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© 2015, by Casal Sem Vergonha

Título: Melhores textos dos colunistas do Casal Sem Vergonha

Gerente Editorial: Jaqueline Barbosa e Emerson Viegas

Projeto Gráfico: Emerson Viegas

Diagramação: Emerson Viegas

Revisão: Jaqueline Barbosa

Capa: Emerson Viegas

2015
Todos os direitos desse ebook são reservados. Nenhuma parte dessa
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Índice

Como tudo começou 6

Ricardo Coiro 8

Quando o outro é seu melhor programa

Aquela coisa chamada saudade

Só macho beta tem medo de mulher alfa

Daniel Bovolento 15
Case-se com um homem que

Faça amor, não faça a barba

Traição não é ir embora. É ficar por pena.

Bruna Grotti 20

Não posso ser a mulher da sua vida, porque já sou a mulher da minha

Sobre Relacionamentos Na Era do Exibicionismo - Amor de

Verdade Precisa de Provas Públicas?

Laís Montagnana 25

Procura-se um amor que goste de chupar

Bad timing: quando a pessoa certa chega na hora errada

Porque Amor de Verdade Não Pode Ser Limpinho


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Danielle Daidan 30

Case-Se Com Uma Mulher Que...

Por um mundo com menos “a gente se vê” e mais


“abre a porta que cheguei”

O amor de verdade se mede em como você trata o seu


amor quando não precisa mais conquistá-lo

Priscila Nicolielo 36

Sofrimento: Você Cospe ou Engole?

Era pra somar, ele sumiu: como agir quando a


pessoa com quem você está ficando desaparece

Cola Em Mim: Uma Crônica Sobre Homens Grudentos

Nathalí Macedo 41

Ele só quer te comer: porque esse discurso não deveria incomodar

10 coisas que valem muito mais do que uma aliança

Diz que ama ser solteira, mas chora sozinha de noite querendo
um amor de verdade

Lucas Baranyi 47

Mulher que é mulher tem celulite, homem que é homem não repara

A arte de se reapaixonar pela mesma pessoa: praticamos

Porque ser dama na rua e puta na cama não faz sentido

4
Daniel Braz 54

O amor da sua vida desceu na outra estação

É preciso coragem para ser um casal em tempos


de pegação desenfreada

Juntando as escovas de dente: por que (ou por que não) morar junto?

Vana Medeiros 60

Nós Aceitamos o Amor que Achamos que Merecemos

Conselho aos desesperados por um par: continuem sozinhos

Uma Geração de Covardes e Traidores

Hugo Rodrigues 65

O sonho da mulher dos seus sonhos

O amor é rotina que não cansa

Qualquer motivo pra você ficar

Fred Mattos 69

Os poderes da arte de rir do outro (e de si mesmo)

A verdade por trás do “ele não era pra você”

Da próxima vez em que disser “Ele só quer me comer”, lembre-se disso

Para terminar 74

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Como tudo começou

No remoto ano de 2011, nascia o site que viria a ser o maior veículo
brasileiro focado em relacionamentos e sexualidade - o Casal Sem
Vergonha.

O projeto nasceu da nossa vontade de criar um veículo que falasse sobre


esses temas sem a abordagem clichê com a qual as pessoas estavam
acostumadas. Nos incomodávamos muito com a forma na qual temas do
universo de amor e sexo eram tratados pela mídia: sempre com
muitos tabus, poucas verdades e muitos estigmas que precisavam ser
desbancados o quanto antes.

Hoje, quatro anos depois da criação do projeto, atingimos a marca de


7 milhões de leitores todo mês, que chegam até nós em busca de
conteúdo diário de qualidade e que não menospreze a inteligência
das pessoas.

Aliás, esse é um dos motivos pelo qual nosso público é tão fiel: nos
mantivemos firmes ao nosso propósito inicial que era realmente impactar
a vida das pessoas e ajudá-las a serem mais felizes no sexo e nos
relacionamentos. E, de acordo com os feebbacks diários que recebemos
dos leitores, temos conseguido cumprir a nossa missão.

Com o passar o tempo, decidimos também abrir espaço no site para


que outras pessoas pudessem contribuir com suas opiniões e pontos de
vista. Criamos assim uma iniciativa inovadora na internet: uma seleção de
colunistas que teve inscrições do Brasil inteiro. Depois dela, outras duas
seleções aconteceram, e no total tivemos a impressionante soma de 5
mil inscritos em busca de vagas para escrever e se comunicar com os
leitores do Casal Sem Vergonha.

Essa iniciativa fez com que descobríssemos vários talentos. Alguns deles
não escreviam antes, mas despertaram a paixão pela escrita através da
colaboração com o Casal Sem Vergonha. Outros já tinham o sonho de
brilhar nessa área, mas não tinham tido a chance de expor seu trabalho
para o mundo. Hoje temos muito orgulho em saber que fomos o primeiro
veículo a identificar muitos desses talentos e apostar no trabalho deles.
6
Nossa maior recompensa é vê-los brilhando e indo cada vez mais longe.

Com o passar do tempo, outros colunistas também foram chegando e


se unindo ao time. Formamos então, ao longo desses quatro anos, uma
comunidade de colunistas incríveis, cada qual com seu perfil e pontos
de vista. Essa soma fortaleceu ainda mais o site Casal Sem Vergonha e
contribuiu para que nos tornássemos uma referência em conteúdos sobre
amor e sexo no Brasil.

Por isso, decidimos unir os artigos mais matadores dos colunistas do site
aqui nesse livro, para que você possa reler os seus textos favoritos ou
conhecer (e se apaixonar!) pelo trabalho de outros escritores que talvez
você não conheça tanto. Difícil mesmo foi escolher quais foram os
melhores textos de cada um para chegar nessa coletânea. Mas
conseguimos.

Esperamos que curta tanto esse livro quanto curtimos produzi-lo.

Deixamos aqui nosso agradecimento aos nossos queridos colunistas que


tanto somaram ao nosso trabalho ao longo esses anos. E também a você
leitor, por nos dar o prazer da sua companhia fiel durante esse tempo
todo.

Um beijo,
Jaque e Eme

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Quando o outro é seu melhor programa

Ontem, após o Nespresso duplo de cada dia, eu ouvi, pela primeira vez, a
música Mais Ninguém, gravada pela recém-formada Banda do Mar
(grupo musical que conta com o Marcelo Camelo e com a Mallu
Magalhães, entre outros músicos).Além de ter curtido o som, graças à
mensagem gostosa que transborda da música, senti-me impelido a
escrever sobre uma coisa que, em minha opinião, figura entre as
principais responsáveis pela duração de longas relações amorosas: a
capacidade de encontrar no parceiro todos os elementos necessários
para se distrair por longos períodos de tempo, mesmo quando estiver
em locais desprovidos de outras fontes de entretenimento.

Conheço casais que parecem achar graça apenas em programas que


envolvem outros casais, música ao vivo, alta gastronomia e paisagens
que dispensam filtros no Instagram. São pares formados por pessoas
que não conseguem enxergar, no próprio parceiro, o suficiente para que,
vez ou outra, os complementos não sejam necessários para tornar um
programa a dois memorável. Gente que corre o risco de morrer de tédio
quando precisa passar a noite toda, só com o parceiro, bebendo sobre a
sarjeta. Gente infeliz, de acordo com a minha ótica.

Eu já tive um caso - felizmente breve - com uma moça que parecia


precisar de mil coisas além de mim para achar que um programa era bom
o suficiente para motivá-la a tirar um vestido limpo do armário. E, talvez, o
culpado tenha sido eu e meu papo enfadonho, vai saber. Mas que eu sei,
de fato, é que nossos diálogos eram mais ou menos assim:

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- Mari (nome fictício), vamos fazer algo na sexta?

- O quê?

- Ficar juntos, que tal?

- Eu, você e quem mais?

- Eu e você! Não está bom?

- Podemos chamar o Rafa e a Fê, o que acha?

- Pode ser.

- E o que você quer fazer?

- Vamos tomar uma cerveja gelada?

- Onde?

- No amarelinho?

- Lá é muito sem graça. Só tem porções, bebidas e mesinhas!

- Ué, mas não é disso que um bar precisa para ser considerado um bar?

- Vou procurar algo na internet...

Vinte minutos depois

- Achei um lugar bem legal, é um bar no qual os clientes têm direito a fritar
a própria porção de batatas e a inventar os drinks que desejam beber. E
não para por aí: lá existe um telão que vive a transmitir desenhos antigos;
e se o cliente, na hora de pedir a conta, acertar o nome de mais de três
personagens de algum dos desenhos transmitidos na noite, ele concorre,
automaticamente, a camisetas geniais. Legal, né?

- Vamos lá então!

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- Fechou! O que acha de levarmos o War para nos distrair um pouco caso
tenha fila de espera?

Muitos de vocês, neste exato momento, devem estar defendendo a moça


do diálogo acima e, por desconhecerem o resto da história,
provavelmente dirão que ela só estava à procura de cerejas para
incrementar a nossa relação. Eu até concordaria com vocês caso ela não
tivesse agido de maneira parecida à descrita no diálogo inúmeras outras
vezes e se ela não tivesse feito cara de “que programa de índio, mate-me,
por favor!” sempre que estávamos a sós em algum local sem pirotecnias,
Dalí original pendurado em alguma parede e porções temperadas com
azeite trufado.

Porém, graças à namorada que eu tenho hoje - aquela que se mostra


feliz por estar ao meu lado mesmo quando não há nada além de nós, que
manteve o sorriso no rosto até mesmo quando nos vimos condenados a
comer pão com cream cheese em plena ceia de Natal e que acha
ótimo quando varamos a noite apenas papeando - eu finalmente entendi
a enorme diferença entre “ter uma companhia vazia” e “ter uma
companhia para suportar qualquer vazio”. Ainda não sabe em qual das
categorias anteriores o seu parceiro se enquadra? Simples: tranque-se
com ele, por algumas horas, em um quarto vazio, sem televisão ou
qualquer outro tipo de distração. Se o tempo que passarem por lá
parecer uma espécie de tortura, desista; porém, se a experiência for boa,
saiba que você está ao lado do cara certo e que qualquer complemento
(de rafting ao molho barbecue) que optarem por incluir entre vocês, só
somará, mas nunca se tornará essencial a ponto de colocar o amor de
vocês em cheque caso seja removido ou esteja em falta no mercado.

A namorada parceira, de verdade, é aquela que sorri quando é convidada


para não fazer nada, só com você. E sabe o que fará com que ela diga
“sim” ao seu convite? Você!

Quando estamos com alguém que amamos de verdade, até fila uma de
banco quilométrica pode se tornar um local especial.

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Aquela coisa chamada saudade

Nada nesse mundo tem mais toneladas do que a saudade, nada.


Saudade é uma dor imensurável e sufocante presente em cada hiato.
É sentimento abstrato que esmaga o peito como se fosse concreto. A
saudade é a vírgula quilométrica enraizada entre dois pontos, dos muitos
textos que a vida infelizmente pausa por falta de prosa e até pelo excesso
de rosas.Saudade afia os ponteiros do relógio, transforma poucas horas
em cortes profundos, dominados por flashbacks com ardor de álcool
cuspido sobre ferida aberta, aparentemente incicatrizável. A saudade nos
afoga com as águas calmas do passado, desfoca o presente e congela o
futuro como faz o frio polar de uma nevasca.

A saudade transforma qualquer música em motivo para pensar


naquilo que partiu dentro de um avião, que nunca deveria decolar, nem
por decreto do Papa. Saudade é emoção indivisível, razão incontestável
para relembrar o gosto inesquecível daquela pessoa que mudou nossos
passos, gestos e hoje, infelizmente nos considera gasto, empoeirado. A
saudade é a sombra maldita que não precisa da luz solar para nos seguir
por cada calçada da vida. Ela repousa num banco de passageiros vazio,
dorme em nossa insônia, esconde-se nos presentes que prendemos em
caixas lacradas, blindadas pelo medo de encarar as memórias boas.

Ela transforma comercial de televisão em lágrimas reais, faz homem


barbado virar menino ansioso em dia de natal, como um cachorro que
espera o dono todo dia ao pé da porta, mesmo que esse nunca mais
volte pra casa. A saudade enlouquece, embriaga, faz o mundo todo ter
uma só cara e nenhuma cura. A saudade é um bar que já saiu rotina, um
prato de risoto que foi comido antes do gozo, um beijo único no meio do
olho. É o medo de perder uma peça em meio à multidão e nunca mais
encontrar outro alguém que encaixe tão bem nesse quebra-cabeça.
Saudade é temer a vinda do novo e teimar em achar que o velho sempre
será a melhor parte dessa obra de arte, chamada vida.

A verdade nua e crua é que ninguém nesse palco real está imune ao
pesar da saudade, a dor latejante das inevitáveis partidas e aos
planejamentos que talvez permaneçam inacabados até o fim da vida,
esquecidos numa lista eternamente guardada no fundo da gaveta, mas
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nunca jogada fora. Desconheço alguém nesse universo grandioso que
não tenha perdido o chão, a cabeça, a pose e até mesmo a sanidade
quando deu de cara com esse tal sentimento com aparência de muralha
intransponível e cheiro de fotos velhas. Não existe colete à prova de
saudade, nem formas de blindar nossa vida dos estilhaços daquilo que
vai e nem sempre volta.

Sendo bem sincero, existem sim algumas dicas para quem não quer
esbarrar com a saudade: recuse toda e qualquer alegria que te faça
gargalhar até sentir dor nos músculos da barriga, nunca se envolva com
pessoas capazes de colorir teus dias mais cinzas e chuvosos, coma tudo
sem sal e sem tempero, não viaje, não saia de baixo do edredom por
nada, não beije nem na bochecha, não faça sexo e em hipótese alguma
conheça seus avós se a vida lhe der essa oportunidade imperdível.

Não sei vocês ilustres leitores, mas eu prefiro carregar essas mil
toneladas de saudade, ainda que em meio a lágrimas e memórias
martelantes, pois só assim terei a certeza que estou vivo de verdade, sem
talvez, nem porém. Afinal, saudade é corpo de delito das coisas boas da
vida.

Só macho beta tem medo de mulher alfa

Machos do meu Brasil, do mundo e de Marte, afivelem bem os cintos,


pois a mulher alfa acaba de assumir o volante de vez. Esse exemplar de
fêmea Mega Power² não aceita ter uma bunda gostosa que só serve para
rebolar, muito menos quer ostentar nádegas eternamente passivas,
destinadas sempre ao banco de passageiros.Ela agora está no controle.
Pilota sem medo um conversível furioso, passando rímel enquanto faz
uma baliza perfeita. Quebra todos os limites impostos pelo machismo de
museu e, com toda certeza, não pisará no freio, mesmo que o Vin Diesel,
aos prantos e aterrorizado, peça para sair.

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Ela possui um poder notável, capaz de fazer o Capitão Nascimento
parecer um mero usuário de fraldas. Ela transpira rios de segurança, mas
nem por isso borra um milímetro sequer da maquiagem feita com a
maestria de um pintor renascentista, enquanto simultaneamente
amamenta gêmeos, lê o jornal do dia, joga sinuca e ainda planeja dominar
o mundo. Sim, as mulheres alfa um dia farão com que a Terra seja
conhecida como “planeta rosa”, ao invés de planeta azul.

A mulher alfa gosta dos homens, claro que gosta, mas aprendeu muito
bem a não depender deles, para nada. Elas trocam pneu sem descer do
salto. Abrem o vidro de azeitona com a ajuda de tutoriais científicos do
YouTube. Criam técnicas femininas para sobrevivência na selva, sendo
capazes de quebrar cocos com o auxílio do salto agulha e de fazer fogo
utilizando apenas um laquê. Sem contar que elas geralmente dominam as
mais cruéis modalidades de defesa pessoal e, ao menor sinal de ameaça,
extinguem testículos com a mesma facilidade de quem estoura um
plástico bolha.

Elas chegaram lá, no topo da aparentemente imutável cadeia alimentar


e, para isso, não precisaram injetar nem uma gota de testosterona nas
veias. Nem mesmo recorreram aos bigodes postiços ou tiveram que
prender o cabelo e escondê-lo dentro da cartola. As mulheres alfa
assumiram a presidência, a direção, os campos de futebol, os ringues e
qualquer lugar antes só destinado aos homens, mas nunca, por nada,
abriram mão daquela feminilidade que tanto amamos.

Hoje elas tomam uísque sem gelo, mas nem por isso deixaram de se
derreter quando se deparam com um filhotinho de labrador. Hoje, elas
seguram firme a rédea de uma empresa multinacional, mas lindamente
não conseguem segurar as lágrimas quando o mocinho, enfim, pede a
mocinha em casamento no cinema. Hoje, elas não têm o menor medo de
lutar com unhas e dentes por direitos iguais, mas felizmente, ainda pulam
em nosso colo e nos agarram forte quando encontram uma barata, um
grilo, um rato, um morcego, um besouro, uma formiga ou até uma
mariposa. Não porque precisam - apenas porque querem.

Vejo muitos homens dizendo por aí que ainda preferem as mulheres


submissas, dessas quase escravas. Barbados que vivem defendendo o

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retrocesso e a volta das mulheres de Atenas, que viviam, secavam e
morriam pelos maridos. Na minha humilde opinião, tais homens só
gostam dessas “Amélias”, pois só ao lado delas conseguem fingir que
são machos alfa e líderes de alguma coisa, quando na verdade eles não
passam de homens Zeta, lotados de insegurança e frustrações. Eternos
bundões que nunca conseguiram nem o cargo de chefe dos escoteiros
e que passaram a vida toda sofrendo pela desobediência do próprio
cachorro.

Eu não quero uma mulher que dependa de mim, não preciso disso para
fingir que sou superior a alguma coisa. Eu quero mesmo é admirar a
mulher que estiver ao meu lado, ou à minha frente, por que não? Quero
aprender com ela também, não apenas ensinar. Quero olhar nos olhos
dela, enquanto ela me conta como foi o dia e pensar: “Caralho, como é
que ela é capaz de fazer tudo isso e ainda consegue me fazer tão feliz?”.

