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Literatura Infantil e Género - A experiência da

UMAR[1], na intervenção precoce em igualdade de


género, nas escolas.
Olímpia Pinto

Portugal

JUL.2018

Em plena era da “Educação 4.0” (expressão aqui utilizada enquanto conceito formal de
aplicação das novas tecnologias como meio de alavancar o processo de ensino-
aprendizagem), ousar defender a importância da literatura infantil no processo
educativo de socialização, pode parecer algo anacrónico, obsoleto, ou até mesmo
utópico, sobretudo se nos debruçarmos na literatura infantil em formato analógico,
aquela que se folheia, se toca e sente em cada página de papel, aquela que se arruma e
desarruma nas estantes do “cantinho da leitura” na sala do Jardim de Infância, aquela a
que se acede por meio da emoção do encontro, sem tecnologias de permeio.

Sem desprimor para a relevância das mudanças que os mais diversos segmentos
tecnológicos aportam aos processos educativos e de aprendizagem, cabe aqui referir
que será esta velocidade na inovação tecnológica, esta exigência constante de
desenvolvimento de novas habilidades digitais, que nos desperta para a urgência de
salientar que, a montante de tudo isto, nos devemos focar na educação para o “ser”, o
lugar da interioridade, da inteligência emocional, sem a qual as inteligências artificiais e
as habilidades digitais poderão deixar de fazer sentido e simplesmente se perderem na
voragem da conectividade global.

Neste contexto, a literatura infantil (mesmo a analógica!) é ainda reconhecidamente um


meio de estimular o desenvolvimento da imaginação, da criatividade, dos sentimentos
e emoções que interferem de forma significativa e indelével na formação da
personalidade, no modo como interpretamos o mundo, como nos auto percecionamos
e relacionamos com quem nos rodeia. Seja pelo texto/conteúdos e linguagens, seja pela
representação gráfica e imagética das ilustrações, estas histórias que os livros nos
trazem podem ter um lugar privilegiado quando pensamos na utensilagem necessária à
formulação de uma educação transformadora, aquela que nos permite alicerçar as
bases para um mundo mais justo, mais solidário, mais democrático, onde estejam
excluídas todas as formas de discriminação e opressão, ao mesmo tempo que se
reforçam as garantias da vivência de uma cidadania plena, onde as identidades livres
suplantem definitivamente os preconceitos e as estereotipias.

Na senda desse paradigma societal livre, plural e feminista, a literatura infantil


apresenta-se como um recurso de enorme potencial para a transformação, derrubando
modelos de opressão e construindo a almejada Igualdade.

Existe atualmente um leque alargado de obras neste universo da literatura infantil que
veiculam contributos notáveis a este nível, porém as/os mediadoras/es (mães, pais,
educadoras/es) estarão cientes do potencial transformador de cada um desses “novos”
livros, quando os fazem chegar às crianças?

A nossa experiência de intervenção nas Escolas, permitiu-nos identificar uma série de


lacunas, limitações e constrangimentos com as quais as/os docentes e agentes de ação
educativa se deparam, quando exploram estes temas, nomeadamente a partir da leitura
destes mesmos livros.

Importa aqui referir que a intervenção da UMAR[1] em meio escolar, tem vindo a
desenvolver-se ao longo das duas últimas décadas e tem procurado responder às
inúmeras solicitações que nos chegam por parte de diversos estabelecimentos de
ensino, com vista à realização de ações de sensibilização e de informação dirigidas à
comunidade educativa (discentes de todas as idades, docentes, pessoal não docente,
mães, pais, encarregadas/os de educação). As temáticas mais solicitadas recaem sobre
a violência doméstica e de género, o bullying (com enfoque especial para o que decorre
de situações de xenofobia e lgbti_fobia), a violência exercida através de novas
tecnologias e sobretudo, a violência no namoro.

Na perspetiva feminista que adotamos e advogamos, a igualdade de género atravessa


todos estes temas, com diferentes cambiantes, em razão da circunstância particular que
traz o tema à discussão em cada escola, e ainda em função das características específicas
(escalão etário, níveis de escolaridade, contexto sociocultural) das pessoas que
participam nestas ações.

Da mesma forma, a nossa experiência tem consolidado a convicção de que é vantajoso


(e mais consequente) trabalhar os temas da igualdade de género desde cedo, no ensino
pré-escolar; no entanto, a formação de docentes nem sempre acompanha estas
necessidades de mudança de paradigmas da educação. Por outro lado, também temos
constatado que não basta ter uma biblioteca escolar recheada de livros infantis
categorizados como não-sexistas, pois muitas das vezes a leitura e abordagem desta
nova vaga da literatura infantil, se não devidamente acompanhada por um quotidiano
que lhe seja coerente e correspondente, incorre no risco destes mesmos conteúdos se
esvaziarem de sentido e não se tornarem consequentes na vida das crianças.

