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REGENERAÇÃO
O cristão é nascido de novo
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não
pode ver o reino de Deus. (João 3.3)
OS FARISEUS
O mais conhecido dos grupos religiosos da época de Jesus era o dos fariseus.
Embora fosse um grupo relativamente pequeno (provavelmente uns seis mil), tinham
muitíssima influência. Seu ponto de vista em muitas questões podia ser considerado
típico de uma maioria de judeus naquela época. O nome “fariseu” se origina
provavelmente de uma palavra em aramaico que quer dizer “separado”; de onde se
conclui que os fariseus eram “os separados”. Eles passaram a existir em algum
momento antes da era do Novo Testamento. De acordo com Josefo, ficaram famosos
durante os reinados de João Hircano I (135/134–104 a.C.) e Alexandra (76–67 a.C.).
Na época de Jesus, havia duas escolas de pensamento farisaico diferentes – os
seguidores de HILLEL e os seguidores de ShAMAI. Hillel tinha revolucionado o
pensamento rabínico com um novo método de exegese que permitia uma interpretação
mais liberal da lei. GAMALIEL I (filho de Hillel e professor do apóstolo Paulo; At
22.3) foi o líder dos fariseus de 25 a 40 d.C. Depois da destruição de Jerusalém, em 70
d.C., Johanan bem Zakkai se encarregou de reformular o farisaísmo em JAMNIA em 90
d.C.; estabeleceu-se base para a corrente principal do Judaísmo que chega até os nossos
dias.
Teologicamente, os fariseus desenvolveram um conjunto de ideias baseado no
Antigo Testamento e em suas próprias tradições orais, ambos considerados por eles
igualmente oficiais. Eles “passavam às pessoas muitas observações por tradição que não
estavam escritas na lei de Moisés”, diz Josefo (Ant. 13.10.6). Acreditavam em Deus
(quase que de uma forma deística), em anjos e espíritos, na providência, na oração, na
necessidade da fé e das boas obras, no julgamento final, em um Messias que viria e na
imortalidade da alma. Muitas das coisas em que os fariseus acreditavam também eram
crenças dos cristãos primitivos; Jesus disse a respeito deles: “fazei e guardai, pois, tudo
quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não
fazem” (Mt 23.3). Paulo pôde dizer no Sinédrio: “Meus irmãos, eu sou um fariseu, filho
de um fariseu. Estou sob julgamento por causa da minha esperança na ressurreição dos
mortos” (At 23.6). Embora não negassem inteiramente a graça de Deus, os fariseus
eram extremamente legalistas, tanto que Jesus os acusou de negligenciar os
mandamentos de Deus por se apegarem às tradições dos homens (Mc 7.8). Essas
tradições foram reunidas no começo do século 3 d.C., pelo RABINO JUDÁ, O
PATRIARCA em um livro chamado o Mishnah, que, por sua vez, fazia parte do
Talmude.
Os fariseus eram hostis a Jesus porque sentiam que ele era muito liberal com
relação às suas leis, aceitava demais os pecadores e era aberto ao contato com gentios.
Acreditavam também que Jesus blasfemava quando se referia a si mesmo e à sua
relação com Deus. De sua parte, Jesus se opunha a eles por causa de seu legalismo, de
sua hipocrisia e de sua falta de vontade de aceitar o reino de Deus representado nele
mesmo.
Descobrindo o Novo Testamento, Walter A. Elwell & Robert W. Yarbrough, Editora Cultura Cristã
DOMÍNIO PRÓPRIO
“Como cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio
próprio.” (Provérbios 25.28)
Antigamente, os muros de uma cidade era sua defesa principal; sem eles, a
cidade era presa fácil para seus inimigos. Para o piedoso Neemias, um cativo judeu na
distante cidade de Susa, a noticia de que o muro de Jerusalém foi derrubado significou a
ultima destruição da sua cidade amada. Quando soube disso, se sentou e chorou.
