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Grande

estratégia
Erik Herejk Ribeiro
O CONCEITO DE GRANDE ESTRATÉGIA recebeu diferentes definições por autores
clássicos e contemporâneos. Inicialmente, pode-se convencionar que a
expressão envolve a conjunção e coordenação de variáveis sociais,
econômicas e políticas com os cálculos de poder militar em determinado país,
na sua relação com o mundo exterior. A geografia, a experiência histórica e a
cultura também são pontos a serem considerados.
Na sua concepção clássica da primeira metade do século XX, a grande
estratégia é a conjunção e coordenação dos recursos nacionais para os
objetivos políticos da guerra. Liddell Hart (1991) define o papel da grande
estratégia como o instrumento maior de política de um Estado. A função desse
nível, considerado superior à estratégia, seria calcular e desenvolver os
recursos humanos e econômicos de uma sociedade para sustentar as Forças
Armadas. Seria cultivar recursos morais para manter o espírito voluntarioso
de uma população. Acima de tudo, a grande estratégia deveria atuar como
reguladora dos diversos instrumentos à disposição de um Estado, por
exemplo: pressões diplomáticas, comerciais, financeiras e éticas. Também
seria necessária a regulação da distribuição de poder entre os principais
setores da economia nacional (indústria e serviços).
Assim, seu objetivo inicial seria mobilizar a sociedade para sustentar e
multiplicar o poder político-militar de um país em tempos de guerra e também
em tempos de paz. Ademais, estava presente a noção básica de que deveria
haver sincronia entre os meios limitados de um país e seus objetivos políticos
essenciais (Brands, 2014, p.2-3). Porter (2013, p.5) apresenta a outra face do
conceito ao afirmar que seu objetivo é moldar o ambiente externo para
proteger as instituições, a integridade territorial e o modo de vida de um país.
Em suma, é um exercício para assegurar a longevidade da soberania, seja pela
mobilização interna, seja pela influência externa.
O planejamento de uma grande estratégia, realizado em alto nível
decisório, deve reunir meios e fins que garantam a sobrevivência e a
prosperidade do país. Sua formulação e implementação é frequentemente
vinculada a grandes estadistas no comando de grandes países, ou impérios, ao
longo da história. Esse conceito, portanto, vai muito além do planejamento de
guerra em si, embora suas considerações devam necessariamente se relacionar
com a preparação para a guerra. Em última instância, o objetivo da grande
estratégia deve ser tornar o recurso à guerra desnecessário ou fornecer as
condições para vencê-la, caso esta seja a alternativa política considerada em
determinado momento (Earle, 1943).
Uma característica marcante da grande estratégia é a atuação além das
contingências e demandas cotidianas. O conceito requer profunda
compreensão do passado e do presente, mas sua utilização é essencial para
atingir objetivos de longo prazo. Durante o processo, não se presume inteira
racionalidade ou consciência dos fatos, ou a infalibilidade do caminho
escolhido. A execução e formulação da grande estratégia requer constante
adaptação a novas realidades e ajuste de objetivos e expectativas. Como a
realidade mundial é de recursos limitados, mesmo as grandes potências não
têm capacidade suficiente para obter todas as vantagens do sistema e enfrentar
todas as ameaças. Portanto, tal exercício de longo prazo naturalmente envolve
a priorização de interesses considerados vitais e ameaças latentes (Brands,
2014, p.4-5).
Nas décadas recentes, devido à própria complexidade da política
internacional, o uso do conceito se tornou mais difuso. A falta de consenso na
literatura explica por que existem diversas interpretações dele. Krishnappa
(2012, p.115-9) elenca uma série de utilizações de grande estratégia com
diferentes significados: um plano de longo prazo das elites governamentais,
uma visão dos líderes nacionais sobre o papel do país no sistema
internacional, um processo de formulação de política externa, a adoção de um
paradigma teórico, uma cultura estratégica, a harmonização de meios e fins,
ou um padrão de comportamento histórico.
Brands (2014, p.3-4) elabora a sua percepção de grande estratégia como
uma arquitetura intelectual, um conjunto coerente e propositivo de ideias que
guia as ações de um país de modo a cumprir seus objetivos na interação com
o mundo. Quando formulada adequadamente, a grande estratégia se torna um
arcabouço conceitual, uma lógica de atuação, representando um complexo
esquema de interesses, ameaças, recursos e políticas. O autor também
esclarece que a grande estratégia não pode ser confundida com política
externa, que é apenas um dos instrumentos empregados a serviço dos
interesses do Estado, mas não seu propósito central. Além disso, ele aponta
que não é necessário (nem desejável) haver a formalização da grande
estratégia por parte de um Estado. O critério para sua formulação não é um
documento detalhando todas as suas nuances, interesses e pontos de partida e
chegada, mas sim a existência de um conjunto coerente de pensamento e ação
em favor de objetivos de longo prazo.
