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Comentado–dezembro
2018 (semana 2)
CAO-Crim
Boletim Criminal Comentado - dezembro 2018
(semana 2)
Assessores:
Fernanda Narezi Pimentel Rosa
Marcelo Sorrentino Neira
Paulo José de Palma
Ricardo José Gasques de Almeida Silvares
Rogério Sanches Cunha
1 Analista Jurídica
Ana Karenina Saura Rodrigues
Boletim Criminal
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Sumário
Balanço da gestão no CAOCRIM.............................................................................................................3
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Este é o último boletim deste ano. Há muito ainda a ser conquistado. O objetivo e difícil
missão dos integrantes do Centro de Apoio Operacional Criminal – CAOCRIM é
fortalecer cada Promotoria de Justiça Criminal, com suas diferentes particularidades.
Passamos a acessar on line a segunda via de laudos periciais elaborados pela Polícia
Técnica Científica. Passamos a acessar as informações da ANAC. Ampliamos o acesso
ao banco de dados do DETRAN e passamos a acessar o sistema DETECTA, com seis
senhas de acesso. Por meio de projeto com a Secretaria Estadual de Segurança Pública,
ENASP e Polícia Técnica, o CAOCRIM monitorou a coleta de amostra de DNA de presos
de Itaí pela prática de crimes sexuais e vamos ampliar esse trabalho para atingir
também a população de outros presídios, possibilitando assim futuros confrontos de
perfis genéticos e esclarecimento de crimes. Viabilizamos o cadastro de trinta colegas
das promotorias de justiça de execuções criminais para acesso ao Boletim Informativo,
com dados da movimentação carcerária em tempo real. Tudo em razão do trabalho
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Houve intenso trabalho nas promotorias de justiça criminais. Só na Capital de São Paulo
foram realizadas cerca de 100 a 140 audiências de custódias por dia, numa média de
4050 audiências por mês (fonte TJSP). No período de setembro de 2017 a agosto de
2018, foram ofertadas 38.518 denúncias, numa média de 3.209 denúncias por mês
pelos promotores de justiça criminais da Barra Funda. Ainda, estes mesmos
promotores arquivaram cerca de 4700 casos por mês (inquéritos policiais e notícias de
fato) – fonte CIPP e CGMP. Tudo isso ainda poderia ser agregado com o número
infelizmente enorme de mulheres atendidas nas promotorias de justiça especializada
em violência doméstica, onde se faz um trabalho pioneiro inclusive preventivo. Os
números são impressionantes. Aliás, no que concerne ao atendimento às vítimas,
acreditamos que devemos resgatar urgentemente nosso papel de defensor do
ofendido na ação penal, inclusive cuidando para que haja a necessária e efetiva
reparação do dano causado pelo delito; nesse sentido, elaboramos farto material de
apoio que se encontra disponível em nossa página, no ícone “Medidas Assecuratórias”.
Na mesma esteira, também estamos em processo de aproximação com o CRAVI
(Centro de Referência e Atendimento às Vítimas), importante órgão vinculado à
Secretaria Estadual de Justiça que presta relevante atendimento e orientação às
vítimas de crimes.
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construção do nosso Ministério Público ainda mais forte e protagonista. Até fevereiro
de 2019.
ESTUDOS DO CAOCRIM
É possível, no entanto, que, havendo mais de uma condenação com trânsito em julgado, uma
delas seja considerada na primeira fase de aplicação da pena na qualidade de mau
antecedente e a outra incida para marcar a reincidência, na segunda fase:
“É firme o entendimento desta Corte Superior de que, em se tratando de agente que ostenta
mais de uma condenação definitiva anterior, não configura bis in idem nem ofensa à Súmula
241 do STJ a utilização de anotações criminais distintas na primeira e segunda etapa da
dosimetria para reconhecer, respectivamente, os maus antecedentes e a agravante de
reincidência. Precedentes” (HC 304.411/RJ, j. 03/05/2018)
(…)
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reincidência, pois, embora não tenha sido certificado o transito em julgado da condenação
considerada, há registro do início da execução definitiva da pena privativa de liberdade em
data anterior à prática do delito em comento.”
“As consequências do crime consistem no conjunto de efeitos danosos provocados pelo crime.