Domínio próprio e o muro de defesa do cristão contra o desejo pecaminoso que
trava guerra contra sua alma. Charles Bridges observou que alguém sem domínio
próprio e presa fácil para o invasor:
Ele se rende ao primeiro ataque das suas paixões desgovernadas, não oferecendo
nenhuma resistência... Não tendo nenhuma disciplina sobre si mesmo, a tentação
torna-se a ocasião do pecado e o impele em um espaço de tempo que não havia
considerado... Ira tende a assassinato. O descuido com a luxuria perde-se em
adultério.1
Domínio próprio e o controle não apenas dessas paixões, mas também de si
mesmo. Provavelmente, e mais bem definido como o domínio dos desejos. D. G. Kehl o
descreve como “a habilidade para evitar excessos e ficar dentro de limites razoáveis”.2
Bethune chama-o de “o regulamento sadio de nossos desejos e paixões, prevenindo o
excesso deles”.3 Ambas as descrições insinuam o que todos sabem ser verdade: temos
uma tendência a passar do limite em nossas varias paixões e, consequentemente,
precisamos contê-las.
No entanto o domínio próprio envolve uma vigilância muito mais ampla que
somente controle de nossas paixões e de nossos desejos corporais. Também temos de
exercitar o domínio próprio sobre pensamentos, emoções e fala. Ha uma forma de
domínio próprio que diz sim ao que devemos fazer, como também diz não ao que não
devemos fazer. Por exemplo, raramente quero estudar a Bíblia quando começo um
estudo. Ha muitas outras coisas que são mentalmente muito mais fáceis de fazer, como
ler um jornal, uma revista ou um bom livro cristão. Uma expressão necessária de
domínio próprio, então, e sentar-se a mesa da sala de jantar com a Bíblia e o caderno na
mão e dizer para mim mesmo: “Faca isso!”. Pode não parecer muito espiritual, mas
também não parece a exclamação de Paulo: “Esmurro o meu corpo e o reduzo a
escravidão” (1Co 9.27).
Domínio próprio e necessário porque estamos em guerra com nossos próprios
desejos pecaminosos. Tiago descreve esses desejos como algo que nos arrasta e nos
atrai para o pecado (veja 1.14). Pedro diz que eles fazem guerra contra nossa alma (2Pe
2.11). Paulo fala deles como enganosos (veja Ef 4.22). Esses desejos pecaminosos são
tão perigosos porque moram dentro do nosso próprio coração. Tentações externas não
1
Charles Bridges, An Exposition of Proverbs (Evansville, IN: Sovereign Grace BookClub, 1846, 1959), pág. 483.
2
D. G. Kehl, Control Yourself! (Grand Rapids, M I: Zondervan, 1982), pag. 25. Este e um livro excelente para aqueles que querem
estudar mais o domínio próprio.
3
George W. Bethune, The Fruit of the Spirit (Swengel, PA: Reiner, 1839), pág. 179.
Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o
seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! (Apocalipse 1.5-6)
Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. (Hebreus 13.12)
Nosso pecado nos estraga de duas formas. Ele nos torna culpados diante de Deus
de forma que ficamos sob sua justa condenação; ele torna nosso comportamento feio, de
modo a desfigurar a imagem de Deus que deveríamos refletir. Ele nos condena com a
culpa, e nos escraviza com falta de amor.
O sangue de Jesus nos liberta de ambas as desgraças. Satisfaz a justiça de Deus,
fazendo com que nossos pecados sejam perdoados com justiça. Vence o poder do
pecado de nos tornar escravos da falta de amor. Vimos como Cristo absorve a ira de
Deus e retira nossa culpa. Mas agora, como o sangue de Cristo nos liberta da escravidão
do pecado?
A resposta não é que ele seja poderoso exemplo que nos inspire a nos libertar do
egoísmo. Ah, sim, Jesus é um exemplo para nós. E muito poderoso. Ele deseja
claramente que o imitemos: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros;
assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34). Mas o
chamado para imitá-lo não é o poder da libertação. Existe algo mais profundo.
