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Referência Bibliográfica
BUENO, André; CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO,
José Maria [org.] Jardim de Histórias: discussões e experiências
em aprendizagem histórica. Rio de Janeiro/União da Vitória:
Edição Especial Ebook LAPHIS/Sobre Ontens, 2017.
ISBN: 978-85-65996-47-1
Edição Especial Ebook LAPHIS/Sobre Ontens:
www.revistasobreontens.blogspot.com.br
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ANDRÉ BUENO
DULCELI ESTACHESKI
EVERTON CREMA
JOSÉ MARIA NETO
JARDIM DE HISTÓRIAS:
DISCUSSÕES E EXPERIÊNCIAS
EM APRENDIZAGEM HISTÓRICA
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Nota Introdutória
É com grande alegria e satisfação que apresentamos este nosso novo livro, Jardim de
Histórias. Ele é resultado da terceira edição do Simpósio Eletrônico Internacional de
Ensino de História [www.simpohis2017.blogspot.com.br], e traz as comunicações
apresentadas nas mesas de Aprendizagens Históricas, Mídias, Tecnologias e Fontes e
Religiões e Etnicidade.
Junto com Canteiro de Histórias e Um Pé de Histórias [outros dois livros dessa série]
esse nosso volume visa dar uma pequena contribuição a essas questões.
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Sumário
APRENDIZAGENS HISTÓRICAS
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GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO: UMA ABORDAGEM DO TEMA ATRAVÉS
DO ENSINO DE HISTÓRIA DA ROMA ANTIGA.................................................................162
7
O LÚDICO COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM: GINCANA DO BRASIL
COLONIAL................................................................................................................................231
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CENAS, PERSONAGENS E SEUS CONTEXTOS NAS AULAS DE HISTÓRIA: MEMÓRIA,
IMAGEM E FOTOGRAFIA E SUAS RELAÇÕES NO ENSINO DE HISTÓRIA.................301
9
IMAGEM EM MOVIMENTO: ASPECTOS SOBRE O CINEMA NO ENSINO DE
HISTÓRIA.................................................................................................................................379
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JOGOS E BRINCADEIRAS AFRO-BRASILEIRA: UMA AÇÃO DO PIBID NAS TURMAS
DO 6°ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL...........................................................................666
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DIÁLOGOS ENTRE A HISTÓRIA E A GEOGRAFIA
NA EDUCAÇÃO BÁSICA: RELATO DE
EXPERIÊNCIA NA ESCOLA MUNICIPAL
JOSINEIDE TAVARES (MARABÁ-PA)
Ádila Cristiene Alves Vital
Diego Armando dos Santos Mota
Eliza Correa Santos
Introdução
Boa parte dessa dificuldade está na formação dos professores, que vem se mostrando,
ainda incipiente no que se refere a esta temática. De acordo com as “Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico– Raciais e para o Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”:
(...) Para obter êxito, a escola e seus professores não podem improvisar.
Têm que desfazer mentalidade racista e discriminadora secular, superando o
etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnico-raciais e sociais,
desalienando processos pedagógicos. Isto não pode ficar reduzido a palavras
e a raciocínios desvinculados da experiência de ser inferiorizados vivida
pelos negros, tampouco das baixas classificações que lhe são atribuídas nas
escalas de desigualdades sociais, econômicas, educativas e políticas (...)”
Metodologia
Em outros momentos, com turmas de 7° ano, optou-se por fazer uma abordagem mais
comparativa, trabalhando a geografia física do continente africano e do Brasil, fazendo
um comparativo em relação aos biomas, as florestas, os rios, o que aproxima e o que
afasta o nosso país de alguns países da África. Pôde-se perceber a grande participação e
curiosidade por parte dos alunos no que tange o método comparativo naquilo que muitas
vezes os faziam pensar ser o Brasil quando na verdade era um país do continente
africano.
Uma das ferramentas para se abordar a cultura afro-brasileira de maneira didática foi a
apropriação das mídias sociais, como forma de pesquisa e disseminação do que se é
trabalhado em aula. Alunos nessa faixa etária estão o tempo todo conectados, já que
pertencem a uma geração onde tudo pode ser encontrado de maneira rápida e resumida,
num simples clique, o que dificulta trabalhar com textos mais densos e detalhados.
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Resultados
Após os primeiros momentos de debate sobre o tema em sala de aula, o professor junto
aos alunos procurou desenvolver jogos de tabuleiro com a temática voltada a mitologia
ioruba como produto final das discussões trabalhadas ao longo da disciplina. O mais
interessante foi perceber o envolvimento de toda a turma na confecção do jogo, e com
isso colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula.
Considerações finais
Referências
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BRANDÃO, A. P. (Coord.). Saberes e fazeres: modos de sentir - Rio de Janeiro:
Fundação Roberto Marinho, 2006. (A cor da cultura, V. 2).
RIBEIRO, Cristhyane. Cayres, Victor; BRITO, Jailson de Brito; Souza, Tatiane Silva.
Histórias da Criação - Resgate, Preservação e Disseminação da Cultura Afro-
Brasileira através de Jogos Eletrônicos. XIV SBGames, Teresina-PI, nov. 2015.
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ENSINO DE HISTÓRIA E O PATRIMÔNIO
IMATERIAL: O MONGE JOÃO MARIA EM SÃO
MATEUS DO SUL/PR – CRUZES, MEMÓRIAS,
ÁGUAS SANTAS E CEMITÉRIOS DE ANJOS
Alcimara Aparecida Föetsch
Mário Sérgio Deina
A história local se apresenta, assim, com um novo significado, destacando-se por ser
autêntica e fundamentada, onde os espaços são transformados em lugares a partir das
experiências vivenciadas, preenchidas de sentimentos, sensações, emoções e memórias
individuais ou coletivas que os tornam “um recortado emocionalmente, nas experiências
cotidianas” (MELLO, 1990, p.102). A vila, a comunidade, os locais de lazer e
peregrinação emergem, dessa forma, como cenários supramateriais carregados de
simbolismo e devoção. Ao se trabalhar o contexto local é possível estabelecer relação
com acontecimentos mais abrangentes e espaços mais distantes, percebendo as
interligações, tendo em vista que as regiões estão igualmente relacionadas com o
nacional, o latino-americano e o mundial (SCHMIDT e CAINELLI, 2009, p. 138). No
mesmo raciocínio, Barros (2004) destaca que compreender essas porções do espaço
torna possível compará-los com outros espaços similares em um universo maior. Sendo
assim, história local pode, dentre outros olhares, evidenciar a preocupação com a
valorização do patrimônio cultural dos lugares. E é justamente neste sentido que aqui se
propõe pensar uma relação entre o Ensino de História e a valorização do patrimônio
cultural, neste caso, imaterial, dos lugares.
Neste contexto, propõe-se dialogar sobre a forma com que o patrimônio imaterial pode
contribuir no Ensino de História e como recorte espacial de análise, utiliza-se o
município paranaense de São Mateus do Sul e sua forte relação com o Monge João
Maria. Muito se fala e se ouve na região Sul do Brasil sobre esta figura mítica peregrina,
os escritos vão desde poemas, músicas, dramatizações, relatos, contos e teorias sobre
sua vida, passagens e desaparecimento. Na crença popular são predições, devoções,
pregações, memórias e histórias de fé. Na paisagem são cruzes, árvores brotadas, olhos
d´água, cemitério de anjos e lugares de peregrinação. Pregador de um catolicismo
rústico, o Monge cultuava a natureza e defendia o amor ao próximo. Conhecedor
profundo dos poderes da homeopatia, receitava chás e infusões que tratavam a
população carente e distante da medicina. Andarilho viajante, levava e trazia
informações sobre o mundo distante fortalecendo a crença em suas visões abençoadas.
Conhecedor da Bíblia e de Deus, arrebanhava fiéis seguidores crentes em suas palavras
de Salvação. E assim, durante décadas em São Mateus do Sul, foi se construindo a
crença e fortalecendo a fé em São João Maria, não mais Monge peregrino, agora Santo
dos altares. Um Santo que foi visto, ouvido e tocado por avós, pais, familiares e amigos,
uma figura do povo ao alcance de todos. Multiplicam-se as histórias contadas que
evidenciam a importância desse personagem no município, apesar de muito ter se
perdido com o tempo, as memórias ainda estão na lembrança de quem as reconta com
um sentimento de devoção único, singular e marcante. Quase é possível ver, através dos
olhos de quem conta, a imagem nunca por estes vista, mas que é tão sagrada quanto a fé
que a alimenta. Impossível mapear todos os lugares de passagem, pousio, peregrinação
e pregação do Monge, muitos já se perderam com o tempo, sobretudo, com o avanço do
desmatamento, da agricultura e da urbanização. Somam-se a isso as memórias perdidas
que eram vivas somente na recordação dos que já faleceram ou não deram conta de
transmiti-las. As marcas no espaço são o patrimônio material, edificado e construído
como local de devoção; as memórias são o patrimônio imaterial criado e alimentado
para dar suporte à crença.
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(2004), o professor, ao recorrer a vestígios e fontes históricas nas aulas de História
favorecendo o pensamento e desenvolvendo a autonomia intelectual permite que o
aluno realize análises críticas da sociedade e de seus lugares de vivência. Muitos desses
alunos conhecem as crenças e os lugares associados ao Monge e utilizar dessas
referências pode se apresentar como um interessante recurso didático para se
problematizar o tempo e o espaço, apontando vários outros elementos, fatos e
acontecimentos que contribuíram para a formação sócioespacial do município e da
região. Destacando que, neste sentido, o “patrimônio, antes restrito ao excepcional,
aproximou-se, cada vez mais, das ações quotidianas, em sua imensa e riquíssima
heterogeneidade” (PELEGRINI e FUNARI, 2009, p. 30). Acrescentando que, segundo
Brodbeck (2012), conhecer o aluno e suas experiências é fundamental para o bom
encaminhamento das aulas, pois permite ao professor viabilizar, socializar e sistematizar
esses conhecimentos, em processo de construção coletiva, levando o aluno a elaboração
e ao domínio de conceitos que irão se formando, se ampliando e ganhando novos
significados, numa relação dinâmica com outros conceitos e processos históricos (p.18).
E assim, o Ensino de História pode, partindo dos lugares de vivência da história local,
utilizar da mística, do simbolismo e das crenças uma vez que a proteção deste
patrimônio “está diretamente vinculada à melhoria da qualidade de vida da população,
pois a preservação das memórias e das identidades é uma demanda social tão importante
quanto qualquer outra” (PELEGRINI, 2009, p. 32).
Referências Bibliográficas
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PELEGRINI, S. C. A.; FUNARI, P. P. A. O que é patrimônio cultural imaterial. São
Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção: Primeiros Passos, nº. 331).
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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E MEMÓRIA NA
ESCOLA
Alex Juarez Müller
A educação patrimonial dialógica, reflexiva e crítica é aquela que atenta para os anseios
do presente. Esse tratamento implica em seguir uma ordem sugestionada por Cuesta
(2010) que é: problematizar o presente, pensar historicamente, educar o desejo, aprender
dialogando e impugnar os códigos pedagógicos e profissionais (p.29). Portanto o ponto
de partida na escola não são propriamente bens culturais já consolidados, mas as
memórias do presente que necessitam ser problematizadas historicamente, para isso é
preciso superar modelos já formatados de organização escolar, inclusive, indo além dos
muros escolares e buscar pistas nas comunidades que rodeiam, como já destacamos
anteriormente.
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textos, novas imagens e novas memórias almejando a desescolarização do
conhecimento e a desprivatização do público através da introdução da educação dos
problemas sociais relevantes que nos preocupam dentro e fora das aulas (CUESTA,
2010).
Romper o código escolar é romper com os métodos convencionais que ainda lembram a
escola a serviço da construção nacional do período Vargas, é sair da convencionalidade
de que conhecimento ocorre somente em sala de aula a partir de profissionais
diplomados e hierarquizados em categorias de níveis diversos (VIÑAO, 2002). Longe
de querer descontruir o papel social do professor, entretanto é digno que a docência olhe
para o presente e proporcione a problematização das diversas realidades que alunos e
seu entorno carregam consigo. Abrir um canal direto de diálogo com o público escolar é
um bom começo, inclusive já perdi a contagem correta de quantos alunos já
mencionaram que sentem falta de professores que tenham paciência, que estejam
dispostos a ouvir e conversar e que fujam do convencional “senta e copia”.
Usar e abusar da escola como ponto de encontro das diferentes memórias, fazer com
que os alunos tragam suas vivências para dentro da aula de forma a serem tratadas
através da crítica coletiva, situação que faz com que os próprios colegas se conheçam e
possam saber sobre o outro. A partir da memória dos alunos é possível o
(re)conhecimento de suas vidas e ampliar a noção de fontes além do tradicional tripé
livro, quadro e professor. Fazer com que tragam documentos diversos como fotografias,
certidão de nascimento, objetos diversos (roupas, brinquedos, etc.) e relatos orais (pais,
avós, etc.) possibilitam a problematização sobre suas realidades.
O diálogo amplo, reflexivo e crítico permite a abertura para outros espaços, como
museus, centros culturais, diferentes áreas urbanas e rurais. A educação patrimonial não
ocorrerá nesse caso de forma dada e muito menos passiva, pois se o trabalho de
contramemória for realizado previamente possibilitará a problematização dos espaços
visitados.
Os novos espaços podem ser inclusive virtuais como a ferramenta Google Art Project,
que nos mostra a importância da fotografia como documento como por exemplo, no uso
das imagens do Museu Afro Brasil localizado em São Paulo. Por meio das imagens do
museu podemos levantar diversas discussões atuais como: a questão das cotas raciais na
educação, condição da população afrodescendente no Brasil na atualidade, o trabalho
escravo na construção do Brasil, História da África e religiosidade afro-brasileira,
herança cultural na música (pagode, samba, hip hop, funk, rock n roll), entre outros.
O museu de hoje não deve ser o museu de ontem, ou seja, instituições voltadas
unicamente para o ensino das ciências físicas, história natural, do estudo das grandes
coleções e da legitimação de elites locais ou da nação (Gil & POSSAMAI 2014,
POSSAMAI 2010). Assim, as instituições museológicas necessitam tratar das memórias
através de processos educativos, inclusive podemos citar exemplos: as ações educativas
do Centro Histórico Cultural Santa Casa que oferece uma oficina através do lixo
arqueológico; e o serviço de educação patrimonial oferecido pelo Arquivo Público do
Estado Rio Grande do Sul com os documentos da ditadura civil-militar e com a caixa
pedagógica contendo documentos da escravidão.
Os museus locais também são excelentes equipamentos culturais para dialogar, refletir e
problematizar o presente através da contramemória, pois habitualmente esses espaços
reproduzem uma história narrada de forma cronológica com referência a determinados
grupos sociais demonstrando o jogo de poder envolto na região. Nesse caso, é pertinente
tratar a memória como fonte, como algo a ser problematizado, caso contrário a visita
pode se tornar em apenas uma reprodução e perpetuação do que já existe.
O bairro da escola também é um museu, mesmo que informal, onde os olhares podem
extrais muitas informações que permitem conhecer os ofícios locais, entender a
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dinâmica econômica através de comércios e indústrias, identificar lugares que sofrem
com a violência urbana e discutir para compreender os problemas e agir com soluções
possíveis.
Referências Bibliográficas
TOLENTINO, Átila Bezerra. O que não é educação patrimonial: cinco falácias sobre
seu conceito e sua prática. In: TOLENTINO, Átila Bezerra; BRAGA, Emanuel Oliveira
(Orgs.). Educação patrimonial: políticas, relações de poder e ações afirmativas. João
Pessoa: IPHAN-PB; Casa do Patrimônio da Paraíba, 2016.
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A IMPORTÂNCIA E OS LIMITES DOS LIVROS
DIDATICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E
ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DO PIBID
SOBRE A LEI 10639/03
Aline dos Santos Oliveira
Luciene Alves Fernandes
O presente trabalho consiste em uma pesquisa de análise dos livros didáticos de Alfredo
Boulos Júnior, utilizados pelos alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, do
Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira, Caetité- BA. A referente pesquisa foi
desenvolvida pelos bolsistas de Iniciação à Docência no Subprojeto “A Formação
Inicial do Professor de História e sua Atuação na Escola Básica: o ofício do
historiador na docência” / PIBID/ Capes. E tem como objetivo compreender como
autor trabalha os conteúdos das temáticas africana e afro brasileira nas duas
modalidades de ensino acima citada, analisando as interfaces com a constituição das
memórias e das representações relacionando-se com a demanda necessária a partir da
obrigatoriedade da Lei 10.639/03 para Educação Básica
Dessa forma, a reflexão sobre o subprojeto, já citado, tem fomentado nossa inquietação
quanto ao papel que devemos desempenhar frente aos mais diversos problemas
enfrentados na construção do conhecimento histórico em sala de aula. É nesse
pressuposto que parte a nossa ação – analisar como Alfredo Boulos Júnior trabalha a
História da África. Nesse cenário, cabe ao nosso olhar de professor/historiador analisar
os conteúdos das temáticas africanas e afro brasileira no âmbito do Ensino Fundamental
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II e do Ensino Médio, verificando qual a importância e os limites desses conteúdos nos
livros de História adotados pelo Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira. Este
trabalho foi realizado em parceria com a supervisora Jumara Carla e as bolsistas de
iniciação à docência Aline Santos e Luciene Fernandes.
Outro fato notório é com relação aos livros do 9º ano, onde os mesmos traz pouca
referência sobre a temática do continente africano, ilustrando somente a Independência
da África nos dezessete capítulos o que fica também evidenciado em apenas um e o que
é pior somente a metade desse capítulo é que contempla os conteúdos do continente
africano e em uma mísera folha no capítulo dezesseis menciona o levante popular na
África e no Oriente Médio, oportunidade esta que terá o professor de História de
associar essas realidades com a brasileira, num período de crise que passamos.
Quantos aos livros de História do Ensino Médio é perceptível que o autor traz nos três
volumes questões extremamente importantes sobre a África, que demandam uma
enorme discussão sobre o assunto, quando ele traz a questão da formação política
africana, os africanos no Brasil: dominação e resistência e a Independência da África faz
uma breve referência, na qual cada conteúdo é explorado em um número muito pequeno
de páginas com capítulos extremamente sucintos e o que é pior ainda, que no Ensino
Médio os alunos são contemplados com apenas duas aulas semanais.
Dessa forma, de um modo geral diagnosticamos nos livros Boulos uma eventual
referência da África com temáticas de suma importância e que não eram abordados em
volumes anteriores de outros autores, porém é interessante pensar que ele deixa algumas
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lacunas e temáticas que deveriam ser trabalhadas e exploradas como por exemplo: os
sujeitos africanos, o cotidiano, a religiosidade de um povo.
Nessa perspectiva, o livro didático não deve ser um fiel escudeiro do professor, onde
nele se apoiam e depende única e exclusivamente de o livro didático para poder
compreender e repassar o conteúdo para os alunos, pois, a importância atribuída ao livro
didático em toda a sociedade faz com que ele acabe determinando conteúdos e
condicionando estratégias de ensino, marcando de forma decisiva o que se ensina e
como se ensina, o que se ensina (LAJOLO, 1996, p. 4).
É nesse sentido, que faz necessário uma tomada de consciência por parte dos
professores, ao planejar suas aulas buscar outros recursos para que os alunos possam ver
o conteúdo de forma diversificada, mas como também possa inserir no ambiente escolar
um debate crítico e coerente do mundo que o cerca.
Referência bibliográfica:
SILVÉRIO, Valter Roberto. Síntese da coleção História Geral da África: século XVI
ao século XX/ coordenação de Valter Roberto Silvério e autoria de Maria Corina Rocha
e Muryatan Santana Barbosa.- Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2013.
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A HISTÓRIA DA ESTRADA DO COLONO E A
HISTÓRIA REGIONAL
Aline Karine Nunes
A estrada do colono tão antiga que em 1533 fez parte do Caminho do Peabiru, utilizada
pelos índios Guaranis e padres jesuítas. E durante o período de 1887 até 1903, a estrada
do colono foi utilizada para a demarcação da fronteira entre o Brasil e a Argentina. De
acordo com o relato do general João Alberto Lins de Barros no seu livro “Memórias de
um Revolucionário” diz que em 1925 a Coluna Prestes passou pela estrada do colono.
Há relatos em livros de que a estrada do colono foi aberta pela Coluna Prestes na
metade da década de 1920 e utilizada na década de 1930, antes mesmo da criação do
Parque Nacional do Iguaçu.
A partir de 1940, muitos colonos do Rio Grande do Sul utilizaram este caminho para
povoar as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. Naquela época, a estrada tinha suas
vantagens, pois, os colonos que viviam no Oeste economizavam tempo com suas
viagens, traçando um caminho no meio da mata e no meio do Rio Iguaçu para poder
chegar ao Sudoeste tendo acesso à cidade de Capanema.
Com o fechamento da estrada em 1986, foram fechadas todas as guaritas de acesso e até
mesmo a de fiscalização. Muitos conflitos ocorreram em maio de 1987, cerca de 1.500
pessoas ocuparam a estrada. No dia 13 de Maio do mesmo ano, reuniram mais de 50 mil
pessoas nas duas extremidades da estrada, fazendo em seguida uma caminhada pela
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estrada. Uma nova Liminar no dia 27 de Maio de 1987, proporcionou a reabertura da
estrada pelo período de 23 dias. Esse tempo foi suficiente para conseguir o
cascalhamento da estrada e colocá-la em funcionamento novamente em 1997, até
outubro de 2001. (DALLO, 1998)
O início do conflito dessa vez foi devido a uma balsa que estava sendo soldada em
Capanema para viabilizar a travessia dos veículos pelo Rio Iguaçu. E mesmo com a
desocupação do Parque, a justiça manteve a exigência de apreensão e destruição da
balsa que os manifestantes haviam transportada para a praça central da cidade sobre o
argumento de que ela simbolizava o “movimento de resistência” diante do fechamento
da estrada do colono.
Uma balsa inacabada motivou o confronto entre cerca de 150 policiais e 1.500
moradores de Capanema. No desfecho da desocupação da estrada do colono, oito
manifestantes foram hospitalizados e mais cinco ficaram feridos. O conflito entre
policiais e moradores que se recusavam a entregar a balsa, começou perto da meia noite.
A polícia tentou isolar a área onde estava a embarcação, mas o grupo de moradores
reagiu e o tumulto se alastrou. E durante quase uma hora policiais atiraram, e alguns
deles de helicóptero atirando com balas de borracha e bombas de efeito moral nos
manifestantes com o objetivo de acabar o movimento de resistência.
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Referências Bibliográficas
MARIN, R. De sol e lua, por onde anda: fatos e personagens da história de Medianeira
e região. 1ª ed., Santa Maria: Gráfica Palotti, 2003.
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ENSINO MULTICULTURAL: CULTURA
JAPONESA EM SALA DE AULA
Ana Paula Bührer Gonçalves
Para Rüsen (2015) existe uma necessidade de humanismo para que possamos
compreender que vivemos em um mundo globalizado, no qual existem as interações
sociais e as relações de poder, mas que ainda assim as sociedades conseguem manter
suas particularidades, das quais devem ser apreendidas e respeitadas. Sendo assim, o
ensino deve integrar diferentes sociedades e diferentes grupos sociais, sejam eles,
homossexuais, heterossexuais, mulheres, homens, cis ou trans, pobres, ricos, negros,
indígenas e brancos.
Fonseca e Silva (2007) declaram que o ensino multicultural é uma crítica ao sistema
tradicional de ensino brasileira que exclui pessoas e que aprofunda as relações dos
setores dominantes nas sociedades, o multiculturalismo rejeita a escola excludente
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defendendo o ensino para todxs, com isso busca criar um sentido, fazendo com que o
ensino se torne algo que faça a diferença na vida daquele que aprende, criando
possibilidades para o sujeito saiba como agir em relação às diferentes culturas,
diferentes sujeitos sem levar em conta estereótipos marcados pelo preconceito,
associando a vida prática com a instituição de ensino. E é a partir dessa teoria que o
estágio foi realizado.
Os CEEBJAs ou EJAs são instituições de ensino que tem como objetivo atender jovens
e adultos, que por diversos motivos, não concluíram a sua formação nas escolas
regulares, com isso, xs estudantes da turma em questão possuíam a idade entre 15 e 18
anos. O tema, cultura japonesa, foi abordado de forma ampla, mostrando diferentes
aspectos da cultura. Pensando em uma melhor forma de desenvolvê-lo, foi dividido em
etapas: cultura pop (mangás, animes, filmes e jogos), mulheres na sociedade, honra e
suicídio e por fim tatuagens com ênfase na máfia Yakuza, problematizando pontos
positivos e negativos a cerca do Japão, aproximando esta com a cultura brasileira, para
que xs alunxs pudessem perceber as diferenças e semelhanças entre elas. O objetivo em
torno desse tema seria a formação de respeito à diversidade de culturas, sujeitos,
vivências e realidades, buscando o debate sobre uma cultura que está distante, porém
temos acesso a aspectos dela.
A escolha dessa divisão dá-se por conta da aproximação e comparação com a cultura
brasileira. Através do tema cultura pop, por exemplo, buscou-se mostrar como o Japão
faz uso desses meios de entretenimento para demonstrar aspectos de sua cultura geral
em diferentes temporalidades, como por exemplo, lendas, vestuário, alimentação,
relação com pós-guerra, comparando com a cultura brasileira, debatendo assim, o uso
desses meios para refletir certas características das sociedades. Já no tema suicídio a
discussão surgiu a partir da religião, já que no ocidental existe a recriminação do ato, e
para os japoneses, por muito tempo, o suicídio era visto como algo honroso,
principalmente no que se refere aos samurais.
Mas o tema que mais gerou debate foi em relação as tatuagens e a máfia. Primeiramente
iniciamos a discussão sobre surgimento da tatuagem no Japão e como ela era usada
pelos antigos como distinção e aceitação social. Para que xs estudantes
compreendessem essa relação de permanência e aceitação, foi comparada a tatuagem
com outras formas de simbologias corporais, como roupas, postura corporal forma de
falar e de agir que nos distingue e nos aproximam de certos grupos sociais. Quando o
assunto máfia veio à tona as discussões partiram para vários pontos interessantes.
Analisamos um documentário que relatava as relações da Yakuza com a criminalidade e
com as tatuagens. A Yakuza foi relacionada com a realidade dxs estudantes, ocorreu a
comparação entre a violência praticada pela máfia com a violência que sofrem por parte
de policiais. Alguns relataram que a violência praticada por policias era pelo fato dessas
pessoas freqüentarem o EJA.
O histórico escolar dessxs alunxs que chegam ao EJA são envoltos a esse tipo de
relação violenta. Parte dessxs estudantes que frequentam essa instituição não
conseguem se “adequar” ao ensino regular causada por diversos fatores como: gravidez
na adolescência, violência doméstica, reprovações, dentre outros motivos, e é pensando
nesses sujeitos que os EJAs foram criados, atender aqueles que não tiveram a
oportunidade de concluir seus estudos, mas que agora estão tendo a oportunidade. A
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violência cometida muitas vezes é motivada justamente por esse histórico de abandono
e pela relação que alguns e algumas possuem com as drogas.
Esse tipo relato nos faz pensar na necessidade de debatermos mais com nossxs alunxs as
estruturas sociais, as relações de poder, as multiplicidades de sujeitos, e a importância
de um ensino multicultural, já que, como dito anteriormente a cultura não é apenas
nacional, é individual, é familiar,
E como debatido também, o ensino multicultural surge para inserir sujeitos, incluindo
nossxs alunxs que por vezes têm seus saberes e vivências negados pelo sistema.
Necessitamos de uma educação humana e plural.
Referências
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A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE
HISTÓRIA: DESAFIOS E PERSPECTIVA DO
MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL –
RELATOS DE UM MINICURSO
André Ricardo Barbosa Duarte
Paula Ricelle de Oliveira
O minicurso foi ofertado em dois dias totalizando seis horas de duração. Dentro desse
espaço foi possível apresentar e discutir a situação atual do mercado para professor (a)
de História e Historiador (a), traçando a memória de formação do trabalho docente no
Brasil e a trajetória de reconhecimento do historiador como profissão.
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trabalho nas poucas pesquisas disponíveis e levantamos dados e fontes que nos
auxiliaram na construção da proposta.
Também, foi abordada é discutida a trajetória e memória dos projetos de lei tramitados
nas instâncias legislativas nacionais, com foco no Projeto de Lei nº 4.699/2012, que tem
o objetivo de reconhecer e regulamentar o métier do historiador, logo os espaços de
atuação. Para tanto, consultamos a página da Câmara dos Deputados a fim de traçar o
percurso do PL, bem como os autores Margarida Maria Dias Oliveira (2004); André
Castelo Branco Machado (2010), que contribuíram para o debate a cerca do projeto,
além de alguns sites que abordavam o tema. Anthony Grafton; Jim Grossman (2011) e
James M. Banner JR. (2012) nos auxiliaram na discussão teórica.
Com intenções de levantar dados que nos leve a entender quais são os interesses dos
participantes em relação ao mercado na área de História, solicitamos que eles
respondessem um questionário com cinco perguntas objetivas, sendo três fechadas e
duas abertas.
Assim, com base nas respostas dos 14 participantes, obtivemos os seguintes dados: 11
estão com o curso em andamento; 03 são formados em História; 11 optaram pela
licenciatura; 02 possuem ambas as formações (licenciatura e bacharel); 01 não informou
sua opção de formação.
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06 participantes lecionam História; 03 são estudantes; 02 se dedicam a iniciação
científica; 01 trabalha com teatro; 01 afirmou não estar atuando; e 01 não respondeu.
Na questão 05, perguntamos quais são as intenções para atuar no mercado de trabalho
na área da História. Optamos por colocar essa questão em aberto, pois consistia em uma
das propostas do minicurso discutir sobre as possibilidades de mercado para quem
possui o diploma em História. Dessa forma, os respondentes colocaram mais de uma
opção, e foi possível obter os seguintes resultados: 08 pretendem exercer a docência na
educação básica; 02 no ensino superior; 04 no magistério, sem especificar em qual
nível. Em relação ao exercício da pesquisa como atividade profissional, foi a opção de
04 dos informantes.
Referências bibliográficas
BRASIL, Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 4.699-c de 2012 do Senado Federal
As mulheres neste período não tinham uma posição social de igualdade frente aos
homens. O ideal de mulher estava atribuído à virgindade, a pureza, a submissão e a
maternidade. O poder dos clérigos e dos príncipes era um poder voltado ao sexo
masculino, misóginos porque estavam convencidos da impureza e da inferioridade da
mulher, e até mesmo de sua “ruindade” (PERROT, 2007, p.88).
O desprezo que os homens tinham pelas mulheres nesta época encontrava-se expresso
nos próprios termos designativos dos dois sexos. De acordo com o livro “A Feiticeira”
de Michelet, a palavra latina empregada para nomear o sexo masculino vir, lembrava
virtus, ou seja retidão. Já mulier, que seria o qualificativo do sexo feminino, lembrava
mollitia, ou seja moleza, que tinha relação com fraqueza, flexibilidade (MICHELET,
2002, p.28). Esses homens, independente de sua posição social, como pais ou marido,
reservavam-se o direito de castigar a mulher como se castigava uma criança ou mesmo a
um escravo (MICHELET, 2002, p.102).
A própria mulher neste período, pelo contexto histórico em que se encontrava, acabava
por partilhar, em alguns casos, o odioso preconceito sobre si e considerava-se imunda,
como Michelet revela, deixando bem clara essa posição da mulher, sendo que em sua
leitura defende que ela “quase pedia perdão por existir, viver, realizar as condições de
vida”. A medicina da Idade Média ocupava-se unicamente do ser considerado superior
e puro, o homem, o único que podia se tornar padre e também que sozinho representava
Deus (MICHELET, 2003, p.103).
42
O único médico do povo foi à feiticeira (MICHELET, 2003, p.13), mas a Igreja
Católica não concordava com a ideia de que a mulher pudesse curar com suas ervas
medicinais, pois quem devia praticar a cura nesta época eram os homens formados, e
muitas dessas mulheres não tinham uma formação, pois detinham certo conhecimento
que fora passado de geração para geração.
Muitos desses homens que podiam praticar a cura estavam ligados com a igreja, desta
forma também existia um jogo de interesses, de modo que a Igreja Católica seguiu
declarando, no século XIV, que se a mulher ousasse praticar a cura, sem ter estudado
para tanto, seria considerada feiticeira e teria como punição a sua morte.
Desta forma a feiticeira arriscava muito, pois ninguém pensava que aplicados
exteriormente, ou tomados em dose muito pequena, os venenos podiam ser utilizados
como remédios, assim também como algumas ervas. Michelet defende que “é certo que
a planta assusta”. “Trata-se do meimendro, veneno cruel e perigoso, mas poderoso
emoliente, suave cataplasma sedativo que resolve, distende e resolve a dor e muitas
vezes cura” (MICHELET, 2003, p.100).
Essas mulheres passaram a ser vista com maus olhos, sendo algumas acusadas até de
bruxaria, em que dentre esse grupo, estavam as que tinham um contato muito grande
com as mulheres nesse período, pois nesse tempo a mulher nunca teria admitido um
médico homem (MICHELET, 2003, p.97-98).
Essas mulheres são então proibidas pela Igreja Católica de professar as suas curas,
assim como auxiliar as mulheres em seus partos, de Feiticeiras (sendo mulheres que
trabalhavam sozinhas), passam a ser acusadas de bruxas (mulheres que agiam em grupo,
tendo ela um certo contato com o demônio). Um documento, que foi escrito por
inquisidores, visando a suposta eliminação desse grupo indesejável, tem como função
desencadear uma perseguição a essas mulheres acusadas de bruxaria, o Malleus
Maleficarum.
Consideradas inferiores, possuíam também uma memória fraca nesta acepção, julgando
assim a sua “indisciplina” como um vício natural, mais amarga que a morte, um inimigo
secreto e enganador. Essa concepção de um ser enganador fica evidente em trechos do
manual de Heinrich Kramer e James Sprenger:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MACEDO, José Rivair. A Mulher na Idade Média, revista e ampliada. São Paulo,
Editora Companhia das Letras, 2002.
MICHELET, Jules. A Feiticeira, tradução: Ana Moura- São Paulo: Aquariana, 2003.
44
NO BANCO DOS RÉUS: JULGAMENTOS
HISTÓRICOS OU O OUTRO LADO DA MOEDA-A
HISTÓRIA VISTA COM NOVOS OLHARES
Aristides Leo Pardo
Pelas presentes linhas iremos discorrer acerca de um projeto que paulatinamente será
implantado em minhas aulas, com alunos do Ensino Médio, que visa analisar a História
por um outro prisma, fugindo dos livros didático e do lugar comum, fazendo com que
uma ampla pesquisa seja realizada em busca das mais diferentes fontes, com o objetivo
de realizar um “Julgamento” de personagens históricos escolhidos pela própria turma.
Colocado em prática pela primeira vez este ano, a experiência será um laboratório para
que tal prática possa ser aprimorada para os anos seguintes, sendo assim, foi colocado
no quadro alguns nomes sugeridos pelo professor, como os do “Ditador” Fidel Castro,
do “Assassino” Ernesto Che Guevara, do “Demônio” Adolf Hitler, do “Pai dos Pobres”
Getúlio Vargas, dos “Heróis Nacionais” Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes e
Zumbi dos Palmares, que foi acrescido de indicações do alunado, como Josef Stálin,
Mahatma Gandhi, Saddan Hussein, Leon Trotsky, George Bush, Nelson Mandella e
“Ditadura Militar Brasileira”, tendo sido o escolhido para ser “julgado” pela turma, o
recém falecido líder da Revolução Cubana de 1959, Fidel Castru Ruz (1926-2016).
Um personagem citado por um dos alunos, que merece aqui sua citação, pois despertou
surpresa e curiosidade deste professor, foi o nome do Papa Francisco, apontado por uma
reportagem de Nepomuceno (2013, p. 46-52), como cúmplice (ou ao menos omissão),
quando na época em que era, o Cardeal Jorge Mário Bergoglio, de Buenos Aires, acerca
das atrocidades da Ditadura Militar de seu país, liderada pelo General Vidella,
mostrando o comprometimento do alunado com a atividade proposta.
O grande objetivo desta ação, é não ficar somente no que nos dizem a grande mídia e o
senso comum, buscando diversas fontes para que possamos desfazer algumas ideias
prontas e que durante o “julgamento”, cada participante possa dar seu próprio veredito,
pautado pelas “provas” apresentadas pela acusação e pela defesa do personagem em
questão, pois como nos diz Carvalho (2000, p. 13) que: “O passado serve ao futuro no
presente, por quê? Porque todo julgamento infalivelmente depende de comparação. Ora,
haverá melhor parâmetro do que o registro das ações, fruto do comportamento
humano”.
45
E essa comparação, mediante vasta pesquisa será realizada pelo alunado que de maneira
individual, ou em duplas, darão seu veredito em forma de texto, que será uma das
avaliações deste exercício histórico, como nos fala Veyne (1998, p. 11), ao afirmar que:
Após algumas indicações literárias por parte do professor, como as obras “Alina” (Alina
Fernandez, 1998), “A Ilha” (Fernando Morais, 1976), “Os Meninos do Dolores”
(Patrick Symmes, 2009), entre algumas reportagens e documentários, para que o
pontapé inicial das pesquisas possam ser efetuados e acompanhados de perto.
Como este texto narra uma experiência que está sendo colocada em prática pela
primeira vez, por este que vos escreve, não há uma nota conclusiva, que espero divulgar
em outra oportunidade, relatando o desenrolar desta atividade, porém, o leque para que
esta prática se prolongue ano após ano, sempre estará aberta, pois não são poucas as
personalidades que são retratadas de maneira uma e que poderão ser “julgadas” pelos
mais diferentes prismas.
Referências
46
SER CRIANÇA E A INFÂNCIA NO PASSADO
AMERÍNDIO: COMO APRENDER COM AS
DIFERENÇAS CULTURAIS NO ENSINO DE
HISTÓRIA
Avelino Gambim Junior
Jelly Juliane Souza de Lima
Introdução
O tema sobre as crianças foi inaugurado no Brasil com a publicação do livro História
das crianças no Brasil de Mary Del Priore (1991). Ao beber da chamada Nova História
da década de 1980, os historiadores passam a dar atenção as vozes silenciadas como as
das mulheres e crianças vítimas de preconceitos. Afinal, como as diferentes culturas
lidam com essa questão e como essas podem ser apresentadas aos alunos na sala de aula
e fora destas? A proposta deste estudo é trazer à tona, um tema mais delicado. Onde
estão as crianças nos sítios arqueológicos? Quais são os indicativos da presença das
mesmas? Assim como na História e Antropologia a Arqueologia passou a lidar com
essa temática ao absorver tais discussões.
Uma das formas de compreender o tema das crianças é a partir do registro arqueológico
através das práticas funerárias, pois é desta forma que vamos encontra-las e
compreender as variações culturais ao longo. Na região amazônica da Foz do Rio
Amazonas, desde o século XIX, uma grande variabilidade nas práticas têm sido
descritas. Pesquisas recentes feitas na capital Macapá, mostram como alguns sítios
arqueológicos pré-coloniais podem contribuir com a temática da criança e da infância,
conforme indica a figura 01.
Figura 01: À direita, sepultamentos do sítio Curiaú Mirim I. O círculo na cor vermelha
demarca as deposições de sepultamentos de crianças. Fonte: Acervo IEPA.
47
As diferentes ontologias
É importante frisar que relatos etnohistóricos dos últimos 500 anos, mostram outras
concepções de mundo e diferentes ontologias dos quais decorrem tais práticas culturais
das sociedades indígenas amazônicas (CHAUMEIL, 2007; PY-DANIEL, 2015;
ROSTAIN, 2011), mostrando uma longa duração e permanência de em alguns
elementos das práticas funerárias encontradas na etnografia ameríndia, o que pode ser
utilizada como uma boa fonte de inspiração para interpretar o registro arqueológico,
além de contribuir com os estudos de História das crianças no Brasil.
Nesse sentido, ao se pensar essas categorias a mesma deve ir na contra mão dos nossos
padrões ocidentais do que é ser criança, que enfatiza o desenvolvimento biológico e
físico dentro do ciclo de vida, o que os torna, dentro de uma abordagem mais
interpretativa invisíveis na arqueologia ou considerados como menos importantes
(BAXTER, 2008). Porém, indo de encontro com as referidas etnografias ameríndias e
mesma a noção de corporalidade ameríndia, podemos discutir sobre a infância dentro
deste olhar “amazonificado” (GAMBIM JUNIOR, 2016).
Afinal como eram as crianças ameríndias no passado? O que é ser criança? O que
significa a infância e quando a mesma acaba?
Referências bibliográficas
CHAUMEIL, Jean P. Bones, flutes, and the dead: memory and funerary treatments in
Amazonia. Time and memory in indigenous Amazonia: Anthropological perspectives,
p. 243-283, 2007.
49
O ENSINO DE HISTÓRIA E AS INTERFACES
NACIONAL/LOCAL: SOCIALIZANDO SABERES
SOBRE A CASA AZUL
Janailson Macêdo Luiz
Beatriz Francisca de Lima
Naurinete Fernandes Inácio Reis
Introdução
50
colocadas abertamente sob análise da sociedade? Quem tem interesse quanto ao
apagamento dos rastros sobre determinadas memórias?
Como destaca Barbosa (2006), abordar temas da História Local torna-se um importante
meio de contribuir com a ampliação da consciência histórica por parte dos estudantes,
contribuindo para a ampliação de sua inserção crítica junto aos espaços, agentes sociais
e instituições a que está relacionado. Abordagem essa da História local que não se
restringe apenas, a nosso ver, ao conhecimento histórico, podendo ser apropriada de
forma interdisciplinar por intermédio de outras disciplinas relacionadas às Ciências
Humanas, a outros saberes que formam o currículo escolar da educação básica e a
espaços de educação não formal, como aos organizados pelas associações e movimentos
sociais.
Para efetuar tais abordagens, como destaca Martins, os docentes devem assumir
posicionamentos distintos da visão que coloca o livro didático como a única fonte de
conhecimento e assumir-se enquanto professores/pesquisadores:
Em abril deste ano, Manuel Leal Lima, o Vanu, que trabalhou como guia e
coveiro do Exército, e mais seis moradores da região localizaram para O
GLOBO oito cemitérios clandestinos onde estariam enterrados os corpos de
pelo menos 41 guerrilheiros que participaram dos combates em as Forças
Armadas entre 1972 e 1975.
Disseram pra mim: ‘Você vai agora voltar e vai ter que dar conta dos seus
companheiros’. Fui obrigado a trabalhar de guia até depois da guerra, sob
os olhos de Curió [o Sebastião Alves (sic) [Rodrigues] de Moura. Até em
Serra Pelada [garimpo dirigido por Curió na década de 1980], fiz missões
para ele. Tem 40 anos dessa guerra, mas pra mim é um desgosto. Fui
muito judiado, fui muito acabado. Até hoje eu não sou ninguém. [...] Eu
tive de contar até o que não sabia para escapar. Eu tive que dizer, forçado,
que fui um amigo do Oswaldão, mas hoje eu posso dizer, de verdade, que
fui amigo dele, pois ele foi amigo da região, ajudou muita gente.
Também podem ser trabalhadas as conexões entre a Guerrilha e outros temas, como o
garimpo em Serra Pelada, aludido acima pelo senhor Abel, e outros conflitos ocorridos
na região do Araguaia Tocantins após o fim da Guerrilha. Um breve sobrevoo sobre o
tema, porém, mesmo marcado pelo limite de extensão deste artigo, já apresenta como
são possíveis inúmeras conexões entre o tema da casa Azul e outros relacionados a
história local, amplamente conectados com a história nacional, a exemplo da relação
entre a Guerrilha e Ditadura Civil-Militar.
Referências
52
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Memória e história local. In: Ensino de
história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2009.
CORRÊA, Carlos Hugo Studart. A lei da selva: estratégias, imaginário e discurso dos
militares sobre a Guerrilha do Araguaia. São Paulo: Geração editorial, 2006.
MARTINS, Marcos Lobato. História Regional. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).
Novos temas nas aulas de História. São Paulo: Contexto, 2009.
53
NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE MARCO VELEIO
PATÉRCULO E A SUA HISTÓRIA ROMANA PARA
OS ESTUDOS SOBRE A HISTÓRIA ANTIGA DE
ROMA
Carlos Eduardo da Costa Campos
Parece justo afirmar que, nos últimos trinta anos, tem prevalecido uma abordagem um
pouco distinta do modelo tradicional, que imperou sobre os estudos na área da História
Antiga, em boa parte do século XX. Os textos históricos são analisados e avaliados com
novas perspectivas. A própria disciplina de História passou por uma reavaliação
bastante complexa, e tanto filósofos como historiadores começaram a questionar o valor
e alegações epistêmicas da narrativa histórica tradicional. Hoje, existe uma consciência
que nenhuma História pode ser completa (desde a seleção daquilo que o historiador
considera como importante e essencial para a sua apresentação), nem pode ser livre de
alguns (culturalmente predeterminados) pontos de vista. O status da História também
tem sido questionado em uma direção diferente: sendo considerada a sua forma literária;
ou seja, os estudiosos agora enfatizam as afinidades da História narrativa com a ficção e
outras formas de prosa discursiva. Nessa perspectiva, eles voltam seus olhares para as
inúmeras características que tanto o discurso ''factual'' e o ''fictício'' compartilham entre
si.
No que tange a Antiga Roma, claramente os antigos pensavam que a elaboração de uma
narrativa histórica, como a historiografia, era uma área com o seu próprio tema, matéria
e método, havendo assim debates sobre a exatidão de seus antecessores e se algo
aconteceu desta ou daquela forma. Tal preocupação demonstra que eles conferiam um
sentido ao gênero literário e que a sua tarefa não era simplesmente a de apresentar uma
plausível narrativa. Assim, a caracterização da historiografia antiga é uma questão que
vai muito além da geração de rótulos sobre virtude ou vício, ligados a pessoas em
particular pelo narrador. O ato de caracterizar uma personagem também pode ser uma
questão de estilo, de inflexão, ou de estrutura (MARINCOLA, 2007, p.1-10).
54
Os historiógrafos do período Augustano, assim como os do Imperial ocupam um lugar
considerável na sobrevivência de elementos literários e históricos da época. Certamente,
eles recontam parte da história romana, entretanto, também são o espelho dessa Roma
que descrevem nos seus relatos. Os historiógrafos de Roma são verdadeiros
monumentos humanos do processo de exaltação à glória de Roma e dos seus
governantes (MARTIN; GAILLARD, 1990, p.107-108). Vale mencionar que a
transição do estilo de escrita histórica da República Romana Tardia para o período de
Augusto não é marcado por qualquer fronteira clara, simples e imediata. Afinal, ainda
havia uma geração mais velha de historiadores que prestava sua fidelidade, por
nascimento e perspectivas, para a República. Essa questão explica o porquê de Salústio
ser comumente considerado um autor republicano, embora sua atividade tenha
coincidido com os primeiros anos de Augusto, quando Virgílio e Horácio ainda estavam
no início de seus trabalhos. Essa historiografia augustana é marcada pelos ecos da
Batalha do Ácio e a influência da pax augusta. Logo, os escritores vivenciavam o
momento de uma nova ordem social, após o período de caos e desordem política
romana.
55
Gowing frisa que a sua perspectiva é valiosa, pois fornece aquilo que denominou como
um antídoto para o cinismo de Tácito, o qual tinha poucas dúvidas de que o Principado
de Augusto gerou a falência da República em Roma. Nesse sentido, os leitores
modernos, no entanto, por tenderem a seguir o ponto de vista taciteano, que é
reconhecidamente expresso por uma narrativa poderosa e envolvente, até sendo
considerado o autor “mais crível”, acabam por descreditar do otimismo de Veleio sobre
o período. Ademais, para Gowing (2007, p.411-18), este desdém científico se refletiu na
própria escassez de traduções e comentários sobre Veleio, preterido em prol de outros
escritores que lhe eram contemporâneos. Um fato que não há como negar é que toda
seleção elaborada toma como ponto a proposta de um segmento. Não seria Tácito uma
voz complexa para o período por refletir os interesses senatoriais? O que temos em jogo
são visões de mundo, que, ao analisarmos em conjunto, podem fornecer interessantes
dados para uma pesquisa e a construção de aulas para o primeiro ano do Ensino Médio.
Afinal, nos intriga desvelar: Quais as características de sua obra?
Marco Veleio Patérculo, 20/19 A.E.C. – (31 E.C.) (Marcus Velleius Paterculus) - seu
praenomem considerado como controverso é oriundo da aristocracia municipal romana,
de um grupo social que ganhou importância naquele período. Seu avô paterno, C.
Veleio, tinha sido praefectus fabrum sob Pompeu, seu pai era praefectus equitum sob
Augusto e um cliente de Tibério Claudio Nero, pai biológico do imperador Tibério. Na
perspectiva da historiografia, Veleio foi um proeminente cliens de Tibério, assim
detendo uma personalidade influente no contexto político de Roma (MORENO, 2011,
p.523-27; GOWING, 2007, p.411-18).
Seus relatos em Historia Romana, em boa medida, refletem a sua própria vivência
política. Veleio serviu como tribuno militar nas legiões da Trácia e Macedônia (II, 2.
101. 3). Em 4 E.C., ele assistiu Otávio Augusto adotar Tibério (II. 103. 3), assim como
no período foi elevado a praefectus equitum (II. 104. 3) acompanhando Tibério em uma
expedição ao Reno. Posteriormente se tornou quaestor em 6 E.C. sem ser capaz de
exercer esse cargo, visto que ele tinha de ajudar Tibério durante um motim na província
da Panônia (II. 111. 3). Entre 9 e 11 ele acompanhou Tibério em suas campanhas nas
Germânias e testemunhou o seu triunfo em Roma, 12 E.C. (II. 121. 3). Em 15, tornou-se
pretor (II. 124. 4).
Sabe-se que sua obra foi dedicada a M. Vinicius, que era filho de seu antigo
comandante militar. Sua obra é caracterizada pela brevidade. Veleio utilizou-se da ideia
de escrever um trabalho que viesse a cobrir pelo menos o período desde o início da
guerra civil entre César e Pompeu aos dias dele próprio, o sujeito locutor. Em sua
produção, vemos sua própria biografia através dos vestígios legados em sua obra.
Desse modo, reconhecemos o tema do novus homo, a devoção de um soldado para
Tibério e a sua proximidade com o círculo literário dos Vinicii. Na visão de Alain
Gowing e de Isabel Moreno, Veleio voltava-se para a necessidade da edificação moral
do Principado de Tibério, não apenas para a figura de Tibério (MORENO, 2011, p.523-
27; GOWING, 2007, p.411-18). Vale mencionar que Veleio usa os padrões e modelos
republicanos passados por Tito Lívio em sua escrita. Assim, convergimos com os
autores sobre a perspectiva de que havia uma busca por demonstrar, através de
personalidades do passado, todo o conjunto de virtudes que o mais nobre cidadão da
República tem de portar ao personificar a liderança de Roma, ou seja, o exemplum para
aquele que vai ser o optimus princeps (II.126.5).
56
Seguindo esse viés pontuamos que a História Romana de Veleio narra sim uma gênese,
porém não apenas do Principado, mas as dos principes em uma República que estava
sendo restaurada. Para servir à sua "república imperial'', ele retoma do passado as
qualidades que considera como essencialmente positivas para serem consubstanciadas
na mais notável personalidade da época. Desse modo, mesmo que Veleio tenha sido
relutante em admitir a modificação do sistema político da República para o novo
Principado, seu uso dos exempla, no entanto, revelam como a paisagem política e
cultural tinha sido alterada nas últimas décadas do I A.E.C. e I E.C..
Em suma, a obra de Veleio Patérculo emerge como uma fonte intrigante sobre o cenário
político de Roma. Seus relatos nos possibilitam compreender o processo de adoção de
Otávio Augusto por Júlio César até a morte do princeps em 14 E.C., sendo fecundos
para obtermos indícios que viessem a complementar os biógrafos de Augusto. Logo,
tomamos Veleio Patérculo como uma base de reflexão política dos aristocratas sobre
esse momento de gradual modificação política e cultural romana.
Referências Documentais:
TACITE. Annales. Tome I. Livres I – III. 1re éd. 3. Texte établi et traduit par Pierre
_____. Annales.Tome II. Livres IV – VI. 1re éd. 3. Texte établi et traduit par Pierre
_____. Annales. Tome III. Livres XI – XII. 1re éd. 3. Texte établi et traduit par Pierre
_____. Annales. Tome IV. Livres XIII – XVI. 1re éd. 5. Texte établi et traduit par Pierre
Wuilleumier. Paris: Les Belles Lettres, 2003.
57
_____.Histoires. Tome I. Livre I. 1ère éd. 2. Texte établi et traduit par Pierre
Wuilleumier et Henri Le Bonniec, annoté par Joseph Hellegouarc’h. Paris: Les Belles
Lettres, 2002.
Referências Bibliográficas:
MARTIN, R.; GAILLARD, J. Les genres littéraires à Rome.Paris: Nathan, 1990, p.107-
108.
PINSKY, Carla (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Editora Contexto, 2010.
58
THE THIRD WAVE: A ESCOLA E O
RESSURGIMENTO DO FASCISMO
Caroline de Alencar Barbosa
Esta pesquisa analisará uma experiência ocorrida na Cubberley Senior High School, em
Palo Alto, Califórnia, em 1976, denominada de The Third Wave (traduzido como A
Terceira Onda), desenvolvida e aplicada nas turmas dos segundo, quinto e sexto
períodos da disciplina História do Mundo Contemporâneo, ministrada pelo professor
Ron Jones. Pretendendo mostrar aos alunos a capacidade de persuasão de um grande
líder ao educar as massas para a disciplina, seguimento de uma ideologia e a obediência
utilizou como modelo o Partido Nazista, liderado por Adolf Hitler (1889-1945), que
conseguiu mobilizar a população durante os anos de governo do Terceiro Reich (1933-
1945).
O que deve ser destacado em relação à Terceira Onda é a sua repercussão que pode ser
observada através da análise do periódico estudantil The Catamount produzido pelos
alunos da escola, onde percebemos o momento em que o experimento saiu do controle
quando os alunos tomados pela ideologia e imersos na simulação como algo real
passaram a agir de forma violenta. Foram desenvolvidos símbolos para o movimento
inspiradas no nazismo como, por exemplo, a insígnia que consistia em uma onda (como
a suástica), a saudação que era feita com a mão curvada semelhante à saudação nazista,
além da disciplina e atenção enquanto o “Furher” Jones falava (KLINK, 1967, p.3).
O conceito norteador para pensar esse tema consiste nos “Fascismos” e a partir de
Francisco Carlos Teixeira da Silva (2015) definimos o fascismo como um conjunto em
ascensão de movimentos de extrema-direita caracterizados pelo antiliberalismo,
antiparlamentarismo e antimarxismo, com apego às tradições nacionais, a um líder de
personalidade autoritária, além da adoção de uma teoria de conspiração voltada para um
inimigo comum, a exemplo os judeus na Alemanha. O agir político fascista pode ser
compreendido como a reprodução de um sentimento de superioridade que promove a
construção de identidade nacional comum.
Os Fascismos alemão e italiano iniciaram suas ações quase em simultâneo após a crise
que se gerou com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Expressavam
repúdio radical da ordem política liberal e parlamentar, assumindo antimaterialismo e
buscando novos valores como antissocialismo, valorização das forças irracionais,
exaltação do instinto e da violência na vida política. Contemplavam um maciço projeto
de reeducação da cultura nacional que envolvia medicina, biologia e ciências sociais,
com o objetivo de educar o povo a aceitar o novo sistema de valores e rejeitar as antigas
normas culturais (DE GRAND, 2005).
59
emergiram a partir da segunda metade do século XX e primeiros anos do século XXI.
Porém, nenhum fascismo será idêntico aos outros, tendo em vista sua capacidade de
assumir uma nova roupagem condizente com seu contexto histórico, o inimigo objetivo,
além das características que determinam a busca pelo caráter nacional (SILVA, 2015).
A partir do que Peter Gay denominou como “outro conveniente” ou “inimigo objetivo”,
alguém que é apontado como culpado por problemas que atingem determinada sociedade,
portanto, como uma ameaça a ser combatida com violência, compreendemos a afirmação
de Paxton (2008) que, a respeito de “um fascismo norte americano”, este seria
“autenticamente popular, religioso, antinegros e, a partir do 11 de setembro, também
antiislâmico” (P.287). Deste modo, percebemos que a possibilidade da apropriação do
fascismo em um contexto totalmente distinto é possível a partir da inclinação das
massas em aceitar a ideologia, reforçada pela censura, violência e propaganda.
Para isto, a metodologia desta pesquisa partirá do levantamento das edições do jornal
The Catamount, que estão disponíveis para consulta e download em formato PDF no
site The Wave (http://www.thewavehome.com/) gerido e supervisionado pelos
participantes originais do movimento Terceira Onda. Essas fontes serão coletadas,
catalogadas e arquivadas em um banco de dados que facilite o acesso do pesquisador às
principais fontes de pesquisa, caso o site seja retirado de circulação. Realizaremos uma
investigação das informações referentes à Terceira Onda e ao professor Ron Jones, que
deverão ser traduzidas para o português.
Durante a análise das fontes devemos entender que uma das preocupações essenciais ao
se trabalhar a partir da perspectiva histórica é de não limitar os acontecimentos às ações
e esquecer as ideologias e mentalidades motivadoras para tal fato (BLOCH, 2011). Esta
pesquisa deve entender quais as motivações dos estudantes americanos que integraram o
movimento da Terceira Onda ao tomarem para si a ideologia de cunho fascista em um
contexto que não pertencia à Segunda Guerra Mundial.
Referências bibliográficas
ADORNO, Theodor W. Educação após Auschwitz. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995,
p. 117-138.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Enciclopédia de guerras e revoluções: vol II:
1919-1945: a época dos fascismos, das ditaduras e da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945)./ Francisco Silva. 1º Ed.- Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
Fonte
KLINK, Bill. ‘Third Wave’ presents inside look into Fascism. The Catamount.
Cubberley Senior High School, Pala Ale, vol. 11, nº 14, 21 de Abril de 1967, p. 3.
Disponível em: <http://www.cubberleycatamount.com/Content/66-
67/Catamount%20Pages/V11No14/670421.pdf. Acesso em 22.09.2016.
61
ENSINO DE HISTÓRIA E AS RELAÇÕES
CULTURAIS NA REGIÃO DE FRONTEIRA, POR
MEIO DOS CURRÍCULOS ESCOLARES
Daniela Carine Machado Dohs
Introdução
Tudo o que acontece e rege a vida do homem é cultural, não existe prática humana
que não seja cultural e segundo Veiga-Neto (2003), a cultura atual pode ser vista como
algo central na vida das pessoas, não porque ocupa uma posição de destaque, mas
porque abrange tudo o que ocorre em nossas vidas.
Por se tratar de uma pesquisa bibliográfica, utiliza o método qualitativo, que segundo
Bogdan e Biklen (1994), este, respeita os saberes populares e aproxima o ambiente
escolar, com o objeto de estudo.
Segundo Veiga-Neto (2003), nas últimas décadas, a diferença cultural vem tornando-se
cada vez mais visível em nossas relações pessoais, profissionais e assim também no
currículo escolar,
Assim, algumas sociedades utilizam-se das relações culturais para exercer algum tipo de
domínio sobre outros povos, sendo que as relações de poder são capazes de oportunizar
mudanças estruturais nas organizações e na educação estabelecida. Da mesma forma
que a pedagogia organiza a vida dentro do espaço escolar, e com ele também carrega
suas relações de poder e valorização de culturas consideradas aquém ou além do
conveniente, esta, constrói o poder para incluir ou excluir conteúdo e modificar o
currículo.
Esta ligação está tão enraizada na cultura local, que muitos dos moradores destas
regiões não se veem como cidadãos de uma Região de Fronteira, não conhecem a sua
história, não percebem as diferenças culturais e não refletem sobre elas, pois já estão
habituados.
A Região de Fronteira compreendida entre estes dois países configura-se como uma
fronteira seca, ou seja, onde não existe um rio, lago, ou oceano separando, apenas uma
delimitação simbólica de que ali acaba um país e começa o outro. A circulação das
pessoas por entre estas Fronteiras ocorre de forma desimpedida, sem controle
beligerante. Esta boa relação entre os países vizinhos, é que deve ser destacada e
valorizada no fazer pedagógico, primando por uma educação que evidencie a boa
convivência e o respeito entre as diferentes culturas dos países e das pessoas.
Segundo Raffestin (1993), a Fronteira é uma linha imaginária que, quando efetivada, se
torna ideológica e carrega consigo relações de poder e integração entre os sujeitos. E,
63
por estarmos inseridos em uma Região de Fronteira, nossa cultura, costumes e tradições
se interligam e pulverizam umas nas outras, gerando assim, uma cultura única, com
características e peculiaridades próprias.
A proximidade entre estes dois países faz com que eles não compartilhem somente o
território geográfico, mas toda a construção cultural e histórica fronteiriça, como a
língua, a culinária, os costumes, a vestimenta, entre outras caraterísticas próprias da
região que foram recriadas ao longo dos anos.
Por ser uma região de movimentação de pessoas, que carregam consigo uma bagagem
cultural, a educação tem importante papel nesta região com o objetivo de amenizar as
possíveis diferenças ou adversidades culturais. Assim, o currículo escolar deve destacar,
trabalhar e valorizar a diversidade cultural dos educandos, ressaltando as diversas
culturas que uma Região de Fronteira apresenta e fazendo com que os habitantes do
lugar se identifiquem como cidadãos fronteiriços.
Segundo Santomé (2002), para a real construção de uma sociedade crítica, em que seja
valorizado o aluno e sua cultura, é necessário repensar a educação atual, juntamente
com uma reformulação das práticas inclusivas. Na condução destas novas práticas, é
necessário ultrapassar os conteúdos escolares e trabalhar os conteúdos culturais,
objetivando assim, trazer à sala de aula todos os grupos sociais e dar voz e notoriedade
às vozes ausentes, reconstruindo o currículo escolar, assim, “O currículo é, pois, uma
atividade produtiva nesses dois sentidos. Ambos os sentidos tendem a destacar o
aspecto político do currículo. Ambos os sentidos chamam a atenção para seus vínculos
com relações de poder” (SILVA, 2002, pág. 194).
Considerações finais
64
Questionar as verdades impostas pelo currículo se faz necessário, uma vez que ele
seleciona grupos que serão trabalhados e deveria abranger as diferentes culturas, não
apenas aquelas ditas como eruditas ou da classe dominante da sociedade.
Referências
BRASIL. Lei n° 6.634, de 2 de maio de 1979. Dispõe sobre a Faixa de Fronteira, altera
o Decreto-lei n° 1.135, de 3 de dezembro de 1970 e dá outras providências. Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6634.htm. Acesso em: 11 dez. 2015.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Currículo e Identidade social: Territórios Contestados In:
Silva, Tomaz Tadeu da. Alienígenas na sala de aula. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 190 –
207.
65
DISCUTINDO O ENVELHECIMENTO HUMANO
NO AMBIENTE ESCOLAR: AS POSSIBILIDADES
DO TEATRO
Daniela Maria do Nascimento
Adaiane Giovanni
Cabe esclarecer que a proposta e realização do estudo acerca dessa temática foram
motivadas por duas questões centrais. A primeira está relacionada à mudança no perfil
demográfico no país, visto que, em 2009, o Instituto Brasileiro de Estatística e
Geografia (IBGE) apontou para um aumento progressivo da população idosa no século
XXI (CALDAS; THOMAZ, 2010).
Diante dessa realidade social, podemos observar que apesar da criação de políticas
públicas que visamà integração social do idoso como é o caso da lei citada acima, se vê
também que de outro lado existe uma carência de recursos humanos especializados
nesse tema. Uma vez que a sociedade brasileira ainda não avaliou de modo satisfatório a
situação social do idoso (SCORTEGAGNA; OLIVEIRA, 2012).
66
Após a realização de leituras, discussões e participação em palestras com profissionais
da área da saúde que trabalham com idosos, os acadêmicos de história se deparam com
o desafio de pensar uma metodologia para abordar o processo de envelhecimento
humano no ambiente escolar.
Deste modo, quando surgiu entre os acadêmicos o desafio de trabalhar com este tema, a
primeira coisa feita foi à escolha do colégio e a ida até o local para conhecer a
instituição e as pessoas responsáveis por sua administração.
Para a ação de intervenção foi escolhido o Colégio Estadual Unidade Polo, localizado
nas proximidades da região central de Campo Mourão/PR. Após conhecer o local, foi
decidido juntamente com a direção, iniciar o trabalho com o tema sobre o
envelhecimento humano com alunos do 7º ano do Ensino Fundamental II. Todavia,
antes de realizar qualquer abordagem sobre o tema, se elaborou um questionário com 10
questões, que permitiram conhecer o perfil de alunos com quem se iria trabalhar e ao
mesmo tempo averiguar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema.
Esses exemplos nos permitem observar que os discentes retrataram em sua maioria os
idosos como pessoas sensíveis, que precisam de cuidados, carinho que por vezes sofrem
de maus tratos. Fato que revelou a ideia de que, ao tornar-se idoso, o ser humano entra
no campo da passividade.
Para apresentar o tema aos alunos o grupo de acadêmicos produziu e apresentou a peça
“Feliz-idade”. Na peça foram trabalhadas questões do dia-a-dia comum na vida da
pessoa idosa. Na sequência para finalizar essa primeira fase da atividade foi realizado
um bate-papo com alunos.
Em seguida os alunos dividiram-se em grupo para realizar entrevistas com idosos de sua
comunidade. Para isso, receberam um roteiro com algumas possibilidades de perguntas
a serem realizadas.
68
É ter idade mais avançada, só que eles são como
todos.
É uma nova fase.
O que é ser idoso para
você? É quando tem mais experiência vida e, claro, a
pele meio flácida.
Ter dificuldades, experiência e sabedoria.
Uma pessoa com menos movimento, mas com
mais conhecimento.
Como você se imagina na Com cabelos brancos, pele enrugada, fazendo
velhice? exercícios.
Um pouco chata, mas sempre em forma e
saudável.
Pessoas experientes que ainda têm muito que
contribuir com a sociedade.
Os idosos também se divertem como todo mundo
Qual sua visão sobre ser e, por isso, aprendi que ser idoso não é chato
idoso atualmente? como eu imaginava.
Justifique! Minha visão mudou sobre os idosos, pois eu
pensava que essa fase da vida seria muito chata,
mas não é.
Nem todos os idosos são rabugentos e alguns até
são bem atualizados com a tecnologia.
FONTE: Dados da pesquisa. Disponível em: PIBID/História
Diante do questionamento: Qual sua visão sobre ser idoso atualmente? Justifique!,é
possível perceber a presença de verbos utilizados no pretérito imperfeito, comonas
palavras “eu pensava” ou “eu imaginava” não quer dizer que houve por completo uma
mudança de pensamento, mas mostra que está ocorrendo um processo de reflexão, na
qual os sujeitos começaram a olhar a velhice por um outro ângulo sem levar em
consideração apenas aspectos negativos, de forma que a velhice se constitui como uma
fase da vida, um processo natural do ser humano, visto que todos caminhamos com a
possibilidade de chegarmos até ela.
Referências
69
CALDAS, Célia Pereira; THOMAZ, Andrea Fernandes. A velhice no olhar do outro:
uma perspectiva do jovem sobre o que é ser velho. Revista KÁIROS, São Paulo, v. 13, n.
2, 2010, p. 75-89.
FREITAS, Silvane Aparecida de; COSTA, Maria Jacira. A identidade social do idoso:
memória e cultura popular. Revista Conexão, Ponta Grossa
70
ENSINO DE HISTÓRIA POLÍTICA DO
MARANHÃO: PROPOSTA DE UM MATERIAL
PARADIDÁTICO
Drielle Souza Bittencourt
De acordo com a Constituição de 1946, em 1965 deveriam ser realizadas eleições para
governadores em onze estados (Minas Gerais, Guanabara, Paraná, Santa Catarina,
Goiás, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Mato Grosso e Alagoas). Castelo
Branco cumpriu o calendário e as eleições aconteceram no dia 03 de outubro de 1965. O
livro didático História, do Projeto Múltiplo, escrito por Claudio Vicentino, Gianpaolo
Dorigo e José Vincentino, lançado pela editora Scipione, faz a seguinte análise sobre o
resultado dessas eleições:
Com esse trecho é possível perceber que o governo ditatorial perdeu em estados fortes,
além da Guanabara e Minas Gerais, também em Santa Catarina e Mato Grosso. Com
essas vitórias expressivas da oposição o governo autoritário criou estratégias para que
seu poder não fosse enfraquecido. Assim, em 17 de outubro de 1965 foi assinado o Ato
Institucional N° 2, poucos dias após as eleições. Outro livro didático intitulado História:
conexões com a História, elaborado por Alexandre Alves e Letícia Fagundes e lançado
pela editora Moderna, apresenta da seguinte forma o AI-2:
Como apresenta o material didático, com o AI-2 só poderiam existir dois partidos e a
sucessão dos presidentes seria feita de forma indireta, o que afetou significativamente a
configuração do processo eleitoral. Mas, as alterações na política não paravam por aí,
como demonstra esse trecho do mesmo livro trabalhado anteriormente:
Em 1979 o processo eleitoral sofreu outra mudança com a Lei Orgânica dos Partidos,
que extinguia o MDB e a ARENA e voltava o pluripartidarismo, como explica essa
passagem do livro didático Historia: conecte, de autoria de Ronaldo Vainfas, Sheila de
Castro Faria, Jorge Ferreira e Georgina Santos, lançado pela editora Saraiva:
Os autores apresentam como foram criados esses partidos que até hoje existem, porém,
também poderia haver uma maior problematização em torno dos reais interesses por trás
dessa mudança, como dividir e enfraquecer a oposição. O que foi ainda mais acentuado
em novembro de 1981 com a criação do “pacote eleitoral” que visava garantir a vitória
do PDS nos estados na eleição de 1982, pois ficou acordado que em 15 de novembro de
1982 ocorreriam eleições gerais. Todos os partidos legalizados poderiam participar.
Esta analise foi feita usando três livros didáticos para demonstrar como é trabalhado o
processo eleitoral no Brasil de 1965 a 1982. Por tudo apresentado, é possível perceber
72
como houve muitas oscilações na política e como esses livros apresentam certo avanço
por apresentarem discussões sobre esses processos, apesar de faltar mais
problematização.
É importante destacar que esses livros são usados no ensino de história em escolas do
Maranhão. Suas abordagens, todavia, apresentam uma realidade histórica do centro-sul
como hegemônica, deixando as especificidades regionais de lado.
Dessa forma, está sendo proposta a construção de um novo saber histórico sobre o
período em análise, adaptando a produção acadêmica para um trabalho a ser utilizado no
cotidiano escolar, que ajudará a suprir o hiato entre o que é discutido na academia e o
que é ensinado em sala de aula.
O uso dos impressos também abrirá um espaço de demonstração para os alunos sobre a
diversidade de fontes históricas existente, rompendo com a noção de que os documentos
oficiais são as únicas fontes possíveis para construção historiográfica.
Além disso, a criação de materiais além dos livros didáticos é extremamente necessária,
como explica os Parâmetros Curriculares Nacionais de História (1998), todo material
que tenha a função de mediar à comunicação entre professores e alunos, pode ser
considerado um material didático. E a sua produção é muito importante, pois:
Para uma melhor elaboração desse material paradidático, também serão utilizados
gráficos, tabelas e imagens que servirão como mais um elemento auxiliar para os alunos
conseguirem formular ainda melhor seu pensamento crítico sobre o período estudado.
Dessa forma, professores e alunos poderão fazer discussões para além do livro didático,
mesclando o ensino de história do Brasil com o da história do Maranhão. Assim, os
alunos terão a compreensão que o Maranhão não ficou de fora da dinâmica política dos
governos ditatoriais e se soltarão dos tentáculos do ensino de história que privilegia o
eixo sul-sudeste do Brasil.
73
Referências bibliográficas
VAINFAS, Ronaldo. FARIA, Sheila de Castro. [et al]. Conect: história, volume
único. 1º Ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
74
O ENSINO DE HISTÓRIA ALÉM DA SALA DE
AULA: AS AULAS-VISITAS
Eduarda Borges da Silva
Ensinar História é pensar o mundo além da sala de aula. Evidentemente que este espaço
e a escola são importantes para a formação dos alunos. Contudo, o objetivo deste texto é
abordar as aulas-visitas, principalmente as visitas desenvolvidas extraclasse.
Muitos são os lugares que um professor de História pode levar suas turmas: museus de
História, arquivos, monumentos e patrimônios. Mas os museus são os locais geralmente
escolhidos, seja pela acessibilidade ou por se reportarem de forma direta à disciplina em
questão.
Ademais, três palavras devem nortear uma saída de campo: Aproximar, sensibilizar e
significar. O professor que leva a turma a uma visitação deve conhecer seus alunos
suficientemente para planejar a atividade. Devemos indagar quais locais poderão
proporcionar um sentimento de pertencimento e de reflexão, ou seja, um conhecimento
significativo, para que os alunos possam relacionar os conteúdos ensinados ao cotidiano
vivido.
Visitar
A primeira visita foi a Tecelagem Tricotrama e a Zona do Porto (bairro industrial que na
primeira metade do século XX impulsionou a economia da cidade), com suas antigas
75
indústrias, quase todas fechadas e em ruínas. O tema de nossa aula foi a industrialização
em Pelotas nos governos de Getúlio Vargas. Consegui desenvolver a atividade com o
apoio do colega estudante de Licenciatura em História Valdemar Menezes. Ele é tecelão
na Tricotrama desde a sua fundação, sendo o único operário que opera os dois teares em
atividade, além da dona da tecelagem que faz os desenhos e de uma senhora que
costura.
Para avaliação pedi um relatório sobre a visita no qual refletissem sobre a relação entre
trabalho e tecnologia, fundamental ao curso de Eletrotécnica.
O espaço anarquista conta com teto solar, horta, estúdio de fotografia (no qual as
máquinas são feitas a partir de latas de alumínio) e de arte, biblioteca sobre comunismo,
marxismo e anarquismo e um espaço para treinos físicos, apesar de o prédio ter muitas
rachaduras e goteiras. Moram três estudantes da UFPel, sendo uma chilena. Contaram
que o espaço abriga além de militantes, mochileiros e estudantes.
A avaliação deu-se com um debate sobre a apropriação desse local, que é de poder
público, questionando-os por qual motivo não conhecemos e frequentamos o espaço
onde as principais decisões sobre a cidade são tomadas.
A seguir alguns espaços para aulas-visitas em Pelotas (além dos Museus de História):
Museu Farmacêutico Moura, Bibliotheca Pública Pelotense, o Laboratório de Ensino e
Pesquisa em Antropologia e Arqueologia (UFPel), o centro histórico com seus casarões,
as praças dos bairros, os espaços políticos, os estádios de futebol, as comunidades
quilombolas, as colônias, dentre outros.
Receber visitas
Assim, levar visitantes até o espaço escolar tornou-se um modo de transformar o espaço
da sala de aula. Recebemos a visita da historiadora Luise Rodrigues com sua exposição-
palestra sobre o Egito Antigo.
Luise levou sua coleção de objetos-réplicas e permitiu que todos os alunos tocassem e
fizessem fotos. Foi uma atividade lúdica e interativa. Os alunos foram hospitaleiros com
a palestrante, participando e demonstrando interesse em sua apresentação.
Visitas Virtuais
Além das visitas físicas é possível realizar visitas virtuais, a partir da Internet. Para isso,
é necessário que a escola possua um laboratório de informática. Este é um recurso de
77
acessibilidade digital e de inclusão, que permite aos alunos conhecer vários locais do
mundo, desde que estes estejam aptos para tanto.
Uma pequena busca rápida na Internet irá direcionar o pesquisador a diversos museus e
espaços de memória virtuais. Cabe ao professor selecioná-los e verificar sua
potencialidade para a aula que pretende realizar.
Somente o Canal do Ensino indica uma lista com 50 museus virtuais para se visitar
online, entre eles o Museu do Louvre (Paris, França). Geralmente os programas que
permitem esse tipo de acesso, reproduzem os espaços em tamanho proporcional ao
navegador de modo bastante realista, com a intenção de que este se sinta no interior do
museu e a partir de movimentos do dedo no mouse ele pode passear pelo espaço.
Referência bibliográfica:
78
RESGATANDO MEMÓRIAS: RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Eliana Pereira da Silva
Maria Aparecida Pereira
Introdução
Narrar ou contar histórias é uma arte milenar. Antigamente era o contador de histórias o
detentor da experiência, do conhecimento e da sabedoria. No passado, esse rito familiar
criava um clima intimista entre as gerações nas sessões de “contação” de histórias. A
das crianças, jovens e adultos. Atualmente, com a supremacia da imagem, da televisão,
figura do avô ou da avó era ícone do faz-de-conta, agente de introspecção imaginativa
do computador e da informação, as histórias contadas ou narradas por um interlocutor,
oferecem, apenas, um divertimento que está implícito em cada um, com seus valores
subjetivos.
Para possibilitar aos idosos a prevenção ou alivio da depressão que a idade pode
acarretar, usamos da expressão e do ritmo com atividade que resgatou suas memórias,
bem como a interação entre eles.
Resultado
A memória pode atuar em diversas esferas sociais, sejam elas econômicas, políticas ou
culturais, na legitimação de um determinado poder, tradição ou identidade. (LE GOFF,
1984).
Outro momento de grande aprendizagem para nós mediadores da oficina foi quando
dona Ormezinda, ao final da oficina nos disse: “vocês usaram frutos de nossos trabalhos
da roça”, porém não havíamos pensado nisso.
Oficina 5: Pensando está trabalhando com um grupo com potencial forte para questão
oral, de posse de muitas experiências, criamos um cordel retratando suas vivências
80
acerca de suas falas nas oficinas anteriores, após serem lidos questionamos se gostaram
e se os descrevemos da forma correta como haviam relatado. Nessa perspectiva de
trocas de saberes compartilhamos a fala de Gonh (2006), “a educação não-formal é
aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de
experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianas”.
Nesse sentido de que o estudo não era tão importante, quanto o trabalho, Rago (2007)
ressaltou que: para as meninas, o bom aprendizado das chamadas “prendas domesticas”
era considerado (...), mais importante do que o das letras, pois constituía um condição
sine qua non para um bom arranjo matrimonial, segundo a mentalidade dominante e a
divisão sexual dos “papeis sociais”. (Rago,2007, p.57)
Avaliação
Foi percebida a disposição com que os idosos iam para os encontros, fazia com que eles
adotassem decisões próprias assim percebendo como é importante a participação nesse
81
grupo, ao realizarem atividades físicas eles tornaram mais ativos, dispostos sem contar
como faz bem para a saúde mental, pois ao participarem das atividades de lazer as quais
requerem esforços faz com que eles se envolvem cada vez mais.
Conclusão
Os resultados de nossa experiência nos permite concluir que o fato de se ter um espaço
para que as histórias de vida e a memória cultural venham à tona é densamente rico e
essencial. Para a acadêmica Maria Aparecida que também é secretaria da ASC relata
que: “Nunca participei de um momento tão importante com os idosos desde quando
comecei a trabalhar aqui, há mais de 5 anos. A prática do projeto me fez aprender mais
sobre os idosos mesmo com tanto tempo vivenciando o cotidiano com eles”. Para os
idosos, é uma possibilidade de resgate das próprias histórias que muitas vezes ficaram
esquecidas por eles mesmos. É a possibilidade de poderem ter um espaço com
interlocutores dentro e fora do seu próprio grupo de pares, uma vez que essas histórias
podem circular amplamente por meio de panfletos, revistas, cartas, cartazes e outras
formas de comunicação.
Referência bibliográfica
BURKE, Peter. História como memória social. In: Variedades de história cultural.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
83
A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA CAMPO-
GRANDENSE POR MEIO DO MUSEU JOSÉ
ANTÔNIO PEREIRA
Elaine Cristine Luz Santos de Moura
Luciano Pereira de Souza Júnior
Os pioneiros
Assim, em 1872, o mineiro José Antônio Pereira encontrou nesta região um poconeano
chamado João Nepomuceno e algumas famílias camapuanas fixadas ao redor do córrego
Prosa, onde cultivavam suas roças (GARCIA apud WEINGARTNER, 1995).
Posteriormente, José Pereira ergueu um rancho nesse local conhecido como Serra de
Maracaju.
No ano seguinte, José Antônio regressou a Minas Gerais com a intenção de buscar seus
familiares, deixando João Nepomuceno, para ser o guardião de seu rancho, prometendo-
lhe o pagamento após o seu retorno (BARROS, 2010). Dessa maneira, percebe-se que
José Antônio Pereira e sua família não eram os primeiros residentes de Campo Grande,
contrapondo a afirmação de seu trineto Eurípedes Barsanulfo Pereira:
Fica evidente, a par dos escritos destes eminentes historiadores, que estes
sítios da então Província de Mato Grosso, ao tempo da chegada de José
Antônio Pereira, era solo de ninguém, área devoluta e sem habitantes.
Constituída de excelentes terras para o cultivo e vastas campinas para a
criação, guardou as suas potencialidades para serem feridas, à hora
aprazada, pelas mãos daquele mineiro idealista, e transformadas em leiras
fecundas, que acabaram brindando seus primeiros cultivadores, com
produções de ótima qualidade (PEREIRA, 2001, p. 21).
84
Além disso, Barros (2010) descreve que após três anos, surge a migração de outro
mineiro chamado Manuel Vieira de Souza, com a companhia de alguns familiares e
escravos. João Nepomuceno, sem esperanças do retorno de José Antônio Pereira,
negociou a transferência de terra, porém ressaltando o acordo que tinha feito com o
antigo proprietário. Contudo, após alguns meses, José Antônio Pereira retorna com seus
familiares.
Observa-se que já haviam residentes nessas terras, e que José Antônio Pereira
“apontado” como desbravador de Campo Grande é uma figura remanescente de uma
construção identitária com o intuito de legitimar a sua fundação do Arraial de Santo
Antônio do Campo Grande.
A antiga Fazenda Bálsamo, localizada na Avenida Guaicuru S/N, foi doada em 1966,
por Carlinda Contar, filha de Antônio Luiz Pereira, tornando-se o MJAP. Segundo
Mitidiero (2009), “o museu mantém a estrutura arquitetônica, explanando a visitação
85
pública a história regional através dos mediadores e do acervo”, e concomitantemente o
MJAP tende a corroborar para a construção do imaginário campo-grandense sendo
construído em 1873 e tombado como Patrimônio Histórico e Cultural em 1983.
Figura 1 – Museu José Antônio Pereira, em destaque escultura de Antônio Luiz Pereira,
com a esposa Anna Luiza e filha Carlinda (1999).
86
apresentar por meio dos artefatos e de sua arquitetura como era a vivência no final do
século XIX.
Segundo Ortiz (1988), na verdade não existe uma única identidade, mas uma história da
“ideologia da cultura brasileira”, variando ao longo dos anos e de acordo com os
interesses políticos dos grupos que a elaboram. Concomitantemente, entende-se que o
museu pode ser ressignificado pela população como lugar de lazer e realização de
projetos socioculturais e pelos mediadores culturais ao desconstruírem essa versão
histórica. Partindo do pressuposto de que “As identidades espaciais são fabricações
humanas, não estão inscritas na natureza, como algumas abordagens naturalistas
parecem indicar. Além do que não há elemento que componha um dado território que
não possua historicidade” (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2008, p. 63).
Assim sendo, percebe-se que a sociedade sofre de uma forte miopia cultural
(SCHWARZ, 1994), sem notar a construção de uma identidade que pode ser observada
nos museus, monumentos, pinturas, hinos, bandeiras, além de diversas construções que
limitam fronteiras, criam oposições e legitimam territórios.
Referências
87
MACIEL, M.L. Bodas de ouro de Anna Luiza e Antônio Luiz (04/03/1928). Fazenda
Bálsamo. Campo Grande, MS. Disponível em
<http://www.campograndems.net/fazbal/> Acesso em julho de 2016
88
ENSINO DE HISTÓRIA: A “AULA-VISITA” AO
MUSEU HISTÓRICO COMO METODOLOGIA
Eliane dos Santos Malheiros
As autoras traçam os caminhos que esta disciplina percorreu, ao ser legitimada enquanto
disciplina no Brasil, a partir do século XIX, no colégio Dom Pedro II, sendo que a
trajetória desta disciplina consiste em algo bastante complexo, sendo sustentada por
diferentes concepções e tendências historiográficas.
Schmidt e Cainelli (2009), apontam que, com a lei n° 5.692/71, houve a implantação da
disciplina de Estudos Sociais e, a disciplina de História ficou restrita apenas ao 2° grau,
com abordagem tradicional.
Portanto, a atividade que desenvolvemos com os alunos dos 8° e 9° anos, entre os anos
de 2008 e 2014, consiste em uma metodologia para o ensino de história, cujos
pressupostos estão fundamentados na educação histórica, pois busca compreender as
situações de ensino e aprendizagem histórica, bem como as apropriações feitas pelos
alunos, tendo em vista que estamos trabalhando com situações concretas de
aprendizagem, conforme observa Barca (2012).
90
A metodologia desenvolvida com os alunos, abrangeu as seguintes etapas: primeiro,
fundamentação teórica, com análise de textos sobre memória/documento, como aborda
Jacques Le Goff (1996): “Estes materiais da memória podem apresentar-se sob duas
formas principais: os monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do
historiador” (LE GOFF, 1996, p. 535)
No decorrer destes anos de 2008-2014, cada turma que participou desta atividade da
aula-visita ao Museu Histórico (8° e 9° anos), foi visível a mudança nestes alunos
quanto a percepção sobre a história, tendo em vista que muitos deles apresentavam uma
visão estereotipada e pejorativa em relação a história, portanto, nosso objetivo geral foi
atingido, pois podemos constatar através da avaliação das apresentações das equipes,
bem como nas mudanças de posturas no decorrer do ano letivo, em que se posicionaram
como protagonistas na construção da história, observando-a de forma mais dinâmica,
crítica e contextualizada.
Aplicação desta atividade como metodologia para o ensino de história, possibilitou que
refletíssemos sobre a nossa postura enquanto professores de história, ao desenvolvermos
determinadas metodologias, poderemos estar contribuindo [ou não] para o aprendizado
dos alunos, bem como, fazer com que os alunos participem das atividades propostas, e
constatem a importância desta participação, representa que conseguimos contagiá-los.
91
Referências
___________. Ideias chaves para a educação histórica: uma busca de (inter) identidades
Hist. R., Goiânia, v. 17, n. 1, p. 37-51, jan./jun. 2012, 28 de maio de 2012
SCHMIDT, Maria Auxiliadora & CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo:
Scipione, 2009
PINSKY, Carla B. (org.) Novos temas nas aulas de História. 2 ed. São Paulo:
Contexto, 2010.
92
EDUCAÇÃO HISTÓRICA E A FORMAÇÃO DOS
FUTUROS PROFESSORES DE HISTÓRIA
Elizabete Cristina de Souza Tomazini
“Eu sabia que queria ser professora, por que gosto muito de ensinar e
sabia da importância que meu professores tiveram no meu processo de
crescimento como aluna e como pessoa”. [Bolsista Rosa]
Introdução
Este texto apresenta resultados parciais da pesquisa que estamos realizando para o
Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Londrina e tem como título
provisório ” APRENDER A SER PROFESSOR: CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO
HISTÓRICA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES (PIBID HISTÓRIA
/UEL 2011-2013)”, seu objeto central é analisar como a participação de licenciandos do
curso de História desta universidade, no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID), pode contribuir para a formação destes futuros profissionais . Para
tanto, foi estabelecido um recorte temporal que contemplou o Subprojeto de História do
referido programa entre os anos de 2011-2013, por entender que neste período foram
realizadas atividades pensadas a partir de diálogos com o campo da Educação Histórica.
A seguir analisaremos algumas pesquisas deste campo sobre a formação inicial dos
professores de História.
Educação Histórica
Porém, Barca(2001) ressalta que para essa aprendizagem ocorra é preciso refletir
tambem sobre “a formação em Ensino de História e as práticas decorrentes que para
Barca não podiam ser ignoradas ”(BARCA,2001,p. 14). Por isso, se faz necessário focar
a atenção do professor muito mais em fortalecer a progressão dos conhecimentos
históricos que os alunos apresentam , em detrimento das convenções quantitativas e
conteudistas presentes até então. Contudo isso só ocorreria se os professores tiverem a
clareza sobre como atuar dentro destas novas perspectivas, para isso, ela destaca que:
93
1-Será útil que os professores experienciem a pesquisa histórica e, com
base nele, aprofundem o debate em torno de conceitos inerentes ao saber
históricos.
Schmidt e Garcia(2006) afirmam que a partir da década de 1980 “as pesquisas sobre
ensino de História têm crescido gradativamente no Brasil” e uma das questões que
despontaram foi a necessidade de “ melhorar a formação dos mestres e profissionalizar
o ofício de professor, desenvolvendo pesquisas que construíssem um repertório de
conhecimentos específicos sobre ensino[...]”( 2006. P. 16), pois muitas investigações
apontavam que melhorar a formação incial dos futuros professores poderia impactar nos
resultdos obtidos pelos alunos da Educação Básica.
Monteiro (2001) defende que a formação inicial pode ser um importante momento na
constituição dos saberes do futuro profissional desde que ele se constitui-se como um
processo de formação continuada , pois assim ele possibilitaria trocas, sensibilizar e
instrumentalizar os futuros docente em diferentes situações que provavelmente acabaria
se deparando em sua vida profissional.Além disso, ela defende que o professor é
“sujeito do trabalho que realiza e não um simples repassador de saberes produzidos por
outros.” (MONTEIRO, 2001).
Assim, uma formação que privilegiasse a experiência pautada na teoria poderia ser um
caminho no sentido de ampliar e melhorar a formação oferecida ao licenciandos de
história. Cainelli (2008) afirma, que a História ensinada pertence ao domínio do saber
historiográfico e que seu estatuto é o mesmo da História erudita. É preciso entender o
conhecimento histórico na perspectiva da investigação histórica para se ter condições de
ensinar história. (CAINELLI, 2008, p. 3). Este pensamento, segundo a autora não é
recente e quando analisamos os currículos propostos desde a implantação do Ensino de
História no século XIX até os dias atuais percebemos que houve uma preocupação em
relacioná-los com os estudos historiográficos, porém nem sempre o saber histórico
produzido em sala de aula seguiu o rigor científico exigido pela academia.
94
Entre as produções acadêmicas que tem como objeto de estudo os professores
analisamos as pesquisas de Gago(2007) Theobald(2007), Feitosa(2009), Cainelli(2012),
Divardim Oliveira(2012), Sobanski(em andamento) ainda que não estritamente focadas
na formação inicial dos professores de História, essas pesquisas nos forneceram
subsídios para refletir sobre o nosso objeto.
Assim, a partir desta autora, podemos inferir que a formação do professor afeta a forma
como ele se relaciona com alunos e conteúdos escolares. Por isso, Gago(2007) propõe
analisar como isso se dá partindo de uma investigação onde ela se utiliza da
metodologia da Grounded Theory . Como questão central de sua investigação pretendia
identifcar os perfis conceituais que os professores de História apresentavam em suas
narrativas , entendida por ela como uma das face da consciência histórica. Em suas
conclusões apontava que “ os dados do estudo final sugerem existir uma relação entre o
perfil da consciência histórica dos participantes e os sentidos de aprendizagem dos
alunos.(GAGO, 2007, p. 355). Assim percebia que um debate sobre como
“operacionalizar as questões referentes a Epistemoloia do conhecimento social” era
necessário e urgente.
Para Gago(2007, p. 339), esses debates não poderiam ser feitos de maneira unilateral ,
mas sim num “ percurso a ser construido entre professores de História e
educadores/formadores de professores de História, entre a escola e o ensino superior,
visando contínuo crescimento profissional de forma transformadora”.
Partindo das ideias que aponta que a capacidade de orientar-se no tempo seria a nossa
consciência histórica (RÜSEN,2001), Divardim de Oliveira(2012) investigou junto a
professores da rede publica de Araucária como estes constituiam o conceito de
aprendizagem histórica a partir das ideias de Rüsen (1992; 2001; 2006; 2007; 2009 e
2010), Schmidt (2009; 2010 e 2011), Barca (2006) Lee (2006). Como resultados de sua
pesquisa aponta que
Outra pesquisa que busca refletir sobre os impactos da formação inicial no futuro
docente foi realizada por Mariana Reis Feitosa (2009), que em sua dissertação “O
LUGAR DA PRÁTICA DE ENSINO E DO ESTÁGIO SUPERVISIONADA NA
FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE HISTÓRIA: UM ESTUDO SOBRE O
CURSO DE HISTÓRIA DA UNESP/ ASSIS”, em seus estudos entrevistou egressos do
curso de História da Universidade Estadual Paulista, e identificou que a “Universidade
ainda discute pouco, ou de forma sutil a formação de professores”( FEITOSA,2007, p.
7). Para ela esta situação deveria servir como um “alerta para uma revisão a respeito da
preparação de professores por parte de docentes e discentes do referido curso e de
outros cursos de licenciatura.”(FEITOSA, 2007, p. 7)
Feitosa (2009) destaca que essa necessidade em repensar da formação dos professores
poderia ser explicada pelo, aparente, distanciamento das universidades em relação à
Educação Básica, e pela percepção de que existiria um pretenso privilégio da pesquisa
e da pós-graduação, em detrimento aos, cursos de graduação, principalmente, as
Licenciaturas.
96
Rita de Cássia Gonçalves Pacheco dos Santos em sua tese “A SIGNIFICÂNCIA DO
PASSADO PARA PROFESSORES DE HISTÓRIA” entende que
Ou seja, como os outros autores aqui citados identifica que o professor de História
carrega para as suas atividades profissional ideias que podem interferir e influenciar a
forma e o que ele trabalha com os alunos da Educação Básica. Em sua pesquisa
investiga um grupo de professores da rede pública de Curitiba (Paraná), entendendo que
“são sujeitos importantes dentro do contexto escolar e estudar suas ideias e suas crenças
auxilia o entendimento do processo de aprendizagem histórica”(SANTOS, 2013, p. 26)
Conclusões parciais
Apresentamos aqui algumas obras que investigam o professor a partir do campo teórico
da Educação Histórica, na maioria delas percebemos que a formação inicial tem um
papel significativo na forma como este profissional desempenha suas funções em sala
de aula. Ideias que já eram debatidas por Cainelli(2001), quando esta apresenta
importante discussão sobre a formação que se deveria oportunizar aos licenciandos do
curso de História.
CAIMI, Flavia Eloisa. Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões sobre
ensino, aprendizagem e formação de professores de História. Revista Tempo, Rio de
Janeiro. v.11, n. 21, 2007 Disponível em:
http://www.historia.uff.br/tempo/site/?cat=49. Acesso em: 30 de Abril de 2012
98
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO ARQUIVO
PÚBLICO DO RS: MEMÓRIA, JUSTIÇA E ENSINO
DE HISTÓRIA
Erick Vargas da Silva
A fundação da APERS data de 1906 e levaria pouco mais de um século para que viesse
a se abrir para a realização de ações educativas, através de uma parceria com a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) a partir de 2008. Esta recente
abertura da APERS para as ações educativas representa uma importante mudança no
perfil da própria instituição, que corrobora para uma alteração do papel desempenhado
pelos Arquivos Públicos no país. “As ações educativas ainda representam uma atividade
que se desenvolve na menor parcela dos arquivos públicos brasileiros.” (RIBEIRO;
TORRE, 2012, p.67). Lacuna que talvez ajude a explicar o certo distanciamento
colocado entre tais instituições e a população em geral.
