Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
1940 - 1980
2006
1
Índice
Prefácio página 3
2
Prefácio
Os textos tem servido durante muitos anos à discussão formativa na área de pós-
graduação de História Econômica do Departamento de História da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Sua utilidade tem sido
comprovada por gerações de pós-graduandos, uma vez que são pouco comuns os textos
que utilizam métodos quantitativos na História Econômica brasileira corrente. Seu
caráter pedagógico pode, portanto, suprir uma lacuna como fonte de discussão dos
temas abordados e da polêmica quantitativista, sem prejuízo de prós ou contras.
3
Apresentação
4
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
5
1. Introdução
A partir de 1930, o processo de industrialização no Brasil acelerou-se de modo
notável. Em geral consideramos três aspectos como elementos importantes para tal: (a)
a crise de 1929-33, com seus efeitos sobre a renda agrícola e a conseqüente viragem dos
investimentos para o setor secundário; (b) a mudança do governo - por via de rápida
guerra civil -, a partir da quebra da hegemonia que o café concedia ao eixo São Paulo -
Minas Gerais; e (c) uma nova visão do poder nacional, influenciada pela ideologia
positivista, que propunha um dever social ao estado, à base de classes e o crescimento
"em bases científicas".
O efeito combinado destes e de outros elementos permitiu à industrialização
empreender-se por via de uma combinação de: (a) ganhos das exportações e das
importações; e (b) substituição das importações, de acordo com um sistema cambial de
tarifas múltiplas. Assim, a industrialização se caracterizou por lados ascendentes de
ciclos definidos: (1) o de 1933 - 1938; (2) o de 1945 - 1952, e (3) o de 1956 - 1962.
Estes ciclos foram interrompidos por depressões temporárias, cujos efeitos foram mais
ou menos extensos, em dependência da qualidade das políticas econômicas de ajuste
aplicadas.
(1) O Ciclo de 1933 - 1938 - O lado do ciclo ascendente de 1933-1938
caracterizou-se pela expansão do setor secundário à sombra de alguns condicionantes
altamente favoráveis; (a) a queda parcial da renda agrícola, reduzindo temporariamente
a capacidade de importação, permitiu uma certa extensão de industrialização
substitutiva; (b) como a queda foi parcial, a renda agrícola manteve estruturado o setor
de serviços, que pôde assim virar-se para o processo de industrialização e urbanização;
por outro lado, a manutenção dos preços agrícolas permitiu manter a demanda interna -
industrial e alimentar - e satisfazer a demanda externa, quando esta se recuperou, a
partir de 1933.
(2) O Ascendente do Ciclo de 1945 - 1952 - Os efeitos expansivos da Segunda
Guerra Mundial foram verificados no Brasil pelas políticas econômicas do plano de
Guerra, com um reequipamento parcial de portos e ferrovias, estradas, a abertura de
aeroportos e projetos para industrialização acelerada (hidrelétricas, pólos industriais,
etc). A formação da Cia. Siderúrgica Nacional e da Cia. Nacional de Álcalis estavam
dentro desta política de implementação da indústria pesada, e tais atividades seguiram
se expandindo, apesar da crise de 1947-49, que no Brasil atingiu mais o comércio e a
6
indústria leve, em função da restrição creditícia. A forte expansão siderúrgica permitiu
lançar a Fábrica Nacional de Vagões (em 1953) e o início da produção doméstica de
caminhões e automóveis na FNM (antiga Alfa Romeo, no Brasil). Devido a crise de
1953 e a reviravolta política de 1954, com a morte de Vargas, os adversários da
industrialização induzida por via pública e acelerada tiveram a oportunidade de abrir os
mercados expansivos ao capital estrangeiro e - em certa medida - iniciar a inviabilização
do modelo substitutivo de importações.
(3) O Ascendente do Ciclo de 1956 - 1962. - Este ciclo foi caracterizado por
uma expansão conjunta das indústrias pesadas e leves, com a criação do ramo da
química pesada (Petrobrás), expansão da capacidade hidrelétrica (CHESF, Furnas, Três
Marias) e renovação da construção naval. Aumentou também a integração dos ramos
agropecuários e alimentares, podendo-se então se referir a "um complexo agro -
alimentar" como núcleo da expansão urbana e da elevação do padrão de vida dos
trabalhadores industriais. Iniciou-se a produção de equipamentos domésticos vitais,
como geladeiras (1953), fogões a querosene e a gás (1952), liquidificadores (1952),
eletrolas, etc; bens cujas ofertas atingiram aceleração notável no período 1956 - 1962.
Em virtude da política incompetente do governo Quadros, com a eliminação do sistema
de tarifas múltiplas e de proteção cambial a ramos da indústria doméstica, precipitou-se
a crise do modelo de substituição de importações, agravada pela crise política (queda de
Quadros, a ameaça de guerra civil, golpe do parlamentarismo, o retorno do
presidencialismo e golpe militar de 1964).
É possível, contudo, estudar-se o processo de industrialização como um
processo único, sob a égide da substituição de importações, no período 1933 - 1964,
particularmente no período 1951 - 1964.
O processo de industrialização no período 1951 - 1964 acompanhou-se de uma
série de mudanças estruturais. As indústrias manufatureiras, especialmente os ramos
pesados, expandiram-se a taxas mais elevadas que nas décadas precedentes. Quando
medido por preços reais de 1949, o PIB cresceu à taxa de 6% ao ano no período, apesar
de oscilações na produção agrícola. A alta taxa de investimento no período é notável
também pela expansão generalizada da procura na economia, uma vez que a expansão
dos ramos leves e pesados correu paralela, em busca de recursos relativamente escassos
como mão-de-obra especializada, capital e tecnologia, particularmente do exterior, os
dois últimos itens. Uma parte considerável dessa massa de investimentos era de origem
pública ou induzida por créditos ou despesas públicas. Os recursos foram produzidos
7
pelos mecanismos da emissão monetária, a aceleração do crédito, isto combinado com a
expansão do poder de compra no exterior, que só veio a ser prejudicada pela estagnação
comercial regional de 1958-1962.
2. A Década de 1930.
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960
8
A crise econômica de 1929 – 1933, caracterizada por uma redução da procura e
uma queda de preços, significou também falências, diminuição da produção e do
emprego em escala sem precedentes. Nesse sentido, os seus efeitos sobre a divisão
internacional do trabalho (D.I.T.) foram bem diferentes, por exemplo, da crise clássica
de 1920, que se caracterizou pelos fenômenos das economias envolvidas no conflito
precedente. No caso da crise de 1929, ela atingiu os países periféricos em pleno,
transferindo-lhes forças descendentes de grande pressão, contornadas apenas no caso de
alguns países, que tiveram êxito em produzir políticas anticíclicas específicas.
A observação indica o Brasil como um dos países periféricos, ligado
praticamente à monocultura de café, mas que logrou escapar rapidamente ao mecanismo
depressor da crise, por via de: (a) políticas de proteção do preço do café (via destruição
e financiamento dos estoques); (b) por extensão, política de proteção dos preços
agrícolas em geral (com forte benefício para o algodão e o cacau); (c) políticas de
sustentação da renda interna – que decorreu obviamente dos dois primeiros itens,
aproveitando-se o espaço deixado pela queda das importações para a prática da
industrialização substitutiva; (d) políticas antidepressivas de crédito e investimento nos
setores secundário e terciário.
No gráfico 1 pode-se observar a pendente do produto do setor secundário no
período 1930 – 1964. O efeito da “decolagem” (take-off) é visível, havendo, pois,
sustentação no crescimento industrial. O país, que em 1929 tinha 70% das suas receitas
de exportação geradas pelo café, teve que adaptar-se às novas condições criadas pela
crise, e a aceleração do processo industrial foi uma resposta adequada. Fatores fortuitos,
sem dúvida, também contribuíram para o desempenho adaptativo: (a) o Brasil tinha uma
larga experiência de urbanização; (b) a industrialização havia-se dado por via de surtos,
desde o período colonial; (c) o Estado tinha forte experiência industrial; (d) o
empresariado industrial havia se tornado uma força independente, por efeito dos surtos
de 1894 – 1913 e 1917 – 1924, e da “Revolução de Outubro de 1930”. Pela combinação
de todas estas pré-condições favoráveis é que pode-se explicar a definitiva viragem para
a industrialização, ocorrida no período 1933 – 1938, e sustentada depois, nas condições
da Segunda Guerra Mundial.
O gráfico 2 apresenta em escala comparável as pendentes do setor terciário e do
setor secundário, no período 1930 – 1950. Vê-se a reciprocidade do crescimento de
ambos setores, em nítida associação de suas taxas de desenvolvimento. Isso demonstra a
hipótese interpretativa assumida, qual seja, a da convertibilidade e compatibilidade do
9
setor terciário para a expansão do setor secundário no período. Um importante fator
dessa reciprocidade expansiva é o fato de que ambas as estruturas, a primário-
exportadora e a industrial-manufatureira, se basearam na produção alimentar, e estavam
sediados na mesma região do país, o Sudeste. Portanto, a indução de uma
industrialização substitutiva das importações estava implícita na mudança da posição do
setor primário e, conseqüentemente, do setor terciário, como frisou Furtado. A
industrialização substitutiva nasceu, pois, da própria lógica do recuo nas atividades
primárias exportadoras e sustentou-se, de fato, enquanto estas atividades primárias
desempenharam o papel de carreamento de grandes excedentes de moeda forte desde o
exterior. Foi tal influxo, por via das exportações, que permitiu expandir as importações
no período, e baratear os custos relativos da indústria doméstica, tornando-a viável.
Daí que a industrialização substitutiva tenha-se caracterizado na década de 1930
pelo avanço dos ramos têxtil e alimentar. Este crescimento era de natural
complementaridade com as mudanças que estavam ocorrendo na agricultura e que
demonstraram a forte descapitalização que a mesma possuía, fora dos setores de
atividade exportadora.
150 60
50
125
40
100
30 Secundário
20 Terciário
75
10
50
0
25 -10
30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19
3. A Década de 1940
As taxas de crescimento do consumo pessoal e da população podem ser vistos
em sua variabilidade recíproca para o período 1930 – 1950, no gráfico 3. É possível se
observar uma depressão-de-consumo, a chamada “crise de crescimento de consumo”, no
período até 1932, seguramente relacionada com a queda da renda referente à crise de
1929 – 1933.
10
O consumo, no entanto, segue-se expandindo favoravelmente (por cima da taxa
de crescimento da população) até 1937, quando inicia-se outro período de instabilidade
até 1940. Seria de esperar-se, após 1932, o advento de uma “crise econômica”, que
geralmente sucede a uma estagnação do consumo, mas tal certamente foi evitado pelo
pacote de políticas anticíclicas aplicado pelo governo brasileiro, na proteção do café, da
renda interna, e, conseqüentemente, pelo efeito resultante da industrialização
substitutiva. A expansão do consumo mantém-se até 1947 em situação depressiva
relativa ao crescimento populacional, o que sem dúvida se explica pelo esgotamento da
capacidade ociosa na indústria em 1941 e a ausência de equipamentos para a expansão
secundária, durante a Segunda Guerra Mundial.
A partir de 1949, os efeitos da crise de adaptação das economias das metrópoles
(1947 – 1949) deixa de se verificar, iniciando-se a expansão do consumo motivada com
os fatores do conflito coreano e seu mercado.
Tem-se assim dois movimentos básicos da industrialização na década de 1940:
(a) um movimento associado com a Segunda Guerra Mundial; (b) outro movimento
associado com a crise de 1947 – 1949.
(a) Efeitos da Segunda Guerra Mundial – A industrialização que havia sido
retomada a partir de 1933, sofreu os efeitos da depressão norte-americana de 1938, que
afetou a demanda comercial pelos produtos agrícolas brasileiros de exportação. A
flutuação de 1938 – 1940 foi, contudo, contra-trabalhada pela Segunda Guerra Mundial,
e sua demanda por matérias-primas, couros e, até mesmo, produtos industrializados,
como os têxteis brasileiros. A exportação atingiu, neste período, consideráveis níveis,
11
gerando forte movimento inflacionário pelo excedente do comércio exterior, uma vez
que o conflito deprimiu as ofertas importáveis no exterior e reduziu as fontes externas
de oferta.
As demandas criadas pelo governo - através de seu plano de preparação bélica -
permitiram canalizar os recursos disponíveis, por via de mecanismos compulsórios
(imposto de renda, obrigações de guerra, etc). O "plano especial de obras públicas e
aparelhamento da defesa nacional" teve por efeito iniciar a penetração do interior com
rodovias, em aparelhar portos e criar aeroportos, obras decisivas para a expansão
posterior da industrialização e da urbanização. Na verdade, este plano inseria-se nas
medidas de guerra dos EUA para barrar a expansão nazi-fascista na África e no
Mediterrâneo.
A expansão realizada, portanto, durante o período da Segunda Guerra Mundial,
tinha um caráter de tensionamento máximo dos recursos, com exportações maciças dos
itens produzidos no país, e uso até o limite da capacidade de produção industrial. O
resultado foi um saldo superior a 800 milhões de dólares norte-americanos no fim do
conflito e uma acrescentada experiência de industrialização substitutiva, em que
ressaltam a Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia de Álcalis.
(b) Expansão no Após Guerra - Evidentemente a expansão com base no uso
intensivo de equipamentos (era comum dois turnos de trabalho) formou uma mão-de-
obra numerosa no setor urbano e estimulou a migração das áreas rurais para as cidades,
em busca de empregos e rendimentos mais elevados. Por outro lado, o Plano Marshall
no exterior e a demanda por equipamentos nas metrópoles para se ressarcir das
destruições de guerra, elevou o preço dos bens industrializados. Isso não deixava outro
caminho para as autoridades públicas locais senão estabelecer um sistema de tarifas
múltiplas, e acelerar a industrialização substitutiva. Esta política não foi aplicada sem
conflitos e indecisões, do que resultou efeitos mais desastrosos do que seria de esperar,
seja da parte da crise de 1947-49, seja na crise posterior de 1953-54. No entanto, os
ganhos das exportações durante o conflito coreano, particularmente no ano de pico de
1952, permitiram atravessar estas oscilações, particularmente com ganhos para o setor
industrial em formação.
A depressão do consumo vista assim no período 1938-1947 (vide gráfico 3),
tem sua explicação na base insuficiente do setor secundário, e nos cortes de oferta desde
exterior, propiciadas pelo conflito mundial e suas conseqüências.
12
O gráfico 4 expõe as pendentes dos produtos do setor primário e do setor
secundário em cruzeiros constantes de 1949, para o período 1930 - 1950. É visível o
tanto o crescimento sustentado do setor secundário durante todo o período, como sua
diferença de perfil com relação ao produto primário, em face da queda deste,
representada na crise norte-americana, a partir de 1938. O setor primário retoma sua
ascensão, porém num patamar inferior e com a pendente mais suave, refletindo as novas
forças em operação no comércio internacional, a partir da década de 1940 e seu conflito
mundial.
70 90
85
80
60
75
70
50 65
60
55
40 50
Pendente do Setor Secundário
45
40 Pendente do Setor Primário
30
35
30
20 25
20
15
10
10
5
0 0
30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19
13
compulsória; (5) o equilíbrio na remuneração dos fatores produtivos, estimulando a
expansão física da produção; este mecanismo funcionou plenamente até 1958, apesar da
aceleração das taxas de inflação; (6) a progressiva ocupação dos numerosos mercados
primitivos existentes na economia.
(1) Preços favoráveis do café – Os efeitos antidepressivos da Segunda Guerra
Mundial e da Guerra da Coréia sobre os produtos tropicais em geral já foram
observados em diferentes estudos. Trata-se aqui de chamar à lembrança o efeito duplo
sobre os preços de (a) uma crescente demanda de guerra (1940 – 1945 e 1950 – 1953), e
(b) uma forte redução dos estoques e áreas plantadas com o café no Brasil.
Seguidamente, a melhoria do preço do produto levou à reversão das expectativas, e os
plantadores voltaram a incluir o aumento do número de pés de café – em ritmos
excessivos – na sua política de expansão agrícola. Uma vez que o governo brasileiro
sempre utilizou uma política de proteção aos preços e não de expansão de mercados, o
café brasileiro sofreu uma crescente concorrência de outros produtores tropicais
(Colômbia, Panamá, Equador, na América Latina) agravada pelos resultados práticos da
Convenção de Lomé.
(2) Investimentos em indústrias – Uma vez que o governo federal foi
praticamente obrigado a arcar sozinho com a expansão siderúrgica (C. S. N.) e dos
alcalinos (C. N. A.), verificaram as autoridades públicas as altas rentabilidades destes
investimentos que de forma alguma inviabilizavam novas arremetidas do investimento
público, para eliminar pontos de estrangulamento da capacidade produtiva. A planta
siderúrgica de Volta Redonda esgotou sua capacidade de 1957/8, iniciando-se
imediatamente as fases de expansão da mesma, já previstas desde a instalação. A
indústria química, iniciada durante a Segunda Guerra, recebia um impulso decisivo com
a Petrobrás: sob direção própria, a indústria petrolífera produziu em três anos tanto
como nos quinze anos anteriores do Conselho Nacional do Petróleo. A F.N.V. –
produtora de vagões e peças para a atividade ferroviária, expandiu-se rapidamente, para
ser bloqueada mais tarde, já no quadro das políticas pós-64. A F.N.M. – primeira
produtora nacional de caminhões (1944) e automóveis (1953), avançou seguidamente
no período, para ser desativada mais tarde, com base em critérios políticos. Ao mesmo
tempo em que se concluía a C.H.E.S.F. (1962), levava-se a cabo as importantes
expansões energéticas de Furnas e Três Marias (1958 – 1963), permitindo a Minas
Gerais romper o círculo vicioso da insuficiente oferta elétrica, no período.
14
Por outro lado, a política de sustentação dos preços agrícolas, nas condições de
terra abundante e a preços reais negativos (na maioria das unidades da federação)
permitiam a expansão horizontal do sistema, através da reprodução simples do sistema
agrário. Com o êxodo rural, tal teve o efeito de acelerar o mecanismo de acumulações
também fora do setor agro-exportador, pois a redução da mão-de-obra exigiu mudança
tecnológica. Com a construção de Brasília no Brasil central e os 11.000 km de rodovias
conectadas com a criação da nova capital, enormes áreas da floresta e do cerrado
tornaram-se disponíveis para a ocupação acumuladora, o que veio a se refletir na
produção de arroz, feijão, carne de gado, madeiras e carvão, na década subseqüente
(1960 em diante). Grande parte desta expansão produtiva foi responsável pelo “milagre
brasileiro” dos anos setenta.
(3) Abundância relativa da mão-de-obra – A elevada oferta de mão-de-obra
característica da sociedade brasileira foi tornada mais disponível, nas condições da
industrialização do período 1930 – 1964, por uma série de elementos: (i) melhorias
infraestruturais; (ii) monetarização da economia; (iii) crescimento do emprego urbano;
(iv) aumento das disparidades regionais; (v) formação de nova dualidade pela
industrialização.
As melhorias infraestruturais foram caracterizadas por: (a) melhores estradas,
barcos e veículos; (b) melhores facilidades para o deslocamento humano, como
albergues, hotéis, pensões, etc; (c) redes de vendas de passagens e melhores
comunicações. Estes condicionamentos tornaram mais fáceis as migrações internas
intrarregionais no país e a entrada de imigrantes, em grande número, desde o exterior.
Por outro lado, tais expansões se refletiram no aumento populacional e no aumento
correlato da força-de-trabalho (população economicamente ativa).
A monetarização da economia avançou muito no período da Primeira República,
1889 – 1930, mas de modo algum atingiu os níveis posteriores a 1930. A facilidade do
crédito público para atividades urbanas e a circulação maciça de papel-moeda tornaram
a grande massa das atividades de trabalho assalariadas. Isso veio a favorecer o processo
de acumulação, por via da industrialização.
A monetarização refletiu-se também, via crédito, na expansão numérica das
empresas urbanas e no caráter capitalista de tais empreendimentos. A pequena
propriedade pode, assim, assumir – no quadro urbano – uma função acumuladora. Ela se
expandiu particularmente nos ramos de confecções, distribuição de tabaco, alimentos e
bebidas, papelarias, escolas, transportes urbanos, etc. É evidente que o emprego urbano
15
cresceu de modo sustentado, por efeito da industrialização, e da economia de serviços
correlata a ela.
