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Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

PORTUGAL. VISÃO 2015


CONTRIBUTO PARA O QUADRO DE REFERÊNCIA ESTRATÉGICO
NACIONAL (QREN)

NOTA INTRODUTÓRIA

No exercício das suas competências e na sequência dos trabalhos desenvolvidos no


contexto do Plano Nacional de Desenvolvimento Económico e Social para 2000-2006, o
Departamento de Prospectiva e Planeamento iniciou, em 2004, uma reflexão sobre a
estratégia para o País com horizonte 2015, tendo em consideração os desenvolvimentos
entretanto verificados a nível nacional e mundial, nas vertentes geoestratégica, energética,
económica e social. Esta reflexão foi, entretanto, acelerada face ao lançamento dos
trabalhos de elaboração do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) para a
programação dos Fundos Comunitários para 2007/2013.

No desenvolvimento dessa reflexão, que conduziu à elaboração do presente documento, o


Departamento de Prospectiva e Planeamento teve o privilégio de beneficiar da opinião,
conhecimentos e experiência de um vasto conjunto de técnicos e especialistas
conceituados, aos quais expressa o seu reconhecimento.

A Visão 2015 − para a qual, à partida, foi definida uma opção clara no sentido de não
construir um documento “completo” (exaustivo) e “redondo” (sem pontos de alavancagem)
− constitui, assim, um contributo para o QREN e para a definição das prioridades e opções
dos programas públicos de médio/longo prazos – de índole sectorial, horizontal ou
territorial – fornecendo, simultaneamente, um enquadramento que se deseja útil para as
decisões dos agentes privados.

Identificar onde queremos que Portugal esteja em 2015 é essencial para sabermos que
situações e bloqueios temos que ultrapassar, para definirmos os eixos centrais de
actuação e para seleccionarmos as áreas prioritárias de intervenção.

A consensualização de uma Visão Estratégica constitui uma etapa crucial no processo de


decisão relativo à estruturação dos programas públicos de desenvolvimento. Permite

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também estabelecer coerência e sinergias entre os diferentes programas, criando, assim,


condições para a aplicação mais eficientemente dos recursos disponíveis.

Com este documento, da sua inteira responsabilidade, em que, para além da construção
de uma estratégia se avança para a identificação de acções prioritárias que a concretizem,
o Departamento de Prospectiva e Planeamento espera dar um contributo, ainda que
modesto, para a concepção de uma trajectória sustentável de prosperidade e coesão,
mobilizadora da vontade de todos os Portugueses.

1. PRINCÍPIOS DE BASE

Esta Visão Estratégica tem subjacente um conjunto de princípios de base que estiveram
na sua génese e que lhe conferem uma vocação e identidade próprias.

Neste sentido, ela assume-se como:

◆ Uma Visão Estratégica com um horizonte temporal suficientemente “distante” para


que a atenção e os recursos se centrem em questões estruturantes e decisivas para
o futuro do País, mas suficientemente “próximo” para evitar níveis excessivos de
abstracção e generalidade.

◆ Uma Visão Estratégica que funcione como factor de mudança, permitindo fazer
escolhas e privilegiando a tomada de decisões.

◆ Uma Visão Estratégica que se revele capaz de ser apropriada e adoptada por um
número significativo de actores da sociedade portuguesa, e que se insira num
processo mobilizador de vontades.

2. SITUAÇÃO DE PARTIDA E DESAFIOS

Portugal enfrenta um sério problema de crescimento sustentado por resolver, sem o qual
a convergência real com a UE não será retomada em termos satisfatórios. Sem
crescimento sustentado não há meios que suportem um desenvolvimento sustentável que
não comprometa o futuro das novas gerações. Um crescimento sustentado exige
aumentos de produtividade significativos com criação simultânea de empregos, o que,
numa pequena economia aberta, só é possível com uma profunda transformação na
"carteira de actividades mais expostas à concorrência internacional" em direcção a
actividades com maior valor acrescentado incorporado e com maior dinâmica de
crescimento no comércio e investimento internacionais. Sem aumentos mais fortes de

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Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

produtividade, Portugal não pode inserir-se numa trajectória de melhores remunerações


sem pôr em causa, a prazo, o nível de emprego.

Portugal, fruto da dinâmica dos preços relativos actualmente dominante na economia,


bem como do padrão de distribuição de riscos no investimento, tem vindo a canalizar o
investimento dos principais actores empresariais locais para o imobiliário (residencial,
turístico, comercial e de escritórios), para a distribuição, para as indústrias de rede que
servem o mercado interno e para os sectores de utilidade pública que o Estado vai abrindo
à iniciativa privada, pouco contribuindo para a diversificação da oferta de bens e serviços
no mercado internacional (com a excepção eventual do turismo).

Portugal, detém uma economia assente numa alta proporção de micro, pequenas e
médias empresas, apresentando muitas delas uma fraca sustentabilidade a prazo e baixa
capacidade de inovação e reconversão. O peso das despesas de investigação e
desenvolvimento, em especial do sector privado, é diminuto em relação ao PIB.

Portugal, ainda que se caracterize actualmente por taxas de emprego relativamente


elevadas, detém uma alta taxa de precaridade e enfrenta já problemas sérios de
sustentabilidade, induzidos, nomeadamente, pelas reestruturações económicas e pelas
deslocalizações em curso e potenciais, a que se alia a um baixo nível de qualidade e
produtividade do trabalho. O desemprego de longa duração e o desemprego dos jovens,
designadamente de elevada qualificação, detém um forte e crescente peso no desemprego
global.

Portugal, perspectiva já sérios desafios de envelhecimento demográfico e alterações


das estruturas familiares. Dado o expectável declínio da população em idade activa é
necessário promover uma aproximação ao trabalho baseada no ciclo de vida
acompanhada por uma modernização do sistema de protecção social (incluindo,
pensões e cuidados de saúde), que garanta a respectiva adequação social,
sustentabilidade financeira e resposta às necessidades decorrentes da mudança.

Portugal encontra no nível de habilitações e de qualificações da sua população activa um


dos principais obstáculos a um crescimento sustentado, que para ser ultrapassado, exige
uma melhoria significativa do sistema de educação e formação, com efeitos no longo
prazo, e uma aposta concentrada na aprendizagem ao longo da vida aberta a todos que
contribua para uma maior coesão social, bem como para a dinamização e sofisticação das
actividades mais expostas à competição internacional, aposta que deverá ter efeitos no
curto e médio prazos.

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Portugal apresenta um elevado nível de desigualdade na distribuição de rendimento e tem


acumulado graves problemas de pobreza e exclusão social, os quais incidem em dois
subgrupos particularmente vulneráveis: por um lado entre as crianças e os idosos, e por
outro a população em idade activa, quer desempregada com baixo nível de qualificações
e, mesmo, na empregada com baixos níveis de qualificação. O risco de persistência na
pobreza é pois elevado.

Portugal, não obstante o défice de crescimento verificado, tem apresentado um modo de


crescimento particularmente intensivo em energia e delapidador de recursos, com
destaque para o modo de crescimento urbano, que coloca na ordem do dia não só a
intensidade do crescimento como a qualidade do desenvolvimento. Além disso, tem
manifestado alguma incapacidade para aproveitar o seu potencial de energias renováveis.

Portugal, para ter um crescimento sustentado no futuro, tem que rever seriamente o seu
modelo de gestão dos solos e o seu padrão de crescimento urbano; estes contribuíram, em
período recente, para que as actividades baseadas na edificação passassem a apresentar
uma maior atractividade, em desfavor das que podem assegurar um aumento significativo
da oferta de bens e serviços transaccionáveis.

Portugal terá que assumir que a alteração do modelo económico passa também pelo
território, por encontrar uma solução para o País “abandonado”, por ordenar os novos
urbanismos, por procurar novas formas de urbanização, por "encontrar" a nova cidade e
por adoptar uma atitude inteligente de protecção dos recursos naturais e de valorização do
património natural.

Portugal, para oferecer aos cidadãos melhor qualidade de vida e para atrair actividades
mais sofisticadas, necessita de apostar muito seriamente na reabsorção das várias
vertentes do défice ambiental, mas ao mesmo tempo, e mais intensamente do que
acontece com países europeus de nível de desenvolvimento superior, tem que fazer do
esforço de sustentabilidade, uma oportunidade de crescimento de actividades geradoras
de emprego e inovação.

Portugal, para alcançar uma trajectória de crescimento sustentado terá que proceder à
implementação das reformas estruturais necessárias ao reforço do potencial de
crescimento e à consolidação orçamental e sustentabilidade das finanças públicas.

Portugal, para assegurar o êxito da sua estratégia de desenvolvimento assente numa


sociedade do conhecimento, mais competitiva, com mais e melhores empregos e coesão
social terá que assegurar uma boa Governação, modernizando a Administração Pública,
dinamizando o diálogo social e estabelecendo parcerias fortes ao nível nacional, regional e
local.

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3. A VISÃO

“Em 2015, Portugal será, no seio da UE, um país mais


competitivo e atractivo, com maior qualidade ambiental,
coesão e responsabilidade social”

Esta Visão tem subjacente que as políticas empreendidas no período 2005/2015 se


traduziram numa significativa mudança de trajectória relativamente à década anterior.
Assim, em 2015:

◆ Portugal elevou o seu potencial de crescimento, transformando-se numa sociedade


dinâmica, competitiva, flexível e mais solidária e atingiu altas taxas de emprego e
um maior nível de produtividade.

◆ Portugal foi bem sucedido em termos de reforço e actualização das habilitações e


qualificações da sua população, respondendo às novas necessidades de
competências-chave e de uma maior coesão social, o que reduziu significativamente
os tradicionais défices acumulados em relação aos outros EM. No quadro de uma
estratégia eficaz de ALV aberta a todos, teve êxitos assinaláveis no alargamento do
pré-escolar, no combate ao abandono escolar precoce e no aumento da literacia,
com uma alta percentagem de população jovem a ter completado o ensino
secundário superior e uma alta proporção de adultos frequentando acções de
educação e formação contínua.

◆ Portugal foi construindo um sistema de ensino superior, de I&D e de inovação de


qualidade, fortemente internacionalizado e atractivo no espaço europeu; criou-se um
quadro favorável à inovação, aumentando e melhorando o investimento em I&D, em
particular das empresas privadas, promovendo a cooperação científica/ tecnológica
e empresarial, expandindo o uso das TIC nos serviços públicos, empresas e famílias
e desenvolvendo uma sociedade do conhecimento inclusiva.

◆ Portugal transformou a sua carteira de actividades, tornando-a mais diversificada,


sendo-lhe reconhecido o estatuto de Centro de Excelência em algumas áreas
dinâmicas do comércio e investimento internacionais.

◆ Portugal atraiu e reteve mais pessoas num mercado de trabalho inclusivo,


aumentando a empregabilidade dos desempregados e inactivos e a adaptabilidade
das empresas e trabalhadores e tornando o trabalho mais atractivo.

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◆ Portugal é um país bem conectado, física e digitalmente, no contexto europeu e


atlântico, contribuindo tal facto para reforçar a sua competitividade.

◆ Portugal transformou as suas cidades em espaços de atractividade, revelando,


simultaneamente, capacidade de integração social e alcançando uma maior coesão
territorial. Lisboa situa-se nos lugares cimeiros dos principais rankings europeus de
cidades.

◆ Portugal conseguiu progressos assinaláveis na integração dos grupos com maiores


dificuldades de inserção no mercado de trabalho, tendo desenvolvido uma gestão
dos fluxos migratórios aliada a uma política de integração, bem sucedidas do ponto
de vista económico e social.

◆ Portugal desenvolveu um sistema moderno de protecção social, incluindo pensões


e saúde, garantindo a sua adequação social, sustentabilidade financeira e resposta
às necessidades em mudança.

◆ Portugal passou a ser um País mais bem preparado ao nível da prevenção e


resposta a riscos recorrentes (vd. incêndios e inundações) e catástrofes naturais
(vd. sismos, alterações climáticas rápidas) e de pandemias.

◆ Portugal é um país que conserva e valoriza o seu património natural e ambiental,


tendo assumido que a qualidade ambiental e paisagística é um factor-chave de
atracção de visitantes, talentos e actividades sofisticadas.

◆ Portugal dispõe de águas em “bom estado” no âmbito da avaliação inerente à


aplicação faseada da Directiva Quadro da Água.

◆ Portugal tornou-se um actor reconhecido em termos internacionais na investigação


sobre os oceanos e no desenvolvimento de actividades que beneficiam do seu
posicionamento geográfico no Atlântico.

◆ Portugal é um país atractivo para o investimento, I&D, inovação e implementação


de novos sistemas de produção de energia (vd. pilhas de combustível, produção
descentralizada de hidrogénio com base em energias renováveis), fruto do bom
desempenho ao nível da aplicação de soluções energéticas menos geradoras de
poluição e menos consumidoras de petróleo.

◆ Portugal inovou a Administração Pública no quadro de um país em crescimento,


melhorando a qualidade dos serviços prestados e tornando-a amigável aos
cidadãos e às empresas, em simultâneo com uma consolidação das suas finanças
públicas.