O tema do golpe de 1964 e o regime ditatorial que segui-se até o ano de 1985, tem
ganhado no último período uma importante visibilidade na sociedade como um todo. Ao
se completarem os 50 anos do golpe neste ano de 2014, suscitou-se um importante
debate sobre a memória destes acontecimentos e a busca por justiça as violações
praticadas pelo regime ditatorial. Ao longo dos últimos anos, diversos atores da
sociedade civil têm pressionado o Estado brasileiro em busca de reparações e
reconhecimento, fomentando um maior ativismo social em torno do tema. A memória
como um objeto de luta de movimentos sociais se faz cada vez mais presente, como
podemos observar nas mobilizações em diversos pontos do país para alteração de nomes
de lugares e espaços públicos que prestam homenagens a agentes da ditadura. A
instalação da Comissão Nacional da Verdade, em 16 de maio de 2012, ainda que com
seus limites de atuação, representou um importante avanço no reconhecimento do
Estado sobre a necessidade de um ajuste de contas entre a verdade e a memória em
nosso país.
Tomando os devidos reparos e cautela, esse novo ambiente, de alguma forma faz
emergir uma revigorada noção de “dever de memória” ou “direito a memória” -
conceito talvez mais adequado a realidade brasileira - onde a memória deve se articular
a noção de justiça.
Se é um fato que inegavelmente muito se avançou no Brasil nestes últimos anos, ainda
temos um longo percurso a ser trilhado para romper com certos “esquecimentos”, sejam
eles deliberados ou involuntários. O direito a memória e a justiça se apresentam como
uma questão inconclusa na sociedade brasileira, “a evocação pública dessa memória não
remete a uma obrigação socialmente compartilhada" (HEYMANN, 2006, p.21), sendo
este um embate que ainda seguirá na “ordem do dia” no debate público. O ensino de
História pode e deve ser pensado incorporando criticamente esta problemática.
Possibilitando a docência em História ganhar uma importante dimensão reflexiva ao
empreender um esforço de ligar a prática educativa ao debate da memória.
Refletir o ensino de História e o uso da memória pressupõe escolhas e posturas por parte
do professor. Se como apontou Nora, "a memória é um tipo de justiça", o professor de
História deveria empreender este esforço em sua prática docente, pois "hoje em dia, a
História deve proporcionar o conhecimento, mas a memória dá o significado."
(NORA,2009, p.9). O que pode decorrer desta noção uma perspectiva de
complementariedade entre a História e o uso da memória. As opções efetuadas pelo
docente na busca por significados se dá em condições que envolvem uma tensão entre a
História e o uso da memória. As fronteiras que delimitam os espaços de cada uma
destas dimensões nem sempre são nítidas e pacíficas.
101
Nesta perspectiva, buscando contornar a tensão entre o ofício da História e a memória,
preenchendo algumas das lacunas para a prática de ensino, que se coloca a importância
das Ações Educativas para o ensino de História na educação básica.
Conclusões
Bibliografia
GIL, Carmem Zeli de Vargas. Patrimônio Cultural e ensino de história: reflexões sobre
a remoção de uma vila de classes populares. In: GASPAROTTO, A. et al. Ensino de
história no CONESUL: Patrimônio cultural, territórios e fronteiras. Jaguarão:
Evangraf, 2013.
RAMOS, Francisco Régis Lopes. Uma questão de tempo: os usos da memória nas
aulas de história. In: Cadernos Cedes, vol.30, nº82. Campinas: Unicamp, 2010.
104
ENCENANDO O PASSADO: A TRAGÉDIA GREGA
NA SALA DE AULA
Erivaldo Cavalcanti dos Santos Jr
Em suas origens, na Grécia, o teatro surge da tradição oral, que por meio da fusão entre
a música e a poesia (Ditirambo), traduzia num coro seus louvores aos deuses, sobretudo
com exaltações direcionadas ao deus Dionísio. Estes coros, inicialmente formados por
dois grupos de dez pessoas, sendo dez homens e dez rapazes (CASTIAJO, 2012, p.
103), apresentou uma série de evoluções, sendo o mais notável progresso, introduzido
por Téspis, creditado como o primeiro a se distinguir do coro e interpretar as narrativas
de seus antepassados.
Ainda que o fascínio pelo teatro grego fosse existente por parte dos historiadores e o
desejo de portar estes elementos pedagógicos do teatro para a educação fosse existente,
uma relutância à introdução de novas metodologias no currículo escolar do ensino de
História se fazia maioria. A herança ainda pulsante dos acadêmicos, principalmente os
do século XIX, o que tornava inviável a utilização das artes como fonte (WHITE, 1994,
p.40-41).
No século XX, com a difusão das novas correntes de pensamento, sobretudo as ideias
propagadas pelos historiadores franceses, foi possível vislumbrar um enfrentamento aos
antigos paradigmas existentes na produção historiográfica. Estas correntes de
pensamento surgem com o objetivo de repensar o ofício do profissional da História e
principalmente de problematizar o passado. Posteriormente estes debates foram
amplificados e levados para o âmbito educacional.
105
"É bem possível que a tarefa mais difícil que a atual geração de
historiadores é chamada a realizar seja expor o caráter historicamente
condicionado da disciplina histórica, presidir a dissolução da reinvindicação
de autonomia que a história mantém com respeito às demais disciplinas e
promover a assimilação da história a um tipo superior de investigação
intelectual que, por estar fundada numa percepção mais das semelhanças
entre a arte e a ciência que das suas diferenças, não pode ser adequadamente
assinada nem por uma nem por outra". (WHITE, 1994, p. 41)
Ainda nesta mesma década, houve um acirramento no debate sobre a renovação dos
métodos de ensino. De um lado estavam aqueles que defendiam a plena renovação dos
métodos de ensino de História, alegando que a “História tradicional” já não
correspondia aos novos questionamentos dos estudantes e que a grade curricular e seus
extensos e abrangentes conteúdos não envelheceram bem. Por outro lado, os
“tradicionais” afirmavam que grande parte destas experiências já haviam sido testadas e
em poucas ocasiões obtiveram resultados relevantes.
Apesar dos constantes combates de ideias, por fim, existiu-se o consenso entre as partes.
Os “tradicionais” tornaram compreensíveis seus argumentos aos “inovadores” de que é
inviável por muitas vezes desfazer-se dos métodos que fazem o ambiente escolar ser o
ambiente escolar. Por sua vez, os inovadores também se fizeram compreender aos
tradicionais a necessidade de modificar os métodos de ensino as diferentes formas de
aprendizado e as diferentes condições culturais e sociais dos estudantes. Com esse
consentimento de ambas as partes, tornou-se possível, enfim, ao teatro ocupar o devido
espaço como um método para o ensino de História.
106
“O desejo de mudanças para melhor desempenhar o trabalho com os alunos
tem estado presente na história da prática docente, mas é preciso entender
que métodos e conteúdos se constroem historicamente e fazem parte de uma
produção escolar sedimentada e incorporada pela sociedade. As mudanças
de métodos e conteúdos precisam ser entendidas a luz de uma ‘tradição
escolar’, sendo necessário perceber, por intermédio desse conceito, dois
aspectos fundamentais. [...] Outro aspecto a ser levado em conta no processo
de renovação é o entendimento de que muito do ‘tradicional’ deve ser
mantido, porque a prática escolar já comprovou que muitos dos seus
conteúdos e métodos escolares tradicionais são importantes para a formação
dos alunos e não convém serem abolidos ou descartados em nome do
‘novo’”. (BITTENCOURT, 2008, p. 229).
O teatro grego então se apresenta como uma ferramenta valiosa para a criação de pontes
conectando o passado que aparentemente está isolado e intocável com a nossa realidade.
Esta característica de comparar a Antiguidade e o tempo presente é maior aproveitada se
o docente apresenta conhecimento prévio das obras utilizadas e, quando o mesmo se
propõe a adaptar o enredo das peças, reduzindo e mesmo simplificando alguns diálogos
e suavizando algumas temáticas de maior densidade. Estas práticas que parecem claras a
aqueles que pretendem utilizar o teatro como método de aprendizagem ou mesmo como
fonte, porém, no ambiente escolar, a realização destas pequenas atividades de maneira
prévia tende a poupar o tempo hábil para executar tais projetos.
As tragédias gregas tem maior utilização em ambientes escolares, pois, trás como
característica personagens de grande personalidade, envolvidas em intrínsecos dramas
pessoais com grande carga emocional. O enredo, o destaque maior do espetáculo
trágico, era utilizado pelos tragediógrafos como um espelho perverso da sociedade
ateniense, e questionava poderes políticos e sociais.
A Catarse será um dos elementos da tragédia que justificam sua utilização em sala de
aula, não a purificação da alma, mas a identificação com a problemática apresentada e
ao identificá-la trazer estas questões para o nossos tempos, tomadas as devidas
proporções, baseado nas experiências transmitidas pelos heróis trágicos e as lições
retiradas das peças de teatro.
107
Pode-se, por exemplo, citar Antígona, tragédia pertencente a Sófocles, que narra a
persistência de uma mulher, que na antiga Grécia tinha suas atuações limitadas ao
ambiente doméstico, em desafiar as imposições tiranas de Creonte, rei de Tebas seu tio.
Antígona rebela-se contra suas limitações políticas e domésticas, travando um combate
pelo seu espaço na sociedade, tal qual as mulheres que nos dias atuais ainda buscam
posições de maior destaque na sociedade. Ou mesmo os dramas vividos por Hécuba em
As Troianas de Eurípides, que mostra o lado inglório dos vencedores de um combate e o
drama dos derrotados, o mesmo drama que assistimos diariamente nos meios de
comunicação.
Referências Bibliográficas
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
OLIVEIRA, Francisco de. Teatro e Poder na Grécia. Humanitas, Coimbra, v. 45, p. 69-
94, 1993.
108
“A TERRA ENTRE OS RIOS”: O ENSINO DE
HISTÓRIA SOB UM NOVO VIÉS
Fernanda Carolina Pereira dos Santos
Heloisa dos Santos Santana
De modo geral, os objetivos citados acima foram elaborados com o intuito de aproximar
o aluno do conteúdo de história através de ferramentas da utilização de ferramentas por
109
tecnológicas (celular, tablet, youtube). Em relação a metodologia utilizada no
desenvolvimento do projeto, esta foi dividida em cinco etapas. Inicialmente, houve um
trabalho de instigação dos alunos e explicação da metodologia do projeto, no qual a
turma foi dividida em grupos para a distribuição dos temas. Em seguida, as bolsistas
juntamente com os alunos construíram um mapa conceitual referente às noções básicas
de conhecimento sobre a Mesopotâmia. No segundo encontro, trabalhou-se com os
alunos considerações sobre a irrigação na Mesopotâmia e a partir disso foi feita a
comparação entre a irrigação mesopotâmica e a realizada no semiárido nordestino.
Nessa aula, também houve a utilização do Google Maps como ferramenta que permitiu
aos alunos a visualização da atual localização mesopotâmica e pontos do nordeste onde
são realizadas irrigações dos mais diversos tipos. Na terceira aula os alunos produziram
os mapas conceituais a respeito de cada um dos povos mesopotâmicos com o auxílio de
pesquisas na internet. Na quarta aula realizou-se a elaboração das paródias, que como já
mencionando teve como objetivo durante o projeto auxiliar a fixação do conteúdo,
possibilitando um conhecimento descontraído e um meio de avaliação não tradicional.
Na quinta e última aula os alunos expuseram os produtos obtidos (mapa conceitual e
paródia) no projeto para a turma.
Referências
110
CARDOSO, C. F. Sociedades do Antigo Oriente Próximo: São Paulo, 2005. P. 29 –
50.
111
AS MÚLTIPLAS TRAJETÓRIAS DE UM
COLETIVO JUVENIL: TERRITÓRIOS
EDUCATIVOS E TESSITURAS EM REDES DE
SOCIABILIDADE EM BELO HORIZONTE
Flávia Cristina Lages Vasconcelos
Desde o primeiro encontro com os jovens nesse espaço, surgiram questões que
estiveram presentes nos debates em sala de aula. Na realização dessa etapa, outros
questionamentos emergiram.
Com essa frase – “se ninguém faz, nós pega e faz” –, esse coletivo tem atuado nas áreas
culturais, sociais e políticas da cidade e em outras localidades. Todos seus integrantes
salientam a força e a união como articuladoras de um projeto de inserção na cultura de
rua e da juventude na cidade, carente de espaços de lazer, cultura e conhecimento.
A apropriação das ruas e espaços públicos está além dos direitos sociais, é o locus de
representações e interações sociais, em que coabitam sociabilidades, identidades e
concepções de pertencimento.
Sendo assim, periferia, favela, morro, subúrbio, vila, aglomerado, comunidade, gueto,
classes populares, pobres, miseráveis, favelados, manos, minas, jovens, adolescentes,
112
trabalhadores, estudantes... Tratando-se de nomeações nativas ou de categorias de
análise, todas essas palavras identificam lugares e sujeitos que é alvo de pesquisas em
diferentes campos de conhecimento, principalmente nas áreas da Educação e Ciências
Sociais, bem como foco de ações públicas e políticas. Essa pluralidade de nomes e
conceitos indica uma multiplicidade de maneiras de apreensão da dinâmica das cidades
focalizada nos espaços, nas práticas, nas sociabilidades, nas vivências e nas
representações de seus moradores.
Essas tessituras de sociabilidade que são produzidas pelos jovens do coletivo e pelos
participantes nos mais variados eventos socioculturais podem possibilitar o
fortalecimento das experiências e vivências de cada um deles, como também os
vínculos com um conhecimento prévio dos espaços subterrâneos da cidade, isto é, o
reconhecimento das inúmeras dificuldades de quem vive e mora nas periferias e interage
com os espaços públicos no centro da cidade, tornando-se protagonistas e sujeitos de
seu tempo.
Assim posto, as reflexões educativas sobre esses territórios espaciais dentro da cidade
apontam direcionamentos que articulam as tessituras entre saberes, conhecimento,
vivências, experiências, capacitação, convivências, que são identificados como
aprendizagem não formal que dialoga, em várias instâncias, com uma aprendizagem
formal.
Pode se dizer que os ambientes virtuais se configuram como locais em que diferentes
sujeitos, a maioria jovens, constroem representações de si mesmos. Composições que
combinam a participação em uma variedade de comunidades que auxiliam na
identificação dos gostos dos usuários e publicam atributos, vontades, desejos pessoais e
minimamente os compartilham com outros. Nesse sentido, interessa, portanto
compreender a “construção de sociabilidade” desses jovens que na construção de um
perfil se amparam por novos elementos definidores de si, apresenta formas de ser e estar
no mundo através das redes digitais de comunicação.
Nesse sentido, vale à pena indagar: Existe uma dimensão educativa nesse coletivo
juvenil e suas ações? Quais as características desse coletivo juvenil em suas ações no
campo objetivo e subjetivo, e na dimensão político-pedagógica? Como podemos
perceber se existe uma diversidade dentro desse coletivo juvenil e em suas variadas
interações? Como categorias usuais da cultura, tecnologia e da educação podem
dialogar com a constituição do universo on-line nesse coletivo juvenil? Qual é a
dimensão espacial, isto é, lugares e não lugares de atuação do coletivo em processos
educativos? Como se dá a construção, a disseminação e a participação desse coletivo
juvenil em outros movimentos dentro da cartografia da cidade e sua relação com o
poder instituído?
Diante de um modelo que configura uma maneira de ser visto e compartilhando suas
idéias é através das redes sociais, que hoje tem imenso alcance universo dos jovens que
compartilham maneiras de ser, estar e participar da cartografia da cidade.
Sendo assim, partimos do princípio de que um dos pressupostos é que esses jovens estão
construindo mediações com todos os movimentos sociais e que suas estratégias de
atuação compõem redes de sociabilidade por meio da produção de saberes.
Referências
DAYRELL, Juarez; LEÃO, Geraldo; REIS, Juliana Batista. Juventude, pobreza e ações
educativas no Brasil. In: SPOSITO, Marília Pontes. Espaços públicos e tempos
juvenis: um estudo de ações do poder público em cidades de regiões metropolitanas
brasileiras. São Paulo: Global, 2007. p. 47-82.
115
O USO DE IMAGENS NO ENSINO DO EGITO
ANTIGO: A RELAÇÃO HOMEM E MEIO
AMBIENTE
Geraldo Magella de Menezes Neto
Introdução
A forma como o conteúdo de Egito antigo é abordado nos livros didáticos é criticada
por Raquel dos Santos Funari. Apesar de ser um assunto presente nas mídias, como o
cinema e jogos, o Egito acaba sendo visto de forma resumida no livro didático. No
entanto, Pedro Paulo Funari destaca que houve uma renovação nos estudos sobre a
História Antiga no Brasil desde os anos 1980, ressaltando que esta “não se faz apenas
com documentos escritos, mas também com a cultura material, com o estudo
arqueológico de edifícios, estátuas, cerâmica, pinturas.” Nessa perspectiva, o Egito já
não são apenas os faraós, mas também as muitas e muitas aldeias, não há apenas
continuidade, mas mudança, mostra-se que ali conviviam povos e culturas variadas.”
(FUNARI, 2012, p. 96-97).
Nesse sentido, propomos neste breve trabalho uma forma diferente de se trabalhar o
Egito antigo no ensino fundamental: a partir de imagens que explorem a relação entre
homem e meio ambiente. Várias pinturas de tumbas egípcias representam cenas da
atividade agrícola e os usos dos animais, sendo uma fonte importante para ser utilizada
em sala de aula. Segundo Eduardo França Paiva, “a iconografia é, certamente, uma
fonte histórica das mais ricas, que traz embutida as escolhas do produtor e todo o
contexto no qual foi concebida, idealizada, forjada ou inventada.” (PAIVA, 2006, p.
17).
Uma discussão importante a se trabalhar com os alunos em relação ao Egito antigo diz
respeito à agricultura, pois as atividades agrícolas eram o setor fundamental da
economia agrícola antiga, sendo suas cenas representadas nas pinturas e relevos murais
das tumbas. A vida agrícola se desenvolvia, segundo Ciro Flamarion Cardoso, em
função das três estações do ano: a inundação (julho-outubro), a “saída” ou
reaparecimento da terra cultivável do seio das águas, época da semeadura (novembro-
fevereiro), e a colheita (março-julho). (CARDOSO, 2004, pp. 28-29).
117
Imagem 1: Um relevo de túmulo descreve trabalhadores arando os campos, colhendo as
colheitas e trilhando o grão sob a direção de um superintendente, pintado no túmulo de
Nakht. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Tomb_of_Nakht_(2).jpg
Acesso em: 27 fev. 2017.
A imagem 1 pode ser tomada como ponto de partida para se fazer uma descrição da
atividade agrícola no Egito Antigo e as etapas de arar, colher e trilhar. Uma atividade
possível a partir dessa imagem seria estimular os alunos a criarem histórias em
quadrinhos tendo como foco a agricultura, retratando o cotidiano de uma família
egípcia. Raquel Funari sugere, por exemplo, “pedir ao aluno que crie seus próprios
personagens”, sendo o que importa é que “o cenário em que se desenrola a ação seja o
antigo Egito. (FUNARI, 2004, p. 152).
Nas cheias do rio Nilo, os egípcios aproveitavam para praticar a irrigação em lugares
mais distantes com o uso do shaduf:
118
Imagem 2: Cena de um jardineiro usando um Shaduf – Tumba de Ipuy em Deir-el-
Medina, margem ocidental de Tebas. Disponível em: http://antigoegito.org/agricultura-
egipcia/ Acesso em: 27 fev. 2017.
119
Imagem 3: Lavoura – Pintura na tumba de Sennedjem. Disponível em:
O gado maior, como os bois e asnos, servia em primeiro lugar para puxar o arado, para
separar os grãos da palha e para o transporte. A criação do gado era feita em duas
etapas: na primeira fase, os animais viviam em liberdade; em seguida, alguns deles eram
selecionados para a fase de engorda, durante a qual eram cevados, às vezes à força. Já o
cavalo era usado para puxar carros, e não montado. (CARDOSO, 2004, pp. 32-33).
A partir das imagens 3 e 4, o professor pode discutir com os alunos os diferentes usos
dos animais no Egito Antigo, e o quanto eles foram fundamentais para aquela
sociedade. Essa abordagem nos leva a “observar a espécie humana como uma das
espécies constitutivas da natureza, cuja possibilidade de existência só é possível numa
‘relação de interação’, e não de destruição ou exploração do meio natural.” (CAROLA,
2010, p. 178). Em relação aos animais, ainda podemos tratar da caça, que segundo
Cardoso, era praticada no deserto e nos pântanos, usando-se para tal o cão, o arco e o
laço, e capturando-se aves selvagens com redes. (CARDOSO, 2004, p. 33). A imagem
abaixo, por exemplo, representa uma cena de caça de pássaros.
120
Imagem 5: Pintura de parede do túmulo de um nobre chamado Nebamun. O túmulo de
Nebamun foi construído por volta de 1400 a.C. perto da cidade de Tebas. Disponível
em: http://www.ancientegypt.co.uk/life/explore/hunt.html Acesso em 01 mar. 2017.
Eduardo Paiva nos alerta que a imagem “não é a realidade histórica em si, mas traz
porções dela, traços, aspectos, símbolos, representações, dimensões ocultas,
perspectivas, induções, códigos, cores e formas nela cultivadas.” (PAIVA, 2006, p. 19).
Dessa forma, ao se trabalhar com os alunos, é necessário chamar a atenção de que essas
imagens sobre o Egito são fontes históricas que nos trazem indícios da sociedade
daquela época. A recorrência da presença de animais pode ser percebida como um sinal
de que eles eram valorizados naquele contexto, e que eles auxiliavam a movimentar a
economia agrícola.
Uma atividade interessante seria uma comparação entre os usos dos animais no Egito
antigo e no presente. O professor pode solicitar aos alunos que façam dois desenhos, um
representando as semelhanças, e outro as diferenças no modo como as duas sociedades
se relacionam com os animais. Em cada desenho o aluno deve escrever uma legenda
explicativa.
Esperamos que este breve trabalho possa estimular novas abordagens no ensino do
Egito antigo. Entendemos que o Egito pode ser visto de forma mais criativa e
significativa para os alunos, estabelecendo relações entre o passado e o presente. Nesse
sentido, o uso de imagens que exploram a relação homem e meio ambiente pode ser um
interessante caminho para isto.
121
Referências Bibliográficas
ARRUDA, Gilmar. Natureza: uma nova “sala de aula” para o ensino de História. In:
OLIVEIRA, Margarida Dias de; CAINELLI, Marlene Rosa; OLIVEIRA, Almir Felix
Batista de (orgs.). Ensino de história: múltiplos ensinos em múltiplos espaços. Natal:
EDUFRN, 2008.
CAROLA, Carlos Renato. Meio ambiente. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (org.). Novos
temas nas aulas de História. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2010.
FUNARI, Pedro Paulo. A renovação da História Antiga. In: KARNAL, Leandro. (org.).
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2012.
FUNARI, Raquel dos Santos. O Egito na sala de aula. In: BAKOS, Margaret. (org.).
Egiptomania: O Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004.
PAIVA, Eduardo França. História & imagens. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
122
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE
HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
MARANHÃO (UEMA) E OS REFLEXOS NA
FORMAÇÃO DOS GRADUANDOS
Gustavo Barra de Araujo
Nesse artigo são expostas possíveis conclusões que podem ser tomadas a partir do
trabalho de conclusão de curso realizado em 2014 onde se utilizou dos relatórios de
estágio para, através desses relatos de experiências, se analisar como tem sido o ensino
de História em escolas da rede pública de Ensino Médio de São Luís do Maranhão. Para
isso, leva-se em consideração a importância dada ao estágio curricular, componente
curricular da Dimensão Prática dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA).
Dimensão Prática nos cursos de licenciatura da UEMA propõe, dentre outros, aproximar
a realidade dos futuros profissionais da educação com a realidade da prática docente.
Seus componentes curriculares (prática curricular; estágio curricular das licenciaturas e
outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais/AACC) foram
sistematizados por meio da Pró-reitoria de Graduação (PROG), presentes na Resolução
nº 890/2009/ CONSUN/ UEMA e no Manual da Dimensão Prática dos Cursos de
Licenciatura da UEMA (2011).
Percebe-se assim que a UEMA e o seu curso de História têm alterado suas estruturas
pedagógicas visando possibilitar que o estudante em licenciatura imerja no cotidiano
escolar e possa tecer reflexões sobre as práticas realizadas pelos professores e elaborar
seus diagnósticos sobre o ensino durante suas vivências e as regências de classes. Das
atividades propostas, preserva-se a importância dos estágios curriculares, onde as
reflexões e diagnósticos realizados pelos estagiários devem estar presentes em seus
relatórios. Acredita-se que a prática curricular permite desenvolver esse processo de
imersão durante o processo de formação, sendo o estágio o momento em que o aluno
tem uma relação mais direta com a atuação docente que será constante em sua profissão.
Essa relação se faz necessária para possibilitar uma maior aproximação entre teoria e
prática, considerando também o que expõem Barreiro e Gerbran (s/d, p. 88):
123
Destarte, crê-se que, conforme defendido por Pimenta e Lima (2001, p. 45 e 49), se
facilita que as teorias sirvam como “trilhas para a proposição de novas experiências”,
possibilitando aos professores tomar as ações de análise e compreensão dos “contextos
históricos, sociais, culturais, organizacionais, e de si mesmos como profissionais, nos
quais se dá sua atividade docente, para neles intervir transformando-os”.
Assim sendo, realizou-se análise dos relatórios dos estagiários do curso de História da
UEMA para, a partir de experiências e inferências por eles feitas, procurar compreender
como essa instituição de ensino superior tem possibilitado aos graduandos analisar as
práticas realizadas no cotidiano escolar e relacioná-las com as teorias que tem contatado
nos componentes curriculares do curso de graduação. Além disso, visou-se perceber
como o curso de História dessa instituição tem possibilitado que seu corpo discente
possa traçar caminhos para buscar alcançar os objetivos presentes em documentos
legais, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) e os
Parâmetros Curriculares Nacionais (2000), sobre o ensino da História.
Partindo das análises desses relatórios, depreendeu-se muitas reflexões teóricas sendo,
de algum modo, incorporadas pelos estagiários. Tais reflexões podem ser observadas
principalmente quando citam alguma dificuldade vivenciada (período de regência do
estágio curricular) ou observada (período de observação do estágio curricular). Como se
vê nos seguintes trechos de relatórios:
[...]
124
ambientes diferentes, o particular e o geral, o local e o regional, a pensar no
seu patrimônio cultural. (Relatório de Estágio de Ensino Médio, 2013)
E ainda ao abordar a importância de se ter olhar crítico sobre o livro didático, pois
Diante disso, percebe-se que o Estágio Curricular possui grande importância para
possibilitar ao estagiário trilhar suas ações docentes a luz das teorias contatadas na sua
125
formação no curso de História. Vê-se também que há ainda muitas problemáticas a
serem enfrentadas no ensino de História. Um ponto perceptível está na própria atuação
do docente. O seu planejamento e as metodologias utilizadas ainda estão, muitas vezes,
muito distantes da realidade do alunado. Não se possibilita muito o uso da criticidade
por parte do aluno.
Referências
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. 6 ed.
São Paulo: Cortez, 2011.
127
OS CRISTÃOS-NOVOS NA PRODUÇÃO
DIDÁTICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Helena Ragusa
“A história da educação judaica no Brasil ainda está por ser feita” (FALBEL, 2008, p.
321), deste modo num amplo leque de possibilidades e perspectivas para refletir em
torno desta questão, optamos por situar nosso estudo nos primórdios de nossa
colonização, quando os cristãos-novos já marcavam presença, conforme constatamos na
análise dos textos veiculados em escolas de orientação judaica. Já no que toca a
produção didática brasileira, que entre outras demandas, buscam atender as Diretrizes
Curriculares Nacionais e o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), constatamos
algumas lacunas, silêncios e distorções em relação à atuação destes sujeitos, como se
não tivessem participado de nossa formação.
Refletindo sobre a questão das finalidades ou demandas, aquelas das quais nos fala Julia
(idem:10), nos voltamos para aquelas que atentam para o cunho religioso. Conforme
Anne-Marie Chartier (2005), embora não se creia mais no papel cristianizador das
escolas, nos países que sofreram a colonização, como é o caso do Brasil, a dominação
cultural exercida pelo Ocidente, impondo seus modos de pensar, suas categorias, suas
128
referências e seus sistemas de valores promoveram certamente uma educação pautada
no cristianismo (idem:18).
Os livros didáticos que ora nos propusemos a investigar foram aqueles que de maior
circulação e que tiveram o conceito ótimo pelo PNLD, e, no que diz respeito ao material
didático utilizado pelas escolas de orientação judaica, nosso critério pautou-se também
na circulação de um deles, que ainda é significativa e em um outro por apresentar
aspectos diferentes quanto à sua elaboração quanto na utilização. O fato é que sobre
estes últimos, o cristão-novo surge de modo muito mais abrangente do que aquela
percebida nos materiais que circulam as escolas não judaicas. Este é o caso do III
volume da série Caminhos do povo judeu, organizado por Renato Mezan, voltado para o
Ensino Médio. Parte de uma série organizada para o curso de História Judaica, traz
também inúmeras referências à História Geral e a nossa História, não estando, portanto,
desvinculado do conhecimento histórico que abarca as estruturas das demais sociedades
e dos períodos que a compõe. Nele, o autor refere-se aos cristãos-novos como aqueles
que colaboraram ativamente nos anos iniciais do povoamento da colônia portuguesa,
como foi o caso de Fernando de Noronha, um dos que recebeu a concessão de
monopólios reais.
Outro aspecto completamente ignorado pelas obras didáticas seguidas pelas escolas não
judaicas em comparação à obra de Mezan seria a importância que os judeus tinham para
a Corte Portuguesa e os conhecimentos desenvolvidos e aprimorados por eles durante as
Grandes Navegações.
129
A partir desse momento, surge o cristão-novo como colaborador do domínio da Holanda
sobre o Brasil e o retorno dos mesmos para sua antiga religião. Os judeus de Amsterdã
também aparecem, ao lado de outros soldados contratados para ajudar no plano de
dominação, ao lado dos cristãos-novos enquanto financiadores da indústria do açúcar, e
outras atividades que provinham da mesma. Ao descrever sobre os diversos setores em
que a comunidade israelita atuou, judeus e cristãos-novos, e o modo como contribuíram
para o desenvolvimento da região a autora possibilita ao aluno ter uma maior dimensão
sobre a participação dos mesmos na sociedade que passaram a integrar e os legados por
eles deixados, tanto na medicina, quanto a própria religiosidade, a engenharia, a
advocacia.
Fontes:
MEZAN, Renato. Caminhos do povo judeu. São Paulo, 2ª edição: Editora Renascença,
1974. Vol III.
Referências bibliográficas
JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. In: Revista brasileira de
História da Educação. Campinas, 2001.
131
A APRENDIZAGEM COOPERATIVA POR MEIO
DA MONITORIA ACADÊMICA: RELATOS DE
UMA EXPERIÊNCIA
Heraldo Márcio Galvão Júnior
Rafael Rogério Nascimento dos Santos
Introdução
Esta Lei, que fixava normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua
articulação com a escola média, trazia apenas o pequeno excerto transcrito acima
referente à monitoria e precedeu o Decreto nº 66.315, de 1970, que dispôs sobre o
programa de participação do estudante em trabalhos de magistério e em outras
atividades dos estabelecimentos de ensino superior federal. Neste, a função da monitoria
aparece de maneira mais especificada e detalhada.
Referências Bibliográficas
135
ENSINO DE HISTÓRIA E SIMBOLOGIA PARA
SÉTIMOS ANOS: DO PERÍODO MEDIEVAL AOS
DIAS ATUAIS
Isabele Fogaça de Almeida
Lucas Eduardo de Oliveira
Mas é válido notar que o uso de símbolos não é uma característica dos tempos atuais,
pois sempre estiveram presentes nas organizações dos grupos sociais. Em especial, no
período medieval, é possível perceber o uso da simbologia.
Este trabalho visa apresentar os resultados de uma experiência didática realizada por
meio de uma oficina pedagógica que teve como objetivo aprofundar o conhecimento
sobre alguns dos símbolos utilizados na época medieval e que tem elementos presentes
na sociedade atual. Essa oficina consistiu-se em uma das formas de intervenção do
subprojeto de História, do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência
(PIBID), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) na disciplina de História,
em turmas do sétimo ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Professora Linda
Salamuni Bacila, em 2015. O projeto de ensino foi complementar ao conteúdo previsto
no Plano de Trabalho Docente sobre a Idade Média.
136
sua importância com os logotipos utilizados na sociedade atual e sua importância
simbólica.
Estabelecendo relações com essas imagens, foi apresentada a origem dos brasões
utilizados pelas famílias e instituições na Idade Média. A utilização dos brasões, a
princípio consistia num desenho que seguia as leis da heráldica, com o intuito de
identificar famílias. Para explicar como eram escolhidos e compostos os brasões na
Idade Média, na sequência, foi entregue aos alunos uma folha com significado de cores
e símbolos que poderiam compor um brasão, conforme a heráldica, ciência que estuda
os brasões, e estes foram convidados a criar um brasão referente a si mesmo, que
fossem estruturados de acordo com a sua personalidade, aspirações, família, dentre
outras características, para ser apresentado e explicado na próxima aula.
Logo em seguida foi abordado sobre a origem dos sobrenomes no período medieval,
que tinham relação com a região onde morava, ofício, origem, fortuna, aspecto físico,
personalidade. Para finalizar, foi entregue a cada aluno uma descrição sobre a origem
do seu sobrenome, resultado do trabalho de pesquisa feito pelos pibidianos com
antecedência, com base na listagem dos nomes presentes no diário de classe da turma.
Dessa forma, poderiam utilizar elementos de significado de seu sobrenome na criação
do seu brasão.
Concluindo a oficina, foi explicado o jogo Rei dos Reis. O jogo criado tem por objetivo
aguçar a compreensão do aluno sobre as relações de poder estabelecidas na sociedade
feudal, por meio da simulação de guerra entre feudos. Nas cartas do jogo cada feudo
tem um símbolo.
137
apenas o rei para se defender e atacar. Ganha o time que conseguir derrubar o rei
adversário.
Os alunos foram divididos em equipes na sala, cada equipe foi composta por seis
componentes, e cada conjunto de cartas era disputado por duas equipes. Os estudantes
puderam utilizar seu brasão durante o jogo, representando seu escudo de guerra para
defender seu feudo, este que eles deram um nome também.
Para socialização dos resultados desse trabalho com a comunidade escolar, foi montada
uma exposição no mural, no saguão da escola em formato de castelo, com os brasões
dos alunos, para apreciação dos trabalhos durante a semana.
Após o fim das oficinas ministradas pelos pibidianos, pôde-se notar que houve uma
atenção maior por parte dos alunos ao que se refere aos símbolos presentes no seu
cotidiano, no sentido de perceberem os significados que carregam e a importância
social, política ou econômica que possam ter. Eles puderam reconhecer elementos de
sua identidade pessoal na experiência de criação de um brasão próprio, com elementos
de sua própria cultura, reconhecendo o significado de seu sobrenome assim como sua
origem étnico-cultural. Os resultados expressos nos brasões por eles confeccionados
foram bem estruturados atendendo as orientações, o que foi extremamente
reconfortante.Assim como o interesse demonstrado pelos alunos em aprender sobre o
assunto, visto que, foi possível introduzi-los na História.
Referências
KLOSTER, Marcelo. CARVALHO, Silvana Maura Batista de. O jogo de cartas Rei
dos Reis: uma contribuição do lúdico na aprendizagem sobre as relações de poder
na baixa idade média. Ponta Grossa. 2015.
138
REVISITANDO NUREMBERG ATRAVÉS DA
ANÁLISE DO DISCURSO: A IMPORTÂNCIA DAS
FONTES NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM
HISTÓRICA
Jean Marcos Bonatto
Vivemos tempos em que o “fazer histórico”, e não obstante o Ensino de História, não
trabalha mais como se fazia ainda no século passado, com as convicções políticas para
“separar o joio do trigo”, para identificar os vilões e os mocinhos. O denso estudo das
estruturas de poder e dos discursos fazem parte hoje, da complementação da pesquisa
histórica. O Tribunal de Nuremberg por sua vez, teve toda a sua atenção voltada para o
discurso produzido pelos réus, o Tribunal serviu – mesmo que de forma forçosa – como
uma maneira de trazer a tona a estruturação do poder e o exercício da barbárie nazista.
Boa parte dos testemunhos dados ao Tribunal pelos réus ficaram apenas na obviedade,
porém algumas coisas que ficaram subentendidas pelos discurso podem revelar certos
aspectos da cultura da política e dos anseios nazistas pelo poder. Este texto pretende
fazer um breve apanhado de possibilidades de abordagens de ensino com base na
análise do discurso nos interrogatórios do Tribunal de Nuremberg.
Antes de tudo devemos deixar claro aos estudantes no que consiste o discurso, qual a
abordagem analítica que se pode fazer sobre ele, e com o que a análise do discurso pode
contribuir para a aprendizagem histórica, para a cognição dos fatos e para a formação
intelectual do estudante. Nesse sentido, a análise do discurso através da fonte histórica
pode ser usada em sala de aula para preencher as lacunas que porventura a bibliografia
venha a deixar. Deve-se ressaltar com cuidado que aquilo que se apresenta ao aluno
pode não ser fiel à realidade histórica, o discurso é produzido por um indivíduo, com
desejos, anseios políticos, e pode ser moldado e propagado da forma a subverter a
exatidão dos fatos, para que então a aprendizagem seja isenta de juízos de valor. Ainda
que, para isso, o professor deve antes de tudo fazer com que o aluno reconheça o
discursista e saiba qual o meio político e ideológico que o cerca. Michel Foucault alerta
139
que todo discurso é controlado conforme o meio, e definido socialmente conforme as
instituições de poder:
[...] sentir sob essa atividade, todavia cotidiana e cinzenta, poderes e perigos
que mal se imagina; inquietação de supor lutas, vitórias, ferimentos,
dominações, servidões, através de tantas palavras cujo uso há tanto tempo
reduziu as asperidades. (FOUCAULT, 1996 p. 8)
Nesse sentido, o Tribunal Militar Internacional de Nuremberg (1946) acabou por revelar
projetos engendrados pelos nazistas, que podem ser explorados pelo professor como
formas de abordagens comparativas do contexto sócio-político, surgindo assim novos
problemas e objetos de estudo. Um exemplo de abordagem que possa surtir efeito no
processo de ensino e aprendizagem é estudar cada indivíduo conforme sua posição na
hierarquia e obviamente seu discurso produzido. Para isso as fontes sobre o Tribunal de
Nuremberg possibilitam o aluno conhecer, por exemplo, o projeto de perseguição e
represália aos judeus revelados nos depoimentos de Julius Streicher:
[...] a ordem foi então dada em Novembro daquele ano para atear fogo às
sinagogas, que não foi culpa minha. Então eu dei a ordem, após a tomada do
poder para que cada sinagoga na minha cidade fosse derrubada.
(STREICHER, 1946)
Mas a desgraça reside justamente no fato de não ter defendido todas essas
doutrinas que guiam secretamente as ações de Hitler e um pequeno círculo
que, à luz do testemunho das testemunhas Hoess, Reinecke e Morgen,
entre outros, é agora lentamente emergindo da neblina em que estava
escondido até agora. (FRITZSCHE, 1946)
Eu quase nunca tive contato social com os ocupantes dos altos cargos do
Reich. (SAUCKEL, 1946)
Nesta última palavra, garanto solenemente que fiquei surpreso com todos
os acontecimentos políticos estrangeiros e com o início de todas as ações
militares. (SAUCKEL, 1946)
Podemos analisar a partir disso que a estratégia dos indivíduos, através do discurso
elaborado, foi fazer com que o peso da justiça fosse aliviado colocando a culpa no Alto
Comando, ele sabiam do poder da palavra por era por meio dela que se articulou seu
próprio partido, e sabiam também que dependendo de sua perspicácia para pronuncia-
las elas surtiriam um efeito totalmente favorável para eles.
Mas afinal, em que isso contribui para a construção da aprendizagem histórica do aluno
e para o ensino de História de um modo geral? Podemos dizer que a análise dos
discursos seja em fontes escritas ou fontes orais aproximam ainda mais o estudante do
contexto histórico no qual ele está estudando, e ainda fazem refletir sobre o próprio
meio em que vive, a sociedade, a política, a cultura e é claro os discursos produzidos em
sua época. O discurso contribui, sobretudo, para desfazer certo afastamento de interesse
que o jovem tem da forma de ensino mais pautada na bibliografia. Desse modo
141
podemos considerar que o uso do documento histórico em sala de aula é imprescindível,
pois, além de facilitar o processo de aprendizagem do aluno, revela ao professor
inúmeras formas de como trabalhar com temas que por vezes podem ser maçantes
quando pautados apenas nas bibliografias.
Referências
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 14ª ed. – São Paulo: Edições Loyola,
1996.
142
O ENSINO DE HISTÓRIA PRÉ-COLONIAL:
ESTUDO DE CASO DOS LIVROS DIDÁTICOS DO
6O ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Jelly Juliane Souza de Lima
Cecília Maria Chaves Brito Bastos
Introdução
Considerando a citação acima, essa apresentação tem como objetivo mostrar o que têm
sido escrito sobre a temática do passado pré-colonial nos livros de História do 6o ano do
ensino fundamental distribuídos nas escolas públicas da capital Macapá/AP. Para tanto,
alguns livros didáticos selecionados serviram como base para o presente estudo.
Entretanto, a maior parte das publicações especializadas não chegam ao grande público
e na universidade. A esse respeito, mesmo nas universidades o conhecimento produzido
pela arqueologia é pouco difundido, ficando por vezes reservado aos profissionais dos
departamentos que lecionam disciplinas específicas ou ainda dos setores de pesquisa em
arqueologia que fazem parte destas instituições (LEITE, 1995), o que também não
garante que os acadêmicos formados saiam do curso preparados para lecionar sobre a
História Pré-colonial.
143
Os livros didáticos
Ademais, livros didáticos são importantes documentos utilizados por professores como
forma de ensinar e aprender na sala de aula. Por isso, é necessário ter atenção e fazer
leituras críticas antes de utilizá-lo. Um outro ponto a ser levantada recai sobre o governo
e editores. Ambos se aproveitam do despreparo dos professores e das condições de
trabalho nas escolas e assim encontram um espaço lucrativo para vender os “pacotes
educacionais” (BITTENCOURT, 2004, p. 295).
Os livros usados para fazer o diagnóstico são: História temática: diversidade cultural e
conflitos, 2004; História: sociedade e cidadania, 2006; História das cavernas ao terceiro
milênio. Dos primeiros seres humanos à queda do império Romano, 2006; Amapá:
vivendo a nossa História, 2008; Projeto Araribá história: ensino fundamental, 2010;
Estudar história: das origens do homem à era digital, 2011; História viva e integrada 6
ano, 2011 e Projeto Radix: raiz do conhecimento-História-6 ano, 2011, todos usados no
6o ano do ensino fundamental.
Alternativa
Dentre os demais Estados do Brasil, o Amapá é um dos que se destaca pela quantidade
de sítios arqueológicos e de suas características singulares, o que atesta uma riqueza
cultural do nosso passado pré-colonial. Para enfim responder as perguntas feitas
inicialmente: como lecionar esse tema? Onde achar os aportes necessários para torná-
144
lo atraente para os alunos?, pois não bastava apontar as falhas dos livros didáticos do
6o ano do ensino fundamental.
A alternativa encontrada foi trabalhar com os eixos temáticos e a chamada História local
bem como as proposta da Educação Patrimonial. Além disso, fez-se a produção de uma
cartilha didática sobre a História Pré-Colonial do Amapá sistematizando as informações
sobre a arqueologia da região. Com a cartilha, montou-se um kit didático contendo
réplicas de artefatos arqueológicos que fazem parte das atividades propostas. Desta
forma, ao apresentar ao aluno o objeto, o mesmo fará parte da etapa do processo de
ensino-aprendizagem.
Considerações finais
É necessário que cada vez mais as pesquisas se voltem para o livro didático a fim de que
contribuam com propostas de criação de estratégias que desconstruam os discursos
cristalizados na História do Brasil. Contudo, nesse momento, ressalto que um livro ideal
é sempre questionável. Esses lacunas vão continuar a perdurar enquanto não haver uma
articulação entre o conteúdo e metodologia; professores, governo e editoras, bem como
entre História e Arqueologia.
Referências Bibliográficas
CUNHA, MANUELA. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1992.
LEITE, NÍVEA. O ensino da Pré-História nas escolas de 1 a 2 graus. IN: KERN, Arno
Alvez. Anais, 8ª Reunião Científica da SAB-Sociedade de Arqueologia Brasileira,
Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996.
145
ENSINO E HISTÓRIA: UMA ABORDAGEM
ATRAVÉS DE MODOS E MODAS EM SÃO LUÍS
(1920)
Jéssica Mayara Santos Sampaio
Silva (2011, p. 29) entende que, com o crescimento das cidades e o surgimento do modo
de viver urbano que se fixou no início do século XX, homens e mulheres tiveram que
adaptar-se a vida na cidade. A urbanização e a modernidade criaram um novo ambiente
na cidade para a sociedade, porém a infraestrutura caminhava em um ritmo diferente da
modernização.
A beleza, e não o intelecto, era a arma para ser ou se tornar “alguém”, afirma Calanca
(2011, p.98). Desse modo, a aparência se tornou uma alternativa às mulheres para
estreitar as interações sociais, as mudanças em relação ao destino da mulher, que agora
podia participar de outro espaço que não fosse o privado, com nova representação do
vestir, através do refinamento e da conduta.
Cada aluno tem de se perceber como um ser social, como sujeito de sua própria história
(Pinsky. In: KARNAL, 2005, p. 28). Logo, a aproximação com a História permite a o
estreitamento com a cultura, a educação, entre outros, e o desenvolvimento de um
cidadão que responda questionamentos que duram décadas, como as relações de gênero
por exemplo, e a cultura. Sendo assim, o ensino da história pode proporcionar ao aluno
a problematização de conceitos, a contextualização de problemas e as condições para
buscar possíveis soluções.
Referências
CALANCA, Daniela. História Social da Moda. 2 ed. São Paulo: Editora Senac, 2011.
FREYRE, Gilberto. Modos de homem e modas de mulher. 2 ed. rev. São Paulo:
Global, 2009.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. Por uma história prazerosa e conseqüente.
In.: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
São Paulo: Contexto, 2005.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos; GARCIA, Tânia Maria F. Braga. A
formação da consciência histórica de alunos e professores e o cotidiano em aulas de
história. Caderno Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 297-308, set./dez. 2005.
SILVA, Camila Ferreira Santos. “A mulher deve ser bela, deve ter graças e
encantos”: educação de salão na São Luís republicana (1890-1920). Dissertação
(Mestrado em Educação) – Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade
Federal do Maranhão, São Luís, 2011.
149
FUTEBOL, RACISMO E ENSINO DE HISTÓRIA:
POSSIBILIDADES EM SALA DE AULA
João Pedro Pereira Rocha
O pesquisador Roberto DaMatta (1982) define o futebol como sendo o local por meio
do qual a sociedade fala, apresenta-se, deixa descobrir-se, enfiam, permite um leitura
sociológica da sociedade. Essa leitura social, e que o futebol permite fazer lança luzes
para abordagens que objetivam a historicidade do futebol, seu desenvolvimento ao
longo da história. Assim, e como afirma Carlos Moore (2007), a análise sobre o racismo
dar-se em uma perspectiva que atenta para sua construção histórica e social.
Ao fazer uso do futebol como elemento histórico na discussão sobre racismo em sala de
aula, a história do esporte poderá se abordada de modo a apresentar fatos e
acontecimentos que prescrevem a atuação do racismo na sociedade, por exemplo. A
popularização do futebol no Brasil ocorreu no momento em que a participação dos
negros no futebol tornou-se mais evidente, inclusive com a participação em agremiações
desportivas. Entretanto, essa participação sempre foi permeada de conflitos, os quais
tinham na questão racial a raiz para os embates, inclusive em meio a manifestações de
racismo.
O modo como às relações sociais eram estabelecidas, na origem, ou pelo menos quando
algumas dos atuais e populares clubes desportistas começavam a se desenvolver tipifica
bem a configuração social do Brasil no inicio do século XX. Mario Filho assim
descreve a realidade construída em torno da popularização do futebol, no Brasil:
150
O Fluminense e o Botafogo não viam problema nessa vulgarização do
futebol. A arquibancada ficava de um lado, a geral do outro. Tudo separado.
Não bastava saber jogar futebol para entrar num clube como o Fluminense e
o Botafogo. Era preciso ser de boa família. (FILHO, 2010, p. 51)
Mas sobre três jogadores negros é que foram lançadas as críticas mais
pesadas: o goleiro Barbosa, o zagueiro Juvenal e o lateral-esquerdo Bigode.
O problema da raça brasileira reaparecia de forma aguda, reforçando o
complexo de inferioridade existente. Para muitos discursos racistas a
composição étnica havia definido a sorte de nossa seleção assim como
definiria a sorte da própria sociedade. (FRANCO JÚNIOR, 2007, p. 91)
151
A culpabilidade destinada ao negro pela infelicidade em campo, como aponta os
historiadores, é carregada de preconceito racial. Um racismo que vinha de todos os
lados, independente da instrução o julgamento aos culpados selecionou o homem negro
como responsável pela derrota. Essa situação caracterizou a sociedade brasileira da
metade do século XX, que na complexidade de suas raízes refutava a possibilidade de
uma “democracia racial”.
Referências Bibliográficas
152
FRAGA. G. W. Uma triste história de futebol no Brasil: o maracanaço –
nacionalidade, futebol e imprensa na Copa do Mundo de 1950. Passo Fundo: Méritos,
2014.
153
O PIBID NO COTIDIANO ESCOLAR - UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA DA DISCIPLINA DE
HISTÓRIA
Kêmeron Chagas dos Reis Almeida
Carlos Jordan Lapa Alves
Introdução
Segundo pesquisa realizada pela BBC/Brasil (2014), que compara notas e alfabetização
em 40 países, o Brasil ficou em 38º lugar. Diante disto, infere-se que há muito que se
fazer para alavancar a Educação Brasileira. Diante desta realidade surge a questão:
Como desenvolver uma educação de qualidade e o que seria uma educação de
qualidade? Freire (1967, p. 90) aponta a educação como aquela que proporciona “ao
homem uma discussão corajosa de sua problemática, [...] que o colocasse em diálogo,
que predispusesse a análise crítica de seus achados”.
Considerando essa educação, a que se julga como sendo ''de qualidade'', vê-se a
importância de destacar o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência -
PIBID/CAPES como mecanismo de promoção de uma educação de maior qualidade,
pois além de permitir aos Bolsistas de Iniciação a Docência elaborarem e
desenvolverem projetos direcionados à formação da qualidade de alunos da Educação
Básica o projeto potencializa a formação dos licenciandos participantes do programa.
Nesse contexto, o presente relato pretende fazer um paralelo entre duas escolas do
município de Cachoeiro de Itapemirim, ES. A primeira, doravante “Escola A”, é
beneficiada pelo programa, a segunda, doravante “Escola B” é despossuída dos
investimentos financeiros e dos recursos humanos do PIBID. Nesse sentido, é
importante ressaltar que um dos autores deste relato participou do cotidiano de ambas as
escolas, sendo a primeira como bolsista do PIBID e a segunda como estagiário, parte
dos requisitos para colação de grau.
O papel da escola
154
A escola tem um papel fundamental de interagir com a família dos alunos no contexto
escolar. Afinal, é preciso que a família passe a acompanhar de forma efetiva a vida
escolar de seus filhos, para que o papel de ambos se complemente. Trata-se de uma
relação de mudança educacional como forma de reavaliar, de refazer as práticas
pedagógicas para inclusão dos alunos de forma eficaz nas aulas, permitindo que eles
sintam, se não prazer, ao menos a necessidade de um estudo sério das disciplinas,
reconhecendo-as como fundamentais para a formação enquanto alunos. Nesse sentido, a
escola precisa trabalhar junto ao professor, pois como afirma Nóvoa (1992, p. 17) as
escolas não podem mudar sem o empenho dos professores, e estes não podem mudar
sem uma transformação das instituições em que trabalham. O desenvolvimento
profissional dos professores tem que estar articulado com as escolas e seus projetos.
Na presença de ambas as escolas, foi possível perceber na Escola “A” como que o Pibid
ajuda na elaboração de projetos e eventos, os quais na Escola “B” percebe-se
dificuldades. Por exemplo, na elaboração da Semana Cultural ocorrida na Escola “B”,
houve uma dificuldade muito grande por parte dos professores, que em sua maioria
buscava algo menos trabalhoso, uma vez que, não possuíam tempo suficiente para uma
organização de maior porte. O evento ocorreu às pressas, sendo organizado de última
hora, não por má vontade dos profissionais, mas porque foi a melhor maneira
encontrada diante do tempo escasso de cada professor.
Agora, se a Escola “B” possuísse bolsistas do Pibid, assim como na Escola “A”, não
digo que a organização do evento seria perfeita, mas com certeza com melhor
planejamento, uma vez que o bolsista estaria nos bastidores, auxiliando os professores,
ao mesmo tempo em que aprende sobre as atribuições docentes, uma vez que estando
inserido num contexto escolar, está à mercê de todas as situações em que o mesmo
poderá enfrentar futuramente quando de fato assumir uma sala de aula.
155
O primeiro projeto vivenciado enquanto bolsista do PIBID na Escola “A” era voltado
para observação e interação, no qual o bolsista tinha que acompanhar cada professor da
Escola “A” em dias diferentes e conhecer as especificidades de cada turma, observando
suas limitações e dificuldades, promovendo planos de estratégias para uma possível
diminuição do problema, além de promover também atividades que objetivavam
interagir o aluno, professor e, também com o bolsista. Dessa maneira, o bolsista ajudava
não somente em manter a ordem em sala de aula, como também auxiliava o professor
no processo de aprendizagem e, além disso, no desenvolvimento dos princípios éticos,
estéticos e políticos. Por outro lado, analisando a realidade da Escola “B”, se houvesse a
existência de bolsistas que auxiliassem tais professores nesse processo, possibilitaria
talvez uma diminuição na falta de atenção existente por parte dos alunos, e ajudaria na
propagação do respeito mútuo entre colegas de classe.
Considerações finais
Diante das experiências vividas foi possível compreender que a Escola “B” fica em
grande desvantagem em relação a Escola “A” a nível de práticas pedagógicas
diferenciadas, ou seja, a presença do Pibid, seja em qualquer escola, se bem
implementada por seus bolsistas tende a trazer grandes benefícios tanto para escola,
quanto para o bolsista que se encontra na graduação. Situação também benéfica para
escola porque os bolsistas do Pibid podem trabalhar de forma integrada com toda a
comunidade escolar, através de projetos que venham influenciar direta ou indiretamente
na melhoria da qualidade da educação do educando.
Por outro lado é vantajoso para o bolsista, uma vez que o mesmo estará investindo em
sua formação, aprendendo jeitos, maneiras de se portar com determinados problemas no
156
dia-a-dia escolar. E se a escola fizer a sua parte, e se o professor também o fizer,
obtendo ainda o auxílio de bolsistas do Pibid, com certeza o caminho para uma
educação de qualidade será ainda melhor, sem tantas dificuldades como àquelas
vivenciadas na Escola “B”.
Referências bibliográficas
FREIRE, Paulo. Educação Como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1967.
157
GRÉCIA EM CENA: O APRENDER BRINCANDO
Laerte Pedroso
O teatro é uma invenção grega do século VI, surgiu em festas conhecidas como
dionisíacas, em homenagem ao deus do vinho. Por isso consideramos que ao
utilizarmos o teatro como ferramenta pedagógica para ensinar Grécia Antiga tenha um
valor simbólico muito forte. A arte dramática é apresentada na forma de jogos teatrais
em que o educando se sente transportado ao passado para interagir com o Antigo, como
se fosse Novo.
O grande objetivo foi transformar o ensino de História Antiga em algo novo, palpável,
que o educando se sentisse parte daquele processo, vivenciando o Mundo Antigo.
A escola tem papel fundamental na vida todos nós, mas preciso resaltar que a minha
escola, La Salle – Pelotas, possui um papel ainda mais importante, pois embora seja
uma escola particular tem como público alvo crianças à beira da miserabilidade social
que estão inseridas em bairros pobres da nossa cidade: Bairro Navegantes, Bairro
Fátima e Bairro Cruzeiro.
Nossa escola trabalha com o norte da transformação social de uma comunidade muito
carente, que necessita de todo tipo de amparo presente e opção de futuro e, para tanto,
busca unir as forças entre professores, pais, alunos para alcançar esses objetivos.
158
Cena 1: Proposta e metodologia
Educar é uma tarefa complexa que exige muito estudo, qualificação e dedicação,
segundo Freire (1997, p. 25 – 26).
Avaliando essa perspectiva todo início de ano letivo explico ao educando o que será
estudado durante o ano. Apresento o livro, os autores e o tipo de metodologia que
costumo utilizar em sala de aula, a partir daí formatamos o contrato didático que
segundo Brousseau (1996, p. 50).
Partindo dessa investigação solicitei aos alunos que me indicassem a forma como
gostariam de aprender os conteúdos do 6º ano. Grande parte indicou que gostariam de
aprender brincando, que usasse recursos tecnológicos e práticos. Surgiu então a ideia do
teatro para o terceiro trimestre, pois aprenderam que na Grécia essa arte havia surgido e,
portanto seria legal conhecê-la por meio dessa prática. Possuo experiência em teatro
como autor, ator e diretor, assim, considerei a ideia como sendo muito válida.
Elaborei uma proposta de ação pedagógica que foi prontamente aceita pela minha
coordenação e direção da Escola La Salle – Pelotas, que me apoiaram na ideia e
propiciaram os recursos necessários para a realização da mesma, mostrando que o papel
da escola está justamente fundamentado na mediação do conhecimento.
Essa foi uma etapa recheada de desafios. Ao passo que iam escrevendo eu ia
acompanhando, fazendo correções históricas, dando dicas cênicas para o melhor
aproveitamento das cenas. Aos poucos, os grupos foram definindo que tipos
personagens seriam e que histórias contariam. Todos os grupos fizeram seus roteiros em
sala de aula, uma exigência minha, para que todo o trabalho fosse desenvolvido em sala
de aula, para minha mediação se fazer presente em todas as etapas da produção
intelectual e para que eles não se sentissem desamparados ou buscassem algo pronto na
internet.
Os ensaios
Um grupo teve a ideia de construir uma paródia sobre os espartanos, uma feliz ideia que
foi contagiando diversos outros grupos a também criarem as suas, deixando o trabalho
mais atrativo para quem assistisse. Isso fez com que voltassem à pesquisa teórica para
que a produção musical tivesse de acordo com aquilo que buscavam apresentar.
160
Grécia em Cena
A sala de multiuso da escola foi utilizado como palco para as apresentações, contando
com a presença do nosso diretor, nossa coordenadora pedagógica e nossa orientadora
pedagógica.
Considerações finais
Referências Bibliográficas
161
GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO: UMA
ABORDAGEM DO TEMA ATRAVÉS DO ENSINO
DE HISTÓRIA DA ROMA ANTIGA
Larissa Faesser
162
salas de aula, nas falas e ações dos professores e das professoras e dos
alunos e das alunas. (LOURO, 2003, p. 131).
Problematizar o natural e desconstruir os estereótipos faz parte das ações que precisam
se apresentar nas escolas, o professor se depara com diversas opções de assuntos que
podem ser trabalhados, para refletir as relações de gênero e sexualidade no ensino de
história. Esses conceitos são inseridos a partir de várias perspectivas da História Antiga
Romana, segundo Feitosa:
Sobre a História Antiga Romana, esses estudos têm permitido rever as áreas
de atuação tradicionalmente atribuídas às mulheres, as diversas formas de
atuação política e os fundamentos, composição e participação dos grupos
sociais nas variadas esferas da organização social. (FEITOSA, 2008, p. 125)
Desta forma, o professor pode encontrar na história antiga, vários materiais que o
permitam explorar a multiplicidade de linguagens e abordagens para trabalhar gênero e
sexualidade em sala de aula. Neste texto separamos dois exemplos, na História antiga de
Roma, relacionados a temática: as formas com as pessoas lidavam com a
homossexualidade e as expressões de cunho sexuais expostas nos diversos objetos
Romanos.
Referências
POSSAMAI, Paulo César. Sexo e poder na Roma Antiga: o homoerotismo nas obras
de Marcial e Juvenal. Bagoas, nº 05, p.79-94, 2010.
164
UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE QUESTÕES
ÉTNICAS NO ANTIGO EGITO
Leonardo Candido Batista
Atualmente voltou à tona nas redes sociais um debate sobre como eram as pessoas no
antigo Egito. Essa é uma questão que sempre aparece, principalmente com as diversas
apropriações da mídia. A “novela os dez mandamentos” da rede Record ajudou a lotar
de comentários sobre a fidedignidade da produção, já que os atores eram brancos e não
tinham quase nenhum negro. As redes sociais ferveram com matérias sobre a herança
cultural negra do Egito, que de fato é evidente e inquestionável, mas muitos não tinha
uma pesquisa de know-how acadêmico, deixando as matérias muito vagas, com vários
buracos e dúvidas sobre o tema. Nesse breve texto tentaremos mostrar como a
etnicidade era vista no antigo Egito, e como questões modernas podem nublar nosso
conhecimento sobre o vale do Nilo.
Não há dúvidas que o cinema ajudou a difundir a imagem do Egito antigo. A cultura
popular se enriqueceu de uma forma inimaginável com a quantidade de imagens e
filmes que saíram sobre o tema. Um filme que marcou época foi “Os dez mandamentos”
de 1956 dirigido por Cecil B. Demille, com destaca para o famoso e consagrado ator
Charton Heston no papel de Moisés e Yul Brynner interpretando Ramsés II. Esse como
tantos outros filmes mostrando o Egito, mostram personagens famosos de sua história
como brancos, o que levou a uma série de debates de como seriam as composições
étnicas no antigo Egito. Os egípcios seriam brancos ou negros? É bom lembrar que essa
problemática é um discurso eurocêntrico do século XIX não existiam em qualquer
hipótese no tempo dos faraós, e qualquer discussão desse tipo fazem sentidos apenas em
debates da nossa temporalidade. Como destaca Kathryn A. Bard (1996) e Andrés Diego
Espinel (2006) as questões sobre etnicidade no Egito antigo eram vistas de formas
tribais, regionais e locais, ao que pertencia ou não ao vale do Nilo. Sendo assim, povos
que viviam fora do território conhecido como Egito eram vistos como manifestações do
caos e, portanto, inimigos:
Marcelo Campagno (2005, p. 692) explica que a consolidação dentro do Egito de uma
visão de mundo centrada no rei como o fiador da ordem cósmica, que gera uma imagem
fortemente negativa de regiões periféricas, concebidas, em contraste, como lugares
dominados pelo caos. Tal concepção do mundo afeta a etnicidade, desde que isso tenda
a o território político controlado pelo estado vivendo nesse lugar, então diferenças
internas serão ignoradas pelo bem de uma ideia de um todo homogêneo, unificado pela
articulação da prática estatal.
Diego Espinel (2006, p.430) comenta que tanto as representações canônicas como as
profanas da população egípcia, mostram uma entidade homogênea ambas no aspecto
cultural e racial. A uniformidade uma representação arquetípica bem definida e
estabelecida do que é egípcio, na qual pode não corresponder para a muito mais
complexa realidade, na qual diferenças físicas e, em um menor grau, diferenças
165
culturais, entre os habitantes de diferentes partes do Egito deviam ter sido
impressionantes.
Kathyrin A. Bard (1996, p.106) explica como o estudo do Egito sempre esteve
vinculado com o do Oriente próximo, sendo que ele indecisamente partilha dessas duas
regiões geográficas. Por causa de sua localização no continente africano, o antigo Egito
foi uma civilização africana, apesar de talvez sua identidade africana ter sido sutilmente
minimizada com os estudos do Oriente próximo, na qual têm raízes em no Orientalismo
europeu do século XIX. Muitos especialistas trabalhando nessa época, particularmente
na época do Império Britânico, assumiram que a história antiga começava com o Egito e
a Mesopotâmia, sendo que as primeiras civilizações começaram no Oriente Próximo, e
o Egito deveria ser entendida como tal, e não como uma civilização africana. Teorias do
tipo, como a de Sir Flinders Petrie, por exemplo, colocavam que o Egito foi invadido
por uma raça dinástica vinda de algum lugar do sudoeste da Ásia e assim dando origem
a organização desse estado.
A partir desse panorama sempre houve discussão sobre a questão racial no antigo Egito.
Muitas perspectivas ainda contêm um pouco do discurso eurocêntrico, outras
perspectivas mais africanistas, colocam o Egito como um composto racial inteiramente
negro. Deve ficar claro que as coisas não eram tão maniqueístas assim, e esses discursos
duais sempre invadiram as discussões sobre as origens da terra dos faraós:
Os antigos egípcios eram povos mediterrânicos, nem negros sub-saarianos, nem brancos
caucasianos, mas pessoas na qual a pele era adaptada para uma vida em um ambiente
desértico subtropical; O antigo Egito era um caldeirão das raças; pessoas de diferentes
identidades étnicas migravam para o vale do Nilo em diferentes períodos em sua pré-
história e história. A questão se os egípcios eram negros ou brancos escurece sua
própria identidade de povo agrícolas da Kmt oposto a dsrt, a estéril “terra vermelha” do
deserto. Kmt significa “terra negra” a planície fértil no baixo vale do Nilo, onde
colheitas de cereais cresciam em abundância. Não significando “terra dos negros”
(BARD, 1996, p.104).
Então é importante lembrar que não existia essas tendências raciais no Egito, sendo
completamente anacrônico colocar essa discussão em tal época, é um erro como coloca
Kathyrin A. Bard (1996, p.111) com tons suaves racistas que apelam para aqueles que
desejam aumentar ao invés de diminuir as tensões raciais existentes na sociedade
moderna.
Referências
BARD A, Kathyrin. Ancient Egyptians and the Issue of Race. In: Lelkowitz and
MacLean Rogers (orgs.). Black Athena Revisited. North Carolina: The University of
North Caroline Press, 1996.
167
O LÚDICO E O ENSINO DE HISTÓRIA: RELATOS
DA AÇÃO DO PIBID NA ESCOLA ESTADUAL
GRACILIANO RAMOS
Lucas Emanoel Soares Gueiros
Introdução
Este texto se propõe a apresentar uma descrição dos benefícios de atividades lúdicas
como recurso metodológico no ensino de História na Escola Estadual Graciliano
Ramos, localizada no município de Palmeira dos Índios no Estado de Alagoas. O estudo
foi construído a partir da leitura da obra do historiador Marc Bloch e também dos textos
mais contemporâneos de Circe Bittencourt, Élia Santos, Flávia Caimi, Kellen
Bernardelli, Margarida de Oliveira e Tânia fortuna, acerca do tema da ludicidade como
elemento fundamental para o avanço do ensino e aprendizagem na disciplina de História
do ensino básico e da observação e aplicação dos projetos lúdicos elaborados pelos
bolsistas do PIBID em duas turmas do primeiro ano do ensino médio da referida escola.
A História tem como campo de estudo as ações dos homens no tempo, trabalhando com
a pluralidade e não se detendo apenas a história de um único ser. Assim como na ideia
do historiador Marc Bloch, o ensino na disciplina de História deve abordar a
pluralidade, não limitando o seu campo de estudo apenas a uma mera reprodução das
datas e feitos de ‘heróis’. E que não tenha como finalidade o simples estudo de eventos
presos no passado, pois “A história não é a acumulação dos acontecimentos, de
qualquer natureza, que se tenha produzido no passado. Ela á a ciência das sociedades
humanas.” (BLOCH, 2001 p. 54). Sendo assim, cabe ao professor de História em suas
aulas, não fazer uma mera reprodução de tempos anteriores, mas sim, fazer com que o
seu ensino englobe a contemporaneidade e a pluralidade de sociedades como, por
exemplo: as comunidades quilombolas e indígenas. E ainda inserir em sala de aula o
contexto social em que seus alunos estão inseridos.
A disciplina de História com o uso da ludicidade fez com que os alunos do primeiro ano
do ensino médio trabalhassem e desenvolvessem o aprendizado da temática dentro da
sala e fora dela, ou seja, fez com que o conhecimento do assunto estudado não ficasse
preso apenas a formalidade da sala de aula, mas também em outros ambientes.
As peças teatrais, poemas, objetos e paródias foram produzidas pelos alunos antes da
data em que iria ocorrer o evento, para serem apresentadas durante a gincana. Suas
elaborações foram realizadas de maneiras formais: dentro da sala de aula com a
utilização de aulas explicativas, livro didático e escritas no quadro; e de maneiras
informais: fora da sala de aula com a utilização do pátio da escola e até mesmo fora do
âmbito escolar, já que os alunos também realizaram suas produções em suas casas e
efetuaram pesquisas pela internet e em livros não didáticos. Sobre o desenvolvimento de
atividades lúdicas dentro da sala de aula a autora Bernardelli afirma que:
Na sala de aula, o trabalho com atividades lúdicas está cada vez mais
frequente nas instituições escolares, o qual é associado também ao
conteúdo. Os docentes elaboram jogos, histórias para apresentar ou
complementar o currículo de maneira significativa para os alunos. Os
jogos, em especial, criam condições fundamentais para o desenvolvimento
do aluno, além de promoverem a participação coletiva e individual em
ações que possam melhorar o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e
social. (BERNARDELLI, 2015, p. 30)
169
O lúdico é uma ferramenta importante para o estimulo ou incentivo de estudantes,
fazendo com que adquiram um conhecimento de maneira significativa. É uma ação a ser
desenvolvida e utilizada mais vezes pelos educadores para que seja efetuada uma
aprendizagem dinâmica, longe de um modelo de ensino antigo e ultrapassado.
[...] o lúdico é uma estratégia insubstituível para ser usada como estímulo na
construção de conhecimento humano e na progressão das diferentes
habilidades operatórias, além disso, é uma importante ferramenta de
progresso pessoal e de alcance de objetivos institucionais. (SANTOS, 2010,
p. 2)
O lúdico é uma necessidade a ser utilizada pelo professor de História em sala de aula e
até mesmo fora dela, já que o ensino dos conteúdos curriculares não precisa limitar-se
apenas a formalidade, dentro de uma sala de aula, com apenas a utilização do quadro e
livro didático.
Referências
170
MUNDO REPRESENTADO E A POLÍTICA DA
IMAGEM
Luciana das Neves Rosa Costa
Igor Fernandes de Alencar
Não por acaso, o que vem ocorrendo desde fins da década de 1990, com as noções de
cultura e diversidade cultural, assim como de identidades e relações étnico-raciais,
integrando as normatizações estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC) com o
objetivo de regular o exercício do ensino fundamental e médio, especialmente na área
de história. Ações que aliam-se aos espaços de representatividade conquistados no
cenário político e social dos movimentos negros e anti-racistas no processo político
brasileiro, e no campo educacional em especial (ABREU; MATTOS, 2008, p. 06).
O conceito de identidade poderia ser empregado para significar uma espécie de “ponto
de encontro”. E, “[...] entre os discursos e as práticas que tentam nos ‘interpelar’, nos
falar ou nos convocar para que assumamos nossos lugares como os sujeitos sociais de
discursos particulares...” (HALL, 2000, p. 110-112). Assim, quando levantamos o
questionamento basilar em nossa identificação – quem somos? – também se faz
necessário contrastar também como os outros nos enxergam e nos definem; outros com
os quais temos que interagir, dialogar e negociar continuamente nossas identidades, em
circunstâncias por vezes desiguais e conflitivas.
Referências Bibliográficas
HALL. Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org.)
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes,
2000. p. 103-133.
173
OS INDÍCIOS DE EURÍPIDES E A HISTÓRIA DE
ESPARTA – ALTERNATIVAS DE ENSINO E
PESQUISA
Luis Filipe Bantim de Assumpção
Em virtude da proposta não poderemos nos alongar em demasia, por isso selecionamos
como estudo de caso uma análise de O Cíclope. Ainda que esta peça não tenha sido
identificada como uma tragédia, e sim como um drama-satírico, a mesma integra o
corpus documental de um poeta e tragediógrafo de suma importância para a literatura
clássica. Do mesmo modo, o discurso e a representação que Eurípides faz de Esparta
nesta obra corresponde aos nossos objetivos com este texto.
Raffaele Cantarella propôs que O Ciclope tenha sido encenado por volta de 422 a.C.,
ano no qual os comandantes Cleon de Atenas e Brásidas de Esparta tombaram em
combate (CANTARELLA, 1971, p. 288). Nesse momento os ânimos estavam tensos
entre as póleis beligerantes e somente em 421 a.C. que a “Paz de Nícias” seria
estabelecida. Com isso, o momento no qual O Ciclope fora apresentado se mostrava
favorável para uma crítica ateniense feita a sociedade de Esparta. Destacamos que O
Ciclope fornece indícios para se investigar as questões políticas, sociais e étnicas no
contexto da Guerra do Peloponeso. A caracterização do ambiente geográfico em que
residia o ciclope Polifemo poderia ser uma alusão à localização de Esparta no interior da
Lacedemônia, bem como das atividades econômicas desta pólis. Seguindo essa
perspectiva o comportamento de Polifemo poderia representar como os esparciatas e os
lacedemônios eram vistos por uma parcela dos atenienses, ou seja, rústicos e de atitudes
“bárbaras”, além de estarem geograficamente isolados de outras regiões da Hélade. Se
comparada a Atenas, Esparta seria uma pólis rudimentar por não ter conseguido se
aprimorar tal como os homens da Ática – como consta na “Oração Fúnebre de Péricles”
na obra de Tucídides.
Entretanto, o trecho que nos interessa para perceber a representação que o discurso de
Eurípides promoveu sobre a mulher espartana é relativamente curto, pois situa-se entre
os versos 175 e 186. Nesta conjuntura, Eurípides narra a chegada de Odisseu e seus
companheiros a ilha de Polifemo, que logo se deparam com a caverna do ciclope. Ali, o
rei de Ítaca se encontra com o velho Sileno e os seus filhos, os quais foram feitos
prisioneiros de Polifemo. Nesse processo de apresentações mútuas, o coro de sátiros
começa a indagar Odisseu sobre as suas aventuras, possivelmente no intuito de ratificar
a identidade do herói. Com isso, o coro questiona:
175
Aqui verificamos um exemplo da intertextualidade de Eurípides, que ao tomar o
discurso mítico da chegada de Odisseu e sua tripulação a ilha de Polifemo acabou
inserindo elementos particulares ao mesmo sem que o cerne do poema homérico fosse
deixado de lado e/ou perdesse as suas principais características. Apesar disso, essas
transformações que Eurípides emprega no drama pretendia corresponder ao estilo
literário e artístico desta peça, mas também aos seus objetivos políticos enquanto um
cidadão ateniense em plena a Guerra do Peloponeso. Outro aspecto que enfatizamos
está atrelado à datação aproximada da encenação desta peça, pois, se esta foi
desempenhada em 422 a.C. – um ano antes do estabelecimento da “Paz de Nícias” –
seria justificável a maneira ofensiva como os costumes espartanos foram representados,
seja na figura de Polifemo ou na caracterização de Helena.
Observamos que o discurso de Eurípides representou Helena como uma mulher sem
comedimento sexual, adúltera e sedenta por luxo e riqueza. Como comentou Ellen
Millender (1999, p.360), em inúmeras de suas peças Eurípides tentou destacar a falta de
moralidade e comedimento das mulheres de Esparta era um reflexo das deturpações de
toda a sociedade lacedemônia. Por meio desse artifício discursivo Eurípides estaria
tomando Esparta como o contraponto do modelo ideal de mulher e de pólis. Ao
proceder dessa maneira, o tragediógrafo estaria apresentado para o seu público no
interior do teatro justificativas plausíveis para a continuidade da Guerra do Peloponeso,
uma vez que esta estaria sendo realizada contra homens “bárbaros”, ainda que helenos.
Essa postura também acabaria endossando a superioridade da pólis de Atenas diante da
Hélade e legitimaria a autoridade que vinha exercendo nas Cíclades e na Jônia.
Documentação Literária
176
EURÍPIDES. Tragedias. Vol. I. Trad.: Alberto Medina González; Juan Antonio López
Férez. Madrid: Editorial Gredos, 1983.
BURIAN, Peter. Myth into muthos: the shaping of tragic plot. In: EASTERLING, P.E.
(Ed.). The Cambridge Companion to Greek Tragedy. Cambridge: Cambridge University
Press, 2003
Referências Bibliográficas
MILLENDER, Ellen. Athenian Ideology and the empowered Spartan woman. In:
HODKINSON, Stephen; POWELL, Anton (Ed.). Sparta – New Perspectives. Swansea:
The Classical Press of Wales, 1999.
POOLE, William. Euripides and Sparta. In: POWELL, Anton; HODKINSON, Stephen
(Ed.). The Shadow of Sparta. London: Routledge, 1994.
177
O PROJETO PROFESSOR DIRETOR DE TURMA -
PPDT E A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES
Maria Raquel Moreira Leite
Renato Alcântara de Abreu
Nesse projeto educacional na rede estadual de ensino do Ceará, cada turma fica aos
cuidados de um professor denominado Diretor de Turma que passa a conhecer melhor
cada estudante, a ter informações sobre o seu histórico de vida, interesses, atitudes,
valores e perspectivas de futuro.
Há uma tríade fundamental para os bons resultados: trabalho efetivo na sala de aula,
acompanhamento pedagógico e monitoramento por parte do núcleo gestor e no caso
específico, o feedback do diretor de turma.
Jörn Rüsen, em Razão Histórica (2001b), explica que o saber histórico não
existe apenas na sua forma científica, mas apresenta múltiplas manifestações
nos mais diferentes setores da vida humana. No entanto, há um elemento
que realiza a ligação entre todos esses fatores: trata-se da consciência
histórica. Numa forma esquemática, pode-se dizer que todo homem, na
tentativa de alcançar o equilíbrio entre o tempo natural e suas expectativas,
desejos e sofrimentos, realiza interpretações do tempo através de elementos
da memória individual e coletiva (incluindo o conhecimento histórico
científico). As mudanças vividas no tempo acarretam em carências de
orientação e para resolvê-las, as pessoas articulam experiências do passado
com seus projetos de futuro, a partir das vivências presentes. É essa
estrutura de pensamento, esse tipo de relação com os três tempos que, para
Rüsen, permeia as demais manifestações de saber histórico. (PACIEVITCH,
2007, p. 86).
179
Através dele, percebemos o elevado índice de frequência cotidiana, alunos sentem
prazer em estudar e, portanto, frequentar o ambiente escolar fora do seu horário habitual
de aulas. É perceptível uma melhoria no combate a indisciplina que em nossas escolas
estaduais eram alarmantes e hoje, devido acolhidas e sensibilizações oferecidas
diariamente, temos bons resultados, muitos alunos revisaram o contrato didático da
escola e auxiliam no seu bom andamento.
Referências bibliográficas
181
ESPAÇOS URBANOS, PATRIMÔNIO E
MEMÓRIA: EM BUSCA DAS SIGNIFICAÇÕES –
UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS DE ENSINO
DE HISTÓRIA NO CURSO TÉCNICO DO IFMT
Marciane de Souza
A escolha por espaços urbanos ditos comuns, como praças, ruas, campos de futebol,
igrejas, bairros, parques e até monumentos constituídos pelo Estado vem para agregar
valor à construção da memória local feita pelos locais, tirando o viés da história e
memória oficial e deixando fluir o que os próprios moradores delimitam como
patrimônio material ou imaterial que os representa e quais memórias afetivas e pessoais
se interligam com as memórias oficiais na construção de uma representação coletiva.
182
A construção dessa história comum a todos daquele lugar, daquele espaço passa a fazer
parte e a pertencer àquela geração e às próximas, criando uma teia de um passado
comum a todos. Ecléa Bosi ressalta: “[...] cada geração tem, de sua cidade, a memória
de acontecimentos que são pontos de amarração de sua história” (1987, p. 199-200).
Utilizar as aulas de história para propor reflexões quanto ao lugar de sujeito histórico
que os alunos possuem, utilizando-se do contexto histórico no qual estão inseridos
contribui para uma melhor compreensão dos conceitos e conteúdos históricos mais
abrangentes espacialmente.
Sendo assim, interligar as narrativas históricas dos alunos, os espaços que ocupam na
cidade e como ligam suas memórias a estes espaços, traz para a sala de aula o debate e
183
articula os saberes, dando sentido a aprendizagem histórica e resinificando o processo
de construção do passado.
Referências Bibliográficas
FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. 7ª Ed. rev. São Paulo: Centauro,
2005.
184
RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO
“NOVAS PERGUNTAS EM CADA RESPOSTA:
ENSINO, PESQUISA E
INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO MÉDIO”
Mariane Moser Bach
Josei Fernandes Pereira
Este relato é fruto das leituras e das vivências realizadas junto ao projeto Novas
Perguntas em Cada Resposta: Ensino, Pesquisa e Interdisciplinaridade no Ensino
Médio, que integra o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar de Humanidades no Ensino
Médio (GPEI), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
(UNIJUÍ). O projeto visa refletir sobre a pesquisa e a interdisciplinaridade como
princípios pedagógicos para o ensino-aprendizagem de História e Ciências Humanas no
Ensino Médio, produzindo conhecimento sobre didáticas e formação de professores.
Este projeto de pesquisa é desenvolvido em duas partes, sendo uma prática e outra
teórica. A parte teórica diz respeito ao estudo dos autores que fundamentam a pesquisa,
tais como Pedro Demo, Edgar Morin e os documentos oficiais que regem e orientam a
educação no país. Ademais, também são analisados os dados coletados através das
observações da prática educativa na escola de aplicação do projeto. Essa prática consiste
no acompanhamento da disciplina de História em uma turma do primeiro ano do Ensino
Médio do Centro de Educação Básica Francisco de Assis (EFA), que integra o
complexo educacional da fundação mantenedora da universidade a qual o projeto está
vinculado. Nesta turma, os alunos desenvolvem pesquisa orientada sobre a história do
trabalho, aliando-a aos estudos e conteúdos estipulados pelo currículo. Entende-se, aqui,
que o conhecimento histórico ultrapassa qualquer concepção meramente informativa,
constituindo-se como uma ferramenta necessária para a compreensão da complexidade
social e cultural da humanidade. Assim, espera-se que esta experiência de educar pela
pesquisa traga bons resultados acerca da dinâmica das aulas, da construção dos saberes,
do estímulo à curiosidade investigativa e das relações interdisciplinares, ou seja, à
formação integral do sujeito.
O projeto se desenvolveu da seguinte maneira: no início do ano letivo, cada aluno, entre
os 23 que compõem a turma, escolheu, para pesquisar ao longo de todo o ano, uma
atividade profissional que despertasse seu interesse ou curiosidade. As profissões
escolhidas e a porcentagem que cada área representa entre as escolhas foram as
seguintes: Ciências Exatas, Engenharias e Tecnologia (Arquitetura, Design, Engenharia
Civil, Engenharia da Computação, Programação) – 35%; Ciências da Saúde
(Enfermagem, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrologia, Odontologia) - 22%;
Ciências Naturais (Astronomia, Biologia, Geologia) – 13%; Gastronomia – 9%;
Linguagens (Dança, Escritor) – 9%; Ciências Agrárias (Agronomia) – 4%; Ciências
Sociais (Juíz de Direito) – 4% e Espionagem – 4%.
185
Desse modo, primeiramente, os alunos realizaram uma pesquisa sobre as atividades
produtivas e as características da profissão escolhida, por meio de questões como: quem
faz este trabalho, quais são as suas ferramentas (meios de produção), qual é a
remuneração média etc., resultando na construção de um resumo. Em um segundo
momento, após a apresentação dos primeiros resultados em forma de seminário, iniciou-
se o aprofundamento sobre cada tema em perspectiva histórica. A partir disso, cada
aluno construiu a estrutura do projeto que iria executar ao longo do ano, paralelamente
ao estudo da evolução histórica dos modos de produção, considerando a importância da
atividade produtiva escolhida ao longo da História e na atualidade, e estabelecendo os
objetivos a serem alcançados com a pesquisa.
A última versão do trabalho foi entregue ao final do ano, dentro das normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), incluindo resumo acadêmico em
dois idiomas e palavras-chave. Por último, foi realizada a sistematização em forma de
seminário de pesquisa sobre a História do trabalho, na qual cada aluno apresentou o
resultado de sua produção aos demais colegas. Cabe destacar que durante toda a
realização desse trabalho de pesquisa, os alunos tiveram o acompanhamento e
orientação do professor de História, da bolsista de iniciação científica, que auxiliou,
principalmente, na parte de produção textual, bem como, de três voluntários do Curso
de História, que exerceram seus papéis de co-orientadores por meio de ambiente virtual
de aprendizagem.
Depois de finalizado o trabalho, colhemos alguns depoimentos dos alunos sobre o que
haviam realizado, por meio de quatro questões: a) O que você entende por pesquisa?; b)
Em que medida a pesquisa sobre a história do trabalho contribuiu para o estudo da
história econômica da sociedade?; c) A pesquisa sobre a profissão que você escolheu
mudou e/ou ampliou sua visão sobre ela? Justifique; d) Depois da realização desse
trabalho, você se sente mais preparado para realizar pesquisas futuras? Justifique. De
uma forma geral, a primeira pergunta foi respondida como sendo a busca de
informações para obter conhecimento sobre algo, coleta de dados, investigação de um
assunto. Cabe destacar a resposta de uma aluna que diz: “Eu entendo que pesquisar é a
forma de procurar a fundo o assunto de interesse, é buscar, questionar, duvidar e quando
achar a resposta se perguntar o porquê daquela resposta. A pesquisa nos leva a pensar e
leva a novos caminhos, entendo que pesquisa não é só buscar, mas sim compreender e
interpretar o que foi encontrado.”
186
As respostas da pergunta “B”, por sua vez, giram em torno de que foi possível perceber
como as profissões se relacionam, que cada profissão tem sua importância na
construção da sociedade, bem como, que a pesquisa sobre as profissões permitiu um
aprofundamento do estudo dos períodos históricos da humanidade, posto que era
necessário compreender a evolução da profissão ao longo da História. A questão “C”,
que faz refletir e comparar sobre a visão que se tinha sobre a atividade profissional antes
e depois da pesquisa, teve respostas bem diversas: para alguns a pesquisa permitiu
perceber que não é a área que querem seguir, ou seja, fez alguns alunos mudarem de
ideia sobre seu futuro profissional, o que, sem dúvida, é algo de grande importância.
Para outros, a pesquisa fez somente aumentar o desejo que se tinha em seguir
determinada profissão. Além disso, enquanto parte dos alunos relataram que a pesquisa
modificou o olhar sobre a profissão, outros disseram manter as mesmas perspectivas de
antes.
A última questão relevou que todos os alunos se sentem mais preparados para realizar
pesquisas futuras. Nas respostas encontramos frases como “aprofundou meu
conhecimento sobre metodologia de pesquisa fazendo ser mais interessante a busca do
assunto de forma geral”; “me sinto mais preparado para realizar pesquisas com
segurança e qualidade”; “compreendi como organizar corretamente um trabalho”; “a
cada pesquisa realizada surge alguma dúvida ou curiosidade que nos faz pesquisar e ir
muito além do que nós mesmos pensávamos”; “maneiras de como fazer pesquisa, onde
procurar informações, me ajudou a escrever melhor”; “tenho ideias melhores”; “o
trabalho e a apresentação me fizeram criar e me desafiar a dominar o conteúdo para
apresentar, vencendo a angustia e o nervosismo”.
Por tudo isso, percebemos que o trabalho de pesquisa foi significativo à maneira de cada
um, seja porque ampliou ou modificou o olhar que se tinha sobre determinada profissão,
alterando, até mesmo, seu desejo sobre exercê-la ou não, seja porque permitiu aprender
a pesquisar. Parece que aí está o aspecto mais importante. Conteúdos podem até ser
esquecidos, mas o aprender a aprender, aprender a pensar, aprender a pesquisar,
referem-se a um âmbito da formação que dificilmente será desconstruído.
Referências bibliográficas
187
DEMO, Pedro. Pesquisa e construção de conhecimento: metodologia científica no
caminho de Habermas. 7ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2009.
188
POR UMA ARQUEOLOGIA PRÉ-COLOMBIANA
EM SALA DE AULA
Marlon Barcelos Ferreira
Não se pretende neste breve artigo salientar a importância do livro didático, mas apenas
analisar brevemente o conteúdo nele trabalhado sobre a pré-história americana e
mostrando que em muitos casos é o único texto disponível na formação dos estudantes e
também dos professores (FERNANDES; MORAES, 2005, p. 143-144).
Para dar conta deste objetivo, tomei como referencia os textos presentes nos livros
didáticos de história do Ensino Médio e distribuídos aos alunos através do Plano
Nacional do Livro Didático (PNDL) do Governo Federal de 2015.
Nas ultimas décadas diante das mudanças que a historiografia sofreu ao longo do século
XX, a história ganhou novos objetos, métodos e abordagens, alargando o sentido do
documento para as situações em que não há registros escritos.
Para dar conta desse novo universo de pesquisa ao qual a história se lançou em
detrimento de uma história meramente política, os historiadores ampliaram a noção de
documento histórico. (LE GOFF, 1993, p.28). Assim, através de uma metodologia
específica e dialogando com a arqueologia, o historiador busca também entender este
período através da análise da cultura material dessas populações que povoaram a
América antes da conquista europeia.
189
que acaba levando a carência de trabalhos acadêmicos sobre esses povos pré-contato
que aqui habitaram.
Assim, como também salienta a professora Marisa Lajolo (1996, p.4), o livro didático
no Brasil assume uma grande importância dentro da prática de ensino dos professores,
pois os livros didáticos são muitas das vezes o único recurso que o professor possui para
não apenas para preparar e desenvolver sua aula, mas também para estudar o conteúdo
e suprir lacunas na sua formação acadêmica. Desta maneira, o papel do livro didático é
ampliado e ele “acaba determinando conteúdos e condicionando estratégias de ensino,
pois, de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina o que se ensina”. (LAJOLO,
1996, p.4).
Por esse motivo surgiu à preocupação de fazer uma análise de como esse instrumento de
ensino-aprendizagem vem transpondo os trabalhos acadêmicos e historiográficos sobre
o tema para sala de aula e assim servindo de material de estudo dos alunos e também de
muitos professores que veem nele o único meio de se aprofundar sobre determinados
temas que não foram trabalhados na Universidade como o da pré-história americana.
Para realizar uma pequena análise de como a Pré-História da América está sendo
trabalhado nos livros didáticos, foram escolhidos três coleções de história do ensino
médio destinadas aos alunos da rede pública disponíveis pelo Programa Nacional do
Livro Didático do Governo Federal para o triênio 2015-2017.
A historiografia ainda em sua maior parte usa a divisão clássica entre pré-história e
história. No caso do continente Americano, a divisão usual pela historiografia é do
período histórico sendo o período posterior à chegada dos europeus e a pré-história
sendo o momento anterior aos europeus (FUNARI; NOELI, 2005, p.14). Nos livros
190
citados, a história dos povos americanos aparece apenas em dois momentos com
relevância e destaque.
No primeiro momento, quando falam sobre a expansão do homem pelo planeta e tratam
do povoamento da América, percebemos que os três livros destinam poucas linhas a
este momento e no geral reproduzem a teoria mais aceita que é a Teoria Clóvis
(FUNARI; NOELI, 2005, p.34-35). No máximo fazem referência a outras teorias e
datações como discordâncias entre os arqueólogos. Na verdade, este é um dos mais
acalentados debates dentro da arqueologia americana atualmente, com diversas datações
e teorias em luta. Mereceria um destaque maior diante das várias teorias e implicações,
como no caso do Brasil, onde temos o caso do crânio denominado de Luzia, sendo um
caso especial de um não mongoloide ocupando a região sul da América e com datação
bem recuada perante a teoria Clóvis (FUNARI; NOELI, 2005, p.34-35).
Num segundo momento, nos três livros selecionados, os povos ameríndios aparecem
somente no momento da expansão marítima europeia. Como se a história desses povos
começasse naquele momento, reforçando a ideia de que a América é um produto
europeu (KOLING, 2008, p.3). Dentro desta visão, ressaltamos que no livro História
dos autores Georgina dos Santos, Jorge Ferreira, Ronaldo Vainfas e Sheila de Castro
Faria, a parte destinada aos Astecas e Incas aparecem em um subcapítulo cujo título é
“Os Império que os Espanhóis encontraram” (FARIA; FERREIRA; VAINFAS;
SANTOS, 2010, p.220).
Por fim, ressaltamos que a maneira como esses povos aparecem nos livros dão a
entender que com a chegada dos europeus essas populações desapareceram. Afinal, os
diferentes povos ameríndios mesmo com a dominação e conquista ainda continuaram a
resistir e muitas dessas populações ainda lutam para manter sua cultura nos dias atuais.
Por isso, o professor ao lidar com o livro didático deve entender que a construção do
livro passa pela sociedade e governo na qual está inserido. Assim, os livros não
simplesmente reproduzem as pesquisas acadêmicas da arqueologia ou da história, pois
também transmitem a visão do governo e da sociedade na qual ele está inserido
(BITTENCOURT, 2008, p.78).
Considerações finais
Pois, como salientam as pesquisadoras Isabel Rodrigues e Marcia Marinoci (2003, p.7)
talvez o problema mais sério não esteja na simplificação ou generalização dos livros
didáticos, mas na ausência da própria historiografia brasileira, que não possui uma
produção sistemática nessa área.
Referências Bibliográficas
FARIA, Sheila, FERREIRA, J.; SANTOS, G. ; VAINFAS, R.. Historia. São Paulo:
Saraiva, 2010.
192
A VIDA EM PRETO E BRANCO NA CIDADE:
EXPERIÊNCIAS DO PIBID COM A HISTÓRIA
LOCAL
Max Lanio Martins Pina
Maria Doralice Nepomuceno Barbosa
Para Pesavento (2008, p. 03) é na cidade que estão nossos pontos de ancoragem da
memória, pois ela se constitui de lugares visíveis, invisíveis e imaginados que são o
sustentáculo do nosso reconhecimento indenitário, levando em conta que as
experiências cotidianas ou excepcionais nos dotaram de carga simbólica que nos
permite diferenciar ou identificar espaços construídos pelo tempo, neste sentido, a
cidade é concebida como um lugar de memória. Por isso ela representa para o
historiador um campo fértil a ser descortinado, pesquisado e analisado.
