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rituaisPráticas
pessoalRealizaçãoAuto-
simbólicada linguagemDomínio
Velhice
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vastas regiões do mundo, onde elas constituem ainda o força de uma degenerescência interna, destruídos ou
único modo de educação oferecida a milhões de seres desnaturalizados pela ação de forças exteriores –
humanos. No entanto, isso não é assim, tão diferente notadamente o colonialismo. Importa observar, portanto,
como nos parece à primeira vista, nas sociedades que numerosas nações, que conheceram a tutela do
escolarizadas contemporâneas. Tanto isso è verdade que estrangeiro, das quais algumas estão mais preocupadas
é sempre de seu meio, de sua família, de sua sociedade a tutela do estrangeiro, das quais algumas estão mais
que a criança e o adulto recebem e tiram direta e preocupadas em afirmar sua independência assumiram
existencialmente, uma grande parte da educação: claramente, em especial em matéria de educação, a
aquisição tanto mais importante que condiciona a melhor parte das disciplinas intelectuais e cultura dita
receptividade ao ensino escolar, o qual fornece em clássica que elas haviam assimilado nos tempos de
contrapartida ao educando a ‘moldura’ que lhe permitirá colônia.
ordenar e conceptualizar os conhecimentos que retira do A segunda evidência é que a educação de hoje
seu meio’. sofreu o peso de dogmas e dos usos caducos e que a
‘... A educação tem um passado muito mais rico do justo título, sob este prisma as velhas nações não
que a relativa uniformidade que suas estruturas atuais padeceram menos os anacronismos de seus sistemas de
nos permitiria pesá-lo. As civilizações ameríndias, as ensino do que os jovens Estados que herdaram somente
culturas africanas, as filosofias da Ásia e muitas modelos importados.
tradições, encobrem os valores donde poderiam inspirar- Assim é que existe uma dupla tarefa, de restituição e de
se não somente os sistemas de educação dos países que renovação simultâneas, a que nos parece convidar a
são herdeiros, mas ainda o pensamento educativo história da educação’. in Faure, Edgar- Apprendre à
universal. È certo que, bens eminentemente preciosos être. Paris: UNESCO- FAYARD, 1972, p.5 e pp. 11-12.
foram perdidos, por vezes antes da época colonial, por 1.2. Aspectos relevantes da educação indígena no
‘incidente’ era um elemento essencial do seu funcionamento – por exemplo: nas famílias e nos grupos compostos
Brasil.
de crianças da mesma idade, em trabalhos comunitários, nas relações entre o mestre e o aprendiz, na iniciação
sexual, assim como nos ritos religiosos. Na ‘Paidea grega’, o conjunto da rede de instituições, a polis, era vista
como encarregada da função educativa. Assim, John Dewey o disse de modo admirável, a essência de toda a
filosofia é a filosofia da educação, ela consiste em estudar como edificar um mundo’. (Paul Goodman: Quelques
Egon Schaden faz notar que “o estudo do processo
idées insolites sur I’éducation: dês jeunes, Document de 1ª comission internationale sur lê développement de
I’éducation, Série ‘O pinions’, n. 37, UNESCO, Paris, 1971, p. 2).
educativo em nossas populações nativas tem sido
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negligenciado pelos etnólogos” (SCHADEN, 1976, p. 23). cultural, pode-se encontrar em ‘Índios Brisio’(Melatti,
Dever-se-ia acrescentar que ainda mais negligenciado foi 1972, pp. 36-53).
pelos educadores e pedagogos. A educação indígena é difícil de analisar
Tentar identificar os aspectos relevantes da principalmente porque não é parcelada. Descrever a
educação indígena no Brasil não é tarefa fácil, dada a educação indígena no Brasil seria quase descrever o dia-
inter-relação entre a educação e todos os demais dia de todas as comunidades indígenas, que
aspectos da cultura e que atualmente se conhecem uns simplesmente vivendo, estão se educando.
143 grupos tribais no Brasil, e só se tem informações Todavia, o fato da população indígena estar hoje
sobre a população de 109. O tipo de cultura e a situação dentro de fronteiras ‘ nacionais’, tem criado às vezes para
mais ou menos intensa de contato com a sociedade um mesmo povo indígena situações de contato e destino
nacional diversificam notavelmente os grupos entre si. divergentes. Veja-se o caso dos índios Makuxí,
Daí a hesitação e o receio com que o etnólogo se estabelecidos parte no Brasil e parte na Venezuela. O
aventura a dizer algo sobre educação primitiva em termos mesmo para os Yanonami. Os Guarani, hoje estão
gerais. Mas, apesar de indispensável cautela contra a repartidos pelos estados brasileiros de Mato Grosso do
afoiteza de perigosas generalizações e apesar das Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo e pelo
ressalvas que se recomendam a cada passo, o estudioso Paraguai, pela Bolívia e pela Argentina. Cada uma
de populações indígenas - e aqui nos limitaremos a índios dessas sociedades nacionais pretende interferir,
do Brasil e de regiões vizinhas - não deixa de registrar conforme o próprio sistema de política educativa, no
desde logo inegável semelhança em muitos traços da destino desses povos.
educação, na medida, pelo menos, em que estes Apesar de toda a complexidade apresentada pelas
decorrem das condições da própria existência sociedades indígenas, pode-se falar de aspectos
tribal’(SCHADEN, 1976, p.24). relevantes da educação indígena no Brasil.
Uma síntese sobre a população indígena atual do Os tópicos principais, que deveriam ser tratados,
Brasil, a sua distribuição em grupos, o tipo de contato poderiam ser os seguintes:
apresentado, a diversidade biológica, lingüística e
1.2.1. Concepção e nascimento
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tabus alimentares, a que se submetem o pai ou ambos, a
Ninguém, e muito menos o índio, nasce libertação mais ou menos prolongada dos trabalhos
simplesmente como ‘bicho’. Todo filho que nasce, cai pesados, pretendem assegurar a boa criação do recém-
num chão cultural, onde o húmus étnico se tem nascido.
acumulado durante séculos. De uma maneira mais O fato de muitas mulheres indígenas quererem ter
imediata, ele, no ato mesmo da concepção, é gerado parto no chão, às vezes sobre um oco cavado na terra, é
biologicamente, mas conforme as idéias que aquela altamente simbólico.
cultura tem sobre como uma criança é concebida. Que a Fácil é perceber que uma maneira mais moderna
união do união do homem e da mulher seja acidental e de ver a concepção e o parto, se bem que
essencial seja que uma palavra divina se assente como fisiologicamente mais objetiva e medicamente mais
um banquinho no seio da mãe – esse modo de pensar a higiênica, transtorna profundamente, desde o inicio, o
concepção vai ter uma grande influência na formação do processo educativo indígena.
corpo e da alma da criança. Uma alma espiritual vinda só
de Deus pode-se pensar que é intocável e inatingível pela 1.2.2. O Jogo
ação da educação humana. Ela só será influenciada pela
inspiração. Os Guarani têm, por exemplo, essa forma de Possivelmente é o jogo um dos elementos mais
crença. importantes da educação indígena. Sabe-se que a
O parto tem o seu próprio ritual. As pessoas criança aprende brincando. A originalidade aqui é que o
implicadas nele normalmente vão ter muita influência na índio, já desde de pequeno, brinca de trabalhar. Seu
educação da criança, seja quem recebe a criança nas brinquedo é, conforme o sexo, o instrumento de trabalho
suas mãos, seja quem corta o cordão umbilical, seja do pai ou da mãe. O índio, que brincou de trabalhar,
quem dá o primeiro banho, seja quem impõe o nome ( se depois vai trabalhar brincando. O seu jogo é brinquedo,
a nominação se dá logo no momento do parto, o que nem não lhe negará. Pequenos arcos e flechas nas mãos de
semple acontece ). O comportamento do pai e da mãe da um menino ou pequenos cestos dependurados da cabeça
criança no parto tem também uma projeção educativa. O de uma menina, que vai com a mãe buscar mandioca na
resguardo observado pelo pai, ou couvade, a direita e os
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roça são cenas que têm encantado qualquer visitante de fora de casa, até durante a noite, que com mais liberdade,
uma aldeia indígena. se põem a corrigir.
