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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA - UNIR

NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - NUCSA


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - DCJ
CURSO DE DIREITO

FABIO COSTA ANTUNES

O USO DA INTERNET NAS REDES SOCIAIS


COMO MECANISMO DE DANOS

PORTO VELHO - RONDÔNIA


2019
FABIO COSTA ANTUNES

O USO DA INTERNET NAS REDES SOCIAIS


COMO MECANISMO DE DANOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Direito da
Fundação Universidade Federal de
Rondônia - UNIR, como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em
Direito.
Orientadora: Profª. Drª. Aparecida Luzia
Alzira Zuin

PORTO VELHO - RONDÔNIA


2019
AUTORIZO, PARA FINS DIDÁTICOS E PROTOCOLARES, A EXPOSIÇÃO DESTA
OBRA JUNTO AO ACERVO DA BIBLIOTECA DA
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA - UNIR,
BEM COMO A PUBLICAÇÃO DO RESPECTIVO RESUMO.
A DEUS.

Antepassados, papai, mamãe e minha


família, razão de minha existência.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus-Pai por ter me dado a força vital para a realização de mais
essa empreitada. E que a mesma sirva para propagar um universo de amor mútuo e
cooperação.
À minha orientadora pela paciência e grandes ensinamentos. Que eu possa
seguir os seus passos na ciência, estudos e pesquisas, acerca da presença do Direito
na sociedade. Sua determinação, dedicação e amor à licenciatura me motiva a galgar
patamares mais altos na senda do conhecimento.
Aos meus antepassados, papai e mamãe, pela proteção, apoio e amor, com
que me trouxeram a esse mundo e pela criação no caminho da Verdade.
Aos meus filhos, neta Catarina e neto que está por nascer, pelo apoio
incondicional e amor. Vocês me motivam a conquistar mais e mais, dando-me o
impulso incansável de buscar a prosperidade plena em Deus.
Aos meus irmãos, sobrinhos, cunhado e demais parentes, onde os tenho em
minha vida, com muito orgulho.
À minha namorada Claudete Dias Soares, que esteve ao meu lado nos
momentos difíceis, alegrias e sucessos, auxiliando-me, motivando e conduzindo-me
na ponte para a liberdade.
Aos meus amigos, sobretudo aos que estiveram comigo nas fileiras do
conhecimento da Universidade. Foram momentos de alegrias, dedicação, dores, mas
também de muita manifestação de amor mútuo e cooperação. Não estaria onde estou,
se não fosse o apoio incansável de todos.
Aos meus mestres, que mostraram o que jamais poderia ter acesso, se não
fosse por eles. Pela transferência de conhecimentos, onde entrei como neófito, e saí
como aprendiz. Sempre em busca da pedra filosofal da vida.
Por fim, a todos que diretamente ou indiretamente torceram por minhas vitórias.
Deus lhes recompensará por tamanho apreço!
LISTA DE SIGLAS

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade


ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
ART Artigo
ARTS Artigos
ANEL Agência Nacional dos Editores de Livros
BRICs Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
CC Código Civil
CIA Central Intelligence Agency
CF Constituição Federal
CJF Conselho de Justiça Federal
CPMI Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
DEM Democratas
DF Distrito Federal
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
IA Inteligência Artificial
IP Internet Protocol
INC Inciso
INCS Incisos
IRPF Imposto de Renda Pessoa Física
LAI Lei de Acesso à Informação
LGPD Lei Geral de Proteção de Dados
MIN Ministro
Nº Número
NSA National Security Agency
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PSOL Partido Socialismo e Liberdade
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
UIT União Internacional de Telecomunicação
Wi-Fi Internet sem fio
WWW Wide World Web
“Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina.”
Cora Coralina (p. 159, 1983).
RESUMO

As Redes Sociais, a partir das plataformas na internet, se apresentam como as


grandes possibilidades de comunicação. A fim de conferir a abrangência das redes e
como elas podem transformar a realidade da sociedade digital, essa pesquisa,
objetivou discutir e apontar o direito à Liberdade de expressão na internet; quais os
modos; como as mensagens se mostram e são compartilhadas nas redes sociais e;
como esses modos e seus usos, no modelo de sociedade democráticas, podem gerar
danos a outrem. A partir disso, demonstra os conflitos hierárquicos legais, como
lacunas e zonas cinzentas do Direito. Significa com isso abordar também como essa
redes sociais influenciam, pressupostamente, na produção jurisprudencial, gerando
contrariedades deliberativas de juízos. Apontou às necessidades de debates acerca
da temática, pelas academias e entidades, pelo viés interdisciplinar dos estudos. Para
tal, o método utilizado de coleta de dados foi a pesquisa bibliográfica e alguns
exemplos práticos de uso. O estudo identificado no referencial teórico, levantado em
torno do impasse entre proteger o direito de uso da liberdade de pensamento e
expressão, pela sociedade nas redes sociais e, controlar a sua usualidade - para
reparar possíveis danos gerados -, sem censurar, tolhendo o cidadão a se estabelecer
em um Estado Democrático de Direito. Fundamentado na verificação dos dados
apreciados, o conceito de Liberdade de Expressão na perspectiva de ciências
humanas e sociais, corroborou para demonstrar o uso desse direito, através dos
meios tecnológicos disponíveis. Também, como se personifica o cidadão, quando
está avidamente usando desses recursos e, sua influência ora global, ora no local
onde vive. Contudo, identificou nos estudos algumas limitações e desafios de
responsabilização aos agressores, sejam humanos ou por tecnologia autônoma, até
mesmo pela dificuldade de identificação dos mesmos ou pelo volume de agressores.
Em conclusão, segundo o estudo descrito, demonstrou-se a premente condição sine
qua non de adequação do cidadão ao tempo e espaço contemporâneo tecnológico,
na Dromocracia cibercultural, com a intenção que se mantenha estabelecido e
protegidos os direitos fundamentais, como a conscientização sociocultural do viver e
se manifestar com bom senso no Estado Democrático de Direito.

Palavras-chave: Redes Sociais. Internet. Liberdade de Expressão. Direito.


ABSTRACT

The Social Networks, from their platforms on the Internet, present themselves
as the greatest communication vehicles, from the beginning of humanity, in a way that
breaks barriers of language, social and economic position, as well as borders. This
research aimed to discuss and point out the right to freedom of expression on the
Internet, which is shown through Social Networks, where its use, even if democratic,
can generate civil damages. From this, it demonstrates the hierarchical legal conflicts;
as gaps and; gray areas of law. This has been directly influencing the jurisprudential
production, generating deliberative judgments. He pointed to the needs of debates on
the subject, by academies and entities, by interdisciplinary sciences. For this, the
method used for data collection was the bibliographic research. The study identified in
the theoretical framework, raised around the impasse between, protect the right to use
freedom of thought and expression, by society in social networks and; to control its
usuality - to repair possible damages generated - without censorship, preventing the
citizen to settle in a Democratic State of Right. Based on the verification of the data
analyzed, the concept of Freedom of Expression from the perspective of the human
and social sciences corroborated the use of this right, through the available
technological means. Also, how does the citizen personify himself, when he is eagerly
using these resources, and his influence is now global, now where he lives. However,
the limitations and challenges of accountability to perpetrators, whether humans or
autonomous technology, are even difficult to identify, or the volume of aggressors. In
conclusion, according to the study described, it was demonstrated the pressing sine
qua non condition of the citizen's adaptation to the time and contemporary
technological space, in the cyber-cultural Dromocracy, with the intention to remain
established and protected fundamental rights, such as socio-cultural awareness of the
live and demonstrate with good judgment in the Democratic State of Law.

Keywords: Social networks. Internet. Freedom of expression. Law.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

2 A LIBERDADE COMO CONDIÇÃO HUMANA ...................................................... 15

2.1 Liberdade de informação ..................................................................................... 21

2.2 Liberdade de Comunicação................................................................................. 24

2.3 Liberdade de expressão ...................................................................................... 26

3 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO SEGUNDO O DIREITO .................................... 29

3.1 A liberdade de expressão no artigo 5º da Constituição Federal, frente às lei


infraconstitucionais e o direito comparado ................................................................ 37

4 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA DROMOCRACIA CIBERCULTURAL ........ 45

4.1 O uso das novas tecnologias como meio de expressão ..................................... 47

4.2 As redes sociais como mecanismos de danos .................................................... 51

4.3 Direitos de proteção às vítimas de danos cibernéticos ....................................... 57

4.4 Liberdade de expressão não é liberdade para a agressão ................................. 66

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 74


12

INTRODUÇÃO

Conhecida como “Wide World Web” (WWW), popularmente chamada de


Internet, sendo a tecnologia disponível que por pulsos eletromagnéticos, liga um
sistema computadorizado a outro, mesmo que estes usem radiofrequência; por meio
móvel e outras formas de transferência de dados. Dentro dessa, inúmeras tecnologias
e equipamentos potencializam o seu uso, de forma que é possível usá-la em nosso
entorno, de maneiras e formas mais variadas possíveis. Como na Medicina, Ciências,
Economia e até na Religião.
No presente trabalho, foram abordadas as Redes sociais – a evolução dos
sítios de internet -, plataformas que tem por objetivo promover a interação e integração
sociocultural. Sendo um veículo de comunicação, as redes sociais se transformaram
em um poderoso meio de uso como comunicação e manifestação das liberdades de
pensamento, expressão dentre outras. Ou seja, uma forma de usufruir de um Direito
Fundamental Constitucional. Com a sua popularização, transformou-se em um palco
de exposição de pensamentos e opiniões, isso, vem gerando além da interação e
integração social, como também danos civis de todo grau, onde consecutivamente,
por vezes, irreparáveis, já que as indenizações e outras deliberações judiciais, nem
sempre, contemplam a satisfação do agredido.
Por conseguinte, o Direito, em sua plenitude, está buscando se atualizar, se
adaptando à aplicabilidade legal e às deliberações interpretativas, impulsionado pela
velocidade com que a tecnologia se apresenta e que, a sociedade absorve esta
evolução e a utiliza com todos os recursos disponíveis, quase que instantaneamente
aos seus lançamentos. Neste intento, ímpeto em fomentar uma discussão, a pesquisa
aponta os conflitos interpretativos e práticos; divergentes, precipuamente à
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º - cláusula protetora dos Direitos
Fundamentais -, o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014) e o Código Civil Brasileiro
(Lei 10.406/2002), como outras regras infraconstitucionais.
Nada obstante há a dificuldade de equiparação entre o dano gerado e a
reparação; porquanto uma série de apontamentos levantados como o local de
processamento e armazenamento dos dados das plataformas, devido algumas serem
subdivididas multinacionalmente; a potencial propagação de ofensas e ataques à
honra; à dificuldade de identificação de alguns detratores, onde há as firulas
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tecnológicas; os obstáculos da responsabilização, quanto ao volume de detratores,


responsabilização de tecnologias autônomas e; a cessação do dano.
Por conseguinte, a pesquisa objetivou evocar dados e informações que
abrangessem a resolução à problemática levantada: Como os danos civis gerados a
outrem, por meio do uso das redes sociais e da veiculação, compartilhamento,
comentários e exposição de percepção, podem ser combatidos, frente ao avanço
tecnológico na sociedade cibercultural?
Em relação aos objetivos, foi empregada a metodologia, pesquisa bibliográfica,
exploratória e documental. Visto que o intuito em apontar as incongruências nas
legislações vigentes e, deficiências na legislação específica, para que alcance a
satisfação social-democrática, promovendo assim um debate aos efeitos de um
controle jurídico ou, a ignorar a manifestação da expressão. Além dos obstáculos
tecnológicos, que produzem uma barreira à boa execução do Direito; a pesquisa
bibliográfica se baseou em livros, periódicos, sítios oficiais de entidades e de notícias,
como de outras pesquisas científicas.
A abordagem foi facultada em pesquisa qualitativa, onde analisou-se leis
nacionais, de outros países, Tratados internacionais e estudos teóricos
fundamentados em doutrinas interdisciplinares, com foco central no Direito. O método
aqui descrito é monográfico, devido à pesquisa específica.
Entretanto, o trabalho em tela, está estruturado em três capítulos descritos.
Sendo o primeiro com cerne demonstrativo em abordar o conceito histórico, a
intrinsidade na raça humana e manifestação, sobretudo o uso - tendo como veículos
de comunicação as redes sociais -, da Liberdade de Expressão. Também foi abordado
outras liberdades que se encerram nesta, principalmente na aplicabilidade do Direito.
O segundo, se aprofunda na pesquisa de como a Liberdade de Expressão se
insere segundo o Direito. Em quais legislações está concentrada, as correntes
interpretativas e onde e como na aplicação legal, ratificando assim conceitos
diferentes, de modo a produzir jurisprudências adversas, por julgados verossímeis.
Já no último, o Direito fundamental invocado é levado ao aprofundamento de
sua real essência, que se concentra latente à humanidade. De forma que
apontamentos contundentes se estabeleçam à sua exibição, pois são potencializados
por meio da comunicação em massa, através das plataformas virtuais das Redes
sociais. Com esse enfoque, buscou-se levantar o discurso em debater as possíveis
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formas de exprimir a Liberdade de Expressão, pelos usuários de internet. De todo


modo, que seja garantido seu direito de se expressar e opinar, com escopo em
interagir e integrar, e não, ofender, gerando danos a outrem.
Essa pesquisa se justifica por meio da relevância social, em que o advento das
Redes Sociais e os avanços da tecnologia, que intensificam os danos, movendo-os a
tomar proporções sem precedentes. Contudo, de um lado, temos expressões em meio
às notícias falsas (Fake News), ainda, a exposição de opiniões pessoais, apoiadas
por milhares ou milhões de pessoas, que comentam, reforçando assim o
posicionamento apresentado; curtem, confirmando a mensagem propagada e;
compartilham, incentivando um alcance incontrolável, devido à dimensão que a rede
global de computadores proporciona, formando assim uma indústria de danos civis e
até materiais.
Dessa forma, a questão em análise, afeta grande parte dos países de todos os
continentes, tema este que é inerente ao ser humano, ou seja, expressar os vossos
sentimentos e percepções sobre as questões da sociedade, agora na
contemporaneidade, por meio das Redes sociais.
Exorta também que os excessos precisam ser regulados, porém, sem que firam
os Princípios Fundamentais Constitucionais – controlando ou censurando -, sendo
respeitados os direitos de outrem e, cobrados os deveres de quem se expressa de
maneira agressiva, desrespeitosa. É também primordial que sejam promovidas
legislações, a partir de um aconselhamento técnico tecnológico e não somente no
olhar das Ciências sociais. Contudo, programas educacionais são a outra forma de
promoção de uma consciência sociocultural que leve a harmonia e o bom convívio
entre pares.
O importante de tal tema é justamente devido aos altos índices de abusos que
vem acontecendo em todo o mundo, máxime no Brasil. Abusos esses que vão desde
as esferas eleitorais, cíveis e até penais; a exemplo, o caso central em estudo, Bruxa
de Guarujá, que chegou ao ápice dos efeitos, culminando na morte da vítima, devido
ao uso indevido de imagem, boatos e “fake news” (por parte dos agressores), da
página Guarujá Alerta e até da imprensa, em especial o jornal virtual Folha.com.
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2 A LIBERDADE COMO CONDIÇÃO HUMANA

A Liberdade é uma palavra carregada de sinônimos, sentimentos e motivações,


desde o início de nossa civilização. Seja pela visão do evolucionismo ou pela crença
ao criacionismo, significando aos seres humanos um significado quase divinal. Se
ampliarmos à Fauna e Flora veremos que todos os seres animados, de uma forma ou
de outra, desejam ter seu direito de liberdade, em gozo pleno e absoluto.
A etimologia de Liberdade, traz em seu fundamento primeiro, o direito do ser
de controle sobre si mesmo; "libertus", aquele que está livre. Na bandeira do estado
de Minas Gerais tem em si a frase "Libertas Quae Sera Tamen", com o significado,
Liberdade Ainda Que Tardia; escrita por Vergilius, poeta romântico grego (70 a.C.).
Para os inconfidentes mineiros, esta frase é a que mais caracterizava a essência e
propósito do Movimento Inconfidente.
Marilena Chauí (2002, p. 203) traz em seu Glossário de termos gregos, que no
velho mundo assim descreviam, “(...) cidadão era aquele que tinha o direito e a
competência para emitir opiniões sobre todos os assuntos da cidade, de ouvir todas
as opiniões diferentes e de discutir todas elas para poder decidir e votar”.
Esta base filosófica, mesmo estando disponível a um seleto grupo da “Polis”,
nos entrega uma visão de poder individual de cada um de se viver, seja de que
maneira for, sem que haja impedimentos, mesmo que viva em sociedade, mas, que
não tolha o mesmo direito de outrem. Isto posto, Sócrates (370 a.C.) cunhou no pátio
do templo de Apollo na cidade de Delfos, segundo relata Platão (348 a.C.), "Conhece-
te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses". Podemos entender que o grande
filósofo quis dizer em sua breve frase, que ao conhecermos a nós próprios,
compreendemos o todo à nossa volta e, como conviver com os demais seres vivos. O
neófito de Platão, Aristóteles (2005) explanou que, quem tem liberdade, lhe é inerente
o poder de agir ou não, ou seja, cabe a si, o próprio desejo e direito de agir segundo
o seu livre arbítrio. Tal profundidade conceitual objetiva, podemos interpretar como
aquele que denota em si o poder intrínseco de pensar, sentir e agir, como também
controlá-los a seu bel prazer (ARISTÓTELES, 2005, p. 86).
Neste contexto percebe-se que a célula “mater” da Liberdade é o domínio
próprio, ou seja, o livre arbítrio. Para Kant o livre arbítrio não está relacionado com as
Leis; desta feita, não sendo inerente ao dever de fazer e nem o direito de ter, sendo
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assim a liberdade como a autonomia da vontade; “o princípio da autonomia é o único


princípio moral” (KANT, 1974, p. 238).

A vontade é uma espécie de causalidade dos seres vivos, enquanto


racionais, a liberdade seria a propriedade desta causalidade, pela qual ela
pode ser eficiente, independentemente de coisas estranhas que a
determinem; assim como necessidade natural é a propriedade da
causalidade de todos os seres irracionais de serem determinados à atividade
pela influência de coisas estranhas (KANT, 1974, p. 243).

Conforme o filósofo René Descartes (1596-1650) ao compreender as


alternativas disponíveis, as melhores escolhas são feitas por quem goza de total
liberdade. Assim afirma Descartes:

A liberdade consiste unicamente em que, ao afirmar ou negar, realizar ou


enviar o que o entendimento nos prescreve, agimos de modo a sentir que,
em nenhum momento, qualquer outra força exterior nos constrange (apud
JAPIASSÚ e MARCONDES ,1991, p.163).

No lema usado pelos revolucionários franceses, “Liberté, Egalité, Fraternité”


(Liberdade, Igualdade, Fraternidade) no século XVIII, emanado das vozes das ruas,
demonstravam os desejos de um povo, que então, na Era das Luzes, oprimido e, que
sofria pelas ações monárquicas absolutistas, traz a bandeira da Liberdade como
mensagem de basta; que a partir desse movimento, nós (o povo) tomamos o poder e
o controle e, estamos livres da tirania elitizada. À época, o Iluminismo, desde o século
XVII promovia a ideia de liberdade, a partir de um afastamento das ideias e imposições
teocêntricas (religiosas), somadas ao poder absoluto dos monarcas, que dominavam
todas as instituições que compunham o reino.

