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muito discrepantes quanto ao relato da ressurreição de Jesus e que esse seria um motivo para
desacreditá-los?
Eu já. E tenho de confessar que de início sempre achei muito confuso todas aquelas diferenças
encontradas em cada um dos evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Mas mesmo assim nunca me deixei abalar por isso. Sempre soube que havia uma explicação. E
que a Bíblia é a verdade. E que um dia eu teria a resposta certa sobre essa questão.
E realmente aconteceu...
A luz necessária para que eu pudesse sanar essa dúvida veio até mim após assistir a um
debate entre William Lane Craig e o agnóstico Bart Ehrman sobre a veracidade histórica da
ressurreição de Jesus.
Só que, por incrível que possa parecer, foi pelas próprias palavras de Ehrman que eu soube o
que deveria fazer.
Logo em sua primeira fala, ele disse: "A maneira de enxergar as diferenças nos evangelhos é
lê-los horizontalmente". [1] Claro que o que ele quis argumentar é que se colocássemos os
relatos dos evangelhos lado a lado o que encontraríamos seriam razões suficientes para
perdermos nossa fé nas Escrituras.
Mas mesmo assim fiz o que ele disse. E, ao contrário do que ele pressupôs, acabei por
encontrar mais razões para crer no relato Bíblico.
Primeiro, listei separadamente todos os pontos descritos pelos 4 evangelhos sobre como teria
ocorrido a ressurreição de Jesus e os comparei entre si...
▶ MARCOS: Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, foram ao túmulo de Jesus, ao
nascer do sol. Testemunharam que a pedra do túmulo já estava rolada para o lado (16.1-4).
Quando entraram no sepulcro, viram um anjo em forma de jovem homem sentado lá dentro
(16.5). O anjo lhes diz para irem anunciar a ressurreição aos demais discípulos, mas ao irem, o
foram com grande temor e se calaram, não falando nada para ninguém (16.6-8). Em algum
momento, provavelmente no meio do caminho, Jesus apareceu a Maria Madalena, que quando
chegou até os discípulos, contou-lhes tudo (16.9-10). Os discípulos, ao ouvirem a boa nova, não
o creram a princípio. Em algum momento, Jesus aparece para dois discípulos não nomeados, e
depois aos onze, em outro momento (16.11-14).
▶ LUCAS: Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, e outras, foram ao túmulo de Jesus
aquando ainda estava escuro e viram a pedra já removida (Lc 24.1-2,10). Dentro do túmulo,
viram dois anjos com aparência de homens. Eles lhes contam a boa nova da ressurreição e elas
correm para anunciar isso aos demais discípulos (24.4-9). Os discípulos não creram no
testemunho das mulheres, mas Pedro correu para o túmulo (24.11-12). Dois discípulos não
nomeados se encontram com Jesus no caminho para Emaús (24.13-31). Tais discípulos foram
até os demais discípulos para lhes anunciar a boa nova, afirmando que Ele já havia aparecido
para o próprio Simão, quando, inesperadamente, Jesus lhes aparece (24.33-36); durante algum
tempo, espantados ao verem Jesus, muitos deles não acreditavam no que estavam vendo;
Jesus passou a ensinar-lhes (24.37-48).
▶ JOÃO: Aparentemente, apenas Maria Madalena se dirigiu ao túmulo, quando ainda estava
escuro, e viu a pedra já removida (Jo 20.1). Após isso, correu diretamente a contar tal fato para
os discípulos, pensando que alguém havia roubado o corpo do Senhor Jesus (Jo 20.2). Pedro e
João, então, correram em direção ao sepulcro para verificar o ocorrido. Perceberam que de fato
o túmulo estava vazio e se questionavam a respeito, enquanto voltavam para casa (Jo 20.3-10).
Maria Madalena, que também havia voltado ao túmulo, chorava do lado de fora, quando viu dois
anjos dentro do sepulcro. Eles lhe anunciaram a boa nova da ressurreição e quando se voltou
para trás, viu o Senhor Jesus, sem saber que era ele (Jo 20.11-14). Jesus se revela a Maria
Madalena e lhe manda anunciar o ocorrido aos demais discípulos; ela o faz. (Jo 20.15-18).
Depois, Jesus aparece, durante a tarde daquele mesmo dia, aos demais discípulos, menos a
Tomé, que não estava entre eles (Jo 20.19-24). Os discípulos disseram para Tomé que viram o
Senhor, mas este não creu, até que o Senhor Jesus lhe apareceu, também (Jo 20.25-29).
Depois, listei todas as suas semelhanças e em que, exatamente, eles divergem, ponderando se
as discrepâncias são realmente gritantes ou secundárias...
1⃣ Vemos que Maria Madalena é citada em todos os relatos, enquanto que os demais
evangelhos acrescentam mais nomes, sendo que Lucas afirma que haviam outras não
nomeadas. Logo, muitas mulheres seguiram para o túmulo e os evangelistas destacaram
apenas as que acharam mais relevantes, de forma independente. É pedante afirmar que isso
seja uma real contradição.
2⃣ A hora em que as mulheres foram, certamente era o período entre o fim da noite e o início da
manhã; cada um escreveu apenas do seu ponto de vista: “ao amanhecer”, ou “ainda de noite”. É
o mesmo que ocorre quando uma pessoa diz que um copo está meio vazio e outra diz que está
meio cheio; no fim, estão ambos corretos.
E fato é que cada uma dessas discrepâncias corrobora, no fim das contas, para a veracidade
histórica do ocorrido e não o contrário, pois cada autor contou-a de forma independente, sem
plágio algum, a partir de suas próprias fontes.
Com esses diversos relatos independentes, nenhum historiador sério realmente descartaria os
Evangelhos só por causa de discrepâncias secundárias. E você?
Gabriell Stevenson.
REFERÊNCIAS
[1] YOUTUBE. Debate - Bart D. Ehrman vs Willian Lane Craig. Disponível em:
<http://bit.ly/2heelvf>.