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ATUALIDADES EM QUÍMICA

Luiz Alberto Colnago, Fábio C.L. Almeida e Ana Paula Valente

O Prêmio Nobel de Química de 2002 foi outorgado ao químico John B. Fenn e ao engenheiro Koichi Tanaka
pelo desenvolvimento da espectrometria de massa para análise de macromoléculas biológicas e ao químico Kurt
Wüthrich pelo desenvolvimento de aplicações da ressonância magnética nuclear (RMN) multinuclear e multidi-
mensional para determinação da estrutura tridimensional de proteínas. As contribuições desses pesquisadores
tornaram a Bioquímica a “grande ciência” do nosso tempo, permitindo a rápida identificação das proteínas presentes
em uma amostra em solução, bem como das suas estruturas tridimensionais.


Prêmio Nobel, ressonânica magnética nuclear, espectrometria de massa, proteínas, macromoléculas biológicas

Recebido em 31/10/02, aceito em 16/11/02

T
odos os seres vivos, desde vírus Outras macromoléculas presentes nos ções alternativas. Muitos genes tam- 9
e bactérias até seres superiores seres vivos são os polímeros de açú- bém só são expressos durante certa
como plantas e animais, são cares, como a celulose que dá susten- fase da vida ou quando o ser vivo está
constituídos de macromoléculas res- tação às plantas, o amido que é fonte sujeito a estresse. Isto significa que a
ponsáveis pela grande maioria das de reserva para as sementes e larga- presença de um gene não neces-
suas funções vitais. A hereditariedade, mente usado na alimentação humana, sariamente leva à produção da respec-
uma das principais características dos entre muitos outros polissacarídeos. tiva proteína. Assim, para conhecer
seres vivos, é transmitida de geração Os estudos dos genomas têm le- todos os mecanismos celulares torna-
em geração por intermédio de políme- vado ao conhecimento da composição se necessária a análise global de todas
ros de ácidos nucléicos, denominados dos ácidos nucléi- as proteínas expressas
ácido ribonucléico (RNA) e ácido cos e dos genes que As informações contidas em uma célula. Esse
desoxirribonucléico (DNA). As informa- eles codificam. Ca- nos ácidos nucleicos são estudo é conhecido co-
ções contidas nos ácidos nucléicos da gene pode gerar operacionalizadas por mo proteoma (em ana-
são operacionalizadas por meio da ex- uma proteína. Esses meio da expressão de logia ao genoma).
pressão de proteínas (polímeros de estudos estão bem proteínas (polímeros de Uma outra importan-
aminoácidos), que têm funções de ca- avançados e vários aminoácidos), que têm te área de estudo de
talisar as mais variadas reações nos seres vivos já têm funções de catalisar as mais proteínas é a determi-
sistemas biológicos, como as opera- seus genes conheci- variadas reações nos nação de sua estrutura
ções de digestão dos alimentos, divi- dos ou seqüencia- sistemas biológicos tridimensional, para que
são celular, leitura e cópia dos ácidos dos. O assinalamen- seja possível a correla-
nucléicos, entre milhares de outras rea- to dos genes se dá por intermédio da ção entre a estrutura e sua função bio-
ções. As proteínas também têm função leitura do DNA, procurando os sinais lógica. As proteínas têm uma estrutura
de transporte de substâncias e elétrons de iniciação e terminação. Dessa forma tridimensional única e pequenas mu-
(por exemplo, a hemoglobina que delimita-se os quadros abertos de danças estruturais podem levar à per-
transporta oxigênio e gás carbônico), leitura (sigla ORF, do inglês, open read- da ou redução de sua atividade
função de sustentação (por exemplo, ing frames). Os ORF não necessaria- biológica.
o colágeno dos tendões), função mo- mente são expressos como proteínas. Pela breve introdução acima pode-
tora nos músculos, função protetora do Pode ocorrer que ORF não sejam ex- se ver que os estudos dos proteomas
organismo (por exemplo, os anticor- pressos ou que muitos ORF juntos for- das várias espécies e de como as pro-
pos), entre muitas outras funções vitais. mem uma proteína, por meio de jun- teínas funcionam são o grande desafio
do nosso tempo. Esses estudos estão
A seção “Atualidades em Química” procura apresentar assuntos que mostrem como a Química é uma ciência viva, seja tornando-se viáveis e cada vez mais
com relação a novas descobertas, seja no que diz respeito à sempre necessária revisão de conceitos. rápidos graças aos métodos analíticos

