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Conway Shipley, oficial da Royal Navy ou O Inglês morto de Paço de Arcos

Rui Ribolhos Filipe


Arqueólogo

IAP – Instituto de Arqueologia e Paleociências – FCSH - UNL

Nota: A referência ao nome de navios é feita seguida do número de peças de artilharia a bordo.

Introdução
A 21 de Setembro de 2017 um grupo de oficiais Ingleses da Royal Navy, do exército
Português, civis e entusiastas da Guerra peninsular (1807-1814) de ambas as nações
prestaram homenagem ao capitão Conway Shipley (1782-1808). Foi o culminar de dois
anos de intenso trabalho, procurando fundos e apoios de modo a honrar a memória de
Shipley morto no estuário do Tejo em 1808. Foi o primeiro oficial Inglês a ser morto em
ação durante a Guerra Peninsular1 sendo este artigo é o tributo possível a esta
personagem quase esquecida da nossa História.

Os navios e homens sob o comando do capitão Conway Shipley eram notáveis


pela alta disciplina: especialmente treinando os seus homens na prática das artes da
artilharia; nunca infligia qualquer castigo sem refletir profundamente sobre o assunto;
Não perdia a oportunidade, mesmo com mau tempo, de ler aos seus as orações no
Sabath. Ele próprio era um excelente marinheiro e navegador, falava e escrevia
fluentemente o Francês e era muito versado em História. Tal eram as suas qualidades
que podia ter seguido com distinção qualquer profissão. O que mais podia a sua pátria
esperar do capitão Conway Shipley (MARSHAL, 1827).

Conway Shipley
Nasceu em 1782 em Llannerch Park em Denbighshire e ainda jovem com onze anos,
tal como muitos jovens de boas famílias, alistou-se na Royal Navy. Sob a recomendação
de Earl Spencer ficou ao cuidado do capitão Pakenham do Invincible (74) e foi ao serviço
deste navio que entrou pela primeira em combate na Batalha do Glorioso 1º de Junho
(1794). Nesta ação e por ser ainda muito jovem foi-lhe ordenado ficar no convés inferior,
mas desobedecendo às ordens subiu ao convés superior para fazer parte do combate
apenas para ficar preso debaixo de um homem tombado na ação (MARSHAL, 1827).
Em 1796 entrou ao serviço do Phoebe (36) sob o comando de Sir Robert Barlow
participando em várias ações. Já aspirante de marinha participou na captura da Fragata
Francesa Néréride (36). Esta ação foi tão importante que em 1847 o almirantado
Britânico atribuiu uma medalha de Naval General Service aos sobreviventes da Phoebe.

1
A tradição apontava como o primeiro oficial Britânico a morrer, o Tenente Ralph Bunbury do 95th Rifles
a 15 de Agosto perto de Óbidos
Em 1800 recebeu uma comissão como tenente, primeiro a bordo do Endymion (40) e
depois no Vanguard (74). No ano seguinte foi enviado para as Índias ocidentais a bordo
do Saturn (74). Em 1804 três dias depois de ter assumido o comando do Hippomenes
(14), Shipley capturou aos franceses o Egyptienne (36) com um complemento de 290
homens2.
Em julho de 1807, depois de ter navegado pelas Índias Ocidentais, Atlântico, Barbados
e a costa Espanhola, Shipley regressou a Inglaterra onde o Almirantado atribui-lhe o
comando da Nymphe (38). Depois de participar no bombardeamento de Copenhaga e
na captura da frota Dinamarquesa recebeu ordens para navegar para Portugal. A
missão desta expedição, sob o comando do Vice-Almirante Sir Charles Cotton, era
causar danos ao exército de ocupação do General Jean-Andoche Junot.

O Glorioso 1º de Junho ou A Vitória de Lord Howe por Philip James de Loutherbourg


em 1795. (National Maritime Museum)

Três esquadras no Tejo


Após decretado o Bloqueio Continental, o Príncipe D. João não tinha como evitar um
conflito armado com Napoleão Bonaparte. Este decreto obrigava a interromper todo o
comércio com Inglaterra. Portugal sendo o mais antigo aliado Britânico e grande
dependente em termos comerciais, não podia aceitar a imposição Francesa. O governo
Português tendo esgotado todas as tentativas para evitar a guerra esperou a inevitável
retaliação de Napoleão.

