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APOSTILA 8: A renascença
Adaptado de:
CAPRA, Fritjof. A ciência de Leonardo da Vinci: um profundo mergulho na mente do grande gênio da Renascença. São
Paulo: Cultrix, 2008.
CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 2004.
GARBI, Gilberto G. A rainha das ciências: um passeio pelo maravilhoso mundo da matemática. São Paulo: Editora Livraria da
Física, 2007.
RONAN, Colin A. História ilustrada da ciência da Universidade de Cambridge, volume 3: da Renascença a Revolução
Científica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
O papel é considerado o principal suporte para divulgação das informações e conhecimento humano. Dados
históricos mostram que o papel foi muito difundido entre os árabes, e que foram eles os responsáveis pela instalação da
primeira fábrica de papel na cidade de Játiva, Espanha, em 1150 após a invasão da Península Ibérica. No final da Idade
Média, a importância do papel cresceu com a expansão do comércio europeu e tornou-se produto essencial para a
administração pública e para a divulgação literária. Johann Gutenberg inventou o processo de impressão com caracteres
móveis - a tipografia. Nascido, em 1397, da cidade de Mogúncia, Alemanha, trabalhava na Casa da Moeda onde
aprendeu a arte de trabalhos em metal. Em 1428, Gutenbergparte para Estrasburgo, onde fez as primeiras tentativa de
impressão.
A tipografia clássica baseia-se em pequenas peças de madeira ou metal com relevos de letras e símbolos — os tipos
móveis. Tipos rudimentares foram inventados inicialmente pelos chineses. Mas, no século XV, foram redescobertos, por
Johann Gutenberg, com a invenção da prensa tipográfica. A diferença entre os tipos chineses e os de Gutenberg é que
os primeiros não eram reutilizáveis. A reutilização dos mesmos tipos para compor diferentes textos mostrou-se eficaz e é
utilizada até aos dias de hoje, constituindo a base da imprensa durante muitos séculos. Essa revolução que deu início à
comunicação em massa, foi cunhada pelo teórico Marshall McLuhan como o início do “homem tipográfico”.
A Ilustração na Renascença
A Renascença viu surgir, no campo da arte, um novo dogma de teoria Martinho Lutero (1483-1546) mestre em
estética, segundo o qual uma obra de arte é uma representação direta e fiel filosofia, doutor em teologia e monge
dos fenômenos naturais. Essa concepção exigia que o artista se familiarizasse agostiniano.
com a estrutura e as propriedades físicas dos fenômenos naturais a fim de retratá-la objetivamente. Para tanto, era
necessário o conhecimento da perspectiva e da matemática, as quais propiciariam a obtenção da exatidão
representativa. A arte torna-se científica.
Biologia na Renascença
Albrecht Dürer nasceu em 1471 em Nurenberg (Alemanha) e foi a figura central da Renascença alemã. Estudou
com o seu pai, um ourives húngaro que emigrou para a Alemanha, e em 1486 começou a pintar. Tornou-se aprendiz do
pintor Michael Wolgumut com quem iniciou os seus trabalhos de gravura em madeira e cobre. Dürer inspirou-se nos
trabalhos dos pintores dos dois maiores centros artísticos europeus (Itália e Holanda), mas sendo muito mais inovador. A
partir de 1940 Dürer viajou bastante para estudar, passando nomeadamente por Itália e Antuérpia.
Dürer também estava convencido de que a nova arte da Renascença devia basear-se na ciência. Suas obras
artísticas envolviam proporção e disposição gráfica, revelando a ênfase que despendia à matemática. Por exemplo, com
relação à gravura Adão e Eva, Dürer descreveu intrincadas construções de régua e compasso que ele utilizou para
construir as figuras.
Em 1508, começa a coleccionar material para um dos maiores trabalhos na matemática e na sua aplicação à arte
e, posteriormente, em 1514, realiza uma das mais famosas gravuras: Melancolia. Na imagem, as faces do poliedro
aparentam consistir em dois triângulos equiláteros e seis pentágonos regulares. Há ainda um quadrado mágico que
Dürer introduziu no canto superior direito, o primeiro visto na Europa. Um quadrado mágico é um arranjo de números
inteiros, em linhas e colunas, de tal maneira que os números em cada linha, em cada coluna e em diagonal têm sempre
igual soma, a chamada soma mágica (na 1ª linha, 16 + 3 + 2 + 13 = 34; na 2ª coluna: 3 + 10 + 6 + 15 = 34; na diagonal:
16 + 10 + 7 + 1 = 34; e assim sucessivamente). O quadrado de Dürer tem ainda a particularidade de, por via simbólica,
através da asa do anjo, indicar a data em que a gravura foi executada: 1514, o conjunto dos quatro algarismos centrais
da última linha.
