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ABSTRACT
Our work aims to analyze the formation of Amazonian social groups based on the
consolidation of the peasantry in the region, through sociological and anthropological
concepts and perspectives about the idea of “Frontier” and how this conception was
imagined with the desire for development and progress.
INTRODUÇÃO
Guilherme Octávio Velho (2009, p. 182), comenta que o Brasil e o resto do
mundo enxergavam a Amazônia como um espaço territorial sem importância
econômica e social, embora tenha vivido um curto período de progresso com o auge
da extração de borracha. O autor sugere que as estatísticas acerca do território
amazônico foram ignoradas, uma vez que era sabido que as estruturas sociais
amazônicas eram nitidamente esparsas.
O vale amazônico, quase tão grande quanto os Estados Unidos
continentais, é uma das mais extensas dessas modernas fronteiras
tropicais. É também, possivelmente, a mais esparsamente povoada de
todas. (...) A região possui apenas metade da densidade populacional
da Nova Guiné e contém doze vezes menos pessoas por quilômetro
quadrado do que as áreas quentes e úmidas da África (...). WAGLEY
apud VELHO, 2009, p. 182)
Em função disso, o antropólogo Charles Wagley (2009, p. 182) retrata a região
do Vale Amazônico como “fronteira” devido aos seus “recursos inexplorados, a sua
terra nova e a sua potencialidade para uma ocupação futura”. “Fronteira” consiste,
(levando em conta o que fora até agora exposto), em um cenário de disputas movidas
pela ambição territorial e, ao mesmo tempo, a “fronteira” é a ideia concebida de uma
nova terra, lugar para moldar um novo tempo com justiça e fartura. (MARTINS, 2009,
p. 09-10)
Wagley descreve a economia da Amazônia, no começo do século XX, como
“primitiva e estagnada” devido as técnicas de manejo agrícolas herdadas pelos nativos
indígenas. O transporte também é retratado como primitivo lotado apenas de lentas
embarcações fluviais movidas a lenha. Existiam escassas rodovias e pouquíssimas
ferrovias por toda a extensão do território. O comércio consistia na coleta e venda de
produtos extraídos da floresta (borracha, óleo de coco, couro e madeira). Serviços
básicos públicos eram mínimos, apenas as cidades maiores, como Belém e Manaus,
possuíam rede de esgoto e de abastecimento de água. Portanto, argumenta o
antropólogo, não seria surpreendente que a população não tenha aumentado durante
os próximos vinte anos enquanto o resto do Brasil crescia demograficamente.
(WAGLEY apud VELHO, 2009, p. 183)
Entretanto, segundo Velho (2009, p. 183), algumas mudanças foram
acontecendo gradativamente nos anos seguintes que proporcionaram alterações
significativas no quadro socioeconômico da região. Sendo assim, será pertinente
destacar os meios para o progresso da região, a partir das perspectivas e conceitos
antropológicos e sociológicos, levando em conta suas peculiaridades de
desenvolvimento para que houvesse uma consolidação das estruturas sociais.
A FRONTEIRA E O CAMPESINATO
Dentre muitos aspectos que permeiam a questão social amazônica, o sentido
de “Fronteira” é a que mais se destaca. A Fronteira, no campo sociológico, é a
definição da cultura versus natureza; o homem e o animal na qual propõe uma análise
além da teoria das Ciências Humanas. Por isso, a Fronteira é considerado o melhor
“lugar sociológico” para se tentar compreender como se formam as estruturas
socioeconômicas de uma sociedade. A Fronteira, portanto, deve ser concebida como
a gestação social do Homem. (MARTINS, 2009, p. 11)
Deste modo, como muitas outras populações consideradas de Fronteira, a
Amazônia passou por profundas transformações em sua organização social e
econômica no decorrer dos séculos XIX e XX. (HÉBETTE; MOREIRA, 2018, p. 188).
No âmbito econômico podemos citar a introdução e desenvolvimento do cultivo de
pimenta na década de 1940; extração de manganês durante os anos 50;
desenvolvimento da criação de gado para o abastecimento de carne às cidades de
Belém e Manaus; e, por fim, a abertura de estradas. Entretanto, nenhum desses
tópicos se mostrou mais relevante que o fenômeno “espontâneo” do campesinato,
pois, a partir disso, que fora possível a formação de uma estrutura social menos
dispersa e mais organizada. (VELHO, 2009, p. 183)
O campesinato é caracterizado por sua inserção em um contexto maior, isto é,
um sistema que o transcende, mas que não o priva de autonomia socioeconômica.