[...] o poder soberano, por mais absoluto, por mais sagrado, por mais
inviolável que ele é não ultrapassa e não pode ultrapassar os limites das
convenções gerais. Todo homem pode dispor plenamente daquilo que lhe foi
deixado pelas convenções de seus bens e de sua liberdade (ROUSSEAU,
1964, p. 173).

Destarte, a Liberdade na vida dos seres pode ser considerada como um bem,
intransferível, personalíssima e imóvel, como também sendo capaz de controle por
outrem. No ponto de vista de Rousseau, em especial, o ser humano, é um ser livre,
potente a fazer as próprias escolhas, coisa que os animais e demais seres animados,
agem por instinto. Na flora por exemplo, encerra-se em uma semente, o poder de
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transformação, onde em momento e condições oportunas, germina e, seguindo a


programação intracelular “mater”, quebra-se o invólucro, busca perfurar a terra até à
luz solar, mesmo que seja necessário ultrapassar e transpor obstáculos. Assim diz
Rousseau (sic 1973, p. 249):

Não é, pois, tanto o entendimento quanto a qualidade de agente livre


possuída pelo homem que constitui, entre os animais, a distinção específica
daquele. A natureza manda em todos os animais, e a besta obedece. O
homem sofre a mesma influência, mas considera-se livre para concordar ou
resistir, e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostra a
espiritualidade de sua alma, pois a física de certo modo explica o mecanismo
dos sentidos e a formação das idéias, mas no poder de querer, ou antes, de
escolher e no sentimento desse poder só se encontram atos puramente
espirituais que de modo algum serão explicados pelas leis da mecânica.

O Iluminismo com sua visão progressista, trouxe uma visão de liberdade muito
mais pessoal e intimista, vista assim como um princípio evolutivo, que fomentou não
só a Filosofia, mas sim toda uma gama de ciências humanas, que produziram uma
diversidade de interpretações, como também suas ramificações. Contudo, Ernest
Cassirer, filósofo alemão, exprimia a ideia que o século XVIII era repleto do conceito
de imutabilidade racional e unitária. Nesse entendimento Cassirer (1992, p. 33) diz:

A razão desliga o espírito de todos os fatos simples, de todos os dados


simples, de todas as crenças baseadas no testemunho da revelação, da
tradição, da autoridade; só descansa depois que desmontou peça por peça,
até seus últimos motivos, a crença e a “verdade pré-fabricada”. Mas, após
esse trabalho dissolvente, impõe-se de novo uma tarefa construtiva.

Para Vaz (1992), a liberdade “(...) faculdade de um Eu que encontra-se


originalmente em relação de virtual oposição com seu mundo e que se considera livre
enquanto indiferente (libertas indifferentiae) ao conteúdo real dos objetos oferecidos
à sua escolha”. De forma clara, a liberdade é um sentimento motivacional, carregado
de interesses próprios, capaz de manifestar-se das mais variadas formas e em
momentos e cenários julgados como necessários. Não obstante, todo esse poder,
quase que egocêntrico, em um mundo contemporâneo, estabelece-se em seu
universo vivente, mesmo que involuntário, a elevação de pensamento e sentimento,
em busca de algo, considerado abstrato e muitas vezes intangível, ou até palpável,
sendo um bem adquirido; mas ao alcançá-lo, inclina-se a se decepcionar e, voltar à
busca incansável da mesma.
18

Em uma visão mais ampla, esta Liberdade, não poderia ser reduzida somente
a uma simples questão de escolhas abstratas ou naturais, mas também, além do livre
arbítrio. Portanto a Psicologia, dissertada na visão de Sindekum traz (2002, p. 120):

Não se trata apenas de escolher entre duas coisas, como posso escolher
entre duas coisas ou entre muitas situações materializadas. Trata-se de
responder ou não responder com fidelidade ao apelo da transcendência. Essa
resposta, ao mesmo tempo em que dá sentido à minha existência, dá sentido
à minha liberdade, libera minha liberdade. É uma liberdade mais como
resposta do que como escolha.

Nesses contextos, a Liberdade, não se suprime de uma interiorização do ser e


de aprisionamento de uma estereotipação, mas sim, um avolumamento conceitual que
se ramifica entre pares e se adapta a cada prossecução vital, para contemplar os
desejos primários, ou até, primitivos. Essa expansão, em termos, talvez
incomensuráveis, Isaiah Berlin (1981) contabilizou mais de duzentos termos acerca
da liberdade, subdivididos de modo a terem conceitos próprios. Desta feita, duas
vertentes compõem toda a pirâmide, liberdade positiva e liberdade negativa, estas em
ação, se fracionam em liberdade de e liberdade para.
Isso nos remete a uma reflexão. Se a liberdade é inerente ao ser animado, por
que então usar esse poder de maneira que possa prejudicar a si próprio? Ora, em
tese, o que Berlin quer dizer é que o lado negativo da liberdade é uma forma de
manifestação híbrida, pois impede a inferência em poderes protegidos, que norteiam
a vida do indivíduo. Caso contrário - como exemplo a Liberdade de Imprensa -,
importaria ao Governo, não incidir em normatizar ou censurar a mesma, já deixaria
explícito este Direito fundamental, sem que fosse necessário ser transformado em
norma constitucional ou legal. Outro exemplo, a inviolabilidade de domicílio, também
não seria necessário normatizar, pois o Direito de posse já nos revela a quem de
direito. Não se trata de simplesmente termos uma liberdade que, lamentavelmente
deve ser normatizada e controlada pelo sistema, mas em outro sentido, a liberdade
de outrem dá-lhe poder de interceder na do outro. Pode alguém invadir o seu
domicílio? Pode?! Pode. Mas não deve! Pois o invadido é atribuído de poderes, mas
tal, pode ser restrito à liberdade do invasor.
Segundo Berlin (1981, p. 32), “O sentimento fundamental da liberdade é a
liberdade dos grilhões, do aprisionamento, da escravidão por outros. O resto é
extensão desse sentido, ou então é metáfora”.
19

Na visão de Berlin, confundir a Liberdade com suas coirmãs Igualdade e


Fraternidade é promover uma consciência Liberal, de forma que a Liberdade negativa
seria o controle do Estado, sobre as coisas naturais dos franceses, à época da
revolução (séc. XVIII), sendo este princípio, denominado pelo filósofo como pluralismo
de valores.
Contudo, o filósofo contemporâneo francês Jean Paul Sartre (2007) nos
apresenta uma incongruência no conceito de liberdade entre a filosofia antropológica
e a psicologia, mesmo que ontologicamente livre é levado a fazer coisas, que o prive
da própria liberdade; como no caso por exemplo de dependentes químicos que,
mesmo se autossugestionando ou desejando não consumir substâncias maléficas,
não conseguem se controlar; consomem e; acabam prisioneiros de si mesmos. O
autor deixa claro em sua obra O Ser e o Nada:

[...] os psicoastênicos que Janet estudou sofrem de uma obsessão que eles
mantêm intencionalmente e da qual querem ser curados. Mas, precisamente
sua vontade de ser curados tem por objetivo afirmar essas obsessões como
sofrimentos e, em decorrência, realizá-las com toda sua força (sic, SARTRE,
2007, p. 553).

Por conseguinte, de um lado se identifica o poder de escolha, ir e vir, fazer ou


não fazer, estabelecido por um controle absoluto individual; do outro, a submissão e
descontrole. Evidente que, além do controle social, estatal e outros.
Se há liberdade inclusive naquele que aprisiona e controla o outro, como
também a auto decisão de se controlar, então a liberdade torna-se uma decisão
incondicionada, referida por Sartre como uma condenação ao homem. Desse modo,
Sartre (2007, p. 663) explica, “esta psicanálise ainda não encontrou seu Freud;
quando muito, pode-se encontrar seus prenúncios em certas biografias
particularmente bem-sucedidas”.
Este conceito de liberdade que liberta, mas que também pode aprisionar, o
psicólogo estadunidense Burrhus Frederic Skinner (1993), aponta que o ser humano
trava uma batalha interior e exterior, a fim de evitar situações ou agentes repugnantes.
Neste contexto, a percepção da liberdade relaciona-se ao apartamento ou
repulsa de interferências antagônicas. O que chama a atenção, contudo, é que o ser
humano não escolhe o melhor a fazer ou o necessário, mas sim, para manter-se ereto
perante às normas e para não infringi-las. Não há demasia mostrar que isso é uma
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questão valorada de sobrevivência, condição ”sine qua non” para a vida em


sociedade. Conforme Skinner (1993, p. 27), “[...] É possível que a herança genética
do homem favoreça esta espécie de luta pela liberdade”.
Desse modo, a presente pesquisa traz em seu escopo, justamente o
apontamento do uso e des(controle) sobre a Liberdade na internet, reduzida à
manifestação por meio da expressão. De forma que as ciências aqui apresentadas,
iluminam em seus conceitos, que este poder se encerra no ser e que, o seu controle
que dar-se-á pelo próprio ser e, é compelido por seu ambiente, variando assim no
tempo e espaço; não possibilitando uma escolha desprendida de normas e
regulamentos.
Skinner reafirma (1982, p. 145):

A pessoa que afirma sua liberdade dizendo: "Eu resolvo o que farei a seguir"
está falando de liberdade numa situação comum: O eu que assim parece ter
uma opção é o produto de uma história da qual não está livre e que, de fato,
determina o que ele fará agora.

Outrossim, o ambiente age de maneira propulsora a impelir ou atrair


individualmente o ser humano e, coletivamente, toda a sociedade que anula fronteiras.
A Internet, ferramenta já inerente ao ambiente globalizado foi um dos maiores
acontecimentos da história mundial, sendo, se não a maior, responsável em colaborar
como o veículo para a expansão do uso da Liberdade e suas variações. Seu poder de
dissipação é tamanho, que chega a ponto de equilibrar seu uso entre raças, línguas,
continentes, condições financeiras ou intelectuais, mesmo sendo alguns mais, outros
menos, devido às condições do próprio ambiente. Segundo Skinner (1982), o meio
ambiente exerce a sua parte com maestria. Elevando-nos à expectativa de um
amanhã incrível - onde parece-nos emular -, mas, de modo que o ser humano será
muito mais humano e humanitário, cujo o qual aduzirá com maior percepção e
acuidade de sua presença ao, e no todo, visto que estará munido de uma visão
holística de si mesmo.
Por fim, o behaviorismo radical de Skinner (1993), nos remete a uma melhor
preparação aos demais temas que abordaremos nesta monografia, pois só é possível
pesquisar, comentar e apontar as ações humanas na internet, após um mergulho no
centro do ser humano e, talvez, colaborar com a sua visão de como deve-se usar esse
poder que trazemos conosco desde o princípio, a Liberdade. Nas palavras do
21

psicólogo "melhor ser escravo consciente do que escravo feliz"; de maneira que se
libertar totalmente é a maior dádiva do ser humano, agora, cibercultural.

2.1 Liberdade de informação

Como demonstrado anteriormente, torna-se ímprobo especificar e até


conceituar as diversas vertentes em que a Liberdade se manifesta, pois muitas vezes
há uma liberdade encerrada em outra, onde o que regula ou protege as exposições,
emerge em um direito dentro do outro. No decorrer desta pesquisa discutiremos
alguns destes, de forma que os apontamentos remetam às reflexões em torno das
aplicações.
A Liberdade de informação mostra-se como um direito, sendo individual ou
coletivo de informar um fato, desde que, assinada por alguém, ou seja, sendo vedado
o anonimato, mas com proteção ao direito de não revelação da fonte que revelara o
ocorrido. Silva (2012) entende que a liberdade de informação é muito mais que
liberdade de imprensa, termo que acredita não ser cabível a partir da
contemporaneidade tecnológica, pois contemplaria somente às informações
impressas. Sucede o autor em seu conceito, "alcança qualquer forma de difusão de
notícias, comentários e opiniões, por qualquer veículo de comunicação social". É
percebido na sociedade cibercultural que, este direito, também ultrapassa fronteiras
em seu uso e entendimento, pois com o advento das Redes sociais, essa informação
tornou-se difusa. À frente esta monografia detalha e identifica pontos relevantes a
cerca desta visão holística atual, como também de uma abordagem individualista.
A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, datada de 1789 e descrita
como o primeiro regramento universal, que vem a amparar o direito de liberdade de
informação, em seu artigo 11º a sua redação descreve:

A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos


direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir
livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos
previstos na lei. (sic FRANÇA, 1789)

Neste contexto, fica claro que esta liberdade é a garantia do direito social em
manter o cidadão informado, contribuindo para a construção de uma sociedade
22

educada e reflexiva às suas ponderações. Não obstante, muitas vezes é suprimida


por motivos que vão desde pontos de vista, ao conceito factual e até por interesses
escusos, mormente em terras binárias cibernéticas. Isso porque com a disseminação
geográfica de acessos à internet e a disponibilidade de recursos tecnológicos,
multiplicaram-se os canais de informação, como também o surgimento de
profissionais, que nem sempre mantem a parcialidade e o escopo em informar.
No Brasil, a Liberdade de Informação, foi reconhecida como Direito formal,
somente a partir da Constituição de 1988, constituindo-se como um Direito
fundamental ao novo Estado Democrático de Direito Brasileiro. Devido a sua
importância em uma sociedade democrática, sua relevância a considera como uma
garantia suprema, um direito indeclinável e irrevogável.

O direito de informar, como aspecto da liberdade de manifestação de


pensamento, revela-se um direito individual, mas já contaminado de sentido
coletivo, em virtude das transformações dos meios de comunicação, de sorte
que a caracterização mais moderna do direito de comunicação, que
essencialmente se concretiza pelos meios de comunicação social ou de
massa, envolve a transmutação do antigo direito de imprensa e manifestação
do pensamento, por esses meios, em direitos de feição coletiva (SILVA, 2001,
p. 259).

A carta Magna de 1988 estabelece em seu artigo 5º e incisos IX e XIV:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença; [...]
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da
fonte, quando necessário ao exercício profissional; [...]

O arcabouço constitucional supracitado, vela o direito fundamental de informar,


como de ser informado. De forma que no escopo magno há o direito de informar, como
a liberdade de informar. Mesmo havendo o conceito de liberdade, na questão de
informação, não se encerra em pessoalidade, mas na coletividade. Analogamente, à
visão liberal individual, agregou-se a coletividade, onde a liberdade de informar,
corrobora aos sentidos populares (FARIAS, 2000, p. 166 – 167).
23

Importante ressaltar que, para o Direito infraconstitucional apresenta-se uma


separação entre Liberdade de Informação e a Liberdade de Imprensa, onde a própria
Constituição de 1988, ora entende como unas, ora as separa.
No ano de 2009, o Supremo Tribunal Federal tornou sem efeito em sua
totalidade a Lei de Imprensa Nº 5.250/1967, através da Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental – ADPF 130, por não manter clara em sua aplicabilidade o
Direito de Resposta. A Corte suprema entendeu que, se tornou inconstitucional, pois
feriu o art. 5º, inc. V da Carta da República que assim descreve, “é assegurado o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem; [...]”.
Após, com desejo de dar infraconstitucionalidade a tal Direito, foi sancionada a
Lei 13.188 de 2015, que traz em seu conteúdo, tanto o Direito citado, como a proteção
fundamental constitucional à honra, sem assim, impedir à liberdade de imprensa. De
modo que, seja garantindo inclusive o tempo da formalidade de resposta. Outra
questão abordada é a retificação correta, que garante o Direito de personalidade
daquele que tenha sido ofendido e a propagação da informação de maneira igualitária
à ofensa. Promovendo de forma a atingir o mesmo volume público.
A Lei Nº 12.527 de 2011, garante o acesso à informação, prevista no art. 5º,
inc. XXXIII:

Art. 5º XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado; [...] (BRASIL, 2019).

Desse modo contemplou a promoção da transparência aos dados públicos,


desde que os mesmos não estejam nas categorias definidas como Secretas e Ultra
secretas, pois tem como primazia a defesa e segurança nacional. Logo no art. 37, §
3º, inc. II, descreve que “o acesso dos usuários a registros administrativos e as
informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; [...]”.
Assim, responsabiliza a gestão governamental por disponibilizar o acesso
documental, como descreve o art. 216, § 2º, “Cabem à administração pública, na
forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para
franquear sua consulta a quantos dela necessitem; [...]”.
24

Tal diploma, conhecido como a LAI – Lei de Acesso à Informação, em seu


corpo, descreve que qualquer pessoa tem direito de requerer e ser atendido, pelos
órgãos e entidades públicas, por meio de seus agentes e poderes; informações
públicas, geradas ou tuteladas por estes. Estas informações são reconhecidas no art.
4º, inc. I da Lei 12.527/2011, “informação: dados, processados ou não, que podem ser
utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio,
suporte ou formato; [...]”. As exceções de acesso a estas informações públicas são
aquelas que podem colocar em risco a Nação e a sociedade como um todo, sendo
previstas no art. 4º, inc. III.
Mesmo havendo uma separação conceitual jurídica e de aplicação prática entre
tais liberdades, segundo Machado (2002) a essência dessas é o direito de informar e
o direito de ser informado, porém em uma sociedade político-democrática as fontes
da verdade e de transparência, em suas limitações, são os meios de proteção de
juridicidade individual e também coletiva. Tal feita impõem a veículos e canais de
informação, no caso da Liberdade de Imprensa, a responsabilidade em comprovar os
fatos e não fazer juízo de valor, tendo como objetivo central, informar. Do outro lado,
a Liberdade de Informação além do acesso às informações públicas, na sociedade
contemporânea que em vias de rede binária, branda a bandeira da Dromocracia
Cibercultural e é exatamente este ponto, que trataremos posteriormente. Até onde
pode? Deve? E como utilizar esta velocidade em favor da evolução sociocultural
digital? De modo que corrobore progressivamente ao novo mundo sem fronteiras.

2.2 Liberdade de Comunicação

A origem da palavra comunicação, “communicationem” do século XV, sendo


um substantivo latino, em sua construção, encerra o conceito de “tornar uma ação
comum”. Destarte, irradiar, seja uma ação unilateral e; distribuir, uma relação
interpessoal, existente assim um contrassenso comunicativo, entre o individual e o
coletivo (LIMA, 2012, p. 26).
Esta liberdade, engloba uma série de outras liberdades, ramificando-se em
diversas formas de linguagens que trazem em seus cernes, direitos que se exprimem
das difusões de pensamentos e ações, sendo uma informação em conformidade com
o artigos 5º, incs. IV, V, IX, XII e XIV; 220 a 224 da Constituição Federal de 1988.
25

O diploma constitucional aborda que produzir, expressar e manifestar tais


ideias e informações, de forma sequencial, são alcançadas juridicamente. De forma a
proteger os direitos de informar, ser informado e até ser atingido por sua difusão.
Seguindo esta proteção, as artes, literatura e música gozam deste privilégio no
Brasil, desde que observado o artigo constitucional.