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Case-se com um homem que

Case-se com um homem que deite no seu colo, de um jeito meio largado, meio
descompensado, meio de quem pede ajuda porque o chefe é um mala e as
coisas só dão certo porque ele tem você no fim do dia. Não escolha alguém
que faz tudo por você, que vive por você, que atende todos os seus caprichos.
Sabe por quê?Porque um cara desses deixaria de ser dele pra ser seu, se
esqueceria da vida dele pra viver a sua e, cá entre nós, você quer somar, não é?
Ou quer alguém que viva por você, não com você? Por isso mesmo é que você
deve se casar com alguém que traga um novo mundo pra juntar ao seu e que
te mostre como os seus planetas ainda podem ser desalinhados de uma forma
bonita.

Case-se com um homem que te desperte. Da cama, do medo, dos pesadelos.


Que te beije na testa com ternura e faça cafuné, mesmo sabendo que você
odeia que enrolem o seu cabelo. Um homem desses que despenteiam,
desses que deixam uma bagunça gostosa no meio campo. Queira um homem,
um cara, um rapaz, seja lá o seu termo preferido, que tenha um olhar que não te
atravesse. Alguém que vai olhar pra você e ver quem você é, sem construções
idealizadas ou suposições construídas na fantasia. Sem olhares que atravessam
e se desviam, que não encontram os seus olhos e caminham pelo seu corpo.
Escolha os olhos daquele que sustenta o mundo quando te olha. Ele tem que
ser forte, e talvez a força dele seja essa de te ajudar a dividir o peso do mundo
nas costas, de te ligar no almoço pra dizer que te ama e que nunca se
esqueceu de ti.

Queira um cara que vá se emocionar quando vê-la entrando na igreja. E que se


emocione com você de pijama acordando. Que te ache linda independente do
seu manequim e que se orgulhe de você pelas suas conquistas do dia a dia, até
aquelas pequenininhas como conseguir passar do primeiro dia da dieta.
Case-se com um homem que vá rir de você quando você fizer um
escândalo por ter quebrado a unha ou por ter furado o dedo pregando um

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quadro na parede. Ele tem que ser do tipo que sabe que você não precisa dele,
e por isso mesmo que fica. Fica e vai ficando, vai se alojando no sofá, vai
deixando a escova de dentes e quando você for ver, ele vai ter aprendido
alguma receita no Google pra tentar te impressionar. Valorize um homem pelo
esforço dele, não só pelo resultado final. Você vai perceber que um homem que
se esforça pra te ver feliz é um homem que vale mais do que qualquer
encantado que a Disney tentou te vender como homem perfeito. Desconfie de
um cara sem defeitos. E aprenda: tipos perfeitos como os dos livros infantis não
existem. O que existe são homens que, ao seu modo, conquistam você e fazem
pender a balança pro lado das qualidades, enquanto você aprende a lidar com
os defeitos.

Deseje um guri que seja louco. Não por você, mas pela vida. Gente louca pela
vida gosta de explorar o mundo, a cidade, a rua de cima, o novo restaurante
japonês da Liberdade e tudo mais. Gente que é louca pela vida entende bem de
liberdade, companheirismo, amizade e todos esses sentimentos que só quem
gosta de viver entende. Além disso, te garanto que gente assim tem um ótimo
papo. Daqueles que não contam vantagem e ainda desenham na sua cabeça
as cenas todas que alguém com muita paixão já viveu. Daqueles que fazem
você se apaixonar sempre que falam da forma com que o mundo deles mudou
desde que você chegou.

Por fim, mas não menos importante, case-se com um homem que te ame em
detalhes. Nos cartões das flores, na careta da selfie, na camisa cafona que a
sua mãe deu de presente, na vez em que ele percebeu que você tinha cortado
o cabelo antes de você falar, nos pedidos de comida às duas da madrugada
quando ele percebe que você tá morrendo de fome e cagou pra dieta, no
anti-alérgico que ele carrega na carteira caso você precise. Case-se com quem
te faça sentir que esse texto é pouco pra falar dele e te faça vontade de
continuar a escrevê-lo, mesmo que você não seja lá muito boa com palavras,
mesmo que você só saiba definir o que sente por ele como amor.

Faça amor, não faça a barba


Nove entre dez mulheres me contam diariamente nas redes sociais que é dos
barbudos que elas gostam mais. Ao redor do mundo, um bando de (duvidosas)

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pesquisas induzem ao pensamento de que os pelos são o crachá de sex appeal
que todo homem gostaria de ter. Afinal de contas, o que uma barba tem de tão
especial que a torne mais importante do que o homem que a use?

Arrisquei perguntar às mulheres que me rodeiam sobre o efeito da barba na vida


delas. Resposta: elas não sabem, mas acham sexy. Hashtag faça-amor-não-
faça-barba. Talvez seja aquela máxima de que a barba torna o homem mais
gutural, mais primitivo e mais macho-com-ar-de-quem-nasceu-pra-realizar-to-
dos-os-seus-desejos. Um objeto decorativo que combina charme e estilo, além
de um quê de me-joga-na-parede-e-me-faz-suar. O mais interessante é que
consideram que qualquer sujeito, ainda que não seja um Brad Pitt da vida, fica
mais boa-pinta com uma boa relva.

O atrito da barba pode ser útil pra provocar sensações na pele delas. Dessas
que se desfazem em gemidos pelo pescoço. Serve pra provocar uma pulsação
ritmada e o arrepio leve independente da barba feita, malfeita ou desfeita.
Também serve de conforto pra mulherada repousar a mão e acariciar – ainda
que a analogia óbvia do momento seria o carinho que ela faz num cachorrinho.
E mal sabem elas como relaxa a gente um afago no queixo barbado. Barba é
acompanhamento pra autoestima do homem. Depois de tantos bons elogios,
usar barba é elevar a imagem por alguns andares. Só que a coisa vai além da
estética e parece povoar o imaginário feminino com referências que precisam
ser alcançadas, caso contrário, a frustração é certa. Ou você acha que
Amarante e Camelo são homens-barba-pra-serem-olhados?

Tá aí um problema nisso tudo: a expectativa que elas têm. Meio que indica
maturidade, meio que parece que a gente tem alguma coisa de especial
quando pode ter nada. Eis o problema em confundir a barba com o barbudo.
Nessas horas bate uma vontade de dizer pra aquelas pesquisas todas que
são feitas todos os anos que elas desconsideram personalidade e consideram
apenas o símbolo sexual isolado. Barba sozinha seria nojenta, tipo os pelos que
ficam no sabonete ou largados perto do ralo e que elas tanto reclamam. Pode
ter um revés azarento também: vai que a guria tem alergia ao roçar dos seus
pelos no pescoço dela? Daí danou-se.

Mas ainda assim, barba é o que elas querem. E aos amigos-de-queixo-careca,


eu deixo as minhas condolências. Mesmo que uma boa pele de bebê possa
revelar um rosto mais bonito, menos marcado, mais iluminado e blá, blá, blá,
a gente acha que tá na frente da disputa. A gente, sim - me incluo no time
dos barbados de plantão. Que me permitam o erro burro da generalização,
mas é quase um fato comprovado que toda mulher adoraria ter um barbudo
pra chamar de seu (e rezemos pra que elas queiram conhecer além da barba
também). E a gente se aproveita dessa onda misteriosa pela busca da barba

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perfeita e faz a festa. Deixa até de se achar sujo e “parecido com um mendigo”,
como diriam nossas mães – e parece que não consideram a opinião das mães
nessas pesquisas sobre barba. Sorte a nossa.

Traição não é ir embora. É ficar por pena.

Pode me chamar de filho da puta. Pode pensar em me chamar de todos os


palavrões que aprendeu na escola e fora dela. Pode gritar, espernear, fazer com
que todas as suas amigas me achem um grande imbecil-canalha-idiota-bro-
cha-insensível e tudo o mais que vier à mente. Você pode jogar as minhas cois-
as da janela e deixar os carros passando por cima das minhas roupas.Mas isso
não vai mudar o fato de que acabou. Não vai mudar o fato de que nós dois não
somos mais “nós”. Que a gente foi e foi pra sempre mesmo. Mesmo que
sempre seja uma palavra tão pontual que devamos evitar como o tal do nunca.

É o que todo mundo faz. No final, é comum que a gente tenha essa separação
– de bens e de perspectivas – quando olha pro rosto de quem tá dando adeus.
Salvo exceções (dos crápulas e babacas que você já encontrou por aí), a
maioria não merece ser violentada assim. Com tanto rancor.

A vitimização é um processo comum pra acalmar a dor. Ela exige que a gente
dê um tapa na cara do outro sem luvas. Que é pra esbofetear e deixar alguma
marca. Porque, no fundo, a gente acha que não é justo. Ainda mais se a outra
pessoa se for sem que a gente queira. Então é a medida compensatória que a
gente acha pra dar conta. Coração palpitante e a raiva que vem pra passar por
cima da tal tristeza. A gente precisa infringir algum tipo de dor ao outro pra se
sentir melhor. A gente precisa manchar um pouco a imagem de quem tá indo,
pra gente arrumar alguma desculpa ou falha de caráter – do outro – que
justifique o término, o abandono, a superação rápida, o desalento e todas essas
pontas soltas que nos deixam sem saber como reagir.

Por isso eu entendo. Entendo você e entendo outros milhares que caminham de
cabeças baixas e olhos agressivos por aí.

Não é porque eu terminei com você que eu seja o maior filho da puta da história
do mundo. Não é porque eu resolvi tirar as coisas de casa e dar uma volta pelo

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mundo que o inferno agora sou eu – ou os outros. Mas a falta tenta arrumar
justificativa pra ficar. Senão seria tudo muito bem resolvido num tchau e benção.
Daí a tal síndrome de Tom e Summer. Você com uns tons a menos de voz de
tanto se esgoelar pra falar mal de mim, e eu sumo. Naquela velha dicotomia de
mocinho e vilão, sabe? Parece que o mundo precisa sempre definir um lado
bom e um lado mau da coisa.

Então pode me chamar de filho da puta. Assumo a culpa inexistente se isso


fizer você se sentir melhor. Mas não existe razão pra isso, meu bem. Eu fui –
como você poderia ter ido e como muita gente se vai – e o mundo continua.
Não tem motivo pra ficar brava comigo nem pra transformar essa dor toda em
acusação. O amor verdadeiro está na renúncia e eu renuncio de você em
respeito a tudo o que vivemos. Que existiu, que foi lindo, mas que - como tudo
na vida - teve um fim. Dizer que não deu certo seria blasfêmia, deu sim, certo
demais, mas acabou. Como um filme bom que toca a gente mas acaba. Ou
como livro que a gente tenta em vão ler devagar pro fim não chegar. Eu me
detestaria se continuasse aqui por pena. Seria uma traição comigo e com você.
Eu vou e eles também se foram um dia desses. Porque o lado triste do amor é
que alguém sempre vai – e aposto que algum dia você vai também.

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Somos Tão Jovens - uma crônica sobre a
dor e a delícia de amadurecer

Acabei de receber um convite para um chá-bar. Despretensioso, por e-mail,


com um layout moderninho. Só gente boa na lista de convidados, gente com
muito amor pra dar e pra receber. Mas preciso desabafar: aquilo soou um
pouco assustador pra mim. Poderia ser apenas uma boa oportunidade para
rever bons amigos e tomar bons drinks, mas arrisco dizer que não é. Não que
eu seja adepta daquela historinha sem graça de “mimimi, perdemos mais um
guerreiro para o time dos casados”. Quero mesmo é que todo mundo seja feliz
nessa vida da maneira como convier: a um, a dois, a três ou de quatro. E pode
até ser que eu esteja fazendo tempestade em copo d’água, mas pra mim, por
enquanto, a verdade é tão somente essa: perdemos mais um guerreiro. Não
para o time dos casados – afinal, o que é o casamento senão um contrato
social para firmar algo que já existe há certo tempo? –, mas para um time muito
mais experiente e bom de bola. Um time que não leva desaforo pra casa e que
não tem tempo a perder: o tão temido time dos adultos.

Dramática, eu? Com todo o prazer da minha ascendência grega. Mas antes isso
fosse apenas um simples surto de drama. Há duas semanas, eu fui ao quarto
casamento de uma amiga no período de um ano – o que dá, em média, um
casamento a cada três meses. E há três, me vi passeando por entre estandes
de roupa infantil na Benedito Calixto para comprar uma roupa para o filhinho de
um casal de amigos. Na minha timeline do Facebook, que antes era composta
quase que exclusivamente por vídeos de bandinhas hipsters que me dão no
saco que eu nem tenho ou por protestos políticos dessa gentinha de esquerda
(como vocês costumeiramente se referem a mim), agora vejo uma enxurrada
de conhecidas grávidas e uma avalanche de amigos postando fotos de bebês
que, se fosse há dois anos, seriam meros sobrinhos, priminhos ou irmãozinhos
temporãos. Mas que hoje, são filhos. F-I-L-H-O-S. Fabricados por aquele
processo delicioso que a gente costuma chamar de sexo. Enquanto eu só faço
pra brincar, tem gente fazendo pra valer. É. Parece que a realidade me bate à

20
porta. E acho que já tá na hora de abrir.

Que atire a primeira pedra quem nunca foi minimamente acometido pela tão
condenada síndrome de Peter Pan. Não necessariamente estou falando, cara,
de ser, cara, um integrante, cara, de uma banda de rock, cara, brasileira dos
anos 80, cara. Nem de se recusar a assumir um novo posto profissional com
medo das responsabilidades. Mas, sim, daquela vontade angustiante de gritar
ao maquinista do mundo: PARA, QUE EU QUERO DESCER. Ou volta 20
estações, que eu quero retornar à minha infância. Quero colinho de mãe, quero
leite quente com bolacha Passatempo no café da manhã. Quero subir numa
bicicleta e pedalar sem rumo pela estrada de terra, quero cair e ralar os
joelhos só para sentir o ardor do Merthiolate. Quero dormir sem hora pra
acordar, quero que minha única preocupação na vida seja fazer a tarefa de
matemática. Não quero contas a pagar, não quero amores mal resolvidos.
Só quero amor de mãe.

Mas a gente cresceu, brôu. Primeiro arranjou um emprego. Depois um amor.


Depois umas contas a pagar. Depois um filho – ou uma legião de cachorros.
Depois mais contas a pagar. E quando se deu conta, a infância já havia virado
uma realidade distante. Quase utópica, de tão distante. Era o adulto batendo à
porta. E a gente abriu só uma frestinha, que era pra ele ir entrando aos
poucos, descompensando aos poucos, enlouquecendo aos poucos. Não vou
dizer que a vida adulta seja só ônus, porque não é. Ao contrário da pressão
social que nos é imposta, ninguém é obrigado a casar e a ter filhos – temos
bônus da liberdade de escolha. Presumindo que conquistemos o nosso próprio
dinheiro, podemos fazer o que bem entendermos com ele – temos o bônus da
independência. O nosso repertório de vida parece minimamente suficiente para
resolvermos problemas que antes nos deixariam sem dormir – temos o bônus
da maturidade. Descobrimos o verdadeiro sentido da vida depois de
experimentarmos a primeira gozada – temos o bônus do sexo, a coisa mais
deliciosa que eu já experimentei até hoje.

Sem dúvida, se eu tenho estrutura emocional para suportar um corpo e as


responsabilidades dos vinte e poucos anos, é, em partes, por causa da criança
que fui. Mas se eu pudesse deixar um conselho a ela, eu diria: prenda-se menos
às regras - elas foram feitas para te limitar. Apronte um pouquinho mais - mas
aguente todas as consequências das suas molecagens. Estude um pouquinho
menos - mas só um pouquinho. Você poderia ter ainda mais cicatrizes nos
joelhos se tivesse sido mais displicente com a tarefa do inglês. As melhores
coisas da vida, menina, você vai aprender na escola. Mas, definitivamente, não
na sala de aula.

21
Não posso ser a mulher da sua vida,
porque já sou a mulher da minha

E chega um dia em que a gente se pega apaixonado. Mais apaixonado do que


nunca. Mais do que pelo Felipe, aquele menino gracinha do pré-primário, de
cabelos cacheadinhos e olhos curiosos, inquietos, trapaceiros, de cigano
oblíquo e dissimulado. Mais do que pelo Tobias, aquele cachorrinho feio, mas
extremamente companheiro e dócil,que morreu quando a gente tinha uns oito
ou nove anos e deixou no ar um luto que parecia que ia durar uma vida inteira.
Mais do que pelas tardes de bolinho de chuva e chocolate quente na casa das
amigas na época do ginásio, quando a gente largava os cadernos no sofá da
sala e não queria sair do quarto nem com ameaça de bomba. Mais do que pelo
oitavoanista jogador de basquete, que era o amor de onze entre dez meninas
quando a gente tava na quinta série.

Chega o dia, enfim, em que a gente se apaixona de verdade. E que a gente


percebe que é amor. Com direito a cafuné antes de dormir, beijo
apaixonado logo depois de acordar e sentir saudade antes mesmo de ir
embora. Com direito a um peito com encaixe perfeito para a nossa cabeça, um
companheiro para os nem tão legais almoços de família e uma química que faz
um beijo arrepiar até o pelo da canela. Tudo muito bem, tudo muito bom, tudo
delícia cremosa. Até que, diante de tanta paz e de uma felicidade que beira o
êxtase, uma armadilha fica iminente: a armadilha da possessão. Do “ele é só
meu”. Do “ela nasceu pra mim”. Do “independente do que aconteça”. Do “para
sempre”. Do “amor eterno”.

Hollywood, Manoel Carlos, os romances clássicos, a burrice e companhia


limitada criaram na nossa cabeça um universo de fantasia onde ter um final feliz
é o destino obrigatório de todo e qualquer ser humano ~do bem~, que paga
suas contas, seus impostos e que faz carinho nos cachorrinhos de rua. E que
ter um final feliz, por sua vez, está intimamente atrelado a ter alguém pra amar
- que é, inclusive pra mim, a mais genuína e gratificante forma de felicidade,
mas que, convenhamos, está longe de ser a única. E que se deus escreveu por
aquelas famigeradas linhas tortas, não há o que tire ele de você. Nem
incidentes, nem acidentes, nem o Papa. Nem a sua displicência ao conduzir
uma relação. Nem o seu ciúme sufocante e doentio. Nem a sua falta de carinho.
Afinal, ele é o homem da sua vida. Nasceu assim: etiquetado com o seu nome,
como os cadernos da segunda série. Como uma propriedade sua.