Lamentavelmente, persiste ainda uma significativa parcela de literatura para a infância,


produzida e consumida atualmente, que é ainda eivada de sexismo e que de forma mais
ou menos subtil, reforça assimetrias na valoração social que é dada a mulheres e
homens, meninas e meninos, já para não referir o pendor hétero normativo quase
sempre presente, e a total ausência de representação de pessoas (crianças e/ou adultas)
de identidade e expressão não binária.

Os personagens masculinos são habitualmente representados como fortes, corajosos,


aventureiros, não manifestam medo, nem são dados a emoções, para além da ira, da
fúria, associada a comportamentos belicistas e/ou de conquista e dominação. Por
oposição, as personagens femininas são quase sempre frágeis, dóceis, obedientes,
sensíveis, dependentes (de um “salvador” masculino que as salve!). Nesta sequência, a
invisibilidade de pessoas não binárias é também um traço comum.

Mas se, por um lado, esta é ainda a esteira dos contos tradicionais (e que muitos dos
contos escritos na atualidade insistem em reproduzir), por outro lado, é indiscutível o
mundo de mudanças em que vivemos; no seio destas mudanças, destacam-se as
conquistas pela igualdade, sobretudo as de género que veem marcar as relações
interpessoais, familiares, promovendo uma crescente variedade nos modelos de
convivência.

Torna-se, pois, necessário que a literatura infantil contemporânea seja também ela um
reflexo destas novas realidades (e já o é efetivamente em muitas das novas produções
literárias) e, nesta medida, se assuma como agente socializador que proporcione às
novas gerações uma nova forma de ver / interpretar o mundo. É fundamental que todas
as crianças (independentemente da sua identidade e expressão de género) se vejam
representadas como iguais nos livros e histórias que lemos na escola. O combate ao
sexismo e a prevenção das violências de género faz-se também por esta via.

Em 2016 lançamo-nos no desafio de sistematizar as informações que fomos recolhendo,


nas sessões em jardins-de-infância e nas escolas do 1º ciclo (no âmbito do projeto
“Encontros em Igualdade de Género”) e concebemos um kit pedagógico que tem um
caracter acessório à leitura de alguns destes contos.

Este Kit pretende ser uma ferramenta de apoio que visa proporcionar uma maneira fácil
de identificar as atitudes das crianças relativamente aos estereótipos de género, e ainda
um meio de provocar mudanças de pensamento e formas de agir, através de histórias
construídas coletivamente pelo grupo. O objetivo central é construir histórias,
desconstruindo preconceitos. Para este efeito, o Kit disponibiliza os seguintes materiais:
7 cubos/dados; 6 fichas de atividades (para fotocopiar); 42 cartas; 1 placa de feltro (para
afixar as cartas); 1 Guia – Dividido em duas partes: sugestões de atividades e de leitura.

As/os destinatárias/os são crianças dos 3 aos 6 anos e suas/seus educadoras/es. Sendo
também possível a sua adaptação prática a crianças do 1º ciclo do ensino básico,
potencializando a iniciação da escrita criativa dos contos que as atividades lúdicas
proporcionem descobrir/construir.

Este Kit Pedagógico foi produzido no âmbito do projeto “Encontros em Igualdade de


Género” – um projeto da responsabilidade da UMAR (União de Mulheres Alternativa e
Resposta), apoiado pela CIG (Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género), que
decorreu entre janeiro de 2015 e julho de 2016, com intervenção na área da grande
Lisboa.

Embora destinado a públicos e contextos diversificados, este projeto acarinhou


especialmente a comunidade do ensino pré-escolar, a quem o Kit se destina.

O porquê desta nossa preocupação com a intervenção precoce em matéria de igualdade


de género radica no facto das discriminações e limitações desenhadas pelos
estereótipos de género nos serem também incutidas precocemente.

Por estereótipo de género entendemos a caracterização generalizada e redutora de


mulheres e homens (meninas e meninos), definindo o que devem ser e fazer no
desempenho dos seus papéis sociais. Nestes estereótipos alicerçam-se desigualdades e
assimetrias que minam a justiça social, a liberdade e a democracia.

No desenrolar deste projeto, nas experiências que tivemos no meio pré-escolar, foram
recorrentes situações em que observámos crianças que já tinham interiorizado um
conjunto de preconceitos, que se traduziam em atitudes sancionatórias: “os meninos
não brincam com os Nenucos” ou “as meninas não sabem jogar à bola”.

Com efeito, não podemos controlar a forma como veem o mundo (ou como este lhes é
apresentado, nas mais diversas situações de interação), mas podemos apoiar as crianças
neste processo de interpretação e questionamento das realidades que as cercam, na
senda de um mundo mais igual e na promoção de identidades verdadeiramente livres.

Desafiar estereótipos de género através da educação no Jardim de Infância oferece uma


nova visão sobre o que é ser menina ou menino e consciencializa-nos de como esses
estereótipos condicionam comportamentos e escolhas.