O pecado é uma influência tão poderosa em nossa vida que precisamos ser
libertos pelo poder de Deus, não por nossa força de vontade. Como somos pecadores,
temos de perguntar, “Será que o poder de Deus é dirigido para a nossa libertação ou
para nossa condenação?” É aí que entra o sofrimento de Cristo. Quando Cristo morreu
para remover nossa condenação, ele como que abriu a válvula da misericórdia poderosa
do céu para que fluísse em prol da nossa libertação do poder do pecado.
Noutras palavras, a libertação da culpa do pecado e da ira de Deus teve de
anteceder a libertação do poder do pecado pela misericórdia de Deus. As palavras
bíblicas cruciais para dizer isso são: a justificação precede e garante a santificação. São
diferentes. Uma é uma declaração instantânea (não culpado!), a outra é uma
transformação contínua.
Ora, para aqueles que confiam em Cristo, o poder de Deus não está a serviço de
sua ira condenatória, mas sua misericórdia libertadora. Deus nos dá esse poder para a
transformação mediante a pessoa de seu Espírito Santo. É por essa razão que a beleza de
.... amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio. são chamados de “fruto do Espírito” (Gl 5.22-23). É por esta razão que
a Bíblia faz a surpreendente promessa: “o pecado não terá domínio sobre vós; pois não
estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14). Estar sob a graça assegura o poder
onipotente de Deus de destruir nossa falta de amor (não de repente, mas de maneira
progressiva). Não somos passivos ao vencer nosso egoísmo, mas também não vem de
nós o poder decisivo para tanto. É graça de Deus. Assim, o grande apóstolo Paulo podia
dizer: “Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus
comigo” (1Co 15.10). Que o Deus de toda graça, pela fé em Cristo, nos liberte da culpa
e da escravidão do pecado.
A paixão de Cristo, John Piper, Editora Cultura Cristã
4
Karl Barth, la Oración, p. 78-79.
5
Perdoa-nos assim como nós perdoamos: In: Imprensa Evangélica, 01/07/1865, p. 6-7.
6
G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Mateo, p. 350.
7
Romanos 7 tem sido interpretado de várias maneiras; mas em uma inspeção mais minuciosa, claramente descreve a experiência de
um crente, mais do que a de um não-crente. Para uma breve, mas clara discussão sobre isso, veja J.I.Packer, Keep in step with the
Spirit (Old Tappan, N.J.: Revell, 1984), 263-70. Ver também John R. W. Stott, Men made New: An Exposition of Romans 5–8
(1966; edição norteamericana: Grand Rapids: Baker, 1984), 71-75.
Quatro verdades-chave
Se quisermos compartilhar da vitória sobre a carne sangrenta, teremos de seguir
Paulo até dentro da luta. E quando o fizermos, descobriremos as mesmas quatro
verdades que o humilharam na batalha, todas expressas num versículo:
Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim (Rm 7.
21).
1. O fato de o pecado habitar em nós é uma “lei”. A “lei” a que Paulo se refere
é a mesma coisa que ele chama de “pecado que habita em mim” nos versículos 20 e 23.
É sobre esse pecado residente que nós estamos falando. Por que chamá-lo de lei?
Paulo usa “lei” como uma metáfora. Ele precisa de um modo para expressar o
poder, a autoridade, a limitação e o controle que o pecado exerce na nossa vida, e toma
“lei” com um toque de ironia. Antes, no início do capítulo, ele havia escrito sobre a lei
de Deus, que deveria governar a nossa vida, ainda que a lei do pecado pareça vencer
muitas batalhas no corpo a corpo. Poderia ele ter escolhido um contraste mais
maravilhoso para desmascarar as forças mortais do pecado?
Medite sobre a metáfora da lei por um minuto. Nós podemos pensar sobre ela de
um lado como uma regra moral que nos orienta e nos manda fazer o que ela requer
(“Honra teu pai e tua mãe”) ou não fazer o que ela proíbe (“Não matarás”). Mais do que
isso, uma lei que nos leva a obedecer com ofertas de recompensa (“para que se
prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”). E nos compele à
submissão por meio de ameaças de punição pela desobediência (multa de R$ 1.250,00
por transgressão).