Na cidade permanecem os vestígios do passado que podem ser observados nas ruas, nas
construções, nos espaços, nos monumentos, enfim em cada canto onde existem
lembranças das experiências do vivido. São memórias que precisam ser resgatadas e
trazidas ao presente por meio da História. Para isso um dos instrumentos que
possibilitam esse resgate são as fotografias que estão guardadas em arquivos pessoais,
particulares e familiares. De acordo com Sant’Anna (2012, 48) “A fotografia, como um
sedioso documento provido de linguagem visual, pode nos revelar informações e
emoções às vezes imperceptíveis por outras linguagens, como a oralidade ou a escrita”.
Conforme Sant’Anna (2012) haverá sempre um objetivo por trás da produção de
imagens, elas são produzidas para atender a determinados fins. Posto isto, entendemos
193
que as fotografias são fontes que revelam muito além daquilo que ela expõe para o
resgate do passado.
194
Fonte: Domínio público.
Fonte: Os autores
195
O apoio teórico
A partir desta proposta dos PCN’s percebemos a importância da história local para a
formação de uma consciência crítica da realidade social e da consciência histórica, que
valoriza as experiências culturais de sua comunidade e o seu pertencimento à mesma.
Isto vem de encontro com o projeto de uma educação libertadora, transformadora e
autônoma, pois segundo Freire citado Dias e Soares (2007, p. 72) “O ser alienado não
procura um mundo autêntico. Isto provoca uma nostalgia: deseja outro país e lamenta
ter nascido no seu. Tem vergonha de sua realidade”. A educação deve abranger o
educando como um todo, visando o pleno desenvolvimento de suas potencialidades,
capacitando-o para agir e interagir no meio e na sociedade, a reconhecer-se como
cidadão com direitos e deveres, possuidor de uma identidade que o torna ao mesmo
tempo indivíduo e membro de uma coletividade. E nesse sentido “o ensino-
aprendizagem da história local configura-se como um espaço de reflexão crítica acerca
da realidade social e, sobretudo referência para o processo de construção das
identidades destes sujeitos e de seus grupos de pertença” (CAIMI, 2010, p. 69).
Para Cainelli (2009, p. 139) a história local pode ser uma estratégia de aprendizagem
que garanta uma melhor apropriação do conhecimento por parte do estudante, inserindo-
o na comunidade onde ele vive, gerando nele atitudes investigativas a partir do seu
conhecimento, facilitando sua percepção de continuidades, diferenças, mudanças,
conflitos e também permanências. Contribui para a construção de uma história mais
plural, menos homogênea, além de dar vozes aos sujeitos históricos que foram
silenciados e contribui, ainda, para a formação identitária e social do aluno.
De acordo com Pesavento (2005, p. 14) uma cidade, “inventa seu passado e cria o seu
futuro para explicar o seu presente”. Por isso, é aceitável afirmar que ao longo dos anos
a cidade foi representada por palavras, faladas e escritas, por músicas através de
melodias e canções, por imagens desenhadas, pintadas ou projetadas do seu todo ou de
suas partes. Elas também foram “sonhadas, desejadas, temidas, odiadas” e admiradas
(PESAVENTO, 2007, p. 11).
A fotografia é uma invenção do século XIX. Seu surgimento foi marcado de acordo
Mauad (1996, p. 2) por polêmicas ligadas aos seus usos e funções, porque trazia consigo
o caráter de prova irrefutável daquilo que de fato havia acontecido, isto é, transformou-
se num espelho, cuja função era eternizar a imagem que refletia. Essa visão já não
define a fotografia na atualidade, as reflexões sobre o tema conforme a Mauad (1996, p.
6) classifica essa prática como “circuito social da fotografia”, problematizando a
“natureza técnica da imagem fotográfica como o próprio ato de fotografar, apreciar e
consumir fotografias”.
A experiência
Fonte: Os autores.
As sete estações com as fotografias separadas por categorias foram afixadas em murais
no corredor da escolar e em cada uma delas se encontrava um bolsista do PIBID que
explicava para os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental, bem como para os
demais funcionários da escola o que representavam aquelas imagens e a sua importância
como elemento fundamental para conservação da memória e resgate do passado
individual e coletivo da história local. Difundiu-se por meio dos bolsistas a ideia de que
todas as pessoas produzem memórias através das imagens que produz, como por
exemplo, a selfie que se tornou uma mania entre os portadores de aparelhos celulares
198
capazes de produzir fotos em altíssima resolução e representam um comportamento do
tempo presente.
Vale ressaltar que os estudantes em sua maioria notaram que as fotografias que
continham a representação de crianças, homens, mulheres e casais, possuíam uma
característica em comum. Em todas elas não se encontravam sorriso e quase sempre, as
pessoas ali representadas estavam em poses rígidas (conforme o conjunto das imagens 5
e 6). Tal situação permitiu aos bolsistas explicarem que a sociedade e seus valores estão
sempre mudando, por isso é necessário a História, para que se possa compreender que
nem sempre a humanidade foi o que ela é no presente, mas que existiram outras formas
de experiências do vivido.
199
Imagens 6: Crianças em pose e uma distinta senhora.
Considerações Finais
Portanto, observamos por meio dos estudos e da aplicação do projeto na escola campo
que a fotografia é um elemento muito importante para fazer e refazer as ligações da
memória com o passado cotidiano e privado da vida de indivíduos que contribuíram e
deixaram suas marcas visíveis e invisíveis na urbe.
Referências
CAIMI, Flávia Eloisa. Meu lugar na história: de onde eu vejo o mundo?. In: Oliveira,
Margarida Maria Dias de. (Coord.). História: Ensino Fundamental. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.
200
CAINELLI, Marlene; SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo:
Scipione, 2009.
FLORES, Maria Bernardete Ramos; Campos, Emerson César de. Carrosséis urbanos:
da racionalidade moderna ao pluralismo temático (ou territorialidades contemporâneas).
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 27, nº 53, p. 267-296, 2007.
MAUAD, Ana Maria. Através da imagem: fotografia e história interfaces. Tempo, Rio
de Janeiro, vol. 1, nº. 2, 1996, p. 73-98.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução: Yara
Aun Khoury. Proj. História, São Paulo, (10), dez. 1993.
PAIM, Elisom Antônio. Lembrando, eu existo. In: Oliveira, Margarida Maria Dias de.
(Coord.). História: Ensino Fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Básica, 2010.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Muito além do espaço: por uma história cultural do
urbano. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 8, nº 16, 1995, p. 279-290.
201
HISTÓRIA E PRODUÇÃO DE TEXTO:
TRABALHO REALIZADO NA ESCOLA
ESTADUAL ANTONIO TEODORO DE OLIVEIRA
EM CAMPO MOURÃO – PR COM ALUNOS DOS
8º ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE O
PERÍODO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Michel Henrique Patricio
Introdução
Atividade
A oficina consiste em quatro pré-roteiros passados para quatro grupos de alunos que
produziriam um texto em um sistema de rodízio. Este sistema visa a cooperação, pois se
este requisito não existir, não consegue-se montar um texto, além de promover a
integração não apenas do grupo em questão, mas também interação entre os demais
grupos. Com a produção de texto ficcional, tendo apenas por tema base, a escravidão, o
aluno acaba tendo que desenvolver a sua própria criatividade, onde o livro didático
torna-se incapaz de fornecer este material, logo rompe-se com ele. Dessa forma, a
atividade cumpre com o objetivo proposto de ser uma atividade que leve os alunos a
cooperação e rompa com o modelo do livro didático.
A atividade começou a ser realizada com uma aula expositiva, onde foi passado a linha
do tempo da escravidão no Brasil, com uma explicação breve dos principais
acontecimentos. Em seguida, pediu-se para que a turma formar quatro grupos e foram
expostos os seguintes roteiros:
202
1. Uma mulher negra que nasceu escrava e para se casar foi liberta, depois da
morte do marido se vende novamente como escrava, acaba por conseguir a
liberdade para casar novamente e vive do dinheiro do marido até a velhice
onde se vende novamente como escrava.
3. Um homem negro ao ir dar água aos animais encontra uma mulher, ele a
segue e encontra um quilombo e junto com outros negros preparam uma
rebelião para libertar seus colegas
4. Após uma visita seus parentes, ela/ele acorda no passado, antes da abolição
da escravidão.
Perante a apresentação dos roteiros os grupos escolheram suas histórias, por haver uma
disputa entre dois grupos pela história 4 e não havendo a história 1 chamado a atenção
do grupo em questão houve uma mudança sendo que a história 1 passou a ser: alguém
que era escravo acaba dormindo e acordando no presente. Ou seja, uma inversão da
história 4.
No terceiro dia, foi realizado as trocas onde um dos grupos adiantou a história, mas
outros grupos não. Logo o grupo acabou por realizar outras atividades, enquanto os
demais produziam seus textos. No final da aula houve a troca dos textos e também
tempo para a leitura dos mesmos.
No quarto dia de atividade, além da finalização dos textos, houve também um momento
de avaliação da atividade em si com os alunos. Uma aluna chegou a declarar que foi um
dos momentos que eles interagiram com a sala toda. A professora supervisora
perguntou-nos sobre o nosso parecer, onde foi levantados os pontos positivos e
negativos.
No quinto dia de atividade, foi realizado uma roda de leitura para que os alunos viesse a
ter conhecimento do que produziram.
203
Conclusão
Referências Bibliográficas
BOULLOS JUNIOR, Alfredo. História e Cidadania: 8° ano. FTD: São Paulo, 2012.
http://www.seer.ufv.br/seer/educacaoemperspectiva/index.php/ppgeufv/article/viewFile/
244/86
204
HISTÓRIA, ENSINO DE HISTÓRIA E A
PRODUÇÃO DO HERÓI: EM GOIÁS, TAMBÉM
TEMOS UM
Miriam Bianca Amaral Ribeiro
Quem ensina história no Brasil convive com um emaranhado de grandes datas, grandes
heróis e grandes fatos que, mesmo diante de tantas discussões teórico-metodológicas
como as que se acumularam ao longo das últimas décadas, insiste em se colocar como
um quase sinônimo de aula de história. As salas de professores do Ensino Fundamental
e Médio ainda são decoradas pelos imensos calendários com datas comemorativas que
povoam o cotidiano da sala de aula, das quais os livros, o professor, alunos e seus
cuidadores ainda estão quase reféns. Ao lado dos calendários, não raramente
encontramos um painel de ‘vultos’ nacionais.
Isso não é um acaso e sim um projeto político elaborado nos meados do século XIX,
quando, na pós-colônia e recente império, urgia elaborar um projeto de nação que
convencesse a todos os membros da suposta nova nação – o novo homem brasileiro –
que tínhamos o destino da grandeza. Um povo sem cultura e memória históricas oficiais
poderia se achar capaz de elaborar histórias diversas, sob diferentes matizes e interesses,
colocando em risco o trunfo da unidade política e territorial, além de fragilizar o
controle deste mesmo povo.
Fazia-se necessário e premente elaborar, sistematizar e ensinar uma história que fosse,
ao mesmo tempo, suporte para a manutenção do poder imperial e instrumento a serviço
do ‘apaziguamento’ das lutas internas, dos movimentos sociais de toda ordem, que
ameaçavam a execução do projeto de nação unificada. Essa tarefa foi cumprida pelo
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e pelo Colégio Imperial D. Pedro II, que,
respectivamente, inventaram e ensinaram a história encomendada pelo império. Entre os
instrumentos interpretativos dessa história, algumas datas foram inventadas para serem
seus marcos temporais e políticos desta, identificadoras de alguns grandes feitos
somente realizáveis por alguns grandes homens que mereceriam 'entrar para a história' e
serem reverenciados.
205
De lá para cá, sempre que as forças hegemônicas do Estado Nacional precisam reunir
forças para garantir a manutenção de seus projetos, o ensino de história é convocado
para dar esse suporte, para elaborar o convencimento. Foi assim, então, no Império, foi
assim no Estado Novo e na ditadura civil-militar instalada em 1964. Entender esse
trajeto da história ensinada no Brasil nos ajuda a não reproduzir, nos dias de hoje, esses
mesmos rituais.
Para que isso possa ser dito hoje, já faz um bom tempo que pesquisadores e professores
tem-se debruçado sobre esse objeto: o ensino de história. Longe de uma visão
maniqueísta da história ensinada e de seus atores, que identifica bons e maus, certos e
errados, bonitos e feios, bandidos e mocinhos, trata-se de compreender os porquês. Não
se trata de realizar julgamentos, trata-se de construir explicações científicas. Somos
todos sujeitos e objeto desta educação.
Hoje, alguns dos componentes mais arraigados desta história ensinada a partir do
Império e ainda presente em nossa cultura histórica, já foram objeto da investigação
científica e já se encontram desconstruídos. Vamos citar apenas um deles: o
'descobrimento' do Brasil. Ninguém mais fala em 'descobrimento' do Brasil, para se
referir ao confronto de culturas ocorrido no século XVI, sem que isso remeta ao uso de
aspas ou de uma explicação que rediscuta essa terminologia. Por um conjunto amplo de
razões, falar em 'descobrimento' como tal, revela, no mínimo, ignorância, para não falar
em eurocentrismo, preconceito étnico e cultural, entre outras tantas possibilidades.
Ocorre que é uma luta desigual, como desigual tudo é numa sociedade de classes como
a nossa. Enquanto pesquisadores e professores, não raramente a mesma pessoa, levamos
anos... Décadas para demonstrar de onde vem a história inventada e contada desde o
império brasileiro, uma campanha midiática reedita a história produzida pelo IHGB. Foi
assim nos '500 anos' de Brasil em 2000. Seria óbvio de não fosse trágico. Se dizemos
que o Brasil tem 500 anos, comemoramos isso com relógios e eventos, reafirmamos o
que o IHGB dos tempos imperiais elaborou: antes do português, com sua moderna
superioridade, não havia civilização por essas paragens. Para ser uma grande nação é
preciso desconsiderar o 'selvagem' como membro da nação, até que ele se integre
plenamente ao projeto, assumindo seu lugar subalterno até a extinção. Antes disso, tudo
é apenas natureza: gente, bicho e planta. Não é demais lembrar que nas 'comemorações'
dos '500 anos', índios, camponeses e estudantes foram devidamente punidos quando
manifestavam sua interpretação dos acontecimentos. Não é demais registrar que o
caderno especial “ Páginas da História: o retrato de um povo tradicional e
contemporâneo” do jornal ‘O Popular’, diário de maior circulação em Goiás, publicado
como encarte em dezembro de 2013 e fartamente doado às escolas públicas, traz em sua
apresentação: “O percurso da formação de Goiás e de seu povo começou no final do
século 18, com a chegada dos bandeirantes atrás do ouro (...).” Ou seja, antes dos
206
bandeirantes não havia história em Goiás, como não havia no Brasil antes de 1500.
E aí, chegamos à parte que nos cabe nesse latifúndio: a história de Goiás.
Não é de hoje que se estuda e ensina a história de Goiás, dentro e fora das
universidades. Estão disponíveis nas estantes das bibliotecas públicas, nas atividades
escolares do ensino fundamental e médio, nos acervos de trabalho de fim de graduação,
nos arquivos dos programas de especialização, mestrado e doutorado da área de
Ciências Humanas, nos 'sebos' da capital, centenas de obras que tratam de centenas de
temas da história regional. Muito já se estudou, escreveu, reescreveu e continuamos
escrevendo.
A ideia de que a Cidade de Goiás não mais comportava as tarefas de uma capital, pelas
características do terreno, pela suposta insalubridade, pela pouca água e outros
argumentos levantados pelos defensores do projeto de transferência da sede de governo,
devem ser pensados como elemento próprio de uma disputa oligárquica. O Palácio
Conde dos Arcos, então sede do governo, era uma ilha Ludovico cercada de Caiados por
todos os lados, posto que Pedro Ludovico foi içado ao posto de interventor pelas mãos
de Vargas, na reordenação do pacto oligárquico que colocou os Caiado nos ostracismo,
enquanto até então eram a mais plena expressão do mandonismo local na região. Não há
como tratar essa disputa oligárquica como se tivéssemos que escolher de que lado ficar:
mudancistas ou não mudancistas, defensores do moderno ou do atraso. Não é a postura
de quem estuda a história como ciência.
Ocorre, que, desde 1930, vem se construindo a ideia de Pedro Ludovico como homem à
frente de seu tempo, de herói, de grande promotor da modernidade em Goiás, que teria
tirado Goiás do atraso, por construir Goiânia e transferir a capital. Sucessivos governos
disputam o capital político acumulado por esse procedimento, e para isso, tem que
reeditá-lo. Mesmo não se sustentando sob uma investigação histórica e historiográfica,
essa história vem sendo contada, recontada, reescrita e ensinada cotidianamente em
Goiás, através dos mais variados instrumentos. Por exemplo, em 2010 foi instalada, nos
gramados do Centro Administrativo, em Goiânia, uma enorme estátua de Ludovico,
com os dizeres ‘Uma trajetória marcada por grandes obras, rupturas, combates, avanços
e modernidade. Nesta data, o governo de Goiás cumpre o compromisso dos goianos de
agradecer a cidade de Pedro.’ Não há como detalhar aqui, mas, temos identificado livros
de literatura infantil e infanto-juvenil, gibis, revista feminina com o nome ‘Ludovica - a
revista da mulher goiana moderna’, livros didáticos, noticias de jornal escrito e
televisado, comemorações, distinções e comendas, entre dezenas de outros dados em
levantamento e análise, nos convenceram da invenção/produção do herói regional como
instrumento de reedição de uma versão da história de Goiás, ensinada dentro e fora das
salas de aula, a serviço da afirmação da ideia de história como ação de alguns,
superiores a todos os outros, com o endereço político aqui já mencionado.
207
Referências Bibliográficas
208
O QUE É SER BRASILEIRO? A CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE NACIONAL BRASILEIRA NO XIX A
PARTIR DE UMA AULA OFICINA
Nathalia Hermann
Vitor Gasparetto
O presente texto se propõe a analisar uma aula oficina realizada a turma do 8ºano da
Escola de Educação Básica Municipal Henrique Veras em Florianópolis. A aula oficina,
na perspectiva da historiadora portuguesa Isabel Barca, se constrói a partir da ideia de
que os estudantes são os próprios agentes do seu conhecimento. Esse mesmo
conhecimento é proporcionado através de indagações feitas pelo professor por meio de
atividades intelectualmente desafiadoras, como por exemplo a análise de documentos
(2004). O professor é peça chave do processo de construção da aula oficina e segundo
Isabel Barca o mesmo
O objetivo da oficina analisada era trazer questões sobre identidade, nação e o passado
presente na consciência histórica de cada aluno e discutir como essas narrativas foram
construídas. A consciência histórica, segundo o teórico alemão Jörn Rüsen, pode ser
definida como uma categoria que se relaciona a toda forma de pensamento histórico,
através do qual os sujeitos possuem a experiência do passado e o interpretam como
história. Em outras palavras ela é “(...) a suma das operações mentais com as quais os
homens interpretam sua experiência da evolução temporal de seu mundo e de si
mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no
tempo” (RUSEN, 2010, p. 57).
Durante o planejamento da aula oficina a mesma foi pensada para ser realizada em três
momentos: Dois debates e uma análise de documentos. Os debates, que ocorreram no
início e final da oficina, serviriam para trazer a tona quais são os conhecimentos já
existentes na mente dos alunos e alunas. A turma tinha acabado de estudar sobre os
processos de vinda da corte real portuguesa em 1808 e a independência do Brasil e,
apesar dos alunos terem aprendido sobre um suposto “projeto de nação” construído na
época, queríamos mostrar as permanências desse mito no nosso discurso e como nos
identificamos com o ser “Brasileiro”. Nessas discussões buscamos a opinião dos alunos
sobre eles “se considerarem brasileiros” e o que tornaria alguém brasileiro, lendo a
visão deles sobre identidade.
209
A análise em sala foi realizada com base em documentos adaptados que buscavam
narrar sobre uma “pluralidade” de identidades que existiam no Brasil do século XIX.
Cada um desses documentos tratava de um grupo étnico-social (Negros em de origem
Malê, Grupos Indígenas, Açorianos, Alemães e Portugueses da corte real) e a turma foi
separada em quatro grupos para examiná-los. Junto com as fontes uma série de questões
serviram como guia para a análise dos trechos. O questionário trazia perguntas sobre as
características do documento (“quando ele foi escrito?”, “quem escreveu?”, “sobre
quem fala?”) bem como indagações em aberto sobre a identidade desses personagens
históricos, buscando a interpretação e a opinião pessoal dos alunos e alunas (“Você acha
que essas pessoas eram brasileiras? Porque?”). Essas questões serviram como base para
um segundo debate com os alunos, que deveriam discutir sobre ser brasileiro agora e no
século XIX utilizando-se desses exemplos.
De 1831 a 1840 o Brasil vivia o Período Regencial, não havia um imperador de fato e
várias províncias abrigavam movimentos separatistas. Por isso, a unidade do Estado
Imperial estava ameaçada e a História surge como um elemento capaz de construir uma
identidade nacional “aglutinadora”. A partir dessa necessidade é criado o IHGB
(Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), que surgiu com o objetivo de ajudar a
elaborar uma narrativa sobre o passado nacional que valorizasse os feitos políticos
ligados à monarquia portuguesa e construía os mitos fundadores que sustentariam a
idéia de nação brasileira. Uma produção historiográfica que, segundo o historiador
Manoel Guimarães “escapa às regras e injunções específicas do mundo acadêmico”
(GUIMARÃES, p.9, 1988)
Essa é uma narrativa que apesar de já apresentar o “mito das três raças”, colocava o
elemento europeu como encabeçador de um processo civilizador. Essa era uma narrativa
que também tentava diminuir os contrastes regionais, pois os elementos regionais eram
vistos como fragmentadores dessa identidade nacional. Apesar de hoje em dia, no
discurso dos alunos, encontrarmos muito elementos de narrativas locais (como, por
exemplo, a figura dos açorianos, muito presentes na tradição florianopolitana e por
consequência na própria tradição da escola), a construção narrativa de uma “mistura”
entre elementos europeus, negros e indígenas, que se iniciou no século XIX e depois se
tornou o “mito da democracia racial” continua sendo o elemento central na discussão
dos alunos ao se referenciar a “ser brasileiro”.
Não se pode esquecer que a democracia racial foi criada para fundamentar uma
homogeneização cultural e omitir as diferenças e desigualdades sociais e serviu para
fortalecer a ideia de uma história nacional com a ausência de conflitos entre os povos.
Com a oficina e a análise dos documentos os alunos aparentam ter notado as
intencionalidades de certos grupos ao se escrever as narrativas clássicas sobre
identidade brasileira bem como os conflitos entre diferentes grupos e identidades, que
apareciam muito fortemente nesse Brasil do século XIX.
210
Referências
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. BARCA, I. (Org.) Para uma
educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro
de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e Psicologia, Universidade
do Minho, 2004, p. 131 – 144.
211
O ENSINO DE HISTÓRIA ANTIGA ATRAVÉS DA
ANÁLISE DE IMAGENS DO EGITO
Nathália Machado Freire de Arruda
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) vemos que o objeto do
componente curricular de História é viabilizar a compreensão e problematização, pelos
estudantes, dos processos de constituição e transformação de valores, saberes e fazeres,
em diferentes tempos e espaços, de pessoas e coletividades.
Com foco no ensino de História Antiga, temos diversas formas de explorar este período
histórico em sala de aula, não apenas com documentos escritos, mas também com a
cultura material, com o estudo arqueológico de edifícios, estátuas, cerâmica, pintura,
entre outras categorias de artefatos (FUNARI, 2007, p. 97). Com a seleção desse
material, o professor pode abordar diferentes aspectos da sociedade e estimular
reflexões sobre as estruturas econômicas, sociais, políticas e cultural da antiguidade
(FUNARI, 2004, p.2).
Uma das formas que podem ser trabalhadas em sala de aula é a análise de imagem, pois
nos permite observar o passado de forma mais vívida. As imagens trazem mais
ludicidade e interação com o conteúdo em análise (BITTENCOURT, 2008) Como
sugerido pelo crítico Stephen Bann, citado no livro Testemunha ocular, nossa posição,
face a face com uma imagem, nos coloca face a face com a História (BURKE, 2004,
p.17). Paulo Knauss, fala em seu texto, O desafio de fazer história com imagens: arte e
cultura vizual, sobre o desafio de estudar história com imagens, diz que a imagem pode
ser caracterizada como expressão da diversidade social, exibindo a pluralidade humana.
Peter Burke completa, afirmando que as imagens, assim como textos e testemunhos
orais, constituem-se numa forma importante de evidência histórica. O autor ainda
afirma que o uso das imagens, em diferentes períodos, como objetos de devoção ou
meios de persuasão, de transmitir informação ou de oferecer prazer, permite-lhe
testemunhar antigas formas de religião, de conhecimento, crença, deleite, etc.(BURKE,
2004, p.17)
212
Por isso, um direcionamento lúdico a alunos do ensino fundamental vai estimular o
aprendizado sobre as estruturas sociais e as produções artísticas e culturais, além de um
aprofundamento na civilização que está sendo trabalhada em sala. Além disso, a
imagem possui um registro abrangente, baseado em um dos sentidos que caracterizam a
condição humana (KNAUSS, 2005, p. 99).
O professor de História Antiga encontra várias barreiras, uma das maiores é fazer com
que o aluno se interesse pelo conteúdo trabalhado em sala de aula. Uma maneira de
despertar este interesse é levar imagens e analisar junto com a turma, fazendo assim
com que os alunos tenham uma maior aproximação com o tema abordado. Peter Burke
afirma que a imagem pode ser usada como evidência histórica, já que a arte pode
fornecer informações sobre os aspectos da realidade social, que os textos muitas vezes
abordam superficialmente.
Uma das sociedades antigas, que deixou um bom acervo de material, foi o Egito, já que
eles utilizavam diversos suportes para registrar sua história. Um dos mais conhecidos
são as paredes e portas dos templos, onde encontram-se narrações sobre os feitos dos
soberanos, mas também grande número de autobiografias e matéria religiosa, como os
Textos das Pirâmides (ARAUJO, 2000, p.28). Podemos usar como material de analise
em sala de aula as imagens das pirâmides, por exemplo, que vão nos dar muitas
informações sobre esta sociedade.
O estilo egípcio tinha varias regras que fazia com que a arte permanecesse num padrão,
como por exemplo:
Como essa regra definia o padrão da arte egípcia, encontramos características como:
213
Tendo por base os padrões que estão em toda a arte egípcia, podemos analisar algumas
imagens e aprender mais sobre essa sociedade. Podemos encontrar através da imagem
abaixo as características citadas anteriormente, como a questão do tamanho em que a
pessoa era representado, que mostrava sua classe naquela sociedade. Observamos
também na imagem a forma como os corpos eram desenhados.
Podemos ver no centro da imagem um homem maior que as demais pessoas, isso
representa que ele tem uma importância social maior do que os outros indivíduos
presentes na imagem. Logo abaixo dele tem uma menina em tamanho menor, o que
representa que ela é inferior ao homem e à mulher ou que é filha deles; a mulher
também é representada com menos importância do que o homem, que é o elemento
central da imagem. Outros elementos que podemos encontrar é o papiro, planta que
dava origem á folha de papiro; temos também aves que estão possivelmente sendo
caçadas, e vemos também os peixes no rio Nilo, que representam a sua fertilidade para o
povo egípcio.
Ao levar as imagens para serem analisadas em sala de aula, vemos que os objetos, as
pinturas e as esculturas têm sempre um tema recorrente que é a religião, e com isso
podemos mostrar para o aluno, a relação que esse poder tinha com os deuses.
214
No Antigo Império, podemos abordar a análise das imagens das pirâmides, mostrando
como foi o processo de construção, a evolução das mastabas, que eram túmulos com o
formato retangular, até as grandes pirâmides conhecidas mundialmente. Podemos levar
imagens que mostrem o interior delas e explicar, por exemplo, a crença dos egípcios no
pós-morte, o motivo das grandes pirâmides, o local onde ficava o corpo, inclusive
abordar todo o processo funerário que este povo realizava.
Ao levar esta metodologia para a sala de aula, fazemos com que o aluno desperte o
interesse e tenha uma maior facilidade de compreender esta parte da história do Egito, já
que, quando ele se depara com imagens, concretiza melhor o conhecimento e sai do
censo comum.
Referencias Bibliográficas
Burke, Peter. Testemunha ocular: história e imagem / Peter Burke; tradução Vera
Maria Xavier dos Santos; revisão técnica Daniel Aarão Reis Filho. –
Bauro,SP:EDUSC,2004.
Knauss, Paulo. O desafio de fazer história com imagens: Arte e cultura visual. João
Pessoa, 2005. Disponível em: <
http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF12/ArtCultura%2012_knauss.pdf >
Pedro Paulo Abreu Funari e Renata Senna Garraffoni, História Antiga na Sala de
Aula. Campinas, IFCH/UNICAMP, Julho de 2004, Textos Didáticos n. 51.
215
RAÍZES DO REGIME MILITAR NO AMBIENTE
ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO
Pedro Henrique Caires de Almeida
Valdemir Paiva
É correto pensar que, após o fim da ditadura militar dissiparam-se todas as suas heranças
autoritárias, sobretudo no campo educacional? Buscamos aqui, tenta responder à questão, ou
trazer o tema à baila, tendo como base observações feitas em um colégio estadual na cidade
de Campo Mourão, Paraná.
Uma das leis mais emblemáticas instituídas ao sistema de educação foi a de n° 5.692, de
1971. Romanelli (1996) comenta que a intenção desta lei, foi de criar uma maneira de
formar estudantes, com o objetivo de, após qualificá-los, atender a necessidade latente
do mercado de trabalho. Assim, cabia à escola promover conteúdos e métodos que
possibilitassem além da cultura geral básica, também a educação para o trabalho e a
educação de formas de relacionamento humano em que estivessem proscritos, “de uma
vez por todas, seus aspectos autoritários e inibidores” (p. 237).
216
Como destaca Piletti (1990), nos currículos de 1º e 2º graus emergiu um núcleo comum
obrigatório, integrado pelas disciplinas de Língua Portuguesa, Estudos Sociais,
Matemática, Ciências, Educação Moral e Cívica (EMC), Educação Física, Educação
Artística e Programas de Saúde (PILETTI, 1990, p.122). Em relação a esse núcleo
comum e obrigatório, ele trouxe prejuízos para a educação, tais como: a abolição de
algumas disciplinas escolares como a Sociologia, Filosofia e a Psicologia.
Isto posto, queremos com esse trabalho mostrar que, mesmo sendo uma escola civil, o
Colégio Estadual Marechal Rondon possui características militares em sua pedagogia,
adjacentes, provavelmente, do período do Regime Militar, época onde a instituição mais
cresceu e se tornou referência de ensino na cidade.
Ao passo em que o Brasil vivia os avanços de prosperidade econômica até então nunca
visto, ocorrendo a imediata necessidade de formar técnicos para suprir a necessidade de
operários que soubesse e fossem minimamente educados para o trabalho, vivíamos a era
do tecnicismo.
218
suficientes para reformular e atualizar os métodos de ensino, pois o que se percebe é a
mudança dos alunos e a estagnação da estrutura escolar.
Referências bibliográficas
PILLETI, Nelson. História da Educação no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1990.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. História geral do. 4. Ed. Rio de Janeiro, 1990.
P.273-303.
219
NOVAS ABORDAGENS NO ENSINO DE
HISTÓRIA DO NAZISMO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
BRASILEIRA
Priscilla Piccolo Neves
A historiadora Márcia Menendes Motta (2012) destaca que segundo Nolte, ao contrário
de outras tragédias da humanidade, a experiência nazista havia deixado marcas
indeléveis na história alemã e era reiteradamente lembrada como uma história do
passado que havia fincado raízes no presente. Na mesma linha, o historiador alemão
Hinnerk Bruhns, postula que a construção de uma nova identidade alemã no contexto da
reunificação não deveria eliminar a experiência de Auschwitz. Assim, seria legitimo
guardar na memória coletiva alguns esforços em prol da democracia nos períodos
anteriores ao nazismo, inclusive ressaltando determinadas possibilidades não realizadas
desse passado. Mas a verdade é que para este autor aqueles elementos tinham menos
importância como parte da identidade alemã “do que os que marcaram o advento e os
horrores do nazismo”.
Muito já foi produzido sobre o tema. Incontáveis são as obras sobre as estratégias
militares, a trajetória pessoal de Hitler, seus aspectos psicológicos que explicariam os
horrores do nazismo. Inúmeros são os museus que buscam manter viva a memória do
holocausto. Até mesmo um Estado independente foi criado em decorrência do ocorrido
com os judeus. No entanto, quando os componentes curriculares “Nazismo e Segunda
Guerra Mundial” adentram o cotidiano escolar, vem a tona, como ferramenta
pedagógica primordial, o livro didático, em todo seu formalismo e limitações.
220
De acordo com Christian Laville (1999), no passado o dever do ensino de Historia era
apenas uma forma de educação cívica, ou seja, tinha o papel de confirmar a nação no
estado em que se encontrava no momento, legitimando sua ordem social e política.
Ensinado ao povo respeito por ela e dedicação para servi-la. O aparelho didático desse
ensino era simples: uma narração de fatos seletos, momentos fortes, etapas decisivas,
grandes personagens, acontecimentos simbólicos e, de vez em quando, alguns mitos
gratificantes. Cada peça de narrativa tinha sua importância e era cuidadosamente
selecionada.
O Brasil ainda possui muitas escolas em que as formas de ensino ainda não dialogam
com as novas formas de se pensar o Ensino de Historia, continuando presas a
paradigmas doutrinários mais próximos ao século XIX do que ao XXI. Para muitos
pesquisadores, ainda é valida a ideia de que o Ensino de Historia tem como sua
principal função moldar a consciência e a ditar as obrigações e os comportamentos para
com a sociedade, ao invés de guiar os cidadãos para desenvolverem uma capacidade
autônoma e reflexiva para participarem da sociedade de uma forma colaboradora.
Segundo Katia Maria Abud (2003), a história como disciplina escolar, também é
histórica e, como campo de conhecimento, passa por mudanças e transformações que a
fazem filha do seu tempo. As novas abordagens, os novos objetos, outras fontes, outras
linguagens foram se incorporando ao Ensino de História. As novas tendências e as
correntes historiográficas que entendem a História como construção, aliadas a
concepções que envolvem o processo de ensino-aprendizagem, provocaram
transformações bastante profundas na construção da história como conhecimento
escolar. Tais transformações produziram modificações na Didática da História e
provocaram uma reformulação na prática pedagógica. É necessário que se destaque a
introdução e a permanência, nos documentos curriculares, de orientações sobre o uso
das novas linguagens, a despeito da inércia da organização escolar no sentido de
consolida-las como práticas cotidianas.
Ainda segundo Abud, a História escrita pelos historiadores dos Anales indicou novos
caminhos para a Historia e no Pós-Guerra, no período que cobre os anos 1950 e 1960,
pelo menos duas correntes desdobraram-se da proposta francesa: a chamada história
social e a da história das mentalidades. No mesmo período, nos Estados Unidos, Suíça,
França e Itália, educadores e estudiosos da Psicologia da Aprendizagem opunham-se às
práticas pedagógicas tidas como tradicionais, visando a uma educação que pudesse
integrar o individuo na sociedade e, ao mesmo tempo, ampliassem o acesso de todos à
escola. Reconheciam que as transformações pelas quais a sociedade ocidental passava
exigiam a utilização de diferentes métodos de ensino que enfatizassem o lado criativo
do aluno e as possibilidades de participação na elaboração do conhecimento. A noção de
que cabia a criança descobrir o conhecimento por meio dos sentidos, e que era a partir
do trabalho em sala de aula, ou em atividades extraclasses que o saber deveria ser
construído pelo aluno, individual e coletivamente, pesava na organização das propostas
metodológicas para o ensino. As novas tecnologias eram apontadas como recursos
didáticos para o desenvolvimento dessa Escola Nova, como passou a ser denominado o
conjunto de ideias que combatia o ensino tradicional.
Bibliografia
ABUD, Katia Maria. A construção de uma Didática da História: algumas ideias sobre a
utilização de filmes no ensino. História. São Paulo. Vol. 22. 2003.
222
CARDOSO, Oldimar. Para uma definição de Didática da História. Revista Brasileira
de História. São Paulo. Vol. 28, n° 55. 2008;
HOBSBAWM, Eric. Sobre a História. São Paulo: Cia das Letras, 1988.
MOTTA, Márcia Maria Menendes. História, memória e tempo presente. In: org.
CARDOSO, Ciro Flamarion; e VAINFAS, Ronaldo. Novos Domínios da História.
Elsevier Editora Ltda. Rio de Janeiro. 2012.
223
ENCANTARIA E CULTURA ESCOLAR NO
MARANHÃO
Reinilda de Oliveira Santos
Antes de tudo, deve-se destacar que em vários estados do Brasil é possível perceber a
disseminação dos cultos afros. Esta proliferação pode ser vista, de certa forma, como a
vitória de saberes e fazeres que, através de homens e mulheres africanos que
atravessaram o oceano, se arraigaram á sociedade brasileira. Assim, variando de acordo
com a origem territorial africana e o contato com práticas e saberes nativos, foi se
configurando um campo múltiplo, diversificado e rico de expressões culturais e
religiosas de marca popular e negro-mestiça. No caso do Maranhão, tornou-se muito
comum o Tambor de Mina, no Piauí o Catimbó, no Amazonas a Pajelança, em Alagoas,
Sergipe e Pernambuco o Xangô, na Bahia o Candomblé, na região central a Umbanda, e
na região sul o que se convencionou denominar de Batuque. Essas são categorizações
comuns, entretanto há inúmeras variações no âmbito de cada uma dessas regiões.
Desta forma a escola, que deveria ser um ambiente que subsidiasse uma leitura crítica
da diversidade religiosa existente no país, muitas vezes se posiciona de forma
inadequada, trazendo elaborações equivocadas com o intuito de desqualificar e
demonizar essa religião. Diante disso é válido frisar que, além das ações afirmativas de
grupos específicos como o movimento negro e o advento da lei 10.639, um passo
importante e demasiado necessário que precisa ser trilhado é o da mudança no processo
educacional, sobretudo, no ensino fundamental. Nesse contexto, a disciplina de História,
assim como a de Ensino Religioso, deve colaborar nesse processo de valorização e
legitimidade das diferentes concepções de religião, desde que as mesmas sejam
ministradas por profissionais qualificados para tal tema, concentrando, assim, a atenção
224
necessária para se compreender a diversidade cultural e religiosa existente no país,
voltado principalmente para realidade a qual os alunos estão inseridos.
Vale destacar que o terreno da questão religiosa é, no campo educacional, um dos mais
árduos a se debater, especialmente no que se refere à cultura afro-brasileira,
considerando não apenas o processo histórico de estigmatização dessas religiões desde o
Brasil Colônia, mas também os movimentos mais recentes de ataque, fomentado
,sobretudo, por igrejas evangélicas. Assim é necessário problematizar esse tema nas
escolas, pois, de um lado, ao incorporar essa discussão, abre-se a possibilidade de um
rompimento real com o proselitismo no ambiente escolar, por outro, deve-se reconhecer
este como um espaço indispensável para se pensar a problematização das relações
étnico-raciais no país. Partindo assim do pressuposto de que é significativo criar um
sentimento de pertencimento do aluno á realidade histórica.
Assim, ao ensino da História pode-se dizer, cabe uma dupla missão: a de identificar a
tradição presente nas narrativas e a de propiciar o desenvolvimento da competência
narrativa dos alunos, garantindo que não se perca neste processo a racionalidade contida
no conhecimento histórico em sua dimensão científica, capaz de satisfazer interesses e
orientar o aluno para um entendimento da sua vivencia. Dessa forma, a relação entre a
teoria da História e o ensino se dá na medida em que compreendemos como dimensão
da ciência especializada da história, sua relação com o cotidiano, com os interesses e
com a orientação da vida prática. Nesse sentido se faz necessário frisar como a vida
prática está sendo problematizada em sala de aula, com foco especifico nas práticas
religiosas. Na realidade, pensar a História enquanto objeto de prática pedagógica e,
sobretudo, fazer uma relação entre a História escrita e a ensinada é uma tarefa árdua.
Daí a importância de pensar em seus percalços antes de entender como ela pode ser
melhorada.
Acredito ser essa uma importante forma de construção de uma escola mais democrática
e dinâmica, o que supõe articular igualdade e diferença nas salas de aula. Tendo em
vista que a dimensão cultural é inerente aos processos pedagógicos, pois, como assegura
Candal, (2008) “está no chão da escola” e potencia processos de aprendizagem mais
significativos, no instante em que permite que os alunos se sintam pertencentes
enquanto sujeitos ativos. Ajudando assim no processo de combate a esse silenciamento,
invisibilidade e sentimento de inferiorização desses sujeitos.
Referências
226
BERKENBROCK, Volney J. A experiência dos orixás- um estudo sobre a
experiência religiosa do candomblé. Rio de janeiro: Vozes, 1998.
CAPUTO, Stela Guedes. Educação nos terreiros: e como a escola se relaciona com
crianças de candomblé. – 1ª Ed. – Rio de Janeiro : Pallas, 2012.
227
A HISTÓRIA LOCAL DE CAETITÉ ATRAVÉS DO
CURANDEIRISMO
Siméia Teixeira Gomes de Souza Silva
Jumara Carla Azevedo Ramos Carvalho
O presente trabalho tem por objetivo relatar os resultados e pontos relevantes a respeito
da aplicação de uma caixa temática sobre história local de Caetité, essa proposta foi
pensada pela coordenação do PIBID de História e diante desse desafio surgiu a ideia de
trabalhar com o curandeirismo, um fazer muito presente na sociedade caetiteense, mas
que por uma série de fatores essa prática foi e é vista tanto no município quanto no
Brasil de forma preconceituosa.
Para a realização das caixas temáticas, propomos um assunto pouco discutido nas
escolas, mas que possui vasto campo de estudo, pois envolve as questões afro-
brasileiras e também questões cotidianas de um povo e obviamente os diversos aspectos
dessa sociedade no qual esses sujeitos viviam. A finalidade desse trabalho foi entender
o contexto histórico pelo qual as práticas de cura foram negativadas e a partir daí
estudar e entender como que essa sociedade via os curandeiros bem como, os sujeitos
que iam a procura destes e perceber as rupturas e permanências da mentalidade
caetiteense em relação às curas populares. Objetivando difundir conhecimento da nossa
cultura suprimindo preconceitos e estereótipos enraizados no conceito popular sobre o
curandeirismo, a fim dos alunos conhecerem um pouco dessa história, que explica
muito dos conceitos prévios que os mesmos tem sobre tal fazer.
O trabalho foi desenvolvido em duas aulas e por equipes para execução das quatro
missões. Dentro de cada caixa possuía todas as instruções mais alguns envelopes de
cores diferentes com as fontes necessárias para desempenhar a tarefa.
Antes da divisão das equipes foi feito um breve histórico de como surgiu essas práticas
de cura no Brasil e quais os fatores que levaram tal fazer, ser visto de forma negativa na
sociedade brasileira e após essa explanação foi trazido essa problemática para a história
local de Caetité, traçando um paralelo histórico da cidade que levou o município a
negativar o curandeirismo.
A primeira missão possuía alguns trechos do Processo crime movido em 1967 contra o
curandeiro Antônio Lessa, que residia em Tanquinho do Papagaio em Maniaçu
(Caetité). E através desse processo os alunos responderam alguns questionários que os
levavam a analisar como essas práticas eram vistas antes e hoje em Caetité, quais as
rupturas e permanências, levando a refletirem sobre o conceito popular que as os
mesmos tem sobre essa temática.
Na segunda missão foi apresentado aos alunos duas entrevistas, feita pela historiadora
Adriana Sacramento, a uma benzedeira da região de Caetité conhecida como Dona
Eliza, nesse relato oral essa senhora narra como ela produz seus remédios e como estes
228
são preparados. E a partir da análise dessas entrevistas, foi pedido aos educandos para
destacarem quais das ervas medicinais citadas eles conheciam, apresentando como que
as mesmas são utilizadas de acordo seus conhecimentos, foi pedido também aos alunos
que relatassem outras ervas medicinais utilizadas pela população caeteense,
descrevendo-as e qual sua a sua finalidade. O objetivo com essa proposta foi fazer com
que os discentes percebessem como que essas práticas de cura esta presente em nosso
cotidiano e através disso conhecerem um pouco dessa tradição cultural, que nos é
passado de geração em geração e que esta gravada nos seios das famílias caeteense, mas
que ainda precisa ser reconhecida como algo cultural.
Na terceira missão foi apresentada aos alunos uma imagem veiculada no Jornal A Penna
no ano de 1912, e para fundamentar a proposta debruçamos no trabalho de Adriana
Sacramento, que utiliza a imagem como fonte de pesquisa. A imagem estudada é um
anúncio de remédios para variados males corriqueiros na sociedade de Caetité naquele
período, todavia o medicamento da propaganda, diferente das curas popular era um
remédio farmacêutico comprovado pela ciência. Além dessa imagem na caixa também
possui algumas ervas medicinais utilizadas por benzedeiras e que fazem bem para a
saúde comprovado cientificamente. Nessa incumbência foi pedido aos educandos, que
após essas leituras, pesquisasse sobre pessoas próximas de sua família ou comunidade
que fazem essas práticas de benzer, cultivar e vender ervas, após isso estes deveriam
fazer descrição desses sujeitos e qual e o lugar destes na sociedade e como essa mesma
sociedade os vê hoje. Assim, a finalidade dessa missão foi fazer uma relação passada e
presente do embate entre a medicina oficial e popular e como que isso reflete na nossa
região hoje.
E por fim, na quarta missão foi trabalhado com outra imagem encontrada no Jornal A
Penna e que também foi utilizada por Adriana Sacramento, essa imagem é muito
interessante, pois ela é uma propaganda de um remédio para dor de cabeça. Todavia o
titulo do anúncio é “Benzedura” o que leva o leitor em primeiro momento a acreditar
que a propaganda é sobre esse fazer, mas na verdade é apenas uma crítica a cura
popular, além disso, a figura apresentada é marcante, pois mostra uma senhora negra
com um galho na mão, benzendo uma moça branca que esta deitada na cama fazendo
alusão de dor na cabeça. Além dessa fonte na caixa, possuíam alguns textos explicando
o que é religião, diversidade religiosa, intolerância e também alguns trechos da
Constituição Federal evidenciando que é crime a intolerância religiosa e ainda alguns
artigos do Código Penal de 1890, no qual as práticas de cura eram considerada crime.
Nessa última missão foi pedido para que a equipe criasse uma história fictícia que
envolvesse a benzedeira da imagem, apontando a intolerância religiosa e a importância
de respeitar a religião do outro, apontando algumas possíveis estratégias de combate à
intolerância religiosa, no nosso município. O objetivo foi trabalhar a analogia do negro
com as práticas, de cura e a relação desse preconceito associado com histórico brasileiro
de inferiorização, da cultura africana embasadas em uma ideologia eurocêntrica.
O trabalho sobre história local através do curandeirismo deu muito certo, pois
alcançamos o nosso objetivo que era desenvolver a consciência histórica nos alunos
através de mecanismos que os facilitassem a compreender a sociedade relacionando o
passado com o presente e possibilidades para o futuro. Os estudantes conhecerem um
pouco da história local de Caetité, reformularam seus conceitos prévios sobre as práticas
229
de cura popular, principalmente sobre a figura do curandeiro, até então visto pela
maioria dos alunos como um ser diabólico e demoníaco que fazia mal para as pessoas.
Referências
OLIVEIRA, Rúbia Mária, TEIXEIRA, Sileje Santana. A Cura que se crê as práticas
que se temem: Análise do processo Criminal de Antonio Lessa da Silva (Caetité-
1967). UNEB. 2014.
230
O QUE LEVOU A REVOLUÇÃO EM CUBA? CHE
GUEVARA E FIDEL CASTRO SÃO OS ÚNICOS A
SEREM LEMBRADOS?
Solange Fragoso
Podemos destacar primeiramente que antes de Cuba viver um regime considerado por
todos ditatorial por Fidel Castro e seu “fiel escudeiro” e irmão Raul Castro, o país que
por vezes no passado ser uma colônia reconhecido pelos seus avanços nas técnicas de
cultivo de açúcar e que no século XVIII ter escolas e hospitais, ou seja, estava em forte
desenvolvimento econômico e social, antes dos anos 60 em meados do século XXI,
passava um regime ditatorial por Fulgencio Batista, mas, para entender como a ditadura
de batista se tornou peça chave para a revolução de 1959. Inicialmente Cuba através da
“guerra necessária” de 1895 idealizada por José Martí, trava uma guerra contra a
Espanha em 1898 há a entrada dos Estados Unidos, em 1899, basicamente Cuba estava
livre do domínio espanhol, mas, o Estados Unidos militarmente tomaria por completo a
direção de Cuba, graças ao “tratado de Paris”, no qual diz que a Espanha passaria
administração da ilha aos Estados Unidos até a formação da república estivesse
completa. E em 1901 através de uma assembleia constituinte, os EUA ficou sobre o
controle da ilha “independente”.
Após assumir seu cargo, ocorreram inúmeras revoltas até a de 1959, mas, como tentar
entender a revolução de Cuba, SADER cita como podemos descrever essa revolução.
“Revolução, nesse sentido, é o conjunto de processos de mobilização, organização e
luta do povo, em condições históricas concretas, contra o poder instituído, pela
construção de um novo poder político que dirija as transformações radicais das
estruturas dominantes na sociedade. ” (SADER, p.02). Assim, apesar das consequências
que levaram a revolução cubano como demonstram como o processo histórico fica
evidente em Cuba.
“Nesse mesmo ano, eles partem para o México para recrutar pessoas e
organizar um novo movimento visando à derrubada do governo de Batista.
231
É nesse país que os irmãos Castro conhecem o argentino Ernesto (Che)
Guevara, revolucionário que posteriormente tornar-se-ia um dos principais
personagens da Revolução Cubana (GOTT,2006; GONZALEZ, 1966). Em
dezembro de 1956, Fidel Castro desembarca com mais 81 companheiros
em um mangue, ao sul da Playa Las Coloradas, no extremo sudeste da
província de Oriente, após uma viagem precária a bordo do navio Granma
que levou dois dias a mais do que o previsto. Esse atraso fez com que
falhasse o plano existente de coincidir a chegada dos revolucionários com
uma rebelião em Santiago.” (RODRIGUES RIBEIRO, DIAS e MELO,
p.26, 2012).
Neste trecho pequeno, já que o se trata sobre a revolução em si, é apenas esse trecho no
livro didático, podemos perceber inúmeros detalhes que seriam importantes para
entender como foi o processo revolucionário cubano como as personalidades deste
contexto como Camilo Cienfuegos e Raul Castro que seus papeis foram essenciais neste
período em Cuba, e no livro aparece apenas Fidel e Guevara. E no livro diz “ao longo
de dois anos de combate”, mas como já citado, percebemos como foi o decorrer desse
período, as fugas, as guerrilhas, os fuzilamentos, Sierra Maestra, entre outros detalhes
importante. O livro traz uma constante problemática que apenas fixar os olhos na
relação dos Estados Unidos e Cuba após a revolução, assim, o aluno perde o melhor da
história, que historiografia, fontes, história comparada, os processos internos de Cuba,
além EUA, etc., mas o livro traz seus pontos positivos quando cita: “... além disso seus
líderes, construíram o primeiro Estado socialista do continente, baseado no modelo
soviético. Depois de décadas priorizando a educação e a saúde, o governo de Fidel
Castro passou a exibir frutos nessas áreas: eliminação do alfabetismo; redução do
desemprego; (...) no campo político, entretanto são inúmeras as críticas feitas ao
regime cubano que permanece como ditadura do Partido Comunista (...) (COTRIM,
p,165, 2010). Mesmo o livro contém alguns problemas conceituais, ele traz uma
discussão neutralizante, os dois lados após a revolução, pontos negativos e positivos,
dando a possibilidade de que um aluno de Ensino Médio possa problematizar de forma
mais ampla sobre o assunto.
Frank País que não é citado no livro didático tem um importante papel na revolução
como os guerrilheiros se escondiam nas montanhas e assim nascerá o Movimento 26 de
julho, ele era quem fornecia comida, armas e munições para os treinamentos de
guerrilha nas montanhas. O movimento de Fidel tinha aliados desde do campo até os
centros urbanos assim RODRIGUES RIBEIRO, DIAS e MELO citam: No entanto,
como a greve seria de muito maior relevância para o Movimento nas cidades do que
para a guerrilha de Castro, gerando assim, uma tensão entre os dois grupos.
232
“Faustino Pérez, líder do Movimento em Havana, acreditava que as
condições já estavam maduras para o início da greve, enquanto Castro não
estava tão confiante disso. Apesar de relutante, Castro assina, junto a
Pérez, um manifesto, “Guerra Total Contra a Tirania”, no qual conclamava
à greve e declarava que a luta contra Batista entrava em sua fase final (...)
Estabeleceu-se então 9 de abril de 1958 como a data em que a greve geral
teria início, com a explosão de bombas em Havana durante o mês anterior
para começar a instituir um espírito de caos. ” (RODRIGUES RIBEIRO,
DIAS e MELO, p. 28, 2012).
No Ano-novo de 1959, Batista foge com sua família e amigos para Camp Columbia.
No dia seguinte Fidel faz seu discurso de vitória sobre o regime de Batista. Apesar que
ocorreu o fim do regime ditador o novo sistema implantado por Fidel, recebera a
nomemclatura de ditadura, assim, Cuba sai de uma ditadura e entre em outra e que dura
mais de 50 anos.
Com a entrada de Fidel o Estado Unido fecha os portos para a compra do açúcar
cubano, assim, Cuba faz negócio com a União Soviética para a compra de seu açúcar,
tornando o discurso de Fidel oficialmente socialista a partir desses acordos.
Concluímos que foram inúmeros fatores que levaram a revolução em Cuba desde de sua
independência, e que no livro didático pouco ou nada se fala sobre as consequências das
revoltas cubanas, mesmo que esse país passe por um regime a mais de meio século e
que mesmo com a morte de Fidel ela se perpetua. Com os alunos os professores, dever
ter um cuidado com as fontes a historiografia utilizada com os alunos, porque esse tema
envolve ideologias muito especificas e o papel do professor e problematizar os assuntos
com o apoio das fontes diferenciadas.
Referências bibliográficas
COTRIM, G. História Global: Brasil e Geral, volume 3. São Paulo: Saraiva, 2010
233
RODRIGUES, RIBEIRO, DIAS, MELO. Os rumos da revolução cubana. Simulação
das nações unidas pra secundaristas. 2012.
SADER, Emir. Revolução Cubana: uma revolução na América Latina. São Paulo:
Moderna, 1985.
234
O LÚDICO COMO FACILITADOR DA
APRENDIZAGEM: GINCANA DO BRASIL
COLONIAL
Wallysson Klebson de Medeiros Silva
É importante perceber que o lúdico é educativo, quando desperta curiosidade. Por meio
da atividade lúdica, o jovem cria condições de entender melhor os conceitos, relacionar
as ideias, determinar relações lógicas, assimilar percepções, além de aumentar a sua
sociabilização.
235
Como afirma Moyles (2002, p.21) “A estimulação, a variedade, o interesse, a
concentração e a motivação são igualmente proporcionados pela situação lúdica”. Sendo
assim, o lúdico faz parte da grandeza humana e assim torna-se necessária unir essa
dimensão à práxis pedagógica, provocando condições de ensino-aprendizagem e
promovendo a construção do conhecimento.
A Atividade Desenvolvida
Na última aula expositiva sobre o conteúdo Brasil Colônia, solicitei para a turma se
dividir em quatro grupos. Além disso, previamente já havia falado para a turma estudar
todo o conteúdo, pois na gincana haverá um Quiz de História Colonial. Nesta aula,
também adiantei que eles devem elaborar uma paródia e que precisariam conhecer a
imagem e vida de personagens que representam a época colonial, que os mesmos irão
caracterizar-se, além de criar um grito de guerra e que tragam adereços relacionados a
cor de cada equipe.
A primeira prova da gincana colonial foi um Quiz, com objetivo de revisar todo o
conteúdo já trabalhado em sala de aula. Cada equipe escolheu cinco alunos para
participar da tarefa, todas as perguntas foram retiradas do livro didático.
A segunda prova foi a realização de uma paródia, cujo objetivo é associar os fatos
antigos ocorridos na época estudada, com temas atuais. Os alunos que não participaram
do quis, obrigatoriamente participaram dessa etapa. A paródia foi dividida em eixos
temáticos, cada equipe sorteou um tema. Os temas eram: Discriminação, Exploração
dos recursos naturais, Mão de obra Escrava e Minorias.
A terceira prova foi um desfile baseado nos personagens do Brasil Colonial, que tinha
como objetivo trazer um pouco da época para o ambiente escolar, por meios da
caracterização. Cada equipe escolheu um aluno para desfilar caracterizado do
personagem. Cada equipe escolheu de livre escolha personagens relacionados à época.
As equipes escolheram: Caramuru, Manuel da Nóbrega, Chica da Silva e Maurício de
Nassau.
A quarta prova foi uma caça ao Pau-brasil, cujo objetivo era mostrar a importância da
exploração da primeira atividade econômica do país. Funcionamento: Espalhei por toda
236
escola sementes do Pau-brasil e o objetivo das equipes eram encontrar cinco sementes
em dez minutos.
A quinta prova foi um jogo chamado Sim ou Não, cujo objetivo é entender as
características específicas da época, por meio de objetos e comidas. Funcionamento:
Durante a atividade levei objetos e comidas que relembrassem a época, os alunos
deveriam responder Sim ou Não em relação à época histórica de cada coisa. Alguns
objetos e frutas levado a sala de aula foram: Jabuticaba, Caju, Banana, Concha de
Batismo, Imagem de São Manuel e Sino.
Algumas Considerações
O modelo didático utilizado apresentou ótimos resultados. Após uma comparação dos
resultados do segundo bimestre com o terceiro bimestre (quando foi aplicado) foi
237
constatado um melhor rendimento dos alunos, além de entusiasmo e curiosidades sobre
o tema abordado.
Sendo assim, espera-se que esse trabalho possa contribuir na sensibilização de outros
professores de história, sobre a necessidade de utilizar a criatividade, o ensino lúdico,
para auxiliar no processo de aprendizagem dos alunos, o que irá promover grandes
mudanças.
Referências Bibliográficas
238
239
QUADRINHOS NO ENSINO DA HISTÓRIA
ANTIGA: GUERRA GÁLICA ATRAVÉS DE
ASTÉRIX O PAPIRO DE CÉSAR
Allef de Lima Laurindo Fraemann Matos
José Pedro Lopes Neto
“As HQs, contribuem na prática de leitura, pois um leitor, por desenvolver o gosto por
esse hábito terá muito mais chances de se tornar alguém que leia outros gêneros
textuais, como jornais, livros e revista.” (PAIVA, 2012, p.64 apud VERGUEIRO 2006)
As histórias em quadrinhos ainda podem acrescentar um valor visual aos elementos
verbais.
Para aulas de História as muitas narrativas podem ser utilizadas: Muas, que aborda o
extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, As histórias de Magneto, um
dos principais vilões do Universo Marvel, que é conhecido por seu ódio contra a
humanidade devido aos maus trados sofridos, durante sua estadia em um campo de
concentração alemão; as primeiras aventuras do Capitão América, mostrando como o
eixo era retratado durante a segunda guerra mundial, a corrida espacial, através das
aventuras do Quarteto Fantástico durante a Guerra Fria, Adeus, chamigo brasileiro,
história ambientada na Guerra do Paraguai, Chibata! , sobre a Revolta da Chibata,
acontecida em 1910, quando marinheiros negros amotinaram-se no Rio de Janeiro para
forçar o governo a abolir os castigos físicos.
240
Através dessa perspectiva, pretendemos aqui estabelecer um suporte metodológico para
utilização de HQs no ensino de História Antiga, fazendo uma relação entre Os
Comentários da Guerra Gálica, escritos por Júlio César e a revista de história em
quadrinhos Astérix – O papiro de César. Astérix – O papiro de César historicamente se
passa durante o período republicano romano (509 a.C a 27 a.C), período que Roma era
governada pelo Senado. As histórias de Astérix também vão apresentar os aspectos do
processo da conquista da Gália, pelo general Júlio César.
Outro aspecto que podemos destacar é o mapa introdutório presente em todas ou quase
todas as histórias de Asterix [ver figura 2], que citado faz uma alusão à divisão
geografia da Gália durante o processo de conquista romana, no qual o general Júlio
César vai dividir a região em três partes, das quais habitam os belgas, os aquitânios e os
celtas
A Gália está toda dividida em três partes, das quais uma é habitada pelos
belgas, a outra pelos aquitânios, a terceira pelos que usa língua deles se
chamam celtas [...] aparte ocupada pelos gauleses tem principio no rio
Ródano; limite, no Garona, no Oceano, e nas fronteiras dos belgas; toca
também no Rim pelo lado dos sequeanos e dos helvécios, os belgas
começam na extrema fronteira da Gália. (CÉSAR, Júlio. LIVRO I. CAP. I,
p.17)
É importante ressaltar que caso o professor tiver pretensão de utilizar o mapa presente
no quadrinho ele deverá antes apresentar a divisão da Gália, caracterizando os aspectos
físicos das três regiões e processo expansionista de Roma na área, permitindo com isso
uma melhor compressão pelo alunato e evitando uma assimilação errônea ou fictícia
pelo mesmo.
Dentre de alguns povos apresentados nas histórias de Asterix estão os gauleses, que são
representados com elementos bastante similares à sua cultura, como costume de
241
consumir carne javalis e tradição oral [ver figura 3], e os romanos que raramente são
retratados como maus, mesmo com a tentativa de conquistar as aldeias gaulesas. Vale
salientar que os gauleses nas histórias de Asterix não odeiam os romanos, pelo
contrário, eles só querem preservar sua cultura: exemplo disso é que mesmo eles
possuindo uma porção [ver figura 4] que concede uma força sobrenatural, os gauleses a
usam somente para fins de defesa contra o imperialismo romano. De acordo com Vilela,
Outrossim, lembremos que a Gália foi a província do Império Romano que mais
assimilou elementos da cultura romana e exemplo disto é o próprio idioma, pois “a atual
língua francesa surgiu do latim, a língua falada pelos antigos romanos, e que também
deu origem ao italiano, ao português, ao espanhol e ao romeno (falado na Romênia).”
(Idem).
“Toda a Gália foi ocupada pelos romanos.... Toda? Não! Uma aldeia povoada por
irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor.” Através desta passagem retirada do HQ,
temos que analisar a veracidade presente na informação. Se considerarmos que
incialmente algumas tribos gaulesas conseguiram resistir à conquista, mas acabaram
sendo subjugadas, assim o trecho referido possui todo sentido histórico. Exemplo desta
resistência é o chefe gaulês Vercingetorix, que conseguiu unir algumas tribos da Gália
com intuído de combate a expansão romana. César nos Comentários a Guerra Gálica,
faz menção a Vercingetorix, no seguinte trecho:
mui poderoso, cujo pai foi o primeiro em toda a Galia, e, por aspirar a
realeza, tinha sido morto por sua cidade, reunidos os seus clientes,
facilmente os inflama. Conhecido o seu plano, correse às armas.
Contrariado, e expulso de Gergovia por Gobanicião, tio seu paterno, e
outros principais, que entendiam não se dever correr o risco de semelhante
empresa, persiste nada menos no seu propósito, e faz nos campos um
alistamento de pobretões e homens perdidos. (CÉSAR, Júlio. LIVRO VII.
CAP. IV, p 137)
O quadrinho também vai abortar elementos da estrutura social nas aldeias gaulesas, de
acordo com Júlio César a Gália socialmente, divide-se em dois grupos de homens, os
cavaleiros e os druidas, que são responsáveis “por decidem de quase todas as contendas
públicas e particulares; e se comete crime, ou perpetra morte, se se disputa sobre
herança ou limites, julgam e estabelece recompensas e castigos.” (CÉSAR, Júlio.
LIVRO VI. CAP. XIII, p 120). Nos quadrinhos o druida é representado por Panoramix
que exerce a autoridade na aldeia gaulesa, sendo venerados pelos habitantes e
responsável pela criação da poção mágica, que concerte força a quem toma.
Vemos, portanto, com o exemplo de O papiro de César que a arte sequencial é uma rica
ferramenta a ser utilizada no Ensino de História, pois “indiscutivelmente, as revistas de
HQ, por fazerem parte importante do universo de crianças e jovens, podem ser
242
igualmente utilizadas como ferramenta pedagógica criativa e eficiente.” (FUNARI,
2004, p.152 apud NETO, 2016, p. 135).
Referências Bibliográficas
CÉSAR, Júlio. Os comentários das Guerras Galicas. Rio de Janeiro. Ediouro, 1975.
243
Anexos
Fig.1
Fig.2
244
Fig.3
Fig.4
245
COMPREENDER A HISTÓRIA ATRAVÉS DAS
PAISAGENS: O USO DE ICONOGRAFIAS NA
SALA DE AULA
Ana Marcela França
A relação com o meio biofísico foi expressa de distintas maneiras dentro do processo
histórico ocidental, seja através dos usos das tecnologias para a melhor adaptação desse
meio seja através de expressões artísticas. A proposta da seguinte comunicação será
mostrar dois exemplos de uso de iconografias de paisagem para que possa o professor/a
ter uma ideia de como usa-las em sala de aula, uma vez que são fontes que podem trazer
inúmeras informações sobre um dado contexto.
Assim, uma paisagem natural pode trazer muitas informações sobre a história, a
geografia ou a flora de uma dada região, assim como irá trazer também consigo o
ponto de vista do observador, as suas preferências e muito de sua cultura. Como dito
por Simon Schama, em Paisagem e Memória:
Ou seja, a paisagem pode ser entendida como uma construção cultural advinda das
relações existentes entre seres humanos e ambiente natural.
246
O fato de ser a paisagem um espaço emoldurado, resultante de um ponto de vista, em
que essa percepção estaria vinculada a um tipo, ou vários, de representação, é que faz
dela uma fonte importante para o historiador. A partir desse ponto de vista, o qual faz o
registro de um ambiente, percebe-se muito do contexto que o autor está situado,
oferecendo, no que diz respeito à história da natureza, uma vasta gama de informações
sobre não só como esta era percebida, mas também sobre como era a interação com ela.
É o uso que Peter Burke faz da imagem, então como uma evidência histórica, capaz de
registrar algo como “atos de testemunha ocular.” (BURKE, 2004, p.17). Deste modo, o
historiador defende a ideia de que as imagens não devem ser usadas somente como
ilustrações, dizendo que “Nos casos em que as imagens são discutidas no texto, essa
evidência é frequentemente utilizada para ilustrar conclusões a que o autor já havia
chegado por outros meios, em vez de oferecer novas respostas ou suscitar novas
questões.” (idem, p. 12). Com essa concepção as imagens seriam capazes de trazer
consigo não só informações diversas, como também de trazer questões que
enriqueceriam a pesquisa do historiador, e a meu ver, também o ensino do professor/a e
o aprendizado do aluno/a. No entanto, Burke comenta que é necessário um olhar crítico
sobre essas imagens, como com qualquer outra fonte, uma vez que elas podem estar
maquiadas pelos caprichos de seus autores ou daqueles que as teriam encomendado -
“maquiagens” estas que podem enriquecer ainda mais o entendimento de um
determinado contexto se bem estudadas.
247
1. Engenho, Frans Post, 1668. Fonte: Domínio público.
2. O Rio S. Francisco e o Forte Maurício, Frans Post, 1638. Fonte: Domínio público
2) Os viajantes no contexto das expedições científicas que vieram para o Brasil no século
XIX trouxeram diversos profissionais que tinham como objetivo coletar exemplares e
informações da fauna, da flora, dos costumes, entre outras coisas, das diferentes regiões do
Brasil. Dentre esses profissionais estavam presentes artistas que tinham a função primeira
de transformar em imagens o que era visto, seja animais, espécies botânicas, pessoas ou
paisagens. Devido à influência do romantismo e do naturalista alemão Alexander von
248
Humboldt, o uso da arte se unia à ciência para que o universo natural fosse de fato
compreendido. Isso porque as impressões estéticas estavam no contexto de uma atividade
científica sistemática:
249
A imagem 3, do alemão J. M. Rugendas, apresenta a araucária (Araucaria
angustifólia), uma espécie arbórea que ocorre na região Sul do Brasil e nos estados
de São Paulo e no sul de Minas Gerais. Nesta gravura, o artista destaca para o leitor
essa árvore típica da região, no que seria o seu habitat natural. Outras plantas estão
aí representadas com bastante apuro e maestria, de tal forma que se faz possível
admirá-las por seus detalhes.
Nesses dois exemplos tentei mostrar rapidamente como que a análise de paisagens
auxilia o professor/a e o aluno/a a aprofundar os estudos sobre um contexto
específico. Deste modo, foi visto que usando as imagens como fontes é possível
conhecer mais sobre como era vista a natureza brasileira, de tempos em que ela era
chamada frequentemente de bela, “virgem” e “selvagem”.
Referências
OLIVEIRA, Rogério; FRAGA, Joana Stingel; BERCK, Dean Eric. Uma floresta de
vestígios: metabolismo social e a atividade de carvoeiros nos séculos XIX e XX no Rio
de Janeiro, RJ. Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis, v. 8, n. 2, p. 286-
315, dez. 2011.
WILLIAMS, R. Ideias sobre a Natureza. In: Cultura e Materialismo. São Paulo: Ed.
Unesp, 2011.
250
WEBLOG E APRENDIZAGEM: O USO DO BLOG
“CONSTRUINDO HST” COMO DISPOSITIVO
DIALÓGICO DE MEDIAÇÃO NA DISCIPLINA
HISTÓRIA DO MARANHÃO – SÉCULO XVII NO
CENTRO DE ENSINO LICEU MARANHENSE –
SÃO LUIS/MA
Ana Paula dos Santos Reinaldo Verde
251
Em 1500, numa expedição liderada por Pedro Álvares Cabral os
portugueses chegaram ao Brasil e logo se depararam com um povo de
características diferentes das suas, que equivocadamente os denominaram
índios, por apresentarem características semelhantes à população da Índia.
Faz-se necessário, colocar que a utilização do documento histórico em sala de aula, não
pode deixar em nenhum momento de lado a participação do professor, que deve estar
consciente de seu papel mediador na construção do conhecimento, por parte do aluno.
Dessa forma utilizamos um Documento, gênero carta, remetido por Dom Felipe III, rei
da Espanha, e de Portugal, bem como de todas suas colônias, no período histórico
conhecido como União Ibérica (1580-1640) ao governador do Brasil, Gaspar de Sousa,
ano de 1612-1615, retirada do livro de MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. La
Ravardière e a França Equinocial: os franceses no Maranhão (1612 – 1615). Rio de
Janeiro: Topbooks, 2007. p. 203 – 207
Comentários postados:
252
Construindo a História disse... A carta relata, primeiramente, a saída de
Jerônimo de Albuquerque e os homens mandados por ele Do Rio Grande
até Pereira (primeira barra do MA). Após tal acontecimento, relata-se o
choque que houve entre seus homens e os franceses a tréguas das terras do
MA. Os franceses, apesar de estarem acompanhados por índios e soldados
armados, não foi capaz de vencer a batalha o que o custou a morte de
muitos. Na carta, o Rei Felipe III da Espanha cita as descobertas que
fizeram após se assentarem em terra firme, tais descobertas. Afirmavam a
presença dos franceses a mais de três anos em amizade com os nativos e,
portanto há o interesse do mesmo, o que ordena o Rei Felipe III.
(AMANDA LARYSSA; JULIANA ROLIM; LARISSA ALVES)
Outras possibilidades no uso do Blog, estar na familiaridade dos alunos na rede mundial
de computadores e seu vocabulário, como: navegação, endereço na internet, site,
imagem, enviar, postar, comentário, pesquisar, editar, blog, login, e-mail, post, link, etc.
A interdisciplinariedade nesse trabalho envolve as disciplinas de Língua Portuguesa,
Inglês e Geografia.
Dessa forma, com a abertura curricular e avaliativa, dentro do ambiente escolar, foi
possível, coadunar, a realidade vivenciada pelos alunos, pautada em uma sociedade da
informação, com a Disciplina História e sua interdisciplinariedade, a utilização de
fontes primarias de pesquisa, a noção do Blog, enquanto instrumento e objeto de
comunicação, e co-autoria, nas interações entre educador e educando enfatizando o
papel do professor passando este a conduzir, selecionar, organizar, intervir e orientar os
educandos nas descobertas, processos esses necessários ao desenvolvimento de novos
níveis de conceitualização sobre a disciplina História, visto que a História enquanto
disciplina também deve acompanhar os avanços tecnológicos.
253
Referências bibliográficas
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 24. ed. São Paulo: Paz e
GIROUX, Henry. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da
aprendizagem. Tradução de Daniel Bueno. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
254
FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA:
COMO EXPLICAR A SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL
Ana Letícia Pasquali Kziozek
Bruna Brandel Meleck
Este artigo busca discutir o uso de novas tecnologias nas aulas de história como
métodos de ensino, buscando uma maneira de transformar uma aula ou conteúdo que é
entendido como exaustivo em algo prazeroso, trazendo aos alunos uma socialização e
uma compreensão do conteúdo de maneira clara.
Em maior parte, os autores que trabalham com essa temática concordam que o uso de
recursos auxilia no processo de aprendizagem, sendo que este deve estar ligado ao
contexto das aulas. Mas o professor necessita preparar uma aula elaborada, fazendo com
que os alunos percebam a importância do uso das tecnologias como complemento do
conteúdo, entendendo que o mesmo não é somente uma diversão.
Para demonstrar que o filme tem um objetivo específico, e que faz parte do conteúdo, o
professor necessita trazer aos alunos uma percepção e conhecimento do mesmo,
produzindo uma aula que tenha um caráter de socialização, procurando que os alunos
discutam entre si sobre o que assistiram e relacione o que foi trabalhado como conteúdo.
Mas como o professor pode utilizar o filme? Que filmes utilizar?
Primeiramente o professor precisa selecionar filmes que sejam apropriados para a faixa
etária em que irá lecionar, tendo eles linguagens de fácil acesso para os alunos, e que
atendam a maioria do conteúdo que está sendo discutido, para que não se torne algo
solto no ar, e uma mera diversão sem conhecimento. Observando que o cinema nas
aulas aproxima os alunos de situações, fatos, do passado e do presente, podendo assim
fazer diversas ligações sobre ambos.
Em um segundo momento precisa observar como irá utilizar esses filmes, ou seja,
selecioná-los de acordo com o momento, pesquisar como o filme está inserido no tema
trabalhado e também perceber que suas aulas não precisam ser todas baseadas em filmes
para explicitar o conhecimento de forma mais aprofundada. Portanto precisa saber
255
utilizar-se do cinema de forma saudável, nem sempre como única tentativa de
abordagem mais ampla do conhecimento.
E que filmes podem ser utilizados? Primeiramente o professor precisa assistir ao filme
que levará para a sala de aula, para observar se atende as suas expectativas, e que não se
torne algo cansativo para os alunos fazendo com que não entendam o que o professor
queria repassar, buscar filmes que possuam som e imagem de qualidade também é
importante. Antes de passar o filme o professor precisa explicar aos alunos o porquê
usar desse meio, e sempre buscar meios de questionar o que o filme reproduz, como em
que parte está ligado ao conteúdo, ou o que ele significou para cada aluno, isso pode ser
trabalhado de maneira individual ou coletiva, em forma de questões abertas ou escritas.
Por exemplo, para um professor trabalhar a Segunda Guerra Mundial, precisará levar
filmes que explorem os acontecimentos da guerra, e também dos campos de
concentração que existiram durante a mesma, estes que foram responsáveis pela morte
de milhares de pessoas, principalmente judias. Quais os filmes que ele pode buscar? Vê-
se que há vários filmes que estão discutindo este acontecimento, e trabalhando alguns
conceitos que podem ser debatidos. Um deles é o filme “A vida é bela”, filme baseado
em uma história real, e lançado em 1999. No qual um menino e seu pai são mandados
para um dos campos de concentração, e o pai luta para esconder o menino dos soldados,
falando a ele que tudo é um jogo e que eles precisam vencer. Com esse filme o
professor pode trabalhar o conceito de cotidiano, discutindo com os alunos como era a
vida do menino no campo, entre outras questões.
Outro filme interessante, que traz uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, é o
filme “A lista de Schindler”, também baseado em fatos reais, lançado em 1993, que
conta a história de uma fábrica de utensílios, onde muitos judeus trabalharam durante as
perseguições na Segunda Guerra Mundial, e por isso foram salvos, pois o dono Oskar
Schindler, conseguiu mantê-los longe do exército alemão. Com esse filme poderá ser
discutido o conceito de trabalho, como era feito e quem era responsável pelo mesmo,
pode-se ainda ligar aos dias atuais, e como são as funções de trabalho.
Este é apenas um exemplo dentre várias músicas que podem ser utilizadas.
A história em quadrinhos pode ser uma ferramenta importante para aproximar a vida
escolar do cotidiano do aluno. Os quadrinhos apresentam uma forma de comunicação
visual e verbal, facilitando uma nova forma de ver e ler o conteúdo, e de obter com
maior peculiaridade a atenção dos alunos.
Considerações finais
Nenhuma das metodologias tratadas acima pretendem ser únicas, apenas são opções
diversas para facilitar a eficácia do ensino de história dentro da sala de aula. E não
existem regras quanto as suas utilizações, o professor escolhe a maneira que tem maior
aptidão e facilidade de aplicar junto aos os conteúdos. O intuito do artigo é auxiliar os
docentes que buscam novos recursos para levar aos alunos.
Referências:
GÓES, Priscilla da Silva. A utilização da música nas aulas de história com os alunos
do 8º ano. V Colóquio internacional “Educação e contemporaneidade”, 2011, São
Cristovão- SE.
257
PALHARES, Marjory Cristiane. História em quadrinhos: Uma ferramenta pedagógica
para o ensino de história. Paraná, Rede Pública do Paraná, 2008.
258
OS JOGOS ELETRÔNICOS COMO ALIADOS NAS
AULAS DE HISTÓRIA: AGE OF EMPIRES E
EUROPA UNIVERSALIS SÃO BONS EXEMPLOS
Anderson Carlos Meira Rodrigues
“De acordo com dados recentes, desde 2002, a indústria dos jogos digitais vem
superando o cinema, música e livros – o que a coloca como principal referência no setor
de entretenimento” (ARRUDA, 2009, p. 12). O jogo eletrônico apesar de muito
venerado na contemporaneidade ainda não é utilizado entre os professores com tanta
avidez. Além disso, boa parte de professores, sejam de antigas ou novas gerações
percebem o jogo eletrônico como algo “corruptível”, o qual impede em muitos
momentos o aluno de se interessar pelo estudo proposto na escola. Neste sentido
podemos acreditar que apesar desta visão negativa de muitos a respeito dos jogos
eletrônicos este recurso pode nos proporcionar grandes resultados pedagógicos.
O fato dos jogos eletrônicos não serem explorados por professores com muita
frequência, faz com que o próprio alunado perceba tal prática como um entretenimento
fútil. Desta forma, para utilização dos jogos Age Of Empires III e Europa Universalis
IV na sala de aula foi importante, desde o principio, demonstrar aos alunos que aquilo
não se tratava de uma mera diversão. Assim, a sala foi dividida em grupos, ou melhor,
foi produzido uma espécie de um contrato, o qual os alunos foram inseridos em um
mundo historiográfico, ou seja, tornaram-se estagiários cujo a sua função seria a
vanguarda de analisar documentos históricos ainda não analisados na escola: os jogos
Age Of Empires III e Europa Universalis IV.
O critério para divisão dos grupos foi o sorteio. Esta estratégia deveu-se ao fato para que
aumentassem as chances de integrações entre grupos na sala de aula, já que pouco se
integravam. Dividido os grupos e assinado o contrato pedagógico foi solicitado que os
alunos jogassem os jogos eletrônicos citados desde a primeira aula, além de que
demonstrassem suas considerações acerca destas primeiras impressões. Ficou
constatado, nas primeiras impressões a falta de uma visão de historicidade dos alunos,
com isso, esta foi a oportunidade de situá-los no tempo e no espaço que os jogos se
inserem, claro, com as ressalvas necessárias.
O jogo e a história sempre estiveram interligados. Muitos são os jogos que buscam de
alguma maneira recriar o passado como uma representação eletrônica. Trabalhar com
jogos em aulas de história, sem dúvida, representa um projeto de interdisciplinaridade.
Podemos constatar que os jogos eletrônicos como uma das formas de reflexo do saber
histórico, cujo suas bases podem estar longe do ambiente escolar, ou seja, estaria
inserido a ideia de que a história transcende os espaços tradicionais de conhecimento e
ensino.
O jogo eletrônico, como estratégia pedagógica poderá ajudar ao professor, dentre outras
coisas, para manter alunos motivados. “A ação pedagógica por meio de projetos supõe
primeiramente que os alunos estejam motivados, envolvidos, quer individualmente,
quer em grupo (...)” (FONSECA, 2009). Acreditamos, sinceramente, que o jogo
eletrônico pode ter o poder de aproximar os conteúdos ministrados em aula com o
alunado, já que se trata de um grande entretenimento atual. Esta experiência
pedagógica proporcionou uma motivação por boa parte dos alunos. Verificamos que a
utilização dos jogos eletrônicos proporcionou a integração e a participação na sala de
aula com alguns alunos, que até então possuíam um histórico de pouca interação no
espaço escolar.
Os jogos eletrônicos como material pedagógico pode ser considerado ainda algo a se
explorar. Concluímos que a utilização deste artificio representa um grade desafio que
proporciona a classe docente sair de uma “zona de conforto”. Os jogos eletrônicos com
toda certeza é um grande equipamento pedagógico, tendo a necessidade deste
reconhecimento pela classe docente. No caso mais especifico do ensino de história na
educação básica, os jogos eletrônicos, podem servir como uma materialização do
passado, no sentido da representação do mesmo. É bastante obvio que o jogo jamais
representará o passado real, tão buscado por muitos historiadores, no entanto, este
artificio demonstra como aquele fato histórico é representado e o imaginário que ele
proporciona.
Referências Bibliográficas
260
AMARAL, Ricardo Ribeiro; PACHECO, Soênia Maria. Roleplayng game e excursões
didáticas: extrapolando os muros da escola. In: Rosa, Adriana Letícia Torres da. e
Barros, Natália Conceição Silva (Org) Ensino e Pesquisa na Educação Básica:
abordagens e tecnologias. Recife, Editora Universitária da UFPE.
261
O USO DAS IMAGENS E DA MÚSICA COMO
FERRAMENTAS DIDÁTICAS PARA AS AULAS
DE HISTÓRIA
Aline da Rocha Coutinho
Ser professor nos dias de hoje é mais desafiador que em outros momentos. Nessa era
tecnológica, temos uma geração de indivíduos mais questionadores que a todo momento
são bombardeados por informações vindas de lugares diversos, tornando o fazer
docente, através das novas demandas da educação cada vez mais fascinante. É na
formação inicial do professor que começa a qualidade de ensino da educação.
O processo de ensino aprendizado pode ser dinâmico e prazeroso para aluno e professor.
Existem inúmeros meios de levar os estudantes a conhecerem outras maneiras de ver o
mundo sem ter que “explicar o conteúdo”. As aulas de História muitas vezes se tornam
“chatas” por nos prendermos apenas a um produto didático enquanto temos uma
infinidade de opções para desenvolvermos um trabalho dinâmico e agradável,
proporcionando aos educandos habilidades para desenvolverem uma percepção mais
ampla a respeito do mundo que os cerca.
Este último tópico teve início no dia 22.08 com o conteúdo Independência da África e
da Ásia. A discussão ocorreu em apenas em duas aulas, uma vez que as escolas do
município apresentam em sua grade curricular a disciplina HAB- História Afro
Brasileira, que, como bem sabemos, é um componente obrigatório nas escolas da rede
pública de ensino. Sendo assim, os conteúdos de África é destinado a disciplina já
mencionada, no entanto, o professor não pode “pular” e passar para o próximo conteúdo
sem fazer abordagens sobre a referida temática, então, são reservadas duas aulas para
realizar a discussão da melhor maneira possível. A aula teve início a partir dos
conhecimentos prévios dos alunos, com perguntas, como: Quando falamos em África e
Ásia, o que vem à mente de vocês? Que cidades desses continentes vocês já ouviram
falar (televisão, rádio, internet, etc.)?
Através dessa abordagem, pude notar que todos os discentes possuíam uma visão
estereotipada em se tratando do continente africano. O ponto se deu apenas para o lado
depreciativo – a África como uma savana habitada apenas por animais, ou como
continente castigado pela fome e pelas doenças. A intervenção feita partiu das
discussões realizadas nas aulas de História da África I e História da África II. Discuti
262
sobre as inúmeras riquezas desse continente e do interesse das grandes potencias em
explorar as riquezas deste lugar.
Foi com base nesta observação que passei a utilizar a imagem e a música como auxílio
para o desenvolvimento das atividades propostas. Segundo Valesca Giordano Litz em O
Uso de Imagens no ensino de História nos traz que:
O conteúdo seguinte- O socialismo real: China, Vietnã e Cuba, precisei voltar aos
conceitos de capitalismo e socialismo. Ao falar de Cuba, muitos manifestaram contra o
sistema político da ilha. Os alunos ficaram surpresos com a educação, política e
principalmente com as condições precárias de um lugar onde todos deveriam apresentar
as mesmas condições econômicas e sociais. Selecionei duas imagens – uma de uma
comunidade do Rio de Janeiro e outra de um bairro de Cuba. Passei as duas imagens e
perguntei se eles poderiam me informar qual das imagens representava o Brasil e qual
destinava-se a Cuba, muitos identificaram a ilha por conta dos veículos velhos.
As imagens serviram de suporte para fazê-los pensar que o Brasil, embora tenha o
capitalismo como modelo político, há muitos lugares (cidades, povoados, bairros) que
passam por dificuldades econômicas, é uma nação onde a desigualdade social afeta mais
da metade da população, no entanto, não vemos isso na grande mídia. Novamente me
portei a imagem da comunidade e perguntei se a vemos nas propagandas e jornais a não
ser quando se trata de um capítulo ou reportagem depreciativa. Para fechar apresentei
um vídeo com os pontos turísticos de Cuba apontando suas belezas naturais, uma vez
que muitos a olhavam como um lugar de miséria esquecendo-se que Cuba é uma ilha e
apresenta muitas belezas naturais.
O último conteúdo discutido em sala, foi a Ditadura Militar no Brasil. Para trabalhar
essa temática, a música foi essencial. Silva nos traz que:
263
A música é um mecanismo de grande valor enquanto material didático que pode a todo
momento ser utilizado em sala de aula. Circe Bittencourt (2004) nos fala da música
enquanto objeto de estudo para muitos pesquisadores além de ser utilizada como
material suporte no ensino de História, basta que o professor saiba utilizar, tornando
assim elemento necessário para a construção de conhecimento.
[...] cabe ao professor de História, quando opta por esse tipo de fonte,
questionar e refletir sobre o contexto em que foi produzida a letra. Enfim,
para que seu uso faça sentido para os alunos, devem estar claras para o
professor algumas questões norteadoras: como? por quê? e para quê? ele
está utilizando essa fonte em suas aulas. Além disso, é preciso evidenciar
aos alunos que a letra da música não retrata uma verdade absoluta, mas sim
uma espécie de linguagem com uma intencionalidade (MIRANDA 2010 p.
10)
Com base nesses argumentos, trabalhei o uso da música na ditadura militar com os
alunos do nono ano. A princípio, foi necessário explicar o conceito de ditadura, em
seguida, falei sobre a democracia, estabelecendo a diferença entre as duas situações.
Para discutir a temática proposta, revisei a Experiência democrática no Brasil, período
entre 1945 a 1964, trazendo para os estudantes o processo político vivido no Brasil
neste contexto, cada administração trabalhada, abordei tópicos específicos, como: A
mídia e suas inovações- a chegada tv ao Brasil no governo de Dutra, estilos músicas
como a Bossa Nova no período de JK, a construção de Brasília e a alta inflação neste
mesmo governo, etc.
Para prosseguir a aula, passei uma seleção musical– A “evolução” da música brasileira,
começou nos anos 10 e seguiu até os dias atuais. A princípio, muitos questionaram, à
medida que os anos se passavam eles mostravam mais interesses e se atentavam. Ao
fim, falei da produção musical do regime militar e a conjuntura vivenciada no Brasil
naquele período.
Referências
265
IMAGENS E ENSINO DE HISTÓRIA: UM DEBATE
NECESSÁRIO PARA OS ATUAIS TEMPOS
Arnaldo Martin Szlachta Junior
No cotidiano escolar muitas são as ideias e tentativas para um bom trabalho de sala de
aula, um trabalho que tenha uma proximidade à realidade do aluno e esteja em sintonia
com os debates presentes na academia. Desde muito tempo há estudos sobre a utilização
das imagens na composição da história, assim como o seu uso em sala de aula.
De acordo com Antonio Vicente Pietroforte, entende-se por imagem aquilo que se pode
ver:
No ambiente escolar, a presença das imagens, sejam elas desenhos de uma época,
pintura ou fotografia, fornece aos professores uma presença significativa no processo de
aprendizagem dos alunos da educação básica. Tal destaque é notório pela forma como a
imagem é apresentada: sejam os traços de um cartunista, as pinceladas de um artista, um
instante do passado congelado, seja em preto e branco ou colorido. A imagem mostra o
povo ou uma região de determinado período e produzido por olhos da época, fazendo
assim uma relação com o discurso histórico do professor naquele momento.
266
Vale lembrar o poder que as imagens têm no mundo atual - os alunos estão propensos a
serem seduzidos por elas, e é nesse momento que cabe ao professor mediador, com o
auxilio do material didático repleto de imagens, trilhar os caminhos que ajudarão na
formação de alunos capazes de criar um senso e um raciocínio crítico e histórico social,
nos enfoques das sociedades e suas produções culturais e materiais, como também a
posição ideológica de determinados grupos.
Todavia, não podemos simplesmente estabelecer uma ação de acordo com ideias ou
vontades. Ana Heloísa Molina estabelece que o professor, ao agir como um mediador
entre as informações intrínsecas na imagem e o conhecimento dos educandos, não deve
apresentar uma aula pronta que considere somente um ponto de vista ou uma opinião. O
uso de imagens pelos professores de história deve levantar, a partir das respostas dos
alunos, as possibilidades de investigação da construção do conhecimento histórico
(MOLINA, 2007, p.24).
[...] as imagens usadas em sala de aula não devem sê-lo gratuitamente, mas
é necessário conhecer seus componentes semânticos para adequá-los aos
objetivos propostos. Assim o desafio e o limite imposto ao professor de
história serão o de redimensionar e explorar as competências específicas da
267
imagem, não somente para motivar e envolver, mas reelaborar, recodificar,
ordenar e organizar conceitos, transformando uma relação sócio-afetiva com
a imagem em uma situação de cognição. (MOLINA, 2007, p.25).
Nas últimas décadas, o crescente aumento do uso das imagens nas aulas de história vem
sendo permitido pelas novas possibilidades técnicas, pela queda dos custos de
impressão e as formas de adquiri-las em fascículos próprios ou mesmo na Internet. É
claro que, aliado a essas facilidades, destacamos também os métodos pertinentes à
academia, como os já mencionados e os quais iremos apresentar nos capítulos
subsequentes. A relação com as novas correntes historiográficas do pós-segunda guerra
mundial, na qual temos em destaque a Nova História Cultural, possibilita um diálogo
entre pesquisas acadêmicas e professores em sala de aula.
Contudo é preciso ressaltar que as imagens são cenas recortadas, representadas numa
imagem congelada, momentos registrados que podem ser aleatórios, construídos e
manipulados, mas que usando as informações de fatos históricos presentes nesse tipo de
documento, de acordo com uma metodologia amparada nas recentes pesquisas do
campo de ensino de história e nas ferramentas oriundas de outras áreas como história da
arte, comunicação entre outras, estas podem auxiliar na formação de indivíduos capazes
de raciocinar historicamente, com uma criticidade maior, e mais sensibilidade sobre a
cultura, a materialidade e a dinâmica das sociedades.
Referências
268
______________, Circe Maria Fernandes. “Livro didáticos entre textos e imagens.” In:
______________, Circe Maria Fernandes (org.). O saber histórico na sala de aula.
São Paulo: Contexto, 2002.
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ENSINO DE HISTÓRIA E TECNOLOGIA: NOVOS
DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI
Bruna Carolina Marino Rodrigues
Introdução
Para o historiador Robert Darnton (2010) uma das questões centrais para se discutir a
relação tecnologia e educação são os rumos da democratização do conhecimento e o seu
livre acesso, pois, empresas como Google estão criando formas de mercantilização do
conhecimento e monopólio da informação. Na contramão desse processo, cresce o
movimento pelo acesso livre e Educação Aberta que buscam fomentar ações para
alternativas sustentáveis na produção e compartilhamento do conhecimento,
enxergando-o como um bem público da humanidade (ROSSINI, 2010).
Os objetos culturais produzidos pela cultura digital são uma realidade nas escolas, a
virtualização do cotidiano tem criado novos espaços de sociabilidades e interação entre
os indivíduos na internet (LÉVY, 1999). De acordo com a pesquisa TIC Educação
2015, 73% dos professores afirmaram utilizar o computador ou internet com os alunos
para alguma atividade em aula. Outro dado importante da pesquisa TIC Kids Online
Brasil 2015 evidenciou que entre as atividades mais frequentes de crianças e
adolescentes na web estão o entretenimento, a comunicação e a pesquisa escolar, sendo
que 80% dos entrevistados apontaram o uso da rede para fins pedagógicos.
270
Os principais resultados da pesquisa TIC KIDS online Brasil evidenciou que o uso da
internet por crianças e adolescentes cresce na medida em que aumentam suas
experiências de uso na rede propiciando o crescimento de competências digitais.
(CETIC, 2016, p.153). Os indicadores apresentados demonstram que a cultura digital e
as TICs já integram o cotidiano dos agentes escolares, entretanto, muitos são os desafios
de se educar na cultura digital (PRETTO, 2011) já que questões como infraestrutura,
falta de apoio pedagógico e motivacional para os docentes e de discussões que estejam
em sinergia com a realidade dos professores e alunos limitam as potencialidades da
utilização da tecnologia em ambiente escolar.
História Pública e Digital, REA e Educação aberta: novos caminhos para se pensar
o ensino de história
Com as mídias sociais novas perspectivas foram incorporadas ao saberes e fazeres dos
professores e pesquisadores de história. A digitalização dos documentos históricos e as
plataformas digitais têm contribuído para este debate. As bibliotecas e repositórios
digitais tem possibilitado que professores tenham acessos a variados tipos de recursos
com grande potencial a ser explorado na aprendizagem, a exemplo: Biblioteca
Brasiliana/USP, Portal do Professor, Arquivo Nacional e Domínio Público. Logo, essas
discussões podem ser aprofundadas pelos estudos da História Pública e Digital, nos
orientando a pensar sobre as relações entre conhecimento histórico e tecnologia, isto é,
sobre as representações do passado no espaço virtual e o papel do ensino de história no
debate contemporâneo dos usos políticos e sociais das narrativas históricas (SILVA,
2016).