Outro aspecto importante foi o aumento das disparidades regionais, causado
pelas industrializações de 1894 – 1913; 1917 – 1924 e 1933 – 1964. Em virtude do
caráter rápido destas transformações, e de sua centragem nas áreas mais importantes em
recursos naturais, as disparidades já existentes se ampliaram. Tornaram-se regiões
periféricas ao desenvolvimento do Sudeste, estimuladas tais situações pelo surgimento
do mercado nacional e o desaparecimento dos mercados locais produtores.
A expansão industrial contribuiu, por fim, para a formação de nova dualidade,
pelo aumento dos diferenciais de salário, de rendimento entre as empresas de um
mesmo ramo e inter-ramos. Os dados estatísticos disponíveis indicam as diferenciações
dentro da força-de-trabalho, resultante do impacto das relações capitalistas em
expansão. A eliminação de determinados mercados primitivos preparou a formação de
outros, com gradual avanço das formas oligopolistas no mercado, ao bafejo das políticas
oficiais.
Tal contraposição entre os empresários individuais e os grupos capacitados à
produção em larga escala verificou-se primeiro, no fim do período, pelas facilidades
operativas estendidas aos grandes grupos, no que se refere à renovação das instalações e
associações institucionais no mercado. Posteriormente, os diferenciais de salários e
vencimentos refletiam as diferentes produtividades entre as grandes e as pequenas
empresas em cada ramo, o que a largo prazo contribuiu para a heterogeneidade da força-
de-trabalho urbana. Sem dúvida, esta situação preparou as medidas de deterioração do
salário real, perda das garantias para o trabalho em geral e mobilidade maximizada
horizontal da mão-de-obra, características das políticas pós-64.
(4) Poupança Elevada e Investimento Público – Costumeiramente atribui-se aos
países menos desenvolvidos dificuldades no nível da poupança e da captação da
poupança para convertê-la em investimentos. No caso brasileiro, a segunda condição é
verdadeira, mas verificou-se no período um nível satisfatório de retenção de recursos
líquidos nos bancos e nas caixas, considerando o nível da oferta monetária.
Evidentemente, o nível da poupança dos trabalhadores é insignificante, mas tal revela
apenas o nível ainda baixo de rendimento dos mesmos. O governo tradicionalmente
antecipou-se ao nível de poupança, pela criação dos recursos de investimento
necessários aos grandes empreendimentos, particularmente através dos mecanismos de
poupança compulsória. É claro que tal implicou uma sobrecarga fiscal invisível sobre o
16
conjunto da população – particularmente os de menor renda – que por via da inflação
terminaram por financiar as atividades expansivas preferenciais das elites. Nas
condições, contudo, de fortes políticas públicas, o efeito redistributivo dos
investimentos públicos terminou por conceder um efeito multiplicador a fatores básicos
de aprimoramento da força-de-trabalho (moradia, saneamento básico, saúde e
educação). A eliminação dos gargalos da produção pelo investimento público também
contribuiu, no período, para a expansão do emprego urbano.
A oferta de poupança doméstica não pode, portanto, para o período, ser
considerada fora das antecipações em investimento do governo, que na prática
funcionavam como um fluxo de capital monetário dela derivada; uma vez que a política
pública buscava maximizar os efeitos de tais aplicações, os efeitos alocativos
contribuíam para elevar o nível de poupança doméstica. Um exemplo talvez torne a
questão mais compreensível. Por exemplo, a necessidade de garantia dos setores
possuidores contra os efeitos redistributivos da renda, associados com as mudanças
estruturais, estimulou no pós-guerra a “corrida imobiliária” nas grandes cidades,
particularmente litorâneas.
O governo, ao liberar recursos para as rede sindicais construírem blocos
residenciais para trabalhadores, estimulava a poupança de outros trabalhadores, que se
orientavam para construções residenciais em áreas adjacentes aos blocos referidos. Em
inúmeras atividades pode-se observar esta política indutora de poupança e até
canalizadora de poupança: a construção residencial, a equipagem da unidade doméstica,
a escolarização das crianças, a compra do carro próprio, etc, refletem estas políticas de
ocupação de mercados primitivos e de modernização da sociedade e da economia. O
desenvolvimento das cooperativas de produção e de mercadização, particularmente em
São Paulo, também revelou aspecto interessante da indução de poupança no período.
(5) Equilíbrio na Remuneração dos Fatores - Apesar do desenvolvimento dos
diferenciais de salários, vencimentos e ganhos mercadológicos no período, dentro de
cada ramo e em todos os ramos das indústrias manufatureiras, houve uma tendência
para certo equilíbrio na remuneração dos fatores, com repasses de produtividade
acrescidas de produtos adicionais, por via da redistribuição de ganhos reais. Pode-se
observar que o pico do poder-de-compra do salário mínimo foi atingido em 1958, não
sendo o mesmo jamais alcançado no período histórico subseqüente.
De fato, o exame dos salários pagos na indústria revela que à época a mão-de-
obra era visualizada como um setor participante na industrialização substitutiva, sendo
17
remunerada, portanto, como compradora potencial no setor para o qual trabalhava. Essa
ótica integradora desapareceu depois, nas políticas pós-64.
Salta, pois, à vista que - nas condições do pequeno mercado doméstico - esta
inclusão da massa trabalhadora no poder-de-compra disponível estimulava a expansão
física da produção, particularmente nos ramos da indústria leve, como tecidos,
confecções, alimentação, fármacos, etc. Mas havia também uma demanda adicional por
material de construção civil, lotes de terreno, água, esgoto, saneamento, estradas, meios
de transporte, etc, que estimulava a demanda em geral.
(6) Ocupação de Mercados Primitivos - No processo de formação do mercado
doméstico, o avanço da industrialização do tipo substitutivo havia-se feito lentamente,
desde o período imperial, através de surtos, sob a proteção de esquemas de tarifas sobre
as importações, deliberada ou ocasionalmente. O nível de consumo no país era, pois, em
termos de comparação com os países mais desenvolvidos, extremamente baixo, sendo
paradoxalmente assim pressionador do nível da renda líquida local. Isso é a própria
descrição do subdesenvolvimento, dos padrões de consumo em mudanças, e da
incapacidade do sistema produtivo local para acompanhá-los ou antecipá-los. Atingindo
setores das próprias classes dominantes nas áreas rurais, e abaixo da fronteira social
pequeno-burguesa na área urbana, encontrava-se, pois, a fronteira dos mercados
primitivos, onde a totalidade das trocas dispensava relações monetárias. Isso implica
dizer que o trabalho nas unidades familiares, nas propriedades familiares, na chácaras e
fazendas agrícolas e no setor de subsistência, no setor de serviços, etc, era fracamente
ou de nenhum modo monetarizado. As empregadas domésticas, por exemplo, eram no
Rio de Janeiro, em 1952, remuneradas em trabalho especializado como a função de
cozinheira, com salário médio de 150 cruzeiros mensais, 12,5% do salário mínimo (Cr$
1.200,00). Para compensar o baixíssimo nível de remuneração, as "patroas" concediam-
lhes periodicamente roupas e sapatos velhos, excedentes de alimentos, etc.
A indústria leve substitutiva permitia, assim, pela sua expansão, e reforçando
mesmo a estrutura dual dos mercados, suprir milhões de indivíduos com produtos
industrializados - mercadorias - penetrando ao mesmo tempo estes mercados com a
necessidade da relação monetária e o assalariamento.
O avanço dessas pequenas economias era também um avanço da divisão social
do trabalho, tornando a sociedade mais dinâmica, mais flexível e, portanto,
incrementando a mobilidade social.
4.1. Orçamento Público e Endividamento
18
Com vistas a assegurar uma taxa média de investimento que excedesse a 15% do
PIB, anualmente, o governo fez um uso amplo do financiamento inflacionário e de
orçamentos desequilibrados, em especial a partir de 1956. Pode-se assim considerar-se o
orçamento público no período como instrumento das políticas públicas para o
crescimento.
A escala de financiamento governamental das taxas de investimento aumentou
muito em vários países do mundo durante as décadas de 50 e 60. Isso decorreu da (a)
necessidade de crescimento mais rápido; (b) da necessidade de imitação do Plano
Marshall para introduzir novos padrões de consumo; e (c) da difusão das técnicas de
planejamento e indução econômicas, a partir do Keynesianismo, da experiência
soviética e do conhecimento acumulado nas Nações Unidas, desde as comissões
econômicas da época das Ligas das Nações. Vê-se que essa tendência era também
visível no Brasil. O papel e a função do Estado no Brasil mudou consideravelmente
durante os anos 50, uma vez que o governo ampliou muito o setor das empresas estatais,
em sua maioria pioneiras ou modelares nos respectivos ramos: empresas hidrelétricas e
de distribuição, construção e pavimentação rodoviárias, produção de ferro e aço, um
banco de investimentos, etc. O financiamento público incluía a técnica de contas
especiais e programas, cobrindo itens desde o pagamento dos serviços básicos
consumidos, itens de defesa e segurança, despesas diversas e investimentos públicos.
Não obstante a inclusão das despesas de investimento no orçamento, observa-se a
criação de um grupo especial de contas de institutos particulares no Banco do Brasil e
no Tesouro, cuja finalidade era expandir a capacidade doméstica de investimento.
Enquanto que a taxa da carga de impostos sobre o rendimento doméstico não
era muito alta, quando comparada com outros países no período, ela deve ser
considerada maior que a formalmente computável devido ao uso de: (a) financiamento
inflacionário, em especial a partir de 1954-1956, para cobrir déficits primeiro e, depois,
expansão de crédito. E (b), devido ao conflito cambial dos ganhos da exportação. Uma
vez que os dispêndios públicos com prestadores de serviços individuais era
relativamente baixo no período, ao lado de posição similar para os programas de bem-
estar social, o nível da carga fiscal pode ser interpretado como alto para as populações
ligadas à economia agro-exportadora, e um pouco mais leve, para o baixo nível ainda
característico da renda disponível no país. Como traço característico de um país com
baixo nível de rendimento, a estrutura das receitas públicas persistia inadequada como
19
fonte de fundos para investimento e descansava mais pesadamente sobre os impostos
indiretos e mecanismos compulsórios.
Sabe-se que a parte mais considerável das despesas do governo não podia
produzir um fluxo imediato de receitas diretas, pois estava comprometida em objetivos
de expansão do longo prazo. A exceção era o rendimento - não muito grande - das
empresas estatais; não muito grande devido ao repasse dos ganhos para os consumidores
de seus produtos. Como se vê, os procedimentos correntes para amealhar recursos que
20
financiassem as contas públicas não eram do tipo que levantassem recursos efetivos.
Daí o papel da emissão de moeda, balanços equilibrados fictivamente, etc.
Sendo baixo o nível de renda do país, era igualmente baixa a massa de renda
auferida por lucro das empresas, embora sua taxa de lucro fosse alta. Portanto, a riqueza
oriunda da propriedade tornava-se considerável apenas quando entesourada,
transformada em patrimônio fixo ou colocada no exterior à disposição de "turn over"
mais intenso de capital. Tudo isso caracterizava o baixo nível do desenvolvimento
econômico, apesar das décadas desde o período da "descolagem". Uma vez que o
rendimento pessoal real era relativamente baixo, e a demanda por bens de consumo
crescia, os indivíduos não eram tolerantes com relação à elevação de impostos,
particularmente no item dos impostos diretos. Uma vez também que os pobres pagavam
a fatia maior, os limites para o governo aumentar os impostos eram visíveis. Se o
rendimento pessoal de poupadores potenciais é tão baixo que depende do volume de
impostos que "podem ser evitados", neste caso o governo tem que intervir na prática na
estrutura da poupança, e através de um mecanismo adequado criar algum tipo de
poupança forçada. Assim, quando o governo gastava mais do que recebia, ele estava
"despoupando". Esta "despoupança" tal como produzida pelo estado era de fato uma
poupança forçada em algum lugar da economia, pelo mecanismo compulsório de
transferência de rendimento. Evidenciava-se pela alteração dos preços do mercado,
dissimulava-se como inflação, pois o resultado em que a inflação é expressa é de
políticas grupais, ao nível do poder, realocativas das relações entre preço e produto.
Um mecanismo para operar despoupanças permanentemente da parte das
autoridades públicas tem uma contrapartida ao nível do comportamento dos produtores
de bens, que no momento seguinte buscam se ressarcir das perdas efetivas ou dos
ganhos previstos e não-realizados. Tal indica uma tendência estrutural da economia para
um nível baixo de poupança. Sob condições normais, o pagamento de impostos sobre
ganhos e rendimentos conduziria a investimentos em consumo adicionais e por esta via,
numa certa extensão, uma nova porção de rendimento seria adicionada à renda
disponível em operação na economia. Se a propensão a consumir cresce mais rápido que
os acréscimos da renda, alguém na economia deve "despoupar" para restabelecer o
equilíbrio. O mesmo tipo de observação é também válido no caso de investimentos em
excesso na economia. Quando despoupando, o governo deve - em termos teóricos -
tomar emprestado da sociedade ou do exterior um montante em proporção ao consumo
em excesso ou ao investimento em excesso ou, se for o caso, ao excesso de ambos.
21
Numa situação em que tinham-se acréscimos nas importações e flutuações nos ganhos
das exportações, as despoupanças públicas demandavam influxos de capital, e
conseqüentemente contribuíam para deteriorações no balanço de pagamentos.
De fato, a deterioração do balanço de pagamentos pode-se observar
especialmente a partir de 1957; uma deterioração que se fazia acompanhar de aumento
das transações de capital na conta de capitais. Tal era uma tendência normal, desde que
o país agora entrava num estágio mais complexo de industrialização, e tal implica
procurar mais mercadorias e serviços no exterior.
Enquanto melhorava a liberalização de capitais, a queda coetânea dos preços dos
bens exportáveis agrícolas brasileiros contribuía para reduzir o efeito do esforço
doméstico para expandir o poder de compra no exterior. A decrescente expansão do
poder de compra brasileiro no exterior submetia-se - particularmente após 1956 - a
fortes pressões, devido à opção de Kubitschek para uma aceleração nas taxas de
crescimento. Uma vez que as taxas de expansão da economia eram altas, uma proporção
cada vez maior de investimentos entrava a exigir um período de carência para
maturação também maior, isso significava reduzir os níveis de liquidez efetiva da
economia. Por uma multiplicidade de razões, a economia brasileira entrava em um
período em que devia pagar mais em serviços de capital do que afetava em efeito
expansivo o capital fresco entrado na economia, pelo lado do valor, conduzindo-se,
assim, as contas com o exterior a um gargalo. Pode-se portanto inferir que a um certo
ponto da evolução da conta de capitais, os defluxos prevaleceram de modo sustentado
sobre os influxos, revelando-se, por tal, uma crise da economia doméstica na
capacidade de pagamento no exterior, a qual vinha por fim se manifestar como custos
excessivos do capital.
Assim, deve ser reconhecido que a má posição adquirida no balanço de
pagamentos, que se expressava como endividamento crescente no exterior (e no
interior), não era uma criação particular das políticas de Estado, mas agrava-se por elas,
e, correspondia, nesse período, ao estágio alcançado no crescimento econômico. Os
efeitos de associação entre os movimentos desfavoráveis do comércio exterior e o
crescimento mais rápido adotado para a economia, contribuíam para amplificar os
desequilíbrios estruturais. A crescente dívida externa correspondia também a uma
crescente dívida interna, tanto pública quanto privada. Revela-se, pois, a dificuldade
para transformar a poupança interna em investimentos produtivos. As variações das
dívidas públicas eram produzidas ao nível geral do estado, isto é, federal, estadual e
22
municipal. Tal reflete, portanto, uma estrutura inadequada dos investimentos, uma
estrutura inapropriada do sistema fiscal e a compulsoridade externa alcançada já à época
pelo investimento público. As receitas federais na Tabela 1 podem ser comparadas com
as despesas federais na Tabela 2, como um exemplo ao nível federal, do estado parcial
da “Conta Geral”.
Qualquer que seja a interpretação que se faça do estado orçamentário público,
não se pode ignorar a responsabilidade final dos governos perante o Estado de
assumirem o equilíbrio formal das contas públicas. Embora aqui e ali governantes ou
políticos apontem a irresponsabilidade alheia de gestão como a causa dos desequilíbrios
financeiros, é evidente o caráter estrutural do desequilíbrio interno x externo. O fato
periódico, até cíclico, da queda do poder de compra no exterior, da determinação dos
termos-de-troca, etc., conduz aos desequilíbrios cambiais, com o desaparecimento da
receita dos ágios, a sustentação da elevação do nível geral dos preços, a desvalorização
da moeda local, etc. Isso não pode ser explicado em termos de gestão pessoal ou de
grupo, porque ocorre com todas as correntes de opinião, quaisquer que sejam suas
pessoas e grupos. Negar o caráter objetivo dos movimentos econômicos estruturais é,
sem dúvida, a maneira mais drástica de empobrecer a análise econômica.
No mesmo período, as despesas ao nível federal foram como se segue, para os
anos referidos na Tabela 2.
Tabela 2
Despesas Federais (1954 – 1956) (Cr$ 1.000.000)
1954 1955 1956
Valor % sobreValor % sobreValor %
Especificação
o total o total sobre
o total
Ministério de Segurança Nacional
Força Aérea 3303 7 4515 7 5697 5
Exército 5846 12 8300 13 13711 13
Marinha 3885 8 5038 8 6566 6
Total 13034 27 17843 28 25947 6
Ministérios Econômicos
Agricultura 2356 5 3159 5 3263 3
Trabalho, Indústria e Comércio. 1199 2 1492 2 2224 2
Viação e Obras Públicas 13525 21 14092 22 13838 13
Total 14080 28 18743 29 19325 18
Ministérios Sociais e Culturais
Educação 3057 6 3600 6 4080 4
Saúde 2237 5 2603 4 2976 3
23
Total 5294 11 6203 10 7056 7
Ministérios Administrativos
Gabinete da Presidência, Legislativo,
Judiciário, e Outros Organismos Federais. 4185 8 3025 5 7233 7
Outros
Tesouro 10210 21 14369 23 43846 41
Interior e Negócios Estrangeiros 2447 5 3104 5 3594 3
Total 12657 26 17473 28 47440 44
Total Geral 49250 100 63287 100 107028 100
Fonte: Banco do Brasil
24
artificiais de bens e matérias-primas importadas, às vezes além dos ganhos do efeito da
importação. Através de manipulações do sistema cambial, o poder público podia
produzir preços médios finais domésticos mais baixos do que aqueles indicados pelos
preços dos fatores domésticos ou por insumos similares domésticos. Quando
renunciando cobrar tarifas ou lançar impostos mais adiante, na cadeia de transformação
sobre o preço final de bens ou matérias-primas importadas a preços mais baixos, o
poder público gerava de fato uma espécie de subsídio indireto. Quando pagando
diretamente uma parte do custo final ao produtor ou importador, o poder público estava
usando uma política de subsidiação direta, embora a mesma não se refletisse nas contas
disponíveis.
Subsídios diretos ou indiretos refletiam-se como: primeiro, despesa pública;
segundo, receita não recolhida. Ambos reduziam o montante de recursos diretos
disponíveis às autoridades públicas para outras finalidades e alteravam, de fato, o custo
doméstico de realocação entre os setores (agrícola e industrial). Portanto, nas despesas
do governo se encontram dispêndios feitos para financiar o consumo doméstico,
especialmente nos itens alimentares importados; e, para vantagem da agricultura, alguns
insumos agrícolas. Quando, eventualmente, o governo intentava uma ação isolada ou
em linha para reduzir tais importações pró-agrícolas ou seu financiamento, tal se refletia
em crescentes preços domésticos agrícolas e, conseqüentemente, como (a) uma
deterioração do consumo básico da população urbana de baixa renda; (b) perdas de
exportabilidade e (c) pressão para desvalorização cambial, com sua coorte inflacionária.