Diante de comportamentos reprováveis, às vezes,
1.2.3. Correção não é a criança quem é o objeto da correção direta, mas
aqueles que são considerados responsáveis por ela,
Uma dupla atitude aparentemente contraditória correção que vem por meio de comentários e conversas
chama a atenção do observador de fora numa sociedade perfeitamente audíveis numa aldeia, onde tudo é ouvido.
indígena: as crianças gozam de uma grande liberdade A correção dificilmente consiste em bater na
nos seus movimentos, fazendo o que bem querem, sem criança. Os Guarani pensam que o sangue vai sair da
que os adultos se imponham a elas com contínuas mão do pai ou da mãe que bate no filho. Todavia, como
admoestações ou proibições; por sua vez essas mesmas exceção, se pode ter visto índio bater na sua criança. Mas
crianças não dão motivo de aborrecimento aos pais ou a quando isso acontece, em muitos casos é uma
outros membros da comunidade. conseqüência da aculturação, mostrando-se índice de
O respeito que os pais têm para a criação, o modo ‘civilização’.
de falar com ela, de persuadi-la quase que nos
pareceriam exagerados. O adulto considera o papel da 1.2.4. Conhecimento de natureza
criança na sociedade com muita seriedade. O que não
quer dizer que as relações entre eles sejam tensas ou Dá-se muito cedo na criança indígena um notável
tristes. Adulto brinca com criança brinca com adulto. conhecimento da natureza ambiental. ‘É preciso explorar
Todavia, acontece que a criança se afasta da a natureza em múltiplos sentidos para que o sistema
norma de conduta considerada certa, e o seu mau cultural possa fornecer base segura para a
comportamento se repete. Aí é onde intervém a correção. sobrevivência. Numa escola primária fundada entre os
Essa correção começa a se dar por via de persuasão. Se Amuêxa, da selva peruana, organizou-se um concurso
ela não basta, passa-se a algum tipo de afastamento da entre os alunos para ver quem sabia escrever o maior
convivência comunitária – por exemplo, deixar a criança número de nomes de aves. O vendedor alcançou o
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número de 336 e nenhum dos animais arrolou menos de exclusiva, de preparação para o rito, que vem fechar e
cem. completar o período de iniciação.
Depois se lhes pediu que escrevessem nomes de A iniciação do homem ou da mulher apresenta
plantas; houve um meninote que apresentou uma lista de características distintas. A iniciação do homem ou da
nada menos de 661. E, nota curiosa, os pais do aluno mulher costuma se relacionar com a primeira
consideravam muito ignorantes os seus filhos’ (Duff, menstruação. A mulher é fechada física e moralmente,
Martha, citada por SCHADEN, 1976, p. 24). ficando a sua comunicação reduzida a poucas pessoas.
Durante tempo de fechamento, ela é provada com dietas
e trabalhos mais ou menos pesados e instruída de forma
bastante metódica e formal sobre vários aspectos da sua
vida futura de mulher dentro da tribo, do comportamento
sexual permitido a ela, do melhor modo de enfrentar a
sua vida matrimonial para a qual desde já está orientada.
A iniciação do homem tem um caráter mais
comunitário, comportando, porém, duas provas de
resistência, prolongadas dietas, práticas de danças e
1.2.5. Ritos de iniciação cantos, escuta assídua de ensinamentos, alguns deles
agora totalmente novos, respeito a crenças e mitologia.
Até esse momento, da iniciação da mulher costuma Homens experimentados se ocupam com essa importante
a educação se tem feito geralmente de modo muito fase pedagógica indígena.
informal. A iniciação, que pelo comum aparece como Uma festa não raramente centrada sobre um rito de
período de educação formal, quase que uma verdadeira marcação - furo na orelha, no lábio, tatuagem etc.- fecha
escola, com seu mestre ou mestres, permanência num de alguma maneira a iniciação.
local determinado – que às vezes é o mato -, é o mato -, é
um tempo relativamente comprido de dedicação 1.2.6. Nominação
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São várias as sociedades indígenas onde o índio A participação nos rituais constitui para o índio uma
não tem somente um nome, mas é o seu nome. Dar fonte importante de educação religiosa. Danças, toques
nome equivale, em alguns casos, a descobrir, por de flautas, músicas e cantos são formas de viver na terra
intermédio da inspiração, o verdadeiro nome, que a a vida perfeita das divindades. Os rituais educam,
pessoa tem já no além. O nome pode estar bem ligado à sobretudo pela ação comunitária, que fazem viver, e pela
personalidade que, qualquer mudança significativa na comunhão de gestos, de que todos participam. Mas junto
vida da pessoa - ato de bravura heróica, saída de doença aos rituais co-participados, dá-se às vezes uma instrução
de nomes, marca profundamente a história de muitos moral já em formas de conselhos breves, já em forma de
índios e é causa de prestígio social e religioso. A relação amplo código de normas, que devem ser retidas nos mais
entre a nominação e o processo educativo é por isso, pequenos detalhes.
muito estreita. Nesse contexto se podem considerar o ensino e
Veja-se como os Nambikwára pensam o sistema de aprendizagem da visão mítica do mundo com a
nominação: ‘No Halu.halu.nekusu (lugar no além) sempre linguagem simbólica correspondente. Conhecimentos
viveu e viverá Dá.uãsununsu, o dono do mundo e técnicos, trabalhos práticos, atividades rotineiras da vida,
conhecedor de todas as coisas. Dà.uasununsu ouve e sistema de parentesco, organização social, enfim, todos
conhece tudo, até o pensamento e o sangue. Ele sabe se os aspectos da cultura, são colocados na sua verdadeira
somos bons ou maus. Dà.uãsununsu. pode tudo. É o explicação sobrenatural e mística. Até o homem não
dono dos nomes próprios dos Nambikwára. O uaníndisu chegar a esse conhecimento, em realidade não sabe
(pajé) vai buscar o nome com Dà.Uãsununsu. nada.
Dà.Uãsununsu entrega o nome às almas. Estas ao A educação do homem adulto visa sobre tudo à
uaníndisu. O uaníndisu, cantando, à pessoa. Por isso, o esse objetivo.
nome próprio é coisa sagrada’ (PEREIRA, Adalberto
Holanda,1974,p. 4). 1.2.8. Formação de personalidades específicas
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As principais condições, que modificam e com os sagrados. Assim se pode distinguir
diferenciam o processo educativo, eram o sexo e a idade. conhecimentos que se referem à tecnologia e àquela
O autor, baseado nas fontes quinhentistas, tendo em forma de trabalho comum, tão características, conhecida
conta as denominações lingüísticas, estabelece as hoje como mutirão; conhecimentos que se referem à
distintas fases do ciclo de vida tupinambá, indicando em organização social tribal, que entre os Tupinambá trazia
cada fase as peculiaridades educativas mais bastante complexidades: regras de polidez, de
significativas. companheirismo, sistema de parentesco, ritos
comunitários, como a antropologia ritual, função social da
c) Natureza dos conhecimentos. guerra etc; conhecimentos por fim referentes à religião.