Art. 220, § 3o Compete à lei federal: I – regular as diversões e espetáculos


públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as
faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua
apresentação se mostre inadequada; II – estabelecer os meios legais que
garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de
programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto
no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que
possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente (BRASIL, 2019).

Mesmo sendo um Direito de todos, o artigo 254 da Lei 8.069 de 1990 – Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), visa regular o que é comunicado, de maneira que
sejam protegidos os Direitos das crianças e adolescentes, de acordo com a faixa etária
especificada.

Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário


diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: (Expressão
declarada inconstitucional pela ADI 2.404).
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de
reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da
programação da emissora por até dois dias (sic. BRASIL, 2019).

Tal medida levanta uma polêmica. Pois tolher as transmissões em forma


especificada acima, pode ser uma forma de controle e até censura? Coisa esta, que
vai em confronto ao Estado Democrático de Direito, ou seja uma maneira de o Estado
proteger a evolução cultural e educacional. Apresentam-se aí discursos dos dois
lados. Contudo se a Constituição Federal traz em seu corpo a proteção à criança em
vários artigos e capítulos, questiona-se a necessidade de contemplação
infraconstitucional. Em diligência, o Supremo Tribunal Federal, por meio da ADPF 130,
demonstrou uma solução para este impasse. Onde, por mais que não deva ser
regulado, o que, e, quando ser comunicado. O mesmo deve demonstrar um bom
senso, que não transcenda os direitos de outrem, havendo assim um equilíbrio,
devendo este ser regulado pela própria sociedade, em seu direito de assistir ou não.
Com isso, transfere-se às famílias o controle do que as crianças devem ou não receber
26

em comunicação. O que se percebe com esta decisão colegiada é que o Estado não
deve interferir na educação da sociedade, mas sim, colaborar difundindo
conhecimento. Este conceito está confortado no artigo 227 da Constituição da
República de 1998.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (EC no 65/2010) (sic, BRASIL,
2019).

Mas a disputa só foi finalizada através da ADI 2404/2016 – Ação Direta de


Inconstitucionalidade, referente ao artigo 254 do ECA, impetrado pelo Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), então no dia 31 de agosto de 2016, a colenda Corte
decidiu por oito votos, a contrariedade às empresas de radiodifusão serem
penitenciadas com multas, por escolherem horários adversos dos especificados no
estatuto infraconstitucional, mas que se mantenha a divulgação de faixas etárias
indicativas.
Nada obstante, entidades de proteção às crianças e adolescentes entenderam
que o Supremo Tribunal Federal regrediu quando transfere este poder de controle às
empresas, pois visam lucros e dividendos, sem que tenham como escopo a proteção
social infantil.
No discorrer desta pesquisa acadêmica, tal polêmica será abordada por ângulo
inverso e, de formato mais amplo e globalizado, pois o comunicar-se, deixou de ser
tão somente um relacionamento interpessoal, transformando-se em condição de
sobrevivência humana. Não importando posição social, cor, raça, religião e língua,
denotando literalmente sem fronteiras e atemporal.

2.3 Liberdade de expressão

A Liberdade de Expressão abordada por John Stuart Mill (1859), em sua obra
“On Liberty” traz o conceito de ser muito mais que um direito; pode-se dizer que é um
bem de cada um, como também, uma poderosa ferramenta na instalação e
manutenção de uma Democracia. Este contexto clarifica que este recurso fomenta a
27

difusão de informações e opiniões, mesmo que possam representar um afronto aos


conceitos socialmente estabelecidos. O alerta contudo é quando se estabelece o
desejo de controle; onde invocamos, talvez assim entendida, como uma forma de
censura ditatorial, mesmo que, opiniões de menor proporção social; molesta e até
invasiva. Esse controle, pode gerar dano não somente para o prejudicado
diretamente, mas também, para aquele que se vê obstruído de manifestar o seu
pensamento e, outrem, que tem barrado o acesso à informação ou opinião; sendo
esta benéfica, maléfica ou neutra. Desta forma, poderá afetar o direito democrático de
coletividade à informação.
A Constituição da República de 1988, carrega em seu texto na essência do
conceito de tal liberdade, a liberdade de pensamento, como dentre outros que a
compõe. De forma sucinta se a sociedade pode pensar e opinar, entende-se o direito
de manifestação, sem que julgue seu valor, desde que, sua identidade esteja revelada
e não gere dano a outrem. Segundo Souza (sic 1984, p. 137):

A liberdade de expressão consiste no direito à livre comunicação espiritual,


no direito de fazer conhecer aos outros o próprio pensamento (na fórmula do
art. 11° da Declaração francesa dos direitos do homem e do cidadão de 1789:
a livre comunicação de pensamentos e opiniões). Não se trata de proteger o
homem isolado, mas as relações interindividuais (‘divulgar’). Abrange-se
todas as expressões que influenciam a formação de opiniões: não só a
própria opinião, de caráter mais ou menos crítico, referida ou não a aspectos
de verdade, mas também a comunicação de factos (informações).

A expressão dá-se por qualquer canal possível, seja escrito, falado e por
apresentação material, seja pela música, artes, vídeos, enfim, todas são passíveis de
manifestação. Até pelo silêncio uma mensagem pode ser exposta. Para Sodré (1999),
a liberdade de expressão, mostra-se pela liberdade de pensar, produção de conceitos,
pontos de vista, créditos e julgamentos valorativos, dando-lhe assim o poder de
opinar, mas como supracitado, sem agredir direitos de outrem. Paira uma diferença
relevante entre a liberdade de expressão e de informação, onde a primeira, não
carrega a obrigatoriedade de apontar a verdade. Isto posto, a mensagem também não
exige que seja clara e nem objetiva.
A liberdade de expressão recebeu um “upgrade” - renovação por termo
tecnológico -, pois com a penetração cada vez mais intensa de acesso à internet e
com a criação dos aplicativos (softwares condensados para sistemas móveis),
principalmente os de interação e comunicação, tal direito ganhou força, desse modo,
28

opiniões que muitas vezes guardávamos para si ou no máximo compartilhávamos com


a família, ganhou um poder sem precedentes de conquista territorial, até aquelas
pessoas que olho no olho, não possuíam coragem suficiente para usá-la, atrás de um
teclado de computador, telefone celular ou “tablet”, expressam-se sem igual.
Principalmente em um Estado Democrático como o Brasil, milhares e milhares de
expressões, acerca de tudo, são incansavelmente propagadas por vários canais de
comunicação.
Todo esse poderio adquirido, onde a sociedade ganhou um poder de voz jamais
conquistado na história da humanidade, de modo que uma expressão ganha mais
força que um vírus ou bactéria, potencialmente gerando uma pandemia global
comunicativa em minutos, consequentemente destrutiva ou construtiva. Construtiva,
como um sinal de alerta, constante no aplicativo “Facebook” (Recurso para situações
de emergência), onde pessoas acometidas por catástrofes naturais, podem com um
simples toque no celular, irradiar um sinal de vida e localização, facilitando assim seu
resgate pelas equipes responsáveis, como também informar à família, amigos e
conhecidos, que está bem e aguarda seu salvamento. Mas em disparos detrativos,
podem hoje, promover um fomento à 3ª Guerra Mundial. Através de um armamento
bélico intelectual binário, com atiradores humanos; “Bot’s” (robôs softwares) e;
Tecnologia Autônoma, carregados de recursos como as “Fakenews” (notícias falsas)
e, “Deepfakes” (falsificações profundas), esta última, produzidas por Inteligência
Artificial – IA -. Este conglomerado de possibilidades, levanta uma problemática de
alcance mundial, em torno de adventos tecnológicos, mediante a absorção e
adaptação por parte da sociedade cibercultural, bem como o seu uso em massa. Mais
adiante trataremos com detalhes cada um desses recursos tecnológicos, seus efeitos
devastadores e a dificuldade de punir os responsáveis, como também a resolução dos
danos gerados.
29

3 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO SEGUNDO O DIREITO

A Carta Magna Imperial do Brasil (1824), trouxe como direito à liberdade de


expressão, um conceito baseado no Estado Liberal francês, à época da revolução. Tal
Liberdade é um importante recurso fundamental desde o princípio da raça humana,
entendida como ferramenta de relacionamento social em sua linguagem e com sua
responsabilidade civil clarificada.

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos


Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.
[...]; IV. Todos podem communicar os seus pensamentos, por palavras,
escriptos, e publical-os pela Imprensa, sem dependencia de censura; com
tanto que hajam de responder pelos abusos, que commetterem no exercicio
deste Direito, nos casos, e pela fórma, que a Lei determinar [...] (sic, BRASIL,
1824).

Segundo Sarlet (2014, p. 456), não importando a corrente doutrinária que


aborde a essência e a classificação do direito ao Princípio da Liberdade, tange que,
nesta, encerra vários tipos, dentro do gênero apresentado, como diz:

Para uma compreensão geral das liberdades em espécie que podem ser
reconduzidas à liberdade de expressão (gênero), e considerando as
peculiaridades do direito constitucional positivo brasileiro, é possível
apresentar o seguinte esquema: (a) liberdade de manifestação do
pensamento (incluindo a liberdade de opinião); (b) liberdade de expressão
artística; (c) liberdade de ensino e pesquisa; (d) liberdade de comunicação e
de informação (liberdade de “imprensa”); (e) liberdade de expressão religiosa.

A Constituição Federal promulgada em 05 de outubro de 1988, aclama a


liberdade de expressão, na redação do art. 5º, inc. IX, onde testifica que “é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”. Não obstante, esta liberdade vem com
um pré-requisito, que procura proteger quando a manifestação gera danos, sejam eles
quais forem. Assim descreve o art. 5º, inc. IV, "é livre a manifestação do pensamento,
sendo vedado o anonimato".
A Liberdade de se expressar de forma ampliada e em sua consubstanciação,
absorve a vontade do interlocutor em se pronunciar ou informar, dando-lhe o direito
às alusões positivas e ou negativas, desde que não afronte ao direito alheio.
30

Esse direito é individualizado, pois entende-se ser um Direito à dignidade da


pessoa humana, sendo sua importância integrada à evolução da sociedade. Conforme
Machado:

Ora, a liberdade de expressão há de se prestar à realização pessoal, à


formação individual, à livre opção de cada um. Com efeito, não pode ser ela
instrumento contrário à realização pessoal. Seria mesmo contraditório que
um fato pudesse, ao mesmo tempo, apoiar-se na liberdade de expressão e
violá-la, enquanto categoria constitucional, em determinado caso concreto
(apud, TAVARES, 2007, p. 556).

Destarte, a Liberdade de Expressão, um Direito à Dignidade Humana e um fato


propulsor para o avanço social entre os seus, onde o seu uso traz tantos benefícios
como o mau uso, malefícios. Sua limitação pode ser vista de duas maneiras, o
controle, que pode tolher o uso e, a censura que pode impedir a expressão e violar
um princípio fundamental constitucional. Não com esses objetivos, mas tentando
reparar tais efeitos, o Código Civil Brasileiro (2002), mesmo não apontando para o uso
da expressão na internet, tenta responsabilizar ou proteger aos usuários.

Por mais que seja uma lei recente, assim como a Constituição, não traz em
nenhum momento o termo “internet” ou similar. E não poderia ser diferente,
já que se trata de uma lei genérica que regula atos da vida civil. Naturalmente,
existem alguns artigos importantes que também são aplicados nos casos que
envolvem a internet como meio de propagação da informação (LIMA, 2016,
p. 59).

E assim o faz, procurando responsabilizar os danos a outrem, com o objetivo


de promover a equidade entre partes. Assim estabelecem os seguintes artigos, que
se complementam, do Código Civil (2002):

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes. [...]

Os artigos expostos deixam claro suas aplicações frente a danos gerados a


outrem. Porém como já conceituamos, a Dromocracia Cibercultural no glocal, exige
que haja uma interpretação ampla das cláusulas, como também, uma expansão de
31

alcance. O artigo 927 do mesmo código, intenta em superar a zona cinzenta que paira
neste alcance legal. Assim descreve:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem (sic, BRASIL, 2019).

Posto que, quando o dano é gerado a partir de Internet, apresentam-se diversas


correntes, não sendo nenhuma preponderante, de forma que os juízos “a quo” e “ad
quem”, recebem muitas vezes, o difícil papel de legislar na labuta em operar o Direito,
de modo que a missão de proteger os princípios fundamentais constitucionais de
quem é atingido e, responsabilizar o gerador do dano, se torna um obstáculo colossal.
A grande dúvida por anos a fio foi se o Parágrafo único do art. 927 poderia ser
aplicado a “Sites” (sítios de internet) e Redes Sociais digitais (aplicativos e softwares
de contato pela internet), onde poderia o autor, por sua atividade naturalmente, propor
riscos aos direitos de outrem. Conforme o Resp. 1589935 RJ 2015/0101137-0:

RECURSO ESPECIAL. OBRIGAÇÃO DE FAZER E REPARAÇÃO CIVIL.


DANOS MORAIS E MATERIAIS. PROVEDOR DE SERVIÇOS DE
INTERNET. REDE SOCIAL "ORKUT". RESPONSABILIDADE SUBJETIVA.
CONTROLE EDITORIAL. INEXISTÊNCIA. APRECIAÇÃO E NOTIFICAÇÃO
JUDICIAL. NECESSIDADE. ART. 19, § 1º, DA LEI Nº 12.965/2014 (MARCO
CIVIL DA INTERNET). INDICAÇÃO DA URL. MONITORAMENTO DA
REDE. CENSURA PRÉVIA. IMPOSSIBILIDADE. RESSARCIMENTO DOS
HONORÁRIOS CONTRATUAIS. NÃO CABIMENTO. 1. Cuida-se de ação
de obrigação de fazer cumulada com indenização por danos morais e
materiais, decorrentes de disponibilização, em rede social, de material
considerado ofensivo à honra do autor. 2. A responsabilidade dos
provedores de conteúdo de internet em geral depende da existência ou não
do controle editorial do material disponibilizado na rede. Não havendo esse
controle, a responsabilização somente é devida se, após notificação judicial
para a retirada do material, mantiver-se inerte. Se houver o controle, o
provedor de conteúdo torna-se responsável pelo material publicado
independentemente de notificação. Precedentes do STJ. 3. Cabe ao Poder
Judiciário ponderar os elementos da responsabilidade civil dos indivíduos,
nos casos de manifestações de pensamento na internet, em conjunto com
o princípio constitucional de liberdade de expressão (art. 220, § 2º, da
Constituição Federal). 4. A jurisprudência do STJ, em harmonia com o art.
19, § 1º, da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet), entende necessária
a notificação judicial ao provedor de conteúdo ou de hospedagem para
retirada de material apontado como infringente, com a indicação clara e
específica da URL - Universal Resource Locator. 5. Não se pode impor ao
provedor de internet que monitore o conteúdo produzido pelos usuários da
rede, de modo a impedir, ou censurar previamente, a divulgação de futuras
manifestações ofensivas contra determinado indivíduo. 6. A Segunda Seção
32

do STJ já se pronunciou no sentido de ser incabível a condenação da parte


sucumbente aos honorários contratuais despendidos pela vencedora. 7.
Recurso especial provido (sic STJ, 2016, online).

Segundo LIMA (2016, p. 60) assim se davam as correntes sobre a temática:

Alguns julgadores acreditavam que sim, pois se uma ferramenta


disponibilizada para qualquer pessoa poderia gerar dano após um simples
apertar de botão “publicar”, isto criaria um risco que antes não existia. Já
outros julgadores entendiam que, devido ao imenso fluxo de informação, seria
impossível filtrar todo tipo de conteúdo (podendo até ser considerado censura
prévia) e que as empresas só poderiam ser responsabilizadas pelo conteúdo
publicado por terceiros quando notificadas e mantidas em inércia.

Assim sendo, prevalecia a doutrina jurisprudencial predominante, sendo


dirimida com a promulgação do Marco Civil da Internet. Por ser um diploma específico
acerca do assunto, passando a ser o regulador da matéria, ideia inicial pretendida,
coisa que durante o transcurso desta monografia, veremos que não conseguira com
plenitude atingir os resultados propostos.
Como forma de reparar um dano gerado, a partir do art. 186 do Código Civil, a
Jurisprudência assim entende:

DIREITO CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. LIBERDADE


DE EXPRESSÃO, DIREITOS DOS ANIMAIS E RELEVANTE PREJUÍZO
COMERCIAL A EVENTO CULTURAL TRADICIONAL. RESTRIÇÕES A
PUBLICAÇÕES E DANOS MORAIS. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO
GERAL. 1. A decisão recorrida impôs restrições a publicações em sítio
eletrônico de entidade de proteção aos animais, que denunciava a crueldade
da utilização de animais em rodeios, condenando-a ao pagamento de danos
morais e proibindo-a de contatar patrocinadores de um evento específico,
tradicional e culturalmente importante. 2. Constitui questão constitucional da
maior importância definir os limites da liberdade de expressão em
contraposição a outros direitos de igual hierarquia jurídica, como os da
inviolabilidade da honra e da imagem, bem como fixar parâmetros para
identificar hipóteses em que a publicação deve ser proibida e/ou o declarante
condenado ao pagamento de danos morais, ou ainda a outras consequências
jurídicas. 3. Repercussão geral reconhecida (STF, 2015, online).

Já a corrente jurisprudencial contrária apresenta a responsabilização dos Sítios


de internet (Sites), frente à liberdade de expressão de outrem, caso sejam notificados
judicialmente. Mas, como frear a tsunami de propagações, por inúmeros meios
tecnológicos diferentes? Inclusive por aplicativos de mensagens particulares que
dizem-se criptografados (desfragmentação codificada de dados, onde somente os
33

interlocutores tem a chave para decodificação). E ainda tentar responsabilizar aqueles


ditos Perfis “fakes” (cadastramentos falsos), ou que tem o código de navegação da
rede IP (protocolo de internet – é o número de identificação da navegação feita a partir
de uma estação de acesso (computadores, celulares e “tablets”) -) alterado
continuamente? E os danos que, mesmo sendo punidos os geradores, continuam
sistematicamente por anos a fio, como os “ciberbullyings”, exposição de imagens e
dados? E danos que levam à morte os ofendidos e até, danos gerados ”post mortem”?
Essas e outras questões abordaremos e discutiremos no presente trabalho,
com o objetivo de chamar a atenção, a um problema que assola todos os países e
chega com muita força aos tribunais, antes mesmo de se chegar a um consenso por
parte dos debates sociais, políticos, psicossociais e do Direito, onde a Dromocracia
Cibercultural, apresenta-se quase inatingível, devido à velocidade das resoluções
teóricas e à produção de leis e normas, que objetivem promover a regulamentação
desta nova sociedade digital.
Segundo Trivinho (Tonetti, 2015, apud Zuin, Góis, Alves, 2018, p. 33):

É um conceito que abrange a época em que vivemos. Trata-se de um regime


invisível, articulado pelo uso diuturno das tecnologias digitais e interativas no
espaço da produção e de lazer. Essas tecnologias e seus odos de utilização
regram um mundo marcado pela lógica da velocidade. Nesse sistema, que
vivemos sem ter muita consciência do que se passa, ser veloz, portanto
“dromoapto”, é uma condição imperativa para se alcançar resultados que são
apreciáveis pelo mundo ordenado segundo essa lógica.

