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DIREITO DO TRABALHO I - Notas de Aula – Aulas 01 e 02 – Prof.

: Ricardo Raemy Rangel


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Universidade Vila Velha - UVV


Curso de Direito

DIREITO DO TRABALHO I
NOTAS DE AULA – AULAS 01 e 02
Turmas: D6NA – 1º semestre/2013
Prof.: Ricardo Raemy Rangel

Tema: A VALORIZAÇÃO DO TRABALHO HUMANO E SUA PROTEÇÃO NAS ORDENS JURÍDICAS CONTEMPORÂNEAS

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1. A VALORIZAÇÃO DO TRABALHO HUMANO E SUA PROTEÇÃO NAS ORDENS JURÍDICAS CONTEMPORÂNEAS

O ser humano é um ser com necessidades de toda sorte, tanto físicas como espirituais (alimentos, vestuário, habitação, amor,

afeição, amizade, arte, religião, etc.). Para desenvolver sua vida, carece de um conjunto de bens, serviços e relacionamentos

capazes de satisfazer essas necessidades.

Em largos traços, pode-se entender o trabalho humano como a “ação” do homem sobre a natureza orientada à obtenção dos

bens e serviços necessários para a reprodução da vida individual e social.

Anote-se que, sendo o homem um ser constitutivamente social, essa tarefa se realiza conjuntamente com outros homens, que

compartem a mesma natureza e vocação. Com efeito, é por intermédio do trabalho que o homem se integra à sociedade e se

realiza enquanto ser humano. O trabalho é, portanto, fonte de expansão da vida e da dignidade inerente ao ser humano.

De forma bastante simplificada, pode-se dizer que o trabalho humano apresenta duas dimensões: uma objetiva, visualizada

como uma ação do trabalhador sobre o mundo exterior para a obtenção dos bens necessários à reprodução de sua existência;

outra, de natureza subjetiva, com reflexos no mundo interior do sujeito-trabalhador.

À vista dessa bimensionalidade do trabalho, não é suficiente para a sua realização que o homem obtenha sucesso unicamente

na dimensão objetiva ou exterior do trabalho, assegurando uma compensação econômica que propicie a aquisição dos bens e

serviços necessários à sua subsistência. Para sua realização, é necessário também que o homem extraia de seu trabalho uma

satisfação interior, de cunho psicológico, que lhe perrmita se sentir alguém portador da dignidade inerente aos seres

humanos.

Nessas condições, pode-se afirmar que, excepcionadas raríssimas situações, a ausência da possibilidade de realização de um

trabalho em condições satisfatórias à ‘pessoa-que-trabalha’, isto é, a ausência de obtenção de uma satisfação interior para o

sujeito-trabalhador, significa a impossibilidade de uma vida digna.

Por isso, a proteção jurídica do trabalho é essencial para a proteção e para o respeito à dignidade da pessoa

humana. Assim, uma ordem jurídica que não esteja intensamente vinculada ao mundo do trabalho está alheia à vida

concreta da maioria das pessoas integrantes da sociedade à qual ela é aplicável. Como ressalta Maurício Godinho DELGADO, a

construção das ordens jurídicas e das democracias ocidentais “fez-se em sintonia com a construção do próprio Direito do

Trabalho, atingindo seu clímax com o período de incorporação constitucional dos direitos fundamentais do trabalho, no pós-

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guerra na Europa Ocidental” (apud, WANDELLI, 2009, p. 319-320).

Vejamos a seguir, em largos traços, a proteção jurídica conferida ao trabalho humano: primeiramente, no plano internacional

e, em seguida, em nossa ordem constitucional.

1.1. Plano Internacional

1.1.1. Tratado de Versalhes

O Tratado de Paz de Versalhes de 1919 foi primeiro diploma internacional de relevo a reconhecer a importância do trabalho

nas sociedades ocidentais e a explicitar a necessidade das nações de estabelecerem mecanismos com vistas à proteção da

pessoa humana do trabalhador.

É até surpreendente que em um documento da natureza do Tratado de Versalhes (Tratado de Paz que pôs fim a I Guerra

Mundial) tenham sido incluídas disposições relativas à valorização e à proteção do trabalho. Segundo as anotações da doutrina

especializada, essa inclusão teria resultado da percepção dos Estados signatários de que as condições insatisfatórias nas quais

se desenvolvia o trabalho nas sociedades modernas poderiam ser o germe de grande inconformismo social, o qual, por sua

vez, poderia ser a causa de novos e mais graves conflitos entre as nações (DE BUÉN, 2009, v1, p. 202).