Como resultado da pressão das políticas adotadas sobre os desequilíbrios
estruturais, a taxa de inflação contribuía em grande parte para o quadro de permanente
escassez de fundo das autoridades públicas, uma vez que as mudanças dos preços não
podiam ser previamente embutidas na elaboração orçamentária como “expectativa
inflacionária”. O governo constrangia-se a trabalhar com um orçamento de margens
reduzidas às inflações potenciais e tal implicava, após um breve período do exercício
orçamentário, a escassez de fundos e a necessidade das autoridades se apoiarem sobre
empréstimos, ou emissão. Isso, como se sabe, implicava em aspecto inflacionário,
devido às expectativas face aos papéis públicos e os efeitos desequilibradores no médio
prazo e da emissão desequilibradora no curto prazo.
Obrigava-se para o poder público a solução disponível no longo prazo, qual seja
(a) a redução das importações; ou (b) a expansão das exportações, combinadas em
algum nível. Uma vez que as oscilações ascendentes no lado das exportações tendiam a
25
ser, nas condições inflacionárias, acompanhadas por agressivas expansões das
importações, o movimento mais adequado estaria disponível se a opção pudesse feita
pela redução das importações, particularmente a partir de 1958 (vide gráfico 1).
120
Preço da Tonelada Média (dólares de 1953 = 100)
100
80
exportação
60
importação
40
20
0
1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962
26
monetária, adotando, pois, políticas de contas públicas totalmente desequilibradas (é
claro que existia o equilíbrio formal prévio das contas).
Como se menciona antes, o governo estava usando neste último período o
financiamento inflacionário do crédito e das despesas públicas. Esta política tinha uma
implicação de expansão contínua da oferta monetária. Tal apoio direto sobre os métodos
inflacionários tem sido interpretado por outros analistas e historiadores como expressão
do fim das possibilidades da substituição de importações, naquele período, na economia.
Outros, contrariamente, preferem argüir que a industrialização substitutiva das
importações não estava exaurida quando abandonada, devido ao potencial de suas
variações, e que seu abandono se deveu a mudanças políticas correspondentes a novos
grupos sociais no poder e à natureza diferente de seus interesses. Qualquer que seja a
interpretação, o financiamento inflacionário do crescimento econômico começou antes
da oscilação dos começos dos anos 60, e certamente era causado pelas diferentes
tendências ascendentes na economia doméstica e seu entrejogo com o movimento
descendente do comércio exterior brasileiro, depois da guerra da Coréia. Assim, a
aceleração do caráter substitutivo das importações deste surto, bem como a aceleração
da própria taxa deste, estavam em conexão íntima com o decréscimo do desempenho do
setor exportador, seus ganhos reduzidos, as variações correlatas na divisão internacional
do trabalho, e tudo isso insiste em demonstrar o elevado grau de industrialização
substitutiva alcançado pelo país como uma necessidade objetiva.
Deve-se insistir sobre o caráter espontâneo da política de substituição de
importações então adotada no Brasil e outros países da América Latina. Ela foi a defesa
possível de ser produzida nas condições das crises do entre-guerras. Observe-se que
Mussolini a adotou na Itália, ao fracassar a política liberal (1926). E nisso foi seguido
por inúmeros países em industrialização na Europa de leste. Hitler foi obrigado
igualmente a recorrer a políticas dela derivadas, para promover a expansão alemã dos
anos 30. Nesse contexto, sustentar o preço dos exportáveis era uma imposição para
evitar o colapso da economia local, no ambiente da queda dos preços do comércio
internacional.
Na verdade, foi apenas a segunda guerra mundial que eliminou o contexto das
crises e obviamente a maioria dos economistas não desejou debruçar-se novamente
sobre aquele obscuro período que se tem denominado depressão. No entanto, é fácil
compreender-se que os países em industrialização, em cujo território não se deu o
27
segundo conflito, deveriam permanecer favorecendo a expansão das suas exportações e
a substituição de suas importações.
Dar-se-ia assim somente no contexto posterior ao pós-guerra (1945-1962) o
problema de uma crescente oferta de bens industriais desde as antigas metrópoles,
associado a uma pressão do sistema financeiro, para que a periferia abandonasse suas
políticas particulares de industrialização. Para o Brasil, as criticas à industrialização
chegaram no governo Kubistchek, com o desestimulo do FMI ao uso da emissão
monetária para financiar a construção da nova capital, Brasília. Os desentendimentos
levaram então a uma ruptura entre o governo brasileiro e o FMI. Começou naquele
momento a reforçar-se em Washington a idéia de uma intervenção – no modelo da
Guatemala – para derrubar eventuais governos latino-americanos que discordassem das
propostas neocolonialistas no comércio exterior, apoiada pelo FMI. Esse ambiente pró
intervenção fortaleceu-se nos anos seguintes, devido à vitória de Fidel Castro com a
revolução cubana.
5 . Uma Interpretação
Nos começos dos anos 60, diferentes Administrações tentaram introduzir
mudanças no conjunto das políticas tradicionais disponíveis de substituição de
importações, ou até eliminar tal modelo – como o caso do governo Quadros. Não houve
muito sucesso nessas tentativas. Enquanto que as políticas econômicas pró-liberalização
de Quadros certamente induziram uma maior mobilidade dos fatores em 1961, a
implantação no curto prazo de políticas radicalmente diferentes do sistema não
acarretaria no longo prazo mudanças profundas deste. Mas, por outro lado, tal
administração estimulou a insegurança, a desconfiança social e mútua e,
conseqüentemente, a luta de classes, no médio prazo.
Por outro lado, um conjunto de condições parece ter sido característico do
mecanismo de substituição de importações; (1) Uma preferência por um cruzeiro
sobrevalorizado (às vezes chamado “câmbio alto”). – Quando historicamente a demanda
por bens primários brasileiros foi grandemente reduzida, (neste caso, considere-se o
período (1929-1936) e como efeito de tal a economia doméstica foi estimulada a se
expandir por suas próprias forças, um cruzeiro sobrevalorizado desempenhou então
papel como “solução natural” de barreira comercial a um comércio “irrealizável”.
Nestas condições, o comércio exterior tinha que manter-se reduzido à política de
prioridades, e um alto valor atribuído à moeda doméstica, transferia para os produtos
28
domésticos todas as vantagens de preço, importadas do exterior. Por este meio, os
preços relativos foram manipulados para tornar mais baratos os bens domésticos
substitutivos (sucedâneos, “ersatz”, para as importações). Como um exemplo, vê-se na
tabela 3, um bem hipotético “A”, que tem o seu preço determinado através da
composição decrescente de importações. Tais importações estavam caracterizadas por
preço original mais baixo. Deste modo, como observado no caso do bem hipotético “A”,
os ganhos da indústria doméstica similar em preços relativos têm um ciclo. Este ciclo é
determinado pela depreciação de custo do produto “A” e tal contribui, primeiro com
crescentes ganhos, e depois com decrescentes ganhos para a indústria doméstica
produzidora do bem substitutivo. Naturalmente, não apenas é relevante o efeito isolado
de um hipotético bem “A” como principalmente o conjunto heterogêneo de importações
para “sua” produção doméstica que lhe é similar, como determinado pelo entrejogo das
necessidades internas e a massa de recursos cambiais disponíveis.
(2) Mecanismos preferenciais nos sistemas de câmbio e de crédito, para apoio á
industrialização. – Durante a situação em que o monopólio ou um quase monopólio de
moeda estrangeira é atribuída a um ou poucos no mercado, a alocação preferencial de
recursos cambiais pode ser efetivada, ainda que um mercado livre seja permitido
funcionar, para o resto da economia.
A primeira vantagem do comércio exterior é, obviamente, o “comércio”.
Técnicas e produtos externos podem ser consumidos domesticamente a preços mais
baixos do que seriam, se obtidos pela distribuição doméstica. A segunda vantagem de
comércio exterior é o fato que ele induz a mudanças através da divisão do trabalho e,
conseqüentemente, leva a estágios mais elevados de acumulação, leva à
industrialização. Se uma situação em mudança do comércio exterior é associada com
políticas domésticas de industrialização, então o resultado pode ser uma fase de
substituição de importações, de maior ou menor extensão, em seus elementos
componentes. Nesse caso, a transferência de ganhos nos preços relativos pode se efetuar
como indicado na Tabela 3.
O outro lado do tratamento cambial preferencial é a disponibilidade de crédito
doméstico. A eficiência de ambos os mecanismos é aumentada pelas desvalorizações
periódicas, que não eliminam completamente a posição sobrevalorizada da moeda
doméstica. Estas desvalorizações são necessárias para conter a decrescente eficiência
dos ganhos domésticos em preços relativos (veja a coluna (6) na Tabela 3). Assim, de
acordo com a experiência brasileira, a substituição de importações é mais eficiente
29
quando também uma substituição da produção doméstica ineficiente é encorajada, com
o fez Vargas (1953) e, numa certa medida, Quadros (1961). É bem verdade que tal não
era o intento de Quadros, mas a falta de continuidade em sua política de liberalização,
resultou num efeito parcial imprevisto para a mesma. Paradoxalmente, tais
desvalorizações podem reajustar fatores e preços de mercado e, portanto,
implementarem novo impulso a mecanismos cambiais preferenciais. A condição para o
êxito parece ser que as políticas de desvalorização não sejam usadas em excesso, mas
sob a condição de estarem orientadas pela reativação e viragem estrutural no comércio
exterior. Num período de 16 anos, por exemplo, o cruzeiro foi cambialmente
desvalorizado cerca de 10 vezes. O objetivo era colocar as exportações em equilíbrio
com as importações e criar domesticamente as condições para elevar a eficiência e os
ganhos. Com tal objetivo em mente, diversas Administrações tentaram usar diferentes
estímulos para tomar parte mais ativa na corrente do comércio internacional, com vistas
a uma participação extensiva na divisão horizontal de trabalho. O nível de
industrialização, no entanto, ainda se mostrava insuficiente.
Enquanto que a redução das barreiras comerciais “em casa” era adequada e
gradual, o curso seguido pela liberalização de capital foi excessivo, uma vez que os
responsáveis pela política econômica se apoiavam num influxo continuamente crescente
de capital, para cobrir a extensão das importações e as deteriorações na capacidade
exportadora. Um efeito prático era o endividamento crescente, interno e externo, do
estado, e unia gradual perda do controle das autoridades sobre o movimento de capital e
sobre a taxa de inflação.
Vê-se, assim, a contradição básica dos elaboradores da política econômica
brasileira, que tem sido persistente com seu modo de ver por quase cem, anos: ou
fecham totalmente a economia, que vive de ganhos das importações e das exportações;
ou não sabem como liberalizar ou internacionalizar, praticando tais medidas em
excesso, sem o necessário compasso da estratégia do desenvolvimento próprio. Devido
a esse óbice- fruto de incompreensão teórica ou de incapacidade intuitiva – a economia
brasileira não tem se mostrado capaz de converter ganhos internos ou externos em
fatores permanentes de desenvolvimento.
30
Tabela 3
Mecanismo de ganhos em Preços Relativos para as Industrias Substitutivas - Bem "A"
31
deste desequilíbrio estrutural, faziam-se necessárias políticas básicas. Estas, quando
seguidas, permitiam manter o nível real dos salários no longo prazo, independentemente
da oferta em excesso da mão-de-obra. Estas políticas desenhavam a institucionalidade
que permitia ao mercado crescer, por via da acumulação. Elas foram possíveis de
implementar porque a substituição de importações dependia do caráter favorável de dois
aspectos: (a) expansão generalizada das indústrias e dos serviços industriais; (b) a
expansão do mercado doméstico.
Uma vez que o mercado de trabalho se desenvolvia dentro destes marcos,
implicava isto que as indústrias domésticas entrassem nos anos 50 sob a égide do
crescente empréstimo de tecnologia para melhorar a sua eficiência, fenômeno que
contribuía para expandir o mercado doméstico e no longo prazo poderia elevar a
competitividade das exportações, dentro de uma orientação horizontal da divisão
internacional do trabalho. Isto era importante diante das políticas de liberalização.
(5) Apoio nas exportações tradicionais – Com vistas a obter um efeito máximo
do mecanismo cambial, as políticas de industrialização substitutiva foram orientadas
para um consumo produtivo de divisas, enquanto se ofertava um recurso menor relativo
das mesmas para a expansão das exportações. Esta política implicava de fato evitar-se
em divisas a promoção das exportações, pela utilização máxima das “vantagens
comparativas” já existentes. Implementava-se, efetivamente, o consumo dos ganhos das
exportações tradicionais, principalmente café, algodão e cacau. Por outro lado,
procurava-se substituir com insumos locais a oferta reduzida de bens importados para a
produção agrícola. A redução conseqüente do custo cambial das exportações permitiu à
industrialização substitutiva obter o efeito máximo dos mecanismos apontados na tabela
3.
Pode-se concluir que os pontos citados (3), (4) e (5) foram decisivos para as
viragens estruturais necessárias à formação do mercado nacional integrado e do
mercado doméstico de capitais. Ao mesmo tempo, o conjunto das condições
mencionadas de (1) a (5) da industrialização substitutiva seriam dificilmente ocorrentes
sem a veracidade das teses propostas como hipóteses na seção prévia D do capítulo 1
(outro texto). Relembre-se:
(a) que o estado seria o principal agente econômico no mercado;
(b) que o estado promoveria a industrialização com os ganhos cambiais do
comércio exterior;
(c) que o setor agrícola seria utilizado como um mercado primitivo;
32
(d) que o estado manipularia as mudanças nos preços relativos a favor das
políticas de industrialização.
Dadas as condições hipoteticamente citadas da industrialização substitutiva,
pode-se intentar explicar o processo de crescimento da economia brasileira no período
1933-1964 e, particularmente, no subperíodo 1951-1962, em termos das hipóteses (a) e
(d) relacionadas no parágrafo anterior. Sob as hipóteses (a), (b) e (d), parece razoável
aceitar a explicação de que a crescente dívida do Estado foi parte do esforço para
promover e conduzir a industrialização, no quadro tentativo de um desenvolvimento
econômico generalizado.
É importante ter presente que as políticas de desequilíbrio nas despesas públicas
e de déficit orçamental, – conquanto existissem nesse período - têm sido um
instrumento de intervenção estatal por um longo período histórico até a presente fase
(traço característico desde a administração portuguesa). Mas na última fase do período
em referências (1951-1964), numa fase iniciada em 1957 (segundo alguns autores em
1954), as autoridades públicas federais perderam aparentemente o controle sobre o
desenvolvimento da dívida, incluída a dívida externa. A dívida pública externa em
particular, até 1956, estava em posição de montantes decrescentes, e pode-se dizer que
estava sob controle, para as autoridades do poder público. Pode-se observar a referida
tendência decrescente na tabela 4, para um período de três anos. A tendência reverteu
em 1957. O movimento decrescente da dívida, visível na tabela 4, expressava a
orientação das autoridades para obter equilíbrio do fluxo das moedas estrangeiras. Tal
política de fato acumulou recurso para a mais rápida expansão de 1957-1962 e de certa
forma adiou os efeitos da estagnação do comércio exterior da região no período 1958-
1962 em pelo menos dois anos para o Brasil.
Com o efeito do mais rápido crescimento do débito nas condições de queda dos
preços das exportações brasileiras no período da estagnação do comércio exterior
regional, associado ao efeito da expansão acelerada no período, o endividamento
avançou muito. Medidas mais cautelosas faziam-se portanto necessárias, incluindo
medidas contra-cíclicas ao fim do período de expansão. Foram algumas
incondicionalmente tentadas durante os governos de Quadros e Goulart, sendo no
período deste mais consistente o “Plano Trienal” de Furtado, que não obteve contudo
consenso, com oposição das forças sindicais. A adoção em pleno de tais políticas de
ajuste implicaria contenção do crédito e redução do crescimento do PIB, mas seria por
certo menos custosa socialmente que as medidas recessivas do período 1965-1967. O
33
aperto das despesas públicas propostas nos pacotes de ajuste do período Goulart se
inseriam num plano mais amplo para recuperar as possibilidades de uma
industrialização substitutiva adicional, após a reativação do comércio exterior. Esta era
esperada a partir de 1964. Contudo, a mudança radical de políticas econômicas trazida
pelo golpe-de-estado de 1964 adiou até 1974 novas formas de industrialização
substitutiva e implicou a separação entre estas e a adoção de “mixes” para expandir as
exportações, a partir do esquema tradicional.
Recorde-se que eram dois os elementos componentes da transferência dos
desequilíbrios estruturais para a forma de inflação: (a) a deterioração dos preços da
tonelada exportada; e a correlata (b) manipulação cambial doméstica, capaz de
assegurar lucros crescentes para os grupos controladores dos exportáveis, apesar do
referido em (a). O radicalismo das políticas econômicas pós-64 não intentou contudo
mexer nesses dois componentes. Dessa forma, não se poderia esperar qualquer fato
novo, enquanto preços cadentes para os exportáveis locais continuasse a ser a política
no exterior.
Tabela 4
Dívida Pública Externa Consolidada - Brasil Posição no Fim do Ano (em milhares de unidades monetárias)
34
transformações produzidas e acumuladas pelos surtos precedentes, de 1933-1938 e
1940-1946 (este com uso intensivo predominando sobre o investimento).
35
Pode-se levantar a questão de que os fatos do comércio exterior menos
favoráveis dos anos 50 devam-se considerar a fonte do aperto e movimento descendente
do ciclo econômico, nos anos 60. Crê-se que as oscilações dos valores do comércio é
uma das fontes, mas parte considerável dos problemas econômicos se explicam pelas
políticas internas, como as políticas para crescimento mais rápido, do período 1956-60.
É evidente que houve um esforço das autoridades para pospor políticas de ajuste,
reforçando do outro lado a aceleração da expansão. Por outro lado, a maioria das
políticas de Quadros visaram objetivos inversos, e do conjunto da situação resultou um
efeito desequilibrador adicional aos desequilíbrios estruturais. Tal fenômeno foi
percebido e caracterizado por diversos analistas, quando ainda em curso.
Na verdade,a capacidade doméstica de pagamentos no exterior até 1964 ainda
era bastante estável (veja-se a tabela 6, coluna (4)). Isto resultava de políticas de
liberalização de mercado de capitais, com um crescente influxo de capitais exteriores,
que estava em associação, naturalmente, com uma participação adicional de capital
estrangeiro no processo de industrialização. A aumentada ou estável capacidade total de
pagamentos no exterior era por si mesma uma condição favorável para o crescimento
mais rápido implementado no período.
Além disso, uma capacidade brasileira de pagamentos estável no exterior pode
ser considerada como uma fonte de investimentos mais intensos de capitais, o que
contribuiu para facilitar o processo de industrialização, num momento em que o país
entrava numa fase desfavorável de seu balanço de pagamentos. Tal era a situação no
começo da década de 60, com potencial para um ajuste adequado e não muito apertado
da conjuntura econômica.Como se sabe, a evolução política, com o golpe de 64, alterou
drasticamente outros cursos possíveis dos fatos. Quando se observa a capacidade de
importação do país em expressão real (veja Tabela 6 coluna (7)), apertos desta
capacidade não permitem resultar mudanças radicais na posição da mesma, no período.
O país desempenhava pois uma posição menor no desenvolvimento do comércio
internacional, conquanto que a posição de alguns bens primários favoráveis, assim
como a relativa estagnação do comércio, estivessem refletindo os efeitos dessa pequena
participação, nos ritmos crescentes do mercado mundial.
Por outro lado, há alguns aspectos específicos que contribuíram para a
diminuição do ritmo do comércio exterior brasileiro. Primeiro, deve-se referir ao
comércio desfavorável para os bens primários na década de 30, resultante das crises de
1929-32 e 1938-39, no quadro do excesso de oferta que caracterizou o Brasil. Segundo,
36
a prolongada deterioração da posição das exportações primárias deu origem a um
processo de mudança na demanda agrícola, com o avanço do algodão e a dominação
gradual da oferta de produção orientada para o mercado doméstico, em função do
crescimento do complexo produtivo agro-industrial. Terceiro, as políticas fortemente
industrializantes, que foram promovidas devido ao fracasso da posição econômica
tradicional foram, na prática, reservando para as exportações primárias, a continuidade
de uma função tradicional. Foram nisso restritivas às crescentes demandas por consumo
de cambiais do setor exportador. A combinação de todas essas condições contribuía e
expressava a redução da posição brasileira no comércio internacional.
A melhoria relativa do poder de compra das exportações, que ocorreu no período
1963-65 (veja Tabela 5, coluna (4)), podia ser uma base para expansão adicional e para
um movimento ascendente na conjuntura, devido ao seu caráter exógeno e favorável.
