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CAPtTULO IV

~ue alguns arquitetos soviéticos tenham concebido os seus e que tal tenta-
A RECONSTRUÇÃO DO MO~P.:f.'E VIDA NA URSS tiva de resolver ao mesmo tempo os problemas de construção da sociedade
e do ambiente seja até o momento única na hi stória .
DOS ANOS VINT~OS ANOS TRINTA
Nosso objetivo é portanto mostrar em que as teses de certos arquitetos
foram a ilustração da sociedade projetada logo após Outubro de 1917 e
como esses arquitetos, e também esses sociólogos, economistas e organiza-
dores, pensavam poder contribuir para a transformação socia l através da
organização do espaço, considerada como um "condensador social", segun,do "77 tb _
uma expressão da época. \-'t J4~f)M .)J} 1J- 'jJL1:}::llJ5l
Certos arquitetos, mas não todos , pois na URSS dos1nos vintUs tenJl.~
dências arquitetônicas são inumeráveis, concretizando-se través deº_rgani- 1fl!B.(t}u__
zações que agrupam seus partidários, batizadas na URS como "Organiza-
0 que caracteriza antes de tudo ~ arquiteturaf soviética d~s andos vi~te ções Criadoras'~m. Algun s arquitetos foram membros do .A.O.'º, dcTe nden-
é a tentativa de criar um quadro de vida total con orme o projeto e socie-
dade que a Revolução de Out_ubro de _191? J?roclama~a quer~r colo~ar _em do idéias próximas às que dominavam antes da revolução. Mas a aspiração
ação; é a correlação entre projeto arq1;utetomco e pr~jeto social o prmcip~l geral, ou ao menos, oficialmente proclamada pelas autoridades políticas,
à modernidade e à renovação reduziu consideravelmente a influência desse
interesse das pesquisas dessa época; e essa correlaçao que fez dessa_ arqm-
' tetura uma causa social e política ao mesmo tempo que um movimento grupo, bem como de seu homólogo de Leningrado m. No lado oposto, duas
o,rganizações se a.Qr_esentam como orientadas cm direção ao futuro: a
arquitetônico de vanguarda. Mas ~ã~. se trata de algo c?mpletamente n~vo. AS"-NOVAõu Ãssociação dos Novos Arquitetos ' 6 > e a OSA ou União dos
Todos os utopistas, tanto da antiguidade como do seculo XIX, Fourier, Arqiiitetos Contemporâneos m que se declara "construtivista". A primeira
Owen, ·etc. insistiram na necessidade ~e transformar-se simult_aneamente foi constituída em 1923 e a segunda, a OSA, surgiu cm 1925 de uma divisão
a sociedade e o espaço em que ela se mstala, descrevendo precisamente o da primeira. Tanto a ASNOVA quanto a OSA se situam no mesmo campo,
1 que da construção desse espaço era para eles indispensáveis à eclosão e ao o qual é chamado na URSS de "nova arquitetura" ou de arquitetura "de
desenvolvimento das formas sociais que preconizavam. A América, o "Novo esquerda", ambas identificando-se com os mesmos exemplos estrangeiros,
Mundo" ainda relativamente virgem no século XIX, viu implantar-se no com a modernidade da estética da máquina; mas fora esses pontos de con·
seu solo grande número de comunidades, das quais a maior parte consa- vergência, posições fundamentais separavam-nas. A atenção dispensada aos
grou algum esforço à construção de habitações, equipamentos e todo um problemas sociais e políticos constitui um desses pontos de divergência. A
ambiente adaptado a seu modo de vida específico, à micro sociedade que ASNOVA reduzia suas referências políticas ao mínimo abaixo do qual sua
eles pretendiam construir. <2> lação se tornaria suspeita ao contexto revolucionário da época e considerava
Assim, a experiência social e arquitetônica soviética dos anos vinte, na :que sua tarefa essencial se situava ao nível da forma arquitetônica, mais
medida em que se fixava esse mesmo objetivo, já tinha precedentes. A 'precisamente na invenção de uma linguagem arquitetônica nova. A OSA
diferença, entretanto - e o que o torna particularmente interessante -, é filiava-se explicitamente ao construtivismo e à transformação revolucio-
-~ escala na qual isso foi tentado. Fourier criara sua sociedade e o ambiente ,nária da sociedade. Na medida em que essa relação entre o social e
dela apenas no papél; Owen tivera mais fracassos do que sucesso; as comu- o arquitetônico constituía um dos aspectos específicos da nova arquitetura
nidades americanas, numerosas em certas épocas, sempre foram apenas "moderna" dos anos vinte e trinta, são construtivistas soviéticos que nos
contra-sociedades e stia influência jamais ultrapassou o limite estreito de interessam aqui, pois seu objetivo era "inventar" uma arquitetura que seria
suas próprias fronteiras . Em certo momento na URSS acreditou-se que as ao mesmo tempo a imagem da futura sociedade e o cadinho no qual essa
coisas seriam diferentes, pois o partido no poder e o governo proclamavam sociedade nasceria e se desenvolveria.
desejar construir essa sociedade nova no país todo. Foi também nessa 1 Entretanto apesar dos textos e dos discursos, as características preci-
escola que foram concebidas as ·p esquisas arquitetônicas e urbanísticas dos \ sas dessa nov; sociedade continuavam vagas. Nem os textos oficiais dos
que se proclamaram "Construtivistas" e para os quais o produto dessas ' primeiros anos do poder soviético, nem os dos clássicos do marxismo-
pesquisas deveria contribuir para a edificação dessa nova sociedade, da
qual a URSS seria o canteiro de obras e o campo de experiências.
l 1eninismo apresentaram - como fizeram anteriormente os "socialist~s
utópicos" - uma descrição da sociedade futura que procuravam constrmr.
Sabe-se hoje que se foi construída na União Soviética uma sociedade Mesmo se os autores do "A B C do Comunismo" m tentaram apresentar
dife~ente da que existia antes da revolução, ela teve pouca relação com os uma imagem coerente do mundo futuro - rapfd~:nte de~menti_da pelo~
P,r~jetos ~os anos vinte, pouca relação com os objetivos fraternais, iguali· fatos_ era sobretudo em sua imaginação, sua mtmçao e onentaçoes teón-
t~nos e liberadores proclamados então e que - pensava-se, em certos . cas parciais que eles tinham de se apoiar para imaginar o ambien~e cons-
circulos pelo menos - fariam nascer esse "homem novo" construtor e ator truído do mundo que viria, dessa socied~de q~e ~les proclamavam }á e~tar
da sociedad~ socialista. Que tudo isso não tenha ocorrido, não impede que \em construção. Assim, os construtivistas 1ama1s dispuseram de um proJeto
esse tenha sido o projeto, que tenha sido em relação a esse projeto global
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74
.. ,
L
de sociedade" precisamente formulado e em função do qual eles teriam
. • d · to arquitetônico Base>indo-se em textos e tomadas d..e
1magma o seu proJe · d 1 1dº ·
• - f mentárias em extratos de discursos e ta ou qua ingente, em
P~~c~o rag . . ma_s, que podiam ser consideradas como os primeiros
dec1soes parc1a1s . ,.
. eça- a medidas mais globais, em 1de1as que nasceram no calor
passos em d 1r 0 • d d"
das discussões havidas na emigração qu~ndo am a acre 1t~vam ter todo 0
tempo do mundo, uma certa idéia d~ soc1e<tid~J_uJura te:mmará se estal!e-.
lecendo em certos meio~ E9Iíticos ~_!!l~ele~tu~I~Le~_ -P~~h '::_~.?! ~nt_r_e _c~rtqs_
artistas e arquitetos. E-ssa idéia imprecisa e nao oflc1~l e a verdadeira chave
para a compreensãÕ de suas realizações, seus projetos e suas pesquisas
teóricas.