2
The London Gazette nº15735; 15 May 1804, p620.
Em Novembro de 1807 uma força combinada Franco-espanhola invade Portugal sob o
comando do General Jean-Andoche Junot. Os objetivos principais dos invasores eram
a captura da família real3, cessar as relações entre Portugal e Inglaterra fechando os
portos, a captura do maior número possível de navios de guerra Portugueses e
desarmar o exército real. O plano não foi totalmente bem-sucedido.
O Príncipe regente Dom João, a família real, cortesãos e tantos outros4 escaparam para
colonia do Brasil, resultado de um esforço conjunto dos governos Portugueses e
Britânicos - o príncipe seria uma marioneta às mãos de Junot. Com eles navegaram 16
navios de linha da Marinha Portuguesa, diversos transportes bem como uma escolta
aliada5. No Tejo ficaram cerca de 13 navios de linha que necessitavam de reparos
(VENTURA, 2008).
Durante a ocupação Francesa foram feitos grandes esforços em reparar e armar esses
mesmos navios. Em diversas cartas de Junot a Napoleão demonstra-se a grande
preocupação e prioridade em elevar estas unidades a estado de prontidão (VENTURA,
2008). Uma grande preocupação francesa era a falta de homens experimentados para
equipar os navios, pois muitos haviam partido na armada real para o Brasil e os
restantes certamente que evitavam estar ao serviço do inimigo. No final de Dezembro
de 1807 o capitão de marinha francesa Jean-Jacques Magendie6 reportava grandes
progressos nos reparos mas também a falta de equipagem (PLEINEVILLE, 2017).
Após o tratado de Tilsit em Julho de 1807, França e Rússia tornaram-se oficialmente
aliadas contra a Inglaterra. Entre 10 e 13 de Novembro uma esquadra Russa
comandada pelo Almirante Dimitri Séniavine, constituída por onze navios de linha entrou
no Tejo. Era a esquadra vencedora da batalha de Athos (Junho de 1807) que mesmo
com guerra declarada à Inglaterra evitara qualquer confronto com esta quando cruzando
o mediterrâneo.
No fim de Novembro, Junot estava satisfeito com o potencial de ter uma frota aliada
Russa ao seu dispor no Tejo. Mas cedo percebeu que Séniavine comportava-se mais
como um demi-allié (PLEINVILLE, 2017). Os russos recusavam qualquer ação contra
os Portugueses ou Ingleses dando as mais variadas desculpas. Estes não tinham
qualquer intenção de hostilizar os Luso-britânicos sem ordens dietas do Czar Alexandre
I. Esta esquadra tornar-se-ia num sorvedouro dos já magros recursos franceses durante
a ocupação - Junot não só não podia contar com Séniavine para qualquer plano, como
tinha que alimentar os cerca de 6500 russos abordo.
Era esta a situação no Tejo quando o capitão Conway Shipley chegou em Janeiro de
1808 - três esquadras no Tejo – a Britânica de Sir Charles Cotton controlando a barra,
a Russa de Séniavine e a esquadra portuguesa de Junot estas ultimas ancoradas
entre Lisboa e Belém.

3
Como sucedera em Espanha
4
Cerca de 15.000 a 20.000 pessoas
5
Uma esquadra comandada pelo Almirante Sydney Smith.
6
Capitaneou a nau Bucentaure na Batalha de Trafalgar (1805)
A Torre de Belém em 1830. Location of the action of 22 and 23 April. Drawn by Clarkson
Stanfield engraved by E. Finden, London, 1 832. (Biblioteca Nacional de Portugal)