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Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

4. TRANSFORMANDO A VISÃO EM REALIDADE

Para transformar a Visão Estratégica em Realidade, identificaram-se quatro eixos


estruturantes do Quadro de Referência Estratégico Nacional em função dos quais se
seleccionaram áreas prioritárias de intervenção, desdobrando-se o conteúdo de cada
uma destas em vectores de orientação para o investimento. Foi ainda identificada como
área prioritária de intervenção a Modernização e Racionalização da Administração Pública.

4.1. QUATRO EIXOS ESTRUTURANTES E RESPECTIVAS ÁREAS PRIORITÁRIAS DE INTERVENÇÃO

Para que Portugal possa concretizar no período 2005/2015 uma significativa mudança de
trajectória no seu desenvolvimento considera-se necessário que o conjunto de Fundos
Comunitários de que o País irá dispor de 2007 a 2013 seja afectado de acordo com uma
visão orientadora que assente no seguinte conjunto de princípios:

◆ a aplicação dos Fundos Estruturais deverá ter como objectivo o substancial reforço
da capacidade de gerar riqueza, num ambiente de intensa concorrência no mercado
de bens e serviços e de mobilização de capitais que caracteriza a economia global.
Esse aumento da capacidade de gerar riqueza, deve ter intrínseco um forte
aumento da produtividade e da qualidade do trabalho e a criação de empregos,
reforçando a inclusão e coesão social e territorial;

◆ o reforço da capacidade de geração de riqueza passa por uma profunda mudança e


enriquecimento da “carteia de actividades” que o País apresenta nos mercados
internacionais, que para se poderem enraizar exigem uma qualificação mais elevada
da população activa e esforços mais focalizados nas actividades de ensino,
formação e I&D. Pressupõe, também, um esforço forte de promoção e qualificação
do empreendedorismo a nível nacional;

◆ as mudanças previstas, no quadro da crescente globalização e de novas


tecnologias, pressupõem uma gestão antecipada e positiva das reestruturações,
que absorva as mudanças económicas e sociais, nomeadamente através de uma
gestão activa da reconversão profissional para novos empregos;

◆ a nova “carteira de actividades” deverá permitir gerir melhor a situação periférica do


país ou porque pela sua natureza essas actividades são menos sensíveis a essa
situação ou porque permitem explorá-la em conjugação com outras dotações de
factores físicos;

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◆ a gestão da situação periférica do País exige o prosseguimento de investimentos


em infra-estruturas de comunicações e transportes que diminuam o impacto da
posição geográfica, o que pressupõe uma concentração e hierarquização nos
projectos que viabilizem uma maior variedade de conexões externas de Portugal –
telecomunicações, aeroportos e portos de águas profundas, bem como eixos de
transporte intermodal dirigidos ao centro da Europa;

◆ as cidades ocupam um papel central na estratégia de desenvolvimento, não só


porque nelas habita a maioria esmagadora da população, mas também porque
representam os locais privilegiados em que se podem ancorar essas actividades, e
ainda porque ao mesmo tempo permitem gerar um volume significativo de emprego
em actividades mais protegidas da competição internacional;

◆ a qualidade ambiental exige uma concentração de investimentos em três áreas –


riscos naturais, recursos hídricos e conservação da natureza e desenvolvimento
rural – em ligação com investimentos em larga escala e políticas orientadas para a
redução do efeito poluente da mobilidade.

De acordo com aqueles princípios o QREN deverá organizar-se em torno de Quatro Eixos
Estruturantes que se articulam entre si por forma a garantir a coerência e concordância da
estratégia, tendo ainda em consideração a área base de intervenção Modernização e
Racionalização da Administração Pública.

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Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

Figura I

OS QUATRO EIXOS ESTRUTURANTES DO QUADRO DE REFERÊNCIA


ESTRATÉGICO NACIONAL (QREN)

NOVAS ACTIVIDADES,
COMPETÊNCIAS E INOVAÇÃO

DESENVOLVIMENTO SOCIAL
& INTEGRAÇÃO

POLICENTRISMO & QUALIDADE AMBIENTAL &


COESÃO TERRITORIAL PREVENÇÃO DE RISCOS

Para cada um dos quatro Eixos Estruturantes, em torno dos quais se propôs organizar a
Visão Orientadora para o QREN, destacaram-se Áreas Prioritárias de Intervenção
exemplificando-se seguidamente, para cada uma delas, os Vectores que traduziriam um
número limitado de opções prioritárias para este período de programação, com a
exemplificação do seu possível conteúdo.

Considerou-se que a implementação do QREN deveria ser acompanhada de um intenso


esforço de Modernização e racionalização da Administração Pública que se entendeu
constituir uma Área Base do próprio QREN.

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Figura II

QREN − AS ÁREAS PRIORITÁRIAS DE INTERVENÇÃO

Formação
Qualidade & Diversificação da
para apoiar a
Internacionalização do Oferta de Bens e Serviços
Competitivos Dinâmica de Actividades
Ensino Superior e da I&D e o Emprego
& Inovação

Escola: Qualidade &


Saúde & Prevenção Solidariedade & Integração
Inclusão

Conectividade Atractividade Mobilidade Sustentável


Internacional e Sustentabilidade e Coesão Territorial
do Território das Cidades

Conservação e
Conservação da Natureza e Eficiência na Prevenção dos
Desenvolvimento Rural Utilização de Riscos Naturais
Recursos Hídricos

Energias Limpas
& Energias Renováveis

Modernização &
Racionalização
da Administração Pública

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Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

EIXO 1. NOVAS ACTIVIDADES, COMPETÊNCIAS & INOVAÇÃO

Uma pequena economia aberta como a portuguesa, se quiser crescer de forma


sustentada, tem que responder a quatro exigências estruturais:

◆ Aumentar o emprego e a produtividade nas actividades mais mergulhadas na


competição internacional, o que implica diversificar cada vez mais
pronunciadamente as actividades para segmentos e sectores que, à partida,
permitam obter produtividades superiores à média actual; e ascender na cadeia de
valor das indústrias tradicionais, tendo a consciência que esse processo, se afecta
favoravelmente a produtividade, não será gerador de emprego.

◆ Aumentar o emprego nos serviços transaccionáveis e susceptíveis de concorrer no


mercado internacional, quer os menos exigentes em qualificações tecnológicas,
quer os que se baseiam numa elevada capacidade na área da engenharia ou da
gestão ou que supõem uma elevada criatividade artística e um esforço consistente
de design dos produtos compatível com a dinâmica de evolução dos estilos de vida
e dos padrões de consumo dos clientes potenciais.

◆ Introduzir uma maior competição nos serviços tradicionalmente protegidos da


concorrência internacional, afim de obter por um lado uma maior eficiência na sua
prestação, com menores custos para os utilizadores e por outro, uma redução da
parte da formação de capital fixo que absorvem, e incentivar que uma parte maior
do investimento se canalize para os dois grupos de actividades anteriores.

◆ Intensificar o uso das tecnologias de informação e comunicação para organizar em


rede a oferta de bens e serviços, assegurando às empresas uma maior presença
nos mercados internacionais.

A actual carteira de actividades que caracteriza a presença de Portugal no comércio


internacional de bens e serviços está a ser, e continuará a ser, fortemente concorrenciada
pelas economias emergentes e em desenvolvimento, não podendo oferecer no futuro, e
por si só, uma base sólida de crescimento de exportações e de geração de emprego. Se
se tiver em conta que a maioria da capacidade empresarial do país está hoje concentrada
ou na produção de bens e serviços não transaccionáveis − de cuja modernização tem
resultado uma significativa melhoria de qualidade de vida − ou na produção de bens e
serviços transaccionáveis sofrendo − forte competição internacional e tendendo a reduzir a
sua dimensão e a reorientar-se para segmentos mais dinâmicos − uma melhoria
significativa da presença de Portugal nos mercados internacionais dependerá sobretudo da
capacidade de atracção de Investimento Directo Estrangeiro (IDE).

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Esta diversificação da “carteira de actividades” pode beneficiar do significativo investimento


realizado durante as décadas de 80 e 90 no reforço das instituições de investigação de
base universitária, nas instituições de interface entre as instituições de ensino superior e as
empresas e nas actividades orientadas para a inovação levadas a cabo pelos centros
tecnológicos. Três grandes áreas de competência em termos de I&D foram sendo
consolidadas durante esse período, as quais podem fornecer uma base de apoio à
transformação da “carteira de actividades”:

◆ Ciências da Saúde/Biotecnologias/Engenharia Biomédica;

◆ Ciências da Computação/Tecnologias da Informação/Tecnologias das


Telecomunicações;

◆ Engenharia Mecânica/ Engenharia Aeronáutica/Automação e Robótica.

Adiante irá referir-se um conjunto de possíveis direcções para a diversificação de


actividades no País que, estando inseridas em “áreas de actividade” que vão ter forte
dinamismo da procura internacional, possam ser compatíveis com uma evolução realista
da oferta de recursos humanos mais qualificados e se apoiem em áreas de competência
existentes no Ensino Superior e I&D.

A qualificação dos recursos humanos continua a ser a questão crucial que se coloca à
economia e sociedade portuguesas para assegurar no futuro um crescimento sustentado e
uma melhoria das condições de vida da população. Uma estratégia de qualificação que
permita lidar com as graves insuficiências actuais do país tem que responder
simultaneamente a duas exigências:

◆ Promover de forma generalizada a formação ao longo da vida para quem queira


retomar ou iniciar estudos de grau superior, renovar e ampliar a sua carteira de
conhecimentos e competências profissionais ou ainda explorar novas orientações
para a sua actividade profissional, assegurando uma oferta competitiva de
formações, devidamente certificadas.

◆ Atrair o maior número possível de jovens para o ensino superior, em especial para
os cursos de índole tecnológica ou artística, áreas em que existe uma clara
insuficiência de formação no País e reforçar a qualidade, rendimento e capacidade
de competição das instituições do Ensino Superior no espaço europeu.

A implementação desta estratégia não depende essencialmente de um maior volume de


financiamentos dirigidos aos sistemas de ensino e formação, mas supõe uma profunda
alteração no modo de funcionamento das entidades e no comportamento dos agentes que

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Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

prestam este tipo de serviços, exigindo-se mais competição entre quem os oferece e
relação adequada entre investimentos e resultados.

Refira-se ainda que a qualificação de recursos humanos mais direccionada para a inserção
ou para o reposicionamento no mercado de trabalho, tendo que responder às
necessidades de sectores e empresas já existentes, deverá incorporar uma componente
cada vez mais significativa de formação para novas actividades, nomeadamente para as
que estiverem associadas a projectos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) ou a
iniciativas de consórcios de PME.

Refira-se que uma estratégia de desenvolvimento sustentável tem que assentar no reforço
de competências e de capacidade de inovação em certas áreas científicas e tecnológicas,
o que aponta para a necessidade de lançar programas e projectos mobilizadores de I&D
para temas a seleccionar.

A transformação da “Carteira de Actividades” mais internacionalizadas, e das respectivas


Competências, deverá incluir três vertentes distintas:

◆ Actividades geradoras de Emprego e que contribuam para uma significativa


elevação da Produtividade da economia – serão actividades com forte dinamismo
no comércio internacional e exigentes em qualificações e novas competências;

◆ Actividades que Contribuam para a Elevação da Produtividade, mas em sectores


perdedores de Emprego;

◆ Actividades Geradoras de Emprego mas pouco contribuindo para o aumento da


produtividade da Economia, devendo situar-se, quer em sectores com forte
crescimento da procura internacional, quer em sectores de serviços internos com
forte potencial de crescimento para servir as populações.

A Figura III ilustra o que poderia ser uma nova “Carteira de Actividades” para Portugal no
horizonte 2015 que combinasse estas três vertentes.

No estádio actual de reflexão no DPP sobre o tema das actividades/ oportunidades do


primeiro tipo destacaram-se quatro Áreas Funcionais; Comunicações/Electrónica;
Mobilidade; Saúde e Energia/Oceanos. Para cada uma destas áreas exemplificam-se
actividades que as podem consubstanciar.

Na sua versão final o QREN deverá indicar quais as Áreas Funcionais e Grandes Tipos de
Actividades a apoiar prioritariamente, sendo essa lista sujeita a revisão a meio do período
de programação.

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Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

Este Eixo Estruturante está organizado em Três Áreas Prioritárias de Intervenção.

Formação
Qualidade & Diversificação da
para apoiar a
Internacionalização do Oferta de Bens e Serviços
Competitivos Dinâmica de Actividades
Ensino Superior e da I&D e o Emprego
& Inovação

Figura III

E SE O FUTURO DA ECONOMIA PORTUGUESA PASSASSE POR “UMA CARTEIRA DE


ACTIVIDADES” DESTE TIPO?

