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Guerra
como o início de uma guerra comercial envolvendo as duas principais
potências econômicas, Estados Unidos e China, cujo comércio bilate-
ral é da ordem de 700 bilhões de dólares. Analisando mais detidamen-
te a questão, verifica-se que a iniciativa dos EUA, se efetivamente
CEBC | CARTA BRASIL-CHINA GUERRA COMERCIAL EUA-CHINA? ANÁLISE CEBC ENTREVISTA ARTIGO CONVIDADO UPDATE 2
As medidas anunciadas por uma e outra parte ainda tornando menos provável uma guerra fria nos moldes da
não foram efetivamente implementadas. Larry Kudlow, que tivemos ao longo da segunda metade do Século XX.
atual diretor do Conselho Econômico Nacional, chegou No âmbito econômico, a globalização catalisou uma in-
a referir-se às medidas anunciadas como “propostas” a terdependência ainda mais explícita mediante a criação
serem debatidas internamente nos EUA, na expectati- e o desenvolvimento de cadeias globais de valor que ten-
va de que a China possa mudar sua atitude em relação dem a limitar qualquer veleidade de eficácia de medidas
a preocupações importantes dos Estados Unidos sobre protecionistas ou de “fechamento” econômico.
temas como dumping, pouca reciprocidade no que se re-
O grande desafio a ser enfrentado por todos (e particu-
fere à abertura do mercado chinês e a perene questão
larmente por China e EUA, que lutam pela liderança do
da propriedade intelectual. A chamada guerra comercial
setor) está no campo da alta tecnologia, na segurança
não teve até agora qualquer impacto efetivo, salvo tor-
cibernética e no desenvolvimento da inteligência arti-
nar mais voláteis as bolsas de valores no mundo inteiro.
ficial. É nesse campo que existe o risco de uma guerra
A pergunta que vem à mente é: em que medida o pre- fria entre as duas superpotências, o que não impedirá
sente enfrentamento China-EUA pode afetar o comér- necessariamente a busca de um acordo nos demais cam-
cio exterior brasileiro, em particular as nossas exporta- pos, particularmente no campo econômico e comercial.
ções para a China, nosso principal parceiro comercial,
Os desafios para o Brasil não se limitam, portanto, à ex-
e também para os EUA, onde somos fornecedores rele-
ploração de efêmeras janelas de oportunidade para a
vantes de produtos siderúrgicos e onde nossas expor-
obtenção de ganhos de curto prazo. O nosso principal
tações têm maior valor agregado? A curto prazo, à luz
desafio é o de definir estratégias para uma inserção mais
da conjuntura descrita acima, não é de se prever mu-
competitiva e irreversível na economia mundial, o que in-
danças dramáticas em nosso desempenho comercial. É
clui o que já denominei “fazer o nosso dever de casa” (ou
possível até mesmo pensar em algum ganho de curto
“lição de casa”, como dizem os paulistas...), investindo
prazo, na medida em que as incertezas em relação ao
em educação, inovação e tecnologia, enfim, criando con-
comércio sino-norte-americano criem espaços que pos-
dições para deixar de uma vez por todas a periferia tão ao
sam ser ocupados por exportações brasileiras, ou que
gosto de lideranças populistas e patrimonialistas.
as restrições anunciadas em relação a investimentos
chineses nos EUA propiciem a vinda de alguns “troca-
dos” para o Brasil.
Mas a questão é bem mais ampla e certamente afetará
Embaixador Luiz
a própria modalidade da inserção do Brasil na economia
Augusto de Castro Neves
mundial. A nova estrutura das relações internacionais,
que ainda está por delinear-se, será decisivamente mo- Presidente do Conselho
Empresarial Brasil-China
dulada por China e Estados Unidos e por outros atores
importantes, mas menos relevantes, como Alemanha e
Rússia. Questões militares, diplomáticas e de segurança
continuam a ser muito relevantes, mas o mundo globa-
lizado tornou os países muito mais interdependentes,
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GUERRA COMERCIAL EUA-CHINA
comércio mundial? A China não quer retaliação, mas negociação nos mes-
mos termos e intensidade. Acredita-se que os dois
players vão acabar fechando um grande acordo, que pro-
comércio eletrônico e novas formas de mobilidade fa-
zem parte desse novo universo.
vavelmente se dará ao arrepio das normas da OMC, com A China quer passar da sua posição de “vencedora” na
fortes impactos sobre o resto do mundo. Esta é a cabeça globalização para a de maior defensora da concorrência,
Volto ao tema da guerra comercial iniciada por Donald dos investimentos, do livre-comércio, do acordo do cli-
de Trump: pressionar cada país que mantém superávit
Trump, hoje focando as opções da China. ma, etc.. Em vez de exercer um novo papel no velho sis-
com os EUA para uma negociação bilateral do tipo “tit-
tema global de comércio, Pequim quer liderar um novo
O pano de fundo é a evolução da balança comercial dos -for-tat”, sob uma visão equivocada de jogo de soma
sistema dentro de uma nova ordem global influenciada
dois países. A China exporta 2,1 e importa 1,6 trilhão de zero, em que exportar é bom e importar é ruim.
pelos seus estrategistas.
dólares ao ano, acumulando portanto um superávit de Mas a perspectiva chinesa pode ser outra. Com Trump as-
US$ 500 bilhões com o mundo, resultante principal- A China tem duas opções: entrar no velho jogo que
sumindo publicamente que os EUA perderam competiti-
mente do crescimento vertiginoso de 16% ao ano das Trump deseja resgatar ou propor seu próprio jogo, que
vidade em diversas indústrias, e por isso defendem esse já vinha sendo gestado. Me parece que os fatos vão an-
suas exportações. protecionismo rude e unilateral, abre-se o espaço para o tecipar a decisão.
Já os EUA importam 2,3 e exportam 1,5 trilhão de dólares surgimento de um novo líder, generoso e conciliador.
ao ano, com um déficit comercial da ordem de US$ 800
Não será surpresa se em cinco a dez anos a China pas-
bilhões que persiste por uma década, sem grandes altera-
sar de uma situação de grande superávit comercial para
ções. O problema é que a China hoje responde por quase
um déficit expressivo, com a ampliação do acesso ao seu
metade desse déficit (US$ 375 bilhões). Por isso, virou o
imenso mercado interno, ainda dormente. Hoje o centro
principal alvo da guerra mercantilista iniciada por Trump.
mundial de compras — cada vez mais repleto de produ-
Mas não há dúvida de que essa disputa vai muito além
do comércio, envolvendo aquisições de empresas, corri- tos chineses — são os EUA, e não a China. Marcos Jank
da tecnológica e armamentista, geopolítica, liderança De fato, no fim de 2017 a China anunciou uma nova es- Preside a Aliança Agro Ásia-Brasil
global e outros aspectos. tratégia de longo prazo pró-importações, que levará o (Asia-Brazil Agro Alliance – ABAA), um
projeto de representação institucional
Após a ameaça americana, a reação da China foi soltar país a uma inserção internacional mais equilibrada. Um na Ásia patrocinado pela APEX, ABPA,
listas de retaliações com valores semelhantes aos que déficit comercial ampliaria a produtividade doméstica ABIEC e ÚNICA. Foi presidente da
União da Indústria de Cana-de-Açúcar
os EUA apresentaram. Em resposta à sobretaxa do aço chinesa e ainda alavancaria o poder da China sobre os
(UNICA) e fundador do ICONE, além de
e do alumínio, a primeira lista chinesa contém sucata de mercados e a formação dos preços de vários produtos, professor associado da Universidade
alumínio, derivados de suínos, frutas e nozes, num valor como grande importadora. de São Paulo, na FEA e ESALQ.
