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Curso de Psicologia
5º Período
2013/01
1. Introdução
2. Conceito de Psicopatologia
5. Síndromes culturais.
9. Referências
10. Apêndice
De acordo com Foucalt (2002) o estudo da loucura fascina e assusta, porque as tradições
científicas associadas às percepções do senso comum atribuíram à
loucura conceitos diversificados e muitas vezes contextualizados
por crenças míticas e/ou misteriosas. Entretanto, como a Psicologia
é a ciência que estuda o homem a partir dos processos psíquicos e
do comportamento, associados ao modo como age e reage em suas
relações com o meio interno e externo, tendo em vista a saúde
mental, a singularidade e o bem-estar de cada indivíduo, estudar
Psicopatologia é imprescindível para formação profissional do
Psicólogo que deseja atuar na área Clínica. Todavia, como este estudo promove melhor
entendimento dos processos psicodinâmicos tanto na enfermidade como na saúde mental, o
estudo da psicopatologia possibilita articular conhecimentos teóricos de outras disciplinas
com a prática profissional do Psicólogo em quaisquer de suas áreas de atuação profissional. E
por este entendimento, o Curso de Bacharel em Psicologia da FADBA oferece esta disciplina
em dois períodos consecutivos, consistentes com a vocação do Curso, além de vivências
promovidas em visitas supervisionadas a Instituições de saúde Mental com o fim de associar à
teoria a prática.
Psicopatologia I
Ementa:
Psicopatologia, Psicologia e Psiquiatria: história, conceitos, princípios, diferentes abordagens
teórico/prática. Significado e evolução dos conceitos de normalidade e patologia
(saúde/doença). Noções de neurobiologia dos processos psíquicos. Principais fenômenos
psicopatológicos padrões. Síndromes culturais. Classificação dos fenômenos
psicopatológicos. Critérios diagnósticos do DSM-IV e da CID-10. Prontuário Psiquiátrico e
Exames Psíquicos.
Parte Prática: visita a organizações de saúde mental. Supervisão. Elaboração de relatórios.
Objetivos:
Distinguir o fenômeno psicológico e psicossocial normal do patológico, considerando-
se a relatividade deste conceito e a determinação histórica e cultural de sua construção.
Analisar criticamente a história das instituições psiquiátricas (hospitais, clínicas dia,
ambulatórios e serviços gerais de assistência psiquiátrica) para a produção de
conhecimento e intervenção frente aos distúrbios psiquiátricos.
Além da sua natureza teórica, a ementa sinaliza também que são previstas visitas
supervisionadas a unidades de saúde que lidam com o sofrimento mental. Sendo que estas
visitas objetivam possibilitar aos alunos, vivências que permitam relacionar os conteúdos
teóricos ao cotidiano da prática Clínica em uma Instituição de saúde para portadores de algum
sofrimento mental. No entanto, é de bom alvitre lembrar, que as visitas limitar-se-ão às
observações supervisionadas a não aos procedimentos clínicos psicoterapêuticos. Isto é, como
a disciplina contempla a iniciação teórica e não a psicoterapia, o estudante terá a oportunidade
de se ambientar ao trabalho psicoterapêutico sem que isso se constitua em um estágio da
prática clínica. Porém, é a partir desta vivência no ambiente clínico que se pretende dar os
primeiros passos para compreender abordagens empregadas pela psicoterapia.
Com o propósito de conhecer o que será estudado no período por vir, os conteúdos e os
objetivos da disciplina Psicopatologia II encontra-se em textos originais do PPC de Psicologia
no Apêndice nº 1. Sendo que tal conhecimento não pretende antecipar o entendimento ou a
discussão dos conteúdos propostos, sejam parcial ou totalmente.
E para verificar o aproveitamento acadêmico em Psicopatologia I, a avaliação contará com
provas e relatórios escritos, a saber:
Literalmente, a palavra Psicopatologia significa estudo das doenças da alma, estudo das
doenças da mente, ou estudo das doenças psíquicas. No entanto, segundo Paim (1993), os
autores empregaram várias expressões para designar esse novo ramo do conhecimento, tais
como: “psicopatologia geral, psicologia patológica, psicopatologia clínica, psicologia
anormal, psicologia da anormalidade e psicologia do patológico”. Mas a despeito dessas
divergências, a etimologia da palavra “psicopatologia” aponta para três palavras da língua
Grega que não deixam duvida quanto ao seu significado em Português.
a) Psychê – mente, alma, psiquismo.
b) Pathos – doença, paixão, entre outras (vários sentidos).
c) Logos – estudo
Não se sabe ao certo quem usou pela primeira vez o termo, mas de acordo com Paim (1993),
apoiado por Cheniaux (2011), atribui-se ao jurisconsulto e filósofo inglês Jeremy Bentham
(Londres, 1748 – 1832), o reconhecimento da necessidade de uma psychological pathology
(1817). Porém, BAUMGART (2006) discorda dos autores acima e diz que o termo foi
empregado pela primeira vez por Ermming Naus, predecessor de Kraeplin desde 1878, como
sinônimo de “psiquiatria clínica”. No entanto, Paim (1993) rechaça esta ideia ao afirmar que a
Psicopatologia é por si só uma ciência autônoma e não deve ser confundida com a psiquiatria.
Enquanto campo de estudo, para Cheniaux (2011) a Psicopatologia foi criada por Esquirol e
Griesinger, com trabalhos publicados, respectivamente, na França em 1837 e na Alemanha em
1845. Mas BAUMGART (2006), explica que a Psicopatologia adquiriu seu atual significado
com a obra de Karl Jaspers publicada em 1913, Psicopatologia Geral (Allgemeine
Psychopatologie). Para este autor foi a partir desse livro que JASPERS (1913) tentou
construir uma teoria geral que abrangesse as questões relativas à enfermidade mental. E esta
ideia pode ser observada no prefácio do seu livro onde este autor diz:
“O presente livro pretende dar uma visão panorâmica de todo âmbito da Psicopatologia
Geral, de seus fatos e de suas perspectivas (...) meus esforços visam à distinção, separar
nitidamente os caminhos, bem como, a expor a pluridimensionalidade da
Psicopatologia”.
Jaspers, citado por Cheniaux (2011), afirma que “o objetivo da psicopatologia é o fenômeno
psíquico, mas só os patológicos”. Mas para Cheniaux (2011) a Psicopatologia está
relacionada a múltiplas abordagens e referencias teóricas. Ou melhor, há várias
psicopatologias diferentes divididas, basicamente, em dois grupos: as descritivas e as
explicativas.
Normal Moral
Legal
Para BAUMGART (2006) a Psicopatologia tem dificuldades para encontrar uma coesão
teórica devido aos muitos discursos que abarcam. Percebe-se que os conhecimentos a ela
relativos parecem constituir-se apenas como um aglomerado de especialidades. Dentro da
Psicologia, por exemplo, esta associada à Psicologia Geral (noções de subjetividade,
intencionalidade, representação, atos voluntários, entre outros), Psicologia Clínica (dedicada
ao diagnóstico e ao prognostico de sofrimentos mentais, o estudo da personalidade, entre
outros), e a Psicologia ligada às neurociências. Mas, além disto, a Psicopatologia transita na
Psiquiatria, tradições hindus, entre outros saberes.
No entanto, de acordo com JASPERS (1913), a Psicopatologia seria responsável pelo estudo
das manifestações da consciência, sejam essas manifestações consideradas normais ou
anormais. E deve considerar o individuo em suas dimensões físicas, mentais e psicossociais,
atentando sempre para os padrões de normalidade onde o indivíduo a ser questionado está
inserido, não se deixando guiar “cegamente” pelos sintomas. Porque, de acordo com
JASPERS (1913), considerar um sintoma, isolado das dimensões sinalizadas à cima, é fazer
com que o objetivo principal de entendê-lo (compreender o indivíduo) seja esquecido. Ou
seja, seria o mesmo que construir uma proposta prognóstica com ênfase apena na doença, sem
levar em consideração o paciente e a sua realidade psicoafetiva.
Conceitos
3.1 – Psicologia: (Do grego psykhé, “alma ou mente” + logia, “estudo”). Ciência que estuda
os processos psíquicos, sua classificação e análise, associados aos fenômenos
comportamentais tendo em vista o bem-estar e a singularidade de cada indivíduo. Além de
promover as abordagens que permitem as psicoterapias que objetivam equacionar ou
minimizar o sofrimento humano diante de suas queixas.
A Psicologia estuda os transtornos mentais e de igual forma a psykhé em seu estado saudável.
Entre as principais áreas de atuação do Psicólogo, (profissional especializado em Psicologia),
pode-se citar: clínica, organizacional, escolar, social, política, jurídica, artes plásticas,
publicidade, marketing e propaganda, organizacional, hospitalar, comunitária, trânsito,
esporte, orientação vocacional, pesquisa, magistério, entre outras. Portanto, o Psicólogo não
lida apenas com as patologias da mente, mas com as relações do homem com os seus mundos
externo e interno.