Ações no Tejo
Os Britânicos não tencionavam apenas uma ação passiva de bloquear a entrada da
barra do Tejo. Na madrugada de 14 de Fevereiro de 1808, pelas 03:00 da manhã uma
força de 40 homens7 do Confidance, disfarçados de pescadores remaram em botes até
São José de Ribamar8. Esta força havia identificado uma lancha canhoeira portuguesa
com um complemento de 50 franceses, uma peça de 24 libras e duas de 6 libras. Depois
de um combate feroz a lancha foi capturada bem como os franceses sobreviventes9. O
sargento que comandava a lancha lançou-se ao rio, mas ferido morreu afogado
(PLEINEVILLE, 2017). Em 1847 o Almirantado Britânico atribuiu uma medalha aos dois
sobreviventes Ingleses ainda vivos desta ação.
Uma nova operação foi realizada a 3 de Março – vários fuzileiros Ingleses tentaram
tomar o forte do Bugio, na boca do Tejo e de extrema importância na defesa do rio. A
tentativa de desembarque foi impedida pelo bem organizado fogo da artilharia e
espingardaria da guarnição francesa (PLEINVILLE, 2017). Esta não era a primeira
tentativa sobre o forte, o Almirante Sydney já havia tentado o assalto cinco meses antes
sendo a empresa abandonada pelo mau estado do mar (FERRÃO, 1925).

7
O número varia entre 15 a 40 homens.
8
Perto do hoje Aquário Vasco da Gama
9
Os franceses sofreram 12 mortos e feridos do 32º de Infantaria Ligeira. O Ingleses tiveram 5 feridos.
A presença de uma força naval Inglesa no Tejo obrigava aos franceses manterem uma
forte guarnição de prevenção nos vários fortes defendendo o Tejo, na recém-formada
esquadra de Junot e na própria cidade de Lisboa – os rumores de um eminente
desembarque dos aliados não deixavam de estar no pensamento estratégico de Junot.
Esta situação terá reflexo no desfecho das batalhas da Roliça e Vimeiro10. Outra
situação negativa para os franceses foi a interceção, por parte dos Ingleses de vários
navios com bens e mantimentos.

Após as várias ações dos Ingleses no Tejo os franceses reforçaram as suas defesas
colocando os navios portugueses Vasco da Gama (74), Princesa Carlota (54), Gaivota
do Mar (24), Benjamim (8) entre outros transformando-os em fortes flutuantes para
apoiar os fortes costeiros (FERRÃO, 1925).

A tentativa de tomar o Gaivota do Mar, Abril de 1808 – Proposta do autor. a: A aproximação dos
Ingleses a Belém; b: O capitão Shipley evita um primeiro alarme francês de uma lancha
canhoeira; c: Abordagem ao Gaivota do Mar.

Remando em direção à Torre de Belém


Enquanto ancorado na barra do Tejo, o capitão Shipley administrou a fuga de inúmeros
refugiados portugueses que procuravam a segurança nos navios aliados. Os franceses
tentaram a todo o custo impedir estes fugas policiando os cais e as praias, mas cerca
de 400 pessoas conseguiram chegar à segurança dos Ingleses (PEREIRA, 2005).
Conway Shipley sendo um cavalheiro ofereceu por vezes a sua cabine pessoal para
acomodar os portugueses (MARSHAL, 1827). Entretanto ficou também encarregue da
missão de fazer surtidas no Tejo de modo a reunir informações, observar as suas
defesas e as esquadras Russa e Portuguesa (LIND-GUIMARÃES, 2009).
Durante um dos reconhecimentos elaborou um plano para capturar um desses navios.
Ao observar o esquadrão Português selecionou como alvo a fragata Princesa Carlota