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ANÁLISE CEBC
O
13º Congresso Nacional do Povo aprovou a nova teladas, foi eleito diretor da Comissão
formação do Governo Chinês após concluir uma Nacional de Supervisão. Esse novo órgão,
série de reuniões de âmbito governamental reali- em particular, chama a atenção pois seu
zada ao longo do mês de março. Além da divulgação dos escopo é claramente mais abrangente do
nomes que farão parte da nova gestão, foram anuncia- que o da Comissão Central para Inspeção
das também significativas revisões na própria estrutu- Disciplinar, uma vez que sua atuação se
ra do Estado. dará não apenas sobre os membros do
Partido Comunista, mas também em re-
As reformas resultaram em uma reestruturação que
lação a todos os quadros do setor público
contará com 26 ministérios e comissões de nível minis-
chinês, sejam filiados ao Partido ou não.
terial ligados ao Conselho de Estado. Essa revisão é em
Como a mais alta instituição de supervi-
parte direcionada a busca por maior eficiência opera-
são, a recém-criada entidade deverá ins-
cional e ao gerenciamento de temas particularmente
pecionar as comissões de nível inferior,
complexos no contexto da China contemporânea, como
pois todos os níveis de governo - como os
imprudência financeira por parte de bancos chineses, a
provinciais e municipais - terão também
necessidade de reformas nas grandes estatais, poluição
uma comissão local, e se reportar ao Con-
ambiental e corrupção no contexto do Partido-Estado.
gresso Nacional do Povo e seu Comitê
Nesse processo, também foram estabelecidas novas Permanente.
agências e comissões governamentais de alto nível. Den-
É evidente também que muitos dos no-
tre elas, cabe destacar a criação da Comissão Nacional de
mes eleitos para altos cargos na nova
Supervisão, que absorverá funções anteriormente atribu-
estrutura do governo são importantes
ídas aos agora extintos Ministério da Supervisão e Escri-
aliados de Xi, o que deve garantir o for-
tório Nacional de Prevenção à Corrupção. Yang Xiaodu,
talecimento do presidente chinês em
que era até então chefe de ambas as instituições desman-
seu segundo mandato. Apesar disso,
analistas de política chinesa argumen-
1. Tulio Cariello é coordenador de análise do CEBC. | 2. Gabriel Fragoso é assi-
tam que todos são quadros com vasta
tente de pesquisa do CEBC. | 3. Janaína Camara da Silveira é jornalista, edita o
site Radar China e escreve para a agência Xinhua. experiência em suas áreas de trabalho.
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A NOVA FORMAÇÃO DA LIDERANÇA CHINESA
FonteS: CEBC, China Daily, Conselho de Estado da China, Diário do Povo, Embaixada do Brasil em Beijing, Páginas oficiais dos ministérios, Reuters, WSJ, Xinhua.
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CONSELHO DE ESTADO
Órgão executivo da administração estatal cujos representantes são o premiê, vice-premiês, conselheiros
de Estado, ministros, auditor-geral e secretário-geral. O mandato dos representantes segue o calendário
da Assembleia Popular Nacional, de cinco anos, e não deve ser superior a dois consecutivos.
Segunda mulher secretária-geral Prefeito de Shanghai aos 43 anos, Confirmado no segundo manda- Uma das novas estrelas da sex- Principal conselheiro econômico
do partido a nível provincial na em 2003 - o mais novo em 50 anos to, o economista tem entre as me- ta geração do PC, dos nascidos de Xi, destaca-se na interlocução
China, em Fujian (2009-12), quan- - ascendeu ao Politburo em 2012. tas manter o crescimento chinês em 1960, governou a poderosa com os EUA e defende um cresci-
do chegou ao Politburo. Também Como vice-premiê, já se posicio- em 6,5%. Guangdong. Passou pelo Tibet, mento com menos dívida, a fim de
serviu em Tianjin. nou contra o protecionismo. Hebei e Mongólia Interior. evitar riscos financeiros.
FonteS: CEBC, China Daily, Conselho de Estado da China, Diário do Povo, Embaixada do Brasil em Beijing, Páginas oficiais dos ministérios, Reuters, WSJ, Xinhua.
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Conselheiros de Estado
Ex-chefe da Força de Foguetes do Já dirigiu a agência de Inspeção e Ministro das Relações Exteriores Nomeado secretário-geral do Con- Ministro da Segurança Pública, foi
Exército de Libertação Popular. É Quarentena. Atua com direitos de desde 2013, é reconhecido por atu- selho de Estado, foi ministro das chefe do PC em Hebei no início do
membro da Comissão Militar Cen- propriedade intelectual e seguran- ar em temas como o Mar do Sul da Finanças entre 2016 e 2018. Antes, projeto de Xiongan, nova área de
tral e ministro da Defesa. ça no trabalho, além de inovação. China e junto aos EUA. foi chefe de gabinete de Li Keqiang. desenvolvimento regional de Xi.
FonteS: CEBC, China Daily, Conselho de Estado da China, Diário do Povo, Embaixada do Brasil em Beijing, Páginas oficiais dos ministérios, Reuters, WSJ, Xinhua.
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LISTA DE MINISTÉRIOS
26 ministérios e comissões ministeriais ligados ao Conselho de Estado Novo Ministério ou Comissão Ministerial Ministros recém-empossados
Ministério da Ecologia e Ministério da Cultura e do Ministério dos Veteranos Ministério das Relações
Meio Ambiente Turismo Exteriores
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LISTA DE MINISTÉRIOS
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LISTA DE MINISTÉRIOS
Ministério do Comércio
Escritório Nacional de
Ministério do Transporte Zhong Shan Auditoria
Zhong assume um dos papéis cruciais da
Li Xiaopeng segunda maior economia do mundo. Foi re-
Hu Zejun
presentante da China para negociações co-
O ministro, no cargo desde setembro de 2016,
merciais internacionais entre 2013 e 2017. A Hu está no cargo desde abril de 2017, sendo a
foi governador de Shanxi. O legado político é
nomeação é tida como um passo de Beijing primeira mulher a desempenhar essa função
mais antigo: é filho do ex-premiê Li Peng (no
para manter a competitividade internacio- no governo chinês. Foi vice-procuradora-geral
cargo de 1987 a 1998, considerado número 2
nal. Em tempos de disputas acirradas com os da China de 2010 a 2017. O escritório existe
no governo de Jiang Zemin). O ministério era
EUA, é um dos ministérios mais observados desde 1983.
responsável pelos modais rodoviário, aquavi-
do país.
ário e aéreo até 2013, ao incorporar também o
ferroviário. A rede de trens de alta velocidade
passou de 113 quilômetros em 2008 para 25
mil quilômetros em 2017.
Fontes: Embaixada do Brasil em Pequim, Conselho de Estado da China, Páginas oficiais dos Ministérios, China Daily,
Diário do Povo, Reuters, The Wall Street Journal, Xinhua, Caixin.
