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Silas Guerriero*
Resumo
Em seu livro As formas elementares da vida religiosa (2000), escrito em 1912, Durkheim
expôs sua famosa teoria da religião e previu o crescimento de formas religiosas indi-
vidualizadas. O presente artigo revisita o conceito de religião em Durkheim e verifica
sua atualidade e possibilidade de aplicação nos estudos da Nova Era e das novas espi-
ritualidades em geral. Tratando a religião como um constructo social, o texto enfoca
as mudanças que resultam nos condicionantes sociais atuais e garantem as formas
subjetivas da vida religiosa.
Palavras-chave: sagrado e profano; conceito de religião; Nova Era; novas espiritua-
lidades.
Abstract
In The Elementary Forms of Religious Life (2000), written in 1912, Durkheim exposed his
famous theory of religion and foresaw the growth of individualized religious forms.
This paper revisits the concept of religion in Durkheim and verifies its actuality and
possibility of applying it in the study of New Age and new spiritualities in general.
Treating religion as a social construct, the paper focuses on the changes that result in
current social conditions and ensure the subjective forms of religious life.
Keywords: sacred and profane; concept of religion; New Age; new spiritualities.
Estudos de Religião, v. 26, n. 42 Edição Especial • 11-26 • 2012 • ISSN Impresso: 0103-801X – Eletrônico: 2176-1078
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Resumen
En su libro Las formas elementales de la vida religiosa (1912), Durkheim expuso su famosa
teoría de la religión y predijo el crecimiento de las formas religiosas individualizadas. En
este artículo se revisa el concepto de la religión en Durkheim y verifica su posibilidad
corriente de aplicación en el estudio de la Nueva Era y las nuevas espiritualidades en
general. Considerando que la religión es una construcción social, el trabajo se centra
en los cambios que dan lugar a las actuales condiciones sociales y garantizan las formas
subjetivas de la vida religiosa.
Palabras clave: sagrado y profano; concepto de religión; Nueva Era; nuevas espiri-
tualidades.
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primeira, Deus, ou outro termo qualquer que possa vir a ser utilizado: enfim,
com o sagrado. Essa corrente assume uma visão corriqueira de que a unidade
da religião está radicada nessa existência independente, externa, transcendente.
Dada a universalidade do fato religioso, conclui-se apressadamente que há algo
maior, além do próprio ser humano. Sendo atraente, é muito fácil cair nessa
armadilha. A visão de um sagrado essencial acaba por ser aceita com muita
naturalidade. Esse engano proveniente do senso comum, ou até mesmo de
leituras equivocadas das obras fenomenológicas, pode ser dirimido a partir
da contribuição durkheimiana de que o sagrado não é externo ou exterior ao
humano, mas algo construído por nós mesmos, em sociedade.
Pensar no sagrado como construção humana e fruto de nossas parti-
cularidades, sejam sociais, cognitivas ou mesmo biológicas, pode parecer, à
primeira vista, uma perda do encanto. De certa maneira, vai contra aquilo
que Otto afirmava: só quem teve a experiência do sagrado pode falar sobre
ele (OTTO, 1992, p.24). Mas, nesse sentido, não se trata da vivência interior,
subjetiva, mas de um olhar da ciência que busca explicações nesse mundo e
não lança mão de essências transcendentais.
O conceito de sagrado vem sendo constituído, no interior do pensa-
mento filosófico e científico, desde o começo do século XIX. Na medida
em que o pensamento científico foi adquirindo formas cada vez mais con-
sistentes e sistematizadas, tomou para si, como um desafio, a possibilidade
de explicar o significado da presença religiosa, fato constante em todas as
formas de vida humanas.
Fugindo das visões puramente metafísicas e teológicas, a ciência emer-
gente procurou as razões naturais do fenômeno até então sobrenatural. Na
busca de uma explicação causal para o fenômeno religioso, construiu-se a
noção de sagrado, mais explicitamente a separação entre sagrado e profano,
relacionada à separação entre o mundo religioso e o laico, não religioso.
Essa separação reflete a prática ocidental de separação do mundo do divino
em relação ao mundo cotidiano. À noção de sagrado, na qual se dissolve
a de Deus, e cuja universalidade não é então contestada, ligam-se ideias
expressas por palavras como justo, venerável, respeitável, puro, divino, ou
seja, tudo aquilo que salta diferenciadamente das coisas corriqueiras. O
sagrado é a ideia mãe da religião, a força em torno da qual se organizam
e ordenam os mitos e os ritos. Durkheim tem um papel fundamental na
construção dessa noção, especificamente no que tange à importância das
implicações sociais do sagrado.
Nas próprias palavras de Durkheim, a filosofia só poderia entender o
ser humano na sua globalidade se olhasse, também, para a questão religiosa:
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natureza das coisas sagradas, as virtudes e os poderes que lhes são atribuídos,
sua história, suas relações mútuas e com as coisas profanas. (2000, p. 19-20).
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