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Prece

Senhor, a noite veio e a alma é vil.


Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,


Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia-,


Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância-
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Introdução:

«Prece» é o último poema da segunda parte de «Mensagem» -


«Mar Português» - sendo que o poema que o precede é «A Última Nau».
O tema central é a invocação de Pessoa a Deus pedindo-lhe ajuda para
reacender a Alma Lusitana para que de novo "conquistemos a Distância".

Definição:

Prece é um ato religioso pelo qual nos dirigimos a Deus para


suplicar algum benefício, ou para adorá-lo; reza, oração.

Aspetos Formais:

Constatamos que o poema é constituído por três estrofes, de


quatro versos (quadras). Quanto à métrica os versos são
predominantemente decassilábicos. Predomina o ritmo ternário,
conferindo ao poema o tom alto e sublimado próprio do poema épico. A
rima é cruzada, segundo o esquema abab, cdcd, efef. As sonoridades
nasais sugerem uma certa nostalgia e tristeza.

Análise da primeira estrofe:

A expressão «a noite veio», implica a existência prévia do dia e a


passagem deste a noite. Se o dia foi o tempo de grandeza, a noite será o
tempo de abatimento, tristeza e destruição. No passado situam-se a
tormenta («tanta foi a tormenta») e o sonho («a vontade!»). A frase
exclamativa presente no segundo verso confere ao discurso grande
emotividade.

As dificuldades foram muitas, mas a atitude assumida pelo povo


«nós» (sujeito poético mais o povo português) foi de vontade para as
ultrapassar. O desalento é o sentimento assumido pelo sujeito poético e
que deve ser também assumido pelos outros. Resta o silêncio e a
saudade, após a conquista do mar. Estamos portanto diante de um
Portugal marcado pela insensibilidade «pelo silêncio hostil», pelo apego
às coisas materiais, sem capacidade de sonhar «a alma é vil»em
contraste com um passado de «tormenta e vontade».

Análise da segunda estrofe:

A segunda estrofe introduzida pela conjunção adversativa «mas»


opõe-se à primeira estrofe, que termina com a afirmação do desalento e
da conformaçãoda situação presente em que apenas resta «o mar
universal e a saudade».

Em «A mão do vento», a metáfora e a personificação demonstram


a ideia de que pode erguer-se novamente a chama (a esperança),
porque enquanto há vida,(«aindanão é finda»), há esperança. Esta e o
sonho podem ainda ganhar força, tal como o fogo quase extinto pode
ser reavivado por um sopro, a Alma portuguesa pode ainda levantar-se.
A repetição do «ainda» reforça a ideia de que nada está perdido e
de que com uma atitude diferente (a ação do vento) tudo se pode
alterar. Na expressão «o frio morto»o adjetivo morto poderá ter um
sentido conotativo de ocultar vida renovada, como a Fénix que surge
das cinzas.

Análise da terceira estrofe:

Na terceira estrofe, como indica o título, o sujeito poético, em tom


de súplica, pede que um «sopro» divino ajude a atear a «chama do
esforço», ainda que se tenha de pagar com «desgraça» ou suportar o
peso da «ânsia».

Os dois últimos versos deste poema recordam-nos os do poema


«Infante»: «Cumpriu-se o mar, e o Império se desfez! Senhor, falta
cumprir-se Portugal!». A Distância é o caminho para o conhecimento:
em primeiro lugar do mar na primeira viagem que indica o império
material e agora outra (a nova viagem), que indica o império espiritual.
No último verso, reforça-se assim a ideia de que é necessário procurar a
identidade e o prestígio nacionais perdidos. Estes dois versos traduzem
a crença num futuro risonho.

O discurso na primeira pessoa:

O poema apresenta um discurso na primeira pessoa do plural.


Que é visível, por exemplo, nas expressões: «Restam-nos» (v.3), «nós»
(v.5); «conquistemos» (v.11) e «nossa» (v.12).
O discurso é na primeira pessoa porque se refere ao povo
português. O desejo/sentimento do poeta, em jeito de súplica, não é só
dele, mas deve ser de todos nós portugueses.

As marcas da presença do recetor:


No poema existem marcas que demonstram a presença de um
recetor ao qual o sujeito poético se dirige fazendo um pedido. E essas
marcas são as palavras: «Senhor» (v.1) e «Dá» (v.9).

A formulação do pedido:

Fernando Pessoa apresenta este pedido como uma súplica, sob a


forma de vento, como é notado nas expressões «Dá sopro» e «a
aragem», como forma de reavivar uma chama aparentemente apagada.
Esta súplica é feita para que uma mão divina ajude a erguer novamente
um clarão que restou. E será esta pequena aragem que fará toda a
diferença. Irá consistir assim num reaprender de ideias e de conquistas.