A exemplo de lei com efeitos penais, que já está ultrapassada, frente aos
avanços tecnológicos é a Lei dita Carolina Dieckmann (Lei nº 12.737/2012) que,
dentre outras deficiências, só pode atingir o agressor que tenha invadido a um
dispositivo da vítima, caso tenha quebrado algum sistema de segurança, ou seja, a lei
veio para acrescer redação aos artigos 154-A e 154-B do Código Penal Brasileiro, que
não estão atualizados para os novos tipos de crimes cibernéticos. Ou seja, imagens e
demais exposições compartilhadas na Internet – sendo entendidas como danos civis
ou podendo até serem tipificadas como crimes cibernéticos, dependendo da forma
que se realizam -, não são atingidas penalmente por este dispositivo, permanecendo
a responsabilidade civil – desde que a vítima prove que o dispositivo eletrônico
invadido seja possuidor de dispositivo de segurança ou senha -, havendo a reparação
34

do dano, desde que se prove e, que o agressor seja detectado, se não, poderá nunca
se obter esta reparação.
Para Pinheiro (2016, epub) diante de tais desafios:

Os desafios jurídicos do Direito Digital incluem a quebra de paradigmas, a


descentralização, a dificuldade em definir limites territoriais e físicos, a
velocidade com que as decisões devem ser tomadas e a crescente
capacidade de resposta dos Indivíduos. A Internet gera uma infinidade de
nações virtuais — pessoas, empresas e instituições de várias partes do
mundo unidas por interesses os mais variados.

Assim, o Direito se depara com dois universos paralelos que se entrelaçam e


caminham juntos, de um lado a Globalização que une países e povos e a
individualização do Ser. Um Ser que ultrapassa fronteiras; se estabelece onde quiser;
mesmo que nunca esteja lá fisicamente; não fale a língua do local e ainda; se
contraponha a pontos de vistas diversos e; ou; de outras culturas. Ou seja, podemos
dizer que a Internet é uma grande teia, que liga pontos luminosos, Seres, carregados
em sua onda, WWW – “Wide, World, Web” (Rede Mundial de Computadores). Dessa
forma Lima (2016, p. 14) aborda que, “[...] A internet se desenvolveu com tanta
velocidade que, ao transformar o convívio social e econômico, gerou uma série de
novas oportunidades e riscos, ônus e bônus de sua existência”.
Sua criação, em plena Guerra Fria, por volta da década de 60, assentida como
uma poderosa estratégia militar norte-americana. Continua Lima (2016), “[...] previa
uma rede que suportaria uma guerra de grandes proporções, sendo capaz de
continuar funcionando ainda que pontos de conexões fossem derrubados, por
exemplo, por um ataque nuclear".
Sem embargo, o grande ponto crucial desta liberdade digital é que nunca o
Homem, passou por tantas transformações e com tanta velocidade assim. Antes, um
grande pensador era conhecido por muitos e por séculos a eito. Seu nome era
exaltado, alguns até aos dias de hoje, como Sócrates por exemplo, onde todas as
pessoas do povoado de Atenas - Grécia antiga -, arguiam uma demanda resolutiva;
após refletir, às vezes, dias, apresentava solução para a questão. Nos dias atuais,
além das fontes de pesquisas digitais “Google”, “Wikipedia”, “Watson”, “Bing”, “Yahoo”
e outras há milhares de aplicativos e sites que trazem em milésimos de segundos,
35

dados que uma mente humana teria grande dificuldade de processamento e de


armazenagem.
Lima (2016, p. 98) afirma que, acerca do fundamento da Liberdade de
Expressão na Internet "[...] apesar da expressa previsão constitucional, não pode ser
considerado um direito absoluto e cada caso deve ser analisado no que diz respeito
aos seus limites e consequências de extrapolá-lo". Essa ampla liberdade, incentiva
aos usuários de internet, em especial nas redes sociais, a se expressarem a cada dia
mais. Os jovens são os que mais usufruem deste direito e justamente por todo esse
vigor juvenil são os que mais promovem os confrontos de ideias.
Por conseguinte, afim de reparar danos causados por todo esse poder de
comunicação, o Código Civil Brasileiro no artigo 932, responsabiliza aos pais de
menores de idade, que possam ter gerados danos a outrem. Nada obstante, muitas
vezes configura impossível reparar esses danos civis, onde tribunais e magistrados,
brasileiros e estrangeiros, vem gerando decisões controversas, fomentando o
sentimento que o dano não foi reparado, mesmo tendo o réu cumprido a sentença.
Nada obstante, o cientista norte americano Carl Seagan (1985), em sua obra
O Mundo Assombrado Pelos Demônios, a liberdade de expressão é demonstrada em
mais que um simples recurso de comunicação humana, mas sim, um Direito do
Cidadão de se comunicar em sociedade. Quando as pessoas exercem os seus
direitos, como a liberdade de expressão e demais liberdades, um pré-requisito deveria
ser a proteção dos mesmos. Seagan (1985, p. 370) traz à baila:

Se não podemos pensar por nós mesmos, se não estamos dispostos a


questionar a autoridade, somos apenas massa de manobra nas mãos
daqueles que detêm o poder. Mas, se os cidadãos são educados e formam
as suas próprias opiniões, aqueles que detêm o poder trabalham para nós.

Dessarte, todo esse movimento contemporâneo que derruba fronteiras e mexe


com a psique humana; entrelaça direitos; expõe fauna e flora; transforma seres vivos
e até os funde com tecnologias (biotecnologia) e, antevê manifestações fenomênicas;
pode pronunciar-se a um advento de uma nova civilização – digital ou digitalizada.
Uma sociedade que compartilha as suas culturas, que se alto educa, entretêm,
comunica e demais usualidades, a partir de “Gadgets” (aparelhos eletrônicos
portáteis), sendo estes desde um "simples" telefone celular, até a óculos com conexão
“Wi-Fi” (internet sem fio) e “Bluetooth” (transmissão de dados sem fio) e, ou, de VR –
36

“Virtual Reality” (realidade virtual). Além da Internet das Coisas, que nos conectam à
Medicina, Ciência, Agricultura e demais recursos que nos cercam.
Aparece então, um levante, em plena segunda década do século XXI, uma
nova Raça, uma nova Geração, uma nova Civilização, que se abstrai de todas as
gerações que estão habitando o planeta Terra, e ao mesmo tempo, são os mesmos,
assumindo assim uma nova identidade e cultura, quase que uma nova personalidade,
ou a mesma, mas com posturas e apresentações diferentes. Não sendo involuntária,
sociopatológica, como um transtorno dissociativo de identidade, mas sim, proposital,
intencional. Mostrando-se com inúmeras personalidades, convenientes ao tipo de
comunicação tecnológica que esteja sendo usada ao momento. Esta civilização
cibercutural, tem como língua base, um dialeto internético e tecnológico, um sonho a
àqueles que vislumbravam o “Esperanto” (projeto de língua auxiliar internacional)
como a língua mundial do novo milênio.
Tal conceito socioantropológico, ultrapassa o mundo das formas, corpo e
espaço são “[...] refletidos em razão da dinâmica do tempo instantâneo, haja vista o
fenômeno da internet – lugar nem local, nem global -, mas glocal (da velocidade, do
virtual) [...]”. Neste espectro há uma divisão fenomênica, de um lado o ser humano
como se apresenta biologicamente e do outro um corpo-pixel, termo que define o
indivíduo em sua manifestação digital, identificado pela professora doutora Aparecida
Zuin em sua obra literária Cidadão-Pixel: Direito e democracia na sociedade digital
(2018).

Dado esse modelo resultado de pixels, do corpo exclui-se a carne, o sangue,


os ossos, a alma do sujeito; daí, pode-se conferir a superação das rotinas
temporais e dos hábitos antigos previstos na lógica da liberdade dos cidadãos
da polis, desencadeando, também, outro tipo de consciência diferente
daquela democrática instituída pela sociedade de direito (ZUIN, GOIS,
ALVES, 2018, p. 21).

Esta “Sociedade Interterrestre” (termo nosso), que comunica e vive por meio
da interação digital, e, entre àqueles que não o são, podemos vê-los somente e, tão
somente, como uma nova versão de nós mesmos, os habitantes deste mundo azul e
no que, ou quem, estamos nos tornando.
37

3.1 A Liberdade de Expressão no artigo 5º da Constituição Federal, frente às lei


infraconstitucionais e o direito comparado

Possuidor da grande maioria dos direitos e garantias fundamentais dos


cidadãos, inclusive asseverando a isonomia, de modo que promova o equilíbrio de
paridade de armas, como de direitos do cidadão, não importando a nacionalidade,
caso este esteja em solo brasileiro e respeitadas algumas exceções, mas sem ofender
os princípios fundamentais. Nesta cláusula constitucional, contempla-se a vida;
liberdade; igualdade; segurança e propriedade e mantem-se isenta em diferenciar as
pessoas por gêneros acerca de suas garantias. Lenza (2008, p. 588-589) assim
doutrina, “[...] a lei deverá tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais,
na medida de sua desigualdades. [...] pois imagina-se uma igualdade mais real
perante os bens da vida, diversa daquela apenas formalizada perante a lei [...]”.
Mesmo com todo esse cuidado, alguns direitos são desiguais, como a licença
maternidade, obrigatoriedade ao serviço militar, tempo de aposentadoria, dentre
outros. Contudo o que vamos iluminar é a controvérsia do direito à liberdade de
expressão, em especial neste artigo.
Como já abordamos a liberdade de expressão é um direito unilateral,
instransponível, intransferível, mas também de alcance coletivo. Podendo este ser
positivo ou negativo, como assim aborda a Psicologia. O inciso IV assim descreve, “é
livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Nesta primeira
parte deste inciso, entende-se que, ao pensar, podemos manifestar, ideia, conceito,
julgamento e até opinião, não importando assim, qual conteúdo está sob à análise
opinada. Já na segunda parte, como o objetivo de atingir aquele que possa gerar um
dano a partir de sua manifestação e responsabilizá-lo, declara a vedação ao
anonimato. Vemos aí uma contradição com o artigo 15 da Lei 12.965 de 23 de abril
de 2014, onde protege os provedores de internet a manter “[...] sob sigilo, em ambiente
controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento
[...]”, à frente faremos um estudo específico, pois este confronto, já gerou conflitos em
decisões judiciais. Contudo, a jurisprudência vem tentando cumprir o seu papel, com
escopo em equilibrar os direitos.

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. OFENSA


REALIZADA POR MENSAGEM ELETRÔNICA. DANO MORAL
38

INEXISTENTE. LIBERDADE DE EXPRESSÃO DO PENSAMENTO.


LIMITES NÃO ULTRAPASSADOS. AUSÊNCIA DE LESÃO AOS DIREITO
DA PERSONALIDADE DO RECORRENTE. A leitura da mensagem
eletrônica faz concluir que a figura do síndico-recorrente não teve sua honra
abalada. Seu nome não foi citado, nem tampouco narrado fato concreto que
pudesse causar lesão aos direitos da sua personalidade. Direito
fundamental à preservação da honra e imagem tem sua aplicação de forma
compatível e ponderada com o direito fundamental à livre manifestação e
expressão do pensamento, nos termos do art. 5º inciso IV e V da
Constituição Federal: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional
ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; IV -
é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; No
presente caso, as afirmações do recorrido, pela sua absoluta falta de
fundamento e inconsistência são insusceptíveis de causar qualquer dano
moral ao autor. O recorrente agiu corretamente em cumprimento do seu
dever na defesa do condomínio, do qual é síndico, ao obter um exitoso
acordo em reclamatória, sem custos, devidamente homologado pelo Juízo
Trabalhista. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO (TJ-DF, 2015).

Como citado na ementa acima, o inciso V, já contempla aquele que sofrera


dano, pelo motivo da expressão, além de “[...] indenização por dano material, moral
ou à imagem; [...]”, assegura também o direito de resposta, de forma que possa
difundir o conceito contrário ao ofendido. É possível sobre a nomenclatura imagem,
interpretarmos de duas formas, uma no espectro físico, e demais como a exposição
da personalidade, postura e ou atitude, à maneira que os interlocutores o veem.
O inciso VI, apresenta uma amplitude desta liberdade de pensamento e
expressão, quando toca a crença religiosa da sociedade, garantindo assim “[...] o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e as suas liturgias; [...]”. Essas garantias dependem do respeito às leis vigentes,
que promovem um controle sobre o exercício desses, desde que sejam de bons
costumes e respeite os direitos de outrem. Entende Soriano (2003) que o Estado deve
salvaguardar a laicidade sem que cause desigualdade entre as religiões que existem
em solo brasileiro.
Já os incisos IX e X apresentam pontos interpretativos divergentes, que afetam
também aos supracitados, pois discorrem, em sua essência, a liberdade de
pensamento e expressão, confrontando-se. Assim no inciso IX, “é livre a expressão
da atividade intelectual, artística, cientifica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença”. O texto constitucional deixa claro a livre expressão, sem que haja
censura ou licença. Porém, no inciso seguinte, mostra-se em contrário a esta
liberdade pois, inc. X, “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral
39

decorrente de sua violação”. Contextualizando, se em um comporta a livre expressão,


sem censura ou licença e, no outro, a inviolabilidade de intimidade, vida privada, honra
e imagem das pessoas, mesmo que seja garantido o direito à indenização no caso de
dano, para proteger o violado; gera assim, censura e proibição. Quando a edição de
uma biografia não autorizada, seja literária, de imagem, videográfica ou audiofônica,
afronta ao inciso X, tolhe o direito ao livre pensamento e expressão. No ponto em tela,
na ADI 4815 – Ação Direta de Inconstitucionalidade, julgada pelo Supremo Tribunal
Federal no ano de 2015, impetrada pela Associação Nacional dos Editores de Livros
– ANEL -, quanto à incompatibilidade dos artigos 20 e 21 da Lei 10.406 de 2002
(Código Civil Brasileiro) frente à liberdade de expressão garantida na Constituição
brasileira de 1988, assim demonstram:

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça


ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão
da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a
respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas
para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes
(BRASIL, 2019).

Já o artigo 21 do mesmo diploma, aborda a inviolabilidade do direito privado à


vida, com o objetivo de proteger a sociedade de ter invadida a sua privacidade; em
sua redação informa que, “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a
requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou
fazer cessar ato contrário a esta norma” (BRASIL, 2019).
Por unanimidade a Suprema Corte, seguindo o voto da relatora, entendeu que
uma norma infraconstitucional, não poderia abolir o direito à liberdade de expressão,
pois já garante, no caso de ofensa, o direito a resposta e indenização por dano gerado.
No voto, a Ministra Carmen Lúcia assim discorreu:

[...] toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”.


Assim, uma regra infraconstitucional (o Código Civil) não pode abolir o direito
de expressão e criação de obras literárias. “Não é proibindo, recolhendo
obras ou impedindo sua circulação, calando-se a palavra e amordaçando a
história que se consegue cumprir a Constituição”, afirmou. “A norma
infraconstitucional não pode amesquinhar preceitos constitucionais, impondo
restrições ao exercício de liberdades [...] (sic, BRASIL, 2015).
40

Mesmo sendo reparado esta inconformidade legal hierárquica, ainda é possível


conceber efeitos antagônicos entre o direito de pensar e expressar, à forma da Carta
Magna de 1988. Tal revés leva aos tribunais e varas, uma insegurança judicial notória.
Que muitas vezes, induz aos juízos “a quo” e “ad quem” a decidir de maneiras
díspares, em casos de méritos semelhantes.
Outro diploma jurídico que foi criado com o objetivo principal em regular o uso
da internet pela sociedade é a Lei 12.965, promulgada em 22 de abril de 2014,
conhecida como o Marco Civil da Internet. Sua aprovação pelo Congresso Nacional e
sanção por parte da Presidência da República, se deu em meio aos escândalos
disparados pelo servidor público do governo estadunidense, Edward Joseph
Snowden, ex-administrador de sistemas da CIA (Central Intelligence Agency) e ex-
servidor da NSA (National Security Agency), que em suas revelações, disse que os
Estados Unidos da América monitoravam as conversas e e-mails de vários líderes
globais, ou seja espionando; à época presidentes como Dilma Rousseff. Após
engavetado por alguns anos, em caráter de urgência decretado pela presidente, o
Congresso Nacional votou a toque de caixa. Mesmo tendo sido amplamente discutido,
inovando até na forma de abordagem, pois as opiniões eram geradas a partir de um
fórum digital. Assim, houve uma equalização de interesses, onde especialistas e a
sociedade puderam discuti-la em pé de igualdade, mas alguns pontos foram
questionados posteriormente e até o fechamento desta pesquisa, ainda pairam
lacunas que ainda não foram sanadas.
O confronto legal que houve maior repercussão acerca deste diploma
infraconstitucional e a Constituição Federal de 1988, foi quando um simples protesto
por meio de manifestação digital, através do site da página do “Facebook” Deixe a
Esquerda Livre, esta, para protestar sobre o evento Virada Cultural promovida pela
Prefeitura de São Paulo, criou um evento fictício virtual, denominado Virada Cultural
na Casa do João Dorian [sic]. Tal evento ocorreu em julho de 2017.
A pedido do Prefeito, o advogado Anderson Pomini impetrou ação judicial com
dois pedidos, quebra de sigilo cadastral dos organizadores na plataforma “Facebook”
e; a retirada do ar da página supracitada. O juiz Fernando Henrique de Oliveira
Biolcatti, da 22ª Vara Cível de São Paulo, deu ganho de causa parcial ao prefeito João
Dória (PSDB). O magistrado em sua decisão, decretou a obrigatoriedade à Rede
social “Facebook” a fornecer os endereços dos Protocolos de Internet (IP's – “Internet
41

Protocol” -) dos administradores da página, bem como seus dados cadastrais contidos
nos arquivos da rede social especificada. Não obstante, o evento virtual deveria ser
mantido, visto que não havia abusividade de plano na página, ressaltou que "impedir
manifestações políticas sob argumento da perturbação pública significa afronta à base
do Estado Democrático do Direito".
Tal decisão trouxe um confronto legal, onde o Marco Civil da Internet (Lei
12.965/2014) em seu artigo 10º, §1º apresenta em sua redação que somente deverá
ser revelado a identidade daquele que está se expressando virtualmente, por meio de
decisão judicial. Já a Constituição Federal em seu artigo 5º, inc. IV, elucida que "é livre
a liberdade de expressão, desde que vedado ao anonimato" (BRASIL, 2019).
Cumpre salientar que a norma infraconstitucional, Lei 12.737 de 2012 - Lei
Carolina Dieckmann -, foi produzida para proteger aos usuários de crimes cometidos
no ambiente virtual. Foi batizada assim quando a atriz que se dá a nomenclatura,
levou o seu notebook (computador portátil) a uma assistência técnica para reparos e,
quando um dos funcionários da empresa, copiou para outro dispositivo portátil, 36
fotos que a expunham em situação de intimidade. Em seguida, o mesmo entrou em
contato telefônico com a vítima e tentou extorquir a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), a partir daí, iniciam-se as investigações policiais até à prisão de seu malfeitor.
Este caso em especial, foi digno de muitas discussões no Direito, pois haviam
correntes que divergiam na tipificação, se seria necessária criar novas tipificações,
exclusivas para crimes na esfera digital ou aplicar as leis vigentes, como os artigos
171, que tipifica estelionato aquele que obtém “[...] para si ou para outrem, vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, [...]” e 154-A, ambos do Código Penal Brasileiro, seja cabível
para casos em que vinculem violação de eletrônicos, mas com algum tipo de sistema
de segurança e proteção. Logo, um computador que não tenha senha de proteção,
por exemplo, poderá ter seus dados violados, e o autor da ação, pode não ser
considerado culpado. O artigo 2º da lei mencionada acresce os artigos 154-A e 154-
B do Código Penal Brasileiro. Assim descreve o artigo 154-A:

Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de


computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e
com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: [...] (BRASIL, 2019).
42

A primeira Emenda da constituição norte americana, promulgada no século


XVIII, contém o Congresso de ferir seis direitos fundamentais às produções de leis,
assim sendo, tenta-se reduzir a agressão aos direitos fundamentais por leis
infraconstitucionais. Assim disserta a primeira Emenda Constitucional norte
americana (1791):

Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or


prohibiting the free exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of
the press; or the right of the people peaceably to assemble, and to petition the
Government for a redress of grievances (USA, 2019).

