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Público • Sexta-feira 3 Dezembro 2010 • 39

Marinho Pinto foi reeleito bastonário pela mesma razão por que temos leis do trabalho feitas para quem “está”

Este país não tem emenda

P
MIGUEL MANSO
orque é que António Marinho Pinto Bruxelas, ter entrado mudo e saído calado numa
ganhou, com uma margem folgada, a reunião do eurogrupo. Só que o representante da
eleição para bastonário da Ordem dos presidência belga disse que Portugal anunciara
Advogados? Não haverá, como nunca “reformas estruturais significativas” nos sectores
há, um só motivo, mas creio que ao im- da saúde, dos transportes e do quadro orçamen-
por um exame para acesso aos estágios a todos tal. Verdade? Aparentemente não: na segunda-
os jovens advogados o bastonário garantiu a sua feira o Ministério das Finanças esclareceria que
José reeleição. Depois de ganhar, mandou os licencia- essas “reformas estruturais” já estavam todas (?)
Manuel dos em Direito estudar, mas antes da eleição repe- no Orçamento e a ministra do Trabalho veio dizer
Fernandes tiu alto e bom som que a sua cruzada era contra que não tenciona alterar o Código do Trabalho.
existirem, na sua opinião, advogados a mais, ou Por fim quando, na terça-feira, a Comissão Euro-
Extremo seja, Marinho Pinto construiu a sua campanha peia veio dizer que devíamos rever a definição de
ocidental em torno da defesa “dos que estão” e contra a despedimento por justa causa e reduzir “substan-
ameaça “dos que virão”. Anunciou querer dirigir cialmente” as indemnizações, o primeiro-ministro
a corporação de forma corporativa e, como escre- respondeu, com a sua habitual elegância, que “o
veu ontem neste jornal Pedro Lomba, conseguiu Governo português não precisa de sugestões de
facilmente “os aplausos daqueles que seguem ninguém”. Em suma: ficamos onde estamos, que
à risca a máxima nacional: Portugal pertence a é assim a nossa natureza.
quem chegou primeiro”. Outro exemplo desta doença nacional que é a
E, não tenhamos quaisquer dúvidas, os que che- protecção dos instalados é dada pela lei das rendas,
garam primeiro, os que se instalaram, os que mar- um bloqueio que elucidativamente une todos os
caram território, têm muita força. Tanta força que regimes: o congelamento começou com Salazar,
“os de fora” ambicionam, antes de tudo o mais, foi alargado com o PREC e nunca foi verdadeira-
entrar para a corporação, ou para as corporações, mente desbloqueado com a democracia. Desde o
seja ela a dos advogados, seja a dos protegidos tempo da última intervenção do FMI que se fala
funcionários públicos, seja o mais apetecível clã em descongelar as rendas antigas, mas sucessivas
dos gestores públicos, seja até a quase desvalida leis tiveram um impacto reduzidíssimo. A mais re-
dos que têm um emprego a prazo: o que conta cente teve mesmo um impacto ridículo: aprovada
é “estar”, é “pertencer”, é conseguir em pouco em 2006, ao fim de um ano, em 390 mil contratos
tempo os “direitos adquiridos” da respectiva tri- antigos, apenas 70 tinham sido actualizados. Ao fim
bo. O que interessa são os lugares protegidos da de quatro anos reviram-se um décimo dos contra-
competição, da concorrência, da emergência de tos que a lei previa rever em cada ano. E, apesar
gente mais capaz e mais competente. O que in- de esta lei prejudicar, de novo, os mais novos e de,
teressa é ter “uma posição”. E, para lá chegar, o também ela, contribuir para a rigidez do mercado
importante é “ter conhecimentos”. de trabalho, ao diminuir a mobilidade dos indiví-
É por isso que, em Portugal, nada muda, ou o duos, sintomaticamente ninguém sequer fala dela,
que muda muda demasiado devagar. Um exemplo: No dia em que a geração Neste “mercado” a selecção não quando se fala de “reformas estruturais”.
as leis laborais. Ainda a semana passada, a propósi- se faz por mérito mas por opor- Por tudo isso é que, nas profissões, nos em-
to da greve geral de 24 de Novembro, nos recorda- que vem a seguir e está tunidade – logo o estímulo não é pregos, nas universidades, nas fundações, nas
ram uma outra greve, em 1988 (há 22 anos!), contra para trabalhar melhor, mas para mordomias, nos “direitos”, nas casas arrendadas,
um “pacote laboral”. A greve foi então, como desta
a ser deixada “de fora”, ter “uma posição”. Estas normas, nos lugares públicos ou nas sinecuras privadas,
vez, parcial, mas a legitimidade do Governo de a geração a quem até a par com muitas outras que con- Portugal é mesmo de quem chegou primeiro. Até
então para alterar as leis do trabalho esbarraria no tribuem para tornar mais rígidos porque quem chega primeiro monta tenda e cava
Tribunal Constitucional. Como esbarraria muitas já tramámos o direito os contratos de trabalho – como trincheiras à volta, preparando-se para defen-
outras vezes, já que a nossa Constituição congelou à reforma, perceber se o emprego das “nove às cinco” der com unhas e dentes “o posto”, “o lugar”, a
para todo o sempre não apenas as regras da demo- fosse uma espécie de emprego ide- prebenda. Porque em Portugal, repito, mais im-
cracia – como era sua obrigação –, mas também que o problema está na al e universal –, tornam Portugal portante do que trabalhar é “ter uma posição” e,
muitas concepções políticas de 1975. pouco competitivo e antiquado, claro, “uns conhecimentos”.
Não há melhor ilustração da forma injusta como
protecção dos instalados, mas são sacrossantas. No dia em que a geração que vem a seguir e está
Portugal trata “os de fora” como as estatísticas do então Portugal Ainda esta semana assistimos a a ser deixada “de fora”, a geração a quem até já
desemprego: cerca de 11 por cento no total nacio- sucessivas chicuelinas a propósito tramámos o direito à reforma, perceber que este é
nal, acima dos 23 por cento entre os jovens. Estes, começará a mudar das leis laborais. Sexta-feira, em realmente o problema, então Portugal começará
os mais novos, os que tiveram melhor formação Lisboa, o ministro das Finanças a mudar. Porque são eles os não-instalados e os
académica, os que se espera tenham mais energia, disse que era necessário “aprofundar” as refor- que, como o proletários de outrora, nada têm a
são os proscritos do Portugal contemporâneo. Os mas do mercado de trabalho para domingo, em perder. Jornalista (twitter.com/jmf1957)
que, para Marinho Pinto, têm de ir estudar mais.
Os que, para todos “os que estão”, são uma ame-
aça. Não admira que esses, “os de fora”, aqueles
de quem mais precisamos, emigrem em cada vez Duas boas notícias. Talvez…
maior número.

