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AULA 2

Sobre o que fala Os Lusíadas?

Em linhas gerais, Os Lusíadas trata do surgimento, da defesa, da consolidação e da expansão


da pátria portuguesa. É Portugal sempre o foco do poeta e dos narradores que por ele cantam
os feitos heroicos. Trata-se, portanto, de uma criação poética que louva as conquistas navais e
militares de Portugal. António José Saraiva, crítico português, afirmou que a epopeia trata do
registro em forma poética das tradições e dos ideais de um grupo étnico sob a forma de
aventuras heroicas.1

Os Lusíadas é estruturado em dez cantos. Cada canto equivale a uma divisão similar a de
capítulos em um romance. Seguindo a tradição das epopeias do mundo antigo, que dividiam
suas obras em cantos ou livros (Canto I, Canto II, Livro I, Livro II), Camões divide sua epopeia
nos padrões clássico. Essa escolha mostra que o poeta pretende produzir uma obra que mescla
um assunto de sua atualidade (expedições ultramarítimas) à forma clássica da epopeia. É,
portanto, Os Lusíadas tanto uma obra de continuidade em certo aspecto, e de ruptura e
inovação em outros.

O tamanho de cada um dos cantos varia. Com exceção do III e do X, os demais cantos são de
extensão similar. Cada um deles é subdividido em estrofes, ou melhor, estâncias, em oitava-
rima. A disposição dessas rimas dentro da estância é regular em todo o poema: três pares de
rimas cruzadas e um par de rimas emparelhadas. Já dentro das rimas, observamos que tratam-
se de decassílabos, em sua maioria heroicos, ou seja, com tonicidade na 6ª e na 10ª sílaba
poética, porém alguns são sáficos, ou seja, contém uma tonicidade maior na 4ª, na 8ª e na 10ª
sílaba.

CANTO I

Proposição

A proposição é a apresentação do poema ao leitor. Nas três primeiras estâncias do Canto I, o


poeta apresenta o tema da obra em linhas gerais, informando sobre quais feitos gloriosos irá
cantar. Podemos subdividir em duas partes essa proposição. Na primeira, composta pelas
estâncias 1 e 2, podemos observar uma ligação não apenas no sentido, mas na estrutura, já
que formam um período composto. Nessa primeira parte o poeta nos alerta sobre os temas
aos quais cantará:

1) O feito português da navegação às Índias.


2) A grandeza dos reis portugueses que fundaram, consolidaram e expandiram o reino.
3) A memória dos heróis que a partir das primeiras navegações consolidaram seus nomes
na história de Portugal.

A segunda parte da proposição, composta pela estância 3, estabelece comparações entre os


heróis do mundo antigo e os portugueses, heróis do mundo moderno na visão camoniana.

1
SARAIVA, António José apud JUNIOR, Benjamin Abdala, 2004.
Essa ligação é mais um dos inúmeros elos que Camões estabelece entre sua obra e as demais
epopeias com as quais dialoga.

As armas e os barões assinalados,

Estabelece relação com o início da Eneida, de Vírgílio, que se inicia com Arma virumque cano,
traduzido por Carlos Alberto Nunes como As armas canto e o varão/ que fugindo das plagas de
Troia. Só isso já estabelece uma forte relação entre as temáticas de ambas as obras. Assim
como Virgílio canta os perigos nos mares e as batalhas de Eneias no Lácio, Camões mostrará os
portugueses como herdeiros dos romanos. Se Virgílio buscou a origem nobre dos romanos
num personagem da Ilíada, de Homero, Camões busca a nobre origem portuguesa na
reprodução dos feitos navais e militares romanos cantados por Virgílio. O poeta lusitano
admite, portanto, continuar a tradição de epopeias ao exaltar um povo maior que o dos gregos
e romanos: os Portugueses.

Que da ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca de antes navegados,

Passaram ainda além da Taprobana,

Nesse trecho, Camões reduz em três rimas o roteiro geográfico do cerne da obra: a expedição
que vai do ponto mais ocidental da Europa até a passagem da Tabrobana, o atual Sri Lanka,
país insular ao sul da Índia. Afirma também o ineditismo da empreitada. Até chegarmos a
armada de Vasco da Gama, os portugueses foram aos poucos se habituando e desbravando o
Atlântico: Ceuta, na costa africana do Estreito de Gibraltar (1415); arquipélago da Madeira
(1420); a passagem pelo complicado cabo Bojador, no Saara Ocidental em 1435; os pequenos
postos comerciais estabelecidos na costa da Mauritânia em 1443, a costa da Guiné em 1444, e
a chegada de Bartolomeu Dias ao Cabo das Tormentas em 1488. É então nesse processo que a
nação portuguesa buscou a primazia no comércio com a costa ocidental da África até o
contorno do continente, a experiência marítima com os ventos das zonas temperadas e as
fortes tempestades tropicais.

Em perigos e guerras esforçados,

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

Nesse trecho o poeta relembra que houve a necessidade de feitos inigualáveis pelos heróis
portugueses para se edificar o Novo Reino.