Como já se estudou em outros trabalhos, este movimento favorável da posição do
comércio exterior brasileiro coincidiu com uma forte recessão, adotada pela
administração Castelo Branco, dentro de um quadro mais amplo de pressupostos. Estes
serão analisados em capítulo específico. Uma vez que as autoridades públicas optaram
apenas em 1967 pela aplicação de políticas mais expansivas, um ano de circunstâncias
menos favoráveis no exterior (a crise de Suez), teve-se que as autoridades se apoiaram
mais em influxos de capital do que na melhoria do comércio (veja tabela 6, coluna (3)).
Portanto, as condições do comércio exterior, enquanto menos favoráveis nos anos
50 que nos 40, foram suficientemente boas para assegurar ganhos de importação e de
exportação; para promover influxos de capital; e estabilizar a capacidade brasileira de
pagamentos no exterior. Devido a um maior isolamento do mercado brasileiro de
capitais nos anos 50 e começo dos anos 60, o país demonstrou uma capacidade
decrescente de obter no exterior a amplitude de capitais necessários para promover uma
industrialização mais extensiva do que a substitutiva. Esta dificuldade era certamente
agravada pelo caráter necessário da industrialização substitutiva, que criou mercados
cativos para determinados grupos e produzia no caso brasileiro suspeitas no exterior
sobre o excessivo nacionalismo vigente. Para complementar tal dificuldade, o ciclo
econômico brasileiro pareceu pela primeira vez mover-se em tendência diferente do
mercado exterior brasileiro. Como resultado, a opção política por medidas inadequadas
de caráter recessivo reduziu o efeito potencialmente expansivo da finança doméstica e
dos influxos de capital, num momento em que voltava a se expandir o poder de compra
das exportações. Desse modo, uma técnica de manipulação inferior para utilizar os
37
movimentos favoráveis da posição do comércio exterior parece ser a explicação
plausível do efeito decrescente prolongado do ciclo na período 1964-1967.
Produção Industrial
38
tecnologias adotadas e aquelas que as vão substituir devem ser encontradas no leque de
ofertas disponíveis a preços mais baixos, no mercado internacional.
Durante o surto industrial de 1957-1962, as autoridades governamentais não
estavam plenamente satisfeitas com as taxas de crescimento obtidas na expansão, dentro
da suposição que possuíam de que muitos ramos poderiam ir mais rápido. No entanto,
quando se observam as pressões exercidas nas importações e o nível conhecido dos
estoques domésticos, tal opinião não pode ser mantida. O país estava de fato perto de
sua capacidade total de produção, à época.
Era natural a maior mobilidade dos fatores, nas condições do crescimento mais
rápido. A expansão dos transportes, particularmente de cargas, atuou para favorecer o
mercado nacional, em detrimento das atividades manufatureiras locais, nas diferentes
regiões. O poder público subestimava certamente, à época, o efeito negativo da rápida
concentração industrial e da formação, mesmo, de oligopólios em diversos ramos. Tais
aspectos negativos ficaram mais visíveis no final dos anos 60 e nos anos 70, mas a
estrutura oligopolista pode ser diagnosticada nas tendências do surto de 1957-1962.
Gráfico 8 – Preços Mundiais
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961
39
taxas mais elevadas de remuneração aos fatores produtivos. A taxa de crescimento
industrial também se acelerava nas regiões menos desenvolvidas, mas a mudança nos
preços relativos dos fatores e a orientação dos recursos de investimento do governo
eram desfavoráveis, às regiões de recursos menos notáveis.
Eventualmente, os órgãos do estado criaram mecanismos e instituições para
combater tal tendência dual. Possuíam, contudo, quantidades insuficientes de recursos,
pouco poder para alterar políticas locais e eram montados com lentidão. Neste período,
a SUDENE destacou-se como o órgão melhor capacitado para tais políticas regionais.
No período 1950-1960, a produção industrial cresceu em termos nominais cerca
de dez vezes em relação ao ano-base. A população trabalhadora nas indústrias
manufatureiras cresceu a uma taxa de 3,3 por cento ao ano, e São Paulo era o estado que
ocupava mais de 32% dos assalariados industriais. A expansão manufatureira no Paraná
levou este estado a deslocar Pernambuco como a 6ª base industrial no país, expressivo
este fato do desequilíbrio referido entre as áreas norte e sul do Brasil.
Os ramos de alimentação e bebidas eram responsáveis por 26 por cento do valor
total da produção industrial em 1960, e tinham, portanto, sua participação relativa
decrescente. Os ramos metalúrgicos moveram-se para a primeira posição na produção
industrial, se excluídos os de alimentação e bebidas, já referidos. Esta posição primeira
voltará em breve a ser de novo ocupada pelos ramos químicos e farmacêuticos, devido à
rápida expansão do processamento pesado e seus derivados (o que logo justificaria a
separação agregada da química pesada). Os ramos de material de comunicações, elétrico
e de transportes expandiram-se muito, particularmente após 1956. Desempenharam,
pois, papel importante na integração do mercado nacional.
Ao lado dessas mudanças, a industrialização chegara a um grau em que
manufaturas e oficinas de grande porte estavam sendo substituídas por fábricas
autênticas, com equipamento moderno, no que concerne à ponta de cada ramo, com
mão-de-obra concentrada, recursos de capital e aumentos de produtividade. A expansão
da frota de cabotagem e do ramo automotivo permitiu ampliar a capacidade de carga,
com o efeito de uma gradual diminuição da importância do sistema ferroviário, que não
se expandira para as novas frentes econômicas. Este fenômeno certamente influenciou o
adiamento de diversos projetos expansivos que estavam escalados para acontecer, de
acordo com o então chamado Plano Ferroviário Nacional. As autoridades públicas
tornaram-se mais sensíveis à complementaridade entre ferro e aço de um lado e
indústrias automotivas, do outro, ao contrário de Vargas, que preferiria a opção por
40
ferrovias, que ele chamava “democrática”. A viragem de opção neste item refletiria
mais tarde no processo de expansão dos “duráveis” e com efeitos concentracionários no
rendimento.
Tabela 5 - Poder de Compra Brasileiro das Exportações
Em dólares norte-americanos de 1949.
41
Gráfico 9
Tratores em Uso
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0
1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959
Tratores em Uso
A malha ferroviária insuficiente que existia até então no país havia sido
construída para os objetivos de conectar mercados agrícolas a centros de exportação, e
não era, portanto, adequada aos objetivos de um mercado doméstico em crescimento. A
rede ferroviária foi um pouco modernizada durante os períodos de Vargas, e a criação
da FNV fazia parte de um esquema do P.N.F., citado acima. Por ele, a rede seria toda
padronizada por tecnologia inglesa, progressivamente produzida no país. Fortes
investimentos faziam-se ainda necessários para equipar a FNV como o principal
fornecedor do mercado doméstico, e tais recursos, na prática, vindos dos cofres
públicos, seriam alternativos ao suporte infra-estrutural ou das rodovias e ou das
fábricas automotivas.
Como se sabe, a opção pelos ramos automotivos, a partir dos meados de 50,
representou o bloqueamento da expansão ferroviária, no estágio em que ambos os ramos
– e o país – se encontravam. As autoridades públicas consideraram aparentemente o tipo
de mudanças encadeadas pelo ciclo automobilístico (automóvel – arranha-céus –
estações de serviço – suburbanização da classe média) como mais interessante e mais
rápido para o processo de acumulação e, portanto, mais desejável. Desta forma, a
expansão adicional ferroviária – considerada proposta antiquada – foi deixada de lado.
42
Na literatura da área pública dos fins dos anos 50 e começos dos anos 60 ficou
registrado o debate, onde se nota a idéia em moda à época de que o ramo automotivo é
mais induzidor de capital – e, conseqüentemente, de mudanças estruturais – do que a
expansão ferroviária.
Tabela 6
Capacidade Brasileira para Importar - Em dólares norte americanos de 1949
43
do produto doméstico bruto. Cada uma explicará a variável “produtividade total”, ou
seja, o PIB real dividido pela população economicamente ativa do país, 1949, ano base
igual a 100. Verifica-se assim a concordância das variações tendenciais entre a
formação de capital, por um lado, e a produção por força-de-trabalho, pelo outro. Outras
regressões são utilizadas a seguir para caracterizar o relacionamento entre alguns ramos
produtivos e o PIB. Vejam-se (dados da F.G.V.):
(3) O PIB em preços constantes de 1949 será “explicado” pelo ramo de calçados
(defasado 1 ano, isto é, FOT-1). (1944-1957, índice físico, FGV)
PIB = - 54.815 + 2.811 Fot 1 (3)
T = 7.70970
R 2 = 0.80310
44
(6) Borracha (-1). Índice da Produção Física (1944-1957):
PIB = 100.707 + 1.224 Rub 1 (6)
t = 11.0822
R 2 = 0.9178
45
R 2 = 0.98590
(17) Produto Total das Manufaturas (-1). Índice da Produção Física (1944-1957):
PIB = 5.321 + 2.1675 Mait 1 (17)
t = 22.06240
R 2 = 0.97790
46
formação de capitais e, conseqüentemente, dos valores nominais do PIB.
Confirma-se, portanto, a característica de crescimento muito rápido da produção
nas condições da industrialização substitutiva, fenômeno que quase sempre tem
sido silenciado.
(2) O conjunto das equações (3) a (17) indica o poder explicativo de diferentes
ramos da produção na variação dos valores nominais do PIB. É interessante
notar que as maiores aderências são para: (a) tabaco; (b) aço e ferro; (c) o
conjunto da produção industrial; (d) vidro & cerâmica; (e) bens de consumo; (f)
papel e papelão; (g) alimentos; (h) bebidas e similares; (i) borracha; etc. O
consumo do tabaco é amplamente difundido na sociedade, mantendo-se
praticamente independente do poder econômico dos diferentes grupos sociais.
Daí entender-se o seu excelente relacionamento com o PIB, dando, por isso, a
relevância da relação entre a indústria leve e o PIB. No entanto, segue-se à
equação do tabaco (8), a referente ao aço e ferro (12), que, expressando um
ramo da indústria pesada, não pode ser interpretada da mesma maneira. Resulta,
pois, a percepção da associação íntima entre o PIB e a indústria pesada,
confirmando-se a observação anterior do caráter generalizado da
industrialização substitutiva. A pequena diferença entre as duas pendentes, e a
elasticidade apenas um pouco menor do aço e ferro (14,3% menor) revelam a
natureza da expansão no período, avaliado empiricamente (ou seja, 1944-1957).
O desempenho explicativo do PIB pelo “tabaco” e pelo “aço e ferro” é seguido pela
equação (17) do conjunto da indústria manufatureira, que revela também uma
associação muito grande com o PIB. Isso certamente caracteriza o perfil cada vez mais
industrial do próprio PIB. O “conjunto dos bens de consumo” (16) explica apenas um
pouco menos (2%) o PIB, que o “conjunto da produção industrial” (17), confirmando-se
por esta via o caráter generalizado da industrialização. Segue-se o valor explicativo de
“vidro e cerâmica” (13), amplamente utilizado na construção civil para fins industriais e
residenciais, na recuperação de casas (reformas), na produção de vasilhames, etc. Vê-se
assim a importância paralela do consumo industrial e do consumo final no processo,
logo depois no poder explicativo de “vidro e cerâmica” (13); como se sabe, papel e seus
derivados são muito utilizados para embalagens nas indústrias e também no consumo
final, insistindo na hipótese explicativa. A importância dos “alimentos” (10) vem a
seguir, e chama a atenção para que a associação não é simplesmente do nível de
subsistência, pela forte pendente da equação, revelando a força expansiva do ramo.
47
Finalmente, “bebidas e similares” (9), um complemento da relação do complexo agro -
alimentar, segue-se a “alimentos” (10) e faz-se seguir de “borracha” (6), insumo
industrial de grande importância nos ramos “transportes, material elétrico”, etc.
Pode-se, assim, comentar a confirmação do caráter generalizado da
industrialização substitutiva, utilizando-se o poder expansivo dos ramos leves e pesados
para o crescimento acelerado. Pela natureza da associação de tais ramos com o PIB, vê-
se igualmente a relevância do mercado doméstico, único de fato capaz de absorver esta
produção industrial. Não deixa de chamar a atenção a “naturalidade” das relações entre
os ramos em processo de industrialização e o PIB, evidenciando-se, por esta forma, o
efeito substitutivo como resultado do colapso da economia agrária e de sua inserção na
divisão internacional do trabalho.
A expansão da economia doméstica prosseguiu, como referido no período,
apesar do pano-de-fundo da deterioração no balanço de pagamentos (pelo menos de
seus fluxos oriundos da balança comercial). Nesse sentido, a expansão industrial foi
visualizada pelas forças hostis à industrialização substitutiva como mais do que
esperada, ou em excesso. Tal decisão não faria sentido diante de uma expansão menos
significativa. A expansão dos investimentos em equipamentos e fábricas foi notável no
período. Isto é confirmado pela análise dos pendentes das equações (1) e (2).
O investimento fixo recuperou-se das flutuações no período 1953-1956 pela
iniciativa dos investimentos públicos, coroado pelas propostas expansivas do “Plano de
Metas”, em 1957. Desta maneira, o efeito do investimento público, coadjuvado pelo
monopólio cambial, na prática, do estado, induziu a direção expansiva da
industrialização, a partir de sua tendência histórica recente específica para cada ramo,
liderando os investimentos privados alocativamente.
O quadro das crescentes demandas arrastou consigo as indústrias não-
manufatureiras, com as atividades terciárias em enorme expansão. Esta atividade de
investimento de capital ignorou – de fato – o avanço da taxa de inflação e permitiu
rápida acumulação através dos ganhos reais. Ocorreu, assim, um cruzamento dos
investimentos em equipamentos e instalação da parte de todos os ramos, com as
características sem precedentes de formação de capital do período. Isto não seria
possível sem a política de crédito fácil adotada pelos poderes públicos na área
econômica. No entanto, no final do período, todas as indústrias ou ramos ainda
poderiam induzir a elevação de suas propensões para investir.
48
B) A Função Depósito.
Ajustaram-se diferentes séries temporais de depósitos nos bancos para o período
1930-1964, com diferentes subperiodizações. Preferiu-se a variável “depósitos em todos
os bancos”, 31 de dezembro, de caráter oficial, por ser a mais abrangente. Os
subperíodos 1940-1964 e 1947-1964 foram preferidos, por expressar uma
homogeneidade característica com o modelo histórico que aqui se estuda, a salvo de
influências precedentes. A subperiodização 1948-1956 por um lado, e 1957-1965,
mostrou-se significativa, embora não deva ser considerada fora das séries mais longas,
em virtude do número mínimo aceitável de 9 observações. Permite assim comparar as
variações no longo prazo com as variações no ciclo de até 9 anos.
Considere-se em primeiro lugar o “poder explicativo” que as variações da
população têm sobre “depósitos em todos os bancos”, para o período 1940-1964:
S
D = 27.014635 + 0.5548466 P (18)
R 2 = 0.539994
R 2 ajustado = 0.519993
F = 26.99931
49
Gráfico 10 – Depósitos em Todos os Bancos e similar computada a partir do
desempenho preditivo da população
45,00000
40,00000
35,00000
30,00000
25,00000
20,00000
15,00000
10,00000
5,00000
0,00000
-5,00000
-10,00000
1940
1941
1945
1946
1947
1951
1952
1953
1957
1958
1959
1963
1964
1942
1943
1944
1948
1949
1950
1954
1955
1956
1960
1961
1962
1 2 Série3
S
D = -76.986 + 3.861 Y G nag (19)
50
R 2 = 0.99060
t = 280.140
S
D = -10.243 + 1.134 Y G nag (20)
R 2 = 0.9992
t = 3306.06
R 2 = 0.994245
R 2 Reajustado = 0.993995
F = 3973.465
51
Gráfico 11 – Poupança Doméstica e Similar Computada Desde a Renda Não-Agrícola –
1940/1964
45,000
40,000
35,000
30,000
25,000
20,000
15,000
10,000
5,000
0,000
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
-5,000
1 2 3
Gráfico 11
52
ampliar (e, às vezes, maximizar) os ganhos das vantagens comparativas locais relativas
ao país e às demandas internacionais.
Nessas condições maximizantes de interferência pública, é possível entender os
ganhos diferenciais de lucro nas mudanças estruturais em ocorrência dos dois setores
(agrícola e não-agrícola) e as vantagens condicionais que oferece a função depósito para
tal análise.
O quê pode informar a variante do modelo para renda agrícola
(Y G ag ),
R 2 = 0.994801
R 2 ajustado = 0.994575
F = 4400.856
O ajuste da “renda agrícola” revela-se uma fração algo melhor que o ajuste da
“renda não-agrícola”. No sentido, portanto, da nossa explicação para o modelo (20).
Também o setor da “renda agrícola” teve seu consumo e propensão para investir,
segundo o modelo, reprimidos nas condições da 2ª Guerra Mundial. Tem-se para o
período 1940-1964, o Gráfico 12:
Gráfico 12
45
40
35
30
25
20
15
10
0
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1940
1941
1942
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1961
1962
1963
1964
-5
53
Vê-se nitidamente o “poder explicativo” da renda ajustar-se aos valores
observados a partir de 1951, até 1964. A instabilidade, contudo, acelera-se a partir de
1957, quando a “renda agrícola”, certamente refletia as mudanças expansivas, mas não
o determinava em modo algum. Isso devido ao caráter industrial-manufatureiro e
urbanizador do crescimento acelerado, contrariando as indicações da crise agro-
exportadora de 1958-1962. Portanto, o desaparecimento dos resíduos negativos, a partir
de 1958, com gradual ajuste entre “renda agrícola” e “depósitos” pode ser interpretado
no sentido da integração da agricultura, expansivamente, com o mercado doméstico e,
por extensão, com a industrialização substitutiva. A política pública atuava, pode-se
inferir, no sentido inverso da estrutura de rendimento estabelecida, possuindo, portanto,
componentes cruciais de mudança estrutural.
Que o caráter industrial-manufatureiro da substituição de importações
contrariava a estrutura estabelecida de rendimento tem sido posto em dúvida por muitos
investigadores, no Brasil e no exterior (1964-1982). Esta observação, como indicada
acima, é no sentido de que contrariava, o que se pode inferir de um modelo onde os
“depósitos em todos os bancos” é explicado pela “renda disponível” (1940-1964):
S
D = -9.4068499 + 0.0536877 Y d (23)
R 2 = 0.680134
R 2 ajustado = 0.666226
F = 48.90504
54
Outro interessante indicativo para a expansão da renda dos estratos urbanos em
detrimento dos estratos rurais; e da massa trabalhadora industrial em detrimento das
camadas médias, pode ser visto nos programas políticos que caracterizam as lutas
sociais, incluídas as crises de 1953-1954 e de 1963-1966. Há nitidamente uma
resistência de setor agro-exportador e das camadas médias ao processo de
industrialização e ao aumento da renda dos trabalhadores industriais.
Para o período 1948-1956, o acréscimo da renda nominal tem uma pendente
expansiva muito sensível, para o modelo linear da função depósito:
N
S
D = -25.629 + 1.00770 Yd (24)
R 2 = 0.91530
t = 29.8842
Contudo, o papel é menos pronunciado para o acréscimo da renda nominal
disponível no período do modelo (24), do que havia sido no período antecedente, de
1939-1947, fazendo também aqui interpretar-se um “comportamento independente” das
variáveis durante o 2º conflito mundial. Foi situação de muita tipicidade.
Qual o desempenho da “renda bruta não-agrícola”
(Y G nag )
(Y G ag ),
conjuntamente, para explicar a função depósitos? Ter-se-á para o período 1940-
1964:
G
S
D = 0.5021373 + 0.2517775 Y G nag + 0.3841821 Y ag (25)
R 2 = 0.995332
R 2 ajustado = 0.994907
estatístico F = 2345.320
A pendente, não sendo tão pronunciada como no período anterior, aponta para
um “relacionamento nominal” entre as variáveis, apesar do condicionamento inicial
55
durante a 2ª Grande Guerra. A maior importância da renda agrícola fica caracterizada,
apontando para a hipótese sobre a natureza da acumulação durante a industrialização
substitutiva. O “desempenho preditivo” pode ser apreciado no Gráfico 13:
Gráfico 13:
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
-5
A leitura das relações entre os valores observados e ajustados nos indica que as
duas variáveis explicativas fazem supor, pela evolução de seus valores, um nível de
depósitos superior, em quase todo o período, aquele que efetivamente se observou (com
exceção para 1958-1964). O que explicaria, portanto, a reversão a partir de 1958? Dito
em outras palavras, o que ocorreu a partir de 1958 que reduziu o potencial expansivo de
desempenho da renda não-agrícola e da renda agrícola em relação ao observado?