Por outro lado, também podemos pensar na lei, do mesmo modo como falamos
da “lei da natureza”. A gravidade, por exemplo, é uma lei que obriga as coisas a
tomarem uma direção. Ela nos molda perfeitamente aos seus “comandos”. A gravidade
não é uma lei como uma ideia ou um preceito externo, mas uma força que pode fazer os
objetos “obedecerem” à sua “vontade”. Nesse sentido, toda necessidade e inclinação em
nós é uma lei. A fome é uma lei, a sede, a atração sexual, o medo – cada uma nos
impele a cumprir suas exigências, e cada uma tem uma força para nos levar a nos
inclinar em submissão.
O mal que habita em nós funciona dessa maneira – atraindo, ameaçando e até
mesmo maltratando. De modo que Paulo a chama de uma lei para que possamos ver que
8
Existem dois outros inimigos: o mundo e o Diabo. Eu não vou tratar deles explicitamente. Mas uma vez que ambos fazem o seu
trabalho sujo apelando para a nossa carne (o pecado que habita em nós), qualquer vitória sobre a carne concorrerá também para
enfraquecê-los.
2. Encontramos essa lei dentro de nós. Paulo tinha ouvido histórias de horror
sobre o pecado ao longo de toda a sua vida. Ele tinha visto incontáveis dedos em riste
apontados para o seu rosto prevenindo-o quanto ao poder do pecado. Mas em Romanos
7.21 ele saiu da confortável teoria para a experiência turbulenta: ele encontrou essa lei.
Uma coisa é a pessoa se juntar a um grupo e analisar criticamente dissertações sobre o
pecado original; outra muito diferente é se encontrar submetido pela sua força e loucura.
Uma coisa é assistir a uma conferência sobre AIDS – como se espalha, o que faz ao
corpo, o quanto é invencível, e outra coisa é ouvir o seu médico dizer para você: “HIV
positivo – sinto muito”.
Poucas pessoas têm chegado a um acordo com a lei do pecado. Se isso tivesse
acontecido com mais pessoas, ouviríamos mais queixas contra ela nas orações, veríamos
mais lutas contra ela e encontraríamos menos de seus frutos pelo mundo. Quando
encontramos essa lei em nós o “Quem me livrará?” de Paulo ecoa pelos nossos ossos.
Os crentes são as únicas pessoas que encontram a lei do pecado operando dentro
deles. Os descrentes não têm como sentir isso. A lei do pecado é um rio furioso, que os
leva consigo; eles não podem medir a força da correnteza, porque eles se renderam a
ela, e por ela foram levados embora. Um crente, por outro lado, nada contra a correnteza
– ele encara o pecado de cabeça erguida e esforça-se debaixo de sua força.
3. Encontramos essa lei quando estamos nas melhores condições. Embora essa
lei do pecado seja muito poderosa, ela não governa o coração do crente. Paulo a
encontrava operando nele mesmo quando ele queria fazer o bem. Ele não tropeçou nela
em ocasiões em que estava pecando grandemente, ou quando ele estava indiferente
quanto às coisas de Deus. Ele estava consciente dela mesmo quando mais queria servir a
Deus, quando se decidiu obedecer seu Salvador e Rei, quando Cristo dirigia o seu
coração.
A despeito do fato de que a lei do pecado opera a partir de dentro e ataca os
crentes quando estão dando o melhor de si, ela não é o seu ditador. Os crentes marcham
num compasso diferente: “Eu quero fazer o bem”, Paulo diz (Rm 7.21) – Eu quero
agradar a Deus, dar-lhe glória, servir seu povo, honrar seu nome. Pela graça de Deus o
desejo de obedecê-lo normalmente prevalece em nós, mesmo contra seu insidioso
inimigo interior.10
9
Pense na sua santificação, em termos da vinda de Cristo ao mundo. Na sua primeira vinda ele estabeleceu o seu reino no mundo:
ele já está governando e reinando, ele derrotou o deus desta era, está sentado no seu trono à mão direita do Pai; no entanto, a
oposição ainda permanece, e a batalha continua. Na sua segunda vinda ele consumará o seu reinado, tirando dele todo inimigo. Ser
nascido de novo é a primeira vinda de Cristo para a sua alma: ele verdadeiramente governa e reina no seu coração, mas o inimigo
derrotado permanece e a batalha continua. Sua glorificação depois da morte é a segunda vinda de Cristo para a sua alma, quando
todo sinal da lei do pecado se desintegrará.