COMUNICAÇÕES TELEMEDICINA
SAÚDE –
SERVIÇOS, AGRICULTURA
MODA ESPECIALI TÊXTEIS EQUIPAMENTOS
CONTEÚDOS & DADES TÉCNICOS & PRODUTOS
EQUIPAMENTOS BIO
PLÁSTICOS

TELESERVIÇOS

SISTEMAS DE FÁRMACOS
MOBILIDADE TURISMO & MARINHOS
ACOLHIMENTO
NOVAS SOLUÇÕES ENERGIAS
SOLUÇÕES “VIRTUALI
TRANSP. RENOVÁVEIS
DADE”
URBANO
ELECTRICIDADE

MOBILIDADE
DESCENTRALIZADA OCEANOS &
URBANA & ENERGIA
ROBOTICA
AERONÁUTICA

LEGENDA

Actividades geradoras de emprego contribuindo para a elevação da


produtividade da economia
Actividades contribuindo para elevação da produtividade em sectores
perdedores de emprego
Actividades geradoras de emprego não contribuindo para a elevação da
produtividade da economia

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Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

E SE O FUTURO DA ECONOMIA PORTUGUESA PASSASSE POR ESTE TIPO DE


”CARTEIRA DE ACTIVIDADES”?

COMUNICAÇÕES/ELECTRÓNICA

♦ Criar as condições para a instalação em Portugal de uma base europeia de produção


electrónica organizada em torno de empresas ODM – Original Design Manufacturers e EMS
– Electronic Manufacturing Services, que permitiriam a Portugal beneficiar da dinâmica do
outsourcing” existente na indústria;

♦ Atrair para a região uma ou duas empresas pioneiras no desenvolvimento dos sistemas de
comunicações wireless fixas de banda larga, contando que o mercado para este tipo de
tecnologia se vai expandir na Europa;

♦ Instalar em larga escala empresas de serviços partilhados, de web services e de serviços de


assistência técnica e monitorização à distância e de outros tele-serviços;

♦ Apostar decididamente na área do entretenimento digital (jogos, animação e outros


conteúdos para Digital Media) e nos conteúdos para o e-learning como áreas de produção
de software a desenvolver no futuro;

♦ Enraizar a actividade das multinacionais da electrónica automóvel instalada no País – e que


fazem de Portugal um dos maiores exportadores europeus de auto-rádios – no sentido de o
transformarem numa base de concepção e fabrico de equipamentos avançados para a
comunicação, navegação e multimédia automóvel.

MOBILIDADE

♦ Consolidar as actividades no cluster automóvel em torno da presença continuada de um ou


dois OEM no país com o objectivo estratégico de atrair um novo OEM (vd. para o fabrico de
veículos de transporte público com motorização híbrida); da colaboração mais estreita com
as firmas internacionais de engenharia e design automóvel e com os integradores não OEM
(ou seja empresas capazes de fazer a engenharia de produção e de fabricar em termos
competitivos veículos de nicho para as OEM);

♦ Consolidar as actividades no cluster automóvel em torno da especialização na oferta de


soluções integradas para o módulo “habitáculo” adquirindo competências que permitam
fornecer outros sectores do material de transporte;

♦ Desenvolver as actividades aeronáuticas em torno de três direcções – a manutenção de


aviões construídos em materiais “clássicos”; a subcontratação para construtores que
aeronáuticos que centrem os seus novos modelos na utilização de materiais compósitos e a
atracção de construtores do que poderíamos considerar mercados nichos (aviões de
desporto, aviões utilitários, aviões sem piloto (UAV) etc.) – para se instalarem em Portugal.

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E SE O FUTURO DA ECONOMIA PORTUGUESA PASSASSE POR ESTE TIPO DE


”CARTEIRA DE ACTIVIDADES”? (Continuação)

SAÚDE

♦ Transformar Portugal num dos principais pólos europeus de concepção e fabrico de


consumíveis hospitalares, “puxando” pelas competências no têxtil, no papel e fibras
celulósicas e nos plásticos, e numa base de produção competitiva de componentes e
dispositivos para as multinacionais da engenharia biomédica;

♦ Desenvolver as actividades na área da Engenharia Biomédica e das tecnologias da


informação e comunicação aplicadas à medicina e ao funcionamento dos sistemas de
saúde;

♦ Desenvolver actividades de serviço às multinacionais farmacêuticas – desde os testes, à


fabricação por outsourcing, ao desenvolvimento de novas substâncias ou de novos métodos
de administração de fármacos – embora este tipo de actividades seja extremamente
exigente em normas de qualidade;

♦ Criar um sector internacionalizado de prestação de cuidados de saúde e de reabilitação,


apoiando-se na instalação de clínicas e/ou hospitais de renome internacional.

ENERGIA & OCEANOS

♦ Transformar Portugal numa base de apoio sofisticada – em termos de engenharia oceânica


e de serviços de assistência técnica – às empresas petrolíferas que operam na bacia
energética da África Ocidental, em exploração offshore; um dos primeiros esforços nesta
direcção poderia ser uma joint-venture com uma das Universidades americanas mais
prestigiadas na área da engenharia do petróleo;

♦ Desenvolver um pólo de concepção e fabrico de equipamento e módulos para electrónica e


robótica submarina e de equipamentos para monitorização dos oceanos, capitalizando o
grande interesse e a variedade de competências existentes em Portugal na área da
robótica;

♦ Aproveitar as contrapartidas de aquisição de submarinos para participar no desenvolvimento


de soluções de produção de electricidade baseada em fuel cells;

♦ Avançar, primeiro em termos experimentais, com a utilização de Fuel Cells para a produção
de descentralizada de electricidade com base no gás natural e apostar na vantagem de ser
local de teste para vir a participar na futura cadeia de fabrico deste tipo de soluções.

26 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

A1. Diversificação da Oferta de Bens e Serviços competitivos & Inovação

Como se referiu atrás, Portugal tem que proceder, num espaço de tempo relativamente
curto, a uma profunda transformação da sua “carteira de actividades” internacionalmente
competitiva se quiser retomar um crescimento sustentado. E tem que combinar actividades
que exijam e fixem recursos humanos qualificados com actividades que permitam gerar
empregos em larga escala para as camadas da população com menores habilitações, mas
também com uma orientação para os mercados externos.

Nas actividades que hoje constituem a base da sua presença nos mercados internacionais,
os programas públicos terão que apoiar apenas os investimentos que se traduzam num
aumento da capacidade de inovação de produtos, adopção de novos processos e
alteração nos modos de relação com os clientes.

São assim considerados três Vectores:

◆ Atracção de Investimento para uma Nova “Carteira de Actividades”


Internacionalizada.

◆ Inovação e Dinamização de Clusters Regionais.

◆ Actividades para Amortecer os Custos do Reajustamento Estrutural.

No Vector “Atracção de Investimento para uma Nova “Carteira de Actividades”


Internacionalizadas” inclui-se:

1. A adopção de um programa de diversificação da oferta de bens e serviços para os


mercados internacionais, fortemente apoiado na captação de IDE e na dinâmica de
clusterização. Este programa seria orientado para a concretização articulada de
investimentos – uns da responsabilidade das empresas individualmente consideradas,
outros de consórcios empresariais e outros ainda do Estado, destinados a apoiar as fases
iniciais de “aprendizagem” de novas actividades orientadas para os mercados
internacionais.

Este conjunto de investimentos articulados deverá ser orientado para actividades que
obedeçam a um conjunto de critérios, dos quais se podem destacar os seguintes:

◆ Inclusão em áreas dinâmicas do comércio internacional em que se pensa poderem


vir a existir vantagens comparativas para Portugal assentes em estruturas de custo
favoráveis;

Departamento de Prospectiva e Planeamento 27


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

◆ Possibilidade de formação ou ampliação de competências em Portugal, em tempo


útil;

◆ Existência em Portugal de actividades que possam funcionar como apoio ou como


base para o acesso às novas actividades;

◆ Exploração de vantagens locacionais resultantes de factores geográficos,


ambientais e climáticos.

A identificação das actividades que obedeçam a estes critérios, bem como das regiões
mundiais em que se concentram e das empresas inovadoras que melhor as protagonizam
deverá passar a constituir um exercício permanente, envolvendo instituições públicas e
privadas, e contribuindo para o direccionamento da captação de IDE.

No Vector “Inovação e Dinamização dos Clusters Regionais”:

2. Adopção de um programa de apoio “horizontal” à inovação – ou seja de um conjunto de


actuações a realizar independentemente das actividades e sectores – com cinco focos
principais:

◆ a instalação ou ampliação de infra-estruturas de I&D nas empresas orientadas para


a exportação, incluindo as empresas multinacionais que aceitem instalar em
Portugal centros de competência e desenvolvimento;

◆ o co-financiamento da instalação de gabinetes de design e de projecto de empresas


portuguesas a localizar, quer em Portugal, quer no estrangeiro;

◆ o co-financiamento da investigação em consórcio entre empresas e centros de I&D


orientados para o domínio de tecnologias, para o desenvolvimento de novas
soluções ou para a adaptação de novos processos de produção;

◆ o co-financiamento de despesas destinadas a intensificar a presença das empresas


no ciberespaço e a utilizá-lo para reforço da sua presença junto dos clientes;

◆ o fornecimento de capital semente para o apoio à criação de novas empresas de


base tecnológica e a comparticipação de fundos públicos em consórcios de
empresas privadas de capital de risco para apoio à consolidação das iniciativas
inovadoras mais viáveis.

3. Concentrar os incentivos não destinados directamente à inovação, no caso de empresas


que operam em sectores com larga tradição no País e em que se acumularam
competências distintivas nos mercados internacionais – têxteis/couro; cerâmicas; agro-

28 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

alimentares de qualidade etc. em iniciativas de internacionalização por via do


estabelecimento de filiais no exterior, de cadeias de lojas, de gabinetes de projecto,
lançamentos de marcas etc. Estes incentivos devem ser cada vez mais estendidos às
empresas de serviços, desde os gabinetes de arquitectura às empresas de logística ou às
empresas de serviços paisagísticos.

No Vector “Actividades para Amortecer os Custos do Reajustamento Estrutural”


inclui-se:

4. Aposta num programa destinado a facilitar a instalação inicial de um conjunto de


empresas em actividades susceptíveis de empregar mão-de-obra com qualificações
limitadas, mas susceptível de formação focalizada (jovens à procura de primeiro emprego
ou adultos que perderam emprego devido a reestruturações sectoriais e empresariais).
Uma parte destas actividades estará desde o início virada para os mercados externos,
enquanto outras começarão por fornecer serviços no mercado doméstico.

Este conjunto de actividades poderá desempenhar um papel fundamental na absorção do


choque de ajustamento a uma maior competição internacional em sectores tradicionais da
indústria e concentrados geograficamente em determinadas regiões do País. De entre as
áreas que poderão desempenhar este papel encontram-se as seguintes:

◆ a agricultura de especialidades, orientada para os produtos hortícolas, frutos, flores


e plantas ornamentais, plantas para usos cosméticos ou farmacêuticos etc.; este
tipo de actividades pode vir a desempenhar um papel significativo na reabsorção do
desemprego em regiões de pequena propriedade do Norte e Centro litoral;

◆ os tele-serviços e os serviços partilhados prestados à distância, como área


fortemente criadora de emprego jovem, se for possível começar por atrair empresas
multinacionais que instalem no País este tipo de serviços ou empresas que se
especializaram na prestação deste tipo de serviços à escala mundial para as
multinacionais;

◆ os serviços urbanos, nomeadamente os que se podem multiplicar em torno do tema


da “sustentabilidade das cidades” – serviços de reconstrução urbana; novos
serviços de mobilidade, serviços de manutenção de edifícios; serviços de
implantação e manutenção de espaços verdes; serviços de instalação de novas
soluções energéticas;

◆ os serviços pessoais, com destaque para os de apoio domiciliário à população


idosa.

Departamento de Prospectiva e Planeamento 29


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

A2. Qualidade e Internacionalização do Ensino Superior e da I&D

O futuro de Portugal numa Economia Europeia Baseada no Conhecimento depende, a


prazo, da capacidade de fixar e atrair talentos nas áreas da I&D, o que supõe a existência
de instituições de I&D de excelência, criadas com base num sistema de Ensino Superior de
alta qualidade, e que sejam capazes de se inserir de forma activa e dinâmica em redes
europeias e internacionais. Por outro lado, o processo de enriquecimento da “carteira de
actividades” competitivas do País pode beneficiar da acumulação prévia de pólos de
competências capazes de tornar mais atractiva a localização em Portugal de novas
actividades mais intensivas em conhecimento.

Sem uma muito maior formação de engenheiros e artistas o País não será capaz de
explorar muitas das potencialidades que a Economia do Conhecimento e da Criatividade
irão abrir no futuro, o que exigirá um investimento muito superior na área da inovação
educativa e do ensino das ciências, tecnologias e Artes.

Neste contexto, dever-se-ão apoiar três vectores:

◆ Expansão Selectiva das Instituições do Ensino Superior;

◆ Integração no Espaço Europeu de Investigação;

◆ I&D para Apoiar o Enriquecimento da “Carteira de Actividades”.

No Vector “Expansão Selectiva das Instituições de Ensino Superior” poderão ser


contemplados:

1. Expansão do Ensino Superior para um conjunto de áreas das Ciências e Engenharias


que apoiem a estratégia de diversificação da oferta de bens e serviços nos mercados
internacionais. Essa expansão deverá ser sempre feita em conjugação com universidades
(europeias ou americanas) de grande qualidade e, nos casos em que tal se revele
possível, envolver empresas multinacionais. Áreas que se poderiam referir em termos de
licenciaturas e pós-graduações incluem a Engenharia Biomédica e as Tecnologias da
Saúde, a Engenharia da Produção em Electrónica, ou a Engenharia do Petróleo (olhando
para a bacia energética da África Ocidental).