Segundo Silva (2016, p.16) as reflexões atuais sobre a História Pública têm estimulado
professores e pesquisadores de história a discutirem sobre como as representações do
passado circulam no espaço público. Segundo Carvalho (2016), as discussões sobre
História Pública tem se consolidado há 40 anos em diversos lugares como na Inglaterra,
Estados Unidos, África do Sul, Canadá e Nova Zelândia. Atualmente, a internet e a
História digital têm fomentado novas possibilidades para História Pública, a exemplo,
questões como a multiplicação dos meios de divulgação e de representação da história
pelos meios de comunicação, incluindo os usos e apropriações da História por diversos
tipos de leitores.
De acordo com Lucchesi (2014), foi na década de 1990, com o desenvolvimento das
TICs e o avanço da internet, que muitos historiadores ao redor do mundo começaram a
pensar sobre o papel das TICs na produção e disseminação do conhecimento histórico e
no seu ensino. Neste contexto, emergiram debates sobre a História Digital nos Estados
Unidos com a Digital History, na Itália como Storiografia Digitale. No Brasil, a
271
História Pública e Digital tem ganhado espaço nos últimos anos, destacando-se com
discussões, publicações e eventos que buscam tratar de três dimensões: ensino, pesquisa
e divulgação da História na cultura digital. Além disso, busca aproximar o público dos
processos de construção da História (CARVALHO, 2014; 2016).
Neste cenário, as pessoas não estão mais sujeitas a serem somente leitores ou
observadores de conteúdo, já que a internet permitiu uma ampla participação da
população redefinindo seu locus de criação (ROSSINI, 2010). Novos modos de se
pensar a educação surgem buscando a liberdade do conhecimento, o compartilhamento
das ideias, da cultura da transparência e que, em sinergia com a filosofia dos Recursos
Educacionais Abertos (REA) e da Educação Aberta, podem contribuir para com novas
perspectivas para o ensino de história.
Imaginemos então, que os materiais didáticos elaborados pelos professores ao longo dos
seus anos de profissão, as produções dos seus alunos e o planejamento de suas aulas,
que raramente são vistos como valiosas, fossem pensadas pela riqueza da sua produção
e utilidade, os professores teriam ao alcance um vasto material de qualidade sem
restrição de uso (AMIEL, 2014). Assim, a ideia do remix não busca simplesmente
copiar o original para benefício próprio, é um reconhecimento do trabalho dos autores
originais, quando damos crédito aos autores, honra-se o seu trabalho, ao estudá-lo com
profundidade, incorporando a sua influência e reconhecendo publicamente essa
associação (AMIEL; DURAN, 2015, p.79).
272
Conclusão
Referências Bibliográficas
AMIEL, Tel. Recursos Educacionais Abertos: uma análise a partir do livro didático de
História. Revista História Hoje, n.5, 2014.
AMIEL, Tel; DURAN, Maria Renata da Cruz. Desafios do trabalho com recursos
educacionais abertos na formação inicial docente. Em Rede Revista de Educação a
Distância, v.2, n.2, 2015.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2012, v.1.
CARVALHO, Bruno Leal Pastor De. Faça aqui o seu login: os historiadores, os
computadores e as redes sociais online. Revista História Hoje, n.5, 2014.
CARVALHO, Bruno Leal Pastor De. História pública e redes sociais na internet:
elementos iniciais para um debate contemporâneo. Transversos: Revista de História.
Rio de Janeiro, v. 07, n. 07, set. 2016.
273
http://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/TIC_Edu_2015_LIVRO_ELETRONICO.pdf.
Acesso: 25 de janeiro de 2017.
DARNTON, Robert. A questão dos livros: presente, passado e futuro.. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010,
SILVA, Daniel Pinha. Ampliação e veto ao debate público na escola: história pública,
ensino de história e o projeto “escola sem partido”. Transversos: Revista de História.
Rio de Janeiro, v. 07, n. 07, set. 2016.
274
FOTOGRAFIAS EM LIVROS DIDÁTICOS: OS 18
DOFORTE DE COPACABANA
Caroline Tecchio
275
Como a inserção mais efetiva de imagens como objeto de estudo é relativamente
recente, observamos a preocupação teórica em aprimorar o uso de imagens. No que diz
respeito ao ensino, o importante é tomar a fotografia como fonte. Isso pode ser feito
juntamente com o trabalho dos textos dos livros nos quais elas estão inseridas. Nesse
sentido, temos as discussões de Saliba (2006), que mostra que é necessário uma gama
de elementos, informações, textos para que se compreendam melhor a relação entre o
texto e a imagem. Visto que "As imagens são estratégias para o conhecimento da
realidade, mas não constituem sucedâneos para nenhum suporte escrito. Ao contrário do
que se diz frequentemente a imagem não fala" (SALIBA, 2006, p. 123).
As imagens não são vistas e compreendidas da mesma maneira com que se procede a
leitura de um texto. A operação mental que se executa para a compreensão leva em
consideração outros aspectos. Ao professor cabe orientar os estudantes em direção à
uma leitura dessas imagens, mas o texto precisa servir como um elemento cooperativo
nessa leitura e análise. Do mesmo modo como se indagam as fontes ou documentos
escritos, as imagens devem ser olhadas a partir de problemas e desconfiança.
A primeira fotografia a ser analisada encontra-se no livro “História para o ensino médio:
história geral e do Brasil” de Vicentino e Dorigo, na página 491, e é seguida do
comentário reproduzido no quadro abaixo:
276
O civil que acompanhava a marcha dos 18 do Forte era Otávio Corrêa. Comentando
essa mesma fotografia, Cápua (2001, p. 78) descreve que o tenente Siqueira Campos
estava mais à frente do grupo e por isso não aparece. Observando os escritos de Cápua,
conseguimos complementar algumas informações, bem como identificar quem eram os
líderes posteriormente transformados em “verdadeiros heróis”. Podemos perceber que o
livro didático não oferece subsídios suficientes para que se chegue à uma interpretação
satisfatória das fontes.
277
Os Tenentes rebeldes do Forte de Copacabana caminham pela Avenida Atlântica em
direção ao centro da cidade. No caminho, junta-se a eles o engenheiro Otávio Correia,
de chapéu e trajes civis no lado esquerdo da foto. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1922.
Mas, se não temos um padrão para a leitura de imagens como para a leitura de textos
escritos, necessitamos que o texto ultrapasse os limites da descrição e instigue os alunos
a pensarem no que ela significa, tendo para si clareza de que a imagem é “construída”,
tem sua intencionalidade e que trata-se também de “representação”, conforme evidencia
Barbosa (2009, p. 107) "Somos tentados a tomar como verdade fatos e pessoas que se
apresentam fotografados”.
Referências bibliográficas:
CÁPUA, Cláudio de. Revolução de 1924 e seus desdobramentos até 1930. São Paulo:
Editor Ação, 2001.
MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo: Cia das
Letras, 2001.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Rumo a uma história visual. Texto inédito,
2004.
Lista de fontes:
279
O CINEMA NA HISTÓRIA E A HISTÓRIA DO
CINEMA: O USO DOS FILMES “OUTUBRO”
(1928) E “ADEUS, LENIN!” (2013) EM SALA DE
AULA
Celso Ramos Figueiredo Filho
À guisa de introdução, creio ser pertinente uma digressão que situe historicamente o
cinema enquanto produção técnica e artística.
Por essa razão, o cinema tem sido um importante interlocutor com a história, sendo ele
próprio fruto das condições sócio-históricas do momento da sua produção. Como
dissemos, somente em uma sociedade que dispõem de poderosíssimos recursos
tecnológicos a produção de uma arte como a cinematográfica é possível. Ao mesmo
tempo, a produção de um filme, por mais modesta que seja, exige uma sofisticada
divisão social do trabalho, só possível em sociedades industriais. E, por fim, ela
depende também de multidões de espectadores, reunidos invariavelmente em centros
urbanos. Em suma, o cinema é um produto direto da Revolução Industrial, que
possibilitou, simultaneamente, os meios técnicos e administrativos para sua execução, e
o público para o seu consumo.
Com hagá minúsculo se refere ao cotidiano das gentes e dos indivíduos, por exemplo,
nossa história pessoal de vida. Com hagá maiúsculo trata-se da Ciência da História, uma
cátedra universitária, com metodologia própria e compartilhada por uma comunidade
internacional de acadêmicos.
280
O filme, pronto e acabado para ser projetado para o espectador, permite ao historiador e
a todos aqueles interessados em compreendê-lo integralmente, uma tripla abordagem: o
cinema enquanto técnica, e também enquanto estética e discurso político.
3) por essas razões, o filme é uma ótima ferramenta pedagógica, pois, possibilita ao
professor mobilizar seus alunos nos dois sentidos acima citados e, com isso, obter uma
aprendizagem mais significativa.
Os filmes que abordam temas históricos, pela sua própria natureza temática, têm essas
características acima apontadas, inerentes a toda obra cinematográfica, explicitadas. O
diálogo com a história e a historiografia são, nestes casos, os móbiles da produção;
esses filmes convidam aos professores e seus alunos a repensarem a história e, portanto,
a si próprios.
Desde meados do século XIX o ideal socialista é cultivado por amplos segmentos da
população em todo o planeta. A Revolução Russa de 1917, enquanto primeira revolução
socialista mundial, é um tema histórico de abrangência planetária, considerado por Eric
Hobsbawm o evento mais importante do século XX. Portanto, o estudo dessa vivência
humana, que extrapolou as fronteiras da União Soviética, é de fundamental importância
a todos aqueles que pretendem compreender o século passado e buscar perspectivas para
uma vida mais digna no futuro.
Por essas razões estamos propusemos aos alunos um pequeno debate entre os filmes
“Outubro”, de Sergei Eisenstein, produzido em 1927 na URSS em comemoração aos
dez anos da Revolução de 1917, com o filme “Adeus, Lênin”, produzido em 2003, e que
retrata os momentos de crise e desaparecimento do regime soviético. Os filmes foram
281
apresentados aos alunos após uma aula de contextualização histórica do processo
revolucionário russo de 1917, e também da sua crise nos anos oitenta.
Ao final, o filme não teve o mesmo brilhantismo que os anteriores, e acabou sendo
muito mais um discurso de loas à revolução do que uma grande contribuição ao cinema.
Isso se deve muito mais às interferências do poder soviético sobre o cineasta, que o
fizeram perder o entusiasmo com a produção – lembrando que se iniciava a terrível era
do estalinismo. Cenas inteiras que retratavam Leon Trotsky, desafeto político de Stalin
foram cortadas. Apesar disso, o filme se utilizou de muitas cenas de arquivo, gravadas
no calor dos acontecimentos de outubro de 1917, inclusive discursos de Lenin, tendo,
portanto um grande valor histórico. Mesmo assim, há cenas antológicas, como a dos
relógios, onde uma série de relógios indica a hora de diversas capitais do mundo,
entretanto, na hora da Revolução, os mesmos se põem a girar loucamente até se
sincronizarem com o tempo histórico de Moscou, com a hora universal que se vivia,
indicando que a história conflui para o socialismo.
O final da experiência histórica do socialismo não poderia ter sido mais lacônico – e,
brilhantemente retratado no filme “Good bye, Lenin”, “Adeus, Lenin”.
Sinopse: Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner passa mal,
aficcionada pelo socialismo, entra em coma e fica desacordada durante os dias que
marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua
cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel
Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar
a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos. O filme tem um tom de comédia leve,
sobretudo quando o filho passa a ter ajuda de um produtor de TV que transmite na TV
da sra. Kerne programas antigos do regime soviético para que ela não conhecesse a
nova realidade. Em resumo, uma paródia das “mentiras” contadas pelo regime para
“enganar” o povo ocultando assim seu insucesso. Mas, ao mesmo tempo, há cenas de
desemprego e de “gangs” de jovens que, sem outro propósito e “serventia” para o novo
sistema que se impunha, o capitalismo, delinquiam e drogavam-se a esmo. O filme
recebeu diversos prêmios internacionais, sendo considerado uma obra indispensável
para se conhecer a filmografia e a história do final do século XX.
Foi uma experiência riquíssima, que permitiu aos alunos de Licenciatura em História
não só se apropriarem de conhecimentos específicos de forma mais aprofundada, mas
também de experimentarem estratégias de aulas factíveis para os demais níveis de
ensino.
Referências:
HOBSBAWN, Eric – Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo:
Cia. Das Letras, 1995.
283
CINEMA E A SHOAH: ANÁLISES DE NIGHT AND
FOG, THE PAWNBROKE E A MEMÓRIA DO
MASSACRE
César Filipe Alves Barbosa da Silva
Com a ascensão do partido nazista em 1933 a perseguição aos judeus iria piorar
largamente em todo o país. As leis de Nuremberg foram um conjunto de leis baseadas
em princípios raciais que em suma negavam aos Judeus sua participação na comunidade
e estes perderam os direitos garantidos pelo estado a qualquer cidadão. Este conjunto de
Leis entrou em vigor em 1935. Já a “Noite dos Cristais” ficou marcada pela extrema
violência dirigida aos Judeus, e estes foram obrigados a sair da Alemanha, tiveram seus
bens retirados, muitos foram mortes e um considerável número de feridos em maior e
menor grau. Várias sinagogas foram queimadas e também comércios que pertenciam a
Judeus foram depredados neste episódio. O ódio para com os Judeus tinha chegado a
níveis ainda mais alarmantes e infelizmente, algo pior estava por vir (GUTMAN, 2003).
Como ferramenta utilizada em sala de aula para abordar incontáveis temas históricos e
por isso muitas vezes usada de forma errada pelos educadores, os filmes podem levar a
caminhos perigosos se não separado em seus aspectos e analisados de forma coerente
por quem o utiliza na sala de aula. Um dos pioneiros na relação cinema/história, Marc
Ferro nos diz: “analisar no filme tanto a narrativa quanto o cenário, a escritura, as
relações do filme com aquilo que não é filme: o autor, a produção, o público, a crítica, o
regime de governo. Só assim se pode chegar à compreensão não apenas da obra, mas
também da realidade que ela representa.” Dito isso, trabalhar com eventos traumáticos
torna essa ferramenta bem mais complicada, já que as memórias desses acontecimentos
podem ainda está viva nas vítimas ou em seus descendentes.
Theodor Adorno nos alerta em Educação após Auschwitz, quinto capitulo de Educação
e Emancipação (1995), que o sistema educacional deve se preocupar devidamente com
Auschwitz para que as atrocidades lá realizadas não venham a se repetir. Vimos e
infelizmente vivemos em um período onde o fascismo está representado através de
figuras influentes e também em indivíduos comuns e cabe a educação lembrar o que foi
Auschwitz através do ensino deste nas escolas. Usar filmes que retratam a vítima e seus
mais variados aspectos e assim ensinar através da memória individual e coletiva dos
sobreviventes é de uma importância impar para o entendimento da Shoah e sua não
284
repetição. Não só apresentar essas películas, mas discuti-las, pois o educador deve fazer
as análises em sala baseado em autores renomados no assunto e esse também deve ter
conhecimento de relatos de sobreviventes para um maior entendimento do ocorrido.
Sem o conhecimento necessário, o educador irar falhar em tratar da memória dos
sobreviventes e repetirá o discurso apresentado pelo filme e suas falhas.
Night and Fog (Alan Resnais, 1956) nos mostra o horror e a crueldade humana e narra
como a sociedade civil foi importante no processo maligno feito nos campos de
concentração. Sem a sociedade civil, Auschwitz nunca teria ocorrido. O processo de
extermínio dos judeus foi tão marcante para o mundo por causa dos setores que
apoiaram e colocaram a solução final e seus modos de operação. Construtoras
disputando quem construiria os campos, empresas bélicas e químicas que testavam
gazes em pessoas, a maldade que fazia o carrasco matar apenas para acabar com o tédio.
Tudo isso só foi possível com o apoio da sociedade e usando o pretexto para ascender
socialmente, militarmente e também lucrar com a morte de milhões e com esses fazer
fortunas, pessoas foram exterminadas na máquina da morte nazista.
Assistir aos 30 min de Night and Fog e dele ver que não há limites para a crueldade. A
impotência de ver aquelas cenas e saber que não podemos fazer nada nos deixa com
raiva, nos faz querer ir hoje a Europa e destruir todos os campos, preservados ou não,
para que o vazio dentro no peito pare. Infelizmente fazer tal ato só iria deixar essa
lacuna dentro de nós mais funda. Auschwitz não deveria ter existido, mas aconteceu e lá
milhões foram mortos. Infelizmente é um fato. Destruir o que resta daqueles muros é
destruir a memória, é destruir o horrendo aprendizado que tiramos desses locais.
Optamos por deixar The Pawnbroke (Sidney Lumet, 1964) por segundo e não por esse
ser mais reflexível que o anterior, mas pela figura de Sol Nazerman (Rod Staiger) e
como esse personagem que anteriormente foi uma vítima do fascismo, vítima de
práticas horrendas onde esse homem perdeu seus filhos e esposa em um campo de
extermínio. A perspectiva da vítima e como essa encarar suas dores, e essas
acompanham o perseguem onde quer que ele vá. Esse personagem representa todas as
vítimas que sofrem e perderam seus entes queridos, que sofrem por terem um pedaço da
alma arrancada de dentro de si para alimentar o prazer sádico de seus.
The Pawnbroke dialoga com a relação da dor, memória e o esquecimento. Para muitos o
passado ficou para traz e não é necessidade de voltar a vê-lo, mas as vítimas do regime
opressor que por anos roubou, torturou, matou e desumanizou os rebaixando a pragas
285
que deveriam ser exterminadas, para essas pessoas o passado jamais irar passar. O
trauma dos campos, de ter vivido no inferno construído por homens não pode ser
apagado com o tempo e é essa visão que nos é passada através da película. Se
posicionar no lugar não só de Sol, mas também dos outros milhões que morrer e dos que
por pouco não tiveram o mesmo destino é fundamental para entender a dor dessas
pessoas. Não vamos poder sentir a dor das vítimas, mas cometer o erro e arquivar esse
passado em gavetas escuras causa ainda mais dor para aqueles que muito já sofreram.
O filme de Sidney Lumet é bem pontual ao mostrar a figura da vítima, a figura dura e
dolorosa do sobrevivente. Sol Nazerman tem suas expressões frias, sua pouca
comunicação com outros personagens nos mostra quanto à dor ainda habita a alma
daquele homem. A solidão do personagem que mesmo cercado em alguns momentos
prefere ficar só, prefere não falar com os outros. The Pawnbroke quer nos deixar
também a nossa responsabilidade de lembrar e não perpetuar doutrinas que no futuro
podem levar outros a novos campos. A questão da memória e de como a sociedade
ignora essa e a dor dos outros é gritante no filme. O ato de se virar contra o homem que
explora mulheres e o dinheiro dessa pratica era lavado ilegalmente por Sol (No decorrer
do filme ele descobre a origem do dinheiro sujo) se torna uma ponte para as suas dores
antigas que ainda estavam bem vividas nele, pois sua mulher foi forçada a ser escrava
sexual dentro do campo e sentir aquela dor o fez ver as dores das mulheres exploradas.
Sol, a vítima infelizmente sentir a dor de ver alguém que ama ser usada, explorada e
morta e por isso se revoltou contra o criminoso, ele sabia como era a dor. The
Pawnbroke nos mostra a dor do passado, a dor de sofrer só, a dor de estar entre tantas
pessoas, mas essas pouco ou nada se importam com seu sofrimento. Se Auschwitz
continuar a ser facilmente esquecida, suas vítimas foram torturadas não só em sua
estadia, mas também fora pelo esquecimento.
Referência bibliográfica
Browning R. Christopher. Ordinary men: Reserve police battalion 101 and the
solution in poland. New York: Harper Perennial, 1992
286
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Trad. José Otávio de Aguiar Abreu.
Rio de Janeiro: Imago Ed, 1997.
287
A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA NO ENSINO
DE HISTÓRIA: A REPRESENTAÇÃO DO
FEMININO NA MPB
Cilésia Lemos
Partindo do princípio que o campo das relações de gênero existentes na música popular
brasileira passou por profundas transformações, de modo que diversos aspectos da
participação feminina na sociedade foram resinificados, pois em algumas décadas atrás
era impossível de se pensar uma música em que retrate a mulher com um papel “ativo”
ou a perceba independente na sociedade brasileira.
288
Fazer uso da música como objeto histórico, é compreender a presença da mulher nas
letras das músicas de forma distinta, pois em cada letra, mesmo produzidas em
contextos diferentes nos leva a perceber como o imaginário sobre a mulher foi
constituído pelos discursos masculinos através dos anos.
Carla Bassanezi Pinsk em seu trabalho Estudos de gênero e história social aborda
como a categoria gênero se insere e colabora com a história social, faz também uma
retrospectiva historiográfica a partir de estudos iniciais da categoria gênero. Segundo a
autora o estudo de gênero, “remete à cultura, aponta para a construção social das
diferenças sexuais, diz respeito às classificações sociais de masculino e de feminino”.
(PINSK, 2009)
A música como objeto histórico está arraigada de significações que ao serem utilizadas
como material didático pode trazer ao aluno o conhecimento cultural, político e social
sobre a época em que esta foi produzida. Neste mesmo sentido se desenvolve também a
capacidade de interpretação de textos e de leituras aos alunos, que além de estar
presente na proposta dos PCNs, propõe que seja realizado nas aulas de História o
289
desenvolvimento de competências ligadas à leitura, análise, contextualização e
interpretação das diversas fontes.
[...] a música popular tem ocupado espaço, como instrumento pelo qual se
revela o registro da vida cotidiana, na visão de autores que observam o
contexto social no qual vivem. As representações sociais de autores e
intérpretes serão instrumentos na transformação dos conceitos espontâneos
em conceitos científicos, porque como registros são evidências, restos que o
passado deixou para trás e que facilitam a compreensão histórica pelos
alunos, pela empatia que estabelecem entre eles e aqueles que viveram em
outros contextos históricos. (ABUD, 2005, p. 4)
Neste sentido de aproximar a aula de história para a realidade dos alunos, que o uso da
música popular tem seu papel de descrever o pensamento de determinada época, e para
desenvolver as aulas em que será utilizada a música é preciso, segundo Abud que;
Por fim vamos trabalhar com abordagens fundamentais para o trabalho com fontes
musicais, entender a articulação entre a letra e música, abordar este tipo de fonte de um
modo que não deixamos passar o sentido sociocultural, ideológico por tanto histórico,
pois estes segundo Napolitano seria o conjunto dos produtos de uma canção.
A proposta de trabalhar com um objeto histórico dito novo na sala de aula, é a de gerar
interesse e demonstrar que podemos apreender o processo histórico de diversas formas,
e consequentemente aproximar estes conteúdos para a nossa realidade. É fundamental a
compreensão de todos os aspectos abordados, sejam eles sociais, culturais, econômicos,
políticos, pois as ausências destas temáticas no ensino podem legitimar estereótipos
290
mesmo que de forma subjetiva, reproduzindo preconceitos que contribui para a
normatização de desigualdades socialmente construídas, como a desigualdade de
gêneros.
Referências bibliográficas
ARAÚJO, Maria Paula, FERNANDES, Tânia Maria.“O diálogo da história oral com
a historiografia contemporânea”. In: História Oral: teoria, educação e sociedade. Juiz
de Fora: Ed UFJF, 2006.
291
PEREZ, Isabel Cristina Gallindo. Estado Novo através da música: uma experiência
em sala de aula. Programas e Projetos - Produções PDE - Artigos – História. 2007.
Disponível em:
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/artigo_isabel_
cristina_galindo_perez.pdf Acessado em 20 de agosto de 2016.
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade. Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul/dez. 1995.Disponível em:
http://ia600308.us.archive.org/21/items/scott_gender/scott_gender.pdf. Acessado: 18 de
julho de 2016.
292
IMAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA: A
UTILIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA NO PROCESSO
DE ENSINO APRENDIZAGEM
Clara Zandomenico Malverdes
Maria Alayde Alcantara Salim
Introdução
Este texto é fruto do processo de estudo que conduz nossa pesquisa no Curso de
Mestrado em Ensino na Educação Básica no Centro Universitário Norte do Espírito
Santo, e do interesse de dialogar com a realidade escolar em que atuamos. Buscaremos
refletir e proporcionar contribuições que visem o rompimento de modelos tradicionais,
no qual o ambiente de aprendizagem se restringe ao espaço da sala de aula, ao domínio
quase que exclusivo do livro didático e a um processo educativo marcado pela
centralidade do professor.
Dentro dessa perspectiva e na busca por novas ferramentas de apoio para o processo de
ensino aprendizagem a fotografia apresenta-se como um instrumento significativo nas
aulas de história, por permitir aos professores e alunos recursos diferenciados capazes
de captar por meio dessa imagem informações sobre fatos históricos e para além das
informações, trabalhar a capacidade de analisar criticamente e com sensibilidade os
fatos historicamente construídos, como também suas implicações na sociedade, na vida
cultural, dentre outros aspectos.
Fundamentação teórica
294
Buscamos dessa forma uma metodologia de ensino e aprendizagem voltada para a
formação do sujeito crítico, levando os alunos a ultrapassarem a condição de meros
sujeitos passivos do conhecimento, para tornarem-se sujeitos construtores no processo
de ensino-aprendizagem. Entretanto, como afirma Bittencourt, historicamente há poucos
registros referentes ao uso de imagens no ensino. Segundo a autora:
Dessa forma, ao utilizarmos a fotografia como fonte, devemos realizar uma reflexão
antecipadamente, de cunho teórico-metodológico sobre a mesma, pois estão contidas em
sua interpretação, múltiplas abordagens pautadas na construção humana de mensagens
não verbais. Sendo assim, como afirma Mauad (2005):
295
Metodologia
A mensuração dos resultados da oficina será realizada durante dois momentos. Durante
o processo através de observações diretas e da análise do material produzido. No
segundo momento será realizada entrevistas estruturadas e semi estruturadas com os
alunos e professores sobre as transformações alcançadas com a metodologia, seus
pontos fracos e positivos.
Considerações finais
Referências
BARTHES, Roland. A câmara clara: notas sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
297
IR AO MUSEU: A POSSIBILIDADE DE SER ATOR
E ESPECTADOR SEM ESPERAR RESPOSTAS
PRONTAS – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA
CONTRIBUIR COM AS REFLEXÕES SOBRE
ENSINO DE HISTÓRIA
Cristina Helou Gomide
Como professora, sempre que vou ao museu com meus alunos e alunas, espero que eles
se lembrem do que lhes disse antes de nossa visita, que se recordem de que todo espaço
é histórico e que toda cidade é um grande museu a céu aberto. Comumente, como
professores e professoras de história, conduzimos nossos alunos com algumas
expectativas, que depois esperamos encontrar nas suas leituras dos espaços visitados.
No entanto, como não somos sujeitos estáticos e nem o museu é um espaço fossializado,
interpretações diversas aparecem e nem sempre o que esperamos é o que escutamos.
Nesse sentido, chamo a atenção, para pensarmos que quando estamos em um museu,
podemos ser “atores e espectadores”, e assim interpretarmos o museu com os olhos e
movimentos com os quais estamos lidando. Ir ao museu, me parece assim, como ir a um
espetáculo. Lembro-me, por exemplo, de ainda muita jovem, ver a Mona Lisa e pensar:
Por que ela é tão pequena? Ora, isso não retira a obra da condição de marco no campo
da história da arte e do movimento humano, mas meu olhar naquele momento me
conduziu a outros questionamentos que não os que formalmente se espera de quem vai a
um museu para ver a Mona Lisa. Quando caminhei de um canto para outro e os olhos
daquele quadro me seguiram, fiquei extasiada, como uma criança que brinca no tempo,
pensando “como Leonardo Da Vince fez isso?” Naquele momento, eu não era a jovem
professora, era “ator e espectador” assistindo ao espetáculo de interpretar aquele quadro.
Se o fizesse no tempo presente, provavelmente teria outras expectativas sobre a tela, e a
leria de forma mais acadêmica.
Ir ao museu pode representar a busca pelo conhecimento. Porém, entendo que não
necessariamente é o conhecimento, mas a possibilidade crítica dele. Ir ao museu e
dialogar com a cultura material exposta é participar de um jogo, uma expedição a um
espetáculo onde somos de mão dupla: ator e espectador. Gadamer (1999) explica que o
jogo não é um estado de ânimo – nem daquele que o cria nem daquele que joga, mas é o
próprio modo de ser da arte. Isso significa que quando você se propõe a jogar,
estabelecem-se regras, que não implica no desaparecimento da ludicidade inerente ao
jogo, mas apenas na sua suspensão.
Nesse sentido, quando estou trabalhando assumo um papel. Quando vou ao cinema,
assumo outro. Somos uma mesma pessoa assumindo vários papéis em vários momentos.
Visitar um museu pode implicar então, em viver um “momento”, um determinado
papel, naquele determinado momento. Esse é o estado que Gadamer denomina diálogo.
A discussão do autor não é sobre a subjetividade do jogo, mas do “modo de ser do jogo
298
como tal”. Assim, o autor aborda a obra de arte como uma forma de experiência que só
se efetiva quando experimentada. A ludicidade fica suspensa, e o jogo aparece como
movimento, vivência, diálogo. Podemos assim refletir sobre os objetos expostos em um
museu, sua disposição, os jogos de luzes, sua intenção. O ato de jogar transfigura aquele
que o vivencia. Portanto, o “sujeito” do jogo não é aquele que está jogando. O que joga
lhe dá apenas representação. É o que podemos experimentar quando vamos a um museu
e visualizamos o que está exposto – interpretamos suas imagens. Se essa interpretação
não acontece, não experimentamos o jogo – ou o museu -, portanto não dialogamos nem
interpretamos o espaço visitado. Assim, se antes da ida a um museu, nosso aluno espera
que o museu esteja repleto de “coisas velhas”, como comumente se imagina estar
carregado o espaço do museu, é o “velho” que ele irá procurar. Provavelmente verá algo
produzido recentemente e ainda assim, poderá remetê-la a um passado distante. Nós,
professores e professoras, encontramos desafios parecidos com frequência.
Esse jogo de interpretação das coisas possui um movimento constante. A visita a uma
cidade chamada histórica (por exemplo), proporciona a vivência de um momento, a
criação de um “novo” olhar para aquele espaço já constituído, mas esse “novo” não é
totalmente “novo”, porque é uma recriação dentro daquele espaço já existente. A
disposição das casas, a proposta turística do lugar, os lazeres, tudo se configura em um
jogo de apresentações. A Cidade de Goiás, antiga capital do Estado de Goiás,
considerada cidade histórica, reconhecida pela UNESCO como tal desde 2001, é um
bom exemplo disso. Logo que a cidade recebeu o título de Patrimônio Histórico e
Cultural Mundial, o local sofreu com um acidente terrível, quando as fortes chuvas do
mês de dezembro provocaram uma enchente, destruindo monumentos e casas
localizados no centro histórico da cidade. À época, trabalhava com uma pesquisa sobre
patrimônio e busquei saber de alguns moradores locais sobre o que mais achavam
necessário reconstruir. Para minha surpresa, ficaram desolados com a destruição da
estátua do bandeirante paulista, símbolo da dominação e escravidão indígena. Por outro
lado, muito se ouvia dizer da necessidade de usar a verba para revitalizar a cidade, no
sentido de criar novas oportunidades de trabalho, pois a cidade, embora tivesse o título
de Patrimônio Mundial, possuía poucas perspectivas econômicas no campo da indústria,
ficando muitas vezes vinculada ao campo do turismo. Mas como construir algo novo em
um local considerado histórico? Esse é um problema. Há uma expectativa sobre a
cidade e o “novo”, mesmo que não destrua o “velho”, pode ameaçar as expectativas
criadas para ela. Assim, como faria o visitante para reconhecer o potencial histórico da
cidade se nela também esperasse ver o novo?
Venho trazendo essas considerações no intuito de lançar reflexões sobre como criamos
expectativas em nossos alunos, e muitas vezes em nós mesmos, quando programamos
trabalhos de campo, atividades de extensão, e os conduzimos a espaços de visitação
com o intuito de produzir conhecimento.
Esta reflexão posta aqui, não pode se reduzir a essas poucas colocações, mas visto que
devemos ser objetivos, penso que esta é apenas uma primeira questão para pensarmos
nas atividades com as quais lidamos fora das salas de aula e com as possibilidades que
temos quanto a sermos atores e espectadores nesse jogo que é interpretar o espaço do
museu.
299
Bibliografia:
ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte como História da Cidade. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
300
CENAS, PERSONAGENS E SEUS CONTEXTOS NAS
AULAS DE HISTÓRIA: MEMÓRIA, IMAGEM E
FOTOGRAFIA E SUAS RELAÇÕES NO ENSINO
DE HISTÓRIA
Daniel Luciano Gevehr
Vanuza Mittanck
Iniciamos nosso estudo sobre o uso da fotografia enquanto fonte histórica e também
ferramenta pedagógica para o ensino de história com o pensamento proposto por Peter
Burke (2009, p.282) quando afirma que “a câmara nunca mente”. O autor mostra como a
fotografia, em seu contexto de invenção no século XIX, era vista como a reprodução
digna e fiel da realidade e, portanto, dotada da mais pura verdade.
Daquele tempo para cá, o processo de produção da fotografia mudou. Do efeito de pura
realidade, passamos ao exercício crítico “da captura da imagem”. É nessa perspectiva
crítica, de pensar a fotografia enquanto fonte e possibilidade de trabalho voltada para o
ensino de história, que iniciamos a discussão sobre o uso da imagem e do registro
fotográfico.
Outro autor fundamental é Peter Burke (2004, p.13), que ensina que as imagens exercem
um papel fundamental na construção dos imaginários sociais, na medida em que
apresentam ao público um determinado ponto de vista, uma determinada realidade.
301
Para Burke “as imagens oferecem virtualmente a única evidência de práticas sociais”.
Além disso, o autor acrescenta que no caso da fotografia, essa tem um duplo sentido,
sendo ela “evidência da história e história” (Ibidem, p.29) ao mesmo tempo.
Concordamos, ainda, com Jean-Claude Abric (1998, p.28) ao afirmar que uma
representação – como a imagem - não é um simples reflexo da realidade, ela é uma
organização significante, ao ter uma relação direta com o contexto físico e social no
qual é produzida. Assim, a imagem, como a fotografia, por exemplo, é resultado de
escolhas e enquadramentos da memória que se quer “guardar” ou registrar.
Para Burke (2004, p.175) “imagens têm evidência a oferecer sobre a organização e o
cenário de acontecimentos grandes e pequenos: batalhas; cercos; rendições; tratados de
paz; greves; revoluções; concílios de igreja; assassinatos; coroações; as entradas de
governantes ou embaixadores em cidades; execuções e outras punições públicas e assim
por diante”. Para ele, estas imagens revelam detalhes e particularidades que reportagens
verbais acabam omitindo, permitindo ao espectador distante no espaço e no tempo o
“senso da experiência” (Ibidem, p.189).
302
Cenários e poses na sala de aula: fotografias, fatos e contextos
Como afirma Fonseca (2009, p. 173), os professores devem utilizar “diversos meios,
materiais, vozes, indícios que contribuem para a produção do conhecimento e
aprendizagem histórica”. Tornando a aprendizagem mais atrativa, estimulante e
prazerosa.
Considerações finais
Referências
BURKE, Pater. O historiador como colunista. Ensaios para a Folha. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009.
NORA, Pierre Entre memória e história. A problemática dos lugares. Projeto história.
São Paulo, n. 10, dez. 1993. [Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em
História e do Departamento de História PUCSP].p.07-28.
304
HISTÓRIA E CINEMA: A UTILIZAÇÃO DE
RECURSOS CINEMATOGRÁFICOS NAS AULAS
DE HISTÓRIA
Débora Dorneles Uchaski
Ismael Paiva da Silva
Para isso é necessário que partimos do argumento de que todo filme é um documento.
Marc Ferro ainda nos diz que há uma duplicidade da narrativa cinematográfica,
existindo duas vias de leitura e análise do cinema para o historiador: a leitura histórica
do filme (corresponde à leitura do filme relacionada ao período em que foi produzido) e
a leitura cinematográfica da história (corresponde à leitura de filme históricos no
período da narrativa).
Portanto, os filmes são como documentos ou como toda produção humana, históricos, e
contenedores de elementos que lhe são inseridos de maneira consciente ou não. Mas que
307
retratam uma ideologia estando ligada a sociedade que o produziu. Por isto, Marc Ferro
defende que devemos fazer uma análise do filme em si, mas também ligarmos a quem
os produziu, que tipo de sociedade estão inseridos.
Conclusão
Referências
FERRO, Marc. O filme: uma contra análise da sociedade? LE GOFF, Jacques; NORA,
Pierre. História: Novos Objetos. RJ. F. Alves, 1989
FERRO, Marc. Cinema e história; tradução Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1992.
308
ENSINO DE HISTÓRIA E PRODUÇÃO
CINEMATOGRÁFICA: UMA EXPERIÊNCIA
DIDÁTICA USANDO CELULARES
Deibson Joaquim dos Santos
Introdução
Sabemos que tais ferramentas estão ocupando cada vez mais espaços nos ambientes
educativos, na condição que futuramente a maior parte das atividades realizadas
dependerá da utilização das NTICs. Por isso, se torna emergencial a reinvenção das
práticas pedagógicas inserindo as NTICs no âmbito das ações que estimulam os
processos de ensino/aprendizagem e a construção do saber histórico.
Para isso, a experimentação dessas ferramentas nas aulas de história, como também, a
divulgação das experiências exitosas são fundamentais neste processo. Uma vez que “ao
incorporarmos diferentes linguagens no processo de ensino de História, reconhecemos
não só a estreita ligação entre os saberes escolares, as culturas escolares e o universo
cultural mais amplo, mas também a necessidade de (re)construirmos nossas concepções
pedagógicas” (GUIMARÃES, 2012, p. 259).
309
O uso dos celulares para o ensino de história
No conjunto das temáticas sobre direitos humanos separamos quatro temas, pois são as
principais violações aos direitos humanos observadas na escola e no Bairro do Areal:
Bullying, violência contra a mulher, racismo e tortura (a tortura policial ainda é muito
comum na região). Dessa forma, dividimos as turmas por temática: para o sexto ano,
bullying; sétimo ano, violência contra a mulher; oitavo ano, racismo; nono ano, tortura.
A construção dos roteiros foi fundamental para a aprendizagem em história, uma vez
que permitiu aos jovens investigarem as temáticas que resultaria nos curta metragens,
possibilitando que eles estabelecessem relações criticas com o ambiente no qual estão
inseridos.
310
Na elaboração dos roteiros os estudantes foram auxiliados (as) pelas professoras das
Disciplinas de Português e Artes, estimulando a interdisciplinaridade.
Conclusão
Apesar das polêmicas que envolvem a utilização de NTICs no ambiente escolar, o uso
dessas ferramentas pode favorecer as práticas pedagógicas e a aquisição do
conhecimento histórico: como demonstramos nas ações do projeto “‘Curtas’ História de
Direitos Humanos e Cidadania”, onde a utilização didática do celular foi primordial na
divulgação das políticas de direitos humanos, através de filmes curtas metragens
produzido pelos estudantes. Da mesma forma que a produção cinematográfica foi
estratégica para o ensino de História, durante a execução do projeto.
311
pedagógicas. Pois assim, contribuirão na construção dos processos de
ensino/aprendizagem, do saber histórico e na efetivação das consciências históricas.
Referências
SILVA, Wagner Tavares da; ALEIXO, Ramon Alcântara; ARAÚJO, Patrícia Cristina
de Aragão. Aspectos da construção da cidadania no ensino de história: um olhar sobre o
ensino médio. In. XIII Encontro Estadual de História. ANPUH-PB, Guarabira, 2008.
SOUZA, Polyana Jessica do Carmo de; SOARES, Valter Guimarães. Cinema e ensino
de História. In: XXVII Simpósio Nacional de História. Natal, 2013.
VIVIAN, Caroline Deprá; PAULY, Evaldo Luis. O uso do celular como recurso
pedagógico na construção de um documentário intitulado: fala sério! Pelotas: Revista
Digital da CVA, 2012.
312
DEVEMOS ENSINAR AS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES SOBRE OS HIPERTEXTOS DA
INTERNET NA AULA DE HISTÓRIA?
Éder Dias do Nascimento
Anita Lucchesi em seu artigo intitulado “História no Ciberespaço: Viagens sem Mapas,
sem Referências e sem Paradeiros no Território Incógnito da Web”, oferece um ponto de
partida interessante para essa comunicação quando enfatiza a “ausência de critérios que
agrupem ou classifiquem de maneira inteligível a enorme e plural oferta de recursos
disponibilizados” (2012, p.02). Lembra-nos sobre a condição distinta em que a internet,
com seus infinitos usos, dinamizou várias áreas da vida humana, alterando a forma de
senti-la e vivê-la. Em decorrência dessa conjuntura, a História passou a não escapar dos
processos dinâmicos de transmissão e recepção de conhecimento no mundo virtual,
tendo que refletir sobre questões relacionadas à maneira como o público não
especializado, interage com a mesma nos dinâmicos suportes tecnológicos.
Dados esses contornos, como uma das resultantes dessas transformações, a prensa de
Johannes Gutenberg no século XV, deu condições para o aumento da produção de
livros. Seguindo esse percurso, as transformações no campo comunicacional foram
contínuas e no século XX, várias inovações surgiram, entre elas: o cinema falado, a
televisão e o rádio. Porém, todas essas novidades não permitiam a alteração dos
conteúdos transmitidos.
313
Tal conjuntura sofreria um grande abalo nos anos 90, nos quais respingava a discussão
em curso das décadas anteriores, sobre a implantação de sistemas hipertextuais,
dinamizadores de acesso às informações. Esse quadro em muito refletia a empolgação
de uma época marcada pela disseminação da internet, agora não mais restrita somente
ao uso das universidades e pela criação da linguagem HTML e o protocolo de
comunicação HTTP. Avanços responsáveis por dar suporte a escrita e a disseminação de
hipertextos no ciberespaço (DIAS, 1999, p.274). Por consequência, a rede mundial de
computadores foi ganhando mais fios com o aumento de pessoas conectadas e os novos
recursos comunicacionais colocados em cena.
Deste gradativo aumento de indivíduos conectados, que perdura até a atualidade, formas
peculiares de acessar, compreender e divulgar as informações produzem tramas de
sentido que tem como um dos seus recursos, o uso de artefatos hipertextuais. Por
exemplo, um adolescente que está lendo uma reportagem sobre a ditadura militar no
Brasil na tela do seu celular, pode contar com a opção de acessar os diversos links
disponibilizados, com os quais pode ver vários vídeos, entrar em outras páginas,
analisar memes e talvez saia admirando os militares por seu papel como guardiões de
nossa frágil democracia. Ou pelo contrário, construa um entendimento divergente em
relação a essa perspectiva e entenda a intervenção militar como um dos atos mais
antidemocráticos da história brasileira. De toda forma, a liberdade de tecer relações e
criar sentidos com o hipertexto pode gerar narrativas bastante indigestas para muitos
indivíduos, se esperam ver suas idéias recebidas com objetividade na internet.
Mesmo com esses argumentos, seria exagerado afirmar que ninguém mais se entende no
ciberespaço devido à hipertextualidade virtual, pois a formação de grupos e
comunidades pautados em interesses comuns testifica o contrário dessa ideia. Todavia, a
perspectiva de que a opinião nos dias de hoje é lapidada pelo rápido acesso as
informações e a falta de tempo para maturação das mesmas abre questionamentos sobre
a utilização nada reflexiva dos recursos da internet. Processo bem relacionado ao uso
em massa de tecnologias, nas quais a execução de comandos repetitivos na tela de
computadores, celulares, smartphones etc. não implicam que os seus utilizadores se
tornem cidadãos “mais críticos e autocríticos” (DEMO, 2008, p. 07), em relação às
informações recebidas ou transmitidas por meio desses dispositivos.
314
Figura 1. Postagem sem menção de autoria (Facebook-2016).
315
Sim, é fundamental ensinar crianças e adolescentes sobre o hipertexto na aula de
história. Pois a finalidade do aprendizado sobre ele (desde os primeiros hipertextos até
os dias atuais) tem o objetivo de fazer esses sujeitos entenderem a historicidade das
práticas comunicacionais do ser humano. Contexto no qual também podem ser
extraídos elementos para compreender a relação entre os suportes de transferência das
informações e outros aspectos da nossa sociedade contemporânea. Horizonte propício
igualmente para produção de práticas escolares que considerem o relacionamento entre
as evidências históricas e os critérios de “verdade” empregados para construir diversos
discursos na web, como caminho mais facilitado para compreensão da dinâmica de
circulação das informações nesse espaço. Entretanto, não se trata de inserir mais um
conteúdo no currículo, mas pontuar uma perspectiva de trabalho relevante para o ensino
de história, tendo em vista as problemáticas emergentes no século XXI.
Referências
DIAS, Claudia Augusto. Hipertexto: evolução histórica e efeitos sociais. Ci. Inf.,
Brasília, v. 28, n. 3, p. 269-277, set./dez. 1999
DEMO, Pedro. Habilidades do Século XXI. B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de
Janeiro, v. 34, n.2, maio/ago. 2008.
316
UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA
INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO NO ENSINO
DE HISTÓRIA
Eduardo da Silva Melo
317
linguagens (inclusive a eletrônica) a pensar criticamente (MENDES, 2011,
p. 19).
A escola deve abrir-se ao novo contexto sócio-cultural vigente. Este faz uso de novas
tecnologias para ter acesso à informação e para empreender a comunicação. Afinal,
educação é uma forma de comunicação. Comunicação do conhecimento, das
perspectivas sociais, das necessidades da sociedade, dos anseios da comunidade escolar,
em fim é comunicar ao outro o seu eu.
Cabe frisar que emitir opinião não quer dizer necessariamente comunicar-se. A
comunicação exige uma posição formada a partir de leituras diversas e da reflexão sobre
elas. Ser opiniático é emitir sua opinião sem muito embasamento.
Entre a escola e os novos aportes tecnológicos precisa-se construir uma ponte, um elo
forte que possibilite, perenemente, a construção do conhecimento e facilite o processo
de aprendizagem, tornando-o cada vez mais atrativo, moderno e lúdico. Cabe ao
educador a tarefa de construir a ponte necessária para que haja a construção e troca de
saberes.
Dos diversos recursos multimídias existentes, muitos já são utilizados com sucesso em
algumas escolas, no ensino de história, a exemplo do datashow (usado na exibição de
audiovisuais), do aparelho de som (quando o objeto de análise e/ou exposição da aula é
um áudio/música), etc.
Nisso, entende-se que o ensino de história, por meio do uso das Tecnologias da
Informação e da Comunicação torna o acesso aos conteúdos didáticos aplicados na sala
de aula, de maneira mais instantânea, flexível e dinâmica. Assim promove-se e
desenvolve-se a pacificação entre tecnologia e educação.
Referências
319
MENDES, João. Tecnologias da Informação e Comunicação Educativa. Curitiba:
UFP, 2011.
OLIVEIRA, André Junior de; KLEIN, Luciana; ALMEIDA, Lauro Brito de;
SCHERER, Luciano Márcio. Recursos Multimídia no Processo de Ensino-
Aprendizagem: Mocinho ou Vilão. Disponível em <
http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnEPQ/enepq_2013/2013_EnEPQ187.pdf>
. Acesso em 05.03.2017.
320
O USO DE FILMES EM SALA DE AULA: O
EXEMPLO DE “1492 – A CONQUISTA DO
PARAÍSO” E AS VÁRIAS NUANCES DA TERRA
NO RENASCIMENTO
Eduardo Gomes da Silva Filho
Lucas Montalvão Rabelo
Entretanto, deve-se ter em conta um cuidado para que estes recursos não criem uma
compreensão errônea dos processos históricos. Nossa proposta, com este texto é trazer
um questionamento do filme “1492 – A Conquista do Paraíso” (“1492 – Conquest of
Paradise” no original) que é muito divulgado em sala de aula, no Ensino Médio, ao ser
estudada a Expansão Marítima Europeia.
O primeiro passo, ao trabalhar com qualquer filme, é tratá-lo também como uma fonte
histórica datada. “1492”, como qualquer outra produção cinematográfica, não pode ser
compreendido enquanto uma janela de acesso ao século XV, mas sim, uma
interpretação visual daqueles acontecimentos por parte dos produtores do filme feito no
século XX. Lançado em 9 de Outubro de 1992 nos EUA e três dias depois na França,
nos âmbitos de comemoração dos 500 anos de descoberta da América, a produção
franco-estadunidense foi escrita pela francesa Roselyne Bosch; produzida pelo francês
Alain Goldman juntamente com o famoso produtor inglês Ridley Scott, que também
participou como diretor. Conta ainda com o ator francês Gérard Depardieu no papel de
Cristóvão Colombo. Este conhecimento sobre aqueles que participaram da criação do
filme é importantíssimo para revelar detalhes da forma como os acontecimentos são
trabalhados na película. A exposição destes dados deve ser realizada aos alunos antes
que assistam ao filme, pois, é importante que o compreendam enquanto uma leitura
acerca daquilo que os homens realizaram em um tempo passado.
Aliada com esta primeira etapa, faz-se necessário um domínio do enredo do filme por
parte do professor (a), para uma compreenção de seu sentido total , mesmo que não seja
321
exposto na íntegra aos estudantes. “1492” retrata vinte anos da vida de Cristóvão
Colombo, período em que teria “descoberto” a esfericidade da Terra e teve embates com
intelectuais da Universidade de Salamanca que o contestavam; buscou financiamento
espanhol para a expedição rumo ao Grande Cã, localizado do outro lado do mundo;
chegou às Antilhas e iniciou sua colonização, além de contar com o embate dos nativos
com os europeus; e no final da vida, sua condição de líder da colonização foi contestada
e enfrentou questionamentos.
Optamos, neste texto, por desconstruir a crença demonstrada de que Colombo seria um
homem revolucionário que descobriu a forma redonda da Terra. O texto inicial, presente
na introdução filme, apresenta o caráter revolucionário do navegador genovês em
contraposição ao atraso da Espanha:
Há 500 anos, a Espanha era uma nação dominada pelo medo e pela
superstição, governada pela Coroa e por uma feroz Inquisição que perseguia
os homens que se atrevessem a sonhar. Um homem desafiou este poder.
Guiado pela sua percepção do destino, ele atravessou o Mar das Trevas em
busca de honra, ouro e da grande gloria divina. (1492..., 1992, introdução).
Ao apresentar Colombo, existe uma crítica forte ao império espanhol taxado como
“nação dominada pelo medo e superstição” além de ser governado por uma “feroz
Inquisição”. Logo na introdução, é vinculada uma desqualificação clara da religião
católica provavelmente elaborada para agradar ao público inglês e estadunidense, em
sua maioria de religião protestante. Assim, a imagem do navegador genovês é
construída, no filme, como sendo oposta ao misticismo católico. Entretanto, o final do
texto traz uma contradição inerente com esta condenação ao dizer que Colombo buscava
a “glória divina”. Algo que não deixa de ser místico. Além disso, ao conhecer a história
deste personagem, sabe-se que afirmou ter encontrado na costa da Venezuela o Paraíso
Divino. Isso demonstra “(...) a presença do vínculo entre o pensamento medieval e o
pensamento renascentista” (SILVA, 1990/1991, p.30). Uma forte relação deste
personagem renascentista com as crenças medievais de uma realidade geográfica dos
escritos presentes na Bíblia Sagrada.
Acrescenta-se, ainda, que existiam outros navegadores provindos da região itálica como
o genovês naturalizado veneziano John Caboto (esteve na Espanha no mesmo período
que Colombo e frustrou-se pela escolha do financiamento deste e partiu para a
Inglaterra e viajou ao Novo Mundo em 1497), o florentino Américo Vespúcio (viajava
com os portugueses, a partir de 1497, e posteriormente tornar-se-ia o primeiro piloto-
mor de Espanha) e outros.
Por outro lado, o modelo aristotélico, que não se liga diretamente ao Aristóteles
clássico, foi defendido por João de Sacrobosco em sua obra Tratado da Esfera
(princípios do século XIII). O mundo estaria dividido em duas partes: do éter e dos
elementos. Esta última estaria composta por quatro partes: no centro a terra; na
sequência a água; depois o ar; e por fim o fogo puro. Cada um desses elementos estaria
em uma proporção de 1 para 10. Para garantir a sobrevivência da espécie humana, com
base no Gênesis ou no Salmo 103, Deus teria feito no terceiro dia a concentração das
águas. Assim, uma pequena parte de terra ficou submersa diante da grande imensidão
das águas. Com isso, a Terra habitável estaria plana na pequena parte descoberta, e,
esférica se considerada seu todo, com a maior parte coberta de água. (RANDLES, 1990,
p.14). Era, portanto, a junção de dois modelos explicativos: o aristotélico e o bíblico
(Bíblico-aristotélico).
Referências
1492 – A Conquista do Paraíso. Direção: Ridley Scott. 148 minutos. Título original:
1492 – Conquest of Paradise. Gaumont Film Company et alli, 1992. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=fUIm3z1lcL0 > Acesso em: 02 março de 2017.
1992 Ligou - Desenho animado estadunidense “Titio Avô”. Título original: (Uncle
Grandpa). Episódio 5, 2016. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=CSkpHR-HHHk. Acesso em: 02 de março de 2017,
às 22:00h.
CONTA, Gioia. “La Cartografía Romana” in: Semanas de Estudios Romanos – Vol. XII.
Valparaíso, Chile: Pontificia Universidad Católica de Valparaíso, 2004.
FONSECA, Luís Adão da. “O imaginário dos navegantes portugueses dos séculos15 e
16.” In: Estudos Avançados. 6 (16), 1992.
MORAN, Manuel José. O Vídeo na Sala de Aula. Revista Comunicação & Educação.
São Paulo, ECA-Ed. Moderna, [2]: 27 a 35, jan./abr. de 1995. Disponível em:
http://www.eca.usp.br/prof/moran/vidsal.htm. Acesso em: 2 de março de 2017.
324
RABELO, Lucas M. A Representação do Rio ‘das’ Amazonas na Cartografia
Quinhentista: entre a tradição e a experiência. Dissertação (mestrado em História) –
UFAM, Manaus, 2015.
SILVA, Janice Theodoro da. “Colombo: entre a Experiência e a Imaginação” In: Revista
Brasileira de História – América, Américas. Vol. 11 n°21. São Paulo: ANPUH/Marco
Zero, 1990/91.
325
O USO DO JORNAL DE ÉPOCA COMO PRÁTICA
NO ENSINO DE HISTÓRIA: O CASO DO
CONTESTADO
Eloi Giovane Muchalovski
Desde o início do século XX a pesquisa em história passou por uma sucessiva cadeia de
alterações teóricas e metodológicas, especialmente com o advento da Escola dos
Annales, movimento intelectual que propôs novos nortes à disciplina, em alternativa a
proposições da escola metódica dita positivista.
Mesmo módica, foi também a partir da década de 1970 que a utilização de documentos
históricos na sala de aula apresentou-se como algo perceptível, em especial por obras
organizadas pela professora Therezinha de Castro e do próprio MEC, através de
professores do CAP da UFRJ, publicando coletâneas de documentos históricos para uso
em sala de aula (KNAUSS, 2012, p. 34). Todavia o uso do jornal como fonte nem
sempre foi uma realidade, e seu uso, em muitos casos, dera-se de maneira inapropriada,
muito pela abordagem literal das notícias em sala de aula. Ao se considerar todo o
cuidado necessário para o tratamento analítico deste tipo de fonte, a fim de evitar-se a
perpetuação de discursos estereotipados, o uso literal do texto jornalístico, sem a devida
problematização por parte do professor, pode enfatizar preconceitos, ao invés de
contribuir para o aprimoramento do conhecimento histórico.
326
Hoje – principalmente devido o belo trabalho desenvolvido pela Fundação Biblioteca
Nacional, instituição que digitalizou e disponibilizou na internet grande parte de seu
acervo documental jornalístico, como também esforço de outras instituições, como por
exemplo o trabalho de digitalização e publicação de jornais de época desenvolvido pelo
Centro de Ciências Humanas e da Educação (FAED) / IDCH, Instituto de
documentação e Investigação em Ciências Humanas da Universidade do Estado de
Santa Catarina e a Biblioteca Pública de Santa Catarina e o projeto de pesquisa
desenvolvido pela professora Marcia Janete Espig, finalizado em 2013, junto a
Universidade Federal de Pelotas, no qual se fez a digitalização e disponibilização em
CD de todas a matérias publicadas pelo jornal A Federação sobre a Guerra do
Contestado –, o acesso a uma diversificada hemeroteca digital tornou-se algo acessível
aos professores de história nos diversos níveis do ensino. Cabendo a estes profissionais,
apenas a devida escolha de um tema específico e a realização de uma busca on-line no
material documental disponível, via qualquer computador com acesso à web. Obtendo
assim, em instantes, um bom conjunto de documentos para utilização em sala ou como
material de pesquisa. No que tange a história local e/ou regional, as hemerotecas digitais
demonstram serem profícuas para esse expediente.
Segundo Tonon e Lima (2016, p. 193), “trabalhar com história local requer por parte do
professor certa delimitação das fontes a serem investigadas ou mesmo da forma como
elas serão analisadas”. No caso específico do planejamento de aulas de história que
tenham como tema o Movimento ou Guerra Sertaneja do Contestado (1912-1916), estes
documentos digitalizados podem constituir-se em valiosas ferramentas para o
desenvolvimento cognitivo nos mais diversos aspectos, aprimorando competências
como a compressão da produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e
econômicas, associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, tal como o
entendimento da gênese e da transformação das diferentes organizações territoriais e os
múltiplos fatores que neles intervêm como produto das relações de poder (BRASIL,
2006).
Matérias jornalísticas sobre o Contestado foram publicadas em grande escala por jornais
de todo o país desde do ano de 1900 até 1917, destaque para gazetas dos estados do
Paraná e Santa Catarina. Neste expediente, os jornais O Dia, República, Gazeta de
Joinville, A Republica e Diário da Tarde, entre outros, produziram interessantes
matérias sobre o assunto, seja da controversa questão de limites como do próprio
desenrolar do conflito a partir de 1912. Durante a abordagem jornalística deste contexto,
menções de personalidades conhecidas por alunos da atual região geopolítica do
Contestado – conhecimento obtido pela corriqueira homenagem prestada as estas
pessoas da elite regional, geralmente coronéis, os quais tiveram seus nomes atribuídos à
monumentos públicos, tal como ruas, praças, bibliotecas, escolas e ginásios –, aparecem
nestes jornais, possibilitando ao professor trabalhar com a construção mental destes
símbolos públicos como algo vivo na memória coletiva, apontando suas origens e
possibilitando, por parte do aluno, o desenvolver da compreensão de si próprio
enquanto sujeito ativo do processo histórico, associando manifestações políticas,
econômicas, sociais, culturais e religiosas do presente ao respectivo contexto histórico
de que o educando faz parte.
Nada obstante, é sugestível que tal abordagem seja efetivada de modo a não legitimar
ainda mais o domínio elitista sob ideário escolar. Pois, a “linguagem, a grafia, a
327
organização editorial e as construções discursivas dos jornais antigos são obstáculos a
serem enfrentados pelo professor, mas não motivo para a desistência da utilização de
tais fontes documentais (ALVES, 2012, p.3). Mais importante que o trabalho acerca de
personalidades que tiveram seus nomes destinados a denominação de monumentos, é
desejável que se discuta o cotidiano, a vida e o contexto de toda sociedade da época,
temas possíveis de serem abordados por meio dos jornais (CAPELATO, 1988, p. 34).
Uma boa forma para isso, seria a contraposição dos discursos presentes nos periódicos
com um bom texto historiográfico do tema, o qual possa estabelecer um diálogo que
evidencie a diferentes intenções políticas presentes no discurso jornalístico, facilitando
para o aluno o entendimento de que aqueles documentos de época estudados não são
neutros, da mesma forma que a mídia jornalística de hoje também não é, desenvolvendo
assim o senso crítico e a capacidade reflexiva quanto aos diferentes meios de alienação
impostos, em diferentes espaços temporais, pela indústria da mídia.
Referências
328
ALVES, Francisco das Neves. O ensino da história por meio dos jornais antigos: as
imagens acerca dos atores político-partidários à época imperial. Historiae, v. 3, n. 1, p.
19-36, 2012.
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
KNAUSS, Paulo. Sobre a norma e o óbvio: a sala de aula como lugar de pesquisa. In:
NIKITIUK, Sônia (org). Repensando o ensino de história. 8.ed. São Paulo: Cortez,
2012, p. 29-49.
LUCA, Tânia Regina. História dos, nos e por meio de periódicos. In: PINKSY, Carla
Bassanesi. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2008.
329
NATIVOS DIGITAIS E AULAS DE HISTÓRIA:
COMO FAZER DESTA RELAÇÃO UM AMBIENTE
PRODUTIVO DE APRENDIZAGEM
Evelline Soares Correia
Introdução
Para entendermos melhor esta geração digital, buscamos em Prensky (2001) que há
mais de quinze anos, elaborou conceitos observando estudantes que já começavam a
mostrar mudanças de comportamento devido à era das novas Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TICs).
Segundo o autor, os nativos digitais são aqueles que nasceram e cresceram cercados
pelas novas tecnologias, ou seja, os que já nasceram em um universo digital, em
contanto com a Internet computadores e games. São jovens que falam sem “sotaque”, o
idioma digital é a sua língua materna. Já os imigrantes, são aquelas pessoas que
aprenderam a usar as tecnologias digitais ao longo de sua vida adulta, e ainda
manifestam “sotaques” observáveis na forma como manuseiam os recursos digitais em
seu cotidiano. (PRENSKY,2001).
Os imigrantes são aquelas pessoas que necessitam de apoio para leitura no computador,
ou seja, precisam imprimir os textos para fazerem leitura dos mesmos, utilizar papel e
caneta para escrever um texto antes de digitá-lo e ainda tendem a buscar informações
em livros e outras formas de mídia impressa, situação impensável para o nativo digital.
Para o imigrante é necessário a materialidade para haver produção.
Segundo o Dr. Bruce Perry da Baylor College of Medicine até sua estrutura cerebral
pode ser diferente (COUTINHO, 2010).
330
Cabe lembrar que estes dois conceitos não foram divididos pelo autor, relacionando-os
por idade, classe social ou econômica e sim por seu contato às novas tecnologias.
Entretanto, entende-se que alunos da mesma faixa etária dependendo também de sua
posição social, pode ter acesso ou não às novas tecnologias, sendo assim, as diferenças
culturais também são fatores influenciáveis.
No Brasil, temos jovens imigrantes, nativos e ainda o excluído da era digital, ainda
assim, não se pode admitir que todo jovem é um nativo da era digital, mas também não
se pode desconsiderar que os jovens cada vez mais usam a tecnologia no seu cotidiano.
E é desta forma, que os alunos, nativos digitais, chegam às salas de aula, e se deparam
com os professores, os imigrantes digitais, para o estabelecimento de uma relação entre
ensino-aprendizagem. Como se sentem os nativos digitais frente a este processo
educacional? De que forma as aulas de História se enquadram nesta nova realidade
apresentada?
No século XXI, com o surgimento da cibercultura, ou seja, uma nova cultura com o uso
do computador, redes e suportes tecnológicos, as práticas e conhecimentos ficam
ultrapassados em curto espaço de tempo, a linguagem torna-se hipertextual, as
comunicações escritas são mais resumidas e cheias de expressões cifradas, de forma que
as palavras são lidas como imagens (PAVANATI, 2011).
E como a História formal tem sua origem vinculada ao surgimento da escrita, abrem-se
questionamentos de como os historiadores, profissionais do texto por excelência
(Dantas, 2009), conseguem manter esta relação, de forma a se tornar um desafio
educacional contemporâneo. Dentro deste desafio observa-se que os nativos digitais
apresentam maior dificuldade na linguagem escrita e matemática, já os imigrantes
apresentam dificuldade na mídia digital.
Maria Auxiliadora Schimidt (2002) propõe uma nova visão da prática pedagógica do
professor de História a partir das renovações teórico-metodológicos. Assim amplia-se a
noção de documento e do uso das fontes, sendo possível uma aproximação maior da
História que se ensina e a História que se escreve. Cabendo ressaltar segundo Schimidt
(2002) que as inovações tecnológicas devem ser encaradas como processo e não como
produto, sendo assim a escola precisa tomar o cuidado de não impedi-la mas também de
não substitui-la pelo papel do professor.
As redes sociais podem também serem aliadas à prática pedagógica do professor, estas
são formadas por participantes autônomo que unem os recursos e ideias em torno de
interesses comuns, independentemente da posição geográfica, em um espaço de
interação e compartilhamento de informações (PIERRE LEVY 1999, apud, SOUZA et
BORGES,2009).
Uma das ferramentas possíveis de ser utilizada que contribui para este desenvolvimento,
são os jogos eletrônicos. De acordo com Filomena (2007, apud Kasvi,2006) game é um
conjunto de atividade que envolve um ou mais jogadores, que estão competindo
isolados ou em grupos, seguindo metas, desafios e consequências, por meio dos jogos
eletrônicos (CARNIELLO, 2010).
Assim, os gamers que segundo Mattar (2010) e Prensky (2007), são as pessoas que
fazem uso de jogos eletrônicos, desenvolvem diferentes habilidades, facilidade de
trabalhar em grupo, capacidade de aprender de forma rápida, iniciativa, criatividade,
resolução de problemas e raciocínio lógico, processamento de informações não linear,
aceso amplo de informações, preferência visual ao textual, sentimento positivo em
relação ao uso da tecnologia e por fim, o desenvolvimento de atividades simultâneas.
Desta forma, o uso de games na prática pedagógica do professor de História, tende a ser
uma das possibilidades de suporte do professor-aluno frente a aprendizagem. Dentre
eles citamos, Making History (Fazendo História) e World in Conflict (Mundo em
Conflito), inspirados em eventos e períodos históricos. World of Warcraft e Prince of
Persia também abordam conteúdos aplicáveis em História e Geografia. Spore é um jogo
em se se pode desenvolver espécies de animais e observar sua evolução. No Game
Maker o jogador é capaz de produzir seu próprio videogame.
Frente a tantas habilidades possíveis de serem trabalhadas nos games, há entretanto, que
se lembrar que os jogos são produtos comerciais e não pedagógicos, por isso deve-se ter
sempre a participação direta do professor. Outra possibilidade é a presença de
preconceito e violência subentendidos, por isso Arruda (2009) orienta os docentes a
importância de mostrar que os jogos são documentos históricos carregados de
ideologias políticas, referências culturais e intenções mercadológicas.
Lynn Alves (2004) e Prensky (2010), discordam da visão em relação à influência dos
games em comportamentos violentos, segundo Prensky, nos Estados Unidos a
332
incidência de crimes violentos diminuíram paralelo ao período que o uso dos games
aumentou extraordinariamente. Alves (2004) reforça este pensamento dizendo que o
meio onde a criança ou jovem está inserido é o fator determinante para causa e efeito
dos usuários dos jogos.
Considerações finais
A partir do que foi apresentado, não podemos dizer que todos os alunos hoje estão
imersos na era digital, e que nem todos podem ser considerados nativos digitais,
entretanto grande parte deste público está imerso nesta tendência que tende a aumentar
cada vez mais no decorrer dos anos.
Diante desta realidade, cabe a escola e ao professor uma nova prática pedagógica, e os
jogos eletrônicos podem ser uma delas, sem elegê-los como a solução das questões e
problemas de aprendizagem hoje vivenciados, a escola precisa admitir que está
recebendo alunos diferentes daqueles que nós, professores fomos. E que esta nova
forma de pensar, está diretamente relacionada a aprendizagem.
Matar (2010) afirma que a escola separa aprendizagem do prazer, como se fosse
fenômenos distintos. Os jogos podem ser uma das alternativas prazerosas onde o aluno
aprende e reproduz conhecimento de forma natural e até coletivamente.
Cabe a História, com base no estudo crítico dos fatos passados, compreender o seu
tempo, seu contexto atual e assim também é com o professor de História, em seu desafio
de aprimorar sua prática pedagógica de acordo com o seu tempo. É preciso investir mais
no aprendizado da cibercultura para que os imigrantes possam transitar pelos caminhos
hoje possíveis entre a mediação do saber e a prática pedagógica. Uma ação conjunta
entre nativos e imigrantes focada na construção e desenvolvimento de materiais
didáticos e acadêmicos, focados na interação, seria uma das ações que levariam o aluno
a ser ouvido, ser observado em sua relação com os pares e ainda seria possível aprender
com eles novos recursos tecnológicos, possibilitando ao professor uma reflexão de sua
prática.
Para que isto aconteça é preciso flexibilidade, certa humildade, disposição para
aprender, pois o professor com seu saber pedagógico aliado ao tecnológico, é capaz de
produzir tecnologias educacionais e por consequência, materiais didáticos, muito mais
atrativos e motivadores dos que hoje disponibilizamos.
333
Referências
ALVES, Lynn. Game Over: Jogos eletrônicos e violência. 211 f. Tese (Doutorado em
Educação) – Programa de Pós‐graduação em Educação, Faculdade de Educação,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004. Disponível em:
<http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/game-
studies/files/gs_submission/trabalho_27/trabalho_27.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2017.
MATTAR, João. Games em educação: como os nativos digitais aprendem. 1. ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
334
PALFREY, John; GASSER, Urs. Born Digital – Understanding the First Generation of
Digital Natives. New York: Perseus Books, 2008.
PAVANATI, Iandra; SOUSA, Richard Perassi Luiz de. História Digital, Ensino de
História e tecnologias de Comunicação Digital. In: XXVI Simpósio Nacional de
História- ANPUH. Anais eletrônicos. São Paulo, 2011. Disponível em:
<http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300412565_ARQUIVO_Historia
Digital_Anpuh2011.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2017.
PRENSKY, Marc. Digital game‐based learning: practical ideas for the application of
digital game‐based learning. St. Paul, MN: Paragon House, 2007.
PRENSKY, Marc. Digital Natives, Digital Immigrants. MCB University Press, 2001.
Disponível em: <http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-
%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf>. Acesso em:
jan. 2017.
PRENSKY, Marc. Não me atrapalhe, mãe – Eu estou aprendendo! São Paulo: Phorte,
2010.
335
FOTOGRAFIA E CONHECIMENTO: CAMINHOS
PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
Eudes Marciel Barros Guimarães
Quando nos detemos na história da cultura desde o século XIX, é inegável o papel da
fotografia em novas formas de expressões artísticas, comunicação social e
representações visuais em geral. No decorrer do século XX, com a popularização de
câmeras portáteis, a fotografia passou a fazer parte do cotidiano das pessoas num mundo
cada vez mais interligado. Há alguns anos, tenho me dedicado ao estudo das séries
produzidas por dois fotógrafos franceses que percorreram o Brasil entre as décadas de
1940 e 1960. Pierre Verger e Marcel Gautherot viveram intensamente o clima cultural
parisiense das décadas de 1920 e 1930, período em que se formaram como fotógrafos
dentro de um circuito social de amplas dimensões de interesses: da arte à etnografia, da
arquitetura à política. Verger e Gautherot são, portanto, profissionais cujo trabalho
fotográfico esteve pautado na dimensão documental e na perspectiva etnográfica.
Pensando nos avanços dos estudos visuais nas pesquisas acadêmicas, sinto que seria
profícuo um diálogo mais estreito com a História ensinada nas escolas. Desse modo,
neste 3º Simpósio Eletrônico Internacional de Ensino de História, parece-me oportuno
encaminhar uma possibilidade de abordar imagens fotográficas nas aulas de História do
ensino básico, mais especificamente no Ensino Médio. Não é o caso, neste momento, de
336
propor qualquer tipo de manual metodológico, tampouco de fazer um estudo exaustivo
de uma problemática. Por meio de um tema que escolhi a partir do que pesquiso, o meu
objetivo consiste em elaborar caminhos possíveis para uma discussão fecunda em sala
de aula, de modo que a fotografia esteja presente não como mera ilustração do
conteúdo, mas como partícipe na construção do conhecimento histórico tanto do tema
que ela diz respeito quanto na interpretação mais dimensionada desse tema.
Em Canudos, Pierre Verger privilegiou rostos de idosos, lugares e objetos que remetiam
à guerra. É interessante, como forma de comparação, propor um diálogo dessas
fotografias de 1946 com os registros feitos por Flávio de Barros no calor do conflito.
Barros privilegiou a empreitada militar, com ângulos e poses que heroicizam os
soldados. A paisagem, nesse sentido, configura o atributo épico da luta da “civilização
contra a barbárie”, como se imaginou nos jornais da época. Em Brasília, Marcel
Gautherot, por sua vez, privilegiou a dimensão monumental do centro cívico e a
composição estética da paisagem urbana moderna por meio das sombras projetadas
pelas ferragens, estruturas de concreto, vidros e os corpos de trabalhadores. Por outro
lado, não deixou de registrar os candangos que se agrupavam nos arredores da nova
capital, cujas fotografias revelam a extrema pobreza de quem estava completamente à
margem do poder. Um número significativo dessas imagens fotográficas pode ser
facilmente encontrado nos acervos virtuais da Brasiliana Fotográfica, da Fundação
Pierre Verger e do Instituto Moreira Salles.
Imagino como seria interessante uma aula em que a representação do sertão brasileiro
fosse abordado a partir das imagens de Flávio de Barros, Pierre Verger e Marcel
Gautherot. Para o embasamento do professor disposto a elaborar tal aula (que pode,
evidentemente, se desdobrar em outras aulas), há uma bibliografia recente que se ancora
nos estudos da Cultura Visual a que me referi no início deste texto. Uma interpretação
337
mais sistematizada das fotografias de Flávio de Barros foi feita por Natalia Brizuela
(2012) que, a partir da ideia de “sertão à margem da história”, toma os registros de
Barros e os textos de Euclides da Cunha como documentos que elaboram o imaginário
das ruínas como códigos para se pensar a própria história do Brasil. Antonio Fernando
de Araújo Sá (2010), por sua vez, assina um artigo intitulado O sertão de Pierre Verger,
em que estuda as imagens publicadas na revista O Cruzeiro. No âmbito da
documentação visual de Brasília, há o excelente livro de Heloísa Espada (2012), que
resultou de sua tese de doutorado sobre a representação do centro cívico por Gautherot.
Por fim, para ampliar essas questões e estabelecer um diálogo mais facundo, cabe
destacar um texto de Nicolau Sevcenko (2000) em que ele elabora uma relação direta
entre Canudos e Brasília para compreender aspectos importantes da história do Brasil
republicano.
Como afirmei no início deste texto, nos estudos da cultura visual, as imagens, sobretudo
a fotografia, não devem ser tomadas como “espelhos” do real, tampouco como meras
ilustrações de conteúdos didáticos. Elas criam, instituem, participam e interagem nas
experiências das sociedades. Assim, se a pesquisa acadêmica tem avançado na
construção de metodologias mais sofisticadas, o ensino básico de História pode se
tornar ainda mais fecundo ao levar em conta esses avanços e adaptá-los ao
funcionamento das aulas. Há de se aprender a ler e interpretar imagens e seus
funcionamentos distintos dos textos verbais. Concluo lembrando o que disse, uma vez, o
fotógrafo americano Lewis Hine: “se eu pudesse contar uma história em palavras, não
precisaria carregar uma câmera” (apud SONTAG, 2004, p.201).
Referências bibliográficas:
DIKOVITSKAYA, Margaret (org.). Visual Culture: the study of the visual after the
Cultural Turn. Massachusetts: MIT Press, 2005.
MENESES, Ulpiano Bezerra de. Fontes visuais, cultura visual, História visual: balanço
provisório, propostas cautelares. In: Revista Brasileira de História, v. 23, n. 45, 2003, p.
11-36.
SÁ, Antônio Fernando de Araújo. O sertão de Pierre Verger. In: Projeto História, n. 40,
jul. 2010, p. 357-391.
SEVCENKO, Nicolau. Peregrinations, visions and the city: from canudos to Brasília,
the backlands become the city and the city becomes the backlands. In: SCHELLING,
338
Vivian (org.). Through the kaleidoscope: the experience of modernity in Latin America.
New York: Verso, 2000, p. 75-107.
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2004.
339
UNINDO O ÚTIL AO AGRADÁVEL: UMA BREVE
ANÁLISE SOBRE AS TEMÁTICAS DOS
QUADRINHOS (COMICS E MANGÁS) DIANTE DA
PERSPECTIVA DO ENSINO DE HISTÓRIA
Felipe Adriano Alves de Oliveira
Introdução
Tomando como ponto central as temáticas que as HQs abordam e sua utilidade
histórica, é importante ressaltar a sua importância enquanto material de uso histórico,
pois com a ampliação do conceito de fonte histórica pela historiografia, mais
precisamente durante a 3ª Geração de Annales, diversos materiais sendo estes, parte de
uma produção social, foram considerados fontes de pesquisa, pois carregam consigo
valores, mentalidades, vivências e construção de um saber social. Diante disso, a
vertente historiográfica denominada “História Cultural” passou a fazer o uso dos
materiais que fossem parte de produtos culturais como rica fonte de pesquisa. Com isso
pode ser citado, por exemplo, o historiador Chartier e sua discussão em torno do
conceito de representação e leitura (REIS, 2004; TÉTART, 2000).
Alguns historiadores que visam o campo da educação escolar, tal como Fronza (2012),
destaca que:
340
múltiplas temporalidades reveladas pelas respostas e narrativas do mesmo.
(FRONZA, 2012, p. 06).
Fronza (2012) argumenta que as narrativas descritas nas HQs auxiliam a complementar
o aprendizado obtido através da leitura de textos, pois suas ilustrações despertam o
interesse e auxiliam na cognição histórica. Nesse sentido, o presente artigo se destina a
fazer uma breve discussão das temáticas históricas presente nas HQs diante da
perspectiva de aprendizagem histórica, unindo dessa forma, o entretenimento e o ensino
da disciplina de história.
A lista de quadrinhos que carregam consigo elementos históricos é complexa, mas pode
ser citado algumas, como por exemplo: do lado dos comics (X-man, Capitão América,
Quarteto Fantástico), (GUERRA, 2011). Fazendo análises nos temas que esses comics
abordam em suas histórias, é possível notar as representações históricas inseridas em
seu conteúdo. De acordo com Luyten (1985), os quadrinhos são compostos por valores
e elementos sociais, sendo eles mesmos veículos ideológicos.
Para Guerra (2011), os comics principalmente aqueles produzidos entre os anos de 1960
e 1980, carregam uma temática envolta por conflitos político-sociais. Fazendo a
contextualização histórica desses períodos mencionados, os produtores dos comics
estavam enfrentando um período de tensões entre os Estados Unidos e União Soviética,
marcado dessa forma, pela Guerra Fria. McCloud (1995) se aprofunda nessas
características presente entre a temporalidade histórica e seus produtores, e afirma que
os quadrinhos são compostos pela mentalidade e vivência dos artistas, seguindo ao
mesmo tempo as tendências político-sociais que os inserem.
Os mangás já trazem consigo fatos históricos mais voltados para o contexto japonês,
exceto alguns como Trinity Blood e Hellssing que dentro de suas histórias fictícias,
carregam elementos da luta entre o catolicismo e protestantismo ocorrida no século XVI
na Guerra dos Trinta Anos, e alguns pontos conflituosos na Irlanda do Norte que se
desenrolaram entre os anos de 1968 e 1998. Os Cavaleiros do Zodíaco (Saint-Seya) faz
uma abordagem envolvendo a mitologia grega e nórdica (DUTRA, 2014). Já os de
contexto japonês têm-se os mangás Rorouni Kenshin (Samurai X), e Drifters que
carregam o contexto do Japão feudal em suas histórias, além dos mangás expoentes
sobre os conflitos da Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria, sendo respectivamente,
Hadashi no Gen, e Akira. (FEIJÓ, 2013; OLIVEIRA, 2016).
Essa relação entre aluno e quadrinhos é trabalhada com o objetivo de que o aluno passe
a desenvolver suas habilidades de interpretação, e isso apenas se dá com o processo da
leitura, análise, e identificação do conteúdo, estabelecendo assim, o senso crítico, a
compreensão, e associação com os fatos históricos.
Esse aspecto de ampliar a percepção histórica dos alunos por meio dos quadrinhos parte
de uma premissa destacada por Rüsen (2010), de que os alunos dependendo do contato
que estes têm com os fatos históricos, tendem a desenvolver as proto narrativas, ou seja,
as ideias prévias de um determinado fato. Com a utilização dos quadrinhos com o
objetivo de separar o que é fato e o que é ficção, instiga o processo de investigação dos
342
alunos ao fazer tal análise, desenvolvendo uma percepção maximizada e equilibrada de
suas narrativas (BARCA, 2007).
Já o contato dos alunos com os mangás, auxilia na ampliação e no contato com culturas
diferentes das do ocidente. Feijó (2013) destaca que além de fazer essa ligação
interpretativa entre realidade e ficção presente nas narrativas dos mangás, possibilita a
apresentação de uma nova cultura, no caso, a cultura japonesa, enriquecendo as noções
entre cultura oriental, e ocidental, ou seja, a percepção e compreensão do outro.
Diante disso, essa breve discussão contribui para abordagem sobre novas ferramentas
que auxiliam na aprendizagem histórica e que propicia o desenvolvimento da
consciência histórica e a aproximação dos alunos como sendo agentes da história, os
quadrinhos sendo parte da cultura pop podem sim desempenhar um papel importante
enquanto ferramenta de aprendizagem e objeto de pesquisa mesclando o ensino com o
entretenimento, sendo “útil” em termos da utilização da disciplina de história, e o
“agradável” como os quadrinhos enquanto material cotidiano de entretenimento a gerar
significado para a aprendizagem.
Referências bibliográficas
343
FRONZA, M. A intersubjetividade e a verdade na aprendizagem histórica de
jovens estudantes a partir das histórias em quadrinhos. (tese), Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 2012.
_____, Histórias em Quadrinhos (leitura crítica). São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
REIS, J. C. Escola de Annales: a inovação em história. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
344
OS USOS DE JORNAIS DE ÉPOCA NO ENSINO DE
HISTÓRIA: UMA PERSPECTIVA TEÓRICA,
DIDÁTICA E METODOLÓGICA
Gabriel dos Santos Birkhann
Por isso, percebendo o quão notório é o grande desafio que os docentes enfrentam no
exercício das atividades inerentes à sua profissão, entendeu-se que promover a reflexão
sobre os benefícios que a utilização de jornais no ensino de História pode acarretar seria
não só necessário, como urgente. Entende-se que a superação de práticas pedagógicas
anacrônicas não é somente indicada, mas viável em termos de ensino e aprendizagem.
De modo a se obter embasamento teórico, pode-se recorrer à Libâneo (2014, p.40), que
com sua contextualização a respeito das tendências pedagógicas nos mostrou a
importância de se levar à sala de aula conteúdos “concretos e, portanto, indissociáveis
das realidades sociais” (p.40), tal como a Tendência Crítico-social dos Conteúdos
preconiza. Além disso, a professora Souza (2010, p.1), por seu turno, colocou a
importância de se evitar a chamada “farsa do planejamento”, na qual o improviso é
constante.
345
Ou seja, compreende-se também que é necessário que o professor se atenha ao Plano de
Ensino da Disciplina que ministra, observando o tempo que dispõe, além das
condições e limitações físicas do seu ambiente de trabalho.
Isso não implica, é claro, em uma rigidez, mas somente em um cuidado necessário já
que o docente deve preparar a turma de modo que ela entenda que os próprios
documentos são objetos de transformações históricas.
É mister destacar que os “PCNs” para a área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
destacam justamente isso, colocando que os alunos devem compreender o jornal não
como apenas o alicerce da construção histórica, mas também como parte dessa
construção em todos seus momentos e articulações (BRASIL, p.22).
(...) Os textos não são neutros nem ingênuos e tão pouco dão conta de
verdades absolutas; no máximo entregam interpretações dos fatos, os quais,
por sua vez são tratados y hierarquizados de acordo a concepções e motivos
muito particulares e subjetivos.
Por causa disso, o docente deverá fazer um trabalho profundo, com atenção,
desvelando-se os problemas, alinhavando as dúvidas, sempre atento, como colocaria
GINZBURG (2012, p.144), aos “pormenores mais negligenciáveis”.
346
estudo de História Local, visto que é em sua comunidade onde suas relações e empatias
são desenvolvidas em primeiro lugar.
Neste sentido, após refletir sobre o uso de jornais de época no ensino de História, pode-
se inferir que o aluno estará não somente aprendendo o conteúdo específico da aula,
mas irá estar também refletindo sobre a construção do conhecimento histórico,
desenvolvendo a consciência a respeito da importância da valorização da memória local
e da conservação de documentos históricos e de todo o patrimônio cultural de uma
determinada sociedade.
REFERÊNCIAS:
SOUZA, Maria Inês Flôres Marcondes de. A farsa do planejamento. Disponível em: <
http://www.institutounipac.com.br/aulas/2010/1/UBEDF02N1/000094/000/afarsadoplan
ejamento.doc>. Acesso em: 10 mai. 2016.
347
MÚSICAS DE RAP: HISTÓRIA E
SUBJETIVIDADES
Gabriel Passold
Há um senso comum que pressupõe, nas músicas de rap, uma maior importância do
texto em detrimento dos seus outros aspectos sonoros. Autores como Oliveira (2011) e
Righi (2011), além de vários outros, compartilham desta visão. Isso não significa que o
senso comum é apropriado para falar de todo o universo rap, ou seja, que o rap é mais
texto (letras) do que melodia (música). Significa apenas que muitos o abordam nessa
perspectiva. E mesmo que parte do próprio universo rap compartilhe disso, partimos do
pressuposto de que as letras não são obrigatoriamente a tônica das músicas de rap, mas
são parte de um tecido histórico e estético mais amplo, composto por outros elementos
sonoros não menos importantes que a letra, como por exemplo, o flow proporcionado
pelo arranjo das rimas. Nosso debate é sobre uma possibilidade de análise das músicas
de rap em contrapartida à ideia de um senso comum que implica numa vanguarda
canônica de “representantes” engajados do rap nacional, ou seja: pensá-lo a partir de um
senso comunitário.
Façamos um breve parêntese para algumas considerações teóricas que contribuem para
o debate. Se é possível falar de política numa expressão estética e ela não está ligada um
arranjo artístico com determinado conteúdo, como uma espécie de senso comum
compreende, mas antes, a um senso comunitário prioritariamente estético, um dos
primeiros autores a refletir sobre isso foi Immanuel Kant na Crítica da faculdade do
juízo (2012), de 1790, que propôs uma “propedêutica de toda arte bela” não mais
abalizada em preceitos da tradição,
Kant contribui para pensar que o sentido comunitário, aplicado ao rap, não se liga
necessariamente a territorialização do sentido – com tal discurso ligado a tal lugar e
grupo – mas se liga a outra espécie de comunidade, baseada em outros pressupostos,
como, por exemplo, da igualdade das inteligências e das capacidades de indivíduos
quaisquer em comunicar suas histórias, ou seja, num “universal sentimento de
participação”.
Nessa perspectiva, não buscamos analisar o rap apenas por um suposto conteúdo
discursivo político – pois, antes de tudo, esse conteúdo não é simplesmente pautado tão
somente nisso – mas sim, algo que se tece sobre uma humanidade compartilhada
348
universalmente por sentimentos – e não por ideias e conceitos já estabelecidos, como no
caso de CONTIER (2005), que aborda as suas letras por um cunho ideológico.
Como demonstração deste critério por nós adotado, continuaremos o debate a partir de
um exemplo de letra de rap. Vamos ao seguinte trecho da segunda parte da letra da
música Hoje Cedo (2013) de Emicida, com a participação da cantora/compositora Pitty:
349
As letras, por vezes, podem estar inclusive em segundo plano em relação aos sons,
afinal, no rap, ainda se trata de música, e nela podem prevalecer quaisquer outros
elementos estéticos sobre a necessidade de significar, pois a música não é
necessariamente uma “representação” de algo, mas antes, constitui-se de um tecido
estético múltiplo, e um timbre, um ritmo ou uma rima, por exemplo, podem desencadear
sentimentos que uma preposição muitas vezes não é capaz de expressar.
Ainda que o conteúdo das letras seja de fato, uma parte importante das criações
artístico-musicais do rap, quando há uma predominância de um senso comum na
história do rap com base quase que exclusivamente nesse aspecto, corre-se o risco de
desconsiderar grande parte do processo criativo implicado numa expressão estética
como essa. Não podemos esquecer que essas palavras sofrem processos de
ressignificações e, portanto, entendê-las a partir de significações objetivas pode
inclusive bloquear o seu caráter estético/político/histórico. Ao debatemos outras
possibilidades de abordagem com as músicas de rap, que não tão somente baseadas no
senso comum que analisa as suas letras numa perspectiva de conteúdo direcionado, mas
num senso comunitário onde o que está em jogo são as possibilidades
educativas/emancipatórias/subjetivas, nos atemos a historicidade das próprias
expressões estéticas, que é a historicidade democrática.
Referências bibliográficas
CONTIER, Arnaldo Daraya. O Rap Brasileiro e os Racionais MC’s. In: Anais Simpósio
Internacional do Adolescente. São Paulo. 1,. Out. 2005. Disponível
em:<http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000
082005000100010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 9 mar. 2016.
EMICIDA. Hoje cedo. In: EMICIDA. O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui.
São Paulo: Laboratório Fantasma, 2013. MP3, 192 Kbps.
350
O USO DE IMAGENS NAS AULAS DE HISTÓRIA
NO ENSINO MÉDIO
Gabriela Alves Monteiro
Introdução
Este texto aborda questões pertinentes ao uso de imagens nas aulas de História no
Ensino Médio. O objetivo consiste em identificar tendências de usos/abordagens das
imagens na prática dos professores de História. Para tanto, foi realizada uma pesquisa
de campo na Unidade Escolar Professora Maria de Lourdes Rebelo, escola parceira do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade
Federal do Piauí (UFPI). Essa escola estadual se localiza em Teresina, capital do Estado
do Piauí, Brasil. Ela funciona desde 1972, oferecendo, primeiramente, o Ensino
Fundamental e atualmente o Ensino Médio nos três turnos: manhã, tarde e noite. A
instituição também oferece a 856 alunos o Ensino Médio, na modalidade regular e por
meio do projeto Jornada Ampliada. Para efeitos deste trabalho, delimitamos nossa
observação somente às aulas do 3ª ano do Ensino Médio.
Para que essa competência seja atingida com satisfação, o professor, no cotidiano
escolar, pode fazer uso de variadas práticas que possibilitem ao aluno contato com
novas metodologias de aprendizagem. Nos próprios Parâmetros Curriculares Nacionais
do Ensino Médio esse tipo de atuação é instigada:
Nesse sentido, o professor deve estar atento aos procedimentos e deve agir para que o
aluno compreenda que o texto não é o único a transmitir mensagens. As imagens
também refletem inúmeras ideias e conceitos. Portanto, compreendemos que uma
351
imagem não ilustra e nem reproduz a realidade, mas ela a constrói a partir de uma
linguagem própria.
Metodologia
Esta investigação tem como objetivo analisar o uso de imagens na prática pedagógica
do professor de História no Ensino Médio buscando identificar tendências de
usos/abordagens. Desse modo, a pesquisa foi realizada com um professor de História na
escola anteriormente citada durante dois meses. O professor era supervisor do PIBID e
durante a observação das aulas buscamos direcionar o olhar para os recursos didáticos
utilizados por ele na sala de aula, com ênfase na utilização de imagens.
Entendemos também que esta investigação se trata de um estudo de caso, uma vez que
será explorado aqui um caso específico e único, durante um período de tempo limitado,
objetivando esclarecer um problema que é: como o professor de História, no Ensino
Médio, utiliza do recurso das imagens em sua prática pedagógica?
Resultados
Teceremos aqui algumas considerações sobre o que foi possível concluir acerca do uso
de imagens na prática pedagógica do professor de História no Ensino Médio.
Ressaltamos que por se tratar de um estudo de caso, não podemos generalizar os
resultados aqui obtidos a todos os professores de História. Contudo, pensamos que a
relevância deste trabalho está em contribuir para a compreensão da prática pedagógica
relacionada à importância que a análise de imagens tem no ensino de História.
352
Concluída observação, verificamos serem verdadeiras as constatações da literatura
pedagógica sobre o uso de imagens no ensino de História. O que pudemos observar é
que há muito tempo essa metodologia foi incorporada na prática docente
(BITTENCOURT, 2011). Apesar de não se valer dos recursos visuais em todas as aulas
observadas, o professor de História observado nesta pesquisa, mostrou-se atento e
disposto a incorporar as novas tecnologias/linguagens/fontes no ensino e o fez quando
possível.
De fato, parece-nos claro que o uso de imagens requer uma prática adequada, uma vez
que sabemos que apenas o conhecimento não é suficiente pra um ensino eficaz. O
conhecimento deve ser aliado a uma prática competente, de preferência aquela que
instrumentalize o aluno a se compreender como sujeito, tomando consciência de seus
atos.
A partir dessas constatações concluímos que o uso de imagens no ensino é cada vez
mais uma tendência, tanto como pesquisa acadêmica quanto como prática docente.
Concluímos também que o uso de imagens no ensino de História é uma tarefa possível e
eficaz quando bem utilizada.
353
Referências
354
A PRODUÇÃO FÍLMICA NO ENSINO E NA
PESQUISA HISTORIOGRÁFICA
Gustavo Batista Gregio
O presente trabalho busca realizar uma breve discussão e reflexão sobre a produção
fílmica como documento e fonte no ensino e na pesquisa historiográfica. Para tanto, é
necessário compreender que a produção cinematográfica no decorrer do século XX
adquiriu significativa importância seja como produção cultural ou instrumento de
ensino. O cinema antes visto apenas como objeto de diversão e entretenimento popular
adquiriu principalmente nas Ciências Humanas novo status, transformando-se em fonte
e documento para novas abordagens teóricas, especialmente temáticas cujo enfoque
fosse às culturas e as sociedades.
Na ótica de Le Goff (2003), o principal objetivo dos Annales foi destronar a História
política numa tentativa de reformular uma nova História política, no caso, uma história
com uma nova concepção do político. As reformulações proposta pelos Annales
impulsionou um profundo movimento de transformação na historiografia, criando uma
geração de historiadores que passou a questionar a hegemonia da História política e a
defender uma nova concepção de História, na qual o social tornar-se-ia fundamental.
Entrementes, a representação fílmica passou a ser maior aprendida a partir dos anos
finais do século passado, indo de encontro com o grande desafio da História Cultural, o
qual era de atingir um reduto das sensibilidades e de perceber como se dão os processos
de reconstrução da realidade.
Santaella (2000) observa que a secularidade dos signos sempre tem a possibilidade do
efeito de impressão, o qual está apto a produzir por meio de significados. Contudo, o
olhar que o espectador lança sobre esses signos representados não está livre, pois esses
elementos são regidos pelas escolhas que o diretor, produtores, entre outros, operaram
no momento de roteirização, filmagem e edição da obra.
Em suma, essas narrativas fílmicas têm o poder de nos transportar para um novo mundo
de significados, capaz de estimular o nosso inconsciente e de ultrapassar as fronteiras do
que entendemos por realidade e ficção. Contraditoriamente, para compreendermos esse
mundo ficcional criado pelo cinema, é necessário o apreendermos como uma forma de
“realidade”. No qual, os códigos e os signos expressos nas fontes audiovisuais
representam outra realidade, outra história e outro tempo.