Em suma, o Congresso norte americano, ao aprovar novas leis, deve ter o


cuidado especial em não ferir, seis direitos fundamentais, considerados os mais
importantes daquela sociedade. São respeitados o livre exercício de religião, proibindo
ao Estado em criar a sua própria religião; liberdade de imprensa, de associação
pacífica, de reclamar ao governo acerca de atos ou descaso e por pedido formal,
solicitar reparação e de liberdade de expressão; sendo esta última, definida e clara
sobre o pensar e opinar, não dando direito algum à censura ou proibições.
De forma análoga, a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia em
seu artigo 10º, trata de liberdade de pensamento, de consciência e de religião, essa
norma explicita o direito à liberdade de escolher uma religião ou convicção, como de
expô-las, de forma pessoal ou coletiva, em público ou privado, por culto, ensino,
práticas e celebração de ritos. Na segunda parte deste artigo, transfere um certo poder
de recondução deste direito, a cada país membro sendo, “[...] O direito à objecção de
consciência é reconhecido pelas legislações nacionais que regem o respectivo
exercício”. Outro artigo da Carta, que este sim, corrobora mais profundamente com
nossa pesquisa é o 11º artigo, que assim descreve:

1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão. Este direito


compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber e de transmitir
informações ou ideias, sem que possa haver ingerência de quaisquer poderes
públicos e sem consideração de fronteiras.
2. São respeitados a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação
social (UE, 2000).

O texto em voga, mostra-se como uma normal muito flexível, até bem liberal,
contudo as legislações locais, tentam regular tal direito, para que não seja tão
desenfreado assim. França, Alemanha e Áustria tem leis bem definidas, que proíbem
43

por exemplo, a difusão de ideias nazistas e símbolos da suástica, como também a


negar que o Holocausto tenha existido. Ainda, alguns desses, procuram coibir a
exortação ao ódio, seja fundamentado em raça, crença, orientação sexual e alguns
ocorridos pontuais. Nestes casos é importante a prova intencional.
A Sharia (lei do Islã) proíbe terminantemente contrapontos e exposição de
imagens que vinculem ao profeta Maomé, sendo considerada blasfêmia, onde cada
país aplica a punição de acordo com a sua interpretação do Corão – Livro Sagrado do
Islamismo -. Em muitos países que a religião islâmica é maioria, vemos que exerce
uma grande influência e até poder absoluto sobre o Estado, controlando-o e ditando
como deve ser a política, economia e principalmente as produções e aplicações das
leis. Outrossim, a liberdade de imprensa é fortemente controlada, impedindo muitas
vezes ao exercício da profissão jornalística, de modo que nem a sociedade local, como
a global, acabam não tendo acesso às informações, que levam assim, a uma
ignorância intelectual, pois ocultam fatos e ocorridos, que podem colocar em risco a
segurança dos povos.
Por fim, no continente asiático também há países que apresentam algumas
censuras e proibições não declaradas. A República da China, um dos maiores países
do mundo, declara que tem amplas liberdades de imprensa, expressão, assembleia,
associação, procissão ou manifestação. Todavia, censura é uma rotina, como de se
associar a outra religião, que não seja o Budismo ou seitas locais, acesso irrestrito e
incontrolado a sites e aplicativos na internet, até as pesquisas nos “Browses” (sites de
pesquisas) são supervisionados. Para isso, a China criou genéricos de “Google”,
“Youtube”, “Facebook”, dentre outros sites e aplicativos de interação e
relacionamento, afastando a cultura ocidental o mais longe possível de sua sociedade,
apenas mantendo as relações comerciais, isso sim, interessa muito aos chineses.
Para o policiamento virtual chinês foram criados patrulheiros avatares (caricaturas
estilizadas de personagens) em estilo mangá (um tipo de desenho japonês de
personagens), estes são como vírus que invadem os computadores, celulares e
tablets, vasculhando tudo que as pessoas estão pesquisando, assistindo e até
comentando. A intenção é manter a sociedade em um padrão de uso da internet, de
forma que não invista contra os princípios estipulados pelo Partido Comunista Chinês.
Já a Índia, outra gigante do continente asiático, com mais de um bilhão de habitantes,
detentora da maior concentração de especialistas em tecnologia do mundo, traz em
44

sua constituição um texto bem democrático no que tange à liberdade de expressão,


em que todos os cidadãos têm direito à liberdade de discurso e de expressão.
Isso posto, temos a Internet como um veículo de comunicação, global e
poderosa. Por conseguinte, o seu uso, demonstra que as liberdades de pensamento
e expressão, ostentam um poder social, que vai além dos arcabouços legais, exibindo
até um descontrole, quando a exemplo temos “Hackers” (especialistas que
transformam novas funcionalidades em softwares e hardwares ou adaptam-nas às
outras realidades) e “Crackers” (especialistas que invadem sistemas informáticos
protegidos, com o intuito criminoso de quebrar a segurança), alguns grupos destes
últimos invadem sites e sistemas com o objetivo de disseminação de ideias
revolucionárias ou contrárias aos governos, entidades, personalidades e outros.
Assim, alguns países procuram ter um controle ditatorial sobre o uso da
Internet, quanto às liberdades de pensamento e expressão, deixando claro que isso
não garante o controle absoluto, pois a Primavera Árabe que eclodiu em 2011, por
meio de manifestações populares, em dezenas de países controlados pelo Islã, iniciou
no Iêmen, através das Redes sociais; outro exemplo são as invasões a sistemas
partindo da China, Coréia e demais países do continente. Conclui-se que, mesmo o
país sendo de regime ditatorial ou democrático, essa indústria bélica da comunicação
virtual, respeita as regras da tecnologia, podendo assim transpor restrições impostas.
45

4 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA DROMOCRACIA CIBERCULTURAL

Em tempos de civilização, quase que, com inerente tecnologia vital; inúmeros


termos vão surgindo com o propósito de identificar mutações sociais, onde após
formas de pensar e expressar, recriam um novo modo de viver. Um desses que não
é tão novo assim, pois nasceu na década de 70, preconizado pelo filósofo urbanista
francês, Paul Virilio. Sendo a Dromocracia, palavra com junção de dois conceitos;
“dromos”, do antigo grego, “[...] significa o lugar para correr (autódromo, velódromo,
hipódromo); correr com velocidade [...]”, a segunda, também de origem grega,
“cracia”, entendida como “[...] regime do povo. Tem-se então, a palavra utilizada por
Paul Virilio e Eugênio Trivinho” (ZUIN, 2018, p. 31).

A velocidade como valor a partir do advento da revolução política, não se


tratando apenas de produzir mais depressa mas sim, também de destruir
mais depressa.
A medida que a produção é suplantada pela produção da destruição,
percebe-se que a evolução da máquina de guerra é involução da humanidade
(VIRILIO, 1999, apud ZUIN, GÓIS, ALVES, 2018 p. 32).

A essência da Dromocracia traz um conceito de velocidade abstrata, de modo


que esta velocidade detém o poder de controlar a sociedade em suas interações,
pensamentos e atitudes. De forma contemporânea, esta linha conceitual, aponta que
não há mais, ou que perdeu a importância, o viver antiquado, lento, que tudo chegava
a nós e de nós partiam, com o tempo devido e necessário à época. Clarificando este
sentido, o que Virilio queria dizer, já desde 1977 é que o desejo de produzir mais, nas
mesmas 24 horas disponíveis, levou a grande parte da civilização global há uma ritmo
de vida, completamente antagônico ao início da civilização a até a era da
industrialização, porém, quando entramos na era da informação, verdadeiros saltos
temporais, que antes demoravam séculos a acontecer, perdeu-se a identificação
desse registro, pois praticamente todos os dias, nascem novas profissões, novos
softwares e aplicativos, como novos objetivos e metas de vida. A busca a contemplar
algo é tão grande, que o próprio indivíduo nem mesmo consegue decifrar o que o
satisfaça, atingindo assim a todos os cenários da sociedade. De forma intencional está
deixando de lado a “[...] a razão crítica e da orientação prática, importante para a
comunidade de comunicação”. Assim completa Zuin (2018, p. 32):
46

A dromologia que hora é apresentada considera que a velocidade é fator


principal do advento da revolução política que além de permitir o processo de
produção ser mais acelerado, ao mesmo tempo destrói esses processos em
proporções iguais ou até maiores.

O segundo termo, difundido pelo filósofo tunisiano Paul Pierre Lévy, a


Cibercutura, exprime o tempo cultural a partir da tecnologia no passado, presente e
futuro. Seja por meio do manuseio dos aparelhos tecnológicos, como também por sua
inserção em seu modo de viver.

A dromocracia cibercultural é, a rigor, um regime transpolítico - invisível como


a violência da velocidade - erigido no contexto de um regime político
tradicional e visível, a democracia (aqui tomada no sentido formal e abstrato,
em seu modelo tipicamente estatal, herdado do direito burguês). Nessa
perspectiva, a dromocracia cibercultural comparece, em palavras precisas,
como um regime eclipsado na dinâmica tecnológica da democracia
contemporânea (TRIVINHO, 2007, p.101).

Torna-se importante ressaltar a inferência dos termos mencionados, com


relevância no mundo Glocal, pois agem como força propulsora aos avanços
propostos. Entende-se por Glocal, global + local, a construção holística (“holos” em
grego – Todo) de uma cultural que visa a sustentabilidade. Na visão do sociólogo
polonês Zygmunt Bauman (Bauman, 2011, apud Lourenço, 2014, online), as fronteiras
nacionais não são mais um obstáculo, ou seja, o Global tem seus efeitos práticos e
definidos no local. Para ilustrar podemos dar o exemplo de uma pequena panificadora
da cidade de Porto Velho, estado de Rondônia, localizada na Amazônia brasileira. Em
seus produtos comercializados, a matéria prima manufaturada e os revendidos,
inclusive o uso de softwares e aplicativos são produzidos em muitos países. Porém,
sendo respeitadas as políticas, legislações e culturas locais, de maneira que sejam
adaptadas. Para Bauman (2011), nesta realidade, cai por terra o conceito de efeito
dominó (reação em cadeia), pois os estímulos ultrapassam territórios e independem
das causas originadas, mesmo que a causa seja de forma local, seu influxo pode ser
global. Segundo Trivinho (2005, apud, Zuin, Gois, Alves, 2018, p. 24):

Trata-se de um novo direito, que, por seu vínculo com a circulação da


informação, passa pela politização, visando “convertê-lo de valor
comunicacional socialmente importante em valor político prioritário de direito
social, coletivo”.
47

Com estas terminologias em ação, o Cidadão-pixel – termo criado pela


Professora e Doutora em Direito, Aparecida Luzia Alzira Zuin -, assim considerado o
cidadão que, assume um novo fenômeno corpóreo, onde se apresenta, “[...] flui, flutua,
navega ou trafega na rede com seus tentáculos múltiplos; ele pode estar aqui, agora,
alhures ao mesmo tempo, nesse espaço labiríntico”. Entende-se por “Pixel”,
fragmentações de dados binários que compõem uma imagem. Ou seja, a autora,
identifica a nova personalidade que cada ser humano se mostra, quando está se
relacionando em um ambiente digital cibernético. Já a presença desse cidadão-pixel
no glocal, carrega em si um fenômeno muito mais poderoso que sua identidade de
carne e osso, pois expande-se, penetrando em lugares jamais estado fisicamente, às
vezes, até intelectualmente,

“[...] haja vista que o espaço por ele navegado também é rizomático, sem
limites, muitas vezes escondido em algum ponto IP – Internet Protocol – cuja
tecnologia permite a comunicação padronizada entre computadores, mas,
rara vezes permite dizer que é ele de fato ou de verdade” (ZUIN, 2018 p. 29).

Confirma Zuin (2018, p. 29):

Não é mais no território físico-geográfico que o cidadão-pixel nasce, mas por


meio do seu computador, no seu ponto de endereço do IP. Nesse espaço IP
– ele vive, comunica, come, compra, consome, viaja, namora, casa-se,
divorcia-se, exercita sua liberdade de expressão etc., e até morre.

Esta nova vestimenta representativa da sociedade, está sendo muito


importante na evolução de várias ciências, pois é possível, em tempo recorde, obter
um “feed-back” de algum projeto público implantado ou a implantar, entender melhor
o que a sociedade compreende ou sente sobre determinado assunto etc., como
também a distribuição de informações, possíveis a atingir as mais variadas classes
sociais, em um momento específico; como um aplicativo de trânsito, que indica os
melhores caminhos, de comunicação social, que é possível se comunicar até com
grupos em comum, dentre outras coisas.

4.1 O uso das novas tecnologias como meio de expressão

Com a disponibilidade de acesso a um grande número de localidade e pessoas,


algumas ferramentas disponibilizadas foram cruciais para a facilitar a comunicação,
48

de forma que a liberdade de expressão começou aí, a ganhar força e dimensões


inimagináveis. No Brasil, em especial na década de 90, pós a década do Vídeo
cassete, Máquinas eletrônicas de escrever, “Pager’s”, sucessor dos “Bip’s” (aparelhos
portáteis de mensagens eletrônicos) etc.; com maior acesso a microcomputadores e
conexão à Internet, os e-mails (software de mensagens eletrônicas) vieram para
promover um grande avanço na velocidade das comunicações, pois foi possível além
de mandar mensagens a consumidores, empresas, colegas e familiares que residiam
distantes, transformaram-se assim em um poderoso recurso de comunicação entre a
sociedade a seus parlamentares, políticos e entidades públicas, com o intuito de
apontar problemas, reclamar direitos, como fomentar movimentos sociais que,
ganharam as ruas, formando assim um poder paralelo à imprensa e veículos de
comunicação, onde muitos desses, já se mostravam corrompidos pelo sistema político
e econômico.
Da mesma maneira que avançava a tecnologia, mais pontos de internets
alcançavam lugares inóspitos e sociedades desprovidas de igualdade de direitos e
capital, pois a regra de ouro da tecnologia é quanto mais se vende determinado
produto, seu custo vai reduzindo e mais consumidores são beneficiados. E assim,
softwares de comunicação em massa começaram a ser programados, difundidos e
mais pessoas descobriam o advento de se comunicar com pessoas de outras
nacionalidades e classes sociais, sem antes nunca estarem fisicamente frente a frente
e, nem de relacionamentos afins. Nessas salas de bate-papo, sejam corporativas ou
de entretenimento, já se falavam de tudo. Centenas de pessoas conversavam sobre
política, religião, crochê e bordados, aborto, sexo, economia e mais. Nascia aí a
maneira mais poderosa inventada pelo homem de expressar a liberdade de
pensamentos. E conforme mais pessoas compravam microcomputadores e
acessavam a internet, mais e mais pessoas, como em uma metamorfose ambulante,
cidadãos de carne, osso e dotados de consciência; como nuvens de gafanhotos,
gafanhotos digitais e virtuais, se uniam em prol de uma construção sociocultural, hoje,
pela cibercultura, convertendo-se em Sociedade digital que, com o poder propulsor da
Dromocracia, o cidadão-pixel é um ente, quase à par da sociedade figurada.
Então, com este novo Cidadão-pixel, armado por uma poderosa tecnologia
social digital e, com novas ferramentas, como o site/plataforma “Orkut”, que, como os
“Kibutz” (sociedade alternativa israelense, de poucos moradores, que além de
49

produzir a própria comida, pregam um novo conceito de sobrevivência igualitária e


democrática), criaram nessa, comunidades de amigos, religião e tudo o que era de
interesse mútuo do grupo. Um sentimento já era latente nos Internautas (nome dado
às pessoas que navegam pela rede mundial de computadores), a vontade de se expor
publicamente e que mais pessoas pudessem ter acesso aos seus pensamentos,
chegando ao ápice o desejo de liberdade de expressão.
Em 2004, como o lançamento de uma bomba atômica, nasce um site de
comunicação, intitulado “TheFacebook”, criado por quatro acadêmicos da Academia
de Harvard, em poucos dias, se tornou a maior plataforma de exposição pessoal de
todos os tempos, derrubando em poucos anos praticamente todos os seus
concorrentes, como o próprio “Orkut”, “Msn”, “Icq” e outros. Em 2008, o novo
“Facebook”, com “layout” (estrutura de interface) e funcionalidades novas e diferentes,
insere vários idiomas, para que seu acesso fosse facilitado em outros países, inclusive
o Português brasileiro. Em 2010, ganha sua notoriedade no Brasil, agora, não apenas
as pessoas conhecidas, amigos dos amigos e até aqueles vizinhos que não
conheciam poderiam ver a expressão de sentimentos e pensamentos dos usuários,
mas sim o mundo todo. Uma comunidade global, sem fronteiras, de classes e culturas
diferentes, com religiões e idiomas adversos; todos, juntos, interagindo e se
relacionado. Como um vírus em pandemia, espalhou-se e, a partir da chegada dos
“Smartphones” (aparelhos de telefonia celular, com funcionalidades ultra sensoriais),
verdadeiros microcomputadores, o acesso ao “Facebook” se multiplicou. Logo em
seguida, muitas outras plataformas foram criadas, com o objetivo de geração de
soluções diferentes, para agradar a todos os gostos. Em 2009, mais um boom nessa
era da informação, a criação daquele, que viria a ser o maior sistema de comunicação
entre pessoas no globo terrestre, “WhatsApp”, uma ideia capaz de fazer com que as
gigantes da telefonia, mudassem por completo seus planos de negócios e se
reinventassem, onde a comunicação por meio de ligações telefônicas, já não eram
mais prioridade dos consumidores, mas sim, a transferência de informações por meio
de dados, “bits”. Com a compra da mesma pela “Facebook Incorporate” em 2014, sua
potência tecnológica se amplia, ultrapassando a própria plataforma matriz, ultrapassa
o uso por mais de um bilhão de habitantes, onde todos os dias, trocam mais de cinco
bilhões de mensagens.
50

Aquilo que era um desejo intrínseco e latente ao ser humano, o direito à


liberdade de pensamento e de expressão, gerou uma necessidade que, já tem gerado
problemas dos mais diversos. No Brasil, 139,1 milhões de pessoas tem acesso à
internet e, grande parte desses passam cerca de nove horas ao dia conectadas, de
acordo com a pesquisa feita pela agência “We Are Social” e a plataforma inglesa
“Hootsuite”.
Toda essa facilidade de exposição, deu às pessoas, uma percepção que, ao se
expressarem na internet, por meio de redes sociais, como “Facebook”, “Twitter”,
“Instagram” e “WhatsApp”, uma naturalidade tamanha, que a possibilidade e a
facilidade de, ao expressar seus pensamentos e opiniões, podem gerar danos a
outros. Assim, aquela opinião acerca de algo que era compartilhado com amigos na
escola, partidas amadoras de futebol, na confraternização da igreja etc., foi entendida
que também poderia ser expressada nessas plataformas digitais. Mas, o que ainda
não era claro é o poder de alcance dessas ferramentas de comunicação. Aquela
fofoca, que somente alguns poucos amigos eram informados, nas redes sociais,
ganham proporções descomunais. Milhares e milhares de pessoas podem ver o que
você diz e mostra. Mesmo os filtros criados pelas plataformas, restringindo algumas
postagens, que possam atacar os direitos universais, ainda assim, muitas contendas
acontecem na rede. Na interpretação de Zuin (2018), os Operadores do Direito trazem
um grande desafio, assim descreve:

“[...] a partir dessa dimensão icônica-simbólica, procuram traduzir a


manifestação pansemiótica manifestada nesse ambiente para, com suas
peculiaridades, atender às exigências tais quase aquelas que existem no
mundo dos vivos e reais, [...]”.