No caso em tela, essa circunstância mostrou-se de gravidade superior àquela esperada como
decorrência da grave ameaça de um crime comum de roubo. Isso porque o crime em análise
acarretou danos psicológicos à genitora da vítima, que inviabilizou até sua presença em juízo,
e, especialmente, a seu filho, que desenvolveu, desde então, síndrome do pânico. Destarte,
malgrado o aumento padrão sugerido da pena-base seja de 1/8, o aumento na fração de 1/6
mostrou-se proporcional à gravidade da circunstância valorada” (HC 401.764/SP, DJe
07/12/2017).
No âmbito patrimonial, caso o prejuízo provocado pela conduta criminosa seja superior ao
esperado, que já é contemplado na própria cominação da pena abstrata, é possível o aumento
da pena-base:
“A pena-base foi fixada acima do mínimo legal por meio de fundamentação adequada,
considerando que o paciente obteve considerável lucro em razão da conduta delitiva, em
detrimento de grave prejuízo imposto aos cooperados. A fundamentação, bem assim o
quantum de aumento se mostram idôneos, uma vez que as circunstâncias judiciais
ultrapassam em muito os elementos intrínsecos ao tipo penal, o que indica maior
reprovabilidade do ilícito, a ensejar reprimenda também mais gravosa, em obediência ao
princípio da individualização da pena.” (AgRg no HC 463.788/SP, j. 13/11/2018)
(...)
“2. Em relação às consequências do crime, que devem ser entendidas como o resultado da
ação do agente, a avaliação negativa de tal circunstância judicial mostra-se escorreita se o
dano material ou moral causado ao bem jurídico tutelado se revelar superior ao inerente ao
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tipo penal. In casu, o elevado prejuízo patrimonial à autarquia previdenciária revela um maior
grau de reprovação, apta a justificar a necessidade de resposta penal mais severa. 3. O
entendimento perfilhado pelo Tribunal de origem está em consonância com a jurisprudência
desta Corte, no sentido de que as consequências do crime em razão do prejuízo ocasionado
ao erário justificam a majoração da reprimenda de piso.” (AgRg no AREsp 1.291.192/SP, j.
23/10/2018)
c) Aplicação da pena - Os atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes
para a elevação da pena-base, tampouco para a reincidência.
A imputabilidade penal se inicia aos dezoito anos de idade, como se extrai, a contrario sensu,
do art. 27 do Código Penal:
“Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
estabelecidas na legislação especial.”
Antes de completar a maioridade, o autor de conduta que se amolda a uma descrição típica
não comete infração penal, mas ato infracional, que tem disciplina própria na Lei 8.069/90
(Estatuto da Criança e do Adolescente).
Segundo esta lei, a criança autora de ato infracional será submetida às medidas de proteção
do art. 101, ao passo que aos adolescentes são aplicadas as medidas socioeducativas
elencadas no art. 112.
Com mais razão, atos infracionais não podem ser considerados para os efeitos da reincidência,
pois o art. 63 do Código Penal dispõe que é reincidente quem “comete novo crime, depois de
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
anterior”, e o art. 64, ao dispor sobre o quinquênio depurador, faz referência ao cumprimento
e à extinção da pena. E, como vimos linhas acima, ato infracional não é crime e as medidas
dele decorrentes não são penas.
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Não obstante esteja inserida em matéria relativa à aplicação da pena, esta tese tem sido
utilizada no âmbito da prisão preventiva. De acordo com diversas decisões proferidas por
ambas as Turmas com competência criminal no STJ, os atos infracionais podem influenciar a
análise da personalidade do agente para fins cautelares:
“Embora o registro de ato infracional não possa ser utilizado para fins de reincidência ou maus
antecedentes, por não serem considerados crimes, podem ser sopesados na análise da
personalidade do recorrente, reforçando os elementos já suficientes dos autos que o apontam
como pessoa perigosa e cuja segregação é necessária. Precedentes.” (5ª Turma – HC
466.866/PE, j. 02/10/2018).
“A Terceira Seção desta Corte firmou orientação de que “os registros sobre o passado de uma
pessoa, seja ela quem for, não podem ser desconsiderados para fins cautelares. A avaliação
sobre a periculosidade de alguém impõe que se perscrute todo o seu histórico de vida, em
especial o seu comportamento perante a comunidade, em atos exteriores, cujas
consequências tenham sido sentidas no âmbito social. Se os atos infracionais não servem, por
óbvio, como antecedentes penais e muito menos para firmar reincidência (porque tais
conceitos implicam a ideia de ‘crime’ anterior), não podem ser ignorados para aferir a
personalidade e eventual risco que sua liberdade plena representa para terceiros” (RHC n.