Seus livros versavam sobre questões técnicas: Instruções para medições à régua e compasso (1525), que
tratava da Matemática e das explicações necessárias para entender sua terceira obra; Tratados sobre fortificações
(1527), obra de referência da Arquitetura; Sobre a proporção do corpo humano (1528, publicado logo após sua morte),
que era baseado em sólidos princípios ópticos.
Em sua época, Düher conquistou prestígio por seus trabalhos com matemática e ótica e com suas pinturas e
desenhos. Com esta última atividade, conseguiu prestígio comercial, de modo que ganhou bastante dinheiro com a arte.
Suas composições que representam figuras botânicas e zoológicas apresentam precisão científica, uma tendência da
época, também observada nos trabalhos de Leonardo da Vinci. Dürer fazia parte da nova revolução científica dentro da
Renascença, que tinha como base a observação e interpretação científica dos elementos biológicos representados.
II. Principais Autores de Obras em Botânica
Leonhard Fuchs era também médico e luterano. Nasceu na Baviera (Alemanha). Até 1533 atuou como médico,
passando então a lecionar medicina na faculdade de Tübingen (Alemanha), onde passou os últimos trinta anos de sua
vida e faleceu, em 1566. Fuchs é lembrado pelo seu trabalho sobre ervas medicinais, intitulado A História Natural das
Plantas, uma obra ricamente ilustrada por Heinrich Füllmaurer e Albrecht Meyer. As xilogravuras (técnica de gravura na
qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte
adequado) foram feitas Rudolph Speckle. A História Natural das Plantas notabilizou-se por tentar estabelecer um sistema
de nomenclatura botânica. Além disso, o autor apresenta seu texto em ordem alfabética, o que facilita enormemente sua
consulta.
III. Principais Autores de Obras em Zoologia
Pierre Belon nasceu na França e recebeu instruções como farmacêutico como farmacêutico em Paris. Em
Wittenberg (Alemanha) conheceu o botânico Valerius Cordus, com o qual viajou pela Inglaterra. Em seu retorno a
França, tornou-se protegido do bispo Le Mans e conquistou um lugar na corte do rei Carlo IX, o qual concedeu-lhe uma
pensão do Estado. Em 1546, partiu para uma expedição científica, visitando a Grécia, Ásia Menor, Egito e Oriente Médio,
retornando em 1549. Com base em suas observações e ilustrações feitas durante a viagem, publicou três livros:
▬ A História Natural de Estranhos Peixes Marinhos (1551) – que contém a classificação de peixes e cetáceos
(golfinhos e baleias). Nesta obra ele reconheceu a presença de glândulas mamárias nos cetáceos, concluindo que
estava lidando com mamíferos que respiravam o ar atmosférico, apesar de habitarem os oceanos.
▬ Sobre a Vida Aquática (1553) – outro catálogo com descrição de animais marinhos.
▬ A História e a Natureza dos Pássaros (1555) – Livro que lhe conferiu maior fama. Nele, Belon fez um detalhado
estudo anatômico das aves, comparando-as com esqueletos humanos. Seu pioneirismo nesse campo lhe valeu o título
de “pai da anatomia comparada”.
Prancha comparando um esqueleto humano com o esqueleto de uma ave. Extraído de A História
e a Natureza dos Pássaros.
Guillaume Rondelet freqüentou a Universidade de Paris para estudar humanidades, mas não se adaptou a esse
campo, transferindo-se para a faculdade de medicina. Tornou-se um médico notável e foi professor de Medicina e
Anatomia na França. Seu grande interesse em Biologia Marinha teve como produto sua obra Livro dos Peixes
Marinhos publicado em 1554. No livro, Rondelet descreveu os sistemas respiratório, digestivo e reprodutivo dos animais
estudados e tentou relacionar função com ambiente. Foi o primeiro a descrever a bexiga natatória dos peixes. Seu livro
contém descrições de mais de trezentas espécies de organismos aquáticos (desde equinodermos, como o ouriço, até
mamíferos, como o golfinho), sendo a maior parte delas ilustradas.
IV. Ciência Médica
André Vesálio nasceu em Bruxelas (Bélgica). No período de 1528 a 1533, estudou na Universidade de Louvain
(Bélgica), onde recebeu sólidas bases de latim e, possivelmente, algumas noções de grego, e deu continuidade à leitura,
iniciada em casa, das obras científicas dos escritores medievais.
Em 1533, Vesálio transferiu-se para a Faculdade de Medicina de Paris, onde dedicou particular atenção à
anatomia. Após permanecer aproximadamente três anos em Paris, Vesálio deixou a Escola de Medicina sem se graduar
e retornou a Louvain. A causa de sua partida foi a eclosão da guerra entre a França e o Sacro Império Romano
Germânico.