Nesta última área de conhecimentos se podia observar
Os conhecimentos transmitidos não dizem relação que os adultos podiam continuar sua aprendizagem até
somente aos conteúdos, mas às atitudes, convicções e uma idade avançada; que muitos conhecimentos mágicos
aspirações, que têm que ser assimiladas para uma religiosos eram especialmente reservados aos homens e
pessoa poder viver como bom tupinambá. ‘Um autêntico só em menor grau, às mulheres; que de fato, somente os
mestre da vida’, a quem caberia ensinar ‘como viver em velhos poderiam vangloriar-se de um conhecimento
dadas circunstâncias’... exige o ensino de certo saber extenso e profundo das tradições tribais.
mais o ensino de como produzi-lo’(p.50). ‘Ao aprender certas coisas, os homens também
’‘Os conhecimentos transmitidos afetavam toda as aprendiam o que elas significavam dentro de seu cosmos
esferas da vida social organizada’’. Mas para facilitar a moral e como elas deviam ser postas em práticas’(p. 53 ).
análise se podem se considerar os conhecimentos
transmitidos em três níveis: conhecimentos segundo os d) Funções sociais da educação tupinambá
quais o homem controla a natureza; conhecimentos
segundo os quais o homem controla a natureza; A primeira função era o ajustamento das gerações.
conhecimentos segundo os quais o homem se relaciona O ensino dado gradativamente, pela ação e pelo
consigo mesmo e com os seus semelhantes; exemplo, fazia que todos estivessem envolvidos num só
conhecimentos segundo os quais o homem se relaciona processo educacional.
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A segunda função era a preservação e valorização desprestigiar e destruir o sistema tupinambá de educação
do saber tradicional. ‘Toda inovação tinha de lançar vieram depois, quando surgiu a necessidade de submetê-
raízes no saber produzido pelos antepassados ou pelo los como mão-de-obra e de se apropriar de suas terras.
menos de ser coerente com os ensinamentos, que se
poderiam extrair, casuisticamente, do confronto do 1.3.2. A educação entre os Pai-Tavyterã (Kayová)
presente com o passado’(p.56).
A terceira função era a adequação dos dinamismos Os Pai-Tavyterã do Paraguai formam parte da
da vida psíquico ao ritmo da vida social. ‘Os Tupinambá mesma etnia guarani, que no sul de Mato Grosso é
preparavam e ordenavam as transições que marcavam a conhecida como Kayová Eles são muito provavelmente
passagem de uma posição social para outra, através de os descendentes históricos dos Itati dos tempos da
técnicas especificamente educativas’(p. 56 ). primeira colônia. Apresenta-se aqui uma parte da análise
Por fim, podem-se indicar duas funções sociais etnográfica de MELIA, B.GRUNBERG, G. e F, Los Pai-
complementarias: a seleção das personalidades aptas Tavyterã (1976, pp. 251-256).
para o exercício da dominação xamanística; e a O sentido da educação pai é formar um ‘bom pai’
integração do comportamento coletivo. no sentido, sobretudo moral e espiritual – e, portanto
O resultado era que o chefe ou o pajé não estavam conservando e aperfeiçoando o nosso modo de ser’. A
‘fora’ da sociedade e a sociedade se sentia unida educação está orientada a saber para que viver e viver
formando uma unidade integrada de todos, que permitia perfeitamente, alcançando a perfeição através da reza
dizer: nós, os tupinambá. (que é ao mesmo tempo canto e dança), da não violência
Uma seleção de textos sobre as práticas e da visão ‘tecnológica’ do mundo. Essas metas só
educacionais dos Tupinambá prova até que ponto o podem ser alcançadas através da comunidade e também
sistema educativo desses índios do Brasil impressionou da inspiração.
os europeus recém-chegados, que naquele tempo ainda
tinham capacidade para apreciar os valores daquele
tempo ainda tinham capacidade para apreciar os valores
daquela educação indígena. Os intentos para
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Assegurar o crescimento da alma da criança é a
maior preocupação dos seus pais, durante o primeiro ano.
Pais e filho estão em estado quente e são numerosas as
ameaças contra as quais se têm que defender.
Continuam as proibições alimentares. O pai deve se
abster de trabalhos pesados. Deve sobretudo evitar o
comportamento violento. Arco e flecha ou arma de fogo
não deve usar nem para caçar. Mas pode pescar e
1.3.2.1. O ciclo de vida colocar armadilhas. A criança mama quando quer, recebe
o máximo de atenção, procura-se satisfazer suas
a) Gravidez e parto necessidades. O período de lactência estende-se até os
dois anos e às vezes mais. O desenvolvimento da alma,
A preparação para assegurar a vida e a alma da que em guarani é chamada ‘palavra, se considera
criança começa já durante a gravidez. A mulher nesse completo, quando a criança começa a pronunciar as
tempo deve se abster de toda de toda comida pesada primeiras palavras. E então quando o vidente, uma classe
(banha sal etc) e lhe está tabuada a carne de um grande de pajés, talvez vá descobrir o nome religioso da criança,
número de bichos do mato. O pardo se faz estando no isto é, o nome daquela alma-palavra estabelecido já antes
chão sobre uma pele de bicho e a parteira sentada detrás do seu envio para se assentar, como sobre um
dela, apertada contra ela e massageando o ventre dela. O banquinho, no corpo da sua futura mãe.
cordão umbilical é cortado com uma taquara. O recém –
nascido recebe um banho com água morna e é entregue c) Socialização
à sua mãe, que seguirá sendo, de fato, a sua ‘morada’
45durante aquele primeiro ano de vida. É a família extensa, em muitos casos de fato
idêntica com a comunidade mesma, a que tem o encargo
b) O novo ser humano. da socialização das crianças. Nesse processo se podem
distinguir várias passagens.
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- A comunidade de jogo (de um a cinco anos) - Iniciação
No primeiro período (de um a cinco anos), é, A iniciação marca o fim da etapa que chamamos de
sobretudo, a comunidade a que atua sobre a criança, participação. A menina, ao chegar à sua primeira
aprovando ou rechaçando suas atividades ou menstruação, está novamente em estado quente e tem
comunicando-lhe através de jogo e de exemplo da própria que observar um resguardo e dieta muitos apertados.
vida atitudes e valores. Uma criança de três anos já sabe Uma parente próxima está perto para acompanhá-la,
distribuir, entre os companheiros, o que tem, mas sem protegê-la e instruí-la. A menstruação tem que se guardar
nunca ser obrigado ou pressionado pelo ambiente. De de alguns perigos míticos como é, por exemplo, o arco-
três a cinco anos, a criançada constitui uma verdadeira íris. Os seus cabelos são cortados rasos, até um ou dois
mini-sociedade, onde a vida adulta é imitada em todas as centímetros.
atividades diárias, até as religiosas. A independência de A iniciação dos homens é bem mais complexa e
movimentos dessa sociedade de crianças é notável. Mas importante. A participação da comunidade toda é
os pais já começam a exigir deles alguns pequenos intensiva. Ela faz o objeto de uma prolongada preparação
serviços, bem que excusas como cansaço, frio ou e de uma festa importante. A iniciação dos pais é a
simplesmente não ter vontade, são, todavia, aceitas sem celebração da incorporação de novos membros
criar maior problema. masculinos na comunidade, mediante a perfuração do
lábio inferior e a imposição do tembetá.