As funções e tarefas profissionais do Psicólogo podem ser desempenhadas em instituições
privadas ou governamentais, no âmbito da saúde, educação, reeducação, trabalho, justiça e
comunidades. Desenvolvem-se em hospitais, ambulatórios, centros e postos de saúde,
consultórios (de profissionais liberais), creches, escolas e associações comunitárias, empresas,
sindicatos, fundações, juizados de menores e de família, penitenciárias, associações
profissionais e esportivas, clínicas especializadas, núcleos rurais etc.
Com relação à área clínica, o profissional está habilitado a atuar na área da saúde e efetuar
diagnóstico psicológico; prescrever e realizar psicoterapias em diferentes abordagens; realizar
atendimento familiar para orientação ou acompanhamento psicológico; participar da
elaboração de programas de pesquisa sobre a saúde mental da população; participar da
elaboração de programas de treinamento em saúde mental, em instituições como creches,
associações, instituições de menores, entre outras; colaborar em equipe multiprofissional no
planejamento das políticas de saúde; realizar pesquisas visando à construção e ampliação do
conhecimento teórico e aplicado, no campo da saúde.
Na área organizacional ou do trabalho, o profissional pode atuar no recrutamento e na seleção
de pessoal; elaborar, executar e avaliar, em equipe multiprofissional programas de
treinamento e de formação de pessoal, com vista ao desenvolvimento dos recursos humanos;
participar no processo de avaliação do trabalho visando subsidiar decisões na área de pessoal;
elaborar programas e atividades na área de segurança do trabalho bem como programas
educacionais, culturais, recreativos e de higiene mental, visando assegurar a preservação da
saúde do trabalhador; participar no desenvolvimento de ações destinadas a otimizar relações e
condições de trabalho, no sentido da maior produtividade e da realização pessoal de
3.2 – Psiquiatria: (Do grego psykhé, “alma ou mente” + iatreía, “cura”). É uma especialidade
da Medicina que estuda as doenças mentais a partir das alterações da bioquímica. Além do
diagnóstico promove terapia de doenças mentais através do uso de psicofármacos. Segundo
Cheniaux (2011) a psiquiatria não é considerada uma ciência, mas um ramo da Ciência
Médica. Portanto, o Psiquiatra é um médico especializado em Psiquiatria e a sua atuação
limita-se a área clínica em hospitais especializados, ambulatórios, consultórios e Instituições
Públicas vinculadas a justiça. Filme: Um Estranho no Ninho
Apesar de a Psicopatologia ser a mesma tanto para Psicologia quanto para Psiquiatria, por
princípio, os dois campos de estudo são diferentes.
a. A psicopatologia se limita estudar o psiquismo doente, mas é um saber que está dentro
da Psicologia e a Psicologia está dentro do estudo do psiquismo. Porque, enquanto a
Psiquiatria estuda o psiquismo a partir da doença sem considerar o doente, a
Psicologia estuda tanto o psiquismo doente, quanto o psiquismo saudável. Como
exemplo, a Psicologia estuda os processos da aprendizagem, da linguagem, entre
outros fenômenos tidos como normais do psiquismo.
b. Concepção de que o psiquismo é capaz de adoecer. Para o entendimento da Psicologia,
as atividades nervosas ou atividade do cérebro, são diferentes das atividades psíquicas.
A partir do Séc, XVIII a doença mental passou a ser reconhecida como doença da
mente e não como doença somática, doença do corpo.
c. A doença psíquica como entidade autônoma. Isto é: não pode ser dominada porque
independe da vontade.
Abordagens teóricas/praticas
Até o Séc. XVIII, às teorias sobre a loucura não contribuíram muito em favor da criação da
psicopatologia. Mas a partir do Séc. XIX estudiosos alemães e franceses afirmaram que o
substrato da doença mental era anatômico, dando origem as morfologias (formas). Ou seja, a
doença mental era tangível, anatômica e tinha forma definida. No entanto, outros estudiosos
defenderam a teoria de que o substrato da doença era fisiológico e o mais famoso deles foi
Charcot. E com essas idéias todos queriam construir uma psicopatologia que pudesse
contemplar o interesse dos anatomistas, que defendiam a crença de que a doença mental
ocorria a partir de uma lesão em um órgão do corpo; ou os fisiologistas que defendiam que a
doença mental ocorria a partir de uma disfunção do organismo e não a partir de uma lesão em
um determinado órgão. Desse modo, para os anatomistas a doença era localizada, enquanto
para escola fisiológica a doença era difusa.
A doença psíquica para Psiquiatria tem substrato material, tem origem orgânica, origem na
anatomia do corpo. Ou seja, as alterações na vida do indivíduo são causadas por lesões no
sistema nervoso, na estrutura e são consideradas como agentes internos. No entanto, os
médicos abrem os corpos e atestam que através da necropsia são descobertas as doenças
funcionais, mas não conseguem encontrar as lesões que dariam origem a loucura. Por isso
muitos concluíram que a lesão é no funcionamento, na fisiologia que foi alterada e não na
anatomia. Sendo que as alterações no corpo são causadas por fatores psíquicos e não por uma
lesão anatômica. Criou-se então uma idéia de um corpo imaginário, uma lesão simbólica. (o
corpo não é apenas um corpo com fins objetivos, ele é um corpo simbolizado). O corpo vivo
do homem é atravessado pela linguagem, pelo simbolismo. A linguagem é um sistema de
símbolos criado pelo homem, a partir de sua relação com objetos observados. O homem tem a
capacidade de simbolizar, porque é capaz de criar.
Com a revolução francesa surgiram estudos sobre o pensamento, sobre a abstração e criaram o
caminho para a psicopatologia. E como não havia relação entre patologia e psiquismo, a
loucura era interpretada como desvio moral. Todavia, o conceito de doença, a ideia de clínica
Profº Graciliano Martins Página 10
e a psicopatologia se originaram na medicina. No entanto, a Psicologia Clínica não segue o
modelo médico e entende que a psicopatologia não é uma reprodução ou repetição da
Medicina, mas uma derivação dela. Ou seja, a partir da ideia que a medicina produziu sobre a
doença mental, a Psicologia construiu um novo conceito de doença mental com características
próprias.
Depois disso, tanto a clínica quanto a psicoterapia em Psicologia tornaram-se diferentes em
tudo das propostas psiquiátricas. Entende-se o psiquismo como um topos, (para Platão topos é
um lugar indeterminado). E Freud associou o termo topos (de Platão) a Psychê, quando fez o
uso da palavra tópica (em nenhum lugar) em psicanálise. Ou seja, para este entendimento
sobre a mente, o psiquismo esta em todo lugar e em lugar nenhum do organismo. Admite-se,
portanto, que na doença psíquica há um substrato, mas não é concreto, não é tangível ou
anatômico.
A partir do Século XX o conceito de doença
mental foi alterado paulatinamente dando
origem a outros modelos para explicar a
enfermidade psíquica. Surgiu também a
psicanálise se opondo aos anatomistas e aos
fisiologistas com uma nova leitura de patologia.
A explicação passou a ser a partir do trauma e do
recalque e não somente a partir da lesão ou do
funcionamento dos órgãos. A psicanálise não usou a explicação biológica da medicina e não
partiu de nenhuma base material ao defender a existência do inconsciente. O inconsciente está
ancorado no corpo mais não surge no corpo, não está na anatomia e não está na fisiologia do
corpo. Dessa forma Freud explicou a Neurose, a Psicose e a Perversão, a partir do campo
psicológico. Adotou uma posição de produzir uma teoria própria, mas em termos estritamente
psicológicos e não mais a partir da Biologia. Para este teórico, o perverso não é maligno e o
psicótico não é inválido.
A exclusividade da Psiquiatria se prende as doenças de natureza orgânica, como por exemplo,
à epilepsia. E o Psiquiatra limita-se ao controle do uso de drogas ou psicofármacos,
eletrochoque ou eletroconvulsivoterapia ou Benielectroconvulsivoterapia (ECT), introduzida
em 1938 por Cerletti, entre outras praticas similares. (Sendo que as intervenções cirúrgicas
são da competência do neurocirurgião). Apêndice 2
No entanto, espera-se do Psiquiatra, Psicólogo, Enfermeiro, Odontólogo, Fisioterapeuta,
Nutricionista, entre outros profissionais que atuam na área da saúde, ações interdisciplinares
que possibilitem melhores resultados. Mas para isso é importante que os profissionais, cada
um em sua área do saber e de atuação, ancorados na ética e no bom senso, promovam o
respeito nas relações profissionais sem que um profissional se posicione como superior ao
outro. E desse modo, que a troca de informações e experiências a partir da pluralidade dos
saberes, façam as devidas intervenções calcadas na interconsulta, tendo como únicos objetivos
a busca do conhecimento científico, a saúde e o bem-estar do homem.
História da Loucura
De acordo com Cheniaux (2011), a palavra doença vem do Latim dolentia, e significa dor,
sofrimento. São condições relacionadas a desconforto, incapacidade, dor ou morte.