O que se aponta é a dificuldade de atingir, assim como é alcançado o cidadão


do mundo real, com CPF – Cadastro de Pessoa Física -, este cidadão-pixel, que
muitas vezes se traveste de outras formas, algumas até inalcançáveis fisicamente,
como tecnologicamente. Confirma Zuin (2018):

Assim, fica instituído o desafio para a Ciência Jurídica de como mediar as


relações e ações nos links dos hipertextos dos cidadãos-pixel-glocal, a fim de
criar instrumentos jurídicos que possam lhe assegurar as mesmas garantias
dispostas nos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, porque as normas
jurídicas são sempre elaboradas para os cidadãos, na forma da lei, -
constituídos de carne e osso.
51

Tudo isso, de um lado os possíveis controles e até censuras e, do outro, o mau


uso, gerando um des(controle) social; vem gerando um desconforto social, jurídico e
político, que algumas medidas/direitos, tem sido implantadas com o objetivo de
equilibrar essa liberdade e ao mesmo tempo, proteção aos usuários ou atingidos por
esses. São Direitos até desconhecidos por grande parte da sociedade e ainda passam
por reformulações e adaptações, pois mesmo que o Judiciário os usem como
instrumento de justiça, são terminantemente dependentes da tecnologia e de seus
controles.

4.2 As redes sociais como mecanismos de danos

Ante o exposto, o cidadão age com velocidade comunicativa e gera


interferências globais em seu habitat local. Quando este está em ação nas redes
sociais, assumindo sua nova personalidade digital, por meio de comentários,
compartilhamentos e exposição de sentimentos acerca de determinadas pautas,
surge aí um ativista social, político, religioso, como diversas outras facetas, adotando
múltiplas causas, às vezes, entra em uma “Vibe” (gíria jovem que conceitua um
sentimento contagiante) que nem coaduna, mas por algum ponto específico, se acha
no direito de se expressar.
Estas manifestações se tornaram tão potentes que, veio ao conhecimento
popular, atividades de grupos terroristas; suicídios transmitidos ao vivo; além de
outras atrocidades; propagação de mentiras de quem quer que seja, principalmente
de celebridades, políticos e entidades, como também, até como forma de promover
encontros de interesses afins, como festas “Raves” (festas de música eletrônica ao ar
livre, podendo durar até dias) e Rolezinhos (termo que identifica encontros de
entretenimento, em local marcado por pessoas que se conheceram pela rede). Tal
uso, sem comprovação, ainda passando por investigações, podem ter influenciado
resultados eleitorais presidenciais na campanha eleitoral brasileira em 2018. Na
mesma situação, terminadas as investigações em março de 2019, o relatório
produzido sob o comando de Robert Mueller, procurador especial do Departamento
de Justiça, apresentou indícios de interferência russa nas eleições a presidente dos
Estados Unidos da América, nas eleições de 2016. Diz o relatório que os russos
começaram os ataques em 2014, primeiro de maneira inofensiva, onde por meio de
52

conteúdos comuns às pessoas, eram captados dados dos mesmos, levados a curtir
páginas reais do “Facebook”, que promoviam discussões políticas e sociais, além de
perfis falsos. Estas páginas e perfis, levaram a 120 milhões de pessoas engajarem
nos conteúdos de deforma espontânea. Estes traziam à baila, discursos
contestadores aos discursos dos políticos filiados ao Partido Democrata. Quando o
mesmo partido escolheu a ex-ministra Hillary Clinton, como candidata à presidência,
todo o foco virou-se à ataca-la. Até aí, com engajamento e interações voluntárias.
Porém, durante as prévias e eleições, duas outras ações foram efetivadas, talvez
tenham sido os golpes matadores. Uma ação “cracker” invadiu a caixa de e-mails da
candidata e tornou público, cerca de 20 mil e-mails, estes, arquivados em servidores
do governo, a então candidata foi apontada por ter colocado em risco a segurança
governamental, pois utilizou-se de e-mail oficial para questões particulares. E, como
ação final, foram usados robôs e “bots” para disseminação de “Fake News”. Donald
Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos da América do Norte, podemos então
dizer que a Rússia foi decisiva na vitória do mesmo e, na derrota de Clinton? Depende.
Para ilustrar, pois abordaremos logo abaixo, o candidato Trump, teve à sua
disposição, robôs e “bots”, que faziam milhares de combinações de textos, a partir de
uma única postagem, seria se um batalhão de “pessoas” trabalhassem, 24 horas por
dia, sete dias por semana; disparando torpedos de mensagens, com textos
formatados de acordo com o perfil social e ideológico, ou seja, dos usuários das redes
sociais, em especial do “Facebook”, leriam ou veriam conteúdos que mais
satisfizessem seus gostos pessoais. Em sua declaração, Muller aponta a participação
de Donald Trump nos ataques virtuais. De acordo com o sítio português Saponotícias
(2019, online), “Não acusámos o Presidente porque não é justo acusar um cidadão
que não vai ser chamado a tribunal”, sublinhou Muller, embora tenha deixado claro
“não ter determinado se o Presidente cometeu qualquer crime”.
Mas, por que acima descrevemos como resposta; depende; sobre a influência
cibernética na vitória ou derrota, como condição primordial para o resultado
alcançado? A eloquência das ações virtuais pode ser contestada, pois o resultado final
das eleições presidenciais americanas de 2016, apontaram a senadora Hillary Clinton
com pouco mais de 65 milhões de votos (48,2%) e Donald Trump por volta de 63
milhões (46,1%). O que realmente foi decisivo para a resolução foram os votos dos
delegados dos colégios eleitorais, nestes, Trump teve 304 votos e Clinton 227. Se
53

podemos então fazer um juízo de valor, comparando o poder das ações virtuais
obscuras e, a vontade do povo; quiçá haveriam possibilidades de diferenças entre os
votos, podendo ser maior ou menor, desequilibrando sobre maneira, os resultados
deferidos. Entretanto, ainda não há pesquisas que demonstrem os efeitos e
comportamentos das pessoas, que diante de intenso bombardeio de informações
sejam influenciadas a favor ou contra. Sendo assim, não há resposta plausível ainda.
Dentre esses meios disponíveis às ações ordenadas virtuais, as “Fake News”
– Notícias Falsas – vem se mostrando como eficazes na intenção de iludir,
demasiados conectados à Internet, sejam essas por “sites”, aplicativos, “softwares”
comuns, “sites” de buscas e por plataformas de redes sociais. É importante ressaltar
que este tipo de recurso, não reconhecido pelo jornalismo, pois se é uma notícia falsa,
não é uma notícia, seja sim, uma simples fofoca, duvidosa. Todavia, não pode ser
considerada como uma forma contemporânea de expediente de comunicação, visto
que desde os primórdios há a comprovação da existência dessas. Contudo, o uso de
forma mais intensa, sempre se deu por meio de interesses gananciosos de domínio
de um para com o outro. As Guerras, sejam elas de amplitude mundial ou territorial,
apossaram-se de blefes (simulações), travestidos como notícias, para oprimir o outro
ou fazê-lo mudar de ideia e opinião, para que assim sejam atingidos os planos
desejados. Adolph Hitler usava-se de “Fake News” para conquistar popularidade,
vendendo a ideia ao povo alemão que o nazismo levaria a Alemanha da época, ao
patamar supremo, como assim o era o antigo Império alemão. Outra estratégia nazista
era oprimir os outros povos de territórios que desejavam invadir, disseminavam
milhares de panfletos, com mensagens que descreviam que a cidade já estava sitiada,
que milhares de oficiais alemães estavam fortemente armados e em alerta,
aguardando apenas um comando de ataque para tomar o território à força e, que
abateriam todos aqueles que se opusessem, deixando a melhor opção, na verdade a
única, que se rendessem, saindo de suas casas somente com a roupa do corpo a
guardando nas ruas a chegada do exército. Assim fizeram com a Polônia, Dinamarca
e até Moscou, além de outras nacionalidades, jogando panfletos de aviões como o
“Heinkel”, criados por Ernest Udet, membro do Reich. Em Moscou, os panfletos tinham
os seguintes dizeres: Os seus aliados não o ajudam em nada. O objetivo era divulgar
uma supremacia fantasiosa do exército alemão, que por volta de 1941, já não tinham
tanto poder assim (BAKER, 2010, online).
54

Por conseguinte, as “Fake News” existindo como forma de comunicação desde


que o mundo é mundo, por que hoje, ganhou tamanha importância em discussões
congressistas e governamentais? O que ocorreu em sentido amplo, cujo qual,
expansiva e sem mensuração; a Internet potencializou ao ápice a propalação destas
pseudas notícias. Como verdadeiras ogivas nucleares, transportadas por mísseis
digitais, tendo como exposição a rede mundial de computadores, até aí, parece
controlável, pois quando falamos de Internet como meio de exposição, é entendido no
mundo digital, como site de notícias, “blogs” (sites de editoriais) e até os “browses”.
Mas, quando vamos para as plataformas e aplicativos, que também utilizam a Internet,
mas como meio de transporte, há uma disparidade de alcance. Pois a interação e
engajamento, mostra-se muito superior nas plataformas e aplicativos, do que os sites
comuns. “Sites” tem “Bounce Rate” (taxa de rejeição de uma página navegada) de
98%, já as Redes sociais a taxa é de cerca de 30%, a rejeição à navegação por
brasileiros. Esses dados mostram que as pessoas ficam mais tempo navegando nas
redes sociais e aplicativos, do que em sites. Outra pesquisa, aponta que o brasileiro
é a 2ª população mundial que mais tempo se mantém conectada à Internet, sendo
próximo de 10 horas ao dia (WE ARE SOCIAL AGENCY, 2019, online).
Contudo, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, com
dados da última pesquisa, informa que são 116 milhões de pessoas, em torno de
64,7% da população com acesso à Internet, tendo idade mínima de 10 anos. Isso é
um prato cheio para a difusão das “Fake News”, coisa bem aproveitadas por aqueles
que tem interesse nisso. Não obstante, grande parte das pessoas, compartilham
essas notícias falsas, por acreditarem que são verdadeiras, aumentando ainda mais
o alcance, pois os Algoritmos, entendem que aquela determinada postagem, que está
tendo um grande volume de “Likes” (aprovação por meio do conceito de curtida), como
também comentários de aprovação ou desaprovação. Para o sistema binário, quanto
mais pessoas interagem com aquela publicação (conceito denominado como
engajamento), mais pessoas devem vê-la e ter acesso à mesma.
Aproveitando-se dos números favoráveis à conexão na rede, equipes de
programadores, encontraram falhas nos sistemas das plataformas e criaram robôs
que se revelam a partir de perfis falsos dando o maior volume de publicidade, não só
às “Fake News”, mas agindo literalmente como um usuário comum, compartilhando,
curtindo e comentando (mensagens pré-programadas), impulsionando o alcance das
55

mesmas. São milhares de robôs atacando a uma postagem com mensagem


verdadeira ou “Fake News”, ou derrubando-a ou ainda também, enaltecendo-a. Mas
não só isso, podem atacar a honra de alguém ou entidade. Outra poderosa arma são
os “Bots” (robôs de troca de mensagens automáticas), onde as pessoas imaginam
estar trocando mensagens com outra pessoa, mas na verdade pode estar recebendo
e passando informações para um software pré-programado, que pode estar a serviço
de criminosos e, pior ainda, pode servir de repassador de informação falsa, sendo
coparticipante em crimes ou danos.
A tecnologia evolutiva e imparável, estando a serviço de obras criminosas ou
danosas e, ao bem comum, parece não ter limites. Obrigando a Ciências Sociais e até
Humanas a ficarem em estado de alerta. Todo esse poder, nas mãos erradas ou
inocentes e descontroladas, podem provocar um estrago de dimensões inimagináveis.
É incansável as pesquisas em desenvolver equipamentos ou ferramentas, uma
vez que, os investimentos são estratosféricos, em razão do mercado consumidor, apto
a comprar e consumir tudo que é produzido. Aproveitando essa era, com a produção
dos supercomputadores, em 2011 a empresa norte americana IBM, lançou o
“Watson”, que é mais do que uma estação de processamento, com inúmeros
computadores conectados, mas sim, uma plataforma de recursos cognitivos, ou seja,
aprende e apreende informações da mente humana, processando bilhões de
combinações e cálculos algoritmos. Sua estrutura está dividida em nuvem virtual de
processamento de dados (clound computing), utilizando centrais de processamentos
interligadas e separadas por localidades físicas, de modo que estejam distantes por
cidades, países e talvez até continentes. Seria muito vulnerável concentrar todo esse
poder tecnológico em um único local físico. Quando se acessa aos serviços
disponíveis, essas bases se conectam, se completam, interligam e trazem à sua tela
o que deseja. Mas o Watson, não está mais sozinho, além de concorrentes, a própria
IBM, já estreou aquele que pode ser o seu sucessor, “Project Debater”, preparado a
entrar em discussões em sites e redes sociais, como o objetivo de debater temas
complexos e aprender com as respostas e comportamentos dos humanos. Estas
potentes IAs – Inteligências Artificiais -, softwares capazes de apreender as
informações deixadas na internet pelos usuários comuns e, ficando aptas a pensar e
agir congêneres a esses, um mecanismo inimaginável, coisa só anteriormente
pensada em filmes de ficção.
56

Diante o exposto, aquele movimento ao final do século XX, que procurava


alertar os trabalhadores a se atualizarem, pois a Ciência, propagava que a mão de
obra seria substituídas por computadores, essa tendência, hoje fica mais evidente, em
razão de avanços tecnológicos abordados, mas não para por aí. Com muita euforia e
entusiasmo, em maio do corrente ano, pesquisadores anunciaram a criação de uma
nova e incrível tecnologia, capaz de ultrapassar, pelo menos a um ano luz, as demais
tecnologias de inteligência artificial disponíveis no mercado. A “OpenIA”, organização
sem fins lucrativos, com escopo em propagar os benefícios da inteligência artificial no
mundo, anunciou a criação do “software” GPT-2, apto a desenvolver textos
autônomos. A empresa detentora da tecnologia, não distribuiu os códigos chaves de
acesso ao programa, devido aos seus altos poderes destruidores e a sua distribuição,
facilitaria a conexão com outras tecnologias facilmente. Esse poder destruidor,
significa que, o GPT-2 é capaz de desenvolver textos narrativos de familiaridade aos
humanos, passando o sentimento que os mesmos foram escritos por redatores,
jornalistas, publicitários, professores e acadêmicos ou, humanos que discorrem uma
redação coerente. O grande detalhe desses textos desenvolvidos pelo “software”, são
completamente falsos, isso mesmo, “Fake News” da mais bem produzida e redigida.
Exemplificando, o GPT-2 une a Inteligência Artificial às “Fake News”. Isso gerou mais
um recurso de comunicação destrutiva, podendo gerar danos e crimes, denominadas
“DeepFakes” (falsificações profundas). Os especialistas já estão alertando a
comunidade internacional como devastador os efeitos dessa simbiose, mesmo em
mãos certas, pois o que pode ser certo para um, pode não ser para o outro. Basta
colocar um termo, para que seja criada uma narrativa, com o sentimento nostálgico,
de alegria etc., ele detectará o melhor a ser escrito com o alvo de atingir o maior
número de pessoas possíveis. Sua inteligência é capaz até de usar o discurso certo
de acordo com a localidade, cultura, religião e outras. Nos testes iniciais, esta
ferramenta recebeu 10 milhões de textos, onde sincroniza e combina todos esses. Já
existem também, outras tecnologias disponíveis, que não fica somente no campo de
textos, mas manipulam vídeos, áudios e imagens. Conseguem criar um vídeo de um
líder mundial, com um discurso declarando guerra outra nação, a partir da captura de
fotos, vídeos e voz da pessoa em entrevistas ou do que estiver disponível na web.
Como também, podem mandar mensagens com áudio, texto e vídeo, a bilhões de
pessoas. Essas tecnologias, que ainda passam por melhoramentos e, podem chegar
57

à perfeição do que conhecemos hoje, ou seja, enganar a nós mesmos; facilmente tem
a competência em declarar a terceira guerra mundial. Com uma simples mensagem,
um inofensivo vídeo, aquele costumeiro áudio ou fotos que recebemos diariamente,
automaticamente, autônomos, sem literalmente a presença humana, mas
influenciando humanos.

4.3 Direitos de proteção às vítimas de danos cibernéticos

Com todo esse poder bélico tecnológico, anteriormente levantado, apresenta


ao Direito e à sua aplicação positivada, quiçá, o maior desafio da história jurídica
mundial. Até porque, todas as nações estão passando por esta discussão de, como
proteger o cidadão e entidades públicas e privadas, mas também, não afligindo assim,
os maiores direitos fundamentais, de pensar e expressar. Como já relatamos, as
ditaduras decidiram controlar e censurar; adverso, às democracias que se esforçam
em conviver com toda essa força, que se mostra incontrolável, sem tolher os direitos
da sociedade.
Quanto à positividade legal, o Brasil, mesmo sendo um dos países com o maior
volume de normas legais existentes, como também em sua produção, vem tentando
fazer a sua parte para equacionar toda essa nuvem que abarca a sociedade. Na
pesquisa “The World Justice Project Rule of Law Index 2019”, que mede o Estado de
Direito nos cinco continentes, a partir de uma amostragem de 126 países, sendo
analisados nove quesitos, mas no cálculo geral entram apenas oito, ficando de fora a
dita Justiça Informal. Neste, o Brasil atingiu como média geral, 0.53 pontos (as
pontuações são de 0 a 1). Isso colocou o país na 58º posição mundial como uma
nação que mais aplica as leis; conquistando também a 4ª posição na América Latina,
logo atrás da Argentina. Entre os BRICs – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
-, nosso país ficou em primeiro lugar, empatado com a África do Sul.
De todo modo, mesmo o Brasil, ano a ano caindo nas posições do ranking de
Estado de Direito, ou seja, cada vez mais, o Estado vem pesando a mão com o
objetivo de controlar o cidadão, ou há um esforço em regular, com equidade e
isonomia os direitos e deveres de sua sociedade. O que fica claro é que pesa uma
mão controladora sobre os seus. Para se ter um parâmetro, em primeiro lugar na
58

pesquisa, a Dinamarca atingiu o topo do ranking com 0.90 pontos, estando em último
a Venezuela com 0,28, 126ª posição.
Segundo o constitucionalista Paulo Bonavides (2001, apud Gois, 2018), declara
que o poder da democracia está nas mãos do povo, “[...] deve ser o governo do povo,
para o povo [...]”.
Continua Gois (2018, p. 75):

Nas sociedades modernas, imensas e complexas é, entretanto, cada vez


mais distante o ideal de um governo que reflita a vontade do povo, sendo
comum o conhecimento de uma crise dos modelos de democracia
representativa hoje existentes.