10
4000 Franceses seriam deixados na guarnição de Lisboa.
ancorada ao largo da Torre de Belém. O plano era captura-la e traze-la para a proteção
das linhas Inglesas. Após dois novos reconhecimentos, o capitão Shipley decidiu
avançar com o plano escolhendo a cobertura da noite de 22 de Abril para o ataque.
A operação envolveu cerca de 150 homens entre oficiais, fuzileiros e marinheiros todos
eles voluntários do Nymphe comandado por Shipley e do Blossom (18) sob o comando
do capitão George Pigot. Pelas 21:00 da noite combinada remaram em direção ao
objetivo. Para distinguir amigos de inimigos todos os homens coseram na manga direita
das casacas um pedaço de pano branco com a forma de um crescente - para se
distinguir como oficial o capitão Shipley atou um pano branco na manga (MARSHAL,
1827).
No grupo de assalto estava também presente Charles Shipley que acompanhava o
irmão por razões de saúde. O grupo de assalto remou em seis escaleres amarrados
entre si, em linha para não se dispersarem. A operação havia sido sincronizada para
tomar partido das marés e do vento de Este (MARSHAL, 1827). Apesar de toda a
preparação, devido às chuvas torrenciais e à falta de vento de feição não foi possível a
aproximação à Princesa Carlota.
Depois de uma breve consulta entre os oficiais foi decidido que embora fosse impossível
tomar o alvo principal tentariam a sorte no brigue Gaivota do Mar (24) que estava mais
próximo. Este novo objetivo não seria fácil, pois encontrava-se sob a proteção da Torre
de Belém, do Forte do Bom Sucesso, de uma bateria flutuante e de uma lancha
canhoeira.
O plano de ataque era simples. As embarcações dos dois oficiais com mais homens
chegariam primeiro atacando a proa e atrairiam a atenção da guarnição francesa a
bordo até à chegada da restante força. Na aproximação, os Franceses aperceberam-se
de embarcações a aproximarem-se mas Shipley descansou as sentinelas respondendo
em Francês e atrasando o alarme geral. Mas ao aproximarem-se do Gaivota11 as
guarnições francesas iniciaram um crescente tiroteio - primeiro de armas ligeiras e
depois de artilharia. O elemento surpresa perdera-se. Não desistindo de empresa, os
Ingleses iniciaram a abordagem da proa do Gaivota sendo dificultada por redes
colocadas pelos franceses. Ao escalar o navio o capitão Shipley foi atingido a tiro na
cabeça12 caindo desamparado ao rio (MIDGLEY, 1973).
Charles Shipley ao ver o irmão cair às águas do Tejo começou a gritar Salvem o vosso
capitão! o que levou os homens envolvidos no assalto à confusão. Enquanto alguns
tentavam localizar o capitão os outros começaram a sofrer baixas pela guarnição do
Gaivota. O momento perdera-se! – a embarcação capitã desprendeu-se do brigue
colidindo nos restantes que chegavam agora à ação. O capitão Pigot vendo isto,
entendeu que Shipley havia desistido da intenção e estava a retirar. Com uma maré
oposta, um intenso fogo cruzado e várias baixas contadas foi dada ordem de retirada.
O brigue Português Gaivota do Mar era comandado pelo Tenente Pierre Le Blond-
Plassan. Foi ele que disparou o tiro e a cutilada que mataram o capitão Shipley,
conseguindo ainda ficar com a pistola e bicórnio do vencido como troféus13. Isto significa
que o Inglês conseguiu chegar ao convés superior da embarcação antes de ser morto
e cair às águas. Os franceses sofreram um morto e oito feridos reportando um número

11
Pelas 02:30 da madrugada do dia 23.
12
Mais tarde verificou-se que o corpo sofrera também um corte de arma branca.
13
A Gazeta de Lisboa 26 de Abril de 1808.
de 40 baixas por parte dos Ingleses - um número certamente exagerado. O General
Junot escreveu o seguinte acerca deste incidente:

Os Ingleses queriam celebrar o dia de São Jorge mas enganaram-se. Esta não
é a maneira que o nosso Exército celebra o aniversário do Imperador e a Batalha de
Marengo. Quartel-general de Lisboa, 24 de Abril de 180814

Mais tarde o irmão do capitão Shipley assumiu toda a responsabilidade pelo insucesso
da missão. Não sendo ele um soldado, estava mais preocupado com a vida do irmão
contribuindo para a confusão e posterior retirada. Ao saberem da notícia da morte do
seu capitão toda a tripulação do Nymphe chorou (MARSHAL, 1827) – todos os que o
conheciam sentiram muito a falta deste excelente oficial de marinha.
Em Setembro de 1808 após uma dura derrota no Vimeiro, os Franceses assinaram a
Convenção de Sintra pondo fim à primeira Invasão. O restante do Exercito Napoleónico
foi transportado para França em navios Ingleses.