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ANÁLISE CEBC
N
o contexto da primeira sessão do 13º Congresso
Nacional do Povo, realizada em Pequim no dia Destaques sobre o desempenho da economia chinesa entre 2013 e 2017
cinco de março de 2018, o primeiro-ministro Li Ke-
qiang apontou os principais resultados sobre o desem-
penho econômico e social da China nos cinco anos ante- • O Produto Interno Bruto chinês (PIB) cresceu de 54 • A taxa de urbanização da China subiu de 52,6% para
riores, ao mesmo tempo em que apresentou o plano de trilhões yuans para 82,7 trilhões de yuans, tendo re- 58,5%;
trabalho do governo chinês para 2018. gistrado um crescimento médio anual de 7,1%;
• 80 milhões de chineses realocados de áreas rurais
De forma geral, o documento apresentado pelo premiê • A China aumentou sua fatia na economia global, ten- para urbanas passaram a receber permissão perma-
corrobora o fortalecimento do Partido Comunista nos do saltado de 11,4% para 15%. Mais de 30% do cresci- nente de residência;
processos decisórios de políticas públicas da China, ao mento global nesse período se deu por conta da China;
mesmo tempo em que evidencia a centralidade do Pre- • Os investimentos chineses em Pesquisa e Desenvolvi-
sidente Xi Jinping no poder. Nesse sentido, há menção • Os preços ao consumidor apresentaram aumento mé- mento seguiram altos, registrando crescimento mé-
no relatório ao fato de que se deve seguir o “pensamen- dio anual de 1,9%, mantendo níveis de crescimento dio anual de 11%, posicionando a China em segundo
to de Xi sobre o socialismo com características chinesas relativamente baixos; lugar no ranking mundial;
para uma nova era” com o objetivo de buscar o progres-
• O consumo passou a ser um relevante vetor de desen- • A renda individual da população apresentou cresci-
so e a estabilidade.
volvimento, contribuindo com 58,8% do crescimento mento anual médio de 7,4%, índice superior ao cres-
Dentre os principias temas abordados no relatório, do PIB no período; cimento econômico geral durante o mesmo período;
cabe destacar a necessidade de reformas econômicas -
sobretudo no sistema financeiro e nas empresas esta- • Mais de 66 milhões de novos empregos urbanos fo- • Os investimentos externos aportados na China entre
tais, uma maior participação do mercado na economia, ram criados; 2013 e 2017 somaram a cifra recorde de 136,6 bilhões
o foco em inovação e tecnologia, reformas no setor de dólares;
• Houve aumento na participação do setor de serviços
energético, redução da pobreza, preservação do meio na economia chinesa, que subiu de 45,3% para 51,6%; • O combate à pobreza permaneceu como uma priori-
ambiente, manutenção da globalização econômica e dade. Mais de 68 milhões de pessoas superaram essa
proteção do livre comércio. condição entre 2013 e 2017.
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METAS PARA 2018 AS PRINCIPAIS METAS PARA 2018
6,5% 3%
políticas macroeconômicas Crescimento Crescimento esperado
do PIB por do Índice de Preços ao
• Projeção do déficit fiscal em 2,6% do PIB - valor volta de Consumidor (IPC) por
0,4% menor do que o verificado em 2017; volta de
• Projeção do déficit do governo em 2,38 trilhões de
yuans, com o déficit do governo central projetado
11 milhões
em 1,55 trilhão de yuans e o déficit dos governos lo- Taxa de desemprego
cais em 0,38 trilhões de yuans. Criação de urbano registrado
abaixo de
4,5%
mais de
• Orçamento de 21 trilhões de yuans para gastos do
governo; de novos
empregos urbanos
• Reforço na contribuição financeira do governo cen-
tral para os governos locais em 10,9%, como o in-
tuito de fortalecer as finanças locais, com foco nas
regiões central e oeste.
Paridade básica no Aumento nos volumes de
crescimento da importação e exportação,
Reformas estruturais do lado da renda pessoal e no e um equilíbrio básico no
oferta crescimento econômico balanço de pagamentos
3%
e taxas, melhora do ambiente de negócios e maior Queda
Na reforma estrutural
participação de entidades do mercado na economia; de pelo
do lado da oferta,
macroalavancagem menos
• Desenvolvimento de novos vetores de crescimento, Progresso
estável e prevenção e
com destaque para a criação de clusters industriais substantivo no consumo energético
em setores emergentes, fortalecimento de pesqui- controle sistemáticos e por unidade do PIB, e
sa e desenvolvimento em inteligência artificial e efetivos de riscos contínuas reduções na
big data; emissão de poluentes
• Maior cobertura de internet nas áreas rural e urbana;
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• Promoção da modernização da indústria na China • Seguir com reformas estruturais na área fiscal nos • Aumentar a área de cultivo de alto padrão em pelo
com o intuito de transformar o país em um líder mun- âmbito dos governos central e locais; menos 5,33 milhões de hectares;
dial no setor manufatureiro, com vistas a atingir o
projeto Made in China 2025; • Acelerar as reformas no sistema financeiro; • Expandir a cobertura de áreas irrigadas em cerca de
1,33 milhões de hectares;
• Continuar a fechar unidades produtivas ineficientes • Avançar com as reforma institucionais na área de se-
e as chamadas “empresas zumbi”, especialmente nos guridade social, com especial atenção para setores • Manutenção ou construção de 200 mil quilômetros
setores de aço e carvão. como pensões, aposentadorias e sistema de saúde; de estradas nas áreas rurais.
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Investimentos em infraestrutura • Oferecer isenções tributárias aos empresários pelo
reinvestimento de lucros na China;
O governo se propõe a permitir que o investimento pri-
vado, além do público, desempenhe um papel funda- • Expandir consideravelmente as importações e sediar
mental na melhoria da oferta de infraestrutura. a primeira Feira Internacional de Importações da Chi-
na (China International Import Expo).
• Neste ano, 732 bilhões de yuans serão investidos em
construção ferroviária;
Hong Kong, Macau e Taiwan
• Da mesma forma, 1,8 trilhão de yuans serão investi-
dos em projetos rodoviários e hidroviários; O governo se comprometeu a continuar a implementar o
princípio de “um país, dois sistemas” e atuar em estrita
• As regiões central e oeste continuarão a ser prioritá- conformidade com a Constituição da China e as leis bási-
rias para a construção de grandes projetos de infra- cas das regiões administrativas especiais de Hong Kong
estrutura. e Macau. Os governos e respectivos Executivos das duas
regiões terão o apoio do governo central em seus esfor-
ços para alcançar um crescimento econômico forte, me-
Abertura econômica
lhorar os padrões de vida e promover a harmonia social.
O governo reiterou sua posição em defesa da globaliza- Li Keqiang também reforçou a continuidade da imple-
ção econômica e proteção do livre comércio. Li Keqiang mentação dos princípios e as políticas relacionadas a
afirmou que a China está pronta para trabalhar com to- Taiwan, defendendo o princípio de “Uma China” e pro-
das as partes relevantes para avançar as negociações co- movendo o crescimento pacífico das relações com base
merciais multilaterais. O governo pede que as disputas no Consenso de 1992, para eventualmente alcançar a
comerciais sejam resolvidas através de discussões como reunificação pacífica da China. De acordo com o rela-
iguais e se opõe ao protecionismo comercial. Algumas tório, o governo seguirá firme na salvaguarda da sobe-
das medidas internas de promoção de maior abertura rania e integridade territorial chinesa e não tolerará
econômica serão: esquemas separatistas e atividades independentistas.
• O setor de manufaturas em geral será aberto, e o Serão expandidos o intercâmbio e a cooperação econô-
acesso a setores como telecomunicações, serviços mica e cultural em ambos os lados do Estreito, garantin-
médicos, educação e veículos sustentáveis será ex- do que ao longo do tempo, cidadãos de Taiwan venham
pandido; a desfrutar do mesmo tratamento que os habitantes da
China continental.
• Suspender restrições sobre o escopo de operações
das companhias de seguro estrangeiras ou com inves-
timento estrangeiro; Fonte: Report on the Work of the Government: delivered at the First
Session of the 13th National People’s Congress of the People’s Republic of
China on March 5, 2018.