E é aí que soa o alarme em toda e qualquer pessoa com o mínimo de noção da


vida e de amor-próprio. Gente nasce, cresce e morre com livre arbítrio e não é

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(ou não deveria ser) propriedade de absolutamente ninguém. Todo mundo, quer
esteja solteiro, ficando, namorando ou casado, tem o direito de ir e vir. E ficar
é uma decisão que a gente toma todos os dias. Quando acorda sorrindo - ou
chorando de emoção. Quando almoça com fome e sem preocupações - ou
com a preocupação de fazer com que cada detalhe daquela viagem planejada
com carinho dê certo. Quando deita na cama e dorme tranquilamente - ou troca
o sono por uma boa noite de sexo ou aquelas conversas sobre a vida que se
estendem até o sol raiar.

Porque construir um amor de verdade é como dar um laço. E laço é diferente de


nó. Laço precisa de cuidado. Precisa de alguém pra aparar as pontas, pra
cortar os fiapos, pra firmar o tecido. Precisa de companheirismo, de
compreensão, de sinceridade. E no final de tudo, é bonito. Simples, mas
bonito. Diferente do nó, aquele amarrão forte que a gente dá uma vez só que
é pra prender de vez e não encher o saco. Não exigir preocupação. Não soltar,
por mais que machuque os dedos e arrebente a linha.

Sem dúvida, é infinitamente mais fácil dar um nó. Mas eu prefiro cuidar do meu
laço. Afinal, como já dizia vovó, contrariando a sabedoria duvidosa do Waze,
nem sempre o melhor caminho é o mais curto.

Sobre Relacionamentos Na Era do


Exibicionismo - Amor de Verdade Precisa
de Provas Públicas?

Depois de muito me esconder na barra da saia da minha mãe quando criança e


de tanto querer que meus peitos não se desenvolvessem na adolescência,
cresci uma mulher sem vergonha. Sem vergonha mesmo. Não sei como.
Daquelas que elogiam a camisa do cobrador de ônibus, que sobem no palco do
teatro quando o ator chama, que fazem amizade na fila do pão, que não ligam
de transar com a luz acesa, que conversam até sobre os embargos infringentes
com o vizinho no elevador. Afinal, não há nada de feio ou vexatório em mim que
eu precise esconder – a não ser o meu narizinho de batata, que só está à
mostra por motivos óbvios.

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Apesar de ser uma sem vergonha declarada, porém, tenho observado por aí
um movimento que me faz querer abrir um buraco no chão e enfiar a cabeça
feito uma ema. Podem me chamar de insensível, de chata, de mal amada, de
recalcada. Talvez eu realmente seja tudo isso – e mais um pouco. Mas não acho
nada admirável essa história de pedidos públicos de casamento ou namoro. Em
tempos de redes sociais, em que a conquista só vale se for fotografada – afinal,
de que adianta eu conquistar se ninguém tiver a oportunidade de sentir inveja
de mim? –, a intimidade parece ter ficado em segundo plano. Um fondue
regado a vinho numa noite fria não tem graça se as bocas lambuzadas de
queijo não virarem uma foto de Instagram, uma cervejinha num bar não é tão
divertida se não se puder fazer check-in no Foursquare, um passeio ao ar livre
num dia de sol não tem tanto valor se não rolar pelo menos um post no
Facebook esfregando para toda uma timeline a sua felicidade.

E o amor, infelizmente, tem tomado o mesmo rumo. Se pra você um pedido


público de casamento é prova de amor, me desculpe: pra mim não passa de
coerção e de necessidade de autoafirmação – com o perdão da generalização
imprudente. Coerção porque se imagina que a outra pessoa não será capaz de
negar – afinal, há uma plateia sedenta por um final feliz e que pode servir como
testemunha da insensibilidade daquele que recusou, caso o final não seja assim
tão feliz. E necessidade de autoafirmação porque toda megalomania é uma
fantasia de poder – ouvir um “sim” em público prova ao mundo (e até a quem
não está minimamente interessado nisso) que eu, o namorado perfeito das
comédias românticas, provavelmente terei uma vida perfeita e filhos perfeitos
com cabelos perfeitos para pentear antes de ir à escola que vai lhes garantir
uma educação perfeita.

E assim, roteirizando os relacionamentos interpessoais e ditando regras sobre


o que é o namoro ideal, o casamento ideal, a gravidez ideal, os filhos ideais e a
velhice ideal, a gente segue exibindo a nossa felicidade antes mesmo de
curti-la. Fazendo dela um grande evento, e não uma bela casualidade. Isso é
o que a sociedade do espetáculo tem feito com a gente. Somos todos atores
de um filme que ainda não se sabe como vai terminar. Vocês, que acreditam na
~magia~ dos pedidos públicos, e eu, que os condeno. Já ouvi
namorados se queixarem de que suas namoradas, por mais carinhosas que
fossem, não postavam fotos do casal nas redes sociais. E já vi namorada postar
foto de namorado novo apenas para mostrar ao ex que ela havia encontrado
~um partido melhor~. Não que eu ache que amor foi feito pra ficar guardado a
sete chaves. Nada disso. Amor é pra ser gritado aos sete ventos, é pra
contagiar o mundo de sorrisos, é pra inspirar mais amores, é pra virar
best-seller. Amor é um crime a ser cometido. Mas desde que o alvo principal de
toda e qualquer demonstração de carinho seja a pessoa amada, e não a
necessidade particular de esfregar na cara dos outros a sua felicidade.

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Procura-se um amor que goste de chupar

Não precisa ligar no dia seguinte. Muito menos se oferecer pra pagar a conta.
Não precisa tecer elogios inéditos. Nem abrir a porta do carro. Não precisa ser
do tipo que manda mensagens de “bom dia”. Não precisa ter decorado todas
as regras do novo acordo ortográfico.Nem saber fazer combinações satis-
fatórias com suas peças de roupa. Não precisa amar o Bukowski. Nem o Chico.
Ou o Caetano. Não precisa nem ter visto o meu top3 de séries indispensáveis
pra se viver. Não precisa preferir drama à ação. Nem gostar mais de James-
on que de Jack. Ou achar Beatles melhor que Stones. Tenho apenas uma
condição. Só almejo uma peculiaridade. Minha única e mais urgente exigência
é por um cara que goste de chupar. É isso mesmo que você leu: LAMBER-VA-
GINAS. Pode pendurar aí a plaquinha de “procura-se um amor que goste de
chupar pepecas”.

Engana-se quem acha que esse meu pedido é singelo. Sim, homens adoram
sexo oral. Mas só receber porque, na hora de oferecer, a coisa, ou melhor,
os números mudam: uma pesquisa recente afirma que de um total de 1.252
homens heterossexuais, 78% recebe sexo oral frequentemente, mas quase a
metade, 43% deles, não o pratica de volta. Ficou chocada? Pois ainda não
terminou: dos caras que praticam, 1/3 tem nojo de fazer sexo oral na sua
parceira. Ou seja, mesmo dentre os que fazem sexo oral, 35% diz que só
o fazem porque têm “medo de ser considerado gay”, “medo de ser traído”,
“porque tô com tesão e não penso na hora”, “porque amo minha parceira”,
“para dar prazer a ela” e “para retribuir”. E isso me leva a uma terrível indagação.
Caras que não chupam: onde vivem? De que se alimentam? Por que existem?
De onde vem esse nojinho? Como lidar?

Acredito que essa atitude perante às nossas digníssimas vaginas só pode ter
uma explicação: egoísmo ou nojinho. E sentir nojinho de buceta é misoginia.
Não adianta vir me dizer que é uma questão de ~gosto ou que eu tô cagando
regra porque esse é um assunto que atinge diretamente a vida sexual feminina.
Há muitas mulheres que nunca tiveram um orgasmo na vida porque não

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conhecem o próprio corpo. E por que elas não se conhecem? Porque existem
esse monte de estigmas sobre o órgão sexual feminino. A vagina sempre foi
demonizada, somos ensinadas desde criança que ela é algo vergonhoso, o que
leva muitas mulheres a sentir repúdio e nojo de si mesmas. A indústria pornô
também pesa nessa realidade porque fortalece um modelo padrão de
vaginas desprovidas de um único pelo. O cheiro, o gosto, a umidade, os pelos
e a aparência da vagina são padronizados, plastificados, camuflados e
adquirem a única função de satisfazer seu parceiro britadeira humana - e
dificilmente ser saciada.

Resolvei adotar uma decisão bêbada para o resto da vida sóbria: NÃO
CHUPADORES NÃO PASSARÃO! Quando tive esse lampejo de
consciência, para provar meu compromisso com a causa, imediatamente deletei
do whatsapp um PA que não cumpria o requisito. Até tinha cogitado continuar
com o cara, mesmo com esse empecilho, afinal ele era gostosinho e mandava
bem apesar dos pesares. Pensei em tratar na mesma moeda: já que você não
me chupa, também não vou te chupar. Só que acontece que eu realmente
gosto de cair de boca no que eu deveria retaliar. Cheguei à conclusão de que
não seria justo. Não é legal pregar o revanchismo no sexo, porque o sexo
representa justamente o avesso disso. Sexo é harmonia. É um momento em
que não há separatismos, e sim comunhão de corpos. É chupar cada
centímetro do corpo alheio e ser retribuído, é lamber cu, chupar buceta,
levar tapa, levar dedada, dar tapa, gozar na cara, deixar ser gozado, amarrado,
mordido, sentado, dominado. É sentir prazer em provocar prazer no outro. Sem
censuras, sem inibições e sem nojinhos. Não rola dar pra quem tem nojo de
uma parte minha tão importante. Quem ama, chupa.

Bad timing: quando a pessoa certa chega


na hora errada

Um bar, uma balada, um café, um parque. Você nota alguém diferente. Você
percebe alguém que salta no seu campo de visão sem convite prévio. Alguém
que te faz perder o rumo, o chão, o ar.Alguém que faz parecer que deram um
blur no resto das pessoas ao redor que do nada ficaram em tom sépia e em
volume mais baixo. Vocês trocam olhares. Você arrisca um “oi”. Você troca
ideia com a pessoa e os dois percebem que existe algo. Rolou! Choque, faísca,
química, ligação, explosão. Rolou! Vocês trocam whatsapp, mensagens,

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suspiros, canções, beijos, taras, roxos, madrugadas, roupas, guiltypleasures,
besteiras. Há um entendimento em nível avançado. Você sente, ele sente. E,
quando tudo se encaminha pra chegar num nível mínimo de intimidade, quando
você já tá pensando em deixar uma camisa extra no armário alheio, acontece
o fim prematuro da relação que poderia ter sido o que não foi. O que te resta?
Ficar imaginando o que aconteceria se as circunstâncias tivessem sido mais
propícias. A pessoa em questão é praticamente uma desconhecida, mas você
ama a ideia de quem é ou poderia ser. Quem nunca?

“Se vocês têm química, só precisam de mais uma coisa: timing. E o timing é
uma vadia!”. O conselho de Robin Scherbatsky é simples e certeiro. O tal timing
é a relação do indivíduo com o tempo/espaço, a situação em que algum fato
acontece e a reação que ele provoca em um contexto específico. Ou seja, você
pode dar sorte e ser o cara que está no lugar certo na hora certa (=timing
perfeito!), ou ser vítima do bad timing e culpar a Lei de Murphy. O bad timing é
um dos motivos pelos quais, às vezes, só o amor ou a paixão não são o
suficiente. A vida é cheia de encontros e desencontros e, além de química e
atração, para um relacionamento dar certo é fundamental que as duas pessoas
estejam no mesmo momento de vida.

Às vezes você tá com foco total no trabalho e sem tempo, terminou um


relacionamento e ainda não se desapegou do ex, às vezes você acordou
ranzinza, já se machucou demais com o amor e se sente intimidado por alguém
que vem com muita sede ao pote ou apenas está em um ritmo diferente do seu.
Esses são exemplos de situações que nos deixam sem energia mental pra nos
comprometer com outra pessoa de uma forma que acrescente um significado e
valha a pena para ambos. Sabe quando você tá um caco emocional e não quer
arrastar ninguém mais pra junto desse seu buraco negro sentimental?
Algumas pessoas precisam de um tempo pra trabalhar suas necessidades
antes de tentar encaixar outra pessoa em uma situação que pode não
precisar de outra pessoa. Aquele momento de vida em que fechamos pra
balanço e vestimos a plaquinha de emocionalmente indisponível.

Tem gente que não acredita em bad timing e se recusa a aceitar esse
empecilho: cisma em forçar a entrada em janelas fechadas e colocar correntes
e cadeados em portas escancaradas porque acha que isso não passa de uma
desculpa esfarrapada. O bad timing pode até ser uma desculpa, mas acredito
que seja uma desculpa consciente, uma escolha mesmo do tipo: “eu realmente
acho que a gente poderia ser ótimo juntos, mas não agora”. É uma merda?
Claro que é! Imagina o tanto de pessoas incríveis que poderiam ter se
encontrado e construído algo legal se não fosse o maldito timing. Inclusive, pra
punir esse mal, de madrugada, o fantasminha do bad timing vem puxar o pé da
cama de quem já dispensou pessoas maneiras e assombrar seus sonhos com

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doses de arrependimento e pensamentos inapropriados de como poderia ter
sido o relacionamento desperdiçado.
Na era do amor líquido, em que desfazemos camas alheias com a mesma
facilidade que vemos relacionamentos se desfazer e escorrerem por entre os
vãos dos dedos, como lidar quando a química rolou, mas o timing não? O jeito
é aceitar que dói menos! Infelizmente, tem coisas na vida que fogem do
nosso controle. Então a nós, meros mortais, resta nos conformarmos e aceitar
as coisa que rompem os limites da nossa responsabilidade, preparar o coração
pra ficar sempre atento a novos ventos e torcer para o cosmos nos separar
boas surpresas.

Porque Amor de Verdade Não Pode Ser


Limpinho

Dias desses li uma frase que me deixou incomodada. Era sobre o amor e a
intimidade não combinarem com erotismo. Algo como se o mistério fosse
essencial para que houvesse o tesão. E fiquei intrigada tentando relembrar
transas casuais - relação na qual o mistério predomina -, mentalizando assim
qual foi o nível de satisfação sexual entre elas.Tudo o que veio em minha
mente foi um emaranhado de posições mal encaixadas, aquele sutil
desconforto de deixar o outro ver a luz do quarto penetrar tua pele nua e seu
corpo em posições quem menos te favorecem, o efeito do álcool passando e
a inibição voltando e fazendo com que você e cara ao teu lado fossem apenas
dois estranhos dividindo, de maneira incômoda, o quarto.

Não me entenda mal, sou super a favor do sexo casual. Dou pra quem eu
quero, a hora que quero e quando eu quero, mas acho que quando se busca
qualidade a intimidade é um ponto a favor. Sabe aquele lance de que a
prática leva a perfeição? Então, por aí. E não me venha tentar imacular o amor
me falando de como esse sentimento é puro não deixando espaço para a
libertinagem. Essa é apenas uma de suas facetas. É que o amor também sabe
ser sujo. E para ter sujeira é preciso existir cumplicidade.

Só com muita intimidade a gente se sente confortável para revelar nossas


vontades mais toscas, nossas taras mais bizarras sem medo de ser feliz ou de
ser taxado como pervertido. Somente quando confiamos em alguém nos atrev-

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emos a partilhar coisas das quais normalmente nos envergonharíamos. Não
dizia Nelson Rodrigues que “se cada um soubesse o que o outro faz
dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”? Então, ele estava
certo. É na quietude dos lençóis branquinhos com arabescos na fronha em uma
cama de casal que mora o perigo. Você pode descer até todos os inferninhos
mais mequetrefes da Augusta. Pode pegar a puta mais barata e transar com
ela em um banheiro onde cheiram cocaína. Mas isso não chega nem perto da
putaria que ocorre no lençol cheirando a amaciante de uma cama de casal.

O amor é muito mais imundo que qualquer depravação. É aquela vontade de


morder sua axila, de cheirar sua nuca, rasgar seu ombro. Não existe putaria
maior que saborear sem nojo toda a pessoa por inteira, sem frescuras ou
restrições. Amor é nos sentirmos confortáveis com nossos desejos mais íntimos
quando encontramos alguém com quem fazer um pacto secreto de conivência
diante das bizarrices do outro. Algo como: o que acontece em Vegas, fica em
Vegas. É admitir nossa fragilidade e permitir que o outro faça contigo algo que
jamais nos submeteríamos com um estranho. É o laço de lealdade se
aprofundando a cada aumento de devassidão.

O amor é sujo. Porque o amor é lindo. O amor é feio. Tem cheiro de mijo. Te
leva ao céu. Te tira o chão. Te rouba a consciência. Te surra. Te esmurra. Te fode
de um jeito “te bato porque te amo”. O amor é sujo. E eu e você somos
cúmplices dessa sujeira. Tipo Bonnie e Clyde. A gente se ama, se entrega.
A gente inventa e aperfeiçoa o nosso sexo. A gente não apenas troca fluídos
corporais. A gente fode com a alma. A nossa sintonia me faz achar as pintinhas
do seu ombro a coisa mais tesuda do mundo e você quase goza só olhando a
curva das minhas costas. Quer putaria mais absurda que essa?

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Case-Se Com Uma Mulher Que...

Difícil mesmo é sambar a dois. Afinar o ritmo, o compasso, o contratempo


daquela melodia que se espera ser dançada pela vida inteira. Ainda mais
complicado é definir quem tirar pra dançar. Ela vai ser seu primeiro sorriso pela
manhã e seu último olhar de doçura antes de dormir. É com ela que você vai
dividir os dias, os anseios, receios, as vitórias, derrotas e bem possivelmente,
num futuro próximo, os genes. Dela, serão seus cafés da manhã regados a
iogurte com cereais e pão francês, como também as viagens de fim de semana
para um lugar aconchegante qualquer. As mãos dela serão o alicerce rumo a
mais uma etapa sensacional na sua vida: o felizes para sempre (ou pela breve
infinidade do sentimento). Mais do que sua parceira, ela precisa ser a sua
melhor escolha. Mais do que companhia, ela precisa ser conforto, morada e
paz, pra vida e para o coração.