63.855/MG, rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Rel. p/acórdão Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
Dje 13/6/2016).” (6ª Turma – RHC 96.158/SP, j. 14/08/2018)
e) Aplicação da pena - Os atos infracionais não podem ser considerados como personalidade
desajustada ou voltada para a criminalidade para fins de exasperação da pena-base.
Havia no STJ decisões segundo as quais os atos infracionais eram aptos a exasperar a pena-
base se considerados na personalidade do agente:
“Embora o envolvimento anterior em atos infracionais não possa ser considerado como maus
antecedentes e nem se preste para induzir a reincidência, demonstra a “personalidade voltada
para o mundo do crime” e inclinação para a prática delitiva, o que é suficiente para justificar
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Ultimamente, no entanto, a orientação tem sido diversa. Ainda que se considere que na
análise da personalidade se faz um simples retrato psíquico, no qual o ato infracional não é
tratado como se fosse um crime, mas como um aspecto que pode revelar inclinação para a
prática de atos ilícitos, tem-se decidido que a conduta praticada quando o agente era
inimputável não pode ter influência direta na pena aplicada:
O ato tem reflexo importante nos benefícios a serem acordados, pois, com a sua assinatura, o
pretenso colaborador já pode ser considerado o primeiro agente a prestar efetiva
colaboração. Não sendo o líder da organização, pode o Ministério Público deixar de ofertar a
denúncia (art. 4º., §4º., incs. I e II, da Lei 12.850/13). Como expresso no texto legal, trata-se
de mera faculdade conferida ao “parquet”, pelo que não se deve cogitar de nenhum direito
subjetivo do agente a não ser denunciado.
Entendemos que os dois requisitos dos incs. I e II acima deverão estar presentes
concomitantemente, isto é, não basta o preenchimento de um deles apenas, senão de ambos.
Fosse a “ratio legis” se contentar apenas com um deles e teria empregado a partícula “ou”, o
que não se verifica. Demais disso, pensar-se de forma diversa importaria na banalização do
instituto, o que se mostra preocupante em face da tantas vezes reiterada gravidade dos crimes
perpetrados em organização.
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A simulação de consórcio por meio de venda premiada, operada sem autorização do Banco
Central do Brasil, configura crime contra o sistema financeiro, tipificado pelo art. 16 da Lei n.
7.492/1986, o que atrai a competência da Justiça Federal.
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venda premiada, operada sem autorização do Banco Central do Brasil, configura crime contra
o sistema financeiro devendo, assim, ser apurada pela Justiça Federal. Ademais, ainda que não
haja identidade perfeita entre a venda premiada e o consórcio, é evidente que não se trata de
venda comum, na medida que a pessoa jurídica capta recursos de terceiros, podendo,
portanto, ser considerada instituição financeira a teor do art. 1º da Lei n. 7.492/1986. Desse
modo, a ausência de autorização do Banco Central do Brasil não afasta a prática de crime
contra o sistema financeiro, ao contrário, constitui justamente elemento constante no tipo
descrito no art. 16 da Lei n. 7.492/1986.
PROCESSO: CC 160.077-PA, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, por unanimidade, julgado em
10/10/2018, DJe 19/10/2018
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
Conforme o artigo 1º da Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei nº 7.492/86):
“Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito público
ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a
captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda
nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou
administração de valores mobiliários”.
É importante que se tenha em mente que o conceito de instituição financeira para fins penais
não coincide, totalmente, com o conceito cunhado pela Lei nº 4.595/65, que faz menção à
operação de recursos próprios. Com efeito, a Lei n.º 4595/65, que “Dispõe sobre a Política e
as Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias, Cria o Conselho Monetário Nacional e dá
outras providências”, traz, em seu artigo 17, a definição de instituição financeira, nos
seguintes termos: “Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em
vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou
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Boletim Criminal
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A definição contida na Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional deve ser a legislação
empregada para a definição de instituição financeira, para os fins a que se destinam a Lei de
Atribuições da Polícia Federal. E isto porque, muito embora a Lei nº 7.492/86 assevere que o
conceito de instituição financeira somente se aplica para os fins da própria Lei, o fato é que
temos um conceito de instituição financeira para fins penais. nada justifica, portanto, que não
se empregue o mesmo conceito, quando nos referimos aos crimes de que são vítimas as
instituições financeiras, como no dispositivo legal em comento.
EMENTA
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se livrar solto, ou, sendo
afiançável a infração, tiver prestado fiança;
(...)”