~
Foi Alexis Gan que dotou o Construtivismo de seu texto teórico essen-
1, publicando em 1922 o livro man!fe~to instit':1l~do "O Construtivismo".
Para Gan, o construtivismo const1tma uma v1sao completa de mundo,
a "Weltanschaung", e seu livro é um dos primeiros textos teóricos da
]época soviética que faz a l~gação entre os_ problema_s ~a criação artística e
lgs colocados pela construçao de uma sociedade socialista. Aqueles que daí
em diante se consideram como "artistas produtivistas" e cuja "produção"
será, segundo eles, uma síntese entre o trabalho manual e o trabalho inte-
lectual, se agrupam natLEF) (Frente de Esquerda da Arte) constituíd·a em
1 torno da revista literá~rtística do mesmo nome, dirigida por Vladimir
! 1
Maiakovski. g nessa revista que eles proclamam: "O Construtivismo deve
1: tornar-se a forma superior da engenharia das formas de toda a vida". Maquete de um selo destinado a glorificar a industrialização da URSS.
1'
A Revolução de Outubro não tinha por objetivo apenas a transformação
1das estruturas políticas e econômicas da velha Rússia. g verdade que o
"Projeto Socialista" tinha por base, segundo as teses marxistas , a apropria-
ção coletiva dos meios de produção e troca, mas tratava-se tam_bérr,:i -
simultaneamente - de dar ao ~ Q.Y~>_russo,. em sua maioria camponês, anal-
fabeto e inculto. uma cüitiÍra nova em ,harmonia com a revolução política
e econômica. Não se trata, para os militantes da frente cultural, de fazer
do operário ou do camponês russo um homem "cultivado", um "homem
do mundo". Não se trata simplesmente de fazê-lo aprender a ler e a escre-
ver, como fizeram sempre as revoluções resultantes do 1789 francês; será o
c~so na URSS, após -,a revolução política, de uma verdadeira "revolução
cultural" em todas ás·areas_da vida cotidiana <10 >.
Esse conceito de "cultura do modo de vida", de "reconstrução do modo
de vida", como se dizia na época, será a base da maior parte das pesquisas
dos anos vinte; ele impulsionará os artistas a buscarem meios de expressão
, fora das formas tradicionais ensinadas nas academias, seguindo pistas
\ abe~tas antes da revolução por certos artistas, pelos futuristas russos em
particular, mas agora com objetivos que ultrapassam o estrito domínio
da arte.

~
Desd~ os pr~m:iros anos do regime soviético aparece o termo "arte de
querda (Levo1e 1skusstvo). Ele se aplica a todas as formas de arte que
mpem com a tradição, quer se trate da pintura ou da cultura abstrata,
da :ncenação de espetáculos teatrais ou da organização de cenários não-
real~st~~: d~ poesia ou da produção. literária baseada nas novas descobertas
Existem algumas exceções ao primitivismo arquitetônico ru~so nas grandes cidades. Aqui, as
da hngm stJ ~a .. Todos esse domínios são designa9os na literatura da época galerias comerciais (hoje o grande magazine ~um) c?nstru_1 ~,e~ 1890 com ..
como
ui constitumdo _ a "arte d e esquerd a ,, que, para os defensores da antiga .
procedimentos e formas que lembram obras oc1denta1s do tipo Cnstal Palace ou Halles de
c tura, se opoe à arte propriamente dita. Paris. Mas trata-se da exceção que confirma a regra.
76
__
;

r
O termo acabou se aviltando. Na verdade, ele foi aplicado indistinta•
mente a todos os modos de expressão que se distinguiam dos empregados
até então, sejam os clássicos ou aqueles para os quais os clássicos conti-
nuavam sendo um modelo inigualável. Ora, de fato encontramos no que
se chamava de "arte de esquerda" duas correntes que tinlf'am uma origem
comum : os movimentos de vanguarda pré-revolucionários. Mas uma conti-
nua as pesquisas iniciadas antes da revolução e que se assemelham mais
ou menos às realizadas na mesma época no Ocidente. Para a outra, a arte
deve ser um instrumento de transformação social. É essa segunda corrente
que dá à arte essa missão social que constitui a verdadeira "arte de
esquerda" <m.
Portanto, a "arte de esquerda" é concebida por seus autores como um
dos instrumentos da revolução, como um meio de transformar as relações
entre os homens e, afinal, o próprio homem. Os artistas "de esquerda" e

, / /
,> ; . : também alguns dirigentes da revolução pensam que a construção da "socie-
' dade sem classes", que é o objetivo final proclamado pela revolução, pode

1
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·. '.,-.·,,,.;/" ·, ser estimulada ou freada pelo quadro de vida em que se desenvolva essa
sociedade. Os Pé!lrtidários da ''arte de esquerda" acreditam apressar o surgi-
• R• · d os 20 não era esta cidade de concre to, aço e vidro com que mento dessa sociedade através de sua arte, de sua ação sobre o ambiente.
A verdadeira uss1a os
·t tans "modernos" mas a tra d'1c10na
- 1 a ld eia
· russa que quase nao
·
sonhavam certos arqm e o · . É nesse sentido que um pequeno grupo de arquitetos construtivistas, os
mudou no decorrer dos séculos. (Fotografia de 1974.) da OSA, proclamam no primeiro número de sua revista Arquitetura Con-
temporâneé/, (Sovremennaia Arkhitektura), surgido em 1926:
A ARQUITETURA CONTEMPORANEA DEVE CRISTALIZAR
O NOVO MODO DE VIDA SOCIALISTA!

E proclama igualmente a adesão dos arquitetos da OSA aos objetivos


1' 1
sociais e políticos do regime soviético:
' 1
"O novo modo de vida resultante do conjunto do nosso sistema de governo é
;! proclamado pelos homens de vanguarda que dirigem este país; a vida dá-lhe força de
1 1
.i lei; ele se diferencia claramente da antiga concepção de vida. Nós, arquitetos de hoje,
o aceitamos como inseparável de nós mesmos" . <t2l

É a partir de tomadas de posição desse gênero - e elas são numerosas


durante a existência da OSA - que se deve diferenciar entre os que se
proclamam construtivistas e os assim designados pelos historiadores da
arquitetura.
, Os construtivistas acentuam o aparecimento de um "novo utilizador",
: a classe · trabalhadora. É e~idente para eles que, num sistema político
\fundado sobre o princípio da "ditadura do proletariado", a classe operária
\ deve desempenhar um papel essenci_a l, tanto rio domínio do ambiente como
em todos os outros. Entretanto, a atitude dos construtivistas fica relativa-
mente isenta de demagogia. Enquanto para o Partido Bolchevique a classe
.operária deve desempenhar um papel dirigente na direção do Estado e na
gestão econômica - e esse_é um postulado do marxismo-leninismo - para
. ' os construtivistas não se tratará simplesmente de atender a uma demanda

:· ,
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r.J.,'L.t .'.. > "' ~~
.
··- ·

"Habitação operária" na Rússia pré-revolucionária.


(Fmal do século XIX.)
- ~- J emanada desse "novo consumidor". É um princípio que eles afirmam com
força:
"Não se trata, evidentemente, de ajustar-se ao gosto individual dos novos consu•
midores. Infelizmente é a isso que o problema é freqüentemente reduzido ( . .. ); não se
\
79
scobrir as parti~ularidades dos novos consumidores en-
trata de gosto. Tra t a-se d e de · íp10s
· 'd a d e aos pnnc · de
t . 'd d
quanto cole 1v1 a e u q. e constrói o socialismo e de dar pnon
planificação". cm

Essa recusa em acreditar que, porque a classe operária ~ra conside-


rada como a classe no poder (trata~a:se, de fato, do exer~íc~o do poder
pelo partido em nome da classe o~e~ana) ela se t_ornara omsc1en~e, e uma
constante na atitude dos construt1v1stas e um smal de sua seriedade. A
LEF (Frente de Esquerda da Arte) também adotara essa atitude, desde os
rimeiros dias do regime soviético. Era um dos pontos que a opunham
ao Proletkult, para o qual a origem de classe dos criadores era primordial
que esperava da p~ópria classe operária a definição de uma n~va cu~tura.
~Vladimir Maiakovsk1 abordou esse mesmo problema em relaçao à htera-
tura. Em um texto intitulado "Os operários e os camponeses não entendem
vocês", publicado em 1928 u4 i, ele mostra que a compreensão do novo não
é espontânea, que ela deve, segundo ele, ser organizada, resultar de uma
formação. Donde não se pode esperar que as massas exprimam direta-
mente suas idéias na área da cultura:

"A arte não nasce enquanto arte de massa, ela se toma arte de massa ao final de
uma série de esforços: estudo crítico para determinar sua solidez e utilidade efetiva
( . . . ) compatibilidade do problema colocado pelo livro com o grau de maturação desse
problema no seio das massas ( ... ) CJ5l
Projeto de um mon~menlo para a T~rceira In~emacional. Wladimir Tatline, Moscou. 1920.
Maquete reconst_ru1d~ pa~a a exP?s1ção Arts in Revolution. LDndres, 1973. Este projeto do
E assim, como para Maiakovski era necessano saber organizar a com- pmtor Tatlme fo1 a primeira manifestação de uma "outra" arquitetura logo pó
preensão de um livro, para os c9nstrutivistas era necessário organizar a de outubro de 1917. · ª s a revo Iuç ão
/ expressão das necessidades novas em função dos objetivos sociopolíticos,
/ tomando cuidado para não confundir as necessidades coletivas com a

MAPT ~
N • •IIOONIU•
expressão de reivindicações de tal ou qual categoria ou grupo.
Voltemos à arquitetura. Em abril de 1928 a OSA já é uma organização
sólida com numerosas ramificações na província. Ela é mesmo capaz de
organizar em Moscou um congresso (que será o primeiro e o último) 06 i 21 A 1
j
durante o qual, em um relatório consagrado à atividade e à doutrina dos JHYPHAn 11
construtivistas, na arquitetura, M. Guinzburg definiu os objetivos buscados
n[noro
1

pelos arquitetos da OSA: WPOHTA 1,



1
''Eu gostaria inicialmente de definir nosso objetivo e nossa doutrina. Dizem que
todo a~quiteto, mesmo o mais alienado dos formalistas, trabalha com um objetivo NCKYCCTB
determmado. Isso certamente é verdade, mas o fundo do problema é que os constru- ••AATEn ... roCN3AAT
tivistas dão à noção de objetivo um outro sig!lificado .beIIL.Pi::.eciso. Se para o -ã rquiteto f l ' a T ~ "NUITW
tradicional o -~b1~ vo é defm1do _.Qela demanda individual, e pãrã Õ..fÜncfonáiista pela ■• ■. ■ AIINO ■ CH ■ li
d«:_,manãa .~ o engaja em função de sua~ ~xJgêncJas sociais, para os construtivista~ o
ODJefivo e a tránsf~tm~ção_:::rgs!~ ª13.os _antigos conceitos e exige do - árquitefo- uma
~Iara tomada cie posição. · tomemos como exemplo a habitaçãoaos·-trabãihâdcires:-Po- -
denamos P~nsárque nesse caso o objetivo é evidente. Essa abordagem sumária, adota-
ª1 P:1ª maior parte dos arquitetos, acaba em uma transferência quase mecânica das
so. •uçoes da residência burgue sa para a res1'd"enc1a· operá na
· ( ... ) Quanto aos constru-
t lVJS t as, eIes a b ordam O blema d o o b'Jehvo
.
m u d anças que se produ pro levando em conta as diferenças as
cri·am . zem nos háb'1tos como resultado de nosso modo de vida • e
as
na·o é po t t premissas de uma hab't1 - d t' . .
açao e 1po mte1ramente novo. O objetivo para nós
, r an o, a execução de d d
com o proletariado a P t' . u1:1a eman a enquanto tal. mas o trabalho em comum
um novo modo de 'vida.'~~,;~1paçao nas tarefas de construção de uma vida nova, de / . Revista do Levyi Front iskustv (Frente esquerda da arte), março de 1923 . Redator chefe:
Vladimir Mai'akovski.
80
/
/_

1
j'

// •
~ 1ft . ~
1

-.

......-1, \ ~ -
Cenografia de Lioubov Popova para Le Coei, Ma gnifique d e Crr,rnmelynck, cnccmu,;ão de
Vsevolod Meyerho ld, Mosco u, 1922. (Maquetc rccon~Lruída para a cxpo~íç[i<> A ri .< in
Revolution, Londres, 1973.)

~?W:.;;
'

l' &--,
· -
.1·' '
.{4 '

Projeto de teatro do arquiteto El Lissitzky para o diretor Vsevolod Meyerhold, Moscou, 1928/29.
o de vida na edificação do
. sse novo mo d . . , . toda uma série de textos de agitação e propaganda da época, como po1 ·
Q ual seria essa
. .
vida nova, e . . r:> Quais seriam os prmc1p10s
t diam part1c1pa . . :> Q l d exemplo em "Por um homem novo", de M. lankovski:
q ual os construuv1stas pre en _ propunha a construir. ua eve-
dessa nova soc1e . d a d e que a revoluçao
, , . para seu desenvo l v1men
se . t o.:> A
"A revolução não está terminada. Depols ela vitória ele oulubru levantaram-se dian-
ria ser o ambiente constru_i~o dprop1tc100 século XIX já nos dá algumas te dela tarefas infinitamente mais complexas do que " da preparação das massas para
. t soc1a1s uran e . , . l 't' a revolução política. Diante do país colocam-se as tarefas ele "revolucionarização" de
história dos mov1men os f buscar os revoluc1onanos po 1 1cos
indicações sobre as font~s _em qu{ º~~:mos que para todos os que, no de-} toda a vida econômica. Mas isso ainda não é nada : l:uloca-se diante da revolução o
problema da reconstrução de todo u modo de vida, ele todo o comportamento de um
e os arquitetos construtiv1stas. em onstrução da sociedade sobre nova~
correr dos secu , los propuseram . . a recnte deveria ser acompan h a d a por um~ país e de seus milhões de habitantes". <21 i
t ão mev1tave 1me .
bases, essa reco'2s ruç . E idéia está presente em todos os escn Tratava-se então de colocar cm ação, além da revolução polltica e das
total reconstruçao do amb_iente. h s:aram de "socialistas utópicos". Nume- transformações econômicas radicais que a acompanham, novos relaciona-
tos daqueles que os 1:1arx1st ªs c ª de aça- 0 os Estados Unidos da América, mentos humanos no trabalho e na vida cotidiana, como os teóricos do
· • · terao por camp 0
rosas expenencias .. . . .dões virgens prestavam-se particularmente marxismo evocavam em seus escritos.
esse "Novo Mundo cu1asdi~enstio Na França O industrial Godin construiu Não nos compete neste estudo .perguntar se esses objetivos tinham, na
ênero de empreen imen . , . A. )
a esse g d d , lo XIX um "familistério" (em Gmse, em me Rússia atrasada e subdesenvolvida do início do século XX, alguma chance
a segunda meta e o secu .• .
n , · organizados em cooperativa. Essa experiencia de serem atingidos. As descrições da vida cotidiana da época, feitas pelos
destinado a seus operarios . . . - . .
• 'ter paternalista contrariava um pouco as mtençoes soc1a1s - que a viveram, permitem-nos duvidar . De qualquer forma, os objetivos
- cuJo cara ·t El onh proclamados pelos dirigentes do país iam em direção a tais transformações .
chama a atenção de F. Engels, que dela fala em seus escri os. a era c e-
.d R, ssia :> Atualmente não é possível responder a essa pergunta, mas Assim, Anatoli Lunatcharski, comissário do povo para a instrução pública
c1
, a na
t ue as · idéias de Fourier penetraram na R,ussia, · on d e N . Tcherny . - nos anos que se seguiram à revolução dizia :
e cer O qu • " .f.. " e s escritos
chevski _ escritor e militante popuhsta - ~s rúss1 1ca em s u, " ,
em especial no seu romance de ficção política em 1865 com o titulo Que "Não se passará mais de um ano ou dois para que essas questões (reít:rentcs ao
modo de vida - AK) ocupem o primeiro lugar em nossa ação, porque o verdadeiro
fazer?"! objetivo da revolução é justamente a reestruturação total do modo de vida".
A heroína do romance de Tchernychevski vê em sonho um e~i~ício que
abrigará na sociedade futura um grupo humano bastante prox1mo das em uma conferência feita em Leningrado a 18 de novembro de 1926 rn, e ele
"Falanges" de Fourier, e ela o descreve como: desenvolverá essa idéia ligando-a às teses de Marx da seguinte maneira:

"Um edifício, um imenso edifício como quase não se vê nem nas m~iores capitais. "O comunismo tem por objetivo a transformação do modo de produção e de dis-
(. . . ) A que arquitetura ele pertence? Não há_ nada d~ seme~~nte hoJe em ?1~; ou tribuição dos bens materiais . Ele pode arrancar meios de produção gigantescos e em
melhor, existe um sinal precursor dessa arquitetura, e o palac10 sob:r_:e a colma em contínuo crescimento das mãos das classes exploradoras que detêm o poder; ele dese-
Sydenham em ferro e vidro, apenas em. ferro e vidro. CISJ ( .. . ) Como sao pequenos os ja instaurar a produção de bens e sua distribuição eqüitativa entre todos os membros
espaços entre as janelas e como elas são grandes, elas ocupam a altura de um andar!C1 9 l da sociedade humana. Mas esse objetivo, essa grandiosa tarefa económica que estamos
longe de ter resolvido quando atingimos nossos objetivos políticos, não constitui nosso
objetivo final, na medida em que o homem não existe para realizar tarefas econômicas,
Vera Pavlovna - a heroína do romance - descreverá da mesma ma- não exist_e para trabalhar: ao contrário, ele se ocupa da economia, ele trabalha para
neira, através de sonhos sucessivos, os çliferentes aspectos do mod_o de existir. Quando Karl Marx determinou os critérios, quer dizer, os meios de medir o
vida do futuro imaginado por Tchernychevski. Ali se encontra o con.1unto desenvolvimento de uma dada ordem social, disse que 'esses critérios eram estabele-
de princípios que constituem a trama da maior "parte das utopias : vida cidos pela possibilidade que uma determinada sociedade tinha de assegurar o desen-
volvimento de todas as possibilidades que o homem possui dentro de si'".
comunitária, refeições em conjunto, cozinhas coletivas, abolição da divisão
Assim, a própria economia - ou seja, a maneira pela qual a humanidade produi.
do trabalho, transformação da natureza, desaparição da cidade tradicional, e distribui os bens materiais necessários à sua existência - só é útil na medida em que
etc. Projetos inspirados nesses mesmos princípios reaparecem durante os permite a organização de uma vida feliz, organizada e fraternal para os homens, na
anos vinte na União Soviética, expressos por alguns dirigentes políticos do medida em que ela permite que todos os talentos que dormem na consciéncia humana
novo Estado, e constituindo a fonte de inspiração dos construtivistas. se desenvolvam dentro de uma existência produtiva e brilhante. Pois é justamente essa
vida que constitui nosso objetivo em termos de modo de vida. Ocorre que a política
O "BYT" ou modo de "ida será um dos termos-chave do discurso social constitui o instrumento necessário à transformação da economia e que a economia
e arquitetônico na URSS. N. Semachko, primeiro-ministro da saúde pública constitui a base da transformação do modo de vida, da transformação da vida cotidiana
no tempo de Lenin, definirá esse termo da seguinte maneira: de cada ser humano." <231

"Com ele designamos o conjunto dos hábitos dos usos e costumes, das crenças e O objetivo, portanto, está claramente definido: transformar, reconstruir
das opiniões pertencentes a um homem ou a urd grupo de homens". <20)
o modo de vida da sociedade socialista. Mas em que sentido? Qual deve
ser o modo de vida de uma sociedade socialista ou, mais exatamente, como
Quanto à i~portância que essa idéia de transformação, de reconstrução
do modo de vida assume para os revolucionários, fica bastante claro em certos revolucionários soviéticos imaginam esse modo de vida?