Por isso, case-se com alguém que seja a sua maior torcida no futebol de
sábado, no trabalho, na vida. Que vista a camisa do time, calce as chuteiras,
entre no jogo ou simplesmente esteja preparada para recebê-lo no vestiário com
o beijo mais acolhedor do mundo depois daquele cartão vermelho. Alguém que
entenda o quão sagrada e preciosa é aquela cerveja com os amigos e o
videogame de domingo a tarde. Uma pessoa que saiba cuidar e que ao mesmo
tempo entende que regar demais a flor também maltrata o jardim.

Case-se com alguém que saiba dizer não, porque o respeito à individualidade e
ao livre arbítrio do outro é o lençol que cobre a cama de sorrisos todas as noites
antes de dormir. Que seja serenidade e calor nas manhãs de domingo. Que seja
saudade e desassossego no momento da mais absoluta ausência.

Escolha uma mulher que saiba sorrir com você, de você e para você. Que
aponte o caminho mais do que o erro e seja bússola quando faltar o norte. Eleja
para o resto da vida aquela dotada da mais ardente coragem, seja para
abandonar certas travessias, hábitos, rotinas, seja para peregrinar cada vez

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mais fundo em cada uma delas.

Opte por uma companheira que saiba reconhecer sua tentativa desastrada de
cozinhar durante a crise de TPM dela e que seja disposta a eventualmente te
acompanhar nos seus desatinos em série, como aquela corrida de kart com os
amigos ou aquela trilha na montanha.

Case-se com alguém que diga sim não só ao que você tem de melhor, mas que
saiba amar cada metade torta das suas falhas e defeitos (incluindo sua mania
recorrente de deixar a toalha molhada em cima da cama). Escolha alguém que
esteja inteiramente com você “apesar de”, porque fácil mesmo é se enlaçar
por um olhar, um sorriso, um corpo escultural - o difícil é entender que em todo
paraíso existe um pouco de tormenta. O que me leva a um ponto de suma
importância: case-se com alguém que saiba ceder a uma discussão no
momento certo. No amor vence quem sabe perder. Perder o orgulho, a vez, a
discussão delimita a batalha de uma guerra em que os dois saem ganhando.
Escolha alguém que não desista de você.

Abrace para o resto da vida a menina bailarina que exime o parceiro da


liderança da valsa. Que se dispõe a guiar junto com você essa dança louca que
é o amor, de pés no chão pra sentir a vibração do palco, o calor da plateia e as
mãos bem dadas fluindo no tom da canção.

E talvez as palavras mais sinceras que eu poderia dizer seriam, case-se com a
sua melhor amiga, a parceria das suas risadas mais gostosas. No fim de tudo,
quando faltarem forças, palavras, a barba branquear, o cabelo ralear, quando a
imagem do espelho não for mais a mesma, é a amizade que vai importar, que
vai sustentar o edifício quando a estrutura do concreto esmorecer. É o quanto
vocês conseguem dizer um para o outro muitas vezes sem se tocar, apenas ali
no silêncio de um olhar, que vai garantir a solidez dos próximos capítulos desse
livro.

Acontece que amor não tem pré-requisito, carta marcada, currículo e muito
menos se fundamenta em uma lista de características. Minimizar os pontos de
crise é bom e evita um bocado de dor de cabeça, mas se a pessoa que você
escolher passar o resto da vida não apresentar o mínimo daquilo que você
procura, que exista carinho suficiente para cativar e ser cativado. Fundamental
mesmo é o amor. Então se case com a mulher que preencher de permanência
seu coração. Determinadas clarezas só a alma da gente é capaz de dizer.

31
Por um mundo com menos “a gente se vê”
e mais “abre a porta que cheguei”

Acontece que um belo dia, perdido entre o que foi e o que poderia ser, você
acorda cúmplice de uma espera. A expectativa de um telefonema, uma carta,
mensagem de texto, um adeus, qualquer coisa capaz de consumir
definitivamente aquela angústia e colocar fim na tormenta que já se estende por
semanas.E nada. Porque a espera é isso, um grande nada recheado de todas
as caraminholas passíveis de viver no coração de alguém. Ainda assim, a
sensação de preenchimento e plenitude desencadeada pelo apego domina
toda e qualquer atitude racional pronta a desabrochar, e o suspiro vem fundo,
mentindo no ápice do alívio, que está tudo bem em te esperar. Enquanto isso o
mundo está lá fora te provando que nada pode ser melhor do que eu, nós e o
que construímos até aqui, apesar de você insistir em me colocar no banquinho
do depois. E eu como mocinha comportada que sou fico ali aguardando a hora
de sair do castigo. Porque não existe punição maior para quem procura
reciprocidade do que comprar o ingresso do parque e precisar enfrentar uma fila
quilométrica para andar no brinquedo tão esperado apenas por breves
segundos.

O fato é que quem gosta não espera e isso foi lição aprendida depois de
muita lágrima derramada no cantinho escuro do quarto. O amor é um dos
sentimentos mais urgentes do mundo. Exige, demanda, ele praticamente
abraça a eternidade no espaço pontual daquela euforia. Porque ele quer e quer
no exato momento que a adrenalina avisa para o corpo que tudo aquilo que ele
sempre esperou se encontra ali, entre uma escolha e outra, apenas aguardando
um sinal de entrada. O amor transborda presença. Nada de “eu quero passar
o resto da vida com você, mas não agora”, nada de “eu gosto de você, porém
não sei se devo assumir um relacionamento neste instante”, nada de “estou
com saudades, mas infelizmente sem tempo para te encontrar essa semana”.
Amor é coisa poderosa demais. Força de vontade também. Não existe trauma,
frustração, dúvida, decepção no mundo capaz de lutar contra um
sentimento quando existe reciprocidade. Da premissa mais conhecida:
quem quer faz, quem não quer arruma uma desculpa. Simples assim.

Bem como diz aquele filme que eu adoro: “quando a gente descobre que quer
passar o resto da vida com alguém, a gente deseja que o resto da vida
comece logo”. A dura verdade é que enquanto você está aí atrás da porta,
como uma criança a espera do brinquedo novo, ouvindo o barulho dos passos
que sempre se aproximam, mas parecem nunca abrir a porta de fato, os pés do
outro dançam pelo mundo afora. Enquanto você é refém de uma indecisão e

32
marionete dos caprichos daquele alguém, o universo segue sua órbita e apenas
seu coração permanece suspenso no banquinho ao lado da porta ansiando por
uma brecha para a grande estreia naquele palco.

Então não, não vale a pena “esperar” por ninguém. Porque se você precisa
provar a alguém seu valor para que uma decisão seja tomada, se você
precisa literalmente parar sua vida esperando uma chance de finalmente sambar
a dois. Se sua autoestima bem como suas vontades são negligenciadas durante
o processo, e se o sentimento do outro é forte o bastante para sustentar uma
espera, talvez este sentimento não seja verdadeiro o suficiente para fazer
morada na sua vivência.

Ou você quer, ou não. Não existem meios termos, muito menos meias
verdades. Bem como a gente secretamente deseja o lado da moeda no
momento em que a joga para cima, no fundo, a gente sempre sabe o que quer,
apenas demora um pouco mais para assimilar aquela escolha e suas possíveis
consequências. Afinal de contas descer do muro e decidir por um dos lados da
estrada invalida de certa forma inúmeras possibilidades de felicidade presentes
no caminho deixado para trás. Propor uma espera nada mais é do que uma
tentativa frustrada de se apegar a um plano B, caso todas as outras travessias
deem errado. Além de cômodo é a máxima falta de respeito com a
permissividade do outro. E se tem uma coisa que a gente não é obrigada nessa
vida é a esperar pra ser feliz.

Aceitar o descompasso e seguir adiante. Amor não é barganha e


definitivamente não sabe esperar. Não importa se o relacionamento é antigo
ou se o sentimento está pedindo passagem nesse exato momento. Parar de
ocupar o caminho com uma presença incompleta e deixar partir aquilo que não
encontrou espaço na sua vivência. A vida é transitória demais para mirar o
passar das horas através de um banquinho atrás da porta. Coragem para
aceitar a única certeza inquestionável do amor: o livre arbítrio de ser, estar,
permanecer. Que seja aqui e agora, enquanto existe vontade, não na
imprevisibilidade do amanhã. Qualquer coisa diferente disso é migalha, perda de
tempo e invariavelmente descaso com o sentimento mais importante do mundo:
o amor próprio.

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O amor de verdade se mede em como você
trata o seu amor quando não precisa mais
conquistá-lo

Eu particularmente adoro rotina. O cinema de sábado à tarde, o almoço caseiro


de domingo, o happy hour de sexta à noite, a parceria nossa de cada dia. O
amor é talvez a única rotina universal, junto com o típico baião de dois, que as
pessoas fazem questão de se lambuzar e lamber os dedos.Quase um mantra:
acordar, bocejar, levantar, sorrir, amar. O grande problema da rotina é que ela
é confortável demais. A paz e o aconchego de saber-se quando, onde e com
quem não demora muito a ser confundida com desleixo. Quando se vê o
pijama furado é figurinha marcada na cama, o corte de cabelo vencido também,
e o pior de todos os males, os pequenos requintes de gentileza, como um “por
favor” ou um “obrigado”, que eram tão comuns no início do relacionamento se
tornam a mais absoluta raridade.

É justamente no dia a dia, no dividir das horas, que a gente consegue discernir
um amante experiente de um amador. O amador descuida no quesito
primordial de qualquer parceria: o tempo. E nessa de achar que o jogo está
ganho perde-se conceitos, posições no ranking e no final da corrida, a
pessoa amada. Amor nenhum sobrevive de máscaras. De nada adianta bancar
a gatinha manhosa ou o galante cavalheiro no início do namoro e depois
simplesmente se esquecer de fazer um simples agradecimento pela
reciprocidade alheia. Nada como uma boa dose de intimidade para mostrar a
essência de que cada um é feito. O experiente entende que o tempo apenas
agrega valor ao relacionamento e que relaxar nunca deve ser uma opção. As
pequenas demonstrações de respeito para com a pessoa escolhida para
aninhar morada no peito da gente são imprescindíveis para o sucesso de
qualquer relação.

Acima de tudo, saber diferenciar intimidade de reciprocidade. Respeito,


companheirismo e cumplicidade vêm lá da vontade de se estar junto de alguém
e não fundamentado em uma quantidade de tempo pré-estabelecida. Erro
grave mesmo é descuidar do outro e da relação só porque a tão sonhada
estabilidade já foi alcançada. Se o outro te trata bem, com carinho, com a
atenção e consideração que você merece é porque ele assim deseja, e claro,
algum afago na alma você fez pra merecer esse afeto. Nada mais justo que
retribuir todo esse apreço com pitadas generosas de cordialidade, amabilidade
e cortesia. Respirar fundo antes de pronunciar respostas atravessadas, de tratar
o outro com rispidez descontando um problema que nem de perto é da

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competência dele, se colocar na posição do companheiro (a), não perder a
razão alterando o tom de voz, muito menos usar da famosa chantagem
emocional para conseguir o que se quer. Usar as palavrinhas mágicas que
mamãe ensinou muito antes de você saber andar sobre as próprias pernas, por
favor, obrigada, com licença, garante não só uma relação equilibrada como uma
parceria de fato em harmonia.

Um relacionamento pode muito bem sobreviver ao esmalte vermelho lascado, a


cueca furada, ao mau hálito matutino e ao chulé do futebol, mas de forma
nenhuma uma união que se preze mantém bases sólidas sem o mínimo de
respeito. Se no começo de tudo, quando o jardim era estrelado de flores, a
docilidade para debater um descompasso imperava sobre qualquer indício de
grosseria, nada mais natural que após o período “probatório” a cumplicidade
amadureça. As pessoas se unem em parcerias porque de repente ser dois
passou a ser mais vantajoso que ser um só. Ao menor traço de desrespeito,
inferiorização e desconsideração essa premissa vai por água abaixo e a melhor
saída neste caso é mesmo buscar outros caminhos.

Aceitar o comportamento subversivo de quem anda de mão dada com a


gente não é sinônimo de amor ou sequer de compreensão. Já dizem por aí que
a gente aceita o amor que acha que merece. Amor próprio para reconhecer a
barganha e a ausência de reciprocidade e, mais ainda para saber retribuir toda
a dádiva de ter uma pessoa sensacional dividindo a travessia. Conquistar todos
os dias mais do que com flores, bombons e pompa. Respeito é uma sutileza
que nunca cai na rotina. Surpreendente mesmo é poder dizer “obrigado”
enquanto ainda existe algo concreto para ser grato. Nem toda fome do mundo
mantém os convidados na mesa se a companhia para dividir o prato principal
for a indelicadeza de alguém que está ali puramente por escolha, e não, por
mera obrigação.

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Sofrimento: Você Cospe ou Engole?

Dá licença, posso sofrer sem que me encham o saco ou me chamem de


menininha ou de ser humano frágil? Se me tirarem esse direito, viro só mais uma
carcaça que trabalha, come, dorme e trepa. Eu não sei como é ser proibida de
votar, usar calças compridas, trabalhar e escolher marido.Eu não faço ideia. Eu
já nasci diva de cinema, camisinha na bolsa, motorista de carro e divorciada. Já
sou presidenta, mas não disse que pagaria com felicidade. Ainda sinto
pontadas melancólicas, que me obrigam a chorar de saciar baldes: o único jeito
de contar pra mim quando estou triste, apesar do mundo que conquistei.

Engole o choro, Priscila. Me lembro mais dessa frase, do que dos Natais da
minha infância. Meu pai sempre mandava essa, quando percebia uma faísca
de berreiro. Eu me esforçava para não desapontar o meu herói, mas nunca tive
talento pra algemar tristeza.

Chorei no primeiro dia de aula do primário. Não queria ser adulta. Se eu


pudesse continuava desenhando bolinhas e brincando de pega-pega. Chorei
no banheiro do trabalho, por causa de uma chefe sacana. Chorei no trânsito e
um vendedor de rosas no farol me perguntou o que aconteceu. O meu avô tinha
morrido e eu enfrentava duas horas de congestionamento. Ignorei
caminhoneiros e motoboys ao redor, o meu público. Chegando em casa, não
abracei ninguém, fui pro quarto umedecer a cara. A minha família nem imagina
que, longe deles, eu sou de açúcar.

Choro pelos caras. Eu coloco músicas pra me lembrar deles e mando ver. Na
saída de um show, tive um ataque por causa de um. Um de quem gostei com
aquela brutalidade, que não consigo evitar. Uma menina na fila quis me
assessorar, Não chora pelo amor de Deus, ela dizia, como se zelasse pela
minha dignidade. Que dignidade? Eu já tinha esfaqueado a minha dignidade,
desde que me permiti gostar de alguém, que só esfregou a sola do sapato na
minha cabeça. Perto de uma dignidade desertora, o que eram umas
lagriminhas, detonadas pela cerveja na saída daquele show? Vai ser digna no

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inferno! Doía, porra. Essas lágrimas que te envergonharam, essas aí, que você
tentou barrar, garota, é o meu jeito de expor um ponto de vista. Me violentei
toda vez que fiz silêncio. Eu sou de me derramar inteira numa folha em branco.
De ter pranto contando pra desconhecidos como me sinto. Sofrer é pra quem
tem força. Fica tranquila, porque eu aguento o dia seguinte, quando tudo é
ressaca de uma surra emocional. Eu aguento. Eu espero sempre aguentar.

Reprimir meu choro é tão agressivo que acabo no hospital. É travar boca. É
calar teclas. Não suporto gente contida. Não entendo. Cheira a aguado. Gente
que ri sem arreganhar os dentes. Personagens vazias, poluídas de bons
modos. O que passa pela cabeça de vocês quando a luz se apaga e a vida é
mais franca? Vocês enchem a cara de álcool para amortecer o coração
mastigado? Como vocês esparramam suas lasquinhas de dor secreta?

Eu não quero ajuda. Eu gosto do meu exagero. Gosto de quando o sofrimento


aterrissa, pra eu esvaziá-lo até a última linha. Descrevê-lo em gotas salgadas -
antes que passe. O sofrimento é turista. Gosto de encadernar suas fotografias,
porque me vestem de espertezas futuras. Eu nunca chorei pelo mesmo Adeus.
Se eu reprimo, a dor transborda por poros desajustados e me convence de que
faço escarcéu, em vez de desabafos. De que transformo vírgulas em
parágrafos. Me dá licença. Vou sofrer sempre que puder. Eu não vou engolir o
choro, vou cuspir pelos olhos.

Era pra somar, ele sumiu: como agir


quando a pessoa com quem você está
ficando desaparece

Vocês estão juntos. Nada oficial, mas juntos e saltitantes. Mensagens pipocam
no celular o dia todo, vocês se encontram mais de uma vez na semana, já
existem até piadinhas internas entre os dois (ui, que casal em sintonia!), e
quando não existe mais onde melhorar... A pessoa S-O-M-E. (Som de carro
freando)

Todo mundo aqui já levou essa bofetada da vida, pelo menos umas trinta e sete

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vezes. Te deixa com #chatiação no estômago, triste, puta da vida. É covardia, é
falta de educação, é o que você quiser; mas é, principalmente, a realidade daqui
pra frente. Então o jeito é encarar.

Diante desse cenário você tem duas opções:

Sofrer; o que, na minha opinião de mulher com muita experiência e tara pelo
sofrimento, não resolve muita coisa - a não ser que você goste de escrever
(muito prazer!). Chorar no banheiro da firma, no travesseiro ou na Avenida
Paulista (been there, done that): escolha aí um lugar bem bacana pra te deixar
mais patética, porque sejamos sinceras, passar essa vergonha toda por alguém
que não tá nem relando o pensamento em você é sinal de que sua autoestima
tá precisando de um Hadouken.