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DIREITO PENAL:
Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que o Ministério
Público é o principal legitimado para executar a cobrança das multas pecuniárias fixadas em
sentenças penais condenatórias. Na sessão desta quinta-feira (13), os ministros entenderam
que, por ter natureza de sanção penal, a competência da Fazenda Pública para executar essas
multas se limita aos casos de inércia do MP.
O julgamento foi retomado com o voto do ministro Roberto Barroso, que reafirmou o
entendimento apresentado na 12ª Questão de Ordem na AP 470 no sentido da procedência
parcial da ADI 3150. Segundo ele, o fato de a nova redação do artigo 51 do Código Penal
transformar a multa em dívida de valor não retira a competência do MP para efetuar sua
cobrança. Ele lembrou que a multa pecuniária é uma sanção penal prevista na Constituição
Federal (artigo 5º, inciso XLVI, alínea “c“), o que torna impossível alterar sua natureza jurídica
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por meio de lei. Ressaltou, também, que a Lei de Execuções Penais (LEP), em dispositivo
expresso, reconhece a atribuição do MP para executar a dívida.
Segundo Barroso, o fato de o MP cobrar a dívida, ou seja, executar a condenação, não significa
que ele estaria substituindo a Fazenda Pública. O ministro destacou que a condenação
criminal é um título executivo judicial, sendo incongruente sua inscrição em dívida ativa, que
é um título executivo extrajudicial. Reafirmando seu voto na 12ª Questão de Ordem na AP
470, o ministro salientou que, caso o MP não proponha a execução da multa no prazo de 90
dias após o trânsito em julgado da sentença, o juízo da vara criminal comunicará ao órgão
competente da Fazenda Pública para efetuar a cobrança na vara de execução fiscal. “Mas a
prioridade é do Ministério Público, pois, antes de ser uma dívida, é uma sanção criminal”,
reiterou.
Seguiram essa corrente os ministros Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen
Lúcia, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli (presidente). Ficaram vencidos os ministros Marco
Aurélio e Edson Fachin, que votaram pela improcedência da ADI por entendem ser
competência da Fazenda Pública a cobrança da multa pecuniária.
A ADI 3150 foi julgada parcialmente procedente para dar interpretação conforme a
Constituição ao artigo 51 do Código Penal, explicitando que, ao estabelecer que a cobrança
da multa pecuniária ocorra segundo as normas de execução da dívida pública, não exclui a
legitimidade prioritária do Ministério Público para a cobrança da multa na vara de execução
penal. A questão de ordem foi resolvida no sentido de assentar a legitimidade do MP para
propor a cobrança de multa com a possibilidade de cobrança subsidiária pela Fazenda Pública.
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Em face da sistemática imposta pela Lei 9.268/96, que alterou o art. 51 do Código Penal para
estabelecer que a multa “será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
interruptivas e suspensivas da prescrição”, há divergência a respeito da legitimidade para a
execução em caso de inadimplência. Há, basicamente, três orientações:
1ª) a competência continua sendo do Juiz das Execuções Criminais, bem como a legitimidade
para a sua promoção continua sendo do Ministério Público, seguindo o rito da LEP (arts. 164 e
ss – Cezar Roberto Bitencourt).
2ª) a competência continua sendo do Juiz das Execuções Criminais, bem como a legitimidade
para a sua promoção continua sendo do Ministério Público, mas o rito a ser seguido é o
previsto na Lei de Execuções Fiscais.
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3ª) com o advento da Lei n. 9.268/1996, a multa criminal torna-se executável por meio dos
procedimentos próprios da execução fiscal, afastando-se a competência da Vara de Execuções
Penais. É, portanto, da Fazenda Pública – e não do Ministério Público – a legitimidade para
promover a execução de pena de multa imposta em sentença penal condenatória.
Esta última orientação foi adotada pelo STJ por meio da súmula 521:
Mas o tribunal continuou atribuindo ao Ministério Público a legitimidade para adotar medidas
assecuratórias do pagamento da multa
“O Ministério Público tem legitimidade para promover medida assecuratória que vise à
garantia do pagamento de multa imposta por sentença penal condenatória. É certo que, com
a edição da Lei 9.268/1996, a qual deu nova redação ao art. 51 do CP, modificou-se o
procedimento de cobrança da pena de multa, passando-se a aplicar as regras referentes à
Fazenda Pública. Cabe referir, por oportuno, que não obstante a pena de multa tenha passado
a ser considerada dívida de valor, não perdeu sua natureza jurídica de sanção penal. Todavia,
na hipótese em análise, discute-se a legitimidade do MP não para cobrança de pena de multa
– esta sim de legitimidade da Fazenda Pública –, mas para promover medida assecuratória, a
qual está assegurada tanto pelos termos do art. 142 do CPP quanto pela própria titularidade
da ação penal, conferida pela Constituição Federal. Precedentes citados: Resp 1.115.275-PR,
Quinta Turma, DJe 4/11/2011); e RMS 21.967-PR, Quinta Turma, DJe 2/3/2009.” (REsp
1.275.834-PR, j. 17/03/2015).