84 85
r
t e de uma crítica
· te parburguês.
do que então se
· h o, m · d"1v1dualista
·
. dos anos vin Mesqum como por exemplo N. Kroupskaia, a viuva de Lf;nin, que. tod~ su_a vida
· to soc1a1 ueno- ,
O proJe do de vida peq tes de tudo com os aspectos mate- ocupou-se das questões da educa 7ão e _do • e~smo. As •~J?hcaçoes d~
designava como_ moesmo, preocupad~ ande viver os revolucionários opõem tal escolha eram evidentes aos níveis arqu1tetomco e urbamstlco. As habi-
fechado so?r: si. m etc. A essa man~ira ao invés do individual, no despren- ta"ções seriam estudadas em função d ~ prese?ça. ou não _de crianças_? As
. . d ex1stenc1a, coleuvo d d" -
na1s a . social fundada no. na participação de to os na ireçao dos escolas seriam internatos ou externatos? Elas ficariam próximas aos bairros
uma prática bertura, no exterior'. de produção, na transformação das habitados ou, ao contrário, no campo? Essas são algumas das questões cuja
dime~to, na a autogestão dos meiosl ções dentro da família. A família será resposta dependia de opções sociais e de escolhas feitas em relação ao
óc1os, na novas re a . - . ,
ne g _ entre os sexos, nas sos debates nos quais se opoem posições modo de vida.
relaçoes b. eto de numero Alexandra Kollontai, membro do comitê central e futura dirigente da
articularmente,. o J , . . .
~xtremamente diferentes. . a família, no sentido trad1c1onal do Oposição Operária, defendia, em relação. à política familiar, teses radicais
. do marx1sm 0 , , . d d 1 . que, aliás, colocava em prática em sua vida pessoal. Ela escreveu:
Para 05 clássicos . nas um es
tágio transitono o esenvo v1mento da
- . .
termo, constitw ape , . tal qual a conhecemos nao existiu sempre e ":e. tempo d e lem brar que a integração do cód igo da m o ral sexual às_ tar~fas fun~-
. a fam1 1ia 1 , -
sociedade huma , na N medida em que e a e nao apenas uma ce'lula mentais da classe (ope rária) pode ser um a arma poderosa para a consolldaçao da posi-
n ão existirá para sempre. , ª1a econômica as transformações trazidas pelo ção de combate da classe asce nden te ( ... ) O que nos impe_de de utílí?1r o ens ino da
1
,1social mas tamb'em umaceu d '..
família trad1c1onal ao desaparecimento . e a história no interesse d a classe operária e m l_uta por um rcg,m_e_ com~nis~~ e por novas
,. oc1al1smo
. . deve riam con enar ª .
formas de relacionamento. <24 > E d
esaparecenam · relações entre os sexos, m ais perfe itas, m ais completas e mai s felizes? 127 >
• · - por outras .
~ ua subst1tu1çao ódio o
. d" .d lismo O ciúme, o centrar-se em s1 mesmo, o
m
Em uma obra publicada logo após a revolução - em 1918 - e portanto
també m O . ' n de possesiva em relaçao as crianças, que ,, nao
1V1 ua ' - · · - escrita, ao menos em parte, antes "d'A Nova Moral e a Classe Trabalhadora",
. mais minhas ou su ,
ª
amor excl~sivo. e ª i u as mas nossas, da sociedade comunista como
. . l , .
Alexandra Kollontai ~xpusera as id é ias de uma feminista alemã , G. Meisel-
senam undo onde "a união hvre ap01ada pe o espinto de Hess, autora de Die Sexuelle Krise (lena, 1910), sobre "o amor-jogo" e
dO" <m Esse novo m o "amor-livre" que se tornarão objetos de discussão, de entusiasmo, mas
um to • ., d "novas relações entre homens e mulheres assegurarão
camarad~dgemd ,todn e as alegrias do amor livre enobrecido pela verdadeira também de escândalo nos anos pós-revolucionários . A. Kollontai retomou
à humam a e o as • . ,, , d 1 - essas idéias em um romance de ficção política, O amor-livre, o amor das
· 1 ntre os dois conJuges e o . mun o que a revo uçao
igualda de socia e . <ló> ' _ abelhas operárias que colocava em cena um grupo humano do futuro, em,
se propôs a constrmr. .. , parte desembaraçado dos preconceitos "pequeno-burgueses". Essas idéias
Essa 1·deia,. d e u ma transformação completa . da estrutura. fam1har .e foram muito discutidas até no exterior (é com base nessas idéias que a
particu· 1armen t e 1·mportante para a arqmtetura, . . na medida em , . que a. res1- "imprensa burguesa" do Ocidente falará em "coletivização de mulheres na
• ·
dencia cons i u t·t i precisamente o espaço edificado para a famiha
.. • .· Assim, d" os URSS"!), mas tiveram na verdade pouca influência sobre a prática social.
debates em torno do problema da família tiveram consequen~ias iret_as Apesar da URSS ser dirigida por revolucionários, ela continuava sendo um
sobre os trabalhos dos construtivistas, dos quais uma preocupaçao essencial país onde o campesinato representava quase 80% da população e os campo-
era justamente de fazer coincidir seu trabalho profissional com os obje- neses russos (assim como a imensa maioria das outras camadas sociais) não
tivos sociais e políticos do Partido e do Estado. estavam dispostos a abandonar seus hábitos, tradições e as regras precisas
· . Alguns pontos ligados ao estatuto da família gozavam de unanimid~de que dirigiam sua vida cotidiana.
entre os bolcheviques. Entre eles estava o direito ao divó rcio (desconhecido Era na reação dos camponeses e em todos aqueles que ainda estavam
no regime tzarista), a igualdade entre os filhos legítimos· e ilegítimos, a ligados à moral antiga que Lunatcharski pensava quando, em sua confe-
igualdade perante a lei dos dois membros do casal, a legalização do aborto. rência já citada, ele insistia sobre o fato de que as leis já adotadas pelo
O mesmo acontecia em relação aos problemas da "liberação das mulheres", governo em relação à família constituíam o limite extremo do que era
de seu direito ao trabalho e ao princípio que diz: "para trabalho igual, salá- aceitável do ponto de vista da opinião pública, e possível do ponto de vista
rio igual". O acesso das mulheres ao trabalho assalariado implicava em pôr da economia.
à disposição equipamentos destinados à infância, creches, escolinhas Do ponto de vista da opinião, o direito ao divórcio, a aceitação do
e!c· que, mesmo que nunca tenham sido construídos em número sufi- "casamento de fato", do aborto livre, etc. já constituíam medidas ultra-
ciente, sempre tiveram a unanimidade dos dirigentes. Mas quanto a nume- revolucionárias contra as quais os defensores da moral antiga, a Igreja e
rosos pontos, essa unanimidade não existia. todos os que se opunham ao poder mobilizaram-se , apoiados pelo obs-
As _crianças deviam ser educadas pela família ou ao contrário, em locais curantismo e pelos preconceitos das massas. Mas também não era possível
apropriados e sob d" - ' ·1 · ir mais longe por razões econômicas, ao menos durante o período de transi-
tantes pol 't· .
1 icos mclin
ª
ireçao de especialistas? Muitos educadores e m1 1-
h ção, no qual se situa a década de vinte . E. o que Lunatcharski expunha
qualidade
.
da d _ avam-se por essa segunda fórmula. Além da mel or
e ucaçao qu b' em sua conferência:
as vantagens de e pensavam obter assim, consideravam tam _em t,
antigos e retrógra~ma ~ptura com o meio familiar portador de hábitos "Num regime socialista podemos dizer: a sociedade não tem preferência em relaçã o
à maneira pela· qual vocês se amam uns aos outros . Amem-se como quiserem e , quanto
os. as outros dirigentes opunham-se a esses método s ,
86
87
tr
sociedade encarregar-se-á_ de cuidar delas.
_ dessas relações, a ocialista. ( .. .) Pouco importa como se vida material através da a j uda mútua é outra . O desejo - ou melhor, a
. crianças que nasce~ao ridade do sist~rna s nasce, a sociedade se encarrega dela. necessidade - de per mitir qu e as mulheres trabalht:rn na produção é a
1' :isso consiste a ~aruc:~ª rnães. Urna ~~ia:~ª podem não s~ oc:1par ?elas. _Mas hoje
mportarn os pais e tirnentos farnihar as creches nao sao satisfatórias econô-
} terceira. Todas essas raz~es não tê ~, e m . cada caso de for,i;nação ~e u~-~
cAoqueles que não têm _sen( ) Atualrnente, nodses milhares de crianças (tantas quantas - ,·Comunidade", a mesma importância; e aliás nem toda s as Comumdad~s.
1
não podemos . f alar assim · ·
te enquanto e· entenas
d próximas ao est á g10 · amma · 1, e nós não tê m O mesmo perfil, nem ta mpouco realizaram CJ mes mo nível d ~ colet1v1 •
mica e pe dagog1camenJas ruas, ab andona 1. as, • 1as , h umamz · á-Jas e torná-las
r .1 para acolhe-
acolhemos) corr:m pe os os meios ma 1 ~ ~os nessas circunstâncias, dizer: Crescei e
podemos, nós 1:1ªº te~das pelo Estado. o ~ nça~? Não, não podemos". (28)
zação do modo d e vida. Mas toda s tê m em comum um certo num e ro de
características mínimas que , mais urna vez, le mbram, e m certos aspectos, as
criança~ n_ormats ;;ª:os ocuparemos das ena . utopias socialistas ou m es mo religiosas qu e evoc:mos. , _ . .
multiphca1-vos, n . , . , Todas socializaram um certo número d e funçoes que a te cntao faziam
f •t pelo Com1ssano do Povo para a Saude parte da vida cotidiana da família: a cozinha é feita para o conjunto do
. rso será e1 o 1 - ocasionais .
E sse mesmo d1scu ue escreve ra'.. "Então, mesmo as re açoes d , "O E grupo por uma equipe con st ituída dentro do colet1v~ e por uT? período ~e
"p 'blica N. Semac hk o, q E t do?" E ele mesmo respon era: stado tempo dete rminado . Depoi s desse período , outra equ!.Pe ,assumir~ e~sa tare-
u , -das pelo s a . d ,, <29>
deveriam ser assumi mir todas essas espesas . fa, para a qu a l tanto homen s como mulh e r es são designados 10<.11ferenlc·
. pobre para assu S mente . As refeições são feitas cm conjunto. Não se tra ta a penas ' d e uma
ainda é muito ,. f ília" está portanto aberto: e, para a maior
bre a
o debate so ele mtervem,
. nova • am •oda é muito cedo para permitir · · uma 11ber-. questão de comodid ade, mas sobre tudo de um a vCJntadc deliberada de
a1 . quebrar o s hábitos individuali s tas, tornando poss íve l contatos e _troca s
parte dos que n t dos concordam que, em um sistema plena-
dade total, todos ou quas: ºnovas relações familiares, baseadas sobre a socia is e ntre todos os membros da cole tividade . Em certas comumdades
• lista aparecerao . as regras internas obrigam até mesmo que os membros d e uma m esa na
mente soc1a , mulher a liberdade de se umr e se separar, o
igualdade entre hoI_?ef ; e sob,re uma socialização extremamente avan- sala de refeições não sejam sempre os mesmos . O conjunto da s tarefas
11 domésticas também é coletivizado da mes ma forma que a pre paração das
direito de ter ou nao f :s à infância e à educação. É preciso lembrar que
d de tudo que se re en
ça ª , todo tipo de novos meto , d os d e e d ucaçao, - tanto refeições; mas o modo d e vida das comunidades não concerne ape nas à
nessa epoca apare~eu ara adultos e que a fé na possibilidade de trans- - ida doméstica. A coletivização é, ao contrário, apenas uma maneira de dar
para cnanças qua~ º:ana através de métodos educativos novos era muito
formar a ~atureza ~a União Soviética mas também na maior parte dos
cada um o máximo de tempo livrc pa ra seu d esenvolvime nto intel ec tual,
rofissional e físico. Daí a importâ ncia atribuída ao estudo, ao esporte, às
) í1vidades culturais em geral, b e m como à criação cultural d e ntro da
gr~de,dnaoE apenas Os efeitos negativ~s de uma educação inteiramente
paises a uropa. . b .d f. própria comunidade. O salário também é pos to em comum . A maior parte