• Tornar iguais os padrões de entrada no mercado para
bancos chineses e estrangeiros;
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ENTREVISTA
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adora? Ou visaria a elevação de sua popu- Pessoalmente, do ponto de vista dos A recondução de Xi Jinping para mais um
laridade e, dessa forma, preparar o terre- meus valores, penso que é insano o que mandato de cinco anos era esperada des-
no para sua permanência no poder? Ou se o mundo despende em armamentos. Go- de 2012 e não trouxe qualquer surpresa. A
destinaria a fechar o caminho a seus opo- vernos têm uma outra percepção e, nesse novidade foi a decisão adotada pelo Par-
sitores? Se pensarmos bem, esses objeti- sentido, não acredito que o que leva a tido, em seu 19º congresso, em outubro
vos não são reciprocamente excludentes. China a armar-se difere essencialmente do ano passado, de propor ao Congresso O que a concentração
No início de março o governo da China das razões que movem os demais países. Nacional do Povo (CNP) a abolição da re- de força nas mãos de
Todos, sem exceção, alegam a existência gra de dois mandatos de cinco anos para
anunciou planos para aumentar seu
o chefe de Estado chinês.
Xi Jinping nos diz, hoje,
orçamento militar anual em 8.1%, che- de ameaças. Infelizmente, no mundo de
hoje, a ideia de desarmamento parece ter é que ele permanecerá
gando a um valor próximo a 175 bilhões Tendo o Partido decidido nesse sentido,
de dólares. Como o senhor enxerga esse se tornado a mais remota das preocupa- o CNP naturalmente endossaria a pro- no cargo pelo tempo
ções, digamos, globais. Deixou de ser as-
incremento no orçamento militar, tendo posta, e foi o que aconteceu. A mudança que ele próprio julgar
em vista que as Forças Armadas da China sunto discutido a sério nos foros interna- pode ser vista de várias maneiras, mas
cionais, se é que algum dia o foi. necessário.”
respondem ao Partido Comunista e que uma delas me parece inescapável: a capa-
o próprio Xi Jinping é o presidente da Co- Quanto à subordinação das forças arma- cidade de Xi Jinping de enfeixar todos os
missão Militar Central? das chinesas ao Partido, o conceito é da poderes num nível tal, que tornou a an-
tiga regra, por assim dizer, supérflua. Em as administrações anteriores à de Xi, o
Eu preferiria separar as questões: o orça- própria essência do modelo institucional
outras palavras, o que a concentração de que, portanto, remete a questão a mo-
mento de defesa, por um lado, e a subor- do país. Em 1927, durante a guerra civil,
força nas mãos de Xi Jinping nos diz, hoje, tivações de substância e não de forma.
dinação das forças armadas ao Partido, o PCC criou sua milícia para combater o
é que ele permanecerá no cargo pelo tem- Uma delas pode, efetivamente, ser a
por outro. regime de Chiang Kai-shek. É ela que está
po que ele próprio julgar necessário. convicção, dentro do Partido, de que Xi é
na origem do Exército de Libertação Po-
O orçamento militar chinês situa-se a única figura que desfrutaria da autori-
pular. Essa subordinação foi preservada Por que isto ocorreu e com que motiva- dade (e agora também da popularidade)
hoje, oficialmente, em torno de US$ 175
até os dias de hoje. As forças armadas ções é matéria de conjecturas. Há uma ex- necessárias para implementar reformas
bilhões, embora alguns estimem cifra
são um braço do Partido e não do Esta- plicação formalística, pouco convincen- e impor-se aos focos de resistência a seu
mais alta, que poderia chegar a US$200
do. O que pode parecer, aos nossos olhos, te, de que era necessário alinhar a regra projeto reformista.
bilhões. É vultoso? Sim, se comparado
uma aberração institucional, não o é na da Constituição à regra do Partido. Por
com o da Rússia, terceiro maior orçamen- Dito isto, é preciso deixar claro que o pre-
configuração chinesa. O Partido tem con- esta última, a delimitação de tempo não
to militar do mundo (US$ 70 bilhões), ou sidente Xi Jinping jamais explicitou planos
trole sobre o Estado. existia e consequentemente não haveria
com os gastos de defesa de todos os de- de escancarar as portas da economia chi-
Em que medida o senhor percebe a ascen- por que existir na outra. Não conheço os
mais países abaixo dela. Visto numa ou- nesa. Abertura, sim, porém gradual, sem-
estatutos do PCC, mas suponho que, se
tra perspectiva, porém, o quadro muda. são do presidente Xi como uma resposta pre deixando preservada a capacidade do
assim foi explicado, é porque o descom-
Os EUA ostentam um orçamento militar do alto escalão do Partido Comunista à Estado de exercer estrito controle. O pre-
passo efetivamente existia. Mas a lógica
superior a US$600 bilhões, mais do triplo necessidade de profundas reformas na sidente Xi Jinping não tem qualquer voca-
poderia ter sido outra, ou seja, alinhar a
do orçamento chinês. As despesas de de- economia doméstica chinesa (por exem- ção privatista. É um homem que acredita
regra do Partido e não a do Estado.
fesa da Rússia correspondem a mais de plo, no que se refere à reforma das esta- no poder mobilizador e realizador do Esta-
5% do PIB do país, as dos EUA a mais de tais e a abertura de determinados seto- Se havia flagrante desalinhamento, este do. Daí sua determinação de reformar as
3% e as da China não chegam a 2%. res a investimentos externos)? não parece ter prejudicado em nada estatais e torna-las mais eficientes.
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te dos Estados Unidos. É claro, como está Isto implicará uma postura inteiramen- década ou pouco mais que isso. Deve-se
implícito na pergunta, que a China não te distinta: proativa e propositiva. É um creditar a Xi Jinping, não o despertar do in-
liderou a globalização. Mas convenha- comportamento que já se vinha obser- teresse chinês no Brasil, mas, sim, sua con-
mos que foi a grande história de sucesso. vando em algumas iniciativas chinesas solidação e a ampliação de seu espectro.
Tendo sido uma das principais beneficiá- recentes, tais como as da criação do Ban-
Não sei se a China co Asiático de Investimento em Infraes-
Vive-se hoje uma inflexão nas relações
rias do processo, obviamente deseja sua bilaterais, em que os investimentos
liderará propriamente continuidade, o que pressupõe, entre trutura e a do gigantesco projeto da Nova chineses passaram a ter a centralidade
a globalização, mas a outras condições, um comércio inter- Rota da Seda (OBOR). Mas muito mais antes ocupada pela relação comercial.
nacional aberto e baseado em regras. será necessário para que ela preencha o Se tivermos em conta que os vultosos
necessidade de defendê-la vácuo eventualmente deixado por uma
Mesmo com desequilíbrios comerciais e investimentos que chegam da China são
será quase uma reação de disputas pontuais, havia consenso na co- retração americana. Se essa for sua dispo- todos de companhias estatais, não é difí-
autopreservação.” munidade internacional em torno desses sição estratégica, terá que buscar aliados cil inferir que sua efetivação tem, direta
mesmos quesitos. A chegada de Trump à tanto nas economias avançadas do norte ou indiretamente, o beneplácito de Xi
Casa Branca, porém, apontou em outra quanto nos grandes emergentes do sul. Jinping. Não tenho dúvida de que, manti-
direção, inclusive singularizando a China Não será um processo que ela possa con- das as condições normais de temperatu-
Recentemente a China tem se posiciona- duzir sozinha. Sua preferência seria a de
como alvo prioritário de uma escalada ra e pressão -- inclua-se aí a atratividade
do como um novo ícone da globalização, preservar o status quo, e executar movi-
protecionista. de cada operação em si -- o presidente
sobretudo em um contexto mundial no mentos incrementais dentro do sistema. chinês continuará a favorecer esse fluxo.
qual os Estados Unidos têm priorizado O momento ainda é de perplexidade em A partir do momento em que este parece
uma agenda política mais introspectiva. relação ao rumo que esses sinais desto- Para Xi Jinping, o Brasil é uma entidade
ameaçado, a China se verá na contingên-
Como o senhor percebe o fato de que, pela antes tomarão. Mas me parece claro que, conhecida, num espaço antes nebuloso
cia de tornar-se sua grande defensora.