A iniciativa concreta de incluir no Tratado de Paz de Versalhes disposições relativas à proteção internacional dos trabalhadores

e também à criação de uma organização internacional (OIT – Organização Internacional do Trabalho) voltada

especificamente para esse propósito protetivo coube ao Presidente dos Estados Unidos da América, Woodrow Wilson.

As disposições sobre o trabalho constam da Parte XIII do Tratado (arts. 387 a 427).

No preâmbulo dessa parte do Tratado constam os seguintes “considerandos”, que bem traduzem a visão das partes

signatárias sobre a questão:

a) que a paz para ser universal e duradoura deve assentar sobre a justiça social;

b) que existem condições de trabalho que implicam, para grande número de pessoas, miséria e privações, e que o

descontentamento que daí decorre põe em perigo a paz e a harmonia universais;

c) que a não adoção por qualquer nação de um regime de trabalho realmente humano cria obstáculos aos esforços das

demais nações desejosas de melhorar a sorte dos trabalhadores nos seus próprios países.

Por sua importância para a compreensão do assunto, vale a pena transcrever as disposições do art. 427 do tratado em

comento (em “tradução livre” do autor destas notas):

“As Altas Partes Contratantes, reconhecendo que o bem-estar físico, moral e intelectual dos trabalhadores é de suma

importância do ponto de vista internacional, resolvem instituir um organismo permanente, associado à Liga das Nações,

para a consecução desse elevado propósito;

As Altas Partes Contratantes reconhecem que as diferenças de ambiente natural, de costumes, de oportunidade econômica e

de tradição industrial tornam impraticável o alcance imediato de condições uniformes de trabalho para todos. No

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entanto, persuadidas de que o trabalho não deve ser considerado meramente como um artigo de comércio, pensam na

existência de um conjunto de métodos, procedimentos e princípios para a regulamentação das condições de

trabalho que todas as nações devem se esforçar para aplicar, na medida em que o permitam as circunstâncias

encontradas.

Entre esses métodos e princípios, as Altas Partes Contratantes consideram que são de importância especial e urgente os

seguintes:

1. O trabalho humano não pode ser considerado como uma mercadoria nem como um atigo de comércio.

2. O direito de associação para a consecução de fins legítimos, tanto para os trabalhadores quanto para os empregadores.

3. O pagamento aos trabalhadores de um salário que lhes assegure um padrão de vida razoável, de acordo com a sua

época e país.

4. A adoção de uma jornada de trabalho de 8 horas diárias ou de 48 horas semanais, como um padrão a ser alcançado

onde ainda não seja atendido.

5. A adoção de um descanso semanal mínimo de 24 horas, que, sempre que possível, deverá coincidir com o domingo.

6. A erradicação do trabalho de crianças e a obrigação de estabelecer limites para o trabalho de jovens de ambos os

sexos, de modo a permitir seu desenvolvimento.

7. O princípio de salário igual, sem distinção de sexo, para trabalho de igual valor.

8. O tratamento equitativo para todos os trabalhadores que residem legalmente no país.

9. A organização de um serviço de inspeção do trabalho em cada país, a fim de assegurar a aplicação das normas de

proteção ao trabalho.

Sem proclamar que esses princípios e métodos sejam completos ou definitivos , as Altas Partes Contratantes

consideram que são apropriados para guiar a política da Liga das Nações; e que, se forem adotados pelas sociedades

industriais membros da Liga e assegurados na prática por um sistema adequado de inspeção, trarão benefícios permanentes

para os trabalhadores do mundo.”

1.1.2. Sistemas de Proteção dos Direitos Humanos

A valorização do trabalho humano nas ordens jurídicas contemporâneas pode ser percebida também pela simples leitura dos

principais tratados e declarações internacionais relativos à proteção dos direitos humanos.

Vejamos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas de 1948 – diploma que inaugura o atual sistema

internacional de proteção aos direitos humanos - afirma o direito ao trabalho como um direito humano fundamental e reserva

4 (quatro) de seus 30 (trinta) artigos ao desenvolvimento do tema.