E também as memórias gloriosas


Daqueles Reis, que foram dilatando

A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando;

Nessa segunda estrofe, afirma que cantará também a memória dos reis que buscaram
expandir o Império e a religião cristã pelas terras dominadas pelos gentios. Essa forte ligação
do Estado português com a Igreja mostra-se indissolúvel na visão do poeta, que afirmará, por
diversas vezes que o português não surge em terras remotas apenas como um comerciante,
mas como um portador da salvação na mensagem de Cristo.

E aqueles, que por obras valerosas

Se vão da lei da morte libertando;

Camões aqui se refere aos heróis portugueses, e, pelo que se percebe, dá a entender que fala
dos grandes navegadores e exploradores portugueses que consolidaram o Império após a
expedição de Vasco da Gama.

Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Após apresentar tudo aquilo que irá listar, o poeta usa do verbo “cantar” para dizer qual,
afinal, é seu objetivo: cantar os feitos conforme sua técnica (engenho) e sua inspiração (arte).
Essa inversão sintática muito comum na poesia camoniana pode aqui ser vista como um meio
do autor colocar os objetos (os heróis) em destaque maior que o poeta, que vem logo após,
reduzido em importância nas duas rimas emparelhadas que fecham a segunda estância.

Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Mais uma vez relacionando os feitos portugueses com os cantos heroicos da antiguidade,
Camões afirma que as navegações de Ulisses (o sábio grego) cantadas na Odisseia e de Eneias
(o Troiano) na Eneida não estão a par com as muito mais extensas e importantes navegações
transcontinentais portuguesas.

Cale-se de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Aqui Camões compara as vitórias de Alexandre Magno e do imperador romano Trajano com os
feitos portugueses. Ao remeter a imagem de Alexandre, o poeta nos lembra que este levou
seus domínios até as portas da Índia, fazendo fronteira ao império máuria, mas não adentrou-a
como fizeram os portugueses. Já o império romano em Trajano obteve sua máxima extensão,
mas não pode ser comparado com a imensidão dominada pelos portugueses.
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Netuno e Marte obedeceram:

Mais uma vez o poeta reafirma sua proposição ao dizer cantar o peito ilustre lusitano. Há
nesses versos um forte teor nacionalista, uma vez que Os Lusíadas aparecerá no fim da
hegemonia portuguesa e na decadência da pátria no fim da vida do poeta. O uso das imagens
de Netuno e Marte nos resumem os feitos citados anteriormente nessa estância: as
navegações (duas primeiras rimas) e as vitórias militares (na terceira e na quarta rima) são as
grandes conquistas portuguesas a serem cantadas.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.

Encerra afirmando que o mundo antigo, mesmo nas grandes narrativas heroicas, jamais viu
tamanha grandeza nos feitos como se viu na pátria portuguesa.

Invocação

Assim como nas demais narrativas épicas que antecederam Os Lusíadas, a invocação tem lugar
de destaque já no início do poema. As estâncias 4 e 5 servem portanto como espaço em que o
poeta reproduz esse pedido de auxílio às musas. Além de reforçar o estilo grandiloquente, a
invocação por uma inspiração mítica reforça nos leitores a visão do poeta como um ser
inspirado e designado a tocar o sublime com sua arte, como os bardos da antiguidade. Ao
invocar as musas do rio Tejo, Camões utiliza um recurso original: remete à mitologia greco-
romana como um recurso estrutural e estilístico em prol da trama. Transforma os joguetes dos
deuses em elementos externos, que temperam a narrativa com peripécias, enquanto que no
centro da obra observa-se a inabalável fé cristã.

E vós, Tágides minhas, pois criado

Tendes em mi um novo engenho ardente,

Se sempre em verso humilde celebrado

Foi de mi vosso rio alegremente,

Seguindo a tradição, Camões pede auxílio às musas para cantar seus versos. Eram estas que
inspiravam os poetas antigos a cantar, e, para o poeta, nada mais natural que pedir essa
inspiração às ninfas que habitavam o Tejo, o mais importante rio português.

Junto ao auxílio o poeta afirma ter um novo engenho ardente, ou seja, sua inspiração precisa
do auxílio das divindades. Reforça essa ligação ao afirmar que sempre celebrou o rio que
habitam as musas em seus versos humildes.

Dai-me agora um som alto e sublimado,

Um estilo grandíloquo e corrente,


Porque de vossas águas, Febo ordene

Que não tenham inveja às de Hipocrene.

Nessa segunda parte da estância pede que seu canto tenha beleza e grandiosidade. Para isso,
o poeta pede que Febo (deus do Sol, personificação da beleza e regente das musas) faça das
águas do Tejo tão inspiradoras quanto as de Hipocrene, fonte no monte Hélicon que segundo a
mitologia brotou após uma patada de Pégaso na rocha (hipocrene significa “fonte do cavalo”).
Segundo a mitologia grega, a água dessa fonte, quando consumida, inspirava os poetas a
declamarem seus versos.