O tribunal apreciou conjuntamente uma questão de ordem na Ação Penal 470 e a ADI 3150.
A ação direta de inconstitucionalidade havia sido ajuizada pelo Procurador-Geral da República
para que o tribunal conferisse interpretação conforme ao art. 51 do Código Penal e
estabelecesse a legitimidade do Ministério Público e a competência da Vara de Execuções
Penais para a execução da pena de multa. Já na questão de ordem contestava-se decisão do
ministro Barroso, que havia estabelecido, com base no art. 164 da LEP, a legitimidade do
Ministério Público para executar multa imposta na AP 470, mas a União sustentava que a Lei
9.268/96 havia revogado tacitamente o disposto na Lei de Execução Penal, razão por que
caberia à Procuradoria da Fazenda Nacional executar a sanção imposta naquela condenação.
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Segundo o ministro Barroso – que foi acompanhado pela maioria –, a alteração promovida
pela Lei 9.268/96 não alterou a natureza da pena de multa, que continuou a ser uma espécie
de sanção penal, tanto que na própria AP 470 o STF impôs o pagamento da multa como
condição para a progressão de regime. O art. 164 da LEP, portanto, continua em vigor e é claro
ao estabelecer a legitimidade do Ministério Público, a quem cabe a fiscalização da execução
penal.
Ainda segundo a decisão, apenas se o Ministério Público não adotar as providências para a
cobrança no prazo de noventa dias é que o juiz da Vara de Execuções Penais deve cientificar
a Fazenda Pública para que proceda à cobrança perante a Vara de Execuções Fiscais e com
base na Lei 6.830/80.
Pesquise sobre este tema na base de Acórdãos do STJ: Análise da necessidade ou não do dolo
de associar-se com estabilidade e permanência para a caracterização do crime de associação
para o tráfico
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O art. 35 da Lei 11.343/06 define o delito de associação para o tráfico da seguinte forma:
“associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e §1º, e 34 desta Lei”.
Entendeu por bem o legislador punir os atos preparatórios para a prática do tráfico de drogas
e maquinários. Entretanto, não é necessária a efetivação dos referidos delitos, mas,
simplesmente, a associação com esse fim específico.
A associação para o tráfico é uma modalidade especial de associação criminosa (art. 288 do
CP), porém, com algumas diferenças, a saber: exigem-se duas pessoas para que seja
configurada a associação para o tráfico e três para o delito do art. 288 do CP. Além disso, a
finalidade do crime do Código Penal é a prática de crimes, genéricos, enquanto a finalidade
da associação para o tráfico é a prática, reiterada ou não, de quaisquer crimes previstos nos
arts. 33 e 34 da Lei de Drogas. A associação, em ambos os delitos, deve ser estável e
permanente.
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Notícias STF
10 de dezembro de 2018
1- Indeferida liminar para governador do Rio preso acusado de substituir Cabral como líder de
organização criminosa
11 de dezembro de 2018
4- Segunda Turma exclui denúncia contra Mario Negromonte por duas imputações de
lavagem de dinheiro
5- Rejeitada denúncia contra senador Fernando Bezerra Coelho sobre fatos ligados à Refinaria
Abreu e Lima
14 de dezembro de 2018
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2018 (semana 2)
6- Íntegra da decisão do ministro Luiz Fux que determinou a prisão de Cesare Battisti para fins
de extradição
Notícias STJ
10 de dezembro de 2018
7- Ação penal contra empresários por desabamento que matou dez deve prosseguir
11 de dezembro de 2018
12 de dezembro de 2018
9- Sexta Turma concede habeas corpus a réu acusado de roubar uma maçã
13 de dezembro de 2018
10- Quinta Turma nega alteração da ordem de testemunhas em ação contra vice-governador
do Pará
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2018 (semana 2)
14 de dezembro de 2018
12- Líder da milícia Liga da Justiça vai continuar em presídio federal de segurança máxima
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