14
Idem.
The Last Breath por Rita Rodrigues – Conway Shipley é morto pelo Tenente Francês Pierre Le
Blond-Plassan.

Um monumento migrante
Um dia após o combate, Charles Shipley escreveu ao general Junot pedindo ajuda na
recolha do corpo do irmão. Não obtendo resposta escreveu outra para o Almirante
Séniavine com o mesmo pedido. Embora na resposta os russos prometessem ajudar,
na prática não houve resultados. O corpo viria a ser encontrado dias depois (MARSHAL,
1827) na praia de Paço de Arcos. Tinha ainda consigo o sabre e o lenço branco
envolvendo o braço. Foi enterrado no local acima das rochas numa área plana ao lado
de uma ribeira que desaguava na praia.

Existem poucos indícios acerca das particularidades do funeral. O corpo foi encontrado
e sepultado muito provavelmente pelas autoridades militares do forte de São Pedro de
Paço de Arcos dada a proximidade do local. Durante o ano de 1808 o capitão George
Berkeley15 foi enviado para comandar uma esquadra para a costa de Portugal e

15
Promovido mais tarde a Almirante pelo Almirantado Britânico e pela Marinha Portuguesa pela sua
conduta durante a Guerra.
organizar o sistema caótico de abastecimento do exército de Wellington. De Janeiro de
1809 ao ano de 1812 teve a importante tarefa de comandar o Porto de Lisboa, de grande
importância estratégica para todas as ações militares na Península.
Conhecedor das ações e morte do capitão Shipley, Berkley quis prestar homenagem ao
irmão-de-armas (MARSHAL, 1827). Sob a sua direção foi erigido um monumento no
local da sepultura entre os anos de 1809-181216. Este foi um período de grande atividade
construtiva em Lisboa e arredores – Linhas de Defesa de Lisboa ou Linhas de Torres
Vedras.
O monumento funerário é constituído por um monólito de calcário com uma inscrição
revelando elementos da vida e morte do sepultado. Localizado à data em lugar ermo foi
ao longo dos tempos esquecido pela História – mas não pela população local. Ficando
situado junto de uma ribeira e da praia, o sítio adquiriu o topónimo de Inglês morto ou
Praia do Inglês Morto17. Ponto de passagem de pescadores e lavadeiras terá sempre
despertado a curiosidade - as mulheres locais plantavam flores em volta do
monumento18.
Entre 1879 e 1881 o terreno onde o monumento se encontrava foi adquirido para a
Escola de Torpedos de modo a modernizar a defesa da barra do Tejo19. Tal era a
importância deste local para os locais quer pela existência do monumento ou por
questões práticas, que o exército teve que criar um novo acesso para a população20.
Surgem notícias do monumento em 1919 num jornal, descrevendo monumentos da
Guerra Peninsular, dando conhecimento da existência do monumento de Conway
Shipley e da forma cuidada de como a unidade militar da Escola Militar tratava do
monumento21. Em Janeiro de 1932 uma esquadra Britânica comandada pelo Almirante
Edward Oliver Osborne aportou em Lisboa. Sabedor da existência do monumento
enviou dois oficiais navais a visitar o local, relatando posteriormente que viram o cuidado
que os oficiais portugueses têm com o mausóleo22.

16
Situação similar aconteceu com a sepultura do Coronel Lake morto no combate da Roliça.
17
Outros topónimos incluem Fontainhas, Praia Nova de Paço de Arcos ou Praia de Paço de Arcos.
18
Segundo a tradição oral.
19
Projeto Geral de Escola de Torpedos in pasta de documentos relativos Forte São Pedro, Oeiras -
Direção de Infraestruturas (DIE), Exército Português.
20
Pasta de documentos relativos Forte São Pedro, Oeiras - Direção de Infraestruturas (DIE), Exército
Português.
21
AHM-3º DIV-14º Secção-Pasta nº1-Processo nº7.
22
AHM-3º DIV-14º Secção-Pasta nº1-Processo nº7.
Proposta para a localização original da sepultura e monumento de Conway Shipley em 1879. O
Forte de São Pedro encontra-se à direita do mapa. (Projeto Geral de Escola de Torpedos – PT-
GEAEM-1 0905/1. º-3-46-61 (DIE))