2. Apoio à Instalação de instituições de excelência vocacionadas para as Artes, Design e


Tecnologias do Entretenimento Digital, como condição para actividades de produção de
conteúdos, de animação artística, e de inovação industrial.

30 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

No Vector “Integração no Espaço Europeu de Investigação” inclui-se:

3. Reequipamento dos principais centros de I&D, que permitam a Portugal participar em


redes de excelência criadas no âmbito do Espaço Científico Europeu, ou que assegurem
uma participação de Portugal em programas científicos e tecnológicos europeus ou em
organizações científicas internacionais. O apoio a projectos de I&D que deve acompanhar
este reequipamento será condicionado ao nível de participação obtida nesses programas.

4. Equipamento de grupos de centros de I&D que, destacando-se pela qualidade da sua


actividade, apresentem carteiras de projectos coordenados em temas definidos como
fundamentais para o acompanhamento das linhas de força da investigação científica a
nível mundial nas respectivas áreas (vd. nanomateriais, genómica e proteonómica, etc.).

5. Atracção de Centros de I&D e Tecnologia internacionais, quer ligados ao conhecimento


dos Oceanos, designadamente em laboratórios naturais com condições únicas existentes
na área oceânica do país (vd. caso da Região Autónoma dos Açores), quer ligadas à
Saúde (vd. Neurociências e Adição ou Malária e Doenças Tropicais).

No Vector “I&D para Apoiar o Enriquecimento da “Carteira de Actividades” podem


incluir-se:

6. Lançamento de programas de I&D especificamente orientados para o reforço de


competências em áreas tecnológicas que possam funcionar como factores de atracção
para novas actividades a instalar em Portugal (vd. engenharia aeronáutica; robótica;
simulação computacional; engenharia das fuel cells, etc.).

7. Apoio ao desenvolvimento de software e conteúdos educativos a disponibilizar na


Internet, destinados ao ensino secundário e realizados com o envolvimento de equipas de
Universidades e Institutos Politécnicos.

A3. Formação para apoiar a Dinâmica de Actividades e o Emprego

Não obstante os elevados montantes financeiros afectos à Educação e à Formação nas


últimas décadas, designadamente no âmbito dos três Quadros Comunitários de Apoio
anteriores, e os progressos ocorridos nestes domínios continuam a registar-se défices
preocupantes, que conduzem à imperiosa necessidade da promoção da qualidade do
capital humano por forma a fomentar a empregabilidade, num contexto das alterações
estruturais contínuas.

A transformação da economia portuguesa numa economia mais competitiva e próspera e a


possibilidade de melhoria mais rápida das condições de vida da população em idade activa

Departamento de Prospectiva e Planeamento 31


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

assentam numa ruptura com a situação actual de níveis de habilitações escolares e de


qualificações profissionais claramente insuficientes. O esforço a realizar deverá ser dirigido
para três Vectores:

◆ Aprendizagem ao Longo da Vida;

◆ Formação Orientada para a Diversificação de Actividades;

◆ Formação Avançada em Ciência, Tecnologia e Organização.

O Vector “ Aprendizagem ao Longo da Vida” inclui um conjunto de actuações das quais


se destacam:

1. Lançamento de programas de formação, com conteúdos definidos a nível nacional e


regional, dirigidos a desempregados, de acordo com uma orientação que encaminhe os
beneficiários do subsídio de desemprego para a frequência de acções de formação
relevantes. Entre esses programas poderiam incluir-se, os seguintes:

◆ Cursos de aperfeiçoamento nas actividades que exerciam anteriormente ou cursos


de especialização em novas profissões necessárias a actividades em crescimento a
nível nacional ou regional;

◆ Cursos de comunicação com disciplinas de português, inglês e informática, etc.

2. Apoio a cursos de equiparação ao ensino obrigatório e ao ensino secundário dirigidos à


população em idade activa que não tenha podido concluir aqueles graus de ensino – e por
essa razão se encontra impossibilitada de enriquecer e diversificar a sua carreira
profissional, Assegurando soluções pós-laborais diversificadas e tirando partido,
designadamente, de novas soluções associadas às TIC.

3. Apoio ao lançamento de programas orientados para a aprendizagem ao longo da vida


para activos empregados, concebidos em termos atraentes para participantes e empresas;
e desenvolvimento do sistema de certificação e validação de competências adquiridas ao
longo da vida.

4. Apoio a acções de formação dirigidas a imigrantes, com três focos principais: em língua
portuguesa – nomeadamente para os que não sejam oriundos dos PALOP; certificação de
competências de acordo com a formação adquirida e as actividades desenvolvidas no país
de origem; acções orientadas para profissões com défice de recursos em Portugal. Os
processos de legalização poderão estar associados à frequência destas acções de
formação.

32 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

5. Desenvolvimento da formação dos empresários e quadros dirigentes e da formação e


inserção de quadros e técnicos para os factores críticos da competitividade, incidindo
sobretudo nas Pequenas e Médias Empresas (PME), nomeadamente para estimular os
seus processos de inovação e desenvolvimento organizacional.

No Vector “Formação Orientada para a Diversificação de Actividades” inclui-se:

6. Formação para apoio à atracção de investimento directo internacional, envolvendo


nomeadamente:

◆ Programas de formação profissional associados à atracção e expansão de novas


actividades (nomeadamente nas áreas referidas em A1.) e para as quais a oferta de
formação existente seja insuficiente;

◆ Vasto programa de estágios em empresas no estrangeiro, com prioridade para


empresas com investimentos já realizados ou programados em Portugal e empresas
com posição de liderança tecnológica mundial em actividades que Portugal pretenda
atrair para o seu território.

7. Formação de parcerias estratégicas de âmbito sectorial visando o desenvolvimento de


competências para modernização empresarial a nível de processos e a diversificação de
produtos.

O Vector “Formação Avançada em Ciência, Tecnologia e Organização” inclui:

8. Prosseguimento do programa de bolsas de doutoramento e pós-doutoramentos no


estrangeiro (com definição de uma quota com orientação temática), acompanhado por
programas de incentivos à sua inserção em empresas, nomeadamente nas novas
actividades referidas em A1.

9. Lançar um conjunto de programas orientados para o reforço da capacidade de inovação:


programas de literacia tecnológica para economistas e de literacia económica para
engenheiros e tecnólogos; programas de formação para o empreendedorismo e um
programa de formação avançada no estrangeiro sobre gestão do risco, para melhoria das
competências das instituições financeiras no apoio à inovação.

Departamento de Prospectiva e Planeamento 33


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

DINÂMICA DE EMPREGO E MERCADO DE TRABALHO – UMA RELAÇÃO CRUCIAL

Um ritmo elevado de crescimento económico sustentado é condição necessária ao crescimento do


emprego e à redução do desemprego e da exclusão social, ainda que não suficiente. Por outro
lado, aumentar os níveis e a qualidade do emprego é o meio mais eficaz de gerar crescimento
económico e promover sociedades socialmente inclusivas, ao mesmo tempo que se estabelecem
redes de segurança para os que não podem trabalhar e outros inactivos.

O aumento da participação no mercado de trabalho exigido, nomeadamente, pelo envelhecimento


demográfico, impõe, ainda, o reforço da empregabilidade dos trabalhadores em geral, e de certos
grupos em especial, com base numa aproximação ao trabalho centrada no ciclo de vida, no tornar
o trabalho compensador e na luta contra a pobreza e a exclusão social. Os princípios
orientadores nesta área devem basear-se:

♦ numa abordagem ao trabalho baseada no ciclo de vida, através: de mecanismos eficazes


que facilitem a transição dos jovens para a vida activa e combatam o seu desemprego; da
promoção do envelhecimento activo e da mobilização para a actividade de todos ao longo
da sua vida activa; da promoção da igualdade de oportunidades entre géneros,
nomeadamente através de uma melhor conciliação entre a vida familiar e a vida profissional
e na redução dos diferenciais de emprego, desemprego e salários;

♦ numa garantia de mercados de trabalho inclusivos, através de: políticas activas de emprego
verdadeiramente integradoras, que previnam e combatam o desemprego de longa duração e
a exclusão social, tendo em especial atenção as pessoas que apresentam especiais
vulnerabilidade no mercado de trabalho, através do reforço da sua componente de activação
e de uma maior articulação com os serviços sociais de apoio à inclusão social; revisão dos
incentivos e desincentivos ao trabalho, garantindo no entanto níveis adequados de
protecção social; desenvolvimento da economia social;

♦ numa melhor gestão dos ajustamentos do mercado de trabalho, nomeadamente: pela


modernização e reforço dos SPE; por uma melhor antecipação das necessidades em
matéria de competências; por uma gestão apropriada dos fluxos migratórios;

♦ numa modernização dos sistemas de protecção social, tornando-os amigáveis ao emprego,


respondendo às novas necessidades, combatendo a pobreza e reforçando a coesão social e
intergeracional, em simultâneo com a garantia da sua eficiência e sustentabilidade
financeira;

A promoção da adaptabilidade dos trabalhadores e empresas, aliando flexibilidade com segurança


no emprego, implica conseguir conciliar os direitos de cidadania dos trabalhadores com o aumento
da capacidade de adaptação das empresas e trabalhadores, apostando:

♦ na antecipação e gestão activa e positiva dos processos de reestruturação e modernização


do tecido produtivo, criando mecanismos eficazes de antecipação, fontes alternativas de
emprego e rendimentos, facilitando transições e evitando a exclusão social;

♦ no reforço da coordenação das intervenções e dos recursos disponíveis, e um reforço das


parcerias desde o nível local, ao nacional e comunitário.

34 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

EIXO 2. DESENVOLVIMENTO SOCIAL & INTEGRAÇÃO

A necessidade de a economia portuguesa enfrentar com êxito os desafios da


competitividade, constituindo o objectivo central para a sustentabilidade do nosso processo
de desenvolvimento, exige, num contexto de alterações estruturais significativas, que os
mecanismos de promoção da coesão social se tornem mais eficazes e que o QREN
contemple um conjunto de intervenções direccionadas à prossecução daquele objectivo.

Um crescimento económico assente numa diversificação de actividades que sejam mais


exigentes em qualificações, capacidade e inovação e criatividade; um crescimento gerador
de empregos e de oportunidades de mobilidade social ascendente por via da acumulação
de capital de conhecimentos e competências são o principal factor de desenvolvimento e
coesão social. Mas não são suficientes.

É necessário intervir em sistemas básicos de apoio social – Educação e Saúde – com o


duplo objectivo de contribuir para a melhoria das condições de vida e das oportunidades
das pessoas e para a mobilização do potencial de trabalho e inovação das comunidades. E
é necessário intervir para combater situações de exclusão, nomeadamente dos segmentos
da sociedade que já não estão em fase activa da sua vida ou de grupos que por razões de
ordem cultural revelam maior dificuldade em integrar-se na dinâmica de desenvolvimento
da sociedade.

Neste Eixo Estruturante consideraram-se Três Áreas Prioritárias de Intervenção

Escola: Qualidade &


Saúde & Prevenção Solidariedade & Integração
Inclusão

A4. Escola: Qualidade & Inclusão

O nível de abandono escolar e os maus resultados obtidos pela população escolar em


áreas chave do conhecimento e socialização como Matemática, Ciências e Português
revelam problemas muito graves no modo de organização e funcionamento do sistema de
ensino em Portugal, o qual constitui o principal obstáculo de longo prazo ao crescimento e
competitividade da economia país e à possibilidade de melhoria sustentável de condições

Departamento de Prospectiva e Planeamento 35


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

sociais da população. Este panorama existe não obstante o elevado montante de


investimentos que os três Quadros Comunitários de Apoio canalizaram para esta área,
investimentos que contribuíram decisivamente para a extensão da cobertura escolar mas
que não permitiram melhorias de qualidade significativas. Tendo estes factos em conta
nesta área de intervenção destacaram-se os seguintes vectores:

◆ Prevenção do Abandono Escolar;

◆ Melhoria dos Resultados Escolares em Áreas-chave do Conhecimento e da


Socialização;

◆ Tecnologias da Informação e Modernização dos Métodos de Ensino.

No vector “Prevenção do Abandono Escolar” incluem-se:

1. O apoio ao investimento em creches, possibilitando a integração de um maior número


de crianças em percursos de desenvolvimento pessoal.

2. Prosseguimento do investimento na rede de educação pré-escolar, entendida como


aspecto crucial para a concretização da igualdade de oportunidades, mas também
enquanto instrumento necessário à compatibilização de elevadas taxas de emprego
femininas com a vida familiar, dando prioridade às regiões de maior concentração de
crianças nesta faixa etária e em que se verifiquem maiores índices de abandono escolar.