Cerca de quatro séculos antes de Cristo, Bastos (2000) lembra que Hipócrates (460–370 a.C.)
tentou relacionar os transtornos mentais (epilepsia, paranóia, psicose pós-
parto, fobias, depressão, histeria e personalidade) com alterações orgânicas
(desequilíbrio dos humores que ele acreditava ter origem na fleuma ou
linfa, bile amarela ou colérico, bile negra ou melancólico e sangue ou
sanguíneo). E depois de Hipócrates, vários pesquisadores tentaram explicar
também a doença mental, mas sem sucesso. E de acordo com a (CID–10),
antes do Séc. XVIII nenhuma teoria sobre a loucura contribuiu para
produzir algum tipo de conhecimento aceitável cientificamente. E o modo
como eram tratados os portadores de transtorno mental variou com o tempo, mas na maioria
das vezes, só proporcionou mais sofrimento para os indivíduos. Somente a partir do Séc. XIX
com a revolução francesa, que os estudos sobre o pensamento e sobre a abstração, criaram o
caminho para o surgimento da psicopatologia. E antes do Séc. XIX loucura não era
interpretada como doença, mas como uma condição física ou como uma realidade moral. Ou
seja, não havia relação entre patologia e psiquismo e a loucura era interpretada como
alterações na aparência do corpo ou como desvio moral.
Na Idade Média, por exemplo, um grupo de excluído da sociedade ficou conhecido como “o
grupo do mal”. Foram segregados apenas por conta de sua aparência física e de uma crença de
que o mal teria se apossado dele. Eram considerados desse grupo todos os leprosos,
tuberculosos e portadores da cólera. E como a lepra foi por muito tempo associada ao pecado,
à desobediência no contexto religioso, reforçados por essa crença, os primeiros leprosários
tinham por objetivo purificar o leproso dos seus erros ou pecados cometidos.
A segregação conseguiu banir este grupo do meio social, mas a ideia permaneceu e depois
chegou a vez também dos bêbados, vagabundos, alienados, prostitutas, ladrões, entre outros
que foram igualmente considerados como parte do então chamado “grupo do mal”.
Tornou-se prática no Renascimento (Séc. XII), confinar essas pessoas
em navios sem navegador. Foucalt (2002) diz que essas embarcações
eram chamadas de “Stultifera Nave” ou nau dos insensatos, nau dos
destrambelhados. Mas ao contrário do leprosário, esse navio não
segregava, mas exilava as “pessoas destrambelhadas”.
Algemavam todos que eram considerados “insensatos” e levavam
forçados ao navio para que fossem entregues às correntezas infinitas,
lançados às incertezas da sorte, considerados prisioneiros de
O louco é aquele que conhece o lado obscuro do mundo. E essa ideia pode ser considerada
por dois prismas diferentes: a) Plano das imagens; e b) Plano do discurso.
1. No primeiro plano, o das imagens, o louco foi representado pelas artes plásticas. E por
este plano entendiam que ser louco era experimentar algo proibido ao homem comum!
A frase popular que perdura até hoje, “ser louco por algo”, vem daí. Ou seja, as
pessoas são fascinadas pela desrazão! E por este plano, era possível concluir que a
loucura era: a) Um saber inacessível ao homem comum; b) Loucura é uma experiência
trágica.
2. No segundo plano, o do discurso, a loucura foi interpretada como imoralidade. E
temos a favor desse entendimento, a consciência crítica que pode ser exemplificada a
partir de Erasmo (Filosofia), Michel de Montaigne (Literatura) e Sebastian Brant
(Poesia), que viam a loucura como um distanciamento cujo extremo era a imoralidade.
Ou seja, no âmbito do discurso, não viam os loucos como sábios ou com experiências
trágicas, mas imorais. Para estes pensadores, a loucura se caracterizava por qualquer
irregularidade de conduta.
Desse modo assim demonstrado, o segundo plano, o do discurso, a loucura foi interpretada
como imoralidade. E muitos críticos como Erasmo (Filosofia), Michel de Montaigne
(Literatura) e Sebastian Brant (Poesia), viam os bêbados, avarentos, delatores, devassos,
adúlteros, entre outros como loucos. Acreditavam ainda que os loucos interpretavam mal as
Escrituras (Bíblia) e se entregavam facilmente à desordem. Em resumo, a loucura era o
desregramento e a irregularidade como um defeito do espírito.
É daí que vem a crença de que a doença mental é a consequência de uma vida religiosa
desequilibrada. E até hoje e doença mental é confundida por muitos como um “encosto
maligno”, como uma “possessão demoníaca”, “falta de fé” e etc. A interpretação da loucura
associada a religião, é ainda defendida por outros através de frases como: “Quem tem Jesus
não precisa de Psicólogo”, “A fé cura a depressão”, “Quem tem Jesus não tem depressão”, “O
Psicólogo tem que ser cristão”, entre outras. Obviamente, o Salvador tem o poder de
ressuscitar até quem possa estar a quatro dias na sepultura. João 11:25, 26, 39-44. Porém, a
Bíblia não defende a crença de que todo aquele que tem Jesus nunca adoece!
No Séc. XVII a loucura era considerada como causada por vapores ou espíritos existentes no
interior do crânio. Daí vem à dedução de que os loucos têm o espírito perturbado e
acreditavam que havia dois tipos:
Quentes – secam e ardem os órgãos. (cabeça quente)
Frios – umedecem e afrouxam os órgãos. É dessa idéia dos vapores que existe ainda a
frase: “Fulano tem o miolo mole”. Mas de onde vinham os vapores? Acreditavam que
vinha de todo corpo.
No Séc. XVIII, a loucura era apenas um jardim das espécies. E somente no Séc. XIX, que a
doença mental tornou-se diferente da loucura. Porém, a Medicina Clássica encontrou três
obstáculos que fê-la fracassar:
1. A loucura era associada à moral.
Assim, eles abandonaram o nível moral passaram para os sintomas. Tudo que é
excessivo como fome, sede, sexo, e etc. era considerado como uma desordem, um
vício dos órgãos. A imoralidade passou a ser vista no plano corpóreo e os excessos
passaram a ser a causa da loucura.
2. A loucura passou a ser vista no Séc, XVIII como doença dos nervos. E acreditavam
que existiam dois tipos de nervos:
Nervos dos Sentimentos - causavam as doenças do orgulho, cólera, volúpia e etc.
Nervos dos movimentos – causavam espasmos, paralisia, excitação e etc.
No Séc. XIX, a medicina colocou a loucura num sistema de classificação com base na história
natural. Como os botânicos classificam as espécies, os médicos quiseram classificar a loucura.
Isso foi ruim porque se ocuparam em classificar os sintomas sem se preocupar com as causas.
(Por esse método, a AIDS seria classificada hoje como tuberculose porque os sintomas são
semelhantes. E qualquer doença de pele podia ser classificada com a lepra).
Segundo Boissier de Saiwages, no Séc. XIX a definição de doença era “enumeração de
sintomas para o conhecimento.” E a psiquiatria ainda hoje classifica as doenças sem verificar
as suas causas, vê a doença e não vê o doente. Mas as doenças vão e voltam, isto é, elas
surgem entre as pessoas e desaparecem. As doenças mentais são as mesmas desde que o
mundo é mundo e nada aumentou, nada diminuiu.
No entanto, a elaboração da primeira nosologia clínico-etiológica das psicoses teve o
predomínio na Escola Alemã de Psiquiatria. Conceito de psicose: Viena, 1844.
O Hospital Geral
O primeiro hospital geral foi criado por Luiz XIV, obviamente na França, em 1656. E o
propósito do hospital geral era dar conta dos indivíduos que se apresentavam socialmente de
forma diferente. Em Paris recolheram os mendigos, os bêbados, prostitutas e etc.
A medicina clássica não conseguiu explicar a loucura e por isso fracassou. E enquanto a
medicina classificatória se preocupou com a loucura, o hospital geral se preocupou com o
louco.
O louco era considerado, um doente mental e usado como cobaia designados como indivíduos
com perturbação no sistema cognitivo e emocional. Cognitivo porque o louco não tem noção
da realidade, e emocional pela grande dificuldade de estabelecer relações afetivas. A verdade
a ser produzida era a de reconhecer e tratar a doença como segue: Se tudo faz parte da
escolha, o louco é louco porque quer e por isso se justificava o castigo, isto é, a internação.
a. Em 1700, um padre agiota se enriqueceu e não se arrependeu o suficiente para doar as
suas riquezas. A sua sentença foi à internação por ter sido avarento.
b. Uma jovem senhora de 16 anos disse que não faria sexo com o marido porque não ia dar
o corpo sem dar a alma. Também foi internada como criminosa, e depois foi queimada.
O hospital geral deu origem às demais instituições de saúde e começou quando o poder da
igreja e da monarquia caiu por ocasião da Revolução Francesa. O mendigo levantava uma
importante questão em torno dos valores daqueles que pertenciam à burguesia. E tendo como
base a concepção religiosa que promovia a culpa, a burguesia entendeu que era preciso fazer
algum trabalho assistencial com os pobres.
E o sucesso do hospital geral foi tão grande que as cidades da Europa também criaram um
hospital geral com o mesmo objetivo. Mas é interessante observar que esse procedimento
ainda é praticado hoje. Como exemplo, não se faz nada para equilibrar a distribuição de renda
Profº Graciliano Martins Página 17
no Brasil, mas se constrói casa para menores, para idosos, para infância e até para os
moradores de rua (mendigos). A ideia é eliminar do ambiente social as diferenças que
incomodam a visão, o olfato, os valores dos que se dizem humanos, mas não fazem nada para
diminuir ou eliminar de forma permanente sofrimento alheio. No Rio de Janeiro foi
construída a Fundação Leão XIII para acomodar os que incomodam os turistas ou prejudicam
a imagem da Cidade e até do País. E com a explicação de que vai ajudar o mendigo, o estado
pune com a exclusão recolhendo o mendigo em uma instituição que não promove a
reintegração social. Dá a cama e o alimento, mas não dá a dignidade humana!