Seguir em frente é na verdade a única opção. Seguir em frente, sem olhar pra
trás. Não há nada que você possa fazer para trazer de volta a pessoa amada.
Ela volta se quiser, e isso está descontroladamente fora do seu controle. Delete
esse ser humano do seu dia-a-dia, como borracha – daquela vermelha e azul,
que apaga até caneta e detona o papel, sabe? A pessoa não tinha vários
defeitos? Aqueles que você parava pra pensar se no futuro agüentaria
conviver? Pois é, meu bem, esse é o momento pra ativar todos e somente eles
no seu coração. O ser humano, que já dançava estranho, piscava demais os
olhos ou maltratava garçom, sumiu e não deixou nem um post-it escrito “Valeu”.
Ele merece um gelo polar do seu orgulho.

Faça isso, mas sem jogar. Seguir em frente não é tentativa alucinada de
chacoalhar alguém, até que ele acorde e perceba a estupidez que fez
(obviamente foi uma estupidez, afinal somos incríveis, não somos?). Seguir em
frente é pra quem quer ser feliz e só. Não adianta bater em tecla vazia;
quando alguém te quer, o telefone toca. Quando alguém te quer não existe
muito trabalho, aniversário do primo do amigo da vizinha, não existe passeio
com o cachorro, não existe “tá chovendo granizo e eu não tenho carro”.
Quando alguém te quer, desculpinha é palavra fora do dicionário.

Vamos tirar das nossas vidas pessoas que não se importam com o que
sentimos. Talvez, coitadas, seja o jeito delas de permanecerem boas em suas
consciências, porque o que os olhos veem, o coração sente. É ruim ser o vilão
da história. E na vida, tudo tem vinte lados. Mas vamos priorizar um: o lado da
nossa felicidade. Sofrer só prorroga o momento de abrir uma nova porta no
coração. Seguir em frente é girar a maçaneta e estar pronta pra próxima.

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Cola Em Mim: Uma Crônica Sobre Homens
Grudentos

Homem bom é aquele que gruda. Que cola em você como unha-de-gato em
muro. Que não te larga nem na hora do exame de sangue. Segura a sua mão
até quando dorme. Preenche todo o espaço do seu celular, do seu carro, do
seu café-da-manhã, da sua cabeça com um massacre de mensagens e fotos
e ligações e músicas, que fariam vomitar as pessoas mais gélidas. Que, como
num jogo teatral de contato improvisação, não deixa de tocar em você nem por
um suspiro e se soltar for preciso continua tocando com os olhos.

Eu gosto é do agarro.

Já corri muito de cara grudento. Um auto-boicote ao amor. Se ele cumpria a


promessa de ligar no dia seguinte, o bafômetro acionava alto teor de
cobrança, loucura, maridices e outras fantasias que me davam medo.
Um jeitinho da cabeça pra que eu continuasse solteira. Aí, andava atrás dos
impossíveis. Saciava, assim, o meu desejo interno pela solidão. Mas indico o
tipo, especialmente, para aquelas que querem sossegar.

O grudento não é chato. É dedicado. É aquele que vai perguntar como foi o
médico, o aniversário da tia-avó ou se você melhorou daquele roxinho
insignificante atrás do joelho. É o cara que te espera em casa numa
segunda-feira qualquer, com a sua cerveja preferida a postos (atenção, grudes:
eu gosto de Heineken). O grudento é econômico e a favor da portabilização.
Muda a operadora de celular para a mesma que você, a fim de economizar
dinheiro, mas não palavras. Te liga na hora do almoço só pra desejar “bom
apetite”. O grudento te nomeia Instagram particular e não publica uma foto nas
redes sociais sem que te mostre antes. E você se enche de orgulho. É como
receber o primeiro pedaço do bolo de um aniversariante.

A mulher de um homem-grude é mais bonita do que as outras. Ela não tem


olheiras, porque não passa noites em companhia da insônia se perguntando
por onde ele anda. Tem a boca carnuda, inchada de tanto beijo. Não tem mais
gavetas pra guardar as surpresinhas que ele apronta. Não precisa pagar
terapia, o grudento sempre tem um elogio sincero e certeiro pra oferecer no
meio do Jornal Nacional. O homem-grude é tratamento estético, faz desapa-
recer qualquer celulite, estria, espinha, rugas e cutículas em erupção, porque
enxerga apenas o que interessa: a mulher ao lado dele.

Quando o amor esfria, o homem-grude não trai, descola. Como é devotado,

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não consegue se doar para mais de uma mulher ao mesmo tempo. Então gruda
na amante do mesmo jeito. Dá pra ela o que antes era seu. Essa é a sinceridade
na relação com um homem-grude. Ele sinaliza quando não te quer mais. Fica
morno. E pra que serve um homem mais ou menos? Mando embora. Homem
bom é aquele que gruda.

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Ele só quer te comer: porque esse discurso
não deveria incomodar

Você conheceu um cara incrível ontem. Ele é amigo do namorado da amiga da


sua amiga. Não importa, ele gostou de você. Gostou do seu batom vermelho,
do seu riso debochado e do cheiro que sentiu quando você chegou perto pra
dar um ‘oi’.A malícia nos olhos dele deixou claro que ele sabia o que o seu oi
significava: você queria fumar um cigarro, nua, na janela do apartamento dele,
enquanto ele adormecia, exaustivamente satisfeito, com os seus gemidos ainda
ecoando no quarto desarrumado.

E você – cujos olhos têm malícia também – soube ler no sorriso dele que ele
queria mesmo arrancar seu sutiã no final da noite. Sem ter que pedir seu e-mail,
nem conhecer sua mãe, nem saber qual é o seu prato preferido e nem te
chamar pra jantar no japa.

No fundo, no fundo – e do alto da sua safadeza genuína – pouco te interessa


se ele vai ligar no dia seguinte; não te interessa se ele ronca, porque você vai
sair de fininho quão logo estiver saciada. Vai fechar a porta devagar e pegar o
primeiro táxi. Sem deixar nem um bilhete na geladeira – porque, pra você, foi o
suficiente. O agora valeu a pena e não precisa ter depois.

E quando você está quase absolutamente convencida do seu direito –


pensando bem, não é um direito, é uma vontade mesmo – de querer só sexo
casual, a sua amiga politicamente correta e entediante até a alma, fala alto no
seu ouvido (por causa da música contagiante, que seria capaz de te salvar de
ouvir aquela asneira): “Cai fora, ele só quer te comer!”

Ele só quer te comer. Como se você tivesse saído pra a noite, com a sua micro
calcinha recém comprada e suas boas doses de tequila pra procurar um
casamento. Um cara que tivesse um bom emprego e uma mãe menos chata

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que as sogras que você já teve. Que bebesse pouco e quisesse ter filhos, que
não roncasse e também quisesse uma lua de mel em Veneza – porque qual
mulher não quer uma lua de mel em Veneza? – ah, é, você não quer. Você só
quer transar – e qual é o problema nisso?

Então, junto com essa nossa tão sonhada e, pouco a pouco conquistada
liberdade sexual, deveria vir um manual de instruções sobre como se livrar da
hipocrisia (e como ensinar isso às nossas amigas certinhas). Pra que toda
mulher que quer sexo casual compreenda que não há nenhum desvio de
caráter em um homem que quer só sexo casual. E isso quer dizer que não há
nada de errado no fato de ele só querer te comer, desde que isso fique claro pra
você – é como um ‘li e aceito os termos de uso’ – ninguém engana ninguém e
os interesses coincidem.

Então você aprendeu que não há nada de errado em querer sexo casual. E não
há nada de errado em um homem só querer sexo casual com você – isso não
te faz uma biscate. Isso não significa que você não é digna de alguém que te dê
mais que sexo: Pode significar – e significa, muitas vezes – que você simples-
mente não quer alguém que te dê mais que sexo. E então, depois de jogar toda
a hipocrisia na primeira lixeira pública, encha o peito pra responder à sua amiga
politicamente careta: - Ele só quer me comer?! – ótimo. Eu só quero comê-lo
também.

10 coisas que valem muito mais do que


uma aliança

Sempre achei no mínimo estranho ter que assinar um contrato em que você
declara amor a alguém. E usar um anel que torne esse amor visível e referenda-
do aos olhos dos outros. Usar uma roupa específica, com uma cor
pré-concebida e que representa uma pureza hipócrita,para que o mundo saiba
que você resolveu juntar as escovas de dentes. Se é um sonho ou uma real-
ização pessoal, ótimo – cada um decide como celebrar o amor. Mas, a meu ver,
há muitas outras coisas infinitamente mais importantes do que alianças.

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1. Respeito mútuo

Há muitas coisas sem as quais um relacionamento não sobrevive por muito


tempo. Curiosamente, acho que amor está longe de ser a principal delas. Não
deixar que a intimidade extrapole o limite do respeito é um dos maiores desafios
das relações a dois. Respeitar o outro enquanto ser humano é, sem dúvida, o
primeiro passo para construir uma vida ao seu lado.

2. Simplicidade

Muitos não acreditam, mas o amor não é nada pomposo. Enquanto nos
ocupamos em preparar festas, alianças, vestidos brancos, presentes caros
e jantares sofisticados à luz de vela, há uma vida belíssima nos esperando lá
fora. Relacionamentos saudáveis têm nos momentos mais simples os mais
inesquecíveis. Casais bem resolvidos não precisam de cruzeiros, reservas em
restaurantes e grandes comemorações. Conseguem celebrar o amor nos mares
do caribe ou no boteco da esquina, são felizes em Paris ou na cama assistindo
Netflix. O amor é simples como a vida.

3. Companheirismo

Conheço muitos casais que usam alianças imensas, colocam fotos um do outro
na capa do facebook e não se cuidam reciprocamente. O companheirismo não
precisa de demonstrações ou atestados. O cuidado mútuo está presente nas
pequenas coisas, em verificar se falta algo na mala dele ou oferecer ajuda se ela
fica sem grana no meio do mês.

4. Bom-humor

Acredito piamente que uma pitada de bom-humor é capaz de salvar vidas. Dê


um bom dia bem humorado ao taxista e ele lhe será solícito. Seja cordial com
uma atendente de banco e ela lhe ajudará sem nenhum interesse – pura e
simplesmente porque o bom humor é um grande facilitador. Nas relações a dois
ele é igualmente indispensável. É preciso encarar os estresses da vida conjugal
com leveza. Um sorriso matinal não custa nada e pode mudar o dia de quem
você ama!

5. Sinceridade

Pequenas mentiras são capazes de ceifar até mesmo os grandes amores. E, em


relações de longa data, são facilmente decifráveis – porque não dá pra mentir
pra quem te conhece. A hipocrisia é o câncer das relações modernas. É preciso
dizer que você sente desejo por outras mulheres ou que talvez ele precise de

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uma dieta. A sinceridade nas coisas simples gera uma confiança tão
incondicional que nos faz capazes de acreditar até nas verdades menos críveis.

6. Jogo de cintura

Quem te disse que a vida a dois é fácil te contou uma mentira deslavada. Não
é. É preciso aceitar diferenças, burlar as prendas do tal destino, desviar-se das
tentações e, de quebra, cuidar de cada detalhe da relação. Não dá pra levar
tudo a ferro e fogo. Relacionar-se a dois – aliás, relacionar-se seja como for – é,
basicamente, não deixar a peteca cair.

7. Liberdade

Foi-se o tempo em que relações amorosas eram prisões sem grades.


A confiança é pré-requisito para que se tenha um amor tranquilo com sabor de
fruta mordida – e isso inclui deixa-lo sair pra beber e deixa-la cuidar da própria
vida como bem entender – mesmo que isso signifique gastar todo o dinheiro
extra em bolsas. Liberdade transcende deixar o outro sair sozinho. Significa,
principalmente, compreender que nada te dará o direito de influenciar nas
decisões pessoais do seu parceiro, sejam elas quais forem.

8. Compreensão

Pequenas irritações cotidianas devem ser as maiores causadoras de divórcios


ao redor do mundo (por mais que muita gente diga que foi por ciúmes,
incompatibilidade de gênios ou seja lá o que for). Nunca subestime o poder de
uma toalha molhada em cima da cama ou de roupas sujas fora do
cesto – isso irrita, cansa e desgasta a relação. No entanto, ninguém está a salvo
de pequenos defeitos, e só a boa e velha compreensão é um bom antídoto para
isso. Compreenda as meias dele jogadas no chão do quarto e ele
compreenderá seus cabelos no ralo do banheiro. É assim, e só assim, que a
vida a dois segue.

9. Sonhos em comum

Não dá pra caminhar de mãos dadas em estradas opostas. É preciso ser


franco – e, de preferência, a tempo – sobre os planos de cada um. Se você
pensa em vender artesanato na praia, você provavelmente não poderá dividir
uma vida com alguém que pretende administrar uma grande empresa. O amor
tem questões práticas e nada românticas que eventualmente precisam ser
consideradas.

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10. Independência

Por fim e não menos importante – não mesmo! – a independência é mais


imprescindível numa relação do que qualquer contrato assinado. Ter seus
próprios amigos, seus próprios projetos e eventualmente planos diferentes no
final de semana faz com que você não esqueça de que antes de compor uma
relação você é um ser humano ímpar – e, sobretudo, faz com que a
companhia do outro (mesmo que o outro durma com você há anos), seja
sempre uma novidade.

Diz que ama ser solteira, mas chora


sozinha de noite querendo um amor de
verdade

Não se fazem mais relacionamentos como antigamente: nisso a minha querida


vozinha tem toda a razão. Temos mais companheiros de bar do que amigos,
mais fotos com filtros bacanas no Instagram do que momentos verdadeira-
mente especiais, e mais sexo casual do que relacionamento sincero.Até aí tudo
bem. Tem muitas coisas nessa geração que, convenhamos, não caem nada
mal.

O que chama atenção nisso tudo é a necessidade que a maioria dessas


pessoas tem de se auto afirmar independentes e desapegados. A facilidade
com que se nega os sentimentos verdadeiros soa falsa na medida em que
essas mesmas pessoas se revelam cada vez mais carentes.

Lamentavelmente, parece que não estamos lidando com uma geração de


solteiros felizes, satisfeitos com suas fotos de garrafas de vodka na internet.
Não se trata de pessoas que não se importam com a ligação (ou falta de) do dia
seguinte. Todo mundo parece livre, feliz e bem relacionado. No termo
imortalizado por essa geração: parecem desapegados. Mas não são.

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A moça que posta foto “no barzinho com as lindas” é a mesma que liga pro ex
depois de algumas doses. O moço que diz que nunca vai “usar as algemas” é –
muitas vezes - o mesmo que espera uma mulher bacana com quem possa ter
dois filhos e um cachorro numa casa grande. Isso não significa que todo mundo
sonha em se casar (até por que relacionamentos sinceros não necessariamente
precisam ser provenientes de casamento), mas o fato é que todo mundo
precisa de amor.

Beber vodka é bom; Sair com as amigas é bom; Carnaval solteiro é bom (e bota
bom nisso) – mas todo mundo precisa de um pouco de apego. Todo mundo
precisa de amigos que liguem na segunda-feira, de companheiros com quem
contar depois que a farra termina.

Somos, na verdade, tão cobrados pela perfeição, que sentimos uma


necessidade quase irracional de demonstrar que nos bastamos. Que somos
fortes e coisa e tal. Mas a grande verdade é que a geração do desapego não
consegue se valer. Ela vai se escorando nas garrafas de vodka, se arrastando
pelas baladas da vida com o coração vazio e um incômodo triste causado pela
ditadura da independência (por mais paradoxal que isso pareça).

É uma geração vitimada por regras cruéis que a modernidade extrema nos
trouxe – por que nada pode ser mais cruel do que uma regra que diz que é
proibido amar. É proibido se importar, sob pena de sermos massacrados pelo
desapego alheio. A tristeza nisso tudo é que essa geração perde a melhor coisa
da vida que é amar de verdade. Entregar-se, sentir, arriscar-se a levar um pé na
bunda ou uma queda feia. Em outras palavras: Apegar-se.

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Mulher que é mulher tem celulite, homem
que é homem não repara

Não é a primeira e infelizmente não será a última vez que ouvirei essa história de
alguma amiga: ela acorda numa bela manhã se sentindo poderosa, glamourosa,
rainha do funk – praticamente a Beyoncé no clipe de “Run The World”. Sai da
cama, dá uma rodadinha, corre pra se trocar e, no caminho para o banheiro, dá
de frente com o causador de um grande problema: o espelho. O objeto que
deveria servir apenas para mostrar como ela é incrível a faz enxergar
gordurinhas saltando, estrias e celulite. De repente um arrepio (daqueles ruins,
não o tipo que você teria se o Ryan Gosling colasse no teu cangote te
chamando de “my dear”) e pronto, a semana acabou de ir para o inferno.

Ela já sai meio cabisbaixa para o trabalho e parece que o mundo decidiu
mostrar, de todas as formas possíveis, sua falta de gostosura: propaganda de
academia no Facebook, o caminho do trabalho parece ter virado uma
passarela, as fotos dos amigos e amigas na praia exibem barrigas esculpidas
em mármore e, a cada sinal, a insegurança triplica.

Chega o final de semana e a confiança está tão baixa que, mesmo com um
calor de 30º, ela está escondendo o corpo com uma calça jeans larga e um
suéter. O rolo passa na sua casa e, em caso de sexo, é certo que as luzes
estarão apagadas – não por escolha e sim pelo medo que ele a veja “assim”.
O sexo acaba sendo uma merda e tudo que elas conseguem pensar é que a
culpa foi das malditas gordurinhas. Das estrias. Da celulite.

Isso é errado demais.

Um amigo me definiu essas “imperfeições” (em aspas absolutamente


necessárias) como “a vida”. Todo mundo têm celulite. Todo mundo têm estrias.
E se você sente-se acima do peso, outra pessoa sente-se abaixo. Se alguém
acha que é alto demais, outra pessoa pensa que é muito baixinha. Uma garota

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pensa que tem seios pequenos. Um cara perde noites de sono pensando que
seu pau é pequeno.

Dia após dia, ano após ano, somos bombardeados com estereótipos de beleza
que só prejudicam, mais e mais, a maneira como olhamos para outras pessoas
– e nos enxergamos na frente do espelho. Isso afeta, consequentemente, a
nossa relação com o outro – e com nós mesmos.