São muitas as possibilidades de encaminhar a reflexão e discussão em torno destas


questões. Este Kit disponibiliza exemplos de abordagem (no formato de um conjunto de
propostas de atividades) que constituem pontos de partida possíveis, para desafiar
estereótipos de género dentro e fora da sala de aula. Inclui sugestões de abordagem
relacionadas com diferentes dimensões da vida, agrupadas em unidades temáticas (a
família, as tarefas domésticas, os brinquedos, as profissões, o desporto, o corpo) das
quais decorrem várias atividades. Sugere-se que cada atividade tenha uma duração que
não exceda os 45 minutos e sejam planeadas de modo sequencial, espaçadas no tempo
(2 a 3 atividades por semana). Desta forma, garantimos que o tema central – igualdade
– seja revisitado ao longo de um período mais ou menos extenso, sem pressa e dando
espaço para a reflexão e sedimentação de conhecimentos e práticas.

Estas sugestões/temas têm potencial para serem desenvolvidas, ampliadas e ajustadas


às especificidades de cada grupo. A ideia base é partir da experiência pessoal e relacional
mais íntima (com o tema “família”), alargando sequencialmente para outras esferas do
processo de socialização e, por fim, voltar à interioridade, ao ser (com o tema: “corpo”).

Subjacente a todo o processo, está a persecução dos seguintes objetivos: identificar a


forma como as questões de género são vividas pelo grupo; analisar os fatores que
influenciam estas práticas; perspectivar o que fazer para promover a igualdade de
género naquele contexto.

O debate sobre a igualdade de género nas escolas não pretende a anulação das
diferenças entre meninas e meninos, pretende sim garantir espaço à diversidade e
impedir que as diferenças se transformem em desigualdades.

A exploração deste kit pretende também ser um exercício de liberdade que pode ir
muito além das propostas sugeridas – podem formar-se novas histórias e alterar as
combinações; existem inúmeras possibilidades: um simples lance de 3 ou mais dados
pode ser ponto de partida para começar uma nova história e exercitar a criatividade com
o grupo.

As sugestões de leitura visam a exploração de um conto (não sexista), cuja temática se


associa a cada uma das atividades realizadas, permite ampliar a discussão em torno de
algumas questões que merecem maior reflexão por parte de uma ou outra criança, ou
mesmo do grupo no seu todo.

Cada uma das sugestões de leitura constituem pois um pretexto para aprofundar e
clarificar os temas em análise, mas permitem também estabelecer pontes entre aquilo
que se apreendeu (revisitando, na conversa em grande grupo, o que ficou da atividade
realizada) e outros contextos, reais ou imaginários, que com elas se relacionam.

A ideia central neste programa de intervenção é estabelecer este cruzamento entre os


contos e a vida, a ficção e a realidade – acreditamos que este cruzamento nos permite
avançar um pouco mais rumo à Igualdade.
[1] A UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta – é uma associação de
mulheres constituída em Portugal a 12 de Setembro de 1976. Como Organização Não
Governamental está representada no Conselho Consultivo da CIDM (Comissão para a
Igualdade e Direitos das Mulheres) desde 1977.
Nasceu da participação ativa das mulheres com a revolução de 25 de Abril de 1974 e
da necessidade sentida, por muitas delas, de criarem uma associação que lutasse pelos
seus direitos, naquele novo contexto político.
A UMAR é hoje uma associação que se reclama de um feminismo comprometido
socialmente, empenhada em despertar a consciência feminista na sociedade
portuguesa.
Com um percurso de 42 anos, a UMAR conseguiu unir várias gerações de mulheres,
abrir espaços de intervenção para as mais jovens e atualizar a sua intervenção com
uma Agenda Feminista de novas e “velhas” causas, como seja o direito à contraceção e
ao aborto, a luta contra a violência doméstica, a Paridade nos órgãos de decisão
política ou o envolvimento internacional em iniciativas como a da Marcha Mundial de
Mulheres.

Referências

AMÂNCIO, Lígia, Masculino e Feminino: A construção social da diferença. Porto:


Afrontamento, 1994.

CARDONA, Maria João et al. Guião de Educação Género e Cidadania – Pré-escolar.


Lisboa: CIG-Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 2010.
MICHEL, Andrée, Down with stereotypes! Eliminating sexism from children’s literature
and school textbooks. Paris: UNESCO – United Nations Educational, Scientific and
Cultural Organization, 1986.

NOGUEIRA, Conceição, SILVA, Isabel, Cidadania. Construção de novas práticas em


contexto educativo. Porto: Ed. Asa, 2001

PEREIRA, Maria do Mar, Fazendo género no recreio. A negociação do género em


espaço escolar. Lisboa: ICS – Instituto de Ciências Sociais, 2012.

ROCHA, Natércia, Breve História da Literatura para Crianças em Portugal. Lisboa:


Instituto de Cultura e Língua Portuguesa do Ministério da Educação, 1992.

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