- Processo de participação (seis a doze anos) Seria impossível dar aqui um resumo desse ritual
Nessa etapa, as crianças começam a participar de iniciação, que está no centro da vida social e processo
regulamente da vida dos adultos. A divisão por sexos se educativo de toda a comunidade guarani e não somente
faz patente. Os meninos acompanham o pai, enquanto as dos iniciandos. Veja-se a descriação etnográfica em
meninas realizam tarefas domésticas e têm a seu cargo o MELIA-GRUNBERG (1976, pp. 236-241 ).
cuidado de irmãozinhos menores. A participação nas
festas religiosas é já ativa e vem a ser uma introdução
quase que formal nas tradições orais.
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futuros filhos; recomendação especial é feita de não
reagir violentamente contra eles e, sobretudo, de nunca
bater neles. ‘Não castigues os meus netos, diz a mãe
para o filho que vai casar, que se Deus o vir, a tua própria
mão vai sangrar’.
A vida de família será, por sua vez, um fator
importante de educação dadas as relações sociais e de
parentesco, que vão se estabelecer.
d) O indivíduo na sociedade
5.
6.
4.
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3. Ao chegarem numa clareira de derrubada, depois de
7. muita insistência o filho conseguiu que a mãe o
enterrasse, dizendo: mãe, eu não vou morrer.
4. Você vai para casa, fala com o pai para preparar xire,
ralo, peneira... Depois, voltem aqui.
5. A mãe foi e falou com o pai.
6. Fizeram xire, ralo, apá ....
7. Quando voltaram no lugar onde o filho fora enterrado,
havia uma grande roça; dos braços do guri nasceu a
mandioca; das unhas, o amendoim; da cabeça, a
cabeça...
8.
8. Colheram tudo, levaram para casa.
1.4.2. Boróro
38
pretende estabelecer a descontinuidade e a ruptura com •Inserção na família • Deslocamento para a aula
o tempo anterior. A criança é tomada como ‘tabula rasa’. •Sem escola • Com escola
A modo de síntese, se pode dizer com Florestan •Comunidade • Especialistas da educação
Fernandes que a nossa é uma ‘educação para uma
educativa
sociedade em mudança’, enquanto a indígena é uma
‘educação para uma sociedade estável’. •Valor da ação • Valor da memorização
Os dois sistemas de educação têm, em si, os seus •Aprender fazendo • Aprender memorizando
próprios valores. O problema surge quando a educação •Valor do exemplo • Valor da coisa aprendida
para uma sociedade em mudanças é imposta a uma •Sacralização do • Secularização do
sociedade estável, sem apoiar e até debilitando as saber conhecimento
possibilidades de uma mudança coerente. •Persuasão • Imposição
•Formação da • Adestramento para fazer coisas
‘pessoa’
Condições de transmissão
Processo permanente Instrução intensiva
durante toda a vida durante alguns anos
EDUCAÇAO EDUCAÇAO PARA O Harmonia com o ciclo Sucessão de
INDIGENA INDIGENA de vida matérias que têm que
• Processo e meios de transmissão ser estudadas e saltos
de uma para outra
•Educação informal e • Instrução forma e sistemática
Gradação da Passagem obrigada
sistemática
educação conforme o por um currículo
•Transmissão oral • Alfabetização e uso de livros
amadurecimento determinado de
•Rotina da vida diária • Provocação de situações de psicossocial do indivíduo antemão para todos
ensino artificiais Natureza dos conhecimentos transmitidos
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Habilidade para a Manipulação de
produção total dos próprios tecnologia importada
artefatos e instrumentos de
trabalho
Integração dos Segmentação dos
conhecimentos dentro de uma conhecimentos
totalidade cultural adquiridos
Integração correta na Adaptação dentro
organização tribal de um estrato ou
classe da sociedade
nacional
Aprofundamento nos Conversão e
conhecimentos das tradições catequese para uma Jalapajtasi Arilene, Iráxe, 11 anos
religiosas nova religião
3. ALFABETIZAÇAO DO INDÍGENA
Funções sociais da educação
‘ Coisa estranha a escrita!’ – exclama Lévi-
Ajustamento das Afastamento e Stratuss em páginas de uma rara lucidez quando constata
gerações mudança com a atração quase mágica que a escrita exerce sobre o
respeito à vida dos índio e por outra parte como ela foi e é instrumento nas
velhos mãos do dominante, para fortalecer a dominação
Preservação e Adaptação contínua
valorização do saber às novidades, mesmo
tradicional, em vista a uma ainda não
inovação coerente compreendida
Seleção e formação de Massificação no
personalidades livres genérico
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‘ Está claro que os Nhambikwara não sabem Ora, mal havia ele reunido todo o seu pessoal, tirou
escrever; mas tampouco desenham, com exceção de dum cesto um papel coberto de linhas tortas, que fingiu
alguns pontilhados ou ziguezagues em suas cabeças. ler, e onde procurava, com uma hesitação afetada, a
Como entre os Caduveo, distribuí, entretanto, folhas de listas dos objetos que eu devia dar em troca dos
papel e lápis, de que nada fizeram no início; depois, um presentes oferecidos; a este, contra um arco e flechas,
dia, eu os vi ocupados em traçar no papel linhas um facão de mato! A outro, contas! Para os seus
horizontais onduladas. Que queriam fazer? Tive de me colares... Essa comédia se prolongou durante 2 horas.
render à evidência: escreviam ou, mais exatamente, Que esperava ele? Enganar-se a si mesmo, talvez; mas,
procuravam dar ao seu lápis o mesmo emprego que eu, o antes, surpreender os companheiros, persuadi-los de que
único que então podiam conceber, pois ainda não tentara as mercadorias passavam por seu intermédio, que ele
distraí-los com meus desenhos. Os esforços da maioria obtivera a aliança do branco e participava dos seus
se resumiam nisso; mas o chefe do bando via mais longe. segredos...
Apenas ele, sem dúvida, compreendera a função da Coisa estranha a escrita! Parece que a sua aparição
escrita. Assim, reclamou-me um bloco e nos equipamos não podia ter deixado de determinar modificações
da mesma maneira quando trabalhamos juntos. Ele não profundas nas condições de existência da humanidade; e
me comunica verbalmente as informações que lhe peço, que essas transformações deviam ser sobretudo de
mas traça sobre o seu papel linhas sinuosas e me as natureza intelectual. A posse da escrita multiplica
apresenta, como se ali devesse ler a sua resposta. Ele prodigiosamente a aptidão dos homens para preservar os
próprio como que se ilude com a sua comédia; cada vez conhecimentos. Concebê-la-íamos de bom grado como
em que sua mão termina uma linha, examina-a uma memória artificial, cujo desenvolvimento devia
ansiosamente, como se a significação devesse brotar e a acompanhar-se de melhor consciência do passado, logo,
mesma desilusão se pinta no seu rosto. Mas não a de uma melhor capacidade para organizar o presente e o
admite; está tacitamente entendido entre nós que os seus futuro. Depois que se eliminaram todos os critérios
riscos possuem um sentido que eu finjo decifrar; o propostos para distinguir a barbárie da civilização,
comentário verbal segue-se quase imediatamente, e me gostaríamos de reter pelo menos esse: povos com ou
dispensa de pedir os esclarecimentos necessários. sem escrita, uns capazes de acumular as aquisições
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antigas e progredindo cada vez mais depressa para a cerca de 5.000 anos durante os quais seus
finalidade que se propuseram, enquanto outros, conhecimentos flutuaram mais do que aumentaram.
impotentes para reter o passado além da franja que a Observa-se freqüentemente que entre o gênero de vida
memória individual consegui fixar, continuariam de um cidadão grego ou romano e o de um burguês
prisioneiros de uma história flutuante a que sempre europeu do século XVIII, não há grande diferença. No
faltariam uma origem e a consciência duradoura de um neolítico, a humanidade deu passos gigantescos sem o
projeto. auxilio da escrita; com ela, as civilizações históricas do
Todavia , nada do que sabemos a respeito da Ocidente estagnaram por muito tempo. Sem dúvida, mal
escrita e de seu papel na evolução justifica tal concepção. se poderia conceber o desenvolvimento científicos dos
Uma das frases mais criadoras da história da humanidade séculos XIX e XX sem a escrita. Mas essa condição
se situa no neolítico: responsável pela agricultura, a necessária não é certamente suficiente para explicá-lo.
