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ATELECTASIA
Etiologia
A principal causa de atelectasia aguda ou crônica em adultos é obstrução
brônquica intraluminal, freqüentemente causada por tampões de exsudato
brônquico viscoso, tumores endobrônquicos, granulomas ou corpos estranhos.
Distorção ou estreitamento brônquico também podem produzir atelectasia, bem
como compressão extrínseca por adenomegalia, tumor ou aneurisma e
compressão pulmonar por líquido ou ar na pleura (por exemplo, derrame pleural,
pneumotórax) e deficiência de surfactante. O surfactante, uma mistura complexa
de fosfolipídeos e lipoproteínas que recobre os alvéolos, reduz a tensão da
superfície e contribui para a estabilidade alveolar. Danos aos pneumócitos
produtores de surfactante, a carência de proteínas plasmáticas inibitórias, a
presença de mediadores inflamatórios e a possível incorporação dos
componentes do surfactante à fibrina polimerizante (durante a formação da
membrana hialina), podem interferir na produção e eficácia do surfactante. Estes
fatores podem promover a atelectasia em condições tão diversas como na
toxicidade por O2, drogas ou produtos químicos, edema pulmonar, síndromes
da angústia respiratória do recém-nascido e do adulto.
Fisiopatologia
Após a obstrução súbita de um brônquio, o ar dos alvéolos periféricos é
absorvido pelo sangue circulante causando a não aeração e retração pulmonar
dentro de poucas horas; o pulmão pode contrair-se ou o colapso poderá ser
completo se não houver infecção. Nos estágios iniciais, o sangue perfunde o
pulmão não aerado, com conseqüente hipoxemia arterial. Se a hipoxia tecidual
e capilar resultarem em transudação de líquido e edema pulmonares, os espaços
alveolares enchem-se de secreções e células, evitando o colapso completo do
pulmão atelectásico. A distensão do pulmão circundante não envolvido
compensa parcialmente a perda de volume. Contudo, nos casos de colapso
extenso, o diafragma pode se elevar e a parede torácica se achatar e o coração
e mediastino podem desviar-se para o lado afetado.
Diagnóstico
O diagnóstico geralmente é feito pelos achados clínicos somados à evidência
radiológica de diminuição do tamanho pulmonar (indicado pelas costelas
retraídas, diafragma elevado; traquéia, coração e mediastino desviados para o
lado afetado e hiperdistenção do pulmão não afetado) e de uma opacidade sólida
e não aerada. Se apenas um segmento estiver afetado, a sombra é triangular,
com seu ápice direcionado para o hilo. Quando pequenas áreas estão afetadas,
a distensão do tecido em volta provoca-lhes uma aparência curiosamente
discóide, particularmente na atelectasia do lobo inferior subsegmentar. O lobo
inteiro pode estar afetado (atelectasia lobar). Enquanto o lobo perde ar, as
fissuras interlobares são deslocadas e o lobo torna-se densamente opacificado
conforme os brônquios, vasos sangüíneos e linfáticos são unidos. Os achados
radiográficos exatos dependem de qual lobo está afetado e como as outras
estruturas compensam a perda de volume. As vistas pósteroanterior e lateral
ajudam no diagnóstico.
Profilaxia
A atelectasia maciça aguda é melhor combatida pela prevenção. Visto que
bronquite crônica preexistente e fumo aumentam o risco de atelectasia pós-
operatória, deve-se encorajar a interrupção pré-operatória do fumo e medidas
para melhorar a toilete brônquica. Devem-se evitar agentes anestésicos de longa
duração e os narcóticos devem ser usados com moderação após a cirurgia, visto
que deprimem o reflexo da tosse. No fim da anestesia, os pulmões devem ser
mantidos aerados com uma mistura ar-O2, uma vez que o N2 precariamente
absorvido melhora a estabilidade alveolar. Não se deve permitir que o paciente
se deite numa mesma posição por mais de 1h e ele deve ser estimulado a tossir
e respirar profundamente; a deambulação precoce é importante. O mais eficaz
é usar uma abordagem combinada: encorajando a tosse e a respiração profunda,
juntamente com o uso de nebulização com broncodilatadores e aerossóis
hídricos ou solução fisiológica para liquefazer e facilitar a remoção das
secreções, bem como aspiração traqueal quando necessária. Os valores dos
mucolíticos na prevenção ou tratamento da atelectasia, ainda não estão
comprovados. A respiração com pressão positiva intermitente (IPPB),
espirometria de incentivo (na qual um dispositivo simples é utilizado para
encorajar manobras inspiratórias voluntárias máximas sustentadas [3 a 5
segundos]), com fisioterapia (percussão, vibração, drenagem postural e
respiração profunda), podem ser úteis. Para ser eficaz ao máximo, cada
modalidade deve ser utilizada apropriadamente junto com as medidas
convencionais. Percussão torácica no paciente pós-operado pode na verdade
aumentar o risco de atelectasia se aumentar a dor e a imobilidade muscular.