Por fim, a produção fílmica transformou o século XX e os anos inicias do século XXI
em um gigantesco laboratório de observação, produzindo e reproduzindo imagens e
significados dos mais variados possíveis, criando suas próprias representações da
História, da cotidianidade e principalmente das relações e das práticas socioculturais.
Desse modo, o historiador deve estar ciente das problemáticas que envolvem apreender
a narrativa fílmica como objeto de estudo, pois a linguagem audiovisual, como a
imagética, não deve ser apreendida como uma mera ilustração da realidade ou fiel a ela,
mas como uma representação, construída a partir de um processo técnico, com visões e
escolhas preestabelecidas, as quais devem ser problematizadas, para posteriormente se
tornarem conhecimento historiográfico.
357
Referências bibliográficas
BURKE, Peter. A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora UNESP.
1992.
358
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA NA
ERA DA INFORMAÇÃO
Hélia Costa Morais
Jessica Gleyce dos Reis Felix
Não existe uma sociedade que permaneça estática, em todas há transformações que
procuram romper de alguma maneira com a cultura herdada, a fim de recriá-la. A
educação surge como fundamental para o processo de socialização cultural, num
exercício que permite ao ser humano tornar-se agente na construção histórica e cultural.
Assim sendo, a educação não se configura como simples difusão do legado dos
antepassados às novas gerações, mas enquanto processo de desenvolvimento da
capacidade intelectual e moral do ser humano, que visa sua integração individual e
social. No entanto, a educação não pode ser compreendida à margem da história, mas
sempre vinculada a um contexto histórico, abrindo espaço para uma reflexão acerca da
atuação do indivíduo na construção do seu próprio saber.
359
Neste processo transitório acerca do entendimento da própria concepção do
conhecimento histórico e sua aplicação na realidade prática, o ensino de história passou
a se adequar à realidade do mundo contemporâneo ao buscar desempenhar um papel
efetivo e decisivo na formação social dos sujeitos. Para tanto, passou-se a refletir acerca
de uma transformação na didática do ensino de história, que deveria se centrar no
aprendizado dos alunos e por isso, pensar num espaço de ensino que possibilitasse a
participação destes no processo de ensino-aprendizagem.
Burke (2012) defende que para que haja uma transformação do conhecimento não é
suficiente a obtenção de informações, mas sua discussão e problematização. Pois, a
discussão causa dúvidas e a constante busca por novas informações, sendo este um dos
princípios basilares do ensino de história: o incentivo ao pensamento crítico da
realidade. Como alerta Burke, a excessiva carga de informação tem sobrecarregado a
360
sociedade e as pessoas que se alimentam dessa rede desenfreada de conhecimento que
pode não representar algo benéfico.
Uma escola que se assume como instituição educativa que sabe o que quer
e para onde vai. Na observação cuidadosa de sua realidade social, descobre
os melhores caminhos para desempenhar a função que lhe cabe na
sociedade. Aberta a comunidade exterior dialoga com ela. (2001, p. 25).
Assim, é importante ter em mente que o foco da ação escolar precisa ser alterado diante
dos desafios impostos por esta nova realidade. Portanto, é primordial que a ação
pedagógica embora deva dialogar amplamente com a qualificação técnica e cientifica,
não esteja voltada exclusivamente a este aspecto, para que haja uma consciência crítica
e reflexiva acerca da prática educativa. Por isso, é fundamental que os
professores/pesquisadores conduzam a sociedade no exercício de reflexão que vise a
tomada de consciência, fazendo com que os sujeitos aprendam a questionar, a
problematizar a si próprios, a sociedade, suas produções e os possíveis efeitos de suas
escolhas.
Referências
361
IDEIAS DE ALUNOS DO SEXTO ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL ACERCA DE FONTES
HISTÓRICAS PROPOSTAS NO LIVRO DIDÁTICO
Heloisa Pires Fazion
Marlene Rosa Cainelli
O presente texto possui como objetivo apresentar considerações sobre a pesquisa que
está sendo desenvolvida no Mestrado em História Social na linha de História e Ensino
da Universidade Estadual de Londrina.
Isto posto, destaca-se que a pesquisa será aplicada num Colégio Estadual da cidade de
Londrina, de maneira que a problemática principal é perceber como alunos do sexto ano
do Ensino Fundamental utilizam fontes históricas textuais e visuais presentes no livro
didático “BOULOS, Alfredo. História, sociedade e cidadania, 6º ano. 3ª edição. São
Paulo: FTD, 2005, 448p.” A justificativa para a realização desta pesquisa reside
primeiramente na importância de se trabalhar fontes históricas com os alunos, bem
como de instigá-los a pensar as fontes não como uma cópia fiel do passado, mas sim
como uma produção contextualizada que permite diferentes interpretações. Além disso,
está sendo levada em consideração a lacuna que ainda existe nas investigações
referentes ao livro didático. Nas palavras de Rüsen (2011, p.111) “quase não existe
investigação empírica sobre o uso e o papel que os livros didáticos desempenham
verdadeiramente no processo de aprendizagem em sala de aula”.
Isto posto, ressalta-se que devido à influência dos Annales o olhar sobre o que poderia
ser considerado um documento histórico foi ampliado. Assim, nesse novo cenário, os
estudiosos não consideram apenas documentos escritos e oficiais, mas sim toda
produção humana, incluindo, no repertório do que pode ser considerado um documento
histórico, imagens, músicas, entrevistasse artefatos, por exemplo.
Bacellar (2005) aponta questões essenciais no que se refere ao uso das fontes. A
primeira delas diz respeito à contextualização. É fundamental que o pesquisador
investigue quando e por quem a fonte foi produzida, até porque “documento algum é
neutro, e sempre carrega consigo a opinião da pessoa e/ou do órgão que o escreveu”
(BACELLAR, 2005, p.63). A necessidade em se entender o contexto no qual o
documento histórico foi produzido é de suma importância, pois o significado das
palavras pode diferir do que atualmente é.
Em seguida, o autor assinala que o olhar crítico sobre a fonte também é imprescindível.
Isto deve-se ao fato de que quem produz algo, o produz com alguma intencionalidade,
tendo em vista seus interesses. Dessa maneira é necessário ter em mente que as fontes
estão carregadas de subjetivismo. Devido a isto, a análise “exige que se desconfie das
fontes, das intenções de quem a produziu, somente entendidas com o olhar crítico e a
correta contextualização do documento que se tem em mãos” (BACELLAR, 2005,
p.64). Outro aspecto refere-se a “perceber a qualidade das informações que ela pode ou
não nos fornecer” (BACELLAR, 2005, p.68). Aqui reside a importância em
compreender que as fontes são produzidas visando atender as problemáticas de sua
época, e que, portanto, apenas respondem as questões que para ela são direcionadas, até
porque nenhum documento fala por si só.
Por fim, destaca-se que a metodologia utilizada será a Grounded Theory (teoria
fundamentada), a qual é frequentemente utilizada pelos pesquisadores da Educação
Histórica. Sublinha-se que o grande diferencial dessa teoria reside no fato do estudioso
construir suas próprias categorias, referentes ao objeto de estudo, a partir dos dados que
são obtidos no decorrer da pesquisa, de maneira que “os dados formam a base da nossa
teoria, e a nossa análise desses dados origina os conceitos que construímos”
(CHARMAZ, 2009, p.15). Portanto, as narrativas produzidas pelos alunos serão
analisadas para que posteriormente possam ser construídas as referentes categorias.
Referências Bibliográficas
BACCELAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi;
BACELLAR, Carlos; GRESPAN, Jorge; NAPOLITANO, Marcos; JANOTTI, Maria de
Lourdes; FUNARI, Pedro Paulo; LUCA, Tania Regina de; BORGES, Vavy Pacheco;
ALBERTI, Verena. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, 302p.
BOULOS, Alfredo. História, sociedade e cidadania, 6º ano. 3ª edição. São Paulo:
FTD, 2005, 448p.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da
Historiografia. 2.ed. São Paulo: Editora da Unesp, 2010, 172p.
CAINELLI, Marlene Rosa; SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Percursos das Pesquisas em
Educação Histórica: Brasil e Portugal. In: ______. Educação Histórica: teoria e
pesquisa. 1.ed. Ijuí: Unijuí, 2011. p.9-17.
CHARMAZ, Kathy. Convite à Teoria Fundamentada. In: _____. A Construção da
Teoria Fundamentada. Porto Alegre: Artmed, 2009. p.13-28.
JANOTTI, Maria de Lourdes. O livro Fontes Históricas como fonte. In: PINSKY, Carla
Bassanezi; BACELLAR, Carlos; GRESPAN, Jorge; NAPOLITANO, Marcos;
JANOTTI, Maria de Lourdes; FUNARI, Pedro Paulo; LUCA, Tania Regina de;
BORGES, Vavy Pacheco; ALBERTI, Verena. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto,
2005, 302p.
PEREIRA, Nilton Mullet; SEFFNER, Fernando. O que pode o ensino de história? Sobre
o uso de fontes na sala de aula. Anos 90, Porto Alegre, v.15, n.28, p.113-128, dez. 2008.
RÜSEN, Jörn. Jörn Rüsen e o Ensino de História. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora;
BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de Rezende (org.). Curitiba: Ed. UFPR, 2011,
150p.
364
JOGOS DIGITAIS E ENSINO DE HISTÓRIA: A
CULTURA HISTÓRICA EM AGE OF EMPIRES II
Hezrom Vieira Costa Lima
O saber histórico na sala de aula não é restrito ao professor /historiador, pois conforme
destacou Ferreira (2012, p.184), “o historiador não possui o monopólio sobre a
memória”. Mediante essa percepção, o processo de construção do conhecimento
histórico, por parte do alunado, perpassa não apenas o momento da “aula de história”,
mas também disputa espaços com elementos fora do âmbito escolar. A mídia de uma
maneira geral, em que se destacam a atuação da televisão, cinema, histórias em
quadrinhos e, nos últimos anos, os jogos eletrônicos, é a principal articuladora do
conhecimento histórico nesse sentido. Dessa forma, os professores, convivem com
alunos que “vivenciam, com intensidade, o presente marcado pelos ritmos acelerados
das tecnologias” (BITTENCOURT, 2004, p.7).
De acordo com resultados obtidos por estes pesquisadores espanhóis, o potencial dos
jogos eletrônicos extrapola o limite do entretenimento. O conhecimento presente nesses
jogos pode, inclusive, dialogar e, até mesmo, deslocar, a mentalidade coletiva e o
conhecimento historiográfico sobre determinado período histórico ou personalidade
histórica, em suma, são capazes de transformar a consciência histórica sobre o passado
em si. Dessa maneira os jogos eletrônicos, sobretudo aqueles que tem como objetivo
retratar determinado acontecimento histórico, denominados de history games, pois tem
como objetivo uma reprodução fidedigna de um período histórico (NEVES, 2011, p.15),
são elementos cruciais desse processo.
365
Jogos Digitais e Ensino de História: history games em sala de aula
Dois aspectos, que trabalham de forma simbiótica, servem como resposta dessa questão.
Primeiro, é notória em nossa sociedade, sobretudo a partir da segunda metade do século
XX, a dependência “da imagem como linguagem e ferramenta imprescindível de
comunicação entre as pessoas” (PAIVA, 2006, p.102), e segundo, e até de certa forma,
como consequência da primeira, os professores por estarem inseridos nesse meio social,
são também consumidores desses artefatos culturais, dessa forma, o diálogo
estabelecido por óticas distintas torna a interpretação desse fenômeno em uma análise
mais complexa, permeando a construção e interpretação de sentidos dos alunos sobre os
jogos, e também dos professores, pois mediante a recepção por parte dos seu alunado
terá uma gama maior de possibilidades para serem trabalhadas. (ALVES, 2008).
A utilização dos jogos em sala de aula não se inicia (ou encerra) no momento do jogo
em si, ela possui uma gama considerável de funções, que poderão ser utilizados pelo
professor. Sobre essa questão, menciona Meinerz (2013, p.108)
Dessa forma fica evidente que a utilização de jogos eletrônicos em sala de aula pode
ocorrer de maneiras distintas, devendo ser uma atividade que favoreça o diálogo com o
alunado, permitindo uma visualização mais ampla do conteúdo abordado.
Age of Empires II: The Age of Kings é um jogo de estratégia em tempo real,
desenvolvido pela Ensemble Studios e publicado pela Microsoft, lançado originalmente
em 1999. O contexto do jogo AoE2 se passa no período medieval, e possui 13
civilizações jogáveis, que se distinguem arquitetonicamente em 4 grupos, civilizações
da Europa Ocidental – bretões, celtas e francos, da Europa Central – góticos, teutões e
vikings, do Oriente Médio – bizantinos, persas, turcos e sarracenos, e do Extremo
Oriente – chineses, japoneses e mongóis.
366
Por se tratar de um jogo de estratégia em tempo real que simula um período histórico
específico, AoE2 conta com dois modos de jogo, o modo campanha, onde o jogador tem
a possibilidade de controlar personagens específicos, como Joana D’arc na França e
Saladino durante as Cruzadas, além de personagens que estavam envolvidos naquele
período, como soldados, comerciantes, monges e camponeses. O modo campanha,
possuí 5 campanhas ao todo, uma de William Wallace, onde os celtas lutam contra os
ingleses, uma de Joana d’Arc, onde o jogador controla o exército francês contra os
ingleses, na terceira é possível jogar com Saladino, retratando as cruzadas, na quarta
pode-se jogar com Genghis Khan e a conquista do império bizantino e por fim, também
pode jogar com uma campanha relacionada à Barbarossa.
A narrativa apresentada a seguir tem como base os resultados da nossa prática docente
na educação básica, com duas turmas do 7º ano do ensino fundamental 2, entre os anos
de 2015 e 2016. Tendo como objetivo ampliar o conhecimento sobre o período estudado
no primeiro semestre, o período medieval, decidimos em conjunto com a sala, utilizar
um jogo, que contemplasse o período estudado, para ampliar o conhecimento sobre o
assunto analisado em sala de aula.
Como metodologia ficou decidido dividir a turma em grupos. Na primeira turma, no ano
de 2015, em um total de 24 alunos, estes foram divididos em 5 grupos, 4 deles com 5
integrantes e outro com 4 alunos. Já na segunda turma, em 2016, 4 grupos com 5 alunos
e 1 grupo com 4, apesar de ser sugerido que os grupos fossem mistos, o que privilegia o
potencial de contribuição de cada aluno para seu grupo, o critério escolhido pelos alunos
foi a afinidade, priorizando o contato desenvolvido ao longo da vida escolar dos
mesmos.
Terminada a escolha dos grupos, foi passada um CD com uma cópia do jogo Age of
Empires II para cada grupo, para que os membros responsáveis instalassem o jogo nos
seus respectivos computadores em casa, e, ainda em sala de aula, foi realizada uma
espécie de oficina, seguindo a metodologia de Lopes (2016) explicando passo a passo as
etapas de extração do arquivo e instalação do jogo. Após essa primeira etapa concluída,
foram explicados determinados campos, relacionados as ferramentas, funcionalidade,
objetivos, modo campanha e o banco de dados com as informações sobre as
civilizações, que estão presentes no menu do jogo. Para ilustrar a explicação, foi
selecionado o modo campanha para explicar a movimentação, que é toda realizada com
o mouse, tendo apenas algumas teclas de atalho no teclado e as características das
unidades principais, como os trabalhadores, que são responsáveis pela obtenção de
recursos (madeira, pedra, comida e ouro) e construção das estruturas e unidades
militares, responsáveis pela proteção do território controlado pelo jogador.
Como objetivo geral, os grupos deveriam reconstruir o universo feudal utilizando o jogo
Age of Empires II, de acordo com o que for estudado em sala de aula. A primeira
atividade proposta foi de cada grupo construir, dentro do jogo, o ambiente do mundo
feudal europeu. Para isso, os alunos utilizaram como base o mapa do mundo feudal,
contemplando a Europa ocidental, o norte da África e o atual Oriente Médio,
respeitando os limites geográficos e os aspectos físicos de cada região.
Referências
- Jogos Eletrônicos -
AGE OF EMPIRES II: The Age of Kings. Estados Unidos, Ensemble Studios, 1999.
- Bibliografia -
BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de aula. 9.ed. São Paulo:
Contexto, 2004
FERREIRA, Marieta de Moraes. História Oral: velhas questões, novos desafios In:
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Novos Domínios da
História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
LOPES, Ramon Mulin. O lúdico digital nas aulas de história: aplicação do game Caesar
III como material lúdico nas turmas de sexto ano do centro educacional São José
(Miracema – RJ). 2º Simpósio Eletrônico Internacional de Ensino de História.
Universidade Estadual do Paraná: União da Vitória, 2016.
MEINERZ, Carla Beatriz. Jogar com a História na sala de aula. In: GIACOMONI,
Marcello Paniz; PEREIRA, Nilton Mullet (Orgs.). Jogos e Ensino de História. Porto
Alegre: Evangraf, 2013.
368
NEVES, Isa Beatriz da Cruz. Jogos digitais e potencialidades para o Ensino de
História: um estudo de caso sobre o history game Tríade – Liberdade, Igualdade e
Fraternidade. 2011. 243f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.
ROMERA, César San Nicolás; OJEDA, Miguel Ángel Nicolás (comps.). Videojuegos
y sociedade digital: nuevas realidades de estudio para la percepción del pasado
histórico. Mar del Plata: Universidad Nacional de Mar del Plata, 2015.
RÜSEN, Jörn. História Viva: Teoria da História III: formas e funções do conhecimento
histórico. Tradução Estevão de Rezende Martins. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2007.
369
O JORNAL COMO FONTE HISTÓRICA:
ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS PARA A
PESQUISA E ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS
DOS PERIÓDICOS
Isaias Holowate
Porém, muitas vezes tais jovens, ao serem apresentados à fonte jornalística, não
possuem ainda o preparo indispensável para a pesquisa no jornal e o resultado, muitas
vezes é desastroso. Um exemplo disso, é que em Ponta Grossa, uma das fontes
jornalísticas mais importantes – o centenário jornal Diário dos Campos – possui em
algumas páginas antigas, rabiscos e anotações de estudantes da Educação Básica, de
uma época em que por descuido, ele era liberado para pesquisa sem o devido
acompanhamento e orientação.
Por isso, busca-se aqui apontar alguns preceitos para a pesquisa no jornal. Obviamente
não se pretende esgotar o tema, que por si é riquíssimo. O foco é na análise discursiva
do jornal e suas relações entre a escrita e seu público. Ao mesmo tempo objetiva-se que
essas reflexões sobre a utilização do jornal como fonte de pesquisa sejam úteis tanto
para estudantes da educação básica quanto para estudantes e pesquisadores.
Hoje em dia, as pessoas leem as notícias em grande quantidade. Sejam nas páginas
impressas, sejam nas digitais. As publicações de grandes corporações jornalísticas
atingem grande parte da população, influindo nas discussões diárias, nos
posicionamentos políticos e sociais da população. As pessoas leem o jornal, com
objetivo de saber “o que aconteceu”. Da mesma forma, quando se busca saber “o que
aconteceu” no passado, hoje é comum ir atrás dos jornais de época. Tal fato se dá por
uma crença social de uma certa objetividade jornalística.
370
Essa crença não atinge apenas a população leiga ou os estudantes da educação básica:
atinge também muitos estudantes da graduação, de forma com que é bastante comum
encontrarmos na leitura de Monografias e artigos, uma proliferação de produções que
utilizam o jornal como um relato fiel da realidade, embora muitas vezes, as reproduções
sejam involuntárias, já que o estudante culturalmente se acostumou a “confiar” nos
jornais. A constante citação literal dos parágrafos presentes na notícia sem a devida
crítica aponta para isso.
Portanto, assumindo que os conteúdos dos jornais não são objetivos, mas que possuem
uma subjetividade por detrás da escrita das notícias, reportagens, editoriais etc.,
percebe-se que o periódico pode ser estudado como uma fonte desde que considerados o
meio em que foi escrito, os personagens que o escreveram, a forma física que sua
produção assume e as relações com o público ao qual atingia.
371
sobre o tema e a influência de sua cultura na escrita é também extremamente decisiva
para o texto que será veiculado na página.
Assim, o aspecto fisco da escrita busca passar uma série de mensagens ao leitor: da
mesma forma, conhecendo esses códigos, o pesquisador pode realizar uma leitura mais
atenta e crítica ao produzido no jornal.
372
de escrita. Tal escrita se dá pela necessidade da redação em certos casos, precisar cortar
um ou mais parágrafos da escrita do jornalista.
Assim, o jornal, longe de ser uma página objetiva por si só envolve uma série de
hierarquias, sejam físicas, pelo posicionamento da notícia, sejam, hierárquica pela
estrutura das representações apontadas e pelas relações entre os membros do jornal e do
jornal com a sociedade.
Vale lembrar que esse é o terceiro ponto da produção da notícia: elas são sempre
produzidas tendo em vista seu leitor e dialogam com aquele que as lê. O jornal atua de
forma a construir uma realidade, dizendo ao seu leitor quais são os fatos relevantes do
dia. Contudo, o jornal só poderá vender isso se os fatos estiveram em concordância com
o leitor e obtiverem a sua aceitação, pois sendo o jornal uma mercadoria, ele é
produzido para ser vendido.
Da mesma forma que um estudante e pesquisador ao ter contato com um jornal não
deve assumir que ele se trata de uma representação da realidade de toda a sociedade de
um determinado espaço, ele também não deve cometer o equívoco de assumir que o
jornal se trata apenas dos jornalistas que o produzem. Pelo contrário, o jornal é
construído em sua relação com seu público. Alguns aspectos dessa relação ao qual
convém refletir são os conceitos de agendamento e contraagendamento.
Por exemplo, nos jornais do início do século XX se pegarmos o caso de Ponta Grossa, a
presença de patrocínio das farmácias, que eram naquele momento, naquele espaço
cultural, importantes empresas, produzia um contraagendamento que influenciava na
produção jornalística de forma a defender s interesses médicos.
373
da população acabam, “obrigando” as grandes corporações a tornarem eles notícias – os
fatos acabam sendo adaptados de forma a serem publicados no formato de discursos
reconstruídos e negociados para serem aceitos na perspectiva do jornal e do seu grupo
leitor.
Considerações Finais
Obviamente, esse breve ensaio não teve, em momento algum o objetivo de esgotar os
princípios teórico metodológicos para a pesquisa histórica em jornais. A quantidade de
relações presentes na produção de uma notícia e na sua veiculação, seu relacionamento
com a sociedade e sua hierarquização envolvem tantos fatores sociais e econômicos que
precisariam de muitíssimas produções e ainda assim faltariam espaço para atingir.
Contudo, busca cumprir com seu objetivo de compor algumas reflexões para um aluno
ao se deparar com um jornal num museu ou em qualquer local de leitura e pesquisa e a
historiador iniciante na carreira a levar em conta as especificidades dessa riquíssima
fonte, seja de leitura, seja de pesquisa.
Referências
PONTES, Felipe Simão; SILVA, Gislene. Mídia noticiosa como material de pesquisa:
Recursos para a pesquisa de produtos jornalísticos. In: BOURGUIGNON, Jussara
Ayres; OLIVEIRA JUNIOR, Constantino Ribeiro de, (orgs). Pesquisa em Ciências
sociais: interfaces, debates e metodologias. Ponta Grossa. Toda palavra, 2012.
SILVA, Luis Martins da. Sociedade, esfera pública e agendamento. In: LAGO, C. e
BENETTI, M. (orgs). Metodologia de pesquisa em Jornalismo. Petrópolis: Vozes,
2007.
374
O MUSEU EM SALA DE AULA: RELATO DE
EXPERIÊNCIA COM MUSEUS VIRTUAIS
Israel Aquino
Por outro lado, percebemos que a apropriação destas tecnologias, quando ocorre, tem
sido realizada de maneira a reforçar uma abordagem tradicional do ensino, em propostas
que não diferem das práticas tradicionais, e não colaboram para uma reciclagem destas,
contribuindo para reforçar posturas de apropriação acríticas (FISS & AQUINO, 2013, p.
204). Assim, ocorre o alento do “caráter tradicional da educação, baseado na
transmissão de conhecimentos para que os alunos os assimilem de forma passiva”
(FRANÇA & SIMON, 2008). Entende-se, assim, que a superação desse tipo de
abordagem passa por uma mudança nas concepções e práticas pedagógicas que
norteiam a educação.
Nesse sentido, Dodebei (2011) aponta que a virtualização dessas instituições implica no
surgimento de novos processos de subjetivação, apropriação e uso das narrativas, no
momento em que o espaço virtual se transforma ele próprio em um lugar de memória,
para usar a classificação de Pierre Nora (1984). Por outro lado, Rosali Henriques indica
que a Internet possibilita, através das chamadas visitas virtuais, uma maior visibilidade
das instituições patrimoniais, podendo atrair um público maior para as exposições
presenciais. Ao transformar “átomos em bits”, o mundo virtual permite aproximar a
instituição de uma nova geração cada vez mais “virtual”, auxiliado pelo fato de que “o
museu na Internet nunca fecha” (Henriques, 2004). Em suma, podemos ver que os
autores não negam a potencialidade oferecida pela parceria entre tecnologias e
instituições de patrimônio, e as possibilidades que dai surgem para o ensino, porém não
as superestimam, buscando sempre chamar a atenção para a necessidade de uma
apropriação crítica, que estimule a produção de conhecimento a partir de uma postura
analítica e problematizadora.
Portanto, entendemos que no ensino a utilização destes recursos requer a adoção de uma
postura crítica e coerente. Acreditamos que as TICs apresentam forte potencial, no
sentido de ampliar as possibilidades do ensino e contribuir inclusive para promover
transformações nas habituais relações escolares. A mudança de papéis decorrentes das
formas de apropriação dessas ferramentas possibilita, também, que educadores e
educadoras sejam impelidos à pesquisa e à reflexão, a fim de responder as novas
demandas que surgem nos espaços de aprendizado - presenciais ou não.
Considerações Finais
A proliferação das TICs trazem para o trabalho com o patrimônio e para a educação
patrimonial novas perspectivas, não somente por permitir potencializar o acesso aos
museus, mas também por dar oportunidade aos museus de saírem de seus muros,
conforme aponta Henriques (2004). Contudo, essas tecnologias não vêm para substituir
376
as instituições existentes, mas para quiçá potencializar uma nova perspectiva de
interação com o patrimônio.
Isso nos permite apontar pistas dos caminhos a percorrer. Conforme Magaly Cabral
(2004), “devemos buscar metodologias que permitam [...] a ressignificação cultural e a
reformulação de discursos pelo museu, pelo professor e pelo público visitante, [...]
[buscando assim alcançar] a democratização do museu”. Para tanto, é essencial que o
educador e o profissional das instituições de patrimônio encarem as novas tecnologias
como ferramentas com grande potencial inovador, mas que ao mesmo tempo procurem
manter uma postura crítica e problematizadora frente a elas.
Referências
DELEUZE, Gilles. O atual e o virtual. Em: __________. Filosofia Virtual. São Paulo:
Editora 34, 1996. pp. 49-56.
377
DODEBEI, Vera; GOUVEIA, Inês. Memórias de pessoas, de coisas e e computadores:
museus e seus acervos no ciberespaço. MUSAS - Revista Brasileira de Museus e
Museologia do IPHAN, Rio de Janeiro, n. 3, p. 93-100, 2007. Disponível em:
<https://goo.gl/mJPsfK>. Acesso em 25/11/2016.
378
IMAGEM EM MOVIMENTO: ASPECTOS SOBRE O
CINEMA NO ENSINO DE HISTÓRIA
Israel de Lima Miranda
Introdução
Atualmente a sociedade vive um momento em que as mídias visuais tomam cada vez
mais espaço nas relações de convivência e de aprendizagem. Podemos destacar como os
principais meios de mídias visuais: o cinema, a televisão e, o mais atraente, a internet.
Dentre todas estas mídias destacamos o cinema e sua relação com o meio social.
Sobretudo, podemos identificar a capacidade que as produções cinematográficas têm de
encantar o grande público e atrair, também, os jovens para as salas de cinema. Neste
sentido muitos pesquisadores/professores vêm desenvolvendo estudos que buscam
ampliar a relação entre o cinema e o ensino de História. Mesmo com o crescimento de
pesquisas neste tema Cristiane Nova sinaliza que
O cinema enquanto objeto de estudo para a ciência histórica é algo bastante recente.
Somente a partir da década de 1970 é que o filme passou a ter o caráter de fonte
histórica, ou seja, começou a ser visto como um possível documento para a investigação
histórica. Tal fato é consequência da renovação historiográfica, movimento iniciado
pela Escola dos Annales, fundada pelos historiadores Lucien Febvre e March Bloch.
Neste contexto, alguns historiadores se debruçaram sobre esta temática buscando dar
conta da relação Cinema-História. Podemos destacar, atualmente, entre eles o pioneiro e
principal teórico historiador Marc Ferro. Revisitando estes teóricos, temos como
objetivo contribuir com uma breve reflexão sobre a importância do cinema para o
ensino de História.
O início da história do cinema nos remonta ao fim do século XIX, na França, quando os
irmãos Lumiére produziram e projetaram dois filmes num café parisiense. Foi projetado
o famoso filme L’Arrivée d’um train em gare (“Chegada de um trem à estação), pela
primeira vez as pessoas tiveram a possibilidade de ver imagens reais em movimento.
379
produção cinematográfica mundial, posição mantida ao longo de todo o
século XX. (NAPOLITANO, 2009, p.69)
Esta posição consolidada na indústria cinematográfica pelos EUA pode explicar sua
força e eficácia na ação de expandir seu modelo cultural, modo de vida e
comportamento. Conforme Marc Ferro o filme desde que tornou-se arte, começou a
intervir na história e a ser usado para doutrinar pessoas e para glorificar lideres e
instituições. (1988, p.203)
As produções de Hollywood são outro importante ponto a ser ressaltado, tais produções
tradicionalmente valorizam a emoção sobre a razão. É importante frisar para os alunos
que o cinema apenas representa o passado, e não tem o compromisso com a verdade
histórica. O cinema “Como todas as representações, [...] trazem embutidos em si os
elementos da narratividade, da ficcionalidade. Falar sobre o real é produzir um discurso
que já é, a priori, ficcional, pois é narrativo, é representação.” (ROSSINO, 2008, p. 139)
Além disso, o cinema é capaz de fazer com que os alunos compreendam de forma mais
significativa diversos conceitos, o que é fundamental para a aprendizagem histórica.
Como exemplo temos o clássico filme de Charles Chaplin “Tempos Modernos”
(Modern Times, EUA, 1936) em que o personagem principal é um operário do início do
século XX, Carlitos.
Referências:
LERA, Maria Caparrós; ROSA, Cristina Souza da. O cinema na escola: uma
metodologia para o ensino de história. Revista Educação em foco, Juiz de Fora, v.18,
n.2, p. 189-2010, jul/out. 2013
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. 4.ed. São Paulo:
Contexto, 2009.
381
OS SUPORTES AUDIOVISUAIS NO ENSINO DE
HISTÓRIA
Janaina da Silva
A crescente dificuldade por parte dos educadores de conquistar e manter a atenção dos
alunos durante suas explicações vem causando uma inquietação na esfera educacional.
É preciso encontrar alternativas educacionais que sejam mais atraentes aos estudantes e
as novas tecnologias de comunicação podem colaborar com o trabalho do educador
quando utilizadas de forma adequada, como um‘suporte educacional’ excedendo as
funções de ilustração ou aprofundamento. O presente texto não ambiciona servir de
manual, ele apenas sugere o uso cauteloso de histórias em quadrinhos, pequenos filmes,
imagens e obras de arte como suportes audiovisuais que contribuem para seduzir os
jovens, garantindo uma educação efetiva e prazerosa.
Nesta experiência consideramos por filme educativo o mesmo estabelecido por LITZ
(2009) “qualquer gênero cinematográfico pode ser utilizado, seja ele documentário,
filme histórico ou ficcional”. O requisito ‘pequeno’ foi empregado para salientar a
importância de trabalhar com materiais de curta duração ou recortes de grandes obras
conforme o sugerido por SARTORI (2008, p. 72) “o professor assistir ao filme
previamente e utilizar trechos, e não o filme todo, pois teria de utilizar várias aulas e
nem sempre é pedagogicamente viável”.
Antes da exibição também é necessário considerar a faixa etária e o contexto social dos
acadêmicos alvos da apresentação. Assim como nas histórias em quadrinhos os filmes
não podem menosprezar nem superestimar os conhecimentos prévios das crianças. Eles
podem ser produzidos exclusivamente pra aula ou não, o importante é o professor deixar
claro de que maneira ele contribui para o entendimento da temática em questão,
elucidando se sua finalidade é a informação, ilustração, provocação ou avaliação.
As imagens constituem a parte mais complexa e abrangente deste artigo. Elas podem ser
de variados tipos, funções e origens. Segundo LITZ (2009): “Atualmente, o uso de
imagens [...] é uma das formas mais eficazes utilizadas como recurso pedagógico no
ensino de história” isso porque elas incrementam o processo de aprendizagem tornando-
o muito mais significativo. A autora completa sua opinião afirmando:
383
Trabalhar com a análise de fotos, slides, transparências, filmes, músicas,
mapas, imagens que sejam significativos e relacionados aos assuntos que
estão sendo estudados, instigam o senso da observação e da percepção.
Quando se apresenta uma imagem ao aluno (fotografia, pintura, gravura,
etc), ele pode associar a imagem que está vendo às informações que já
possui, levando em conta seu conhecimento prévio. Como toda imagem é
histórica, o aluno pode perceber a marca e o momento de sua produção.
Este trecho evidencia as possibilidades abertas pelo uso deste material no ensino da
disciplina de História, assim como nas demais ciências. O primordial entre essa gama de
opções é escolher corretamente qual delas ilustra de maneira apropriada o conteúdo
trabalhado atingindo os objetivos previamente planejados para a aula. Seja ela uma
tabela repleta de estatísticas ou uma simples ilustração comercial, o importante é que
esteja bem atrelada ao assunto abordado na classe.
Nossos alunos estão imersos em uma sociedade de imagens desde seu nascimento, não
importa em que classe social o aluno esteja, ele têm acesso diário a uma série de
informações imagéticas. As imagens são de fácil acesso, estão nas ruas em outdoors,
placas, letreiros; estão em casa dentro da televisão, do computador, dos livros; e estão
também nos espaços públicos nos panfletos, jornais, revistas, etc. Negar sua influência
na formação social de nossos alunos seria um grande equívoco, e associá-las a nossa
didática pode solucionar vários problemas.
Pensando nisto SARTORI (2008, p. 73) alerta: “Trabalhar com imagens, sejam filmes,
gravuras, quadros ou representações, possibilita ao aluno visualizar na concretude o que
se vem discutindo e pode abrir espaço para novas leituras e interpretações.” Desta forma
possibilitamos ao aluno o desenvolvimento crítico de seu olhar, preparando-o para atuar
em futuras atividades sociais com conhecimento e responsabilidade.
Das opções de materiais didáticos apresentados neste artigo, as obras de arte são as mais
complexas, elas compõem a metodologia menos acessível aos educadores e mais
complicada aos olhos dos alunos. A própria designação ‘obra de arte’ é motivo de
muitas controvérsias. Afinal é preciso ser belo para ser arte ou qualquer produção
humana pode receber esta nomeação. Vejamos o que nos diz SOLTAU (2011, p. 14):
384
Logo no início de sua colocação o autor afirma que o conceito de arte está em nosso
modo de ver o mundo, logo podemos concluir que a arte não é algo homogêneo, ela
depende da subjetividade e opinião de seu observador, sendo assim o que é visto como
arte por alguns para outros pode não ter a mesma relevância. Daí deriva a complexidade
do trabalho do professor ao levar um material desta natureza para a sala de aula.
Referências bibliográficas
385
O USO DA IMPRENSA COMO FONTE HISTÓRICA
EM SALA DE AULA
João Pedro Basso
Pedro Ernesto Miranda Rampazo
Introdução
O objetivo deste texto é entender de que forma o uso de fontes históricas, mais
precisamente a mídia impressa, pode otimizar o ensino de História e contribuir para o
aprendizado histórico em sala de aula, se atentando para os cuidados ao tratar com esse
tipo de documentação.
Muitos são os debates referentes ao ensino de História nas escolas brasileiras. Existem
ainda muitas permanências do período militar que contribuem para a desvalorização da
História, acentuada com a recente decisão do governo em retirar a obrigatoriedade da
disciplina no Ensino Médio.
Refletir sobre o estado do conhecimento histórico já era realidade entre alguns autores,
sobrando críticas aos currículos fragmentados, formação curta de professores em
Licenciaturas e conteúdos dos livros didáticos. Com o tempo, os estudos acerca do
ensino e aprendizagem de História no Brasil cresceram, passando a valorizar cada vez
mais a cultura escolar, saberes e práticas educativas desenvolvidas por docentes e outros
atores do processo educativo, reafirmando que ensinar História não é apenas uma mera
reprodução de conhecimentos eruditos, mas existe também uma produção escolar.
(SILVA; FONSECA, 2010) Essa produção escolar pode se relacionar ao uso de fontes
históricas em sala de aula. As autoras ainda afirmam que produção acadêmica e as
publicações sobre ensino de História se ampliaram, assim como muitas
problematizações relevantes sobre Ensino e História, por diferentes agentes e
instituições, procurando responder a questões emergentes nesse campo de análise.
Caimi (2015) afirma que entre as demandas que se apresentam ao trabalho do professor
de História está o uso de fontes históricas. Segundo a autora, o estudante deve ter
contato com as mais diversas fontes históricas, de origens diferentes, de forma que ele
entenda como o saber histórico é construído a partir de interrogações levantadas ao se
analisar essas fontes. A necessidade de aproximação do estudante com o ofício do
historiador é clara.
Dentro deste processo, que deve estar alinhado com objetivos específicos e planejados
pelo professor, de forma que a experiência não seja caótica, este assume um papel de
mediador, uma vez que o conhecimento histórico não é simplesmente reproduzido.
Através das fontes, o aluno entende de forma didática que o saber histórico é feito de
vestígios deixados pelos homens do passado e que elas se constituem no material em
que o historiador vai se debruçar para entender sociedades das mais remotas
localizações ou temporalidades (CAIMI, 2015) (SILVA, 2014) (XAVIER, 2010).
A intenção não seria de formar jovens historiadores, mas sim elucidar em sala de aula a
ideia de que a História está além dos grandes personagens, e que os alunos são sujeitos
históricos inseridos em uma sociedade passível de ser modificada (CAIMI, 2015)
(SILVA, 2014) (XAVIER, 2010).
O uso da imprensa
A mídia impressa ainda nos dias atuais, além de informativa, é um meio importante de
comunicação entre esferas sociais. Contudo, no Brasil entre o início do século XIX e a
387
metade do século XX, essa força comunicativa e informativa era mais expressiva, pois
era a imprensa uma das formas mais eficientes do governo se comunicar com a
população, de ideologias serem apresentadas, comunidades científicas exporem suas
pesquisas e debates, eventos serem divulgados, notícias exibidas. No Brasil:
É importante saber que os jornais são fontes de discursos ideológicos, uma vez que os
jornalistas possuem suas crenças, suas ideias, suas convicções políticas. Isso deve ser
motivo de atenção do historiador e também do professor que usa essa fonte em sala de
aula. Ao mesmo tempo em que se deve atentar a este fato, o mesmo proporciona a
possibilidade de se analisar esses discursos dos jornalistas que escrevem as matérias,
buscando entender as várias visões de contemporâneos ao fato estudado (TEIXEIRA,
2008).
Entre outros motivos de atenção que deve ser tomada quanto ao estudo dessa fonte, está
a taxa de analfabetismo da população, pois estes não eram o público alvo dos jornais. O
público alvo também deve ser considerado, pois o apontamento sobre a esfera social em
que o jornal age, possivelmente revela intenções e abordagens do periódico, assim como
é importante saber quem são seus financiadores, sejam eles de natureza pública ou
privada.
Conclusão
Com o uso de fontes históricas em sala de aula, pode-se ampliar o senso crítico do aluno
quanto ao entendimento da complexidade de processos e sociedades.
É importante que o professor não faça da atividade de ministrar aulas, algo mecânico,
mas sim algo dinâmico, que apresente conhecimento histórico como mutável e
complexo.
388
Referências
LIBÂNEO, J.C. O processo de ensino na escola. In: LIBÂNEO, J.C. Didática. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 2013, p. 82-95.
389
CINEMA E ENSINO DE HISTÓRIA:
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E A IGREJA
PERSEGUIDORA
José Luciano de A. Dias Filho
A história das religiões monoteístas está marcada pela intolerância, no momento em que
estas exigem a verdade em uma única divindade, um deus único onipotente, se torna
inerente a resistência as outras divindades. Mesmo que elas façam discursos sobre amor,
caridade e misericórdia, sobrevive uma porção de intolerância ao outro, quando este
representa um grupo religioso, a fraternidade ocorre principalmente entre os que
compartilham a mesma fé. (SOUSA FILHO, 2014, p.4) Como escreveu Peter
Sloterdijk, em seu livro O zelo de Deus: “Assim, já nos escritos do apóstolo dos povos
anuncia-se um amor que, caso não seja correspondido, se transforma em maldade com
ânsia de extermínio.” (SLOTERDIJK, 2016, p.79)
Essa relação entre política e religião cristã se estabeleceu no Império Romano e foi
marcada por uma violenta e intensa intolerância religiosa, que resultou na perseguição
de pagãos, judeus e até mesmo grupos cristãos heréticos ou cismáticos, que não seguiam
as doutrinas da Igreja Católica. A cristianização do mundo pagão, não pode ser lida
apenas sob a ótica da evolução, romântica, idealizada no espaço de louvação de novo
sistema religioso, na qual a figura do oponente desaparece como um primitivo
desgovernado. O processo de cristianização dos homens precisa ser lido, como qualquer
outro, na inflexão da violência. (NAGEL, 2006, p.118) A intolerância estava na raiz da
sua expansão religiosa, o combate ao outro, aquele que não era cristão católico, passou a
ser uma prática cotidiana quando a igreja conseguiu autonomia e poder.
Logo, discutir intolerância religiosa na sala de aula se torna uma necessidade dupla,
tanto por ser um fenômeno praticado no passado, quanto por continuar existindo na
atualidade. A intolerância religiosa pode acontecer de várias formas diferentes,
praticadas por vários grupos religiosos distintos, ou um grupo não religioso, porém, o
cerne da discussão fica centrado na intolerância religiosa cristã para com outros grupos.
Uma ótima forma de levar esse, ou outros debates, para a sala de aula é usando filmes
como recurso e ferramenta de ensino, pois é uma mídia em que os alunos estão
acostumados e está normalmente associado aos momentos de lazer. A proposta de
discussão sobre determinada temática fica mais lúdica e rompe com a monotonia das
aulas cotidianas.
390
Para Robert A. Rosenstone é preciso aceitar que o cinema, especialmente longa-
metragens dramáticos, podem transmitir um tipo de História, que referido pelo autor
com “H” maiúsculo, seria um conhecimento sério e acadêmico em que as pessoas
acreditam encontrar apenas nos livros de história. (ROSENSTONE, 2010, p.15) As
obras cinematográficas de representação histórica alcançam públicos gigantescos, basta
olhar a bilheteria de filmes como Tróia (2004) ou 300 (2006), que no primeiro caso se
apresenta como uma adaptação pouco fiel da Ilíada, e no segundo mistura bizarrices em
meio a trama do conflito espartano. Tais obras cinematográficas vão continuar fazendo
sucesso com o público, independe se os professores de história irão ou não usar esses
filmes para ensinar sobre o passado. O fato é que tais filmes afetam a maneira como as
pessoas vêem o passado e compreendem os processos históricos, deixá-los de fora da
equação significa ignorar a maneira como um segmento enorme da população passou a
entender os acontecimentos. (ROSENSTONE, 2010, p.17)
O filme escolhido para conduzir a discussão sobre intolerância religiosa foi Ágora
(2009), lançado no Brasil como Alexandria. É um filme espanhol, dirigido por
Alejandro Amenábar, que conta a história da filósofa alexandrina Hipátia (Hipácia), que
viveu em um período de turbulência religiosa em sua cidade, e no final acabou sendo
vítima da violência causada pela intolerância. O filme pode ser dividido em duas partes,
tendo a destruição da Biblioteca de Alexandria como um marco divisor. Na primeira
parte os cristãos são apresentados como um grupo em ascensão, combatendo as
religiões pagãs que eram cultuadas em Alexandria. O filme inicia com uma discussão
entre fanáticos da irmandade cristã dos Parabolanos e pagãos que cultuavam as
divindades locais, o fervor da discussão é tão intenso, sobre qual religião é a verdadeira,
que um líder da irmandade chega a jogar um pagão contra o fogo.
A igreja em sua origem não demonstrava uma natureza intolerante com ações violentas,
o cristianismo sempre foi uma religião de forte proselitismo, mas não combatia ou
reagia aos ataques de outros grupos religiosos com agressividade. “Durante o período de
repressão, os cristãos permanecem fiéis à sua postura fundamental de não violência, de
passividade extática.” (SLOTERDIJK, 2016, p.75) Porém, após o Édito de Milão (313
D.C), medida que retirava o cristianismo da clandestinidade reconhecendo o princípio
de liberdade de crença, o número de cristãos cresce vertiginosamente, pois Constantino
vai garantir que a Igreja Católica seja privilegiada de muitas formas pelo governo:
“Entende-se muito bem o que historiadores críticos à Igreja querem dizer quando datam
o pecado original do cristianismo no momento em que começou a dividir o
acampamento com o poder secular.” (SLOTERDIJK, 2016, p.75)
De acordo com a perspectiva de Paul Veyne, Constantino não colocou o altar a serviço
do trono, mas o trono a serviço do altar, ponderou os objetivos e o progresso da Igreja
em uma missão essencialmente do Estado. Isso foi uma novidade, é do cristianismo que
se origina a entrada sistematizada do sagrado na política e no poder. (VEYNE, 2010,
p.110-111) Dessa forma, Igreja se torna intolerante a medida que ganha poder do
Estado, tornando-se responsável de barrar qualquer crença ou prática religiosa que
ameace a estabilidade da vida política social.
Alexandria era a capital da província do Egito, logo se tornou um dos grandes centros
nascentes do cristianismo, que era uma religião essencialmente urbana. Sua
considerável população cosmopolita fazia dela a segunda cidade mais importante do
império, alimentava um clima de liberalismo espiritual e cultural, propício ao
desenvolvimento de todas as doutrinas. (PELLISTRANDI, 1976, p.99) Motivo
suficiente que levou a Igreja a combater violentamente os grupos pagãos da cidade, para
conseguir o controle sócio-político que almejavam. Qualquer grupo religioso que não
fosse cristão católico, era visto como um perigo em potencial, pois sobre esses
indivíduos a Igreja não tinha controle. A brutalidade da morte da filósofa Hipátia
(Hipácia), protagonista do filme, mostra o grau de intolerância religiosa para com
aqueles que continuavam resistindo e confrontando a Igreja. Hipátia foi retalhada pelos
Alexandrinos e seu corpo foi esquartejado por toda a cidade. (SOUZA NETO, 2016,
p.335)
Referência bibliográfica
392
GONÇALVES, José Mário. (In)Tolerância religiosa na antiguidade tardia:
apontamentos históricos. REFLEXUS- Revista de Teologia e Ciências das religiões,
Ano VII, n. 9, 2013/1.
NAGEL, Lizia Helena. Na mudança: a violência por parteira. In: MELO, José Joaquim
Pereira Melo .(Org).; PIRATELI, Marcos Roberto .(Org). Ensaios sobre o cristianismo
na antiguidade: história, filosofia e educação. Maringá: Eduem, 2006.
SLOTERDIJK, Peter. O zelo de deus: sobre a luta dos três monoteísmos. São Paulo:
Editora Unesp, 2016.
SOUZA NETO, José Maria; SILVA, Kalina Vanderlei; SCHURSTER, Karl. Pequeno
Dicionário de Grandes Personagens Históricos. Alta Books: Rio de Janeiro, 2016.
VEYNE, Pual. Quando o nosso mundo se tornou cristão: (312- 394). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010.
393
O USO DOS JOGOS VIRTUAIS NO PROCESSO
ENSINO-APRENDIZAGEM NAS AULAS DE
HISTÓRIA
Karoline Margarida Fernandes Januário
É de suma importância que a educação busque subsídios para entender a influência que
a mídia exerce na escolarização dos jovens. O grande desafio dos profissionais da
educação enfrenta é adentrar estas mídias dentro das escolas verdadeiramente, pois
negar a sua entrada neste ambiente consiste em negligenciar o “mundo” em que os
educandos estão inseridos, a escola é um ambiente mutável e é preciso quebrar os muros
que ainda consistem em separar o mundo modernizado ao ambiente escolar que ainda é
muito resistente para o novo. Segundo KENSKI (1995, p. 132), não compreende o
porquê de não explorar esse interesse dos jovens pelos jogos virtuais, os docentes
poderiam se apropriar desde recurso para ligar as regras institucionalizadas nos games
para as que são aplicadas na prática, melhorando assim a aceitação das regras pelos
discentes.
Negar a entrada das imagens e dos sons à sala de aula é negar, portanto, o mundo no
qual crianças, jovens e adultos estão imersos. É negar possíveis desdobramentos
pedagógicos que podem vir à tona frente às novas circunstâncias que se colocam no
cotidiano das escolas. (TAVARES, 2006. P. 46) Neste ponto, a escola poderia se
beneficiar em adotar novos modelos didáticos, que além de fortalecer o ambiente
escolar traria novas possibilidades de aprendizagem aos jovens, já que os educandos
estão emersos estes ambientes. Segundo BRENELLI (1996), o jogo deve ser
considerado uma atividade séria para o desenvolvimento do individuo, já que a criança
aprende por meio de regras e códigos para executar tarefas.
Desta forma pode-se observar que o jogo cumpre um papel muito importante na
formação moral e social no desenvolvimento cognitivo das crianças, já que o mesmo
aparece como um meio implícito de impor regras e responsabilidades. A inserção dos
jogos virtuais no âmbito educacional deve-se a busca de adequar a escola com a
modernização da sociedade pensando na educação como transformadora e inovadora,
conciliando o novo e o tradicional fazendo assim aproximar ás novas tendências com a
sala de aula, não fazendo com que a mesma fique em desvantagem. Em resumo, os
jogos de regras são jogos de combinações sensório-motoras (corridas, jogos de bola de
gude ou com bolas, etc.), ou intelectuais (cartas, xadrez, etc.), com competição dos
indivíduos (sem o que a regra seria inútil) e regulamentados quer por um código
transmitido de gerações em gerações, quer por acordos momentâneos. Os jogos além de
contribuir para uma melhoria significativa do processo cognitivo auxiliam para a
construção de valores humanos como estabelecer regras e respeito mútuo, porém estes
recursos entraram em desuso, já que o senso comum acredita que a educação está
pautada apenas em meios tradicionais, como ler e escrever. De acordo com MATTAR
(2010), a utilização de jogos tanto virtuais como de tabuleiro favorecem o pleno
394
desenvolvimento sensório-motora e intelectual dos educandos, trazendo benefícios que
vão além do processo avaliativo que a escola realiza.
A priori pode-se imaginar que o ensino de História e os jogos digitais fossem ter um
distanciamento imenso, uma vez que para o senso comum o ensinar e produzir História
precisaria do passado fornecido por fontes e documentos, todavia é preciso compreender
que a utilização dos mesmos será necessária para a percepção histórica e não no “fazer”
histórico, o jogo nesse caso seria para aprofundar e aproximar os jogadores/alunos nos
conteúdos da própria disciplina.
Os jogos devem ser vistos como um excelente recurso didático que além de aprimorar a
inteligência fortalece o vinculo afetivo entre os educando tornando o aprender mais
prazeroso. Os jogos virtuais ainda sofre muita resistência por parte dos educadores, em
algumas disciplinas pode-se notar que é maior do que em outras, no caso de História
podemos perceber que seus métodos ainda são bem tradicionalistas e metódicos,
fazendo que a disciplina sofra pela falta de interesse e desmotivação por parte dos
alunos, em pleno século XXI não se pode deter-se aos métodos que funcionavam no
século passado, querendo que os resultados sejam satisfatórios, já que a clientela se
modernizou, o ensino também deve acompanhar estas transformações. MATTAR
(2009), afirma que os jogos virtuais favorece o desenvolvimento cognitivo e intelectual
das crianças, porém ainda existe uma resistência em sua inserção da educação.
395
No caso do âmbito educacional é necessário compreender que as transformações do
público atendido sempre acontecerão já que a escola é reflexo do mundo exterior e não
ao contrário, a mesma deve traçar caminhos para esta modernização efetiva.
Como no passado, maior parte dos pais e professores imigrantes digitais de hoje supõe
que ‘as crianças são iguais desde sempre’ e que ‘os mesmos métodos que funcionaram
para a educação quando eles eram estudantes vão funcionar para seus alunos agora’.
Mas atualmente essas antigas suposições não são mais válidas. Os estudantes de hoje
não são mais as pessoas para as quais nosso sistema educacional foi desenvolvido. A
maioria dos pais não acredita que as crianças possam aprender enquanto assistem TV ou
ouvem música, só porque eles não conseguem. (PRENSKY, 2010 p. 60-61)
Modernizar-se vai além do uso de filmes, projetores e aparelhos de som, parte da ideia
de integrar o ambiente escolar aos das mídias e dos novos recursos didáticos. O
tradicional não deve ser encarado como modelo pedagógico fracassado, mas sim de um
modelo que precisa de adequações aos tempos atuais já que os objetivos traçados de
aprendizagem não serão os mesmos. Os jogos virtuais no ensino de História podem ser
considerados uma estratégia de recurso didático para auxiliar ao docente na assimilação
de conteúdos didáticos. Neste universo digital podemos citar alguns nomes de jogos que
contém recursos históricos que podem favorecer este conhecimento historiográfico.
Jogos que reproduzem desde a idade da pedra até a grande guerra.
Referências
396
“DIRETO AO PONTO” - A EDIÇÃO DE VÍDEOS E
IMAGENS A SERVIÇO DO DOCENTE
Leonardo de Jesus Tavares
No relato de minha experiência, devo dizer que, durante minha formação sempre tive o
interesse de utilizar o recurso do audiovisual como apoio para as aulas. Imagens, filmes,
músicas, todo esse material serviria de grande recurso para compreensão dos estudantes,
se utilizados de maneira objetiva e esquemática dentro de um procedimento de aula
previamente pensado.
Concordo com a afirmação de MENEZES (2013), segundo a qual “... para o processo
de aprendizagem se efetivar é necessário que haja motivação e interação entre
professor e aluno ...” , ou seja, o docente deve estar em constante esforço de interação -
integração com os seus estudantes, estabelecendo e desenvolvendo vínculos, que serão
facilitadores para o bom desempenho das propostas educacionais.
Ainda sobre os profissionais de ensino que atuam nas salas de aula na nossa realidade
brasileira de 2017, considero válido dizer que; os professores não recebem o devido
treinamento e capacitação para introduzir as TIC (Tecnologias de Informação e
Comunicação) em suas práticas de sala de aula. Em muitas das vezes, realmente o
quadro que temos é de docentes acomodados e reticentes com todos os movimentos de
renovação e modernidade. Porém, ainda existe um numero importante de docentes que
pretendem realizar trabalhos com significado para seus alunos.
A crítica sobre o uso de filmes em sala de aula é bastante forte. Ainda existem até hoje
atitudes com as aulas com vídeo, como se elas fossem uma recreação simples, um tipo
de aula divertimento, ou uma demonstração pura e simples dos conteúdos da disciplina.
Esse fato é enfatizado por CAPARRÓS-LERA & ROSA (2013):
(...) identificamos que não são todos os mestres que sabem utilizar a sétima
arte dentro do processo de ensino. Ainda existem professores que empregam
o cinema como divertimento ou como ilustrador do conteúdo. Para essa
atitude temos uma explicação muito simples: o professor não tem
conhecimento de como utilizar o cinema nas aulas de História (...) in.:
CAPARRÓS-LERA, Josep M. & ROSA, Cristina S. O cinema na escola:
uma metodologia para o ensino de História. 2013 pg.: 190
O uso que sempre pretendi fazer dos trechos de filme, nunca foi de “ilustração de
conteúdo”, metodologicamente poderia dizer que me aproximo conceitualmente com
alguns aspectos da proposta de Jonatas Serrano e Venâncio Filho, autores do livro
“Cinema e Educação” (1930). Nesse livro os autores sugerem algo que considero de
fundamental importância para que a aprendizagem seja bem sucedida - o auxilio do
professor passo-a-passo junto aos estudantes: “... os autores sugeriam o emprego do
cinema como auxiliar de ensino, em que as exibições de filmes seriam acompanhadas
pelas explicações do professor ...” (in.: CAPARRÓS-LERA & ROSA, pg.: 192).
Utilizei a referencia do livro “Cinema e Educação” (VENANCIO FILHO; SERRANO,
1930) como um auxilio sobre alguns aspectos da metodologia da narrativa fílmica em
sala de aula; porém, no produto educacional que produzi e relato a experiência didática
398
nessa comunicação, sempre utilizei trechos curtos de cenas de filmes, agilizando e
dinamizando o andamento das aulas.
Outro item válido em minha avaliação prévia dessa experiência didática, foi a
articulação entre a proposta de trabalho e os Parâmetros Curriculares Nacionais, que
estimulam “... o desenvolvimento de atividades com diferentes fontes de informação
(livros, jornais, revistas, filmes, fotografias, objetos, etc) para confrontar dados e
abordagens; e o emprego de documentação variada, como sítios arqueológicos,
edificações, mapas, instrumentos de trabalho, objetos cerimoniais e rituais, adornos,
meios de comunicação, vestimentas, textos, imagens e filmes.” (BRASIL, 1998, pg.:
77).
Metodologia do trabalho
(...) Se o filme tem cenas de sexo ou violência, é interessante falar sobre isso
com os alunos, principalmente com os adolescentes, para que as imagens
não se tornem motivo de piada, distraindo a turma (...) in.: CAPARRÓS-
LERA, Josep M. & ROSA, Cristina S. O cinema na escola: uma
metodologia para o ensino de História. 2013 pg. 201.
399
Considerações parciais: Uma síntese sobre a Apresentação PPT Consciência
Negra.
Devo destacar que ainda não realizei uma conclusão final sobre outros aspectos do
trabalho pois o mesmo ainda encontra-se em processo de estudos inserido como produto
educacional em meu projeto de Dissertação de Mestrado, no PROFHISTÓRIA –
UFRRJ.
Referências Bibliográficas:
400
MORAN, J. M., MASETTO, M. T. & BEHRENS, M. A. (2000). Novas tecnologias e
mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus.
401
O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS E O ENSINO
DE HISTÓRIA: A LEI DE ANISTIA EM
PERSPECTIVA
Leonardo Leal Chaves
Sobre a temática aqui explorada, a Lei de Anistia de 1979, ainda predominam em sala
de aula, filmes, produção bibliográfica ou nos livros didáticos as leituras do período
ditatorial que tem no Centro-sul do país o palco por excelência dos principais
acontecimentos históricos. Nesse sentido, são nacionalizadas explicações que dão conta
do universo histórico de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, mas
que não contemplam as especificidades das demais regiões do Brasil, como por
exemplo, o Maranhão. A proposta deste estudo caminha em outra direção. O que está
sendo aqui proposto é a recuperação das especificidades do período ditatorial no
Maranhão como forma de, não só elaborar um texto meramente acadêmico, mas como
e, principalmente, promover algum tipo de intervenção nas práticas pedagógicas
vigentes.
402
e rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal por unanimidade, uma vez mais em nome da
pacificação nacional.
No entanto, ao pensarmos este panorama, faz-se necessário destacar que, nas palavras
de Jayme Pinsky e Carla Pinsky (2005), o elevado grau de transformação nas esferas
políticas e econômicas ocorridas no final do século passado e que acentuaram o
ceticismo entre professores e estudantes de História em geral em relação ao próprio
conhecimento histórico e seu potencial transformador. Nas escolas, este ceticismo
desdobrou-se no questionamento acerca do sentido do ensino de história. Paralelo a tal
processo, o próprio livro didático, enquanto instrumento ímpar do processo de
aprendizagem, também tem sua validade posta em xeque, principalmente diante da
explosão de novas tecnologias que passaram a ser vistas como "sepultadoras" do livro
impresso. Sepultados seriam, também, tanto a figura do professor como agente de
ensino (tidos como comunicadores inábeis e incompetentes) quanto das propostas
curriculares ligadas às realidades nacional e local (vistas como inadequadas e
ultrapassadas).
Assim,
403
a perspectiva de constituição de um saber escolar tem por base a
compreensão de que a educação escolar não se limita a fazer uma seleção
entre o que há disponível da cultura num dado momento histórico, mas tem
por função tornar os saberes selecionados efetivamente transmissíveis e
assimiláveis. Para isso, exige se um trabalho de reorganização,
reestruturação ou de transposição didática que dá origem a configurações
cognitivas tipicamente escolares, capazes de compor uma cultura escolar sui
generis, com marcas que transcendem os limites da escola.
A utilização dessas novas tecnologias e sua inserção no cotidiano escolar não estão
isentas de fatores que tornam essa manutenção da distância entre professor x aluno,
saber acadêmico x saber escolar, teoria x prática, abissais. São frequentemente
apontadas como causas do insucesso a dificuldade dos professores na compreensão e
manuseios dessas "ferramentas", a quase impossibilidade se sugestão de atividades fora
do livro didático ou do esquema quadro/pincel dentro do espaço físico da sala de aula,
bem como a exígua (porém exigente) carga horária escolar. Esta proposta aqui
germinalmente exposta direciona seus esforços no sentido de possibilitar a preservação
da memória e das especificidades concernentes à Lei de Anistia no Maranhão,
disponibilizando através da interface da web e das acessíveis linguagens e programas
para construção de site e blogs, dados, suporte, relatos, multimeios, abrindo
possibilidades exploratórias sobre o tema por parte dos professores de um recurso atual
e dinâmico, (relativamente) acessível e de fácil manuseio/manipulação pelos alunos da
geração net.
Referências bibliográficas
Foi considerado que todos os alunos presentes não possuíam nenhum tipo de
conhecimento cientifico quanto à fotografia e história, ou uma visão diferente quanto à
fotografia e o seu uso cotidiano. Sendo assim, montou-se uma oficina que abordasse ao
mesmo tempo, a construção de passado e a construção do presente, e relacionou-se esta
concepção à construção das Alas museais do Parque Histórico de Carambeí. Para isso
foi necessário uma abordagem minuciosa, juntando os pequenos fragmentos contidos
nos próprios alunos, interligando a história disciplinar com a história científica, para que
então definir-se coletivamente a história investigativa que acerca o documento
imagético, a visão do fotógrafo e a concepção do historiador.
Dando sequência, os alunos foram encaminhados até o local da primeira parada: Casa
do Colono. Neste local – em exposição na Vila Histórica do APHC – eles ficaram de
frente com a primeira fotografia e também com o espaço físico mostrado na imagem.
Neste momento, foi aplicada a primeira comparação e análise de imagem. Eles
observaram quais eram as semelhanças e diferenças entres imagem e espaço físico.
Foram citados pelos estudantes qual fora o objetivo do fotógrafo no momento em que
405
capturou tal imagem e a partir disso montar sua própria concepção e imersão sobre a
história local.
A próxima parada foi na Igreja da Vila Histórica. Neste local os estudantes tiveram
contatos com as imagens da construção da Igreja e em seguida dela já pronta. Outra foto
que também foi apresentada a eles, foi de um casamento nesta igreja.
Em seguida, o próximo ponto foi na Escola da Vila Histórica, onde eles conheceram o
espaço físico e então analisaram a imagem do acervo, que mostra os alunos da década
de 1920 a 1940 da Colônia Holandesa dentro desta sala de aula com sua respectiva
professora.
A última parada foi na ponte principal do Parque, que dá acesso as alas museais. Neste
momento os alunos puderam observar de forma mais apurada a ponte pela qual já
tinham atravessado, mas sem muita atenção. Na imagem, era mostrada uma ponte na
Holanda, assim, eles puderam observar as semelhanças da ponte do Parque com a da
imagem.
A oficina teve por objetivo, oferecer uma visão diferente do museu e de suas
construções. Foram utilizadas fotografias disponíveis no acervo do APHC, como fonte
de pesquisa e de estudos, e o ensino retórico para que o público chegasse as suas
conclusões e interpretações. Diante de cada cenário ou objeto, os estagiários colocavam
a fotografia ao lado e perguntavam o que os alunos conseguiam ver naquela foto; o que
acontecia; se haviam pessoas e o que elas faziam; se fosse algum objeto, qual era sua
função. Assim, eles (alunos) observaram as fotos e usaram do imaginário para criar
alguma cena nas construções da Vila ou para os objetos utilizados.
Ao final, como atividade prática, os alunos deveriam usar suas máquinas fotográficas
(celular, tablet, etc.) e fotografar com “a visão de fotógrafo”um cenário de dentro da
Vila Histórica e em seguida deviam apresentar aos colegas e explicar os seguintes itens:
de que forma aquela imagem era uma fonte; o que poderia se aproveitar dela; como foi
sua visão na hora de capturar a imagem.
Fechando o ciclo, tiveram-se então as três interpretações que se tinha como objetivo, do
fotografo, do historiador e do observador comum. Foi analisado o que o fotógrafo tinha
como intenção transmitir, qual era sua visão ao fotografar tal imagem. Em seguida, os
alunos colocaram-se como historiadores e tentaram compreender o que este último
406
observaria, qual seria a visão do historiador sobre as imagens. Por fim, como
observadores comuns, os alunos deram suas opiniões sobre o que viam nas fotografias.
A oficina contou ao final com 54 alunos, sendo que esta foi uma das várias atividades
ocorridas durante a programação do evento.
Referências
BORGES, Maria Eliza Linhares. História & fotografia. São Paulo: autêntica, 2003.
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial. 2014
407
O USO DE REVISTAS COMO RECURSO
PEDAGÓGICO NAS AULAS DE HISTÓRIA
Lucimar Alberti
Cabe, no entanto, a partir deste ponto uma pergunta: como a disciplina de História pode
contribuir para a melhora na capacidade leitora dos estudantes ao mesmo tempo em que
desenvolve uma prática conectada ao programa da sua disciplina? E, de maneira mais
específica, como, na disciplina de História, podemos desenvolver essa prática a partir do
uso de revistas semanais? O presente artigo pretende apresentar algumas considerações
acerca do uso das revistas semanais como material de análise para as aulas da disciplina
de História assim como oferecer um exemplo prático das suas possibilidades de
utilização. Para tanto é importante deixar claro desde agora que escrevo considerando
algumas proposições dos Estudos Culturais, como, por exemplo, a compreensão que os
408
artefatos culturais, neste caso, as revistas, atuam em nossa educação na medida em que
informam e transmitem determinadas maneiras de estar no mundo. Utilizo também
contribuições da História, principalmente sua metodologia para pesquisas com revistas
ao mesmo tempo em que faço uso do conceito de discurso a partir das teorizações de
Gilian Rose (2001).
Estabelecido nosso recorte temporal e temático é importante deixar claro o que entendo
por discurso. Tomando as discussões de Rose (2001) entendo discurso como “um grupo
de enunciados que estruturam a maneira de algo ser pensado e a maneira de agirmos
com base nesse pensar. [...] um determinado conhecimento sobre o mundo que molda a
forma do mundo ser compreendido e das coisas serem feitas nesse mundo” (ROSE,
2001, p. 136). Assim, a partir da concepção de discurso apresentada aqui entendo ser
possível analisar que tipo de discurso se manifesta nas reportagens sobre saúde da
Revista Veja. Verificando em que medida esse discurso reforça a ideia de um Brasil que
avança rumo a um futuro maravilhoso ou se as fontes apresentam elementos que nos
permitam pensar de maneira diferente. Outro aspecto importante ao se propor esse tipo
de análise consiste em fazer as perguntas adequadas para as fontes selecionadas. Assim,
seguindo as indicações de Rose, devemos questionar “como determinado discurso
descreve as coisas [...] como constrói a culpa e a responsabilidade [...] como categoriza
e particulariza” (ROSE, 2001, p. 150).
Para exemplificar o que proponho trago uma reportagem da Revista que trata sobre os
transplantes no período selecionado. Na reportagem “Mãos de ouro” (VEJA,
11/09/1968) aborda-se os transplantes sob uma perspectiva extremamente positiva.
Como o próprio título já faz referência, valoriza-se muito a ação dos médicos que
realizam transplantes. Estes, os médicos, são apresentados como profissionais
profundamente envolvidos com sua profissão, talentosos e que constantemente estão em
busca de aperfeiçoamento profissional. As condições desfavoráveis para trabalhar até
surgem, no entanto, a ênfase está no elogio aos profissionais. De acordo com a Revista,
409
os médicos, “no jogo contra a morte enfrentam simultaneamente vários outros
adversários; entre eles as más condições para seu trabalho. Mesmo assim estão
acostumados a vencer” (VEJA, 11/09/1968, p.46). Esse posicionamento, aliás, fica
ainda mais evidente ainda quando a Revista decreta: “os cirurgiões vencem antes de
tudo pelas suas próprias mãos” (VEJA, 11/09/1968, p.46). Mas, independente das
condições de trabalho que existem, “a cirurgia brasileira vai ganhando o jogo contra a
morte” (VEJA, 11/09/1968, p.49).
Apesar da breve apresentação da fonte utilizada aqui, acredito que é possível identificar
algumas possibilidades de uso desse tipo de recurso em sala de aula. Ao recrutar uma
fonte primária, de fácil acesso como um exemplar da Revista Veja, já encontramos uma
considerável variedade de informações que podem ser utilizadas nas aulas de História.
Ao adotar esse tipo de prática, por exemplo, podemos, em se tratando do Regime
Militar Brasileiro, estabelecer alguns questionamentos acerca de todo esse progresso
difundido pela propaganda oficial. Se os avanços foram tão expressivos como nos
fazem pensar através do Milagre Econômico, como é possível identificar críticas às
condições de trabalho nos hospitais brasileiros? Ou mesmo, atribuir o “sucesso” da
medicina no Brasil à capacitação dos nossos médicos, adquirida no exterior, aliás, do
que aos investimentos do Governo Brasileiro? Podemos considerar, a partir do exposto
que entre a propaganda oficial do Regime Militar e o que de fato acontecia existia um
hiato que precisa ser melhor explorado pelos professores de História em sala de aula.
Assim, acredito que tomando as reportagens de Veja como material de análise para o
período e temas indicados anteriormente, podemos demonstrar aos alunos como essas
notícias vão se articulando na construção de um quadro mais amplo acerca do país bem
como dos serviços de saúde no Brasil. Além disso, o uso de documentos históricos pode
auxiliar para tornar as aulas mais dinâmicas, interessantes e produtivas, satisfazendo
assim professor e alunos. Contribuindo, também, para que o saber histórico seja
reconstruído em sala de aula e não apenas reproduzido. Finalizando, acredito que
através de propostas como essa seja possível articular, na disciplina de História, uma
prática educativa preocupado com a melhora da habilidade leitora dos nossos estudantes
ao mesmo tempo que colaboramos com a construção da capacidade de leitura crítica,
fundamental para um época onde transbordam informações.
Referências Bibliográficas
LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In.: PINSKY,
Carla Bassanezi. Fontes Históricas. São Paulo: Editora Contexto, 2006. P.111 – 154.
Mãos de Ouro. In.: Veja. Nº1. São Paulo: Editora Abril, 1968. P.46 – 49
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. O que e como ensinar. In.: KARNAL,
Leandro (Org.). História na Sala de aula: conceitos práticas e propostas. São Paulo:
Contexto, 2009. P.17-39.
410
ROSE, Gillian.Visual Methodologies: an introduction to the interpretation of visuals
materials. Londres: Sage, 2001.
O uso de imagens precisa também ser melhor entendida e aproveitada e não ser vista
apenas como desenho e figura ilustrativa, mas sim uma fonte privilegiada para a
disciplina. Assim ressalta Paiva:
412
Paiva refere-se a capacidade profissional que o historiador e professor tem demonstrado
em relação a icnografia, que deixa de ser vista apenas como ilustração para distrair o
aluno. Num período em que as imagens estão expostas em todos os lugares fora da
sala de aula, sendo que merece toda uma atenção por parte do educador em
compreender qualquer ilustração antes de usa-las como recurso didático. O uso de
fontes históricas em sala de aula possibilita o aluno a pensar historicamente e assim ele
percebe as ações dos sujeitos em um determinado tempo, servindo para introduzir temas
diferentes dentro de um mesmo conteúdo. Nessa perspectiva a imagem pode ser
considerada como um documento e material didático no ensino de história, sua
utilização expressam uma melhor comunicação levando em conta que a mesma tem suas
especificidades. Como fonte histórica ela se distingue, algumas são visuais ou
audiovisuais, fixas ou em movimento, então deverá o professor ter a preocupação de
tratar esse recurso como fonte ou material didático.
Nos conteúdo do ensino de história estão repletos de imagens, muitas delas aparece
como culto aos heróis e figuras públicas em alguns fatos históricos. Desse modo e de
fundamental importância que professores na atualidade use a fonte icnográfica para
desmitificar essas imagens que mostra fatos do passado como certeza, através destes
trabalhos com as mesmas há possibilidades dos alunos ter sua criticidade a respeito das
manifestações passadas de uma certa época da história. Dessa forma independente da
imagem apresentada ela permitirá uma capacidade informativa de propor mensagens e
significados diferentes.
Para Circe Bitencourt, o uso de livros didáticos é uma alternativa na leitura das imagens
quando nas escolas públicas não houver recursos como projetores slides, computadores
ou vídeos (2001, p. 86). Atualmente isso não impossibilita o professor levarem imagens
impressas em tamanho grande.
O objetivo dos professores não deve ser aulas, que tenha o intuito de resumir, reproduzir
conhecimentos para apenas memorizar e depois repetir. No entanto o professor deve ser
um mediador buscando levar o educando a analisar e sintetizar algum assunto, de forma
que ele chegue a um conhecimento mais elaborado, e não fragmentado e baseado apenas
no senso comum.
Referências bibliográficas
413
BARROS, Ricardo. O uso da imagem nas aulas de história. São Paulo, 2007.
PAIVA, Eduardo França. História & imagens – 2 ed. – Belo Horizonte: Autêntica,
2006.
414
LUZ, CÂMERA E AÇÃO: O ALUNO COMO
SUJEITO OPERANTE NO PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM, PRODUÇÃO DE
DOCUMENTÁRIO
Maria Geanne Matias Gonçalves
Verifica-se que a disciplina de História em alguns casos ainda é vista por muitos dos
alunos, como algo que lhes soa desinteressante, decorativa, sem utilidade na vida
prática. Este representa um desafio para docentes de História, tornar a disciplina
atrativa, ajudar o discente a descobrir a importância dos estudos históricos e sua
influência no tempo presente.
415
seja considerada como o lugar de construção e figuração da diferença social”.
(MENESES: 2003, p.17).
O público envolvido foram duas turmas do segundo ano do ensino médio da escola
publica, José Alves de Figueiredo, localizada na Cidade de Crato no Ceará, foi
identificado pelos professores uma dificuldade de respeito para com a diversidade
religiosa presente na escola, pressupôs-se que aquele preconceito advinha da falta de
conhecimento e trabalhar essas questões em forma de documentário que ao final
pudesse ser debatido com toda a escola, seria uma excelente ferramenta de combate ao
preconceito e a ignorância sobre as diferentes práticas religiosas.
Previamente foi pedido aos alunos para identificarem locais e praticantes de cada
religião, também foi realizado um roteiro de possíveis perguntas que pudesse melhor
encaminhar as entrevistas. Foram divididos quatro grupos, cada grupo ficaria
responsável por identificar, entrar em contato com os possíveis entrevistados e realizar
as entrevistas de uma determinada religião. Após essa etapa do projeto (o trabalho em
campo) nos reunimos para encaminhar e começar o processo de edição do
documentário.
Nos fez refletir também a importância de inserir novas práticas pedagógicas no ensino
de História e na educação como um todo, numa sociedade cada vez mais tecnológica, é
relevante inserir esses novos meios e adequá-los a sala de aula.
Para finalizar esse trabalho a escola realizou um pequeno evento para exibir o resultado
do trabalho de três meses, foram convidados a se fazerem presentes o corpo gestor da
escola juntamente com outros professores e, sobretudo os alunos participantes que
puderam dividir com toda a escola o relato dessa experiência em suas vidas e o mais
importante ver partir deles o discurso contra a intolerância religiosa, tudo isso nos faz
perceber o quanto iniciativas um pouco mais ousadas são importantes para construção
do aluno enquanto pessoa e cidadão. Certamente o aprendizado se deu de modo
particular para cada um dos mais de cinquenta alunos envolvidos, certamente nem todos
os envolvidos mudarão suas atitudes por completo, mas foi plantada em cada um a
semente da tolerância e do respeito e as que germinarem será árvores importantes para
disseminar um novo modo de ser e perceber o outro em toda a escola.
417
Referências
SOUZA, Éder Cristiano de. O que o Cinema pode Ensinar sobre a História? Ideias de
Jovens Alunos sobre a relação entre Filmes e Aprendizagem Histórica. História e
Ensino. Londrina, V.16, n.1, p. 25-39, 2010.
MENESES, Ulpiano B. Fontes. Fontes Visuais, cultura visual, história visual: Balanço
provisório. In: Revista Brasileira de História: O ofício do historiador, nº 45. São Paulo,
ANPUH, 2003.
418
DOCUMENTOS HISTÓRICOS CONTIDAS NO
LIVRO DIDÁTICO E SEU POTENCIAL COMO
SUPORTE PARA O ENSINO/APRENDIZAGEM DE
HISTÓRIA
Maria Juliana de Freitas Almeida
Passadas mais de duas décadas, por mais que se preconizem mudanças e transformações
na educação e no ensino, quem lida diariamente com a sala de aula percebe que para
maioria dos alunos a História ainda é uma disciplina considerada pouco interessante. Os
motivos pelos quais isso ainda ocorre são os mais variados, desde questões
socioeconômicas, heterogeneidade das turmas, a formação docente, o distanciamento da
sala de aula com o dia a dia dos alunos, insuficiência de recursos financeiros e de
materiais didáticos, entre outros.
Neste texto, não há a pretensão de discutir ou aprofundar cada um destes motivos, mas
sim, apontar uma alternativa que pode tornar mais atraente o ensino de História, e mais
significativo o conhecimento histórico, ao promover o aprendizado, para além das
formulas de memorização, utilizando o material didático mais abundante nas escolas de
todo o país: o livro didático de História. Não é objetivo, tampouco, analisar o livro
didático, em suas qualidades e deficiências, mas sim, propor a utilização do mesmo de
forma a explorar suas potencialidades.
A simples menção ao livro didático pode fazer com que muitos torçam o nariz,
culpando-o pelo atavismo presente no ensino de História,
419
Mas, graças ao PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), este é o material didático
mais abundante nas escolas públicas de norte a sul do país, desde as escolas rurais, de
pequenas cidades até aquelas localizadas nas periferias dos grandes centros. O que por
si só, faz desse material didático uma ferramenta dignade uma análise mais acurada, “é
fundamental considerá-lo como um recurso didático que oferece condições ao professor
de concretizar os objetivos educacionais propostos” (BERUTTI; MARQUES 2009, p.
97).
Diante das críticas recebidas, e da maior demanda por livros didáticos de História, estes
vem se transformando, convertendo-se em uma ferramenta “polifônica”, com várias
funções, entre elas oferece grande gama de documentos nos mais variados suportes
(BITTENCOURT, 2009, p. 307), o que se torna fundamental para o ensino de História,
“o trabalho para entender e desvelar o discurso histórico impõe uma atividade
incessante e sistemática com o documento em sala de aula” (SCHMIDT; CAINELLI,
2009, p. 111).
Se para Febvre (1974, apud. SCHMIDT; CAINELLI, 2009, p. 112) “a história se faz
com os documentos escritos, sem dúvida, quando eles existem. Mas ela pode ser feita,
ela deve ser feita com tudo o que a engenhosidade do historiador lhe permitir utilizar”.
Sendo assim, o ensino de História deve ser viabilizado com todos os recursos possíveis,
que a criatividade do professor propor. E neste caso, propõe-se o uso criativo do livro
didático, explorando não apenas o texto didático, mas os vários documentos que o
compõem.
420
Conforme Cano (2012, p. 25) o ideal seria que nas escolas houvesse coleções de objetos
e documentos disponíveis para o trabalho didático, mas a ausência de tais coleções o
trabalho com documentos não deve ser abandonado, e o livro didático é uma
possibilidade para a execução do trabalho, ao se explorar as múltiplas linguagens que o
compõem.
O trabalho com documentos em sala de aula exige que sejam adotados alguns
procedimentos, em três passos, como sugerem Schmidt e Cainelli (2009, p. 118-125): 1)
O documento deve ser identificado quanto a origem, natureza, autoria, datação e pontos
relevantes do mesmo; 2) Explicação do documento: o contexto e a crítica; 3) comentário
do documento: dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão.
O uso de documentos em sala de aula pode contribuir para ilustrar o tema trabalhado;
ser estudado como fonte de informação histórica; empregado como fonte para a
construção de um problema ou hipótese histórica; fonte de respostas para hipóteses ou
problemas (SCHIMIDT; CAINELLI, 2009, p. 125-127), escolhidos de acordo com os
objetivos estabelecidos pelo professor. Os documentos podem ser selecionados
individualmente ou em conjunto, com linguagens variadas (escrito, ou iconográfico),
além da possibilidade incluir outros documentos como os guardados pelos próprios
alunos ou professores, assim como pertencentes a arquivos e acervos particulares,
excedendo assim os que são apresentados no livro didático.
Referências
421
CAINELLI, Marlene; SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo:
Scipione, 2009.
CANO, Márcio Rogério de Oliveira (coord.). História. São Paulo: Blucher, 2012.
(Coleção A reflexão e a prática de ensino; 6).
422
PROPOSTA DIDATICA DE ENSINO DE
HISTORIA DO DESING E DO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO NA CIDADE DE MEDELLÍN,
COLÔMBIA: USO DAS SELFIES E O FACEBOOK
COMO FERRAMENTAS DE APROPRIAÇÃO
PATRIMONIAL
María Isabel Giraldo Vásquez
423
patrimonial e fotografia contemporânea. O conhecimento da cidade e a concepção do
espaço como patrimônio arquitetônico popular fazem entender que, quando se fala do
popular neste exercício, pretende-se que os estudantes se assumam como parte da
cidade, identifiquem o espaço e se reconheçam dentro dele como agentes que
possibilitam trocas, experiências, transformações e mutações.
O trabalho foi realizado assim: através de um desafio se logra conectar aos estudantes
com as dinâmicas populares da cidade. Este desafio consiste em publicar semanalmente
durante todo o semestre no Facebook uma foto antiga de um espaço medianamente
reconhecido da cidade de Medellín, depois, os estudantes tem uma semana para tentar
reconhecer o lugar, obter algum tipo de informação sobre ele (antiga e recente) e visita-
lo, tirar uma “selfie” mostrando o espaço atual e publica-la no Facebook. Na seguinte
semana durante a aula, o estudante conta para a sala inteira a sua experiência e as suas
averiguações (que incluem usualmente leituras na internet sobre o lugar, informações e
histórias transmitidos pelas suas famílias, e as vezes, contos e lendas dos moradores
daqueles espaços), e o professor termina de completar a informação trazida pelo aluno e
resolve das dúvidas trazidas pelo estudante ou as questões que aparecem durante a
explicação na aula. O desafio finaliza com pontos extra para o estudante que completou
o desafio primeiro e o reconhecimento público de forma lúdica durante a aula. O
exercício não é de obrigatória participação dos alunos da turma e sempre é de caráter
optativo, participar ou não e uma escolha do estudante.
424
Referências bibliográficas:
FALS , Orlando. Historia doble de la Costa, 4 Vols. Bogotá, Carlos Valencia Editores,
1979-1986
RÜSEN, Jörn. ¿Qué es la cultura histórica?: Reflexiones sobre una nueva manera de
abordar la historia. [Unpublished Spanish version of the German original text in K.
Füssmann, H.T. Grütter and J. Rüsen, eds. (1994). Historische Faszination.
Geschichtskultur heute. Keulen, Weimar and Wenen: Böhlau, pp. 3-26], 2009.
Disponível em: http://www.culturahistorica.es/ruesen/cultura_historica.pdf . Acesso em
19 abr. 2016.
425
IMAGEM E ENSINO DE HISTÓRIA ANTIGA: UMA
INTRODUÇÃO
Márcio Vitor Santos
Sobre a problematização que envolve o ensino de História, vários pontos devem ser
levados em consideração, visto que uma determinada questão ou problema é construído
a partir de diversos fatores. Talvez um que mereça destaque é a “história decorada pelo
aluno”. Circe Bittencourt (2011, p. 68-69) nos fala que a metodologia utiliza nos livros
escolares do século XIX apelava mais para a memorização das datas e dos grandes
nomes da História. A História, portanto, passa a ser um amontoado de informações que
simplesmente devem ser memorizadas pelos alunos, que muitas vezes não conseguem
entender o assunto abordado ou até mesmo não fazem reflexões sobre o acontecido ou
sobre sua vida pessoal. Em suma, é enfatizado que
Outro ponto deve ser destacado: a precariedade de novos métodos de ensino. Segundo
Boris Kossoy (2001, p. 30), a tradição escrita tornou-se o método mais tradicional para
a transmissão do saber. Entretanto, há um aprisionamento multissecular a essa tradição,
impossibilitando assim o uso de novos métodos para ensinar História.
426
Antiguidade nos deixou um vasto legado cultural, através de suas artes e construções,
como os vasos gregos, as pirâmides egípcias e as estátuas romanas, que são exemplos
da ampla cultura material produzida nos tempos antigos. Percebe-se, então, que o
profissional de História Antiga dispõe de elementos que podem ser úteis para a
produção do conhecimento histórico. Contudo,
Nessa abordagem, aquilo que Pedro Paulo Funari (2005) chamou de “renovação do
ensino da História Antiga” pode ser bem discutido: novas estratégias de ensino,
incentivando o aspecto lúdico do aprendizado e da pesquisa, a produção de
conhecimento histórico sob a capa da espontaneidade, da brincadeira. Segundo o
próprio, “a História, em especial a Antiga, não se faz apenas com documentos escritos,
mas também com a cultura material” (FUNARI, 2005, p. 96). Essa cultura material –
reproduzida nos vasos gregos, nos grandes monumentos, nas construções das cidades
antigas – pode ser apresentada aos professores como novas ferramentas pedagógicas de
ensino e, doravante, levando à formulação de novas estratégias para se ensinar História.
Dessa maneira, o diálogo entre a Antiguidade e o mundo dos educandos torna-se mais
interessante, levando o indivíduo a aguçar sua curiosidade intelectual e, assim,
exercitando sua capacidade analítica.
Nessa perspectiva, o profissional de História – que também está inserido nesse contexto
de mudanças culturais e avalanches de informações – deve apropriar-se desses meios
como ferramenta pedagógica. Um dos meios que mais podem ser proveitosos para o
ensino de História são as imagens e fotografias, pois
A fotografia também pode ser considerada, nas mãos do historiador, como fonte.
Diferente do Positivismo, que dava apenas credibilidade aos documentos e registros
oficiais, a Escola dos Annales abriu um leque de novos objetos que podem ser
considerados como fontes e “foi fundamental para esse novo estatuto das imagens e
outros documentos, o que ampliou os objetos de estudo da história” (SILVA, 2010, p.
174).
Referências
428
FUNARI, Pedro Paulo. A renovação da História Antiga. In: KARNAL, Leandro (Org.).
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2005.
KOSSOY, Boris. Fotografia e história. 2. ed. rev. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
429
JOGAR COM A EDUCAÇÃO E O ENSINO DE
HISTÓRIA
Marcello Paniz Giacomoni
Não é novidade que os jogos, especialmente os digitais, estão cada vez mais presentes
no dia a dia das pessoas. Celulares e outros dispositivos oferecem aplicativos de jogos
para todas as idades, consumidos tanto em momentos de folga, viagens de ônibus,
intervalos quanto, é claro, durante as nossas aulas. Não acredito que nós professores
sejamos ingênuos a ponto de acharmos que as aulas convencionais são mais atrativas
que esse conjunto de games, nem por isso desistiremos. Defendo que podemos fazer do
uso de jogos uma estratégia que congrega o lúdico ao aprendizado, ressaltando que isso
não significa o abandono das aulas expositivas, atividades, leituras, resolução de
problemas, etc. Tampouco utilizar os jogos como "iscas, a partir do que nos ensina a
professora Tânia Fortuna quando diz que o jogo não deveria ser apenas um recurso para
“fisgar” a atenção dos alunos. Defendo que os jogos são estratégias complementares
para a construção do conhecimento escolar. A partir deles colocam-se em jogo relações
entre objetos, estratégias e conceitos, constituindo narrativas cuja imprevisibilidade do
desfecho abre espaço para a intuição e para a imaginação, nem sempre valorizadas, mas
absolutamente importantes na construção de qualquer conhecimento.
Penso no uso dos jogos em três caminhos (sem negar que existam outros, claro): a
construção de jogos pelos professores para seus alunos, a construção de jogos pelos
próprios alunos em projetos variados e o uso de dinâmicas que remetem a estéticas ou
mecânicas de jogos, sob o conceito de gamificação.
Sobre o primeiro caminho possível, cito como exemplos dois jogos produzidos por mim
e que visavam determinados aprendizados na disciplina de História, da qual sou
professor de formação. O Centralizador, produzido em 2011, tem como superfície um
tabuleiro que simula uma paisagem genérica europeia do final da Idade Média. Nele
interagem alunos que representam os cinco principais grupos sociais envolvidos no
processo de centralização do poder dos reis: o rei, a burguesia, a Igreja, os senhores
feudais e os servos / camponeses. Em cada rodada são retiradas cartas-acontecimento
que tratam de fatos e processos da centralização do poder nos quatro casos estudados:
França, Inglaterra, Espanha e Portugal. A partir de perguntas, respostas e o lançamento
de dados, os grupos sociais inserem edifícios no mapa, representando ganhos de poder.
O objetivo pedagógico do jogo, em um primeiro momento, foi de revisar conteúdos
desenvolvidos em aulas anteriores, mas rapidamente mostrou um potencial para fabular
a imprevisibilidade do futuro. O rei poderia centralizar o poder, mas também poderia
não centralizar. Dessa possibilidade em aberto nasceu um grande potencial de reflexão
conceitual, que em geral exploro em aulas posteriores à aplicação desse jogo.
Esses exemplos situam uma possibilidade para o uso dos jogos na educação da qual sou
um entusiasta: objetos de aprendizado criados pelos professores visando determinadas
escolhas pedagógicas por ele enfatizadas, dentro de temáticas mais amplas. Um
professor que conhece sua prática, suas escolhas teóricas e políticas e, especialmente,
seus alunos (com seus interesses, dificuldades, potencialidades). Ele toma para si o
papel de protagonista da sua prática, criando seus próprios materiais didáticos que darão
uma identidade única às suas aulas.
Uma segunda estratégia é propor a construção de jogos pelos próprios alunos. Ao longo
de 2016 propus um projeto entre os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental II do
Colégio Israelita Brasileiro em que os mesmos deveriam criar jogos escolhendo
livremente temáticas da disciplina de História do ano corrente ou do anterior. No
primeiro trimestre foi construído um projeto do jogo, prevendo a temática, a superfície
(onde a narrativa aconteceria), os objetivos, as dinâmicas, as regras e o layout. Após as
revisões dos projetos, na segunda etapa (que ocorreu no segundo trimestre), foram
construídos protótipos dos jogos visando testar o funcionamento das mecânicas. Após a
testagem dos protótipos pelos colegas (que emitiram pareceres sobre o processo)
passou-se para a terceira etapa. Durante o terceiro trimestre os grupos procederam à
construção definitiva dos tabuleiros, seguindo critérios específicos de qualidade estética
e jogabilidade.
Enfim, são três formas de utilizar os jogos que possuem, de formas variadas, grandes
potenciais pedagógicos. Não apenas negociam distâncias entre alunos cada vez mais
nativos de um ambiente gamificado com a escola, como possibilitam aprendizados por
outros caminhos, mais próximos da estética, da intuição, da imaginação...
Referências
HUIZINGA, ]ohan. Homo ludens – o jogo como elemento de cultura. São Paulo:
Perspectiva, 1998.
432
NOTAS SOBRE O USO DE HISTÓRIAS EM
QUADRINHOS NO ENSINO DE HISTÓRIA
Márcio dos Santos Rodrigues
Neste texto busca-se estabelecer balizas para a utilização das Histórias em Quadrinhos
no Ensino de História. Deste modo, esperamos contribuir para a construção de
instrumentais de modo que historiadores licenciados transitem pelo mundo histórico
configurado pelos quadrinhos (também denominados HQs). O que considerando como
HQs é o gênero de mídia baseado numa sequência narrativa visual, no qual imagens se
juntam no interior de quadros, interagindo simultânea e indissociavelmente
(McCLOUD, 1995; GROENSTEEN, 1999). A proposta aqui delineada é a de tratar as
HQs não apenas como ferramenta que o professor de História teria para tornar suas
aulas “mais atrativas”, mas apresentar pressupostos teórico-metodológicos que
possibilitem o uso desse objeto cultural em práticas docentes. Dito de outra forma, não
se deve usar os quadrinhos como pretexto para facilitar o interesse dos alunos pelo
estudo da História, mas salientar que várias questões que interessam aos educandos
fazem parte de determinados processos. O caráter deste texto, assim, é um tanto
prescritivo.
Um dos pontos defendidos é que o educador deve interpretar as HQs como objeto do
conhecimento e um ponto de partida para discussões mais aprofundadas acerca de temas
históricos. Usar os quadrinhos tão- somente como suporte de informações é limitar
bastante seu potencial como prática cultural, construtora de significados, e sua
capacidade de interferir no mundo social. Assinalamos que não é nossa intenção
apresentar de maneira unívoca como os quadrinhos devem ser empregados em sala de
aula. Há inúmeras possibilidades de abordagem das HQs como fonte documental. Tais
possibilidades variam conforme a temática a ser trabalhada em sala de aula e com o
método pedagógico a ser utilizado e/ou ainda conforme os diferentes níveis de
familiaridade e compreensão da linguagem das HQs por parte dos professores e
educandos. É importante, como nos indica um dos pioneiros da pesquisa de quadrinhos
no Brasil Waldomiro Vergueiro, que o professor lance mão de uma abordagem mais
ousada, apresentando e contextualizando as mais diferentes tradições e gêneros de HQs,
a fim de que se obtenha resultados mais significativos em torno do seu emprego em sala
de aula (VERGUEIRO, 2004).
Até pouco tempo não havia debates correntes sobre o uso dos quadrinhos nas aulas de
História. Todavia, no contexto atual teses e dissertações têm sido defendidas. Alguns
estudos apresentados em livros têm buscado entender como os quadrinhos podem ser
mecanismos importantes da construção da História, como, por exemplo, os trabalhos de
Marco Túlio Vilela no campo do Ensino de História, por meio de representações, e as
investigações de Fronza sobre as possibilidades investigativas da aprendizagem
histórica de jovens a partir dos quadrinhos. Grande parte dos trabalhos no campo do
ensinar e aprender História, contudo, cai no equívoco de, em nome de uma base
conceitual já definida, usar os quadrinhos apenas como suporte de informação. Ao invés
433
de partir de um exame contextual das fontes, confrontando-as com ferramentas
conceituais, ignoram que representações construídas nos e pelos quadrinhos dizem mais
do contexto em que foram produzidas do que propriamente de uma temporalidade
passada.