10
Ainda que a graça normalmente prevaleça em nós, nesta vida ela nunca se manifesta perfeitamente (Gl 5.17). Mesmo em nossos
momentos de maior amor e humildade, um toque de orgulho aparece para manchar nossas obras mais justas. Devemos viver
totalmente dependentes de Cristo. João descreveu o coração do crente renovado por Cristo e sob seu governo: “Todo aquele que é
nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando,
porque é nascido de Deus” (1Jo 3.9). “viver na prática do pecado” e “viver pecando” significa fazer do pecado a sua carreira na
vida. O crente tem uma nova natureza – a semente de Deus nele – que não pode viver em paz com o pecado. Isso distingue o crente
no que ele tem de pior, do não-crente no que ele tem de melhor. Mesmo quando o crente cambaleia e parece soterrado pela tirania do
Informe-se
Estamos no começo da obediência a Deus. Entender essas quatro verdades sobre
o pecado latente é armar-se contra ele. Na sua luta contra o pecado, existe apenas uma
coisa mais importante a ser compreendida do que esses quatro fatos: a livre e
justificadora graça de Deus no sangue de Cristo. A graça de Deus em Cristo e a lei do
pecado são as duas fontes de toda a sua santidade e pecado, alegria e dificuldades,
refrigério e tristeza. Se você está disposto a andar com Deus e glorificá-lo neste mundo,
você precisa conhecer ambos a fundo.
Suponha que existe um reino que tem dentro de seus muros duas poderosas
forças opostas. Os súditos do rei estão sempre se estranhando, sempre tramando e
lutando entre si. Se o rei não tiver sabedoria, seu reino se transformará em ruínas.11 A
lei do pecado e a lei do Espírito da vida (Rm 8.2) em nós são inimigos mortais. Se não
formos espiritualmente sábios em dirigir a nossa alma, como podemos evitar
destroçarmos nós mesmos?
Mas muitas pessoas vivem nas trevas e na ignorância a respeito de seu próprio
coração. Elas mantêm um cuidadoso registro dos seus investimentos na bolsa de valores
e fazem frequentes check-ups médicos; cuidam da alimentação e fazem ginástica na
academia três a quatro vezes por semana para manter o corpo em perfeita ordem. Mas
quantas pessoas refletem um pouco sobre a própria alma? Se é importante vigiar e
cuidar do nosso corpo e dos nossos investimentos, que logo estarão mortos e
apodrecerão, quanto mais importante é para nós guardarmos a nossa alma imortal?
Conhecer o pecado que habita em nós, por mais humilhante e desencorajador
que possa ser, é nossa sabedoria – se é que temos algum interesse em descobrir o que
agrada ao Senhor (Ef 5.10) e evitar qualquer coisa que entristeça o seu Santo Espírito
(Ef 4.30 ).
pecado, seu novo coração continua odiando o pecado, de modo que ele não terá paz até que o pecado seja esmagado. Mas um
descrente que de maneira superficial parece ser gentil e respeitável irá, se Deus remover dele a sua graça irrestrita, voluntariamente e
com satisfação entregar-se ao pecado.
11
Lembra-se de Roboão? Ver 1 Reis 12.
1. Fidelíssima
O salmista diz: "Fidelíssimos são os teus testemunhos...” (Sl 93.5). Outra vez:
"As obras de suas mãos são verdade e justiça; fiéis todos os seus preceitos. Estáveis são
eles para todo o sempre, instituídos em fidelidade e retidão” (Sl 111.7,8).