Eu falei nossa? Desculpa.

Isso é um pesadelo – como depressão, bulimia, bullying e suicídio – para


milhões de mulheres em todo o mundo. E por mais que eu tenha dito que
muitos homens sofrem com a questão do tamanho de seus membros sexuais,
são uma minoria – assim como eu, que vez ou outra me incomodo com um
projeto de pança, sou uma minoria.

São mulheres com corpos “esculturais” que aparecem em comerciais de


lingerie. Portais de notícias vão abaixo quando alguma famosa vai à praia – ou
simplesmente sai de casa para ir pintar as unhas. Diversos galãs mundo afora
não estão dentro de padrões de beleza e, ainda assim, são tidos como homens
maravilhosos.

Cair nessa armadilha opressora e machista só vai te prejudicar, seja você


homem ou mulher. Uma mulher infeliz com seu corpo não conseguirá ser feliz,
enquanto um cara obcecado por esses padrões de beleza nunca irá enxergar
a beleza de verdade – estará guiando-se apenas por aquilo que lhe foi imposto,
aquilo que mandaram ele achar bonito.

Atração é muito mais que um peito ou uma bunda, amigo.

Olha pra ela inteira. Olha esse sorriso que ela dá quando te vê – seja ela tua
namorada ou teu flerte. Olha o jeito que ela acorda, toda bagunçada, mas linda.
Olha para esse amontoado de curvas ou retas que vão te receber como
nenhum outro corpo. A beleza real precisa de mais do que uma olhada rápida
para ser realmente vista. Fosse assim, o mundo seria um grande Tinder: essa
eu quero, essa eu não quero.

Aceite sua celulite, suas gordurinhas ou o raio que o parta. Aceite isso porque
faz parte de você, e alguém que não te quer por inteira não deve ter nenhum
pedaço teu. Mais importante: se quiser mudar, mude por você, na o pelo que
os outros te dizem – sejam os outros o teu namorado ou a TV. Se você não
sentir-se feliz por quem você é, seja lá como for, irá esconder tudo que tem de
bonito em você. Entre quatro paredes a autoconfiança dá muito mais tesão que

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uma barriga lisinha ou um par torneado de coxas.

E você, rapaz que acredita ser o centro do mundo das mulheres e que elas
precisam estar do jeito que você deseja: cresça, bicho. Isso é soberba e
imaturidade – e eu te garanto: nenhuma barriga tanquinho vai impedir uma
mulher de broxar contigo se você continuar pensando assim.

A arte de se reapaixonar pela mesma


pessoa: praticamos

O início de um relacionamento é mais ou menos como tirar férias: depois de


um certo período vivido (trabalho, faculdade ou a muitas vezes tortuosa vida de
solteiro) chega a recompensa e tudo parece felicidade e alegria.Assim como nas
férias, o Sol parece brilhar mais forte e toda noite é uma boa oportunidade para
curtir até o dia amanhecer (seja na rua ou debaixo das cobertas, com o Netflix
aberto).

Que atire a primeira pedra aquele que, no início de um namoro, não relevou os
pequenos defeitos e manias de seu parceiro. Se ela (ou ele) demora uma
eternidade para se arrumar, tudo bem - a pessoa só está querendo ficar
bonita para sair com o novo amor; os cinquenta cigarros que ela fuma
diariamente deixam-na charmosa, e aquela mania de escolher o programa do
final de semana no último momento possível é reflexo de sua espontaneidade –
alguém que gosta de “curtir o momento”. Aqueles que se arriscam nos
campos da paixão e do amor acabam se confrontando, cedo ou tarde, com
uma triste realidade: essas pequenas coisas podem se tornar verdadeiros
incômodos quando a rotina aparecer – e ela sempre aparece. De repente a
demora para se arrumar irrita, o cheiro do cigarro torna-se insuportável e
escolher entre uma balada ou uma sessão de cinema torna-se uma discussão
hercúlea (que pode definir o rumo e o humor dos próximos dias).

Erra quem coloca a culpa na rotina. Se assim fosse, a taxa de casamentos bem
sucedidos cairia a zero e todos nós viveríamos uma eterna poligamia (o que
não é uma ideia tão absurda assim, mas não é isso que está sendo discutido
aqui – hoje). Culpo, em parte, nossa própria geração por essa infelicidade que

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acomete muitos de nós. Para explicitar um pouco essa teoria (ainda pouco
desenvolvida, se me permitem o parênteses) gosto de utilizar, como exemplo,
a própria internet. No dia de hoje você irá ler um sem-número de postagens
no Facebook, artigos em portais de notícia e terá acesso a uma infinidade de
informações – que, no final, serão esquecidas no dia seguinte e substituídas por
mais bytes e bytes de textos, imagens e pensamentos.

Esse, sozinho, não é o problema. Sou um entusiasta da internet e de como


estamos conectados a tantos lugares e pessoas, convivendo em (nem tanta)
ordem e espalhando (algum tipo de) conhecimento. Se dissesse o contrário
estaria indo contra meus próprios princípios, afinal de contas: acredito que
quanto mais interações temos com outras pessoas – independente da forma
como isso acontece -, fica mais fácil conhecermos a nós mesmos. Precisamos
preencher a folha de papel das nossas almas com alguma coisa para depois
descobrirmos o que as palavras ali escritas realmente significam para nós.

A coisa fica ruim, porém, quando não sabemos o que queremos consumir e
quem queremos ter por perto – já que, no fim do dia, podemos consumir quase
tudo e ter quase qualquer pessoa. Essa grande oferta pode causar preguiça,
no fim das contas: se o mar é tão vasto e têm tantos peixes, por que ficar preso
numa relação com essa pessoa que não é perfeita pra mim?

Desculpa quebrar sua expectativa, mas não existe pessoa perfeita – nem
relacionamento perfeito.

Se você acabou de começar um namoro, saiba que as coisas vão mudar. Se já


namora há algum tempo, deve ter percebido que as coisas já mudaram – e isso
não é necessariamente ruim. Honestamente, pode ser bom pra cacete. Lembra
daquela vez que você foi transar e foi uma merda porque a outra pessoa não
sabia acompanhar teu ritmo nem entrar na tua pegada? Agora você tem alguém
que tem (espero eu), como uma prioridade, te dar prazer e não vai (espero eu)
se importar nem um pouco de descobrir como fazer isso da maneira que você
gosta. Lembra quando você tinha algum problema e não queria encher seus
amigos com isso porque eles estavam ocupados demais com suas próprias
coisas? Ao seu lado existe, agora, uma pessoa que se preocupa com sua vida
e quer te ajudar a lidar com aquilo que te aflige – mesmo que essa ajuda venha
com silêncio e cafuné.

Entrar numa relação séria e duradoura é assumir que grandes mudanças irão
acontecer e que sua rotina não dependerá só de você. É fazer concessões e
abrir mão de certas coisas enquanto a outra pessoa faz o mesmo – não por
obrigatoriedade, mas porque ela quer. É enxergar beleza em pequenos defeitos
e, sempre que possível, lembrar que aquele par de olhos e aquele sorriso doce

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continuam tão (ou até mais) bonitos que na primeira vez que você os viu.
É saber que não vai ser fácil, mas que vale a pena.

Não estou dizendo que a monotonia não é perigosa: ela é, e muito. Mas não
adianta pensar que a única solução para salvar um relacionamento em perigo é
inverter a maneira como tudo funciona – fazer isso é trocar o lado de um disco
sabendo que, hora ou outra, você precisará voltar para o primeiro conjunto de
faixas. O que eu sempre tentei quando os primeiros sinais de cansaço se
evidenciam é fazer uma retrospectiva desse álbum chamado amor e perceber
que ainda é meu disco favorito. Relembrar alguns acordes, riffs e refrãos e me
dar conta que ainda sei todos de cor, e essa é uma coisa boa.

Se você tem alguém, pense agora nessa pessoa. Se a rotina não te amedronta,
se crescer ao lado dela é algo excitante ao invés de entediante, se combinar
uma maratona no Netflix parece mais interessante do que se esbaldar na balada
mais próxima – ou se vocês conseguem se divertir igual antes e dançam juntos
até o chão -, parabéns: você está num relacionamento saudável e sabe que
tudo que já enfrentaram – e ainda enfrentarão – vale a pena.

Se você ainda não encontrou essa felicidade de verdade (nem a sua própria
vontade de ter uma relação duradoura), não se desespere: a parte boa do amor
é que, diferente daquilo que Hollywood e a literatura-clichê pregam, sempre
podemos evoluir e tentar novamente – desde que você tente, a cada nova
experiência, pra valer.

Porque ser dama na rua e puta na cama


não faz sentido

Mulher pra casar não vira a noite na balada. Mulher pra casar se dá o respeito e
usa roupas comportadas, ao invés de sair exibindo decote e coxas por aí.
Também não fuma, porque sabe que isso é coisa de homem. Beber, então,
no máximo uma taça de vinho. Porque cerveja é algo masculino demais e não
combina, né? Mais importante ainda: mulher não dá na primeira noite. Se você
conseguir levar para o motel assim, sem mais nem menos, é vagabunda na

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certa. Trate de dar o número de telefone errado e não ouvir nada do que ela
está dizendo, porque ela não vale sua atenção. Mulher assim, que bebe sem
medo da ressaca, ri sem medo da altura da gargalhada e transa sem medo do
orgasmo não é pra ser levada a sério.

Se você conseguiu terminar esse parágrafo sem ter nenhum acesso de gastrite,
parabéns. Se você levou a sério e pensou em me xingar, muito obrigado. Em
último caso, se concordou com cada linha, saia da minha frente e não apareça
nunca mais.

Não apareça nunca mais por um simples motivo: se você acredita piamente que
a ala feminina é dividida entre mulheres pra pegar e mulheres pra casar, você
não respeita nenhuma delas. Afinal de contas, quais são os fatores
classificatórios para encaixar uma mulher em uma dessas categorias? A roupa
que ela usa? O número de caras com quem ela já transou? O tamanho da saia
ou a generosidade do decote? Maquiagem? E o que você faz com cada uma
delas? Com a mulher pra casar, você compra uma casa pra ela limpar e tem
uma penca de filhos pra ela cuidar. E a mulher pra pegar é aquela que você usa
- dá uma transadinha e beijo, não me ligue. Certo?

Errado. Erradíssimo. Objetificar mulheres dessa maneira é apenas mais um


passo para endossar ainda mais o pensamento machista que permeia grande
parte da sociedade. Pensar assim contribui para que o número de agressões
(físicas e psicológicas) às mulheres só aumente. Eu, no fim das contas, posso
voltar para casa no fim da noite correndo apenas o risco de ser assaltado. Suo
frio, porém, quando alguma das mulheres que fazem parte da minha vida se
encontra nessa situação, já que qualquer motivo pode ser suficiente para um
abuso, uma agressão ou um estupro.

Perpetuar esse pensamento não é apenas uma atitude conservadora e imbecil


como denota um amadorismo imenso no que diz respeito a se envolver com – e
conhecer - alguém. É achar que pessoas são simples em uma medida que
permite classificações tão rasas. Especialmente se estamos falando de
mulheres, os seres mais complexos que já pisaram nesse planeta azul.

E já que o assunto é rotular mulheres, aproveito também para discordar


veementemente de Nelson Rodrigues no que diz respeito às damas na
sociedade e putas na cama. Não consigo passar meia volta do relógio ao lado
de uma dama, daquelas que precisam pensar três vezes na hora de falar,
levantam o mindinho religiosamente na hora de tomar uma xícara de chá (aliás,
quem em sã consciência gosta de chá?) e ficam estarrecidas ao ouvir um
palavrão. Ao mesmo tempo, lidar com uma puta na cama não é das tarefas
mais animadoras, com todo o respeito à classe. Não tem tempero, não tem

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química, não tem graça.

Quero uma mulher que tenha a indecência de gargalhar até engasgar, que tome
cerveja com meus amigos e encha a boca pra mandar o juiz tomar no cu, no
meio de um jogo do Corinthians. Que, ao mesmo tempo, saiba que sexo não
é a representação de uma cena qualquer do XVideos e que ela não precisa se
inspirar na Sasha Grey entre quatro paredes. Uma mulher que entenda que meu
prazer começa logo depois do dela.

Por isso, peço do alto de minha insignificância: moça, esqueça as dualidades


de casar vs. pegar e de dama vs. puta. Não seja nem uma metade, nem outra.
Seja inteira, seja você. Se deixar de usar uma saia curta, que seja porque o
tempo está frio ou porque a cor dela não combina com seus sapatos. Se for
para deixar de beber pinga, que seja por culpa da gastrite ou tão somente
porque você não gosta de álcool. E mais importante: não deixe de dar para
aquele cara na primeira noite por medo do que ele vai pensar, mas por
simplesmente não querer transar naquela noite. Ou porque ele é um babaca
que te chamaria de piranha para os amigos depois de te comer – e achar que
ele é o maior especialista em sexo da Terra, ainda que ele só tenha pensado em
si na cama.

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O amor da sua vida desceu na outra
estação

A vida não dorme em serviço. Todos os dias, sem falta, sem falha, ganhamos
uma nova chance de mudar completamente o nosso futuro. O ponto da
virada, a chave pra transformação de tudo o que você conhece – ou
pensava que conhecia – até hoje, passa por você diariamente. São pessoas,
essas chaves, esses pontos de virada. Pessoas comuns, das que a gente
quase não nota, das que podem cruzar nosso caminho dez vezes no mesmo
dia sem nos darmos conta. A gente tem pouco talento para observar o mundo
ao redor, essa é a verdade. Nosso celular é tão mais interessante, sempre com
as mesmas fotos, as mesmas mensagens, os mesmos interesses. A gente
simplesmente não vê a vida trabalhando.

Mas ela, mesmo assim, se esforça, e nos dá outra chance. Essas chances vêm
de todo e qualquer lugar. Quer um bom exemplo? As pessoas solitárias do
metrô. Elas estão se amontoando, entrando nos horários de rush e se
acotovelando para descerem antes que a porta se feche. Às vezes faço questão
de fechar o livro que estou lendo, ou ignorar um pouco o Facebook matinal no
celular, só para observar as pessoas. Pode parecer que não, mas todo mundo
olha pra todo mundo no metrô. Só que parece um olhar de fantasma, uma visão
de raio-x, que enxerga as pessoas sem ver ninguém. É assim que o povo que
reclama da solidão perde a chance de conhecer alguém que pode mudar tudo
dali pra frente. Se você é desses, acredite: você perdeu o amor da sua vida
umas mil vezes, no mínimo.

Às vezes é um cara bonitinho que você viu entrar, que estava todo sonolento
no canto e que, de tanto sono, deixou cair um cartão, as chaves, um papel,
a carteira, qualquer coisa no chão. Você poderia ir lá e avisá-lo, pegar, puxar
papo, olhá-lo mais de perto, dar umas risadas, fazê-lo acordar, reparar que ele
tem dentes muito brancos, perceber que ele fecha os olhos de leve quando ri e

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descobrir que ele cursa arquitetura, que está no terceiro ano, que pretende se
especializar em casas de veraneio e pousadas. Aí, talvez, quem sabe, ele
pegue seu telefone, te mande uma mensagem, te chame para jantar, te roube
um beijo, te conte histórias divertidas sobre a infância desvairada, faça
perguntas interessantes sobre o seu trabalho, sobre os seus amigos, fale sobre
viagens, peça dicas de lugares onde você já foi, te convide para sair de novo,
te leve para a casa dele depois do terceiro encontro, te faça pela primeira vez
na vida ter um orgasmo ficando por baixo, te peça para dormir lá, te acomode
no peito dele enquanto você sonha e te peça para nunca mais ir embora. Isso é
possível, sim, claro que é. Você tem que botar fé no seu taco, a vida faz o resto.

Assim como é possível você, cara sozinho que todos os dias senta no mesmo
banco, vendo as mesmas vistas e dormindo nas mesmas estações, começar a
reparar ao redor. Talvez a moça que está carregando os cadernos bem na sua
frente queira ajuda, talvez você possa segurar as coisas dela, reparar que ela
está lendo um livro que você já leu, recomendar um outro, perguntar qualquer
coisa banal sobre gêneros literários, sobre pra onde ela está indo, sobre se ela
não quer se sentar. O roteiro é o mesmo. Às vezes aquela menina linda que
entrou é solteira, sim. Às vezes aquela ruiva altona lá na outra porta está mesmo
olhando para você, para você e ninguém mais. Talvez aquela menina no banco
do canto esteja querendo assistir o novo filme do Tarantino tanto quanto você.
Tanto faz! As pessoas se querem, elas têm coisas que interessam aos outros e
estão muito dispostas a dividir isso com alguém.

É que a gente é cagão. Sabemos reclamar muito, pedir muito, sentir muita falta,
mas achamos um absurdo irmos atrás do que queremos. Vai lá falar com o
cara! Vai lá falar com a menina! Eles não mordem. A gente tem que aprender
a se dar mais crédito. Somos lindos, claro que somos. Mas isso já seria pedir
muito, porque a gente não viu, a gente não vê, você não vê. Você não foi puxar
papo com a gatinha de jaqueta elegante porque você não a viu entrar no metrô.
Você não ajudou o rapaz sonolento do canto porque quando a carteira dele caiu
você estava no celular e quem o ajudou foi um senhorzinho que estava ao lado.
Você não retribuiu o olhar fulminante da ruiva no fundo do vagão porque você
nem sequer percebeu que ela estava lá. Você, na verdade, nem sabe, mas o
amor da sua vida desceu na outra estação e você seguiu viagem.

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É preciso coragem para ser um casal em
tempos de pegação desenfreada

Tem um momento mágico no dia que acontece entre o seu primeiro abrir dos
olhos, confuso e perdido, e a primeira vez que você vê a pessoa amada
deitada ao lado, que te faz sentir segurança e calma.Leva segundos, esse
intervalo entre acordar e perceber que não se está sozinho, mas é durante ele
que todos os sinos congelam no ar, que todas as engrenagens param de
ranger, que todos os pássaros fecham seus bicos, porque é durante esse
silêncio misterioso e intenso que percebemos a sorte de ter alguém pra dividir
uma vida, ou um pedaço dela, que seja, dormindo ao seu lado. É um
micro-momento mágico, um dos muitos que só existem nos dias de quem
escolhe ter coragem de gostar e ficar com alguém em um relacionamento
honesto, verdadeiro e de extrema parceria.

