o céu – o dia, / Como estrelas e nuvens Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança
e mulheres, / Pela regra geral de todos seres, / Minha lira tam- doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta,
bém seus tons varia, / e sem fazer vem na vara, vai não volta, vai varando...
esforço ou maravilha.” “Todo passarinh’ do mato tem seu pio diferente.
b)“O artista intelectual sabe que o trabalho é a fonte da criação Cantiga de amor doído não carece ter rompante...”.
e que a uma maior quantidade de trabalho corresponderá uma Pouco a pouco, porém, os rostos se desempanam e os homens
maior densidade de riquezas.” tomam gesto de repouso nas selas, satisfeitos.
c)“[Minhas poesias] não têm unidade de pensamento entre si, Que de trinta, trezentos ou três mil, só está quase pronta a boia-
porque foram compostasem épocas diversas – debaixo de céu da quando as alimárias se aglutinam em bicho inteiro — cento-
diverso – e sob a influência de impressões momentâneas.” peia —, mesmo prestes assim para surpresas más.
d) “Um dia (...) tive saudades da casa paterna e chorei. As lá- (João Guimarães Rosa, O burrinho pedrês. In: Sagarana)
grimas correram e fiz osprimeiros versos da minha vida, que
intitulei – Às Ave-Maria. (VUNESP) O estilo narrativo de Guimarães Rosa é caracteriza-
e) “Não faÇas versos sobre acontecimentos/Não há vida nem do, entre outros aspectos, pelo alto índice de musicalidade, pelo
morte perante a poesia” recurso a procedimentos rítmicos e rímicos característicos da
poesia, como por exemplo no nono parágrafo, que pode ser lido
INSTRUÇÃO: As questão de número 08 toma por base um como uma seqüência de 16 versos de cinco sílabas (As ancas
fragmento da narrativa O Burrinho Pedrês, do ficcionista brasi- balançam,/e as vagas de dorsos,/das vacas e touros,/ batendo
leiro João Guimarães Rosa (1908-1967). com as caudas,/etc.) ou de 8 versos de onze sílabas ( As an-
cas balançam, e as vagas de dorsos,/das vacas e touros, batendo
O Burrinho Pedrês com as caudas,/etc.). Depois de observar atentamente este co-
[...] mentário e os exemplos,
Nenhum perigo, por ora, com os dois lados da estrada tapados
pelas cercas. Mas o gado gordo, na marcha contraída, se desor- a) indique, no trecho de O Burrinho Pedrês, outro parágrafo que
dena em turbulências. possa ser integralmente lido sob a forma de versos regulares;
Ainda não abaixaram as cabeças, e o trote é duro, sob vez de b) estabeleça, com base em sua leitura, o número de sílabas de
aguilhoadas e gritos. cada verso e o número de versos que tal parágrafo contém.
— Mais depressa, é para esmoer?! — ralha o Major. — Boiada
boa!...
Galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, combucos, cubetos, lobu-
nos, lompardos, caldeiros, cambraias, chamurros, churriados,
corombos, cornetos, bocalvos, borralhos, chumbados, chitados,
vareiros, silveiros... E os tocos da testa do mocho macheado, e
as armas antigas do boi cornalão...
— P’ra trás, boi-vaca!
— Repele Juca... Viu a brabeza dos olhos? Vai com sangue no
cangote...
— Só ruindade e mais ruindade, de em-desde o redemunho da
testa até na volta da pá! Este eu não vou perder de olho, que ele
é boi espirrador...
Apuram o passo, por entre campinas ricas, onde pastam ou ru-
minam outros mil e mais bois. Mas os vaqueiros não esmore-
cem nos eias e cantigas, porque a boiada ainda tem passagens
inquietantes: alarga-se e recomprime-se, sem motivo, e mesmo
dentro da multidão movediça há giros estranhos, que não os
deslocamentos normais do gado em marcha – quando sempre
alguns disputam a colocação na vanguarda, outros procuram o
230 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 2: TROVADORISMO ou LITERATURA Contextualização histórica:


PROVENÇAL.
1. As invasões bárbaras na Europa
Agora que já conhecemos os gêneros literários, passe-
mos a estudar as literaturas portuguesa e brasileira. Aquela se Com a queda do Império Romano, a Europa torna-se
iniciou no século XII, está apenas no século XVI com a literatu- um continente militarmente desprotegido, ou seja, propício às
ra de informação. invasões bárbaras por ele sofridas a partir de então ( a arquite-
tura da época confirma isso). A difusão da filosofia cristã foi tão
O TROVADORISMO intensa na Europa após a morte de Jesus Cristo que, já no início
da Idade Média, o Cristianismo é a religião oficial do continente
europeu; ao contrário do que aconteceu na Antigüidade, aquele
que não é cristão é BÁRBARO e é inimigo religioso e político
dos europeus. Assim, desde o início da Idade Média (476-1453),
os europeus ocupam-se com a GUERRAS DE RECONQUIS-
TA, expulsão dos povos bárbaros - principalmente dos MOU-
ROS (muçulmanos, adoradores de Maomé) que instalam-se em
grande número na PENÍNSULA IBÉRICA (Portugal e Espa-
nha).
Nessa época, a Europa é um conjunto de REINOS. Por
exemplo: no século XI, o território que atualmente faz parte de
Portugal, do Rio Mondego para o Sul, ainda estava ocupado
pelos sarracenos, e desse rio para o Norte havia o reino de Leão.
Ainda não existia a nação portuguesa.
O Feudalismo
O sistema sócio-econômico-político predominante na Idade
Média chama-se FEUDALISMO. Com a Queda do Império
O rapto de Joana de Tarugo. Romano, o continente europeu fica militar e politicamente pro-
penso às invasões . Para evitar o caos e para facilitar a expulsão
Enfrentei fosso muralha e os ferros dos portais dos invasores bárbaros, a Europa é dividida em reinos e cada
Só pela graça da gentil senhora reino em grandes lotes de terras ou FEUDOS.
Filtrando a vida pelos grãos de ampulhetas mortais Cada feudo possui um administrador com plenos poderes: o
D’além de trás os Montes venho SENHOR FEUDAL. Assim, no sistema feudal, o poder do rei é
Por campos de justas honrando este amor descentralizado para os feudos, para os senhores feudais.
Me expondo à Sanha Sanguinária de côrtes cruéis A atividade econômica principal na Europa medieval é a
Enfrentei vilões no Algouço e em Senhores de Biscaia AGRICULTURA: o senhor feudal ARRENDA as terras do feu-
Fidalgos corpos de armas brunhidas do aos agricultores - seus SERVOS ou VASSALOS - que pagam
Não temo escorpiões cruéis carrascos vosso pai o arrendamento com produtos nela cultivados e colhidos; qua-
Enfreado à porta de castelo se toda a produção agrícola, assim, é de propriedade do senhor
Tenho meu murzelo ligeiro e alazão feudal, ficando apenas uma pequena parte dessa produção ao
Que em lidas sangrentas bateu mil mouros infiéis servo ( o suficiente para sua subsistência e da sua família ). O
Ô Senhora dos Sarsais senhor feudal, por sua vez, “presta contas” ao rei de “tudo” que
Minh’alma só teme ao Rei dos reis diz respeito ao feudo que administra, além de ser seu cavaleiro,
Deixa a alcova vem-me à janela seu companheiro e defensor nas guerras: ele é vassalo do rei.
Ó Senhora dos Sarsais Além dos servos, os feudos contam ainda com os cavalei-
Só por vosso amor e nada mais ros do senhor feudal e com os artesãos, aqueles que elaboram
Desça da torre Naíla donzela manualmente as roupas, os calçados, os utensílios e todos os
Venho d’um reino distante, errante e menestrel objetos consumidos pela sociedade.
Inda esta noite e eu tenho esta donzela No sistema feudal, as mercadorias são TROCADAS entre
Minha espada empenho a uma deã mais pura das vestais si, conforme o valor de uso (a necessidade dos envolvidos na
Aviai pois a viagem é longa troca), ou seja, o valor material das mercadorias praticamente
E já vim preparado para vos levar fica em segundo plano ou, às vezes, nem é levado em conta.
Já tarda e quase que o minguante está a morrer nos céus Além das classes sociais já citadas ( servos/ artesãos/ cava-
Ó Senhora dos Sarsais leiros/ senhores feudais e outros nobres/ reis) a sociedade feudal
Minh’alma só teme ao Rei dos Reis tem uma outra - a mais poderosa das classes - que é o CLERO.
Deixa a alcova vem-me à janela
Ó Senhora dos Sarsais O TEOCENTRISMO
Só por vosso amor e nada mais
Desça da torre Joana tão bela O Cristianismo, como vimos, é a religião oficial da
Naíla donzela, Joana tão belas Europa na Idade Média, tanto que aquele que não é cristão é
(Elomar, cantor nordestino que busca recriar através de sua mú- inimigo político e religioso. A religião, assim, é algo de extrema
sica a tradição medieval) importância para o homem medieval: agradar e obedecer a Deus
é seu objetivo de vida, ou seja, Deus é o centro da vida humana
Extensivo 231

humana nessa época. O TEOCENTRISMO, portan- pois, a língua falada em Portugal é o GALEGO-PORTUGUÊS,
to , é um dos traços essenciais da cultura medieval. uma língua simples e ingênua.
A instituição social que se diz “porta-voz de Deus na Terra” A primeira obra literária portuguesa de que se tem notícia
é a IGREJA CATÓLICA; assim, aquele que deseja servir ple- data de 1189: a cantiga “A RIBEIRINHA”, de autoria de Paio
namente a Deus (não importa a que classe social pertença), Soares de Taveirós, uma cantiga de amor em homenagem a Ma-
deve ficar atento ao que prega a Igreja e seguir fielmente os ria Paes Ribeiro; como os poetas não podiam revelar o nome
seus preceitos: o que é pecado, o que é virtude, como se ca- das suas amadas nas cantigas de amor e como a homenageada
racteriza o verdadeiro cristão, etc... Com tal ideologia, ple- era casada, o autor dessa cantiga se inspirou no sobrenome da
namente aceita por todas as classes sociais, o poder “divino” amada para nomear sua obra.
da Igreja determina o modo de vida, os valores mais impor- É das palavras TROVA e TROVADOR (poeta nobre que faz
tantes, a maneira de ser de toda a sociedade: o CLERO é, trovas) que deriva o nome mais comum que se dá a toda Litera-
por isso, a classe dominante - a mais poderosa economica- tura Portuguesa elaborada na Idade Média: TROVADORISMO.
-política-socialmente falando, dentro da sociedade medieval. As primeiras cantigas ou trovas medievais portuguesas são
Não é à toa que quando nos reportamos à Idade Média, inspiradas nas cantigas que há muito tempo já eram feitas em
as imagens que imediatamente ocupam nossa mente são, Provença, no sul da França; por isso, a Literatura Medieval Por-
além dos castelos: os mosteiros, os religiosos, a Inquisição... tuguesa também é chamada de LITERATURA PROVENÇAL.
A FORMAÇÃO DA NAÇÃO PORTUGUESA:
O século XII é o de luta mais intensa entre cristãos e CANTIGA DA RIBEIRINHA
mouros, que vão cedendo terreno pouco a pouco ante a vigo-
rosa ofensiva dos leoneses. Afonso VI é o rei de Leão e chega No mundo non me sei parelha,
para reforçar a luta contra os mouros o nobre francês Henrique Mentre me for como me vai,
de Borgonha. Tal foi sua contribuição que o rei lhe deu a mão Cá já moiro por vós, e - ai!
da filha - Dona Teresa - em casamento e o governo de um dos Mia senhor branca e vermelha.
seus melhores condados: o de Porto-Cale; pouco tempo depois, Queredes que vos retraia
o Conde Henrique anexa ao seu domínio o condado de Coim- Quando vos eu vi em saia!
bra e tem um herdeiro: o futuro rei Dom Afonso Henriques. Mau dia me levantei,
Em 1114, Henrique de Borgonha morre e sua viúva assu- Que vos enton non vi fea!
me o governo como regente, pois Afonso Henriques tem ape-
nas 3 anos. Ao completar 18 anos, D. Afonso Henriques assu- E, mia senhor, desd’aquel’di, ai!
me o governo e entra em guerra contra os mouros e contra o Me foi a mi mui mal,
então rei de Leão - Afonso VII - sagrando-se sempre vence- E vós, filha de don Paai
dor; aos Condados de Porto Cale e Coimbra é anexado todo Moniz, e bem vos semelha
o reino de Leão: todo esse território forma a nação portugue- D’haver eu por vós guarvaia,
sa, cujo fundador, D. Afonso Henriques, é reconhecido como Pois eu, mia senhor, d’alfaia
seu rei inclusive pelo derrotado e ex-rei de Leão - Afonso VII. Nunca de vós houve nem hei
Como resultado de suas vitórias sobre os mouros que ocupa- Valia d’ua correa.
vam muitas cidades portuguesas, D. Afonso Henriques recebe (Paio Soares)
a alcunha de “o Conquistador”. A expulsão dos mouros tam-
bém torna-se preocupação dos reis portugueses que sucedem D.
Afonso Henriques, como: D. Sancho I, D. Afonso II, D. San- Tradução:
cho II, D. Afonso III , D. Dinis ( o REI-TROVADOR), etc.
No mundo não conheço outro como eu,
III- A LITERATURA MEDIEVAL PORTUGUESA : as enquanto me acontecer como me acontece:
CANTIGAS porque já morro por vós, e ai!,
minha senhora branca e vermelha,
1. Denominações e origem da Literatura Medieval Portu- quereis que vos censure
guesa quando vos eu vi em saia? (em corpo bem feito)
Mau dia me levantei
A Literatura Portuguesa surge no século XII: na Idade que vos então não vi feia!
Média, portanto. Tudo que vimos até aqui a respeito da Idade
Média vale para Portugal: o que ocorre na sociedade, na Arte E, minha senhora, desde então,
e na Literatura portuguesas é exemplo do que ocorre em toda passei muitos maus dias, ai!
a Europa. E vós, filha de D. Paio
As primeiras obras literárias portuguesas são elaboradas em Moniz, parece-vos bem
versos: são poemas. Como ainda não há imprensa nessa época, ter eu de vós uma garvaia? (manto)
os poemas medievais são orais e com acompanhamento musi- Pois eu, minha senhora, de presente
cal, recebendo, por isso, o nome de CANTIGAS ou TROVAS. nunca de vós tive nem tenho
As cantigas são divulgadas nas ruas, nas praças, nas festas, nos nem a mais pequenina coisa.
palácios; para facilitar sua memorização e divulgação, as canti-
gas são elaboradas com versos curtos que não seguem necessa-
riamente as normas da Versificação e que se repetem pelo poe-
ma; além disso, a linguagem das cantiga é extremamente fácil,
232 Da Vinci Vestibulares