A Palavra de Deus é a expressão da fidelidade do seu Autor; por isso, podemos
descansar na sua Palavra, confiantes nas suas Promessas: o que Deus prometeu haverá
de cumprir; ele é fiel a si mesmo; na sua Palavra não há instabilidade! Ela permanece.
2. Perfeita
Davi: "A lei do Senhor é perfeita...” (Sl 19.7). Ela é completa, suficiente para
todas as nossas necessidades, em todos os tempos, em todos os momentos e
circunstâncias de nossa existência. A Palavra não precisa de complemento. (Tg 1.25).
3. Reta e Justa
Davi exclama: "Os preceitos do Senhor são retos...” (Sl 19.8). Do mesmo modo,
o salmista:: "... Tenho por em tudo retos os teus preceitos todos...” (Sl 119.128). "Justo
és, Senhor, e retos os teus juízos” (Sl 119.137). "...Todos os teus mandamentos são
justiça” (Sl 119.172).
A Palavra de Deus não tem casuísmos, Ela é sempre reta, justa, digna e fiel; os
seus preceitos não comportam atitudes dúbias, atalhos; Deus age sempre conforme a
retidão dos seus preceitos, que são decorrentes do seu caráter. Os critérios de Deus estão
claramente registrados na sua Palavra; não há ambigüidade ou injustiça: Deus
apresenta-nos um caminho de justa retidão para que, caminhando por ele, jamais nos
tornemos repreensíveis. A justiça que Deus exige de nós consiste numa absoluta
conformidade com a sua santa Lei.
4. Verdadeira
"São verdadeiros todos os teus mandamentos...”, reconhece o salmista (Sl
119.86). A Palavra de Deus não traz meias verdades, ela é a verdade absoluta de Deus
para o homem. Ela é a própria verdade (Sl 119.142,151,160). A verdade de Deus é
atemporal! Ela não está restrita a determinadas épocas, culturas ou classes sociais;
permanece como a verdade verdadeira que perdura no tempo e se perenizará na
eternidade.
6. Puríssima
"Puríssima é a tua Palavra...” (Sl 119.140). A Palavra de Deus foi registrada por
homens, que mesmo separados por Deus para esta tarefa, não deixaram de ser pecadores
como nós o somos. Todavia, a Bíblia não traz em seus ensinamentos, preceitos
pecaminosos; ela é puríssima, porque o seu registro foi preservado pelo Espírito Santo,
bem como foi conservado puro até os nossos dias. Por isso, para nós, somente a Palavra
de Deus é a fonte inerrante e infalível de todo o pensar e proceder cristão. Ela é pura,
não sofreu influência dos desvios históricos no campo ético, filosófico, comportamental.
A Bíblia, e somente ela, é a Palavra pura de Deus para todos os homens.
Baseado nestas e em outras excelências da Palavra de Deus é que o salmista
declara: "Admiráveis são os teus testemunhos, por isso a minha alma os observa” (Sl
119.129). Este reconhecimento manifesta-se no seu respeito para com a Palavra:
"Meditarei nos teus preceitos, e às tuas veredas, terei respeito” (Sl 119.15). E, também,
encontra na retidão dos juízos de Deus motivo para ação de graças: "Levanto-me à
meia-noite para te dar graças, por causa dos teus retos juízos” (Sl 119.62).
Muitas vezes nos acostumamos tanto com o fato de que possuímos a Bíblia, a
Palavra de Deus, que não lhe tributamos o valor devido; Deus age através de sua
Palavra; ela é a verbalização da excelência de Deus. Jamais poderemos orar "seja feita a
tua vontade", se não tivermos, primeiramente, um conceito claro da magnitude da
Palavra de Deus. Consideremos este ponto e louvemos a Deus por sua Palavra, que ele
tem preservado, e peçamos que ele mesmo, o Autor da Palavra, nos dê o discernimento
para compreendê-la e praticá-la, conforme a sua vontade.