Os tempos verbais predominantes nessas estrofes:

Ao longo do poema predominam tempos verbais no presente do


indicativo e no futuro, mas também se faz referência a marcas passadas.
Estão presentes em expressões como «a noite veio e a alma é vil» /
«Tanta foi a tormenta»; «Resta-nos hoje»; «que a vida em nós criou»;
«pode erguê-la»; «E outra vez conquistemos…». É assim entendido
como algo que se necessita hoje e que se espera que suceda amanhã
bem como algo de revolucionário que se apresente ao nosso ser.

A expressividade da repetição do termo «ainda»:

O termo «ainda» que aparece repetido ao longo da segunda


estrofe remete-nos para uma sensação de esperança, de glória
vindoura. Este termo remete-nos para a possibilidade de ter um pouco
de esperança para erguer o quinto império, ou seja, nem tudo está
perdido e com empenho e dedicação tudo se conseguirá.

O prenúncio do quinto império:

Na terceira estrofeé visível uma referência ao quinto império:


«Com que a chama do esforço se remoça, / E outra vez conquistemos a
Distância - / Do mar ou outra, mas que seja nossa!». Esta é o prenúncio
de que se irá reerguer o glorioso Portugal (quinto império), e com «a
chama do esforço», com o esforço da cultura, não das armas (estas já
não levam a lado algum),tudo se conseguirá

A expressividade dos recursos estilísticos utilizados:

O sujeito poético inicia o poema com uma apóstrofe ao “Senhor”,


umchamamento aorecetor a quem é destinado o discurso – Deus ou D.
Sebastião divinizado.

Em “A mão do vento”, a personificação simboliza a ideia de que


uma mão divina vai fazer com que a chama se reacenda.

Também é visível o emprego de substantivos abstratos,


nomeadamente, «tormenta», «vontade», «silêncio», «saudade»,
«desgraça», «ânsia», «esforço».

Adjetivação como «alma é vil» e «silêncio hostil».

A repetição da palavra «ainda» reforça a ideia de que nada está


perdido e de que com uma atitude diferente (a ação do vento) tudo se
pode alterar.

Justificação para a localização do poema na obra pessoana:

O poema «Prece» está localizado na parte final do «Mar


Português» de «Mensagem», pois nele se encerra o ciclo de tentativa de
transmitir a palavra com uma invocação do poeta à intervenção divina.
Pessoa afirma que os portugueses venceram tantos obstáculos que hoje
perderam a valia. No entanto, tal como um sopro pode reavivar um fogo
extinto, também a Alma Portuguesa pode levantar-se para que seja de
novo grande entre as Nações («E outra vez conquistemos a Distância»).
Então este poema é ideal para encerrar esta parte da «Mensagem».
Sendo «Mar Português» a visão mística da história, Pessoa quer mostrar
que «o mar é nosso», que os Portugueses foram os primeiros a
conquista-lo e que ele é o caminho para a perfeição.

A simbologia da «noite»:

Neste poema, a «noite» pode ser vista sobre dois distintos pontos
de vista:
- As trevas, devido à situação em que a nação se encontra, porque
mesmo com o seu futuro por decidir, esta continua na sombra e na
obscuridade.
- A preparação do dia donde virá a luz da vida, ou seja, a preparação
daquilo que será o glorioso futuro de Portugal, o seu domínio cultural e
a reconstrução da sua essência do seu império.

Símbolo: Cinzas

Podemos ver as cinzas como uma imagem da nação em ruínas,


vestígio do que em tempos foi, mas no entanto a sua essência
permanece a mesma, só que adormecida e esquecida. As cinzas são o
que sobrou do corpo (da nação), mas não deixou de o ser, permanece.
Até que ganhe uma nova alma e das cinzas renasça, como a fénix, o ser
que existia com todo o seu esplendor, glória e essência.
Podemos dizer que mesmo estando Portugal adormecido, «em
cinzas», basta estas voarem, ou seja os portugueses sonharem e
acreditarem no sonho para que delas nasça um Portugal ainda maior do
que o deu origem às cinzas. Um Portugal onde impere a cultura, a
sabedoria, os valores/os ideais justos, a perfeição e a humanidade.

Semelhanças/diferenças do poema pessoano face à epopeia


camoniana:

Camões elogia um herói passado, pois estava numa altura em que


o país entrava em decadência de valores e pretendia tornar o povo
português um herói universal. Por outro lado, Pessoa quer divulgar a
língua e cultura portuguesas e tenta prever um futuro grandioso. No
entanto, para que Portugal alcance esta glória e se expanda pelo
mundo, ambos pedem ajuda divina, suplicando a Deus que auxilie
Portugal na conquista do mar, ou no caso de Pessoa de outra
«Distância- / Do mar ou outra, mas que seja nossa!».

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