domesticação dos animais e outras artes. Para chegar a Se quiser pôr em correlação o aparecimento da
isso, foi preciso que, durante milênios, pequenas escrita com certos traços característicos da civilização,
coletividades humanas observassem, experimentassem e devemos procurar em outra direção. O único fenômeno
transmitissem o fruto de suas reflexões. Esse imenso que fielmente a acompanhou foi a formação das cidades
empreendimento desonrolou-se com um rigor e uma e dos impérios , isto é, a integração num sistema político
continuidade atestados pelo êxito, enquanto a escrita de um numero considerável de indivíduos e sua
ainda era desconhecida. Se esta ultima apareceu entre o hierarquização em castas em classes. Tal é à China, no
quarto e o terceiro milênios antes de nossa era, deve-se momento em que a escrita faz a sua aparição: ela parece
ver nela um resultado já longínquo ( e sem dúvida indireto favorecer à exploração dos homens antes de iluminá-los.
) da revolução neolítica, mas de forma nenhuma a sua Essa exploração permitia reunir milhares de
condição. A grande inovação está ligada? No plano da trabalhadores para obrigá-los as tarefas extenuantes,
técnica, quase que só se pode citar a arquitetura. Mas a explica melhor o nascimento da arquitetura do que a
dos egípcios ou dos sumérianos não era superior às relação direta examinada há pouco. Se minha hipótese
obras de certos americanos que ignoravam a escrita até o for exata, é facilitar a servidão. O emprego da escrita para
nascimento da ciência moderna, o mundo ocidental viveu fins desinteressados, tendo em vista tirar satisfação
42
intelectuais e estéticas, é um resultado secundário, se é
que não se reduz, no mais das vezes, a um meio de
reforçar, de justificar ou de dissimular o outro.
Se a escrita não bastou para consolidar os
conhecimentos, ela era talvez indispensável para
fortalecer as dominações. Olhemos mais perto de nós; a
ação sistemàtica dos países europeus em favor da
instrução obrigatória, que se desenvolve durante o século
XIX, vai de par com a extensão do serviço militar e com a
proletarização. A luta contra o analfabetismo se confunde
assim com o aumento do mínimo dos cidadãos pelo
poder. Pois é preciso que todos saibam ler para que este
último possa dizer: ninguém se escusa de cumprir a lei,
alegando que não a conhece.
Do plano nacional, o empreendimento passou 3.1. O porquê da alfabetização do indígena
para o plano internacional, graças à cumplicidade que se
ligou entre jovens estados – postos diante de problemas A pretensão de dar uma educação para o indígena
que foram os nossos há um dos séculos- e uma se centra logo desde o inicio sobre a alfabetização. A
sociedade internacional de possuidores, inquieta com a educação para o indígena se abre com esse quase rito de
sua estabilidade as reações de povos mal capacitados ensinar a ler e escrever ao indígena. ‘’E a condição sine
pela palavra escrita a pensar em fórmulas modificáveis à qua non para poder dar uma educação ao índio. Aliás, o
vontade e a fornecer base para os esforços de edificação. fato de uma cultura não ter escrita, às vezes é
Acedendo ao saber acumulado nas bibliotecas, esses considerado como sinônimo de não ter educação, nem
povos se tornam vulneráveis às mentiras que os poder ter progresso. A vontade e o interesse por
documentos impressos propagam em proporção ainda alfabetizar o índio, tarefa que não está livre ou isenta de
maior’(LÉVI-STRAUSS C. 1957, pp. 314 – 319 ) penosas dificuldades, é tão forte e tão apressada em
43
muitos casos, que a gente se pergunta o porque de tal A alfabetização do índio na perspectiva da
exigência. De onde derivaria a suposta necessidades a sociedade nacional, traria, entre outras, essas vantagens:
alfabetização é uma resposta? a) Elevar o nível do índio. Com a alfabetização, o índio
Para responder a essas perguntas tem-se que vai se igualar ao ‘civilizado’ e até superar a muitos
observar duas perspectivas: daquele que traz a deles, que são analfabetos.
alfabetização e daquele que a recebe. A perspectiva da b) Possibilitar a leitura da bíblia e de outros livros
sociedade nacional e a perspectiva da sociedade religiosos.
indígena. c) Possibilitar a leitura de livros onde está contido o
caráter nacional e também os livros onde está contida
3.1.1. A perspectivas da sociedade nacional instrução técnica de varias ordens.
d) Fixar pela escrita, dentro do sistema nacional, as
Os intentos da sociedade nacional por alfabetizar o reclamações e direitos dos índios.
índio tem sido numerosos já desde os tempos coloniais. Como se vê, até nas suas intenções, a
Os resultados têm sido mínimos. Mas, os intentos voltam alfabetização não pode dissimular o seu caráter
repetidamente. A argumentação, que justifica a assimilacionista e tipicamente etnocêntrico, baseado
necessidade da alfabetização e até a sua imposição, numa série de pressupostos apriorísticos: que a cultura
segue geralmente essa gradação: o índio deve ter cultura, com escrita é superior às culturas ágrafas; que a
deve se intercomunicar, deve se integrar. Condição para transmissão religiosa se faz melhor através de textos
entrar nesse processo é não ser analfabeto. fixos; que o livro fixa o caráter nacional; enfim, que o
Às vezes a alfabetização é proposta direito só pode ser assegurado pelo documento escrito.
generosamente como instrumento dos civilizados contra e) Perpetuar no texto escrito a memória, até das
os outros civilizados. Indicado o comercio do índio com o tradições orais, e armazenar no arquivo um saber, que
branco, logo no contato, não é bom que o índio seja hoje se pensa estar em perigo de desaparecer.
explorado pelo branco, deve poder situar-se em pé de Até que ponto as razões apontadas pela
igualdade com o branco. Para isso, não pode ser sociedade nacional são, apesar da ideologia, em parte
analfabeto. aceitáveis, vai ser discutido mais adiante.
44
c) Defender a própria terra com os instrumentos jurídicos
documentados próprios da sociedade nacional.
d) Progredir, depois da alfabetização inicial, nos estudos
3.1.2. A perspectiva da sociedade indígena e na informação de técnicas ‘civilizadas’.
e) Transmitir para a própria comunidade a técnica da
A ideologia da alfabetização procedente da alfabetização e processos seguintes.
sociedade nacional envolvente encontrou ecos na f) Prestigiar-se frente ao mundo dos ‘civilizados’ e
sociedade indígena. Isso foi em muitos casos já um dos eventualmente conseguir melhores oportunidades de
resultados da alfabetização do indígena trabalho e um trato mais de igual para igual com os
Não somente índios já alfabetizados, mas também ‘civilizados’.
comunidades que não sofreram ainda a alfabetização, g) Poder escrever as próprias tradições e aproveitar da
desejam veementemente alfabetizarem-se. As razões leitura de textos, onde essas mesmas tradições foram
aduzidas para essa exigência são às vezes bastante já recolhidas pelos pesquisadores.
complexas, entrando nelas interesses que nada têm a ver Como se vê, implicitamente o índio interiorizou
com a alfabetização mesma: desejo de ter uma algumas idéias incutidas nele pela sociedade nacional.
professora de fora, uma construção escolar, Mas também mostra uma profunda captação das
aproveitamento das vantagens políticas regionais, dar inovações trazidas pela situação de contato, procurando
satisfação à sociedade envolvente. Os índios perceberam dominá-las.
que é permitindo a alfabetização, podem-se camuflar e Até que ponto a alfabetização será uma resposta
ficar mais tranqüilos no próprio modo de ser, real para suas expectativas, será analisado mais
As razões propriamente referidas à alfabetização detidamente.
mesma costumam ser desse teor:
a) Dominar uma técnica mais do ‘civilizado’, que parece
ter também um valor quase mágico.
b) Defender-se contra a exploração salarial e nos tratos
comerciais. 3.1.3. A alfabetização exigida pelo contato.