(a.) Nossa fé vem dele e por ele é sustentada até o fim (versículo 2a)
Já faz meio século que saí da escola, mas minhas lembranças de Tom Clamp ainda
continuam vívidas. Ele passara muitos anos de sua vida atuando como sargento instrutor do
exército, garantindo que suas tropas estivessem apresentando sua melhor forma física. Na meia-
idade, passou a ser professor de educação física, impondo padrões militares aos meninos
adolescentes! Nunca pediu que fizéssemos alguma coisa fácil. Cada lição era dura e às vezes
nos levava às lágrimas. Contudo, nós o amávamos – até os ossos!
Tom Clamp nos inscreveu em longas corridas, mas em vários pontos do caminho ele
aparecia nos lugares-chave para nos instigar a continuar. Até hoje, não sei como ele conseguia.
Não somente isso – quando nos aproximávamos da linha final, lá estava ele a nos estimular,
encorajar nos últimos metros, esperar com boas-vindas por nós na chegada e nos dar os
parabéns quando terminávamos. Para ele, nós corríamos bem.
Como eram diferentes outros professores de ginástica, que nos inscreviam nas corridas,
nunca apareciam durante o percurso e estavam ausentes no final. Depois dessas corridas,
vagávamos sozinhos pelos vestiários, aturdidos, exaustos e desanimados. Nenhum de nós tinha
corrido bem.
É nosso Senhor quem nos inscreve na corrida da vida de fé, é ele que nos receberá na
reta final e é ele que nos acompanha a cada passo da corrida – não apenas nos pontos chave.
Olhe para ele (em sua Palavra). Considere a Jesus (em detido pensamento e meditação). Os que
o buscam, focados nele e ouvindo sua voz sempre correm bem. Mas se o tirarmos de nosso
pensamento, logo estaremos desistindo da corrida.
(c.) Entenda o que lhe acontecerá se não estiver olhando para ele (versículos 3-4)
Desviem os olhos de tudo mais e olhem para Jesus. Olhem para ele! Ao seu redor, vocês
estão cercados de inimigos. Sofrem hostilidade e ódio – em alguns casos, há quem trame
realmente assassiná-los. Assassínio? Sim, foi algo que o apóstolo enfrentou, que nós não
tivemos de presenciar em nossa batalha contra o pecado. Mas pode acontecer. E se isso
acontecer com você, ou qualquer outra coisa igualmente difícil, você desistirá se não estiver
olhando com firmeza para Jesus Cristo.
As palavras do versículo 3 sugerem que a desistência pode ocorrer em uma de duas
formas. Algumas pessoas desistem da corrida em colapso repentino e total, enquanto outros
experimentam uma queda gradativa de energia, perdendo a força pouco a pouco até cair fora. As
duas são igualmente perigosas, porque ambas levam as pessoas a desistir completamente da
corrida.
Duas simples alternativas se apresentam a todos quantos professam seguir a Cristo: ou
nós o vemos claramente e permanecemos próximos a ele ou desistimos totalmente da corrida e
prosseguimos para a ruína eterna. O exemplo de outros crentes pode até nos estimular, mas, no
final, não será o que nos manterá na corrida. Em última análise, tudo depende de termos nos
despido de tudo que nos atrapalhava, declarando guerra contra tudo que seja espiritualmente
nocivo. Para tanto, temos de nos dispor com determinação a prosseguir espiritualmente, venha o
que vier. Isso requer que estejamos próximos do Senhor Jesus Cristo, em quem pensamos
sempre, cujo exemplo seguimos e de cuja força dependemos completa e constantemente.
Estou na corrida, porém, hei de completá-la? Tomarei meu lugar no pódio final? Estarei
presente com todos os homens e mulheres de fé – do presente, passado e futuro – na entrega dos
prêmios? Ou vou afrouxar o passo, diminuir e desistir em algum momento, nunca atingindo o
final e nunca desfrutando a recompensa? Essas questões eternas resolvem-se quando assumo ou
não, de coração, o que diz Hebreus 12.1-4.
A carta aos Hebreus bem explicadinha, de Stuart Olyott, Editora Cultura Cristã