A explicação mais plausível é o recuo do desempenho da renda agrícola no
período 1958-1962, em função da crise, ao estagnar o comércio regional internacional,
no período. Tal recuo das variações expansivas agrícolas e de sua realização efetiva
(como produto) ter-se-iam refletido na crise cambial do período e na conseqüente crise
econômica de 1963. Contudo, sabe-se que houve uma rápida reativação em 1964-1965,
situação entretanto que não foi aproveitada a “nível nacional”, devido a adoção de um
pacote de medidas de política econômica já de natureza diferente, ao desenfocar da crise
de 1965-67.
56
Uma hipótese que imediatamente aflora é que, nas condições da estagnação do
comércio exterior no período 1958-1962, o acirramento da repartição da renda
disponível deve ter sido característico, e a variação dos rendimentos nominais deve ter-
se refletido como mecanismo impelidor no processo inflacionário (“cost-push inflation”,
a “inflação de custos”, de Rangel). Nesse caso, a variação de crescimento da renda
disponível pode ter no modelo da função depósito o poder compensatório explicativo
perdido pela renda não-agrícola e pela renda agrícola para o fim do período 1958-1964.
Veja-se o modelo com a adição da taxa de crescimento da renda disponível Y d 2 , para o
período 1940-1964:
S
D = 0.231927 + 0.1023862 Y G nag + 0.5473562 Y G nag + 4.22398 Y d 2 (26)
R 2 = 0.996646
R 2 ajustado = 0.996166
F = 2079.804
Como se pode observar no gráfico 14, os valores ajustados se aproximam
satisfatoriamente dos observados, para o período 1940-1964, confirmando as
características de luta pela repartição de renda, entre as forças sociais no período:
Gráfico 14
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
-5
57
Caso se considere apenas o período 1957-1965, a função depósito linear obtida a
partir da renda não-agrícola não é discordante:
S
D = 1059.511 + 3.1079 Y G nag (27)
R 2 = 0.93760
t = 41.0558
Por outro lado, pode-se considerar para 1957-1965 somente a renda bruta
agrícola:
S
D = 215.195 + 0.89112 Y G ag (28)
R 2 = 0.95020
t = 51.7887
S
D = 586.667 + 1.65762 Y N d (29)
R 2 = 0.84470
t = 15.6581
58
renda, o mecanismo do crédito ao consumidor, o “aquecimento” do mercado de
créditos, etc.
Parece, pois, que no período final da industrialização substitutiva, os indivíduos
estivessem consumindo mais (ou até além) do acréscimo da renda líquida nominal do
que antes, e isso aponta na direção do decréscimo dos investimentos, uso intensivo da
capacidade instalada, etc.; aponta para forte expansão na produção de bens de consumo,
com oscilações, o que de fato ocorreu, como pode ser apreciado de outras análises
empíricas e teóricas. Ambas as interpretações são adequadas para a suposição de
elevadas poupanças públicas e empresariais, em conexão com o processo da expansão
industrial, sem alterar, contudo, o quadro de dificuldade de conversão da poupança em
investimento, no final do período, nas condições da chamada “inflação de custos” (cost-
push inflation).
Considerando o desempenho linearizado (para fins de uso gráfico) do
desempenho das rendas brutas agrícola e não-agrícola na função depósito, para o
período 1957-1965, tem-se:
G G
S
D = 40.18209 + 0.214996 Y nag + 0.174791 Y ag (30)
R 2 Y .12 = 0.823710
S y .12 = 187.04204
S y =2450.0600
59
Caso se inclua no modelo (30) a variação nominal da renda disponível, vem-se a
obter (1957-1965):
G G N
S
D = 130.670 + 0.61746522 Y nag + 0.1706274 Y ag + 0.126611 Y d (31)
R 2 Y.123 = 0.904701
SY.123 = 59.6240
60
C) Função de Consumo e Produção Tradicional
A equação da função de consumo tem sido mais correntemente escrita como:
Ct = a + bY t + cC t 1 + Et (1)
a qual é um detalhamento da hipótese de Keynes, que tem a forma linear:
C = a + bY (2)
Significando (2) que “o consumo é uma função do rendimento disponível” ou
simplesmente do rendimento. Aceitando-se a hipótese keynesiana, chega-se às
complexas relações da Contabilidade Nacional e Internacional, e seus sistemas de
modelos multiequacionais, preditivos, descritivos e para ajuste, que não se abordarão
aqui. O ponto é o tratamento de modelos simples, com uma única equação, que, no
entanto, se considerados na ótica de serem incluídos nos sistemas multiequacionais,
guardariam uma vida de relações com eles, pelas implicações em comum do sistema
subjacente da teoria econômica. Ignoradas, contudo, tais relações, pode-se tratar as
equações dos modelos que ir-se-ão referir dentro de uma visão empírica, onde se busca
o isolamento dos fatores causais no modelo em caso, dentro de um significado histórico-
econômico. Proceder-se-á à leitura das hipóteses por modo empírico indicativo.
Nesse sentido, assumam-se à partida as seguintes hipóteses do preceito
keynesiano:
(a) que: a “produção tradicional” brasileira para o consumo é igual ao consumo
tradicional (a parte não-dinâmica do consumo em mudança); sendo esta produção
tradicional totalmente consumida (considere-se, portanto, implicitamente, as
exportações marginais iguais às importações marginais):
Ot =Ct (3)
(b) que: se (a) é correta, então a “produção tradicional” é uma função da “renda
disponível”, isto é, usando-se o rendimento disponível como uma variável explicativa,
pode-se explicar praticamente as variações na produção tradicional ou no consumo
tradicional. Esta adaptação técnica corresponde às fortes restrições impostas no caso
brasileiro pela industrialização substitutiva:
O t = a + bY d ou C t = a + bY d (4)
61
Dadas as hipóteses acima, pode-se desenvolver condições adicionais:
(1) uma vez que se sabe ser a “produção tradicional” mais conectada com os estratos
urbanos de renda mais baixa, formulem-se as hipóteses;
(c) que: 80 por cento dos detentores de rendimentos, os que estão abaixo dos 20 por
cento mais elevado de renda, tem empiricamente maior poder explicativo sobre o
consumo tradicional que os 20 por cento;
(4) Uma vez que se sabe que – nas condições da industrialização substitutiva – as
importações e seus efeitos de preços inferiores também são absorvidos pela “produção
tradicional”, deliberou-se incluir um “índice nominal das importações” como uma
variável explicativa no modelo. O objetivo é compreender a extensão em que tal índice
pode “descrever” o consumo ou a produção tradicionais. Pode-se ter mais uma hipótese:
(e) que: os “próximos 40% de detentores de rendimento”
Y dN 40 ,
São coadjuvantes explicativos úteis, a fortiori, da função de consumo
tradicional;
62
O t = produção tradicional
C t = consumo tradicional
(Empiricamente foi utilizado o índice industrial da produção física – processamento
alimentar; F.G.V.)
Y dL 40 = rendimento disponível dos 40 por cento da renda mais baixa;
63
praticasse para todos os modelos. Ignoradas, pois, as forças não-endógenas que atuam
em tais flutuações, pode-se interpretar o resultado das estatísticas inferenciais pela
hipótese de que uma pequena quantidade apenas de alimentos processados (cerca de
7%) para o consumo estavam sendo importadas no período, devido às condições da
industrialização substitutiva. Assim, tal hipótese explicativa parece indicar decrescentes
importações de alimentos processados, e confirmar esses traços gerais da expansão
generalizada das condições de industrialização substitutiva no período.
Visualize-se um outro relacionamento, em que a variável explicativa da função
será o “rendimento disponível dos próximos quarenta por cento”, no mesmo período
(1947-1964):
64
R Y2 .12 = 0.9558602 S Y2 = 1770.163
S Y .12 = 8.560
A dedução plausível é que os “40% de rendimentos mais baixos” são indivíduos
que têm as expansões de seu “consumo tradicional” relacionadas a decréscimos
marginais de importações, achado empírico compatível com as características da
industrialização substitutiva no período. O modelo também explica 95% da função de
“consumo tradicional”, ou da “produção tradicional”, como alimentos processados. O
resultado é satisfatório, e pode-se para efeito analítico ignorar a influência dos fatores
exógenos indicada nos resíduos.
Desenvolver-se-á agora o modelo completo, pela inclusão da variável que
expressa os indivíduos dos “próximos 40% de rendimento disponível”, para o mesmo
período:
C t = 171.884 – 41.12282 Y dL 40 - 0.31834 I iN + 14.00540 Y dL 40 (31)
65
decréscimo relativo das exportações – atua como estrangulamento das forças
expansivas, como gargalo, colocando-se em ação os condicionantes da “inflação de
custos” (cost-push inflation). A crise cambial associa-se, pois com a disputa pela
redistribuição da renda e com a luta de classes.
Após esta reflexão sobre o desempenho empírico da produção e do consumo
tradicionais, nas condições da industrialização substitutiva, examine-se para o período
1940-1964, a função de consumo convencional. Em cruzeiros reais de 1949, estuda-se a
variável “consumo pessoal”, a partir da renda disponível:
C i = 31.13782 + 0.743638 Y d (32)
R 2 = 0.957395
R 2 ajustado = 0.955542 estatístico F = 516.8369
As indicações da linha de regressão dão um desempenho de bom ajuste,
conforme esperado, para as duas variáveis. O grau de ajuste pode ser observado no
Gráfico 15.
Um aumento do rendimento dos trabalhadores em condições de crescente
concentração da renda se deu por duas formas: (a) elevação do ganho salarial
individual; e (b) aumento da massa salarial total, por aumento do número de
assalariados. Em resultado, a fricção se manifestou: (1) no nível do consumo, pela
insuficiência da oferta em várias subestruturas, com o trabalhador concorrendo com as
camadas médias na compra de certos produtos, o que se manifesta na elevação dos
preços; e (2) no nível do financiamento da produção. O interesse de compras das
camadas superiores de rendimento se dirige aos importáveis ou à produção doméstica
nova (exemplo: automóveis). Como os produtos tradicionais têm em geral um ciclo de
produção mais curto, a remuneração do investimento dá-se em prazo menor. Isso
tornava a expansão da produção tradicional de certa forma concorrente ao
financiamento da expansão da produção nova, que era o mercado desejado das camadas
de renda mais elevada.
66
Gráfico 15
500
400
300
200
100
0
1940
1942
1946
1948
1951
1953
1955
1956
1958
1960
1963
1964
1941
1943
1944
1945
1947
1949
1950
1952
1954
1957
1959
1961
1962
-100
67
C i = -70.606529 + 4.2206815 Ywd (33)
R 2 = 0.932066
R 2 ajustado = 0.927820 F = 219.5217
Gráfico 16
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
R 2 = 0.943716
R 2 ajustado = 0.940198 F = 268.2717
68
Gráfico 17
500
400
300
200
100
0
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
-100
R 2 = 0.933837
69
R 2 ajustado = 0.925015 F = 105.8558
500
400
300
200
100
0
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
-100
Nos Gráficos 17 e 18, pode-se observar que não há diferença substancial nos
ajustes da função consumo a partir do “rendimento do trabalho” ou do “rendimento dos
vencimentos e das propriedades”. Isto é, os dois blocos de renda, opostos quanto ao
comando da produção, podem exercer a fortiori a capacidade explicativa da função
consumo. Isto implica dizer ambas as coisas: (a) um consumo generalizado, baseado em
produções que variam com base em necessidades do mercado doméstico; (b) uma ampla
intimidade das variações das três variáveis, encontradas que estavam num plano comum
de forças atuantes nas mudanças estruturais. Nesse caso, além do crescimento
econômico, pode-se também detectar mudanças estruturais de consumo, correlatas a
proprietários e trabalhadores.
Isto afirma de modo importante uma das características vitais do processo de
industrialização substitutiva, no período em questão.
70
Qual o poder explicativo a fortiori dos “40% de rendimentos mais baixos”,
( YLd40 ),
R 2 = 0.93705
t = 15.433960
R 2 = 0.937058
t = 13.337455
R 2 = 0.9910268
t = 12.740049
71
pois um crescimento de seu consumo 18,9% menor do que os “próximos 40%” no
modelo (37) e um crescimento 2,7 vezes maior de que os “40% de renda mais baixa”,
no modelo (36).
Qual será a posição de consumo no período dos “5% de mais alto rendimento”
ou seja, os “5% no topo do rendimento”? É o que nos indica o modelo (39), para o
mesmo período (1947-1964):
R 2 = 0.913301
t = 12.982856
R 2 = 0.932066
t = 14.816277
d
( YS & p ) no período?
72
R 2 = 0.943716
t = 16.379194
R 2 = 0.925771
R 2 reajustado = 0.915874 F = 93.53889
73
Gráfico 19
600
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
R 2 = 0.945368
R 2 reajustado = 0.938083 F = 129.7815
74
Gráfico 20
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
levam naturalmente a inquirir o papel relativo dos “40% de rendimento mais baixo”,
quando associado aos fins explicativos da função consumo, no período (1947-1964):
R 2 = 0.963848
R 2 ajustado = 0.959027 F = 199.9652
75
Gráfico 21
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
Veja-se agora o poder associativo dos “5% do topo”, dos “próximos 15%” e dos
“próximos 40%”, para explicar a função consumo no período (1947-1964):
R 2 = 0.978145
R 2 ajustado = 0.973462 F = 208.8652
76
Gráfico 22
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
R 2 = 0.969303
R 2 ajustado = 0.962725 F = 147.3550
40%” ( Y Nd40 ) do modelo (45). Alterou-se bastante a posição dos “5% do topo”, num
indicativo de consumo mais generalizado dos componentes, em consumo menos
concentrado. O ajuste visível no Gráfico 23 é satisfatório:
77
Gráfico 23
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
R 2 = 0.980750
R 2 ajustado = 0.974827 F = 165.5838
78
industrialização, onde os trabalhadores industriais, nova parcela em expansão do
mercado interno, acabam se beneficiando como consumidores finais. O ajuste
evidenciado no Gráfico 24 é satisfatório:
Gráfico 24
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
79
Sabe-se também que a “renda líquida enviada ao exterior” (NYSA) é uma
variável que expressa um decréscimo no rendimento disponível real, apesar de
constituir-se de custos adquiridos no exterior para permitir uma antecedente expansão
da renda. Estas observações liberam para sucessivos exercícios empíricos, nas relações
de tais variáveis, como por exemplo: utilizar NYSA no lugar de pagamentos ou ganhos
adicionais de rendimentos, para apreciar as variações explicativas dos desempenhos. Se
um bom relacionamento pode ser obtido neste modelo de relação empírica, poder-se-á
neste caso aceitar como hipótese explicativa a que se segue abaixo:
(1) Esta hipótese pode ser formulada com base nas características da industrialização
substitutiva como se relatou previamente; por exemplo, a restrição apresentada de
crescente escassez cambial.
80
Yr p = rendimento retido pelos produtores
N
YSA = renda líquida enviada ao exterior (NYSA)
Aplique-se agora este modelo e suas variantes ao período 1940-1970. Para fins de
resumo, apresentaremos apenas a periodização a partir de 1947, nesta tradução.Assim,
para o período 1947-1964, o “pagamento de impostos ao governo”, T p , explica na
variante linear como segue a “renda real disponível”:
= - 3.40 + 0.19531 T p
d
Y (48)
R 2 = 0.97360 t =149.36930
= 23.765726 + 5.0009071 T p
d
Y (49)
81
Gráfico 25
700
600
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
O desempenho preditivo dos modelos (48) e (49) leva a questionar qual seria o
poder explicativo da “população” na função de rendimento disponível, considerando o
caráter intensivo da economia local, (1947-1964):
R 2 = 0.891688
82
Gráfico 26
700
600
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
-200
p
Y d = 9.593 + 0.0588 Yr (51)
R 2 = 0.97140 t = 137.8818
p
Y d = 151.63655 + 16.571142 Yr (52)
R 2 = 0.971965
83
O ajuste obtido pode ser visto no Gráfico 27:
Gráfico 27
700,000
600,000
500,000
400,000
300,000
200,000
100,000
0,000
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100,000
N
Y d = 0.72178 + 0.00571 YSA (53)
R 2 = 0.54450 t = 6.4799
N
Y 2 = 68.583723 + 95.820772 YSA (54)
R 2 = 0.546407
84
R 2 ajustado = 0.518058 F = 19.27394
Gráfico 28
700
600
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
-200
p
Y d = 320.284 + 0.434241 T p - 1.44190 Yr (55)
R 2 = 0.9920
85
O resultado indica, com a crueza característica do ajuste linear,a compatibilidade
entre suposto efeito expansivo do “pagamento de impostos” na “renda disponível”.
Pode-se interpretar que as demandas públicas financiadas com os impostos e os
investimentos estatais são notáveis, e competem com os efeitos do “rendimento retido
pelos produtores” nos mesmos itens da expansão da “renda disponível”. Daí uma
componente importante da “inflação de custos”. O caráter expansivo das receitas do
governo dentro da economia fica bem caracterizada. Veja-se a outra variante do modelo,
para o mesmo período (1947-1964):
p
Y d = - 53.763486 + 208343781 T p + 7.2350080 Yr (56)
R 2 = 0.976232
Gráfico 29
700
600
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
86
Uma vez mais é indicada a forte flutuação econômica característica do pós 2ª
Grande Guerra, em que os movimentos de capital eram limitados pela demanda dos
países em reconstrução, particularmente na Europa. Este era um dos fatores favoráveis
para a industrialização substitutiva, e daí que as flutuações não devam ser vistas como
necessariamente um impeditivo para os resultados obtidos. O ajuste não-linear, mais
sofisticado, indica nitidamente o gradual predomínio do “rendimento retido pelos
produtores”, possivelmente, devido ao caráter institucional do modelo, obtido ao nível
não-econômico (administração Quadros, parlamentarismo, etc.).
p N
Y d = 251.957 + 0.489244 T p + 0.1469 Yr + 8.7257 YSA (57)
“renda líquida enviada ao exterior” (NYSA) é: rY23.12 = 0.7875, um bom resultado para
a melhoria de ajuste do modelo.
p N
Y d = - 52.599734 + 2.9356454 T p + 7.6968577 Yr - 7.9434222 YSA (58)
R 2 = 0.977742
87
Gráfico 30
700
600
500
400
300
200
100
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
88
F) Função da Dívida Externa
R 2 = 0.940730
Gráfico 31
400
350
300
250
200
150
100
50
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-50
89
Vê-se que há grande associação entre as duas variáveis. Nos períodos de 1948-
1954 e 1961-1963, as variações na renda disponível tendem a superestimar o montante
(do índice) da dívida externa; por outro lado, no período 1956-1960, há uma tendência a
subestima-la. Como se explicam tais diferenças? Primeiramente, a dinâmica específica
do mecanismo da industrialização substitutiva beneficiou-se mais dos ganhos da
importação nos períodos 1948-1954 e 1961-1963, que no período 1956-1960. Além
disso, o período 1956-1960 conheceu um incremento dos influxos do capital certamente
para cobrir diferenças na capacidade importativa de bens de capital (vide instrução 113
da SUMOC), manifestando-se aí a flutuação em relação aos outros dois períodos.
R 2 = 0.956762
Pode-se apreciar a qualidade resultante do ajuste no Gráfico 32. Vê-se que, para
o consumo pessoal, a dívida externa deveria situar-se num nível mais alto à partida
(36% a mais) e encontrar-se, mesmo, a um nível ainda alto no fim do período 1957 e
1958; como1947-1949, são estes anos de notável discrepância. Vê-se, assim, que o
consumo pessoal efetivamente cresceu em discrepância da expansão direta da dívida
externa no período, e isto pode ser um indicativo de relativa separação entre os dois
conjuntos de forças que moldaram ambas as variáveis.