3. Investimento na melhoria dos equipamentos escolares do Ensino Básico e Secundário,


no contexto da reorganização da Rede Escolar, bem como o reforço dos apoios de
carácter social (alimentação, saúde, transportes e acção social), dando prioridade a
investimentos e incentivos às regiões em que se concentre em simultâneo, população em
idade escolar e índices elevados de insucesso escolar.

4. Apoio financeiro às escolas que adoptem o conceito de “escola a tempo inteiro”,


incluindo no seu funcionamento um conjunto de actividades de formação em áreas
complementares (Artes, Desporto, etc.), de apoio ao estudo e de actividades extra-
escolares. A manutenção dos apoios poderá depender de melhorias nos resultados ao
nível da escola.

5. Reforço do ensino profissional e profissionalizante, envolvendo:

◆ Apoios dirigidos às escolas do ensino secundário para equipamentos, contratação


de professores e colaboração de profissionais reconhecidos, tendo em vista o
reforço da vertente ensino profissionalizante;

36 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

◆ Prosseguimento dos programas de formação de jovens, em alternativa à via do


Ensino Superior, com destaque para o reforço do investimento na criação e
funcionamento de Escolas Profissionais e Escolas Tecnológicas.

No vector “Melhoria dos Resultados Escolares em Áreas-chave do Conhecimento e


da Socialização” incluem-se:

6. Lançamento de um vasto programa para a melhoria das competências num conjunto de


áreas no ensino básico e secundário, entre as quais se destacam:

◆ Formação inicial e contínua de professores orientada prioritariamente para as áreas


de Matemática e Ciências, Português e Inglês, e lançamento, a nível nacional, de
um sistema de avaliação das competências científicas e pedagógicas dos
professores em exercício nestas áreas;

◆ Investimento na dotação das escolas do ensino secundário dos meios


experimentais, equipamentos e software informático que facilitem a aprendizagem
das Ciências.

No vector “Tecnologias da Informação & Modernização dos Métodos de Ensino”


incluem-se:

7. Investimento em larga escala no reforço da utilização das tecnologias de informação


como instrumento de transformação dos métodos de ensino e aprendizagem e de
funcionamento da sala de aula e da relação escola/casa, envolvendo quatro vertentes:

◆ Investimento na dotação das escolas do ensino secundário de computadores para


uso individual e de redes locais. O equipamento das escolas poderá ser realizado
com prioridade para aquelas onde os professores tenham frequentado acções de
formação orientadas para a renovação dos métodos de ensino com base na
interactividade e conectividade global que as tecnologias de informação permitem e
que tenham contratado técnicos de apoio especializado na área informática.

◆ Adaptação dos curricula à aprendizagem da utilização de tecnologias de


informação, podendo dar origem a certificados parcelares de competências.

◆ Lançamento de um programa de formação em larga escala para professores


orientado para a reformulação dos métodos de ensino e aprendizagem com base na
utilização das TIC, acompanhado por um programa de formação de
técnicos/animadores da utilização das tecnologias de informação nas escolas.

Departamento de Prospectiva e Planeamento 37


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

◆ Promoção de parcerias público-privadas no âmbito do desenvolvimento/produção de


conteúdos multimédia nas vertentes educação e cultura a difundir na TV/Internet,
para utilização dos professores e alunos.

A5. Saúde & Prevenção

No âmbito do Desenvolvimento Social a Saúde vai ocupar uma posição de crescente


centralidade devido à conjugação de cinco factores principais:

◆ o contexto de uma sociedade em envelhecimento, envolvendo uma maior procura


de cuidados de saúde e a maior expressão de doenças degenerativas muito
consumidoras de formas de apoio médico e social;

◆ a possibilidade de utilizar as tecnologias que vão ficar disponíveis para reforçar o


carácter preventivo da intervenção médica, com o que tal significa de maior
responsabilização dos indivíduos pelo seu percurso clínico;

◆ os riscos de pandemias com potenciais efeitos devastadores, exigindo redes de


cuidados primários e suas extensões capazes de monitorizar e responder a
situações de crise;

◆ a necessidade de corrigir fortes assimetrias na distribuição geográfica dos cuidados


de saúde, dando maior prioridade à cobertura das regiões de maior densidade
demográfica;

◆ o reconhecimento de que o nível de acidentes de trabalho em Portugal é muito


elevado e constitui um inaceitável desperdício de potencial humano e uma
insuportável fonte de risco para as famílias;

◆ o reconhecimento que a qualidade dos cuidados de saúde é um factor decisivo de


atractividade para algumas das actividades que podem ser fortemente geradoras de
emprego em Portugal.

Tendo em conta os factores referidos esta área de Intervenção inclui os seguintes


vectores:

◆ Prevenção & Acompanhamento;

◆ Investimentos em Hospitais & Gestão em Rede.

38 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

No Vector “Prevenção & Acompanhamento” incluem-se:

1. O investimento na instalação ou remodelação de centros de saúde e respectivas redes


de cuidados ambulatórios nas zonas mais densamente povoadas e com menor grau de
cobertura; esses centros deverão ser dotados de meios de diagnóstico e de áreas de
internamento de curta duração.

2. Lançamento, em Centros de Saúde, de experiências de uma gestão preventiva da


saúde, associadas à criação de Unidades de Saúde Familiar, acompanhando a reforma
dos sistemas de incentivos que a nível das políticas públicas favoreçam aos cuidados
individuais de saúde.

3. Incentivos à criação de uma rede de Cuidados Continuados Integrados orientada para


os cidadãos com dependência, articulada com hospitais e centros de saúde e expansão
dos cuidados ao domicílio, com maior incidência em zonas urbanas e em territórios com
uma estrutura etária mais envelhecida.

4. Equipamento dos serviços de inspecção de segurança de trabalho com unidades


móveis, dando prioridade às regiões em que se concentrem actividades com maiores
índices de perigosidade.

No Vector “Investimentos em Hospitais & Gestão em Rede”:

5. Apoio a investimentos necessários à implementação de redes de comunicações internas


de elevada velocidade e a serviços de tele-medicina, bem como a investimentos que
permitam o desenvolvimento e difusão de novas formas de acessibilidade, em termos de
telecomunicações, dos cidadãos aos serviços e aos profissionais de saúde.

6. Encerramento ou redução de funções dos hospitais localizados em regiões de elevado


risco sísmico e sua substituição por novos pólos hospitalares de alta qualidade em zonas
mais protegidas desse risco, servindo os mesmos aglomerados urbanos.

7. O co-financiamento da instalação de hospitais e/ou clínicas de renome internacional em


três regiões com maior potencial para o turismo sénior: Cascais/Sintra; Península Setúbal
e Algarve.

A6. Solidariedade & Integração

As situações de pobreza e marginalização multiplicam-se na sociedade portuguesa em


resultado de dinâmicas distintas. Os esforços para reduzir estas situações que são
indignas de um país desenvolvido e solidário têm que ser continuados, diferenciados e

Departamento de Prospectiva e Planeamento 39


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

abrangentes nos instrumentos a que recorrem. O aspecto central do ataque a estas


situações deve caber a políticas da exclusiva responsabilidade dos Estados Membros da
UE.

Contudo, o foco de intervenções co-financiadas pelos Fundos Estruturais da União


Europeia deve localizar-se num número restrito de situações com forte significado social
para apoiar experiências inovadoras de combate às causas, ou apenas aos sintomas mais
gritantes. É essa a opção que se considera adequada para o QREN, referenciando-se dois
grupos-alvo das intervenções propostas – a população idosa e os imigrantes.

Nesta Área Prioritária de Intervenção integram-se dois vectores:

◆ Cidades mais Amigáveis para a População Idosa;

◆ Mobilização das Comunidades de Imigrantes para Desafios de Excelência.

No vector “Cidades mais Amigáveis para a População Idosa” inclui-se a expansão da


rede social de apoio à família direccionada em especial para idosos, o que envolve:

◆ o incentivo ao desenvolvimento de serviços comunitários de proximidade dirigidos


aos idosos ou a pessoas em situação de incapacidade, assente no desenvolvimento
do voluntariado;

◆ o apoio prioritário à constituição de redes de centros (eventualmente com marcas


próprias) que simultaneamente sirvam de centros de dia para a população idosa,
espaços para crianças e locais de apoio escolar aos jovens;

◆ incentivos às empresas e instituições que facilitem a conciliação trabalho/família,


flexibilizando horários.

No vector “Mobilização das Comunidades de Imigrantes para Desafios de Excelência


inclui-se:

◆ incentivo à criação, nos bairros onde existam fortes comunidades de imigrantes, de


centros de actividades desportivas, culturais, lúdicas e de centros públicos de
acesso à internet onde se possam cruzar as raízes culturais de origem com as
dinâmicas das sociedades de acolhimento, situados sempre que possível junto das
escolas, mas abertos a toda a população, especialmente aos jovens;

◆ apoio ao investimento, junto dos principais bairros onde se concentrem


comunidades de imigrantes, em instalações de elevada qualidade para o ensino das

40 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

Artes e Espectáculo, Desporto de Alta Competição, Tecnologias da Informação &


Tecnologias do Entretenimento etc.

EIXO 3. POLICENTRISMO E COESÃO TERRITORIAL

Nas últimas duas décadas três principais objectivos nortearam as políticas de


desenvolvimento regional, com consequentes impactos no ordenamento do território:
melhorar a infra-estruturação e o equipamento do Interior, nomeadamente num conjunto
de cidades médias, visando aumentar a equidade no acesso a bens públicos; modernizar
as infra-estruturas de transporte e energia na faixa litoral; e facilitar a integração das
economias ibéricas, aumentando a fluidez do território.

Encontrar um compromisso equilibrado entre os objectivos da coesão e da competitividade


da economia passa por uma evolução da organização do território e dos seus sistemas
urbanos no sentido da especialização funcional segundo as suas potencialidades e as
novas exigências dos mercados internacionais e do policentrismo, como forma de
obtenção de massas críticas face às imposições da competitividade.

O policentrismo e a procura de novas soluções produtivas pressupõem que se encarem as


áreas metropolitanas e comunidades urbanas, como actores de desenvolvimento, com
vista a permitir a obtenção de escalas mais adequadas, não apenas para investimentos em
infra-estruturas ligadas a diferentes actividades – da energia aos resíduos, das
telecomunicações à política de transportes – mas também para a implementação de
estratégias de promoção territorial externa e de estímulo à reorientação produtiva, que
permitam um crescimento economicamente mais sustentado, territorialmente mais coeso,
menos destruidor de recursos naturais e menos poluente.

Olhando para o futuro consideram-se como principais desafios, os seguintes:

◆ Redução do impacto da condição periférica de Portugal no contexto europeu, por


um lado, através da valorização de actividades com elevado valor acrescentado
para o mercado internacional, para as quais a posição geográfica tem menos
significado, e por outro lado, através da melhoria ou criação de infra-estruturas que
assegurem um maior acesso às redes de comunicação e transportes mundiais –
nomeadamente, as telecomunicações, o transporte aéreo, o transporte marítimo – e
permitam melhor articulação com as Redes Transeuropeias;

◆ reforço das condições de competitividade e internacionalização dos territórios que


constituem, actualmente, as principais alavancas de internacionalização da

Departamento de Prospectiva e Planeamento 41


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

economia portuguesa: a Região Metropolitana de Lisboa, a Região Metropolitana do


Noroeste, o Algarve e a Região Autónoma da Madeira;

◆ aposta na organização e no reforço da projecção europeia e ibérica – em termos de


funções económicas, culturais e do conhecimento – das duas grandes estruturas
metropolitanas de Portugal: a Região Metropolitana de Lisboa e a Região
Metropolitana do Noroeste, fazendo delas instrumentos indutores do crescimento do
conjunto do País;

◆ a estruturação de uma Grande Região Metropolitana de Lisboa, com massa crítica e


interactividade para as suas funções indutoras de crescimento, pressupõe um
território amplo que se estende de Leiria a Sines e que, para leste, penetra no
Ribatejo e Alentejo Central, apoiando-se no reforço da projecção internacional de
Lisboa e na transferência e consolidação de funções que permitam fortalecer outras
centralidades no interior dessa Região, contribuindo, assim, para um carácter mais
policêntrico e territorialmente coeso da mesma;

◆ reforço do policentrismo como factor organizador dos territórios da Região


Metropolitana do Noroeste, muito marcados actualmente pelo padrão de
urbanização difusa, atribuindo à Área Metropolitana do Porto um papel destacado,
mas partilhado com as Áreas Metropolitanas do Minho e Aveiro, no “upgrading” das
funções nacionais e europeias desempenhadas por essa Aglomeração; para além
disso, aponta-se ainda para a extensão para o Interior, da dinâmica desta
Aglomeração, nomeadamente pela integração do Tâmega na dinâmica económica
exportadora subjacente àquela Aglomeração;

◆ valorização do sistema urbano algarvio como factor de qualificação das actividades


turísticas e de diversificação para serviços mais diversificados na área do
Acolhimento e para Actividades mais intensivos em conhecimento; esta valorização
exige um vasto investimento de requalificação urbana dirigido à correcção dos
excessos de edificação e ao caos urbanístico, existente nalgumas zonas da região;

◆ concentração dos esforços de combate à desertificação de vastas regiões do interior


do país na consolidação da estrutura urbana, na melhor conectividade
comunicacional e numa mais equilibrada combinação de actividades de alto valor
acrescentado e de actividades baseadas no aproveitamento do potencial endógeno
dessas regiões para reforçar a capacidade de fixação e atracção de residentes e
visitantes;

42 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

◆ uma estratégia de inclusão do Interior no desenvolvimento global do País, pode


basear-se na estruturação de três eixos urbanos, visando uma maior articulação
entre centros e sistemas urbanos na direcção norte/sul:

− o mais extenso, o eixo Guarda/Covilhã/Castelo Branco/Portalegre, que se


designa “Eixo Urbano de Fronteira”. Aqui se localizam uma Universidade (UBI) e
três Institutos Politécnicos, um recente Parque de Ciência e Tecnologia (Covilhã),
vários Parques Industriais, uma futura Plataforma Logística dispondo de
excelentes acessibilidades;

− o eixo Vila Real/Régua/Lamego, que se designa Eixo Urbano do Douro, onde


existe uma Universidade (UTAD) e um Instituto Politécnico, o qual pode servir
como elemento de charneira e de apoio a toda a região do Douro;

− o Eixo Ponte de Sôr/Évora/ Beja, que se designa “Eixo Urbano do Alentejo”, onde
existe uma Universidade e um Instituto Politécnico; este eixo pode vir a
estruturar-se em torno das actividades aeronáuticas.