45
Conclui-se que é de importância capital que o
E claro que a alfabetização surge na situação de problema da alfabetização indígena não pode ser
contato ( e exclusivamente do contato). É o contato que resolvido com critérios de simples alfabetização, pois ela
está na origem de necessidade de alfabetização, mas ele tem que considerar detidamente as condições
se processa a partir de dois pólos bem diferentes. pedagógicas nas quais vai ser feita e a situação
Enquanto a sociedade nacional vê a alfabetização como a lingüística do índio, que vai ser alfabetizado e a política
condição essencial para dar educação ao índio – lingüística a ser seguida.
supostamente sem cultura, porque é ágrafo - , a
sociedade indígena, se não está demasiadamente 3.2. Condições da alfabetização
deturpada, quereria usar a alfabetização como simples
técnicas suplementar, tirada do branco, mas para não ser Sem pretender dar uma lista completa das
assimilado. Muitas das ambigüidades do processo de condições nas quais se processa a alfabetização – para
alfabetização, as condições nas quais se desenvolve, a isso deveriam-se considerar aspectos como a localização
língua que é usada, provêm desse jogo de tensões. das aldeias, a densidade demográfica, a relevância da
A alfabetização do indígena é uma interferência chefia, a persistência das tradições religiosas, a situação
na educação indígena. Ela atinge essencial e econômica do grupo, o grau de contato com a sociedade
necessariamente o processo da educação indígena. nacional etc.-, como mais imediatas podem-se considerar
Pensar que é simplesmente instrumento técnico neutro é as condições seguintes:
querer se enganar. Todavia, a interferência pode atuar de
dois modos diferentes: como complemento da educação
indígena, a modo de prática paralela (essa é a
perspectiva da alfabetização desejada pelo índio, quando
mais conscientemente assumida). No primeiro caso, a a) O alfabetizador
interferência se apresenta com objetivos de ruptura; no
segundo , ela vem de uma inovação coerente com a
educação indígena.
46
O alfabetizador pode ser um indígena, mas a das vezes uma escrita divisão sexual. Nas escolas
situação mais comum foi e é ainda que seja alguém de missionárias o problema era resolvido comumente em
fora. parte, colocando irmãs para as meninas e padres para os
O alfabetizador de fora junta às vezes, à função de meninos. Nos postos, onde o único alfabetizador é uma
ser simples alfabetizador, a de ser missionário, mulher, faz-se problemática a presença de meninos
enfermeiro, encarregado da cooperativa e até indígenas de mais idades.
representente e agente do Estado perante a comunidade O alfabetizador possuidor de uma técnica
indígena. Nessas circunstancias lhe será difícil se desligar prestigiosa talvez se sinta tentado a substituir os
das injunções que as distintas funções lhe impõem. educadores indígenas: família e comunidade, chefes
O alfabetizador irá abafar necessariamente a políticos e religiosos.
educação indígena, se desinteressar por essa cultura, se
for alheio à situação real de opressão, exploração e b) Local
discriminação dessa sociedade indígena. Se desconhecer
a língua indígena, sua única opção é limitar-se ao uso da A alfabetização não precisa necessariamente de
chamada língua nacional. um local especial. Poderia fazer-se dentro da própria casa
Se o alfabetizador for indígena , não por isso todos ou até no terreiro da aldeia. Mas de fato tende a dar-se na
os problemas, indicados para o alfabetizador de fora, escola. A escola costuma ser uma construção conforme
ficam resolvidos. Ás vezes pode ter introjetada a ideologia os padrões da civilização. Pelo material usado e pela
de fora com tanta ou mais força quanto um alfabetizador forma ela não tem nada de indígena. Aliás em muitos
não indígena. Fanatismo religioso, jogo político, casos fica fora da aldeia. Quando a escola passa de um
aproveitamento egoísta de uma situação de relativo alfabetizador indígena, este herda aquela estrutura.
prestigio, vão marcar o seu trabalho de alfabetizador. O local é o condicionamento de uma série de
Que o alfabetizador seja homem ou mulher tem necessidades e impõe um determinado tipo de conduta e
muita importância dentro de uma sociedade indígena ajustamento de valores. Ás vezes se constitui num novo
onde a transmissão de conhecimentos e a centro de vida social, um mundo paralelo.
responsabilidade do processo educativo seguem as mais
47
c) Tempo indígena, que tem as suas características fonológicas
próprias, de sofrer a transferência de uma ortografia
A marcação de tempo para a alfabetização é uma portuguesa, cheio de incoerênciaonológicas.
novidade com respeito ao processo educativo indígena. O
tempo assinalado para a alfabetização é um tempo que
se subtrai do ritmo da educação indígena. O complexo
‘local-tempo’, materializado na escola, desrespeitando os
tempos indígenas, é motivo de muitos fracassos na
continuidade da alfabetização.
Kamutsi Angelina, Iranxe, 10 anos
d) O que escrever e o que ler
Pode-se perguntar como questão paralela, se a
adoção da escrita não contribui para o desaparecimento
Antes de poder apresentar o conteúdo de
das outras expressões gráficas muito originais e criativas
alfabetização, uma opção fundamental precisa ser feita:
que o índio possui. Crianças alfabetizadas têm mostrado
em que língua alfabetizar. E aqui que entra de cheio a
manos criatividades e espontaneidade nos seus
política lingüística da alfabetização, problema ao qual vai
desenhos, que outras que não passaram ainda pelo
se dedicar uma parte importante dessa exposição.
processo de alfabetização. Mas essa dificudades aparece
no contexto da escola e pode não ser atribuível somente
e) Como escrever
à alfabetização e à escrita como tal.
Entra aqui o problema do alfabeto a ser usado. Sendo
f) Em que e com que escrever
o contato das sociedades indígenas brasileiras com uma
cultura ‘nacional’, que chegou com o alfabeto latino -
As condições impostas pelos matérias usados na
alfabeto aliás muito generalizado internacionalmente - , a
escrita e na leitura poderiam parecer acidentais, mas o
opção pelo alfabeto latino em termos práticos é a única.
uso de papel, quadro de giz , lápis e canetas, cartazes,
Fica contudo o problema na alfabetização em língua
48
livros de alfabetização, livros de leitura..., produtos todos
que escapam à produção indígena, dá a todo o processo QUESTIONAMENTO
de alfabetização um caráter bem estranho e muito
dependente da sociedade nacional, a única que pode De onde deriva a necessidade da alfabetização?
fornecer os ditos materiais. Quando o material didático, A que necessidades reais a alfabetização responde?
além disso, apresenta conteúdos específicos da A alfabetização corresponde de fato às expectativas
sociedade nacional, como acontece nos livros de ideológicas levantadas pela sociedade nacional e às
alfabetização e de leitura não feitos expressamente para vezes assimiladas pelos índios?
os indígenas, a interferência é notória. A alfabetização pode se integrar na educação
indígena?