j
separada do me1 · ·0 familiar não tinham ainda _ sido perce I os e ,a con iança · d desse "orçamento comunal" serve para cobrir a s des pesas correntes . Uma
nos " espec1a · 1·1s tas" em matéria de educaçao , como nas outras areas, am a
parte maior ou menor - freqüentemente mínima - é rese rvada aos "mem-
era muito grande. bros da comunidade" para suas despesas pessoais fora da comunidade.
Assim admitia-se geralmente que o habitat do futuro deveria ser conce- Essa soma é tanto menor, uma vez que quase todas as des pesas são ass u-
bido em novas formas baseadas sobre a nova prática social da qual a midas pela comunidade. Isso inclui a compra de livros , os utensílios neces-
"reconstrução do modo de vida" estava fornecendo as _bases . Essa _idéia foi sários ao trabalho individual de aperfeiçoamento intelectual, a compra de
reforçada pelas experiências de vida comunitária de ongem espontanea que entradas para o teatro ou cinema, as despesas ocasionadas por excursões ,
marcaram os anos vinte. etc. Dessa maneira realiza-se dentro da comunidade a igualdade total em
Não se deve, todavia, exagerar a importância no plano quantitativo termos de salário, prefigurando nessa área a futura sociedade comunista
dessas práticas sociais novas, dessas "Comunidades de modo de vida" da qual falam os teóricos do marxismo e os revolucionários que dirigem
Bytovyi Kommyny). É claro que durante todo esse período (e até nossos o Partido e o Estado. A comunidade aparece, portanto, como a prefiguração
dias) é o antigo modo de · vida que predomina de maneira esmagadora. da estrutura social que, imagina-se nessa época, será comum no futuro .
Essas "Co~unidades" serão consideradas, portanto, durante um bom t~mpo, Trata-se de um modo de vida militante e experimental, didático também,
] como prefigurando as formas de vida do futuro. É Trotsky quem diz, em na medida em que se pensa, dentro da comunidade, que seu exemplo será
"Questões sobre o modo de vida" (Moscou, 1921), que elas devem ser estu- compreendido, aprovado e mais tarde seguido.
dadas com bastante atenção, pois constituem "os germes do futuro" . E 0
~l Congresso do Komsomol (juventudes comunistas) discute esse pro-
ema em 192 9; 0 "Komsomolskaia Pravda" (o jornal dessa organização)
Um projeto de estatuto típico para as comunidades, elaborado em
1928 c30 > define bem, em um texto introdutório, os objetivos das "Comuni-
dades de modo de vida":
~onst~lgrva numerosos artigos a esse assunto· o semanário "Juventude Estu-
an I ermelha" (Kra .. d. , "As tarefas da comunidade são: educar o novo homem coletivo, defensor ativo e
novas ., . snme stu 1entchistvo) relata semana após semana,
expenenc1as quanto à " - , - construtor do socialismo ( . . .) Uma das tarefas da comunidade é a construção do modo
T • s comumdades de modo de vida" . de vida socialista ( ... ) Toda a vida, a atividade e o trabalho da comunidade são diri-
res razões principa· 1. ,, o
desejo de ''v' · d is exp icam a formação dessas "Comunidades • gidos para a criação das condições mais favoráveis à construção conseqüente do novo
iver e outra m · ,, d · 1 te modo de vida socialista ( . .. ) A transformação radical da economia, a mudança nas
mais rico é uma d 1 aneira , e modo mais aberto e soc1a men
e as. A vontade de escapar em parte às dificuldades da relações sociais, conduzem a uma alt eração rad ical do modo de vida . A construção das
88
89
-e , --.
. _ d'tadura do proletariado não ~onstitui .um objetivo em A descrição entysiasta feita pelo autor do texto só 1 ·
comunidades nas con~çoes da ~ansformação do modo d~ vida ~ ~e P;,opaganda pela hoje em dia fazendo-se um esforço para se colocar nas c sde. <::°mpdeta:d1a
si mesmo, mas um me~o para ª ão de um modo de vida soc1ahsta. · 1d , .,.. on 1çoes e v1 a
ação, pelo pôr em prática da construç matena
"é · da epoca . .e. · ao modo de. vida do habitante "médi'o"
· d e uma c1·da d e
. s anteriormente, esses objetivos distantes e sovd1 ~leda os _anosAMv1 nteAo_u tnnta que é preciso comparar O da "comuni-
da
, e · as1 usmas 0 . 1iás, é o que diz o próprio autor• "E ssa rea 1·1zaçao
1 Na verd a d e, como
_ _d issemo, ica razão para a formaçao - d e comunidades -
i' desinteress~dos_ nao. sa<;> ª : cada um de seus membros. As dificuldades e part1cu
" 03> M armente exemplar
•d d se levarmos em conta nossa · h b'
cnse a 1tac10- ·
1 na l .. as as comum a es dos anos pós-revolucionários não devem ser
nem a mot~v~çao ~;i~c:: a falta de tudo, as filas intermináveis, as pavo-
consideradas apenas do ponto de vista das condições materiais de vida.
da vida cot~d!anade hatita~ão incitavam algumas pessoas a se agruparem.
rosas c?n~çoes das para as comunidades eram relativamente mais Tudo demonstra que, além de um conforto bastante relativo, seus membros
proc~ravam também e talvez sobretudo um outro estilo de vida e outras