Dessa forma o hospital geral foi substituído por outras instituições caracterizadas por ações
sociais do Estado. Porém, não têm a saúde dos usuários como foco, como prioridade, porque
estão relacionadas a segurança pública, a liberdade e o conforto das classes sociais
dominantes. Portanto, o hospital geral e as instituições de apoio social têm caráter moral,
econômico e político.
O curioso é que esses aspectos contrariam a exclusão dos pobres, mas apóiam a reclusão
retirando das ruas os diferentes, sem que nada seja feito para que se tornem iguais. Ou seja, as
instituições não promovem dignidade humana, porque não oferecem acesso a educação e ao
mercado de trabalho. E desse modo os usuários continuam miseráveis porque estão em todos
os lugares, mas não têm um lugar para viver, não têm renda para não depender, não têm o
poder para escolher... E seguem sem mudar! Apêndice 6
Na Idade Média a pobreza era associada a santidade. Porque, para o entendimento da época,
ser cristão era ser capaz de se despojar de bens materiais. Como exemplo, São Francisco de
Assis doou todos os seus bens porque acreditava que a caridade o conduziria ao Céu. Mas
com a Reforma, Lutero defendeu que é a fé em Jesus como Salvador e não as esmolas que
conduz o indivíduo à salvação. Daí, muitos passaram acreditar que Deus escolhia quem devia
ser pobre e que devia ser rico objetivando a salvação dos escolhidos. E para quem acreditava
assim, entendia que fazer caridade aos pobres era pecado porque a pobreza era uma decisão
de Deus. Depois a igreja classificou os pobres em dois grupos: a) Os bons pobres são os que
aceitam a pobreza internamente; b) e os maus pobres são os que não aceitam a pobreza
internamente. E dessa forma concluiu que os bons pobres podiam ficar soltos, mas os maus
pobres deviam ser eliminados.
Depois a pobreza passou a ser interpretada no contexto moral. Quando alguém diz hoje para
um pobre: “É assim por que quer”, reforça essa ideia de que a pobreza não é uma questão
social ou uma questão de todos, mas uma questão pessoal do pobre, que é pobre por que quer.
Ainda hoje, para muitos, o desempregado pobre é alguém que não gosta de trabalhar e o
faminto é um acomodado.
A partir do Séc. XVII essa ideia de pobreza foi acentuada e aceita como um obstáculo para a
ordem social. Portanto, todos que tinham costumes imorais eram colocados no mesmo grupo:
libertinos, devassos, ladrões, desempregados, prostitutas e etc.
Acreditavam que os pobres não tinham emprego porque eram preguiçosos. Por isso era
necessário que o estado criasse uma instituição que os obrigasse a trabalhar, ocupar os
desocupados. E a partir disso o trabalho tornou-se objeto de santificação do trabalhador e a
Apêndice 7
Considerando que o estado é responsável pelos problemas morais, o poder público sempre foi
usado em favor da internação. E sempre que as diferenças promoverem incômodos sociais,
todos os argumentos foram usados para justificar suas ações. Apêndice 8
Em algumas situações o excluído passou a ser visto como um resto não reciclável, de natureza
devassa, incorrigível. Desse modo, nasceu também a pena de morte como proposta dos grupos
sociais para eliminar o que não pode ser reciclado. No entanto, os imorais só eram presos se
fossem pobres e as más condutas só eram associadas à loucura com base no status social ou
no poder econômico. Com isso entendiam que o louco pobre é bandido e o louco rico é
excêntrico. Ou seja, os imorais só eram identificados e presos se fossem pobres.
a. Sexualmente imorais: A sexualidade era considerada imoral entre portadores de DST,
sodomitas, degenerados, entre outros. No entanto, as prostitutas e amantes dos ricos
não eram recolhidas no hospital geral e eram chamadas de cortesãs.
b. Os que atentavam contra o sagrado: blasfemadores, suicidas que não consumavam o
ato, mágicos, feiticeiros e etc.
c. Os libertinos: Para o pensamente da época os imorais não resistiam a tentação,
enquanto os libertinos faziam a opção pela imoralidade como estilo de vida.
Neste caso o libertino assumia uma conduta sociopata. Não transgride porque se
descontrolou, pelo contrário, ele transgride porque conseguiu controlar tudo. É um
tirano porque consegue subordinar a razão e a paixão para alcançar os objetivos
desejados. Há diferença entre o autoritário e o tirano: a) O autoritário é o que se impõe
por um ideal da função; b) Enquanto o tirano se impõe porque se identifica
patologicamente com a função e não com o ideal.
A ideia era que os loucos não precisavam de proteção, conforto e etc. Porque, pela
irracionalidade deles, bastava tratá-los da mesma forma como são tratados os animais. E por
isso foram acorrentados, espancados e enjaulados em uma tentativa de que fossem de alguma
forma domados ou humanizados!
Porém, os presos políticos internados e de influência econômica, reclamaram da convivência
deles com os loucos. A partir disso os ricos eram soltos para que fossem tratados em suas
próprias casas, deixando a internação como exclusividade dos pobres, dos alienados. É daí
que vem o termo, alienação. Marx dizia que pelo trabalho, o homem ficava alienado do que
era dele.
De acordo com Foucalt (2002) antes
do Séc. XV não havia hospital
psiquiátrico e a loucura era
considerada apenas como uma
conduta estranha e não como uma
patologia. Percebia-se uma diferença
entre os indivíduos interpretada como
sabedoria, santidade, conduta cômica
ou divertimento, além de mistério
absoluto. E como a loucura foi
separada da desrazão para ser alienação, no plano da prática da internação a loucura foi
identificada como doença. E depois disso a loucura deixou de ser vista a partir do coletivo, e o
louco foi individualizado. Criou-se então o manicômio que deu origem à psiquiatria a partir
de uma prática e não de uma teoria. Ou seja, a psiquiatria surgiu no ambiente inóspito do
hospital geral, enquanto a psicologia nasceu a partir da filosofia. (Cheniaux 2011).
Depois do surgimento do manicômio, (mani = loucos [maníacos]; cômios = casas), o hospital
geral ficou para todos os pacientes portadores de sintomas de todas as doenças, enquanto o
asilo ficou para os loucos. Sendo que os diagnósticos e as internações eram considerados a
partir das questões morais e não pelas razões clínicas. No entanto, muito tempo depois, a
psiquiatra se inseriu na medicina como saber científico. A nova psiquiatria surgiu com Pinel
dizendo que o louco não devia ficar preso.
Com os loucos internados, essas imagens predominaram até o Séc. XIX
quando nasceu à psiquiatria com o teólogo e médico francês, Philippe
Pinel (1745 - 1826). Ao se tornou chefe do departamento médico do asilo
para homens, do manicômio de Bicêtre, París, Pinel fez varias reformas no
asilo e na proposta do tratamento da loucura. Primeiro inovou quando
retirou as correntes dos pacientes internados e libertou os alienados das
selas em que permaneceram por muitos anos excluídos. Com isso
promoveu uma forte reação entre os colegas médicos que não sabiam
ANTES DEPOIS
Idade Clássica Idade Moderna
Séc. XVII e XVIII Séc. XVIII e XIX
LOUCO Besta Alienado, afastado de si mesmo.
Animalidade Progresso, perda da animalidade.
LOUCURA Produto da relação do homem com o mundo,
Erro
alienado de si mesmo.
Esse período foi marcado pelo surgimento da burguesia e pelo nascimento do Racionalismo.
A loucura foi totalmente dominada pela razão e excluída pela razão. Mas a questão era saber o
que fazer com o que foi dominado.
Porque, com a exclusão, pressupõe-se que foi produzido um resto que ainda incomoda
socialmente. Então, o que fazer com o resto? Elimina-se, recicla-se ou acondiciona-se.
A Loucura
No jardim classificatório e no hospital geral quem excluía era a razão. Para Foucault quem
produz socialmente e epistemologicamente a loucura é a razão. Ou seja, a loucura seria um
produto ruim da razão porque foi a razão quem estabeleceu um padrão para a loucura.
Mas no plano do conhecimento também existia um padrão para a loucura: delírios, paixões
exacerbadas, apetites incomuns, entre outros. O hospital geral e a medicina classificatória
seguem duas linhas retas paralelas. Uma classifica e a outra se limita as imagens. Somente no
Séc. XVIII que a razão e a loucura se desassociaram e depois desse tempo, a loucura passou a
se chamar alienação.
