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What:
O que é a cultura?
*A cultura não é como um dado natural, uma vez que não é herdada
intrinsecamente, mas faz parte de uma aprendizagem e de um contexto socio-
histórico em contínua mudança.
Assim a cultura é uma construção histórica feita a partir da história das
relações dos grupos sociais. Logo, se a cultura surge das relações sociais, e
estas relações não são relações equalitárias, existe também uma hierarquia
cultural inter-dependente da hierarquia social.
*Esta ideia de hierarquia cultural é mais forte se pensarmos que as culturas
não existem
independentemente umas das outras. Dizer que esta hierarquia existe é dizer
também que existem culturas que são hierarquicamente "superiores" - as
"dominantes"-, e por oposição, as "dominadas".
*À cultura dominante corresponde sempre o grupo social dominante - e isto
não advém do seu valor cultural mas do poder do grupo social que a sustenta;
porém, ao contrário dos grupos sociais que conseguem impor poder uns sobre
os outros, uma cultura dominante não impõe necessáriamente a sua ordem
cultural às dominadas.
E isto não quer dizer, mais uma vez, que a relação entre ambas seja
equalitária.
*
*No fundo, falar de "dominação" e "subordinação" entre culturas é uma
metáfora, uma vez que esta relaçãos se define pelos dois grupos sociais
envolvidos e não pela cultura em que um e outro participam.
Mas convém relembrar que as culturas não se comportam como os grupos
sociais e os efeitos da dominação social muitas vezes são contra-efeitos na
dominação cultural. A dominação cultural não é total nem garantida.
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Para perceber o que Cuche defende é importante fazer uma revisão de como
foram definidos estes conceitos, e de qual foi a sua evolução na história; para
tal vou utilizar exemplos que recolhi do texto de Maria de Lurdes Lima dos
Santos,
"Questionamento à volta de três noções, A grande cultura, a cultura popular, a
cultura de massas". Segundo esta autora, as designações de cultura cultivada
e de cultura popular são por vezes vistas como noções que estão para além da
história, como se existisse sempre uma cultura do domínio dos "clássicos" e
outra do "povo". Nesta visão, os dois conceitos existem simetricamente
separados: o primeiro do primado da autênticidade e o segundo da
ingenuidade.
Posteriormente surgiu também a cultura de massas, que para muitos vem
ocupar o lugar da pequena tradição - que sobrevive residualmente-, e em
realação à qual os participantes da cultura dominante tendem a demarcar-se
dela.
Existe uma visão compartimentada das diferentes culturas, que tanto esta
autora como Cuche pretendem substituir por uma concepção de culturas
coexistentes e inter-relacionadas.
Por outro lado é também conhecido da parte das culturas populares um acto de
"desforra", através da insubordinação que, nesta altura se
traduzia pelas paródias do "mundo às avessas", em que se pantominavam os
elementos das classes superiores. Era uma forma de resistência e
de criação de alternativas frente À dominação social simbólica. Estes jogos
tácticos da pequena tradição em relação à grande existiram desde sempre.
How:
Cultura de Classe
O autor avança com outro exemplo bastante ilustrativo desta situação, que
apresenta também o conceito de "Cultura de Classe".
Nas grandes superfícies comerciais, que os participanetes de vários estratos
sociais acabam por utilizar, não existe uma
homogeneização de consumo: aliás, é através dos hábitos de consumo que as
classes se continuam a destacar.
Através de inquériots de ordem empírica em França, conseguiram detectar-se
padrões:
Existem as "carnes burguesas", o carneiro e a vitela, e as mais "popupares",
como o porco; no campo dos legumes, as endívias
eram os mais requintados, enquanto que as batatas o legume das classes
operárias. A cultura inculca nos indivíduos mesmo
a forma de preparar estes alimentos.As mais simples acções são reveladoras
do gosto de classe.
Mas que ligação existe entre os factores culturais e as classes sociais?
O primeiro a tentar explicar este tópico foi Max Weber; o seu estudo mais
conhecido pretendia demonstrar que não havia acaso
no aparecimento do capitalismo no Ociedente. A introdução do trabalho livre -
graças ao salário - e a valorização do trabalho como
fim em si mesmo transformavam o homem moderno em alguém livre e
responsável. O lucro obtido servia para acumular e investir
de forma útil - isto revela da parte destes indivíduos uma forma de "ascese",
controlo e reserva - as novas virtudes são o sentido de
poupança, abstinência e esforço que se traduzem na disciplina das sociedades
industriais.
Mas de onde partiram estes princípios? Weber aponta que a sua ispiração
parece provir do ascetismo protestante, da negação de
ostentação, a ideia que a vocação cristã se traduz nas acções do quotidiano e
não na meditação. Seguindo esta lógica, o sucesso
profissional fruto do esforço é garante de graça divina. Existe uma afinidade
entre esta étida e o espírito capitalista, que se observa
também na progressiva racionalização da vida social.
Deixando agora a classe dos empresários capitalistas e abordando a classe
operária, o autor cita os estudos do inglês Richard Hoggart.
Este escreve que na cultura operária existe um forte sentido de identificação e
pertença a esta, que se traduz numa divisão entre o que
somos "nós" e "eles", desde o núcleo familiar à sociedade em geral e numa
acentuada solidariedade familiar e colectiva. Por exemplo, a
nível do consumo estes valores são visíveis na prioridade dada a bens que
sejam de uso colectivo e não particular.
Ao contrário da cultura operária, a cultura burguesa não é tão fechada dentro
de si, expande-se antes ao exterior com inúmeras
representações de si própria - no cinema, na literatura,... - e, paradoxalmente,
não se admite como tal e os seus participantes não
se reconhecem como burgueses. Não é uma cultura reclamada ou a que
alguém se orgulhe de pertencer. De qualquer modo, a ela
estão também associadas características próprias, tanto a nível individual
como da colectividade, de onde se realça uma crescente
preferência pelo ensino privatizado e católico - por exemplo, os colégios
Jesuístas.