90
Gráfico 32
350,000
300,000
250,000
200,000
150,000
100,000
50,000
0,000
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-50,000
R 2 = 0.015856
91
Gráfico 33
350
300
250
200
150
100
50
0
-501947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-100
-150
R 2 = 0.970546
92
1955; 1957 e 1963 mostram-se nitidamente distanciados da curva de ajuste. É evidente
que a produção de aço e duráveis (no caso, representado por veículos), uma força nova,
não se “encaixa” aos marcos da flutuação “normal” da economia do período. Mesmo
assim, a variável se mostra capaz de explicar a função do endividamento externo.
Gráfico 34
350
300
250
200
150
100
50
0
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-50
Um raciocínio pode ser feito, qual seja, que o crescimento da produção de aço e
de duráveis, em virtude de seus ritmos acelerantes, aproxima-se das demandas de
internacionalização caracterizadas pelos nossos consumos e fluxos de capital.
Consequentemente, da dívida externa (que é um desses fluxos).
R 2 = 0.643017
R 2 ajustado = 0.620706
93
Vê-se poder explicativo superior a 60%, que é um bom resultado, mas que
implica dizer estarem a “renda líquida enviada ao exterior” e o “endividamento externo”
no período amplamente dissociados (40%); ou seja, cada qual conformada por um
conjunto de forças bastante diferentes.
Insere-se daí que o endividamento externo não foi uma função decisiva para
explicar o desempenho econômico no período da industrialização substitutiva. Isso se
torna visível mesmo que se amplie o período de avaliação. Por exemplo, de 1947 para
1970 (em vez de 1964). Como elemento comparativo, examine-se o poder explicativo
da renda disponível, (vide 59) para o período 1947-1970:
R 2 = 0.930275
94
Gráfico 35
500
400
300
200
100
0
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
-100
95
O gráfico nº 36 indica o perfil do índice da dívida externa no período 1947-1970,
e a variável estimada para a mesma a partir da renda disponível:
Gráfico nº 36
500
400
300
200
100
0
1948
1950
1952
1954
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1947
1949
1951
1953
1955
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
-100
(a variável estimada) está por cima dos valores observados no período 1947-1955,
colocando-se por baixo dos valores observados de 1956 a 1964. A posição se altera
novamente no ano de 1970, em que o valor estimado rebaixa o valor observado. Pode-se
supor, assim que, a partir da renda disponível, dadas suas variações de crescimento, o
nível do endividamento poderia ser mais alto no período 1947-1955. Não o foi,
certamente, devido à inadequada oferta do fluxo de capitais, canalizado para os países
em reconstrução, e o conseqüente caráter da industrialização substitutiva, responsável
em grande parte pela expansão do rendimento disponível. No período 1956-1964, fase
final da industrialização substitutiva, as oscilações da renda disponível tenderam a
subestimar o perfil do endividamento, acelerado este pelo período de liberalização
kubistchekiano e a política de associação com o capital externo. Tal caracterizou o
início da expansão automobilística.
96
Volte-se ao período 1947-1964. Caso se acrescente no modelo (46), que dá o
poder explicativo do índice de aço e duráveis, o poder específico da “renda líquida
enviada ao exterior, do modelo (47), advém:
R 2 = 0.970548
Gráfico 37
350,00
300,00
250,00
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-50,00
97
FDit = - 28.930099 + 0.8609152 SVi + 3.158999 YSA
N
+ 0.2418666 Y d (65)
R 2 = 0.983494
Gráfico 38
Divida Externa e Similar Computada a Partir do Indíce de "Aço & Duráveis", da Renda
Líquida Enviada ao Exterior e da Renda Disponível - 1947/1964
350,00
300,00
250,00
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964
-50,00
98
Universidade de São Paulo
Departamento de História
1982
99
1. Introdução.
O período posterior à recuperação da crise de 1929 até o começo dos anos 60,
foi baseado em políticas para o crescimento econômico do tipo de industrialização
substitutiva. Depois dessa experiência, e devido à mudança do regime político ocorrida
em 1964, o país reorientou as suas políticas no sentido de estimular as exportações,
combinando-as com medidas para a concentração do rendimento. O objetivo último era
acelerar as taxas de crescimento econômico.
A nova visão do governo era agora orientada para promover um tipo mais
restrito de políticas expansivas, baseando-se nos ramos que expressavam as novas
forças da industrialização no exterior, no pós-guerra. Estas forças também
desempenharam um papel acumulador na industrialização brasileira, durante os anos 50.
100
Na prática, o aperto econômico favoreceu a saída de capitais já tementes da
instabilidade interna e, por outro lado, começava a refletir os ritmos mais acelerados de
industrialização da Ásia. Em parte devido a esta saída de capitais, em parte devido às
políticas adotadas, a retomada do crescimento, a partir de 1967, se fez apoiada sobre a
capacidade ociosa da economia. Lentamente, foram retomados os empréstimos no
exterior, em parte para financiar o próprio relance do crescimento.
101
2. Orçamento Público e Crescimento
102
escolha da via ou do nível de internacionalização. Tal estimulava a entrada de recursos
desde o exterior. Conquanto o governo brasileiro intentasse no período a política de
balanceamento do orçamento público, esta política revelou-se uma formalidade pela
tática das autoridades de desglosamento do orçamento em cinco peças distintas, que
escamoteavam o verdadeiro quadro das aplicações.
Este sistema de contas paralelas era fomentado pelo caráter não-democrático dos
poderes instituídos. As manipulações escamoteavam as relações do orçamento
financeiro com o orçamento cambial, efeitos das desvalorizações, empréstimos, emissão
de moeda, velocidade de crédito, etc. Inexistia um balanço geral contábil da economia
nacional. Esta situação, obviamente, permitia acomodar muitos interesses. Nestes
termos, o chamado balanço do Tesouro não refletia no período o estado-de-contas da
Nação, mas apenas o movimento de caixa do guichê do Ministério da Fazenda. Tal
manobra permitiu escamotear o estado efetivo de desequilíbrio em cerca de 90%.
103
atingir hotéis, fazendas, pequenas fábricas, etc. Tal tipo de expansão não obedeceu,
evidentemente um plano ideológico, mas a conjunção entre demandas efetivas do
crescimento econômico e ineficiências decisionais, como é característico dos países em
desenvolvimento, sempre que são suprimidos os mecanismos de controle da ação direta
do poder público.
104
3. Endividamento público
Enquanto que o rendimento dos 5 por cento da ponta de cima dos pagadores de
imposto de renda cresceu anualmente em termos reais no período a uma taxa média de
11,5 por cento, o pagamento que fizeram de imposto direto ao governo cresceu – no
mesmo período – a 9,3 por cento ao ano. O governo concedeu-lhes assim um ganho de
26,7 por cento sobre a taxa de crescimento. Ao mesmo tempo, os impostos indiretos
cresceram, em termos reais, a uma taxa anual de 6,2 por cento.
Acelerados os efeitos monetários da moeda nacional, ela tem que ceder sua
função financeira a outra moeda de troca, reduzindo-se a simples instrumento de crédito
para compra de trabalho. O barateamento decorrente do trabalho estacional para a
agricultura de exportação, com o aumento no ganho dos exportadores no curto prazo,
deprime o mercado nacional, pela redução do consumo básico.
105
Vê-se também aqui que o governo – ao implementar tais políticas – não estava
interessado autenticamente na redução da massa monetária no mercado, ou na geração
de crédito seletivo: as autoridades pretenderam talvez apenas controlar “ex-ante” as
taxas de inflação, com um certo equilíbrio no efeito redistributivo do rendimento.
106
Devido, adicionalmente, à posição do Caixa do Tesouro nacional, o simulacro de
uma posição balanceada para a aprovação do orçamento financeiro público, ano após
ano, havia de requerer a expansão da dívida flutuante, como um componente doméstico.
A expansão das letras públicas e outros papéis permitia induzir a taxa de juros, evitar
medidas fiscais efetivas e reduzir as emissões monetárias. A manipulação das posições
do mercado aberto e sua diversificação foi utilizada como um mecanismo controlador
da demanda monetária, equalizador da demanda cambial e, portanto condicionador da
evolução de crédito.
4. Uma Interpretação
107
como um produtor de bens e serviços infraestruturais, etc, o estado expandiu-se nos
EUA, na Grã-Bretanha, França, Escandinávia, Alemanha, Coréia, etc.
Por outro lado, no que se refere ao encargo e ao peso dos grandes investimentos
estruturais dos países do Terceiro Mundo, tinha sempre cabido ao estado arcar com tais
decisões e responsabilidades.
Isto originou uma situação peculiar, que tem sido interpretada em diferentes
pesquisas como um “mercado estatal”. As vezes, uma “burguesia do estado” ou
“empresários estatais” são também caracterizados. Qualquer que seja a interpretação, a
economia mista, as vezes dita o “tripé”, desenvolveu-se muito no Brasil, com grande
destaque para a presença do estado, sob o discurso paradoxal de se estar a criar um
mercado de curso mais livre e mais competitivo.
108
mentalidade do subdesenvolvido. Afim de cobrir os déficits no exterior, o governo
implementou aceleradamente a expansão da dívida externa, produzindo assim um
custoso fluxo de capital externo.
A mesma linha de raciocínio pode ser feita com relação à divida pública,
instrumento de “socialização das perdas”, como pontualizou certa vez o historiador
Werneck Sodré.
Daí que seja importante considerar o poder explicativo da dívida pública num
resumo das condições características do mecanismo da “industrialização-via-
exportações”. Resumindo:
(1) um cruzeiro subvalorizado – (um baixo valor cambial do cruzeiro) – Sob a desculpa
da ciranda dos valores das importações, dos salários, dos preços por atacado e a varejo,
dos quais os teóricos do poder público militar não sabem qual causa a inflação (teoria da
inflação recorrente), elegeu-se uma opção pelo cruzeiro em constante subvalorização,
como “mecanismo estimulador das exportações”. Diferentes ministros da área
econômica, como Delfim Netto e Mario H. Simonsen, reconheceram tal característica
pelo menos conjunturalmente. Na verdade, o uso desta ferramenta é um sine qua non
para os elaboradores da política econômica, porque eles precisam satisfazer a crescente
exigência por lucros mais altos dos setores exportadores. Ao mesmo tempo, buscam
ocultar a ineficiência e o baixo nível de investimento em tecnologia da economia da
exportação. Um certo nível de competitividade no exterior só pode ser mantido por
subsídios e por um cruzeiro subvalorizado.
109
produtividade interna, gasta-se mais em produto físico e recursos humanos do que as
cambiais assim obtidas.
Vê-se, assim, que pela imprevidência dos elaboradores da política econômica, tal
mecanismo operava na economia doméstica com um efeito “boomerang”, uma vez que
os exportadores intentavam elevar a composição de capital de suas mercadorias
exportáveis, via capitalização mais intensiva; enquanto se deprimiam os principais
fatores, gerados nesta capitalização, a saber, a força-de-trabalho e outros do mercado
interno.
110
substituir investimento e aumentos de produtividade, as desvalorizações não limitam
apenas importações potenciais a custos decrescentes mas, pelo contrário, aumentam a
demanda por mais importações, para substituir produção doméstica similar, bloqueada
pelo desenvolvimento da dualidade.
111
compelir tal importador a algum grau de substituição das importações, através da
produção local de bens procurados na importação. O desenvolvimento das dualidades
do mercado de industrialização, favorece tais políticas. Tal mecanismo é, não obstante,
menos utilizável, se a política doméstica não opera para tornar os insumos procurados
mais baratos para a industrialização substitutiva. Assim, o uso deste mecanismo
potencial requeriria políticas parciais de liberalização, assim como a diferenciação das
taxas cambiais, como no caso dos sistemas de taxas múltiplas.
112
Mecanismos bancários de subsidiação do crédito promovem um baixo custo para
efeitos cambiais, via as quotas reservadas para os projetos.
(3) Uma forte presença do Estado na economia. – Esta condição é muito importante
quando o Estado é proprietário de grande número de empresas produtivas. A corrente
desvinculação vigente no país entre especulação financeira e expansão das atividades
produtivas foi um dos elementos que contribuiu para uma grande presença do estado na
economia. Na verdade, o mercado da Bolsa compreende um volume não significativo de
recursos, pelo qual não se pode financiar grandes projetos. Daí a tradição do estado,
através da ação de diferentes governos, em produzir mecanismos que o capacitem a
financiar os investimentos. Empresas como a CSN, a Petrobrás, o BB, a Eletrobrás,
Vale do Rio Doce, Costeira, etc. foram soluções óbvias em face da escassez de recursos,
oferta de mão-de-obra e disponibilidade de recursos físicos. O desinteresse e, mesmo,
hostilidade do setor privado a tais iniciativas, foi gradualmente se convertendo em
tentativa de obter a cessão do controle. Por outro lado, a presença do Estado em
indústrias alimentares, de tabaco ou processadoras de madeira carece de justificativa de
origem outra que a execução judicial, a favor de bancos públicos.
113
limite legal para os movimentos sindicalistas foi rebaixado ao mínimo.
Consequentemente, revelou-se no período uma tendência para um crescente diferencial
interno a cada ramo e entre os ramos ou setores da economia, nos ganhos do trabalho.
Ao mesmo tempo, ampliavam-se os diferenciais entre as margens históricas de
remuneração fatoral ao trabalho e ao capital, para a ordem respectiva, na função de
produção, de 30 e 70 por cento cada qual. Esta política de ampliação dos diferenciais
implementava o fortalecimento de um mercado suntuário nas condições de uma
economia subdesenvolvida.
(5) Promoção das exportações. – O modelo das políticas de industrialização por via do
crescimento das exportações baseia-se num grande esforço para promover as
exportações. De fato, tal resultado é o outro lado das condições expostas em (1), uma
vez que os produtores e exportadores se orientam gradualmente para satisfazer
prioritariamente as demandas fora do país.
(6) Um forte endividamento para financiar as condições resumidas em (1), (2), (3) e (4)
– Como referido previamente, o processo da dívida nacional foi manipulado para
contornar as flutuações cíclicas e financiar investimentos, para acelerar o crescimento
114
econômico. De um lado, tem-se os desequilíbrios do comércio e do balanço de
pagamentos, que exigem medidas equilibristas para cobrir dividas no exterior. Tais
desdobramentos implicam por conseqüência desvalorização monetária e cambial e
muitas outras manipulações. A insuficiência da capacidade de pagamentos no exterior,
decorrente da natureza do comércio externo e da política de mercado interno,
demandava a entrada de moeda externa, sob diferentes títulos, para cobrir posições de
despesa. Conforme referido, a política de desvalorizações foi a arma principal utilizada
pelo governo no período pós-1964 para contrabalançar estes desequilíbrios. Insiste-se
que esta arma tem um efeito “boomerang”, pois “reduz” o custo doméstico das
exportações, aumenta o endividamento externo e não estimula a melhoria da
produtividade.
O papel reduzido da política fiscal para ajustar o mercado brasileiro foi uma
política inadequada, adotada pelas administrações pós-64 e veio contribuindo assim, ao
longo do período, para aumentar as disparidades de rendimento, entre indivíduos e entre
regiões.
Poder-se-ia pois concluir que as condições (3), (4), (5) e (6) foram de grande
importância para acelerar as mudanças na estrutura da procura relativa doméstica, e,
115
portanto, capazes de promover crescimento mais rápido. Este crescimento acelerado,
contudo, mostrou uma quantidade de flutuações maior que no passado pré-64, exigindo
um influxo enorme de recursos do exterior para evitar estagnação. Um fato cabal aqui
foi a aceleração da internacionalização, sem que a mesma obedecesse a uma política de
mercado interno. Tal aceleração encurtou o tempo cíclico necessário para ajustar a
economia doméstica, sem haver criado movimento mais rápidos de produtividade, e,
consequentemente, de amortização e formação de capitais.
O pacote adequado gerado pela política pública foi combinado: (1) redução do
consumo interno de itens tradicionais, para estimular as exportações; (2) capacidade
ociosa acumulada e até crescente; (3) dualidade no mercado de trabalho, subemprego e
desemprego extensivos; (4) desvalorizações continuas; (5) concentração de rendimento
adicional; (6) expansão dos duráveis e produção de luxo. Enquanto que as raízes de tais
decisões de política econômica podem ser remontadas ao processo mesmo de
industrialização, a aceleração deste processo e a eliminação de uma certa liberdade do
trabalhador no mercado de trabalho contribuíram, em grau particular, para o curso
definitivo das políticas pós-64.
116
o período anterior e intentou financiar – muitas vezes com o recurso da poupança
externa – um curso de desenvolvimento mais livre no mercado. Isto a partir do jogo das
empresas internacionais e do setor privado interno. Para tal fim, as empresas públicas
deveriam subsidiar um mercado favorável, ainda que trabalhando com saldos negativos.
Para financiar esta nova circunstância, um papel particular era agora atribuído a
crescentes exportações, as quais, não obstante grande expansão, revelaram-se incapazes,
seja de pagar as importações crescentes, seja os novos custos do movimento de capital.
A causa para este fracasso parece ser a liberalização em excesso, promovida sem
orientação estratégica, pelas autoridades brasileiras. A política de desvalorização
contínua, entre outras, excedeu a capacidade de absorção da economia doméstica, que
ficou assim impossibilitada de seguir as expansivas demandas de capital externo e seus
custos. Com relação a outros insumos, evoluções desfavoráveis como a crise do petróleo
aliaram-se às políticas erradas resultantes da liberalização em excesso.
117
Tabela 1 – Poder de Compra Brasileiro das exportações Em Dólares Norte-Americanos
de 1972
Valor FOB das Termos Nominais de Poder de Compra Variações nos termos
Ano Exportações Troca 1956 = 100 das Exportações de troca (4) – (2)
118
Capacidad
Poder de e Total de Capacidad Déficit ou
Compra Pagamento e de Saldo da
das Influxo de no Exterior Remessas de Importar Capacidade
Importaçõ Capital (4) = (2) – Amortizaçã Capital ao (7) = (4) – Valor das de Importar
Ano es Externo (3) o da Dívida Exterior (5 + 6) Importações (9) = (7) – (8)
119
ideológico. O país mostrava a mesma posição em meados dos anos 70 que mostrara em
meados dos anos 50, no mercado mundial (menos de 1% na participação).
120
Entre os ramos que mais se expandiram, encontra-se o da indústria química,
como exemplo característico de industrialização substitutiva. Assegurada a indústria
petrolífera por uma posição de monopólio legal, financiada através de subscrições
públicas compulsórias na compra de combustíveis, este ramo cresceu
extraordinariamente nos trinta anos de sua existência. Beneficiou-se da ausência de
ampla oferta de outros energéticos, como o carvão. A opção para o crescimento do
sistema rodoviário, mesmo para o transporte a longa distância, privilegiou os derivados
de petróleo na área em pauta. As duas crises recentes de petróleo levaram à criação do
Proálcool, programa que utiliza a cana-de-açúcar para a produção de álcool-motor,
como substituto da gasolina. O amplo território do país e a área ainda relativamente
pequena ocupada pela agricultura permite tais soluções. É bem verdade que os preços
favoráveis do Proálcool vem, nas regiões mais populosas, fazendo a cana-de-açúcar
concorrer com a produção propriamente alimentícia. Neste sentido, é de se esperar nos
anos vindouros uma constante elevação dos preços nominais e relativos do setor
agropecuário, com tendência a nivelar-se pelo mercado mundial, em detrimento da
capacidade de exportação do país.