Os artigos que nos interessam são os reproduzidos a seguir:

Artigo XXII. Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço

nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos

econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

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Artigo XXIII. 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis

de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual

remuneração por igual trabalho. 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória,

que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se

necessário, outros meios de proteção social. 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar

para proteção de seus interesses.

Artigo XXIV. Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas de trabalho e a

férias remuneradas periódicas.

Artigo XXV, 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a ele e a sua família, saúde e

bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à

segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em

circunstâncias fora de seu controle.

Conferindo maior concretização às disposições da Declaração Universal, o Pacto Internacional sobre os Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 especifica melhor o conteúdo desse direito humano ao trabalho.

Antes de empreendermos a leitura das normas do Pacto de 1966 que densificam o conteúdo do direito ao trabalho, deve ser

registrado que o que as Nações Unidas consideram como direito humano fundamental não é simplesmente o direito ao

trabalho (o direito de trabalhar), mas o direito ao trabalho em condições justas e satisfatórias à dignidade humana

da pessoa-que-trabalha (que compreendem uma remuneração adequada, jornadas não extenuantes, condições ambientais

que preservem a saúde e garantam a incolumidade física e psicológica do trabalhador, etc.).

Vejamos concretamente o entendimento das Nações Unidas sobre o que constituem “condições justas e satisfatórias de

trabalho”.

“Artigo 6º. 1. Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que compreende o direito que

têm todas as pessoas de assegurar a possibilidade de ganhar a sua vida por meio de um trabalho livremente escolhido ou

aceite, e tomarão medidas apropriadas para salvaguardar esse direito. 2. As medidas que cada um dos Estados Partes

no presente Pacto tomará com vista a assegurar o pleno exercício deste direito devem incluir programas de orientação técnica

e profissional, a elaboração de políticas e de técnicas capazes de garantir um desenvolvimento económico, social e cultural

constante e um pleno emprego produtivo em condições que garantam o gozo das liberdades políticas e económicas

fundamentais de cada indivíduo.

Artigo 7º. Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito de todas as pessoas de gozar de condições de

trabalho justas e favoráveis, que assegurem em especial:

a. Uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhores:

b. I. Um salário equitativo e uma remuneração igual para um trabalho de valor igual, sem nenhuma distinção,

devendo, em particular, às mulheres ser garantidas condições de trabalho não inferiores àquelas de que beneficiam os

homens, com remuneração igual para trabalho igual; II. Uma existência decente para eles próprios e para as suas

famílias, em conformidade com as disposições do presente Pacto;

c. Condições de trabalho seguras e higiénicas;

d. Iguais oportunidades para todos de promoção no seu trabalho à categoria superior apropriada, sujeito a nenhuma

outra consideração além da antiguidade de serviço e da aptidão individual;

e. Repouso, lazer e limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas pagas , bem como remuneração

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nos dias de feriados públicos.

Artigo 8º. 1. Os Estados Partes no presente Pacto comprometem-se a assegurar:

2.a. O direito de todas as pessoas de formarem sindicados e de se filiarem no sindicato da sua escolha, sujeito

somente ao regulamento da organização interessada, com vista a favorecer e proteger os seus interesses económicos e

sociais. O exercício deste direito não pode ser objecto de restrições, a não ser daquelas previstas na lei e que sejam

necessárias numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os

direitos e as liberdades de outrem;

b. O direito dos sindicatos de formar federações ou confederações nacionais e o direito destas de formarem ou de se filiarem

às organizações sindicais internacionais;

c. O direito dos sindicatos de exercer livremente a sua atividade, sem outras limitações além das previstas na lei e que

sejam necessárias numa sociedade democrática, no interesse da segurança social ou da ordem pública ou para proteger os

direitos e as liberdades de outrem;

d. O direito de greve, sempre que exercido em conformidade com as leis de cada país.

3. O presente artigo não impede que o exercício desses direitos seja submetido a restrições legais pelos membros das forças

armadas, da polícia ou pelas autoridades da administração pública.

4. Nenhuma disposição do presente artigo autoriza os Estados Partes na Convenção de 1948 da Organização Internacional do

Trabalho, relativa à liberdade sindical e à protecção do direito sindical, a adoptar medidas legistaltivas, que prejudiquem -- ou

a aplicar a lei de modo a prejudicar -- as garantias previstas na dita Convenção”.