primeira vez na história, há possibilidade que a América Latina ocupa no mapa-
se os EUA marcharem agressivamente na
de que um país não democrático e liberal Não sei se a China liderará propriamen- -mundi chinês. Ele visitou o Brasil, se não
contramão, a China será levada a mudar
– e ainda em desenvolvimento - se posicio- te a globalização, mas a necessidade de me engano, duas vezes (uma vez com cer-
seu perfil de atuação. Até agora, o país
ne como o líder do mundo globalizado? defendê-la será quase uma reação de teza), antes de se tornar chefe de Estado.
optou por mover-se no cenário econômi-
autopreservação. Um comércio interna- Lembro-me de que, na conversa protoco-
A China mergulhou na globalização, be- co global como uma protagonista “passi-
cional aberto e fluido ainda é vital para a lar que tivemos, quando fui apresentar-
neficiou-se grandemente dela e, nesse va”. Jogando de acordo com as regras, ain-
sustentação do modelo chinês de desen- -lhe minhas credenciais, ele me descreveu
movimento, trouxe consigo extraordiná- da que com alegados desvios pontuais. volvimento. – de maneira que me pareceu genuína -- o
rios benefícios para a economia mundial. Não lhe interessa nenhuma mudança de impacto que lhe causou sua visita à Ama-
O agronegócio brasileiro teria tido outro fundo. O quadro normativo vigente pare- Hoje há um claro horizonte na política do-
zônia e seu deslumbramento com o gigan-
destino sem o vertiginoso crescimento cia garantido, satisfatório e inabalável. méstica chinesa apontando para a perma-
tismo e beleza da floresta. Sinto que há
da China. Diante da possibilidade real de que esse nência ilimitada de Xi Jinping no poder.
algo de especial na relação de Xi Jinping
pressuposto já não seja válido, não resta- Que implicações esse novo cenário pode-
Os números que aparecem em várias com o Brasil. Não sei o que é. Talvez seja
ria trazer para as relações sino-brasileiras
análises indicam que, desde 2011, a con- rá à China, segunda economia do mundo, sua sintonia com nosso grande esporte
nos âmbitos político e econômico?
tribuição chinesa para o crescimento da outra opção senão abraçar a causa da nacional. Xi é fanático por futebol.
economia global tem girado em torno de globalização, já agora num papel de pro- Todos sabemos a dimensão que as rela-
35%, contra algo na faixa de 20% por par- tagonista “ativa”. ções sino-brasileiras ganharam na última
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ARTIGO CONVIDADO
A
reforma da constituição chinesa aprovada este jurídicos na China. O sistema jurídico estava desestru-
ano pela Assembleia Popular Nacional foi o fato turado a ponto de ter sido extinto o Ministério da Jus-
jurídico mais relevante desde que Xi Jinping anun- tiça e a Procuradoria. Com Deng Xiaoping dá-se início a
ciou uma “nova era” para o socialismo com caracterís- um processo de transformação interna no país que irá,
ticas chinesas no 19º Congresso Nacional do Partido pouco a pouco, demandar a juridicização da governança
Comunista da China, em outubro de 2017. Ela é conse- do Estado e aumentar gradualmente o papel do direito
quência de um processo contínuo de aprimoramento da e das carreiras jurídicas na vida do país. Atualmente,
estrutura jurídico-institucional chinesa. Mas a despeito conta-se mais de 600 cursos ou departamentos de di-
desse fato, muitos analistas deram ênfase a apenas um reito nas universidades chinesas. No final de 2011, havia
aspecto: a alteração do artigo 79 da Constituição que 573.223 profissionais do direito na China, incluindo juí-
eliminou a restrição de uma única reeleição para os car- zes, promotores, advogados e notários – a maioria deles
gos de Presidente e Vice-Presidente da China. Sem dú- concentrados em Beijing, Shanghai, Guangdong, Shan-
vida, essa foi uma alteração significativa em um dispo- dong e Jiangsu. O número é insuficiente se considerar-
sitivo constitucional que tinha a virtude de servir para mos o tamanho da população e do território chineses.
combater a crítica fácil de que a China é uma ditadura. Mas o fato é que o sistema de justiça está se profissio-
Mas um olhar menos superficial sobre a reforma consti- nalizando, o Ministério da Justiça e a Procuradoria fo-
tucional nos conduz a outras conclusões. ram restabelecidos e cada vez mais os cidadãos chineses Pode-se dizer que a nova era do
No ano em que se comemora os 40 anos da política de
acionam a Justiça para a defesa de seus direitos. Segun- socialismo chinês coincide com
do um relatório da Universidade Renmin, nos últimos 30 o surgimento da era do direito
reforma e abertura, a China hoje é muito diferente da-
anos o número de juízes na China triplicou para 195 mil
quela herdada por Deng Xiaoping. No período maoísta,
e aumentou em 13 vezes o número de processos anual- na China. Soma-se a isto o fato
a ideia de um governo submetido à lei não encontrava
solo fértil diante das circunstâncias históricas. No final
mente submetidos a cada um dos magistrados. Pode-se inédito de os dois principais líderes
dizer que a nova era do socialismo chinês coincide com chineses – Xi Jinping e Li Keqiang –
da Revolução Cultural praticamente não havia cursos
o surgimento da era do direito na China. Soma-se a isso
o fato inédito de os dois principais líderes chineses – Xi
terem formação jurídica.”
1. Professor e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Escola de
Direito da FGV do Rio de Janeiro e professor de direito internacional da Uni- Jinping e Li Keqiang – terem formação jurídica.
versidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro.
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Visando garantir o crescimento econômico contínuo, a conta a decisão da Sexta Sessão Plenária do 18º Comitê a violação das regras jurídicas no dia-a-dia dos morado-
estratégia de reformas (“Four-Pronged Comprehensive Central do PCCh, em 2016, de endossar Xi como o “líder res de Shanghai e outras grandes cidades da China. O
Strategy”) do governo de Xi Jinping tem como um dos ob- central” do Partido, honraria dada a quatro líderes ante- texto cita o desrespeito aos sinais de “não fumar” como
jetivos “implementar uma estrutura abrangente para pro- riores: Mao Zedong, Deng Xiaoping e Jiang Zemin. Assim, um tipo de violação recorrente ao direito. E faz uma
mover o estado de direito”2. Xi Jinping escolheu o combate a compreensão atual do sistema político chinês deve le- advertência: “a China promulgou leis suficientes nas úl-
à corrupção como a pedra angular deste objetivo. Por oca- var em conta, ao menos, a combinação de três aspectos: timas três décadas (...). No entanto, poucos parecem sa-
sião da Segunda Sessão Plenária do 18o Comitê Central do 1) o sistema de assembleias populares e o modelo de ber quem deve aplicá-las e como. Leis não aplicadas são
Partido Comunista da China (PCCh), dedicado ao tema da democracia consultiva em torno das conferências con- piores do que não ter nenhuma, porque elas transmitem
inspeção disciplinar, Xi declarou: “devemos combater a sultivas políticas do povo chinês; 2) a ascensão do papel o sinal errado de que as pessoas não precisam levá-las a
corrupção com métodos baseados na lei, fortalecer a legis- do direito na governança do país; e 3) a centralização de sério”. Eis, portanto, um diagnóstico que desafia a pro-
lação anticorrupção e aplicar leis e regras estritamente”3. poder em torno do Presidente Xi. Esses três fatores tra- moção da cultura do direito na China.