Nessa corrente o Estado impõe o seu controle de maneira a oprimir algo, que
deseja proteger. Temos aí uma disparidade de desejos e pensamentos, de modo até
a ameaçar a Democracia. Segundo Amy Gutmann e Dennis Thompson (2004, p. 37,
apud, Gois, Zuin, Alves, 2018, p. 78):

A base moral do processo de fornecer razões é comum a diversas


concepções de democracia: as pessoas devem ser tratadas não como meros
objetos das leis ou como sujeitos passivos das governação, mas como
agentes autônomos que participam diretamente ou através dos seus
representantes do governo da sua própria sociedade.

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos assentida pela Assembleia


Geral da ONU – Organização das Nações Unidas -, em 10 de dezembro de 1948, em
seu artigo 19, assim institui:

Everyone has the right to freedom of opinion and expression; this right
includes freedom to hold opinions without interference and to seek, receive
and impart information and ideas through any media and regardless of
frontiers (USA, 2019, online).

O presente artigo da Carta, assinada e reconhecida, atualmente por 193


países, evoca em sua redação o direito irrestrito ao uso da liberdade de expressão de
pensamento, opinião e informação, não importando a nacionalidade, tipo de veículo
(mídia) utilizado, como também a reciprocidade em recebê-la de outrem.
Ora, se há múltiplos regramentos e normas que protegem este Direito
fundamental, inclusive medidas tecnológicas, como filtros utilizados pelas plataformas
59

de redes sociais, não são suficientes para tentar controlar os danos gerados pelo mau
uso da liberdade de expressão?
Durante a produção desta pesquisa, em especial no Brasil, ventila-se no
Congresso Nacional a implantação de uma CPMI – Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito -, intitulada previamente como a CPMI do “Cyberbullying” (ataques violentos
continuados ou não, em meio virtual, contra a honra da pessoa), que visa promover a
ideia, difundida pelo autor, o Deputado Federal Alexandre Leite (Democratas – SP),
de rastrear os responsáveis por “Fake News” (notícias falsas) nas eleições em 2018;
detratores e agressores que produzem “cyberbullying”, que geram danos
incontestáveis às vítimas; o aliciamento e orientação de crianças ao crime virtual; e
também; entender como se realizam as mesmas no âmbito tecnológico. Assim,
segundo Leite (2019, online):

Nas eleições de 2018, ficaram claras as interferências das “fake news”.


Tivemos empresas envolvidas, selecionando alvos políticos para serem
atacados com notícias falsas, proliferadas por meio de robôs. O escopo da
CPMI é descobrir quem operou e como operou.

A problemática de que o uso das Redes sociais sejam meramente


entretenimento e, sem que haja exposição de opiniões e agressões, são
atenciosamente levantadas por muitos países, de maneira efetiva e, em todos os
continentes. Para clarificar o distanciamento entre um Direito e outro, o Parlamento
Europeu, por meio da Diretiva 95/46/EC de 24 de outubro de 1995, definiu o que é e
quais são os dados pessoais, como também o processamento desses e o tratamento
dado aos mesmos. Como supramencionado, não atingiu os objetivos propostos, logo
com o advento das redes sociais, que se estendeu por todo o mundo, em 2016, o
mesmo parlamento, editou o Regulamento 2016/679 (UE), revogando o antigo. Esta
entendida como mais atualizada para acompanhar a evolução tecnológica e social,
revogando assim antiga. De acordo com Maldonado (2017) a nova Diretiva, “A
Comprehensive Approach on Personal Data Protection in the European Union”,
pretendida como padrão de salvaguardar os dados pessoais, de forma que dilucide,
sendo nominada pela Comissão como “The Right to Be Forgotten”. Um dos itens da
diretiva trouxe o Direito ao Esquecimento, àquele que deseja que seus dados pessoais
não sejam de forma alguma processados, arquivados e armazenados, fazendo com
60

que cai no limbo do esquecimento completo, na dimensão da Rede mundial de


computadores, como até de servidores. Assim demonstra Maldonado (2017, p. 99):

Esse direito garantiria, em tese, a possibilidade de que com base em mero


pedido do interessado, pudessem ser removidos dados pessoais, aqui
incluídas as mídias e os escritos lançados em plataforma ou redes sociais,
na medida em que o texto não restringiu ou especificou a natureza ou a
modalidade da informação.

Após processos judiciais na Europa, o site de buscas “Google”, o mais


acessado em todo o mundo, mesmo após impetrar recursos na Espanha, França,
Alemanha e outros, criou um mecanismo que, aquele cidadão europeu que não deseja
ter seus dados vinculados às informações na internet, invoque o Direito ao
Esquecimento, por meio de um requerimento online. Uma banca analisadora da
empresa analisará os pedidos e justificativas e decidir-se-á se os mesmos comportam
as diretrizes da empresa, do contrário, somente será possível por meio de ação
judicial. Como assim descreve Maldonado (2017, p. 109), “[...] Referida ferramenta
destinou-se a recepcionar unicamente as requisições provenientes dos países
integrantes da União Europeia, os quais se achavam abrangidos pela decisão judicial”.
No tocante ao Brasil, por meio do Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil
do Conselho de Justiça Federal (CJF) de 2013, o Direito ao Esquecimento foi
levantado como amparador ao artigo 11º do Código Civil Brasileiro (2002). Assim traz
o Enunciado, Tal normativa, expressou que a dignidade da pessoa humana deve ser
tutelada, na era da informação ao referido direito.
Objetivando evitar multas bilionárias, principalmente pela União Europeia, as
empresas vêm criando mecanismos – à exceção dos casos previstos em lei -, que
possibilitem um controle rígido dos conteúdos publicados em suas plataformas e sites.
Pois os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo
o seu exercício sofrer limitação voluntária que vem de encontro com os interesses
governamentais e sociais. Contudo, gigantes como “Google”, “Youtube”, “Facebook”,
“Instagram”, “Twitter” e “WhatsApp”, disponibilizaram recursos, onde o usuário pode
saber exatamente tudo que as plataformas tem de dados armazenados ao seu
respeito, podendo baixar um relatório completo, a partir de alguns simples cliques nas
configurações dos aplicativos.
61

Até esse tempo, demostra perfeição o Direito ao Esquecimento, com o objetivo


proteger dados privativos. Mas, ao buscar esse recurso jurídico, o paciente será
jogado no inóspito limbo do esquecimento eletrônico, nenhum tipo de busca de suas
informações serão passíveis de acesso em “browses” de busca, não mais haverá
indexação de informações pessoais entre os dados cadastrados, em qualquer
instituição que seja, nem nas oficiais governamentais, pois para acessar as
informações, como exemplo, o IRPF – Imposto de Renda Pessoa Física -, só é
possível, por meio desses “browses” de busca. Não há possibilidade de outra forma,
sendo prejudicial ao negócio dessas empresas, a criação de filtros com o propósito de
contemplar as pessoas isoladamente. Algumas correntes não entendem como um
direito, mas sim, um recurso a ser alcançado, a partir de decisão judicial. Devido à
complexidade da aplicação de forma técnica pelas empresas, além de gerar sérios
contratempos com quem o recebe, ou seja, o cidadão que recebe este benefício será
como um ser abduzido da face da terra, onde até para comprar um simples produto
como passagem aérea, bloqueios ocorrerão, em virtude do meio online que as
empresas usam. Inerente a essa problemática, outro direito que está sendo difundido
é o da Desindexação, onde, a ideia é que ao colocar o nome nos sites de busca,
determinado assunto, não aparecerá indexando ao nome de quem o tem. Parece mais
uma grande solução, mas não é. Quando publica-se uma notícia ou conteúdo na
internet, Algoritmos (procedimentos padrões que estruturam uma ação) agem
indexando essas informações à dezenas, centenas, milhares e até milhões de outras
informações, como uma teia, que se complementam e se auto sustentam na rede
eletrônica. Os mesmos se dão a partir de bilhões de combinações binárias (códigos
biconexos), que criam fórmulas associativas. O que tudo isso quer dizer, que um
simples texto, será trazido à tela, não por uma informação, mas por milhares de
“keywords” (palavras-chave). Sendo assim a desindexação é possível? Em partes.
Pois basta fazer uma busca mais apurada sobre o assunto em questão, para encontrar
detalhes e evidências que levem à constatação dos envolvidos na questão.
Não obstante, esses recursos judiciais, mesmo que ainda procurem ser
eficientes quanto ao controle e reparação de danos, via manifestações nas Redes
sociais; apresentam dificuldades por incomensuráveis motivos, que abordaremos
neste trabalho.
62

Importante ressaltar que a Lei 13.709/2018, nominada como LGPD – Lei Geral
de Proteção de Dados -, fomenta ainda mais a disputa hierárquica legal. Em seu artigo
7º e incisos, declara que “o acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e
ao usuário são assegurados os seguintes direitos: [..]”, em seus incisos contem a
inviolabilidade, salvo por decisão judicial e reparação de danos e; sigilo de
comunicações. Já no 22º, indica que, por meio de decisão judicial, pode-se requerer
que se ordene a entrega de dados de usuário a quem assim os tenha armazenado,
para uso probatório em processo cível ou penal.
É incontestável que as Redes sociais são poderosas ferramentas de
comunicação, que unem pessoas de ponto a ponto do globo terrestre que, sendo
usadas de maneira à construção social, podem colaborar para a evolução do bem
social e auxílio à sociedade, entidades e governos. A empreender em uma cultura
global, levando aos cidadãos a praticarem ações, que preservem por exemplo a
natureza; corroborem por uma sociedade mais justa e tolerante; a difusão de uma
economia mais igualitária entre povos e mais. Mas, quando há leis que visam
promover um controle e até censura; filtros controlados pelas plataformas digitais, sem
que sejam explícitos seus reais interesses e; desconstrução dos direitos
fundamentais, surge então a iminência de plausível ditadura sociocultural.
Nada obstante, os juízos “a quo” e “ad quem”, manifestam dificuldades em
responsabilizar os agressores, dado que existem grandes impedimentos, que criam
uma verdadeira barreira ao interesse de punir e educar os infratores. A primeira
grande dificuldade é conseguir detectar o agente agressor. Costumeiramente, são
criados perfis falsos nas plataformas com dados fictícios, de modo a identificar esse
agressor, exige além de conhecimento tecnológico superior, equipamentos
disponíveis a essa busca e captura. Sendo responsabilidade da segurança pública
dos Governos Estaduais, os investimentos na Polícia Civil, não contemplam em todo
a necessidade de aparelhamento dos laboratórios técnicos habituais, imagine então
os específicos em tecnologia. Seguindo, para implantação desses departamentos de
investigação tecnológicas ou delegacias especializadas seria necessário treinamento
e contratação de equipe técnica específica. Até o presente momento, das 27 unidades
da Federação, somente 15 tem pelo menos uma delegacia de crimes virtuais
instaladas e aparelhadas, ou seja, com 61% da população ativa na internet, por volta
de 116 milhões de pessoas, temos uma delegacia para cada sete milhões de
63

habitantes. Segundo a organização sem fins lucrativos Safernet Brasil, especializada


em receber denúncias de crimes cibernéticos, em 2018 esta recebeu e processou
128.332 denúncias anônimas, envolvendo 49.951 páginas de internet. Vale ressaltar
que, a entidade não recebe denúncias de calúnia e difamação, pois não estão no rol
internacional de crimes contra os Direitos Humanos, sendo ação pública e
incondicionada. Relevante também, que os dados apresentados invocam somente a
sites, não às redes sociais. No caso dos perfis falsos há uma grande dificuldade em
se localizar o IP do agressor, por motivos tecnológicos. Muitas vezes, vemos em
matérias jornalísticas as prisões de pedófilos, que usavam a internet para publicitar e
trocar entre si, imagens infantis criminosas, em grande parte, a investigações
transcorreram por dois, três anos ou mais. Não é possível no campo público investir
tempo e dividendos, para localizar o gerador do dano civil e, de acordo com o artigo
333 do Código de Processo Civil, atribui-se o ônus da prova àquela parte que quer
provar algo. A vítima de dano deverá apontar quem gerou o dano, a partir da rede
social. Ainda assim, sendo perfil falso, Robô, “Bot” ou até Inteligência Artificial, como
localizar o detrator ou agressor, com a falta de tecnologia e conhecimento técnico,
mesmo que haja rastro?
Há dificuldade também no judiciário, em exigir das plataformas digitais,
informações e dados daqueles que geraram o dano, porque as principais, estão
sediadas fora do país e seus servidores, distribuídos em alguns continentes. Em 2016,
o juiz Luis Moura Correia da Central de Inquéritos da Comarca de Teresina, capital do
estado do Piauí, determinou o bloqueio dos domínios (endereços de sítios de internet)
whatsapp.net e whatsapp.com, como os IPs vinculados. A medida visava “garantir a
suspensão do tráfego de informações de coleta, armazenamento, guarda e tratamento
de registros de dados pessoais ou de comunicações entre usuários do serviço e
servidores […]”. De forma que a plataforma “WhatsApp”, saísse do ar com urgência
em até 24 horas, em todo o território nacional. O motivo não foi revelado na decisão,
por tratar-se de sigilo judicial. Essa medida, vista pelo prisma do juízo “a quo”, reporta-
se a uma decisão normal e corriqueira, como bloquear bens. Tal decisão, deixou sem
comunicação pelo aplicativo, mais de 100 milhões de pessoas no Brasil.
Meses depois outro magistrado, Marcel Maia Montalvão, da justiça de Sergipe,
após determinar a prisão do vice-presidente da “Facebook Inc.” para a América Latina,
o argentino, Diego Jorge Dzodan, devido ao não atendimento ao decreto judicial, que
64

exigia informações de usuários; em seguida decretou também a retirada do ar da


plataforma “WhatsApp”. Mais duas outras vezes a justiça decretou o bloqueio do
aplicativo, sendo pela Justiça de São Paulo e Rio de Janeiro. Em abril deste ano, o
Ministro Alexandre de Moraes, ordenou bloqueio de redes sociais e “WhatsApp” de
críticos do Supremo Tribunal Federal. Essa discussão vais longe ainda, pois até
ministros da própria corte são contrários a esta posição. Muitas varas da Justiça, hoje
se utilizam da ferramenta para coleta de oitivas, apresentação de conversas e
mensagens como provas em processos judiciais e, até, intimações. Já está pautado
para sete de agosto de 2019, no Supremo Tribunal Federal, debater sobre se a Polícia
pode acessar dados de celulares de presos em flagrante, sem que haja decisão
judicial. O Supremo Tribunal de Justiça, entendeu que é ilegal o acesso a conversas
de “WhatsApp”, sem decisão judicial decretada. O cerne da discussão, como já
abordamos é o choque entre Constituição Federal e Legislação Infraconstitucional.
A geração de danos pelas redes sociais, dá-se a qualquer tempo. O caso do
assassinato da ex-vereadora carioca, Marielle Franco, teve divulgação nacional e
internacional, ganhando páginas de Jornais, “Sites”, programas de Tvs, Rádios e
principalmente as redes sociais. Como a democracia passa por uma polarização,
direita, esquerda, centro, liberal etc. Os mal-intencionados começaram a lançar “fake
news” (até a presente data não confirmadas como notícias verdadeiras) “post morten”,
gerando uma verdadeira batalha campal digital. De um lado aqueles que coadunavam
com as informações, do outro os que rechaçavam-nas e no meio, os neutros que
tentavam estabelecer um discurso justo. Os ataques à honra de Marielle, foram
descomunais. O PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) partido da ex-vereadora,
recebeu 15 mil denúncias de “fake news”, ofensivas e danosas sobre a política, dentre
essas, o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) que compartilhou a notícia falsa e
reforçou-a com comentários, também a magistrada Desembargadora Marília Castro
Neves do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, teceu comentários ofensivos, além
de muitas outras pessoas. Mesmo que a família ou o partido tentassem buscar a
justiça para reparar os danos gerados; como indiciar tantas pessoas assim, intimá-los,
instruir tamanho processo e muitos outros percalços processuais? Como também
retirar do ar uma quantidade imensa de agressões, que podem também ser
interpretadas como opinião a um ente público? Enfim, são muitas perguntas sem
65

resposta. Mas qual o ápice de um dano contra a honra, em especial pelas redes
sociais, podem chegar?
Em três de maio de 2014, na cidade de Guarujá, litoral de São Paulo, mais
precisamente no bairro de Morrinhos, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, foi
espancada por populares, sendo arrastada pelas ruas do bairro, levando-a à morte
dois dias após, por sofrer traumatismo craniano e demais ferimentos, decorridos do
ato criminoso e cruel. Contudo, o início de tudo isso se deu por meio de uma “fake
news”. Uma “Fanpage” (página segmentada do “Facebook”), intitulada Guarujá Alerta,
divulgou a imagem de um retrato falado de uma possível sequestradora de crianças,
que agia no Rio de Janeiro desde 2012, suspeita de assassinar crianças em rituais de
magia negra. O inquérito estava em andamento na 21ª Delegacia de Polícia Civil do
bairro de Bonsucesso. Logo após a publicação, um seguidor (usuário comum, com
perfil no “Facebook”), associou o retrato falado à uma antiga moradora do bairro onde
se deu o fato, com nome de iniciais D.S.P., conforme divulgação do site
diariodocentrodomundo.com.br (2014), que na data, estava residindo em outra cidade
do interior do estado de São Paulo. A partir daí deu-se início aos danos. Como a
página Guarujá Alerta, não seguia premissas como um órgão oficial de imprensa e
jornalismo - checando fontes, ouvindo os dois lados, buscando testemunhais etc. -,
manteve a postagem do seguidor, com a foto da antiga moradora e a seguinte
mensagem, “quase pegou uma criança do bairro, chegando a arranhar o seu braço, e
suplica para que as mães não deixem seus filhos no meio da rua”.
Os danos de divulgação não autorizada de imagem, consecutivamente dano
moral e demais – importante ressaltar que também houve crimes tipificados no Código
Penal Brasileiro -, gerados por parte da grande imprensa, além de sites e blogs,
motivadas pelo site Folha.com, que no afã de apresentar mais informações, além de
difundir a nomenclatura Bruxa de Guarujá, se baseou em discursos populares
expressados nas redes sociais. Em seu artigo Behs (2016), descreve que não só o
site, mas uma rede noticiosa, se apropriou de “[...] discursos materializados em outros
dispositivos como condição para legitimar o avanço do seu processo de noticiabilidade
em torno do boato da Bruxa de Guarujá [...]”.
No dia seguinte, Fabiane (assassinada), que estava com corte e cor de cabelos
parecidos com os de D.S.P. (mulher da foto publicada), ao sair de um comércio local,
carregando sacolas em uma mão e na outra sua filha de um ano de idade, teve sua
66

imagem confundida com a divulgada, e populares a atacaram, acreditando também


que a bebê no braço era mais uma vítima de sequestro e poderia ser assassinada
pela mesma. Então, consumou-se o crime. Como o ato foi gravado em vídeo, a Polícia
Civil conseguiu identificar cinco pessoas que foram condenadas judicialmente.
Ante o exposto, vertemos o poder da comunicação social a partir das redes
sociais em dois caminhos. Um, a voracidade social em interagir, integrar e engajar,
em propostas não contextualizadas em verdadeiras ou falsas e; outro, o que a
tecnologia autônoma, por meio de Inteligência Artificial, pode produzir e propagar em
informações, julgadas por um crivo não humano e com poder de impacto de
distribuição global, mesmo que esteja ou não em mãos criminosas ou tendenciosas.
Um boato, nos moldes antigos, uma fofoca, gerou danos a uma mulher e a outra,
assassinato brutal.