No âmbito do sistema interamericano de proteção aos direitos humanos abrangido pela Organização dos Estados Americanos

– OEA, merece ser referido o Protocolo de San Salvador, tratado que complementa em matéria de direitos econômicos,

sociais e culturais a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica).

Nesse protocolo constam também várias disposições reveladoras da valorização conferida ao trabalho pelos países membros

da OEA, mercendo serem destacadas as seguintes principais:

a) direito ao trabalho, o que inclui a oportunidade de obter os meios para levar uma vida digna e decorosa por meio do

desempenho de uma atividade lícita, livremente escolhida ou aceita (art. 6º, 1);

b) dever de proteção imposto ao Estado no sentido de garantir a plena efetividade do direito ao trabalho ,

especialmente no que se refere à consecução do pleno emprego, à orientação vocacional e ao desenvolvimento de projetos de

treinamento técnico-profissional (art. 6º, 2);

c) direito à liberdade sindical (art. 8º, a);

d) direito de greve (art. 8º, b);

e) direito a condições justas, eqüitativas e satisfatórias de trabalho, os Estados-partes devem garantir em suas

respectivas legislações internas as seguintes condições mínimas (art. 7º):

e.1. salário mínimo - remuneração que assegure, no mínimo, a todos os trabalhadores condições de subsistência digna e

decorosa para eles e para suas famílias e salário eqüitativo e igual por trabalho igual, sem nenhuma distinção;

e.2. direito do trabalhador à promoção ou avanço no trabalho, para o qual serão levadas em conta suas qualificações,

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competência, probidade e tempo de serviço;

e.3. estabilidade dos trabalhadores em seus empregos, de acordo com as características das indústrias e profissões e

com as causas de justa rescisão dos contratos.

e.4. direito à indenização ou à readmissão no emprego nos casos de demissão injustificada;

e.5. direito à segurança e higiene no ambiente trabalho;

e.6. regras especiais de proteção para os trabalhadores menores, consistentes na: 1. proibição de trabalho noturno ou

em atividades insalubres ou perigosas para os menores de 18 anos; 2. proibição de todo trabalho que possa pôr em perigo

sua saúde, segurança ou moral; 3. subordinação da jornada de trabalho dos trabalhadores menores de 16 anos às disposições

sobre ensino obrigatório; 4. proibição de que o trabalho possa constituir impedimento à assistência escolar;

e.7. limitação razoável das horas de trabalho, tanto diárias quanto semanais.

e.8. direito à jornada de menor duração no caso de trabalhos perigosos, insalubres ou noturnos;

e.9. direito ao repouso, ao gozo do tempo livre, a férias remuneradas e à remuneração dos feriados nacionais.

A título de conclusão desse breve exame dos principais tratados e declarações internacionais de direitos humanos, pode-se

afirmar que as idéias fundamentais que podem ser extraídas dos diplomas referidos anteriormente são as seguintes:

1. que o direito ao trabalho é um direito humano fundamental;

2. que o conteúdo do direito humano fundamental ao trabalho não é só o direito ao trabalho “per si” (ou seja, o simples

direito de trabalhar), mas o direito ao trabalho em condições justas, eqüitativas e satisfatórias, ou seja, o “direito ao

trabalho decente ou digno”;

3. que o direito a um salário que assegure ao trabalhador e à sua família condições de subsistência digna e decorosa; que a

limitação razoável da duração diária e semanal do trabalho; que o direito ao repouso; que o direito a férias periódicas; que o

direito a condições de segurança e saúde no trabalho; que a liberdade sindical; e que regras especiais de proteção ao trabalho

dos menores constituem um patamar civilizatório mínimo que deve ser respeitado por todos os países.

4. que os Estados têm o dever de garantir, não só por meio de ações legislativas como também pela adoção de ações

materiais, a efetividade desse direito humano ao trabalho.

1.1.3. Direito Internacional do Trabalho e a Organização Internacional do Trabalho

Outro elemento demonstrativo da valorização do trabalho nas ordens jurídicas contemporâneas reside na existência de um

Direito Internacional do Trabalho e de uma organização internacional específica para o tratamento de questões relacionadas

ao trabalho e à sua proteção.