(WOLF apud HÉBBETE; MOREIRA, 2018, p. 190) “A autonomia relativa das
comunidades camponesas frente a uma sociedade envolvente... que as domina”.
(MENDRAS apud HÉBETTE; MOREIRA). Outra peculiaridade se deve ao fator
histórico que enfatiza o caráter de dominação cultural e política das redes centrais da
sociedade, relegando o sistema de campesinato e a figura do camponês a um
segundo plano, enquanto que, em outros contextos (sociedades periféricas), os
camponeses assumem figuras centrais na sociedade pois são a maioria esmagadora
da população, portanto, importantes na estrutura social. (WOLF apud HÉBBETE;
MOREIRA).
A introdução do campesinato na Amazônia surgiu por vias nordestinas, mas de
estreita conexão com os estados amazônicos. Teve início na década de 1920 a partir
do desenvolvimento de exploração da borracha sendo visto como uma saída para o
alto número populacional nordestino. A população excedente via o Maranhão,
sobretudo a região próxima ao Rio Tocantins que começara com o movimento
camponês, como uma porta de entrada ao Vale Amazônico. No início, a progressão
do campesinato se deu de modo marginal pois cultivavam os grãos (arroz, milho,
mandioca, feijão) para o próprio consumo. Dessa maneira, é válido destacar que a
expansão desse campesinato prosseguiu sem que o resto do país (rede central
dominadora) soubesse da sua formação, visto que toda essa região era considerada
como de Fronteira. (VELHO, 2009, p. 184)
Porém, somente a partir da década de 1950 que a expansão camponesa no
Maranhão migrou drasticamente para os limites da Amazônia pois alguns começaram
a atravessar na direção do Pará. Segundo Velho (2009, p. 185-186), a migração, neste
dado momento, se deu por motivos de reinvindicação de propriedades de terras
amazônicas não ocupadas, pela atividade de grileiros na região, empobrecimento do
solo e etc. Todavia, no que se refere ao primeiro fator, o confronto nessa região
amazônica tornou-se mais violenta entre os camponeses posseiros e aqueles que já
estavam ocupando a região.
Deste modo, o aspecto trágico da Fronteira se revela. Se caracteriza por uma
conflitividade mortal devido ao desencontro de interesses de etnias e grupos sociais,
principalmente em relação ao abismo sócio histórico que as desune. A Fronteira se
mostra como um lugar de renascimento das máscaras desumanizadoras na qual
podem afetar todo o sistema. (MARTINS, 2009, p. 13). Após esse período de conflito
mais intenso, no final dos anos 50, na parte do Maranhão Ocidental e no sul do Pará,
ocorreu a mudança mais significativa para o movimento do campesinato: a construção
da Belém-Brasília. Dessa forma o campesinato deixou de ser marginalizado para ser
mais facilmente comercializado. (VELHO, 2009, p. 186)
A partir da ocupação, a Amazônia pareceu adentrar em uma nova era, pois a
ideia de uma estrutura social estava começando a se formar. A ocupação consistia
em indivíduos ou em pequenos grupos de homens que procuravam um lugar para se
estabelecer permanentemente. Em outros casos, unidades familiares mantinham-se
isoladas uma das outras. Já em outros, a distância entre as famílias era menor, logo
comunidades foram sendo construídas. As comunidades, desde sua formação, já
apresentavam problemas de ordem territorial na qual os membros deveriam dialogar
para que se chegasse a um acordo sobre os direitos de cada unidade familiar.
(VELHO, 2009, p. 190)
Quando um pequeno agrupamento demonstrava ter possibilidades de
expansão, dependendo das estradas e caminhos que eram abertos
podia tornar-se o locus para a comercialização inicial dos produtos
agrícolas da área. Outros camponeses que estavam nas matas
próximas podiam por vezes vir residir no agrupamento. Mais tarde,
quando a comunidade se tornava capaz de oferecer algum tipo de
instrução rudimentar para as crianças, um novo e poderoso fator
polarizador surgia. Ou famílias inteiras então se mudavam para o
agrupamento. (VELHO, 2009, p. 191)