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desenvolvidos pelos pesquisadores meio dos grupos amino e carboxila, for- polipeptídica na forma de hélices,
laureados com o Prêmio Nobel de mando uma ligação peptídica pela eli- folhas, voltas etc.
Química de 2002. A seguir é apresen- minação de moléculas de água, con- 3- Estrutura terciária - estrutura tri-
tada uma rápida revisão sobre proteí- forme mostrado na Figura 2. dimensional de uma proteína, com a
nas para ajudar a entender a impor- Uma proteína é composta de deze- disposição espacial das unidades de
tância do trabalho desses laureados. nas a centenas de aminoácidos e a se- estruturas secundárias e das cadeias
qüência de ligação é determinada laterais.
Proteínas: da seqüência de pelos ácidos nucléicos (ácido desoxirri- 4- Estrutura quaternária - algumas
aminoácidos à estrutura quaternária bonucléico-DNA ou ácido ribonucléico- proteínas são compostas de mais de
As proteínas são compostas de RNA) responsáveis pela hereditarie- uma cadeia polipeptídica (subunida-
unidades estruturais básicas de molé- dade. de). O arranjo espacial dessas subuni-
culas orgânicas denominadas amino- A estrutura das proteínas é descrita dades é conhecido como estrutura
ácidos. Os 20 aminoácidos mais co- em quatro níveis de organização (Fi- quaternária de uma proteína. Uma pro-
muns encontrados na natureza e codifi- gura 3): teína pode consistir de cadeias poli-
cados pelo DNA são: glicina (gly), 1- Estrutura primária - seqüência de peptídicas idênticas e não idênticas. A
alanina (ala), valina (val), leucina (leu), aminoácidos da cadeia polipeptídica. hemoglobina, por exemplo, é constituí-
isoleucina (ile), metionina (met), prolina 2- Estrutura secundária - arranjo es- da de cadeias polipeptídicas não idên-
(pro), fenilalamina (phe), triptofano pacial básico de parte de uma cadeia ticas.
(trp), serina (ser), treonina (thr), aspa-
ragina (asp) glutamina (gln), tirosina
(tyr) cisteína (cis), lisina (lys), arginina
(arg), histidina (his) ácido aspártico
(asp) e ácido glutâmico (glu). Na Figura
1 está a fórmula estrutural básica de
um aminoácido, que é constituído de
10 um grupo amino, em preto, um grupo
carboxila, em azul, um átomo de hi-
drogênio, em verde, e uma cadeia late-
ral (R), que diferencia os vinte aminoá-
cidos, em roxo. Esses grupos são Figura 2: Reação de formação de um dipeptídeo a partir de dois aminoácidos, destacando-
se a ligação peptídica em vermelho. Note que em uma das pontas do dipeptídeo há um
ligados a um carbono assimétrico (me-
grupo amino livre e na outra um grupo carboxila. Portanto esse dipeptídeo pode se combinar
nos para glicina, na qual a cadeia late- com outros aminoácidos, formando cadeias mais longas chamadas polipeptídeos; proteínas
ral também é um átomo de hidrogênio), são polipeptídeos.
conhecido como carbono-α (Cα), em
vermelho.
Os aminoácidos ligam-se entre si
para formar peptídeos ou proteínas por

Figura 1: Fórmula estrutural básica de um


aminoácido, destacando os diferentes
componentes: em preto, grupo amino; em
azul, grupo carboxila; em verde, átomo de
hidrogênio; em roxo, cadeia lateral (R), que
diferencia os vinte diferentes aminoácidos;
em vermelho, carbono assimétrico (menos
para glicina, na qual a cadeia lateral tam- Figura 3: Níveis de organização das estruturas da proteínas: a) estrutura primária; b) estrutura
bém é um átomo de hidrogênio), conhecido secundária (hélice α); c) estrutura terciária da β-hemoglobina e d) estrutura quaternária da
como carbono-α (Cα). hemoglobina.