Características gerais da Literatura Medieval Portuguesa: correspondido pela amada, já que ela é casada, ou mais rica que
ele, etc, ou seja, existe pelo menos um obstáculo impossível de
ser superado para que o amor entre ambos se concretize;
- diante da impossibilidade de que seu amor seja correspondido
pela amada, o eu-lírico diz se contentar pelo menos em ver a
amada e, caso nem isso seja possível, ele prefere morrer;
- a amada é sempre idealizada, divinizada e cultuada;
- a amada é tratada pelo pronome SENHORA, seu nome não é
revelado;

Vejamos como exemplo uma cantiga de D. Dinis, o rei trovador:

A mia senhor que eu por mal de mi


vi e por mal daquestes olhos meus
e por que muitas vezes maldezi
mi e o mund’e muitas vezes Deus,
5 des que a nom vi, nom er vi pesar
SUBJETIVIDADE: a poesia medieval portuguesa é lírica, pre- d’al, ca nunca me d’al pudi nembrar.
dominando a função emotiva da linguagem, ou seja, seu conte-
údo expressa as emoções, os sentimentos, a visão de mundo do A que mi faz querer mal mi medês
emissor ( do eu-lírico), marcadas no texto através de palavras e quantos amigos soía haver
na 1a. pessoa (verbos, pronomes), das interjeições, das excla- e de[s]asperar de Deus, que mi pês,
mações; 10 pero mi tod’este mal faz sofrer,
TEOCENTRISMO: o eu-lírico expressa sua religiosidade ex- des que a nom vi, nom ar vi pesar
trema através da palavra Deus - sempre presente nas cantigas- d’al, ca nunca me d’al pudi nembrar.
dos nomes de santos, de elementos do Cristianismo, festas e
lugares santos, etc. A por que mi quer este coraçom
CONVENCIONALISMO: todo o convencionalismo social está sair de seu logar, e por que já
marcado nas cantigas medievais através da presença de prono- 15 moir’e perdi o sem e a razom,
mes e verbos na 2a. pessoa do plural e dos pronomes de trata- pero m’este mal fez e mais fará,
mento : senhora, dom, dona, amigo, etc. des que a nom vi, nom ar vi pesar
SUPERIORIDADE FEMININA NO AMOR: como já foi visto, d’al, ca nunca me d’al pudi nembrar.
nas cantigas de amor (às vezes até em outras), ao declarar-se à
amada, o homem finge-se inferior, submisso a ela (VASSALA- CANTIGA DE AMIGO: o eu-lírico é feminino. Consiste num
GEM): ela é cultuada como um ser superior, divino, ao contrá- desabafo da mulher acerca da vida (terrível) que leva numa so-
rio do que acontece na realidade; ciedade patriarcal e/ou na declaração de amor pelo seu amigo
PATRIARCALISMO: marcado nas cantigas medievais através (seu namorado) e da saudade e do ciúme que sente dele, já que
do desabafo que o eu-lírico feminino faz nas cantigas de amigo lhes falta liberdade para seus encontros. Tal desabafo normal-
a outra mulher, à natureza ou a Deus. mente é dirigido a outra mulher ( sua mãe, irmã, amiga, etc, que
Como se pode notar, as cantigas medievais portuguesas a entende, pois passa pelos mesmos dissabores), a Deus ou a
contém marcas do tipo de cultura, do momento em que elas fo- algum elemento da natureza ( mar, árvores, céu, etc).
ram elaboradas: elas são, portanto, verdadeiros documentos de Canção de amigo
época (documentos históricos).

CANTIGAS LÍRICAS: Ondas do mar de Vigo,


se vistes meu amigo?
E ai Deus, se verra cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amado,
por que ei gram coidado?
E ai Deus, se verra cedo!

(Martim Codax)
CANTIGA DE AMOR: o eu-lírico é masculino; o conteúdo
dessas cantigas consiste numa declaração de amor a uma mu-
lher. Nessa declaração:
- o homem revela seu amor platônico, pois tal amor não pode ser
Extensivo 233

CANTIGAS SATÍRICAS: COLOCCI- BRANCUTI”, “CANCIONEIRO DA VATICA-


NA”.
Graças à existência desses Cancioneiros que temos hoje exem-
plos de cantigas medievais portuguesas, mesmo que a maioria
delas sejam de autoria de poetas nobres e que as mais populares
(e, por isso, bem interessantes) perderam-se no tempo.

A PROSA MEDIEVAL PORTUGUESA

Além da poesia, há também a prosa medieval que compreende


4 tipos de Narrativas:

1. CRONICÕES: narrativas de fatos históricos importantes co-


locados em ordem cronológica, entremeados de fatos fictícios;
2. HAGIOGRAFIAS: narrativas que contam a vida de santos
CANTIGA DE ESCÁRNIO: é uma sátira que critica indireta- (biografias) ;
mente o sistema ou alguém ; a crítica irônica é tão bem elabora- 3. NOBILIÁRIOS: ou livros de linhagens, são relatórios a res-
da que, por parecer um elogio, tal tipo de cantiga é a preferida peito da vida de um nobre: sua árvore genealógica (antepassa-
dos senhores feudais. dos), relação das riquezas e dos títulos de nobreza que possui,
etc;
Cantiga de escánio 4. NOVELAS DE CAVALARIA: narrativas literárias em capí-
tulos que contam os grandes feitos de um herói (acompanhado
Pero Larouco de seus cavaleiros), entremeados de célebres histórias de amor.
De vós, senhor, quer’eu dizer verdade Tais histórias de amor não são melancólicas e platônicas como
e nom ja sobr’[o] amor que vos ei: o que aparece nas cantigas: o herói cultua a amada, mas não
senhor, bem [moor] é vossa torpicidade se contenta apenas em vê-la; ele quer e é correspondido pela
de quantas outras eno mundo sei; amada, que por ser casada (ou religiosa: “casada com Cristo”),
assi de fea come de maldade torna-se adúltera para concretizar o seu amor; os obstáculos in-
nom vos vence oje senom filha dum rei centivam o herói na fase de conquista (o que é proibido é mais
[Eu] nom vos amo nem me perderei, gostoso), ao invés de torná-lo impotente como acontece nas
u vos nom vir, por vós de soidade[...] cantigas; a esse amor físico, adúltero, presente nas novelas e
xácaras medievais, dá-se o nome de AMOR CORTÊS, em que
CANTIGA DE MALDIZER: é uma sátira que critica direta e o casal central não tem final feliz e é severamente punido pelo
violentamente o sistema ou alguém: as corrupções, os roubos, pecado cometido.
os adultérios, as explorações , etc , e seus envolvidos são citados
nominalmente. EXERCÍCIOS ESSENCIAIS

SONETO DE SEPARAÇÃO
Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado, Vinícius de Morais
e ando maravilhado De repente do riso fez-se o pranto
de te não ver rebentar; Silencioso e branco como a bruma
pois tapo com esta minha E das bocas unidas fez-se a espuma
boca, a tua boca, Marinha; E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu; De repente da calma fez-se o vento
com as mãos tapo as orelhas, Que dos olhos desfez a última chama
os olhos e as sobrancelhas, E da paixão fez-se o pressentimento
tapo-te ao primeiro sono; E do momento imóvel fez o drama.
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum, De repente, não mais que de repente
com os colhões te tapo o cu. Fez-se de triste o que se fez amante
E não rebentas, Marinha? E de sozinho o que se fez contente
(Afonso Eanes de Coton)
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
Essas cantigas foram reunidas nos chamados CANCIONEI- De repente, não mais que de repente.
ROS, “arquivos” onde são encontradas algumas das cantigas Releia com atenção a última estrofe:
medievais portuguesas (as que foram compiladas e guardadas).
Conhecem-se 3 Cancioneiros de poemas em galego-português: Fez-se de amigo próximo o distante
“CANCIONEIRO DA AJUDA”, “CANCIONEIRO DA BI- Fez-se da vida uma aventura errante
BLIOTECA NACIONAL DE LISBOA” ou “CANCIONEIRO De repente, não mais que de repente.
234 Da Vinci Vestibulares

Tomemos a palavra AMIGO. Todos conhecem o sentido com dica e a delicadeza emocional de sua poesia-música, impondo
que esta forma lingüística é usualmente empregada no falar atu- uma nova concepção do amor e da mulher.
al. Contudo, na Idade Média, como se observa nas cantigas
medievais, a palavra AMIGO significou: a) verdadeiro
b) falso
a) colega
b) companheiro
c) namorado 06) A canção associava o amor-elevação, puro, nobre, inatingí-
d) simpático vel, ao amor dos sentidos, carnal, erótico; a alegria da razão (o
e) acolhedor amor intelectual) à alegria dos sentidos.

02) Assinale a alternativa INCORRETA a respeito das cantigas a) verdadeiro


de amor. b) falso
a) O ambiente é rural ou familiar.
b) O trovador assume o eu-lírico masculino: é o homem quem 07) Assinale a afirmação falsa sobre as cantigas de escárnio e
fala. mal dizer:
c) Têm origem provençal.
d) Expressam a “coita” amorosa do trovador, por amar uma a) Os alvos prediletos das cantigas satíricas eram os comporta-
dama inacessível. mentos sexuais (homossexualidade, adultério, padres e freiras
e) A mulher é um ser superior, normalmente pertencente a uma libidinosos), as mulheres (soldadeiras, prostitutas, alcoviteiras
categoria social mais elevada que a do trovador. e dissimuladas), os próprios poetas (trovadores e jograis eram
freqüentemente ridicularizados), a avareza, a corrupção e a pró-
03) Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é INCORRETO pria arte de trovar
afirmar que: b) As cantigas satíricas perfazem cerca de uma quarta parte da
a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teocentrismo, o poesia contida nos cancioneiros galego- portugueses. Isso reve-
feudalismo e valores altamente moralistas. la que a liberdade da linguagem e a ausência de preconceito ou
b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser censura (institucional, estética ou pessoal) eram componentes
representada por setores mais baixos da sociedade. da vida literária no período trovadoresco, antes de a repressão
c) pode ser dividida em lírica e satírica. inquisitorial atirá-las à clandestinidade
d) em boa parte de sua realização, teve influência provençal. c) A principal diferença entre as duas modalidades satíricas está
e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, ex- na identificação ou não da pessoa atingida
pressam o eu-lírico feminino. d) Algumas composições satíricas do Cancioneiro Geral e al-
gumas cenas dos autos gilvicentinos revelam a obrevivência, já
04) Assinale a afirmação falsa sobre as cantigas de escárnio e bastante atenuada, da linguagem livre e da violência verbal dos
mal dizer: antigos trovadores
e) O elemento das cantigas de escárnio não é temático, nem está
a) A principal diferença entre as duas modalidades satíricas está na condição de se omitir a identidade do ofendido. A distinção
na identificação ou não da pessoa atingida. está no retórico do “equívoco”, da ambigüidade e da ironia, au-
b) O elemento das cantigas de escárnio não é temático, nem está sentes na cantiga de maldizer.
na condição de se omitir a identidade do ofendido. A distinção
está no retórico do “equívoco”, da ambigüidade e da ironia, au-
sentes na cantiga de maldizer.
c) Os alvos prediletos das cantigas satíricas eram os comporta-
mentos sexuais (homossexualidade, adultério, padres e freiras
libidinosos), as mulheres (soldadeiras, prostitutas, alcoviteiras
e dissimuladas), os próprios poetas (trovadores e jograis eram
freqüentemente ridicularizados), a avareza, a corrupção e a pró-
pria arte de trovar.
d)As cantigas satíricas perfazem cerca de uma quarta parte da
poesia contida nos cancioneiros galego- portugueses. Isso reve-
la que a liberdade da linguagem e a ausência de preconceito ou
censura (institucional, estética ou pessoal) eram componentes
da vida literária no período trovadoresco, antes de a repressão
inquisitorial atirá-las à clandestinidade.
e) Algumas composições satíricas do Cancioneiro Geral e algu-
mas cenas dos autos gilvicentinos revelam a sobrevivência, já
bastante atenuada, da linguagem livre e da violência verbal dos
antigos trovadores.

05) No inicio do século XIII, a intransigência religiosa arrasou


a Provença e dispersou seus trovadores, mas a lírica provença-
lesca já havia fecundado a poesia ocidental com a beleza meló-
Extensivo 235

MÓDULOS 3 e 4: HUMANISMO. literária e a consolidação da língua portuguesa como língua in-


dependente.

Surgimento do Humanismo literário:

Didaticamente, convencionou-se determinar como


marco inicial do Humanismo a nomeação de Fernão Lopes
como guarda-mor da Torre do Tombo, em 1418. Seu término
ocorre em 1527, quando Francisco de Sá de Miranda retorna a
Portugal, após seis anos na Itália, e inicia o Renascimento em
Portugal.