Não foi só uma manifestação retórica. duzem a convergência entre povo, direito e governo for-
Mas a aprovação das Cláusulas Gerais de Direito Civil
te como uma condição essencial para o alcance da meta
Em 2013, por ocasião da Terceira Sessão Plenária do 18o na 12ª sessão anual da Assembleia Popular Nacional,
centenária de 2050 que consiste em fazer da China um
Comitê Central do PCCh, o governo anunciou a reforma em 2017, e que entrou em vigor em outubro do mesmo
“grande país socialista moderno”. Cada um destes três
ano, pode ser uma resposta a esse estado de coisas. Elas
do sistema judicial como parte importante do conjun- aspectos tem seus desafios.
estabelecem os princípios básicos para a regulação das
to das reformas. As recentes correções de erros de jul-
No que diz respeito ao direito, o desafio está em fazê-lo atividades civis dos mais de 1,3 bilhão de chineses. O
gamento por parte dos tribunais chineses são um sinal
ser respeitado no cotidiano do cidadão chinês e ser reco- objetivo do governo é promulgar o seu primeiro código
inequívoco de que o Judiciário chinês não está apenas
nhecido pelo povo como norma capaz de impor limites civil em 2020. Aquelas Cláusulas Gerais são uma versão
preocupado em respeitar o devido processo legal, mas
à ação governamental, afirmando, assim, o império da atualizada dos Princípios Gerais de Direito Civil de 1986.
também proferir decisões materialmente justas. No
lei. Em relação ao primeiro aspecto, o jornal China Daily, O futuro código civil terá a função de revisar e conden-
ano seguinte, em 2014, no contexto das celebrações dos
já em 2013, publicou um artigo intitulado “Enforcement sar, em um único documento legal, as muitas leis civis
65 anos de fundação da RPC, a Quarta Sessão Plenária
more important than law”4 onde chamava a atenção para que foram aprovadas ao longo das décadas passadas –
do 18o Comitê Central do PCCh estabeleceu que o ob-
tais como a Lei de Propriedade, Lei de Herança e Lei de
jetivo geral do Partido é construir um país fundado no Responsabilidade Civil – visando lidar com as novas cir-
Estado de direito socialista com características chinesas. cunstâncias do acelerado desenvolvimento socioeconô-
Foi a primeira vez, em mais de 90 anos de história do mico chinês, e que davam ensejo a diferentes decisões
Partido, que uma sessão plenária faz do “estado de di- judiciais para casos muito semelhantes.
reito” um tema central. Naquele ano, esse tema ocupou As recentes correções de erros de
um espaço significativo na mídia chinesa, perdendo es- Visto como um passo significativo para a promoção do
julgamento por parte dos tribunais
paço apenas para as notícias relativas à desaceleração
na taxa de crescimento econômico da China. É interes-
chineses são um sinal inequívoco de
2. Em chinês, 法治 (fázhì) que poderia ser traduzido como “sistema legal”. Os
sante notar que o comunicado oficial emitido ao final que o Judiciário chinês não está apenas textos oficiais chineses publicados na versão em inglês utilizam a expressão
da Quarta Sessão Plenária declarou que “para realizar o preocupado em respeitar o devido “rule of law”. A tradução para o português dessa expressão é bastante contro-
versa. Para o presente texto, traduziremos como “estado de direito”.
Estado de direito, o país deve ser governado de acordo processo legal, mas também proferir 3. “We must fight corruption with legally-based methods, strengthen anti-
com a Constituição”. -corruption legislation, and enforce laws and rules strictly”. In: Zhang Liwei.
decisões materialmente justas.” “An Enduring Cause”. In China Africa. Vol. 6. November 2014, p. 19.
Essa evolução dos fatos deve ser analisada tendo em 4. http://bit.ly/12xoZKH
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Podemos mencionar, por exemplo, o estatuto jurídico na governança da China. Assim, aqueles que sustentam
das comissões de supervisão como órgão nacional. Essa que a emenda em questão dá a Xi Jinping a condição de
medida promoverá em grande escala a supervisão dos Presidente “perpétuo” não só faz uma leitura errada da
funcionários públicos – sejam eles membros ou não norma jurídica como também atesta o desconhecimen-
Ao contrário do que muitos analistas do Partido –, e terá como efeito não só a ampliação do to da complexa estrutura de poder na China. Há outros
combate à corrupção, mas também um maior rigor na aspectos do sistema político chinês que irão calibrar a
ocidentais sustentam, Xi Jinping
observância do direito por parte tanto dos funcionários implementação da reforma constitucional no futuro.
pode ser o governante que irá deixar
públicos quanto dos agentes das referidas comissões, As decisões políticas na China são tomadas tendo em
como herança política uma estrutura favorecendo um ambiente de maior transparência na conta uma combinação das circunstâncias do presen-
jurídica muito mais avançada, densa ação estatal e de maior segurança jurídica para o fun- te com os objetivos de longo prazo. Parece-me que o
e complexa, capaz de estabelecer cionário destinatário das normas de fiscalização e do propósito da reforma do artigo 79 da Constituição, ao
mais limites à ação estatal.” cidadão como beneficiário último delas. fortalecer Xi politicamente, garante a continuidade dos
A reforma constitucional outorgou ainda às cidades po- ambiciosos projetos e metas para esta “nova era” e que
deres legislativos para adotar leis e regulações locais, exigem longo prazo para execução, tal como a Iniciativa
estado de direito, as Cláusulas Gerais contêm disposi- ampliando, assim, as instâncias de produção normativa Cinturão e Rota e a referida meta centenária de 2050.
tivos sobre a proteção dos interesses dos nascituros, e criando as condições para que as normas jurídicas pos- Em um mundo de incertezas e lideranças ocidentais
atribuindo-lhes capacidade jurídica para os direitos civis sam atender às necessidades e demandas locais. fragilizadas pela crise econômica, pela corrupção ou ou-
e protegendo-os na sucessão de propriedade e no recebi- tros tipos de conflitos internos, uma China poderosa e
mento de doações; amplia o regime de tutela para incluir A inclusão do “avanço ecológico” como uma nova função estável pode ser uma grande vantagem para os chineses
como elegível o adulto sem capacidade ou com capaci- do Conselho de Estado influenciará os projetos de de- e, curiosamente, para o mundo ao garantir a estabilida-
dade limitada para os atos da vida civil (antes, segundo senvolvimento do país e também o conteúdo do próprio de do sistema internacional nesta primeira metade do
os Princípios Gerais de 1986, previa-se tutores somente sistema normativo chinês. E, por fim, o juramento de século XXI. É essa compreensão de conjunto dos fatos
para menores e pessoas com doenças mentais, sem ne- fidelidade à Constituição a todos os funcionários do Es- sociais, políticos e econômicos que nos dá uma compre-
nhuma capacidade ou com capacidade limitada para a tado que assumirem um cargo público é outro aspecto ensão mais dilatada do sentido da reforma constitucio-
vida civil) e, ainda, concedem às coletividades econômi- da reforma que tem um inegável valor simbólico sobre nal chinesa atual.
cas rurais e outras organizações o estatuto de “pessoas a percepção do estado de direito no sistema de gover-
Ao contrário do que muitos analistas ocidentais sus-
jurídicas especiais”, permitindo-lhes celebrar contratos nança chinês. Vale ressaltar que Xi Jinping foi o primeiro
tentam, Xi Jinping pode ser o governante que irá deixar
e protegendo os direitos e interesses dos seus membros. a dar o exemplo. Ao assumir o cargo de Presidente após
como herança política uma estrutura jurídica muito
ter sido reeleito em março deste ano, foi o primeiro pre-
Todo esse conjunto de fatos corroboram a tese de que a mais avançada, densa e complexa, capaz de estabelecer
sidente na história do país que fez um juramento públi-
nova era do socialismo chinês será, também, uma inédi- mais limites à ação estatal. E se isso acontecer, o gover-
co de fidelidade à Constituição.
ta era do direito na China. E a reforma da Constituição no da China terá provado que o socialismo chinês é com-
chinesa deveria ser vista desde essa perspectiva porque Resumir o sentido da reforma constitucional à emenda patível com o estado de direito e o império da lei.