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Como mostrado a seguir, os traba-
lhos de Fenn e Tanaka estão relacio-
nados à determinação da massa mo-
lecular de proteínas e os de Wüthrich
à determinação das estruturas tridi-
mensionais de proteínas em solução.
Espectrometria de massa de
macromoléculas biológicas
Em 1912, J. J. Thompson demons-
trou que era possível separar molécu-
las na fase gasosa por diferenças de
massa e carga, que é o princípio de
funcionamento dos espectrômetros de
massa. Há vários tipos de espectrô-
metros de massa, mas todos eles re-
querem a gaseificação e ionização da
amostra, aceleração da molécula car-
regada por um campo elétrico, disper-
são dos íons de acordo com a razão
massa/carga (razão m/z) e a detecção Figura 4: Diagrama de um espectrômetro de massa com ionização por spray eletrostático
dos íons e registro do sinal. (ESI).
A espectrometria de massa (EM) é
uma técnica largamente utilizada pelos trômetro de massa com ESI, que con- Os diversos sinais do espectro inicial-
químicos na análise de moléculas pe- siste em submeter a amostra a um fluxo mente confundiram os pesquisadores,
quenas ou de tamanho médio. O mé- em uma pequena agulha em um com- mas Fenn usou essa complexidade 11
todo é tão sensível que hoje é usado partimento contendo nitrogênio seco. para melhorar a precisão das determi-
rotineiramente na análise de substân- A diferença de potencial entre a agulha nações de massa e desenvolveu a teo-
cias em baixa concentração, como no e as paredes do compartimento é de ria de cargas múltiplas. Hoje existem
caso de doping, controle de alimentos, quilovolts; assim, entre a saída da agu- programas de computador baseados
contaminação ambiental, entre muitas lha e o compartimento há um enorme nessa teoria que ajudam na análise
outras áreas de aplicação. campo elétrico. Conseqüentemente, a desses gráficos e, assim, permitem
A aplicação da EM na análise de ma- gotícula de solução de amostra que sai que se determine a massa molecular
cromoléculas só começou a ter sucesso dessa agulha é dispersa no comparti- com grande precisão.
na década de 70, quando se conseguiu mento como um spray de microgotas
levar macromoléculas à forma de gás eletricamente carregadas, que, direcio- Contribuição de Koichi Tanaka
ionizado. O grande avanço nessa área nadas pelo campo, seguem em dire- Durante a década de 80 vários gru-
ocorreu com o desenvolvimento da ção à parede do compartimento. Devi- pos tentaram resolver o problema da
técnica de ionização por spray eletros- do à geometria desse compartimento, volatilização/ionização de macromolé-
tático (ESI - do inglês electrospray ioni- essas microgotas se dirigem a um culas usando laser. Achava-se que era
zation), por Fenn, e da técnica de compartimento a vácuo, o espectrô- possível vaporizar com laser uma pe-
dessorção suave por laser (SLD - do metro de massa em si. O campo elé- quena parte de uma amostra sólida ou
inglês soft laser desorption), por Tanaka. trico é forte o suficiente para extrair íons líquida sem sua degradação. Em Mos-
Com esses desenvolvimentos, a EM isolados das microgotas. O tempo (in- cou, V.S. Letokov demonstrou que o
passou a ser largamente usada no dicado pelo cronômetro na Figura 4) método poderia ser usado em peque-
estudo de macromoléculas biológicas, que cada íon leva para atingir o detetor nas moléculas polares como os amino-
principalmente no estudo de proteínas. depende das suas massa molecular ácidos. Em 1985, essa metodologia foi
(m) e carga (z), sendo proporcional à aperfeiçoada por M. Karas e F. Hillen-
Contribuição de John B. Fenn razão m/z; portanto, é possível determi- kamp, que demonstraram que se
O grande desafio de ionizar macro- nar a massa molecular do composto. poderia volatilizar moléculas pequenas
moléculas foi tema de estudo de mui- O uso da ESI permite a ionização usando uma matriz capaz de absorver
tos pesquisadores, mas muitas das de macromoléculas que têm papel a energia do laser.
técnicas desenvolvidas produziram destacado nos processos biológicos, Em 1987, em um simpósio de EM,
íons muito grandes ou íons difíceis de como peptídeos, proteínas, polissaca- em Osaka (Japão), Tanaka apresentou
serem vaporizados sem decomposi- rídeos e ácidos nucléicos. A presença os primeiros resultados da aplicação
ção substancial. Fenn trabalhou com de uma grande quantidade de cargas da técnica de dessorção suave por la-
uma dessas técnicas, a ESI. A Figura em diferentes moléculas de um mesmo ser (SLD) na análise de proteínas
4 apresenta o diagrama de um espec- tipo gera diversos picos (ver Figura 4). intactas, o que foi um grande avanço