Williamson Murray (2011) chama a atenção para alguns fatores
essenciais à formulação de uma grande estratégia. A posição geográfica de
um país é o fator mais básico a ser considerado, visto que sua relação com a
territorialidade não é passível de mudanças profundas, a não ser em caso de
conquista de novos territórios. O ambiente estratégico e as imediações
regionais estão inclusos nesse cálculo. Em segundo lugar, importa a forma de
governo, seu processo decisório e sua relação com a própria sociedade.
Murray também menciona a importância das lideranças (os estadistas) e das
alianças militares feitas por um país.
O conceito de grande estratégia é criticado por aqueles que enxergam a
predominância de idiossincrasias e ações instintivas no exercício do poder
estatal, em vez de planejamento cuidadoso. Segundo Hal Brands (2014, p.14-
5), o ex-presidente estadunidense Bill Clinton é um exemplo, pois acreditava
que a “coerência estratégica” de líderes como Roosevelt e Truman era algo
imposto pela literatura ex post e não uma formulação dos estadistas.
Em suas conclusões, Brands (2014, p.194-206) elenca uma série de
argumentos para defender e avançar sobre o papel da grande estratégia para os
Estados Unidos: 1) não há uma boa alternativa que substitua a grande
estratégia; 2) é preciso estabelecer princípios básicos baseados na escolha de
interesses vitais; 3) deve-se investir e apostar em planejamento; 4) grande
estratégia é um processo, não um diagrama ou doutrina; 5) deve haver
equilíbrio e sinergia entre a implementação diária e o objetivo final; 6) a
democracia deve ser abraçada, de modo que os participantes-chave da política
interna sejam incluídos no processo e não se tornem obstáculos a serem
ultrapassados; 7) a burocracia não é inimiga da política, a centralização
excessiva provoca falta de coesão e obstrução por aqueles deixados de fora do
processo; 8) grande estratégia é um exercício contínuo em olhar a visão para o
futuro e as lições do passado; 9) o poder é multidimensional e finito; 10) as
expectativas devem ser sempre realistas. Em suma, existe uma tensão entre o
planejável e o imprevisível, mas é papel do próprio processo mediar as duas
instâncias e reduzir incertezas. Do contrário, haverá maior risco de falhas ou
descontinuidades.
Krishnappa (2012, p.119-20) procura avançar na mesma direção,
trazendo ainda os contrapontos negativos. Ele observa que a grande estratégia
é necessária para dar direção aos esforços do país, embora escolhas
equivocadas de percurso representem um risco real. Ao mesmo tempo que o
processo pode coordenar esforços nacionais, também pode produzir
prematuramente uma diminuição da pluralidade de alternativas e visões.
Enquanto incentiva a consistência, continua sendo apenas uma representação
da realidade complexa. Por fim, a grande estratégia pode trazer uma definição
de identidade e um consenso nacional, mas também há a possibilidade de
fragmentação devido ao risco de simplificação do pensamento interno.
No Brasil, as contribuições ao conceito de grande estratégia têm sido
trabalhadas principalmente pelo diplomata João Paulo Soares Alsina Júnior e
pelo ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa Celso Luiz Nunes
Amorim.
Em sua tese, Alsina Jr. (2014) percorre o mesmo caminho que parte dos
autores supracitados, empenhando-se em explicar por que a grande estratégia
é preferível a um vácuo de direcionamento político. O autor, embora
reconheça a dificuldade em gerir um conceito de tamanha complexidade e
vastidão de dimensões, não sucumbe à ideia de que ele seja inviável ou
inexequível a priori. Alsina Jr. (2014, p.44-55) avança sua discussão teórica
em quatro questões: 1) O foco dos “grande-estrategistas” na dimensão de
segurança é justificado? 2) Grande estratégia é um privilégio das grandes
potências apenas? 3) Grande estratégia é racionalização ex post por
intelectuais ou decisão consciente das lideranças políticas? 4) Lideranças
políticas ainda são capazes de influenciar seu ambiente estratégico?
Alsina Jr. propõe quebrar com os dogmas anglo-saxões de que a grande
estratégia deve colocar apenas a dimensão militar no centro da análise. Ele
propõe como exemplo a agenda da União Europeia, conhecida como Política
Externa e de Segurança Comum, e de diversos países periféricos, pois ambos
apresentam o desenvolvimento também como uma questão estratégica central.
Além disso, a nenhum país é vedada a oportunidade de planejar em longo
prazo as questões nacionais. A diferença entre a grande estratégia de grandes
potências para a de potências médias ou menores é a quantidade e extensão
dos instrumentos disponíveis e a influência relativa do país no sistema
internacional. Obviamente, as nações de maior estatura terão maior autonomia
estratégica para decidir seus rumos, em contraste com as demais.