Características literárias:

Literariamente, convencionou-se relacionar a palavra Huma-


“O homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras) nismo ao movimento artístico iniciado na Itália no século XIV.
Francesco Petrarca, poeta italiano, é considerado o pai do Hu-
Contextualização histórica: manismo, pois foi o principal precursor desse movimento que
espalhou-se pela Europa, no período que corresponde à transi-
O Humanismo surge durante um período de transições: ção da Idade Média à Idade Moderna. Um de seus principais
da Idade Média para o Renascimento, do feudalismo para o representantes foi Dante Alighieri. A Literatura passa a oscilar
mercantilismo, do Teocentrismo para o Antropocentrismo. Fin- entre a preservação de antigos valores e a preparação de um
da a Revolução de Avis, D. João I, assume o trono português, novo homem e inicia-se o estudo da cultura greco-latina.
pondo fim à dinastia de Borgonha. Ao consolidar a independên-
cia portuguesa, centraliza o poder e inaugura o Absolutismo em Na Literatura Portuguesa o início desse período é mar-
Portugal. cado pela nomeação de Fernão Lopes como cronista da corte
As relações sociais sofrem profundas transformações, com o portuguesa e o final com a obra teatral de Gil Vicente.
surgimento de uma nova classe social: a burguesia mercanti-
lista, responsável pelo desenvolvimento do comércio. O poder Durante o humanismo, a corte torna-se o principal cen-
material torna-se mais importante do que os títulos de nobreza. tro de produção cultural e literária e a prosa e o teatro assumem
As grandes navegações advinda do comércio marítimo, trazem lugar de destaque.
a expansão ultramarina, responsável pela formação do império
colonial português, com as conquistas na África e a descoberta A produção literária do humanismo é composta de:
do Brasil.
Essa nova realidade mercantil e a ascensão do raciona- ♦ Poesia Palaciana
lismo humanista colocam em xeque o sistema feudal e provo-
cam uma crise ideológica que atinge o Teocentrismo e a Esco- crônicas de Fernão Lopes
lástica. ♦ Prosa: prosa doutrinária
O pensamento torna-se mais racional e lógico e inicia- novelas de cavalaria
-se a laicização da cultura. Esta preocupação maior com valores
humanos que religiosos faz aflorar o Antropocentrismo. O ho-
mem começa a se valorizar, sem contudo abandonar por com- ♦ Teatro - Gil Vicente
pleto o temor a Deus e a submissão, visto que essa é uma fase
predominantemente de transição. A POESIA PALACIANA: como próprio nome já diz, era
O humanismo caracteriza-se, acima de tudo, como o poesia produzida no ambiente dos palácios, feita por nobres e
início da renovação da cultura portuguesa. Esses novos valo- destinada à corte. Ao contrário dos códices (manuscritos) trova-
res, assumidos pelo homem a partir do século XIV, deixam sua dorescos, grande parte da produção poética desse período foi
marca na produção artística: na pintura, a figura humana ganha recolhida por Garcia Resende, no Cancioneiro Geral, formado
forma, expressão e proporção; a música torna-se polifônica, a por 880 composições, impresso em 1516. Entre suas principais
arquitetura gótica agoniza. A vida religiosa, tema dos artistas características estão:
até aquele momento, é substituída pelas emoções, pelo compor-
tamento humano e pela vida urbana, uma vez que a própria bur- - Separação entre música e texto - a poesia destina-se à leitura.
guesia passa a financiar a cultura. As grandes obras do período Assim, a própria linguagem é responsável pelo ritmo e expres-
passaram a ter como centro de interesse o próprio homem e a sividade. O termo trovador aos poucos assume um caráter
realidade dos fatos. pejorativo e começa a surgir a figura do poeta;
Os meios de comunicação são aperfeiçoados e as ci-
dades se aproximam, propiciando o surgimento dos os centros - Utilização dos redondilhos - versos compostos por cin-
urbanos. O conhecimento passa a circular com mais facilidade co (redondilhos menores) ou sete sílabas poéticas (redondilhos
e a Igreja perde o monopólio do acervo cultural, com o desen- maiores);
volvimento da imprensa e a formação de bibliotecas fora dos
mosteiros. Isso tudo acabou por determinar a supremacia da es-
crita sobre a oralidade, propiciando o desenvolvimento da prosa
236 Da Vinci Vestibulares

- Temática variada - com composições religiosas, satíricas, O TEATRO DE GIL VICENTE


didáticas, heroicas e líricas. O lirismo amoroso trovadoresco,
a partir da influência de Petrarca (um dos precursores do Antes da produção gilvicentina é praticamente impos-
Humanismo italiano), assume uma nova conotação, a mulher sível falar-se em teatro. A manifestação teatral da Idade
idealizada, inatingível, carnaliza-se e a sensualidade reprimida Média limitou-se à encenações de caráter litúrgico, presas aos
nas cantigas de amor passa a ser frequente. ritos da religião católica. As encenações religiosas apresentadas
“ Que de meus olhos partays no interior das igrejas dividiam-se em:

em qual quer parte questeys , - Mistério - representação da vida de Jesus Cristo


em eu coraçam fycays - Milagre - representação da vida de santos
e nele vos converteys . - Moralidade - representações curtas com finalidade didática
Este é o vosso luguar , ou moralizante.
Em que mays çerta vos vejo ,
por que nam quer meu desejo As encenações que ocorriam fora dos templos religio-
que vos dy possays mudar . sos recebiam o nome de profanas e apresentavam um caráter
E por ysso que partays , mais popular e não estavam relacionadas aos cultos católicos.
em qual quer parte questeys ,
em meu coraçam fycays , Dividiam-se em:
pois nele vos converteys . “
- Arremedilho ou arremedo - imitação cômica de acon-
( Rui Gonçalves ) tecimentos ou pessoas; - Pantomima alegórica - espécie de
palhaçada circense da atualidade, na qual atores mascarados
imitavam as pessoas.
CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES: Fernão Lopes é a prin- - Farsa - encenação satírica com um humor primário, situa-
cipal figura da prosa humanista, considerado o fundador da ções absurdas e ridículas; - Sotie - (sotie vem do francês sot
historiografia portuguesa. Sua importância se deve não só pelo e significa tolo) semelhante à farsa, mas com um parvo, tolo no
aspecto histórico de sua produção, mas também pelo aspecto papel principal;
artístico de suas crônicas. Em sua crônicas, apesar de - Momo - encenação carnavalesca com uma temática variada.
regiocêntricas, o povo aparece pela primeira vez com co-autor As pessoas utilizavam máscaras e imitavam pessoas e animais;
das mudanças históricas portuguesa. Entre suas características - Entremeze - encenações breves apresentadas entre os atos
destacamse: a imparcialidade, o registro documental, a cri- de peças mais longas. Sua função era preencher os intervalos;
ticidade e o nacionalismo. São de autoria de Fernão Lopes: - Sermão burlesco - monólogo recitado por um ator mas-
carado;
- Crônica de El-Rei D. Pedro I - Écloga - auto pastoril. Atores vestidos de pastores pregavam
os valores da vida no campo.
- Crônica de El-Rei D. Fernando

- Crônica de El-Rei D. João I

Sua obra mais importante é a “Crônica del-Rei D. Pe-


dro I”, que conta o romance de Pedro e Inês de Castro (nobre
bastarda de origem espanhola). Como Pedro era o filho mais ve-
lho do rei, a corte temia tal união devido à influência espanhola:
assim, Inês foi morta durante uma viagem de Pedro. Quando
este regressa e se intera do ocorrido, vira um justiceiro.

Sucessores de Fernão Lopes:
Pouco se sabe sobre os dados biográficos de Gil Vicen-
• Gomes Eanes de Zurara - a partir de 1454. te. Acredita-se que tenha tido muito prestígio na corte portugue-
Tentou continuar a visão de Fernão Lopes, com ênfase na pes- sa, desempenhando a função de organizador das grandes festas
quisa e na análise de conjunto . Rachou-se em testemunhos e em palacianas. Para outros, entretanto, desempenhava a função de
relatos reais e acabou sendo responsável por um retrocesso, pois ourives, atraindo a atenção da rainha Leonor. Mas é unanime
apresentou uma visão senhorial da história, sem se preocupar o seu reconhecimento como o fundador do teatro português e
com a veracidade dos fatos. o maior representante do Humanismo. Assim como o período,
• Rui de Pina - a partir de 1497. suas peças apresentavam o bifrontismo como característica cen-
Substituiu o cronista Vasco Fernandes de Lucena que não es- tral. Ora com fortes marcas medievais, ora com antecipações
creveu nada. Foi homem de confiança de D. João II. Se inspirou renascentistas. Gil Vicente criticou toda a sociedade da épo-
em Fernão Lopes e realçou nas suas crônicas o papel do povo ca, suas peças apresentam indivíduos de todas os segmentos
nas modificações históricas. Foi sucedido por Duarte Galvão de sociais. Só não criticou mordazmente a Família Real, da qual
Resende. dependia. É importante destacar que todo o moralismo gilvi-
centino não é contra as instituições, mas contra os indivíduos
que as corrompiam. Tanto que em nenhum de seus trabalhos
Extensivo 237

vazia.
questionou qualquer verdade cristã, apresentava uma visão teo- B) O Frade representa o clero decadente e é subjugado por suas
cêntrica e conservadora da sociedade. Na realidade, era contra fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e as armas de esgri-
as novidades trazidas pelas mudanças do período que punham ma.
em risco a integridade do povo português, seus autos represen- C) O Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa o em-
tam uma tentativa de resgate dessa integridade que perdia-se barque dos condenados; é dissimulado e irônico.
través da corrupção, do adultério e da ambição. Por outro lado, D) O Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a morte pela
Gil Vicente inovou, mesmo escrevendo em redondilhos, não fé; é austero e inflexível.
seguiu a rigidez do teatro clássico vigente até então (unidade E) O Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação inte-
de ação, tempo e espaço). Suas representações apresentavam gra e exata das leis; leva papéis e processos.
uma grande variedade temática, povoadas por inúmeros perso-
nagens, amplitude temporal e justaposição de lugares. A ale- 03) (UNICAMP) Leia o diálogo abaixo, de Auto da Barca do
goria, as personagens-tipos e a variedade lingüística também o Inferno:
distinguem de seu tempo. Suas personagens não apresentam DIABO
características particularizadas, ao contrário, são generaliza- Cavaleiros, vós passais
ções, estereótipos, que representam toda categoria profissional e não perguntais onde ir?
ou uma classe social (povoam suas peças as alcoviteiras, os fi- CAVALEIRO
dalgos, os frades, os judeus). Outras vezes, através da abstração, Vós, Satanás, presumis?
as personagens representam idéias ou instituições (a Fama, a Atentai com quem falais!
Igreja, a Lusitânia, Todo-o-Mundo e Ninguém). As persona- OUTRO CAVALEIRO
gens gilvicentinas expressavam-se através de diversos regis- Vós que nos demandais?
tros lingüísticos: arcaísmos, castelhano, saiaguês (falar típico de Siquer conhecê-nos bem.
Saiago, região que faz fronteira com Portugal), latim, português Morremos nas partes d’além,
chulo, coloquial, popular, culto e erudito. e não queirais saber mais.
(Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, em Antologia do Tea-
A produção teatral de Gil Vicente pode ser dividida em tro de Gil Vicente. Org. Cleonice Berardinelli, Rio de Janeiro:
três fases: Nova Fronteira/ Brasília: INL, 1984, p.89.)
- Primeira Fase - marcada pelos traços medievais e pela in-
fluência espanhola de Juan del Encina. São desta fase: O Monó- a) Por que o cavaleiro chama a atenção do Diabo?
logo do Vaqueiro, o Auto Pastoril Castelhano, o Auto dos Reis
Magos, entre outros.
- Segunda Fase - aparecem a sátira dos costumes e a forte críti- b) Onde e como morreram os dois Cavaleiros?
ca social. São desta fase: Quem tem farelos?, O Velho da Horta,
o Auto da Índia e a Exortação da Guerra.
- Terceira Fase - aprofundamento da crítica social através da c) Por que os dois passam pelo Diabo sem se dirigir a ele?
tragicomédia alegórica, da variedade temática e lingüística, é o
período da maturidade expressiva. São desta fase: A Trilogia 04) (PUC) Considerando a peça Auto da Barca do Inferno como
das Barcas, a Farsa de Inês Pereira, o Auto da Lusitânia. um todo, indique a alternativa que melhor se adapta à proposta
do teatro vicentino.
EXERCÍCIOS ESSENCIAIS
A) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo
01) (FUVEST) Indique a afirmação correta sobre o Auto da alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem uma
Barca do Inferno, de Gil Vicente: alma para salvar.
A) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o B) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóricas, não
público com a inesperado de cada situação. estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e o
B) O moralismo vicentino localiza os vícios, não nas institui- Mal.
ções, mas nos indivíduos que as fazem viciosas. C) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com
C) É complexa a critica aos costumes da época, já que o autor o perfil que apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e
primeiro a relativizar a distinção entre Bem e o Mal. o Parvo portam os instrumentos de sua culpa.
D) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares D) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa
mais ridicularizadas e as mais severamente punidas. da época, porém poupa, por questões ideológicas e políticas, a
E) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo re- Igreja e a Nobreza.
ferência a qualquer exemplo de valor positivo. E) Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vi-
02) (FUVEST) Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, cente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas
Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Florença, Brígida Vaz, Ju- do teatro clássico.
deu, Corregedor, Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros
são personagens do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. 05) (UNIFESP) Para responder à questão, leia os versos seguin-
Analise as informações abaixo e selecione a alternativa incor- tes, da famosa Farsa de Inês Pereira, escrita por Gil Vicente:
reta cujas características não descrevam adequadamente a per-
sonagem. Andar! Pero Marques seja!
A) O Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usurário; de tudo Quero tomar por esposo
que juntara, nada leva para a morte, ou melhor, leva a bolsa quem se tenha por ditoso
238 Da Vinci Vestibulares

de cada vez que me veja. baba,/ boi berrando.../Dança doido,/dá de duro,/dá de dentro, /
Meu desejo eu retempero: dá direito.../ Vai, vem, volta,/ vem na vara, /vai não volta,/ vai
asno que me leve quero, varando... ou 6 versos de 7 sílabasBoi bem bravo, bate baixo, /
não cavalo valentão: bota baba, boi berrando.../Dança doido, dá de duro,/dá de den-
antes lebre que leão, tro, dá direito.../Vai, vem, volta, vem na vara,/ vai não volta,
antes lavrador que Nero. vai varando...

Sobre a Farsa de Inês Pereira, é correto afirmar que é um texto MÓDULO 2:


de natureza:
01) C
A) satírica, pertencente ao Humanismo português, em que se 02) A
ridiculariza a ascensão social de Inês Pereira por meio de um 03) A
casamento de conveniências. 04) A
B) didático-moralizante, do Barroco português, no qual as 05) A
contradições humanas entre a vida terrena e a espiritual são 06) B
apresentadas a partir dos casamentos complicados de Inês 07) B
Pereira.
C) religiosa, pertencente ao Renascimento português, no qual MÓDULOS 3 e 4:
se delineia o papel moralizante, com vistas à transformação do
homem, a partir das situações embaraçosas vividas por Inês 01) B
Pereira. 02) E
D) reformadora, do Renascimento português, com forte apelo 03)
religioso, pois se apresenta a religião como forma de orientar e A) Porque a fala do Diabo revela seu desrespeito para com
salvar as pessoas pecadoras. um Cavaleiro de Cristo, que morre para defender e propagar
E) cômica, pertencente ao Humanismo português, no qual Gil a fé cristã. Quem defende a causa cristã não vai na Barca do
Vicente, de forma sutil e irônica, critica a sociedade mercantil Inferno.
emergente, que prioriza os valores essencialmente materialis-
tas. B) Os dois Cavaleiros morreram nas “partes d’além”, em um
combate contra os mouros na defesa da Igreja.
GABARITO: C) Porque estão conscientes da salvação e de que vão na Barca
da Glória.
MÓDULO 1: 04) A
05) E
1) A internet permite a retomada (potencializada) dos jogos
verbais típicos da poesia e permite aos escritores publicar seus
poemas com mais facilidade.
2) o caligrama e o lipograma (lembre-se da linguagem da
internet que suprime letras, por exemplo, vc tb q ir?)

03) Aproxima do caligrama pela exploração da forma de onda.


04) A exploração de recursos sonoros como a assonância (re-
petição de sons de vogais) na repetição de vogais nasais como
([õ] ,[ ã]) e aliteração (repetição de sons de consoantes ) na re-
petição de consoantes como o d, juntamente com a exploração
visual do poema, construído em forma de onda, fazem surgir
um ritmo que imita o som e o movimento das ondas.

05) a

06) Os gestos pendendo presos a estrelas por longos fios invi-


síveis lembra os bonecos (marionetes) presos a fios em uma
estrela que os controla. Sendo a estrela é uma metáfora para
destino, vida, sina, sorte, entende-se que a nossa vida caminha
ao sabor desse destino, sem que tenhamos sobre ela o controle.