Em 1933 iniciava-se o projeto para Estrada turística/marginal de Lisboa a Cascais. Este


importantíssimo projeto de obras públicas significava alterações à linha de costa com
aterros, desaterros e demolições. Isto significava que o antigo forte de São Pedro de
Paço de Arcos teria de ser, em parte, demolido e muita da área envolvente alterada para
dar lugar ao novo troço. Na variada correspondência entre os oficiais do Exército acerca
dos terrenos afetados, podemos encontrar um importante documento assinado pelo
Tenente de Engenheiros José da Cunha Lamas:
Como pequeno detalhe, nota esta Direção que existe junto à Estrada Marginal,
quasi no extremo poente da mata do G.D.S.C. um mausoléu com o corpo de um oficial
inglês que morreu em combate na foz do Tejo, por ocasião das invasões francezas;
mausóleo que é em parte atingido pelo traçado da Estrada Marginal. Lembra esta
direção que poderá fazer-se uma transferência para o espaço de terreno que lhe fica
fronteiro, entre a Estrada Marginal e as arribas, onde constituirá um motivo de interesse
turístico23.
Isto explica a atual localização do monumento integrado na obra Estrada Marginal, bem
como identifica a sua localização original. A mudança de local do monumento deverá
ter ocorrido entre 1939 e 1942 ano de conclusão da obra. Não foi possível obter
informação acerca da recolha dos restos mortais do Capitão Shipley e se estes
acompanharam a transferência do monumento. Será que ficaram no sítio original? ou
repousam na nova localização?. Uma possibilidade apresentada é a cremação das
ossadas e as consequentes cinzas serem colocadas no novo local, debaixo ou no
interior do próprio monumento (LIND-GUIMARÃES, 2009).

23
Pasta de documentos relativos Forte São Pedro, Oeiras - Direção de Infraestruturas (DIE), Exército
Português.
A Estrada Marginal – Proposta da localização original e da atual. Imagem 1 – Projeto para a
Marginal cerca de 1940. Imagem 2 – Foto aérea contemporânea. Propostas para localização
original (a) e atual localização (b).

Recordando o Capitão
Podemos encontrar ainda a relíquias e memórias de Conway Shipley na sala de
desenho de Bodrhyddan Hall, casa da família Rowley-Conwy’s – duas espadas, uma
cerimonial oferecida pelos Lloyds Patriotic Fund e uma de serviço supostamente
encontrada junto ao corpo em Paço de Arcos. Na mesma sala é também possível
observar um pequeno quadro com a famosa captura do Egyptienne (36) em 1804.
A comunidade Britânica em Portugal e a British Historical Society de Portugal relembrou
em diversas ocasiões a memória de Shipley com a publicação de artigos em revistas e
livros bem como em visitas ao local. Temos conhecimento de duas cerimónias de
homenagem – a 22 de Agosto de 1982 - celebração do bicentenário do nascimento na
catedral de St. Asaph’s, Norte de Wales e a 23 de Abril de 1983 no 175º aniversário da
morte do capitão, junto ao monumento de Paço de Arcos.
Em 2015 Jackie & Selwyn Kennard juntamente com David Wright membros da
comunidade Britânica a viver em Portugal, tomaram conhecimento do mau estado de
conservação em que o monumento se encontrava. Foi nesta altura que decidiram
organizar o seu restauro. Conseguiram chamar à atenção diversas autoridades militares
e civis, tanto portuguesas como Inglesas.
O apoio financeiro foi cedido por - O. G. Rowley-Conwy de Bodrhyddan Hall; o 1805
Club, Londres; Cavan S.A.; Prefabe S.A.; The British Historical Society de Portugal;
Robert James; Michael Allaway; Jonathan Elms; Claire Banazol; Carole Beranek,
Samuel Andrade e Christine Vandenberghe. Participação também do Município de
Oeiras e das Infraestruturas de Portugal.