a promoção do estado de direito, mais do que uma con- ao artigo 79 da Constituição é ignorar o panorama geral
sequência de uma China cada vez mais complexa e de- das mudanças implementadas pelo governo de Xi para
senvolvida, é uma necessidade para o Partido e o gover- o reforço do papel do direito na governança da China.
no. O conjunto das recentes reformas constitucionais Aquela emenda constitucional deve ser interpretada em
dão sustentação para essa afirmação. conjunto com aquela que sublinha a liderança do PCCh
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update COMERCIAL: ANO 2017
Balança Comercial
TABELA 1 - Balança Comercial (US$ MILHÕES): 2017 em comparação com 2016
De acordo com dados divulgados pelo Mi-
nistério da Indústria, Comércio Exterior EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO CORRENTE
e Serviços (MDIC), a corrente comercial 2016 2017 Var. % 2016 2017 Var. % 2016 2017 Var. % 2016 2017 Var. %
entre Brasil e China em 2017 somou US$ 6.965
1º Trimestre 11.784 69% 5.946 6.255 5% 1.019 5.529 442% 12.911 18.040 40%
74,8 bilhões, valor 28% maior do que o ve-
Janeiro 1.391 2.840 104% 2.305 2.291 -1% -914 549 160% 3.696 5.130 39%
rificado em 2016. As exportações brasilei-
Fevereiro 1.822 3.406 87% 1.714 1.863 9% 108 1.542 1323% 3.536 5.269 49%
ras para o país asiático acumularam US$
Março 3.752 5.539 48% 1.927 2.101 9% 1.826 3.438 88% 5.679 7.641 35%
47,5 bilhões, resultando em um total de
2º Trimestre 12.804 15.168 18% 5.267 6.006 14% 7.537 9.161 22% 18.071 21.174 17%
vendas 35% superior em comparação com
Abril 4.302 5.170 20% 1.431 1.797 26% 2.871 3.372 17% 5.733 6.967 22%
o ano anterior. As importações oriundas
da China fecharam o ano com US$ 27,3 Maio 4.427 5.140 16% 1.845 2.076 13% 2.581 3.064 19% 6.272 7.217 15%
bilhões, valor 17% maior do que em 2016. Junho 4.076 4.857 19% 1.991 2.132 7% 2.085 2.725 31% 6.066 6.989 15%
3º Trimestre 8.508 11.182 31% 5.979 7.651 28% 2.529 3.530 40% 14.487 18.833 30%
Na série histórica da corrente comercial
Julho 3.370 3.832 14% 1.786 2.244 26% 1.583 1.588 0,3% 5.156 6.076 18%
bilateral, observa-se que o ano de 2017
Agosto 2.816 3.994 42% 2.145 2.620 22% 671 1.374 105% 4.961 6.614 33%
apresentou considerável recuperação no
Setembro 2.323 3.356 44% 2.048 2.788 36% 275 568 107% 4.370 6.143 41%
contexto dos anos mais recentes. Desde
4º Trimestre 6.856 9.355 36% 6.172 7.409 20% 684 1.946 185% 13.028 16.764 29%
2013, as trocas comerciais entre Brasil e
Outubro 2.431 3.215 32% 2.069 2.692 30% 362 523 44% 4.501 5.906 31%
China passaram por sucessivas quedas,
tendo diminuído ano após ano, com que- Novembro 1.987 2.783 40% 2.019 2.500 24% -32 284 993% 4.006 5.283 32%
da de 30% entre 2013 e 2016. A trajetória Dezembro 2.437 3.357 38% 2.084 2.217 6% 353 1.139 222% 4.521 5.574 23%
da corrente de comércio recente entre os Acumulado 35.134 47.488 35% 23.364 27.321 17% 11.770 20.167 71% 58.498 74.810 28%
dois países pode ser observada no Gráfi-
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) Elaboração: CEBC
co 1 a seguir.
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Em 2017, o saldo comercial das transa-
GRÁFICO 1 - Corrente de comércio Brasil–China: 2006-2017 (US$ bilhões) GRÁFICO 3 - Principais parceiros
ções bilaterais foi favorável ao Brasil em
aproximadamente US$ 20 bilhões, valor comerciais do Brasil (2017)
90,0
83,3
80,0 77,1
que figura como o mais alto da série his-
74,8
tórica do comércio bilateral, conforme
70,0 78
75,5 pode ser observado no Gráfico 2.
60,0
56,9 66,3 24% 20%
50,0 58,5
O comércio Brasil-China no
36,9
40,0 36,6 contexto global
9% 18%
30,0 23,4 No contexto global, a China se manteve
20,0 16,4 como o principal parceiro comercial do
Brasil, tendo respondido por 20% de to- 14%
10,0 15%
das as transações comerciais brasileiras
0 feitas com o exterior. Nesse sentido, o
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
país asiático ficou a frente de outros im-
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) Elaboração: CEBC portantes parceiros, como União Euro- China
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Pauta de Exportação
GRÁFICO 4 - Saldo do Brasil
com os principais parceiros A pauta de exportação brasileira para a China, como esperado, se manteve notavel-
comerciais (2017) mente concentrada em três produtos – minério de ferro, soja e petróleo – que respon-
deram por 80% do valor de todos os produtos embarcados em direção ao país asiático.
Toneladas (milhões)
Mundo 67 US$ Tons 44,3
45,0 40,6 286,4 300
China 20,2 40,0 (bilhões) (milhão) 252,2 309,3
35,0 30,8 41,2 250
Mercosul 10,7
30,0 194,8 35,6 35,1
Ásia 229,4 200
8,9 25,0 209,1 221
(exceto Orinte Médio e China) 203,5
117,4 188 150
União Europeia 2,8 20,0 120,9
15,0 98 21
2 100
EUA
10,0 16,5
Outros 22,3 10,7 50
5,0 8,4
0,0 0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior
e Serviços (MDIC) Elaboração: CEBC Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) Elaboração: CEBC
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No contexto histórico, é notável que o
ano de 2017 experimentou visível expan- GRÁFICO 6 - Posicionamento da China nas exportações brasileiras do complexo soja (2017)
são nas exportações para a China. Con-
forme pode ser observado no Gráfico 5, PAÍS US$ (MILHÕES)
as vendas destinadas ao país asiático so- 15%
maram US$ 47,5 bilhões, o maior valor da 5% Mundo 31.717
China 20.562
série histórica. 4% China
Irã Países Baixos 1.667
Em comparação com o ano anterior, a 3% Países Baixos
França Tailândia 1.274
quantidade de soja embarcada em di- 2% Tailândia
Indonésia Espanha 858
2% 65% Espanha Coreia do Sul 699
reção à China em 2017 teve aumento de 2% Outros
Coreia do Sul Irã 641
40%, sendo que a variação, em termos de 2%
França 583
valor, se deu basicamente no mesmo rit-
Indonésia 525
mo, tendo alcançado aproximadamente
Outros 4.908
US$ 20 bilhões. Nesse contexto, a China
é claramente o centro de gravidade das
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) Elaboração: CEBC
exportações brasileiras de soja e deri-
vados. Segundo dados do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Dentre os principais produtos, os óleos Pauta de Importação
(MAPA), as exportações brasileiras do
brutos de petróleo indicaram as maiores
complexo soja (que inclui grãos, farelo e variações em termos de valor e quanti- As importações de produtos chineses em automotivo, que somou compras de US$
óleo) para o mundo movimentaram cer- dade exportadas. Em 2017, as vendas do 2017 apresentaram crescimento nos prin- 874 milhões, valor 50% superior ao verifi-
ca de US$ 31,7 bilhões, sendo que a China, produto somaram US$ 7,4 bilhões – 88% cipais itens da pauta. Em termos de valor, cado em 2016. A quantidade de itens des-
sozinha, comprou fatia de cerca de 65% a mais do que no ano anterior – tendo os dois principais setores - aparelhos elé- se segmento vendida em 2017 teve salto
desse montante, o equivalente a US$ resultado 43% superior ao verificado no tricos e mecânicos - fecharam o período de 57%. O setor respondeu por 3% de to-
20,6 bilhões. O Gráfico 6 ao lado ilustra volume embarcado em 2016. em ascensão, respectivamente, de 27% das as importações oriundas da China.