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a massa da proteína inteira, mas
também a dos fragmentos gerados.
Hoje tem-se genomas completa-
mente seqüenciados. A pergunta a ser
então respondida é quando e em que
condições as células expressam certas
proteínas. Sabe-se que as células apre-
sentam mecanismos intricados de
controle. Esse controle é normalmente
feito por proteínas que se expressam
nos diferentes estágios do desenvolvi-
mento de um organismo. Com a es-
pectrometria de massa é possível iden-
tificar as proteínas em baixa concen-
tração e em poucos dias. Com os mé-
todos bioquímicos tradicionais pode-
se levar meses ou anos.
Espetroscopia de ressonância
magnética nuclear (RMN)
O fenômeno da RMN foi observado
experimentalmente pela primeira vez em
1946, por F. Bloch e E. Purcell (Prêmio
Nobel de Física de 1952). A RMN é
observada quando se incide ondas de
12 rádio-freqüência em uma amostra que
Figura 5: Diagrama de um espectrômetro de massa com dessorção/ionização por laser.
tem isótopos com spin nuclear maior
que zero (por exemplo, 1H) na presença
para a área. A descoberta de Tanaka, O tipo de espectrometria de massa de um campo magnético. A RMN pas-
que fez que a dessorção suave por la- mais usado hoje em dia para análise sou a ser de grande importância para
ser funcionasse para macromoléculas, de macromoléculas biológicas é o com análises químicas já na década de 50,
foi uma combinação adequada da dessorção/ionização por laser assisti- com a descoberta de que seu sinal
energia e do comprimento de onda do da por matriz - tempo de vôo, conheci- reflete o ambiente químico em que o nú-
laser com as propriedades de absor- do pela sigla MALDI-TOF/MS (do in- cleo se encontra em uma molécula. Esse
ção/transferência de calor de uma glês, matrix-assisted laser desorption/ fenômeno, denominado deslocamento
matriz e a estrutura molecular do analito ionization-time of flight mass spectrom- químico, permitiu um grande avanço na
depositado nessa matriz. A matriz etry) e é a ferramenta básica para a área de determinação estrutural de
usada por Tanaka foi glicerol contendo análise de proteomas. moléculas pequenas e/ou de média
partículas coloidais. massa molecular. Até o final da década
Tanaka demonstrou que, ao se usar Aplicações da espectrometria de de 60, a RMN se restringia praticamente
um laser de baixa energia (laser de ni- massa às análises baseadas no 1H, devido à
trogênio - 330 nm), íons de macromo- Os espectrômetros de massa revo- baixa sensibilidade da técnica. Esse
léculas biológicas são formados, fato lucionaram o campo das ciências problema foi superado com a introdu-
que não era esperado na época. O conhecido como Química de Proteínas, ção da técnica de pulsos e o uso da
princípio da técnica de SLD é apresen- pois permitem a identificação de proteí- transformada de Fourier (TF), iniciado
tado na Figura 5, na qual, no gráfico nas com relativa facilidade. Mas como por Ernst e Andrew, em 1966. O uso da
intensidade em função de m/z, é se faz isto? Ao se conhecer uma massa técnica de pulso e da TF também
mostrada a separação de íons de uma molecular com grande precisão (1/ permitiu a R. Ernst o desenvolvimento
molécula de proteína com uma e duas 40000), torna-se possível compará-la das técnicas de RMN multidimensional,
cargas e de um agregado da mesma com as seqüências das ORF co- pelo que recebeu o Prêmio Nobel de
proteína com uma carga. Nessa figura, nhecidas do genoma e, assim, identi- Química de 1991. Na RMN multidimen-
também são destacados o sistema de ficar qual ORF geraria proteína com sional, além de se obter um aumento
aceleração por campo elétrico (placa aquela massa molecular. Esse procedi- da resolução espectral, foram automati-
negativa), a dispersão dos íons em mento é bastante preciso, mas nem zadas as medidas de vários parâmetros
função da razão m/z (resultando nos sempre suficiente. Os equipamentos de RMN, como o efeito Overhauser
seus diferentes tempos de vôo, TOF - com ESI geram fragmentos das molé- nuclear (NOE), o acoplamento spin-spin
do inglês time of flight, indicados pelo culas; assim, com o auxílio de softwares etc. Esses desenvolvimentos e o uso de
cronômetro) e o detector. adequados, compara-se não somente ímãs supercondutores de alto campo