Você já deve ter vivido esse momento alguma vez na sua vida, caso tenha se
deixado dominar pelo desejo de viver mais e mais dias ao lado da mesma
pessoa. Mas o que acontece é que cada vez menos gente tem a chance de
sentir o sabor da alegria em forma de vida boa, a dois, todo dia. É que sexo é
bom, todo mundo gosta, e o pessoal quer variar, descobrir, comparar e ideias
geniais como o Tinder ou o Viber, por exemplo, permitem que todo mundo
possa transar muito, gozar muito, descobrir muito e passar muitos dias
acordando com pessoas novas na cama. É claro que tudo isso é bem legal e
esse texto não tem nada a ver com “deixe de ser solteiro”, ok? Esse texto é,
simplesmente, sobre o outro lado, o lado de quem quer namorar mesmo, estar
“em um relacionamento sério” com alguém, ou qualquer outro rótulo que exista.
Em tempos de Tinder, para ficar com uma pessoa só é preciso coragem!

A coragem se faz necessária, em primeiro lugar, para a própria pessoa, que


decide abrir mão daquela agitação e fartura para uma vida diferente, o
mesmo beijo, o mesmo corpo, o mesmo sexo, o mesmo olhar. Tem gente
que não aguenta, é verdade, e ninguém pode julgar, mas quem sai da vida de
solteiro na bagunça para entrar numa relação, mesmo que extremamente
apaixonado, acaba pensando, vez ou outra, se vai aguentar segurar a onda
quando tiver a primeira briga, quando o ânimo não estiver tão contagiante e
quando se deparar com um fatal domingo tedioso em casa. Não é um sacrifício
enorme viver com uma pessoa só, na verdade é até bem simples, mas largar a
loucura pra se jogar nesse mar de estabilidade exige coragem!

A outra coragem vem por parte da confiança mútua. Muita gente fica pensando
sobre a vida que o outro deixou pra trás e isso corrói por dentro. Será que ele

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sente falta de ficar com as meninas da balada? Será que ela não sente vontade
de ficar com outros caras? Será que ele fica só comigo? Será que ela ainda usa
o Tinder de vez em quando? E por aí vai. Estar em uma relação a dois é se
jogar num mundo negro e cego de confiança e cumplicidade porque em 90%
das vezes que criamos uma neura na nossa cabeça jamais saberemos a
resposta real. Tem que ter coragem pra acreditar e seguir em frente. Para dar
espaço, confiar que o outro também tem uma vida particular, amigos,
compromissos, horários e isso não diz respeito a você e também não significa
que vai terminar em traição. Viver a dois e confiar na relação exige coragem,
muita coragem!

Mas depois que você conhece todas as dúvidas, todos os medos, todas as
inseguranças, começa a perceber que a turbulência vai passando e é quando
os micro-momentos mágicos começam a aparecer. A alegria de dividir uma
conquista pessoal primeiro com o outro, de vibrar pelo sucesso do outro ou
de simplesmente rirem da vida juntos começa a cobrir os medos e as neuras.
De repente vocês perceberam que têm hábitos coletivos particulares, como ir
ao cinema sempre que tem uma estréia nova, dividir impressões sobre autores
preferidos e desenvolver habilidades em dupla, como cozinhar, tocar um
instrumento ou praticar um esporte novo. Então entram em cena os amigos em
comum, os amigos novos, os amigos dos amigos novos e, de repente, a sua
vida a dois se tornou uma rede de momentos importantes e simples que fazem
a nossa existência ter sentido. Existem pequenas mágicas diárias
acontecendo na vida a dois de muitos casais, mas para chegar a esse estágio,
é preciso coragem: coragem para deixar de ser um e se tornar dois!

Juntando as escovas de dente: por que (ou


por que não) morar junto?

Então vocês namoram há algum tempo - uns dois, três anos - e de repente
alguém pergunta quando vocês vão se casar. Silêncio na mesa, no cômodo,
na casa, no bairro, no universo. Parece óbvio, mas casar não é como se formar
na faculdade, algo que você consegue estimar quando acontecerá - se o curso

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dura quatro anos, é provável que, em até seis, você esteja diplomado e feliz.
Mas casar é diferente. Ninguém sabe quando vai se casar a não ser que já se
tenha marcado a data. E quando alguém pergunta isso, - infelizmente -
geralmente está querendo saber sobre a cerimônia católica, a coisa clássica,
véu, igreja, arroz, carro caro com latinhas penduradas, festa cara, coisas caras
pra todo mundo ver e os noivos não aproveitarem. O casamento convencional
cada vez faz menos sentido, assim como essa pergunta inconveniente.

A questão que os curiosos de plantão não contemplam é que existe outro


“casar”. Um casar que ninguém - ou quase ninguém - te pergunta quando vai
ser. E que acontece assim, meio do nada - quando vê, já foi. Não custa tanto
dinheiro, nem precisa de tanta gente pra testemunhar, nem documentos, nem
cerimoniais rebuscados. Basta (muita) boa vontade, malas feitas, duas escovas
e um potinho. Morar junto é o novo casamento. E a decisão de quando isso
deve acontecer simplesmente não é tomada de maneira racional - por mais
estranho que possa parecer.

Tem casal que passa os primeiros meses - ou primeiros anos - se amando em


público loucamente, demonstrando para os quatro cantos do mundo o quanto
se gostam, postando mil fotos apaixonadas no Facebook, jurando amor eterno
e dizendo que no futuro vão morar juntos para depois casar e ter um
apartamento lindo repleto de filhos lindos num lindo domingo de sol. Isso me
cheira mais a exibicionismo do que a amor propriamente dito. O que eu tenho
percebido entre amigos e conhecidos é que os casais que decidem dividir o
mesmo teto todo dia não são os que planejam estar juntos a longo prazo - são
os que simplesmente querem estar juntos agora. São os casais que transam e
depois vão comer pizza, e depois vão visitar um amigo e, na hora de cada um ir
para a sua casa, percebem que gostariam de continuar juntos. Não para transar
- ou não só para transar -, mas pela presença, pelo abraço, pelos pés roçando,
pelo “bom dia” ao pé do ouvido. São os casais que vão mais ao cinema e ao
parque do que ficam trancados no quarto, porque sabem que viver junto não
se limita a transar 24 horas por dia e já entenderam que aquela história de uma
cabana e muito amor é linda até que se chegue a primeira cobrança de aluguel.
São os casais que encontraram um no outro mais do que um bom beijo ou um
bom sexo: um bom amigo.

Acho que a cumplicidade é o que faz casais decidirem morar na mesma casa.
Não é o amor incondicional. Não é o sexo incrível. Não é a fofura melosa ao
telefone. É a vontade de contar primeiro para o parceiro, é a vontade de
perguntar uma coisa e preferir o namorado ao Google. É estar varado de fome,
mas esperar o outro chegar só para comer junto. É economizar no jantar para
gastar no motel e rir disso depois. É pelas pequenas coisas. Um casal pode
decidir morar junto por mil motivos, mas frequentemente percebo que a

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principal razão para duas pessoas unirem as escovas é simplesmente a falta de
necessidade de um motivo. “Por que morar junto?”, alguns se perguntam, sem
perceber que a pergunta não é exatamente essa. Enquanto isso, os casais que
de repente percebem que seriam mais felizes sob o mesmo teto fazem outra
pergunta. Eles geralmente se questionam “por que não?”, e a resposta
simplesmente não existe. Então eles escolhem ser felizes!

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Nós Aceitamos o Amor que Achamos que
Merecemos

Um garoto adolescente, excluído do colégio e sem muitos amigos, se apaixona


perdidamente pela garota mais legal que ele conhecera até ali. Ela, no
entanto, namora um garoto mais velho e bem babaca, e não liga muito para
nosso protagonista. Ele vai até seu confessor, uma das únicas pessoas com
quem tem intimidade para fazer esse tipo de pergunta, seu professor de
literatura.E diz: Por que algumas pessoas se apaixonam pelas pessoas erradas?
Ao que o professor responde: Charlie, nós aceitamos o amor que achamos que
merecemos.

Quem viu uma das pequenas pérolas do cinema do ano passado, As Vantagens
de Ser Invisível, reconheceu o diálogo acima na cena entre Logan Lerman e Paul
Rudd. É uma das frases que valem o filme (e o livro no qual ele foi inspirado).
Aqueles momentos em que você para e pensa: não é que é assim mesmo?

Quantas vezes você já não saiu de um namoro que, seis meses depois, soava
deslocado, fora de sentido? Como eu pude me apaixonar por esse cara? Jura
que eu passei tanto tempo com uma mulher assim? Pois é, passou. Às vezes
foi por conformismo mesmo. Por não conseguir olhar para fora de si e imaginar
novas aventuras que valessem a pena, por fechar uma janela para o resto do
mundo por preguiça (ou medo, muito medo) de ter que se esforçar mais do que
o confortável para buscar a felicidade em outra pessoa.

Mas às vezes o problema está mais a fundo. Porque medo a gente reconhece
e, munido de uma boa lanterna contra o escuro e o desconhecido, a gente
eventualmente enfrenta. Mas auto-estima é um problema daqueles que cola e
não desgruda mais. Que está tão colado, tão fundo, que a gente nem percebe
que a maior parte das nossas ações é decidida não apenas por nosso poder
de escolha, mas pela imagem que fazemos de nós mesmos. Matricular-se na

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academia, voltar a estudar, mudar de emprego estão sempre condicionados ao
“eu me acho capaz disso?”.

E no amor não é diferente. Eu me acho capaz de amar mais do que isso? De


viver um amor de verdade, arrebatador, gigantesco, fundo e completo? É o
famoso “Ela conseguia coisa melhor” que um amigo fala pro outro quando
conhece o novo namorado da fulana. Ela até poderia conseguir alguém que a
tratasse melhor, que a amasse mais, que fizesse a abraçasse bem forte ao invés
de virar pro lado na hora de dormir, que a respeitasse mais, que, quem sabe,
vai saber, até a admirasse. Que ficasse sorrindo de bobeira na hora em que ela
trocasse de roupa. Que repetisse, de vez em quando só pra lembrar, que ela é
a mulher mais incrível que ele já conheceu na vida. Mas nós aceitamos o amor
que achamos que merecemos. E quem acha que merece tudo isso, né?
Alguém mais feliz.

Conselho aos desesperados por um par:


continuem sozinhos

A vida é realmente muito melhor com companhia. Mas, aqui vem a regra de
ouro - tem que ser com a companhia certa. O mundo está cheio de gente
desesperada para namorar, casar, noivar, ou para conseguir um cobertor de
orelha qualquer que o aqueça neste inverno.E está cheio de gente frustrada,
reclamando aos quatro ventos que não serve para essa coisa de
relacionamentos.

Bem se vê que não serve mesmo, já que saiu por aí escolhendo qualquer um. Aí
vai uma dica. A modernidade trouxe um montão de coisas bacanas para gente.
Eu não saio de casa sem meu celular, consigo encontrar qualquer endereço
fazendo uso de um GPS, e falo com amigos em outro continente sem pagar
nada em ligações pela internet. Mas eu diria que, no mundo dos
relacionamentos, o grande avanço da modernidade foi a tal da ficada.

Quando eu tinha lá pelos 12 anos, surgiu essa coisa nova chamada Ficar. Pais
tremiam na base, professores não sabiam o que era direito e, na dúvida, era
melhor não incentivar. Mas que grande ganho para a humanidade! A partir

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daquele momento, o namoro não era mais o momento em que você conhecia
uma pessoa para ver se ela servia ou não. Até porque, apresentar para os pais,
os amigos, para os contatos do Facebook, sem nem saber direito se a pessoa
vale a pena ou não? Hoje parece estranho, mas era o normal da época em que
namoro era dar as mãos no sofá com a supervisão do pai na sala de estar da
casa dela.

Agora, a vida não é mais tão complicada assim. Na maioria das vezes, a palavra
namoro só aparece tempos depois do primeiro beijo. Por isso que eu não en-
tendo quanta gente abre seu coração, entrega a vida, namora e faz planos, com
quem não merece. E pior: com quem é descaradamente a pessoa errada para
o indivíduo confuso em questão. Todo mundo aqui já passou pela situação de
conhecer o namorado/namorada do amigo e pensar na hora: Mas como esses
dois foram achar que combinam? Pois é culpa daquele velho desespero.

Na nossa sociedade, aquela mesma que promoveu o Ficar lá atrás, ser


sozinho é sinônimo de ser fracassado. Chega aquele churrasco de
comemoração de dez anos do seu colegial. Imagine a cena: todos os seus
amigos casados, metade deles com filhos, carreiras brilhantes, tudo definido
e você sozinho? Soa mal, soa bem mal. Mas não tem que ser assim. Afinal de
contas, sua vida é pra você, e, como diziam nossas mães, ninguém paga suas
contas.

Portanto, aqui vai minha grande sugestão para os corações solitários à


busca de um amor. Continue sozinho. Tire um ano sabático de sua vida
amorosa. Continue solitário assim até achar alguém que mereça fazer com que
você desista disso. A vida de solteiro tem suas vantagens, e a maior de todas
é que o mundo todo está aberto em uma grande possibilidade bem diante dos
seus olhos. Tem algo de mágico em imaginar que a próxima esquina pode ser
o lugar onde você vai conhecer a mulher ou o homem dos seus sonhos, e viver
aquela grande aventura com que todo mundo, lá no fundo, fantasia. Só não saia
distribuindo passagens por aí e depois reclame que a viagem não foi grande
coisa. O meu mundo não é lotação, é área VIP.

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Uma Geração de Covardes e Traidores

É só olhar para o lado: quantos amigos e amigas você tem que já traíram al-
guém? Que namoram, no regime de exclusividade, mas de mão única, claro?
Você pode muito bem ser um desses casos. Eu conheci uma garota nos seus
23 anos que tinha 2 namorados.Relação séria mesmo, de conhecer os pais
de todos. Falava na maior normalidade: era mais fácil ela morrer de tédio por
transar com o mesmo cara todo dia do que de algum remorso por enganá-los.
Como não tinha jeito pra sair caçando uma noite só na balada, mantinha
namorados paralelos em círculo de amigos diferentes.

A traição sempre aconteceu e não é uma exclusividade dos tempos modernos.


Mas hoje, e essa é a frase mais triste que eu poderia dizer sobre esse
assunto - é normal. É normal brincar com o coração alheio, a traição já virou
rotina, aquela uma vez por semana na balada da quinta-feira, quando é mais
fácil dar a desculpa sem imaginação do ‘trabalhei até tarde’. Já ouvi de mais de
um amigo o conselho - não importa se ele disse que vai almoçar com a mãe, se
vai no futebol ou fazer cerão no escritório: se ele não está com você, ele está te
traindo.

Isso, meus amigos, é porque somos uma geração de covardes. Trair é


almejar um estilo de vida que você não tem colhões para assumir. Não existe
nada de errado em comer uma por noite, se é isso o que você quer. A parte
cruel, a parte que realmente determina que seu caráter é praticamente
inexistente, é manter uma pessoa ali por segurança. É brincar com as
expectativas, com os sentimentos daquele único cara que se importou o
suficiente para ficar.

Agora me diz: em que ponto da nossa vida nos tornamos completos idiotas
sem compaixão? Estúpidos sem qualquer sentimento de identificação e
simpatia com o outro a esse grau? É aí que entra o problema de uma geração
inteira de homens e mulheres que hoje têm entre 25 e 35 anos. Meu marido
costuma dizer uma frase muito bonita, cheio de orgulho quando lembra do pai
e da mãe, já falecidos. Ele diz que os dois ‘o criaram para ser um homem de
bem’. A maioria de nós fomos criados assim, não? Mas os pais de alguns
também nos criaram para ter tudo da vida.

Existem estudos sobre essa geração X (agora já existe até uma Z, mas essa
ainda é uma mistério pra mim) que se refletem muito no que eu vejo por aí. São
os filhos tratados na base do ‘como você é inteligente!’, ao invés de ‘como você
se esforçou pra fazer isso!’. São os predestinados, os que acham que já têm
por direito um lugar no mundo, e que não precisam se esforçar para ser ‘um

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homem/mulher de bem’ para conquistar a vida. Tudo o que precisam fazer é
chegar e pegar o que bem entenderem. É uma geração completamente
mimada e, por consequência, covarde, que não tem coragem para crescer.
Eternos infantilóides desmamados.

Ninguém mais se assume. O mundo está mais me parecendo uma grande sala
da mãe, em que as crianças continuam ocupadas em quebrar o vaso preferido
dela e esconder debaixo do sofá para que ninguém descubra. Eu tenho uma
novidade: sua mãe não manda mais aqui, você está sozinho. Se ela não te
disse isso, eu faço as vezes de professora dessa grande creche que se tornou
o mudo e digo - você é adulto o suficiente para fazer, seja adulto o suficiente
para assumir. Assuma os seus atos. Assuma a sua vida. Tem um problema com
alguém? Diga na cara e tenha bolas para se aventurar por esse caminho antes
tão natural e hoje tão esquecido, o caminho da honestidade. Não passe a vida
evitando ser você. E, por favor, cresça antes que alguém que não fez nada além
de te amar seja mais uma grande vítima dessa sua geração covarde.

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O sonho da mulher dos seus sonhos

E eu chego em casa cansado. Jogo minhas roupas pelo chão do quarto e sento
no sofá, acabado. Ela chega, me grita atenção e fala como uma doida de como
foi teu dia. Eu fico entre um “uhum” e outro. Entre uma risada e outra. Mas fico
com olhos e ouvidos bem atentos, como um menininho ouvindo uma história de
uma heroína que salvou a cidade e ainda lembrou de passar no mercado para
comprar meu iogurte predileto.