esse cenário. e 5%. Ambos, se somados, representa-
Em comparação com 2016, o setor de Em termos de valor, dentre outros produ-
ram 47% de todas as compras brasileiras
As vendas de minério de ferro apresenta- celulose – considerando a área de pas- tos industrializados, cabe notar que hou-
oriundas do país asiático. O crescimento
ram crescimento de apenas 2% em termos tas químicas de madeira (incluindo para ve crescimento expressivo nas compras
de ambos, em termos de quantidade, se
de quantidade embarcada, ainda que o va- dissolução ou não) – apresentou expor- dos setores de ferro fundido, borrachas e
deu de forma mais acentuada, com varia-
lor retornado pelas transações envolven- tações 19% superiores, tendo indicado fertilizantes, que indicaram crescimento
ções de 42% e 14%, respectivamente.
do o material tenha indicado crescimento vendas que chegaram a US$ 2,5 bilhões. de, respectivamente, 48%, 42% e 29%.
de 42%, perfazendo um comércio que mo- O volume exportado, por sua vez, teve Dentre os principais produtos importa-
vimentou cerca de US$ 10 bilhões. crescimento de 7%. dos, cabe destacar a participação do setor
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Como pode ser observado no Gráfico 7,
TABELA 3 - Pauta de IMPORTAÇÃO: 2017 em comparação com 2016
entre 2006 e 2014 houve crescimento
IMPORTAÇÕES 2016 2017 quase ininterrupto das importações bra-
Participação
US$ Qte US$ Qte Var. (%) Var. (%) na pauta em sileiras oriundas do parceiro asiático, o
(milhões) (10 mil) (milhões) (10 mil) US$ Qte (10 mil) 2017 (US$) que refletia um bom momento da eco-
Máquinas e materiais elétricos, e suas partes 6.954 3.432.298 8.859 4.876.528 27% 42% 32% nomia brasileira, que experimentava um
Máquinas e instrumentos mecânicos e partes 4.013 80.044 4.210 91.238 5% 14% 15%
mercado consumidor aquecido e uma
Produtos químicos orgânicos 1.989 - 2.212 - 11% - 8%
indústria propensa a importar insumos
Veículos automóveis, tratores, ciclos e partes 582 5.516 874 8.638 50% 57% 3%
manufaturados. A partir de 2015, no en-
Plásticos e suas obras 730 - 825 - 13% - 3%
tanto, as importações passaram a apre-
Instrumentos de óptica, aparelhos de precisão 575 109.501 692 163.653 20% 49% 3%
sentar acentuado declínio, o que pode
Ferro fundido, ferro e aço 427 - 633 - 48% - 2%
ser entendido como resultado do período
Filamentos sintéticos ou artificiais 531 - 612 - 15% - 2%
mais acentuado da recessão econômica
Adubos (fertilizantes) 404 - 523 - 29% - 2%
recente do Brasil. No entanto, após dois
Obras de ferro fundido, ferro ou aço 437 32 522 30 20% -7% 2%
anos de queda no valor das importações,
Vestuário e seus acessórios, exceto de malha 401 21.072 487 22.208 22% 5% 2%
o ano de 2017 apresentou uma recupera-
Borracha e suas obras 338 7.888 479 13.366 42% 69% 2%
ção pontual.
Outros 5.984 171.432 6.391 220.275 7% 28% 23%
15 17,2 29,6
15,9 20,0
10 12,6
10,0
5 8
0 0,0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) Elaboração: CEBC
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COMÉRCIO BRASIL-CHINA: PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2018
GRÁFICO 1 - Balança comercial: TABELA 1 - Pauta de Exportação: 1º Tri. 2018 em comparação com 1º Tri. 2017
primeiro trimestre de 2018 (US$ BILHÕES)
EXPORTAÇÕES 2017 2018 Participação
US$ US$ Var. (%) Var. (%) na pauta em
25,0 (milhões) Ton (mil) (milhões) Ton (mil) US$ Ton (mil) 2019 (US$)
Soja, mesmo triturada 4.289 10.860 4.035 10.424 -6% -4% 33,9%
9% Óleos brutos de petróleo 2.300 6.918 2.793 6.693 21% -3% 23,5%
20,0 Minérios de ferro e seus concentrados 2.923 50.476 2.489 49.652 -15% -2% 20,9%
19,7 Pastas químicas de madeira, exceto para dissolução 515 1.262 763 1.555 48% 23% 6,4%
18,0 Carne bovina, congelada 219 53 314 70 43% 32% 2,6%
15,0 Carne de aves 187 100 205 110 10% 10% 1,7%
1% Ferro-ligas 151 18 161 17 7% -4% 1,4%
Pasta química de madeira, para dissolução 103 157 105 148 2% -6% 0,9%
10,0 11,8 11,9 Couros e peles curtidos, não preparados 103 43 98 52 -5% 20% 0,8%
24% 4 1 89 4 2089% 345% 0,8%
Bombas, compressores, ventiladores ou exaustores
7,8 Outros 991 1.960 846 1.392 -15% -29% 7,1%
-25%
5,0 6,3
5,5
4,1
TABELA 2 - Pauta de IMPORTAÇÃO: 1º Tri. 2018 em comparação com 1º Tri. 2017
0,0
IMPORTAÇÕES 2017 2018
Exportações Importações Saldo Corrente Var. (%) Participação
Comercial US$ Unidades US$ Unidades Var. (%) Unidades na pauta em
(milhões) (10 mil) (milhões) (10 mil) US$ (10 mil) 2018 (US$)
Máquinas e materiais elétricos, e suas partes 2.083 1.064.846 2.424 1.668.351 16% 57% 31,2%
2017 2018
Máquinas e instrumentos mecânicos e partes 957 22.537 1.173 25.823 23% 15% 15,1%
Produtos químicos orgânicos 388 - 697 - 80% - 9,0%
Veículos automóveis, tratores, ciclos e partes 182 1.876 265 3.044 46% 62% 3,4%
Plásticos e suas obras 190 - 244 - 28% - 3,1%
Vestuário e seus acessórios, exceto de malha 150 4.944 194 6.244 29% 26% 2,5%
Vestuário e seus acessórios, de malha 133 10.175 193 13.715 45% 35% 2,5%
Instrumentos, aparelhos de controle/precisão 161 41.259 191 67.308 18% 63% 2,5%
Filamentos sintéticos ou artificiais 136 - 175 - 29% - 2,2%
Ferro fundido, ferro ou aço 158 - 168 - 6% - 2,2%
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio
Exterior e Serviços (MDIC) Outros 1.717 40.831 2.050 61.872 19% 52% 26,4%
Elaboração: CEBC
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é uma publicação da Secretaria Executiva do Conselho Empresarial Tulio Cariello
Brasil-China, que reúne reflexões acerca dos principais tópicos da José Leandro Borges tulio.cariello@cebc.org.br
Superintendente Executivo do Bradesco
agenda sino-brasileira, por meio de entrevistas, artigos e análises,
cedidas por renomados estudiosos da área, empresários e Analista de Eventos
Marcio Senne de Moraes
membros dos governos brasileiro e chinês com experiência prática Diretor de Relações Externas da Vale Denise Dewing
nas relações bilaterais. denise.dewing@cebc.org.br
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Assistente de Pesquisa
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