g) O alfabetizando 3.3. A situação lingüística
A educação indígena, salvo os casos A alfabetização do indígena tem que basear-se
relativamente excepcionais da iniciação, não é o grupo. O necessariamente sobre uma análise da situação
fato de agrupar a criançada para ser alfabetizada lingüística da sociedade indígena. Em outros termos: ela
modificada consideravelmente a perspectiva indígena. A não pode prescindir da realidade sócio lingüística de cada
educação indígena, mais individual, podia respeitar o ciclo grupo indígena que vai ser alfabetizado.
de vida e o ritmo de amadurecimento psico- social do Algumas indicações por demais gerais sobre sócio
educando. AQ alfabetização toma o indígena de uma lingüístico podem facilitar a análise da situação real.
maneira genérica, não tendo em conta mais que a
capacitação para a alfabetização e os passos 3.3.1. Língua e comunicação
‘objetivos’que dá nela, prescindindo de idade e de
situação psicológica e social especifica. Língua é um sistema de signos, cuja função
essencial é ser instrumento de comunicação. Como
sistema, está composta de valores que se opõem uns aos
49
outros. A língua tem que ser funcional, ela tem que poder mas elas apresentam muitas vezes significativas
ser falada e entendida por um grupo social relativamente diferenças culturais. Por exemplo: a língua das mulheres
amplo. Mas a língua é não somente um sistema de difere da língua dos homens. Outro exemplo: a língua
oposições funcionais, mas também de realizações ritual é distinta da língua coloquial.
normais. Por isso, às vezes se distingue entre sistema e Na língua podem-se considerar três níveis
normas. Em termos simples, a língua, como sistema, são fundamentais:
todas as possibilidades, os caminhos teoricamente - Sistema de sons: fonologia
abertos para um falar compreensível dentro de uma - Sistema de categorias de expressão: gramática
comunidade. É tudo aquilo que pode se dizer. A norma é - Sistema de significados: léxico
o sistema de realizações obrigatórias, consagradas social Com respeito ao léxico, tenha-se em conta que o
e culturalmente. E aquilo que, de fato, se diz dentro da significado não pode ser atingido sem um conhecimento
comunidade. ( cfr. MELIA, B., 1975, p.32). As conceitual do mundo do falante. Daí a importância de
possibilidades são enormes; as normas mais restritas. aprender a língua no ambiente e nas situações em que
A língua é para entender e ser entendida. E o meio para ela é falada e não somente na aula e nos livros. Ligado
que uma mensagem seja transmitida e possa ser ao contexto, está o sistema de crenças, que faz com que
recebida. A língua de nenhum modo é uma soma de o léxico tenha um sentido, que não pode ser dado pela
palavras desconexas. Dizer palavras rikbáktsa ou munku palavra só, mas pela mentalidade e pela mística do povo.
não é falar a língua rikbáktsa ou a língua munku.
Uma língua tem história. Palavras e modos de dizer 3.3.1.1. Bilingüismo
envelhecem e morrem. A língua se realimenta
continuamente com novas experiências. A sua história Para analisar o fenômeno do bilingüismo, que se
não está desligadas dos fatos sociais que ela vive. A dá hoje no seio de muitas sociedades indígenas
língua, que é uma representação do espaço vital, é brasileiras, cumpre assentar algumas noções
também o modo de vivê-lo socialmente, com todas as fundamentais. Elas se baseiam principalmente nos
suas mudanças históricas. Nas línguas indígenas as trabalhos de Mackei, W. R, The description of
diferenças de classes sociais apenas se fazem sentir,
50
bilingualism, 1970; e de Melià, B, Hacia una ‘tercera esquema simplificado para a descrição do bilingüismo,
lengua’em el Paraguay, 1975. que retém somente os aspectos mais relevantes.
O bilingüismo é um conceito extremamente
relativo. O ‘bilinguismo não é um fenômeno de língua: é a) Grau de bilingüismo
uma característica do seu uso. Não é um aspecto do
código, mas da mensagem. Não pertence ao domínio da Para determinar o grau de bilingüismo, é
língua, mas da fala’( MACKEY, P. 554). Nenhuma língua necessário testar a habilidade e eficiência do falante nos
é bilíngüe. Isso é obvio. São os falantes de uma língua, distintos níveis próprios de cada língua.
que podem usar também outra língua. Entende-se por habilidade de audição a
Se duas línguas ou mais são faladas pelo mesmo capacidade de captar os sons de outra língua. E o grau
falante, é que ele se relacionou, de uma maneira ou de bilinguismo daquelas pessoas que dizem ter
outra, a duas comunidades com línguas diferentes. dificuldades em entender o outro, porque ‘fala muito
Alguém é bilíngüe enquanto tem razões para ser bilíngüe. depressa’porque a sua fala é ‘muito fechada’. No grau
O bilingüismo nasce do encontro e contato de indivíduos seguinte, o ouvinte entende palavras, mas não entende o
de uma língua com outros de outra língua. Sendo o fraseado. Captar a semântica e o sentido do que é falado
bilingüismo uma característica do uso de duas língua, uso em outra língua, supõe já um grau de bilingüismo auditivo
que tem uma história e se aplica em circunstâncias muito maior.
particulares, dificilmente é o domínio equânime, O grau de bilingüismo na leitura costuma progredir
equilibrado e completo de duas ou mais línguas nunca de níveis menos complexos a níveis mais complexos, na
tem a mesma extensão e profundidade no mesmo falante. gramática e no estilo.
O bilíngüe conhece ativamente uma língua e conhece A escrita supõe uma leitura relativa. Mas a
ativamente uma lin gua e conhece passivamente as habilidade para escrever pode se reduzir a domínios e
outras. estilos muito limitados. De todos modos, a habilidade na
Para determinar a relatividade do bilingüismo tem escrita supõe geralmente um grau de bilingüismo superior
que se considerar diversos fatos. Aqui se apresenta um ao representado pela habilidade de leitura.
51
É a expressão oral a que indica propriamente o Social
verdadeiro grau de bilingüismo. A habilidade expressiva,
mesmo notável, pode dar-se sem a leitura e sem escrita. A pressão refere-se, sobretudo àquelas normas
que, em determinadas situações, chegam a quase impor
Níveis o uso de uma outra língua: normas administrativas,
Habilidade Fonologi Gramática Léxico Semântica culturais, políticas, militares, históricas, religiosas,
s a democráficas etc. Essas normas vêm freqüentemente e
Audição culturalmente superiores ter-se que dar em uma
Leitura determinada língua, é um dos tipos de pressão.
Escrita
Expressão c) Alternação
oral
O uso das línguas é sempre alternativo. Os fatores
b) Função principais, que vão influir nessa alternação, serão os
tópicos da matéria falada, as pessoas com quem se fala e
O bilingüismo do falante depende do uso que faz o a tensão da situação.
bilíngüe das línguas e das condições sob as quais se faz. A história social, a relação de autoridade, de sexo,
de idade, as classes sociais, jogo político, condicionam a
Condições escolha de uma ou outra língua.
Ambiente de Duração Freqüência Pressão
contato d) Interferência
Lar
Comunidade O bilíngüe está exposto a sofrer interferências.