07)b

08) a) Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando...
Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem,
volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...

b) 12 versos de 3 sílabas: Boi bem bravo,/ bate baixo,/bota


Extensivo 239

Redação
240 Da Vinci Vestibulares

MÓDULOS 1 E 2: MODALIDADES DISCURSIVAS argumentar, expor, descrever e instruir. Os gêneros textuais, se


E GÊNEROS TEXTUAIS. construirão, portanto, a partir destes tipos e do uso pretendido
pelo falante.
Iniciaremos agora nosso curso de redação e para come- É necessário levarmos em conta que: ao ser classifi-
çar é extremamente importante dizer que assim como em quase cado um certo texto como narrativo, descritivo ou dissertativo,
tudo na vida, escrever bem significa praticar muito. De nada o que se determina é a tipologia textual predominante e não o
adianta assistir às aulas e não realizar as propostas, por isso a gênero.
produção textual é fundamental. Um dos requisitos importantes Além das modalidades ou tipos textuais, para que o
para se escrever bem é a leitura, através dela conseguimos re- gênero se realize é preciso que ele tenha um determinado supor-
pertório, domínio lexical e fluência em nossa redação. Para co- te, ou seja, o espaço físico e material em que serão grafados e a
meçar, vamos falar um pouco dos gêneros textuais, hoje, muito partir disto se constituirão.
cobrados em grandes vestibulares.

Para começar nossos estudos, vamos analisar um as-


sunto bastante importante no que diz respeito à produção textu-
al, principalmente devido às mudanças que vêm sendo propos-
tas pelos grandes vestibulares, como é o caso da Unicamp.
Você deve se lembrar da escola, quando a professora lhe pediu
que produzisse, por exemplo, um artigo de opinião, ou quem
sabe, uma fábula. Hoje, quando quer se comunicar com alguém,
você envia um e-mail, ou deixa um scrap no orkut, coisa que
seus pais não faziam quando eram jovens, já que não havia tais
meios de comunicação, naquela época, assim, eles se utiliza-
vam de cartas ou bilhetes. Estas formas de comunicação através
do texto são apenas alguns exemplos dos chamados gêneros. O
estudioso Bakhtin, precursor dos estudos sobre o assunto, defi-
ne gênero textual como um tipo relativamente estável de enun-
ciado e aborda suas esferas de conteúdo, forma e estilo. Este Vamos, agora, dar uma olhada mais detalhada nas modalidades
enunciado refletiria, segundo Bakhtin, as condições específicas discursivas.
e as finalidades das esferas da atividade humana que estão rela-
cionadas com a utilização da língua. Essas esferas de atividades O TEXTO DESCRITIVO:
são múltiplas e cada uma delas nos remete a um ou mais gêne-
ros textuais. Para simplificar: Os gêneros textuais são os textos A moça tinha ombros curvos como os de uma cerzideira. Apren-
que circulam na sociedade e que desempenham diferentes pa- dera em pequena a cerzir. Ela se realizaria muito mais se se
péis comunicativos, assim, representam produtos da atividade desse ao delicado labor de restaurar fios, quem sabe se de seda.
da linguagem em funcionamento permanente nas formações Ou de luxo: cetim bem brilhoso, um beijo de almas. Cerzidei-
sociais. No nosso dia a dia, temos contato com diversos tipos de rinha mosquito. Carregar em costas de formiga um grão de
textos, além de criarmos enunciados como: açúcar. Era ela de leve como uma idiota, só que não o era.
Não sabia que era infeliz. É porque ela acreditava. Em quê?
•Escrevi uma carta. Em vós, mas não é preciso acreditar em alguém ou em alguma
•Recebi o e-mail. coisa - basta acreditar. Isso lhe dava às vezes estado de graça.
•Achei o anúncio interessante. Nunca perdera a fé. (Clarice Lispector. A Hora da Estrela. Rio
•Fiz um resumo do livro. de Janeiro: José Olympio, 1983 )
•A piada foi boa.
•A tirinha é engraçada. A partir do pequeno trecho de Clarice Lispector, você pode ten-
tar definir o texto descritivo. Vamos lá!
Estes enunciados são possíveis porque o número de
gêneros textuais numa determinada sociedade é, em princípio, Para começar, podemos perceber que o texto que aca-
ilimitado, ampliando-se de acordo com os avanços sociais e tec- bamos de ler é a exposição de diversos aspectos que configuram
nológicos. Desta forma, podemos pensar no e-mail ou no blog, o objeto sobre o qual incide a descrição, ou seja uma moça.
por exemplo, como práticas comunicativas e sociais que advêm Perceba como a autora nos informa das características da per-
da carta e do diário, possíveis pelas recentes invenções, ou seja, sonagem com riqueza de detalhes, isto porque o objetivo é nos
o processo de surgimento dos gêneros é bastante dinâmico, as- fazer visualizar Macabéa. Da mesma maneira que em uma foto,
sim como o seu desaparecimento, dependendo do meio em que não há movimento no texto descritivo, pois o objetivo é capturar
estão inseridos. uma “imagem” como ela está no momento da descrição, sendo
Para que os gêneros textuais se realizem, eles preci- assim, não há a presença de ações.
sam, para se estruturar, das chamadas modalidades discursivas,
que nada mais são que as formas de organização lingüístico- Algumas das características que marcam o texto descritivo são:
-discursivas. Formas limitadas que existem dentro da constru-
ção textual, com a finalidade de produzir um efeito discursi- • Presença de substantivo, que identifica o que está sendo des-
vo específico nas relações entre os usuários de uma língua. As crito.
principais modalidades ou tipos discursivos são: narrar, relatar, • Adjetivos e locuções adjetivas.
Extensivo 241

• Presença de verbos de ligação. Atualmente, ao ligarmos a televisão, é cada vez mais


• Há predominância do predicado verbal, devido aos verbos de frequente depararmo-nos com notícias de guerra, assaltos, mor-
ligação e aos adjetivos. tes e ainda com programas em que o recurso à violência impera.
• Emprego de metáforas e comparações, para auxiliar na “visua- Como sabemos, as crianças são as principais admiradoras desse
lização” das características que se deseja descrever. pequeno aparelho que é a televisão e de tudo o que lá é trans-
mitido. Significa isto que é de extrema importância a redução
O TEXTO NARRATIVO: do número de programas que contenham violência explícita por
parte dos canais de TV, principalmente em horários nos quais a
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizen- maioria das crianças assiste à televisão, visto que esta exposi-
do que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo ção poderá ser um dos fatores que as influenciará na sua vida,
fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na nomeadamente na sua personalidade e atitude na resolução
semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola dos problemas que irão surgir. Em primeiro lugar, é possível
um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele afirmar-se que a violência a que as crianças estão expostas nos
provou e tinha gosto de queijo. diversos programas televisivos pode provocar comportamentos
Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa, como foi proibido violentos. Esta é uma opinião compartilhada por muitas pessoas
de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou que, apesar do que se possa pensar, não é apenas uma ideia do
falando que todas as borboletas da terra passaram pela chá- senso comum, na medida em que está comprovada por diver-
cara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para sos estudos. Tome-se como exemplo um trabalho do Instituto
transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. de investigação Social da Universidade de Michigan (Estados
Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça: Unidos da América), coordenado pelo psicólogo L. Rowell
— Não há nada a fazer, Dona Coló. Esse menino é mesmo um Huesmann e apresentado na edição de Março de 2003 da re-
caso de poesia. (Carlos Drummond de Andrade. Contos plausí- vista Development Psychology, o qual demonstra que crianças
veis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.) de ambos os sexos que assistem a muitos programas televisivos
violentos têm um elevado risco de desenvolverem um compor-
Ao contrário da descrição, que, como vimos, é estática, a nar- tamento agressivo em adultos. (...) http://rascunhosecia.blogs-
ração tem como material o fato, a ação que envolve os perso- pot.com/2009/03/texto-argumentativo-violencia-na-tv.html
nagens, assim é um tipo de texto marcado pela temporalidade.
A progressão temporal é essencial para o desenvolvimento dos TEXTO ARGUMENTATIVO é o texto em que defendemos
fatos: as ações direcionam-se para um conflito que requer uma uma idéia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por
solução. A trama que se constrói com os elementos do conflito todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a,
desenvolve-se necessariamente numa linha de tempo e num de- creia nela.
terminado espaço. Além disso, o fio da narrativa – a organização Num texto argumentativo, distinguem-se três compo-
dos fatos no tempo e o ponto de vista pelo qual são relatados nentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.
– é conduzido por um narrador que pode participar ou não dos TESE, ou proposição, é a idéia que defendemos, necessaria-
acontecimentos, que pode ou não estar envolvido neles. Esse mente polêmica, pois a argumentação implica divergência de
aspecto é fundamental para o resultado do texto. opinião.
A palavra ARGUMENTO tem uma origem curiosa: vem
Atenção a algumas perguntas fundamentais da modalidade nar- do latim ARGUMENTUM, que tem o tema ARGU , cujo senti-
rativa: do primeiro é “fazer brilhar”, “iluminar”, a mesma raiz de “ar-
gênteo”, “argúcia”, “arguto”.
♦ O que aconteceu? ____________________ Acontecimento, Os argumentos de um texto são facilmente localizados:
fato, situação identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o autor é
contra a pena de morte (tese). Porque ... (argumentos).
♦ Com quem? _________________________Personagem As ESTRATÉGIAS não se confundem com os ARGU-
MENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta por quê
♦ Onde? Quando? Como? _______________Espaço, tempo, (o autor defende uma tese tal PORQUE ... - e aí vêm os argu-
modo mentos).
ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos
♦ Quem está contando? _________________Narrador (verbais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte,
para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo
mais facilmente, para gerar credibilidade, etc.
O TEXTO ARGUMENTATIVO:

PRODUZINDO COM O PROFESSOR

Bom, agora que você já sabe um pouco sobre as prin-


cipais modalidades discursivas, que tal começar a “destravar a
mão” com uma proposta fresquinha do último ENEM. Mãos à
obra!
242 Da Vinci Vestibulares

(ENEM 2015) TEXTO III

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e


com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua for-
mação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade
escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A persistên-
cia da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, apre-
sentando proposta de intervenção que respeite os direitos huma-
nos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
TEXTO IV
TEXTO I

Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assas-
sinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última
década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para
4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplican-
do o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.

TEXTO 2:
Extensivo 243

MÓDULO 3: ATIVIDADE DE CRIAÇÃO gresso Nacional de novo discute o rebaixamento da idade de


responsabilidade penal de 18 para 16 anos como uma das so-
Discutindo uma proposta UNESP luções para o problema. No entanto, leve-se em conta que a
maioria esmagadora dos criminosos são jovens entre 19 e 25
TEXTO 1 anos e adultos. Atrás do adolescente infrator, há sempre adul-
tos. O núcleo duro da criminalidade violenta são organizações
O advogado Carlos Velloso, ex-presidente do Supremo Tribunal comandadas por adultos, que a polícia não consegue desbaratar
Federal, diz que a redução da maioridade penal vai por incompetência na coleta de informações, fraqueza da inves-
inibir jovens e criminosos: “O jovem de hoje é diferente do jo- tigação e por manter, a despeito da consagrada impunidade, a
vem de 1940, quando essa maioridade penal de 18 anos foi concepção sabidamente equivocada de “guerra contra o crime”.
instituída. Agora, ele é bem informado, já compreende o que é O rebaixamento da idade penal é um logro que não terá nenhum
uma atitude delituosa. Muitos jovens de 16 anos já estão efeito para aumentar a segurança dos cidadãos. Se as institui-
empregados no crime organizado. A redução vai inibir os ado- ções brasileiras de tratamento de crianças e adolescentes infra-
lescentes e criminosos que aliciam menores.” tores não educam nem regeneram, sendo masmorras disfarça-
(“Para ex-ministro do STF, redução da maioridade penal dimi- das apenas pelo nome, trancafiá-los em prisões de adultos seria
nuiria crime”. www.folha.uol.com.br, 01.04.2015. Adaptado.) condená-los à tortura, à violência sexual e à solitária.
Está mais do que na hora de ir além do atual debate
TEXTO 2 relativo ao estabelecimento arbitrário de uma idade mínima de
responsabilidade pela infração das leis penais. Mas, enquanto
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, não atingirmos essa etapa, o esforço do Estado democrático não
afirmou que a redução da maioridade penal, debatida deve ser de despejar mais e mais adolescentes miseráveis, po-
atualmente no Congresso Nacional, não deve diminuir a vio- bres e afrodescendentes no sistema penal de adultos.
lência no país: “Não vamos dar uma esperança vã à sociedade, O esforço deve ser no sentido de aperfeiçoar as atuais
como se pudéssemos ter melhores dias alterando a responsabili- instituições de tratamento das crianças e adolescentes, para evi-
dade penal. Cadeia não conserta ninguém.” tar que eles, tornados adultos, entrem naquele sistema. (Paulo
(“‘Cadeia não conserta ninguém’, diz ministro sobre redução da Sérgio Pinheiro (ex-secretário de Estado de Direitos Humanos).
maioridade”. http://g1.globo.com, 01.04.2015. Adaptado.) “Adolescentes: o elo mais fraco”. Folha de S.Paulo, 11.01.2013.
Adaptado.)
TEXTO 3
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conheci-
A presunção de que ao adolescente de 16 anos falta o mentos, escreva uma redação de gênero dissertativo, empregan-
entendimento pleno da ilicitude da conduta que pratica podia do a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
encontrar justificativa décadas atrás, quando o Brasil era uma
sociedade agrária e atrasada socialmente. Hoje, com a densifica- A redução da maioridade penal contribuirá para a diminui-
ção populacional, o incremento dos meios de comunicação e o ção da criminalidade no Brasil?
acesso facilitado à educação, esse adolescente amadurece muito
mais rápido.
O jovem de 16 anos já possui maturidade para votar. E
o Código Civil, atento ao fato de que o jovem amadurece mais
cedo, permitiu a emancipação aos 16 anos de idade. Emanci-
pado, poderá constituir família, com os pesados encargos daí
decorrentes como manutenção do lar e criação e educação da
prole. Poderá também constituir uma empresa e gerenciá-la,
respondendo, sem interferência de terceiros, por todas as obri-
gações inerentes ao exercício do comércio.
É notório que os adolescentes se valem consciente-
mente da menoridade para praticar ilícitos infracionais, sabendo
quanto são brandas as medidas passíveis de serem aplicadas a
eles. Uma das causas da delinquência juvenil é a falta de po-
líticas públicas voltadas à criança e ao adolescente. Mas a so-
ciedade não pode esperar indefinidamente que essas políticas
sejam implementadas. O problema deve ser enfrentado de duas
formas: criando políticas sociais de trabalho, educação e empre-
go, mas simultaneamente fazendo jovens entre 16 e 18 anos res-
ponderem penalmente pelos seus atos. (Cláudio da Silva Leiria
(promotor de justiça). “Questão de maturidade”. O Estado de
S.Paulo, 05.04.2015. Adaptado.)