◆ consolidação de três Áreas ou Comunidades Urbanas – Coimbra, Viseu e


Tomar/outras cidades do Médio Tejo – como um polígono central de cidades que
combinam, de modos diferenciados, importantes funções nas áreas da saúde, do
ensino, da investigação e da logística interna, com funções agrícolas, silvícolas e
industriais, nomeadamente as correlacionadas com as actividades anteriores,
servindo simultaneamente como “cidades rótula”, pela sua posição de charneira
entre as Regiões Metropolitanas e vastas regiões do Interior, nomeadamente o
Pinhal Interior e os três Eixos Urbanos anteriormente considerados;

◆ promoção da cooperação territorial de base transnacional, designadamente a


cooperação com cidades e regiões inovadoras que se destaquem a nível europeu,
visando a troca de experiências e conhecimentos e a exploração de sinergias,
através da inserção das cidades e regiões urbanas portuguesas em “redes”
internacionais.

Estes desafios apontam necessariamente para uma harmonização e hierarquização dos


diversos instrumentos de planeamento com impacto directo na organização e utilização do
território, permitindo racionalizar a ocupação do espaço, valorizar os diferentes recursos
naturais e tirar partido da localização geográfica das diferentes actividades. Apontam
igualmente para a necessidade de haver uma mais cuidada coordenação dos
investimentos na área dos Transportes.

Departamento de Prospectiva e Planeamento 43


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

Figura IV

UMA VISÃO GEOECONÓMICA DO SISTEMA URBANO

EIXO URBANO
DOURO
REGIÃO METROLPOLITANA
NOROESTE

Pinhal EIXO URBANO


DE “FRONTEIRA”
Interior

REGIÃO METROPOLITANA
LISBOA/VALE TEJO
EIXO URBANO
ALENTEJO

ÁREA METROPOLITANA ALGARVE

Neste Eixo Estruturante foram consideradas Três Áreas Prioritárias de Intervenção:

Conectividade Atractividade Mobilidade Sustentável


Internacional e Sustentabilidade e Coesão Territorial
do Território das Cidades

44 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

A7. Reforço da Atractividade e da Sustentabilidade das Cidades

A competitividade de um País na economia global e no contexto europeu, bem como a


qualidade de vida das populações depende fundamentalmente das suas Cidades e da
dinâmica do Sistema Urbano. A necessidade imperiosa de Portugal poder contar com
regiões metropolitanas capazes de constituírem pólos de atracção de actividades e
talentos no seio da Europa conjuga-se quer com a necessidade de gerir de forma mais
inovadora os fenómenos de urbanização difusa no litoral do País – que, tal como têm vindo
a evoluir comprometem a competitividade do território e tornam muito mais onerosa a
satisfação de necessidades das populações – quer com o papel central das cidades no
combate à desertificação de vastas zonas do País.

Nesta Área Prioritária de Intervenção deverão consagrar-se dois vectores tendo como
objectivos:

◆ Cidades Atractivas para actividades exigentes em qualificações, residentes


exigentes em qualidade de vida, e visitantes procurando amenidades, património e
animação;

◆ Cidades Sustentáveis – pelo tipo de desenvolvimento urbano, mobilidade,


utilização da energia e qualidade dos espaços públicos e ecológicos.

No vector “Cidades Atractivas” seriam apoiadas acções que envolvem a cooperação


entre cidades próximas:

1. Apoio à instalação de equipamentos e sistemas que reforcem a atractividade das


cidades para novas actividades mais intensivas em conhecimento ou que contribuam para
a melhoria da qualidade de vida, igualmente factor chave de atractividade. Esses
investimentos devem ser realizados numa perspectiva de fortalecerem o policentrismo e
serem prioritariamente dirigidos às regiões de urbanização difusa. Deverão ser apoiados
projectos apresentados por grupos de cidades que incluam dois ou mais dos seguintes
tipos de investimentos:

◆ constituição selectiva de Pólos Regionais de Inovação (vd. Tecnopólos) que sirvam


de estruturas de acolhimento para empresas multinacionais, PME inovadoras e
laboratórios de I&D, devendo ter estreitas relações com pólos de Ensino Superior,
embora não necessariamente com a mesma localização;

◆ criação de Zonas de Localização Empresarial – devidamente infra-estruturadas em


termos de serviços ambientais, de telecomunicações e de serviços de apoio – que

Departamento de Prospectiva e Planeamento 45


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

contribuam para ordenar o espaço, em particular, em zonas de industrialização


difusa, e em processo de reestruturação;

◆ instalação de parques de empresariais destinados à instalação de actividades de


serviços partilhados e tele-serviços orientados para os mercados externos e dotados
das melhores infra-estruturas de comunicações de elevado débito;

◆ instalação de infra-estruturas que sirvam para realização de congressos e outros


eventos semelhantes ou de actividades de formação, nomeadamente, de empresas
multinacionais ou de universidades estrangeiras;

◆ instalação de equipamentos pesados de entretenimento em áreas metropolitanas,


que integrem uma forte componente de realidade virtual e de outras técnicas
inovadoras de animação e funcionem como pólos de atracção externa;

◆ conservação, valorização, animação e presença virtual de património histórico-


cultural de grande significado nacional e susceptível de interacção com outros pólos
históricos europeus por forma a reforçar a identidade histórico-cultural das áreas
urbanas;

◆ criação de relações de cooperação territorial com as regiões mais inovadoras da


Europa.

No vector “Cidades Sustentáveis” seriam apoiados:

2. Investimentos a concretizar nas cidades individualmente consideradas e destinados a


reforçar a sustentabilidade do seu funcionamento. Nomeadamente, nos seguintes tipos de
intervenções:

◆ experimentação de novas formas organizativas de transporte público – de uso


colectivo ou de uso individual – utilizando soluções inovadoras de motorização e
telemática;

◆ difusão de novas soluções de produção descentralizada de energia e sua gestão


eficiente, para fins residenciais em áreas urbanas, com soluções híbridas
combinando energias fósseis e energias renováveis (incluindo co-geração
electricidade/calor a partir da rede de gás natural; o equipamento dos edifícios com
soluções fotovoltaicas de última geração etc.);

◆ apoio à criação de corredores ecológicos e de espaços públicos “ verdes” nas


cidades, como investimento chave para a melhoria da sua qualidade ambiental;

46 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

◆ apoio à experimentação de novas soluções e de intervenções de reabilitação dos


sistemas de saneamento básico nas grandes áreas urbanas, por forma a maximizar
a possibilidade de reciclagem da água para utilizações que não sejam de consumo
humano;

◆ finalização dos programas de investimentos na gestão integrada de resíduos que


privilegiem a reutilização e a reciclagem e protejam o meio ambiente.

A8. Reforço da Conectividade Internacional do Território

Portugal ocupa uma posição geograficamente periférica relativamente ao centro


económico da Europa, o qual se tem vindo a deslocar para Norte e Leste. No entanto
dispõe de uma posição geográfica e de uma configuração arquipelágica que podem ser de
grande utilidade para empresas e actividades com organização à escala global.

Se a qualificação dos recursos humanos é a condição básica para a redução do impacto


desse carácter periférico, tal não deve fazer esquecer a importância das infra-estruturas e
dos serviços que permitam a Portugal, por um lado, inserir-se em dinâmicas de
globalização e, por outro lado, melhorar o acesso ao “centro económico e inovador” da
Europa. Esta é uma questão crucial para que a integração europeia de Portugal não seja,
no essencial, uma integração na Península Ibérica.

Nesta área de intervenção destacar-se-ão dois vectores:

◆ Conectividade Global;

◆ Reforço da Integração nas Redes Transeuropeias e Melhoria das Acessibilidades a


Espanha.

No vector “Conectividade Global” incluem-se:

1. Reforço das ligações em telecomunicações internacionais de âmbito global, quer em


redes de fibra óptica quer em redes de satélites, nomeadamente as que permitam uma
comunicação com os EUA e a Ásia.

2. Equipamento dos principais pólos de actividade internacionalizada do País com redes


de telecomunicações de altíssimo débito, e generalização no resto do País das
comunicações em banda larga, num quadro de competição de operadores e de
tecnologias de acesso local.

Departamento de Prospectiva e Planeamento 47


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

3. Construção de um Novo Aeroporto Internacional de Lisboa com condições operacionais


adequadas em termos de segurança e ambiente, “ajustadas ao desenvolvimento dos
segmentos de negócios estratégicos de passageiros e carga com uma forte vertente de
funções de trânsito, que assegurem a maior conectividade geográfica ao País (exigindo,
nomeadamente funcionamento 24H/24 h; independência de pistas; tempos mínimos de
conexão; capacidade de recepção simultânea de aviões de grande porte (New Large
Aircraft, NLA; disponibilidade de área para expansão futura; boas acessibilidades); sendo
que estas exigências repercutem-se de forma significativa na escolha da localização e da
concepção da própria infra-estrutura. Este novo aeroporto poderá, no futuro, vir a funcionar
como plataforma de trânsito de uma das alianças mundiais de aviação civil.

4. Ampliação da capacidade do porto de águas profundas de Sines com múltiplas


valências (vd. carga contentorizada e energia) e como zona privilegiada de actividades
logísticas e pólo de atracção de novas actividades industriais. O porto de Sines terá de
alargar o respectivo hinterland até Madrid, aproveitando a grande Zona de Actividades
Logísticas adjacente à capital espanhola. Para este fim é crucial a construção das ligações
rodo-ferroviárias a Espanha, nomeadamente a ligação ferroviária Sines-Évora-Badajoz
para tráfego de mercadorias e as ligações rodoviárias pelo IC33 e IP8.

5. Aproveitamento do investimento em larga escala realizado recentemente no Aeroporto


Sá Carneiro para o consolidar como o principal aeroporto do noroeste peninsular, através
do aumento da oferta de ligações a um maior número de destinos europeus e da melhoria
significativa das condições de funcionamento para carga aérea, apostando numa área
logística e industrial, articulada com o porto de Leixões que constitua uma alavanca para
diversificação do tecido industrial do Norte e Centro Litorais.

6. Manutenção do porto de Lisboa com funções de serviço internacional na área da carga


contentorizada, procedendo eventualmente à sua expansão para o interior, e
estabelecendo uma nova ligação ferroviária à superfície desse cais expandido com a linha
de Cintura Interna de Lisboa, e através desta, à linha ferroviária Norte-Sul; caso seja
impossível manter na margem norte do Tejo um porto com estas características em
consequência da dinâmica de crescimento urbanístico e/ou implantação de estruturas de
lazer na zona ribeirinha, dever-se-á retomar o estudo da deslocalização daquelas funções
para a margem sul, agora num contexto em que tal deslocação se possa inserir em
esquemas futuros de defesa das zonas ribeirinhas face à eventual elevação do nível do
mar.

No vector “Reforço da Integração nas Redes Transeuropeias e Melhoria das


Acessibilidades a Espanha” incluem-se:

48 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

7. Adaptação ao Transporte Marítimo de Curta Distância (TMCD) de portos que sirvam


importantes zonas de actividade económica exportadora do País, começando por um porto
a Norte (vd. Leixões) e admitindo outro a Sul. O TMCD deverá privilegiar as relações
directas de Portugal com a Flandres e com a Inglaterra do Sul, permitindo que através
destes portos se aceda às regiões do Norte da Europa.

8. Criação de um corredor multimodal para mercadorias que ligue o porto de Sines, não só
ao pólo de Madrid, mas através de Saragoça, Barcelona e Perpignan ao centro da Europa
(vd. Alemanha do Sul/ Suíça). Este corredor multimodal deverá dispor centralmente de
uma plataforma logística que permita o encaminhamento e distribuição de mercadorias
transportadas por via aérea, marítima, ferroviária e rodoviária.