O Direito Internacional do Trabalho é um ramo do Direito Internacional Público que trata da proteção do trabalhador como

parte de uma relação laboral.

Segundo Arnaldo SÜSSEKIND, o Direito Internacional do Trabalho tem como finalidades:

a) universalizar os princípios de justiça social e, na medida do possível, uniformizar as correspondentes normas jurídicas;

b) incrementar a cooperação internacional visando à melhoria das condições de vida do trabalhador e à harmonia entre o

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desenvolvimento técnico-econômico e o progresso social;

c) estudar as questões conexas, das quais depende a consecução desses ideais;

A criação da Organização Internacional do Trabalho – OIT, em 1919 (Tratado de Versalhes), é sem dúvida o marco decisivo da

internacionalização do Direito do Trabalho.

Atualmente, a OIT é um centro de referência no mundo em matéria de emprego e de trabalho. As ações da OIT são múltiplas,

envolvendo desde a elaboração de tratados multilaterais em matéria de trabalho (as famosas “Convenções” da OIT), à

prestação de serviços de assessoria e cooperação técnica a países membros.

Sem dúvida alguma, o aspecto principal da atuação da OIT reside em sua atividade normativa, na elaboração das

denominadas “normas internacionais do trabalho”.

Em última instância, as normas internacionais do trabalho têm por escopo garantir que o desenvolvimento econômico se

mantenha centrado no objetivo de melhorar a vida dos trabalhadores e preservar a sua dignidade.

Como se verá em maiores detalhes no capítulo 7 infra, as normas internacionais do trabalho elaboradas sob os auspícios da

OIT constituem patamares mínimos de condições de trabalho que são estabelecidas consensualmente por todos os

países membros da organização.

Para se ter uma idéia do alcance dessa atividade normativa da OIT, basta referir que, até o final de 2009, haviam sido

elaboradas 188 (cento e oitenta e oito) Convenções (tratados multilaterais), envolvendo diversos aspectos do mundo do

trabalho (limitação de jornada, remuneração mínima, saúde e segurança no trabalho, trabalho forçado, proteção à

maternidade, idade mínima para ingresso em trabalho, liberdade sindical, discriminação no trabalho, políticas de emprego,

negociação coletiva, inspeção do trabalho, etc.).

Dese total de convenções, o Brasil ratificou (isto é, determinou o seu ingresso em nossa ordem jurídica) 96 (noventa e seis)

delas. Atualmente, encontram-se vigentes no Brasil 87 (oitenta e sete) Convenções da OIT

(fonte:www.mte.gov.br/rel_internacionais/quadro_OIT_ratificadas).

Em aulas posteriores (Fontes do Direito do Trabalho) discorreremos com maior aprofundamento sobre as normas

internacionais do trabalho elaboradas pela OIT.

1.2. Plano Nacional - Constituição Federal

Uma rápida visita a alguns dispositivos da CF/88 é suficiente para a percepção da valorização e da proteção que nosso

constituinte concedeu ao trabalho humano.

No dizer de WANDELLI (2009, p. 323), a Constituição brasileira tem um sólido plexo normativo que propicia a mais alta

hierarquização axiológica do trabalho, ao passo que contempla grande número de dispositivos que, em maior ou menor

medida, contemplam aspectos do direito ao trabalho, concretizando-o em normas específicas ou fortalecendo o seu âmbito

geral.

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O primeiro fundamento dogmático da valorização do trabalho e de sua proteção reside no Princípio da Dignidade da

Pessoa Humana (art. 1º, III), centro axiológico de nossa ordem jurídica.

À luz de nossa Constituição, a prioridade do Estado e dos poderes públicos (no campo político, social, econômico e jurídico)

deve ser sempre o homem, em todas as suas dimensões. Com efeito, a CF/88 colocou em segundo plano o enfoque

patrimonialista das relações jurídicas, concebendo a ordem jurídica como uma estrutura voltada ao bem-estar e ao livre

desenvolvimento da pessoa humana, que foi colocada no centro do sistema jurídico, como sua prioridade.

Para melhor compreensão da articulação do trabalho com o princípio da dignidade da pessoa humana, o leitor deve atentar

para o fato de que não é possível separar-se o trabalho prestado da pessoa humana que presta esse trabalho ( “pessoa-que-

trabalha”). A força de trabalho leva sempre com ela, de forma inseparável, a pessoa (o corpo e o espírito) do trabalhador.