A interpretação da loucura tornou-se aceita a partir da relação entre os termos como seguem:
Loucura = irracionalidade = depravação
Pasteur acusou os médicos de disseminar as doenças infectocontagiosas pela falta da assepsia,
Foucault acusou o hospital geral de disseminar a loucura por acredita nos anatomistas e
fisiologistas. E como os médicos tinham o saber, esse saber de acordo com Focault, deu para
ele o poder de decidir pelo presente e pelo futuro dos pacientes. Isto é, eles tinham o poder de
Compreendendo a Normalidade
De acordo com Cheniaux (2011) há pelo menos três critérios de normalidade, mas todos
considerados insuficientes: o subjetivo, o estatístico e o qualitativo.
Para o critério subjetivo está doente quem sofre ou se sente doente. No entanto, na síndrome
maníaca o paciente se sente muito bem, mas está doente. Pelo critério estatístico o normal
seria sinônimo de comum, ou está próximo da média. Todavia a cárie é comum, mas não é
saudável e o que tem o QI elevado não está na média, e nem por isso é considerado doente.
Finalmente, o qualitativo diz que o normal é o que está adequado a determinado padrão
funcional considerado ótimo ou ideal. Esse critério está ancorado nas normas impostas
socialmente. E por isso, o que é normal para um determinado grupo, pode ser anormal para
outro. E o que é normal para um grupo em uma determinada época pode não ser normal em
outra.
Considerando que o homem não é um produto do meio, a normalidade não pode ter como
única referência o contexto social. Os indivíduos não são totalmente passivos, influenciam e
são influenciados pelo meio social em que vivem. Mas os seus valores, embora seus, não são
tão originais quanto os mesmos imaginam ou dizem ser. Porque no mundo social há uma
troca continuada, e por que há uma troca, de certa forma todos são produto. Todos precisam
uns dos outros, porque sem os outros não seriam o que são. É com o outro que o indivíduo
muda, se transforma, se desenvolve, evolui... Porém, ninguém é igual ao outro. Há uma
individualidade em cada um, formada pela índole de cada um, que em si mesma é uma
constante divergência com os outros, mas que sem os outros, tudo o que é em cada indivíduo,
não existia...
“Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro pôs uma escada e,
sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas,
os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo,
quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancada.
Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a
escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram. Depois de algumas
surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada.
•Poder e
Loucura
Estrutura do Progresso
1) Estado
2) Cultura
3) Civilização
4) Direito
2) Cultura – Tem a ver com um momento histórico. É uma perspectiva de mundo que as
pessoas passam a ter em comum quando interagem. De certa forma, os paradigmas
comuns formam a cultura de um grupo de pessoas. Porém, não é o mesmo que cultura,
mas é o que a justifica. Paradigma é tudo aquilo que é aceito por um grupo sem
questionamento, é o consenso, são as idéias compartilhadas ou padrões que distinguem
as culturas.
Estado
HOMEM
Civilização Direito
Laços
Sociais
Cultura
Surge aí o delírio de autonomia dando origem aos ditados populares como, “salve-se quem
puder”. A malignidade humana se expressa quando a civilização, a cultura, o direito e o
estado falham. Percebe-se a ausência da justiça (a injustiça) quando o estado falta com a lei
paterna aí ocorrem os linchamentos, grupos de extermínios, entre outras condutas. Porque o
estado representa o imaginário social e na ausência disso surgem a psicose e a perversão.
A partir do séc XIX as doenças mentais vêm sendo catalogadas e agrupadas com o objetivo de
facilitar o diagnóstico. No entanto, a codificação nosológica dos transtornos mentais é uma
das formas explícitas de representação dos padrões de normalidade.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolveu uma classificação de transtornos
mentais objetivando a prática e a pesquisa clínica. É um manual que lista no Capítulo V
diferentes categorias de transtornos mentais e aponta critérios para diagnosticá-los.
Foi denominada “International Statistical Classification of Diseases and Related Health
Problems – ICD”, ou (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde), mas em função da 10ª revisão, publicada em 1992 em inglês, este
manual ficou conhecido no Brasil como CID–10.
É imprescindível que o usuário entenda o método de classificação dos transtornos e a
semântica adotada. Como exemplo, na CID-10 não aparece os termos Neurose e Psicose
como conceitos, por se tratar de explicações psicodinâmicas, porém, o termo psicótico foi
mantido apenas como termo descritivo (F23). E o modelo adotado para codificação dos
transtornos foi em alfanumérico com três caracteres, compreendidos por uma única letra,
seguida por um número com dois algarismos. E este modelo permite listar cem categorias a
partir do primeiro, A-00 até o último Z-99. Contudo, com o fim de permitir um número ainda
maior de categorias, detalhes subsequentes são indiciados por meio de subdivisões numéricas
decimais no nível de quatro caracteres. E com o fim de permitir também alterações sem
comprometer o sistema, uma proporção dessas categorias foi deixada propositalmente sem
uso.
Mas além da CID–10 publicada pela OMS, a APA, American Psychiatric Association,
publicou o DSM, “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders” (Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). E desde sua primeira publicação (DSM-I)
em 1952, (derivado da CID-6), o DSM já contou com quatro revisões sendo que a maior
delas, identificada como DSM-IV, ocorreu 1994. Mas atualmente, encontra-se em andamento
outra revisão com publicação prevista para 2013.
O DSM é a referência mais utilizada para pesquisa em saúde mental. Mas produzido a partir
de práticas médicas, o DSM-IV não apresenta uma definição para o transtorno mental tendo
em vista a falta de entendimento sobre o que possa ser a mente (pág. 27-29), e alerta que o
diagnóstico não deve incluir a etiologia dos transtornos.
No entanto, o DSM-IV agrupou os transtornos em 16 classes diagnósticas principais.
Eixo II: transtornos de personalidade ou invasivos, bem como retardo mental, além de
incluir transtornos como transtorno de personalidade antissocial, transtorno de
personalidade esquizóide, transtorno de personalidade narcísica, transtorno de
personalidade borderline ou limítrofe e leve retardo mental;
Também há diferença entre as oito entrevistas que se faz para psicodiagnóstico e a entrevista
que se faz para o contrato. Em caso de dúvida, caso exista sintomas alheios ao saber da
Psicologia, convém solicitar um parecer de outro profissional antes de fechar o diagnóstico.
PSICODIAGNÓSTICO PSICOTERAPIA
O tempo é determinado O tempo é indeterminado
Atrasos só comprometem a explicação de um As faltas também têm significado para
teste. As faltas prejudicam por conta do tempo. efeito da terapia.
O acompanhante de criança deve permanecer O acompanhante pode deixar a criança e
durante o atendimento. voltar depois.
Devolução Várias devoluções durante o tratamento.
PSICOLÓGICA PSIQUIÁTRICA
Contexto de livre consentimento Condição voluntária ou não
Situação específica Situações diversas
Domicílio do paciente, ambulatório ou até em
Ambiente reservado, sigiloso. via pública. (Preferentemente um ambiente
reservado). Cheniaux (2011)
O Psicólogo pergunta se o entrevistado
O Médico se apresenta e explica o objetivo da
sabe porque está ali e, logo após a resposta,
entrevista.
oferece o acolhimento.
Psicopatologia explicativa: pretende Psicopatologia descritiva: pretende descrever e
esclarecer a etiologia dos transtornos categorizar as experiências anormais
mentais e baseiam-se em modelos teóricos informadas pelo paciente e observadas em seu
ou achados experimentais. comportamento.
Prende-se a estrutura psíquica do individuo Serve-se do método fenomenológico:
e a sua trajetória inserida e contextualizada fenômeno psíquico é tudo que está no
ao próprio ambiente social. consciente do paciente, é a consciência de algo.
Além da patologia, trabalha outras Limita-se aos fenômenos da vida mental que
questões de indivíduos saudáveis. são considerados anormais.
Despreza a queixa e se prende a questão. Despreza a questão e se prende a queixa.
O estudo da doença mental não se limita a
O estudo da doença mental parte do
observação de queixas ou sintomas
pressuposto da fenomenologia: Tudo que
associados ao presente, estuda todo
existe é fenômeno, mas o que é relevante para
conteúdo intrapsíquico a partir da história
este grupo descritivo, é a experiência subjetiva
do individuo no contexto de suas relações
do sujeito com as coisas e não as coisas em si.
psicossociais.
Para Cheniaux (2011) alguns cuidados devem
ser observados:
Deixar o paciente falar livremente no início
e só interrompê-lo para a necessidade de
esclarecer temas ou pontos duvidosos.
Cada abordagem tem técnicas, linguagem e Precisa saber como e quando interrompê-lo
procedimentos próprios. cuidando para não controlar os conteúdos ou
o curso da fala do paciente.
As perguntas não devem ser sugestivas, para
possibilitar um diálogo informal.
Não aceite jargões populares como: “estou
com depressão”, pânico, “nervoso” e etc.
O laudo psicológico descreve a dinâmica
da doença e não apenas a doença. É uma
conclusão técnica, evita a rotulagem e não
O laudo psiquiátrico faz uma classificação
substitui a entrevista de devolução.
nosológica e codificação da doença.
A entrevista de devolução dá explicações
ao paciente sobre suas questões, aspectos
pessoais da vida do sujeito e etc.
