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1. Resumo
Esse soneto é utilizado como abertura da grande maioria das antologias de sonetos de
Camões. Não é para menos: nele, Camões apresenta os princípios que regem sua arte
poética na forma de uma espécie de narrativa ou mesmo uma biografia espiritual e
poética. Aqui nos é dito o que impulsionou o poeta ao trabalho poético e quais os efeitos
dos processos que o levaram.
No primeiro quarteto, o poeta nos apresenta a figura da Fortuna, que, recebendo inicial
maiúscula, se torna uma espécie de entidade ou gênio com vontade própria, a qual
exerce sobre o destino do poeta. Por decisão dela, o poeta teve a esperança de um
contentamento, podemos crer, amoroso. A partir dessa ocorrência, um doce
pensamento, que nos é apresentado sensorialmente na forma de um “gosto”, levou o
poeta a escrever os efeitos dessa esperança de contentamento.
Nos tercetos, por fim, o poeta se dirige ao leitor, mas não a qualquer leitor: ali, ele
informa quais são os leitores que busca ou que estarão prontos para sua poesia: aqueles
que são afetados pelo amor das mais diversas maneiras. Para esses, os versos do poeta
aparecerão como as verdades que são, não defeitos. Esses leitores poderão penetrar na
obscuridade da linguagem e tirar dali um entendimento dos versos.
Nota-se que os dois quartetos apresentam dois momentos diferentes e consecutivos da
formação do poeta: o surgimento do impulso que o levou a poetizar a partir de um
desejo de Fortuna e a depuração de seu engenho a partir das determinações de Amor.
Tal como ocorre no soneto “Transforma-se o amador na cousa amada”, os tercetos se
constituem semanticamente em um quarteto e um dístico, já que a exortação que é
endereçada a “vós que Amor obriga a ser sujeitos” se conclui com “Verdades puras são e
não defeitos”, deixando os dois últimos versos para o convite final ao leitor.
2. Exercícios
4. No convite que o poeta faz a seus leitores, há uma advertência sobre a forma de
compreendê-los. Que advertência é essa?
a. Para poderem compreender os versos de Camões, os leitores precisam
conhecer a vida e os amores do poeta que os criou.
b. A maneira de compreensão dos versos de Camões só pode ser
encontrada nas doutrinas estudadas por ele, acima de tudo a platônica e
a aristotélica, que devem ser conhecidas também pelo leitor.
c. O leitor entenderá os versos de acordo com a forma como ele mesmo
vivencia e experimenta o amor.
d. Para entender os versos, é preciso que o leitor tenha sido afetado por
Fortuna e Amor exatamente da mesma forma como o foi o poeta.
e. É preciso entender o amor tanto em suas verdades quanto em seus
defeitos para entender os versos de Camões.