E
a Ontem, entre as três e as quatro de não obrigar um qualquer governo supostos ricos a torto e a direito…
também não há melhor ilustração de da tarde, tivemos duas boas notícias. futuro a ir negociar com o FC Porto, –, ela corresponderia à violação de
uma lei que protege “os que estão” Pelo menos até ver. o Benfica e o Sporting os “modestos um princípio básico de estabilidade
contra “os de fora” do que as disposi- A primeira foi que Portugal não melhoramentos” nos seus estádios do quadro legal fundamental ao
ções sobre despedimentos no Código irá organizar o Mundial de 2018. que o Mundial não deixaria de exercício de qualquer actividade
do Trabalho. Devemos ser, ao mesmo Durante horas ouvi, em todas as exigir… económica.
tempo, um dos países do mundo onde é mais difí- rádios, dezenas de responsáveis A segunda foi a decisão, difícil, do Depois, porque a decisão de taxar os
cil realizar um despedimento individual e é mais a alimentarem esperanças e a grupo parlamentar do PS de não dividendos da SGPS é idiota e só as
fácil realizar um despedimento colectivo, o que recordarem o “êxito” do Euro 2004 votar a favor o projecto de lei do levará a mudarem as suas sedes para
introduz os maiores desequilíbrios e promove as que deixou o país cheio de estádios PCP destinado a evitar que um outros países, nomeadamente para
maiores injustiças no mercado do trabalho. Uma inúteis e a apodrecer e que, como se conjunto de empresas pague este a Holanda. A médio prazo a receita
delas é vivermos cada vez mais numa realidade viu, em nada contribuiu para a nossa ano os seus dividendos, evitando a fiscal diminuirá, não aumentará,
dual, tendo de um lado empregos “para a vida” economia ou a nossa felicidade (ou tributação que sobre eles incidirá mas isso é algo que escapa à
e, do outro, empregos precários – empregos a até para a felicidade dos campeões em 2011. Primeiro, porque, por mais mentalidade justicialista de muitos,
prazo, empregos a recibo verde, empregos em de então, os gregos…). Vá lá que a popular que fosse a proposta – em se não da maioria, dos nossos
empresas elas mesmo precárias e instrumentais. FIFA teve, pelo menos, o bom senso Portugal é sempre popular taxar os deputados.

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