Ainda não se inventou a fórmula mágica que permita a realização de um trabalho sem o comprometimento pessoal

(poderíamos dizer, corporal) do trabalhador.

Por força dessa impossibilidade prática de se separar o trabalho da pessoa trabalhadora, é que já no Tratado de Versalhes

deixou-se consignado que o “trabalho não pode ser considerado como uma mercadoria”. Pois, caso contrário, a própria

“pessoa-que-trabalha” seria convertida em um objeto ou artigo de comércio, o que constituiria, sem dúvida alguma, afronta à

sua dignidade humana.

Esse comprometimento da pessoa do trabalhador na execução de qualquer atividade laboral é que dá suporte, como se verá

no seguimento desse curso, a um disciplinamento diferenciado dos negócios jurídicos que tenham por objeto o trabalho

humano. Na verdade, o regramento jurídico diferenciado se justifica extamanente para a defesa de alguns interesses pessoais

do trabalhador (como a vida, a saúde, a honra, a intimidade, a liberdade de pensamento, a liberdade de associação, etc.) ante

a condições de intercâmbio no mercado de trabalho que possam afetá-los negativamente.

Vê-se, assim, que a proteção que nossa ordem jurídica confere ao trabalho repousa, em última “ratio”, na proteção à

dignidade da pessoa humana; é uma proteção concedida não tanto ao “trabalho em si”, mas à “pessoa-que-trabalha”

(CAVALCANTE, 2008, p. 52-54).

Outra demonstração da valorização que a CF/88 concede ao trabalho pode ser vista pela leitura do art. 1º, inciso IV, que

aponta como um dos 5 (cinco) fundamentos da República Federativa do Brasil (aqueles valores supremos sobre os quais a

república assenta) o “valor social do trabalho”.

O constituinte também revela seu apreço ao trabalho quando considera sua valorização como o fundamento da ordem

econômica.

No art. 170, caput, lê-se que nossa “ordem econômica é fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa; e

tem por fim assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social”.

Demais disso, o constituinte ainda arrolou como princípios normativos da ordem econômica, a redução das desigualdades

regionais e sociais (art. 170, VII) e a busca do pleno emprego (art. 170, VIII).

Anote-se que, José Afonso da Silva, ao interpretar o art. 170 em comento, consigna que a ordem econômica dá

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prioridade aos valores do trabalho humano sobre todos os demais valores da economia de mercado.

Mais adiante, ao tratar da ordem social, no art. 193, o constituinte novamente explicita a valorização que confere ao trabalho

humano, ao declarar, de forma categórica, que a ordem social tem como base o primado do trabalho e como objetivo o

bem-estar e a justiça sociais.

Ora, ter como base o primado do trabalho significa conferir primazia a esse interesse, significa colocá-lo em primeiro lugar, à

frente dos demais interesses.

Outra disposição constitucional reveladora da proteção ao trabalho e à pessoa-que-trabalha encontra-se no art. 100 que

disciplina a questão dos precatórios. O aludido artigo contém norma que outorga privilégio aos créditos de natureza

alimentícia, conferindo-lhes preferência de pagamento em relação aos demais créditos opostos à Fazenda Pública. Esclareça-

se que os créditos decorrentes das relações trabalho, titularizados pela pessoa trabalhadora, apresentam natureza alimentar

e, portanto, gozam da mencionada preferência.

A par das disposições já mencionadas, a Constituição dedica um capítulo inteiro, Capítulo II do Título II, aos Direitos Sociais

dos trabalhadores. Pela leitura das disposições que compõem o referido capítulo, percebe-se que o capítulo enumera, na

verdade, o rol dos chamados direitos fundamentais especificamente laborais, individuais (art. 7º) e coletivos (arts. 8º, 9º, 10

e 11) dos trabalhadores.

A simples leitura do “caput” do art 7º (“São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social”) revela que os direitos fundamentais elencados nos 34 (trinta e quatro) incisos do artigo

em comento constituem, na verdade, um conjunto mínimo de direitos; um “piso de direitos” que não pode ser reduzido,

mas pode e deve ser ampliado pelo legislador infraconstitucional.