Quadrinhos podem nos apresentar aspectos de uma realidade passada, mas passam
longe de nos fornecer uma tradução literal dos acontecimentos que tiveram lugar em
uma temporalidade passada. Longe de serem retrovisores, os quadrinhos ao lidar com a
história acabam também por reconstruir o passado que não pode ser acessado tal como
ele foi ou transcorreu, mesmo porque uma realidade passada é múltipla e, portanto,
inapreensível na íntegra. Um reflexo seria fiel, prova de uma realidade. É preciso
considerar que quadrinhos interpretam e argumentam muito mais do que refletem.
Tentam apresentar e divulgar uma certa interpretação da existência através de sua
narrativa visual. Ou seja, não são reflexo, mas argumento. Nessa tentativa de
monumentalizar os quadrinhos o professor pode recorrer ao conhecido texto
“Documento-monumento”, do historiador francês Jacques Le Goff, para trabalhar nas
intenções de autores.
Consideramos que por vezes alunos constroem uma relação íntima com o conhecimento
histórico, com a memória e com a história, que eventualmente foge do âmbito de livros
e revistas da área. Nessa construção, há a participação de meios/suportes da
comunicação de massa e talvez o envolvimento comece pela televisão e pelos filmes.
Quadrinhos também se enquadram nesses meios, dentro do conceito de cultura da mídia
aos moldes de um autor como Douglas Kellner. Se atentarmos para a importância da
cultura da mídia, que tem impactos os mais diversos na sociedade, é bem provável que
os quadrinhos integrem seu campo de reflexão. Isso traz desdobramentos no ensino, não
implicando que a dimensão da aprendizagem seja algo menor ou subordinada a da
pesquisa. É um outro processo.
Quadrinhos, da mesma forma que as fontes textuais, estão sujeitos aos questionamentos
da crítica histórica. Todavia, carecem de um enfoque diferenciado, que considere tanto
aspectos formais quanto mediações históricas envolvidas nas produções de tal e qual
título. Para usar os quadrinhos como fonte histórica devemos considerar primeiramente
que esse gênero de leitura tem uma história, além de sua linguagem própria. É essencial
ter além da capacidade de decodificar os quadrinhos, uma predisposição ao novo, se
quisermos utilizá-los no contexto escolar.
Bibliografia
436
IDEIAS DE HISTÓRIA QUE CIRCULAM NO
CIBERESPAÇO: APONTAMENTOS INICIAIS
Matheus Henrique Marques Sussai
Nos últimos anos, as redes sociais online como o Facebook, o Twitter, o MySpace, entre
outros, ganharam repercussão em assuntos sobre a política contemporânea brasileira.
Isso se deu devido a uma quantidade significativa de páginas criadas nessas redes
sociais que se destinaram a discutir o contexto histórico contemporâneo brasileiro,
tomando as mais diversas posições do âmbito político, desde a extrema esquerda até a
extrema direita.
A partir das discussões de Dilton Ribeiro do Couto Júnior (2013), vemos como os
usuários dessas redes sociais ganharam espaço para produzir informações, e não apenas
receber e divulgar as mesmas. Isso é uma das principais características da web 2.0, a
internet como a conhecemos hoje, na qual todo usuário pode produzir informações, não
havendo o monopólio desta, o que faz com que cada pessoa seja um ator em rede, um
web ator (PISANI; PIOTET, 2010, p. 119). Com o surgimento de páginas que se
destinaram a discutir política, notamos muitos usuários se formando politicamente e
historicamente através dos conteúdos publicados no ambiente virtual, no ciberespaço.
Como nos lembra Jörn Rüsen (2007): “[...] os processos de aprendizado histórico não
ocorrem apenas no ensino de história, mas nos mais diversos e complexos contextos da
vida concreta dos aprendizes [...]” (p. 91). Por que então, não poderíamos considerar a
internet, a web 2.0, como um local propício para a elaboração do conhecimento
histórico? É o que pretendemos fazer neste estudo, tomar a internet como um acervo
para o historiador, na qual muitos jovens e adultos se formam politicamente, levando
suas ideias para dentro da sala de aula.
Por isso, podemos tomar a internet como uma “[...] nova categoria de fontes
documentais para pesquisas históricas” (ALMEIDA, 2011, p. 09), na qual, devido ao
seu caráter movediço, o historiador só tem acesso a essa fonte em uma restrita janela
temporal. Isso ocorre porque “o texto eletrônico, tal qual o conhecemos, é um texto
móvel, maleável, aberto. O leitor pode intervir em seu próprio conteúdo, [...] deslocar,
recortar, estender, recompor as unidades textuais das quais se apodera” (CHARTIER,
2002, p. 25).
Toda essa breve apresentação se fez necessária para dizer que essas páginas do
Facebook, que pretendemos investigar enquanto documentos históricos, difundem
opiniões que defendem uma “direita” política, mesmo sendo consideradas por muitos
uma opinião de senso comum. E por isso, acabam utilizando ideias de história que não
circulam no ambiente acadêmico. Ou seja, é um argumento com referencial histórico
(geralmente temas como “ditadura militar”, “regimes totalitários”, “fascismo”,
“comunismo”, entre outros), que não foram produzidos dentro do ambiente escolar ou
científico. Ainda assim, são noções de história que circulam no ciberespaço, no qual
muitas pessoas se informam e se formam a partir delas. Curtindo, compartilhando e
437
debatendo, os usuários dessas páginas do Facebook se interagem em um novo tipo de
cultura que é denominada de “cibercultura”, formando opiniões e elaborando versões de
história.
Pierre Lévy (1999) entende por cibercultura “[...] o conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (p. 17). Os seres humanos
são parte fundamental dessa cultura, afinal, sem eles, ela não existiria. E por isso é
possível o estudo das redes sociais online, ou melhor, das informações presentes no
ciberespaço, como objeto da História. Afinal, como nos ensina Marc Bloch (2001): “[...]
o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens.” O bom
historiador, “onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça” (p. 54).
Diante dessas páginas do Facebook que se denominam como defensoras de uma direita
política, nas quais os seus administradores argumentam os mais variados temas da
história e da política nacional, surgiu o interesse em investigar essas noções de história a
partir da perspectiva da Didática da História, discutida por Klaus Bergmann
(1989/1990):
Temos um crescimento no campo da História Pública, que ainda tem muito que ser
discutida, mas neste campo podemos perceber uma:
Ao falar de uma demanda social por história, Jurandir Malerba também está discutindo
o ofício do historiador, ao dizer que este precisa tomar as plataformas digitais como um
local de trabalho, de ensino de História. O que mais nos interessa aqui é a atenção que o
autor dá para as plataformas digitais e as elaborações de história nesse ambiente. A
academia não é mais o único lugar onde a História é produzida. Claro que sem o rigor
científico, mas ainda assim, circulam versões de história que interessaram a nós
enquanto pesquisa visando uma colaboração ao campo da História e Ensino.
Referências
ALMEIDA, Fábio Chang de. O historiador e as fontes digitais: uma visão acerca da
internet como fonte primária para pesquisas históricas. Revista do corpo discente do
PPG-História da UFRGS, v. 3, n. 8, janeiro/junho. 2011, p. 09-30.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999.
439
à luz dos debates sobre a Public History. História da Historiografia, v. 15, p. 27-50,
2014.
440
LUGARES DE MEMÓRIA: REFLEXÕES SOBRE
MARCOS TESTEMUNHAIS DE OUTRA ÉPOCA
Matheus M. Cruz
Michele Rotta Telles
Pierre Nora (1993) nos afirma que museus, objetos, documentos e construções são
exemplos de marcos testemunhais de outras épocas, ou seja, são testemunhas que nos
contam sobre um passado, vivido por nós ou não. Assim, lugares de memória (NORA,
1993) são marcos testemunhais responsáveis por lembrar-nos do passado que forma a
identidade de uma localidade.
Pierre Nora (1993) entende que lugares de memória são locais reservados à
rememoração. Para tanto, é preciso primeiramente identificação do sujeito com o lugar
visitado no presente (PINTO, 2013, p. 91). A necessidade da identificação com o sujeito
se faz plausível devido a não espontaneidade da memória (NORA, 1993, p. 13).
Por sua vez, evocações ao passado fixam traços na identidade da própria cidade, e
podem materializar-se em lugares de memória. Pollak (1992, p. 5) confirma o
fortalecimento das características e idiossincrasias formadoras do que o próprio
município é, e aquilo que seus moradores fazem com que ele seja, por meio do terreno
fértil dos lugares de memória.
Musealização
Ademais, ao olharmos para fontes históricas que são ou podem ser objetos de guarda
nos referidos espaços, podemos pensar o conceito de memória-arquivo de Nora (1993,
p. 15), que se refere a: “constituição gigantesca e vertiginosa de estoque material
daquilo que nos é impossível lembrar, repertório insondável daquilo que poderíamos ter
necessidade de lembrar”. Do que decorre a crítica de Huyssen Huyssen (2000) à
musealização da sociedade, como processo de luta para não esquecer de nada. Portanto,
é possível ponderar também se os lugares de memória que temos comunicam um
passado, ou são apenas lugares separados para a guarda de memória.
Notamos que Ponta Grossa segue tirando do seu olhar traços do passado, mas
acumulando em seu HD – apelidado de Casa da Memória e Museu Campos Gerais –
442
arquivos-objetos para evitar o esquecimento. O cotidiano corrido e ocupado na busca de
progredir não permite lembrar. Segue a ânsia de não esquecer, esquecendo-se.
O ensino de História que utiliza fontes históricas, inclusive do próprio local em que se
vive, amplia a percepção de que a história é cotidiana, escrita e construída em lugares e
por pessoas como quaisquer outras, e não por entidades superiores à humanidade do
próprio educando.
Quando se ensina que a história é escrita a partir das perguntas que elaboramos, as quais
procuramos responder por meio de fontes históricas, também oportunizamos ao
educando a condição de sujeito da construção do conhecimento. Paulo Freire (2002, p.
25) afirma: "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a
sua produção ou a sua construção".
Por sua vez, a história local oferece a oportunidade dos estudantes perceberem de modo
mais conexo que “aprender História é ler e compreender o mundo em que vivemos e, no
qual outros seres humanos viveram” (GUIMARÃES; SILVA, 2010, p. 24).
Roteiro
Abordamos a Estação Paraná como antiga estação e não como Casa da Memória,
focando na falta de informações públicas sobre sua história. Sobre o Museu Campos
Gerais refletimos sobre a adequação das instalações para abrigo do mesmo, e o
significado do tratamento despendido ao Museu no contexto de preservação, guarda e
comunicação de memórias da cidade.
Referências
NORA, P. Entre Memória e História: A problemática dos lugares. Proj. História, São
Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993.
444
REFLEXÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DE
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO (TIC) NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA
Nícollas Voss Reis
445
Atualmente o conjunto dessas ferramentas tecnológicas (via hardware ou software) são
denominados “TIC” e podem ser entendidos como “uma nova forma na organização da
economia e da sociedade. Inovam as formas de relações sociais, ampliam nossa
memória e garantem novas possibilidades de bem-estar”. (FERNANDES, 2012, p. 24).
Sendo assim, a integração das TIC nas escolas se torna “fundamental porque estas
técnicas já estão presentes na vida de todas as crianças e adolescentes e funcionam (...)
como agentes de socialização, concorrendo com a escola e a família.” (BÉVORT;
BELLONI, 2009, p. 1084).
Portanto, acreditamos que tais tecnologias são essenciais para compor as ferramentas
utilizadas por educadores em todos os níveis de ensino, quebrando alguns paradigmas
escolares de décadas passadas, aproximando os alunos das escolas. Não podemos ser
alheios as (r)evoluções sócio-tecnológicas, e, a escola não deve se prender em uma
doma anacrônica onde os docentes vêem a tecnologia como inimiga, não como aliada.
Neste contexto, nossos alunos estão sendo bombardeados de informações pelas mídias
digitais onde passam grande parte do tempo. Portanto, acredita-se que cabe ao professor
atualizar-se e interar-se com os novos meios de comunicação, afim de aproximar e
orientar os discentes sobre os conteúdos que circulam na rede. Miranda (2007, p. 45)
afirma que “se o professor dominar estas novas ferramentas poderá apoiar os alunos a
explorar as potencialidades destes novos sistemas”.
Contudo, ao que parece, o ensino de História ficou atrelado durante anos a uma prática
considerada tradicional. Podemos observar conforme os estudos de Ferreira (1999, p.
140), que até o final da década de 1990, a disciplina de História nas escolas
demonstrava-se atrasada quanto à utilização de TIC no processo de ensino-
aprendizagem. “O ensino de História ainda é predominantemente factual, trabalhando
com tendências narrativas e positivistas, tornando-se dessa forma, para os alunos um
ensino desinteressante, confuso, anacrônico, burocratizado e repetitivo.”
Nesta conjuntura, Ferreira (1999, p. 146) explana que “neste sentido, é necessário,
portanto, que os professores de História passem a compreender que os processos de
inovação, derivados do emprego dos recursos tecnológicos, servirão para oxigenar a
prática docente.” E é nesse ponto que devemos nos debruçar.
Sendo assim, diante de tais desafios apresentados, com quais ferramentas das TIC
podemos nos amparar para despertar e aproximar nossos alunos do conteúdo
programático de História?
Neste ponto, apontaremos brevemente algumas ferramentas que podem ser utilizados no
processo de ensino-aprendizagem para enriquecer a interatividade entre professor, aluno
e conteúdo.
446
Primeiramente para tornarmos as aulas mais interativas e quebrarmos com a prática do
“quadro negro e giz”, faz-se necessário incorporar tais TIC no dia-a-dia escolar, sendo
assim, aconselhamos a utilização de dois softwares interessantes para dinamizar os
conteúdos, o PowerPoint e o Prezi. O PowerPoint é uma ferramenta encontrada no
pacote do Windows Office (Microsoft) e consiste basicamente em apresentações
dinâmicas de slides podendo-se utilizar diferentes línguas de comunicação para a
aplicação dos conteúdos como: sons, imagens, textos e vídeos que podem ser animados
ao seu critério.
O Prezi tem sua versão gratuita disponível em www.prezi.com, e da mesma forma que o
PowerPoint, disponibiliza de forma dinâmica ferramentas para apresentações de slides.
Contudo, o Prezi é mais “moderno” e suas animações e zooms tornam-no mais atrativo
aos jovens.
Conforme Ferreira (1999, p. 152) “A informática possibilita hoje (...) uma oportunidade
de abrir novos caminhos para além da estrutura física de sala de aula convencional.”
Nesse ponto, já imaginou em uma aula de Antiguidade do Egito fazer uma “tour” pelas
pirâmides de Gizé sem sair da escola? Pois isso é possível!
447
Referências
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Editora Paz e Terra, 8ª edição,
2005.
448
EXPERIÊNCIA NO PROJETO TECNOLOGIAS E
LINGUAGENS E SUA IMPORTÂNCIA NA
FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE PESQUISA E
EXTENSÃO DE ALUNOS BOLSISTAS
Neidi N. Skakum
O projeto Tecnologias e Linguagens para o ensino de história, no qual fui bolsista, sob
orientação do professor Everton Crema, buscou trabalhar com a conservação e
tratamento de fontes históricas, para seja possibilitado seu uso na prática do ensino,
pesquisa e extensão. Essas fontes são em sua maioria processos trabalhistas e de
cobrança, que se encontram no Arquivo Histórico da Unespar de União da Vitória.
O arquivo histórico da Unespar possui processos da vara civil e da vara família, que foi
repassada a instituição para que possibilitasse aos docentes e dissentes um apoio para
suas pesquisas no âmbito de história local, sendo que essa documentação possui caráter
de fonte primária. Os processos são datados desde meados dos anos de 1930, possuindo
temas diversos como Ações de cobrança, depósito, despejo, executiva, de trabalho,
Alvará, Anulação, Assento de óbito e testamento, Assistência jurídica, Busca e
apreensão, Certidão de partilha, Concurso, nomeação, cargos na prefeitura, Consignação
e pagamento, Desapropriação, Desquite e separação, Emancipações, tutela e curatela,
Embargos, Indenização, Justificação, Mandado de segurança, Pagamento, Reclamação
trabalhista, Reintegração de posse, Rescisão de contrato, Restauração de casamento,
nascimentos, entre outros, que envolvem indivíduos e empresas de União da Vitória e
região, possibilitando pesquisas de análises das relações de classe, relações trabalhista, e
questões de leis trabalhistas e execuções de dívidas, sempre partindo de questões do
presente.
449
O pesquisador pode explorar diversos aspectos da história local e assim aprimorar sua
formação acadêmica, por conseguir ter um contato mais acessível com a fonte. O
projeto de extensão realizado dentro do arquivo tornou possível esse contato e
conhecimento do conteúdo de uma fonte, criando um elo entre o conteúdo aprendido na
licenciatura com a prática. Quando conhecemos uma fonte, como por exemplo, os
processos que estão no acervo do arquivo, á partir de uma orientação da maneira de
como utiliza-las tanto na pesquisa como no ensino, aperfeiçoa-se assim a formação
acadêmica tanto na licenciatura como na pesquisa.
O conteúdo do arquivo de história está disponível para pesquisa acadêmica, mas o ideal
seria se todo o acervo estivesse digitalizado para uma melhor preservação,
principalmente os processos crimes, por ser uma documentação mais antiga, mas a
digitalização está sendo feita á medida que são aprovados projetos voltados para esse
trabalho, contribuindo assim para a preservação da história local. Queremos que
futuramente, o conteúdo do acervo esteja disponível no meio eletrônico, para que
facilite o acesso aos pesquisadores, bem como divulgar a importância dos arquivos
históricos e laboratórios de pesquisa para pesquisadores de fora da instituição, que
possuem pesquisas voltadas para o âmbito local, ampliando assim sua possibilidade de
uso na produção de conhecimento.
A primeira tarefa realizada no início do projeto foi a organização das caixas que contêm
os processos, recolocação de processos que estavam espalhados pela sala nas referentes
caixas, depois foi feito o registro do assunto de cada caixa em uma planilha no Excel
juntamente com o numero de caixas, na sequência se deu início a digitalização, o
primeiro tema digitalizado foi “executivo fiscal”, utilizando pincel e luvas descartáveis
foi feita a higienização de cada página para retirar resquícios de sujeira e pó, depois
realizamos pequenos reparos com os materiais disponíveis e então passamos a
fotografar página por página de cada processo, após fotografar todo o conteúdo da
caixa, passamos as imagens para o computador e editamos as imagens, corrigindo a
iluminação, posição de ‘quadro’ e a partir daí foi renomeado cada imagem de acordo
com o numero de registro do processo. Cada processo digitalizado foi separado em uma
pasta no computador, nesta pasta contem as imagens de cada página do processo e um
arquivo do Word em modelo de ‘instrumento de pesquisa’ que trás as principais
informações deste processo, como local, data, nome dos envolvidos bem como um
pequeno resumo do conteúdo escrito do processo e data da transcrição, após isso, os
processos físicos são colocados novamente nas caixas e voltam para a estante.
Apesar do período do projeto ter sido curto, de alguma forma acabou contribuindo para
a preservação da documentação, e também para dar mais visibilidade aos arquivos
históricos, e de suas possibilidades.
Referências
451
JORNAIS CATARINENSES E A NOVEMBRADA -
MANIFESTAÇÃO CATARINENSE CONTRA A
DITADURA
Paola Vieira da Silveira
Introdução
A preocupação por parte dos governos em abafar a manifestação e criar uma ‘verdade’
sobre o episodio, resultou na versão que o protesto na capital catarinense foi realizado
por um pequeno grupo de estudantes, quando na verdade - não oficial - o protesto foi
apenas iniciado por esse grupo. Posteriormente teve apoio da população e dos taxistas,
que protestavam contra o aumento da gasolina, assim a manifestação obteve proporções
bem maiores do que se esperava.
Resultados e discussão
Contudo, a revolta liderada pelos estudantes também foi noticiada em diversos jornais
na época, sejam os de circulação na capital ou em outras cidades. Os discursos
produzidos sobre a Novembrada e o espaço para noticiá-la em cada periódico foi
diferente, alguns se propuseram a apenas divulgá-la, enquanto outros fizeram uma
452
cobertura completa, documentando a manifestação e seu desenrolar, até o julgamento
dos estudantes presos como lideres do protesto.
Embora tivessem a mesma linha política, ligados ao PDS havia diferença na forma de
abordagem dos periódicos OE e JSC. O que ocorria era que o jornalista que cobria a
Novembrada pelo OE era um militante de esquerda, dando mais destaque aos estudantes
do que JSC, que oferecia “menos voz” a oposição. Geraldo Barbosa em entrevista
concedida a Sartori (2008) em 24/11/2003 comenta a cobertura feita pelo Jornal OE.
Esses moços não podem ser responsáveis pelo caldeirão fervente que é o
país hoje. [...] Julgados deveriam haver de ser o salário mínimo, o modelo
econômico, a dependência externa, o Governo elitista e a farsa política, estes
sim os verdadeiros responsáveis pelos acontecimentos. (JORNAL O
ESTADO, 4 de dezembro de 1979, p. 3)
OE deu ênfase à prisão dos estudantes, aos atos públicos pedindo suas libertações, e
procurou ainda depoimentos de familiares dos presos. Dentre suas matérias ele mostra o
posicionamento do MDB, que como oposição procurou tirar proveito da situação
ficando do lado do povo.
O jornal também exibiu depoimentos que relatam o protesto como não sendo apenas de
uma minoria, um deles foi do deputado arenista João Linhares.
454
No único discurso que fez durante a visita a capital -na churrascaria para
seis mil pessoas - o presidente, depois de lamentar o incidente ocorrido no
centro, afirmou categoricamente que “a primeira siderúrgica a ser
implantada no país, com a cobertura da Siderbrás, será a Sidersul, em Santa
Catarina. (JORNAL DE SANTA CATARINA, 1 de dezembro de 1979, p 4)
O JSC dois dias depois da Novembrada publica uma matéria dizendo que para o palácio
do planalto a manifestação já estava encerrada, declaração do assessor de imprensa do
Palácio, Marcos Kramer. A declaração era na tentativa de minimizar o episódio, e o
jornal acabava por ajudar.
Considerações finais
A imprensa foi por muito tempo a única fonte na pesquisa sobre a Novembrada, porém,
como colocam Cruz e Peixoto (2007), é importante analisar a ideologia da objetividade
e da neutralidade da imprensa, pois como é construída historicamente, deve ser
confrontada em ser ou não um dado de realidade. No entanto, sabe-se que a “verdade”
nas matérias dos periódicos, é somente as suas múltiplas formas de abordagem do
assunto. Desta forma, através da análise apresentada neste texto, é notável uma
contrariedade ao processo de redemocratização que havia em 1979, pois os jornais não
davam espaço para a oposição, com exceção do OE que procurou neutralidade.
Investigar a Novembrada tendo como fonte a imprensa nos mostra a mesma não
comprometida com a imparcialidade, mas, sim com os interesses políticos.
Referências
455
DE LUCA, Tânia Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In PINSKY,
Carla Bassanezi.(Org.) Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
ARQUIVOS
456
PRÁTICA DE HISTÓRIA E TECNOLOGIAS DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO:
POSSIBILIDADES PARA O PROCESSO DE
ENSINO E PESQUISA ATRAVÉS DA INTERNET
Paulo Henrique de Souza Martins
Um primeiro elemento digno de nota é que a maioria dos alunos que ingressam na
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA são residentes em municípios da zona
noroeste do Ceará e deslocam-se para Sobral todos os dias em viagens longas e
exaustivas. A possibilidade de desenvolver uma disciplina em que as discussões,
leituras, atividades individuais e em equipe possam ser realizadas sem a necessária
reunião presencial e sincrônica da turma, através da utilização da internet, surge como
uma perspectiva não só de inovação cada vez mais premente nos dias atuais.
Uma das atividades procurou simular um debate em sala de aula. Para tanto, criamos um
grupo fechado no Facebook. Ali postei uma matéria publicada na revista de História da
Biblioteca Nacional, e levantei um questionamento/provocação para os alunos
debaterem, com o compromisso de todos apresentarem pelo menos uma contribuição
original e duas interações com os demais colegas. A atividade durou uma semana e foi
um sucesso, visto que da questão original, outras perspectivas foram surgindo à medida
em que o debate ia avançando. De forma virtual, conseguimos desenvolver um debate
que também poderia ocorrer presencialmente, mas agregamos sugestões de matérias,
vídeos no youtube, referências de pesquisas acadêmicas, etc.
Outro recurso utilizado foi uma atividade de produção textual colaborativa, em rede e
com tecnologia de acesso em nuvem. Criei um documento editor de texto para cada uma
das equipes existentes em sala na plataforma google drive. Com os convites via email,
agreguei todos os membros de cada equipe em seu respectivo documento, sendo eu
mesmo integrante de todas as equipes. A proposta é que virtualmente, cada equipe fosse
capaz de desenvolver um texto único sobre uma temática ligada à história, dialogando
entre si, corrigindo-se mutuamente, numa palavra, interagindo sem as “amarras” de
terem que se encontrar no mesmo lugar físico ao mesmo tempo. Cada um, ao seu
tempo, apresentaria suas contribuições no processo de construção do texto. Como cada
edição feita por qualquer dos integrantes ficava registrada no histórico de modificações,
ainda era possível para mim verificar a efetiva participação individual dos membros
numa produção que era afinal, coletiva.
Pensando na dificuldade logística que seria proporcionar uma visita aos principais
museus de história no Brasil, propus uma atividade que basicamente seria levar os
museus para sala de aula, através do recurso virtual. Nessa atividade cada equipe
pesquisaria na internet museus virtuais, “visitando-os” para compreender seu
funcionamento. Após isso, preparariam uma aula expondo para os demais colegas as
características do espaço, acervo, histórico da instituição e outras informações que se
fizessem necessárias. Desse modo, a turma poderia fazer uma incursão num museu
através da internet, de modo que vários assuntos trabalhados em aulas do ensino
fundamental e médio poderiam ser planejadas levando em consideração esse recurso. O
site eravitual.org se mostrou como uma interessante ferramenta nessa atividade.
Ainda na perspectiva da pesquisa, mas não somente restrita a essa, pensamos noutra
atividade que somente é possível graças à internet: redes de interação entre profissionais
de história. Esperamos desenvolver uma atividade que explore recursos abertos pelo site
http://www.cafehistoria.com.br/ que reúne professores, historiadores e alunos de todos
os níveis interessados na área. Outra rede social interessante é o
https://www.academia.edu/ mais voltado para o compartilhamento de papers e
estabelecimento de contatos e interações entre profissionais e instituições de todo o
mundo.
459
A LITERATURA NO ENSINO DE HISTÓRIA: O
DOCUMENTO, OS CUIDADOS E A PRÁTICA
Rafael Marcelino Tayar
Através de mudanças graduais, o ensino de história foi atualizando-se para práticas mais
abrangentes, assimilando conceitos da Nova história, corrente historiográfica
pertencente a terceira geração da Escola dos Annales. Tal corrente tem foco na
ampliação diversificada daquilo que pode ser considerado documento histórico, assim
como na interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento; logo, intensifica-se a
importância das representações coletivas e das estruturas mentais das sociedades. Desta
maneira, o documento histórico amplia-se, do mesmo modo que amplifica a voz do
povo, que outrora não sentia-se representado pela história, produzida numa perspectiva
excludente.
460
para passar nos exames. Demos ampla absolvição à juventude. A história
como lhes é ensinada é, realmente, odiosa... (MENDES, 1935, p.41)
461
real, ou o mais próximo disso possível. Mas, mesmo esta diferenciação perde força na
literatura, sendo refutada pela “evidenciação da força das representações do passado que
a mesma produz. (CHARTIER, 2009, p. 24)
O conhecimento histórico pode ser definido de diversas maneiras, até mesmo com
funcionalismos diferentes. Os marxistas definem que o estudo do passado serve como
um instrumento de combate das injustiças e das desigualdades atuais, logo, o historiador
cumpre sua função sendo um intelectual orgânico gramsciano. Mas a história não
necessariamente precisa ser um instrumento político, assim ela é considerada por outras
vertentes como forma específica de conhecimento que busca a compreensão do passado.
É de suma importância que o professor esteja ciente acerca das possíveis reações que os
alunos terão no contato com a literatura. Para evitar dificuldades extras, é necessário um
contato interdisciplinar com o professor da disciplina específica para saber se o material
escolhido é acessível para os alunos; acessível em sua linguagem, mas também a
respeito de sua disponibilidade na escola.
O professor deve também delimitar com clareza o problema que os alunos irão estudar,
e o motivo de uso de fontes literárias; conhecer sua fonte e a recepção crítica da obra,
entender o contexto sociocultural contemporâneo à fonte é mais relevante do que
esmiuçar a estrutura do texto. Texto e contexto se complementam. Por isso, é
indispensável que, antes de partir para o uso da literatura, o professor selecione o
conteúdo escolhido e o exponha por meio de um material escrito ou mesmo uma aula
expositiva. Desse modo os alunos estarão mais íntimos acerca do conteúdo, e poderão
exercer um discurso crítico desenvolvido por si próprio.
São estas características da vida privada, que fazem da literatura uma ferramenta de
aprendizagem diferenciada quando comparada aos recursos básicos, como o livro
didático, que apresenta ao seu modo, uma história distante, dissociada do meio social do
aluno, que por vezes, pode achar a mesma desinteressante. Assim a literatura pode
estimular o sentimento de pertencimento, sentindo-se de fato um agente histórico.
Penso que de tudo que as escolas podem fazer com as crianças e os jovens,
não há nada de importância maior do que o ensino do prazer pela leitura. A
leitura é a chave para abrir as avenidas do mundo, sem ela somos seres
ilegíveis. (ALVES, 1999, p.61)
Referências Bibliográficas
MENDES, Murilo. A história no curso secundário. São Paulo, Gráfica Paulista, 1935.
463
SILVA, K. V; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto,
edição n. 2, 2006.
464
HISTÓRIA E MÚSICA: A MÚSICA COMO
FERRAMENTA DE ENSINO
Ramon Gustavo Becker
Tendo em vista que a musica é muito presente no cotidiano brasileiro, trabalhar música
em sala de aula possibilita articular uma ponte entre as matérias da sala de aula e o dia-
a-dia do aluno, pois este é um problema enfrentado no âmbito da educação atual. Esta
contextualização permite uma melhor assimilação por parte do aluno temas estudada,
dando um norte ao processo educacional. Nesse contexto podemos incorporar a música
como ferramenta de contextualização, como por exemplo, o hip hop e o samba, que
acaba sendo uma forma de resistência, em primeiro momento, negra contra o homem
branco, e na atualidade contra a desigualdade social, herança do regime escravista.
A origem do hip hop remete a uma combinação entre os ritmos africanos, que foram
trazidos pelos escravos e mantidos durante o cativeiro, o blues, que surge no início do
século XX, como forma de protesto contra a opressão e que, além disso, ia contra os
padrões musicais da época, pois sua construção musical era extremamente simples e
muitas vezes ia contra os padrões e regras da musica erudita, o spiritual, é a vertente
musical que reproduz e faz releituras dos cânticos que os escravos usavam para falar e
código entre eles e reafirmar sua religiosidade, o soul, que emerge nos anos 60, como
outra manifestação musical negra, com base no blues e no spiritual, porém se diferencia
pelo uso de recursos vocais, como os shouts, característicos deste estilo, o reggae, este
estilo de musica representa o espirito de luta e cotidiano jamaicano e ao chegar nos
Estados Unidos junto com os imigrantes que buscavam melhores condições de vida,
porém devido a falta de oportunidades, acabavam por se concentrar nos ghettos, onde
entraram em contato com outras expressões já citadas, e o funk, que utiliza um ritmo
mais lento, e na dança utilizava passos mais soltos e sexy.
Já no Brasil podemos encontrar como exemplo de música dos negros, o samba, que foi
concebido no recôncavo baiano, e se concretizou como tal no Rio de Janeiro, a musica é
construída a partir dos ritmos africanos, acompanhado pelo cavaquinho e o violão, e
assim como os ritmos estadunidenses, tinham suas letras baseadas na vida cotidiana.
Com a abolição da escravidão os recém libertos ex-escravos se deslocaram para as áreas
urbanas. O Rio de Janeiro na época por ser uma cidade importante para a administração
federal era um local que proporcionava mais possibilidades de sobrevivência. Os
mestiços e os negros, formavam na época, uma classe social marginalizada, sendo
assim, sua cultura também era tratada como inferior, como descreve Guimarães (1999,
pg 29).
Fato esse que tornava o samba em meados dos anos 20 uma forma de baderna e
atividade de vagabundos e era fortemente repreendido pelas forças da lei.
O primeiro samba a chegar ao mercado fonográfico foi a música pelo telefone, devido
ao seu grande sucesso, com o passar do tempo houve uma expansão do gênero musical
o que fez com que no início dos anos 30 quase todas as estações de rádio estivessem
tocando o estilo. Além disso a revolução de 1930 ajudou a tornar o samba mais popular
nas décadas subsequentes e também foi colocado um símbolo da cultura nacional,
como ressalta Diniz (2006, pg 16).
Com essa discussão torna-se possível abordar aspectos da realidade dos educandos em
sala de aula, por exemplo, o rap. O rap foi criado como parte da cultura hip hop, que era
um movimento que englobava o grafite, arte de fazer pinturas em muros e locais
públicos, geralmente abordando temas sociais, o break e o rap que é um estilo musical
onde não se há a utilização de instrumentos, dando mais foco nas letras que geralmente
remetem ao estilo de vida das regiões urbanas mais pobres, como colocado por
Guimarães(1999, pg 154-155) .
Quando o rap chega ao Brasil através da influência do break nos bailes black nas
periferias da cidade de São Paulo logo ganha cunho social e passa problematizar o
cotidiano dos moradores das favelas e periferias, abordando questões como a ação
violenta da polícia nesses meios, a falta de oportunidades que levava ao crime e aos
vícios em drogas. Partindo deste principio, a proposta procura aplicar a musica como
base para as discussões em sala de aula, tornando as aulas mais interativas entre alunos
e professor. Acredita-se que ao abordar temas tão presentes na vida dos educandos têm-
se a possibilidade de fazer com o que os mesmos compreendam como se dão os
processos históricos e consigam perceber a importância do estudo da História, já que
através da ciência histórica pode-se problematizar o passado para compreender o
presente e se ter a possibilidade de perspectivar o futuro.
466
Durante as aulas tornou-se possível perceber como tratar de assuntos os quais os
educandos já obtêm um conhecimento prévio quebra o cotidiano tradicional de uma sala
de aula, onde se tem uma participação mais efetiva por parte dos mesmos e se tem aulas
mais lúdicas sem perder o foco da discussão, pode-se usar como exemplo a discussão
que se teve em sala de aula com educandos do sétimo ano do Colégio Estadual Astolpho
Macedo Souza no qual os acadêmicos do PIBID de História – África na Escola da
Universidade Estadual do Paraná – Campus União da Vitória/FAFIUV atuam,
discussões na qual os alunos conseguiram se posicionar de variadas formas sobre as
ações da polícia no meio em que vivem, entendendo o processo histórico da construção
do comportamento dos policiais e principalmente a resistência do negro perante a
opressão da sociedade.
Referências
CHANG, K. O’Brien. CHEN, Wayne. Reggae Routes: The Story of Jamaican Music,
Philadelphia: Temple University Press, 1998.
DINIZ, André. Almanaque do samba: a história do samba, o que ouvir, o que ler,
onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,2006.
GURALNICK, Peter. Sweet Soul Music: Rhythm And Blues And The Southern
Dream Of Freedom. Londres: MOJO Book, 2002.
SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: MAUAD Editora. 1998.
467
FOTOGRAFIAS ESCOLARES COMO FONTE: UMA
BREVE ANÁLISE DA ARQUITETURA DO IEPPEP
Thiago Rafael de Souza
Por lugares de memória, entendemos a partir do conceito de Pierre Nora, que são lugar
que têm ou adquiriram a função de manter viva a memória, são lugares simbólicos, onde
a memória coletiva se expressa e se revela. São espaços que carregam características de
cada conceito, são um vestígio da memória, e uma possibilidade de construção da
história. Lugares híbridos, mistos e mutantes (BREFE, 1996, p. 120) e servem para a
valorização da tradição e como solução para o problema da perda de identidade dos
grupos sociais.
468
Considerando o IEPPEP um lugar de memória, as fotografias escolares produzidas pela
instituição são expressões e representação de uma cultural institucional carregando
consigo uma variedade de significados que procuramos compreender através dessa
análise.
Conhecido como uma referência no ensino do Estado do Paraná, a instituição foi criada
em 12 de abril de 1876 com dois cursos: Escola Normal e Ginásio pelo então Presidente
da Província Adolpho Lamenha Lins.
469
Imagem do Instituto de Educação do Paraná na década de 1920 ou 1930. Fonte: Acervo
digital do Instituto de Educação do Paraná.
O prédio tem como características colunas grandes e janelas imensas com arcos em
cima, salas grandes, pé direito alto, uma escadaria grandiosa na entrada sendo destaque
da imensa fachada, levando a um saguão digno de um palacete e que reproduz a
imponência da sua arquitetura. Há também um vitral ao qual pode ser observado pelo
interior do saguão do colégio, um salão nobre, também conservado de maneira original,
com uma imagem do governador Dr. Munhoz da Rocha, cadeira com grandes encostos
e em ornadas, com muitos detalhes. Nota-se também um grande portão de ferro, cercado
por grades, proporcionando a vista da edificação. Realmente uma fachada imponente,
uma construção de grande porte para a década de 1920.
No saguão central é possível se ver nas paredes placas que contam a história da
instituição, muitas delas são homenagens recebidas. Nota-se também a riqueza de
detalhes nos acabamentos no teto, nas grandes portas e janelas e no corrimão logo na
471
entrada, com alguns entales. Observa-se uma riqueza nesses pequenos detalhes nos
acabamentos da construção, e toda essa composição revelam significados múltiplos que
envolvem essas instituições de ensino (SOUZA, 2001 p. 81).
Considerações Finais
Através das fotografias escolares, que se relevam traços dessa arquitetura voltada para
um espaço específico para as atividades de ensino, que são produzidas com diferentes e
diversas finalidades, revelando significados múltiplos que envolvem essas instituições
de ensino.
Referencias bibliográficas
BORGES, Maria Eliza Linhares. História & Fotografia. 3 ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2011.
BREFE, Ana Claudia Fonseca. Pierre Nora: da história do presente aos lugares de
memória. História: Questões & Debates, Curitiba, vol. 13, nº 24, jul./dez. 1996, p. 105-
125.
472
CHARTIER, Roger. A História Hoje: dúvidas, desafios, propostas. In: Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol. 7, n. 13, 1994, p. 97-113.
LE GOFF, Jacques. Memória. In. História e Memória. Leitão, Bernardo...[et. al.] trad.
4ª ed. Campinas, SP. UNICAMP. 1996.
473
DISCUTINDO A NOÇÃO DE FATO HISTÓRICO A
PARTIR DO ROMANCE O CRIME DE SYLVESTRE
BONNARD, MEMBRO DO INSTITUTO
Rodrigo Conçole Lage
Marc Bloch e Lucien Febvre irão dar origem ao movimento historiográfico chamado
Escola dos Annales, que o historiador Peter Burke (1991) classifica como sendo a
revolução francesa da historiografia. Os historiadores ligados a esse movimento foi
construído em cima de uma crítica a historiografia tradicional. Dentre as muitas
mudanças promovidas por esses historiadores temos a ampliação da noção de fonte
histórica: “A nouvelle histoire francesa fez uso de novas fontes de modo a responder às
novas questões que seus praticantes colocavam para o passado” (BURKE, 1997, p. 4).
Como os alunos veem o que é registrado nos livros de História? Aceitam passivamente
o que é ensinado pele professor ou questionam o que está nos livros? Como o professor
vê o conteúdo a ser ensinado? Vê nele a verdade a ser transmitida e memorizada ou
apenas uma visão dos fatos, passível de ser problematizada. Ele deve se limitar a
reproduzir o que está nos livros ou deve analisar criticamente seu conteúdo e assim
ensiná-lo de modo a formar alunos críticos?
Essa noção de fato histórico é muito útil, pois, por meio dela, o professor pode discutir
com os alunos o porquê de alguns assuntos não serem tratados pela História. É um
forma de levar os alunos a verem a história “como um processo social, no qual sujeitos
produzem o mundo por meio da mediação cultural” (CARDOSO; VAINFAS, 2012, p.
474
279). E que, sendo construída por sujeitos, a exclusão desses sujeitos da História não é
aleatória, mas tem um sentido. Discutir a exclusão da atuação da mulher ou dos
indígenas, por exemplo, é de fundamental importância.
No romance, Gélis discorda de Bonnard, que defende a ideia de que a História é uma
ciência, o que o leva a discutir a própria noção de fato histórico. O professor poderia dar
o trecho do romance para ser lido e depois discutido, antes mesmo do ensino da história
propriamente dita. Isso permitiria aos alunos ver o conteúdo do livro didático não como
uma mera reprodução do que aconteceu no passado, mas como algo construído pelos
que o escreveram e passível de crítica. O trecho a ser trabalhado diz:
475
Por fim, o último ponto a ser abordado é a questão da veracidade do que é ensinado.
Uma matéria de jornal pode ser utilizada para o ensino da história? De que forma o
aluno vê uma notícia de jornal. Como uma descrição fidedigna dos acontecimentos? Ou
a lê de forma crítica? Até que ponto uma fonte ou um relato histórico tem todo o valor e
toda a autenticidade que o professor ou o historiador lhe confere? Trabalhar com
diferentes textos sobre o mesmo assunto é uma forma de o professor levar o aluno a ver
que nem tudo o que ele lê é necessariamente verdade O ponto mais importante,
levantado pelos questionamentos apresentados no romance, é o da necessidade das
discussões teóricas para a pesquisa e o ensino da história. Do contrários, teremos uma
visão muito ingênua do que ela é.
Assim, por tudo o que foi dito, podemos dizer que a utilização da literatura como fonte
para discussões relativas ao ensino da história, assim como a prática do historiador,
pode nos permitir lançar um novo olhar sobre as questões levantadas e sobre a própria
prática pedagógica e o ofício do historiador.
Referências:
________. Gilberto Freyre e a nova história. Tempo Social, São Paulo, v. 9, n. 2, p.1-
12, 1997. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/86687>.
FUNARI, Pedro Paulo A.; SILVA, Glaydson José da. Teoria da História. São Paulo:
Brasiliense, 2008.
476
REFLEXÕES SOBRE AS POTENCIALIDADES DO
USO DO CINEMA EM SALA DE AULA: RELAÇÕES
COM O ENSINO DE HISTÓRIA
Rodrigo Luis dos Santos
477
Tendo em vista as competências e habilidades que o ensino de História deve buscar
cada vez mais despertar nos alunos (embora estejamos vivendo um tempo de incertezas
quanto ao papel da História e de outras disciplinas na Educação Básica brasileira), a
análise fílmica, se bem orientada e conduzida, tende a colaborar significativamente para
uma melhor compreensão histórica e de mundo social na atualidade. Segundo Kátia
Abud,
Referências
478
ALVES, Giovanni; MACEDO, Felipe. Cineclube, Cinema& Educação. Londrina:
Práxis, Bauru: Canal 6, 2010.
479
A MÚSICA COMO FONTE HISTÓRICA:
APRENDIZAGEM NO ENSINO DE HISTÓRIA
Ronilson Oliveira Paulino
Introdução
Esse artigo tem como objetivo levantar questões e apresentar sugestões acerca do uso da
música como recurso didático-pedagógico nas aulas de História. Pois os elementos da
música como o som, ritmo, melodia, acabam por contribuir e até mesmo facilitar o
processo de ensino aprendizagem, na comunicação, interação entre alunos e professor.
Devido a esse contato dos jovens com a música, pode acabar favorecendo a entrada para
um caminho de aproximação dos alunos com o trabalho envolvendo canções.
Por este motivo lembramos e queremos aqui destacar que como outra atividade, o uso
da música deve ser planejado antecipadamente, o aluno precisa antes de tudo,
compreender a matéria ensinada para poder fazer ligações da mesma com a música
trabalhada.
Desenvolvimento
A música nem sempre foi considerada como um documento histórico, uma vez que a
história do século XIX era voltada para uma escala positivista, onde os autores só
descreviam os fatos, sem fazer interpretação destes.
480
Desta maneira novos assuntos foram introduzidos na história, como cinema, festas,
musica, o cotidiano as mentalidades, etc.
Buscando desta forma despertar o senso crítico do aluno, permitindo que ele
compreenda a sua realidade em uma dimensão histórica, identificando mudanças,
resistências e permanências, da qual o indivíduo possa situar-se.
Durante a ditadura militar a musica ganhou grande repercussão no Brasil, de artistas que
através da letra das músicas, denunciavam e emergiam o que estava acontecendo
naquele período, as escolas procuram sempre trabalhar com músicas quando se trata de
ditadura militar, pois, muitos foram os artistas que engajaram na luta contra esta fase
turbulenta na história brasileira.
Segundo David (2010?, p.106) Uma técnica que vem apresentando bons resultados
consiste no desdobramento do trabalho em três momentos básicos: audição sem a letra,
audição com a letra e canto. Pode ser desenvolvida da seguinte forma:
Audição e análise da música (sem que a letra tenha sido entregue para os
alunos), quantas vezes se fizer necessário, para que os mesmos se
manifestem em relação ao que ouvem: melodia, ritmo, instrumentos, cantor,
tema da música e em seguida anotem as palavras que consigam perceber.
482
Considerações finais
Contudo, é importante frisarmos que a música tem um grande papel na vida das
pessoas. Visto que agregadas aos temas esclarecidos e explicados pelo professor, se
torna uma importante ferramenta de complementação e dinamismo nas aulas de
quaisquer áreas.
Sabemos que nem todos os alunos tem a mesma facilidade para aprendizado que outros,
no entanto o que o aluno não compreendeu na aula ou até mesmo o assunto abordado
não lhes interessou, quando o professor complementa com a música , a história
realmente muda de figura. O que se nota é que em sua maioria os alunos já tem acesso a
qualquer estilo de música, é quando dinamizado pelo professor é muito bem aceita pelos
alunos.
Referências
DAVID, Célia Maria. Musica e ensino de história: uma proposta. São Paulo: Unesp,
2002
REIS, José Carlos. A história entre filosofia e a ciência. Belo horizonte: autêntica,
2004.
SEKEFF, Maria de Lourdes. Da música seus usos e recursos. 2ª Ed. São Paulo:
UNESP, 2007.
483
NOTAS ACERCA DA PROPOSTA DE
TRATAMENTO TÉCNICO, HIGIENIZAÇÃO E
ORGANIZAÇÃO DO ACERVO DA REDE
FERROVIÁRIA FEDERAL NO IFPR, CAMPUS
UNIÃO DA VITÓRIA
Vitor Marcos Gregório
Elisângela Mota Pires
Ana Vitória Kozan Kiedes
Julien de Paula
Mariana Hirsch Leandro
O historiador francês Jacques Le Goff lembra, em sua obra “História e memória”, que
são dois os tipos de materiais aos quais se aplica a memória coletiva e a história, sua
forma científica: os documentos e os monumentos. De acordo com sua definição, os
monumentos – heranças ou sinais do passado – nada mais são do que “tudo aquilo que
pode evocar o passado, perpetuar a recordação”. Neste sentido, uma de suas
características centrais seria a capacidade de vincular-se ao poder de conservação,
voluntária ou não, da memória das sociedades históricas (LE GOFF, 1990, p. 535-536).
Por seu turno o documento, fruto direto de uma escolha consciente do historiador
(responsável por elegê-lo enquanto mediador entre seus próprios questionamentos e o
passado no qual elege buscar respostas), tem como característica atuar como uma
espécie de testemunho inconsciente (ou consciente) dos fatos passados, permitindo
seguir passos que não mais podem ser contemplados na areia do tempo sempre corrente
e fugidio, reconstruir realidades que, não fossem por estes vestígios buscados
incessantemente pelos cientistas do tempo idos, não mais poderiam ser conhecidas ou,
sequer, vislumbradas (IDEM, p. 537).
Tratam-se, claro está, de definições que colocam no sujeito que indaga o papel de
protagonista do processo de reconstrução histórica, que colocam como necessário fator
determinante das respostas aferidas os questionamentos formulados pelo observador e
seu direcionamento aos elementos que medeiam entre ele, ser concreto filho de seu
tempo e dotado de capacidade reflexiva e o passado, realidade apenas intuída que se
manifesta concretamente apenas nos vestígios que de si legou àqueles que vieram
posteriormente. Neste sentido, como bem defenderam os fundadores da revista
“Annales d’Histoire économique et sociale”, precursora da famosa “Escola dos
Annales”, nem monumentos e tampouco documentos precisam se constituir,
necessariamente, apenas de materiais escritos, uma vez que é da capacidade de análise
do historiador que resultará as respostas que oferecerão com relação ao passado que
representam. Segundo Lucien Febvre, “a história faz-se com documentos escritos, sem
dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se, sem documentos
484
escritos, quando não existem. Com tudo que a habilidade do historiador lhe permita
utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores habituais. Logo, com palavras.
Signos. Paisagens e telhas. Com as formas do campo e as ervas daninhas. Com os
eclipses da Lua e a atrelagem dos cavalos de tiro. Com os exames de pedras feitos pelos
geólogos e com as análises de metais feitas pelos químicos. Numa palavra, como tudo o
que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve o homem, exprime o homem,
demonstra a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem.”
(FEBVRE, 1949, p. 428).
Não há história, portanto, sem a capacidade reflexiva do observador. Mas não há, do
mesmo modo, história sem a existência de vestígios monumentais que possam ser
transformados – pelo questionamento realizado – em documentos. Sendo a história
apenas a forma científica da memória coletiva, aquela que mantém em si as informações
que nos permitem compreender o ponto de partida, as causas e o modo pelo qual se
construiu a trajetória que nos trouxe até o presente configurando, deste modo, uma
determinada forma identitária única e irrepetível, fica clara a importância da
preservação destes vestígios para a conservação desta mesma memória. Transmutam-se
estes vestígios, definidores de uma determinada identidade grupal (que pode ser local,
regional, nacional ou supranacional) em patrimônios culturais, “conjunto de bens,
materiais e imateriais, que são considerados de interesse coletivo, suficientemente
relevantes para a perpetuação no tempo” [RODRIGUES, s/d, p. 48], expressões únicas
das vivências históricas de todo um povo e, portanto, instrumentos únicos para
compreensão deste mesmo povo.
O acervo da Rede Ferroviária Federal S/A – RFFSA constitui, pode-se dizer, um valioso
patrimônio histórico e cultural. Formado por um vasto conjunto de itens escritos e não
escritos das mais diversas épocas do século XX, permite reconstruir uma infinidade de
trajetórias históricas de indivíduos e grupos as quais, unidas, configuram um dos
capítulos mais importantes da história não apenas do Paraná e de Santa Catarina, mas de
todo o Brasil. Dentro deste conjunto mais amplo de incontáveis itens uma considerável
porção foi destacada e cedida ao campus União da Vitória do Instituto Federal do
Paraná, através de contrato de concessão negociado juntamente ao Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, Superintendência Paraná. A
escolha de nossas dependências para depósito deste material não foi aleatória. A região
na qual estamos inseridos deve muito de sua história aos trilhos da antiga Estrada de
Ferro São Paulo – Rio Grande, posteriormente Rede de Viação Paraná – Santa Catarina
e, finalmente, Rede Ferroviária Federal S/A. A Guerra do Contestado, que convulsionou
todo este território no início do século XX provocando mortes, destruição, e uma
divisão de ordem política que se mantém até hoje, teve na construção desta ferrovia um
de seus mais fortes motivadores. Do mesmo modo, foi através das locomotivas que por
aqui transitaram que chegou grande parte da riqueza responsável pela manutenção de
sua população durante décadas, e grande parte das construções oriundas do apogeu
deste meio de transporte ainda existem e servem, em boa medida, aos moradores das
duas margens do rio Iguaçu. Muitas das famílias aqui residentes possuíram um ou mais
membros trabalhando na estação e em seu entorno, e vários daqueles que outrora
garantiam a preservação da linha e o bom funcionamento das composições ainda se
encontram vivos para contar histórias daqueles tempos idos.
485
De fato, não foram poucas as oportunidades nas quais pudemos tomar contato com o
desejo de que medidas concretas para a valorização da história ferroviária de nossas
cidades fossem adotadas. Neste sentido a locomotiva Lima 1913, carinhosamente
apelidada “Maria Fumaça”, como outras tantas locomotivas a vapor ainda existentes
Brasil afora e atualmente desativada, foi sempre lembrada como um patrimônio
histórico de inestimável valor para toda a comunidade. Do mesmo modo, a ausência de
acervos e locais nos quais sua trajetória pudesse ser estudada com frequência surgiu
como a causa de sentidas lamentações por parte de nossos interlocutores. Estas
conversas, conjugadas à tomada de conhecimento da existência deste acervo (até então
votado ao estado de abandono nas dependências do prédio Teixeira Soares, antiga sede
da Rede de Viação Paraná – Santa Catarina, em Curitiba), levaram ao início de
negociações que duraram cerca de sete meses e culminaram com a concessão acima
mencionada.
Uma vez conquistada, era chegada a hora de pensar nos meios necessários para
disponibilizar esta importante documentação a toda a comunidade. Devido às suas
dimensões, ficou logo patente que tal objetivo não poderia ser alcançado através do
trabalho solitário de um docente (ao menos não sem requerer anos de trabalho do
mesmo, em paralelo com as suas atividades ordinárias realizadas no campus). Surgiu
daí a ideia de contar com a participação dos estudantes na empreitada a qual
proporcionará, além da diminuição do tempo necessário para a conclusão dos trabalhos
de organização e catalogação necessários para disponibilização do acervo para acesso
controlado de toda a comunidade, uma oportunidade única para realização de atividades
voltadas para a apropriação de conhecimentos úteis para a formação integral de nossos
jovens. Isto porque este projeto tem como pressuposto o reconhecimento de que não é
possível formar um cidadão plenamente consciente se não lhe forem apresentados os
processos centrais que definiram sua trajetória histórica, incentivando ao mesmo tempo
a reflexão crítica sobre essa mesma trajetória e sobre os modos de transformá-la
decisivamente, no sentido de tornar objetivamente melhores as condições de vida do
indivíduo e da sociedade na qual está inserido. Ao mesmo tempo, os trabalhos técnicos
relativos à higienização, organização e catalogação deste importante material
propiciarão maior integração entre o campus e o restante da sociedade, através da
realização de eventos periódicos de divulgação das atividades realizadas e, finalmente,
da recepção de todos aqueles interessados na história da ferrovia e desta grande região
em suas dependências, quando as atividades programadas estiverem concluídas.
486
patrimônio é colocando-o a serviço da comunidade, e é exatamente isso que a proposta
aqui apresentada objetiva realizar.
Com a presença destes documentos em nosso campus ganharão os estudantes, que terão
a oportunidade de manter contato com um acervo riquíssimo repleto de itens únicos,
muitos dos quais não disponíveis em nenhum outro lugar do país. Ganharão os
moradores de toda a região de Porto União da Vitória, que terão a oportunidade de
compreender sua própria trajetória através da consulta direta a um material que, se
estivesse em outra cidade, dificilmente poderia ser acessada. Ganhará o poder público
municipal, que passará a contar com um importante instrumento pedagógico e de
pesquisa disponível também para os estudantes das demais escolas públicas e privadas,
além das faculdades. E ganhará, em última instância, todo o Brasil, que poderá contar
com a preservação de um importante acervo que, de outra forma, muito provavelmente
seria irremediavelmente perdido como vítima do descaso e do abandono que já
vitimaram tantos outros insubstituíveis patrimônios históricos e culturais nos mais
diversos recantos do país.
Bibliografia
FEBVRE, Lucien. Vers âne autre histoire. In: Revue de métaphysique et de morale,
número LVIII. 1949, pp. 419-438;
487
POSSIBILIDADES DO ENSINO DE HISTÓRIA E
DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
CONTEMPORÂNEOS A PARTIR DAS NOVAS
TECNOLOGIAS
Valdenira Silva de Melo
Em relação ao ensino de História tendo como foco as novas tecnologias, Maria Vandete
Almeida (2016, p.81) discute vários conceitos sobre as redes sociais, porém, destacamos
o seguinte:
488
Desta forma, podemos dizer que trabalhar com as novas tecnologias no ensino de
História, é um grande desafio, visto que muitos docentes não sabem utilizar as
ferramentas multimídias. Destacamos também que assim como tem alunos que tem
acesso a internet e domina o mundo virtual, tem aqueles que não se enquadram nesse
padrão.
A partir da década de 90, segundo Almeida (2016), há uma intensificação das TIC’s e
com ela a redução da distância entre as pessoas e as nações, consagrando naquilo que
denominou-se de virtual. Essa rede de articulação virtual ganhou enormes proporções
que permitiu principalmente, a interligação entre os sujeitos sociais.
Essas estratégias de mobilização através das redes sociais permite uma linguagem de
ensino que busque analisar a História e os sujeitos sociais envolvidos nesse contexto de
forma crítica. Dessa forma, para trabalhar com os movimentos sociais contemporâneos,
é necessário evidenciar os interesses que estão implícitos nas informações veiculadas
pelas TIC’s, principalmente as mídias de massa (televisão e rádio). Analisar a
conjuntura política, econômica e social do país e relacioná-las as ações coletivas são
primordiais para compreender a atuação dos movimentos sociais.
Portanto, cabe ao docente historiador se valer dessa ferramenta e fazer uma reflexão em
sala de aula quanto a informação enquanto produto de um grupo social e político
construída para atender aos interesses do poder e do capital, e dessa forma poder
contribuir com uma aprendizagem significativa visto que o aluno parte dos
acontecimentos de seu tempo para a compreensão das estruturas políticas e sociais que
permanecem na vicissitude do poder.
Referências bibliográficas
490
GRIJÓ, Luiz Alberto. Mídia e poder no Brasil Contemporâneo: a democracia
sequestrada. In: XXVIII Simpósio Nacional de História. Lugares dos Historiadores:
Velhos e Novos Desafios. Florianópolis, 2015.
491
O ENSINO TEÓRICO-PRÁTICO DE HISTÓRIA
DAS REVOLUÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS NA
CONTEMPORANEIDADE: UMA ÓTICA A
PARTIR DO USO DAS MÚSICAS E DA
LITERATURA
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
Introdução
O Ensino de História tem se apresentado cada vez mais como um grande desafio na
contemporaneidade. Estreitar laços entre a História enquanto Ciência e a História
enquanto Disciplina, convenciona-se como um grande cisma historiográfico, o qual se
esbarra na bifurcação dos aspectos teóricos bem específicos da historiografia e os
aspectos práticos do cotidiano escolar. Dialogar teoria e prática com vistas ao ensino
tem sido o grande dilema dos historiadores, haja vista que entre o “querer” e o “fazer”
História existe um grande distanciamento. “Dito isto, convém entendermos que ‘o fazer
história e o ensinar história’ não são campos distintos do saber histórico, ambos
encontram-se imbricados e não devem se dissociar” (MELO, 2016, p.4).
Neste arcabouço epistemológico faz-se necessário discutir em sala de aula a História das
Revoluções e dos Movimentos Sociais a partir de uma perspectiva etmológica e da
história dos conceitos proposta por Reinhart Koselleck (2001; 2013), até porque para
Paul Veyne, fazer história é conceituar.
492
Todo conceito se prende a uma palavra, mas nem toda palavra é um conceito social e
político. Conceitos sociais e políticos contêm uma exigência concreta de generalização,
ao mesmo tempo em que são sempre polissêmicos.
Um conceito pode ser claro, mas deve ser polissêmico. "Todos os conceitos nos quais se
concentra o desenrolar de um processo de estabelecimento de sentido escapam às
definições. Só é passível de definição aquilo que não tem história" (NIETZSCHE). O
conceito reúne em si a diversidade da experiência histórica assim como a soma das
características objetivas teóricas e práticas em uma única circunstância, a qual só pode
ser dada como tal e realmente experimentada por meio desse mesmo conceito.
De acordo com as canções analisadas por Ipólito (2016), fica explicito dois momentos
distintos, com enfoques diferentes denominadas como "canções dos anos de chumbo" e
"canções de abertura", tais músicas nos permitem entender o contexto político e
econômico mencionados em suas letras. A análise dessas canções, permiti-nos também
um olhar crítico quanto aos sujeitos sociais envolvidos nesse processo, e nos remete a
importância do entendimento e utilidade dessas linguagens de ensino em sala de aula.
Considerações Finais
494
Referências
495
O ENSINO TEÓRICO-PRÁTICO DE HISTÓRIA
DAS REVOLUÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS NA
CONTEMPORANEIDADE: UMA ÓTICA A
PARTIR DO USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS E
DO CINEMA
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
Introdução
Em relação ao ensino de História tendo como foco as novas tecnologias, podemos dizer
que trabalhar com as novas tecnologias no ensino de História, é um grande desafio,
visto que muitos docentes não sabem utilizar as ferramentas multimídias. Destacamos
também que assim como tem alunos que tem acesso a internet e domina o mundo
virtual, tem aqueles que não se enquadram nesse padrão.
A partir da década de 90, segundo Almeida (2016), há uma intensificação das TIC’s e
com ela a redução da distância entre as pessoas e as nações, consagrando aquilo que
denominou-se de virtual. Essa rede de articulação virtual ganhou proporções que
permitiu principalmente, a interligação entre os sujeitos sociais.
Isto implica dizer, que ação de colocar os indivíduos numa teia de relações,
metaforicamente a rede mundial de comunicação, além de diminuir as distâncias
geográficas, estimula as organizações dos movimentos sociais contestatórios e de
reivindicações sócio-políticas produzindo atos e manifestações de massa, a exemplo dos
movimentos de Primavera Árabe, Primavera Egípcia e do “Vem pra Rua” no Brasil
(2013), que semelhantes a Revolução Mexicana de Francisco Madero, passaram a ter
dia e horários marcados para começar – atos possíveis mediante o uso das TIC’s como
ferramenta e fonte dos movimentos sociais.
Dessa forma, trabalhar o cinema em sala de aula requer certos cuidados metodológicos,
como o compromisso de o professor assistir antes, seja filmes, documentários,
reportagens, etc. e a partir daí fazer conexões com o tema em estudo. Há também a
possibilidade do trabalho interdisciplinar, conforme afirma Brunelo (2016, 104):
Partindo do pressuposto de que um filme não retrata fidedignamente uma dada realidade
tal como ela é ou foi, porque nada mais é do que uma representação, o filme pode ser
considerado uma importante fonte de pesquisa, uma espécie de produto cultural que traz
junto de si signos, entretenimento e emoções que precisam ser decodificados para serem
percebidos em sua essência (BRUNELO, 2016, p. 99-100).
Considerações finais
Partindo deste pressuposto, precisamos sem dúvida orientar nossos alunos, das diversas
possibilidades ao analisar as fontes (TIC’s e Cinema), pois os escritos são frutos da
construção do autor a partir de sua época e de suas experiências, práticas e suposições, e
cabe a nós professores, conforme nos diz Veyne (1998, p. 18), “simplificar, organizar e
fazer com que um século caiba numa página” e, de igual modo desenvolver o sentido
crítico e consciência histórica dos alunos quanto a temática da História das Revoluções
e Movimentos Sociais, a partir da conceituação, contexto social e desdobramentos
historiográficos.
498
Referências
LEITE, Miriam M. Texto visual e texto verbal. In: BIANCO, Bela; LEITE, Miriam M.
(Orgs.). Desafios da Imagem. Campinas: Papirus, 1998.
MELO, Wilverson Rodrigo Silva de. O Construtivismo e o uso das TIC’s: práticas para
a descolonização dos Currículos Escolares e incentivo à educação no contexto dos
direitos humanos e das relações étnico-raciais. In: VIII Congresso de Ciência e
Tecnologia da Amazônia e XIII Salão de Pesquisa e Iniciação Científica do
CEULS/ULBRA, 2013, Santarém. Pesquisa, Educação e Inovação. Santarém: Editora
do CEULS/ULBRA, 2013. p. 137-141.
499
500
AS ESCOLAS DE ÓBIDOS NA LUTA CONTRA A
DISCRIMINAÇÃO E O PRECONCEITO NO
ESPAÇO ESCOLAR
Adenilson dos Santos
Lucas de Vasconcelos Soares
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
Introdução
Sabe-se que é nos laços familiares que ocorre a primeira educação e certamente, é onde
a criança recebe as primeiras informações sobre essas diferenças, repassando-se em
alguns casos, informações rotuladas e preconceituosas. Porém, a escola precisa trabalhar
essas diferenças com o objetivo de conscientizar os alunos e seus familiares para que
tais práticas sejam superadas.
Nesse sentido, sabemos que a educação deve atender a todos os indivíduos e isso não é
uma exceção, mas sim um direito conquistado e garantido perante a lei. Assim, não
devemos esquecer que a educação é um direito de todos, tornando-se dever do estado e
da família proporciona-la e deve ser apoiada pela sociedade.
Com base nos documentos legais, direcionamos nosso olhar para a realidade escolar do
município de Óbidos para verificar se o direito a educação e o respeito às diferenças
estão sendo assegurados em nossas escolas. O estudo pretende mostrar através da
observação direta e das entrevistas realizadas como as escolas estão se organizando para
o enfrentamento de atos que atentem contra a dignidade dos alunos e dessa forma, como
estão contribuindo para a construção de um ambiente mais digno e igualitário, onde
cada criança seja respeitada e aprenda a respeitar o seu semelhante.
501
A atual realidade das escolas do município de Óbidos: o cenário passa por grandes
mudanças
Nesse sentido, sabemos que a escola não atua apenas sobre o processo de ensino-
aprendizagem de conhecimentos necessários para a sobrevivência na sociedade, mas
também como suporte para que o aluno possa construir sua identidade e, assim, compete
a ela um papel importante de combater essas discriminações e transformar o ambiente
em um espaço de convivência pacífica das diferenças.
Um ponto marcante nesse processo foi à criação da lei Nº 13.185 que estabelece
medidas de prevenção e combate à prática de intimidação sistemática (bullying). A nova
legislação estabelece que as instituições de ensino promovam medidas de
conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência, com destaque às
práticas de bullying ou constrangimento físico e psicológico, sejam elas cometidas por
alunos, professores ou outros profissionais da comunidade escolar. Assim, as escolas
502
são obrigadas a trabalhar essa temática na sua realidade e a partir desse compromisso
com a lei, novas ações e projetos voltados para a inclusão e o respeito às diferenças
estão surgindo nas escolas de Óbidos.
Essas ações foram desenvolvidas com base na realidade de cada escola, visando à
superação de práticas discriminatórias e contribuindo para o pleno desenvolvimento de
seus alunos, enquanto seres humanos. São iniciativas voltadas para temáticas que
norteiam discussões sobre as diferenças existentes entre os indivíduos e que promovem
no aluno uma reflexão de suas atitudes e de seu posicionamento diante de tais
diferenças, o que acaba reduzindo bastante o número de ocorrências de desrespeito entre
os mesmos e, assim, abolindo a presença de apelidos e insultos corriqueiros na realidade
escolar obidense.
Outra forma de conscientização frequente nessas escolas são as palestras que ocorrem
ao longo do ano e contam com participação de entidades públicas, como o conselho
tutelar, polícia, grupos religiosos, profissionais da saúde e outros. Nessas palestras são
trabalhados temas essenciais e presentes na realidade dos alunos, que vão desde a
violência até a orientação do respeito sobre as diferenças.
No geral, fazendo uma análise dos resultados obtidos, nota-se um grande avanço no
sentido de mudança, já que constatamos o empenho das escolas em se organizar na
busca por mecanismos e estratégias para adequarem a sua realidade e, assim,
transformarem em ferramentas que possam ser utilizadas no combate a discriminação e
o preconceito no espaço escolar. No entanto, para que as mudanças ocorram de forma
positiva, à escola precisa organizar-se conscientemente em colaboração com todos os
envolvidos para que juntos alcancem os seus objetivos.
Entretanto, vale ressaltar que as práticas discriminatórias ainda não foram totalmente
superadas, porém, as escolas estão caminhando rumo à concretização desse objetivo.
Nesse sentido, muito já se fez visando mudar a realidade, mas ainda sim é preciso ir
além, pois somente quando todos compreenderem que somos diferentes e que essas
diferenças precisam ser respeitadas será quando conseguiremos viver em harmonia
como seres humanos, deixando a discriminação e o preconceito na história e fixando em
nossa realidade o respeito e a paz.
Considerações finais
Referências
504
A IMPORTÂNCIA DA LEI 10.639/03 PARA O
RECONHECIMENTO DA CULTURA AFRO-
BRASILEIRA ATRAVÉS DAS MUDANÇAS
CURRICULARES
Aldaiane Correa Barbosa
Gracinete Mousinho da Silva
Wilverson Rodrigo S. de Melo
Introdução
Antes que qualquer legislação de apoio ao negro africano, ele era tão somente
considerado como mero colaborador, fornecedor de mão-de-obra barata e submetidos a
fortes castigos. Foi um processo longo e de muitas lutas para que conseguissem manter
seus valores, conquistassem sua liberdade e alguns pouco direitos, e essa luta persiste
até os dias atuais. É a busca de um povo pelo seu reconhecimento na sociedade
brasileira, vemos a participação do negro com suas influencias culturais por todos os
lados que olhamos. O Brasil é um país culturalmente diversificado, e a grandeza das
contribuições que isso proporciona à sociedade precisa ser conhecida e valorizada.
A lei 10.639, surge com o intuito de trazer reconhecimento a historia de um povo que
tanto influenciou na construção da história étnico brasileira, bem como por fim ao
preconceito, tornando-se assim, uma sociedade democrática.
As práticas escolares são vistas como instrumento para combater a desigualdade racial e
social, através das modificações de suas matrizes curriculares:
Com o exposto acima é possível analisar que a responsabilidade maior passar a ser do
professor, sendo que a educação é o caminho para construção de uma sociedade justa e
sem descriminação. Isso se evidencia na seguinte citação de Chervel (1990) citado por
(MELO, 2013, p.2) que defende que “uma lei por si só não seria o suficiente para mudar
506
ou inserir uma nova prática escolar, sendo necessário algo mais. É importante, mais que
isso necessário, que ela atenda a alguma finalidade real do universo escolar”.
No artigo de Melo (2013), em que faz uma Análise dos 10 anos de implementação e
aplicabilidade da Lei nº 10.639/03: conquistas, desafios e perspectivas na formação de
professores, o autor afirma que:
É de grande importância que a formação continuada dos professores seja eficaz, para
que não venha induzir o aluno a se tornar um mero repetidor de conteúdos pré-
estabelecidos, é necessário que professor se liberte do modo convencional de repassar
conhecimento, e passe a ver o seu alunado como seres capazes de produzir saberes,
como infere Krishnamurti (1994, p.15), citado por Melo (2013, p. 3) "o homem
ignorante não é o sem instrução, mas aquele que não conhece a si mesmo; e insensato é
o homem intelectualmente culto ao crer que os livros, o saber e a autoridade lhes podem
dar compreensão".
Considerações finais
Com esse estudo é possível observar que a lei 10.639 foi de fundamental importância
para a conquista de espaço pelo movimento negro nas relações sociais. Apesar dos
percalços enfrentados sua implantação serviu para valorizar a história de etnias
marginalizadas, e não há como negar, tudo que hoje o povo negro conseguiu alcançar já
é um grande avanço, se comparado a tudo que eles passaram a décadas sem voz,
considerados apenas como uma mão de obra servil, daí a importância de se modificar o
currículo escolar, bem como formar cidadãos que sinta essa influência, tornando-se
herdeiro de um povo que tem orgulho de sua cultura.
Embora haja uma lei que valorize o conhecimento da historia da África, se no professor
não haver o desejo de instigar o aluno a ver essa diversidade como parte pertencente de
sua vida social, de nada valerá o esforço feito, é necessário que o docente esteja
engajado junto com a escola em combater o preconceito existente na sociedade.
Referências
508
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A
HISTÓRIA DA ÁFRICA NO ENSINO
Aline Cândida de Araújo
De acordo com Lúcia Helena Oliveira Silva, o ensino da História e Cultura Afro-
Brasileira é fruto das distintas reivindicações de grupos militantes, que a partir do ano
de 2004, passaram a contar com as Diretrizes das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira, que segundo análises, é apontado como a primeira
grande política pública no país a trabalhar as relações étnico-raciais no ambiente
escolar.
Segundo Lúcia Helena Oliveira Silva, o Brasil é um país com uma grande diversidade
étnico-racial, resultado da formação socioeconômica que o colonizou. Segundo ela, a
divisão étnica coincidiu com as divisões sociais, estabelecendo binômios entre brancos
e livres versus negros e escravos. Nesse sentido, conclui-se que as diferenças culturais,
bem como as físicas, foram utilizadas como parâmetros de explicações para as
dominações criadas ao longo dos séculos.
A exemplo, podemos discutir a respeito das sociedades iorubás, que por sua vez, trata-
se de vários povos que vivendo no que é hoje o sudoeste da Nigéria, falavam variantes
do mesmo idioma, adoravam os mesmos deuses e tinham culturas semelhantes. Essas
sociedades desenvolvem sua religião em lugares sagrados, reservados para o culto de
determinado orixá. Xangô, por exemplo, é o orixá do trovão e o governador da justiça.
Odudua é o criador da Terra, ancestral dos iorubás. É através do mito, na sociedade
tradicional dos iorubás, que se alcança o passado e se explica a origem de tudo. É pelo
509
mito que se interpreta o presente se prediz o futuro, nesta e na outra vida. Como os
iorubás não conheciam a escrita, seu corpo mítico era transmitido oralmente.
Ao lecionarmos sobre a história da África, é importante destacar que não existiu império
em iorubá. O que existiu foi a presença de aldeias-estados que pouco a pouco,
transformavam-se em cidades-estados. A junção de diversos povoados numa unidade
que se reconhecia como tal, seria a crença em um antepassado comum. Assim sendo,
existe toda uma narrativa acerca da criação das dinastias iorubá baseadas no mito de
Odudua.
São obras como essas que possibilitam ao docente a inclusão de novas perspectivas para
o ensino de história africana, possibilitando ao mesmo desenvolver novas orientações
que privilegiam a valorização da história de uma sociedade que por vezes é ignorada. A
ideia do ensino de história africana tem por suas bases promover o desenvolvimento de
ações que gerem debates, e por consequência, promovam a inclusão. A escola por sua
vez, vai desempenhar o papel de mediadora dos conflitos sociais, sendo ela, o espaço
para a valorização de todos os grupos sociais. Nesse sentido, o ensino da história poderá
contribuir com o desenvolvimento das múltiplas análises críticas acerca da diversidade.
Referências
510
EINSER, Will. Sundiata, o leão do Mali: uma lenda africana/ recontada por Will
Einser; ilustrações do autor; tradução Antônio de Macedo Soares. – São Paulo:
Companhia das Letras, 2004.
RÜSEN, Jörn. História viva. Teoria da História III: Formas e funções do conhecimento
histórico. Editora UnB.
SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, 2 ed.
SILVA, Lúcia Helena Oliveira. Por uma história e cultura afro-brasileira e africana. IN:
CERRI, Luís Fernando. (Org.). Ensino de História e Educação. Olhares em
convergência. Ponta Grossa: UEPG, 2007.
511
A IMPORTÂNCIA E OS LIMITES DOS LIVROS
DIDATICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E
ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DO PIBID
SOBRE A LEI 10639/03
Aline dos Santos Oliveira
Luciene Alves Fernandes
O presente trabalho consiste em uma pesquisa de análise dos livros didáticos de Alfredo
Boulos Júnior, utilizados pelos alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, do
Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira, Caetité- BA. A referente pesquisa foi
desenvolvida pelos bolsistas de Iniciação à Docência no Subprojeto “A Formação
Inicial do Professor de História e sua Atuação na Escola Básica: o ofício do
historiador na docência” / PIBID/ Capes. E tem como objetivo compreender como
autor trabalha os conteúdos das temáticas africana e afro brasileira nas duas
modalidades de ensino acima citada, analisando as interfaces com a constituição das
memórias e das representações relacionando-se com a demanda necessária a partir da
obrigatoriedade da Lei 10.639/03 para Educação Básica
Dessa forma, a reflexão sobre o subprojeto, já citado, tem fomentado nossa inquietação
quanto ao papel que devemos desempenhar frente aos mais diversos problemas
enfrentados na construção do conhecimento histórico em sala de aula. É nesse
pressuposto que parte a nossa ação – analisar como Alfredo Boulos Júnior trabalha a
História da África. Nesse cenário, cabe ao nosso olhar de professor/historiador analisar
os conteúdos das temáticas africanas e afro brasileira no âmbito do Ensino Fundamental
II e do Ensino Médio, verificando qual a importância e os limites desses conteúdos nos
512
livros de História adotados pelo Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira. Este
trabalho foi realizado em parceria com a supervisora Jumara Carla e as bolsistas de
iniciação à docência Aline Santos e Luciene Fernandes.
Outro fato notório é com relação aos livros do 9º ano, onde os mesmos traz pouca
referência sobre a temática do continente africano, ilustrando somente a Independência
da África nos dezessete capítulos o que fica também evidenciado em apenas um e o que
é pior somente a metade desse capítulo é que contempla os conteúdos do continente
africano e em uma mísera folha no capítulo dezesseis menciona o levante popular na
África e no Oriente Médio, oportunidade esta que terá o professor de História de
associar essas realidades com a brasileira, num período de crise que passamos.
Quantos aos livros de História do Ensino Médio é perceptível que o autor traz nos três
volumes questões extremamente importantes sobre a África, que demandam uma
enorme discussão sobre o assunto, quando ele traz a questão da formação política
africana, os africanos no Brasil: dominação e resistência e a Independência da África faz
uma breve referência, na qual cada conteúdo é explorado em um número muito pequeno
de páginas com capítulos extremamente sucintos e o que é pior ainda, que no Ensino
Médio os alunos são contemplados com apenas duas aulas semanais.
Dessa forma, de um modo geral diagnosticamos nos livros Boulos uma eventual
referência da África com temáticas de suma importância e que não eram abordados em
volumes anteriores de outros autores, porém é interessante pensar que ele deixa algumas
513
lacunas e temáticas que deveriam ser trabalhadas e exploradas como por exemplo: os
sujeitos africanos, o cotidiano, a religiosidade de um povo.
Nessa perspectiva, o livro didático não deve ser um fiel escudeiro do professor, onde
nele se apoiam e depende única e exclusivamente de o livro didático para poder
compreender e repassar o conteúdo para os alunos, pois, a importância atribuída ao livro
didático em toda a sociedade faz com que ele acabe determinando conteúdos e
condicionando estratégias de ensino, marcando de forma decisiva o que se ensina e
como se ensina, o que se ensina (LAJOLO, 1996, p. 4).
É nesse sentido, que faz necessário uma tomada de consciência por parte dos
professores, ao planejar suas aulas buscar outros recursos para que os alunos possam ver
o conteúdo de forma diversificada, mas como também possa inserir no ambiente escolar
um debate crítico e coerente do mundo que o cerca.
Referência bibliográfica:
SILVÉRIO, Valter Roberto. Síntese da coleção História Geral da África: século XVI
ao século XX/ coordenação de Valter Roberto Silvério e autoria de Maria Corina Rocha
e Muryatan Santana Barbosa.- Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2013.
515
RELATO DE EXPERIÊNCIA: O RACISMO
DEBATIDO EM AULAS DE HISTÓRIA
Aline Ferreira Antunes
Este resumo expandido é um relato de experiência docente, que retrata uma atividade
desenvolvida com estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental da rede pública estadual
de Minas Gerais no ano de 2016, procurando atrelar a prática docente de história com as
teorias discutidas ao longo da disciplina de mestrado “Estudos alternativos em História
e Cultura”, vinculada ao Programa de Pós-graduação em História pela Universidade
Federal de Uberlândia (PPGHIS/UFU).
Para encerrar o conteúdo foi desenvolvido um trabalho em grupo cujo tema era “A
relação passado presente através de documentos históricos –os negros no/do Brasil”.
Os objetivos do trabalho proposto eram: de ser realizado em equipe, comparar
diferentes culturas e reconhecerem-se como sujeitos históricos a partir da formação do
estado nacional brasileiro no século XIX, por meio de um posicionamento crítico sobre
o sistema escravista, procurando valorizar as formas de resistência (quilombos,
sincretismo religioso), o papel dos africanos e seus descendentes como sujeitos
históricos que imprimiram marcas próprias à cultura brasileira, bem como as situações
diversas de racismo e preconceito presentes no Brasil atual, resultado do escravismo e
das relações étnicas estabelecidas desde o século XVIII/XIX.
Para Sidiney Chalhoub (2012), a escravidão no Brasil do século XIX foi enraizada na
cultura o que a naturalizou e normatizou. Com isto a liberdade se tornou algo duvidoso,
suspeito. Precisou-se construir uma engrenagem para tornar invisível essa ilegalidade da
516
escravidão e, portanto os próprios escravos. Enquanto o Estado era conivente com a
classe senhorial e os tráficos ilegais.
As perguntas para cada grupo eram as mesmas, porém com algumas variações para se
adequar ao documento selecionado para análise. Os grupos deveriam abordar: uma
análise do documento histórico escolhido: quem produziu? Quando? Por quê? Para quê?
Qual a crítica social presente no documento? Qual a relação passado-presente que
podemos destacar? O que o grupo pode ter como “lição para a vida” a partir da música e
do clip?
Por outro lado, houve a participação efetiva de estudantes que raramente fazem suas
atividades em sala de aula ou que participam das discussões da disciplina. Também foi
possível trazer à tona discussões sobre racismo, preconceito enquanto resultados de uma
política racial do século XIX que é o período estudado em questão no 8º ano, e como
isto marca a formação da identidade nacional brasileira; como podemos perceber essas
marcas em situações atuais cotidianas, inclusive dentro da escola ou em outros espaços
sociais que os/as estudantes frequentam.
517
A maior parte dos grupos percebe que a relação entre o passado e o presente através dos
documentos históricos que analisaram é que naquele, os negros eram escravizados e
neste, temos o resultado dessa escravização: preconceitos, ataques diretos, segregação,
violência (moral ou física).
Para o aluno B,
[...] a música traz uma grande crítica social e ao mesmo tempo uma grande lição
de vida para as pessoas que leem a letra e escutam a música: os negros podem
estar livres, mas ainda são vistos como escravos, mostrando uma alta taxa de
racismo e preconceito por essa raça que são só seres humanos como os brancos e
todos os outros. [...] Uma parte da letra me chamou atenção que é a “vá
representar uma ameaça à democratização” mostra exatamente a realidade do país
que é o Brasil, onde a maioria vence a minoria, onde a maioria são os brancos
quase sempre racista e a minoria os negros isolados do governo, sem voz e direito,
onde sempre será a mesma coisa se não mudar.
Sua redação cobra mais dos cantores, espera mais além da música, da escrita, espera
atitudes, ações, medidas mais objetivas com relação ao racismo e ao preconceito
existentes no país. Esta foi a única redação destoante e também a mais crítica pois, em
sua opinião a música é importante, mas não é o suficiente.
Percebe-se com este trabalho, ser possível utilizar as teorias acadêmicas para enriquecer
o conteúdo, as explicações e as argumentações com os estudantes da educação básica,
sobretudo por se tratar de temas tão delicados, que parecem distante temporalmente,
mas que ao mesmo tempo são atuais. Falar sobre o tema é um primeiro passo para
despertar críticas, análises, indignação das turmas e compreender que a formação da
identidade nacional no século XIX esteve pautada nas questões raciais, de nação e que
geraram consequências até hoje não superadas, tais como o racismo ou a violência
estatística contra negros e jovens no país.
Referências bibliográficas:
518
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 5. ed.
Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010.
519
CULTURA AFRICANA NO BRASIL A PARTIR DA
LEI 10639/03
Amábilis Cristina
Talita Mesquita
No Brasil é aceita a ideia de que somos um país formado por três raças: índios, brancos
e negros. Contudo, quando a história do Brasil é ensinada na escola, o estudante se
depara com fatos que narram apenas a trajetória dos europeus na América. Pouco se
sabe sobre os outros povos que ajudaram a formar a identidade do povo brasileiro.
Importante salientar que a lei 11.645 de 2008 além de incluir o estudo da história e
cultura dos povos indígenas, reforçou ainda mais a história da cultura africana. Assim, a
legislação passou a exigir a inclusão no currículo oficial da rede de ensino, a
obrigatoriedade do estudo de tais culturas.
Necessário se faz o conhecimento desta lei e o aprofundamento nas táticas que podem
ser aplicadas em sala de aula e até mesmo fora dela, para não só o ensino dos
estudantes, mas também no desenvolvimento dos mesmos, enquanto cidadãos.
O eurocentrismo, por muitos anos, predominou e esteve presente no textos clássicos que
fundaram a historiografia moderna no Iluminismo, distorcendo a visão dos europeus
acerca dos demais povos do mundo. Teorias do século XIX, como o evolucionismo e o
positivismo, podem ser considerados casos extremos deste provincialismo europeu,
autodeclarado como universalista.
520
Enquanto expressão da historiografia contemporânea, pós 2ª guerra, a História da África
é resultante de dois fatores – a renovação crítica das Ciências Sociais, em especial, na
historiografia; o crescente relativismo europeu diante de seus próprios valores.
Com a nova lei, em que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e
africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino
médio e com o auxilio da nova historiografia (conforme falado acima), vemos este
cenário mudando um pouco.
A Lei 10.639/03 propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura
afro-brasileira e africana. Por exemplo, os professores devem ressaltar em sala de aula a
cultura afro-brasileira como constituinte e formadora da sociedade brasileira, na qual os
negros são considerados como sujeitos históricos, valorizando-se, portanto, o
pensamento e as ideias de importantes intelectuais negros brasileiros, a cultura (música,
culinária, dança) e as religiões de matrizes africanas.
Com esta lei, também foi instituído o dia Nacional da Consciência Negra (20 de
novembro). Os livros didáticos (obrigatórios pelo PNLD) já estão quase todos
adaptados com o conteúdo da Lei, mas, como as ferramentas que os professores podem
utilizar em sala de aula são múltiplas, podemos recorrer às iconografias (imagens),
como pinturas, fotografias e produções cinematográficas.
A lei versa sobre importantes perspectivas que devem ser trabalhadas em sala de aula,
tais como, aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população
brasileira, a luta dos negros no Brasil, cultura negra e o negro na formação da sociedade
nacional e resgatar as contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes a
história do Brasil.
Entretanto, ao passo deste grande avanço, vemos o ensino ainda caminhando em marcha
lenta. Ainda se faz necessário conhecermos a cultura a fundo para entendermos nossa
própria história. Segundo Nascimento (2008,p.5), “a imagem distorcida da África, ou
sua omissão, nos currículos escolares brasileiros legitima e ajuda a erguer como
verdades noções elaboradas para reforçar o supremacismo branco e a dominação racial.”
A escola por ser este espaço onde há diversidade étnico-racial e cultural, tem a
responsabilidade na propagação confiável, na contribuição e no resgate da valorização
da cultura africana e afro-brasileira, tendo a obrigação de referenciar e tornar visíveis a
diversidade de sujeitos e de culturas que se fazem presentes em seu ambiente. Um viés
521
importantíssimo que deve ser tratado também é o racismo, preconceito e discriminação,
já muito conhecido na sociedade.
Essa visão deve-se a propagação desta imagem negativa transmitida pela televisão,
através de filmes e documentários, que ainda se cercando de uma visão eurocêntrica,
tende a mostrar somente uma parte da verdade.
São diversos empecilhos que dificultam colocar em prática a educação das relações
étnicoraciais. Romper com tais obstáculos não é um trabalho fácil, porém, não
impossível.
522
de forma conveniente, de forma a não gerar conflitos com o saber legitimado” (Silva,
1996, p.121)
Referências
523
PRECONCEITO RACIAL NO COTIDIANO
ESCOLAR: DESMITIFICAR PARA COMBATER
Ana Carla Matos de Oliveira
Márcia Coêlho Nogueira
Wilverson Rodrigo S. de Melo
Introdução
No Brasil o racismo foi encoberto por muito tempo em virtude de sua homogeneidade
racial, sobre a qual propaga-se o discurso de uma possível situação de equidade entre
negros e brancos. Esse ideário reforça o mito da “democracia racial” e nega as reais
condições sociais as quais os afrodescendentes são submetidos, inclusive constrói
barreiras que dificultam a afirmação de sua identidade.
A diversidade étnica que caracteriza a população brasileira não impede que certos
grupos sejam discriminados socialmente. Os processos da escravidão ainda estão
enraizados em nossa sociedade, fazendo com que a população negra seja marcada pela
exclusão, discriminação, dominação e exploração por grupos que se consideram de uma
etnia superior. Cria-se uma relação de explorados e exploradores.
Práticas educativas que ressaltem a real história do povo africano devem se tornar
corriqueiras na sala de aulas e não somente em eventos comemorativos. Faz-se
necessário desfazer a visão errônea de que os negros são descendentes de escravos, pois
do contrário ocorre uma naturalização da história do negro relacionada somente à
escravidão, ressaltando a superioridade da raça branca.
As primeiras relações sociais são vivenciadas no convívio familiar, mas é na escola que
as ampliamos em virtude da grande diversidade de grupos que convivem neste espaço,
portanto é de fundamental importância para a construção da identidade de um indivíduo.
“Infelizmente, é também um dos lugares em que o preconceito e a discriminação são
524
também desenvolvidos e alimentados, pois reflete os processos sociais da sociedade em
que o indivíduo está inserido” (FERREIRA; CARMARGO, 2011, p.378).
Uma das grandes dificuldades vivenciadas pelos docentes é a questão de como incluir
este tema em suas aulas de forma interdisciplinar. Diante desta problemática a escola
deve fornecer subsídios a esses profissionais através da formação continuada, pois
discutir tal temática,
Ao adentrar uma sala de aula, o professor traz consigo seus valores, portanto durante a
abordagem de qualquer conteúdo, suas falas sempre serão impregnadas de conceitos
pessoais. Então para se discutir o preconceito racial na escola, é preciso fornecer
subsídios teóricos a esses profissionais a fim de promover uma mudança de postura e de
ideias.
O primeiro desafio para uma educação antirracista deve ser iniciado na 1ª etapa da vida
escolar, a Educação Infantil. É nessa fase que a criança inicia a construção de sua
identidade, portanto, se uma criança negra sofre algum tipo de discriminação pode
carregar isso para o resto de sua vida como um trauma, inclusive pode levá-la a negar
suas raízes.
Desta forma, assim como a família, o professor também tem o papel de conhecer a real
história do povo africano, dissociando-o da escravidão, para incentivar a criança negra a
se reconhecer como negro e despertar nela um sentimento de pertencimento à sua
cultura. É preciso ter orgulho de ser negro.
525
Portanto, as salas de aula de Educação Infantil devem ser de fato um
ambiente prazeroso, onde são oferecidos estudos, trabalhados e todos os
tipos de materiais para que, através da observação, comparação,
classificação e reflexão, os estudantes possam descobrir a importância da
cultura, das manifestações artísticas, das crenças, rituais afro-brasileiras,
procurando se apropriar delas, e assim, construir conhecimentos históricos
importantes para a própria luta social já nas séries iniciais, percebe-se que
esta fase da escolaridade é fundamental para se dar início a valorização dos
valores humanos. (DUDA; COSTA, 2010, p.8)
É comum nas salas de aulas os docentes cometerem erros ao abordarem a cultura negra,
tais como: contar a história do negro a partir da escravidão, criar estereótipos referente
ao continente africano ligando-o à miséria, animais selvagens e doenças, tratar a questão
do racismo como um fenômeno exclusivo da disciplina História e não como um tema
interdisciplinar.
Considerações finais
Ao longo da história, os negros sempre lutaram para que o direito de igualdade fosse
posto em prática e com todas as transformações do mundo em virtude da globalização,
certo espaço foi conquistado, porém, ainda vivenciamos cotidianamente ações racistas
nos mais variados ambientes.
Segundo Ferreira & Camargo, 2011, p. 388, “a educação formal deve enfatizar nossas
raízes e a história do processo de formação do povo brasileiro nos currículos, além de
preparar os professores para poder enfrentar as situações de discriminação, comuns nas
relações entre alunos e professores”.
526
Portanto, manifestações discriminatórias no âmbito do espaço escolar provocam
agressões tanto físico como simbólica e traz como consequência a desvalorização das
características individuais. É fundamental que a escola resgate a autoestima e a
autoconfiança da criança negra através de práticas pedagógicas que visem reafirmar sua
identidade cultural e neguem veementemente a busca por um modelo socialmente ideal,
aceito por todos.
Referências
527
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, HISTÓRIA E
EDUCAÇÃO: DESAFIOS E POTENCIAIS NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DE
EDUCADORES SOCIAIS
Andréa Giordanna Araujo da Silva
Introdução
528
ERER: passos de uma luta histórica, necessária e permanente
[...] o ERER trouxe, para a vida de todos aqueles que dele fez parte, a
perspectiva de que é possível descontruir os estigmas introjetados na escola
e na sociedade, por meio de uma árdua luta de cientização do direito a
diferença. Esse aprendizado nos fez recuperar o sentido de nossas origens e
retomar as possibilidades da autoafirmação étnica, se reconhecendo na luta
do movimento negro e indígena do Brasil. (PEREIRA, RELATÓRIO DE
TUTORIA, 2014, p. 11).
530
Referências Bibliográficas
GOMES, Gustavo Manoel; MELO, Gian Carlo de. As religiões afro-brasileiras entre
interpretações e significados. Livro 4. Maceió: MEC/SISUAB, 2013.
QUEIROZ. Sandra Bomfim de. Capoeira! que jogo é esse?. Livro 2. Maceió:
MEC/SISUAB, 2013.
531
ENSINO DE HISTÓRIA INDÍGENA NA TRAMA
DA NARRATIVA HISTÓRICA DOS POVOS
KIRIRI
Ane Luíse Silva Mecenas Santos
Tudo começou em um dia de caça. Nos caminhos do sertão, um índio saiu para o mato,
empunhando seu arco e sua flecha. Ele era um índio Kiriri e naquele tempo, os índios
moravam no lugar distante, chamado “Igreja velha”. Sem encontrar a caça, o índio
andou pelas bandas do riacho da serra, até que viu outro índio acocorado, com as duas
mãos estendidas.
Pensando se tratar de uma caça, o Kiriri atirou-lhe uma flecha, que acertou uma das
mãos. Mas o nativo continuou acocorado, vivo, inabalável. O guerreiro Kiriri então
atirou-lhe outra flecha, que por sua vez acertou a outra mão. Com as duas mãos
ensanguentadas, o índio acocorado revelou-se como o deus Tupã.