Prognóstico: inclui o livre concentimento. Prognóstico: Internação voluntária ou não
Psicodiagnóstico
Avaliação Psicológica
Psicoterapia
Identificação do Paciente
01. Nome: Liodoro Bertozo de Arueira Júnior
02. Endereço: Rua Sargento Garcia, 12 Fone: 1234.4321
03. Cidade: Orleans UF: RJ
04. Data de Nascimento: 01 / 02 / 93
05. Ocupação: Desempregado Grau de Instrução: Ensino Médio
Queixa Principal
01. Forte pressão na cabeça, nervosismo, esquecimento e falta de sono.
Histórico da Doença
01 Antes: se apresentava aparentemente calmo, trabalhador, etc.
02 O que o Motivou: encaminhado por um profissional, voluntario para atendimento ou trazido pela família.
03 Ponto de vista do Acompanhante:
04 Cronologia da doença: Onde, como, circunstancia antecedentes, mudanças ocorridas, pontos afetados e etc. (A causa foi atribuída a
em acidente de carro onde sofre um trauma físico ao bater o crânio com o vidro. A queixa do paciente teve origem a oito messes. Esteve
internado em um hospital público mas após os procedimentos médicos, verificou-se que não houve diminuição dos sintomas)
05 Atendimentos Anteriores: Já esteve internado antes ou usou Medicamentos
História Familiar
01. Família de origem: Formação, características, nº de irmãos, posição entre eles, etc.
02. Família escolhida: Estado civil, idade e saúde do cônjuge, filhos, agregados, outros relacionamentos e etc.
História Pessoal
01. Desenvolvimento:
02. Hábitos: Alimentares, repouso, sexual, humor, etc.
03. Situações traumáticas: Mortes, suicídios, violências, incestos, etc.
Exame Psíquico
1. Consciência:
Neurológica – Obnubilação
Do Eu – Identidade: Psicose
Unidade: Dupla personalidade
Atividade: Apresenta um quadro de alucinação
Oposição eu/mundo: Não interage com as pessoas
2. Orientação Alopsíquica
Tempo:
Espaço:
3. Atenção
Vigilância: Inquieto, impaciente
Tenacidade: Inconstante
4. Memória
Fixação: Perda parcial
Evocação:
5. Senso-percepção: Complicações visuais e auditivas
6. Pensamento
Curso: Acelerado
Forma: Descarrilamento
Conteúdo: Concreto
7. Humor/Afeto: Incoerente
8. Cooperação: Egocêntrico
Diagnóstico
01. Paranóia
02. Súmula psicopatológica: Forte pressão na cabeça, nervosismo, esquecimento e falta de sono. Certeza de que está sendo seguido
por pessoas estranhas que tentam tirar-lhe a vida.
Prognóstico
01. Procedimento terapêutico, encaminhamento
Mas para além do que já foi dito, é de bom alvitre ainda lembra que:
Fazer breves comentários sobre cada filme e sobre cada visita a Instituição de Saúde Mental,
contemplando o modelo, a saber:
RELATÓRIO Nº ____
Aluno: ________________________________________________________
Disciplina: Psicopatologia I Turma: _________________ Data: ________
APÊNDICE – 01 PSICOPATOLOGIA I
Ementa:
A drogadição e toxicomanias. Indicações de tratamento. Semiologia e anamnese
psicopatológica-exame mental. Processo diagnóstico. As grandes categorias: Neuroses,
Psicoses e Perversões. Classificação e Laudo dos fenômenos psicopatológicos. Psicopatologia
clínica. A Entrevista as relações multidisciplinares e interdisciplinares. Conduta terapêutica e
critérios de cura de fenômenos particulares da psicopatologia: distúrbios da atenção,
concentração, consciência, percepção, memória, afetividade, psicomotricidade, inteligência,
linguagem, pensamento, impulsos e vontade. Sinais e sintomas das síndromes culturais.
Aspectos éticos e trabalho em equipe multiprofissional. Estudos de casos considerando as
realidades em foco na formação.
Parte Prática: visita a instituições de saúde mental. Supervisão. Elaboração de relatórios.
Objetivos:
A TERAPIA
Eletrochoque em depressivos põe médicos e psicólogos em guerra.
Polêmico tratamento usado para certos transtornos mentais volta aos hospitais após duas
décadas esquecido
Ricardo Westin
A paciente está no hospital, desacordada por causa da anestesia. É uma senhora de cabelos
brancos e 71 anos. O médico se aproxima da cabeça dela e encosta dois eletrodos. O choque é
disparado. Ela tem uma convulsão: o corpo se contorce de forma violenta e, embora
inconsciente e anestesiada, o rosto ganha uma expressão de dor. A descarga pára após três
segundos, mas ela continua tremendo por mais um minuto. Só então ela volta a ficar inerte.
Assim é feito o eletrochoque, um dos tratamentos mais controversos da medicina e, mesmo
assim, rotineiro para certos transtornos psiquiátricos. A técnica foi criada na Europa nos anos
30 e logo se expandiu pelo mundo. No Brasil, caiu no ostracismo na década de 80. E voltou à
carga total no final dos anos 90, com o suposto avanço da tecnologia. No Hospital das
Clínicas de São Paulo (HC), são cerca de cem aplicações por semana.
A volta da técnica, porém, não agradou aos militantes da luta antimanicomial. Há dois anos,
grupos de pacientes criaram a campanha "Eletrochoque? Não, obrigado. Imagine na sua
cabeça".
Médicos e psicólogos ficaram em lados opostos. Segundo os psiquiatras, a
eletroconvulsoterapia (ECT) é a única solução para certas doenças - no caso da paciente
acima, uma depressão profunda e resistente às drogas. Para os psicólogos, é uma tortura
prescrita por médicos ávidos por melhoras imediatas.
Os psicólogos ganharam outro argumento no mês passado, depois que a Vigilância Sanitária
interditou o setor de ECT do Hospital André Luiz, de Belo Horizonte. Os pacientes
esperavam sua vez na sala dos choques. E a anestesia era coletiva - todos eram sedados de
uma vez.
Dos anos 30 para cá, a mudança foi radical. O procedimento deixou de ser usado em internos
de manicômios, muitas vezes como castigo, e passou a ser prescrito pelos médicos a pessoas
que sofrem de transtornos como a depressão. Ninguém leva mais o choque à força. É a opção
extrema, após todos os outros tratamentos terem sido tentados.
Quando o eletrochoque surgiu, quase não havia alternativas. São desse período tratamentos
hoje renegados, como a lobotomia (ressecção de tecido neurológico, separação cirúrgica dos
lóbulos frontais do cérebro). Os antidepressivos surgiram só nos anos 50.
A descarga no cérebro estimula a liberação de neurotransmissores (substâncias que levam as
informações de um neurônio a outro). "É como quem dá uma sacudidela na TV, para que ela
Resumo
Numa tradição iconográfica na qual identificamos diversas representações da figura da barca,
como a egípcia e medieval, este estudo contempla, na produção cultural de duas épocas
distintas, as relações possíveis entre as imagens criadas a partir do poema satírico de
Sebastian Brant, de 1494, e a nau na obra de Bispo do Rosário a fim de identificar e ampliar
as possibilidades de compreensão simbólica deste elemento iconográfico.
Palavras-Chave: Nau dos Loucos, Bispo do Rosário, Arte e Loucura
Abstract
Throughout iconographical tradition, various representations of the boat of fools have been
identified, from Egyptian to Medieval times. This study looks at possible relations between
images representing cultural productions of various distinct times. The representations
selected are those based on Sebastian Brant's satyrical poem of 1494, and also Bispo do
Rosário's nautical construction. Our aim was to identify and broaden the possibilities of
symbolic comprehension of this iconographic element. Key Words: Ship of Fools, Bispo do
Rosário, Art and Madness
Resumen
En una tradición iconográfica en la cual identificamos diversas representaciones de la figura
de la barca, como la egipcia y medieval, este estudio contempla, en la producción cultural de
dos épocas distintas, las relaciones posibles entre las imágenes creadas a partir Del poema
satírico de Sebastian Brant, de 1494, y la nave en la obra de Bispo do Rosário a fin de
identificar y ampliar las posibilidades de comprensión simbólica de este elemento
iconográfico
Palabras-Claves: Nave de los Locos, Bispo do Rosário, Arte y Locura
Introdução
Este trabalho tem por intenção discorrer sobre uma aproximação possível entre a Nau, do
poema de Sebastian Brant A Nave dos Loucos no século XV, e os barcos presentes na obra de
Bispo do Rosário no século XX. O primeiro deles referindo-se a um texto satírico e o segundo
adensado de uma poética muito particular deste artista brasileiro que foi interno de um
Hospital Psiquiátrico.
Este trabalho é também a tentativa de adentrar nas simbologias que perspassam a imagem do
barco, da nau ou da barca, a fim de recolher, neste percurso, elementos que nos permitam
compreender sua reincidência em tantos espaços e representações referentes ao louco e à
loucura.
1
Doutoranda em Artes/ Unicamp com financiamento da FAPESP, Mestre em Artes/Unicamp, Especialista em
Arteterapia/Unicamp, Especialista em Artes e Novas Tecnologias/UnB. Filiada à AATESP sob inscrição 058/1105, membro
do grupo de estudo Desenvolvimento, Linguagem e Práticas Educativas/UNICAMP. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4364335240213211 e-mail: tati.fecchio@gmail.com
2
Ver de Foucault as publicações: História da Loucura e Madness and Civilization.