121
Tabela 3 – 1950-1980 – Indústrias Manufatureiras de São Paulo Cr$ de 1949 (,) =
Bilhões
Total das Indústrias
Ano Manufatureiras Metalurgia Máquinas e Ferramentas Equip. de Transportes Química
(1) (2) (3) (4) (5) (6)
1950 44,6 3,88 3,08 4,89 3,38
1951 48,6 4,27 3,39 5,34 3,79
1952 52,9 4,68 3,73 5,83 4,23
1953 57,5 5,14 4,10 6,37 4,73
1954 62,6 5,65 4,50 6,95 5,29
1955 68,2 6,2 4,95 7,59 5,92
1956 74,3 6,81 5,44 8,29 6,62
1957 80,8 7,47 5,98 9,05 7,41
1958 88,0 8,21 6,58 9,88 8,29
1959 95,8 9,01 7,23 10,79 9,28
1960 104,3 9,89 7,95 11,78 10,38
1961 113,6 10,86 8,74 12,87 11,61
1962 123,6 11,93 9,61 14,05 12,99
1963 134,6 13,09 10,56 15,34 14,53
1964 146,5 14,38 11,61 16,75 16,26
1965 159,5 15,79 12,77 18,29 18,19
1966 173,7 17,33 14,03 19,97 20,4
1967 189,1 19,03 15,43 21,8 22,8
1968 205,8 20,9 16,96 23,8 25,5
1969 224,1 22,9 18,64 26,0 28,5
1970 244,0 25,2 20,5 28,4 31,9
1971 256,6 27,7 22,5 31,0 35,7
1972 298,2 30,4 24,8 33,9 39,9
1973 314,8 33,3 27,2 37,0 44,7
1974 342,7 36,6 29,9 40,4 50,0
1975 373,1 40,2 32,9 44,1 55,9
1976 406,2 44,1 36,2 48,1 62,5
1977 442,2 48,5 39,8 52,5 70,0
1978 481,4 53,2 43,7 57,4 78,3
1979 524,1 58,4 48,1 62,7 87,6
1980 570,6 64,2 52,8 68,4 98,0
Fonte: IBGE
122
de preços tem manifestado um componente inflacionário, devido ao caráter de
monopólio de oferta que os hidrocarbonetos tem na área dos transportes.
123
Elas apontam para a assimilação de uma tecnologia ultrapassada no ramo,
associada a um preço do equipamento, e a necessidade para preparar-se para a reparação
e manutenção das usinas que se instalarão. Nesse ponto, o avanço tecnológico tende a
impedir – de fato – a manutenção e reparação pelo fornecedor norte-americano, e tal
seria a causa do repasse alemão do contrato. Mesmo que as autoridades brasileiras
consigam vencer as complicações implícitas neste programa, fica evidente o propósito
de “super-potência” implicado na adoção do mesmo. Uma política pública, enfim, que
não decorre das necessidades reais da população do país.
124
O desenvolvimento industrial brasileiro também impressiona pela sua difusão
em todos os estados do país. Apesar das distorções estruturais e regionais, isto é muito
interessante. Por exemplo, e estado de São Paulo – área líder da industrialização –
apresentou uma expansão do setor manufatureiro de 27 vezes no período de referência
(1940-1980). O Pará, contudo, uma região menos industrializada que está no centro dos
futuros projetos, apresentou uma expansão do produto industrial de 11,6 vezes. O
Maranhão, outro estado de baixa produção e renda per capita, assistiu suas indústrias
manufatureiras se expandirem 16,3 vezes em termos reais no período. No caso do Rio
Grande do Sul, uma área tradicionalmente antiga em industrialização, a produção do
setor cresceu mais de 20 vezes no período. Essa difusão dos processos de
industrialização aponta no sentido dos países industrializados e não dos países
subdesenvolvidos.
125
Tabela 4 - 1950-1980: Brasil: Indústrias Manufatureiras Cr$ de 1949 (,) = bilhões
Ano Total indústrias Manufatureiras Ramos não -metálicos Papel e Similares Têxteis Alimento Construção Civil
1 2 3 4 5 6 7
1950 97,3 3,4 1,72 16,2 24,7 5,3
1951 105,4 3,7 1,88 17,1 26,4 5,7
1952 114,0 4,0 2,06 18,1 28,3 6,2
1953 123,4 4,4 2,25 19,2 30,3 6,7
1954 133,4 4,8 2,46 20,3 32,4 7,2
1955 144,3 5,2 2,70 21,5 34,7 7,8
1956 156,1 5,6 2,95 22,7 37,2 8,4
1957 168,9 6,1 3,23 24,1 39,8 9,1
1958 182,7 6,7 3,54 25,5 42,7 9,8
1959 197,6 7,2 3,87 26,9 45,7 10,6
1960 213,7 7,9 4,24 28,5 49,0 11,5
1961 231,2 8,6 4,64 30,2 52,4 12,4
1962 250,1 9,3 5,08 32,0 56,1 13,4
1963 270,5 10,1 5,56 33,8 60,1 14,5
1964 292,6 11,0 6,09 35,8 64,4 15,6
1965 316,5 12,0 6,66 37,9 69,0 16,9
1966 342,3 13,0 7,30 40,1 73,9 18,2
1967 370,3 14,1 7,99 42,5 79,1 19,7
1968 400,5 15,4 8,74 45,0 84,7 21,3
1969 433,2 16,7 9,57 47,6 90,7 23,0
1970 468,6 18,2 10,48 50,4 97,2 24,8
1971 506,9 19,8 11,47 53,3 104,1 26,8
1972 548,3 21,5 12,55 56,4 111,5 29,0
1973 593,2 23,3 13,74 59,7 119,4 31,3
1974 641,9 25,4 15,04 63,2 127,8 33,8
1975 694,3 27,6 16,47 66,9 136,9 36,6
1976 751,0 30,0 18,03 70,8 146,6 39,5
1977 813,0 32,6 19,73 75,0 157,1 42,7
1978 879,4 35,5 21,60 79,4 168,2 46,1
1979 950,8 38,5 23,60 84,0 180,1 49,8
1980 1.028,6 41,9 25,90 88,9 192,9 53,9
Fonte: FIBGE & FGV
Por esta razão, é de se esperar que regiões como o “Polígono das Secas”, com
processo de desertização, ou outras desvantagens naturais ( má distribuição de renda e
de água) permanecerão se transformando a taxas inferiores e na dependência de recursos
públicos, exclusivamente para estabelecer uma função de complementaridade com as
regiões mais industrializadas. Nesse caso, sua transformação coloca-se apenas na pauta
do futuro mercado não-dual, como tem sido enfatizado na literatura (Shinohara,
1968;1970).
126
regiões menos favorecidas, pelos recursos naturais que cedem, e que viabilizam o
exercício das políticas econômicas estimulantes da dualidade. Por exemplo, os minerais
nobres e radioativos fornecidos pela região Norte (Amapá, Pará, Amazonas, etc.); os
minerais nobres e ferriferos fornecidos por Goiás e Minas Gerais; o petróleo, fornecido
pela Bahia e o Rio de Janeiro, etc. Num sistema federativo, tais recursos obedeceriam às
demandas livres no mercado. Contudo, tais recursos tem sido drenados a preços fictícios
para o exterior ou para a área mais desenvolvida, sem qualquer compensação na matriz
de trocas interestaduais. A política oficial considera os empregos resultantes destas
atividades como compensação pela extração dessas riquezas locais a custos e preços
fora do mercado. Pode-se assim considerar a visão deformada pró-centralização como
uma fonte adicional de desigualdade e concentração do rendimento, porque de fato tais
efeitos não decorrem simplesmente de um caráter espontâneo da industrialização.
127
Com base nos aspectos referidos, é importante considerar que o processo de
industrialização tem-se desenvolvido a um ritmo apreciável – dos mais rápidos do
mundo. Contudo, as políticas para obter crescimento mais rápido tem apresentado um
efeito negativo com referência à distribuição de renda. Este aspecto negativo, por outro
lado, não tem sido admitido publicamente como resultante da industrialização mal-
direcionada: trata-se de um custo crescente de tal processo.
128
empregada é satisfatório, mas esconde o potencial de ocupação possível em condições
da oferta ótima de mão-de-obra que caracteriza a economia brasileira. No período de
referência (1940-1970), o ramo da construção civil expandiu sua posição relativa no
emprego total do setor secundário de 24,1 por cento para cerca de 32,5 por cento. Tal
reflete duas coisas: (a) uma forte demanda por construção civil; (b) uma absorção
decrescente de mão-de-obra pelas outras atividades do setor secundário.
2
RYX = 0.9531
t E = 2.524 t = 14.9515
129
entre as duas variáveis nos leva à hipótese explicativa da associação entre os
desequilíbrios nos planos econômicos interno e externo.
R 2 = 0.9274
130
A) A função depósito
R 2 = 0.632809
R 2 ajustado = 0.60833
F = 2585068
131
Gráfico 39
25000
20000
15000
10000
5000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-5000
Vê-se pelos resíduos uma oscilação “da direita para a esquerda” dos valores, sem
uma razão aparente, que não a completa dissociação entre os conjuntos de forças que
atuam numa e noutra variável. Não se pode “conhecer” o montante dos depósitos a
partir da “população”. Que explicará, pois? Talvez a função depósito tradicional
(período: 1964-1980):
G
S D = -69.753872 + 0.7667027 Ynag (48)
R 2 = 0.997858
R 2 = 0.997716
F = 6988,890
Onde
G
Ynag = renda bruta não-agrícola
132
Ou seja, há agora uma variação previsível da ordem de 99,8% da “variável
dependente” com relação à renda bruta não-agrícola”. O nosso erro na previsão dos
“depósitos” é, a partir da “renda bruta não-agrícola” apenas 0.2%.
Gráfico 40
25000
20000
15000
10000
5000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-5000
133
(1) Por quê apenas a partir de 1968 há uma “concordância de plena
previsibilidade” da função depósito a partir da “renda bruta não-agrícola”? (até
1977...).
(2) Quê houve de novo a partir de 1977? – Sabe-se que a hipótese explicativa
anterior é bastante plausível porque o auge do modelo do “crescimento por via
das exportações” atuou entre aquelas duas datas. Até 1973, foram poderosas as
forças de reativação da capacidade ociosa da economia. O movimento
cumulativo das atividades teria sofrido aqui um corte, pela necessidade de
absorção de novos equipamentos e criação de novos mercados, coadjuvado este
corte por dois elementos: (a) a “1ª crise do petróleo”; (b) ausência dos recursos
cambiais necessários à importação de bens de capital. A expansão do
investimento redirecionaria aí a poupança.
134
capital e propor o desempenho descendente do ciclo para mais adiante, efeito
hipoteticamente caracterizável aqui como perceptível a partir de 1977, no que se refere
ao desempenho de poupança da “renda bruta não-agrícola”. Imbrica-se daí a percepção
da continuidade do caráter “ex-post” da poupança doméstica no período. O verdadeiro
motor era a política do governo e as poupanças externas, pela via do endividamento e
das manobras cambiais de liberalização, produzindo-se seu impacto redirecionador.
G
S D = 12.449880 + 1.6275009 Yag (49)
R 2 = 0.998326
R 2 ajustado = 0.998214
F = 8946.059
135
Gráfico 41
25000
20000
15000
10000
5000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-5000
Como se vê, as duas séries não “caminham conjuntamente” até 1967; de 1968
até 1977, estão “perfeitamente” ajustadas; no entanto, embora os resíduos indiquem
diferença comportamental de novo tipo, elas se correspondem também no período 1978-
1980. Ficam as seguintes perguntas:
(1) Por quê os “valores ajustados” são tão superiores aos “observados” até 1967?
(2) Por quê há uma “concordância plena de previsibilidade” da função depósito a partir
da “renda bruta agrícola” até o fim do período?
136
(1) “Concordância das Séries” – Dentro da mesma periodização – 1964-1980 –, a renda
agrícola ajustou-se à “variável dependente” antes da renda não-agrícola (1968 para a
renda não-agrícola, 1967 para a renda agrícola). Isto pode ser interpretado como um
parentesco maior da renda agrícola, com as novas políticas do modelo de “crescimento
por via das exportações”. No mesmo sentido podem ser interpretadas as expressões
empíricas do ajuste, por cima dos valores observados (com resíduos negativos), no
período 1964-1969. Ou seja, seu “comportamento futuro” requeria da renda agrícola um
comportamento diferente do observado no passado recente da periodização. A
interpretação revela, pois, uma afinidade muito grande da renda agrícola com a função
depósito, no caso do período, e da natureza muito mais sensível que a detectada no
modelo da renda não-agrícola (48).
137
modernização em curso no mundo, após as experiências do pós-guerra e se reduzia a
algumas assertivas puramente de manual de ensino.
Vê-se, portanto, que a comparação dos modelos (48) e (49) de formas da função
depósito faz subentender uma rápida viragem do mecanismo de poupanças interna; ao
crescimento de importância da renda urbana respondeu-se com um preferência “ex-
post” pelo papel da renda agrícola. Sem emprestar a esta observação um valor
conclusivo, cabe avançar no exame empírico. O procedimento mais simples seria o de
138
S D = 2212.3391 + 16.979466 YdN (50)
R 2 = 0.020508
R 2 ajustado = - 0.044791
F = 0.314062
Gráfico 42
25000
20000
15000
10000
5000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-5000
139
Ou seja, o “incremento nominal da renda disponível” não pode, neste modelo,
explicar satisfatoriamente os altos níveis de “depósitos em todos os bancos” da “função
depósito”.
G
S D = -117067574 + 0.7660525 Ynag + 0.731588 YdN (51)
R 2 = 0.997896
R 2 = 0.997595
F = 3319.502
25000
20000
15000
10000
5000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-5000
140
O período 1964-1967 manifesta-se sem concordância das variáveis. Uma boa
associatividade revela-se, no entanto, no período 1969-1980. Pode-se concluir pela
eficácia da associação explicativa das variáveis renda urbana e incremento nominal da
renda disponível, para o segundo período citado.
G
S D = -38.412611 + 1.6260429 Y AG + 0.7752095 YdN (52)
R 2 = 0.998368
R 2 ajustado = 0.998135
F = 4282.314
141
Observe-se, pois, o gráfico 44:
Gráfico 44
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-5.000
De fato,
D.W.: 1.939360
142
Qual seria o desempenho conjunto, pois, dos dois tipos de renda, no modelo da
função depósito, quando considerados também os “acréscimos nominais da renda
disponível”? E o que se intenta responder, em seguida (1964-1980):
G G
S D = -72.420417 + 0.3145107 YNAG + 0.9595131 Y AG + 0.7467495 YdN
(53)
R 2 = 0.998811
R 2 ajustado = 0.998536
F = 3639.631
143
Gráfico 45
25000
20000
15000
10000
5000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-5000
G G
S d = -25.011189 + 0.3447910 YNAG + 0.8954971 Y AG + 0.6864068 YdN2 (54)
R 2 = 0.998834
R 2 ajustado = 0.9988565
F = 3712.581
Vê-se que nesse modelo houve uma ligeira melhoria para o desempenho da
G
elasticidade da renda bruta não-agrícola ( YNAG ) em termos absolutos e relativos, mas
144
nada que houvesse alterado substancialmente as posições explicativas. Infere-se,
portanto, a persistência das mesmas interpretações já feitas.
Gráfico 46
25000
20000
15000
10000
5000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-5000
De fato,
Erro-padrão Erro-padrão
145
dos dados para eliminar a dispersão e a flutuação, porque a leitura de suas indicações
conforme a computação original é que interessa para a análise macroeconômica aqui.
R 2 = 0.9590
t = 89.3709
146
Há, portanto, um forte relacionamento entre a renda disponível dos 40 por cento
portadores de renda mais-baixa (diante do imposto direto) e o índice físico do
processamento de alimentos da F.G.V.. Pode-se interpretar este resultado pela hipótese
de que este setor de portadores de renda utiliza seu rendimento disponível basicamente
para o consumo tradicional, dentro do período em questão. Qual seria, então, o
desempenho explicativo de um índice nominal de importações para a “produção
N
C t = -469.616 + 5.8289 I i (56)
R 2 = 0.89860
t = 82.5698
d
C t = - 449.382 + 7.4943 Y N 40 (57)
R 2 = 0.95570
t = 82.5698
Uma vez que os “próximos 40 por cento dos detentores de rendimento líquido”
explica um pouco melhor (6,35 por cento) que os “40 por cento de rendimento líquido
mais-baixo”, pode-se interpretar que o setor dos próximos 40% ( Y Nd40 ) – por possuir
maior renda- estava durante este período restringindo menos seu consumo de itens
147
alimentares que o setor YLd40 podia fazê-lo. Esta hipótese explicativa confirmaria o
caráter persistente do baixo nível do rendimento agregado líquido da maioria da
população brasileira, apesar do processo de crescimento econômico haver-se sustentado
já a longo prazo.
“poder preditivo” dos “40% do rendimento mais baixo” ( YLd40 ), a fim de avaliar a
“função do consumo tradicional” daí resultante (1965-1980):
d N
C t = 67.544 + 0.366476 YL 40 - 0.022868 I i (58)
S Y .12 = 2.9132
RY2.12 = 0.6941
Enquanto que este modelo adiciona uma explicação de cerca de 70% à “função
de consumo tradicional”, ele indica que o decréscimo marginal das importações parece
haver-se reduzido com relação ao consumo tradicional, fenômeno este que seria
compatível com o aspecto ideal das liberalizações comerciais de potencializar o poder
de exportação no período, e não o poder de “consumir improdutivamente”. O
interessante resultado indica testar a variável “rendimento líquido dos próximos 40%” (
Y Nd40 ), incluindo-a neste modelo (1965-1980):
t d N
C 65 80 = 25.491 + 0.2343133 YL 40 + 0.4980567 I i + 0.00413 Y Nd40 (59)
mais baixo”, tem-se: RY21 = 0.9590, ou seja, o mesmo resultado obtido em (55). Ao
concluirmos as quatro variáveis, o poder associativo entre a “variável dependente” e os
rY23.12 = 0.3367
148
O que interpretativamente atribui um desempenho mais importante “dos
próximos 40%” na “função de consumo tradicional” do que aquele apresentado na
função similar para o período 1947-1964 (não incluída neste excurso).
CF1
R 2 = 0.89490 t = 32.9775
CF2
R 2 = 0.99280 t= 535.924
149
que o extremo “aperto salarial” (“arrocho”) no período em estudo reduziu a participação
corrente dos trabalhadores na expansão do mercado doméstico como consumidores.
R 2 = 0.92040
R 2 ajustado = 0.9155098
F = 173.4521
Gráfico 47
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
150
Um modelo alternativo dessa função de consumo pode considerar o efeito das
taxas de crescimento dos “rendimentos do trabalho”, como auxiliar do ajuste do
“consumo pessoal” (1964-1980):
R 2 = 0.92054
R 2 ajustado = 0.90919
F = 81.09798
Gráfico 48
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
151
C i = 175.38818 + 0.9738015 YSd& P (64)
R 2 = 0.99524
R 2 ajustado = 0.99492
F = 3137.176
Houve uma melhoria pequena do ajuste e uma atenuamento da pendente em
função da diferença de grau, o que oferece elementos auxiliares comparativos entre os
diferentes resultados dos modelos. Os valores do ajuste possível demonstram a grande
aderência do “rendimento de vencimentos e propriedades” ao desempenho observado do
consumo pessoal.
Gráfico 49
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-200
152
para os detentores de rendimento de vencimentos e propriedades. Pode-se interpretar
tais achados empíricos como confirmando hipóteses sobre o processo de disparidades de
renda associado com o desenvolvimento dual; e os crescentes diferenciais de
rendimento inter e intra-subestruturas da economia no período referenciado. Ao lado
desta tendência dual, o mercado – sob pressão dos estímulos orientadores da política
econômica – acabava por manifestar diferentes funções de consumo para diferentes
setores de rendimento, como está aqui caracterizado. A opção por modelos mais
sofisticados não altera o resultado cru de (1) e (2), ou seja, respectivamente, os modelos
(60) e (61). Por outro lado, estes modelos mais simples tem a vantagem de poderem ser
levados como informação empírica ao diagrama da função dispêndio total, para fins de
análise econômica.
Considere-se agora o valor explicatório dos “40% de rendimento mais baixo” (
YLd40 ), em vistas a estabelecer uma função de consumo com a variável “consumo
pessoal” (1964-1980):
CF3
R 2 = 0.9881 t = 323.5080
Além do alto “poder explanatório” da associação, observa-se uma propensão
marginal a consumir, que atribui uma participação acrescentada de 12 centavos de
cruzeiros constantes (de 1949), no caso do aumento de 1 cruzeiro real na economia (de
Cr$ de 1949), considerado em termo líquido.