~
habitaç?esd arruma s antigos apartamentos burgueses divididos entre
nfortáveis
. f íl' o que
O
om cozinha e samtanos• , •
em comum. E m v á nas · pessoas \ relaçoes humanas .
árias arn ,
ias, c
z r-se para ficar nas filas, com mais chances de encontrar,
. . Foram experiências desse tipo que serviram de base aos projetos dos
era possive1 reve a o de primeira . . . d e. E ssas cons1deraçoes
necess1da • - não arq~it_etos que buscavan:i ui:n habitat adaptado, segundo eles, à época do
~ o o ~l Fºdut · sociahsmo. Durante o pnme1ro plano qüinqüenal, alguns edifícios foram ou
estavam ausentes do espírito. ~e alguns membros das comumdades. Do
do nos círculos d1ngentes, quando ao desemprego dos anos estuda~os , p~los arquite~os construtivistas, ou diretamente inspirados em
mesmo mo , . . seus prmcip10s. Ao exam~n~-los somos levados a constatar que os princípios
• t gue-se a falta de mão-de-obra durante os pnmeiros anos do plano
vm e se
1 ... nqüenal e • d proposto_s pelo~ cons~rut1v1stas em termos de materiais, construção, verdade
1 O trabalho das mulheres deixa e ser um ponto doutrinário construtiva, ahrmaçao da estrutura, etc. são bem freqüentemente desres-
; ~:.a tomar-se, do ponto de vis!ª do Estad~, uma necessidade, o governo
peitados e que, apesar da advertência de Maiakovski : "Construtivistas
/ e O partido encorajam a formaçao ~e comumdades, vendo nelas um instru-
tomem cuidado para não se tornarem outra escola estética" o construti'.
mento para o aumento da produçao. vism_o te_nde a to_rna:•s_e um esti~o , um formalismo despojado.' uma coleção
Os documentos que podem ser atualmente consultados em referência de_ cit~çoes ar~mtetomcas ~el:'etmdo os procedimentos de composição dos
às "Comunidades" c3JJ parecem indicar que a maior parte delas foram
! criadas mais por razões sociais e políticas do que por razões de produtivi-
1-;de. São estas, em todo caso, que foram objeto, na época, de artigos e
primeiros proJetos construt1v1stas. Isso se explica pelo estado real da indús-
tria da construção na URSS durante esse período. Existe um desacordo
total entre o discurso sobre a modernidade feito pelos construtivistas e
brochuras, que permitem reconstituir seu espírito e formas de organização d~ _maneira m_a~s geral, por . uma parte dos intelectuais, bem como pelo~
spacial. Seria ousado empregar a palavra "arquitetura" para evocar as d1ngentes pohticos e a realidade material daquilo que Maiakovski chama
terações realizadas pelos membros da comunidade para adaptar o espaço em u_m de seus poemas de "O Egito Russo". c34 > Essa é mais uma razão para
f1 seu modo de vida. As condições materiais da época proibiam qualquer
~ considerar que a contribuição dos construtivistas não foi o "método funcio-
falteração que implicasse trabalhos de construção, ainda que mínimos. ~al" ne~ o discurso sobre a racionalização da criação arquitetônica . ~ a
Quanto à área habitável de~ada-às-€Gmunidades,~ - na melhor das m~egraçao dos problemas sociais à arquitetura e ao urbanismo que consti-
hipóteses ca]ciiiada segundQ..Jl~ normas em yjgor:~ teoricamente de_9.. m 2 tm sua principal originalidade. Essa orientação se torna determinante
por habitante, 3 ou 4 m 2 na realidade, nos imó_veis existentes e totalmente assim que a União dos Arquitetos Contemporâneos (OSA) toma impulso.
inadequados à vida coletiva desejada p ~ me~br~~ das- com~nid;des. A- A partir de meados dos anos vinte, alguns conjuntos habitacionais
diferença com as habitações vizinhas ocupadas de maneira "normal" não foram construídos em algumas grandes cidades da URSS. Mas essas reali-
estav~, portanto, na área, mas sim em sua destinação, como demonstra esta zações não foram objeto de nenhuma pesquisa e reproduziram os modelos
descnção da comunidade dos operários das usinas AMO de Moscou: conhecidos das habitações ditas "populares". Eles provocaram o protesto
unânime nas fileiras <;los construtivistas. A nova sociedade exigia, segundo
a dis~~t~p~tatent~s vizinhos (. • .) viviam _igualmente de 20 a 30 pessoas ( ... ), mas
apartamenios os comodos é. totalmente diferente na comunidade ( ... ) Nos outros eles, um novo tipo de habitação. Sua revista (Arquitetura Contemporânea
. (. · .) peq~enos comodos fechados, o mau cheiro da fumaça das cozinhas ou SA) se encarrega de mostrar que isso não era apenas uma idéia
(· · ·) E aqui, na comumdade'.I U ·"h
um canto uma má . · ma cozi,,.,,a, uma sala de jantar grande e clara ( ... ) em de arquiteto, mas que, ao contrário, os trabalhadores compartilhavam dessa
lado, um cômodo (u~~ de coS t ura "coletiva" para os trabalhos _correntes ( ... ) Ao idéia. Em toda uma série de . cartas endereçadas à revista, os leitores rela-
mesas, livros papel~. tente grande e claro reservado ao estudo ( ... ) Sobre duas
toda aberta. Ígualm~nt~ ª: ca~etas'. uma luminá~ia de mesa com abajur, uma janela tavam discussões a favor de um novo tipo de moradia mais coletiva e contra
cada quarto vivem cimo os, limpos e orgamzados, são os quartos de dormir. Em as habitações antigas:
rados. Armários coletivu30 pessoas; quanto às famílias, elas dispõem de quartos sepa-
casacos e calçados um osb para h . roupa
. branca e vestimentas
· • . para os
lugares espec1a1s "Falamos de um novo modo de vida e continuamos a construir gaiolas inqividuais
·15~º ~o_?segu1~am
. • an erro hmpo com t u d.º em seus 'devidos lugares ( .. .) Tudo
realizar os memb como no passado ( ... ) Constrói-se um edifício de boa qualidade com trinta e seis
tnbwça~ racional de sua ár h ~os da comumdade da AMO com uma simples redis- apartamentos; cento e sessenta pessoas serão nele alojadas. Há nisso qualquer coisa
nos quais tudo esta ciumen:m abtitável , em oposição aos "cantos privados" vizinhos, de novo, adaptado a um novo modo de vida? Nada. ( ... )"<JS>
en e concentrado ( ... ) m>
90 91
. •cem na imprensa cotidiana, nas publi- "As Residências Comunais sàu organiwdas vis·,nclu socializar ., ., •
Declaraçõ~s semelhantt:ás_. apda~: estudantes (Krasnoie studientchistvo) . h d ( ) O , •t d O •
trabal a ores • • • es u
• • . · u muuu uc VIC1a dos
e a ~onstruçao da Rcs ld~ncia Comunitária elevem ser
• d' no seman 110 •
cações sm 1cais, habitat tradicional, contra o apartamento unifa- feitos ~e modo a melhura_r as condições de vida dos t rabalhadorcs. Para isso II célula
Todas se erguem contra O dos usuários, um outro tipo de habitação · habitacional deve ser prevista para duas pessoas, no m(,ximo. Ela deve ser O lugar onde
..
m1har, to d as Pedem • em..nome . . l oca1s
d' ações princ1pa1s: . d e uso comum para' se d?rme, se repousa_ e se faz parte_ do trabalh? intelectual. Outros locai s devem ser
todas avança m duas _re1vm icpressão das cozinhas . . d'1vi'd ua1s
. e sua substi- previstos para todas as outras funçoes . Os locais rcscrvados as crianças devem es tar
m previstos para acolher a todos e par~ que elas uli residam de mancira permuncnte
repouso e descontra_çaho, e ªms~m que prepare as refeições para toda a cole- ( . . ) Todo o trabalho do se~or das crianças eleve ser cs trei tamt·nte li gado à atividade
. - po ruma cozm af conar a representativi
tmçao . 'da d e d os que reclamam a dos pais e de todos os habitantes ela Residênci a Comunal."
1
tividade. Pode-se qufues ºo-es Levando-se em conta os hábitos, os que <lese-
. · - dessas nç ·
colet1vizaçao 'd familiar em um apartamento ou em uma casa indi- Enquanto "condensador social" - um termo chave do vocabulário
. m levar uma v1 a · · d social dos construtivistas -, a Residência Comunal deveria transformar
Java . avelmente representar a ma10na a população. E
.dual deviam prov - , l d
vi . prensa desse maior atençao a pa avra os que se pronun- ativamente seus habitantes . Isso era o que previam os estatutos clahoradm,
p rovável que a 1m , . , l .
pelo "Centraljylstroi":
.
c1avam em favor do novo ' mas e igualmente provave . l que uma . habitação
. ,
. recesse naquela época uma utopia tota mente irreahzavel e
por fam Íl 1ª pa mais valia uma habitaçao · - estu d a d a para a v1'd a co letiva · do "Todos os membros da cooperativa que vivem nas Resi déncia, Comu11ai s se engajam
que nesse cas , 0 ,. h b' - a eliminar em um ano seu analfabetismo assim como o de todos os membros de sua
que' 0 amontoamento de várias fam1has em a 1taçoes supostamente indi- família ( . .. ) que já lenham passado da idade escolar. ( ... ) As pessoas que se mudam
viduais. para uma Residência Comunal se engajam a não transportar para ela seus velhos
F0 i no contexto desse debate que, a julgar pela imprensa, constituiu-se móveis nem elementos que não co rrespondam às condições de vida nessas residênci as
tema importante, que a revista SA lançou um concurso anunciado (utensílios individuais de cozinha, objetos anti-higiênicos, etc .). Todos os que se mu -
em dam para uma Residência Comunal se comprometem ( ... ) a lutar resolutamente con-
comum O título "As novas formas da
h a b 1taçao
' - contemporanea . " . E sse proble-
tra os bêbados, os desordeiros , os beatos, a grosseria, a falta de educação e outra,
ma, escreve a SA: sobrevivências do antigo modo de vida ( .. . ) O acesso às Residências Comunais está
proibido às pessoas acima designadas. A introdução de !cones é igualmente proibida .
"e inteiramente atual, pois nossa vida hoje é diferente da de ~ntigamente; com ( ... ) Os membros da cooperativa que vivem numa resi dência comunitária compro me·
efeito, não podemos fazer entrar um conte~d~ n~vo em formas . que amda ontem eram tem-se não apenas a lutar pela recon strução cio modo de vida, mas também a fazer
válidas ( ... ) mas que não se adaptam mais a vida contemporanea . Responder a essa um trabalho de agitação e propaganda para a socialização nos imóveis vizinhos , na
questão significa romper com os hábitos do pa~sado. e _esclarecer o _que a vi_da e~pe.:a fábrica, na usina, e m seu loca l de trabalho". rm
do arquiteto que recusa totalmente as concepçoes antenor~s de habitat. Enfim, e _nao
mais apelar para as tradições da cultura burguesa nas areas onde ela contradiz o Prefigurando a sociedade futura, os habitantes da Residência Comunal
espírito e o sentido do esforço do país do proletariado e do socialismo em construção. deviam também abolir de seu comportamento tudo que pudesse lembrar
As "Casas Operárias" da cultura burguesa ( . . . ) foram construídas apenas para ate- as estruturas da vida familiar antiga, na medida em que "a famfiia" era
nuar a agudeza de lutas de classes ( ... ) Elas queriam substituir o pensamento opc'.rário
internacional autêntico por outro modo de pensar, também internacional - o modo de considerada como uma sobrevivência. E o que diz o arquiteto V. Kouzmint:
pensar pequeno-burguês. na nota explicativa que acompanha um de seus projetos :
Nós queremos ampliar o horizonte. Desejamos que essa vida nova que se elabora,
esse novo modo de vida evoluam como imaginamos e respondam ao movimento geral "O proletariado deve passar imediatamente à destruição da família enquanto in s-
I 1
da história." 06l trumento de opressão e exploração. Na Residência Comunal considero a familia como
1 :