3
FOUCAULT,1972:29
4
FOUCAULT,1972:16
5
FOUCAULT,1972:14
6
Brant nasceu em Estrasburgo e estudou na Basiléia onde fez seu doutorado em Direito Canônico e civil em 1489. Foi
professor de Direito e Poesia. Em 1485 casou-se com Elisabeth Bürguis com a qual teve sete filhos.
7
O poema relata uma viagem ao país da loucura (Locagonia) realizada por 111 personagens de diferentes classes sociais,
cada qual representando um vício humano.
8
Diz-se que era costume grego colocar uma moeda, chamada óbolo, sob a língua do cadáver, para pagar Caronte pela
viagem.
9
FOUCAULT,1972:10
15
FOUCAULT,1972:63
16
HIDALGO,1996:27
17
HIDALGO,1996:26
18
HIDALGO,1996:18
19
GÂNDAVO, 1980
20
HIDALGO,1996:22
Profº Graciliano Martins Página 50
Frente à obra de Guimarães Rosa, Bispo é também o que habita a terceira
margem/manicômio/barca; nela pode construir sua diferença e singularidade aparentemente
excluído, mas igualmente contrapondo-se de forma pertinente sua obra e a repercussão desta
no Mundo é testemunho disto ao culto da racionalidade e a padrões preestabelecidos de ser.
Finalmente frente à Nau dos Loucos, de Brant, é ele próprio, Bispo, tido como um típico
integrante, diagnosticado e de fato apresentando um pensamento com encadeamentos
singulares. Neste espaço moralizador confundem-se as intenções e purezas, o correto e o
errado, sempre a ser proferido culturalmente, e sempre simplificadores do complexo e rico
funcionamento de todos nós humanos; sinaleiros, marinheiros, desviantes, sempre na
suspensão entre vida e morte, habitantes de diversas margens, internos, navegantes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIVROS
COELHO, Teixeira; A Arte não revela a Verdade da Loucura, a loucura não detém a verdade
da arte, in ANTUNES, Eleonora Haad (org.). Psiquiatria loucura e arte: fragmentos da
história brasileira. Edusp: São Paulo, 2002.
DIERS, Michael; Thomas Girls; Dorotea von Moltke, Warburg and Warburgian Traditions of
Cultural History in New German Critique, no.65. Cultural History/ Cultural Studies,
Spring/Summer, 1995.
DIONÍSIO, Gustavo Henrique. Museu Imagens do inconsciente: considerações sobre sua
história. Revista Psicologia Ciência e Profissão nº03, 2001.
NETO, André de Faria Pereira. Foucault, Derrida e a História da Loucura: notas sobre uma
polêmica in Opinião, Caderno de Saúde Pública do Rio de Janeiro, julh./set.1998. nº23,
2005/2006.
TESES E DISSERTAÇÕES
ARTIGOS NA WEB
CATÁLOGOS
Também conhecida como Lei Paulo Delgado e como Lei da Reforma Psiquiátrica instituiu
um novo modelo de tratamento aos transtornos mentais no Brasil.
Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata
esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor,
sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família,
recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno,
ou qualquer outra.
Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares
ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no
parágrafo único deste artigo.
Parágrafo único - São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas
necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua
saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na
comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou
não de sua hospitalização involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu
tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.
Art. 3º É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a
assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com
a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em
estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que
ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.
Art. 4º A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos
extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.
§ 1º O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente
em seu meio.
Finalmente, no dia 06 de abril de 2001, após 12 anos de muitas lutas e esperança, foi
aprovado o Projeto de Lei 3.657/89 (PL), de autoria do Deputado Paulo Delgado, apesar das
muitas alterações fundamentais que sofreu o texto original. Depois de idas e vindas, debates
parlamentares e na mídia, nas instituições e nas entidades e conferências de saúde, o texto
substitutivo do PL foi finalmente aprovado na Câmara dos Deputados em 27 de março, para
ser sancionado logo após pelo Presidente da República, quando tornou-se a Lei 10.216/2001.
Embora não seja meu intuito fazer aqui uma retrospectiva da trajetória da luta pela aprovação
do PL, é importante assinalar o seu surgimento pois o mesmo tem muita importância para o
tema deste meu relatório. O PL 3.657/89 foi apresentado pelo Deputado Paulo Delgado em 12
de setembro de 1989 e, em 14 de dezembro do ano seguinte, foi aprovado pela Câmara dos
Deputados. Parecia que, em pouco tempo, o projeto seria transformado em lei e seria a base
de uma ampla e radical transformação do sistema assistencial psiquiátrico brasileiro. O clima
era, portanto, de grande otimismo e, também favorável.
Por que favorável? Naquele mesmo ano de 1989 teve lugar uma das mais importantes
condições de possibilidade histórica para a transformação do modelo psiquiátrico em nosso
país. Desde o final da década de 70 (do século passado) que o modelo psiquiátrico brasileiro
era duramente criticado, assim como era objeto de inúmeras tentativas de mudanças. Mas,
estas eram tímidas e infrutíferas. Faltavam algumas outra condições históricas que pudessem
favorecer a conjuntura.
Naqueles idos de 70, auge da violenta Ditadura Militar, o sistema psiquiátrico era
absolutamente centrado no modelo asilar, isto é, no modelo manicomial, que acredita (ainda
hoje) que os portadores de transtorno mental devem ser isolados de suas famílias e
comunidade e tratados em regime institucional fechado. Existiam mais de 100 mil pessoas
internadas em manicômios (mani = loucos [maníacos]; cômios = casas). O modelo
psiquiátrico, para complicar ainda mais as coisas, era predominantemente "privatizado".
Coloquei o termo privatizado propositadamente entre aspas pois tratava-se (e ainda se trata)
de um sistema de privatização muito singular, existente somente no Brasil. O poder público,
ao invés de criar uma rede própria de serviços e ações de saúde, comprava serviços de
terceiros para prestar assistência à população. Em um sistema altamente corrompido como foi
Profº Graciliano Martins Página 56
o período da Ditadura Militar, e fortemente centralizado e autocrático (com perda das
liberdades democráticas, censura à imprensa, cerceamento das entidades da sociedade civil,
dentre outras características dos regimes totalitários), tornava-se muito difícil denunciar,
reivindicar e mudar tais condições.
Neste contexto absolutamente desfavorável as repercussões na vida das pessoas eram
dramáticas: internações prolongadas (de até anos de duração), abandono, desassistência,
mortes violentas ou misteriosas, fraudes, pacientes fantasmas, internações sem indicação
clínica, e muitas outras formas de fraudes e violações dos direitos humanos. Apesar das
denúncias pouco acontecia no cenário, até que no final dos anos 80, numa conjuntura já muito
diversa (com a democratização do país, com o advento do Sistema Único de Saúde - SUS, e
outras condições), algumas daquelas mortes ocorridas num manicômio privado na cidade de
Santos/SP, possibilitaram uma ação inédita do poder público municipal: a interdição no
manicômio com sua posterior desconstrução, com a conseqüente criação de uma rede
territorial de atenção em saúde mental, substitutiva ao modelo psiquiátrico tradicional, além
de uma série de outras iniciativas culturais e sociais, algo até então inexistente no Brasil.
A intervenção da Prefeitura de Santos na Clínica Anchieta (este era o nome do manicômio)
ocorrida em 03 de maio de 1989, deu origem à constituição dos Núcleos de Atenção
Psicossocial (NAPS), como protótipos dos novos serviços substitutivos ao modelo
manicomial: são serviços inspirados nos Centros de Saúde Mental criados por Franco
Basaglia em Trieste/Itália, com funcionamento ininterrupto (24 horas/dia-365 dias/ano),
responsáveis por todo e qualquer tipo de demanda psiquiátrico-psicológico de uma
determinada região geopolítico-cultural da cidade que, neste contexto, passa a ser denominada
de território. Em outras palavras, o território não é apenas uma região geográfica ou uma área
de planejamento ou administrativa, decorrentes da regionalização ou distritalização de uma
cidade; é o conjunto de saberes e práticas políticas, sociais e culturais, que atuam em um
determinado contexto histórico. Os NAPS, ao contrário das versões até então conhecidas
como "centro de saúde mental" na linha caplaniana, norte-americana, passam a exercer um
conjunto de ações que o caracterizam como estrutura complexa. Têm leitos de apoio para
acompanhamento de situações de crise; atendem à demandas em residências, em locais de
trabalho ou públicos; oferecem atendimento do tipo emergencial ou ambulatorial; respondem
à várias demandas de caráter social e não apenas, como tradicionalmente reconhecidas,
"terapêuticas". Dito de outra forma, os NAPS passaram a assumir o caráter complexo da
demanda dita psiquiátrica que é sempre menos uma demanda apenas clínica e mais uma
demanda social, onde a clínica é apenas uma das dimensões.
Por outro lado, no lastro ainda da desmontagem do modelo psiquiátrico tradicional várias
outras estratégias (poderíamos dizer não técnico-assistenciais) foram colocadas em prática.