Após completar seu bacharelado em Louvain, Vesálio se dirigiu em 1535 à Universidade Pádua (Itália), a mais
imponente faculdade de medicina da época, que também atuava como centro da renascença científica, destacando-se
ainda nas artes, na literatura e na filosofia.
Em Pádua, recebeu o título de doutor e assumiu o posto de assistente em cirurgia e anatomia. Vesálio conduzia
dissecções para ensinar anatomia aos estudantes da Universidade. Dissecava tanto corpos de animais como de
humanos. Em 1539, foi auxiliado por Marcantonio Contarini, juiz da corte criminal de Pádua, que lhe colocava a
disposição os corpos dos criminosos executados.
Em 1543, publicou A Organização do Corpo Humano, uma obra que contou com a colaboração dos melhores
desenhistas e xilógrafos e que se tornou modelo do que havia de melhor na produção de livros da Renascença. O livro
abrange sete seções: a primeira refere-se a ossos e articulações, a segunda trata de músculos e é a seção mais famosa
por suas ilustrações, a terceira menciona o coração e o sistema circulatório, a quarta abrange os nervos, a quinta refere-
se aos órgãos abdominais, a sexta inclui os órgãos torácicos e a sétima Seção descreve o cérebro e mostra partes
jamais descritas. A Organização do Corpo Humano representa um dos mais notáveis livros científicos escritos e
certamente constituiu um marco no nosso conhecimento do corpo humano.
Uma lição de anatomia de André Vesálio em Pádua. O professor faz conferência enquanto o
assistente demonstra o que está sendo descrito. Frontispício do livro A Organização do
Corpo Humano.
2. Gabriele Falópio (1523-1562)
● Estudou medicina em Ferrara (Itália) e se tornou professor de anatomia naquela cidade e, posteriormente, em
Pisa e em Pádua, onde trabalhou com André Vesálio.
● Falópio escreveu em 1561 a obra Observações anatômicas, na qual corrige alguns erros presentes em A
Organização do Corpo Humano, e descreve o aparelho reprodutor e o desenvolvimento do feto. A denominação trompas
de Falópio, que refere-se aos canais que ligam os ovários ao útero, é uma homenagem a esse autor, o qual descobriu
essa estrutura.
● Descreveu uma estrutura desconhecida do ouvido médio, que o conecta a faringe e que atualmente é conhecida
como trompa de Eustáquio.
Ao oferecer seus serviços de projetista de armas e engenheiro para a corte de Sforza (de Milão) e ser recusado,
Leonardo percebeu que a ausência de educação formal havia se tornado para ele uma desvantagem. Iniciou então seu
extenso programa autodidático. Tentou ampliar seu vocabulário latino (o italiano não era uma língua literária e Leonardo
inicialmente não sabia latim). Começou a formar uma biblioteca pessoal (que chegou a conter cerca de 200 livros, um
número razoável para um erudito da Renascença). Os assuntos de seus livros incluíam matemática, astronomia,
anatomia e medicina, história natural, geografia e geologia, bem como arquitetura e ciência militar.
Com a reputação com pintor e a influência de amigos que conquistou Leonardo conseguiu aceitação gradual na
corte, passando a receber encomendas (entre elas uma escultura de um cavalo e A última ceia).
Leonardo foi fundador de muitas idéias científicas modernas. A história da ciência poderia ter sido diferente se sua
trabalhos fossem encontrados e estudados logo após sua morte.
• Projetos arquitetônicos: Leonardo produziu diversos projetos para vilas, palácios, templos e catedrais. Como
projetista, Leonardo empregava técnicas inovadoras que não existiam em seu tempo. Trabalhou em projetos de
canalização, irrigação, drenagem de pântanos e uso da força hidráulica para bombeamento e moagem.
Da Vinci não publicou e nem distribuiu os conteúdos de seus cadernos. A maioria dos estudiosos acredita que
Leonardo quis publicar os cadernos e fazer com que as sua observações fossem de conhecimento público. Eles
permaneceram obscuros até o século XIX. Leonardo da Vinci foi certamente um homem da ciência, mas, em sua época,
esse aspecto era desconhecido, exceto talvez por alguns íntimos. Em geral, ele era conhecido como mecânico e como
artista e sua ciência só foi compreendida muito após a sua morte. Certamente foi opção sua porque embora não tivesse
intrução formal, a invenção da imprensa estava disponível e ele poderia tê-la utilizado para divulgar seus trabalhos.
Talvez ele o tenha estudado e contemplado para os seus próprios benefícios.