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meio similar ao de uma proteína na
célula. A primeira a ser estudada foi
uma pequena proteína chamada BPTI
(“inibidor de tripsina pancreática
bovina”), de massa molecular aproxi-
madamente 5000 u (5 ku)1. Junto com
a primeira estrutura, no laboratório de
Wüthrich foram desenvolvidas as
bases de toda a metodologia usada
até hoje para a determinação da
estrutura de proteínas. Essa metodo-
logia se baseia na atribuição dos sinais
de RMN aos átomos de hidrogênio na
macromolécula, na medida de grande
número de parâmetros espectrais rela-
cionados à estrutura, como o efeito
Overhauser nuclear, e no uso de
métodos computacionais que transfor-
Figura 6: Diagrama de um espectrômetro de RMN.
mam os dados estruturais em uma es-
trutura tridimensional. O efeito Over-
permitiram a aplicação da RMN na resolução atômica foi determinada por hauser nuclear é um parâmetro que
determinação das estruturas de macro- difração de raios X, em 1957, por M. permite determinar distâncias interatô-
moléculas biológicas, principalmente Perutz, que dividiu com J. Kendrew o micas de até cerca de 5 ångstrons.
proteínas, que foi a principal contribuição Prêmio Nobel de Química de 1962. Pa- Hoje mais de 2500 proteínas (cerca de
de Wüthrich. Na Figura 6 é apresentada ra essas análises, as proteínas eram 20% do total) tiveram suas estruturas
um diagrama de um espectrômetro de cristalizadas. Embora houvesse evi- determinadas por esse método. 13
RMN com ímã supercondutor. A amos- dências de que o meio cristalino tinha Com o passar dos anos, o tamanho
tra é colocada dentro da sonda de RMN muita água e algumas enzimas eram máximo das estruturas de proteínas
que fica no centro de uma bobina su- até ativas nesse meio, alguns pesqui- determinadas por RMN aumentou
percondutora, resfriada por nitrogênio e sadores consideravam-no muito dis- bastante, passando-se de massas mo-
hélio líquidos. Um computador central co- tante do meio onde a proteína exerce leculares de 5 ku para 20-30 ku. Para
manda o equipamento, enviando, cap- sua função (células). isso foi preciso incorporar medidas de
15
tando e processando os sinais de RMN. Em 1986, Wüthrich e colaboradores N e 13C e, em alguns casos, 2H (deu-
demonstraram que a RMN multidimen- tério). No entanto, há um limite físico
Contribuições de Kurt Wüthrich sional poderia determinar a estrutura no tamanho de proteínas para a RMN
A primeira estrutura tridimensional tridimensional, com resolução atômica, multidimensional, difícil de ser supera-
de uma proteína (a mioglobina) com de uma proteína em solução, que é um do, pois o tempo de relaxação dos

Os laureados de 2002 professor titular de ro de pesquisa e desenvolvimento na Uni-