4.4 Liberdade de expressão não é liberdade para a agressão

No escopo da Dromocracia cibercutural, tempo e espaço, manifestam-se


incontroláveis e disponíveis. De acordo com estudo feito pela Organização da Nações
Unidas – ONU -, por meio de sua agência UIT – União Internacional de
Telecomunicação; após os 50 anos de criação da Internet, ainda há 48,8% da
população mundial, que não tem acesso a este meio de integração digital. São mais
de 3,7 bilhões de habitantes sem acesso à internet. No Brasil, segundo o IBGE, grande
parte desses acessos se dão por meio do sistema móvel, atingindo assim, 98% dos
acessos, de modo que na área rural são 41% e na urbana, 80% de usuários com
acesso à rede. Partindo desses dados são quatro bilhões de pessoas usando a
internet de forma contínua pelo globo. Algumas com mais eficiência, rapidez de
transferência de dados e qualidade de navegação, outras menos, a depender da
disponibilidade de tecnologia acessível. Porém, um dado surpreendente, que a
presente pesquisa revelou é que a África, demonstra-se como o continente com a
maior inclusão digital. Nos últimos 13 anos, o continente saiu da marca de 2,1% para
24,4% em 2018. Para o secretário da UIT, Houlin Zhao (2018), “[...] A revolução digital
não pode deixar ninguém desligado”.
O Poder que em épocas anteriores era medido pelo acúmulo de bens materiais,
tráfico de influências e um bom “network” (rede de contatos pessoais), hoje é
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quantificado e qualificado pela velocidade do controle à informação. Assim descreve


Trivinho (2007):

[...]este está nas mãos daqueles que tem o domínio cibercultural pleno.
Entenda-se por isso o domínio do objeto infotecnológico, produtos
ciberculturais compatíveis, status irrestrito de usuário da rede, capital
cognitivo necessário para operar estes três fatores, capacidade geral de
acompanhamento regular das reciclagens estruturais de objetos, produtos e
conhecimentos, com domínio privado pleno.

O autor (sic 1977) entende que, “[...] a velocidade vai se afirmando como idéia
pura e sem conteúdo, como puro valor, que ameaça ultrapassar até mesmo o valor
capital”. De tal modo, esse mecanismo nas mãos de muitos e com velocidade ultra
temporal e, sem controle social, tem aberto um buraco negro sociopolítico e jurídico.
Onde esse poder se transforma em uma indústria bélica de potencial social.
Sobremaneira, letal e ofensiva. Quando o uso da liberdade de expressão se intensifica
por meio de agressões gerando danos, alguns até violentos; transformam o agredido
impotente diante da propagação e dos danos. Tal uso, latente ao ser humano comum,
como o egocentrista e ou egoísta, dá-se em dimensão espacial cibercultural, muito
maior do que à agressão quanto à reparação. Ou seja, os usuários, também vítimas
da psicologia do medo, tomam para si as dores de quem agride e outros do ofensor,
publicizando ainda mais o dano. Segundo o conceito de medo de Dalgalarrondo
(2006, p. 109):

O medo não é uma emoção patológica, mas algo universal dos animais
superiores e do homem. O medo é um estado de progressiva insegurança e
angústia, de impotência e invalidez crescentes, ante a impressão iminente de
que sucederá algo que queríamos evitar e que progressivamente nos
consideramos menos capazes de fazer.

Destarte, simples pessoas, agricultores, profissionais liberais, aposentados,


professores, políticos e muitos outros, das mais variadas faixas etárias; armados do
uso da internet, em poucos caracteres e cliques, como mutantes, transformam-se em
cidadãos-pixel agressores, defensores e, ou, agredidos. Mas os alvos de danos não
são somente pessoas, órgãos, Governos, entidades, músicas, livros, coisas animadas
e inanimadas etc.
Segundo Silva (2018):
68

O discurso de ódio baseia-se na auto afirmação de superioridade do emissor


em relação a inferioridade de um indivíduo ou grupo (que pode ou não ser o
receptor), em virtude de sua raça, cor, etnia, nacionalidade, sexo ou religião,
com o objetivo de propagar, incitar, promover ou justificar o ódio racial, a
xenofobia, homofobia e outras formas de ódio baseadas na intolerância, que
podem culminar na violência ou discriminação de tais pessoas.

Em ataques ordenados, voluntários ou não, os discursos de ódio, deixam o


agredido em uma situação de extrema vulnerabilidade, de modo estático.
Impossibilitando a reparação à altura do dano e, que sejam cessadas definitivamente.
Como já apresentamos, algumas vezes com desfechos imensuráveis e até
criminosos. Isso, porque a liberdade de expressão, difundida no uso das redes sociais,
como poderoso veículo de comunicação, é entendida como um direito fundamental
não absoluto, com margem de interpretação em outras esferas legais, como
supracitados. Para Torres (2013, p. 70 – 71):

[...] a justificativa para o reconhecimento de limites ao direito de liberdade de


expressão deve basear-se, primeiramente, na coesão do sistema jurídico, no
propósito de viabilizar a coexistência de direitos aparentemente
incompatíveis. Em decorrência, presume-se, que a proteção constitucional de
um direito não pode estabelecer a impossibilidade de sua restrição quando o
abuso em seu exercício implicar a violação de outros direitos fundamentais.

Essa nova visão de poder, oriunda da Era da Informação ou Era Digital,


transforma a informação em uma das maiores armas, a serviço daqueles que a tem.
Conquanto, em analogia ao pós segunda-guerra mundial, compara-se a
contemporaneidade virtual como uma guerra fria. Um ambiente inóspito,
desconhecido para muitos, controlado por poucos. Forma que, conduz à custosa
possibilidade de maneira, a se identificar quem de fato é o real inimigo, pois bombas
nucleares verbais, escritas, em audiovisuais são acionadas de incontáveis bases.
Sendo disparadas de todas as partes do globo terrestre. Ora reais, ora falsas, de forma
a manifestar efeitos devastadores, no território ciberespacial individual, ou coletivo,
agindo diretamente na cibercultura.
Segundo Zafalon (2005), “[...] as conquistas se fazem pela rapidez, pela
velocidade (tendo papel definitivo o tempo de realização da ação) na forma de abordar
o inimigo que, pelo fato de ser surpreendido, é tomado pelo assalto e feito refém [...]”.
Diante disso, voltamos à atenção acerca da consciência de se viver na
realidade dromocrática e o que ela acarreta aos indivíduos. Se aqui estamos tratando
da dromocracia no sentido e/ou tendência, baseada no discurso da velocidade,
69

pressupomos que essa velocidade atinja, sobremaneira, a própria consciência do


indivíduo, a desfavor da consciência que relacionamos à democracia.
A consciência democrática passa a ser aquela que os sujeitos sabem e
reconhecem os próprios atos comunicativos, cientes das possibilidades interacionais
que podem alcançar por meio das mediações por eles sofridas. Nos termos
habermasianos é o princípio de uma comunicação livre, isto é, aquela que vincula em
situação de igualdade dois sujeitos numa rede dialogizante. Enquanto que o indivíduo
da consciência dromocrática muitas vezes se prolifera no ambiente virtual disposto a
não interceder, a rigor, em favor da comunidade de comunicação, como por exemplo,
aqueles manifestantes virtuais, sem identificação física, nominal, geográfica, etc.,
sejam simplesmente anônimos, muito embora se saiba das remotas possibilidades de
localização do IP da máquina utilizada.
Portanto, a primeira é a própria essência da interação humana e social, logo,
sem ela não acontecem os atos comunicativos. Na segunda, as tais liberdades são
representações sem reflexão própria, o que feriria o princípio do tratamento da pessoa
como fim em si, ou seja, tomando os termos de Fábio Comparato (2010, p. 36-37) não
é a mesma liberdade prevista no interior da primeira, porque a liberdade:

Implica não só o dever negativo de não prejudicar ninguém, mas também o


dever positivo de obrar no sentido de favorecer a felicidade alheia, que
constitui a melhor justificativa do reconhecimento, a par dos direitos e
liberdades individuais, também os direitos humanos à realização de políticas
públicas de conteúdo econômico e social.

Quando Habermas formulou a teoria da democracia introduziu um modelo


procedimental relacionada a uma ética discursiva, segundo a qual se busca constituir
como uma alternativa, tanto ao individualismo liberal, como ao consenso comunitário,
reunindo os elementos de teorias liberais, baseadas no interesse e, as teorias
comunitárias baseadas no bem comum.
De acordo com Zuin (2018), por outro lado, o objetivo da linguagem formatada
para o suporte internet pressupõe uma interação, interconexão, com o público, na
tentativa de resgatar ou promover o debate social que, por outros meios, não seriam
possíveis. Torna-se, portanto, necessário explorar esse modelo de projeto discursivo
defensor da temática políticas de liberdade de expressão ou, políticas de interação
social, haja vista que os termos chamam a atenção para o fato do reconhecimento da
70

internet como o ambiente propício para se estabelecer, de modo afirmativo, a


democracia ou a inclusão de gênero, raça, etnicidade, sexualidade, classe e outras;
como rede social, ou na melhor das intenções, ser o espaço da democracia
deliberativa.
Segundo Silveirinha citado em Paiva e Barbalho (2005), a relação estabelecida
entre as chamadas políticas de identidade ou política das minorias está, desde logo,
estabelecida pela coincidência da emergência das ideias de diferença e de
reconhecimento, com o nascimento da noção de democracia deliberativa.

O objetivo da democracia deliberativa constituiu-se, em alternativa, uma


forma de explorar as formas de diálogo democrático que possam transformar
as compreensões que os participantes têm de si mesmos, dos seus
interesses e dos interesses dos outros, e dessa forma criar as bases legítimas
para um consenso democrático em torno das reivindicações em questão
(SILVEIRINHA, apud, BARBALHO, PAIVA, 2005).

Nada obstante, Zuin (2018), entende que a democracia deliberativa, como base
ideal, atua transformada por decisões que legitimam à percepção daqueles que não
coadunam com esta, como também o processo deliberativo que auxilia a mudança. E
segue, “[...] Por outro lado, valendo-se das ideias de reconhecimento, devemos
procurar perceber a natureza da injustiça que os movimentos identitários contestam”.
Apresenta também que a teoria democrática, necessita elucidar a responsabilização
na deliberação, pois está interligada às teorias do espaço público.
Na verdade, prossegue a autora, a comunicação como proposta pelos
defensores infotécnicos aqui é entendida como comunicação midiatizada, isto é,
garantida pelos medias. No âmbito midiático, se a opinião pública cumprir as suas
funções tal como a sociedade tecnológica as entende, o cidadão se manterá
informado para que possa tomar as decisões e participar na dita esfera pública –
conhecida internet -. Vê-se aqui, um trabalho publicitário cuidadoso, com a
intencionalidade de inclusão dos diferentes sujeitos, cada qual representado no
espaço virtual dada a sua condição social: mulher, homem, negro, latino, americano,
asiático, estudante e mais. Esse modelo atende ao disposto constitucional Art. 5º - IX
“é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença” (BRASIL, 1988).
Contudo, a manifestação, mesmo sendo pela internet (especificamente pelas
redes sociais), a liberdade de expressão é entendida por conceitos distintos. Não há
71

uma única identidade. No conceito da Corte Suprema Norte Americana, existe a


liberdade negativa e o mercado de ideias, respaldada pela 1ª Emenda constitucional,
julga que em alguns casos, a liberdade de se expressar se sobrepõe a outros direitos.
O que levanta uma dúvida ao Direito Brasileiro, se é necessário mais leis para
controlar; regular e ou censurar; entender e aprender como se manifestam e tentar
fomentar uma nova consciência social de uso das Redes sociais e Internet.
Conforme Luna (2014, p. 235) no cerne do Direito estadunidense:

O mercado de ideias propõe a não intervenção estatal na determinação da


verdade ou falsidade dos argumentos, o que supõe que o Estado deve ser
neutro. Trata-se de uma posição que enfatiza a visão da liberdade negativa e
que desconfia da intervenção governamental em assuntos de liberdade de
expressão.

Se a Antropologia, Sociologia, Psicologia, Direito demais ciências sociais, não


chegaram à receita do bolo (o bom uso da comunicação e informação na Internet),
parece-nos que, em princípio, cabe à nova sociedade digital, compreender e vivenciar
de maneira responsável a Cibercultura, onde os encontros, transpõem o físico e o
espaço, deixando de lado, os encontros olhos nos olhos e, dando mais poder
isonômico à todas as classes e povos, pois nas ondas eletromagnéticas da Internet
não há fronteiras, muito menos tempo e espaço. Esta aparente abundância de
liberdades sem fronteiras, que encerra-se nesta Dromocracia Cibercultural, mas
sobretudo, nos Estados Democráticos de Direito; define o estilo de vida da sociedade
contemporânea (escrava tecnológica), de forma que Presidente da República e um
simples catador de latinhas das ruas de São Paulo acabam sendo detentores do
“mesmo poder” de opinar, interagir e vivenciar as mesmas experiências.
72

CONCLUSÃO

O trabalho em tela, mostrou-se de alta relevância para o autor, para que sejam
aumentados os seus conhecimentos acerca do Direito, como sua aplicabilidade a
partir dos anseios sociais, no uso das tecnologias vigentes. À comunidade acadêmica,
visou-se o fomento de pesquisas e apontamentos de forma que sejam analisadas
novas abordagens sobre a temática, procurando identificar resoluções que satisfaçam
os anseios sociais, jurídicos e políticos estatais.
A pesquisa proposta, apresentou os efeitos do uso da Liberdade de Expressão
nas Redes Sociais manifestadas por humanos ou tecnologias autônomas, na geração
de danos civis. Apontou também como a Justiça vem atuando frente ao desafio de
responsabilizar os potenciais agressores, assente aos avanços tecnológicos e ao
confronto das hierarquias legais do Direito brasileiro, Internacional e Comparado. Por
fim, discutiu a ética e abordagem da Liberdade de Expressão no Estado Democrático
Brasileiro perante o factível controle ou censura por parte do Estado.
Para tal, demonstrou-se conceitualmente a Liberdade de Expressão e demais
liberdades correlatas, usadas por usuários de redes sociais. Onde, devido ao poder
de propagação das plataformas digitais, seus efeitos construtivos e, ou, destrutivos,
alcançam proporções inimagináveis, promovendo muitas vezes danos irreparáveis.
Possibilitou a percepção, que os Direitos fundamentais garantidos pela
Constituição Federal são confrontados pela hierarquia infraconstitucional, como o
Marco Civil da internet, que se mantem como norma contrária e, o próprio Código Civil
Brasileiro, que interpreta ações, no âmbito da internet, que vem provocando diversas
correntes na Jurisprudência, onde os juízos “a quo” e “ad quem”, buscam alcançar a
justiça de forma a promover a paridade de armas. Não exaurida a temática, detectou-
se também lacunas no arcabouço legal, quando se pretende aplicar a
responsabilidade ao detrator e agressor, reparando assim o dano gerado.
No entanto, deixou-se iluminado a necessidade premente em discutir a matéria
de forma resolutiva, não somente a partir dos campos holísticos do Direito e
Tecnologia, mas também pelo amplo leque de Ciências Sociais. Pois no Estado
Democrático de Direito há uma linha tênue quando se pretende ter um Estado menor
com menos interferência estatal, possibilitando à sociedade as liberdades
salvaguardadas, de modo que, com um Estado maior, tem-se possíveis controles e
censuras, impossibilitando o gozo de Direitos.
73

No campo legal, conclui-se que, fundamentalmente que o artigo 5º da


Constituição Federal é ofendido em seus Direitos Fundamentais pelo Marco Civil da
Internet, quando o supra diploma exorta o anonimato no uso da Liberdade de
Expressão, o infra traz que só é possível a revelação de identidade, mediante decisão
judicial, coisa apresentada também pelo Código Civil. Ou seja, não se apresenta como
um Direito conquistado, mas sim, a conquistar mediante pedido e veredito judicial
favorável. Já no Comparado, viu-se que há uma zona cinzenta do Direito. Sem
fronteiras. Onde o tema está em voga em muitos Estados democráticos, que visam
ser liberais, mas ao mesmo tempo, não ignorar algo que evidencia um crescimento
incomensurável, quando mais pessoas estão tendo acesso à tecnologia. Deixando
claro que o regramento quanto à Tecnologia e o seu uso, ergue-se deveras
insuficiente, anos luz, dado a velocidade de novos adventos tecnológicos
apresentados à sociedade.
Contudo, não há uma solução clara e objetiva acerca dos apontamentos. Intui-
se que, com tudo que fora apresentado, o conceito que deve ser evocado e enaltecido,
em todos os parâmetros de análise e decisão, em torno do tema principal, deve ser o
“bom senso”. Bom senso no uso das redes sociais. Bom senso em expressar, opinar
e manifestar o que pensa. Bom senso em aplicar o Direito. Bom senso ao legislar.
Bom senso à criar e usar os recursos tecnológicos.
Ou seja, se desde o alfabetizar já for propagado o conceito de Bom senso, a
sociedade futura, já se construirá intelectualmente preparada para o bom convívio
com seus pares, mas que podem pensar em contrário, principalmente no ambiente
tecnológico social. Quanto àqueles que já se apossaram dos recursos e os usam de
forma des(controlada), mostra-se necessário um estudo aprofundado interdisciplinar
sobre o assunto. Porquanto, quando na sociedade já apresentam casos de Nomofobia
(fobia angustiante, causada por abstinência, por não uso de aparelho celular para se
comunicar) e uma dispersão pandêmica de uma pseudo sociopatia, no uso das redes
sociais e tecnologias, acende assim um alerta às medidas socioeducativas e
educacionais que potencialize o ideal de bom senso.
74

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