Outras medidas preventivas incluem a pressão expiratória final positiva (PEEP)
– um sistema que mantém a pressão na faixa de 5 a 15cm H2O – nos pacientes
sob ventilação mecânica e pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP)
administrada, por uma máscara facial oclusiva ou um cateter nasal, contínua ou
intermitentemente por 5 a 10min a cada 1 ou 2h.
Tratamento
Atelectasia aguda – A causa da atelectasia aguda (incluindo colapso pulmonar
maciço agudo pósoperatório) requer a remoção da causa de base. Quando se
suspeita de obstrução mecânica, tosse ou aspiração e uma tentativa de 24h com
medidas respiratórias e fisioterapias vigorosas, incluindo PEEP ou CPAP, podem
proporcionar alívio. Se essas medidas falharem ou quando o paciente é incapaz
de cooperar com tais medidas, deve-se realizar broncoscopia de fibra óptica.
Uma vez que a obstrução brônquica esteja estabelecida, a terapia é dirigida para
a obstrução e para a infecção geralmente presente. Através de broncoscopia,
freqüentemente podem ser removidas tampões mucosos ou secreção espessa
e o pulmão envolvido se reinflará, porém deve-se continuar a fisioterapia torácica
vigorosa e outras medidas anteriormente mencionadas. Se houver suspeita de
aspiração de corpo estranho, a broncoscopia deverá ser realizada prontamente;
a remoção do corpo estranho pode exigir o uso de um broncoscópio rígido.
Pacientes com atelectasia devem deitar com o lado envolvido para cima para
promover drenagem da área afetada (drenagem postural), receber fisioterapia
apropriada e serem estimulados a tossir. Subseqüentemente eles devem ser
estimulados a se mover de um lado para outro e respirar profundamente. O uso
supervisionado freqüente (cada 1 a 2h) de IPPB ou um espirômetro de incentivo
podem ajudar a produzir respirações profundas. Se a atelectasia ocorrer fora do
hospital, um antibiótico de amplo espectro (por exemplo, ampicilina 500mg VO
ou 1g por via parenteral cada 6h ou 50 a 100mg/kg ao dia em doses fracionadas
cada 6 a 8h em crianças) deverá ser dado no início se houver achados clínicos
e laboratoriais de infecção ou se as circunstâncias clínicas forem fortemente
sugestivas de infecção. Uma cefalosporina de 2ª geração, um macrolídeo novo
(como a azitromicina ou a claritromicina), ou o trimetoprim-sulfametoxazol
também são escolhas possíveis. Em pacientes hospitalizados e seriamente
enfermos a terapia antimicrobiana deverá se dirigir aos patógenos locais
conhecidos, de acordo com seu perfil de suscetibilidade a drogas. A dosagem
no idoso pode precisar de ajuste e para os pacientes com história de doença GI
ou comprometimento renal ou hepático grave. Se um patógeno específico é
subseqüentemente isolado do escarro ou secreções brônquicas, o antibiótico
deve ser modificado de acordo.
Atelectasia crônica
Quanto mais tempo o pulmão permanecer com atelectasias, mais provavelmente
se desenvolverão alterações destrutivas, fibróticas e bronquiectásicas. Visto que
a atelectasia secundária usualmente torna-se infectada independentemente da
causa da obstrução, deve-se dar um antibiótico de amplo espectro (por exemplo,
ampicilina ou tetraciclina ou outros, baseando-se nos resultados do Gram e
culturas) quando o volume e a purulência do escarro aumentam. A ressecção
cirúrgica do segmento ou lobo atelectásico deve ser considerada,
particularmente quando o paciente sofre infecções respiratórias incapacitantes
recorrentes ou hemoptise recorrente a partir da área afetada. Quando um tumor
é a causa da obstrução, seu tipo celular e extensão, a condição geral do paciente
e sua função pulmonar determinarão se a obstrução pode ser melhor aliviada
por cirurgia, radiação ou quimioterapia. Em casos selecionados, a terapia com
laser tem reduzido eficazmente a obstrução por lesões endobrônquicas.