TEXTO 4

Confrontado com situações extremas de violência e


criminalidade, nas quais há adolescentes envolvidos, o Con-
244 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 4: FUNÇÕES DA LINGUAGEM E GÊNE- nossa mensagem (interlocução), definido isto, utilizaremos uma
ROS TEXTUAIS determinada função de linguagem em que um dos elementos
anteriormente vistos sempre fica em evidência, tornando-se o
Como vimos nas aulas anteriores, os gêneros textuais foco da mensagem:
são infinitos e servem como instrumento de comunicação que
tem por objetivo a transmissão de uma mensagem. Para que a Vejamos agora as funções da linguagem:
comunicação se realize com eficácia são necessários alguns ele-
mentos que aparecem no esquema abaixo: Função referencial ou denotativa

Ocorre quando o objetivo do emissor é traduzir a


realidade visando à informação. Sua predominância atém-se
a textos científicos, técnicos ou didáticos, alguns gêneros do
cotidiano jornalístico, documentos oficiais e correspondências
comerciais. A linguagem neste caso é essencialmente objetiva,
razão pela qual os verbos são retratados na 3ª pessoa do singular,
conferindo-lhe total impessoalidade por parte do emissor.

a) O LOCUTOR ou EMISSOR é quem emite a mensagem; pode “ Dividir o tempo entre o lazer e os estudos é uma das
ser um indivíduo ou um grupo (firma, organismo de difusão, etc.) recomendações para quem ainda está na maratona de provas.
Célio Tasinafo, professor de cursinho, recomenda que os
b) O INTERLOCUTOR ou RECEPTOR é quem recebe a men- vestibulandos descansem até o Ano-novo, ele afirma que é
sagem; pode ser um indivíduo, um grupo, ou mesmo um animal importante aproveitar as festas de fim de ano com a família
ou uma máquina (computador). Em todos estes casos, a comuni- para relaxar. Já para a psicóloga Rosane Levenfus “não tem
cação só se realiza efetivamente se a recepção da mensagem tiver muita regra, depende do ritmo de cada estudante. Se ele acha
uma incidência observável sobre o comportamento do destinatá- que pode parar totalmente, então para. O que não pode é ficar
rio, ou seja se houver a chamada interlocução (o que não significa em cima do muro”.Disponível em:www.uol.com.br/vestibular;
necessariamente que a mensagem tenha cumprido seu propósito: acesso em 03/01/2011.
é preciso distinguir cuidadosamente recepção de compreensão).
Função emotiva ou expressiva
c) A MENSAGEM é o objeto da comunicação; ela é cons-
tituída pelo conteúdo das informações transmitidas. No caso desta função, há a comunicação dos sentimentos
do emissor, emoções, inquietações e opiniões centradas na
d) O CANAL de comunicação é a via de circulação das men- expressão do próprio “eu”, levando em consideração o seu
sagens. Ele pode ser definido, de maneira geral, pelos meios mundo interior. Para tal, são utilizados verbos e pronomes em
técnicos aos quais o destinador tem acesso, a fim de assegu- 1ª pessoa, muitas vezes acompanhados de sinais de pontuação,
rar o encaminhamento de sua mensagem para o destinatário: como reticências, pontos de exclamação, bem como o uso de
onomatopeias e interjeições.

Transforma-se o amador na cousa amada


Luís de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada,


por virtude do muito imaginar;
não tenho logo mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,


que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
e) O CÓDIGO é um conjunto de signos e regras de combinação
Mas esta linda e pura semidéia,
destes signos; o destinador lança mão dele para elaborar sua
que, como o acidente em seu sujeito,
mensagem (esta é a operação de codificação). O destinatário
assim co’a alma minha se conforma,
identificará este sistema de signos (operação de decodificação)
se seu repertório for comum ao do emissor for comum ao do
está no pensamento como idéia;
emissor.
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como matéria simples busca a forma.
f) O REFERENTE é constituído pelo contexto, pela situação
e pelos objetos reais aos quais a mensagem remete. Quando
falamos nos gêneros textuais, precisamos levar em conta o
propósito comunicativo, ou seja, quem queremos atingir com
Extensivo 245

Função apelativa rapidamente...


– Pra semana...
A ênfase está diretamente vinculada ao receptor, na – O sinal...
qual o discurso visa persuadi-lo, conduzindo-o a assumir um – Eu procuro você...
determinado comportamento. A presente modalidade encontra- – Vai abrir, vai abrir...
-se presente na linguagem publicitária de uma forma geral e traz – Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
como característica principal, o emprego dos verbos no modo – Por favor, não esqueça, não esqueça...
imperativo. – Adeus!
– Adeus!
– Adeus!

Função metalinguística

A linguagem tem função metalinguística quando o uso


do código tem por finalidade explicar o próprio código.

Catar Feijão

Catar feijão se limita com escrever:


joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:


o de que entre os grãos pesados entre
Função fática um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
O objetivo do emissor é estabelecer o contato, verificar Certo não, quando ao catar palavras:
se o receptor está recebendo a mensagem de forma autêntica, ou a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
ainda visando prolongar o contato. Há o predomínio de expres- obstrui a leitura fluviante, flutual,
sões usadas nos comprimentos como: bom dia, Oi!. Ao telefone açula a atenção, isca-a como o risco.
(Pronto! Alô!) e em outras situações em que se testa o canal de
comunicação (Está me ouvindo?). (João Cabral de Melo Neto )

Sinal fechado
Função poética
(Chico Buarque)
– Olá! Como vai? Nesta modalidade, a ênfase encontra-se centrada na
– Eu vou indo. E você, tudo bem? elaboração da mensagem. Há um certo cuidado por parte do
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... emissor ao elaborar a mensagem, no intuito de selecionar as pa-
E lavras e recombiná-las de acordo com seu propósito. Encontra-
você? -se permeada nos poemas e, em alguns casos, na prosa e em
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo... anúncios publicitários.
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
246 Da Vinci Vestibulares

Além das funções, os gêneros pressupõem também os em contextos informais, íntimos e familiares, que permitem
chamados níveis de linguagem, os quais ajudam a definir a in- maior liberdade de expressão. Esse padrão mais informal tam-
terlocução. bém é encontrado em propagandas, programas de televisão ou
de rádio, etc.
Texto: Aí, Galera Obviamente, dependendo do contexto comunicativo,
você se utilizará desses padrões, na sala de aula, com os ami-
“Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipa- gos, a linguagem coloquial e em situações formais, seminários,
ção. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol palestras, entrevistas de emprego a linguagem culta.
dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
-Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera. PRODUZINDO COM O PROFESSOR
-Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais espor-
tistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares. (UNICAMP 2014) - VOCÊ E UM GRUPO DE COLEGAS ga-
-Como é ? nharam um concurso que vai financiar a realização de uma ofi-
-Aí, galera. cina cultural na sua escola. Após o desenvolvimento do projeto,
-Quais são as instruções do técnico? você, como membro do grupo, ficou responsável por escrever
-Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção um RELATÓRIO
coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, sobre as atividades realizadas na oficina, INFORMANDO O
aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, conca- QUE FOI FEITO. O relatório será avaliado por uma COMIS-
tenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e SÃO COMPOSTA POR PROFESSORES da escola. A aprova-
extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momen- ção do relatório permitirá que você e seu grupo voltem a con-
tânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada correr ao prêmio no ano seguinte.
do fluxo da ação. O relatório deverá contemplar a apresentação do projeto (públi-
-Ahn? co-alvo, objetivos e justificativa), o relato das atividades desen-
-É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça. volvidas e comentário(s) sobre os impactos das atividades na
-Certo. Você quer dizer mais alguma coisa? comunidade.
-Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo ba-
nal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou Na abertura do concurso, os grupos concorrentes rece-
ligado por razões, inclusive, genéticas? beram o seguinte texto de orientação geral:
-Pode.
-Uma saudação para a minha genitora. As Oficinas Culturais são espaços que procuram ofe-
-Como é? recer aos interessados atividades gratuitas, especialmente as
-Alô, mamãe! de caráter prático, com o objetivo de proporcionar oportuni-
-Estou vendo que você é um, um... dades de aquisição de novos conhecimentos e novas vivências,
-Um jogador que confunde o entrevistador, pois não correspon- de experimentação e de contato com os mais diversos tipos de
de à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com linguagens, técnicas e ideias. As Oficinas Culturais atuam nas
dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação? áreas de artes plásticas, cinema, circo, cultura geral, dança,
-Estereoquê? design, folclore, fotografia, história em quadrinhos, literatura,
-Um chato? meio ambiente, multimídia, música, ópera, rádio, teatro e ví-
-Isso.” deo. O público a ser atingido depende do objetivo de cada ati-
Luís Fernando Veríssimo vidade, podendo variar do iniciante ao profissional. As Oficinas
Culturais visam à formação cultural e não à educação formal
do cidadão.Pretendem mostrar caminhos, sugerir ideias, am-
O texto que acabamos de ler, traz um bom exemplo do pliar o campo de visão. (Adaptado de Oficina Cultural Regional
uso inesperado do nível de linguagem, obviamente numa situ- Sérgio Buarque de Holanda. Disponível em http://www.guia-
ação real de entrevista o jogador se utilizaria do padrão colo- saocarlos.com.br/oficina_cultural/conceito.asp. Acessado em
quial, cotidiano, a fala do dia a dia, os níveis de linguagem pre- 07/10/2013.)
cisam ser muito bem trabalhados dentro dos gêneros propostos,
veremos isso quando estivermos produzindo nossas redações.
(UNICAMP2011) Imagine-se como um jovem que, navegando
Quando pensamos em padrões de linguagem temos os seguin- pelo site da MTV, se depara com o gráfico “Os valores de uma
tes: geração” da pesquisa Dossiê MTV Universo Jovem, e resolve
comentar os dados apresentados, por meio do “fale conosco”
Padrão Formal Culto – é a modalidade de linguagem que deve da emissora. Nesse comentário, você, necessariamente, deverá:
ser utilizada em situações que exigem maior formalidade , sem-
pre tendo em conta o contexto e o interlocutor. Caracterizase a) comparar os três anos pesquisados, indicando dois (2) valo-
pela seleção e combinação das palavras, pela adequação a um res relativamente estáveis e duas (2) mudanças significativas
conjunto de normas, entre elas, a concordância, a regência, a de valores;
pontuação, o emprego correto das palavras quanto ao significa-
do, a organização das orações e dos períodos, as relações entre b) manifestarse no sentido de reconhecerse ou não no perfil re-
termos, orações, períodos e parágrafos. velado pela pesquisa.

Padrão Coloquial – faz referência à utilização da linguagem


Extensivo 247
248 Da Vinci Vestibulares

MÓDULOS 5 E 6: O TEXTO NARRATIVO cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não
perderá.
Ainda que muitas vezes não nos demos conta, em nos- Eu estava envergonhada diante da bondade de minha
so dia a dia, o tempo todo, estamos em contato com histórias. irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chi-
Quando vemos uma novela ou um filme, lemos um romance cle caíra na boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eter-
ou história em quadrinhos, ouvimos certas canções ou mesmo nidade sobre mim. (Clarice Lispector, A felicidade Clandestina)
escutamos alguém contar como foi seu final de semana. Mas
o que faz um texto narrativo ser interessante, prender a nossa Após ler o texto, você deve ter observado que nele
atenção e nos mostrar que forma um todo? Leiamos com aten- existe uma sequência de fatos que vão sendo costurados uns
ção o exemplo abaixo para comentarmos, depois, e aos poucos, aos outros e que formam o que chamamos de “todo” narrativo.
vermos como se tece uma história: A trama vai sendo construída aos poucos, passo a passo, alinha-
vado nos acontecimentos, entretecido de pequenas partes que
MEDO DA ETERNIDADE convergem para um só núcleo, amparado no tempo e seu fluxo
de continuidade.
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato Criar uma narrativa é como trabalhar num tear: os fios ficam to-
com a eternidade. dos disponíveis, é preciso usá-los a todos, um a um e na ordem
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chi- certa para desenhar o que antecipadamente se planejou.
cles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia Caso deixemos os fios soltos, os assuntos soltos, corre-
bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o mos o risco dos desenhos do tapete não saírem como o planeja-
dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo do, e a história, pobre dela, sem pé nem cabeça.
dinheiro eu lucraria não sei quantas balas. Afinal minha irmã É isso o que, quando você escrever, deve estar pronto
juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola a enfrentar: cuidar para que sua narrativa seja um todo. E nada
me explicou: de ficar pensando que ela tenha que ter, certinhos, começo, meio
- Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca acaba. e fim. Às vezes, uma boa história começa pelo clímax. Não há
Dura a vida inteira. ordem para as três partes se apresentarem, mas há, sem dúvida,
- Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa. uma preferência pelo tal “começo/meio/fim”;
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino Note que no texto que você leu:
de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha
cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Exami- a) existe uma situação inicial que se apresenta: a personagem é
nei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como ou- colocada frente a oportunidade de possuir a eternidade;
tras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira,
para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com b) ela fica espantada ao pensar que aquela bala nunca teria um
aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornan- fim;
do possível o mundo impossível do qual já começara a me dar
conta. Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca. c) quando acaba o doce do chiclete, acaba também o encanto
- E agora que é que eu faço? – Perguntei para não errar no que a menina sentia;
ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só d) ela sente-se presa ao fato de tê-lo de carregar para sempre e
depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga tem medo;
a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
Perder a eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzi- e) decide ,então, livrar-se do chiclete, mas não pode mostrar
nho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encami- isso à irmã;
nhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora? f) simula um acidente quando derruba-o;
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e g) fica aliviada por não precisar carregar mais o peso da eter-
em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha nidade.
que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me
sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. Perceba: esta história vai para além de si mesma, é
E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de uma metáfora que diz respeito à possibilidade da eternidade e
medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito. como, mesmo ela, pode perder o gosto, fato que o narrador, em
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. linguagem magicamente bela.
Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedien-
temente, sem parar. Isto parece criatividade, não é?
Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da
escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia. Não acredite que alguém se sente diante de uma folha
- Olha só o que me aconteceu! – Disse eu em fingidos espanto em branco ou de uma tela em branco e “faça” nascer a história
e tristeza. – Agora não posso mastigar mais! A bala acabou! do nada. Embora você possa acreditar em “inspiração”, é preci-
- Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não acaba nunca. so saber que todo texto deve ser planejado: parte a parte, ação a
Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir masti- ação.
gando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na
Extensivo 249

ESTRUTURA DO TEXTO NARRATIVO: esquecido. (Carlos Seabra – Microcontos).