9. Construção da ligação Lisboa-Madrid em Alta Velocidade visando permitir um tempo de


viagem inferior a 3 h entre as duas capitais 1 . Em território português a nova linha de AV
deverá estar ligada ao novo aeroporto internacional de Lisboa.

10. Melhoria significativa das ligações ferroviárias Porto – Vigo, envolvendo eventualmente
a opção por soluções de Velocidade Elevada se as perspectivas económicas o
justificarem.

11. Adaptação de parte do actual aeroporto militar de Beja para implantação de actividades
da indústria aeronáutica, em espaço vocacionado para o efeito, e para operadores de “low
cost” (turismo do Algarve do Alentejo e, até da AML).

12. Investimento prioritário nas redes transeuropeias de energia que permitam fazer a
interconexão da rede eléctrica nacional e ibérica com a França, principal produtor de
electricidade nuclear na Europa.

1
O traçado para esta ligação, financiável pelas Redes Transeuropeias, que poderia oferecer maiores
vantagens seria aquele que permitisse a ligação de Lisboa, como capital, quer com Madrid, quer com
outra grande cidade espanhola, como Sevilha.

Departamento de Prospectiva e Planeamento 49


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

O PAPEL CRUCIAL DO SISTEMA AEROPORTUÁRIO NUM PAÍS PERIFÉRICO

A posição periférica de Portugal, relativamente ao centro demográfico e económico da Europa e a


necessidade de maximizar os relacionamentos com regiões do mundo mais prósperas e
inovadoras, que possam contribuir para a modernização da economia portuguesa torna o
investimento nas infra-estruturas e serviços de transporte vital para o desenvolvimento do País.

Não havendo alternativa ao modo aéreo, aceitável, para o transporte de pessoas em distâncias
superiores a 600 km, a situação periférica de Portugal aconselha a que se dote o País com uma
nova infra-estrutura aeroportuária, não só capaz de se constituir como plataforma adequada no
contexto das redes globais da aviação civil, como, também, factor de desenvolvimento da
economia nacional e, em particular, como pólo de atracção do turismo e do investimento
estrangeiro (o que só é possível se Portugal estiver presente nas referidas redes globais).

Os passageiros (Turismo, VFA, Negócios) e a carga aérea (frio positivo e negativo, perecíveis,
expresso, Tc) constituem segmentos de negócio com exigências de qualidade de serviços e preços
cada vez mais diferenciados e competitivos, o que determina a correspondente necessidade de
diferenciação nas infra-estruturas aeroportuárias, tendo em comum o requisito da velocidade, que
só o transporte aéreo pode oferecer; requerem-se, pois, infra-estruturas aeroportuárias que
permitam e potenciem a fluidez de processamento, indispensável, quer aos tempos de conexão
requeridos pelas redes globais, quer aos de rotação impostos pelas Low-Cost.

A nova infra-estrutura aeroportuária deverá ser planeada e concebida por forma a responder aos
requisitos de adequação à evolução da procura e da indústria, nomeadamente das New Large
Aircraft (NLA´s), num horizonte mínimo de 30 anos, de flexibilidade de ajustamento aos ritmos de
crescimento e, finalmente, de integração territorial, em particular nas áreas do ambiente, da
intermodalidade e da logística. Poderá ser constituída, no médio prazo, por um só aeroporto ou por
um sistema de aeroportos, dependendo tal decisão, fundamentalmente, da visão estratégica
associada a possíveis opções de especialização e da capacidade de realização nacional.

Atendendo a que o Aeroporto de Sá Carneiro tem um horizonte de vida útil confortável, o da


Portela está no limite de capacidade e o de Faro tem uma vida útil razoável, mas de tráfego
exclusivamente “inbound” e totalmente condicionada pela sua inserção na Ria Formosa, importa
dar elevada prioridade ao planeamento aeroportuário.

A9. Infra-estruturas de Transportes e Soluções de Mobilidade que Assegurem a


Sustentabilidade e a Coesão

Os investimentos em infra-estruturas de transportes que sirvam a consolidação do sistema


urbano devem prosseguir no horizonte 2007/13 com dois objectivos centrais. Por um lado
privilegiar a sustentabilidade o que implica uma concentração de investimentos na faixa
litoral – Áreas Metropolitanas e Eixo Estruturante Norte-Sul – no sentido de transferir parte
dos fluxos de mobilidade do modo rodoviário para o modo ferroviário, no quadro de um

50 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

reforço de operadores multimodais e por outro reorganizar a oferta do transporte rodoviário


urbano, e reequipar as respectivas frotas, por forma a oferecer soluções de transporte mais
flexíveis, com menos rupturas de carga e com menor consumo de combustíveis fósseis.
Por outro lado aumentar a Coesão Territorial seleccionando um conjunto de
investimentos rodoviários e ferroviários que permitam reforçar os Eixos Urbanos do Interior
atrás referidos (Eixo Urbano de Fronteira; Eixo Urbano do Douro e Eixo Urbano do
Alentejo); reforçar a relação destes com as “Cidades Rótula” (Viseu, Coimbra e
Tomar/Médio Tejo) e destas com o Eixo Norte-Sul; e por último permitir um
atravessamento cruzado do Pinhal Interior a fim de facilitar dinamização de actividades e
povoamento. Neste contexto destacam-se três Vectores principais:

◆ Acessibilidades Estruturantes do Território;

◆ Fluidez de Circulação nas Áreas Metropolitanas;

◆ Acessibilidades para a Coesão Territorial.

No vector “Acessibilidade Estruturantes do Território” inclui-se o investimento no


corredor ferroviário norte-sul, para o qual se apresentam duas formulações distintas:

1. Investimentos na ligação ferroviária Norte-Sul no sentido da criação de uma nova linha


dedicada ao tráfego de passageiros de médio e longo curso em Alta Velocidade; o traçado
dessa linha permitiria assegurar uma clara separação dos tráfegos de longo curso dos
interurbanos e regionais, nomeadamente entre Porto e Aveiro, num canal mais para leste;
e por outro servir Leiria e o Oeste, captando em ambos os casos mais tráfego; esta nova
linha deverá estar ligada ao novo aeroporto internacional de Lisboa e à linha de Alta
Velocidade Lisboa-Madrid.

ou

1. Investimentos na ligação ferroviária Norte-Sul no sentido da sua migração para


Velocidade Elevada, introduzindo substanciais alterações de traçado à actual Linha do
Norte que por um lado assegurem uma clara separação dos tráfegos de longo curso dos
regionais e suburbanos:

◆ quer entre Porto e Aveiro, mediante a utilização de um canal mais para leste que se
aproximasse das cidades dinâmicas do Entre Douro e Vouga; e que eventualmente
atravessasse o Douro a leste das actuais travessias, encaminhando-se para o
Aeroporto de Sá Carneiro pelo Norte da cidade e prosseguindo depois em direcção
a Vigo;

Departamento de Prospectiva e Planeamento 51


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

◆ quer na aproximação a Lisboa que se passaria a fazer pela margem sul do Tejo,
mediante uma travessia a norte de Vila Franca de Xira, o que também permitiria
vocacionar a linha actual para o tráfego regional e suburbano; na sua aproximação a
Lisboa a nova linha seria paralela à de Alta Velocidade Madrid-Lisboa; com o seu
novo traçado a Linha do Norte teria que estar ligada ao novo aeroporto internacional
de Lisboa

e, por outro lado, encurtem a distância entre Coimbra e Pombal, ligando em Pombal a
Linha do Norte à Linha do Oeste, mediante a construção do troço Leiria-Pombal.

No vector “Fluidez da Circulação nas Áreas Metropolitanas” incluem-se:

2. Apoios a projectos de instalação de redes de comunicações em banda larga que


permitam uma maior exploração das oportunidades abertas pelas tecnologias da
informação para uma redefinição de localizações de residência e de trabalho nas Grandes
Áreas Metropolitanas, por forma a que reduzir a intensidade e amplitude dos movimentos
pendulares e a contribuir para o enriquecimento funcional de zonas suburbanas.

3. Execução de Intervenções destinadas à melhoria da eficiência e sustentabilidade dos


sistemas de mobilidade nas Grandes Áreas Metropolitanas em que se verifiquem fortes
movimentos pendulares, envolvendo, quer um novo quadro regulamentar e empresarial
que permita a formação de operadores multimodais concorrentes, que sirvam essas Áreas
no seu conjunto – e não apenas em zonas circunscritas das mesmas; quer a adopção de
um programa de incentivos ao investimento na renovação das frotas rodoviárias desses
operadores, com a adopção de soluções tecnológicas menos consumidoras de petróleo,
quer baseadas em motorizações híbridas, quer na utilização de combustíveis menos
poluentes.

4. Prosseguimento dos investimentos em curso em infra-estruturas de transporte em modo


ferroviário ligeiro e “metro” nas Grandes Áreas Metropolitanas, seleccionando com
prioridade os que apresentem maior viabilidade económica e não excluindo novos
investimentos em soluções circulares que permitam uma maior acessibilidade entre
centros periféricos daquelas áreas.

5. Investimento na instalação de terminais integrados para operadores de transportes


públicos em Lisboa e Porto por forma a superar as limitações das soluções actualmente
existentes, designadamente, quanto a interconectividade e demais facilidades para os
respectivos utentes e Implementação de uma rede de parques de estacionamento públicos
estrategicamente colocados em pontos-chave de acesso às AM, visando a dissuasão do
uso do meio privado de transporte.

52 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

No vector ”Acessibilidades para Coesão Territorial” incluem-se:

6. Realização prioritária dos IP e IC previstos no PRN que permitam a consolidação dos


centros urbanos incluídos nos três “Eixos Urbanos” atrás referidos e que permitem reforçar
a atractividade e dinamizar os territórios situados entre a faixa litoral e a fronteira com
Espanha,

7. Construção dos atravessamentos transversal (IC 6) e longitudinal (a acrescentar ao


Plano Rodoviário nacional -PRN), do Pinhal Interior, contribuindo para a uma maior
densificação de povoamento e actividade económica nesta extensa região e poderá levar à
constituição de uma nova centralidade urbana no cruzamento desses atravessamentos.

8. Incentivos à experimentação de soluções para os transportes públicos em meio rural de


povoamento pouco denso.

Eixo 4. Qualidade ambiental e prevenção

Neste Eixo Estruturante são visados quatro domínios essenciais para o desenvolvimento
sustentável, em particular no seu pilar ambiental:

◆ uma política coerente de conservação da natureza e da biodiversidade, incluindo o


ambiente marinho, que seja capaz de suster o actual curso de redução e
fragmentação dos habitats, principal causa do declínio das espécies da fauna e da
flora;

◆ uma gestão integrada dos recursos hídricos, que tenha em conta tanto as
necessidades de uso como os constrangimentos ecológicos do ciclo da água nas
condições biogeográficas concretas do nosso país. A orientação para a criação de
um efectivo mercado da água, que contribua para a redução das externalidades
negativas e dos desperdícios do recurso, deve ser guiada por um quadro
institucional e legislativo harmonizado com a política europeia, que garanta a
quantidade e qualidade deste recurso em todas os componentes das bacias
hidrográficas nacionais;

◆ uma política de prevenção e mitigação de impactes, relativamente aos riscos


naturais e tecnológicos, típicos das sociedades tecnocientíficas modernas, desde o
risco sísmico, aos incêndios florestais, aos acidentes industriais e à identificação e
protecção das zonas mais ameaçadas pelas eventuais consequências catastróficas
das alterações climáticas, situadas na orla costeira.

Departamento de Prospectiva e Planeamento 53


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

Neste Eixo Estruturante foram consideradas Três Áreas Prioritárias de Intervenção:

Conservação e
Conservação da Natureza e Eficiência na Prevenção dos
Desenvolvimento Rural Utilização de Riscos Naturais
Recursos Hídricos

Energias Limpas
& Energias Renováveis

A10. Conservação e Eficiência na Utilização dos Recursos Hídricos

A continuação de um investimento volumoso na Conservação e Eficiência na utilização dos


Recursos Hídricos resulta de três imperativos: o cumprimento de legislação comunitária –
Directiva Quadro da Água que estabelece um quadro de acção para a promoção da
utilização sustentável da água, baseada na protecção dos recursos hídricos a longo prazo;
a necessidade de antecipar possíveis evoluções climáticas que se traduzam na redução
dos recursos hídricos disponíveis e em fenómenos recorrentes de seca em parcelas
significativas do território, bem como de cheias; o imperativo de optimizar a utilização dos
recursos hídricos que estão sob controlo exclusivo do País.

Nesta área prioritária de Intervenção identificaram-se os seguintes vectores:

◆ Gestão Estratégica dos Recursos Hídricos;

◆ Abastecimento de Água e Tratamento de Águas Residuais;

◆ Regadios.

No vector “Gestão Estratégica dos Recursos Hídricos” incluem-se:

1. Investimento em sistemas de monitorização e informação, estudo e investigação


aplicada dos recursos hídricos, como condição para a sua melhor gestão estratégica.

2. Investimento reforçado na protecção e enquadramento da exploração dos principais


aquíferos subterrâneos, encarados como uma das componentes cruciais das reservas
estratégicas de água do País (vd. Maciço Cárcico).