1967 a 1987, quan- dade de Negócios em Ciências da Vida,
O Prêmio Nobel de Química de 2002 do se aposentou da Divisão de Instrumentos Analíticos e
foi outorgado pela Academia Real Sueca como professor de Medida, da Shimadzu, em Quioto
de Ciências “para o desenvolvimento de emérito. Desde (Japão).
métodos para identificação e análise 1994, é professor Kurt Wüthrich nasceu em 1938, em
estrutural de macromoléculas biológicas”. titular de Química Aarberg, na Suí-
Metade foi outorgada conjuntamente a Analítica na Uni- ça. Doutorou-se
John B. Fenn e Koichi Tanaka “pelo versidade Comu- em Química Inor-
desenvolvimento de métodos de ioniza- nidade das Na- gânica na Univer-
ção por dessorção suave para análise de ções de Virgínia, em Richmond (EUA). sidade de Basel,
macomoléculas biológicas por espectro- Koichi Tanaka nasceu em 1959, na em 1964. Desde
metria de massa” e a outra metade para cidade de Toyama, 1980, é professor
Kurt Wüthrich “pelo desenvolvimento de no Japão. Formou- titular de Biofísica
espectroscopia de ressonância magnéti- se em Engenharia Molecular no Ins-
ca nuclear para determinação da estrutura na Universidade tituto de Biologia
tridimensional de macromoléculas bioló- Tohoku, em 1983. e Biofísica Molecular, do Instituto Federal
gicas em solução”. Desde abril de Suíço de Tecnologia (ETH), em Zurique
John B. Fenn nasceu em 1917, na ci- 1983 trabalha na (Suíça). Também é professor visitante de
dade de Nova Iorque, nos Estados Unidos Shimadzu Corp., Biologia Estrutural no Instituto de Pes-
da América. Obteve seu doutorado em sendo que atual- quisas Scripps, em La Jolla, Califórnia
1940, na Universidade Yale, da qual foi mente é engenhei- (EUA).