Ao perceber que se tratava da presença de Tupã, o índio o levou para a igreja velha,
para que pudesse existir o culto dos demais nativos. Eles então construíram um tenda
para abrigar o deus Tupã e tornar possível o culto. Mas, para surpresa de todos, no dia
seguinte, Tupã não estava na tenda. Todos saíram a sua procura e o encontraram nas
imediações do riacho da serra, onde estava anteriormente. Os kiriri o levaram
novamente para a igreja velha, mas a cena se repetiu durante alguns dias. Diante do
impasse, o povo Kiriri decidiu seguir a vontade de Tupã e mudaram a sua aldeia para as
bandas do riacho.
Um dia, apareceram os jesuítas na aldeia. Eles logo fizeram amizade com os índios e
viram a imagem viva de Tupã. Impressionados, os jesuítas pegaram Tupã vivo e
levaram para o Vaticano, onde está até hoje. No lugar, trouxeram uma imagem de barro,
parecida com Tupã, mas não era viva. Essa é a imagem de Jesus Ressuscitado, deixado
na igreja nova de Sacos dos Morcegos. E Tupã está no Vaticano!
532
Essa é a síntese de uma das impressionantes histórias narradas pelos índios da aldeia de
Mirandela, no município baiano de Ribeira do Pombal. Liderados pelo cacique
Cristiano, os Kiriri buscam narrar o seu passado como estratégia de reafirmação
identitária e, certamente, constitui uma instigante leitura da história na sua perspectiva
inversa, como bem salientou Edward Thompson, “a história vista por baixo”
(THOMPSON, 2001. p.265.).
Os índios do sertão eram conhecidos por sua língua travada e de difícil compreensão e,
especialmente, pela sua barbárie e ausência de disciplina. No crepúsculo do século
XVII, a ação jesuítica se intensificou no sertão da América portuguesa e as cartas
produzidas pelos missionários seguiam refletindo suas preocupações em relação à
efetiva conversão e às expressões de fé e religiosidade dos indígenas. Na segunda
metade do século XVII, foram instaladas a aldeia de Nossa Senhora da Conceição de
Natuba (1666), Santa Tereza dos Quiriris, em Canabrava (1667), Nossa Senhora do
Socorro do Geru (1683) e Ascensão do Saco dos Morcegos (1691) (LEITE, 2004, p.
209). Os jesuítas atuaram nas missões do sertão - entre o Rio Real e o Rio São
Francisco - até a publicação do Alvará de 8 de maio de 1758, que ordenou que o
Ouvidor Miguel de Ares Lobo de Carvalho se encarregasse da elevação dos
aldeamentos à condição de vilas.
533
Essa narrativa histórica se apresenta sob o ângulo inverso da historiografia tradicional: o
Kiriri conta a história do seu modo, com sua perspectiva de tempo e de espaço, dentro
de sua lógica de pensamento. Para a escrita desse trabalho não foi pensando o cotejo
entre a oralidade indígena e os relatos dos escritos. Esses discursos não são fonte para o
presente trabalho, apenas nos evidencia a multiplicidades de histórias acerca da
conquista e do cotidiano das aldeias.
Desse modo, a proposta a qual apresentamos tem caráter preliminar, pois se trata de um
olhar gestado no âmbito acadêmico e que necessitará ainda passar pelo crivo dos
pesquisadores bolsistas indígenas, para assim se constituir uma proposta adequada
visualmente e metodologicamente às características inerentes ao povo Kiriri.
Nesse sentido, serão realizadas entrevistas no sentido que valorizem tanto a experiência
social individual dos Kiriri, como também as memórias coletivas e diferentes
apropriações do passado. Todas essas ações deverão ser registradas em fotografias e
vídeos, visando a elaboração do documentário e do catálogo.
534
existe uma problemática lacunar nos estudos elaborados no país: a pouca ou inexistência
de ênfase para o olhar do índio acerca da história.
Esse trabalho se insere no campo da história pública, pois valoriza os atores históricos
Kiriri no processo de construção mnemônica e nas suas habilidades de expressar as
narrativas históricas de seu povo. Com isso, o foco central é permitir a elaboração de
recursos que tenham como cerne a própria lógica de pensamento dos Kiriri, no sentido
de possibilitar o seu uso em instituições educacionais presentes na tribo, bem como no
fortalecimento de vínculos sociais da comunidade.
Referências bibliográficas
ALDEIA, Maria Regina Celestino de. Os índios na História do Brasil. Série História.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.
FUNARI, Pedro Paulo; PINÓN, Ana. A temática indígena na escola: subsídios para
professores. São Paulo: Contexto, 2011.
535
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
536
A LEI 10.639/03 E O ENSINO DE HISTÓRIA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES
Antonio Alves Bezerra
Face aos (PCNs) para o Ensino de História e seus desdobramentos no currículo escolar,
nota-se que a história deve focar os temas correlacionados aos quatro continentes:
Europa, América, Ásia e África, buscando contextualizar a cultura e as experiências de
lutas do povo africano e dos afrodescendentes. Assim, tem-se a expectativa de que, a
partir de então, os professores da educação básica sejam capazes de perceber a
importância de trabalhar junto aos estudantes da educação básica no sentido de
constituirmos um discurso de valorização da cultura dos afrodescendentes,
inviabilizando qualquer prática de preconceito ou racismo.
537
É urgente a necessidade de se trabalhar com os estudantes temas que viabilize o ensino
do Continente Africano como possibilidade de quebrarmos preconceitos eurocêntricos
até então cristalizados em nossa sociedade, em que se excluiu da história nacional as
contribuições dos povos africanos e indígenas na constituição de nossa formação.
Segundo Oliva (2011, p.185), “o estudo do Continente Africano aparece, quase sempre,
como palco das ações europeias e portuguesa, ou seja, como objeto histórico sem
autonomia”.
Mattos (2009, p.127) destaca os PCNs de história como um terreno fértil para se
disseminar ações que inviabilizem práticas preconceituosas e racistas no seio da
sociedade. Segundo esta, dada a relevância dos temas transversais nas práticas de ensino
na educação brasileira, com ênfase na “pluralidade cultural”, indica esses espaços como
ferramenta importante na luta de combate à discriminação racial e preconceitos étnicos.
Neto (2010, p.62) destaca que não basta ensinar o que foi a escravidão nas séries da
educação básica, é preciso atribuir sentido para este episódio. O autor explicita que é
preciso que o professor vá além da apresentação das condições históricas sobre o
sistema de escravismo no Brasil, sendo necessário que o docente de história aproxime a
temática à realidade social de seus alunos de hoje. Defende-se a ideia de que, ao
desenvolver no estudante a capacidade de refletir sobre o período histórico em que
houve a escravidão, deve-se proporcionar também a análise sobre a questão racial e a
desigualdade social no Brasil.
Entende-se que o espaço da sala de aula figura como lócus de possibilidades para se
alcançar as mudanças necessárias para uma educação étnico-racial satisfatória, pois
nesta se observa algumas interfaces dos preconceitos, racismos e desigualdades que
afetam parte da comunidade negra em todo o país, podendo, a partir da formação dos
estudantes e professores sobre essa África silenciada, alcançarmos a redução de parte
das mazelas sociais que minimizam as potencialidades humanas, notadamente, ao
negarmos uma história africana carregada de significados para nossa sociedade, que
apresentava, em 1993, segundo Fernandes (1996, p.157, p.160), “cerca de mais de 44%
da população denominada negro”.
O Parecer do CNE/CP nº 3/2003 determina que, para conduzir suas ações, os sistemas
de ensino, os estabelecimentos educacionais e os professores terão como principal
referência, as bases filosóficas e pedagógicas no que concerne à consciência política e
histórica acerca da diversidade cultural, destacando dentre outras questões, “à igualdade
básica da pessoa humana como sujeito de direito; à compreensão de que a sociedade é
formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem
cultura e história próprias... [...]”. (Parecer CNE no 3/2004).
Referências
______. Lei 10.639/2003. Altera a Lei 9394/96, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade
da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira, e dá outras providencias. (DOU.
Brasília, DF, 09/01/2003).
540
EDUCAÇÃO E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: A
LEI Nº 10.639/2003
Antonio José de Souza
Jane Adriana Vasconcelos Pacheco Rios
Outra experiência relevante, que empreendeu esforços por uma educação de qualidade
para os negros, foi o Teatro Experimental do Negro (TEN), que surgiu em 1944, no Rio
de Janeiro, fundado e dirigido por Abdias do Nascimento. Nesse percurso, despontou,
em 7 de julho de 1978, contrapondo-se à violência racial a qual eram expostos, o
Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNU). O MNU e outras
tantas experiências foram importantes para as lutas por uma educação que funcionasse
como instrumento de promoção da dignidade humana, atentos às demandas da
população negra e ao combate às desigualdades sociais e raciais, no decorrer do século
XX.
Nesse momento em que a cultura de direitos se ampliava para uma Cultura de Direitos
Humanos, o Movimento Negro reclamava pela igualdade básica de pessoa humana,
como sujeito de direitos, a partir da compreensão de que a sociedade é formada por
pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, possuidores de cultura e
história próprias, igualmente dignas e que, em conjunto, construíram a nação Brasil. Por
isso merecem a valorização da memória identitária dos seus povos, na composição
histórica e cultural brasileira, superando a desqualificação com que as classes populares
às quais os negros, no geral, pertencem, são comumente tratadas.
Compreendemos que a educação, como um direito que garante acesso a outros direitos,
tem a missão de disseminar a promoção da equidade humana, em resposta à lei que nos
garante a igualdade, repudiando a distinção de qualquer natureza e assegurando a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade –
Art. 5º, do capítulo 1º, dos direitos e deveres individuais e coletivos – Constituição da
República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988). Sendo obrigação do Estado proteger
as manifestações culturais afro-brasileiras e dos demais agrupamentos inseridos no
processo civilizatório nacional – Art. 215, seção II da cultura, inciso primeiro da atual
Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988).
De acordo com Paula e Guimarães (2014, p. 437), “essas iniciativas nem sempre são
acompanhadas de uma reflexão acerca das suas implicações potencializadoras de uma
produção de natureza teórico-científica sobre a formação continuada dos professores
com foco nesse tema específico”. Os autores basearam-se em um estudo que objetivava
analisar, em artigos publicados em revistas especializadas na área de educação, como as
questões étnico-raciais apareciam na formação de professores/as. As análises
demonstraram que raramente os estudos relativos ao tema incorporavam, em suas
reflexões, as categorias de raça, etnia, preconceito e discriminação. Desse modo, os
autores evidenciaram que as questões em torno das relações étnico-raciais eram
marginalizadas ou invisibilizadas, na educação, especificamente na formação
continuada dos/as docentes, isso antes da aprovação da Lei federal nº 10.639/2003.
542
Por isso, a formação de professores/as deve ser encarada como uma das principais metas
das políticas públicas governamentais, bem como das ações empreendidas por
instituições de fomento à educação. Afinal, a omissão concernente ao estudo da cultura
afro-brasileira, ganha longevidade quando se instalar também no presente das salas de
aula de professores/as que não conseguem fazer de suas práticas pedagógicas, exímias
oportunidades para o desencadeamento de processos afirmativos das identidades e da
historicidade negada e distorcida do povo negro. Portanto, nós, educadores/as
brasileiros/as, necessitamos contemplar no interior das escolas a discussão acerca das
relações raciais, bem como de nossa diversidade racial.
Definitivamente, ainda é preciso investir maior esforço para que seja possível realizar
um significativo salto, no intuito de minorar o fosso histórico, responsável, entre tantas
coisas, pela ausência de qualidade na educação dos/as negros/as no Brasil, pois, quando
se analisa o povo negro, no campo educacional, sua desvantagem também é destacada, o
que condiciona seu estatuto de cidadania como de “segunda classe”. Esse déficit
educacional entre negros/as e brancos/as nos revela um índice elevado de cidadãos/ãs
negros/as que, na contemporaneidade, têm dificuldades de acesso e permanência na
escola, assumindo o caráter de excluídos/as. Logo, o que pretende a Lei nº 10.639/2003
é devolver o direito dos/as negros/as de se reconhecerem partícipes da cultura nacional,
expressando livremente suas próprias concepções de mundo, e manifestando com
autêntica autonomia seus pensamentos.
Referências
543
O BRASIL É DELAS: A HISTÓRIA TUPINIQUIM
PELO PRISMA DE SUAS PROTAGONISTAS
Aristides Leo Pardo
Introdução
O texto a seguir relata uma experiência que começou a ser posta em prática no fim do
ano de 2016, com alunos do Ensino Médio, partindo do seguinte questionamento feito
aos mesmos: “Quantas referências femininas vocês tem na História do Brasil?” e a
resposta não saiu do lugar-comum, Princesa Isabel, Anita Garibaldi, Carlota Joaquina,
Zilda Arns, Dilma Roussef, entre poucos outros nomes lembrados, por um ou outro
aluno, porém, pouco se sabia sobre a história dessas mulheres e foi ai que surgiu a ideia
de partir das histórias de mulheres que ajudaram a contar a história de nossa nação para
chegar a assuntos já badalados nos livros escolares, para que assim, essas personagens
importantes, não continuem a ficar no esquecimento (ou desconhecimento?), ou apenas
como mera notas de rodapé, quando na verdade são protagonistas da História.
Não existe um momento sequer na história em que a mulher não estivessem presente e
aos poucos, seus papeis vão sendo revelados pelos historiadores, pois não se trata de
tarefa simples, haja vista que as documentações oficiais, escritas pelas elites e para as
elites, recheada de “heróis”, sobretudo homens, militares ou políticox, geralmente
alinhados ao governo vigente, raramente mencionavam a figura feminina, assim como,
escravos, camponeses, crianças, que quando citados esses agentes sociais, na quase
totalidade dos casos era para ter sua imagem ligada à infidelidade, prostituição, roubos,
entre outras acusações, legando-os sempre ao segundo plano, ou “escondidos” da
história.
Esse fato dos “excluídos” não constarem de maneira efetiva nos documentos oficiais,
como relatórios de governo, documentação do exército, arquivos eclesiásticos, entre
outros, foi chamado pela historiadora norte americana, Joan Scott (1995, p. 38) como “o
problema da invisibilidade”, já que esses agentes sociais eram parte efetiva dos
acontecimentos, mas raramente citados, quando se fazia algum registro do ocorrido,
pois somente a partir da década de 1970, que a história dos excluídos começou a
emergir e revelar sua importância para a reconstrução dos sujeitos históricos, e
completa:
544
que foram sistematicamente omitidas dos registros oficiais. (SCOTT, 1995,
p.38).
Portanto, o resgate de nomes de mulheres importantes para nossa história, muitos deles
completamente desconhecidos do grande público, torna-se uma interessante ferramenta
para o ensino da História do Brasil sob outro prisma, como no caso da princesa
Leopoldina Josefa Carolina Francisca Fernanda Beatriz de HabsburgoLorena, primeira
esposa de D. Pedro I, que de maneira interina foi nomeada pelo marido, Regente do
Brasil, durante uma ausência sua, e ao receber notícias que Portugal estava preparando
uma ação contra o Brasil e sem tempo para aguardar o retorno de D. Pedro, usou seus
atributos de chefe de governo, e ao se reunir, com o Conselho de Estado, preparou o
terreno para a declaração da Independência.
Outro caso interessante é o de Maria Felipa de Oliveira, negra e pobre, que liderou um
grupo de mulheres que combateu tropas portuguesas na Bahia pouco depois da
independência, pois (erroneamente) acreditava que com o Brasil livre da metrópole, a
escravidão teria seu fim rapidamente, o que sabemos, não aconteceu, Maria morreu sem
ver seu país livre do cativeiro, mas deixou seu nome na história, que agora volta à tona.
São tantas as mulheres que podem nos ajudar a contar a história da escravidão no Brasil,
como o nome da escrava baiana, Luíza Mahin, de prática religiosa muçulmana, que
participou da “Revolta dos Malês” (1835) e mãe do poeta e jornalista abolicionista, Luiz
Gama. Luiza teria chegado ao Rio de Janeiro e bem provavelmente vivido na “Pequena
África”, porém, nada mais sabemos de sua vida. Outro nome interessante da história (e
da escravidão) brasileira, é o de Chica da Silva, escrava que conquistou sua liberdade (e
o coração) de uma das pessoas mais importantes do país em sua época, o contratador de
diamantes, João Fernandes de Oliveira, com quem teve 13 filhos no Arraial de Tijuco,
atual cidade de Diamantina, na região das Minas Gerais.
Tereza de Benguela, rainha africana que assume um quilombo em Mato Grosso, após a
queda do companheiro e governava com o auxílio de uma espécie de parlamento, ou
ainda, as “Tias Negras” da “Pequena África”, na região portuária do Rio de Janeiro, da
virada do século XIX para o XX, descendentes diretas de escravos, líderes de um
agrupamento que difundiu práticas como o candomblé, a capoeira e que formaria as
primeiras escolas de samba, são outros nomes para ilustrar a história da escravidão e da
passagem do século XIX para o XX.
545
Ao falar de Tia Ciata e suas companheiras, podemos mostrar também uma modificação
de mentalidade e urbana do Rio de Janeiro, que recebe as reformas de Pereira Passos,
que finda a era dos cortiços e inaugura a favelização no Brasil e a chegada da Revolução
Industrial e da “modernidade” ao Brasil, e com ela, os serviços de transporte, luz
elétrica, gás, entre outros.
No campo militar, Jovita Feitosa, Maria Quitéria, Ana Néri, as combatentes de Canudos
e Contestado, Anita Garibaldi, Dina e as demais Guerrilheiras do Araguaia, que
tombaram sonhando em livrar o Brasil da Ditadura Militar (1964-1985), entre tantas
outras, podem nos ajudar a contar a história do nosso exército, sem o glamour da
história oficial.
Referências
BENEDITO, Mouzar. Luiz Gama: O libertador e sua mãe libertária, Luiza Mahin. São
Paulo: Expresão Popular, 2006.
546
ENSINANDO ENTRE TELAS: AS MULHERES NA
HISTÓRIA E SUAS POSSIBILIDADES DE
ABORDAGEM EM SALA DE AULA ATRAVÉS DO
CINEMA
Ary Albuquerque Cavalcanti Junior
Ítalo Nelli Borges
Dessa forma, entendemos que a inserção do filme como ferramenta para análise
histórica, além de sua representação passou a ganhar espaço nos debates acadêmicos,
principalmente contemporâneos, sendo observados por nós como excelente ferramenta
de discussão em sala por parte do professor (CARLA PINSKY, 2006).
547
Nessa conjuntura, ao relacionar obras cinematográficas e a representação da mulher,
podemos perceber o crescimento de produções que passaram a trazer o sexo feminino
como ente ativo. Em 2015, por exemplo, sob a direção de Sara Gravhon e roteiro de Abi
Morgan, além da presença da atriz Merlin Strip foi lançado o filme “As sufragistas”,
que traz uma representação do movimento feminino inglês. Importante ressaltar que esta
obra cinematográfica teve pouquíssimo apelo midiático em comparação a outros títulos,
inviabilizando o conhecimento de seu lançamento por parte de muitas pessoas
(CAVALCANTI JUNIOR & BORGES, 2016). De toda forma, o professor pode utilizar
tal obra, onde possui apenas mulheres como protagonistas, com o intuito de atentar aos
discentes a Inglaterra de outrora, observando as mulheres como ativas no processo de
discussões de direito trabalhista e desconstruindo ações estritamente domésticas.
Vale ressaltar que as discussões de gênero apresentadas por Joan Scott (1990), Judith
Butler (2003), Andréa Gonçalves (2015), Tedeschi & Colling (2015) além das
excelentes reflexões apresentadas por Michel Foucault (1992), são de grande
importância no intuito de dar um norte teórico sobre as discussões de gênero e o “lugar”
da mulher na sociedade. Assim, aqui entendemos gênero não como algo específico à
mulher, como há muito tempo se pensou, mas como aquele conceito que
especificamente "rejeita a validade interpretativa da ideia das esferas separadas e
defende que estudar as mulheres de forma separada perpetua o mito de que uma esfera,
a experiência de um sexo, tem muito pouco ou nada a ver com o outro sexo" (SCOTT,
1995, p. 7). Logo, sua utilização neste breve ensaio reverbera a relação entre os sexos.
Por outro lado, o professor precisa compreender que o cinema é mais que o filme. O
cinema é produto sociocultural advindo da complexidade da sociedade, pois reúne em si
elementos econômicos, artísticos, simbólicos, políticos, etc. Isto faz com que seja
necessária uma abordagem do contexto de produção do filme a ser exibido em sala de
aula; sua corrente estética, bilheteria, crítica, se gerou produtos a serem consumidos a
parte de si como é muito comum em filmes da Disney e franquias de super-heróis, por
exemplo. Toda esta miscelânea dá historicidade a obra fazendo com que o estudante
tenha um olhar mais amplificado em relação a ela.
Assim, é preciso que o professor ao realizar uma abordagem temática, como gênero,
utilizando do cinema como principal mediador, fique atento as linguagens que
específicas da cinematografia, além, de um domínio prévio do que se pretende discutir.
Logo, o crescimento metodológico de ensino histórico vem contribuindo de forma
sistemática para o alcance do senso crítico dos estudantes.
Referências
BITTENCOURT, Circe Maria (Org). O saber histórico na sala de aula. 11ª ed. São
Paulo: Contexto, 2008
549
MATOS, Maria Izilda S.de. Por uma história da mulher. Bauru, São Paulo: EDUSC,
2000
SILVA, Juliana. Ensino de história e questões de gênero nos livros didáticos. Anais
eletrônicos do VI encontro estadual de história, ANPUH/BA, 2013
SCOTT, Joan. Gênero; uma categoria útil para análise histórica. Trad. Christine
Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila. Do original Gender: An useful category of
hystorical analyses. Recife: S.O.S. Corpo, 1991.
YOEL. Gerardo. (org.) Pensar o Cinema: imagem, ética e filosofia. São Paulo. Cosac
Naify. 2015.
550
ENSINO DE HISTÓRIA-ONDE ESTÁ O NEGRO
NA HISTÓRIA?
Atila Silva Sena Guimarães
Existe uma lacuna histórica que deve ser preenchida referente à participação do negro
na História. No ensino de História e em seus compêndios didáticos pouco se percebe o
protagonismo negro afro-brasileiro perpassando a ideia incoerente de que estes são
passivos como agentes históricos. Em contrapartida ainda se reservas capítulos falando
da escravidão e como esta foi cruel para os negros evidenciando uma suposta
fragilidade e impotência dessa etnia diante das mazelas sofridas. Nas melhores das
hipóteses traz uma abordagem cultural. No que tange ao restante dos conteúdos
selecionados com ênfase em aspectos políticos, econômicos e sociais os afro-brasileiros
são esquecidos ou invisibilizados.
Nesse interim, meu projeto de pesquisa tem como intuito principal dar visibilidades aos
afros brasileiros em distintos momentos históricos fazendo uma releitura das suas
trajetórias de vida enfatizando como estes agiram em determinado contextos históricos.
Além de dar protagonismo ao negro, este tem a intenção de auxiliar na identidade e
empoderamento dos estudantes da escola básicas onde possam encontrar algo ou
alguém que possa servir como representante positivo.
Carmen Anhorn 2010, aponta a necessidade que o professor de História tem em “dar
sentido ao mundo em que vivemos, ou seja, selecionar conteúdos que sejam
551
significativos ao aluno e que a condicionam a processos de ensino-aprendizagem que
levem em conta a ‘realidade dos alunos’”. Ela aponta como solução para isso a ideia
ancorada em Ricouer de pensar uma história em sua totalidade temporal partindo do
presente, conforme especifica quando diz:
A autora percebe o tempo como algo contínuo ou processual onde o passado sempre
está no presente. Essa noção deve permear a escolha dos conteúdos ou os temas de sua
sequencia didática:
Outra contribuição da autora foi a trazer a ideia defendida por Ricoeur de que o passado
não está morto e acabado ele pode ser revisitado trazendo novas perspectivas novas
possibilidades de releituras. “É preciso reabrir o passado, nele reviver potencialidades
não realizadas, contrárias ou até massacradas” (1997, p.372). Isso é importante para o
meu trabalho de pesquisa, pois historicamente o negro sempre esteve alijado como
protagonista históricos.
Keith Jenkins em seu livro a História repensada, 2001, nos traz importante contribuição
teórica ao dirimir sobre o papel da história no construto das identidades. Importante para
o afro brasileiro colocar em cena a imagem de um negro empoderado para minimizar
essa identidade forjada de subalternidade na história. Enfim, o negro está onde ele
deseja estar e o ensino de história deve contribuir para isso traçando novas estratégias
pedagógicas.
Referências
553
O ENSINO DE HISTÓRIA, A LEI 10.639/2003 E
AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS:
ANÁLISE DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO
DA HISTÓRIA DA ÁFRICA NO CURRÍCULO DE
HISTÓRIA
Bruno Sergio Scarpa Monteiro Guedes
Essa reformulação do ensino nacional é fruto de uma política educacional baseada nos
princípios da Lei de Diretrizes e Bases do Ensino Nacional (LDB), promulgada em
1996, instituindo que a educação precisa acompanhar as mudanças e transformações
sociais, econômicas e culturais ocasionadas pelo progresso da sociedade.
554
uma educação de qualidade a todos, permitindo acesso e permanência aos educandos
durante sua trajetória escolar.
Não podemos ignorar ou negar o mal estar vivido pelos negros diante dos brancos.
Invariavelmente, boa parte deste desconforto é motivada por reproduções e
interpretações intencionalmente distorcidas da história de vida da comunidade negra.
Estigmatizam sua cultura, sua cor, seus costumes e religião, enfim, excluem dos padrões
556
aceitáveis de uma sociedade dita civilizada suas origens e peculiaridades.
Constantemente, o discurso pronunciado parte da comunidade branca hegemônica e, à
medida em que a sociedade assimila tais discursos como verdades irrefutáveis,
principalmente pela produção de materiais pedagógicos excludentes e do trabalho de
divulgação por intermédio dos meios de comunicação social, criam-se graus de
hierarquização entre as comunidades envolvidas no processo de socialização.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREYRE, Gilberto (1992). Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro, Record.
557
CONSCIÊNCIA DE SI, CONSCIÊNCIA DO OUTRO:
A HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS NA
FORMAÇÃO DOCENTE
Cláudia Cristina do Lago Borges
Vânia Cristina da Silva
[...] de uma ‘técnica’ na qual as fontes sobre os índios eram recolhidas das
crônicas do período colonial, dos relatos de viajantes, dos antigos
documentos acerca das aldeias e dos mais recentes relatórios de presidente
de província e de dirigentes de aldeias. (KODOMA, 2009, p. 15).
Assim, a representação que se tinha dos índios partia da visão do outro, ou seja, dos
colonos e dos viajantes europeus que viam essa terra e sua gente dentro de uma
perspectiva da excentricidade, do paganismo e da barbárie.
Outros trabalhos apresentados pelo Instituto seguiram a mesma lógica, mas foi a obra de
Francisco Adolfo Varnhagen, publicada entre 1854 e 1857 que norteou a percepção
sobre os povos indígenas. Entre os raros discursos sobre a legitimidade dos índios como
verdadeiros donos das terras e origem da sociedade brasileira realizados já nesta época,
Varnhagen destrói esse pensamento afirmando que esses são poderiam ser considerados
como cidadão, pois não tinham capacidades de adequarem aos padrões sociais, e nem
poderiam ser os legítimos donos das terras, pois não permaneciam nela
(VARNHAGEN, 1850).
Nesse processo, o que temos ao longo dos anos são os “esquecimentos” e prerrogativa
de que os povos indígenas são elementos de um passado distante da História do Brasil.
Com isso, tanto as escolas, os livros didáticos e os cursos de formação docente
mantiveram essa lógica, relegando o índio apenas ao enfoque folclórico, e, portanto,
parafraseando Giovani Silva (2015, p. 23), “prestando um desserviço à educação de
crianças, adolescentes e jovens”.
Segundo Aldo Rebelo (2010, p. 39), “O índio que resplandece no imaginário nacional é,
naturalmente, um ser genérico, como no estereótipo que distingue qualquer aglomerado
humano, sobretudo as nacionalidades”. Assim não é difícil relacionar quais
representações temos dos povos indígenas ao vermos os telejornais, os romances
novelescos ou as produções cinematográficas.
O que nos cabe, enquanto espaço acadêmico de estudo, pesquisa e ações educacionais, é
a promoção de diálogos e reflexões que busquem soluções que minimizem os efeitos e
concepções históricas que edificaram os conceitos que a sociedade atual tem dos povos
indígenas e que os povos indígenas perderam de si próprio.
559
Referências
CUNHA, Manuela Carneiro da. (Org) História dos Índios no Brasil. São Paulo:
Fapesp/Cia das Letras, 1992.
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil. São Paulo: Global Editora,
2005.
SILVA, Edson. Povos indígenas: história, culturas e o ensino a partir da lei 11.645. In:
Revista Historien UPE/Petrolina, v. 7, p. 39-49, 2012.
SILVA, Giovani José da. Ensino de História Indígena. WITTMANN, Luisa Tombini
(org.). Ensino de História Indígena. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Quem são os donos da terra? [1850]. In.
ALMEIDA, Manuel Antônio. Obra Dispersa. Introdução, seleção e notas. Rio de
Janeiro: Graphia, 1991.
560
INSERÇÃO E PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES
NA HISTÓRIA: COMO O PROFESSOR
TRABALHA A QUESTÃO?
Daniel Rodrigues de Lima
Entre as obras que são de grande relevância em nossa fundamentação teórica temos o
artigo “História e relações de gênero” de Cristiane Manique Barreto, onde a autora
busca de forma sintética conceituar a categoria de gênero enquanto análise histórica.
Pois de acordo com a autora temos a seguinte conceituação sobre gênero:
Sendo assim, ser homem ou mulher é uma construção social e cultural, e a partir disto
uma relação de poder que envolve a sexualidade como construção social e cultural com
seus ritos, linguagens, representações e símbolos.
A autora Rachel Soihet em seu artigo “História das Mulheres” salienta ainda que não
devemos trabalhar com a história da mulher, mas com história das mulheres, pois estas
possuem as mais variadas diferenças, de classe, religião, étnica e entre outras, onde se
busca entender que: “[...] as mulheres são alçadas à condição de objeto e sujeito da
história” (SOIHET, 1997, p. 399).
O artigo “História das Mulheres: As Vozes do Silêncio” de Mary Del Priore é outro
ensaio historiográfico de extrema importância na compreensão e entendimento da
abordagem História das mulheres e relações de gênero, em que segundo a autora:
561
Diante do exposto pela autora entendemos que a história das mulheres deve privilegiar
não a mulher singular, mas as diversas mulheres enfocando seus processos de viver em
sua prática social que produzem as formas de submissão, da negociação, das tensões e
contradições existentes em seu universo social, onde devemos observar e compreender
os pequenos gestos e suas práticas miúdas mais íntimas no viver cotidiano, e com isso,
fazê-las existir, falar, viver e ser.
O que fica claro é que as produções dos livros didáticos são totalmente comprometidas
com a história oficial, que privilegia os grandes heróis nacionais, marginalizando os
demais segmentos sociais, entre os quais as mulheres.
Na sexta pergunta questionamos: o que você entende acerca da história das mulheres e
das relações de gênero?, e as respostas que nos foram fornecidas têm-se:
Os dois professores vão de acordo com os teóricos que estudamos, pois acreditam em
uma história das mulheres e ralações de gênero que busca uma forma de acabar com
todos os tipos de estereótipos e preconceitos e alçar as mulheres à condição de sujeitos e
objetos da História. Onde sobre essa questão corrobora com as afirmações dos
professores as análises de Rachel Soihet, que propõe:
562
A escassez de vestígios acerca do passado das mulheres, produzidos por elas
próprias, constitui-se num dos grandes problemas enfrentados pelos
historiadores. [...] Daí a maior ênfase na realização de análise visando a
captar o imaginário sobre as mulheres, as normas que lhes são prescritas e
até a apreensão de cenas do seu cotidiano, embora à luz da visão masculina.
Nos arquivos públicos sua presença é reduzida [...]. (1997, p. 428)
Como oitavo e último questionamento têm-se a seguinte questão: como você faz para
mostrar que a história é uma construção de homens e mulheres, e não só dos primeiros
como é muito comum na história tradicional? E como fazer para inserir as mulheres na
história evidenciando sua participação no processo histórico?, como respostas:
563
Assim é que devemos fazer a inserção e indicar a participação das mulheres na história,
indicando que todos os sujeitos que compõe a sociedade são agentes históricos,
produzindo e sendo produtos da história e a história das mulheres e relações de gênero
contribuem com este enfoque historiográfico.
Considerações finais
Referências
DEL PRIORE, Mary. História das Mulheres: as vozes do silêncio. In: FREITAS,
Marcos Cezar de (org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo:
Contexto, 1998.
SOIHET, Rachel. História das Mulheres. In: CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS,
Ronaldo (Orgs). Domínios da História: Ensaios de teoria e metodologia. Rio de
Janeiro. Elsevier, 1997.
Fontes
Entrevista concedida pelo professor 1 da Escola Estadual Rosina Ferreira da Silva, onde
leciona do 7° ao 9° nos turnos matutino e vespertino, em 21.08.2012.
564
EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL E SUA PROPOSTA
INTERDISCIPLINAR
Darlã de Alves
Daniel Luciano Gevehr
Pode-se perceber que o tema pode ser abordado de forma interdisciplinar, também em
práticas pedagógicas específicas de cada disciplina. Traz-se um exemplo de um projeto
pedagógico realizado em uma escola da rede municipal da cidade de Campo Bom/RS.
Também apoiando-se em publicações produzidas no Brasil nos 12 primeiros anos em
que a Lei 10639/2003 se encontrou em vigor.
A justificativa para esta pesquisa é de que a alteração da LDB feita pela lei 10639/2003
dá início a uma nova abordagem de diversidade cultural no ambiente escolar.
Anteriormente a esta determinação, o currículo de história abordava a cultura afro-
brasileira e africana na figura do negro escravo submisso ao senhor de engenho. O que
hoje ainda é facilmente identificado em diversos currículos escolares e materiais
didáticos.
A história do negro no Brasil não se detém a escravidão. Este sim foi um grande
episódio. Porém, limitar a identidade do negro afro-brasileiro e africano apenas a este
acontecimento é ignorar toda sua matriz cultural que contribuiu para a formação da
cultura do nosso país e do ser brasileiro. Acredita-se na educação étnico-racial, como
forma de conhecimento e valorização da cultura de todos brasileiros, buscando a
equidade racial e eliminação do preconceito.
565
Quanto aos procedimentos metodológicos, esta pesquisa pode ser classificada como um
estudo de caso. Para selecionar os artigos científicos utilizados nesta pesquisa fez-se uso
das palavras-chave “Educação étnico-racial. Ensino. Cultura afro-brasileira. Cultura
africana.” entre o período de 2003 a 2015. Entre os 37 selecionados apenas 19 artigos
abordavam alguma ferramenta de ensino, e a partir desses artigos desenvolveu-se um
estudo detalhado. Os artigos que compõem este estudo foram selecionados na base de
dados Scielo e Capes.
A escola onde foi realizada a prática está situada no município de Campo Bom/RS. É
pertencente à rede municipal de ensino e possui turmas apenas dos anos iniciais do
ensino fundamental do 1º ao 5º anos. É importante ressaltar que a escola é um ambiente
privilegiado para a promoção de relações étnico-raciais positivas em virtude da
marcante diversidade em seu interior. Porém, não é a única instituição responsável pela
educação das relações étnico-raciais, uma vez que o processo de se educar ocorre
também na família, nos grupos culturais, nas comunidades, no convívio social
proporcionado pelos meios de comunicação, entre outros (VERRANGIA E SILVA,
2010).
566
Com o objetivo de abordar, discutir e refletir sobre a questão da diversidade cultural,
num processo de identificação com as identidades culturais, as diferentes disciplinas que
compõem o currículo dos anos iniciais do ensino fundamental na escola municipal de
ensino fundamental Genuíno Sampaio, são elas língua portuguesa, língua inglesa,
literatura brasileira, ciências físicas e biológicas, educação artística, educação física,
música, matemática, história, geografia, e informática, reuniram-se para organizar, as
atividades conjuntas sobre a temática de ensino de história e cultura afro-brasileira e
africana.
Assim estruturou-se o projeto. Em sua metodologia foram realizados três encontros para
a discussão das atividades a serem propostas. Em suas ações foram realizadas cinco
atividades integradas, sendo organizadas por duas ou três disciplinas de forma conjunta.
O projeto teve início no dia 13 de maio de 2015. Data escolhida pela assinatura da Lei
Áurea.
Atividade 1 – GRIÔT
Esta pesquisa identificou que a partir da criação da principal política pública brasileira
para a educação étnico-racial, a Lei 10639/2003, os currículos escolares passaram a
abordar de forma mais específica à temática do ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana. Através de práticas pedagógicas integradas, interdisciplinares,
assim como específico em cada disciplina.
Referências
568
PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: Livraria José Olympo
Editora/Unesco, 1973.
569
A CAPOEIRA COMO POSSIBILIDADE DE
APLICAÇÃO DA LEI 10.639/03
Denis Henrique Fiuza
A capoeira nasceu no Brasil através dos negros trazidos do continente africano para
serem escravizados, e era usada como forma de defesa contra opressão política,
econômica e social, imposta pelo regime político. Ao longo dos séculos ela foi se
transformando e se constituindo como um elemento genuíno da cultura afro-brasileira,
expressão clara da reconstrução histórica da identidade africana no país. Diferentes
estudos demonstram que ela é um elemento identitário com conteúdos educativos,
socioculturais e de promoção da saúde física e psicomotora.
Levar a capoeira para a sala de aula é uma forma de apresentar diferentes perspectivas
culturais e étnicas, abordando aspectos da cultura africana e afro-brasileira. Segundo o
mestre Valmir, “estamos falando da nossa cultura, da nossa realidade, da nossa
ancestralidade. E muitas vezes isso nos foi tirado dentro da própria sala de aula ou
material didático”, nesse sentido, a utilização da capoeira instiga a reflexão como um
elemento de resistência utilizado frente à escravidão e demais características da atuação
dos negros na história do Brasil (ALMEIDA, PIMENTA E CYPRIANO, 2009, p. 65).
Sendo assim, apresentamos alguns traços da trajetória histórica da capoeira, sua força de
resistência contra a escravidão e como uma expressão da várias que constituem as
identidades étnicas de origem africana. Além disso, demonstramos que a utilização da
mesma na educação possibilita um avanço na inclusão e a valorização da contribuição
dos negros na construção do país. Ademais, propomos a utilização da capoeira como
instrumento para desenvolver o ensino e a aprendizagem dos estudantes. A capoeira
com sua técnica, seus elementos rituais, a música, o tempo da vadiação, e outros
aspectos, coloca o indivíduo em perpetuo estado de desenvolvimento psicomotor.
571
Referências Bibliográficas
BRASIL. Parecer técnico nº: CNE/CP 003/2004 Colegiado: Conselho Pleno aprovado
em: 03/10/2004. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnico-Racionais e para o Ensino de História e Cultura
AfroBrasileira e Africana. Disponível em <www.portal.mec.gov.br>
572
UM HOLOCAUSTO INDÍGENA AINDA INVISÍVEL
NO ENSINO DE HISTÓRIA
Dhiogo Rezende Gomes
Um dos exemplos ainda se faz, quando de forma fragmentada, parcial, para mero
atendimento de uma legislação atual que “obriga” a inserção de conteúdos de história e
cultura indígenas no ensino básico. Pois encontramos certos equívocos, noções
preconceituosas, idealizadas ou desprendidas das diversas realidades históricas e
socioculturais das centenas de etnias que habitam o país. Composições de forma ainda
genérica, como “índios” em imagens que trazem tais povos como presos ou congelados
no período da colonização. Notadamente como vítimas e sem agencias nos livros
didáticos que são os principais vetores dessas informações podendo ou não, virar
conhecimentos no trabalho e na relação entre professores e estudantes (FERENANDES,
2009; SILVA, 2012).
São permanências que ainda sofrem influências do paradigma que encontrou numa ideia
de aculturação, no sentido de perda de uma cultura pelo recebimento (forçado ou
passivo) de outra, um olhar para condição indígena como temporária, frágil e passiva de
ingresso na esteira da “civilização”. Mesmo no entendimento de estudiosos do porte de
Darcy Ribeiro (1996), por mais críticas elaboradas na defesa da questão indígena pela
via das políticas indigenistas que tivesse, aventava-se um processo onde nos contatos
com a sociedade nacional, os povos indígenas estariam expostos a uma “transfiguração
étnica”.
Qualquer avanço nas questões indígenas, seja no âmbito político ou acadêmico, passava
inevitavelmente por mudanças de paradigma, visando uma constituição dos povos
indígenas como sujeitos históricos, resistentes, agentes de suas sobrevivências. Indo
além de sobreviventes, como negociadores e importantes em suas presenças, em
processos históricos que contribuíram com a formação do Brasil, indígenas como
essenciais nas conquistas e manutenção de territórios, como aliados ou inimigos dos
colonizadores (OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
573
2ª Guerra Mundial (CUNHA, 2009). O critério da cultura devendo romper com
determinismos culturais e universais, sendo tal conceito entendido como dinâmico,
destacando a autodeterminação de um grupo no seu reconhecimento enquanto etnia.
Cunha nos leva a um paradoxo, o mesmo período que significa aos indígenas um
momento histórico de ascensão, esconde fatos que atingem os direitos humanos dessas
populações. Por baixo de êxitos indígenas em suas lutas, o modelo de desenvolvimento
econômico e regional, principalmente no centro e norte do país, em face do Plano de
Integração Nacional, foram o motor de políticas de extermínio de povos indígenas
postos ou entendidos como entraves ou empecilhos a estes processos e projetos
(DAVIS, 1978).
A Comissão Nacional da Verdade (2012-2014) criada pelo Governo Federal para apurar
violações dos direitos humanos entre os anos de 1946 e 1988, afirmou que ao menos
8.350 indígenas tiveram suas vidas ceifadas pelo Estado, por força direta de ações
governamentais ou por omissões dos agentes e instituições que teriam outras
prerrogativas, a exemplo do Serviço de Proteção ao índio (SPI) e sua substituta a partir
de 1967, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). O relatório da CNV (COMISSÃO
Nacional da Verdade, 2014, p.199) define que “O número real de indígenas mortos no
período deve ser exponencialmente maior, uma vez que apenas uma parcela muito
restrita dos povos indígenas afetados foi analisada [...]”.
Além de uma mídia que pouco se interessa por este passado, temos uma cultura
histórica e escolar que soterra na invisibilidade fatos e eventos como: 1) A criação da
Guarda Rural Indígena em 1969, onde o governo formou jovens indígenas de etnias
diferentes com treinamento militar consistindo em técnicas de tiro, defesa pessoal e até
de tortura, como forma de apoiar o estabelecimento da ordem e do ideário da segurança
nacional nas áreas rurais onde regressavam os guardas indígenas (FREITAS, 2011). 2)
A nebulosa participação dos Aikewára ou Suruí na Guerrilha do Araguaia, com
inúmeras denúncias de maus tratos, terror físico e psicológico, obrigando os Suruís do
Pará a colaborarem com a caça aos subversivos do regime na selva (NEVES; CORRÊA,
2011). 3) A existência de uma espécie de campo de concentração para indígenas
subversivos, o reformatório Krenak em Minas Gerais (CAMPOS, 2012). 4)
Bombardeios de aldeias inteiras do povo Waimiri-Atroari do Amazonas, tidos como
ameaças ao sucesso de empreendimentos miliares como uma rodovia e uma hidrelétrica
(EGYDIO SCHWADE, 2012).
Referências
COELHO, Mauro Cesar. A história, o índio e o livro didático: apontamentos para uma
reflexão sobre o saber histórico. In: MAGALHÃES, Marcelo; REZNIK, Luís; ROCHA,
Helenice (Org.). A história na escola. Rio de Janeiro: Fgv, 2009. Cap. 12. p. 263-281.
575
CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. In: CUNHA,
Manuela Carneiro da. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São Paulo:
Claro Enigma, 2012. p. 08-25.
_______. Por uma história indígena e do indigenismo. In: Cultura com aspas e outros
ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 125-132.
FACHIN, Patricia. Relatório Figueiredo: mais de sete mil páginas sobre a violência
contra indígenas no Brasil. Entrevista especial com José Ribamar Bessa Freire.
Revista IHU, São Leopoldo, 2015.
FERNANDES, Eunice. Ainda na selva?: A maioria dos livros didáticos retrata os índios
ligados apenas ao passado colonial brasileiro. Revista de História da Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro, v. 10, n. 49, p.1-3, out. 2009. Mensal.
HECK, Egon Dionísio; SILVA, Renato Santana da; FEITOSA, Saulo Ferreira (Org.).
Povos indígenas: aqueles que devem viver - Manifesto contra os decretos de
extermínio. Brasília: Cimi-conselho Indigenista Missionário, 2012. 192 p.
NEVES, Ivânia dos Santos; CORRÊA, Maurício Neves. O povo indígena Aikewára e a
guerrilha do Araguaia: mediação, apropriação e resistência nas fronteiras de identidades.
In: I SEMINÁRIO REGIONAL DA ALAIC - BACIA AMAZÔNICA, 1., 2011,
Belém. Anais... . Belém: Unama, 2011. p. 1 - 13.
Considerações Iniciais
Ao abordarmos o ensino de história nos dias atuais, temos que ter a consciência de o
quão será difícil, principalmente no Brasil, por ter em sua sociedade várias culturas no
mesmo território. O que ensinar? Como ensinar? Por qual razão ensinar? São perguntas
que, enquanto professores de história, seremos obrigados a não só descobrir as
respostas, como também, por essas respostas em prática, no exercício de nossas
docências.
O professor irá ter em sala de aula um público diverso, composto por diferentes
gêneros, cores, etnias, posicionamentos ideológico, religiões diferentes, entre outros,
por isso o viés no qual ele pensa muitas vezes refletem em ações inconvenientes para os
alunos, assim como escreve Bauman, “ A modernidade é líquida” desse modo, o
professor precisa deixar essa solidez de lado, e ser líquido como a água que se altera
conforme o recipiente.
Com efeito, diante do exposto nos perguntamos, qual seria o lugar do índio em nossa
sociedade? Até meados do século XX o índio não tinha atuação no meio social, muitas
vezes era tido como massa de manobra usada como instrumento manipulável, que foi
reduzido em um processo de autonegação, de forma que, quem se afirmasse índio,
estaria à mercê de inúmeras formas de violência; tomemos como exemplo Alagoas, em
especial Palmeira dos índios, onde a invisibilidade dos Xucuru-Kariri foi a estratégia
adotada para se esquivarem da perseguição da sociedade não indígena, ao tempo que foi
tática de resistência contra os ataques dos posseiros que se apropriaram de suas terras.
Transformações que só foram possíveis com a Lei 11.645, por obrigar que as escolas
públicas e privadas acrescentem em seu currículo o ensino da história e cultura indígena
em todo o currículo escolar, quebrando a ideia de tratar a temática apenas no dia 19 de
abril, além de fazer com que não se construa uma seletividade de escola, uma vez que,
uma grande quantidade de filhos dos latifundiários que ocupam terras indígenas situadas
na área a ser demarcada provém de escolas privadas, que também devem obedecer a
Lei. Cabe também destacar a importância do § 2o que traz em seu texto a ideia de que
não apenas história, artes e literatura teria que abordar a temática, como também as
matéria exatas, física química, biologia entre outras.
A entrevista acontece em uma sala de terceiro ano do ensino médio, de uma escola
pública localizada no município de Paulo Jacinto, logo após algumas explicações, se
questionou sobre como seria o índio e sua cultura? E em folhas de caderno os alunos
escreveram suas respostas. Os entrevistados deram as respostas descritas abaixo. Como
a entrevista envolve menores, estes serão referenciados como informante, um, dois, três
e assim sucessivamente, pois além de preservar suas identidades, não expõe nenhum
dos envolvidos no processo escolar na instituição pesquisada.
Considerações finais
Tendo em vista todos os problemas citados acima, cabe aos profissionais se atualizarem
diante da Lei 11,645/8, com o intuito de se preparar e contribuir para a construção de
uma sociedade plural e igualitária, Diante disso, esta pesquisa é relevante por contribuir
para a lucidez e clareza de situações frequentes nas escolas, práticas que consiste em
mascarar, cobrir e resguardar irregularidades a respeito do ensino da temática indígena,
propiciando o surgimento de um aparelho reprodutor, de imagens criadas por jesuítas,
viajantes, colonos ou literatos, que propagou-se até os dias de hoje e que é adquiridos
por muitos professores como algo verídico, por ser encontrados nos manuais didáticos.
Existe a necessidade de vistorias para ver como tais leis estão sendo aplicadas na prática
docente. Pessoas preparadas são necessárias para assumir tal tarefa e serão responsáveis
por desconstruir o pensamento obscurecido pela escola ao longo do tempo com suas
limitações e despreparo. É mister que em complemento ao livro didático sejam
utilizadas metodologias de aprendizagem cujo embasamento esteja em textos de autores
engajados com a causa indígena ou produzidos pelos próprios índios, entre outros
pressupostos que possam contribuir para que os alunos aprendam e entendam como este
Brasil se formou.
Referências
579
BRASIL. LEI n. 11.645, de 10 de março de 2008. Brasília, março de 2008.
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643688/artigo-231-da-constituicao-federal-de-
1988 acessado em 29/09/2015.
580
BATALHAS NA TORRE DE MARFIM: O
IMPACTO DA INCLUSÃO RACIAL E SOCIAL NO
ENSINO DE HISTÓRIA
Elaine P. Rocha
Em 1999, Gene Veith editor da área de cultura da revista World, escreveu que para a
maioria dos americanos as universidades são torres de marfim nas acadêmicos se
concentram em estudos elevados, numa postura de sublime indiferença quanto às vidas
ordinárias que as rodeiam (Veith:1999). Em seu argumento, ele salienta o fato de que os
achados da academia raramente afetam a cultura do povo.
Ainda que se possa encontrar elementos verídicos nesta afirmação, é preciso reconhecer
que ainda que o ensino universitário no Brasil tenha suas origens na educação para a
elite, concentrando sua produção intelectual e debate entre as pardes dessa “torre de
marfim”, eventos e processos sociais, políticos e culturais Têm afetado não apenas o
produto acadêmico mas a própria composição dessa torre.
O ensino de história no Brasil tem sido palco de dolorosas batalhas, seja para a sua
manutenção enquanto disciplina, lembrando as reformas pedagógicas que instituíram a
disciplina de estudos socais em substituição ao ensino de história, seja no conteúdo dos
currículos acadêmicos, afetados por medidas políticas como a ditadura militar e as
pressões sociais e políticas que levaram à inclusão de estudos sobre a África, ou mesmo
na constituição dos quadros docentes alterados com a entrada de “estudantes
trabalhadores”, com a abertura de cursos noturnos. Esta última alteração no maio
acadêmico, trouxe para as universidades estudantes vindos de camadas mais pobres,
muitos deles afrodescendentes.
Desta forma, consideramos que o cenário acadêmico brasileiro tem sido alterado
continuamente desde o final da Primeira República e que a disciplina de história, devido
ao seu intrínseco valor político, tem sido alvo de disputas no âmbito educacional
(currículo) e no âmbito dos conteúdos que alteram potenciais referências
historiográficas, políticas e filosóficas ao mesmo tempo em que impõem novos
problemas, novos objetos e novas abordagens, parafraseando o historiador Jacques
LeGoff.
A proposta deste texto é apresentar uma reflexão sobre o impacto da chegada de novos
agentes na academia, seja como estudantes seja como historiadores e professores, na
direção que o estudo e o ensino de história tomou desde o último quartel do século XX.
581
A evolução do sistema educacional no Brasil acontece de forma lenta, a partir de
pressões políticas e econômicas, passando a acomodar posteriormente as pressões
sociais e mesmo culturais. Conforme indicado pro Afrânio Garcia e Moacir Palmeira
(2001), as transformações sociais brasileiras durante o século XX sofrem ainda grande
influência das oligarquias rurais, e neste sentido a desigualdade social e racial tendem a
persistir apesar de alterações econômicas.
Beatriz Boclin Santos (2009) argumenta que o ensino de história do Brasil (no Brasil)
tem início ainda na primeira metade do século XIX, tendo como primeiro palco o
Colégio Pedro Segundo, criado em 1838 como parte da construção da nação e para
atender aos filhos da elite. Desde os primeiros anos da República, verificava-se uma
preocupação com a expansão do ensino público no Brasil e em especial nas grandes
cidades, influência dos ideais positivistas de ordem e progresso e também uma
exigência econômica e social dentro do plano modernizador vigente na época.
As mudanças neste cenário se deram a partir do governo Vargas, que utiliza a educação
como ferramenta para a integração e desenvolvimento nacional, ainda ali, o ensino
secundário se concentraria nas cidades e era profundamente excludente. Para as
camadas mais baixas da população, na qual se incluíam os afrodescendentes e grande
parte da população que chegava aos centros urbanos em busca de trabalho, a realidade
ainda era a do pós-abolição, com a integração precoce dos jovens ao mercado de
trabalho para suprir as necessidades da família.
Dessa forma, a história narrativa, contada sob o ponto de vista das elites se reproduzia,
pois dentro de uma sociedade excludente, apenas membros da elite chegariam ao ensino
superior e ao seguir a trajetória acadêmica contribuir para a produção histórica. Em sua
maior parte, os livros listavam fatos e eventos históricos generalizados e muitas vezes
dissociados da realidade regional e local.
Em contrapartida, o regime militar criou a censura ideológica que proibiu livros e temas
utilizados nos currículos; a ampliação do mercado de trabalho com a chegada das
companhias multinacionais produziu um pequeno crescimento na renda familiar que
permitiu o acesso à educação, enquanto que a abertura de faculdades privadas – ainda
que criticadas pela elite preocupada com a qualidade do ensino superior – ofereceu
582
maiores oportunidades de acesso à educação superior àqueles que não conseguiam por
algum motivo ingressar nas universidades públicas, ainda muito limitadas.
Desta forma, altera-se a relação, alteram-se os agentes nos dois lados, as pressões para
que a mudança atinja a produção de livros passa a obter efeitos, as teses e dissertações
passam a apresentar temas mais relacionados à realidade regional, local de classe.
Da mesma forma, a presença de alunnos provenientes das mesmas raízes, trazem outras
indagações e vivências para a sala de aula que não podem ser ignoradas pelos
professores de história e pelo sistema em geral. Obviamente não podemos esquecer o
impacto da lei 10639/03, que institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura
afrobrasileira, abrindo uma demanda para a educação nesta área (para os professores) e
para a publicação de material didático.
583
Bibliografia:
Dias, Tatiana. (2016). Sistema de cotas raciais: inclusão em meio à controvérsia. June
17, 2016, de Nexo Jornal Sitio web:
https://www.nexojornal.com.br/explicado/2016/02/24/Sistema-de-cotas-raciais-
inclusão-em-meio-à-controvérsia.
Paixao, Marcelo e Carvano, L.. (2008). Relatorio Anual das desigualdades raciais no
Brasil 2007-2008. Rio de Janeiro: Garamound.
Santos, Beatriz Boclin dos. O currículo da disciplina escolar história no Colégio Pedro
II – A Década de 70 entre a tradição acadêmica e a tradição pedagógica: a História e
os Estudos Sociais. Tese de doutorado, 2009. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
584
A MULHER NEGRA NA EJA: POSSIBILIDADES
DE EMPODERAMENTO NO ENSINO DE
HISTÓRIA
Eline de Oliveira Santos
A busca por inserção social pontuou a trajetória de um grande número de mulheres que
buscaram demarcar o seu lugar na sociedade, através de lutas que visavam anunciar que
havia vida para além do ambiente doméstico. A identidade que a sociedade lhe impôs
era a de mãe, todas as outras estavam sublimadas por séculos de submissão. Por outro
lado, é na tomada da consciência que a mulher passa a ter de si e de suas necessidades
que emergem outras identidades já existentes. Faz-se necessário compreender este
universo simbólico em que a mulher está inserida e a partir de suas vivências, analisar a
sua crescente participação nas diversas atividades e esferas da sociedade.
Uma dessas esferas é a educação que, tem atravessado profundas mudanças nas últimas
décadas e abarca neste contexto grupos marginalizados socialmente entre eles a mulher
se destaca. Para enquadrar a mulher dentro destas perspectivas traçadas havia o reforço
ideológico que vinham de todas as direções: a família, a igreja, as autoridades médicas
que, ratificavam o papel da mulher como matriz da sociedade e como tal,deveria
desempenhar o seu papel da melhor forma possível, aceitando o destino que a natureza
lhe deu. Sob a autoridade do pai enquanto criança/adolescente (e na falta deste, o irmão
mais velho) e mais tarde, na idade adulta sob o jugo do marido, a mulher via o seu
destino passar muitas vezes alheio aos seus anseios e objetivos.
585
as demandas das mulheres brancas não eram as mesmas que as suas e as questões
raciais estavam implícitas no interior do movimento de luta por direitos.
Qual a saída para atender a esta demanda por escolarização das mulheres negras de
classes desfavorecidas? Como se escolarizar e continuar sendo, em muitos casos, chefe
de família? Vale destacar que a alfabetização de jovens e adultos foi defendida e
realizada de modo eficaz por intelectuais como Paulo Freire na década de 60 que
inclusive, esteve a frente de experiências exitosas com a alfabetização de jovens e
adultos, tornando-se uma referência nacional nesta modalidade de educação.
O grande diferencial na proposta de Paulo Freire está no fato de que parte do princípio
que a educação pode e deve ultrapassar a mera aquisição de conhecimentos para servir
como instrumento de libertação, assumindo um papel crítico, reflexivo e libertador no
processo da luta por direitos,na sua ótica não é possível lutar pelos direitos sem que
sejam garantidos o direito à voz, à participação, à reinvenção do mundo, num regime
que negue a liberdade de comer, de falar, de criticar, de ler, de discordar, de ir e vir, a
liberdade de ser. (FREIRE, 1996, p.193)
Protagonizar mudanças e assegurar um lugar para si na sociedade não é tarefa das mais
simples, e se o sujeito pertencer ao gênero feminino as coisas tendem a ser mais
complexas. Para a mulher, romper com estereótipos cristalizados a seu respeito que
perpassaram gerações se constitui em tarefa que exige esforço tenaz mas cujos efeitos
só podem ser sentidos de forma gradativa.
A EJA neste aspecto, tem sido um importante veículo condutor dessas mudanças a
partir do momento em que abarcam estas mulheres e lhes dá a possibilidade de
transformar sua realidade através da educação. Este empoderamento tem crescido e
586
produzido frutos que são as mulheres negras ocupando os mais distintos espaços de
poder e demarcando o seu lugar nos diversos níveis sociais.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42.ªed.
FREIRE, Ana Maria Araújo. A voz da esposa: A trajetória de Paulo Freire. In:
GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: uma biobibliografia. São Paulo. Cortez: instituto
Paulo Freire 1996, p.69-115.
SCOTT, Joan.Wallach, “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2,jul./dez. 1990, pp. 71-99. Trad. Guacira Lopes
Louro.
587
HISTÓRIA INDÍGENA E ENSINO: UM DIÁLOGO
A SER ESTREITADO (2008-2016)
Edilene Pereira Vale
Este trabalho trata da História indígena e o ensino nas escolas públicas de São Luís do
Maranhão, entre os anos de 2008 a 2016. Para tanto, propõe-se a observar como o índio
é representado nos livros didáticos utilizados nas principais escolas estaduais da cidade
de São Luís, a partir de conceitos e sob quais condições as abordagens presentes nestes
manuais lhes conferem um lugar histórico. O recorte temporal refere-se às edições dos
livros analisados no trabalho, publicados após a regulamentação da lei 11.645/2008, que
dá obrigatoriedade ao ensino da história dos povos indígenas no ensino básico.
Um novo olhar sobre o indígena é de suma importância para um ensino qualitativo, seja
no meio acadêmico ou escolar, não só pela promoção de uma atualização acerca dos
debates que norteiam o tema no âmbito dos estudos especializados, mas também porque
potencializa os discentes da universidade e rede escolar a perceber o indígena como
sujeito protagonista de sua História e da formação sociocultural e territorial do Brasil.
Por muito tempo, na historiografia clássica, o indígena foi apresentado como sujeito de
cultura “pura”, com características “originais” que, a partir do contato com o europeu,
passou por um processo de assimilação cultural com a progressiva perda de seus
costumes. Nessa história, os nativos foram apresentados como vítimas, passivos ou até
mesmo irrelevantes no processo de colonização, sem quaisquer sinais de resistência.
588
Entretanto, a partir do final do século XX, essa visão historiográfica sofreu profundas
mudanças. O indígena passou a ser visto como agente histórico, adquirindo uma
participação ativa no processo de colonização. Essa nova interpretação se deu graças
aos autores revisionistas da historiografia indígena. Refiro-me, especialmente, a John
Monteiro (1994), Maria Regina Celestino de Almeida (2000) e Almir Diniz de Carvalho
Júnior (2005).
Deste modo, a forma de olhar o indígena passou por profundas mudanças, graças ao
interesse de alguns autores em investigar, revisionar, problematizar e elaborar uma nova
história sobre a atuação histórica desses sujeitos. Se antes eram vistos como figurantes,
agora são compreendidos como atores e agentes históricos. Todavia, cabe questionar se
este conhecimento acadêmico chega ao ensino básico, seja nos materiais utilizados ou
através dos professores. De fato, “o ensino seria melhor na medida em que mais
semelhante, coerente e atualizado fosse em relação à produção científica
contemporânea” (MONTEIRO , 2003, p. 10).
Por muito tempo a história indígena não recebeu um grande destaque na sala de aula,
porém nos últimos anos, graças à luta por mais espaços em todos os âmbitos da
sociedade de vários grupos sociais e pela necessidade de estudar a contribuição de
vários povos para nossa história, houve a precisão de se buscar formas para discutir e
valorizar a história cultura dos mesmos. E um dos espaços elencados para ter esse maior
conhecimento são as escolas.
Com isso os currículos escolares tiveram algumas mudanças através, sobretudo, da Lei
11.645 de março de 2008, que tornou obrigatório a inclusão da história e cultura
indígena. A referida lei:
Como consequência da criação da lei, estes conteúdos devem aparecer nos livros
didáticos, visto que ainda é um dos instrumentos mais utilizados por professores e
alunos nas escolas. “O livro didático continua sendo material didático referencial dos
professores, pois pais e alunos, apesar do preço, consideram-no referencial básico para
estudo” (BITTENCOURT, 2002, p.71).
Nesse sentido, para investigar como esse assunto, a história e cultura dos povos
indígenas, é passado nas escolas, será feita uma breve análise de três livros didáticos de
história destinados ao 2º ano do ensino médio, cuja seleção baseou-se na escolha e
utilização dos materiais pelas escolas estaduais de São Luís, são eles: Novo Olhar
589
História da editora FTD (2010), Conexões com a História da editora Moderna (2013) e
Ser Protagonista da editora SM (2010).
O primeiro livro Novo Olhar História trata dos índios no capítulo “Conquista e
colonização portuguesa na América”, os nativos são citados somente em uma página
durante a explicação sobre a exploração do pau-brasil através do escambo com os
portugueses; nas relações entre europeus e índios; formas de resistência; e catequização
dos índios.
O livro Conexões com a História da editora Moderna, apesar de ser o mais recente dos
três, é o que menos aborda a participação do índio na história do Brasil. São destinados
somente pequenos espaços quando se trata do “Império colonial português”, vale
ressaltar que são espaços separados e sem nenhuma ligação com o corpo do texto, há
um texto extra e dois boxes.
Dos três manuais didáticos, o que mais se destaca é o Ser Protagonista da Editora SM,
nele é destinado um capítulo somente para falar dos povos indígenas do Brasil. Nesse
capítulo é apresentada a grande diversidade de povos indígenas e as várias famílias
linguísticas existentes no século XVI. Além disso, é abordado a família dos Tupis-
Guarani e os vários aspectos da cultura indígena, como a espiritualidade, arte, adornos
usados, utensílios do cotidiano, pintura corporal, entre outros.
Portanto, é perceptível que dos três livros o que mais contempla a história indígena é o
terceiro livro, tanto do ponto de vista dos textos, imagens e atividades que são
apresentadas e também pelo maior espaço que é dado, pois os mesmos ainda aparecem
quando se trata da colonização da América portuguesa, apresentando as suas relações
com os colonizadores, principalmente as formas de resistência e as dificuldades
encontradas na catequização.
Em geral, a história dos povos indígenas aparece somente nos livros do segundo ano do
ensino médio, que abordam a história do Brasil desde a colonização até o período
imperial. E frequentemente os índios aparecem de forma breve somente no período
colonial, após isso, não encontramos mais nada referente aos índios em outros
momentos da nossa História. “O peso de conhecimentos que se tornaram obrigatórios
por força da tradição escolar vem, dessa forma, anulando as possibilidades de inovação
ao ensino de História” (ABUD, 2011, p 170), com isso, muitos temas vêm sendo
deixados de lado, como é o caso da história indígena, o que dificulta uma renovação no
ensino.
Referências
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Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 42, p. 163- 171, out./ dez. 2011: Editora UFPR.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livro didáticos entre textos e imagens. In:
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes (org.). O saber histórico na sala de aula. São
Paulo: Contexto, 2002.
DIAS, Adrian Machado; GRINBERG, Keila; PELLEGRINE, Marco Cesar. Novo Olhar
História. São Paulo: FTD, 2010.
SILVA, Edson. Povos indígenas: história, cultura e o ensino a partir da Lei 11.645.
Revista Historien UPE/Petrolina, v. 7, 2012.
591
A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
NA ESCOLA: (RE)DISCUTINDO O USO DE
CONCEITOS NO COTIDIANO DOS ESTUDANTES
Eduardo Nunes da Silva
Marcos Antônio Silva dos Santos
Juliana Barbosa Sindeaux
Janailson Macêdo Luiz
Problematizações
Sobre esse tema, um estudo recente realizado junto a estudantes de escolas públicas do
bairro do Guamá, periferia de Belém-PA, concluiu que:
592
As duas versões das oficinas estiveram centradas em conceitos como de Raça, Etnia,
Racismo, Estereótipo, entre outros; discutidos com base nos conhecimentos prévios dos
estudantes e no diálogo com as compreensões e realidades vivenciadas por eles nos
espaços internos e externos à escola. Na segunda versão, foram ainda trabalhadas
questões do Exame Nacional do Ensino Médio, pertinentes a temática, de modo a
dialogar com as expectativas dos estudantes com relação ao tratamento do tema no
“vestibular”, sem prejuízo para a busca de uma abordagem crítica sobre o tema
abordado.
Brandão (2006), apresenta que algumas questões são indispensáveis no trabalho em sala
de aula, sobretudo no diz respeito à educação das relações étnico-raciais, que deve estar
centrada na busca por uma educação escolar mais plural e que valorize a diversidade
étnica e cultural do Brasil. Para esse autor, o professor deve ir além do senso comum,
sempre problematizando as piadas ou comentários que surgirem durante a aula e não
deve assumir uma postura intransigente, buscando, inversamente, saber ouvir os
estudantes, fator importante para uma discussão saudável e que valorize a
multiplicidade de opiniões, sem silenciar nenhum grupo ou sujeito.
A partir dos exemplos apresentados por eles, buscamos chamar a atenção para a
necessidade de desnaturalização de certas compreensões, como, por exemplo, as que
fundamentam algumas expressões rememoradas durante o debate, a saber: “preto é
feio”; “preto correndo é ladrão e parado é suspeito”. Buscamos apresentar como, através
de preconceitos manifestados de forma sutil através de piadas e comentários, as crianças
negras são levadas desde a infância a rejeitarem seu próprio corpo: alvo e principal
motivo dos ataques. E as crianças brancas acabam sendo, no mesmo sentido, ensinadas
a virem a si próprias como superiores, possibilitando a manutenção do status quo das
hierarquias raciais, herança que ainda guardamos do período escravista.
Por consequência, como pudemos constatar no diálogo junto aos estudantes, esses
estereótipos contribuem para que os afrodescendentes passem muitas vezes a rejeitar a
identidade negra e assumir uma outra identidade, mais próxima do padrão que elege
como sujeito o homem branco, heterossexual e de classe média. A escola deve,
portanto, construir espaços onde possam ser fomentados debates sobre como os
estereótipos se reproduzem, levando em consideração as visões apresentadas pelos
estudantes, de modo a poder de fato dialogar com as suas visões de mundo e possibilitar
mudanças efetivas na realidade que eles vivenciam e ajudam a constituir.
Considerações finais
Por fim, é importante ressaltar que o fazer pedagógico deve valorizar o conhecimento
que cada aluno já traz consigo, reconhecendo deste modo as vivencias, traumas e
memorias de cada um, se atendo aos momentos em que os alunos revivem suas
memorias fortes ou traumáticas. O mesmo vale para opiniões divergentes das do
professor. O cuidado para tratar com a situação sem que haja desrespeito é essencial,
procurando saber buscar elementos que tornem possível a desmistificação de temas
enraizados nos indivíduos e que surjam em aula sem causar atritos ou desconfortos.
594
Referências bibliográficas
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações
raciais no Brasil: uma breve discussão. In: BRASIL. Educação Anti-racista: caminhos
abertos pela Lei federal nº 10.639/03. Brasília, MEC, Secretaria de educação continuada
e alfabetização e diversidade, 2005. P. 39 - 62.
595
CONSIDERAÇÕES AO ENSINO DE HISTÓRIA
NAS ESCOLAS INDÍGENAS
Fernando Roque Fernandes
Problemáticas
597
O ensino de História nas escolas das comunidades indígenas
A instituição escolar têm sido apropriada pelos sujeitos indígenas como uma estratégia
importante na ampliação das formas de comunicação desses povos com a comunidade
envolvente. A escola indígena atua, também, como possibilidade de valorização do
universo cultural e político dos povos indígenas, servindo como ferramenta importante
nos processos de protagonismo e resistência.
A princípio, deve-se considerar que as propostas educacionais para essas escolas, devem
evidenciar as diferenças culturais e históricas de cada povo. Nesse sentido, a base inicial
de um diálogo deve ocorrer a partir de uma troca de conhecimentos mútuos. As
metodologias pedagógicas da comunidade envolvente são importantes ao
desenvolvimento do processo de ensino/aprendizagem. No entanto, os conhecimentos a
serem apresentados nessas escolas devem ter significado para os sujeitos indígenas. Se a
educação escolar têm a finalidade de fortalecer e valorizar os aspectos identitários
dessas populações, os conteúdos educacionais devem operar no sentido de possibilitar a
manutenção social, cultural e étnica desses povos.
598
Parece-nos importante observar que a construção de propostas de ensino de História
Indígenas nessas escolas devem considerar, pelo menos, quatro aspectos, a saber: 1. a
história local do grupo; 2. a história do conjunto dos grupos indígenas; 3. a história da
comunidade envolvente; 4. a história do contato e das relações desenvolvidas entre
índios e brancos, sejam elas pacíficas ou conflituosas. Aliados ao fundamento básico de
constituição dos currículos escolares indígenas a partir do diálogo entre os professores
indígenas e não indígenas, e considerando as noções de tempo, espaço, identidade e
diferença, esses aspectos têm grandes chances de alcançar pontos positivos (Bittencourt,
1994). Cabe a observação de que longe de simplificar o ensino de História nas escolas
indígenas, o que queremos demonstrar, ao contrário, é o grande desafio de desenvolver
tais conteúdos em ambientes plurais.
Outra observação importante é que, nos últimos anos, muito material tem sido
produzido por sujeitos indígenas. Até agora, reflexões sobre o significado dessas
produções têm sido parcamente debatidas. O reconhecimento daquilo que podemos
denominar de uma “versão indígena da história indígena” resulta dessas produções.
Para tanto, é fundamental que se reconheça que as produções indígenas são legítimas
demonstrações do protagonismo desses povos e que, atualmente, o número de
produções científicas e de publicações tem crescido substancialmente.
Referências Bibliográficas
BETTO, F. Tanta mentira que parece verdade. In: A. L. Silva, A questão indígena
na sala de aula (pp. 7-10). São Paulo: Brasiliense, 1987.
MELO, D. S., & Melo, E. S.. Formação Continuada para Professores não indígenas
para uma educação escolar intercultural em escolas indígenas. Belém/PA, 2016.
599
MONTEIRO, J. M.. O desafio da História Indígena no Brasil. In: A. L. Silva, & L. B.
Grupioni, A temática Indígena na escola (pp. 221-228). Brasília: Unesco, 1995.
SILVA, A. L.. A questão indígena na sala de aula. São Paulo: Brasiliense, 1987.
600
A DOMINAÇÃO APRENDIDA EM BOURDIEU
Gabriela Soares Balestero
601
núcleo duro da sociedade, atribuindo excesso de importância ao homem em detrimento
da mulher.
Bibliografia
CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência Doméstica: Lei Maria
da Penha (Lei 11.340/2006) comentada artigo por artigo. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008.
602
BONACCHI, Gabriella. (Org.) O Dilema da cidadania. Direitos e deveres das
mulheres. São Paulo: Unesp, 1995.
HASSAN, Rasha Mohammad. Clouds in Egypt’s Sky. Sexual Harassment: from verbal
Harassment to Rape. (A Sociological Study). The Egyptian Center for Women’s Rights.
2010. Disponível em: < http://egypt.unfpa. org/Images/Publication/2010_03/6eeeb05a-
3040-42d2-9e1c-2bd2e1ac- 8cac.pdf>. Acesso em 10 de out. de 2014.
PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
603
AS DIFICULDADES EM TRABALHAR A
EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL NO AMBIENTE
ESCOLAR
Geanice Pinheiro dos Santos
Terlen Lana Vasconcelos de Sena
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
Introdução
Em um país onde as leis nem sempre são cumpridas faz-se necessário uma breve análise
bibliográfica sobre como é trabalhada a questão da discriminação e preconceito racial
no contexto escolar.
Portanto, este trabalho pretende refletir sobre os possíveis motivos que inviabilizam o
processo de implementação da Lei n.º 10.639/03 e suas Diretrizes Curriculares e ainda
mostrar que, apesar de existirem dificuldades na execução da Lei, há também sutis
avanços no sentido de haver uma visão mais sensível para a diversidade de etnias raciais
encontradas no ambiente escolar.
Por ser a fase onde a criança está em processo de busca e descoberta de sua identidade,
muitas vezes ela nega sua própria origem, para que seja aceita e colocada em igualdade
em relação aos demais colegas.
Neste sentido, cabe ao professor ter um olhar mais sensível e ser conhecedor da história
e das lutas dos negros, para com isso perceber não só as diferenças étnico-raciais
existentes na escola, mas também como lidar e como transmitir esses valores às
crianças, pois é conhecendo as diferenças que se aprende a respeitar o outro com suas
peculiaridades. Segundo Gomes (2012, p. 29):
Isso requer mudança nos discursos, nos raciocínios, nas lógicas, nos gestos,
nas posturas, no modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se
conheça a sua história e sua cultura apresentadas, explicadas, buscando-se
especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade
brasileira.
Porém, a escola não está devidamente preparada para atender ao que é posto na
legislação, apesar de o ambiente escolar ser o responsável pela construção do
conhecimento sistematizado, pela socialização dos estudantes, talvez a implementação
da Lei 10.639/03 seja de certa forma prejudicada, pois a escola, nesse contexto, faz
vistas grossas às ocorrências de atitudes racistas.
Sendo a maior parte da população brasileira composta por negros, os quais na maioria
das vezes sofrem discriminação racial, por serem de “cor”, e por terem poucas
605
oportunidades, acabam sendo vítimas de atitudes discriminatórias e consequentemente
sua capacidade é levada à inferiorização. Do mesmo modo acontece na escola, a criança
recebe um apelido “carinhoso”, mas esta muitas vezes está sofrendo uma prática racista.
Muito se fala em leis, porém pouco se cumpri ou se executa na íntegra, às vezes pelas
dificuldades de aplicação e as diferentes percepções, acabam prejudicando o seu
cumprimento. Não seria diferente com a Lei nº 10.639/2003, que obriga às instituições
de ensino de todos os níveis à implementarem nas Diretrizes Curriculares Nacionais a
Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
e Africana.
O presente Plano Nacional tem como objetivo central colaborar para que
todos os sistemas de ensino cumpram as determinações legais com vistas a
enfrentar as diferentes formas de preconceito racial, racismo e discriminação
racial para garantir o direito de aprender a equidade educacional a fim de
promover uma sociedade justa e solidária. (SECADI, 2013, p. 19)
Porém, não podemos deixar de observar os avanços e melhorias que a Lei 10.639/2003
trouxe para o interior das escolas e na sociedade em geral. O que antes era totalmente
despercebido, hoje já se pode notar projetos que destacam essa temática, mesmo que
ocorram esporadicamente e somente em datas específicas como, por exemplo, o dia 20
de novembro, onde se comemora “o dia da consciência negra”.
606
Nesse contexto, torna-se muito oportuna a inclusão da temática no Projeto Político
Pedagógico das escolas, visto que a ação para a elaboração do projeto é realizada
através de construção coletiva o que viabilizaria para a implementação da Lei
10.639/03, pois esta estaria mais próxima da realidade, podendo ser inserida no
cotidiano escolar. De acordo com Gomes (2012, p. 27):
Considerações finais
Referências
<http://dmd2.webfactional.com/media/anais/EDUCACAO-E-PRECONCEITO-
RACIAL-NO-BRASIL-DISCRIMINACAO-NO-AMBIENTE-ESCOLAR.pdf>.
Acesso em: 26 dez. 2016.
<http://www.cairu.br/biblioteca/arquivos/Direito/Discriminacao_racial_nas_escolas.pdf
>. Acesso em: 21 dez. 2016.
607
Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para Educação das Relações
Étnico Raciais. Brasília: SECAD, 2006. 262 pg.
608
ENSINO DE HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA:
TEORIA E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS
E ADULTOS
Giovana Maria Carvalho Martins
Cabe pontuar que o ambiente da sala de aula permanece o mesmo, com dinâmicas e
cotidiano próprios aos quais o professor deve se adaptar para um bom andamento da
aula em todas as modalidades de ensino. Em nossa experiência, foi necessário adequar a
linguagem das atividades para que fossem acessíveis, bem como moldá-las para o
número reduzido de sete estudantes na turma, o que impossibilitava o desenvolvimento
de determinadas propostas – mas favorecia outras, pois foram bastante participativos.
Foram necessárias aulas que se relacionassem com a vida dos alunos para que estes se
interessassem e levassem experiências positivas de nossa docência. Então, abrimos
espaço para expressarem opiniões e relatos pessoais, o que enriqueceu as aulas.
Outro aspecto considerado foi o cotidiano da sala de aula. O autor José Rodrigues
(2002) aponta que “a sala de aula, como espaço social, representa um campo plural e
609
permanente de construção de saberes a partir de interações e representações que
constituem as estruturas de produção de saberes” (RODRIGUES, 2002, p. 01). Isto se
dá pois, apesar de o cotidiano escolar estar limitado pelas normas institucionais e
sociais, sua principal característica é a espontaneidade. Assim, a história dos sujeitos, as
características geográficas do local onde moram e onde está a escola têm reflexos nas
condições sócio-econômicas, em seus modos de ser e agir, e nas percepções sobre
escola, trabalho e vida tanto de professores quanto de alunos (RODRIGUES, 2002).
O autor Angelo Priori (2012, p. 48) coloca que a forma mais comum de resistência à
escravidão eram fugas. Os escravos se escondiam em locais de difícil acesso,
desenvolvendo comunidades e praticando agricultura, artesanato, comércio. Tais locais
receberam nomes como “mocambo” e “quilombo”, palavras africanas que significam
lugar de pouso ou acampamento, e eram locais de resgate e afirmação da identidade
étnica e cultural, em que os quilombolas podiam praticar suas religiões e manter sua
cultura. Atualmente, os quilombos permanecem como comunidades pequenas com
economia de subsistência baseada no cooperativismo, e as produções incluem
mandioca, cana-de-açúcar, arroz, feijão, milho, frutas e legumes. Há ainda a criação de
animais, como porcos, galinhas, patos, gado, cavalos (cf. PRIORI et al, 2012, pp. 54-
55).
Petrônio Domingues e Flávio Gomes (2013, p. 06) colocam que a temática quilombola
envolve debates, e desde as últimas décadas do século XX, as questões da reforma
agrária se articulam com as questões raciais. Atualmente, diversas comunidades
quilombolas lutam por territórios, e os conflitos existem graças à falta de documentação
que comprove a posse de terra (PRIORI, 2012, p. 56). Muitas estão localizadas em áreas
de produção agropecuária, outras têm seu território cobiçado por cooperativas. De
acordo com a Fundação Cultural Palmares (Ministério da Cultura), existem, no Brasil,
3.524 dessas comunidades.
A autora Lúcia Silva (2008) salienta que a vida dos escravos após sua libertação,
especialmente no Paraná, é pouco retratada nos documentos. Desta maneira,
610
apresentamos aos alunos uma forma de estudar História que pode contribuir para
pesquisar esta população: a História Oral. Trata-se de “uma metodologia de pesquisa
que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar
sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da
história contemporânea” (CPDOC, 2015).
Além disto, pontuamos o que a historiografia coloca: a princesa foi a responsável por
assinar a Lei Áurea que libertou os escravos, mas isto foi motivado por uma série de
circunstâncias e pelo contexto histórico em que ela estava inserida. Ou seja, ela não o
fez simplesmente por ser “benevolente”. Foi essencial mostrar aos alunos que a História
é feita de visões distintas e opiniões diferentes, e que sua multiperspectividade está
presente mesmo em situações particulares como a de Paulino.
Sobre isto, concordamos com Isabel Barca (2001, p. 29): atualmente, se reconhece que a
existência de uma multiplicidade de propostas explicativas compõe a natureza do
conhecimento histórico, dando-lhe um caráter de provisoriedade, pois “a relação
histórica entre factos pode ser enriquecida se se trabalhar com mais do que uma
perspectiva”, de maneira que “a História dá respostas provisórias porque pode haver
pontos de vista diferentes [...]” e porque descobrimos novas relações sobre o passado
(BARCA, 2001, p. 39). Foi neste sentido que desenvolvemos as discussões em sala de
aula, e os resultados foram satisfatórios, visto que os alunos exprimiram suas opiniões e
participaram da aula.
611
Referências
REIS, Sônia Maria Alves de Oliveira. A inserção dos egressos da educação popular
na escola pública: tensão entre regulação e emancipação. 2009. 199 f. Dissertação -
UFMG/FaE. Belo Horizonte, 2009. Disponível em: <
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/FAEC-
85LMWZ/disserta__o_sonia_fae_ufmg.pdf?sequence=1>. Acesso: 09 fev. 2017.
SILVA, Lúcia Helena Oliveira. Escravos e Libertos no Paraná. In: ALEGRO et al.
Temas e Questões para o ensino de História do Paraná. EDUEL: Universidade
Estadual de Londrina, 2008.
612
DISCRIMINAÇÃO DO NEGRO NO BRASIL: UM
OBSTÁCULO A SER VENCIDO
Geise Batista Damasceno
Kédna Pinheiro Vieira
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
Introdução
614
Considerações finais
A questão da discriminação do negro no nosso país é bastante presente, eles ainda têm o
pior trabalho e não têm as mesmas regalias que o branco. Já se foi conquistado um
grande espaço na sociedade, leis que os amparam, mas não é o bastante. Nosso país
ainda vive com o mito de que não é racista, mas isso podemos comprovar no dia a dia
que é uma grande utopia. Sonhamos com o dia em que a questão racial no Brasil seja
apenas uma lembrança ruim afinal somos todos humanos e como tal, temos corpo e
alma, a cor da pele é apenas uma particularidade.
Referências
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador, BA: EDUFBA, 2008.
615
DO ANONIMATO À NOTABILIDADE: A MULHER
AFRODESCENDENTE NO ENSINO BRASILEIRO
Ivanize Santana Sousa Nascimento
Quem hoje tem trinta, quarenta anos de idade bem deve lembrar-se dos métodos de
ensino nas aulas de História: a memorização dos fatos e a argüição oral daquilo que era
lecionado pelo detentor do saber: o professor. Material didático? Formas de avaliação?
Coisa muito difícil de ver, porque os materiais eram escassos, havia poucos livros
didáticos com atividades-questionários e a fala do professor estava acima de tudo. Em
suma, o ensino da História resumia-se na repetição de lições dadas sem contestação. O
Brasil, assim, copiou as abordagens europeias, principalmente o modelo francês, a
História Universal. Apesar de usar nas entrelinhas a História Sagrada, facultar as aulas
da História nacional, contudo, elevar os “feitos heróicos” de quem construiu a nação
brasileira. E, apesar da República ter sido proclamada no final do século XIX(1889), o
foco de ensino era o continente europeu. No século XX, o que aconteceu com a
historiografia do recém-país? Nada de novidade, até porque o governo da República
estava com o pensamento voltado para os lucros da “política do café com leite”. E
mesmo que alguns grupos de pensadores (historiadores) como os anarquistas, quisessem
propor a criação de escolas públicas, com currículos e métodos apropriados, suas ideias
eram descartadas. Inegavelmente, vale salientar que a Semana de Arte Moderna (1929)
em São Paulo, foi o apogeu de grandiosas discussões culturais e artísticas que acabaram
inspirando o mundo político, econômico, social e educacional. O que as obras
“Operários e Abaporu” de Tarsila do Amaral, representaram? Decerto, o cotidiano
brasileiro composto de suas matrizes formadas por índios, negros e povos vindos de
outros continentes. Eis aí o que estava em questão: a busca pela identidade nacional, a
revelação da diversidade étnico-racial e a colaboração destes no crescimento econômico
do Brasil industrial e urbano que despontava nos anos 30. Por isso, conforme os PCNS
(2001, p.24): “Nos programas e livros didáticos, a História ensinada incorporou a tese
da democracia racial, da ausência de preconceitos raciais e étnicos [...], o povo
brasileiro era formado por mestiços, compondo um conjunto harmônico de convivência
dentro de uma sociedade multirracial e sem conflito.” Neste momento, o país evoluía e a
educação estagnava!? Contava mesmo era recitar, memorizar e comemorar as festas
cívicas na escola.
Isto posto, fazendo um breve recorte histórico da sociedade brasileira, quantas e quais
são as mulheres negras ou afrodescendentes que ajudaram a fazer a História do Brasil
até os dias de hoje? Quem são as heroínas comemoradas nas festividades cívicas? Os
livros didáticos reportam esse contexto nos temas históricos de grande relevância?Aqui
se salientam nomes poucos mencionados ou desconhecidos totalmente, alguns
referenciados no guia (Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-
Raciais, 2006, p.245): Francisca da Silva Oliveira, mais conhecida como Chica da Silva,
escrava do contratador João Fernandes, o qual lhe alforriou. Como negra, livre,
abastada, soube impôs-se aos preconceitos daquele período e desfrutou de muitas
atividades reservadas às mulheres “brancas. Antonieta Barros, catarinense, nasceu em
616
1901. Formou-se em Magistério e tornou-se a primeira deputada estadual negra do país
e a primeira deputada mulher de Santa Catarina. Carolina Maria de Jesus nasceu no
começo da Primeira Guerra Mundial (1914). Mineira de Sacramento teve uma infância
muito pobre, era catadora de lixo, sendo que foi nessa atividade, o seu encontro com
uma velha caderneta. Ali, ela passou a registrar momentos de sua vida. Chegou a ser
uma das únicas mulheres brasileiras incluídas na Antologia de Escritores Negros,
publicada em dicionários mundiais de Nova Iorque e Lisboa. Eugênia Ana dos Santos,
cognominada de Mãe Aninha, nasceu em 1869 na cidade de Salvador (BA).
Descendente direta de africanos, lutou pela liberdade de culto no Brasil. O presidente
Getúlio Vargas, através do Decreto nº 1202, estabeleceu o fim da proibição ao culto afro
em 1934. Francisca Edwiges Neves Gonzaga, Chiquinha Gonzaga, filha de pai branco e
mãe negra, desde a infância, foi excluída por ser uma “bastarda”e na vida adulta, foi
considerada “devassa” e “irreverente”. Considera-se nessa contemporaneidade, a
precursora da MPB, que escolheu para si uma profissão masculina. Além de
compositora era regente (primeira maestrina). Na política, lutou como abolicionista pelo
término da escravidão ao lado dos companheiros, Antonio Callado e Joaquim Nabuco.
Se tratando de combate ao racismo à mulher, Lélia Almeida Gonzalez, nascida em
1935, foi uma mineira de destaque à causa negra na década de 40. Militou em prol da
mulher e do negro no Brasil. Incentivou debates sobre o racismo nas universidades do
país, ajudou a fundar o Movimento Negro Unificado (MNU), o Instituto de Pesquisas
das Culturas Negras (PCN/RJ), o Nzinga Coletivo de Mulheres Negras no Rio de
Janeiro e o Olodum na Bahia. A famosa Revolta dos Malês, 1835, foi de “escravos
muçulmanos”. Não poderíamos dizer também, de escravas cativas e libertas que deram
muito de si pelo fim da escravidão na Bahia,a exemplo de Luísa Mahin?
Seria o correto, porém, não há muito tempo que a historiografia brasileira começou a
dar seus pequenos passos para esta realidade de reflexão e crítica. No cerne de duas
ditaduras (Vargas e a Militar),viveu-se o nacionalismo carregado de xenofobia e
conservadorismo. Ai daquele(a) que contestasse os regimes citados,um professor
lecionasse fora do currículo proposto e não mostrasse a grandiosidade dos dirigentes
políticos, comparando-os aos “feitos heróicos” de certos vultos a exemplo de Tiradentes
e não das negras baianas Ana Romana e Domingas Maria do Nascimento da
Inconfidência Baiana.No ápice do Regime Militar,a História foi recantada e mesclada
nos Estudos Sociais,para dar notoriedade ao ufanismo dos presidentes ditadores e ao
ensino voltado para o tempo cronológico(linear).Felizmente,são os anos 60,através das
lutas universitárias, que vêm trazer uma nova roupagem metodológica à História.Graças
aos movimentos revolucionários europeus dessa época,o clima bom veio gestado e
concebido dos protestos e manifestos dos homens e mulheres contra uma sociedade
puramente capitalista,exploradora que submetia uma grande massa ao “conformismo
sócio-econômico,cultural e educacional”. Moraes Ferreira e Renato Franco (2013,p.61)
enfatiza que “Na esteira dos movimentos afirmativos das minorias,a escrita da História
começou também a redimensionar o papel das mulheres,crianças,homossexuais e
pobres[...],fazendo emergir uma História vista baixo.”O mesmo ocorreu no
Brasil,permitindo que história tradicional,o currículo oculto e formal fosse revisto,os
livros reelaborados e as aulas de história incorporassem o currículo invisível,àquele que
traz os valores vividos de maneira informal pelo educando e acaba por constituir e
colaborar na formação da sua identidade e seu sentimento de pertença a uma etnia e
comunidade. Lembrando que “novos temas também podem e devem ser utilizados.
617
Assim, em um mundo em que as mulheres têm cada vez mais atuação na vida social
posta em evidência, a apresentação das mulheres e das relações de gênero apresenta
interesse evidente. ”(Funari, 2012, p.100). Desse modo, dentre as conquistas dos
afrodescendentes, a Lei da História e Cultura Afro-Brasileira (10.639/2003),
complementada pela Lei 11.645/2008 que trata da causa negra e indígena, salienta quão
é necessário não negar na sala de aula os atos torpes e desumanos vivenciados no Brasil
por mais de trezentos anos. Todavia, mostrar a atuação de vários negros e negras de
destaque ontem e hoje, situações positivas que “desnaturalizem” o tempo histórico,
desconstruam estereótipos, preconceitos, posturas etnocêntricas como a ideologia do
branqueamento que nas entrelinhas ainda se abastece da inferioridade e da superioridade
da cor e tem plantado nas redes sociais manifestações racistas e excludentes contra
muitas mulheres julgadas pela sua aparência e não pela competência e capacidade
intelectual, moral e ética. Sérgio Buarque de Holanda, citado por Circe Bittencourt
(2012,p.185) bendiz que:
Considerações Finais
Referências
618
______. Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais. Diário
Oficial, Brasília – DF: SECAD, 2006.
619
A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM
FEMINISTA NOS CURSOS DE LICENCIATURA
EM HISTÓRIA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Jeane Carla Oliveira de Melo
Em virtude disto, Rago (1998) chama atenção para a importância da produção de uma
Epistemologia Feminista, capaz de criticar a tradição científica impregnada por valores
masculinos e que possa elaborar um contradiscurso fundado na busca de uma nova
linguagem que dê conta das experiências históricas diferenciadas de homens e mulheres,
uma vez que as sociedades impõem aos sexos modos distintos de socialização. Em
outros termos, a historiadora, ao denunciar o caráter ideológico, racista e sexista do
conhecimento, apela em favor de um novo modelo de ciência feminista constituída
como um saber alternativo com um conteúdo potencialmente emancipador. Na prática,
torna-se necessário romper dicotomias e esquemas de análise que hierarquizem o
público sobre o privado, o masculino sobre o feminino, o âmbito político sobre o âmbito
doméstico. Entusiasmada com a fecundidade desse terreno epistemológico e político,
Rago (1998, p.17) assinala que
621
As possibilidades abertas para os estudos históricos pelas teorias feministas
são inúmeras e profundamente instigantes: da desconstrução dos temas e
interpretações masculinos às novas propostas de se falar femininamente das
experiências do cotidiano, da micro-história, dos detalhes, do mundo
privado, rompendo com as antigas oposições binárias e de dentro, buscando
respaldo na Antropologia e na Psicanálise, incorporando a dimensão
subjetiva do narrador.
Referências bibliográficas
622
LUCENA, Paola. Rompendo silêncios e descobrindo as mulheres: uma análise da obra
de Michelle Perrot no contexto da história das mulheres. In: Caderno de Resumos &
Anais do 2ª Seminário Nacional de História da Historiografia. Ouro Preto,
EDUFOP, 2008.
MISTURA, Letícia & CAIMI. Flávia. O (não) lugar da mulher no livro didático de
história: um estudo longitudinal sobre relações de gênero e livros escolares (1910-
2010). In: Aedos, Porto Alegre, v. 7, n. 16, Julho 2015.
RAGO, Margareth. Epistemologia Feminista, Gênero e História. In: PEDRO, Joana &
GROSSI, Miriam (orgs.) - Masculino, Feminino, Plural. Florianópolis:
Mulheres,1998.
SHARPE, Jim. A história vista de baixo. In: BURKE, Peter. (Org.). A escrita da
história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.
623
ÁFRICA QUE CHEGA PELA ORALIDADE:
REPRESENTAÇÕES HISTÓRICAS E COMBATE
AO PRECONCEITO EM SALA DE AULA
João Pedro Pereira Rocha
“Então, fui uma leitora precoce. E o que eu lia eram livros infantis
britânicos e americanos. Eu fui também uma escritora precoce e quando
comecei a escrever por volta dos sete anos [...] eu escrevi exatamente os
tipos de histórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de
olhos azuis, eles brincavam na neve e comiam maçãs, eles falavam muito
sobre o tempo e como era maravilhoso o sol ter aparecido. Agora, apesar do
fato que eu morava na Nigéria, eu nunca havia estado fora da Nigéria [...]
Minhas personagens bebiam muita cerveja de gengibre, porque os
personagens britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não
importava que eu não soubesse o que era cerveja de gengibre.”