54 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

3. Atribuição de maior prioridade aos Investimentos dirigidos à criação de reservas


estratégicas de água nas áreas das bacias hidrográficas para debelar as irregularidades
sazonais e para responder a períodos mais extensos de seca.

4. Realização dos investimentos previstos no Plano Nacional da Água relativos à


“Conservação dos Recursos Hídricos” e “Protecção, Recuperação e Promoção da
Qualidade dos Recursos Hídricos”.

5. Realização dos investimentos previstos no Plano Nacional da Água que se concentram


mais no período 2007/13, como sejam os do “Ordenamento e Gestão do Domínio Hídrico”
e “Conservação Ambiental e da Integridade Biológica”.

No Vector “Abastecimento de Água e Tratamento de Águas Residuais” incluem-se:

6. Recuperação dos atrasos e realização dos investimentos previstos para o período


2007/13 no Plano Nacional da Água com destaque para os orientados para a “Garantia do
Abastecimento de Água às Populações e Actividades Industriais” e ”Redução e Controle
da Poluição Tópica”.

No vector “Regadios” incluem-se:

7. Conclusão da rede primária de distribuição de água do empreendimento de Fins


Múltiplos de Alqueva, os investimentos da rede de distribuição do Regadio do Baixo
Mondego e apoio à reabilitação de infra-estruturas de rega já existentes.

8. Promover a concentração de explorações nas áreas já equipadas, favorecendo as


soluções tecnológicas de rega mais eficientes e as culturas de maior valor acrescentado e
apoio à gestão profissional dos perímetros de rega.

A11. Conservação da Natureza e Desenvolvimento Rural

Como se referiu atrás, uma política coerente de conservação da natureza e da


biodiversidade não pode ser separada do futuro do mundo rural e da necessidade de
manter no sector primário os solos de melhor aptidão agrícola, sobretudo aqueles que
estão ameaçados pela expansão urbana. A agricultura e a silvicultura deverão ser
reconcebidas como actividades essenciais para o combate à desertificação e ao
despovoamento do interior, contribuindo para a conservação dos solos, dos recursos
hídricos, e dos valores paisagísticos, assim como para a criação de oportunidades de
emprego e fixação das populações em áreas rurais. Nesta Área Prioritária de Intervenção
destacam-se três Vectores:

◆ Conservação e Valorização de Áreas Protegidas;

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Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

◆ Floresta Sustentável;

◆ Turismo para o Desenvolvimento Rural.

No vector “Conservação e Valorização de Áreas Protegidas” incluem-se:

1. Investimento para a reabilitação de Áreas Protegidas que estejam em risco de


degradação ou perda de biodiversidade, para constituição a partir dessas áreas de uma
rede nacional para a investigação e monitorização ecológica e para a educação ambiental.

2. Constituição de uma rede de Áreas Protegidas Marinhas, tirando partido dos recursos
oceânicos e de valências científicas e institucionais e apoio à criação de um museu
específico para o património cultural marítimo.

3. Concessão de incentivos à localização de actividades turísticas sustentáveis que


permitam a valorização económica das principais Áreas Protegidas e possam contribuir
para o financiamento da sua manutenção.

No vector “Floresta Sustentável ” incluem-se:

4. Incentivos a Fundo Perdido à florestação de zonas ardidas ou de zonas abandonadas


pela actividade agrícola em grandes extensões de floresta de uso múltiplo, centrada em
espécies autóctones produtoras de madeira de elevada qualidade e/ou de frutos secos;
essas florestas devem coexistir com outras fontes de rendimento que contribuam para
afixação de populações – cultura de especialidades agrícolas e pecuárias; plantas
medicinais e para produção de matérias-primas para a indústria farmacêutica; manchas
para o cultivo de espécies destinadas a alimentar fábricas de biocombústiveis, etc.; o
ordenamento destes espaços florestais deverá assegurar uma mais fácil delimitação dos
fogos e uma circulação fluida de viaturas de prevenção ou combate a incêndios.

5. Apoios focalizados do Estado, sob a forma de subsídios reembolsáveis, à instalação de


plantações florestais de espécies vocacionadas para a produção de madeira para o fabrico
de pasta para papel e aglomerados de madeira; plantações que deverão assegurar a
certificação ambiental exigida pela União Europeia aos produtos derivados da floresta e
serem ordenadas de modo a disporem de mecanismos ecológicos de auto-delimitação de
fogos.

No vector “Turismo para o Desenvolvimento Rural” incluem-se:

6. Apoio à concretização de projectos turísticos estruturantes em torno do património


natural e paisagístico em regiões de baixa densidade e ameaçadas de desertificação –
com destaque para Alto Douro, Serra da Estrela e Alqueva.

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Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

Mapa I

RISCOS NATURAIS EM PORTUGAL CONTINENTAL

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Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

A12. Prevenção de Riscos Naturais com Maiores Impactos Destrutivos

Regiões densamente povoadas do Continente, como a Área Metropolitana de Lisboa e o


Algarve, bem como a Região Autónoma dos Açores, apresentam-se vulneráveis a riscos
naturais de potencial destruidor intenso, como os sismos e tsunamis.

Em várias regiões do litoral registam-se múltiplas situações de degradação da orla


costeira, sendo esta particularmente vulnerável aos impactos potenciais de mudanças
climáticas que se traduzam em subida das águas do mar.

Por sua vez, regiões em vias de despovoamento e desertificação, mas intensamente


florestadas, têm vindo a experimentar de modo continuado incêndios de proporções
alarmantes.

Este conjunto de riscos exige um investimento mais significativo na monitorização, na


correcção e prevenção. Para este fim serão considerados dois vectores:

◆ Monitorização de Riscos Naturais;

◆ Prevenção dos Impactos dos Riscos Naturais.

No vector “Monitorização dos Riscos Naturais” incluem-se:

1. Investimento na actualização do conhecimento e cartografia dos riscos sísmico e


resultante dos impactos das alterações climáticas.

2. Instalação de uma rede de monitorização sísmica nacional bem como de uma rede de
detecção e alerta de tsunamis, ambas inseridas em redes europeias.

3. Criação de um sistema de vigilância permanente de incêndios com base em plataformas


aéreas não tripuladas ligadas a sistemas de alerta e desencadeamento de acções de
combate precoce dos fogos.

4. Criação de um sistema de vigilância permanente da zona costeira com base em


plataformas aéreas não tripuladas ligadas a sistemas de alerta e desencadeamento de
acções de combate a catástrofes ecológicas.

No vector “Prevenção de Impactos dos Riscos Naturais“ incluem-se:

5. Lançamento de programas de investigação destinados ao desenvolvimento de novos


conceitos tecnológicos e urbanísticos que permitam prevenir melhor os impactos
destrutivos de risco sísmico e de inundações.

58 Departamento de Prospectiva e Planeamento


Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

6. Criação de sistemas de Incentivos à requalificação e reconstrução urbana – edifícios e


organização do espaço – nas zonas urbanas com maiores riscos sísmico e de inundação,
com a adopção de soluções arquitectónicas inovadoras, sendo a Área Metropolitana de
Lisboa e o Algarve as regiões de actuação prioritária.

7. Investimento na aquisição de meios de combate aos incêndios, quer meios aéreos, quer
de meios terrestres e de comunicações para os serviços de bombeiros.

8. Investimento na protecção reforçada da Orla Costeira nas zonas de maior


vulnerabilidade e risco, em estreita associação com o reordenamento da sua utilização.

9. Lançamento dos trabalhos preparatórios para definição das melhores opções para
protecção dos aglomerados urbanos situados nos estuários mais ameaçados pelos riscos
de elevação das águas do mar, como consequência de alterações climáticas.

A13. Energias Mais Limpas & Energias Renováveis

O recente aumento do preço do petróleo, associada ao aumento da procura das


economias emergentes da Ásia, à redução da capacidade excedentária disponível nos
países do Golfo e à actividade especulativa dos hedge funds insere-se numa tendência
que aponta para o estabelecimento deste preço num patamar claramente mais elevado do
que aquele que existiu nos primeiros anos do novo século e para um acréscimo da
volatilidade desse preço por crise nos mecanismos de regulação centrados na colaboração
EUA /OPEP (através da actuação da Arábia Saudita).

Este contexto aconselha em geral, e em especial a um País como Portugal com uma
intensidade energética anormalmente elevada e uma fortíssima dependência do petróleo
como principal fonte de energia primária, à busca de acessos mais garantidos a reservas
de petróleo e gás, à diversificação da combinação de energias primárias utilizadas, à maior
atenção às possibilidades oferecidas pelas energias renováveis. E ao acompanhamento de
novos conceitos e tecnologias que se estão a desenvolver na área da energia, sob a
designação unificadora de “economia do hidrogénio”.

Por sua vez a União Europeia comprometeu-se no quadro do Protocolo de Quioto a reduzir
o nível de emissões de gases com efeitos de estufa tendo para tal os seus Estados
Membros assumido compromissos muito exigentes. No quadro desses compromissos
ressaltam a obrigatoriedade do maior recurso às energias renováveis.

Neste Eixo Estruturante consideraram-se dois Vectores:

◆ Energias Mais Limpas;

◆ Energias Renováveis.

Departamento de Prospectiva e Planeamento 59


Prospectiva e Planeamento, Nº 13 − 2006

No Vector “Energias Mais Limpas” incluem-se:

1. Investimento na Rede de Gás Natural, como elemento estruturador da diversificação de


fontes de energia primária, quer para a produção de electricidade, quer para utilização na
indústria e no espaço residencial e de serviços.

2. Lançamento de experiências em áreas urbanas dos novos conceitos de produção


descentralizada de electricidade, baseada na utilização de gás natural e no recurso a
sistemas de Fuel Cells (nomeadamente as novas gerações de SOFC) ou de microturbinas.

No Vector “Energias Renováveis” incluem-se:

1. Incentivos financeiros aos promotores de instalações para a produção de electricidade


por via eólica ou solar que se comprometam a instalar em Portugal fases de fabrico de
sistemas, equipamentos ou componentes para esses tipos de aproveitamento de energias
renováveis, sendo esses incentivos ampliados no caso de criação local de capacidades de
I&D.

2. Lançamento de experiências de cultivo de espécies vegetais para transformação em


biocombustíveis, sobretudo em terrenos sem aptidão para a produção agro-alimentar e de
instalação de parques eólicos integrados em projectos de produção de hidrogénio
destinada à utilização em veículos urbanos.

5. ÁREA BASE DE INTERVENÇÃO – MODERNIZAÇÃO E RACIONALIZAÇÃO DA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Garantir uma melhor capacidade de resposta da Administração Pública às necessidades


dos cidadãos e das empresas constitui uma condição necessária para a prossecução dos
objectivos estratégicos nacionais. Uma ausência de intervenção a este nível reduziria os
impactos das acções estruturais que se pretende empreender.

A qualificação dos serviços fornecidos pelos vários sistemas, designadamente, ensino,


saúde, protecção social, justiça e segurança e ordem pública depende essencialmente das
medidas de Reforma da Administração Pública, a contemplar no Plano Nacional de
Reformas. A simplificação e melhoria da qualidade do quadro legislativo, a racionalização
de procedimentos e circuitos, a racionalização das estruturas (serviços) enquadram-se
naquele contexto.

Todavia, aquele processo poderá beneficiar de um conjunto selectivo de intervenções


prioritárias no âmbito do QREN. Essas intervenções devem ser concentradas, ter um
impacto global (num conjunto vasto de serviços) e estruturantes, isto é, contribuírem elas

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Portugal. Visão 2015. Contributo para o Quadro de Referência Estratégico Nacional

próprias para a alteração e simplificação radical de procedimentos. Elas poderão levar à


reconfiguração das estruturas e do tipo de competências necessárias em muitas áreas.

O esforço a realizar deverá ser direccionado para três Vectores:

◆ Aproveitamento do Potencial das Tecnologias da Informação e Comunicação para


melhorar a prestação de serviços e Modernizar a Administração Pública;

◆ Reforço da Eficiência da Administração Pública;

◆ Reforço de Competências em Áreas-chave.

No Vector “Aproveitamento do Potencial das Tecnologias da Informação e


Comunicação para Melhorar a Prestação de Serviços e Modernizar a Administração
Pública” inclui-se:

1. Prosseguimento dos programas do Governo Electrónico, Portal do Cidadão, alargando o


leque de serviços oferecidos a novas áreas, em particular, às que apresentam maiores
dificuldades de acesso.

2. Reformulação dos principais processos administrativos, beneficiando da melhoria dos


sistemas de informação e desenvolvendo de sinergias entre os mesmos.

No Vector ” Reforço da Eficiência da Administração Pública” inclui-se:

3. Apoio à adopção de metodologias de formulação, acompanhamento e avaliação de


políticas.

4. Apoio à adopção e implementação de instrumentos de gestão.

No Vector “Aumento de Competências em Áreas-chave” inclui-se:

5. Apoio a acções de formação que desenvolvam capacidades de gestão quer ao nível


operacional quer do controlo.

6. Apoio a acções que reforcem as competências em TIC quer ao nível da sua utilização
quer ao nível da concepção e gestão dos sistemas.

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