Escola Interferência é o uso de características pertencentes a
Comunicação uma língua, enquanto se fala ou se escreve outra
(MACKEI, P. 569)
52
As interferência no falante podem se manifestar em As principais características da situação de diglossia
todos os níveis da língua que pretende falar naquela foram descritas por FERGUSON, Ch. A., Diglossia, in
situação. Mas uma situação pessoal de maior ou menor Word, XI ( 1959 ), pp. 325-340, num trabalho que hoje é
tensão, o tópico sobre o que está falando, o estilo considerado clássico.
adotado, costumam modificar profundamente o índice, o A diglossia se refere àquele fenômeno sócio-
tipo de interferência. linguístico no qual uma língua é usada como variedade
e) Correlatos do bilingüismo alta, técnicos-acadêmica, de uso oficial, com abundante
literatura, ensinada na escola, enquanto uma outra é
De um modo simples e prático ao intentar uma considerada variedade baixa, simplesmente coloquial, de
descrição do bilingüismo, que possa salientar o seu uso confinado numa comunidade, sem literatura
caráter relativo, pode-se fazer. apreciável e que não é ensinada na escola formal. A
noção de diglossia serve para relativizar o chamado
quem fala? bilingüismo – sobretudo quando este é apresentado
a quem fala? dentro de uma ideologia de equilíbrio histórico – social ,
Onde fala? assim como para analisar a relação das duas línguas
Quando fala? conforme aos seus deferentes usos sociais, fazendo ver
De que fala? que os seus campos de aplicação são diferentes e
ordinariamente dependentes, numa relação de
3.3.1.2. Diglossia dominantes-dominado, de superior-inferior. A Diglossia
outorga também lugar privilegado ao fato social- e
Para melhor entender o fenômeno de bilingüismo, portanto histórico – respeito ao quando, quem e por que
que de nenhum modo é o uso equânime e equilibrado de se fala uma língua ou outra... O bilingüismo faz referencia
duas ou mais línguas, mas que está sujeito a pressões de a duas línguas, enquanto a diglossia se refere à relação
carácter ideológicos e político, apareceu entre os histórico-social de como se falam as duas línguas e como
lingüistas a noção de diglossia. são aplicadas realmente nos usos sociais’ ( MELIA, 1975,
P 57 ).
53
Os falantes daquela língua, que a história e as 2.2 Sociedade de só bilíngües
ideologias discriminatórias consideram inferiores, se 2.3 Sociedades de bilíngües e monolíngues
vêem de fato, depois de um tempo, impedidos de poder na língua nacional
falar sobre tópicos considerados de cultura. 2.4 Sociedades de monolíngues indígenas,
Encarar a situação lingüística da sociedades de bilíngües e de monolíngues na língua
indígenas simplesmente como um bilingüismo, quando a nacional.
realidade é a de uma dramática diglossia, isso vai 2.5 Sociedades de monolíngues indígenas
desnaturalizar toda a política de planejamento lingüístico e monolingues na língua nacional.
nos programas da chamada educação indígena pelo 3. Sociedades indígenas de monolingues em
ensino bilíngüe. língua nacional.
70
O ensino bilíngüe em diagonal não faz senão
acentuar o desequilíbrio diglóssico que a situação de
contato havia já estabelecido. Enquanto a língua nacional
se reserva todas as áreas de conhecimentos mais
técnicos e de prestígio, a língua indígena é reduzida à
área do coloquial.
Uma verdadeira educação e ensino bilíngüe
poderiam dar-se conforme um modelo que poderíamos
chamar de paralelismo, onde, mesmo admitindo uma
relativa separação de áreas, procura-se reduzir o
desequilíbrio diglossico . É precisamente a área dos
chamados estudos sociais, nos quais entrariam a história
do povo indígena, a que deveria entrar na alfabetização
social, a historia do povo indígena, a que deveria entrar REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
na alfabetização inicial e continuar com pelos menos os
mesmos tempos e intensidade em todo o BEALS, Ralph – HOIJER, Harry
desenvolvimentos do ensino bilíngüe. As áreas dos 1972 – Introdicion a la antropologia. Madrid
ensino técnicos poderia se desenvolver preferentemente
na língua nacional. FERNANDES, Florestan
O ensino bilíngüe que se propõe, não é outro depois 1975 – Investigação etnológica no Brasil e outros
de tudo, que aquele que fornecem certas instituições, que ensaios. Petrópolis. FUNAI
pretendem ensinar uma nova língua, sem detrimento de 1975 – Legislação. Brasília.
outra. 1975 – Informativo Funai, Ano IV, n. 14, Brasília
72
1.1.2.Definições de educação 1.2.8.Formação de personalidade
indígena....................................................................1 específica .........................................................23
1 1.3. Analise de alguns processos educativos
1.1.3.Categorias fundamentais para a análise dum específicos .....................................23
sistema de educação indígena12 1.3.1. A Educação na Sociedade Tupinambé
1.2 Aspectos relevantes da educação indígena no 1.3.2. A educação entre os Pai – Tavyterã
Brasil............................................17 (Kayoavá)....................................
1.2.1. Concepção e 1.3.3. A educação entre os xavantes e
nascimento............................................................... Nambikwára ...................................32
18 1.4 Focos de elaboração
1.2.2. O educativa .......................................................................
jogo............................................................................. ..35
.........................19 1.4.1 Munku-
1.2.3.Correção............................................................ Iranxe ........................................................................
..............................................19 .............36
1.2.4.Conhecimento da 1.4.2 Boróro ..............................................................
natureza...................................................................... ..................................40
.20 1.4.3 Rikbátsa-
1.2.5.Ritos de Canoeiro ....................................................................
iniciação ..................................................................... .........40
................21 2- EDUCAÇAO PARA O
1.2.6.Nominação ....................................................... INDIGENA ...........................................................................
..............................................22 .........43
1.2.7.Rituais e linguagem 2.1. Educação
mítica ......................................................................... missionária ........................................................................
.....22 ...........................44
73
2.1.1. 3.1.3. A alfabetização exigida pelo
Funcionamento .......................................................... contato .........................................................60
...................................44 3.2.Condições da
2.1.2. Justificações alfabetização ......................................................................
ideológicas ................................................................. ...............................61
.........46 3.3. A situação
2.1.3. Residência indígena e lingüística ..........................................................................
revisão ...................................................................... .....................................64
47 3.3.1.Língua de
2.2. Educação comunicação .............................................................
‘nacional’............................................................................. ............................................64
........48 3.3.2.A realidade lingüística
2.3. Um índio indígena .....................................................................
marginal ............................................................................. ........................69
.......................50 3.4. A língua da
2.4. Contraste entre a educação indígena e educação alfabetização.......................................................................
para o índio ................................51 .........................70
3- ALFABETIZAÇAO DO 3.4.1. Alfabetização na língua
ÍNDIGENA ........................................................................... portuguesa .................................................................
.......55 .....................70
3.1 O porquê da alfabetização do 3.4.2. Alfabetização na língua
indígena .......................................................................58 indígena .....................................................................
3.1.1. A perspectiva da sociedade .....................72
nacional ..........................................................58 3.4.3. Alfabetização em duas
3.1.2. A perspectiva da sociedade língua .........................................................................
indígena ............................................................59 ......................73
74
3.5 Início da 4.4.3.As
alfabetização ...................................................................... ilustrações .................................................................
.........................................74 .........................................................84
4- TEXTOS DE 4.4.4. A ordem dos
ALFABETIZAÇAO............................................................... textos .........................................................................
............................77 .......................................86
4.1 A análise etno 4.4.5. Observações
lingüística .......................................................................... criticas .......................................................................
................................77 ........................................87
4.2.Elaboração de uma
ortografia ............................................................................ 5- EDUCAÇAO
........................78 BILÍNGUE ...........................................................................
4.3. Os conteúdos dos ................................89
textos ..................................................................................
.........................79 REFERÊNCIAS
4.4. Elaboração de uma BIBLIOGRAFICAS .............................................................
ortografia ............................................................................ .............................93
......................82
4.4.1.Trabalhos
prévios .......................................................................
............................................83
4.4.2.Destinação de
cartilhas .....................................................................
......................................83
75