O Monumento ao longo dos tempos – Na localização original em 1919 e 1932. Note-se o


monumento em 1932 com cerca metálica e rodeado de flores. As duas últimas correspondem
aos anos de 2015 e 2017, antes e depois dos trabalhos de restauro. As imagens de 1919 e 1932
provêm do Arquivo Histórico Militar - AHM-3º Divisão-1 4ªSecção-pasta 1 -Processo nº7-
Monumentos Militares. As imagens de 2015 e 2017 foram tiradas por Selwyn & Jackie Kennard.

Os fundos permitiram que uma equipa especializada em conservação inicia-se o


restauro do monumento – desde a sua limpeza, reforço da base do monólito,
preenchimento de rachas na pedra e repintura do texto. Em Setembro de 2017, dois
anos volvidos desde o início do projeto, o monumento apresentava-se ao público
totalmente restaurado e pronto para a cerimónia de reedificação. A data escolhida para
o evento foi 21 de Setembro, sendo que na noite anterior havia sido organizado um
jantar de homenagem no Forte de São Julião da Barra.
O cerimonial principal teve lugar junto ao monumento sendo seguido de um almoço a
convite do Sr. Presidente da Câmara de Oeiras no Palácio do Marquês de Pombal
(KENNARD, 2018). Estiveram presentes os descendentes do capitão, a família Rowley-
Conwy, a embaixadora do Reino Unido em Portugal, Srª Kirsty Hayes, o Presidente da
Câmara Municipal de Oeiras, Sr. Paulo da Silva Vistas e o Presidente das Infraestruturas
de Portugal Sr. António Laranjo. A cerimónia religiosa ficou a cargo do Arcebispo de
Gales, o reverendo Barry Morgan.
O monumento continuará a vigiar a barra do Tejo, que melhor memória para o Capitão
Conway Shipley:

Sacred to the Memory of CONWAY SHIPLY,


Late Captain of His Britannic Majesty’s Ship La Nymphe,
Who was killed in an attempt to cut an enemy’s vessel out of the Tagus,
On the 22d of April, 1808, aged 25 years.
Circumstances, which human wisdom could not foresee,
Nor any exertion of human courage obviate,
Rendered the attempt unsuccessful,
And closed the short but distinguished career of the gallant leader of it.
While his name will long live in the records of Fame,
And the remembrance of his country,
The brave and good of every nation will venerate his tomb,
And contemplate, with respect, the last mansion of a Hero.

Agradecimentos
Um agradecimento especial a Jackie & Selwyn Kennard por todo o apoio e dedicação;
Agradecimento também ao Sr. Coronel de Engenharia José Paulo Berger e à Direção
de Infraestruturas do Exército. Agradecimento também a Alan Davis e ao Arquivo
Histórico Militar. Um agradecimento final a Rita Rodrigues pela gravura The Last Breath
especialmente desenhada para incorporar este artigo.

Bibliografia
FERRÃO, António (1925) A 1º Invasão Francesa. A invasão de Junot vista através dos
documentos da intendência geral da polícia, 1807-1808. Imprensa da Universidade de
Coimbra.
KENNARD, Jackie, KENNARD, Selwyn (2018) Rededication of the monument to Capt.
Conway Shipley, RN in The British Historical Society Annual Report. Carcavelos
LIND-GUIMARÃES, George (2009) A Royal Navy “Special Operation” in the Tagus
During the Peninsular War in The British Historical Society Annual Report. Carcavelos.
MARSHAL, John (1827) Royal Naval Biography. Supplement – Part 1. Longman.
London
MIDGLEY, Anthony (1973) Captain Conway Shipley Royal Navy in The Anglo
Portuguese News. Cascais
PEREIRA, José Rodrigues (2005) Campanhas Navais 1807-1823. Volume II. Tribuna
da História
PLEINEVILLE, Natalia Griffon de (2017) La Première Invasion du Portugal par
L’Armée Napoléonienne (1807-1808). Editorial Mayenne
VENTURA, António (2008) Jean-Andoche Junot. Diário da 1ª Invasão Francesa. Livros
Horizonte. Lisboa

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