“As coisas mudaram quando eu descobri os livros africanos [...] Tive uma
virada na minha percepção sobre literatura. Percebi que pessoas como eu,
meninas com pele de cor de chocolate, cujo cabelo crespo não dava pra
fazer rabo-de-cavalo, também poderiam existir na literatura. (...) Descobrir
escritores africanos resultou numa coisa: me salvar de ter uma única história
sobre o que os livros são.”
625
Nesse ponto a fala da escritora serve a um propósito importante: a abordagem da África
em sala. Em artigo publicado pela Revista Ágora (2007) os autores questionam, entre
outras, sobre a aplicabilidade da Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da História e
Cultura Afro-brasileira e Africana, em sala de aula. Especificamente, é questionado
sobre de qual forma esse conteúdo será oferecido aos estudantes?
“Se eu não tivesse crescido na Nigéria e tudo o que eu soubesse sobre África
viesse das imagens populares publicadas, eu também pensaria que a África
era um lugar de paisagens bonitas, animais bonitos e pessoas
incompreensíveis, disputando guerras insensatas, morrendo de pobreza e
AIDS, incapazes de falar por si mesmas. Esperando para serem salvas pelo
estrangeiro branco e gentil.”
São frases passiveis de uso em sala de aula, uma vez que os trechos transmitem
informações que podem dialogar com as experiências dos próprios estudantes. Como
afirma o historiador cultural Roger Chartier (2002), o controle e o condicionamento são
usados por quem detêm o poder da palavra e dos gestos. Nesse contexto, é importante
sublinhar que a formação da consciência história, ponte para o respeito às diferentes
experiências históricas (CERRI, 2011), ocorre no contato que os sujeitos têm com as
diversas formas de emissão de ideologias, a exemplo das mídias diversas. Com isso, e
pensado a disciplina história e seu papel formativo, o conjunto da narrativa feita por
Chimamanda Adichie, apresenta a todos os sujeitos envolvidos com o processo de
626
formação escolar a capacidade de refletir sobre a pluralidade cultural, o respeito às
diferenças e ações em prol da fragmentação de representatividades preconceituosas
acerca da África em sala de aula.
Referências Bibliográficas
MEDEIROS, Angela Cordeiro; ALMEIDA, Eduardo Ribeiro de. História e cultura afro-
brasileira: possibilidades e impossibilidades na aplicação da lei 10.639/2003. Revista
Ágora, Vitória, n. 5, 2007, p. 1-12.
SILVA, Ana Célia da. A representação social do negro no livro didático: o que
mudou? Por que mudou? Salvador: EDUFBA, 2011.
Fonte do vídeo
627
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E
AFRICANA NA REDE PÚBLICA DE PORTO
VELHO – RO
Joel Balduino da Silva Junior
Esse trabalho tem por objetivo investigar duas escolas públicas de Porto Velho,
identificando como a História e Cultura afro-brasileiras e africanas são ministradas e
recebidas pelos professores e alunos. Ouviremos, portanto, alunos, supervisores,
diretores e professores das áreas de história, artes e literatura sobre o ensino de história e
cultura afro-brasileiras conforme a Lei:10.639Esta dissertação tem por objetivo
investigar duas escolas públicas de Porto Velho, identificando como a História e Cultura
afro-brasileiras e africanas são ministradas e recebidas pelos professores e alunos.
Ouviremos, portanto, alunos, supervisores, diretores e professores das áreas de história,
artes e literatura sobre o ensino de história e cultura afro-brasileiras conforme a
Lei:10.639/03, a LDBN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Essa lei
institui obrigatoriamente o ensino da história e cultura afro-brasileiras e africana no
currículo escolar do ensino fundamental e médio.
628
(GEPIAA) Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares Afro-Amazônicos da UNIR,
envolvidos no trabalho desenvolvido sobre o Patrimônio histórico e cultural, a
discriminação racial, a intolerância religiosa e o racismo; passando, além disso, pela
minha trajetória acadêmica e profissional como professor na rede Estadual e Municipal
de ensino em Porto Velho. Dessa forma as questões relacionadas à condição dos negros
na sociedade e sua presença na escola sempre receberam minha atenção. Ao longo da
minha prática docente presenciei muitos conflitos no interior das escolas e na sala de
aula relacionados as questões étnico - racial e ao preconceito. Diante dessas situações
sempre procurei desenvolver trabalhos e ações que promovessem a reflexão e a
mudança de postura entre os alunos e entre os professores.
Na segunda, foi realizada uma análise documental junto ao corpo técnico, supervisores e
gestores escolares dentro do estabelecimento de ensino público em Porto Velho. A
terceira etapa, por sua vez, consistiu na aplicação de questionários semiestruturados
com perguntas fechadas sobre a temática: Reflexão crítica sobre a história e a cultura
afro-brasileira, aos alunos, professores e corpo técnico do estabelecimento de ensino
público de Porto Velho. Na quarta etapa, foram realizadas rodas de conversas nos
grupos focais com os alunos em sala de aula. Na quinta e última etapa, foram realizadas
diversas atividades, utilizamos as mídias e vídeos como instrumentos para aguçara
memória dos alunos e dos professores sobre as questões da cultura afro-brasileira, com
o objetivo de provocar discussões interdisciplinares na escola. Esta dissertação tem
como objetivo fundamental apresentar dados de uma pesquisa de campo realizada em
duas escolas públicas de Porto Velho, sobre a história e cultura afro - brasileira,
ampliando, assim, os estudos sobre a Lei 10.639/03.
A pesquisa foi realizada na Escola Estadual de Ensino Médio Anísio Teixeira (zona
Norte – Centro), situada na Rua Irmã Capeli, nº 66 , e na Escola Estadual de Ensino
629
Fundamental e Médio São Luiz (zona Leste – periferia), situada na Rua Mario
Andreazza, nº 8.186 - JK II, tendo como foco principal a opinião dos alunos,
supervisores, diretores e professores das áreas de história, artes e literatura sobre o
ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. A escolha das localizações das
escolas se deu com o objetivo de realizarmos um estudo comparativo, sociocultural das
informações colhidas na pesquisa de campo, nas duas zonas, Norte e Leste de Porto
Velho. A escolha das séries e faixas etárias se deu pensando na maturidade dos
educandos, fator essencial para o bom desempenho dos trabalhos nos depoimentos e na
produção de dados. Além dos elementos citados, a intensa busca pelas origens do
patrimônio histórico afrodescendente e os desdobramentos sociais mais amplos que aqui
estão sendo apresentados, pude entrar em contato com a temática em questão quando
realizei, em pesquisa de pós-graduação em história Regional de Rondônia entre os anos
de 2006 a 2008, um estudo sobre as diferenças existentes entre os rituais e o simbolismo
das festas das religiões de matrizes africanas na Umbanda e no Candomblé, em Porto
Velho. Vale ressaltar que foi através desses fatos e da experiência pessoal com a
pesquisa in loco com os cultos afro-brasileiros, no Latu Sensu, que nasceu o interesse,
pela pesquisa no campo da etnicidade e culturalidade afro-brasileiras.
Referências
ASSIS, Marta Diniz Paulo de. CANEN, A. Identidade negra e espaço educacional:
Histórias e contribuições do multiculturalismo. São Paulo: Vozes, 2004.
BURKE, Peter. Estrutura da cultura popular. _____ In: Cultura Popular na Idade
Moderna. Europa. 1500-1800. São Paulo: Moderna: Companhia das Letras, 1995.
630
CANDAU, Vera Maria Ferrão. Sociedade multicultural e educação: tensões e desafios.
IN: CANDAU, Vera Maria Ferrão (Org.). Cultura(s) e educação: entre o crítico e o
pós-crítico. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
CEVASCO, Maria Eliza. As Dez Lições Sobre os Estudos Culturais. São Paulo: Bom
tempo Editorial, 2003.
631
O ENSINO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA: POR UMA
HISTÓRIA (DES) EUROCÊNTRICA
José Ribamar Santos de Almeida
“O que sabemos sobre a África?” É com esta pergunta inquietante e profunda que Oliva
(2004), nos interroga no seu artigo a História da África nos bancos Escolares.
Estudamos a história ainda em uma perspectiva linear e eurocêntrica onde primeiro vem
a Idade antiga, Idade Média, Idade Moderna e a Idade Contemporânea sempre
privilegiando as marcas ou representações da Europa como modelo “Quantos tiveram a
disciplina História da África nos cursos de História? Quantos livros, ou textos, lemos
sobre a questão? Tirando as breves incursões pelos programas do National Geographic
ou Discovery Channel, ou ainda pelas imagens chocantes de um mundo africano em
agonia, da AIDS que se alastra, da fome que esmaga, das etnias que se enfrentam com
grande violência ou dos safáris e animais exóticos, o que sabemos sobre a África?
(OLIVA.2003, p.429). O que ainda hoje encontramos sobre a África são representações
construídas historicamente e de forma estruturada ao longo dos tempos, a partir de
lentes europeias.
Aqueles que se sentaram em bancos escolares até o fim da ditadura militar tinham que
se contentar, ou aturar, uma História de influência positivista recheada por
memorizações de datas, nomes de heróis, listas intermináveis de presidentes e
personagens. Sem contar a extrema valorização da abordagem política pouco atraente,
do eurocentrismo na História Geral e da exaltação da nação e de seus governantes na
História do Brasil. Todos esses conteúdos eram apresentados com pouco ou nenhum
perfil crítico e não existiam brechas para a participação das pessoas comuns nos fatos
tratados. O ruir da traumática aventura dos militares ao poder se fez acompanhar de um
esforço de historiadores, professores e técnicos na tentativa de modificar o ensino da
história. (OLIVA,2003, p 425).
O paraíso terrestre aparecia sempre ao Norte, no topo, distante dos homens, e Jerusalém,
local da ascensão do filho de Deus aos céus, no centro. A Europa, cuja população
descendia de Jafet, primogênito de Noé, ficava à esquerda (do observador) de Jerusalém
e a Ásia, local dos filhos de sem netos de Noé, à direita. Ao Sul aparece “o continente
negro e monstruoso, a África. Suas gentes eram descendentes de Cam, o mais moreno
dos filhos de Noé” (Noronha, 2000: 681-689). Neste caso, mais uma vez o desprestígio
recobria a África. Segundo os textos bíblicos, Cam foi punido por flagrar seu pai nu e
embriagado. Seus descendentes deveriam se tornar escravos dos descendentes de seus
irmãos e habitar parte do território da Arábia, do Egito e da Etiópia.
Com as Grandes Navegações e os contatos mais intensos com a África, abaixo do Saara,
os estranhamentos e os olhares preconceituosos continuam. No século XV, duas
encíclicas papais— a Dum Diversas e a Romanus Pontifex—“deram direito aos Reis de
A escola diante desse quadro precisa aprender a conviver com a diversidade cultural
pois o conhecimento sobre a suas raízes históricas pode contribuir com a formação de
jovens mais consciente e confiantes do seu papel na História por outro lado do contrário
o número de evasão pode ser cada vez mais como coloca Fernandes (2005, p381);
Pesquisas já realizadas pela Fundação Carlos Chagas, têm demonstrado o quanto nossa
escola ainda não aprendeu a conviver com a diversidade cultural e a lidar com crianças
e adolescentes dos setores subalternos da sociedade. Os dados revelam que a criança
negra apresenta índices de evasão e repetência maiores do que os apresentados pelas
brancas. A razão disso tudo, segundo a pesquisa, era devido aos seguintes fatores:
conteúdo eurocêntrico do currículo escolar e dos livros didáticos e programas
educativos, aliados ao comportamento diferenciado do corpo docente das escolas diante
de crianças negras e brancas.
634
As mudanças no ensino de História são necessárias mais gradual pois como coloca
Flores (2006), que as estruturas curriculares dos cursos de graduação em História, no
Brasil, ficaram, por muito tempo, presas ao foco eurocêntrico dos conteúdos
historiográficos. Esta cultura escolar viria a ser enfrentada somente depois da
Constituição de 1988, que tornou possível a criminalização do racismo no Brasil. O
próprio Flores reconhece a necessidade de rompermos com o eurocentrismo e a visão
quadripartite da historia E lembra que Braudel como o mais influente das Escola dos
Annales apresentou uma proposta nessa direção;
Entretanto, faça-se justiça aos historiadores franceses, pois Fernand Braudel (1902-
1985), o mais influente deles, iria propor um ensino de História mais pluralista e menos
etnocêntrico. Em vez de idades cronológicas, pensou-se em durações, economias,
cultura material, povos, capitalismo triangular. Tendo sido residente e pesquisador na
África mediterrânica e observador atento do processo de descolonização da África, na
década de 1960, Braudel escreveu um livro para jovens estudantes, inserindo nas suas
análises “o continente negro” e explicando as tendências do tempo presente na “África
Negra de hoje[1963] e amanhã”. Suas observações sobre as diásporas africanas
estimulam a pesquisa e o ensino de temas africanistas: “é de notar-se o fato, importante
para o mundo negro atual, de que existem Áfricas vivas no Novo Mundo (Flores, 2006,
p.69).
Considerações finais
Referências bibliográficas
APPIAH, Kwame Anthony. A invenção da África. In.: ______. Na casa de meu pai. A
África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
DJAIT, H. (1982). "As fontes escritas anteriores ao século XV". In J. Ki-Zerbo (org.),
História geral da África: metodologia e pré-história da África. vol. I. São Paulo/Paris,
Ática/Unesco,
635
FANON, Frantz (1983). The wretched of the earth. Harmondsworth, Penguin.
636
MULHERES EM CENA: NARRATIVAS
HISTÓRICAS E A INVISIBILIDADE DAS
MULHERES NO FILME GERMINAL
Jorge Luiz Zaluski
Maycon André Zanin
Pode-se afirmar que nos últimos anos existiu o crescimento da utilização do cinema
como suporte pedagógico. No Brasil, por exemplo, a lei 13.0006/2014, acrescenta no
parágrafo 6º ao artigo 26 da Lei nº9394, de 20 de dezembro de 1996, a obrigatoriedade
da exibição e discussão de ao menos duas horas mensais de filmes nacionais. (BRASIL,
2014)
A trama apresentada versa sobre a história de uma família composta pelos personagens,
Maheude (mãe), Toussaint Maheu (pai), Vincent Maheu – Boa morte (avó), e pelos/as
filhos/as, Catherine, Estelle, Zacharie, Lénore, Henri, Alzire e Jeanlin, que vivem de
637
aluguel nos cortiços da empresa Vourex. Mineradora em que trabalham os homens,
filhos e Catherine. Tanto no trabalho quanto em casa, vivem em situações precárias de
saúde, vestimenta, alimentação, dentre outras condições que informam que as condições
salariais favoreciam a miséria que levavam. Ainda no filme, Étienne, viajante
desempregado que buscava por melhores condições de vida. Como protagonista,
durante a história narrada é apresentado de duas maneiras. Na primeira, como um
observador de todas as dificuldades e problemas enfrentados pela família Maheu e os/as
demais trabalhadores/as. Segundo, por ser um dos poucos letrados, e com influências de
leituras marxistas, trajando seu casaco vermelho, é apresentado como um fervoroso
manifestante em prol da situação daquelas pessoas. Ao desencadear uma greve, são
realizados alguns conflitos, e como o próprio nome diz, o germinar da manifestação e a
luta por direitos. O filme não informa se as manifestações trouxeram contribuições para
os/as participantes, acaba deixando a dúvida se os/as trabalhadores continuaram lutando
por melhorias.
Ou seja, em Germinal, Berri traçou uma comparação de seu presente com o passado
narrado na trama. Longe de ser uma verdade absoluta, é uma narrativa, uma
interpretação dada a um passado não vivenciado. Deste modo, qualquer produção não
deve ser utilizada como uma ilustração do passado tal como foi, mas sim, estar aberta
para discussões e interpretações sobre a trama. Para tanto, diante também do espaço
reduzido para essa discussão, refinamos nossa análise sobre as narrativas apresentadas
em Germinal sobre as mulheres durante a Revolução Industrial. Essa observação é
fundamental, ao ser um filme de grande repercussão e bastante indicado para utilização
em sala, a não problematização de algumas cenas pode contribuir para o reforço da
naturalização de diferenças de gênero.
Esse olhar é possível na medida em que utilizamos o gênero como categoria de análise.
Compreende-se, tal como Joan Scott que “[...] o gênero é um elemento constitutivo de
relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos.” O filme reforça
essas diferenças, pois inviabiliza a atuação das mulheres reduzindo-as ao protagonismo
dos homens. De que as diferenças corporais contribuem para a atuação diferenciada dos
sujeitos em espaços que existe a aceitação ou a negação conforme o gênero.
Em meio às cenas de greve, onde muitas vezes aparecem apenas como companheiras,
dois momentos exploram a atuação das mulheres. Na primeira, insatisfeitas pelas
condições precárias, um grupo de mulheres se reúne e deslocam-se até a venda impor
uma negociação com o comerciante. Diante de humilhações, buscam renegociar suas
dívidas e ampliar e manter o crédito para não morrerem de fome por estarem sem
salário. Na segunda, na mesma venda durante uma manifestação de grevistas pela
cidade, as mulheres vão em busca do comerciante, esse ao fugir, cai, bate a cabeça e
morre. Como símbolo de insatisfação pelas constantes humilhações, entre elas a
prostituição realizada em troca de alimento, uma das mulheres corta a genitália do
homem morto. Onde acaba expondo ao restante da cidade o que as incomodava quando
elas deveriam buscar a venda para saciar a fome.
Eduard Thompson, historiador que dedicou grande parte de suas obras para a
investigação sobre esse contexto, recebeu várias críticas ao afirmar que estava
integrando as mulheres na história. Para Carla Pinsky, ao tratar sobre as mulheres na
história e ao debater sobre os estudos de Thompson, afirma que, “[...] a questão da
mulher não está nele representada (e se estivesse, a coerência da narrativa seria
desafiada, já que o texto, apesar de falar sobre mulheres, não trata de seus papéis
históricos.”(PINSKY, 2009, p, 173)
Logo, ao traçarmos uma comparação dos estudos sobre o período e a narrativa proposta
por Berri, evidenciamos que ambas as abordagens possuem aproximações. Pois como
nos informa Carla Pinsky, “[...] na luta dos trabalhadores ingleses, descrita pelo
historiador, as mulheres são retratadas mais como companheiras leais que como
militantes convictas.” (PINSKY, 2009. P, 173)
639
A breve discussão aqui apresentada não diminui a importância da utilização desse filme
como suporte metodológico. Feito uma comparação entre a produção cinematográfica e
algumas obras que investigam sobre o tema, evidenciamos da necessidade de
problematizar a atuação das mulheres na história. Esse filme permite isso, todavia
necessita que o/a professor/a busque desnaturalizar as diferenças de gênero reproduzidas
nas cenas que narra o passado.
Referências
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna – Europa 1500-1800. 2. ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989.
HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções – 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 25ª
Ed, 2011.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto,
2003
PINSKY, Carla Bassanezi. Estudos de Gênero e História Social. Rev. Estud. Fem.
[online]. 2009, vol.17, n.1, pp. 159-189. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ref/v17n1/a09v17n1.pdf Acesso em 15 de fevereiro de 2017.
SCOTT, Joan Wallach. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação
& Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995
640
SOUZA, Edileuza Penha de. (Org.) Negritude, cinema e educação: caminhos para a
implantação da lei 10.639/2003. Belo Horizonte: Mazza edições, 2006
641
O NEGRO NA FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
HISTÓRICA: ENTRE OS DISCURSOS
MIDIÁTICOS E A CONSTRUÇÃO DE
ESTEREÓTIPOS
Jessica Caroline de Oliveira
Não é novidade os debates e embates acerca do preconceito e racismo, o que tem gerado
tensões entre as diferentes opiniões, as quais, pautadas no princípio de liberdade de
expressão, utilizam as mídias e redes sociais para tornar pública as suas interpretações e
perspectivas sobre as realidades sociais, políticas, econômicas e sociais. Estas práticas
podem ser entendidas como um problema, no momento em que se utilizam único e
exclusivamente do seu senso comum, este, por sua vez, vinculado a simplificações
rasteiras e preguiçosas, que pouco avaliam os processos históricos associados as suas
‘opiniões’. Portanto, essa tal liberdade de expressão abre caminho para afirmações
preconceituosas, estereotipadas e racistas, conteúdo que será consumido pelos
seguidores em diferentes redes socais. Neste sentido, mais do que uma mera opinião,
quando nos referimos a estes materiais, estamos falando em formação de opinião, pois,
as pessoas que ainda não produziram um determinado saber acerca de um assunto, ao
ler ou ouvir um sujeito que consideram a sua ‘referência’ (por razões que lhes são
particulares) intelectual, artística, política ou social, em alguns casos, tomam esse
discurso enquanto verdade e passam a reproduzi-lo. Quando se fala em discurso, aqui é
pensando pelo viés de Paul Ricouer (1989, p. 112), o qual salienta que “o discurso é
sempre discurso a respeito de algo: refere-se a um mundo que pretende descrever,
exprimir ou representar [...] só o discurso possui, não somente um mundo, mas o outro,
outra pessoa, um interlocutor ao qual se dirige”.
Partindo das informações acima apresentadas, este ensaio tem por objetivo observar os
discursos produzidos sobre questões étnico-raciais de dois sujeitos conhecidos e
mencionados em sala durante um debate na aula inicial deste ano letivo. Esta atividade
foi realizada nas turmas de 8º ano 1, 2 e 3, do Núcleo Educacional João Fernando
Sobral, localizado no município de Porto União (Santa Catarina), em 2017. A discussão
em si, estava vinculada aos usos de argumentos religiosos na tomada de decisões
legislativas em relação ao aborto, homossexualidade, feminismo, enfim, se tratava de
aula inaugural e alguns pontos do planejamento semestral foram arrolados à guisa de
introdução. A metodologia empregada foi a aula expositiva dialógica, utilizando-se
assim, da autora Osima Lopes (1991) para orientar os percursos da aula, fazendo uso do
diálogo e dos saberes prévios dxs discentes para fomentar os pontos pertinentes a aula, a
fim de elaborar e reelaborar o conhecimento histórico.
Outro sujeito mencionado em sala de aula, embora não seja um político, ganhou
destaque entre 2016 e início de 2017 (ainda que se tenha tentado abafar o caso), me
refiro a um youtuber chamado Lucas Marques, do canal Você Sabia?. Assim como o
senhor mencionado anteriormente, utilizou de sua rede social para manifestar sua
liberdade de expressão, isto é, insultar mulheres, negros, nordestinos e homossexuais.
No que diz respeito as questões etnicorraciais, antes da exclusão de suas postagens,
publicou: “procurando quem me roubou numa multidão de pretos”. Não vou me ater a
discutir em demasia a imbecilidade desta publicação, a qual, segundo apresentado pelxs
alunxs, era uma piada, assim como tantas outras que fazem parte do cotidiano brasileiro.
O elemento que aqui me fez citar este sujeito é a associação do afro-brasileiro à
criminalidade, o que não é raro encontrarmos referenciais semelhantes em outros
discursos, sobretudo, aqueles exibidos em novelas, onde o negro é o empregado,
favelado ou criminoso. E mais uma vez reafirmo: opiniões como estas são consumidas
diariamente pelas pessoas, o que deixa a seguinte inquietação: de que forma esta
produção de discurso atinge ou influência na formação da consciência histórica dxs
nossxs alunxs?
Para buscar entender os saberes produzidos pelas turmas selecionadas para este ensaio,
solicitei que, após uma breve discussão sobre os eixos de ensino apresentados na aula,
xs mesmxs escrevessem em uma folha o que sabiam, entendiam ou gostariam de
entender melhor daquilo que foi exposto no debate, tomando como exemplo o racismo,
a homofobia, feminismo, desigualdade social, enfim, a pergunta foi demasiadamente
ampla, buscando assim, dar liberdade às respostas e, por assim dizer, a liberdade de
expressão de cada discente. Ou pensando em termos mais conceituais, procurando
conhecer a consciência histórica discente, em que segundo Jörn Rüsen (2007), se trata
da soma de todos os saberes adquiridos, seja na escola, em casa ou com as demais
fontes de informação que, em conjunto, tecem significados, interpretações e orientações
na vida prática.
Em síntese, podemos apontar alguns aspectos que delinearam as atividades (que ainda
estão em processo de análise e irão compor um artigo), entre eles, ficou evidente a
associação do negro ao trabalho escravizados, os castigos sofridos, a tristeza e a saudade
da sua terra de origem – em parte, acredito que se deve a exibição da minissérie Raízes
em uma emissora de TV, ou a novela Escrava Mãe, demonstrando, deste modo, que as
643
mídias fomentam a formação da consciência histórica. Podemos observar este fato
através do seguinte trecho extraído de um dos textos entregues: “Eles vieram trazidos
pelo trafico negreiro, mesmo a gente generalizando eles como africanos, a vinda deles
trouxe diferentes culturas. O negro hoje não é respeitado como os “brancos”, eles não
tem o mesmo respeito. Todas ou quase todas as pessoas pensam numa pessoa negra
como um escravo.”
Preciso fazer um pequeno adendo quanto a produção dos textos individuais após o
debate coletivo na sala de aula, pois solicitei que fizessem pequenos grupos e voltassem
a conversar sobre os elementos apresentados para a disciplina e, a partir desse diálogo,
escrever cada qual a sua redação, por isso, é possível verificar que em cada grupo um
determinado caractere se destacou, como a escravidão, personagem em novelas, redes
sociais, violência e criminalidade, bem como, as letras de músicas no funk e no rap.
Para não me estender demais, apontarei apenas um último comentário realizado sobre as
letras de músicas que, segundo xs alunxs, quando afirmam gostar destes gêneros
músicas, são rotulados enquanto “faveladxs”, “maconheirxs” e “putxs”, ou então,
apenas dizem que é “música de preto”, seja pela família, colegas de escola e do bairro,
ou mesmo professorxs.
Quando li, em três textos, que professorxs reforçam estes estigmas, considerei a
possibilidade de estar numa sala de aula em que a criticidade é deixada de lado, ou seja,
o ambiente escolar se torna um espaço formador de bonecos reprodutores de
discriminação, preconceitos e sem qualquer senso crítico. Anderson Oliva (2006)
argumenta que a falta de formação e estudos publicados sobre a história africana e afro-
brasileira, leva a uma insegurança em ministrar aulas sobre o tema, deixando-o passar,
fazendo uso do material didático que nem sempre faz um debate articulado com o
compromisso e a responsabilidade de produzir um conhecimento crítico, capaz de
compreender e dialogar os processos históricos entre passado e presente e, por assim
dizer, não resumi-lo a uma história medíocre, desatenta e incapaz de apresentar os
diferentes sujeitos históricos em suas múltiplas culturas e temporalidades, portando,
demonstrando o sujeito histórico africano e afro-brasileiro para além destes estereótipos
que só gritam a desigualdade, injustiça e impunidade em nosso país.
Referências
644
OLIVA, A. R.. A história africana nos cursos de formação de professores. Panoramas,
perspectivas e experiências. Estudos Afro-Asiáticos. Ano 28, n° 1/2/3, Jan-Dez 2006,
pp. 187-220.
645
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE ÁFRICA NO
ENSINO DE HISTÓRIA
Lara Jéssica Nóbrega Macêdo
Gislene Santos (2002) nos fala de uma produção de conhecimentos que caracterizam o
continente africano pelo exotismo, sendo povos estranhos, horríveis e a-históricos, luz e
sombra: opostos. “Se o branco representa a razão, o belo, o bom, o justo... a
humanidade, ou seja, simboliza os valores desejáveis, o negro, por sua vez, pode
representar a desrazão, a loucura, o feio, o injusto, a animalidade,” (SANTOS, 2002,
p.280). Como bem afirma Frantz Fanon (2008) em sua clássica obra Pele Negra,
Máscaras Brancas da década de 1950, o branco construiu formas complexas que estão
imbuídas nos códigos, normas e valores sociais, que vem, por longos processos
históricos, causando a inferiorização do negro, devido a uma suposta superioridade
natural dos indivíduos brancos.
A epistemologia eurocêntrica pode ser entendida como uma estrutura ideológica que
fornece uma visão deturpada sobre o europeu e os povos africanos, percebendo os
europeus como raças superiores e os africanos inferiores na medida em que seus reinos
possuíssem características culturais diferentes das sociedades europeias E um dos
646
principais mecanismos para perceber e enfatizar estas diferenças seria a cor da pele,
(BARBOSA, 2008).
O pensamento eurocêntrico tem nas suas bases a crença de que a Europa ocidental seria
um desejável modelo a ser seguido por todos os povos existentes, e isto foi
corroborando para a construção de representações negativas sobre as sociedades
africanas. Estas por sua vez, foram homogeneizadas, rotuladas como bárbaras,
demoníacas e inferiores à cultura europeia, devido a uma suposta ordem natural de
progresso no qual todos os povos estavam inseridos (FEIRMAN, 1993). No entanto, as
culturas do continente africano não correspondem aos estereótipos e arquétipos
construídos historicamente pelo mundo europeu. As representações sobre o africano
revelam muito mais a posição de quem fala (europeus) do que sobre quem se fala
(africanos).
De acordo com Anderson Oliva (2003, 2004), pensar África está diretamente ligado ao
conjunto de imagens que formam nossa identidade brasileira enquanto sujeitos negros,
que lutam diariamente por espaços nesta sociedade historicamente excludente, para
terem seus direitos respeitados e, também, para terem sua ancestralidade reconhecida e
valorizada em todos os segmentos que constitui uma sociedade multicultural.
Stuart Hall (2005), ao refletir sobre a formação das identidades modernas, percebe que
estas se encontram em crise, pois suas bases de construção estão situadas nas
contradições, fragmentações, multiplicidade, e constantes mudanças (HALL, 2005). Em
meio ao processo de ebulição e fragmentação das identidades estas se formam pelos
mecanismos de interação, diferenciação e afirmação (HALL, 2005, p.9). Pierre Nora
(1981) nos explica que a História enquanto uma forma de memória se apresenta nos
livros didáticos com conteúdos que estão imbuídos por mecanismos que influenciam na
formação e marginalização de certas identidades em detrimentos de outras, (NORA,
1981).
647
Hebe Maria Mattos (2009) nos proporciona pensar que uma educação voltada à
formação de cidadão e que aborde os temas transversais adotados no ensino básico pode
se tornar um grande meio de luta contra as formas de discriminação racial no Brasil,
educando, deste modo, com vistas ao respeito e tolerância às diferenças étnico-raciais,
culturais, religiosas e de tradições (MATTOS, 2009). Deste modo, é com as memórias
da escravidão moderna, e as experiências de racismo que as identidades de homens
negros e mulheres negras vêm sendo forjadas em sala de aula. A forma como os livros
didáticos vêm trabalhando os conteúdos relacionados a História e cultura dos povos
africanos ainda é marcada por simplificações que caem na reprodução de estereótipos
que reduzem e inferiorizam certas culturas, hierarquizando as identidades e com elas os
seus sujeitos, (MATTOS, 2009).
Referências
FEIRMAN, Steven. African History and the dissolution of the World History. In.: BATES,
R.; MUDIMBE, V.Y.; O´BARR, Jean. Africa and the Disciplines. The contribution of
research in Africa to the social sciences and humanities, Chicago: The University of
Chicago Press, 1993.
LIMA, Claudia Silva. “A Razão (Não) Tem Cor?”: Sobre Filosofia Africana e a crítica
da Razão Negra. São Luís: UFMA, 2015.
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. São Paulo:
PUC, 1981.
MATTOS, Hebe Maria; ABREU, Martha, SOIHET, Rachel (orgs). O ensino de história
e a luta contra a discriminação racial no Brasil. In: Ensino de História: conceitos,
temáticos e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009, p. 127-138.
648
MONTEIRO, Ana Maria F.C. A História ensinada algumas configurações do saber
escolar. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003.
649
CAMÉLIA BRANCA: O PROCESSO DE ABOLIÇÃO
DA ESCRAVIDÃO EM SALA DE AULA
Livia Claro Pires
Por ser um colégio de pequeno porte, oferece apenas o Ensino Fundamental, possuindo
poucas turmas com número reduzido de estudantes. A escola localiza-se em Engenho da
Rainha, próximo às comunidades da Pedreira e do Complexo do Alemão, atendendo a
famílias de classe média baixa residentes no entorno.
Negros e negras na história brasileira eram vistos por esses alunos e alunas apenas como
mão de obra escravizada. Ao serem apresentados ao Segundo Reinado, era como
“escravos” que se referiam à população afrodescendente da época. Não percebiam
outras formas de existência social desses grupos para além da escravização, e, dessa
forma, naturalizavam a desigualdade contra negros e negras nessa sociedade, no
passado e no presente, e, sobretudo, entendiam esses indivíduos como agentes passivos.
Desta percepção, o plano de aula sobre o processo de abolição da escravidão no país foi
pensado para desconstruir esse entendimento.
O passo seguinte foi a análise do livro didático utilizado pela turma. Foi feita uma
leitura coletiva do único capítulo dedicado a quase exclusivamente tratar da população
negra no século XIX – intitulado “Do trabalho escravo ao trabalho livre”. Solicitou-se
aos estudantes o destaque da forma como a população negra, sua participação social e
no processo de abolição da escravidão no país eram representadas. Houve consenso
entre os estudantes nessa etapa: o texto remetia-se exclusivamente ao negro enquanto
mão de obra escravizada, destacando o sofrimento de seu dia a dia. Apesar de afirmar,
em uma única frase, sua resistência à escravização, apenas os quilombos foram
brevemente mencionados como forma de luta. Quando abordando o processo de
abolição, a turma notou haver pouco espaço dedicado à participação de negros e negras
nos movimentos abolicionistas.
Para alimentar a discussão suscitada, foi feita a seguinte pergunta à turma: “Quem
aboliu a escravidão no Brasil?”. As primeiras respostas replicaram aquilo que
escutavam desde os primeiros anos do Ensino Fundamental, ou seja, a Princesa Isabel.
Novamente, foram surpreendidos quando a professora afirmou ter sido a herdeira de D.
Pedro II a representante do Estado que assinou a lei que extinguia a escravidão. A
abolição foi explicada, assim, como um longo processo iniciado pelos principais
interessados em vê-la concretizada: os negros e negras que aqui viviam, organizados de
diversas formas, e não apenas como escravizados rebelados ou quilombolas. Destacou-
se, dessa maneira, a atuação desses indivíduos junto a organizações da imprensa e da
política, em ações afirmativas contra a permanência da escravidão nos centros urbanos
das principais capitais da época.
Com essa intenção, propôs-se a leitura de uma reportagem publicada no dia 13 de maio
de 2015, no site do Jornal do Brasil. O texto, intitulado “13 de maio: 127 após o fim da
escravidão, racismo divide a sociedade”, expunha relatos de casos de racismo sofridos
por estudantes e moradores de comunidades, em situações cotidianas ou em abordagens
policiais. Novamente, os alunos foram questionados e estimulados a comentar a respeito
do que haviam lido em sala de aula.
Da conversa tida, algumas falas surgiram. Ao lerem sobre a violência verbal cometida
por um policial negro contra uma das entrevistadas, um dos alunos questionou por que
uma pessoa negra agia dessa maneira com outra. Outra aluna, negra, de forma
espontânea, relatou à turma ser seguida por seguranças quando vai com a família a um
shopping em bairro da zona sul da cidade. Houve, ainda, a pergunta de outro aluno, que
perguntou à professora se poderia ser considerado negro. Vivências e reflexões que
podem ser tidas como evidências da internalização do conteúdo trabalhado, e da sua
ligação com o cotidiano atual dos estudantes, em suas relações pessoais e sociais.
Na última parte do projeto, a turma foi convidada a refletir sobre quais outros artigos
deveriam ser adicionados à Lei Áurea para que o racismo visto nos dias atuais fosse
combatido com mais eficácia. No mesmo papel 40kg exposto na sala de aula, cada
aluno e aluna escreveu seus complementos ao texto original. Abaixo, alguns dos novos
artigos criados:
Referências Bibliográficas
“13 de maio: 127 anos após o fim da escravidão, racismo divide o Brasil.” Jornal do
Brasil, Rio de Janeiro, 13. Mai. 2015. <
652
http://www.jb.com.br/pais/noticias/2015/05/13/13-de-maio-127-anos-apos-o-fim-da-
escravidao-racismo-divide-a-sociedade/>
AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda Negra, Medo Branco: o negro no
imaginário das elites no século XIX. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
GONÇALVES, Maria Alice Rezende; RIBEIRO, Ana Paula Alves. “A questão étnico-
racial e o sistema de ensino brasileiro.” In GONÇALVES, Maria Alice Rezende;
RIBEIRO, Ana Paula Alves (org.). História e a cultura africana e afro-brasileira na
escola. Rio de Janeiro, Outras Letras, 2014, p. 11-23.
653
APRENDIZES DO CONFLITO: O ENSINO DE
HISTÓRIA INDÍGENA EM PALMEIRA DOS
ÍNDIOS - AL ENTRE DILEMAS
Luan Moraes dos Santos
Considerações iniciais
Cidade da região agreste do Estado de Alagoas, Palmeira dos Índios é terra proveniente
de missão indígena. Localizada a 135 km de Maceió, foi fundada em 1835, emancipou-
se politicamente de Anadia em 1889. Atualmente, com 127 anos, tem economia baseada
na agropecuária, com predominância do latifúndio. Ao longo de sua história foi um
grande produtor de algodão e um dos mais importantes centros comerciais de Alagoas.
Além disso, em Palmeira dos Índios vive o povo Xukuru-Kariri, que habita a região
serrana e entornos da cidade. Eles têm suas origens em dois outros grupos indígenas do
Nordeste; os Xukuru da antiga vila de Cimbres, atual município de Pesqueira-PE e os
Kariri, povo que habitou a bacia do Rio São Francisco e cuja principal área de fixação
foi o território que hoje corresponde a Porto Real do Colégio em Alagoas.
Ambos os povos chegaram ao vale que deu origem a Palmeira dos Índios em meados do
século XVII e aqui construíram sua história, permeada por conflitos territoriais e pela
ressignificação de sua identidade frente aos diversos processos históricos vivenciados
em sua luta pela terra e contra a exclusão social (BEZERRA, 2011). A cidade foi
erguida sobre seus antigos aldeamentos, seus mortos foram desenterrados e suas feridas
expostas e sua identidade cultural, fora desrespeitada.
Em 2008, o governo federal aprovou a lei 11645 que regulamenta e torna obrigatório o
ensino de história dos povos indígenas nas escolas desde os anos iniciais. O intuito, era
de que isso revolucionasse o aprendizado, porém nem todos os rincões do Brasil
tiveram resultados realmente significativos. Palmeira dos Índios não difere em nada do
contexto nacional.
Surgiram então, os problemas que nos levaram a fomentar essa discussão. Mesmo
vivendo e estudando em um município cujo nome carrega sua origem indígena e que
conta com a existência de 8 (oito) aldeias, esses jovens não se sentem à vontade para se
afirmarem como indígenas, deixando-se passar despercebidos entre os demais alunos,
pois a disputa territorial e a eminência de embates permeiam seu cotidiano. O professor
Edson Silva enfatiza que:
Vimos até agora, que o município alagoano de Palmeira dos Índios é o palco de um
conflito físico, material e ideológico travado há gerações. Nesse campo de guerra, a
tomada de controle da memória tem sido uma constante, bem como a sua forma de
transmissão mais rápida: a educação. Intuímos que, os conteúdos das aulas de história
são estrategicamente direcionados para o ocultamento da presença indígena nos
discursos oficiais.
Tendo a presença de 8 (oito) aldeias, Palmeira dos Índios é uma cidade privilegiada
como campo de pesquisa. Trabalhar história indígena de uma forma eficiente, implica,
necessariamente, entrar em contato com os índios dessas aldeias. Então, aulas de campo
podem ser momentos de aprendizado prático. Alunos e professores podem comprovar
como vivem os índios atualmente aprendendo que não é inteligente criticar os índios
como eles são no hoje, mas entender como chegaram a ser assim.
Referências Bibliográficas
BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O Índio Brasileiro: o que você precisa saber
sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006.
BEZERRA, Antonio Alves. O jornal dos trabalhadores rurais sem terra e seus
temas 1981-2001. Tese de Doutorado em História. Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, PUC/SP: 2011.
656
FOUCAULT, Michel. Sobre a Geografia. In: Microfísica do poder. Organização e
Tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
NIDELCOFF, María Teresa. Uma Escola Para o Povo. 1ª edição, 17ª edição. São
Paulo: Editora Brasiliense, 1978.
657
A HISTÓRIA INDÍGENA NO ESPAÇO ESCOLAR:
PONDERAÇÕES A PARTIR DAS AÇÕES DO
PIBID DE HISTÓRIA
Lucivaine Melo
Maria Geralda de A. Moreira
É condição sine qua non para a mudança de abordagem da história indígena ensinada na
educação básica, entender que a identidade indígena não pode ser reduzida ao uso de
pena, do cocar, da pintura e de outros elementos elencados pelos não indígenas como
demarcadores da identidade desse povo. É preciso pensar além da perspectiva que
compreende os indígenas como culturalmente homogêneos, observando a diversidade
que se apresenta em cada etnia.
Certamente todos possuem alguns elementos que os fazem identificar como índios,
porém, na atualidade, o debate inovador precisa ocorrer no sentido de perceber as
658
diferenças, estas sim, são essenciais para compreendermos a identidade de cada grupo, a
começar pelas estratégias de resistências; as diferenças linguísticas; cultura material e
imaterial e a concepção de mundo, não dos índios, mas, dos Karajá, dos Kaxarari, dos
Ye´kuana, dos Kadiwéu, etc., contribuindo, assim para construir representações
positivas acerca da identidade assumida por essa minoria étnica.
Os projetos realizados ao longo dos anos de 2014 a 2016 contemplaram diversas etnias
e empregaram distintas fontes e linguagens na sua execução. O projeto Karajá e suas
lendas e a Lenda da Mandioca, permitiram uma grande interação dos alunos ao abordar
o conteúdo através de atividades lúdicas e práticas como a confecção de bonecos de
argila; bolo de mandioca; contação de história com uso de fantoches; roda da oralidade
e confecção de desenhos, frases e pequenos textos pelos próprios alunos como forma de
reconto.
659
O Cantinho da Leitura foi um espaço interdisciplinar com a finalidade de proporcionar
aos alunos, um momento de reflexão e reconstrução do imaginário acerca dos indígenas
através da leitura de obras literárias que abordam a temática étnico-racial como: Nina
África: contos de uma África menina de Lenice Gomes: Kabá Darebu, Histórias de
Índios, Meu Avó Apolinário e O Diário de Kaxi: um curumim descobre o Brasil, ambos
de Daniel Munduruku. As narrativas fazem parte da cultura e ações como essa, além de
contribuir para ampliar os conhecimentos, colabora para o desenvolvimento de futuros
leitores. A ação oportuniza, ainda, aos estudantes uma revisão dos conteúdos presente
nos livros didáticos.
A oficina Moradia Indígena, por sua vez, fez uma exposição dos diferentes tipos de
casas e seus formatos, desfazendo assim o conceito de “oca”, como moradia única de
todos os indígenas, por meio da apresentação dos vários formatos das casas e sua
disposição na aldeia. A arquitetura indígena foi abordada a partir das etnias: Tukâno,
Ye’Kuana e Kamaiurá.
As ações têm focado a formação dos bolsistas e futuros professores em reuniões, grupos
de estudos e em atividades desenvolvidas na escola, proporcionado uma reflexão acerca
de seus conhecimentos iniciais sobre os indígenas, possibilitando o rompimento de
ideias estereotipadas e contribuindo para o reconhecimento da identidade assumida
pelos indígenas na atualidade.
Referências
660
SCHMIDT; M. Auxiliadora; BARCA, Isabel, MARTINS, Estevão (ORGS.). Jörn
Rusen e o ensino de História. Curitiba: UFPR; Universidade do Minho, 2010.
TERRA, Antônia. Uma nova ótica sobre a história indígena no ensino de História.
Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/572/uma-nova-otica-sobre-a-
historia-indigena-no-ensino-de-historia. Acesso em: 05.03.17.
661
IMAGINÁRIOS SOBRE O TERMO ESCRAVIDÃO:
A VISÃO DE ALUNOS RECÉM-FORMADOS NO
ENSINO MÉDIO, ALGUMAS NOTAS
Luiza Hooper Moretti
É dessa época a ideia de uma “raça” negra, utilizada para “criar um esquema mundial de
classificação” (NASCIMENTO & DELMONDEZ, 2014) de pessoas. Esse esquema foi
fundante da mentalidade de nossos políticos e se estende até hoje em dia, podendo ser
visto em diversas situações, incluindo situações segregacionistas, com negros sempre
abaixo de outros grupos – como no caso das favelas, estudado por Nopes (2012). E
também é visível no mito da democracia racial que perpassa nossa sociedade e é muitas
vezes usado para invisibilizar a luta dos negros por espaços e reconhecimento. Como
afirma Da Matta (1986), “quando acreditamos que o Brasil foi feito de negros, brancos e
índios, estamos aceitando sem muita crítica a ideia de que esses contingentes humanos
se encontraram de modo espontâneo, numa espécie de carnaval social e biológico.” (DA
MATTA, 1986, p. 31).
662
moderna. Os resultados foram muito variados e apresentaremos a seguir algumas
conclusões, que nos interessam nesse texto.
Resultados da Oficina
Ao pedir que os alunos separassem as “coisas boas” e “coisas ruins” da escravidão, eles
já conseguiram delimitar o espaço-tempo do qual falavam: eles se referiam às
positividades e negatividades da escravidão negra moderna. Podemos tirar disso duas
conclusões. A primeira se refere ao espaço-mundo em que vivem tais alunos, que por
estarem mais próximos dos acontecimentos desse modelo de escravidão, possuem mais
elementos e segurança para tratar disso do que para tratar a escravidão de forma mais
genérica, percebendo sua existência para além desse recorte espaço-temporal.
Uma [outra] conclusão que se segue é que o tema escravidão é ainda pouco trabalhado
dentro dos ambientes educacionais de forma a especificar sua existência no curso da
história. Mesmo se adaptando melhor à análise da escravidão negra moderna,
encaixando-a dentro das categorias “bom” e “ruim”, os alunos não a fazem de forma
mais profunda, apresentando justificativa para o fato de os pontos escolhidos serem
bons ou ruins. Faltando aprofundamento nessa análise dos porquês, os alunos acabam
por repetir, por vezes, ditos populares superficiais e ideologicamente direcionados,
como o fato de a escravidão ter sido boa por causa das técnicas agrícolas que foram
desenvolvidas ou do crescimento econômico proporcionado.
Tal análise aprofundada, que percebemos que os alunos não fazem a priori, foi
trabalhada no terceiro encontro. Não questionamos a capacidade dos alunos de pensar
autonomamente tais justificativas, mas sim o fato de que eles não possuem o costume de
fazer esta análise naturalmente, e precisam ser incitados a fazê-la, papel que deveria ser
do professor e da escola e que possivelmente não foi na experiência escolar desses
jovens.
663
Compreendemos os alunos como indivíduos que tem sua experiência socio-cultural e
histórica como formativa dos conhecimentos prévios que eles trazem para nossa oficina.
O período escravista do Brasil se insere claramente nessa perspectiva. Nossa ideia foi
mostrar caminhos novos para se pensar a escravidão.
O nosso terceiro encontro foi exemplo disso. Trabalhamos os elementos bons e ruins do
encontro anterior sob a perspectiva de “para quem” eles foram/são bons ou ruins.
Trabalhamos também quais as consequências deles nos dias atuais em nossa sociedade.
Com isso, pudemos elevar o conhecimento crítico dos alunos mostrando que falar de
escravidão não se resume a uma palavra ou uma situação histórica passada
inquestionável. Trata-se de falar de uma situação passada que tem características
próprias e que deve ser analisada em todas as suas camadas.
Assim, mostramos que elementos que contituem a identidade dos homens e a sua vida
em sociedade devem passar pelos seres humanos que as formam e dão sentido, e não
pela máquina de organização da produção e economia. Assim, elementos como
enriquecimento do senhor ou novas tecnicas agrícolas passam pela exploração da mão
de obra, que envolve grande violência e desumanização.
Falar de raça é abrir espaço automático para se falar de racismo. A relação entre racismo
e escravidão foi feita pelos alunos de forma direta e sem maiores obstáculos. Porém,
apesar de ninguém ter professado ideias do tipo “não existe racismo no Brasil”, os
alunos externalizaram dificuldades de compreender o racismo como experiência
cotidiana no Brasil hoje, pois “há negros no poder”.
664
Para concluir, ficamos felizes em conseguir atingir nosso objetivo de compreender
como os alunos pensam a escravidão após sair da escola básica. Pudemos perceber
algumas dificuldades que eles têm em relacionar vários pontos diferentes constitutivos
do período e termo histórico trabalhado. Tivemos espaço para fazer uma ponte entre as
diversas características da escravidão, relacionando-as entre si e com a realidade em que
vivemos hoje. Assim os alunos puderam formar uma imagem mais complexa desse
momento histórico, conectando elementos que antes eles viam em esferas disconexas.
Por fim, percebemos ainda que o conteúdo que os alunos trazem das aprendizagens do
Ensino Médio é ainda bem raso e desconexo com a realidade, não sendo impossível
conectá-los, mas não tendo, também, sido feito nos momentos oportunos anteriores de
sala de aula e de estudo.
Referências Bibliográficas
DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
NOPES, Adriane. Os “outros” por baixo dos “outros”: o caso das “favelas” no Brasil.
Oficina nº 393 do Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, Coimbra,
Portugal. Novembro de 2012.
665
JOGOS E BRINCADEIRAS AFRO-BRASILEIRA:
UMA AÇÃO DO PIBID NAS TURMAS DO 6°ANO
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Maxuel Soares de Oliveira
Patrícia Azeredo
Jumara Carla Azevedo Ramos Carvalho
Introdução
O Brasil tem uma grande parcela de população de origem africana. Os negros que aqui
chegaram muitos sofreram durante o período da escravidão. Mesmo com a Abolição dos
Escravos eles continuaram a viver nesta terra formando suas famílias, suas histórias e
lutando pelo reconhecimento de sua cidadania burlada pela lei e por seus “irmãos
brancos”.
Como o passar de mais de 200 anos de liberdade, ainda é visível em suas atividades
cotidianas pessoas que deparam com diversas situações que provocam intimidação ao
ser coagido com os insultos raciais, apelidos e piadinhas racistas maquiadas com a
justificativa de ser apenas uma simples “brincadeira”. Conformando-se com essas
condições de racismo e preconceito, muitas vezes o negro sente-se humilhado e vítima
de uma situação que remete ainda ao período da escravidão, outros já lutam pelos seus
direitos de igual para igual não deixando que essas ofensas cresçam sem uma devida
punição.
666
Partindo do pressuposto que a escola é um dos principais lugares onde as crianças e
jovens possam aprender a conviver com a diversidade cultural, o respeito mútuo e a
valorização do ser humano é que se pensou em desenvolver com os alunos do 6º ano do
Ensino Fundamental, do Colégio Tereza Borges de Cerqueira a prática de jogos de
origem africana com o objetivo de trazer para o ambiente escolar ações que possam
desmistificar alguns conceitos e ampliar a compreensão sobre a cultura afro-brasileira
proporcionada a partir de uma aprendizagem lúdica.
Durante escravidão a população negra foi tratada no Brasil de forma desumana, eram
definidos como um produto comercial, sem qualquer importância para sociedade, pois
não eram considerados cidadãos e deles só queriam a força braçal como forma de mover
a economia. Mas eles lutaram muito, obtiveram várias forma de resistência sejam elas
das mais sutis até as mais violentas e esperaram bastante até que as leis se arrastassem
para um desfecho final e no dia 13 de maio de 1888 foi declarado o “fim da escravidão”
sem que nenhum de seus direitos fossem pagos ou a eles dada a condição de sobreviver
dignamente. Porém, infelizmente, a população recém liberta ainda sofreram muito
diante dos preconceitos (aos quais ainda são vitimas até nossos dias) e a eles foram
designados os mais baixos trabalhos, as piores moradias e excluídos ficaram a margem
da sociedade.
Jogados a própria sorte, criaram meios de sobrevivência e lutaram por dias melhores,
expandiram sua cultura e fizeram valer o seu grito de liberdade, infelizmente ainda
pouco reconhecido devido ao estigma da escravidão, mancha que ainda os persegue os
negros são desvalorizados em sua cultura e sua religião.
Como forma de valorizar essa cultura e sua religião que o trabalho foi pensado e
desenvolvido para que os alunos em contato com os jogos e brincadeiras tradicionais
possam trazer benefícios para o corpo e a mente, além do mais pode-se mencionar o
convívio com o outro no ato de brincar que estabelece inúmeras relações sociais com o
propósito de amenizar os conflitos e criar um espaço onde eles possam respeitar a
diversidade e ao mesmo tempo de forma harmoniosamente aprender com a ajuda do
outros a solucionar desafios e enfrentar os problemas. Pois como cita, PIAGET (1967,
p. 25) “o jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para
desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e
moral”.
Nota-se ainda, que o contato do educando com jogos e brincadeiras de interação com o
outro além de proporcionar momentos de entretenimentos, proporciona incentivos a sua
imaginação intelectual, a sua afetividade, ajuda mútua e a troca de experiência são
elementos essenciais para atingir o campo da aprendizagem. Pois para Vygotschy
(1984, p.109) “da mesma forma que uma situação imaginária tem que conter regras de
comportamento, todo jogo com regras contém uma situação imaginária”, este talvez seja
o grande sentido do brincar sendo que, tanto a brincadeira como o jogo no espaço
escolar é de suma importância para o desenvolvimento do imaginário e sua transposição
667
para uma situação real onde as regras do jogo tem que estar em conformidade com o
vivido para que de fato eles se efetivem.
Ao utilizar das aulas de Educação Física como medida isolada para se trabalhar as
diretrizes curriculares corre o risco de desenvolver micro-ações como salienta
AGUIAR:
A partir dessa premissa, pensou na inserção dos jogos e brincadeiras africanas para as
turmas do 6º ano A, (vespertino) do Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira no
intuito de trazer para a sala de aula o universo africano e o entrelaçamento das culturas
respeitando cada indivíduo em particular e incentivando os alunos a conviverem com
isso, desfazendo assim antigos estereótipos que se arrastam há anos.
Referências bibliográficas
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
669
A INVISIBILIDADE DA TEMÁTICA INDÍGENA
NO CURRÍCULO DE HISTÓRIA: UMA ANÁLISE
DA LEI 11.645 DO CURRÍCULO BÁSICO DE
HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO
Rafaela Albergaria Mello
670
habilidades a serem desenvolvidas são observadas nos três objetivos do conteúdo. No
item "América":
Diante disso, algumas questões podem ser formuladas. Quais são os conflitos culturais,
sociais, políticos e econômicos a que o currículo se refere? Quais são as interpretações
que os professores podem fazem dessas competências e habilidades? Quais são os
assuntos que os professores devem priorizar ao construir o ensino e a aprendizagem?
Provavelmente, o tratamento dado a temática poderia ser melhor direcionado e
explicado. O documento segue:
O 3° bimestre é bastante ambicioso: três itens são apresentados como conteúdos a serem
desenvolvidos. O primeiro, denominado "Expansão Marítima", o segundo, identificado
como "África" e, por fim, um denominado "América". Nesse último item, os conteúdos
englobam a história dos povos indígenas brasileiros e a história dos primeiros povos da
América Latina.
É preciso que a figura dos povos autóctones seja refletida no ensino de História e na
escola. É lá que se tem a possibilidade de construir o respeito, o conhecimento, a
tolerância e o reconhecimento de que os povos indígenas têm lugar legítimo na história
do Brasil.
Em março de 2008, a lei 11.645 foi promulgada pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, passando a reconhecer a temática da história indígena como importante matriz da
sociedade brasileira e representando um avanço nesta discussão. Assim, o exercício
dessa promulgação deve ser incorporado tanto na prática cotidiana da sala de aula como
nas discussões acadêmicas, que são determinantes na formação dos professores de
história.
A reflexão acerca da promulgação dessa lei é um desafio para todos que atuam na
educação. Entretanto, admitimos que há um despreparo dos professores sobre a
temática, paralelamente à abordagem ainda tímida dessa temática nas diferentes
universidades, contribuindo assim para a lacuna sobre o ensino de história indígena com
os licenciandos que, no futuro, atuarão como professores de educação básica.
Na América portuguesa, a palavra "índio" servia para designar as mais diversas etnias,
grupos e culturas nativas existentes no território. Posteriormente, se criaram as
denominações de "tupi" e "tapuia". Segundo o historiador John Monteiro (1995), tupis
eram os povos do litoral de Santa Catarina ao Maranhão. Tapuias, diferenciados
672
socialmente do padrão tupi, eram pouco conhecidos dos europeus e se encontravam nos
sertões do território. Dessa maneira, o próprio historiador afirma que os europeus do
século XVI procuraram reduzir o vasto panorama etnográfico em duas categorias: tupi e
tapuia.
Nesse cenário, a lei 11. 645 é de extrema importância, pois mesmo em sua vigência, a
inserção sobre os povos indígenas é mínima no programa curricular do conteúdo de
História do estado do Rio de Janeiro direcionado ao Ensino Médio.
Referências bibliográficas
LIMA, Antonio Carlos de Souza. "Um olhar sobre a presença das populações nativas na
invenção do Brasil". In: SILVA, Aracy Lopez da Silva; GRUPIONI, Luiz Donisetti
Benzi, (Orgs.). A temática indígena na sala de aula. Novos subsídios para
professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC, 1995, pp. 407-419.
MONTEIRO, John. "O Desafio da História Indígena no Brasil". IN: SILVA, Aracy
Lopez da Silva; GRUPIONI Luiz Donisetti Benzi, (Orgs.). A temática indígena na
sala de aula. Novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC, 1995,
pp. 221-228.
SILVA, Giovani José da. “Ensino de História indígena”. In: WITTMANN, Luisa
Tombini (org.) Ensino d(e) História indígena. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
673
“CAÇAR, PESCAR E VIVER NAS FLORESTAS”:
REPRESENTAÇÕES DE ALUNOS DA REDE
BÁSICA EM XINGUARA-PA ACERCA DOS POVOS
INDÍGENAS
Rafael Rogério Nascimento dos Santos
Heraldo Márcio Galvão Júnior
Iolanda de Araújo Mendes
Esse trabalho é fruto de pesquisa em andamento a qual tem por objetivo analisar as
representações que os alunos da rede básica de ensino constroem acerca dos povos
indígenas no Brasil. Temos pensado em como está sendo produzido o conhecimento
histórico escolar acerca da temática indígena após nove anos da implementação da lei
11.645/08, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio das escolas públicas e
privadas de todo país. O projeto conta com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e
Assuntos Estudantis-PROEX da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e está
sendo desenvolvido em duas escolas da rede pública de ensino do município de
Xingura_PA, sudeste paraense: Escola de Ensino Fundamental Henrique Francisco
Ramos e Escola de Ensino Médio Dom Luiz de Moura Palha.
A Lei 11.645/08 fará no próximo dia 10 de março nove anos de existência, entretanto,
como apontam Giovani Silva (2015), Luisa Wittmann (2015), Maria Aparecida
Bergamaschi (2011), Marta Troquez e Ana Paula Mancini (2009), Edson Silva (2002),
entre outros, os povos indígenas ainda são representados por meio de estereótipos,
desprovidos de dinamicidade e pluralidade cultural. A ideia geral é de que os povos
indígenas são e devem ser exclusivamente compostos por homens e mulheres nus, que
pintam seus corpos e moram no interior da selva. Segundo Márcio Couto Henrique
existem crenças estereotipadas que agregam aos povos indígenas imagens negativas
acerca da inteligência, caráter e que “... fundamentam a discriminação na medida em
que sustentam atitudes de hostilidade, desprezo e temor com relação a povos que
tradicionalmente tem sido definido como inferiores”(HENRIQUE, 2010,p.81).
Mesmo não sendo fruto de reflexão recente (LOPES, 1987; GRUPIONI, 1995) a
temática indígena no Ensino de História ainda enfrenta grandes problemas. Para
Bergamaschi (2011) tanto a produção historiográfica quanto o ensino de história
vigentes até o momento contribuem para a constituição de práticas discriminatórias
acerca dos indígenas.
Dessa forma, temos um quadro geral já destacado pela bibliografia sobre o tema: há um
padrão que legitima e oficializa esse tipo de conhecimento acerca da temática indígena
na escola, ainda existe uma mentalidade sobre os povos indígenas que os representa por
meio de estereótipos, imagens ligadas apenas ao passado colonial; os índios são tidos
674
como sujeitos que não fazem parte da sociedade nacional; desprovidos de sua
pluralidade cultural, como se todos os índios do Brasil fossem um só, iguais; os povos
indígenas são exóticos, excêntricos e, não raro, comparados até com animais.
675
Logo abaixo segue algumas transcrições das narrativas construídas pelos alunos. (Foram
realizadas algumas correções gramaticas, entretanto, o sentido original não foi alterado.)
“Os índios são pessoas que vivem em aldeias, nos filmes eles são
valentes não sei em vida real, os índios não usam roupa eles vivem
de fruta do mato, coisas de comer do mato, no mato que eles
arranjam comida, eles pescam e vivem do peixe também” (E.E.F.
Henrique Francisco Ramos, 6º ano E, 2016).
“Os índios são povos que vivem na floresta sua cultura, eles
trabalham de caçar, pescar, buscam sua comida na floresta,
antigamente era assim. Viviam mais suas culturas naquele tempo.
Hoje em dia os índios só sabem “luxar”, anda igual o povo da
cidade, carro bom e roupa boa e cordão de ouro, mas eles
esqueceram que a cultura deles é bonita. Não se pintam mais, a
maioria deles não mora nas aldeias, mas sim nas cidades. Fui a
Redenção Pará, lá vi índios completamente diferentes, uma parte
mostrando sua cultura verdadeira, outros no luxo. Sim tem que
“luxar”, mas não esquecer da sua cultura, mas mostrar mais ela. Hoje
em dia tudo é fácil para eles, dou valor aos que cultivam sua cultura,
sua raça” (E.E.F. Henrique Francisco Ramos, 7º ano C, 2016).
“Para mim a vida dos povos indígenas parece ser muito divertida,
eles vivem despreocupados, a vida na cidade é muito movimentada.
E eles não se preocupam com roupas e também é muito interessante
o jeito de falar diferente. É isso o que eu acho” (E.E.F. Henrique
Francisco Ramos, 8º ano B, 2016).
Referência Bibliográfica
677
MANCINI, Ana Paula Gomes. TROQUEZ, Marta Coelho Castro. Desconstruindo
estereótipos: apontamentos em prol de uma prática educativa comprometida eticamente
com a temática indígena. Campo Grande - MS: Tellus, 2009.
SILVA, Giovani José da. Ensino se História Indígena. In: Luisa Tombini Wittmann.
(Org.). Ensino (d).e História Indígena. 1 ed. Belo Horizonte: Autêntica, v. 1, p. 21-46,
2015.
WITTMANN, Luisa Tombini (Org.). Ensino (d)e História Indígena. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2015.
678
IDENTIDADES INDÍGENAS, O CINEMA E O
ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES
NECESSÁRIAS AO SABER HISTORIOGRÁFICO
Renata Carvalho Silva
O presente texto é parte da proposta de pesquisa que nasce fruto das inquietações
gestadas durante a ministração da disciplina Educação Indígena para os alunos do
Ensino Superior dos Cursos de História, Letras e Pedagogia acerca das dificuldades de
se implementarem, na prática, os estudos e leituras propostas no sentido de repensar a
aplicação do ensino da História e Cultura Indígena no ensino básico. As leituras sobre
diversidade, multiculturalidade e etnicidade quase sempre esbarravam em uma
indagação comum a grande maioria dos alunos: como aplicar na prática, um ensino que
privilegiasse a perspectiva dos diferentes grupos indígenas acerca das suas próprias
história e cultura sem cair na velha prática da exaltação ao “dia do índio”? Sendo assim,
uma das principais motivações em apresentar tal perspectiva de análise reside no desejo
de se propor uma sugestão de aplicação de uma metodologia de ensino que fuja dessa
armadilha eivada de dogmas e estereótipos.
Esta lei abre espaço para a discussão a respeito das diversas populações indígenas,
ponto importante na formação da história e cultura de nosso país, mas que durante um
longo espaço de tempo esteve relegada, sendo sempre estudada pela ótica dos chamados
vencedores da história, ou seja, entrando de maneira subalterna na escrita da história.
Manuela Carneiro da Cunha, antropóloga que busca estudar o elemento indígena por
uma ótica diferente, afirma que “a História do Brasil, a canônica, começa
invariavelmente pelo ‘descobrimento’. São os ‘descobridores’ que a inauguram e
conferem aos gentios uma entrada – de serviço – no grande curso da História”
(CUNHA, 2008, p. 08).
Estuda-se, assim, desde então, a trajetória das populações nativas sempre pós 1492,
como se antes estes povos não possuíssem história ou qualquer tipo de produção
cultural de maior importância de demarcação e memória. Um ponto mais grave é que a
representação que encontramos das comunidades indígenas nos livros didáticos e nas
escolas é de povos estáticos, que não possuem uma cultura dinâmica, sendo
representados por estereótipos e generalizações sempre iguais: cabelos lisos, abundantes
adereços de natureza como penas e ossos, moradores das florestas, de culturas exóticas,
os corpos nus e pintados, portadores de instrumentos de caça como arco e flecha, ou
679
seja, toda uma construção simbólica tal como se a cultura indígena não tivesse sofrido
nenhuma modificação no processo histórico.
Outra representação preocupante que se faz do “índio” na história é como mera vítima
do processo de colonização, não se nega a extrema violência a que esses povos foram
submetidos no processo e colonização. Violências físicas, como combates diretos e
desiguais, doenças, escravidão e etc; e violência simbólica, como mudança no regime de
trabalho, estrutura social e religiosa. Essas modificações forçaram uma reconfiguração
na cultura indígena, mas isto não implica que estes povos tenham desaparecido, ou não
possuam uma reformulação. Janice Theodoro afirma perceber que as culturas indígenas
são “viventes” e não “sobreviventes” no processo histórico (1992).
Edson Silva afirma em artigo recente que atualmente estamos inseridos num contexto
em que diversos grupos sociais buscam afirmar identidades, conquistar e ocupar
espaços sociopolíticos no Brasil. Diferentes expressões socioculturais passaram a ser
reconhecidas e respeitadas, o que vem exigindo discussões, formulações e
implementação de politicas públicas que respondam as demandas de direitos sociais
específicos. Assim “A Lei 11.645/2008, que determinou a inclusão da história e culturas
indígenas nos currículos escolares, possibilitará o respeito aos povos indígenas e o
reconhecimento das sociodiversidades no Brasil”. (SILVA, 2005, p.32)
Além de nos levar a repensar o papel das populações indígenas na história do Brasil, a
Lei 11.645/2008 vem nos possibilitar repensar a constituição social e política do país.
Segundo Silva (2012) a ideia de uma identidade e cultura nacional esconde inúmeras
diferenças sejam de classes sociais, gênero, étnicas e etc. ao buscar uniformizá-las.
Negando não só os processos históricos marcados pelas violências de grupos
politicamente hegemônicos bem como ainda as violências sobre grupos a exemplo dos
povos indígenas e os oriundos da África que foram submetidos a viverem em ambientes
coloniais.
Dessa forma, a presente proposta de análise visa discutir a forma como as produções
fílmicas vêm, ao longo dos anos construindo diferentes leituras acerca do indivíduo
nativo, nas diferentes épocas e sobre diferentes prismas e contextos sócio históricos.
Buscamos contribuir com o debate, junto à comunidade escolar, para que se dê base aos
professores para uma discussão séria e profunda acerca da reconstrução necessária a
respeito dos povos indígenas como agentes sociais do processo histórico, possibilitando
o respeito e o reconhecimento das comunidades indígenas, assim como inserir e
possibilitar uma visão mais ampla e diversificada sobre questões relativas a construção
identitária, gênero, territorialidades e sociabilidades em contextos sócio culturais
diferenciados tão caros à uma formação não só acadêmica e profissional, como
principalmente cidadã.
680
A proposta em se utilizar o uso do cinema como fonte e ferramenta para o ensino de
História, ao contrário do que se possa pensar, não se resume à construção de um mero
guia de como o professor deva ou não utilizar um determinado filme histórico em sala
de aula, uma vez que, como nos alerta Marc Ferro (1988), “os filmes de tipo histórico
não são mais que uma representação do passado” que em grande medida falam mais
sobre o presente que sobre esse mesmo passado. Nesse sentido é necessário que se leve
me consideração a premissa de que este é apenas um dos inúmeros olhares que se possa
lançar sobre o passado e o professor deve, então, nesse caso, conscientizar-se sobre as
múltiplas significações implícitas a determinada produção cinematográfica quando da
sua escolha para que assim possa lhe ser claro o emprego do passado em tal produção.
681
contraposição às produções clássicas que tomam o elemento nativo restrito às
tradicionais representações binárias do bárbaro primitivo ou do herói idílico nacional.
Referências
CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos Índios no Brasil. São Paulo: CIA das
Letras, 1998.
THEODORO, Janice. América Barroca: Tema e Variações. São Paulo: Editora da.
Universidade de Sao Paulo/Editora Nova Fronteira, 1992.
682
IDENTIDADE NEGRA E ENSINO DE HISTÓRIA:
RELATO DE EXPERIÊNCIAS EM SALA DE AULA
Rivaldo Amador de Sousa
Alguns problemas foram se apresentando ao longo dessas experiências que tivemos com
os/as educandos/as, apontando para uma necessidade de renovação urgente na nossa
prática docente. Nesse ínterim, algumas questões iniciais se colocaram, constituindo-se
numa problemática que demandava resoluções efetivas no campo metodológico. Como
seria possível desenvolver um projeto e/ou práticas educativas que ao longo do tempo
inferisse nas práticas comportamentais e relacionais dos educandos no espaço escolar,
no que concerne as relações etnicorraciais? Que metodologia adotar para incluir nos
conteúdos trabalhados em sala de aula o cotidiano dos/as educandos/as, convergindo
para uma discussão em torno das questões étnicorraciais? Além dessas, outro
questionamento, ainda mais amplo, se apresentou. Então, como trabalhar as questões
etnicorraciais no ensino de História, no sentido de que essa prática docente inferisse na
construção da identidade afrobrasileira no espaço escolar por parte dos/as discentes?
683
elaborados no sentido de permitir trabalhar as questões etnicorraciais no cotidiano dos
discentes, consentindo-lhes e possibilitando-lhes o uso das leituras, discussões e
reflexões nas suas práticas cotidianas.
Partindo das leituras e discussões já realizadas, propusemos aos alunos e alunas uma
atividade de pesquisa que consistia numa entrevista com pessoas de pele escura e que
habitasse a comunidade local. Para o desenvolvimento dessa atividade foram
necessários estudos de técnicas de entrevistas, de gravação e edição de um pequeno
vídeo tratando sobre o preconceito racial.
Durante o processo de realização de cada etapa os/as alunos/as faziam aparecer os seus
potenciais e seus saberes que consistia, entre acertos e erros, em um processo de ensino
aprendizagem onde havia uma troca mutua desses saberes.
As dificuldades não foram poucas, como encontrar a pessoa que concedesse a entrevista
e/ou que realizou, mas, por meio de nossa avaliação juntamente com os realizadores,
não fora selecionada, e substituída por uma segunda entrevista.
684
Foram realizadas 11 entrevistas com homens e mulheres negras que, em suas falas,
consentiram discutir sobre as dificuldades de “ser negro no Brasil”, lembrando, por
meio de suas vivências, a importância da luta contra o racismo. Na maioria dos vídeos
produzidos pelos educandos/as, os entrevistados narram experiências que tratam de
preconceito racial por que passaram na comunidade local.
Foi na discussão em torno das técnicas de gravação e edição do vídeo, que deveria ser
produzido, que esses educandos/as demonstraram a importância do domínio e da
socialização de saberes.
Referências
BENJAMIN, Roberto. A áfrica está em nós: história e cultura afro- brasileira, Volume
1, 2, 3 e 4. João Pessoa: Editora Grafset, 2006
FLORES, Elio Chaves (Coord) et al. A África está em nós: história e cultura afro-
brasileira: africanidades paraibanas. João Pessoa: Grafset, 2011.
685
NETO FREITAS, José Alves de. A transversalidade e a renovação no ensino de história.
In: KARNAL, Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São
Paulo: Contexto, 2003.
ROCHA, Solange Pereira da. Gente Negra na Paraíba Oitocentista: população, família
e parentesco espiritual. São Paulo: UNESP, 2009.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª Ed. São Paulo: Ática, 2007.
686
CURRÍCULO E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
NO ENSINO DE HISTÓRIA
Rosemary de Jesus Santos
Para iniciar a reflexão sobre estas questões, é preciso analisar as teorias pós-críticas do
Currículo, a identidade, a diferença. Desfazendo narrativas eurocêntricas e apresentando
um ponto de vista a partir da subalternidade, deste “não lugar”. Nas escolas públicas que
atuo como professora de História: Colégio Municipal de Araçás, na Bahia e nas Escola
Estadual Coelho Campos, e no Maria Berenice Alves Barreto ambas em Capela e no
Colégio Estadual Matos Teles, em Japaratuba ambos em Sergipe; muitos alunos dizem
que não gostam da disciplina História, pois “é só passado, é ultrapassada”. Contudo a
escrita da História é contemporânea, orientada pelo presente, sustentamos posições com
base nas visões que temos da relação entre o passado e suas pistas e na maneira como
extraímos significado dessas pistas. A forma como construímos o conhecimento sobre o
passado afeta a natureza do significado que lhe impomos. Segundo a consciência
desconstrutiva, o passado nunca é fixo, o passado é como um texto a ser examinado em
suas possibilidades de significados.
A História tem o passado como objeto de conhecimento, e o tempo que passou difere do
que nós fazemos com o passado quando nos apropriamos dele. O historiador sabe mais
que o passado, pois ele precisa atribuir significados ao passado, em termos
epistemológicos. O historiador conhece as perspectivas conjecturais das experiências no
tempo.
Pensando a educação escolar enquanto lugar de fronteira, onde vários saberes são
circularizados, contudo as memórias familiares que explicam o mundo e seu devir, ou
seja, os saberes individuais dos alunos são muitas vezes silenciado, quando literalmente
“aplicamos” o saber acadêmico e não dialogamos com estes outros saberes. A escola,
enquanto representação da sociedade, reproduz entre seus muros e corredores diversos
tipos de realidades que compõe a nossa sociedade. As salas de aula, são lugares de
fronteiras, de relações de poderes, de disputas por memórias.
O currículo pode ser entendido como tecnologia de governo, pois seu saber específico é
o conhecimento sobre os nexos entre conhecimentos e indivíduos. Ele produz sujeitos
particulares e a teoria do currículo está envolvida na melhor forma de produzí-los. Ao
aceitar esta abordagem, não nos perguntamos o que os indivíduos fazem com os
materias recebidos; de que forma os resignificam o que lhe é proposto ou imposto. O
currículo faz o indivíduo e o indivíduo também faz o currículo.
688
O conhecimento inscrito no currículo não pode ser separado das regras de regulação e
controle que definem suas formas de transmissão. Ao abordar o bio poder do currículo,
Tomaz Tadeu da Silva (2014) afirma que seus efeitos são duradouros e permanentes.
Identidades hegemônicas são fixadas, formadas, moduladas questionadas e disputadas.
Ele é constituído por múltiplas narrativas que podem ser desconstruídas.
Segundo Ernest e Mouffe no campo do discurso são fixados limites entre os múltiplos
“nós” que produzem múltiplos “outros” por meio das lógicas da equivalência e da
diferença. O currículo é entendido como um sistema discursivo onde se travam lutas
identitárias, onde são produzidos sentidos aos conhecimentos históricos, legitimando-os,
validando-os ou não como objetos de ensino. Constrói-se num espaço de entre
cruzamento de políticas da diferença e de conhecimentos onde se manifestam as
demandas do presente. Portanto ao pensar a diversidade cultural no Brasil e focar na
diversidade étnico-racial é primar pela diferença ao invés do conteudismo.
Referências
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. In:
SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.); HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn.
Identidade e diferença. A perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Editora
Vozes.
689
VOZES OCULTAS: RELAÇÕES DE GÊNERO E
MEMÓRIA NA CONSTITUIÇÃO DE ARQUIVOS
PESSOAIS
Talita Gonçalves Medeiros
No teatro da memória, as mulheres são sombras tênues, a frase que inicia o texto de
Michele Perrot (1989), nos revela a faceta de exclusão, restrição e domesticação de uma
memória. Restrita ao lar, as mulheres e sua memória voltavam-se ao ambiente privado e
suas ações nele: redigir cartas aos familiares em busca de informações sobre saúde,
nascimento e morte; escritas de diários como forma de deixar rastros ou vestígios de
vivências e experiências que encontram eloqüência em suas memórias trajadas;
cadernos ou blocos de anotações com receitas passadas de geração em geração; cartões
endereçados e recebidos de parentes e amigas/os devido a festividade de aniversários ou
casamento; constituição de álbuns familiares; coleção e manutenção dos mil nadas,
possuem “uma certa relação consigo mesma, com sua própria vida, com sua própria
memória [...]” (PERROT, 2013, p. 30),
690
esse ato de autodestruição é também uma forma de adesão ao silêncio que a
sociedade impõe às mulheres[...] um sentimento de negação de si que está
no centro da educação feminina, religiosa, laica, e que a escrita-assim como
a leitura contradizem. Queimar seus papéis é uma purificação pelo fogo
desta atenção a si mesma que confina ao sacrilégio (PERROT, 2005, p. 37).
Essa ação atua diretamente nas fontes de pesquisas e estudos, privilegiadas por
historiadoras e historiadores. Relacionadas com o tempo e com a memória, os arquivos
pessoais, passam pelo crivo da escolha e, portanto, da seleção do que se deseja
perpetuar sobre sua memória. Estas escolhas, claramente não neutras, também
transpassam pelo viés do gênero e assim buscam esculpir relações e valores mediados
por aquilo que a eternidade deve registrar. Desta forma, as memórias escolhidas para o
futuro transcorrem em ações de subjetividade, poder e identificação.
A virada lingüística, a partir dos anos 1960, procurou justamente problematizar essas
escolhas e esses silenciamentos. Investindo nas análises dos “novos sujeitos do novo
passado” (SARLO, 2007, p. 16) essa metodologia de análise que passou a considerar as
subjetividades das/nas ações humanas, voltou seus olhos para a valorização dos
detalhes, “as originalidades, a exceção à regra, as curiosidades que já não se encontram
no presente”, (SARLO, 2007, p. 17) ou seja, privilegiar as sujeitas marginais que
estavam fora do cenário de estudo, mas não fora do cenário de “discursividades de
memória” (SARLO, 2007, p. 17) .
Fala-se muito sobre mulheres, escreve-se muito sobre estas, mas, na maioria dos casos,
a partir de uma voz e de uma escrita masculina. Representações, idealizações e
perfomatizações que por muitas vezes não apenas alcançam a produção do discurso
sobre as mulheres e os seus silenciamentos na “produção e na condição culturais e
políticas” (SARLO, 2007, p. 21) mas que tornam o discurso masculino inteligível,
próprio e único no coletivo.
Deste modo, a oportunidade de contato com essas memórias, com essas linguagens e
códigos sociais e com essas diversas visões de mundo, ainda que retratadas através de
uma escrita cotidiana, se destacam e se fortalecem na possibilidade de refletir sobre as
diversas narrativas que “nos oferecem um tempo múltiplo, que se superposicionam,
diferenciando-se dos marcos gerais da história oficial, com novos marcos plenos de
significados, capazes de reconstruir uma outra história [...]”(STADNIKI, 2005, p. 345).
Desta forma, a escrita tida como “ordinária”, é uma importante e destacável forma de
691
elucidar um passado e um presente, visto que “há outras cronologias, para além das
oficiais, edificadas em decorrência da significação de eventos e compartilhadas pelos
grupos de vivência” (STADNIKI, 2005, p. 345).
Considerações finais
Como nos afirma Jelin (2002, p.56), “siempre habrá otras histórias, otras memórias e
interpretaciones alternativas, em la resistência, em el mundo privado, em las
‘catacumbas’”, deste modo, valorizar arquivos pessoais de mulheres como fontes de
pesquisas é possibilitar o conhecimento de um universo singular que se cruza no plano
da experiência. Testemunhar por outros olhares é observar que “não há testemunho sem
experiência, mas tampouco há experiência sem narração: a linguagem liberta o aspecto
mudo da experiência, resume-se a de seu imediatismo ou de seu esquecimento e a
transforma no comunicável” (SARLO, 2007, p. 24).
Referências
JELIN, Elisabeth. Los trabajos de la memoria. Buenos Aires: Siglo XXI Editora
Iberoamericana; Nueva York: Social ScienceResearchCouncil, 2002. pp. 1- 78.
692
PEDRO, Joana. Relações de Gênero como categoria transversal na historiografia
contemporânea. Topoi, v. 12, n.22, jan-jun. 2011, p. 270 -283.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo:
Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007.
693
LIVROS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE
HISTÓRIA E CULTURA AFROBRASILEIRA E
INDÍGENA: INSTRUMENTO NECESSÁRIO PARA
A APLICAÇÃO DE LEIS FEDERAIS
Ubiraci Gonçalves dos Santos
Introdução
Portanto, este artigo traz uma experiência inédita no Estado da Bahia sobre a elaboração
de livros didáticos que tratam da História da África, Cultura Afrobrasileira e Indígena.
Com objetivo de colaborar com o estabelecido na Constituição Federal nos seus Art. 5º,
I, Art. 210, Art. 206, I, § 1° do Art. 242, Art. 215 e Art. 216, bem como nos Art. 26, 26
A e 79 B na Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB.
Para entender a história da educação brasileira, o ponto de partida foi à chegada dos
portugueses ao Brasil, onde se evidenciou a imposição da educação europeia em nosso
país. Inicialmente as práticas educacionais das populações indígenas foram ignoradas e
posteriormente dos africanos, sendo estes sequestrados e trazidos à força para o Brasil.
Mas com o passar do tempo, inúmeras mobilizações por parte de representações dos
movimentos negros e demais seguimentos da sociedade empenhada na implantação de
ações afirmativas para atingir de fato a igualdade de direitos para todos, dessa forma
Figueiredo (2007, p.117) lembra que:
Para inicio de conversa, as leis referem-se a diversas temáticas para serem aplicadas nas
disciplinas de Educação Artística, Literatura e História Brasileira, dentre outras. Ou
seja, às Leis 10.639/03 e a 11.645/08 são representadas por temáticas, onde a utilização
dos livros didáticos que trata este artigo necessita serem trabalhados em sala de aula
pelo educador/a nas inúmeras disciplinas definidas pela Lei Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB).
Dessas temáticas podem ser destacadas, a História da África e dos Africanos, a luta dos
negros e dos índios no Brasil, a culinária, as datas comemorativas do calendário
afrobrasileiro, a dança, a capoeira dentre outros aspectos. Neste contexto, segundo
Pereira, (2008, p.8) comenta que: “[...] a inclusão dos valores culturais afro-brasileiros
nos currículos escolares representa o reconhecimento de uma dívida da sociedade para
com os africanos e seus descendentes [...]”.
Assim sendo, Pereira (2008, p.8) nos alerta: “[...] os educadores se deparam com um
grande desafio que decorre da necessidade de se desfazer os equívocos que deturpam as
culturas de origem africana nas áreas onde desenvolveram relações de trabalho escravo
[...]”. Neste sentido, vale ressaltar que esta questão é notória. Deste modo, Silva (2004,
p.25) através de sua pesquisa sobre a presença do negro em livros didáticos, sendo a
maioria das vezes de forma pejorativa, ela comenta que:
Nesta perspectiva, frente a esta situação Gomes (1996, p. 88) explica que o processo de
construção da identidade "[...] é um dos fatores determinantes da visão de mundo, da
representação de si mesmo e do outro". Neste contexto, dois ativistas do movimento
negro brasileiro trazem informações abaixo do ser negro, índio e branco no Brasil, visto
que ainda fica evidente a confusão entre as pessoas para a definição dessas três etnias
que de certa forma contribuíram para a construção do legado histórico do Brasil.
695
deles, por decisão política ou ideológica se consideram negros ou
afrodescendentes. (MUNANGA e GOMES, 2004, p.18)
Aliás, em uma publicação recente da professora Ana Célia Silva, ela chama atenção que
nos últimos anos houve uma evolução no que diz respeito à inclusão da temática étnico
e racial em publicações de livros didáticos e paradidáticos, e consequentemente
eliminando a ideia de subalternidade que o negro e indígena apareciam em quase cem
por cento das publicações de editoras tradicionais.
Referências
697
BAHIA. Constituição do Estado da Bahia. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia;
Assembléia Legislativa do Estado da Bahia, 1989. 128, [23]p.
_________. Lei n.° 11. 645, de 10 de março de 2008. Que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “Historia e Cultura Afro-Brasileira e indígena.
República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em: <
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 10 nov. 2011.
GOMES, Nilma Lino. Educação cidadã, etnia e raça: o trato pedagógico da diversidade.
In: CAVALLEIRO, Eliane (Org). Racismo e anti-racismo na educação: repensando
nossas escolas. São Paulo: Summus, 2001.
699
MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO (1889-
1937): (In) VISIBILIDADE NO ENSINO DE
HISTÓRIA
Valdenira Silva de Melo
Falar da História do Brasil dando ênfase a trajetória política negra é tarefa de poucos
docentes. A tendência é reproduzir um discurso “ocidentocêntrico” arraigado nas velhas
mentalidades e na tradicional formação acadêmica de professores e de professoras.
Romper com essa estrutura dominante, não é tarefa fácil, visto que requer do próprio
docente o despojar-se dos velhos conceitos e contribuir na sala de aula com uma história
menos excludente. Nos dizeres de Nilma Lino Gomes (2012), é necessário descolonizar
os currículos.
Dessa forma, este texto propõe uma reflexão sobre a atuação do Movimento Negro
Brasileiro (1889-1937), evidenciando sua organização de luta e suas estratégias de
inclusão social frente ao racismo pós-Abolição da escravidão no Brasil. Tema que
merece destaque nas aulas de História.
Para além dos Movimentos Sociais já conhecidos na Primeira República como a Guerra
de Canudos, a Guerra do Contestado, o Cangaço, a Revolta da Vacina, a Revolta da
Chibata, dentre outros que compõem o currículo escolar e são explícitos nos livros
didáticos, convém enfatizar a organização social e política do Movimento Negro nos
períodos de 1889-1937 na História do Brasil.
Nesse contexto, como então definir Movimento Negro? Conforme Domingues (2007, p.
101):
700
Movimento negro é a luta dos negros na perspectiva de resolver seus
problemas na sociedade abrangente, em particular os provenientes dos
preconceitos e das discriminações raciais, que os marginalizam no
mercado de trabalho, no sistema educacional, político, social e cultural
[...]”.
Para revelar a mobilização da população negra mostrando sua luta frente ao descaso
governamental, Domingues (2007, p. 103), enumera uma série de “clubes ou
associações” constituídas ao longo do período histórico pretendido para esse texto. São
elas:
Cabe destacar também, como os “homens de cor”, denominação utilizada na época para
referir-se aos negros, organizaram-se e criaram a “imprensa negra” para veicular
informações por eles elaboradas no sentido de divulgar seus ideias e seus interesses.
Em São Paulo, o primeiro desses jornais foi A Pátria, de 1899, tendo como
subtítulo Orgão dos Homens de Cor. Outros títulos também foram
publicados nessa cidade: O Combate, em 1912; O Menelick, em 1915; O
Bandeirante, em 1918; O Alfinete, em 1918; A Liberdade, em 1918; e A
Sentinela, em 1920. No município de Campinas, O Baluarte, em 1903, e O
701
Getulino, em 1923. Um dos principais jornais desse período foi o Clarim
da Alvorada, lançado em 1924, sob a direção de José Correia Leite e
Jayme Aguiar. Até 1930, contabiliza-se a existência de, pelo menos, 31
desses jornais circulando em São Paulo.
Embora tenham surgido várias denominações negras, a que mais se destacou nesse
período foi a Frente Negra Brasileira (FNB), que se constitui como partido político em
1936. Porém influenciada pela conjuntura política internacional, não durou muito tempo
devido sua postura ideológica, conforme enfatiza Domingues (2007, p. 107):
Referências bibliográficas
702
DOMINGUES, Petrônio. Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos
históricos.In: Revista Tempo, 2007.
703
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E SISTEMA DE
COTAS (COR/ETNIA) NO BRASIL ATUAL
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
Introdução
Isto suscita muitos questionamentos, no sentido de aferir o que nos faz reconhecer o
“outro” como negro? Que traços e características podemos atribuir ao indivíduo de cor
parda/preto, pertencente a etnia negra? Seriam os aspectos fenotípicos?
Adentrando a discussão...
Considerações Finais
Em certo sentido, tais políticas do MPOG atendendo a ala mais radical do Movimento
Negro no Brasil, retroagem no processo de reconhecimento de cor e etnia, revisitando
nomenclaturas antigas de “moreno claro”, “moreno escuro”, “cafuzo”, ao assemelhar-se
as atuais de “pardos-pardos”, “pardos-preto”, “preto-preto”, causando instabilidade e
discriminação jurídica e identitária no seio da população brasileira.
Que pese isto, a política “Neo antidemocracia racial” por meio das Bancas de Aferição
de cor/etnia nos Concursos públicos e processos seletivos de ingresso estudantil, propõe
que os indivíduos provem que são negros mediante marcadores de “pretura”, mostrar
que são mais pretos e negros que os demais candidatos, lançando por terra os avanços
históricos de autoafirmação, autodeclaração e autoreconhecimento mediante o
pertencimento cultural, o que mostra um grande retrocesso cultural e educacional,
trazendo perturbação mental e segregação étnico-racial dentro da etnia negra, em se
tratando do sistema de cotas para acesso ao nível superior, seja como estudante ou
trabalhador.
706
Referências
GOMES, Nilma Lino. In: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal
10.639/03. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade, 2005. (Coleção Educação para Todos)
SANTOS, Sales Augusto dos. Ação Afirmativa ou a Utopia Possível: O Perfil dos
Professores e dos Pós-Graduandos e a Opinião destes sobre Ações Afirmativas
para os Negros Ingressarem nos Cursos de Graduação da UnB. Relatório Final de
Pesquisa. Brasília: ANPEd/ 2° Concurso Negro e Educação, mimeo, 2002.
STF - ARE: 729611 RS, Relator: Min. DIAS TOFFOLI. Julgamento de Exclusão de
candidata afrodescendente em Banca de Aferição em Concurso Público. (Data de
Julgamento: 02/09/2013, DIVULG 06/09/2013 PUBLIC 09/09/2013).
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC Ed., 1982.
707
A EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO
RACIAIS E O PAPEL DO ENSINO DE HISTÓRIA E
CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA
Zilfran Varela Fontenele
Como resultado da Lei 10.639/2003, em 2004 foi aprovado pelo Conselho Nacional de
Educação – CNE as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro Brasileira e Africana - ERER
(BRASIL, 2013). Vale ressaltar, que, mesmo sendo resultado das conquistas alcançadas
com a Lei 10.639/2003 e enfatizar as questões ligadas à História e Cultura Africana, o
texto aborda questões indígenas e por analogia, estas diretrizes se aplicam a todas as
etnias. Apesar de a Lei 11.645/2008 ser posterior, estas orientações se aplicam à suas
demandas.
As Diretrizes para a ERER (BRASIL, 2013) são destinadas aos diversos segmentos que
compõem os sistemas de ensino, públicos e privados, com a pretensão de dialogar
sobre:
As Diretrizes para a ERER (BRASIL, 2013) têm como meta a garantia de que todos os
cidadãos, independentemente de sua ascendência étnica, tenham acesso à educação em
todos os níveis de ensino, em escolas com instalações adequadas e professores
qualificados para lidar com e evitar situações de racismo e discriminação, capazes de
conduzir, segundo estas diretrizes, a uma reeducação e reconstrução das relações entre
os diferentes grupos étnico-raciais que compõem a sociedade brasileira.
Ainda segundo as Diretrizes (BRASIL, 2013), existe uma demanda para que Estado e
sociedade ofereçam reparações aos danos psicológicos, econômicos, políticos,
educacionais e sociais sofridos por afro descendentes e indígenas, vítimas do sistema
escravista que funcionou no Brasil entre os períodos colonial e imperial e que mantém
sequelas em nossa sociedade. Estes danos foram causados também por políticas
públicas de incentivo ao “branqueamento” da população voltada a um suposto
desenvolvimento nacional, atribuindo atrasos econômicos e sociais no país à grande
quantidade de negros, indígenas e mestiços, impondo ainda a noção de que beleza,
inteligência, desenvolvimento e até mesmo de higiene, estavam associados aos brancos.
709
Atingir estes objetivos requer uma integração de diferentes setores da educação, com
destaque para a adoção de Projetos Político Pedagógicos – PPP que reflitam o
compromisso da escola com estas demandas, associado a um ensino de História que
possibilite aos alunos momentos de reflexão que permitam reconhecer a importância
dos diversos segmentos sociais na construção histórica e social do Brasil.
Esta socialização de saberes deve ser caracterizada pelo diálogo entre as diversas
contribuições históricas ou de memórias, conforme Rocha (2014); e incentivo ao
respeito pelas diferenças, reconhecimento da igualdade em meio à pluralidade, em um
ambiente em que o professor atua como facilitador, incentivando a reflexão dos jovens,
e não mais como portador das verdades absolutas.
710
Um importante desafio neste sentido é a aproximação das universidades com a as
escolas, reduzindo os espaços entre a teoria e as práticas docentes, além da participação
cada vez mais efetiva dos professores na construção de currículos que “evidenciem as
contradições e conflitos existentes na escola e no mundo acadêmico, questiona e
desconstrói saberes históricos eurocêntricos que ainda hoje funcionam como orientação
estereotipada do negro e do índio”. (FERRAZ, 2011, p. 29)
Por fim, vale ressaltar que estas diretrizes possuem dimensões normativas e
orientadoras que visam oferecer referências e critérios para a implantação de ações
positivas, sem, contudo, estar fechadas em si, permitindo que estas orientações sejam
referências ou pontos de partida, mas que estão abertas a reformulações em caso de
necessidade, para um melhor cumprimento de seus fins. Além disto, segundo estas
diretrizes, o cumprimento da Lei não é atributo exclusivo do professor em sala de aula,
“devendo haver também o comprometimento solidário dos vários elos do sistema de
ensino brasileiro”. (BRASIL, 2013, p. 510)
Referências
ABUD, Kátia Maria et. al. (Orgs.). Ensino de História. Idéias em Ação. São Paulo:
CENGAGE, 2010.
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Global, 2007.
711
__________ . A integração do negro na sociedade de classes. v. 1. 3. ed. São Paulo:
Ática, 1978.
FERRAZ. Maria Cláudia de Oliveira Reis. Por que estudar a África na escola? In:
OLIVEIRA, Cristiane Gomes de (Org.). Escola, Culturas e diferenças: experiências e
desafios na educação básica. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2011. p. 25-40.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o
regime da economia patriarcal. 4 ed. São Paulo: Global, 2003.
712
713