Antes de tratarmos do projeto de texto narrativo, pre- LETRA DE MÚSICA:


cisamos olhar mais de perto alguns aspectos dessa tipologia
textual. Não se esqueça de que: os tipos textuais ou modali- O rei da brincadeira (ê, José)
dades discursivas, nada mais são que as formas de organização O rei da confusão (ê, João)
lingüístico-discursivas de um texto. Formas limitadas que exis- Um trabalhava na feira (ê, José)
tem dentro da construção textual, com a finalidade de produzir Outro na construção (ê, João)
um efeito discursivo específico nas relações entre os usuários de A semana passada, no fim da semana
uma língua. João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
Afinal, o que é narrar? E não foi pra Ribeira jogar capoeira
Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar.
A narrativa é uma forma de composição na qual há um
desenrolar de fatos reais ou imaginários, que envolvem perso- (Gilberto Gil – Domingo no parque)
nagens e que ocorrem num tempo e num espaço. Narrar é, pois,
representar fatos reais ou fictícios utilizando signos verbais e POEMA:
não verbais.
Anedota Búlgara
Vejamos alguns exemplos de gêneros que se utilizam do texto Composição: Carlos Drummond de Andrade
narrativo: Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
TIRINHA: Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e ando-
rinhas,
Neste caso, há a utilização simultânea das linguagens verbal e ficou muito espantado
não verbal. Havendo, na maioria das vezes, a necessidade de e achou uma barbaridade
contextualização para compreensão da história contada.

OS ELEMENTOS DA NARRATIVA:

Como vimos, há vários gêneros textuais em que pre-


valece a modalidade narrativa, vejamos agora alguns elementos
essenciais dessa tipologia.

ENREDO OU TRAMA – São os fatos que se desenrolam no


decorrer da narrativa. Toda história tem uma introdução, na qual
o autor apresenta a ideia principal, os personagens e o cenário;
um desenvolvimento , no qual a ideia central é esmiuçada. Além
NOTICIA DE JORNAL: disso, ocorrem alguns momentos dinstintos no desenvolvimen-
to da história: a complicação ( têm início os conflitos entre os
Dois balões de grande porte foram apreendidos pela personagens), o clímax ( ponto culminante ) e um desfecho, que
Guarda Municipal (GM) de Jundiaí na madrugada de anteontem é a conclusão da narrativa.
(21/2). Um deles, recuperado na Fazenda Japi, tinha 20 metros
de altura e levava uma bandeira com mais 20 metros. O balão TEMPO - nas narrativas o tempo pode ser: cronológico ou
queimou com a queda, mas a cangalha e a bandeira foram reco- exterior: É o espaço em que os acontecimentos se desenrolam
lhidas. O fogo chegou a atingir a área de mata, mas foi contro- e os personagens realizam suas ações; psicológico ou interior,
lado rapidamente, não causando danos ambientais. refere-se à vivência dos personagens com seu íntimo (mundo
O segundo balão atingiu a rede elétrica na Rodovia Ve- interior).
reador Geraldo Dias, no Bairro dos Fernandes, também pegou
fogo. Várias pessoas que perseguiam os balões, incluindo cam- ESPAÇO - Local onde os acontecimentos da trama acontecem,
pineiros, foram detidas e levadas ao plantão policial. Todos fo- pode ser concreto ou mítico, caso dO auto da barca do inferno,
ram liberados em seguida. Na madrugada de ontem, um terceiro por exemplo.
balão mobilizou a GM, mas não pôde ser resgatado. O balão
perdeu altura nas imediações do Jardim Currupira, mas ganhou PERSONAGENS - Seres envolvidos nos fatos e que formam
altitude novamente, sendo levado pelo vento. (www.cosmoonli- o enredo da história. Falam, pensam, agem, sentem , têm emo-
ne.com.br acesso em: 23/02/2010.) ções. Podem ser pessoas, animais, seres inanimados, seres que
só existem na crendice popular, seres abstratos ou ideias e ou-
TEXTO LITERÁRIO: tros. O PROTAGONISTA é o personagem principal, aquele no
qual se centraliza a narrativa. O ANTAGONISTA, quando há
Sua memória andava cada vez pior! Quando, finalmente, achou um, é o personagem que se opõe ao protagonista. Há ainda os
a chave do armário e o abriu, descobriu o esqueleto do amante personagens secundários, que participam dos fatos, mas não se
250 Da Vinci Vestibulares

constituem o centro de interesse da narração. Corrigiu-a, murmurando:


- Você é um bicho, Fabiano.
NARRADOR - Pessoa que dentro da narrativa relata os fatos, Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, ca-
podendo assumir diferentes posições : paz de vencer dificuldades.” (Graciliano Ramos, in: Vidas se-
cas)
♦ O narrador-observador: Narra do lado de fora da história,
na 3ª pessoa, sem participar das ações. Ele conhece todos os Como vimos, é o narrador quem dá voz à história que
fatos e por não participar deles, narra com certa neutralidade, conta, para isso, lança mão de um elemento chamado discurso
apresenta os fatos e os personagens com imparcialidade. Não que pode ser:
tem conhecimento íntimo dos personagens nem das ações vi-
venciadas. DISCURSO DIRETO: Reproduz fiel e literalmente algo dito
por alguém, ou seja é a representação da fala de um persona-
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gem.
gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um mo-
mento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo Exemplo de discurso direto: “Não gosto disso” – disse a meni-
do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. na em tom zangado.
Essa criança é que chamara de Macunaíma. Já na meninice fez
coisas de sarapantar De primeiro passou mais de seis anos não DISCURSO INDIRETO: o narrador, usando suas próprias pa-
falando. Si o incitavam a falar exclamava: ai! que preguiça! lavras, reproduz a fala do personagem. Temos então uma mistu-
(Mário de Andrade, in: Macunaíma) ra de vozes, pois as falas dos personagens passam pela elabora-
ção da fala do narrador.
♦ O narrador-personagem: Conta a história da qual participa
também como personagem, utiliza-se da 1ª pessoa para relatar - Terceira pessoa - ele(s), ela(s) – O narrador só usa sua própria
os fatos. Possui relação íntima com os outros elementos da nar- voz, o que foi dito pela personagem passa pela elaboração do
rativa, assim sua maneira de contar é fortemente marcada por narrador. Não há uma pontuação específica que marque o dis-
características subjetivas, emocionais. Tal fato revela aconteci- curso indireto.
mentos e situações que um narrador que estivesse de fora não
poderia conhecer. Todavia, essa mesma proximidade faz com Exemplo de discurso indireto: A menina disse em tom zangado,
que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do que não gostava daquilo.
narrador.
DISCURSO INDIRETO LIVRE: É um discurso misto onde
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, en- há uma maior liberdade, o narrador insere a fala do personagem
contrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu de forma sutil, sem fazer uso das marcas do discurso direto. É
conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao necessário que se tenha atenção para não confundir a fala do
pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me narrador com a fala do personagem, pois esta surge de repente
versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fos- em meio à fala do narrador.
sem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava
cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para Exemplo de discurso indireto livre: A menina perambulava pela
que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso. sala irritada e zangada. Eu não gosto disso! E parecia que nin-
- Continue, disse eu acordando. guém a ouvia.
- Já acabei, murmurou ele. (Machado de Assis, in: Dom Cas-
murro) TEMPO VERBAL:

♦ O narrador-onisciente: Narra em 3ª pessoa, às vezes, permite O tempo verbal também é fator determinante dos dis-
certas intromissões narrando em 1ª pessoa. Conhece tudo sobre cursos. O discurso indireto estará sempre no passado em relação
os personagens e sobre o enredo, sabe o que passa no íntimo das ao discurso direto.
personagens, conhece suas emoções e pensamentos. Ele é capaz
de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de consciência, em DISCURSO DIRETO - TEMPOS VERBAIS
1ª pessoa. Quando isso acontece o narrador faz uso do discurso
indireto livre. Assim o enredo se torna plenamente conhecido, Presente do indicativo: “Não gosto disso” – diz a menina em
os antecedentes das ações, suas entrelinhas, seus pressupostos, tom zangado.
seu futuro e suas consequências. Pretérito perfeito do indicativo: “Não gostei disso” – disse a
menina em tom zangado.
“- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Futuro do indicativo: “Não gostarei disso” – disse a menina
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza em tom zangado.
iam admirar-se ouvindo-o falar só E, pensando bem, ele não Imperativo: - Vista o agasalho, meu filho.
era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas
dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba DISCURSO INDIRETO – TEMPOS VERBAIS
e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava
de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos Pretérito imperfeito do indicativo: A menina afirmou que es-
brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, tava zangada.
fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente.
Extensivo 251

Pretérito-mais-que-perfeito do indicativo: A menina afirmou


que estivera zangada (composto – A menina afirmou que tinha
estado zangada)

Futuro do pretérito : A menina disse que estaria zangada.

Pretérito imperfeito do subjuntivo: A mãe recomendou-lhe


que vestisse o agasalho.

PRODUZINDO COM O PROFESSOR

Agora que já conhece os elementos da narrativa, que tal ser você


o narrador? Vamos lá!

Com os avanços da biotecnologia, prevê-se que, dentro


de pouco tempo, o determinismo genético possibilite a propa-
gação de genes de beleza. A esse respeito, o célebre e contro-
vertido cientista James Watson, em um documentário de TV, in-
titulado “DNA”, transmitido internacionalmente, posicionou-se
a favor da disseminação de genes “engenheirados” de beleza.
Watson ainda declarou, brincando: “As pessoas dizem que seria
terrível se tornássemos todas as garotas bonitas. Eu acho que
seria genial”.

Imagine a seguinte situação: um líder ou chefe de na-


ção resolve contratar um renomado geneticista para determinar
o padrão feminino de beleza das próximas gerações. Na con-
dição de um personagem deslocado do tempo presente para o
futuro (quando essas gerações idealizadas já tivessem surgido)
em um lugar (fictício ou não), como você iria reagir? Com isso
em mente, construa um texto NARRATIVO, contando tal expe-
riência.

OBSERVAÇÃO: Ao colocar-se como personagem dessa his-


tória, você não poderá esquecer-se dos conceitos de “belo” e
“horrível” de sua geração. Portanto, o conflito de sua narrativa
deverá centrar-se no contraste entre a ideologia de seu tempo e
aquela com a qual irá deparar-se.
252 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 7 E 8: PROJETO DE TEXTO NARRA- 7. Por que Diadorim morreu?


TIVO 8. Observe: que no final do trecho, há uma revelação, Diadorim
era mulher, você poderia, como narrador em terceira onisciente,
Agora que já estudamos a estrutura do texto narrativo, tomar uma carona nessas lembranças.
vamos a aprender a planejá-lo de modo a fazermos uma ótima
produção nas provas de vestibular. E agora, imagine como começar.

MÃOS À OBRA E AO PROJETO DE TEXTO Você pode ter em mente uma história mais ou menos
simples com relação à cronologia e tecê-la diacronicamente:
Sempre é bom saber: nós vamos planejar um texto e é começo, meio e fim. Mas pode também preferir começar pelo
interessante não confundir isso com um simples rascunho. clímax, o ponto mais alto da narrativa e depois, em flash-back
ou digressão, oferecer toda a história. Cuide da linguagem, da
Por que o projeto? coerência entre as partes, isso também é muito importante.

Em primeiro lugar, porque você terá que ter domínio Atente também para o tamanho da narrativa, que na
sobre o que escreve, a fim de que se sinta confortável para dar maioria dos vestibulares não pode ultrapassar 30 linhas, vamos
continuidade à história; em segundo lugar, porque você poderá lá então? Mãos à obra, quem conta um conto, aumenta muitos
ser surpreendido por um fecho que destoa do corpo do texto, pontos na nota final.
uma linha de enredo que se embaraça e... some de repente, dei-
xando um “branco”. PRODUZINDO COM O PROFESSOR:
Tal como um engenheiro que projeta um prédio, um avião, um
aeroporto ou uma máquina, tão diferentes entre si, você também (UNICAMP) Na coletânea abaixo, há elementos para a constru-
pode - e deve! - planejar o que vai escrever. ção de um texto narrativo em que se tematiza o relacionamento
Comecemos então a partir da seguinte proposta: entre duas pessoas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será
desenvolver essa narrativa, segundo as Instruções Gerais. A tra-
Abaixo, há elementos para a construção de um texto gédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso
narrativo em que se tematiza o relacionamento entre duas pes- a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste
soas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será; desenvolver mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado
essa narrativa, segundo as instruções gerais. não pode ser partilhada no presente. (Alan Lightman, Sonhos
de Einstein, 1993)
“(...) Sufoquei numa estrangulação de dó. Constante o que a
Mulher disse: carecia de se lavar e vestir o corpo. Piedade, Cena: um homem, uma mulher
como que ela mesma, embebendo toalha, limpou as faces de
Diadorim. Ela rezava rezas da Bahia. Mandou todo mundo sair. – Uma mulher deitada no sofá, cabelos molhados, segurando a
Eu fiquei. E a mulher abanou brandamente a cabeça, consoante mão de um homem que nunca voltará a ver.
deu um suspiro simples. Ela me mal-entendia. Não me mostrou – Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim
de propósito o corpo e disseDiadorim - nú de tudo. E ela disse: da tarde. (...) Uma imensa árvore caída, raízes esparramadas no
- “A Deus dada. Pobrezinha...” Diadorim era mulher como o ar, casca e ramos ainda verdes.
sol não ascende a água do rio Urucuia, como eu solucei meu – Cabelo ruivo de uma amante, selvagem, traiçoeiro, promissor.
desespero.( João Guimarães Rosa, in: Grande Sertão: Veredas) – Um homem sentado na quietude de seu estúdio, segurando a
fotografia de uma mulher: há dor no olhar dele.
Devagar, passo a passo... – Um rosto estranho no espelho, grisalho nas têmporas.
– As sombras azuis das árvores numa noite de lua cheia. O topo
Para começar a tecer seu jogo, é preciso usar a imaginação. Pe- de uma montanha com um vento forte constante.
gue um papel e escreva o que vai auxiliá-lo a construir a sua
história: Instruções gerais:

1. Quem são as personagens do trecho? – Escolha elementos de apenas uma das cenas apresentadas (A
2. Você dará nome a eles ou vai preferirá metaforizá-los, ne- ou B), para construir: as duas personagens, o cenário, o enredo
gando-lhes uma identidade, ao mesmo tempo em que, por isso e o tempo de sua narrativa.
mesmo, eles passem a simbolizar todos os homens e mulheres – O foco narrativo deverá ser em 3ª pessoa.
na mesma situação? – O desenvolvimento do enredo, a partir da cena escolhida por
3. Qual a história que viveram? Você pode observar que ela pa- você, deverá levar em consideração o trecho de Alan Lightman,
rece forte, intensa, de extrema ligação de afeto entre dois seres. que introduz a coletânea. (Os fragmentos das
Por que não ficaram juntos então? cenas A e B também foram extraídos do livro de Alan Light-
4. Deixe sua imaginação correr solta: que história é essa que man).
poderia ter sido e que não foi?
5. Qual o espaço que ocupam no momento em que nos são mos-
trados? Descreva-os, mas não os detalhe a ponto de perder pará-
grafos inteiros com eles.
6. Qual o tempo que você focalizará? Voltar o tempo a um início
que você não conhece, mas presume, pode ser um bom começo.
Extensivo 253

Inglês
254 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 1: Estratégias de leitura Tal unidade de eu é, para Lacan, um logro. No seminário sobre
o eu na teoria de Freud e na técnica de psicanálise, ao comentar
o diálogo de Menon, Lacan destaca: a clivagem entre o plano
do imaginário ou do intuitivo... e a “função simbólica que não
lhe é absolutamente homogênea, e cuja introdução na realida-
de constitui um forçamento”. No mesmo seminário, numa das
muitas vezes em que retorna à máxima freudiana Wo Es bWar,
soll Ich werden- na qual os pós-freudianos pretenderam ler a
necessidade de o eu deslocar o isso-, Lacan afi rma que o Es,
o isso de Freud, é precisamente o sujeito e que “ali onde isso
estava, lá tem de estar o eu. Fonte: Coutinho (2002).