Para responder às questões sobre o papel das elites e lideranças políticas,
Alsina Jr. procura uma via intermediária: a grande estratégia é resultado de
ações deliberadas dos agentes, mas que dificilmente são compatíveis. Sendo
assim, o processo é sujeito a flutuações devido à alternância de poder, a
visões distintas e a choques externos. O papel individual das lideranças é
fundamental para a tomada de decisão e exerce papel importante, podendo
influenciar positiva ou negativamente.
Em consonância com a tese histórica e teórica de Alsina Jr., Celso
Amorim avança na direção da proposição contemporânea de bases para o
estabelecimento de uma grande estratégia do Brasil. Amorim afirma serem
complementares: o interesse nacional brasileiro e a sua contribuição para a
paz mundial. Ou seja, os objetivos nacionais estariam diretamente vinculados
à estatura e ao padrão de atuação internacional desejado pelo Brasil. Para o
autor, não há como o Brasil superar seus próprios problemas sociais e
econômicos sem eliminar obstáculos externos à sua ascensão. Isto envolve
manter a estabilidade do sistema internacional, evitando guerras centrais e
reforçando o multilateralismo por meio de instituições como a ONU (Amorim
et al., 2016, p.305-9).
A segunda proposição de Celso Amorim é que a política externa e a
política de defesa do Brasil devem estar sempre alinhadas na promoção do
interesse nacional. O autor confere bastante importância à dissuasão, que
define como a capacidade em desencorajar agressões à soberania brasileira
por terceiros. Com uma capacidade dissuasória crível, o Brasil retomaria o
legado do barão do Rio Branco, que valorizava o equilíbrio de poder e a
dissuasão como elementos cruciais para a inserção internacional brasileira. O
sistema ONU, com todas as suas imperfeições, foi capaz de evitar guerras
centrais até o momento, mas o esquema de segurança coletiva é
frequentemente burlado, especialmente pelos países mais poderosos. Diante
de um novo quadro de crise internacional e de instabilidade, o Brasil deve
reforçar sua defesa para promover a transição à multipolaridade e estar
preparado para eventuais ameaças.
Da mesma forma, a diplomacia de Rio Branco, calcada também na força
militar, foi capaz de resolver todos os contenciosos de fronteira e possibilitar
a construção progressiva da paz na América do Sul, semeando as bases para a
construção contemporânea do Mercosul e da Unasul. Por fim, Amorim
confere grande importância ao Atlântico Sul, envolvendo o continente
africano no entorno estratégico brasileiro. O objetivo do Brasil deveria ser,
em longo prazo, produzir um “cinturão de boa vontade”, assumindo as
responsabilidades de um país com a sua estatura para evitar a abertura para a
eventual entrada de forças hostis num ambiente próspero e pacífico (Amorim
et al., 2016, p.308-12).
A proposição do ex-ministro ecoa as preocupações levantadas pelo
próprio Alsina Jr. (2009), que escreveu uma obra criticando a falta de
coordenação entre a política externa e de defesa, chamando os dois setores de
“universos paralelos”. Amorim e Alsina Jr. concordam ao afirmarem que
diplomacia e defesa são duas faces de uma mesma moeda, que a barganha
diplomática deve ser lastreada por poder militar dissuasório. Ou seja, o poder
brando (soft power) é indissociável da existência habilitadora de poder duro
(hard power). Desse modo, essa abordagem pode ser considerada a principal
contribuição propositiva dos dois autores para o avanço de uma grande
estratégia do Brasil contemporâneo.

Referências bibliográficas
ALSINA JR., J. P. Política externa e poder militar no Brasil: universos paralelos. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2009.
______. A esfinge e o tridente: Rio-Branco, grande estratégia e o Programa de Reaparelhamento
Naval (1904-1910) na Primeira República. Brasília, 2014. 432f. Tese – Universidade de Brasília.
Disponível em:
http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/17266/3/2014_JoaoPauloSoaresAlsinaJunior.pdf. Acesso
em: 28 jul. 2016.
AMORIM, C. L. N. et al. (Eds.). A grande estratégia do Brasil: discursos, artigos e entrevistas da
gestão no Ministério da Defesa (2011-2014). Brasília: Funag; Editora Unesp, 2016.
BRANDS, H. What Good Is Grand Strategy? Power and Purpose in American Statecraft from Harry
S. Truman to George W. Bush. Ithaca: Cornell University Press, 2014.
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KRISHNAPPA, V. The Problem of Grand Strategy. Journal of Defence Studies, v.6, n.3, p.113-28,
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MURRAY, W. Thoughts on Grand Strategy. In: ______; SINNREICH, R.; LACEY, J. The Shaping of
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PORTER, P. Sharing Power? Prospects for a US Concert-Balance Strategy. Carlisle: US War College
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