Ela me faz massagens quando eu peço. Mas só aceita fazer caso eu


prometa fazer nela também. Ela trabalha, estuda, dá um trato em seu visual,
malha, prepara a comida e ainda arruma tempo para me amar e me pedir para
levá-la no cinema. Às vezes, eu penso como é louco o amor. No começo, eu
passava noites em claro só para descobrir a melhor forma de conseguir ter um
encontro com ela. E, hoje, ela é quem me convida. No primeiro encontro, eu
passei quase duas horas inteiras me arrumando. Coloquei minha melhor
roupa e me encharquei com meu melhor perfume só para agradá-la. Hoje, ele
me acha lindo de moletom ou suado pós o futebol.

Ela me espera. Ela fica ansiosa para me ver. E me liga só para dizer que está
com saudades. Ela diz que ama e que morre de tesão por mim, também. Ela
me faz carinhos e arranhões que nunca tive. E me beija o corpo inteiro.
E quando briga comigo por ciúmes é por medo de me perder. Ela é perfeita,
mas não sabe. O meu lado possessivo até acha isso bom. Porque no dia que
ela perceber que ela é dez mil vezes melhor do que qualquer mulher nesse
mundo, vai querer outro cara dez mil vezes melhor do que eu. E há vários caras
perfeitos por aí. Mas não sei como, ela se encantou por minha barba mal feita,
por minhas piadas sem graça e por meus olhos cansados.

Bendita a sorte a minha. Até hoje não sei o que falei para ter roubado a atenção

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dela. E, se um dia descobrir, falarei o dia inteiro. Trato-a como uma rainha tendo
a certeza de que não sou merecedor de um lugar em teu altar. Mas me esforço
tanto que ela acha graça até das minhas imperfeições.
É a sorte de ser o sonho da mulher dos seus sonhos.

O amor é rotina que não cansa

O amor que ele sente por mim, aquele impresso em meus pelos, é o que me faz
levantar de manhã sem meu tradicional mau humor, conseguir sorrir sem piada
alguma e me achar linda mesmo descabelada e com a cara toda amassada.
Meu coração, antes dele e de seu par de sobrancelhas, era fechado à sete
chaves como um porão ou um abrigo para alguém que tentava fugir de toda a
devastação que um sentimento tão grande nos causa. Não havia senhas,
passwords ou códigos que me faziam abrir um sorriso vermelhadamente
apaixonado. Mas com ele, me abro mais do que uma flor na primavera apenas
com sua digital carregada pela ponta dos seus dedos ao encostar levemente
em qualquer parte do meu corpo, principalmente em minha cintura, minha nuca,
meu lóbulo da orelha ou meu queixo.

E ali, há menos de dez minutos de ter despertado, ele já se desenha como o


homem mais bonito do mundo, mesmo com olhos zonzos, barba gritante e
sem trajes de gala ou coisa assim. Ele não me diz “bom dia” por não saber falar
quando está com sono. Mas me dá um beijo na testa e um abraço apertado,
afastando qualquer tipo de pesadelo que eu possa ter tido longe dele. Diz que
não gosta de me beijar a boca quando acorda por todas as horas que dormiu
de boca aberta, babando ao meu lado e criando aquele tradicional bafo matinal.
Tem medo de que eu perca o encanto por seus beijos.

Levantamos juntos. Enquanto eu vou tomar banho – já que eu demoro mais


para me arrumar - ele faz xixi, lava o rosto e prepara algo simples para
comermos pela manhã. Faz umas bisnaguinhas com queijo branco, um suco de
qualquer coisa e nossa pequena mesa da cozinha já está linda com todos os
nossos gostos cotidianos. Vou me arrumar e ele corre para o banho. Reclama
do chão todo molhado de sempre, mas depois esquece e, agora, me dá um
beijo decente na boca com gosto de pasta de dente.

Conversamos sobre os afazeres do dia. Quem sair mais cedo do trabalho,

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busca o outro. Talvez, um cinema no Odeon ou um jazz na Lapa. Mas termos
que passar no supermercado porque acabou o arroz. Aproveitar, também, para
comprar mais laranjas e iogurtes. Entramos no metrô e pegamos linhas
diferentes. Embora façamos isso todo os dias, há sempre uma novidade nos
detalhes que me faz acordar com mais anseios de viver as surpresas que ele
tem para me proporcionar. Um suco novo. Um beijo novo. Uma pasta de
dente nova. Uma reclamação diferente. Porque o amor é a rotina que não
cansa. A chama que não apaga. Amor é sempre ter calma, alma, cama e beijos
para quem a gente ama.

Qualquer motivo pra você ficar

Fique um pouco mais. Na geladeira tem aquele suco que você gosta, aquele
queijo polenguinho que você ama colocar no pão e temos pizza de ontem
também. Fique. Deve chover daqui a pouco, pelo menos eu ouvi dizer. Mas
se não, deve estar quente demais.Fica. Eu ligo o ar condicionado ou fico te
abanando, se você quiser. Fique um pouco mais. Ou muito mais. Tem algum
maço de cigarro teu perdido em meu armário. Tem aquele short meu que você
gosta de dormir. E eu comprei DVDs legais esse mês, fica pra gente ver junto.

Fica, vai. Eu lavo a louça e posso ler pra você, também. Posso fazer pão de
queijo ou pizza de mentirinha. Eu arrumei a cama pra gente. Ou podemos ficar
aqui neste sofá cor de vinho. Fique. Lá fora, está perigoso demais, eu vi no
noticiário. Há trombadinhas por toda a cidade, que assaltam em ônibus ou
esquinas. E os taxistas também são maus e podem tentar te assediar ou algo
assim.

Fica aqui comigo. Eu estou doente. Olha? Estou começando a ficar com febre,
tosse ou câncer, sei lá. Minhas mãos estão tremendo e eu sinto que meu
coração está acelerado demais esta noite. Fica para cuidar de mim? Fica, vai.
Tua mãe pode esperar. Teu ex pode esperar. Teus amigos que dão em cima de
você, também, podem esperar. Até as tuas amigas que não gostam de mim
podem esperar. Fica, vai. Manda mensagem ou liga para todos eles e diz que foi
por aí.

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Fica. Tem biscoitos de chocolate na cozinha. Tem livros legais na prateleira. Tem
jogo de tabuleiro, baralho ou coisa assim. Tem coisa de beber, de fumar. Fica,
droga. Tem seriados legais no 44. Eu prometo não te machucar fazendo
cócegas. Prometo acarinhar o lóbulo da tua orelha e te fazer massagens
também. Ou te colocar no meu peito e te fazer carinho na nuca até você dormir.
A gente pode transar, se você quiser. A gente pode falar mal dos outros ou da
gente mesmo. A gente pode ficar em silêncio, também.

Você realmente quer ir? Tudo bem. Pode ir. Mas me deixe sua boca. Teus
braços. Tua voz. Tuas pernas. Teu peito. Ou melhor, vai não. Fica aí, que você é
meu pedaço de luz. Que você é o todo do tudo que preciso.

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Os poderes da arte de rir do outro (e de si
mesmo)

Algumas pessoas, quando entram numa relação amorosa, levam ao pé da letra


certas recomendações maternas que dizem para tratar o a vida a dois com
seriedade. O problema é que muitos a levam de um jeito tão pesado, que
perdem toda a espontaneidade. Praticamente pregam na parede da casa os
dez mandamentos e contabilizam cada problema amoroso na tabela do Excel.

Com o tempo se queixam que a vida de casal é pesada, sem graça e


entediante ou que a rotina massacra, faz perder a paixão e a admiração.
Conviver com um general mau humorado e chato é difícil pois cada ação tem
que ser meticulosamente pensada como se fosse decisiva. Pessoas que se
levam muito à sério e não conseguem rir de si mesmas, podem fazer o
relacionamento algo insuportável.

Não sou muito habilidoso no volante, diria que bem ruim pois me perco pra
caramba, e decidi que não posso arrancar meus cabelos a cada manobra
enganosa que faço. Aprendi a rir disso e sem constrangimento me expor à brin-
cadeiras à esse respeito, minha esposa se diverte e leva na esportiva. Mas no
passado já ouvi de ex que não poderia confiar numa pessoa que se perde
no trânsito. Como assim?

Não sou partidário de bullying conjugal, mas uma dose de riso e humor já se
comprovou ser benéfico entre duas pessoas que passam muito tempo juntas.
Você já experimentou brincar com suas dificuldades? Já tentou ensaiar novas
posturas, abrir espaços lúdicos em que as frustrações possam ser faladas sem
o peso do “ferro e fogo”? Aposto que já falou mal dos seus pais para o parceiro

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e quando ele foi acompanhar a brincadeira você se ofendeu. Teria sido melhor
entrar na dança e tirar sarro, afinal toda família (inclusive a sua) tem maluquice.
Lembro de estar uma vez num show de stand-up comedy e ficar muito
constrangido por um casal que estava na primeira fila ao meu lado com uma
fisionomia de velório. Ao vê-los calados como uma catacumba, imaginei aquele
clima tenso entre os dois a cada palavra mal posta ou pum fora de hora.

Na maior parte das vezes não é a falta de amor que corrói uma relação, mas a
rigidez, a inflexibilidade e a falta de senso de humor. Quem é alvo de riso não
perde o respeito se encara tudo com abertura para tirar o peso de estar sempre
no controle.

Quando se trata de gênero, tive que dar o braço a torcer quando numa
conversa com o autor de novelas Silvio de Abreu ele próprio confessou que as
mulheres de forma geral se levam mais a sério, porque associam respeito com
sisudez. Segundo ele, a maior quantidade de emails indignados é de maioria
feminina enquanto os homens têm o hábito de tirar sarro entre si e costumam
fazer chacota de si mesmos.

Quantas vezes orientei os pacientes homens a se imaginarem sendo outros


personagens quando estão com suas parceiras para provocarem reações
inesperadas. Um canal de comunicação que estava fechado se abre
magicamente pelo humor. A primeira coisa que noto num casal com problemas
é sua dificuldade em rirem juntos. Tirar o palhaço de dentro de si é uma
habilidade que poucos tem nesse mundo que a ética parece que está
separada da alegria. Para ser respeitoso não é preciso esconder os dentes e
franzir a testa.

Aliás, o sexo brincado é ainda melhor do que aquela coisa religiosa, silenciosa
e atravancada de muitos casais. Mal se fala de pinto e buceta sem
desconforto. São pessoas que se conhecem intimamente e tratam o sexo ruim
como se fosse um tabu e uma broxada sem riso. Porque ser tão matemático na
hora de gozar?

Entre quatro paredes e fora dela, vale bancar o bobo da corte e tirar sarro do
rei orgulhoso dentro de você. Afinal, para ser feliz com a pessoa amada, há um
pré-requisito essencial: não morrer de velhice precoce.

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A verdade por trás do “ele não era pra
você”

Toda mulher em algum momento da vida amorosa já levou um fora e recebeu


da amiga a frase supostamente consoladora: “Esse cara não era pra você”.
Variações desse mesmo tema seriam “ainda não chegou sua hora”, “ele não
vale o seu amor”, “ele não te merece”, “tem quem queira”, entre outros.

Esse conselho tende a ser extremamente duvidoso, já que, se o cara não


tivesse caído fora, provavelmente o comentário seria algo do tipo: “Estou tão
feliz, vocês nasceram um pro outro!”. O critério dessa esperteza da amiga para
identificar a alma gêmea depende do resultado, portanto, reflete uma maneira
bem infantil de lidar com a frustração. A filosofia embutida no conselho é estéril,
pois cria uma realidade ilusória ao tentar convencer a rejeitada de que ela não
foi realmente deixada de lado. É como se mascarasse o fato de que não houve
uma amor/desejo/tesão de verdade.

Vejo uma especial dificuldade das mulheres em admitir essa recusa, já que
costumam estar com a varinha das decisões na mão na maioria das vezes, o
que dificulta a digestão da realidade. Quando elas próprias se veem na berlinda
da vida e são recusadas, acabam usando desses artifícios mentais para passar
um pano sobre a mancha do fracasso amoroso e fingir que nada daquilo
existiu. A mesma visão cheia de orgulho - que nega a realidade - é aquela que
faz muitas mulheres permanecerem meses na esperança de que o cara um dia
irá deixar o trabalho/família/namoro “ruim” para ficar com elas.

Esse tipo de mentalidade precária está presente em muitas fases da vida dessa
garota e pode ser uma armadilha enganar a si mesma tantas vezes.

Se ela quer um trabalho e tenta passar nas entrevistas de emprego sem


sucesso alguém vai dizer “esse lugar não era para você!”, ou seja, “já que você
não passou vamos todos fingir que não queria o trabalho dos sonhos só para
não ficar destruída”. Acho um crime psicológico induzir alguém a rebaixar seus
desejos só porque a realidade ainda não atendeu as suas metas. Seria mais
realista se esforçar, aplicar, estudar e tentar novamente e diante da
impossibilidade final alegar insuficiência pessoal e bancar a tristeza do sonho
não realizado, mas não fazer de conta que no fundo não queria aquilo.

O engano subliminar dessas frases de consolos é “só deseje algo de verdade se


sair vitorioso, caso contrário negue seus sentimentos e finja que está tudo bem”.
É o despeito camuflado da sabedoria de dar a volta por cima, ou seja, coisa de

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quem nunca consegue ficar por baixo por nenhum instante na vida.

E se o sujeito volta disposto a entrar num relacionamento por inteiro, o que ela
vai dizer? Vai fingir que não queria e ele não era feito para ela? Vai negar tudo o
que tentou se convencer? Ou vai usar a mesma lógica as avessas e dizer “claro,
eu nunca quis te esquecer”?

Não acho honesto as abordagens que reprimem a dor natural pela perda de
alguém valioso com o pretexto de proteger a autoestima (ou narcisismo) da
amiga e não deixar a peteca cair. A demonstração de amizade madura seria
dizer algo do tipo: “Você queria tanto entrar nesse relacionamento e fico triste
pela perda, agora deixa a poeira abaixar e tente se recompor devagar, no seu
tempo”. Muito mais honesto e realista.

Para agir com essa maturidade emocional diante da dor da solidão recusada,
é essencial assumir a tristeza sem autopiedade e com humildade para poder
seguir em frente, mas sem desviar os olhos da realidade difícil - afinal, somente
quem encara os fatos de frente na vida, consegue usufruir dos benefícios que
chegam depois dos espinhos.

Da próxima vez em que disser “Ele só quer


me comer”, lembre-se disso

Ouço muitas mulheres se lamentando sobre os homens dizendo que eles são
tarados, sexualizados demais, que não querem nada sério, que namorar nem
pensar e se queixam dizendo: “no fundo, só querem me comer”. Sei qual é o
incômodo implícito nessa queixa - o de serem vistas como um pedaço de
carne, apenas um apelo sexual, uma vagina ambulante, em resumo, um
OBJETO.

Essa sensação desagradável é legítima, mas quero ampliar o papo, afinal o sexo
não é única maneira de tornar uma pessoa um objeto. Objetificar uma pessoa é

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um processo mental de despersonalização dela em favor de um único aspecto
ou traço de sua personalidade, condição social ou material. Traduzindo -
quando você fala da mulher gostosa, do amigo gay, do cara cheio da grana,
está objetificando essa pessoa, ou seja, reduzindo-a a um só aspecto e
perdendo tudo o que diz respeito à pessoa como um todo.

Muitas mulheres mesmo sabendo que são vistas como “um pedaço de carne”
continuam se relacionando com o cara com a esperança que ele a veja para
além da sua bunda ou seio farto. Ela quer namorar e ter um relacionamento
“sério”. Logo que conhece o cara já começa a fazer um scanner psicológico e
quer saber se ele é um bom partido. Se ele não liga no dia seguinte ela se sente
ultrajada dizendo que ele a usou e que sentiu algo a mais por ele. Como assim
algo a mais? Ela mal conhece o cara e já o acusa de ter sido usada?

E aí vem aquela revelação bombástica - a mulher que só quer namorar e ter um


compromisso sério também vê o homem como um objeto. Um objeto para a
sua fantasia de namorada. Aquele cara perdeu sua personalidade, história
pessoal, amizades e um trabalho, aos olhos dela ele virou um namorado em
potencial. Toda a experiência que ela tem ali é filtrada por essa ideia fixa que
deixa seu olhar completamente tendencioso e aflito.

“Como assim ele não quis nada A MAIS comigo?”. Ela nem se pergunta se ele
não se sentiu como um objeto sendo visto com tanta intimidade sem ao menos
passar alguns dias ao lado dela?

A maior parte dos homens nem sabe explicar isso, mas eles sentem como
se ela quisessem grudar logo de cara e acham tudo asfixiante por um motivo
simples: ele não foi visto como pessoa. Naquela afobação para encontrar o cara
perfeito, ela age como quem está com fome e vai fazer compras no
supermercado - pega qualquer coisa e enfia na boca. Estamos falando de
pessoas, e um homem, caso a mulher esqueça, também é uma pessoa.

Então, do mesmo jeito que você se queixa que ele só quer te comer
(objeto-sexo), você também só quer namorar (objeto-compromisso/proteção
emocional). Ambos são tratamentos que transformam uma pessoa num objeto,
mas nossa cultura diz que só querer sexo é feio e só querer namorar é bonito,
não é? Sem enxergar o outro lado da moeda, muitas mulheres não conseguem
se soltar e ficar à vontade num contato com um homem. Estão sempre
medindo quanto ele quer transar com ela ou não. No final das contas ficam
sozinhas, reclamando e reforçando a ideia de que são vistas como objeto…
Desculpe dizer, minha amiga, você faz o mesmo!

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Para terminar
Esse ebook é oferecido gratuitamente aos leitores que fazem parte do grupo
fechado do Casal Sem Vergonha ou como bônus na compra de nosso livro
Mulheres Boas de Cama. Caso você tenha recebido esse e-book por email,
impresso, de um amigo ou por qualquer outra fonte, gostaríamos de te convidar
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(http://www.casalsemvergonha.com.br). Nele, escrevemos e damos dicas
sobre sexo e relacionamentos de uma forma direta, sem tabus e se mimimi.

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dúvidas, fique a vontade para nos escrever. Queremos ouvir você.

Obrigado por nos ajudar a criar um mundo onde sexo não é tabu e onde as
pessoas são livres para amar e sentir prazer!

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