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Introdução1
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Este texto representa um primeiro esforço de análise dentro de um projeto mais amplo, preparado
pelo Nepo e pelo Nesur da Unicamp. Neste sentido, a presente análise já se beneficia das reflexões
realizadas para a elaboração do referido projeto (Dinâmica Intrametropolitana e Vulnerabilidade
Sociodemográfica nas Metrópoles do Interior Paulista: Campinas e Santos), que foi apresentado
para a Fapesp.
do país, definindo-se por taxas expressivas de crescimento populacional e
pela periferização do crescimento físico-territorial.2 A formação da periferia
imediata de Campinas, que se iniciou na década de 1970, articula-se aos ex-
pressivos fluxos migratórios oriundos da sede metropolitana, cujo processo
de expansão vê-se reproduzido além de seus limites geográficos. Na verdade,
em um contexto metropolitano, os limites político-administrativos, embora às
vezes importantes para explicar certos processos, na maior parte das vezes
acabam sendo puras abstrações ou arbítrios para aqueles que pretendem
conhecer os caminhos da população dentro deste espaço maior que é a região
metropolitana.
A expansão físico-territorial, desdobrada a partir de Campinas, assenta-
se na dinâmica da expansão horizontal, que produz espaços descontínuos, com
ocupação rarefeita, principalmente nas direções sudoeste e sul, absorvendo
progressivamente porções dos municípios vizinhos. Este tipo de expansão
urbana é, em grande medida, engendrada pelas características do parcela-
mento do solo para fins urbanos e também resulta do impacto das políticas
públicas setoriais, como a de transporte, bem como do caráter da legislação
urbanística de cada um dos municípios metropolitanos que acabam tendo
implicações na ocupação diferencial dos subespaços que, em grande medida,
baseia-se nas discrepâncias do preço do solo. Esse processo tem um paralelo
em várias das cidades menores da região metropolitana, onde o sistema
rodoviário e o dinamismo econômico-regional são vantagens comparativas
que propulsionam o crescimento. A ocupação territorial resultante, então, é
a soma da expansão horizontal do município-sede com a das outras cidades,
formando o tecido urbano irregular mencionado acima.
Não obstante o caráter metropolitano destes fenômenos, percebe-se
que todos estes elementos reproduzem-se ou são reflexos do que ocorre no
âmbito intramunicipal. No caso do município de Campinas, suas áreas ou ve-
tores de expansão, em geral, coincidem, em termos de direção, com os prin-
cipais movimentos de desconcentração demográfica para outros municípios,
o mesmo ocorrendo com a sua diferenciação socioespacial, fato que torna
seu estudo um elemento fundamental para melhor delinear-se a problemática
metropolitana.
Parte desta problemática já foi discutida em estudos anteriores, como
os de Cunha e Oliveira (2001) e Hogan et al. (2001). Pretende-se, neste tra-
balho, discutir e apresentar uma nova forma de analisar a heterogeneidade
espacial apresentada pelas famílias e domicílios do município. Assim sendo,
a partir do uso do conceito de vulnerabilidade social, procurar-se-á avançar
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A Região Metropolitana de Campinas, composta por 19 municípios com cerca de 2,4 milhões de
habitantes, foi criada pela Lei Complementar n° 870, de 19/6/2000.
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O padrão horizontal de crescimento urbano, com a expansão desordenada da mancha urbana,
recebe, em inglês, a denominação urban sprawl. Ver Chen, 2000; Fulton et al., 2001; The Southern
California Studies Center, 2001.
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Ver Baeninger, 1996.
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É praticamente o mesmo tipo de ocupação que ocorreu durante o início da década de 70, na cidade
de São Paulo, descrito por Kowarick, 1983.
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Infelizmente, por razões operacionais, não foi possível estimar o crescimento demográfico dos
setores censitários para o período 1991-2000; contudo, pode-se considerar que o quadro obtido
para o quinqüênio 1991-1996 reflete muito bem a tendências observada na cidade.
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1001 e 2000 (Tabulações especiais, Nepo/Unicamp); FSEADE
(saldos migratórios.
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Refere-se à população de 15 anos e mais economicamente ativa.
No primeiro item deste capítulo, uma das questões que se buscou en-
fatizar foi o desafio de definir vulnerabilidade social tendo em vista o caráter
multifacetado desse fenômeno, a natureza dos dados disponíveis (KAZTMAN,
2000), bem como as dificuldades de se apreenderem, através de um único
indicador, os riscos que caracterizariam a situação de vulnerabilidade.
De maneira a contribuir para o debate sobre o tema e propor formas
de captar o conceito em questão, acredita-se ser possível identificar, mesmo
que preliminarmente, as áreas nas quais se localizariam as populações mais
vulneráveis – aqui chamadas zonas de vulnerabilidade –, levando-se em conta
as características obtidas pelos censos demográficos.