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,

E não de agreste avena ou frauta ruda,

Mas de tuba canora e belicosa,

Que o peito acende e a cor ao gesto muda;

Pede também que seus versos possam ser declamados por si com força tamanha para inflar o
peito e corar as faces. Interessante nesse trecho como o poeta pede que o som de sua
declamação saia como de uma tuba, instrumento em contraposição a frauta ruda, ou seja,
uma rude flauta tocada por um pastor. O bucolismo das imagens pastoris e a simplicidade dos
campos não prendem a atenção tanto quanto o poderoso instrumento de sopro ao qual
Camões deseja assemelhar-se na declamação dos seus versos. Destaca-se a ocorrência da
assonância, na escolha dos adjetivos “canora” e “belicosa”, ambas com o “o aberto”,
reproduzindo já na declamação o toque altissonante da tuba.

Dai-me igual canto aos feitos da famosa

Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;

Que se espalhe e se cante no universo,

Se tão sublime preço cabe em verso.

Pede, enfim, que seu poema seja de grandeza igual aos feitos da gente portuguesa, e que
assim como esses feitos, seu canto se espalhe e se imortalize.

Dedicatória

Da estância 6 a 18, o poeta faz a dedicatória do poema ao rei de Portugal, D. Sebastião. Esse
trecho é de suma importância por apresenta-lo como um poema nacional, dedicado a cantar
as honras e feitos da pátria ao seu rei.

Apesar de ser o poeta que melhor explorou o tema das navegações, essa ideia não surgiu com
Camões: Angelo Poliziano, tradutor da Ilíada e poeta do quattrocento, ofereceu-se a D. João II
para produzir uma obra em versos latinos sobre o tema. Como a empreitada está atrelada ao
estado português, há a necessidade de Camões dedicar a sua obra ao rei D. Sebastião.

E vós, ó bem nascida segurança

Da Lusitana antígua liberdade,

E não menos certíssima esperança

De aumento da pequena Cristandade;

O uso da segunda pessoa do plural, vós, aqui nos mostra que o poeta agora se refere ao rei,
personificação da liberdade portuguesa e futuro defensor da fé de Cristo.

Vós, ó novo temor da Maura lança,

Maravilha fatal da nossa idade,

Mais uma vez refere-se ao rei como novo temor da maura lança, ou seja, aquele que deve ser
o principal adversário dos de alguma eventual invasão moura, temor e perigo constante dos
reinos ibéricos.

Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,

Para do mundo a Deus dar parte grande;

Aqui se afirma que o rei veio ao mundo como ação divina para glorificar o próprio Deus.

Vós, tenro e novo ramo florescente

De uma árvore de Cristo mais amada

Que nenhuma nascida no Ocidente,

Cesárea ou Cristianíssima chamada;

Esses versos tornam-se mais claros quando vemos que o rei tinha apenas três anos de idade
quando recebeu essa dedicatória do poeta. Daí os termos “termo e novo ramo florescente”. A
árvore de Cristo que se refere o poeta é a nação portuguesa, reconhecida pelo seu fervor
católico entre as demais nações.

(Vede-o no vosso escudo, que presente

Vos amostra a vitória já passada,

Na qual vos deu por armas, e deixou

As que Ele para si na Cruz tomou)


O símbolo desse fervor cristão é o brasão de armas português, que contém os cinco escudos
simbolizando as vitórias de D. Afonso Henriques sobre os cinco reis mouros como a vitória já
passada e as cinco chagas de Cristo sofreu na cruz. Se observarmos bem, veremos que os cinco
escudos dispostos em cruz e dentro de cada um deles cinco moedas de prata em forma da cruz
de Santo André, em X, e no contorno, em vermelho, sete castelos dourados, que segundo a
tradição representam a vitória da Afonso III sobre o reino mouro do Algarve, que hoje se
localiza no extremo sul de Portugal.

ABDALA JÚNIOR, Benjamin. Camões: épica e lírica. São Paulo: Editora Scipione, 1993.

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega: Volume I. Petrópolis: Editora Vozes, 2004.

________. Mitologia grega: Volume II. Petrópolis: Editora Vozes, 2005.

________. Mitologia grega: Volume III. Petrópolis: Editora Vozes, 2005.

CAMÕES, Luiz Vaz de. Os Lusíadas. São Paulo: W. M. Jackson Inc., 1948.

________. Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

________. Os Lusíadas: Cantos I a V. (Edição comentada por Sérgio Fischer). Porto Alegre:
Leitura XXI, 2002.

MOISÉS, Massaud. A criação literária. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1967.

NASSER, José Monir. Expedições pelo mundo da cultura Volume 5: Os Lusíadas/Fédon.


Curitiba: SESI/PR, 2014.

SARAIVA, António José & LOPES, Oscar. História da literatura portuguesa. Rio de Janeiro:
Porto Editora, s/d.

SILVA, Vítor Aguiar e. (Org.) Dicionário de Luís de Camões. Alfragide (Portugal): Editorial
Caminho, 2011.

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