Para a doutrina, o “caput” do art. 7º estabelece o denominado princípio de progressividade na melhoria das condições

sociais dos trabalhadores (ou princípio da vedação de retrocesso), a par da regra de solução de antinomias de prevalência

da norma mais favorável aos trabalhadores.

Por fim, visando perenizar o sistema de proteção ao trabalho instituído na CF, há a disposição do § 4º do art. 60 inviabilizando

que o constituinte derivado apresente propostas de emenda constitucional tendentes a abolir os direitos e garantias

fundamentais dos trabalhadores previstos na Constituição (observe que os arts. 7º a 11 integram o Título II – Dos Direitos e

Garantias Fundamentais).

Pela conjugação das disposições constitucionais comentadas acima, exsurge a conclusão de que o constiuinte nacional houve

por bem assegurar aos trabalhadores um “direito fundamental à proteção legal”. No dizer de CAVALCANTE, há na CF/88

uma norma ampla e geral de proteção ao trabalhador, que ostenta “status” ou natureza jurídica de direito fundamental (2008,

p. 69).

Aduza-se que a associação dessa conclusão a alguns elementos da moderna teoria dos direitos fundamentais traz inúmeras

consequências de ordem prática para o operador jurídico. Por ora, para não nos alongarmos em demasia, anotemos somente

duas delas.

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Uma das principais conquistas da dogmática dos direitos fundamentais reside no desenvolvimento da chamada dimensão

objetiva dos referidos direitos. Segundo VIEIRA DE ANDRADE, citado por CAVALCANTE (2008, p. 56), a dimensão objetiva

“faz ver que os direitos fundamentais não podem ser pensados apenas do ponto de vista dos indivíduos, enquanto faculdades

ou poderes de que esses são titulares, antes valem juridicamente também do ponto de vista da comunidade, como valores ou

fins que essa se propõe a perseguir”.

Dessa visão objetiva dos direitos fundamentais como valores ou fins a serem perseguidos pela comunidade, podemos extrair

duas conclusões importantes para os nossos propósitos:

a) a proibição de qualquer disposição legal, de qualquer ramo do ordenamento jurídico, contrariar, sob pena de

inconstitucionalidade, o propósito de valorização e de proteção do trabalho desenhado pelo legislador constituinte (veja a esse

respeito o art. 186 do CTN e o art. 649, IV, do CPC).

b) todas as disposições legais relativas ao trabalho devem ser interpretadas em conformidade com essa norma ampla e geral

de proteção ao trabalho.

A par disso, se considerarmos que em um Estado Democrático de Direito como a República Federtiva do Brasil uma das

funções principais dos direitos fundamentais relaciona-se com os chamados “deveres de proteção”, não pode haver dúvida

de que o Estado brasileiro (e os poderes públicos de modo geral) têm o “dever” de prestar proteção ao trabalho e aos

trabalhadores.

De acordo com CAVALCANTE (2008, p. 61), o Estado brasileiro tem um “compromisso constitucional de cuidar da dignidade

da pessoa-que-trabalha e de zelar pela eficácia de cada um dos direitos trabalhistas contemplados na Lei Maior, inclusive em

termos de política pública, tanto que está também entre os objetivos da República brasileira a busca do pleno emprego (art.

170, VIII)”.

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Sintetizando o que se expôs ao longo desta seção, conclui-se que o trabalho é um interesse superlativamente

valorizado tanto no plano jurídico internacional como no plano nacional.

No entanto, não obstante o status axiológico superior desfrutado pelo trabalho nas ordens jurídicas atuais, não se pode deixar

de comentar que, no caso do Brasil em particular, a simples observação do cotidiano revela a larga distância existente entre a

escala de valores albergada em nossa Constituição e as práticas vivenciadas diariamente no mercado de trabalho.

Esse divórcio entre os ideais perfilhados na Constituição e a realidade fática do mundo do trabalho no Brasil não deve

desanimar o operador jurídico da área trabalhista. Ao revés, esse distanciamento só revela a necessidade e a

indispensabilidade de uma maior e mais eficaz intervenção jurídica para que se promova a valorização do trabalho e da

dignidade da ‘pessoa-humana-que-trabalha’ no seio de nossa sociedade.

Aprofundar a discussão do assunto em classe

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Curso de Direito - Universidade Vila Velha – UVV 10 de 10

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