Tendo em vista a impossibilidade de contar com informações do Boletim
da amostra para setores censitários individualizados, esta análise baseou-se
integralmente em um nível espacial intermediário, as chamadas “áreas de
Capital físico:
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Uma vez que parte dos indicadores propostos pressupõe o acesso aos microdados do Boletim da
amostra do Censo 2000, fica descartada a possibilidade do uso dos setores censitários, uma vez que
para este nível espacial o acesso às informações da amostra não está permitido pelo IBGE. Assim
sendo, optou-se pelo uso das “áreas de ponderação” que se referem a agregados de setores para
os quais o dado do boletim da amostra está disponível.
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É importante frisar que se tem consciência da debilidade de alguns dos indicadores utilizados
para captar as dimensões desejadas; contudo, dentre as possibilidades existentes e as limitações
dos dados censitários, os índices sugeridos parecem ser os que melhor refletem as dimensões que
pretendem representar.
Capital social:
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As “cargas fatoriais” correpondem à correlação da variável com o fator, ou seja, a partir delas
é possível intepretar o significado do fator. Já a variabilidade explicada corresponde ao poder do
fator em explicar a variabilidade total dos dados, ou seja, quanto maior este valor, mais segurança
pode-se ter em substituir todas as variáveis por aquele fator. Por isso, em alguns casos, foi preciso
optar por dois, uma vez que apenas um deles não alcançava uma representação aceitável da
variabilidade dos dados.
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Para facilitar a análise, os scores fatoriais foram padronizados de forma que todos variassem entre
0 e 1, facilitando assim sua interpretação.
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Este procedimento (cluster analysis) agrupa as observações (no caso, as áreas de ponderação)
em função dos valores assumidos por cada uma destas unidades nas variáveis consideradas nas
análises – no caso, os scores obtidos nos cinco fatores resultantes da análise fatorial –, tratando
de mostrar os agrupamentos mais prováveis tendo como base a “distância” existente entre estas
unidades, que, matematicamente, seria dada pela distância entre os pontos no espaço de cinco
dimensões (desde que são cinco scores para cada unidade espacial).
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000. Tabulação especial e elaboração do mapa Nepo/
Unicamp.
Mapa 3
Fator 2 – Capital físico por “áreas de ponderação”
Campinas, 2000
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000. Tabulação especial e elaboração do mapa Nepo/
Unicamp.
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000. Tabulação especial e elaboração do mapa Nepo/
Unicamp.
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000. Tabulação especial e elaboração do mapa Nepo/
Unicamp.
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000. Tabulação especial e elaboração do mapa Nepo/
Unicamp.
Tabela 3
Valores médios dos fatores, por agrupamentos
Município de Campinas, 2000
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000. Tabulação especial e elaboração do mapa Nepo/
Unicamp.
A Tabela 3 mostra, além disso, que espaços tão distintos como parte
da região central (grupo 3) e a região sudeste (grupo 1) compartilham ca-
racterísticas semelhantes quanto aos fatores 1 e 2 relativos ao capital social.
O mais interessante a notar, neste exemplo, é que, considerada em conjunto
com os outros fatores, esta coincidência não é suficiente para aproximá-los,
uma vez que arranjos domésticos alternativos e o acesso a recursos advindos
do trabalho podem ter implicações distintas para os estratos mais abastados
(no centro, ver fator 1 do capital físico), se comparados àqueles extratos de
renda mais baixos (localizados na periferia).
O que se pode dizer então é que, não obstante seja possível identificar
situações distintas em termos do grau de vulnerabilidade, especialmente en-
tre os casos extremos, como o grupos 1 e 4 e o grupo 5, a classificação aqui
apresentada está longe de representar um gradiente claro e inequívoco de
situações de vulnerabilidade na cidade. Por seu caráter multifacetado, esta
noção exige uma análise dos três componentes que permitirá uma melhor
avaliação das dificuldades encontradas em cada uma das unidades espaciais
de análise.
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Ver, neste livro, o artigo de Carolina Flores. Segundo ela, para o caso do desempenho escolar, o
“efeito de bairro” está associado ao pressuposto de que “o espaço afeta os resultados individuais
das crianças, por meio de um processo da socialização institucional”.
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Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo. Seu objetivo principal é
monitorar a qualidade do sistema de ensino, subsidiando as tomadas de decisões da Secretaria
do Estado de Educação. Em termos dos resultados apresentados, detectou-se que a porcentagem
média de acertos das escolas estaduais de ensino fundamental de Campinas, no Saresp 2000, foi
de 45,10% de acertos, com desvio padrão de 4,99%. Esta média foi utilizada para classificar as
médias apresentadas pelas escolas.
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000. Tabulação especial e elaboração do mapa Nepo/
Unicamp.
Considerações finais
Referências bibliográficas