Este é o tipo de texto que faz com que a maioria dos


Para começarmos, o que seriam “estratégias”? A pala- mortais, até mesmo os falantes de português, sinta-se impoten-
vra estratégia é tradicionalmente associada a táticas de guerra te (ou intelectualmente “em desvantagem”!) diante da impos-
(estratégias de ataque/estratégias de defesa) ou a um tipo de pla- sibilidade de compreender o que está sendo dito. O problema
no ou processo que seguimos para alcançarmos algum objetivo. aqui não está tanto nas palavras usadas, mas na falta de conhe-
De qualquer modo, há sempre algo que podemos combater (um cimento específi co sobre o assunto. Um leigo em Psicanálise
inimigo) ou alcançar (uma meta ou um objetivo), e que necessita difi cilmente entenderia, principalmente se o texto em questão
de uma ou mais estratégias para se realizar. Um jogo de futebol, estivesse, como no caso anterior, fora de qualquer contexto.
por exemplo, envolve estratégias tanto para derrotar o inimigo (o O texto a seguir, de linguagem poética, também parece
time adversário) quanto para alcançar o objetivo (ganhar o jogo). apresentar difi culdade de compreensão, embora esta não esteja
No caso da leitura, o inimigo a ser combatido é a falta necessariamente relacionada ao seu vocabulário (provavelmen-
de compreensão, e o nosso objetivo, entender a mensagem do te você conhece muitas das palavras deste texto). Por que será,
texto. Uma das principais estratégias de leitura é justamente ten- então, que ele pode apresentar tal dificuldade?
tar entender nosso inimigo: o porquê de não compreendermos
um texto ou parte dele. TEXTO 3:
Veja os textos a seguir e tente identifi car a razão de
uma possível difi culdade de compreensão. Trova causticante
Aretusa Morth
TEXTO 1:
Consumi-me em bemóis e sóis causticantes no fervor do caldei-
Istuin eräänä tammikuunloppuäiväna Tiitin kanssa Oli kirpeä rão em brasas eternas. Nessa fusão insana, molda-se o artista,
pakkasilma, taivas oli kirkas, já aurinko heitti lumihangille já cativo da experiência tresloucada num redemoinho extraordi-
tien poikki pieden pitkeä sinisiä varjoja. Fonte: Kokko apud nariamente submerso. Executam-se, nesse furacão borbulhan-
Nuttall (1996) te, experiências agonizantes que enveredam por labirintos nun-
ca dantes navegados. E assim, fl orescem os girassóis nos fi
Não dá para entender, não é mesmo? É claro que, se apos de um verão inquietante.
nem ao menos podemos identifi car a língua na qual o texto foi
escrito, muito menos será possível compreendê-lo. Nesse caso A conclusão a que podemos chegar é a de que a difi
específi co, o texto foi escrito em fi nlandês! Não temos a menor culdade de se compreender um texto está nos diversos níveis
idéia nem mesmo do assunto tratado. O nosso consolo é que, de conhecimento que temos de compartilhar com seu autor: co-
provavelmente, se o texto estivesse escrito em português, os fin- nhecimento da língua, do assunto ou da “sensibilidade poética”,
landeses também estariam tão frustrados quanto nós! por exemplo. É claro que não podemos descartar a hipótese de o
texto ser simplesmente mal escrito e,por essa razão, não poder-
A bolha inflacionária e a âncora cambial terão um impactoi- mos compreendê-lo!
mensurável no espírito animal da comunidade que lida direta- Há vários outros tipos e graus de difi culdades, mas
mente com a verdinha. nem sempre nos deparamos com textos assim tão complexos.
Na maioria das vezes, a difi culdade é imediata: algumas pala-
Estamos falando de seres/objetos extraterrestres (a bolha e a vras ou conceitos desconhecidos.
âncora) destruindo a fauna, invadindo a atmosfera do nosso pla-
neta? Note este exemplo:

Em termos de compreensão, já identificaram o inimigo? Trata- O elefante estava dormindo bem em cima da copa da árvore
-se do velho conhecido economês, que é usado, sem cerimônia, bonsai. Estamos tratando aqui de um elefante voador? Para
para dizer que os preços vão subir (a bolha infl acionária), o que essa frase faça sentido, temos de saber que o bonsai é uma
dólar vai ser equiparado à moeda local (a âncora cambial) e isso árvore anã que, mesmo quando adulta, não ultrapassa, normal-
vai ter um impacto na compra e venda de dólares (um impacto mente, a altura de 30 a 40cm.
imensurável no espírito animal da comunidade que lida direta-
mente com a verdinha)! Sem esse conhecimento, poderíamos até mesmo achar
que o texto trata de um elefante voador que foi parar no topo de
TEXTO 2: uma árvore!
Extensivo 255

Além disso, quantas vezes ouvimos uma história, para, II.


só depois, compreendermos que é uma piada? (E só então nos
preparamos psicologicamente para rir – ou fi ngir que rimos!). Av. Paulista, 1235, salas 314-315
Nesses casos, e em muitos outros em que há falhas na compre- São Paulo, 10 de agosto de 2001
ensão, utilizamos sempre, mesmo sem nos darmos conta, estra-
tégias para tentarmos vencer esses obstáculos. Prezado cliente,
Na verdade, mesmo quando não há “inimigo” ou obs-
táculo qualquer, isto é, quando o texto é totalmente compreen- Comunicamos a V. Sa. que seu pedido para obtenção
sível, utilizamos estratégias para lidarmos com a construção de de crédito junto a esta empresa foi aprovado.
sentidos no ato da leitura. Sim, é sempre importante lembrar que Pedimos a gentileza de entrar em contato com o nos-
quem dá sentido ao texto é o próprio leitor; por isso dizemos so escritório central. Colocamo-nos ao seu inteiro dispor para
que é ele quem “constrói o texto”. Texto sem leitor não tem eventuais esclarecimentos.
signifi cado algum, resume-se apenas a um monte de rabiscos
sobre uma folha de papel. Atenciosamente,
Essa “construção” de sentidos pode ser vista como um John B. Mills
jogo de quebra-cabeças que temos de montar em nossa mente. Gerente executivo
Felizmente, fazemos isso tão rapidamente que não há qualquer
esforço envolvido nessa construção. Estratégia 2: identificar o assunto principal do texto (skim-
Só percebemos esse processo quando encontramos uma dificul- ming)
dade pelo caminho.
Como então “enfrentarmos ” um texto ou, simples- Imagine-se querendo comprar um livro ou assistir
mente, lidarmos com ele? Quais seriam as estratégias envolvi- a um determinado filme. Ao ler uma crítica do tal livro ou fi
das na leitura? lme, em primeiro lugar, você quer saber do que ele trata: é uma
aventura? Ação? Drama? Qual a história geral (sem detalhes)?
Estratégia 1: identificar o tipo de texto e seu objetivo geral. Essa informação, que vem normalmente estampada em capas de
vídeo, orelhas de livros e cadernos ou revistas de programação
Para entendermos um texto, é necessário sabermos cultural, é essencial para a escolha da obra ou do filme a que
qual a sua fi nalidade, isto é, para que ele serve. Sem essa infor- iremos assistir.
mação, não pode haver entendimento. Um anúncio, uma carta,
um texto científi co, um horóscopo, um editorial de jornal; cada
tipo de texto tem uma fi nalidade própria: vender um produto,
passar uma informação, relatar um caso, provocar riso, choro
etc.

EXERCÍCIO 1

1. Identifique o tipo de texto:

I.

CAPITÃO SKY E O MUNDO DE AMANHÃ.

De Kerry Conran.

Com Gwyneth Paltrow e Jude Law. Ficção Científica. Nova


York, fi nal dos anos 30. A repórter Polly Perkins descobre que
os cientistas mais famosos do mundo estão desaparecendo. Após
a cidade ser atacada por imensos robôs voadores, ela resolve pe-
dir ajuda ao piloto e aventureiro- e seu antigo namorado- Joseph
“Capitão sky Sullivan e seu fiel ajudante Dex. A missão princi-
pal do grupo é localizar o megalomaníaco Dr. Totenkopf, que
planeja destruir o mundo. Duração: 1h 46. EUA/Inglaterra,
2004. Censura: 12 anos.
256 Da Vinci Vestibulares

Da mesma forma, na leitura, é também importante Estratégia 3: prever o assunto do texto


sempre termos uma idéia geral do que o texto trata, ou seja, da
sua idéia principal. Imagine-se folheando uma revista. Sua mente estaria
Buscar o conteúdo central de um texto é uma estratégia ocupadíssima ao ser exposta a inúmeros textos de vários tipos,
importantíssima (em inglês é chamada skimming) que envolve desenvolvendo muitas tarefas ao mesmo tempo. A identifi ca-
uma leitura inicial, rápida, para sabermos do que ele trata basi- ção do tipo de texto é praticamente automática: sabemos logo
camente. quando temos à nossa frente um anúncio, um artigo informativo
ou uma coluna de fofocas. Quando decidimos então ler o texto,
Vamos observar os textos abaixo e discutir quais são suas ideias normalmente prevemos ou antecipamos o assunto (do que ele
principais: trata) utilizando somente pistas, como gravuras, títulos, subtí-
tulos, diagramas, fotos etc. Prever conteúdos, portanto, é uma
estratégia básica no processo de leitura.

Vamos testar seus conhecimentos? É possível pressupor o as-


sunto do texto apenas através da ilustração e do título?

UNIVERSIDADE SEM FIO.

A internet móvel ainda não conquistou nem os early


adopters de tecnologia, mas já ganhou a universidade. Fervi-
lham dentro dos laboratórios das melhores faculdades brasilei-
ras pesquisas para o desenvolvimento da web sem fi o. No meio
acadêmico, a tecnologia é tratada como gente grande. Investi-
gam-se aplicações de celulares e palmtops que só serão viáveis
dentro de dois, três e até cinco anos. Aplicativos complexos em
Java se tornam parte da paisagem universitária. Nesses labora-
tórios, a terceira geração de redes celulares – que deve chegar à
velocidade de 2Mbps – já tomou a cabeça das pessoas.
Os centros mais quentes de pesquisa estão na Uni-
camp, na USP, na Federal de Pernambuco e nas PUCs do Rio de
Janeiro e do Paraná. Muitas vezes há parceria com gigantes das
telecomunicações. Alcatel, Ericsson e Motorola são algumas
das companhias que apóiam projetos nas universidades. Entre
(...) Letícia Banffy, uma paulistana que mal terminou o colegial, as novidades paridas no meio acadêmico, há desde soluções
se tornou, aos 17 anos, a mais jovem engenheira de sistemas da para possibilitar interatividade nos celulares – algumas delas já
América Latina certifi cada pela Microsoft. Letícia, hoje com 18 em testes no mercado. FONTE: INFO – OUTUBRO 2002
anos, começou a mexer com tecnologia aos 11, quando ganhou
um 486 de presente. Podemos prever também o assunto que vem depois de algum
De lá para cá, tornou-se uma geek de primeira e come- parágrafo, de uma frase ou até mesmo de uma palavra:
çou a pesquisar o funcionamento do Windows 2000 como um
hobby (...) MINHA BIKE, MEU LAR
(...) Hoje Letícia possui três canudos: MCP (Certified Profes-
sional), MCSA (System Administrator) e MCSE, todos em Win- O francês que atravessou o mundo pedalando uma bi-
dows 2000. cicleta inicia a etapa brasileira da viagem.
(...) Em tempo: ela não dispensa uma saída de sábado à noite, é Numa única viagem, o francês Jacques Sirrat, 37 anos, presen-
bonita e tem namorado. “Só que acordo quase todos os ciou um tiroteio entre beduínos e policiais no Iêmen, apanhou
dias às 5h30 para estudar Photoshop”, afirma. É mole? de policiais sérvios na Bósnia, comeu carne de cobra na China e
POR EDUARDO VIEIRA contraiu dengue no Haiti. Mais surpreendente que a diversidade
dos locais visitados é o meio de transporte escolhido por Jac-
ques para seguir o roteiro, iniciado há quatro anos.
Extensivo 257

Estratégia 4: buscando informações específicas (scanning) III.

Muitas vezes, consultamos um livro, um manual, uma


agenda, um dicionário ou uma enciclopédia para procurarmos
uma determinada informação de que precisamos, por alguma
razão específica.

Estratégia 5: inferência lexical

Um texto em língua estrangeira nos amedronta bastan-


te, principalmente pela presença daqueles elementos ameaça-
dores e assustadores: as palavras desconhecidas, que parecem
estar ali simplesmente para nos lembrar o quão pouco compre-
endemos aquela língua. É claro que o sentimento de frustração
diante de tais inimigos torna-se inevitável. Temos sempre a im-
pressão de que, se não conhecermos o signifi cado de todas as
palavras, será impossível entendermos o texto (como aconteceu
com o exemplo do texto em finlandês).

Agora, vamos ver se você consegue definir que gêneros textuais
são colocados nos exemplos abaixo! Vamos lá?

I.

IV.

II.
258 Da Vinci Vestibulares

MÓDULO 2: VERBOS MODAIS de verbos auxiliares e, como o nome parece implicar, os modais
introduzem uma certa modalidade ao que é dito ou escrito. Des-
sa forma, com os modais expressam-se não apenas o fato, mas
Você já parou para pensar sobre sua capacidade de se uma avaliação desse fato. Para explicar melhor, vamos conside-
expressar? Veja: por meio da linguagem, o homem “enfrenta” rar uma frase do texto:
a vida; com ela, ele se comunica, expressa seus sentimentos,
defi ne coisas e pensamentos. A capacidade do ser humano de Veja: “Animals MAY learn some form of communication in
se expressar por meio da linguagem é realmente fascinante, não captivity.”
acha?
O Texto abaixo discute essa maravilhosa ferramenta Observe que, nessa frase, may vem acompanhado do verbo le-
humana. Consulte o glossário antes de iniciar a leitura. arn. (Os modais vêm sempre antes de outro verbo, e esses outros
verbos são chamados verbos principais.) Na frase acima, o que
se está sugerindo é que os animais podem (may) aprender al-
guma forma de comunicação quando estão em cativeiro; é uma
probabilidade, e não uma certeza.