Ao considerar-se os “próximos 40%” ( Y Nd40 ), obtem-se o resultado:
CF4
R 2 = 0.98960 t = 370.4658
Tem-se assim, no caso da função consumo (4), que os “próximos 40%” de
detentores de renda disponível melhoraram sua capacidade de consumo com cerca de 40
centavos de cruzeiros de 1949 para cada correspondente cruzeiro real-constante criado
na economia doméstica. É, portanto, momento de considerar o papel que o rendimento
dos “próximos 15%” ( YNd15 ) teria como “variável explanatória” em nossa função de
consumo (1964-1980):
153
CF5
R 2 = 0.99050 t = 405.7256
Observe-se que (67) apresenta uma pendente muito mais pronunciada que o
modelo (66), por exemplo. Isso indica no sentido da concentração excessiva da renda
disponível, que se chamou característica do modelo de crescimento acelerado por via
das exportações, tal como o mesmo foi adotado pelos autores da política econômica no
período.
Por outro lado, a propensão marginal para o consumo indicada no modelo (67)
apresenta um coeficiente para os “15% mais próximos” quase tão forte como aquele
verificado para os “próximos 40%” ( Y Nd40 ) – Deduz assim, claramente, uma condição
adicional do processo de concentração de renda e sua evidenciação empírica factível a
partir das hipóteses dos diferentes comportamentos de consumo dos detentores de
rendimento liquido.
Caso oferecidos modelos de ajuste alternativo também para os exercícios dos
modelos (65), (66) e (67); haveria mudanças substanciais em interpretação?
O modelo (68) é uma alternativa ao ajuste linear do modelo (65) (1964-1980):
CF3
R 2 = 0.33318
R 2 ajustado = 0.311127 F = 0.517003
Gráfico 50
154
Consumo Pessoal e Similar Computada Desde os 40% de
Rendimento Mais Baixo- 1964/1980
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
-1000
R 2 = 0.9922 t = 494.5998
155
Figura 1 - Brazil: diferentes funções consumo agregadas: 1964-1980
C7
1.200
960
C6
720
C4
480
C5
240
C3
RNB I
Consumo
Cr$ TEII g
Bilhões
1800 de
1949 c
TEI b6
C
1440 a6
1080 b4
a4
720 b5
a5
360
b3
a3 C4 C6
C3 C5
240 480 720 960 1200
360 720 1080 1440 1800
Rendimento Disponível
Fonte: FGV e MF
156
Como se pode apreciar, também este resultado aponta no sentido de referidas
hipóteses. Parece apoiar a análise geral do problema da concentração da renda,
vinculada com a expansão dos duráveis.
As diferentes pendentes das funções de consumo até aqui referidas em número
entre parêntese (), podem ser vistas no gráfico referente a “diferentes funções de
consumo agregadas – Brasil” e o seguinte . Pode-se notar ali que, apesar do processo de
concentração de renda, as pendentes das seis funções de consumo citadas estão abaixo
da linha de 45 graus, o que pode ser interpretado como um confortável desenvolvimento
do PIB. A função “ CF7 ” (7) no gráfico corresponde ao ajuste da “renda líquida
disponível no setor privado” que é:
CF7
d
(7) C i = 80.345 + 1.524 YPS (70)
R 2 = 0.98730 t = 303.0076
Como se vê nos gráficos em referência, as funções de consumo C3, C4, C5 e C6
são plotadas linearmente “contra” a função da renda disponível. As diferentes funções
de consumo correspondem, portanto, níveis diferentes de PNB e de PIB, uma vez que os
níveis específicos de dispêndios serão diferentes. A função CF3 (equação 65), que
representava o nível de consumo da função de rendimento dos “40% mais baixo” de
renda líquida ( YLd40 ), loca-se ao ponto a3, com um nível de poupanças negativa de
aproximadamente 40 bilhões de cruzeiros reais (de 1949), quando lida “contra” a renda
total disponível no setor privado (1.800 Cr$ milhões).
Estas despoupanças são as diferenças b-a, como se lê na interceptação da linha
de 45 graus no ponto b. Esta linha vertical intercepta também a função de dispêndio
total TE1, no ponto c, indicando uma posição na função PNB, tal como determinada
pelo nível das despesas (cerca de 1.600 milhões de Cr$ de 1949).
As funções C5 (modelo 67) e C4 (modelo 65), demonstram respectivamente
posições positivas de poupanças, quais sejam, de 90 bilhões de cruzeiros reais e de 110
bilhões de cruzeiros reais, em medição aproximada. Assim, “os próximos 40%” ( Y Nd40 )
seriam responsáveis por cerca de 110 bilhões de poupanças, contribuindo para o
crescimento econômico através dos mecanismos realocativos. Os “próximos 15%” de
detentores de rendimento ( YNd15 ), - embora com uma contribuição per capita maior – ,
157
apresentariam um montante total inferior com relação a C4. Os níveis da função do
rendimento disponível e consequentemente do PNB se situam um cerca do outro (c e g),
aproximadamente 1.650 milhões. No entanto, à função de consumo CF6 (6)
corresponde um montante de poupanças de 400-450 bilhões de cruzeiros reais; e daí um
PNB e um nível da função da renda disponível tremendamente mais elevado: cerca de
2.400 milhões. Assim, a nossa conclusão é que a concentração da renda contribuiu no
período para mais elevadas pendentes da PNB/PIB, em intimidade com níveis elevados
de poupança e consequentemente responsável pelo crescimento acelerado, em coerência
com nossas hipóteses básicas sobre as políticas públicas.
Qual será o valor explicativo do modelo que inclua os “5% do topo” do
R 2 = 0.987044
R 2 ajustado = 0.985194
F = 533.3099
O modelo revela uma elevada aderência, confirmando a nossa hipótese da
extrema concentração de renda. Como se vê do gráfico 51, os valores estimados
começam mais baixo em 1964 (indicando participação relativa menor desse setor no
consumo) e ultrapassam o valor observado para 1980 (indicando a pendente mais
exponencial para os rendimentos dos 5% do topo e os seus vizinhos 15%).
Gráfico 51
2000
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
-2001964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
158
Cumpre agora observar o ajuste da função de consumo para os rendimentos dos
R 2 = 0.997324
R 2 ajustado = 0.996942
F = 2609.121
A associação de ambas as variáveis demonstra uma propensão a consumir maior
do que a indicada pela associação relativa ao modelo (71). Os dois grupos de
rendimento disponível apresentam, pois, a mais ampla associação com o desempenho da
função consumo, como pode-se observar dos valores no gráfico 52.
Gráfico 52
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
-2001964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
quando associados via YTd5 , levam a perguntar o desempenho dos “40% de rendimento
mais baixo”, quando associados aos “5% do topo”, para esclarecer a função de consumo
(1964-1980):
C i = 123.87081 + 2.1733812 YTd5 + 0.0074218 YLd40 (73)
159
R 2 = 0.987054
R 2 ajustado = 0.985205
F = 533.7230
Embora os “40% de rendimentos mais baixo” exerçam menor pressão sobre o
nível de consumo dos “5% do topo” do que os “próximos 15%” (vide modelo (71)),
ainda assim a baixa propensão ao consumo adicional para os “40% mais baixo” indica
seu desempenho pouco significativo para as transformações do consumo no período. De
fato, o efeito de “demanda reprimida” pode ser observado nos valores ajustados do
gráfico 53:
Gráfico 53
2000
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
-2001964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
O poder explicativo dos “5% do topo”, dos próximos 15% e dos “próximos
40%”, perfazendo, portanto, 60% do total dos portadores de rendimento líquido, será
utilizado para uma solução mais sofisticada da função consumo no período (1964-
1980):
C t = 13.625953 + 0.6790183 YTd5 - 0.6290623 YNd15 + 3.0794231 Y Nd40 (74)
R 2 = 0.997498
R 2 ajustado = 0.996920
F = 1727.404
160
Sempre no caso de aceitarem-se as indicações dos modelos, é-nos agora
empiricamente oferecida a hipótese de decréscimo relativo da propensão marginal a
consumir dos “próximos 15%”, quando em associação com os outros dois grupos. Tal
interessa pelo efeito depressivo potencial manifesto na simulação do desempenho do
consumo, para um certo grupo, em função da posição certamente excessiva ocupada por
outros na estrutura do rendimento. O ajuste do Gráfico 54 é bastante firme.
Gráfico 54
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
-2001964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
R 2 = 0.987055
R 2 ajustado = 0.984067
F = 330.4105
Não só aumentou a turbulência da dispersão dos erros, como a posição relativa
dos “5% do topo” não se alterou muito, uma vez mais. Seu parceiro mais competitivo
161
no consumo é, obviamente, os “próximos 15%” que, contudo, não pode beneficiar-se
muito da presença de outros “consumidores”. O consumo é, ao mesmo tempo, pouco
elástico para os consumidores de maior rendimento (e de mais alta taxa de crescimento
do rendimento, que funciona como a mesma coisa) e daí apresentar um efeito de atrito
para sua efetivação (que na prática deve ser caracterizada pela oferta limitada, inflação,
etc.). O gráfico 55 nos mostra o padrão do ajuste:
Gráfico 55
2000
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
-2001964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
R 2 = 0.987850
R 2 ajustado = 0.997134
F = 1392.577
162
dos portadores de rendimento no período. Evidencia-se empiricamente uma vez mais o
efeito da “demanda reprimida” e a impossibilidade de acomodação expansiva dentro da
qual é característico das economias subdesenvolvidas. O gráfico 56 nos oferece o ajuste
resultante.
Gráfico 56
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
-2001964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
163
F = 3199.107
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
R 2 = 0.99180 t = 455.4119
Se ajusta-se a variável não-linear do modelo, tem-se para o valor explicatório da
variável YrP (rendimento retido pelos produtores após o pagamento dos impostos) um
desempenho um pouco melhor:
P
Y d = -202.86353 + 17.645009 Yr (80)
R 2 = 0.992826
R 2 ajustado = 0.992347
164
F estatístico = 2075.761
De fato, tem-se os estatísticos de medida dos erros:
(78) (80)
Erro-padrão de regressão: 29.2587 36.27720
Durbin-Watson: 0.532314 1.988383
que dão a posição relativa dos dois modelos para explicar a renda disponível. O
maior ajuste do modelo (80) pode ser apreciado no gráfico 58; apesar da autocorrelação
elevada:
Gráfico 58
2000
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
-2001964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
165
fatores em presença. A melhoria dos mecanismos de poupança na faixa das atividades
privadas também responde pela adequação entre os rendimentos, em instantes
diferentes. Analisadas as obrigações fiscais internas, qual seria o desempenho da renda
N
líquida enviada ao exterior” ( YSA ) para “prever” o “rendimento disponível” (1965-
1980)?
N
Y d = -20.02 + 0.3418 YSA (81)
R 2 = 0.86640 t = 26.0661
Vê-se que a “renda líquida enviada ao exterior” pode satisfatoriamente explicar
o comportamento da função do rendimento disponível. Isto significa um entrelaçamento
intimo na natureza das duas forças, capazes de refletir com grande proximidade o que se
passa numa ou noutra, mutuamente. Ora, uma vez que a “renda líquida enviada ao
exterior” é fundamentalmente parte da renda doméstica gerada, o sentido desta relação
se torna por demais evidente.
O gráfico 59 nos permite apreciar as dificuldades especificas que o ajuste
apresente, para representar os valores observados do rendimento disponível.
Gráfico 59
2500
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
O modelo (82) oferece uma outra forma de ajuste da função renda disponível,
pela “renda líquida enviada ao exterior” (1964-1980):
166
N
Y d = 630.34907 + 26.2637118 YSA (82)
R 2 = 0.868158
R 2 ajustado = 0.85937
F = 98.77222
Pelo “comportamento preditivo” da “renda líquida enviada ao exterior”, seria de
esperar-se uma renda disponível de chegada em níveis mais altos, mas partindo também
de níveis muito mais elevados. A variável “renda líquida enviada ao exterior” parece,
assim, sofrer das mesmas influências de política econômica que vieram a caracterizar o
crescimento e desempenho da variável “pagamento de impostos ao governo”. Ambas
crescem muito rápido, ignoram os níveis efetivos da renda disponível à partida e,
consequentemente, – ao se separarem efetivamente da renda disponível – exercem sobre
ela um efeito depressivo. Estas hipóteses interpretativas são consonantes com as
características concentradoras de renda da variante do CPE que foi aplicado no Brasil
no período, e também com sua marcante dependência das poupanças externas para
investir. Consequentemente, pela sua forte posição como exportador de renda líquida,
no longo prazo.
Os resultados desses modelos indicam, pois, favoravelmente à nossa hipótese
dos efeitos não-direcionados da liberalização e da expansão dos influxos de capital. Daí
resultaria, pois, a aceleração dos defluxos de recursos. Este fluxo melhorado dos
recursos é característico do CPE, mas a insuficiente diversificação da pauta de
exportações, acompanhada por persistência de baixa produtividade, minimizou os
ganhos desta melhoria e amplificou as perdas a ela inerentes. A corrida para o
crescimento mais rápido intensificava as perdas entrópicas e os fatores de desequilíbrio.
Adicione-se agora o poder explicativo de “rendimentos retidos pelos produtores”
R 2 = 0.997479
R 2 ajustado = 0.997119
estatístico F = 2769.440
O bom ajuste destas variáveis indica a crescente sofisticação da capacidade do
governo para manipular as alocações na economia. Isto porque tratam-se de agregados
muito sensíveis que se modificam rapidamente em resposta a políticas bem definidas.
167
Tendem, assim, a apoiar a hipótese do entrejogo entre as políticas do governo e a
expansão dos duráveis, como o uso impactante desta expansão para reverter a
produtividade de atividades econômicas. O gráfico 60 oferece a apreciação do ajuste do
modelo (83):
Gráfico 60
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
168
A variante deste modelo pode ser:
P N
Y d = 72.5368876 + 3.6790467 TP + 3.6790467 Yr - 2.323890 YSA (84)
R 2 = 0.997650
R 2 ajustado = 0.997108
F = 1839.929
Com o grau de ajuste apreciável no gráfico 61.
Gráfico 61
2000
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-200
169
Os “poderes preditivos” comparáveis das variáveis, expressos nos coeficientes
parciais de determinação, são obtidos para os “dois planos regressionais”, que não
haviam sido ainda calculados, através da computação das necessárias equações
simultâneas. Vê-se daí que a variação do tamanho dos ditos coeficientes parciais de
determinação expressa as reduções de dispersão do ajuste. Ou seja, o poder preditivo
específico adicional pelo acréscimo de cada variável, em sua relação “per se”, com a
“variável dependente”.
O desempenho satisfatório das diferentes equações da função do rendimento
agregado disponível pode ser visto pelos coeficientes que indicam as propensões
marginais a poupar. O indicativo da expansão do rendimento em sua parcela que não é
gasta em consumo, implica potencialmente as “propensões marginais a investir”. É,
pois, possível configurar a hipótese do comportamento da poupança externa, a partir das
diferenças entre as propensões marginais a poupar e a investir.
Por outro lado, a função do rendimento disponível não é totalmente explicada
pela renda bruta interna. Como exemplo, o poder explicativo da “renda bruta agregada
não-agrícola” e a “renda bruta agrícola” pode ser utilizado para explicar o que se
afirmou (1964-1980):
G G
Y d = 864.47338 + 0.3462742 YNAG - 0.6379414 Y AG (86)
R 2 = 0.709602
R 2 ajustado = 0.665031 F = 16.88280
170
Gráfico 62
2500
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
171
Gráfico 63
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
R 2 = 0.980741
R 2 ajustado = 0.979457
F = 763.8571
Como se vê, a pendente é muito menos pronunciada que a resultante do modelo
(87). Os valores ajustados também pressionam “para cima”, como se pode observar no
gráfico 64. O valor elevado de dispersão não é de admirar, uma vez que, como se tem
argumentado, os valores dos setores de renda mais expressiva quase se confundem com
o perfil do rendimento disponível. Daí a forte colinearidade, que, contudo, não tem
importância maior aqui para o objetivo a demonstrar no argumento da intensividade em
trabalho.
172
Gráfico 64
2000
1500
1000
500
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-500
173
APCi = índice da propensão média ao consumo
Yi d = índice do incremento da renda disponível
R 2 = 0.80910 T = 32.8200
O elevado valor explicativo pode ser interpretado pelos termos-de-troca
piorados, aliado ao uso doméstico de recursos da dívida para cobrir os déficits da
capacidade de compra no exterior. O crescimento das importações no período pode
também ser visualizado – para fins interpretativos – como função da dívida externa.
Veja-se agora o papel explicativo do índice da propensão média a consumir (o mesmo
período: 1967-1979):
FDit = 101.595 + 0.002072 APC i (90)
R 2 = 0.1296 t = 1.3718
Embora o relacionamento não seja aparentemente visível (0,20% da variação no
índice), o coeficiente de determinação não deixa de assustar (cerca de 13%), para um
caso onde a flutuação poderá ser o único resultado esperado. Exercite-se agora o papel
do índice do incremento da renda disponível (1967-1979):
FDit = -547.629 + 4.2932 Yi d (91)
R 2 = 0.96960 t = 107.5509
Tem-se agora uma associação muito íntima, que parece confirmar a hipótese da
divida externa como expansor e redistribuídos de renda.
Considere-se agora uma variante mais sofisticada, pela inclusão do desempenho
do índice da propensão média a consumir, ao poder explicativo do índice nominal de
importações (1967-1979):
174
FDit = 2930.208 + 1.23295 Ii – 29.05915 APCi (92)
RY2.12 = 0.65880 S Y .12 = 222.177
nominal da divida externa), FDit , com o “nominal das importações”, Ii, obtém-se: rY21
= 0.80920, o mesmo resultado, praticamente, que se obtivera em (89).
Caso se considere apenas FDit e a propensão média a consumir, fixando-se a
R 2 = 0.10799
R 2 ajustado = 0.055148
F = 0.163751
O desempenho desfavorável dos estatísticos fundamentais não impede a
sugestão de uma piora radical dos termos-de-troca no mercado exterior, associado a
175
uma expansão da dívida externa. Como se formulou contudo a hipótese explicativa de
uma associação entre a expansão da dívida externa e da expansão dos duráveis, um
índice agregado da produção de aço e de veículos pode ser incluído, SVi, para
estimular-se o resultado (1964-1980):
FDit = -4692.7385 + 37.424842 Tti + 5.0767639 SVi (95)
R 2 = 0.841183
R 2 ajustado = 0.818494
F = 37.07578
Vê-se que da associação dos “termos-de-troca” com o “índice de aço-duráveis”,
obtém-se um poder explanatório mais significativo do “índice da divida externa”. No
entanto, a “renda líquida enviada ao exterior”, incluída no lugar dos “termos-de-troca”,
torna o modelo muito mais explicativo (1964-1980):
FDit = - 425.76279 -0.4081340 SVi + 129.92363 N SA
Y
(96)
R 2 = 0.969052
R 2 ajustado = 0.964631
F = 219.1859
O desempenho destes coeficientes pode ser apreciado no gráfico 65, onde apenas
o ano de 1964, certamente submetido a outras influências, escapa ao ajuste pretendido.
É de se notar que, mesmo para a variável “renda líquida enviada ao exterior”, torna-se
difícil reproduzir os altos índices que atingiu a “divida externa”, no período.
Qual será o desempenho deste modelo se nele incluímos o acréscimo da renda
disponível real no período (1964-1980)?
FDit = -384.7433 - 0.0821590 SVi + 124.62944 N SA
Y
- 2.1979414 Yi d (97)
R 2 = 0.971257
R 2 ajustado = 0.964624
F = 146.4300
176
Gráfico 65
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-1000
177
Gráfico 66
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
-1000
Por outro lado, uma leitura das relações indicadas pelos coeficientes de modo
dinâmico indicará que (a) a expansão da produção de duráveis está associada a (b) ao
aumento da dívida externa. Ambos se associam à expansão da renda disponível, na
condição de sua crescente concentração. (Caso se desconcentre a renda pelos quartís
obtidos, ela cresce mais devagar, mantendo-se aproximadamente a taxa de crescimento
da dívida externa).
O modelo indica igualmente a desconsideração – por parte das autoridades
públicas – das premissas cíclicas de toda a política econômica, com perdas sistemáticas
de funcionalidades, elevações desnecessárias de custos, etc, com – de fato – a
substituição dos elementos sinérgicos da expansão objetiva e maximizada por
pressupostos ideológicos de discutível sabor, que, ao lado das óbices característicos das
sociedades subdesenvolvidas, atuam em pleno com sua força entrópica.
(Lund setembro-outubro, 1982,
outono).
178
Sobre o Autor
179