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spins nucleares vai diminuindo com o
aumento do tamanho da proteína, o
que dificulta a observação e a resolu-
ção espectral. Proteínas grandes pas-
sam a não gerar nenhum sinal nas
medidas de RMN. Esse foi um outro
desafio enfrentado por Wüthrich e
colaboradores. Em 1998, eles publica-
ram um trabalho usando um efeito cha-
mado de correlação cruzada entre a
anisotropia do deslocamento químico
e o acoplamento dipolar. Esse efeito
faz que cada hidrogênio amídico da
proteína apareça em duas freqüências
diferentes (dubleto), sendo que cada
um dos componentes do dupleto tem
Figura 7: Estrutura da proteína PSD1 obtida em solução por RMN (http://cnrmn.bioqmed.
relaxação diferente: um deles relaxa
ufrj.br). À esquerda, tem-se a sobreposição das diversas possíveis estruturas em solução
rapidamente, enquanto o outro mais obtidas por RMN. Observe que em certas regiões a proteína apresenta várias estruturas
lentamente. A nova técnica, conhecida possíveis. Estas são provavelmente as regiões da proteína com grande flexibilidade. Todas
como espectroscopia otimizada de as estruturas determinadas em solução têm regiões flexíveis e regiões rígidas. À direita, há
relaxação transversa (sigla inglesa um diagrama onde se observa a hélice α, em vermelho/amarelo, e as folhas β, em azul. As
TROSY, de transverse relaxation opti- ligações de dissulfeto estão representadas em laranja.
mized spectroscopy), faz uso desse
sinal de RMN que relaxa mais lenta- mas são proteínas com função comple- mente utiliza-se a unidade dalton (Da)
mente. Essa outra grande contribuição tamente desconhecidas. A resolução da como sinônimo da unidade de massa
14 do laboratório de Wüthrich possibilitou estrutura das proteínas resultantes atômica (u). Entretanto, o dalton e seu
que fosse possível se trabalhar com desses ORF tem possibilitado atribuir símbolo não foram aceitos pela Con-
proteínas com massa superior a 40 ku, função a elas. Assim, pode-se antever ferência Geral de Pesos e Medidas.
já tendo sido determinadas estruturas um futuro não tão longínquo em que se
de proteínas de até 100 ku. saberá a função de quase 100% das Luiz Alberto Colnago (colnago@cnpdia.embrapa.br),
bacharel em Farmácia pela Faculdade de Farmácia e
proteínas codificadas no DNA humano. Bioquímica do Espírito Santo, mestre em Química e
Aplicações de RMN Conseqüentemente, será muito mais doutor em Físico-Química pelo Instituto Militar de
Trabalhar na determinação de estru- fácil desenvolver a cura para as doenças Engenharia, é pesquisador da Embrapa Instrumen-
que atualmente nos afligem. tação Agropecuária, em São Carlos - SP. Fábio C.L.
turas de proteínas não é tarefa fácil, Almeida (falmeida@cnrmn.bioqmed.ufrj.br), bacharel
pois resolver a estrutura de uma pro- No Brasil há uma sociedade cientí- em Ciências Farmacêuticas e doutor em Ciências
teína em solução pode levar de um a fica que se dedica somente ao uso da Biológicas (Bioquímica) pela USP, é docente do De-
quatro anos, dependendo de como RMN, a Associação de Usuários de partamento de Bioquímica Médica do Instituto de Ciên-
RMN - AUREMN (http://www.auremn. cias Biomédicas da UFRJ (DBM/ICB/UFRJ) e pesqui-
esta se comporta em solução. Porém sador do Centro Nacional de Ressonância Magnética
esse trabalho é recompensado. A partir org.br) - e existem dois centros que tra- Nuclear, na UFRJ (CNRMN/UFRJ). Ana Paula Valente
da estrutura de uma proteína pode-se balham com ressonância magnética (valente@cnrmn.bioqmed.ufrj.br), bacharel em Farmá-
entender mecanismos das reações nuclear de proteínas em solução: o cia e mestre em Ciências Biológicas (Biofísica) pela
UFRJ, doutora em Ciências Biológicas (Bioquímica)
biológicas e, assim, desenvolver novas Centro Nacional de Ressonância Mag-
pela USP, é docente do DBM/ICB/UFRJ e pesqui-
drogas que bloqueiem processos bio- nética Nuclear - CNRMN (http:// sadora do CNRMN/UFRJ.
lógicos indesejáveis. Diversas drogas cnrmn.bioqmed.ufrj.br) e o Laboratório
estão sendo desenvolvidas usando-se Nacional de Luz Síncroton - LNLS
essa metodologia, sendo que indús- (http://www.lnls.br). A Figura 7 mostra Para saber mais
trias farmacêuticas têm investido mi- a estrutura tridimensional da proteína CHAPMAN, J.R. (Ed.). Mass spec-
lhões de dólares montando centros de PSD1, uma proteína com atividade anti- trometry of proteins and peptides.
RMN para essa finalidade. fúngica, a primeira estrutura de uma Totowa: Humana Press, 2000.
Fundação Nobel: http://www.nobel.se
Uma outra aplicação importante da proteína totalmente resolvida no Brasil.
WÜTHTRICH, K. NMR of proteins and
técnica é na determinação dos chama- nucleic acids. Nova Iorque: John Wiley
dos proteomas estruturais. Hoje, 40% Nota
& Sons, 1986.
dos ORF obtidos da análise dos geno- 1. Na área de Bioquímica, comu-
Abstract: Mass Spectrometry and Multidimensional and Multinuclear NMR: Revolution in the Study of Biological Macromolecules - The Nobel Prize in Chemistry 2002 was awarded to chemist John B.
Fenn and to engineer Koichi Tanaka for the development of mass spectrometry for the analysis of biological macromolecules and to chemist Kurt Wüthrich for the development of multidimensional and
multinuclear nuclear magnetic resonance (NMR) for determining the three-dimensional structure of proteins. The contributions of these researchers made Biochemistry the “great science” of our times,
allowing the fast identification of proteins present in a sample in solution, as well as their three-dimensional structures.
Keywords: Nobel Prize, nuclear magnetic resonance, mass spectrometry, proteins, biological macromolecules

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