Com os modais, podemos:

a) dar e pedir permissão:


A: May I visit you at the weekend?
B: Of course, you may. (Poderíamos usar can aqui.)

O modal can também é usado para “poder” e dar permissão.


Exemplos: Can I have your telephone number? (May tem cono-
tação mais formal.)

b) falar sobre obrigatoriedade:


You must wear your seat belt while driving.

c) falar sobre proibição (usando o modal na forma negativa):


You mustn´t drink before driving.

d) dar um conselho:
One of the most fascinating aspects of human develo- For safe sex, you should wear condoms. The USA should sign
pment is the ability to learn language. The language faculty is the Kioto´s Protocol. You should turn off your computer when
specific to the human species because no other creature apart you’ re not using it.
from human beings possesses a language organ. All men are
born with the capacity to speak and it is this capacity that makes ATIVIDADES:
human beings different from animals. It might be suggested
that apes and dolphins use some form of language; this may Vamos considerar uma outra frase do texto lido: “…
be a communication system but it does not have the distinctive but no species of animal can spontaneously use a form of a hu-
features of human language. Animals may learn some form of man language.” Aqui, o uso de can indica possibilidade.
communication in captivity but no species of animal can spon- a. Qual é o verbo principal dessa frase?
taneously use a form of human language. Indeed, learning a lan- _____________________________
guage is an amazing feat and it has attracted the attention .
of linguists and psychologists for generations (COOK, 1988). b. Agora traduza a frase:
...mas nenhuma espécie _______________________________
GLOSSÁRIO: ____________

captivity cativeiro 2. Um dos questionamentos do texto lido é se os macacos e golfi


feat grande feito nhos usam alguma forma de linguagem. O texto diz: “It might
feature característica be suggested that apesand dolphins use some form of langua-
learn aprender ge…”
faculty capacidade
apart from com exceção de 3.
a. Levando em conta o sentido de might nessa frase, o autor do
LANGUAGE FOCUS I texto está questionando se o que os golfinhos e macacos usam é
realmente linguagem.
No texto lido, há verbos que chamamos modais. Os verbos mo- Ele oferece uma resposta para seu questionamento na frase que
dais, como can, may, might, must, should, will, não possuem se segue: “but it does not have the distinctive features of human
um sentido próprio como, por exemplo, os verbos run (correr) e language”.a. Quais seriam as “distinctive features of human lan-
write (escrever), que envolvem uma ação. Eles são uma espécie guage” a que o autor se refere?
Extensivo 259

b. A forma de comunicação usada por golfinhos e macacos se


encaixaria dentro dessas características?

A LÍNGUA DO RICO

Recentemente, os meios de comunicação veicularam o


caso de Rico, um simpático cãozinho que aparentemente pode
“falar” alemão.Será verdade? No Texto 2, você encontrará deta-
lhes sobre o caso.

Texto .2

Is this language? Rico, a 9-year-old dog, can apparen-


tly understand a vocabulary of 200 words in German. Rico can
learn names of toys after one exposure and can retrieve the ob-
jects when he hears their names. This phenomenon has made
scientists conclude that Rico has language-learning capacity
compared to a human child. To test Rico, scientists placed a new
toy among seven familiar toys. Then Rico´s owner pronounced
a word Rico did not know and asked him to go and pick the new
item in a separate room. By selection, the dog could pick the
object correctly. This suggests that Rico can form hypotheses
about the meaning of a new word and connect the unfamiliar
word to the object he sees for the first time. Can Rico speak
German? Rico is certainly a special dog but we can´t affirm that
Rico can speak a language. What can he do then? He can as-
sociate objects and sounds but he could never pronounce the
names of the toys he identifies.

HELP!!

Retrieve recuperar
placed (verbo) colocou
toy brinquedo
exposure contato; exposição

4.Qual é o aspecto surpreendente da performance de Rico?

5. Segundo o texto, a performance “linguística” de Rico é com-


parável, mas não igual à de uma criança que está aprendendo a
falar. Qual é a diferença entre os dois?

Revisando: O verbo modal dá nuances de interpretação (per-


missão, conselho, obrigatoriedade, possibilidade, probabilida-
de, necessidade, proibição) ao verbo principal da frase. Os ver-
bos modais sempre vêm antes do verbo principal.

Como já dissemos, should é um verbo modal.


Veja: Pedro can swim.
Can you speak Portuguese?
I have a toothache. I must go to the dentist´s.

Nas frases anteriores, os verbos principais são: swim, speak,


have e go.

6. Volte ao texto 1:. Quais verbos o modal may acompanha nes-


se texto? 7. Observe a frase: Animals may learn some form of
communication incaptivity. Qual é a idéia que o modal may ex-
pressa nessa frase?
260 Da Vinci Vestibulares

MÓDULOS 3E 4: O GRUPO NOMINAL INGLÊS Além de poderem ocorrer no início ou no final da ora-
ção, exprimindo informações sobre o tempo, o modo e o lugar
Nesta aula, iniciaremos uma reflexão sobre dois aspec- de uma ação, os adverbials também podem ser usados imediata-
tos da gramática da língua inglesa que julgamos muito impor- mente antes do verbo.
tantes para a leitura de textos em inglês: a estrutura da frase e o
sintagma nominal. Exemplo:
A estrutura da frase é determinada pela ordem de palavras: não Ana Botafogo dances AT THE MUNICIPAL THEATER ON
usamos as palavras em qualquer ordem em uma frase. Podemos, SUNDAYS (lugar, tempo).
por exemplo, dizer em português “livro está na não biblioteca Pavarotti sings VERY WELL (modo).
o”? Na verdade, uma sequência como essa sequer ocorreria a USUALLY, he eats at a good “churrascaria” (frequência).
um falante nativo do português como uma frase possível. Po- Ou: He USUALLY eats at a good restaurant.
rém, se colocarmos a sentença na ordem correta, teremos: “o
livro não está na biblioteca”. Agora sim! Podemos entender a E por falar em tempo, é interessante observar que, em inglês, os
frase e até, quem sabe, tomar uma providência (procurar o livro nomes dos meses (January, February, March, April, May, June,
em outro lugar, por exemplo!). Por isso, estudar a estrutura da July, August, September, October, November e December) e dos
frase pode nos ajudar muito a compreender bem essa questão. dias da semana (Sunday, Monday, Tuesday, Wednesday, Thurs-
Dentro da estrutura da frase, um dos grupos (ou sintag- day, Friday e Saturday) iniciam-se sempre com letras maiúscu-
mas) mais importantes é o que tem como elemento mais signifi- las.
cativo um nome ou pronome – por isso, chamado “sintagma no-
minal”. O sintagma nominal é importante para a leitura, pois é ATIVIDADES:
ele que desempenha funções típicas de nome na língua (sujeito,
objeto, complemento nominal etc.) e no uso da língua (tópico). 1. Com os grupos de palavras a seguir, forme frases coerentes
Compreender bem esta questão pode auxiliar bastante a enten- em inglês (uma frase para cada grupo):
der textos escritos em inglês.
a. the professor
A ESTRUTURA BÁSICA DA FRASE (PERÍODO) EM IN- at the university
GLÊS works

Como em português, o inglês segue a estrutura sujeito-


-verbo-complemento (ou objeto). Para compreendermos uma b. on Sundays
frase, então, é necessário saber identificar o seu tópico (de que Marcela
se fala) e comentário (o que se fala sobre o tópico). Vejamos her family
uma típica frase em inglês: visits
Mary is a teacher.

S V O c. frequently
to the library
Ou então: goes
my friend
Bill Gates likes computers.
S V O
d. the train
Essas frases, que seguem o padrão S-V-O, podem ser at the station
complementadas por informações sobre tempo (Ronaldo plays arrives
football on Sundays), lugar (He plays soccer in Europe), modo at 5:10 p.m.
(He plays football well), freqüência (Guga plays tennis three
times a week).
Essas informações são expressas por palavras ou gru- e. breakfast bars
pos de palavras que, em inglês, chamamos adverbials. Tais pa- she
lavras ou grupos de palavras podem ocorrer no início ou no fi at lunch time
m da frase: Yesterday I visited the university campus. Muitos eats
advérbios em inglês terminam com o sufixo “ly”, equivalente
ao sufixo “mente” em português. Por exemplo: frequently – fre- f. the new drive
quentemente. Logo, now
I am installing
Adjetivo Advérbio

general generally
usual usually
normal normally
certain certainly
Extensivo 261

PERGUNTANDO E NEGANDO O GRUPO NOMINAL EM INGLÊS

Na vida real, não usamos a linguagem para fazer so- Entre os grupos de palavras discutidos anteriormente, você deve
mente afirmações como a clássica “the book is on the table”; se deter agora naqueles que constituem o sujeito e o objeto de
também podemos perguntar e negar. Em português, tudo parece frases.
muito simples, não é mesmo?
Para transformarmos uma afirmação em pergunta, bas- Os grupos nominais (noun phrases) em inglês podem afetar bas-
ta mudarmos a entonação da voz. Assim, “Ele gostou do filme” tante a compreensão de textos nessa língua, uma vez que não há
tem a mesma estrutura que a da frase “Ele gostou do filme?”. correspondência com o modo como estes grupos são estrutura-
Em inglês, a estrutura da pergunta é um pouco dife- dos em português. É preciso, então, entender a formação dos
rente da estrutura da afirmação: há que fazer uma inversão nos grupos nominais em inglês.
verbos, no caso do verbo “to be” e nos verbos modais (lembra?).
Esses verbos vão para o início da frase: Vamos pensar nos substantivos mais simples: os nomes pró-
prios:
Should everyone speak English? Maria, Lucas, Pedro, José Vicente...
Is everyone speaking English now? Em vez de dizermos Maria, podemos dizer “ the girl / a girl”,
Can I fi nish my lesson? para nos referirmos à própria Maria (principalmente se não sou-
Must you stop now? bermos que a moça de quem queremos falar se chama Maria).

Com os outros verbos, é necessário acrescentar o auxiliar “do” Podemos especifi car ainda mais a menina, citando algumas de
e “does”, para o tempo presente, e “did”, para o tempo passa- suas qualidades ou atributos:
do. Alguns os chamam verbos “preguiçosos” ou “fraquinhos”, Exemplos:
já que sempre precisam de uma bengala, o auxiliar “do”, para the Brazilian girl
ajudá-los em caso de mudanças. an intelligent girl
a talented girl
Does Robson Caetano run marathons?
No, he doesn’t run marathons. He runs the 400 meters. Pergunta: O que temos aí de diferente em relação ao português?
Did Joaquim Cruz run in the Olympic Games in Sydney? Resposta: Em inglês, a palavra que qualifi ca, isto é, o ADJE-
No, he didn’t participate in the Olympic games that year. TIVO (intelligent,Brazilian, talented) sempre precede o nome,
como em expressões que você deve conhecer bem: heavy metal,
ATIVIDADE hot dog, pop music, light sandwich, ou em outras:

2. Vamos agora treinar um pouco a estrutura das frases em in-


glês?
Organize as palavras a seguir em frases coerentes. Observe se a
frase está na forma afirmativa, negativa ou interrogativa.
a. Guga/ in Florianópolis/ does/ live?
__________________________________________________

b. frequently/ Mozart/ the piano/ did/ play?


__________________________________________________

c. computer hackers/ criminals/ are?


__________________________________________________ Podemos também encontrar sintagmas nominais com
mais de um adjetivo (ou mais de uma palavra que funcione
d. for most people/ computers/ available/ are? como adjetivo, isto é, que qualifi que o substantivo, que é o
__________________________________________________ núcleo do noun phrase).

e. buy/ happiness/ money/ cannot. Exemplos: The great English divide (divide: núcleo)
__________________________________________________ The modern-day answer (answer: núcleo)
New luxury apartments (apartments: núcleo)
f. poems/ writes/ Peter/ love/ about.
__________________________________________________ ATIVIDADE

g. two alkaline batteries/ install/ must/ you. 1. Que tal agora traduzir para o português alguns dos grupos
__________________________________________________ nominais listados anteriormente?

h. should/ use/ the Web site/ I/ for technical support? Observe que, ao traduzir para o português, colocamos
__________________________________________________ o substantivo antes do adjetivo, porque é assim que esta estrutu-
ra funciona em nossa língua.
i. the technician/ ink jet printers/ cannot/ fi x. Assim, maximum strength é traduzido como força máxima.
__________________________________________________
262 Da Vinci Vestibulares

Grupos nominais Tradução house shoes = sapatos para andar em casa, chinelos the modern-
American woman -day answer = a resposta moderna the only liquid crystal display
Spanish media = o único aparelho de cristal líquido the great English divide =
Spanish king a grande linha divisória do inglês
watery eyes Agora tente:
colourful tv
strongest combination Tradução
higher intelligence Worldwide customer support
severe allergy information
Three different book titles
Há ainda uma outra peculiaridade do grupo nominal Business reply mail
em inglês: pode-se usar um substantivo para qualificar... um ou- A high defi nition capable
tro substantivo! television
The clearest most colourful TV
Como nos exemplos abaixo:
aerobics instructor
(substantivo)(substantivo)
colour photos
sports academy
Aids Society
chocolate milkshake
chicken sandwich
mountain bike
Disco Club

2. Os grupos nominais a seguir foram retirados de textos traba-


lhados em aulas anteriores. Tente traduzi-los para o português.

Sintagma Nominal Tradução


breakfast bars
editor´s choice
top ten printers
stormy weather
rainbow shell
popular science
culture clash
cover price
singing bird
technical support
computer cover
image stability

E, finalmente, podemos ter um “supergrupo nominal”, com ad-


jetivos e substantivos (os “qualificadores”, ou “modificadores”)
especificando/qualificando o núcleo (o substantivo principal em
cada grupo). Parece até uma grande miscelânea!

worldwide customer support information


three different book titles
business reply mail
a high defi nition capable television
the clearest, most colourful TV

5. Tente traduzir as expressões anteriores. Na maior parte dos


casos, você deve começar pela última palavra (ou últimas pala-
vras) do grupo nominal em inglês.

Por exemplo:

new alkaline batteries = baterias alcalinas novas young Brazi-


lian students = estudantes brasileiros jovens
Às vezes, é necessário fazer um pequeno “ajuste linguístico”:
Extensivo 263
264 Da Vinci Vestibulares
dda

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