Como exemplos, o Projeto Tam-Tam, o Centro de Valorização da Criança ou as Cooperativas
Sociais. O Projeto Tam-Tam envolveu um conjunto de iniciativas culturais que buscavam
aproximar o território para as questões do campo. Esta aproximação se deu tanto no
envolvimento de voluntários do próprio território, quanto na natureza das atividades:
programa de rádio, produção de vídeos, artes plásticas e dramáticas, etc. O Centro de
Valorização da Criança permitia reconstruir a noção de prevenção em psiquiatria e saúde
mental, a partir de uma abordagem não apenas médica (controle preventivo de doenças
evitáveis, vigilância sanitária e epidemiológica), mas de uma política social para o
ARTIGOS
Apolo era um deus que se poderia chamar de polivalente. Associado com a literatura e as artes
era também invocado por aqueles que buscavam a cura de uma doença. Significativa
coincidência, esta: existe, sim, relação entre medicina e literatura. Em ambos os casos, a
palavra desempenha um papel fundamental.
Na psicoterapia a palavra desempenha um papel fundamental, como instrumento de ajuda
psicológica. Na literatura, a palavra, matéria-prima para a criação estética, ajuda a explicar a
complexa relação entre seres humanos, incluindo a relação médico-paciente. Doença e
medicina são temas preferenciais de grandes escritores, sobretudo a doença mental, como em
Cervantes, Nicolai Gogol, Virginia Woolf e Sylvia Plath, entre outros. No Brasil, Machado de
Assis.
São numerosas as referência a problemas mentais na obra machadiana, grande parte dela
escrita com "as tintas da melancolia" para usar uma expressão do próprio Machado, que
aborda o tema da loucura de maneira mais específica em O Alienista, de 1881. Este conto
longo (ou novela curta) tem como cenário a modorrenta cidadezinha de Itaguaí, em "tempos
remotos", difíceis de identificar.
O que provavelmente é proposital; o fim do século 19 viu a ascensão dos alienistas, médicos
que tomavam conta dos "alienados". À época não havia qualquer tratamento eficaz para a
doença mental; os alienistas limitavam-se a classificar o distúrbio do paciente, e indicavam a
internação daqueles considerados perigosos. Este período marcou o auge da instituição asilar -
o hospício. O poder dos alienistas era muito grande e Machado certamente não queria brigar
com eles; daí a opção pela referência vaga.
A Itaguaí chega um alienista, o Dr. Simão Bacamarte (o sobrenome é sugestivo), que funda
um estabelecimento para alienados. É a Casa Verde, que logo começa a receber hóspedes. A
exemplo de outros alienistas, Bacamarte dedica-se a rotular os pacientes conforme as doenças
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de que são portadores. Mas seu objetivo é descobrir a causa última da enfermidade mental e o
"remédio universal" para ela. Difícil empreendimento; o alienista constata que o problema da
loucura é muito maior do que pensava: "A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora
uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente".
De qualquer modo a insânia deve ser combatida: o menor desvio da suposta normalidade é
pretexto para uma internação. O alienista detém agora o poder, o que gera uma revolta
popular. Bacamarte não se abala: questionado pelos rebeldes, replica, altivo: "Não dou razão
dos meus atos de alienista a ninguém, salvo aos mestres e a Deus". Intimidados, os chefes da
rebelião vacilam - e aí uma força enviada pelo vice-rei acaba com a revolta.
O poder do alienista chega ao máximo: interna dezenas de pessoas, inclusive a própria esposa.
Mas um perturbador raciocínio acaba por lhe ocorrer: se a loucura é tão disseminada o
hospício deveria ser reservado não para os enfermos, mas para os sãos - no caso, ele próprio.
Tranca-se na Casa Verde, agora vazia, entregando-se ao "estudo e à cura de si mesmo", vindo
enfim a morrer.
O Alienista não discute apenas a doença mental. Machado está nos falando do poder, da
arbitrariedade. É o poder que resulta de um suposto conhecimento. Mas este conhecimento,
exatamente porque suposto, não dá ao dr. Bacamarte qualquer segurança. Ao contrário, seu
estado de espírito oscila entre a onipotência e a impotência, a euforia e o desânimo. Como ele,
a psiquiatria à época estava doente.
Esta situação viria a se alterar nas décadas seguintes. Em 1900 Freud publica A Interpretação
dos Sonhos, mostrando o papel do inconsciente na gênese dos problemas emocionais.
Revolução conceitual, sucedida por uma revolução farmacológica: em meados do século 20
eram introduzidas drogas para tratar psicoses, depressão, ansiedade. O resultado foi um
esvaziamento dos hospícios. A internação hoje obedece a indicações bem definidas e é,
freqüentemente, transitória. O Hospício é Deus, foi o título que Maura Lopes Cançado deu a
um livro de 1965. Não, o hospício não é Deus, como descobriu, para seu desgosto, o Dr.
Bacamarte. O tratamento da doença mental foi desmistificado, e com isto os alienistas
perderam um poder que, de fato, nunca tiveram. O que foi bom para os pacientes e bom para
eles também.
(6´09´´ / 1,41 Mb) - Austregésilo Carrano Bueno é autor do livro “O Canto dos Malditos”
e o personagem interpretado pelo autor Rodrigo Santoro no filme “Bicho de Sete Cabeças” –
cujo roteiro foi inspirado na própria obra de Austregésilo.
Ouça a entrevista
http://www.radioagencianp.com.br/images/stories/notplan/mp3/2008/janeiro/030108lutantimanicomial
.mp3
Carrano ficou três anos e meio internado e nesse período passou por quatro instituições
psiquiátricas. Os traumas pelos quais Carrano foram contados no livro como uma forma de
terapia para o autor.
Austregésilo Carrano Bueno: Eu comecei a escrever o livro “O Canto dos Malditos” em 1986.
Foram quatro anos para eu conseguir editar esse livro porque ali eu citava nome de médicos e
hospitais, e mostrava todo o terror que era o tratamento dado. Todo mundo era sedado em
massa, através dos verdadeiros coquetéis químicos, que nós pacientes somos obrigados a
tomar. E isso acontece até hoje. O número de pessoas que são recuperadas dentro dessas
instituições psiquiátricas é zero por cento. Tanto que a pessoa sai lá de dentro com mais
RNP: Você mostra no livro que as pessoas que são internadas nesses locais não possuem
necessariamente um distúrbio que justifique sua internação. Fale sobre isso.
ACB: Sim. Internam pessoas até para comer lá dentro. Se um garoto está aí fora roubando
toca fita, pegam e internam lá dentro. Então virou um depósito de problemas. Você vê
mulheres em crise pós-parto enfim, uma mistura de pessoas que de repente, apenas um papo
ou uma visita a um psicólogo resolveria a situação. Não é isso que se vê. Fazem aquele Bicho
de Sete Cabeças e internam nessas instituições. O Ministério da Saúde tem uma equipe que
fez uma avaliação no Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, e no Tonheiras que é outro hospício
também, e se chegou à conclusão que 94% das pessoas que estão internadas nessas
instituições poderiam ser tratadas aqui fora.
RNP: Como se pode lutar contra esse total descompasso entre a teoria do que se imagina
como ideal para esses hospitais e a prática terapêutica que realmente acontece lá dentro?
ACB: Através do Movimento Nacional da Luta Anti-Manicomial, esse descaso tem sido esse
descaso tem sido menor. Mas a gente enfrenta o Lobby da psiquiatria que é muito forte. Eles
são donos dos hospitais psiquiátricos. A psiquiatria já foi primeira despesa do SUS [Sistema
Único de Saúde]. Hoje é a terceira maior despesa do SUS, consumindo mais de R$ 700
milhões por ano. É um bolo grande. Então há muitos interesses que envolvem a psiquiatria no
país. Então a gente luta contra essa máfia, contra esses empresários da loucura que são os
donos e filiados a essas instituições psiquiátricas.
ACB: Olha, tudo o que é fechado, tudo que é feito entre quatro paredes, você não sabe o que
realmente acontece lá dentro. Então hoje, agora, sê você quiser ir visitar uma pessoa dentro de
um hospital psiquiátrico, você não consegue. Você tem que ir nos dias de visita, programados
pela direção da instituição. No restante do tempo, você não sabe o que acontece lá dentro.
Então o desvio de verbas para alimentação e para uma série de coisas dentro do hospital é
visível a olho nu. Basta você ver essas pessoas lá urinadas, defecadas ou com trapos
pendurados. Então a psiquiatria, se ela proíbe é porque ela tem algo a esconder, que é esse
caos todo.
ACB: Depois de 13 anos de luta no congresso, nós conseguimos fazer do Projeto de Lei, a Lei
de Reforma Psiquiátrica que prioriza a construção de uma rede de trabalhos substitutivos que
são os CAPS´s os Centros de Convivência, os Lares Abrigados, mas é pouco ainda porque
90% da verba destinada para a saúde mental ainda vai para os donos de hospitais
psiquiátricos.
De São Paulo, da Radioagência NP, Juliano Domingues.
Autora
Salete Monteiro Amador
É psicóloga, graduada pela PUC-SP e aprimorada em Saúde Coletiva pelo Instituto de
Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Atualmente trabalha no CAPS
Guaianases, serviço da Secretaria de Saúde da Prefeitura de São Paulo.
salete_psi@yahoo.com.br
Referência(s):