uma união de pura camaradagem, como uma necessidade fisiológica e historicamente


1 j inevitável entre um operário-homem e uma operária-mulher." ' 391
A partir dessas idéias nasce um tipo novo de habitação : o "Dom
1

1 1
Kommuna" ou "Residência Comunal". Não se trata, como os adversários do Já em 1920, Alexandra Kollontai questionara o centito tr:idicional de
construtivismo dirão mais tarde, de uma "idéia de arquiteto", mas ao con- família e evocara relacionamentos pais-filhos que correspondenam aos pro-
trário da resposta a uma "demanda" expressa tanto pelas experiências es- gramas das Residências Comunais:
pontâneas evocadas acima quanto pelas pesquisas e textos da época. Dire-
trizes oficiais precisas quanto a isso já existiam, tais como o documento "A trabalhadora consciente de seu papel social deve se educar para não mais dife-
publicado com o título de "Decisões tipo em relação às residências comu- renciar entre os teus e os meus· ela deve se lembrar de que existem apenas os nossos
filhos, os da sociedade comunis~a. comuns a todos os trabalhadores ." ,-,i
n~is" (Tipovyi prolojenie o dome kommune) pelo "Tsentrojysoiuz", orga-
msmo central encarregado dos problemas da habitação.cm Sobre esse mes-
Esses termos serão retomados em 1930 por L. Sabsovitch, um dos teóri-
mo ass~nto O mesmo organismo publicou instruções referentes ao modo de
cos da "Cidade Socialista":
oc~paçao da Residência Comunal da RJSKT (Associação Cooperativa Ope-
rária_ de Construção de Habitações). Um texto de 1928 que regulamenta as "Na sociedade socialista ( .. ) não haverá problemas "pais-filhos" ( · .) Um outro
condições
. de vida nas Res1·d·encias
· comuna1s
· esclarece os o b Jetivos
" · d e sse problema será colocado e resolvido: O Pro blema "adultos-crianças" ou "sociedade-
tipo de habitação: crianças". C4ll
92 93
1 Lembremos enfim o que A. Lunatcharski, comissário do povo para a
1 instrução pública de Lenin, tinha a dizer sobre as Residências-Comunais:
"A revolução visa fazer com que todos os homens sejam irmãos ( ... ) Ela deseja
construir grandes residências nas quais a cozinha, a sala de jantar, a lavanderia, a
c;reche, o clube, são concebidos de acordo com os mais recentes avanços da ciência e
[nas quais esses equipamentos] servirão todos os habitantes da Residência Comunal,
alojados em quartos agradáveis, limpos e servidos por água e eletricidade." C42l

Lembremos também os termos líricos consagrados a esse novo equipa-


mento de bairro nos anos vinte: a Fabrika-Kukhnia, a Fábrica-Cozinha.
A função das "fábricas-cozinha" era fabricar as refeições prontas desti-
nadas a serem entregues nos locais de trabalho, a serem levadas para casa
ou a serem consumidas no local. Outra razão parecia militar igualmente em
1 1
1 favor da criação de tais equipamentos: a penúria constante de produtos
"Casa-Comunal", no bulevar Gogol em Moscou, 1928/1929. Arquitetos responsáveis: M. alimentares. Pensava-se que a centralização da preparação dos alimentos
1' Barchtch, 1. Milinis, S.S. Orlovski, A.L. Pasternak, L.S. Slavina (programa semelhante ao do seria fonte de economia.
imóvel do Narkomfin). Arquitetonicamente, a "fábrica-cozinha" era um equipamento inteira-
mente novo. O tratamento que lhe deram os arquitetos seguia formas
emprestadas à arquitetura industrial: galpões, grandes divisórias envidra-
çadas, formas simples, planos estudados com base em diagramas de produ-
ção e de circulação dos produtos nas cadeias de preparação, etc. Mas os
arquitetos freqüentemente buscaram também o efeito "grandioso" desti-
nado a reforçar o valor simbólico desse equipamento, elo importante,
segundo eles, no processo de reconstrução do modo de vida. Inúmeros arti-
gos na imprensa exaltaram o papel socialmente transformador das "fábri-
cas-cozinha", poemas foram-lhe consagrados, como o de um poeta menor:
"Do belo país dos Sovietes
Quem deterá o impulso?
A fábrica de refeições
:e a ponte luminosa para o futuro".C 43l
As páginas precedentes esclarecem, a partir do exemplo das habitações
operárias, as orientações sócio-políticas que os construtivistas procuraram
traduzir em volumes construídos, a partir dos proj~tos freqüentemente
vagos e utópicos que a revolução afirmava desejar realizar, nos -anos ime-.
diatamente posteriores a outubro de 1917. Segundo eles, todo edifício ou
conjunto arquitetônico deveria ser um "condensador social" (termo que
eles criaram}, ou seja, uma estrutura construída que agiria sobre seus utili-
zadores, os habitantes do novo modo de vida, e aceleraria sua mutação
em direção a um objetivo proclamado inúmeras vezes: "o homem novo".
"Nossos trabalhos devem apoiar-se essencialmente sobre um estudo
aprofundado e meticuloso do programa visto à luz de nossas condições
políticas e sociais. Eles devem ter por objetivo essencial a criação dos
condensadores sociais de nossa época. Esse é o objetivo essencial do cons-
trutivismo em arquitetura." cm.
JH,, :.
"Casa-Comunal" para estudantes em Moscou, 1929/1930. Arquiteto responsável: 1. Nikolaiev.
Ao fundo, 0 p~édio das habitações mínimas para duas pessoas. A direita, a entrada dos
serviços coletivos da "Casa-Comunal": sala de jantar, biblioteca, ginásio, creche etc.

9S
1 1
Notas do Capítulo IV
28. LUNATCHARSKI, Anatoli. Du mode de vie. Moscou/Lcningrado, 1927.
. bl" ei vários livros e artigos consagrados à ar- 29. SEMACHKO, N. Le mode de vic et les re/at/ons sexuel/es. Moscou, 1928.
!. Durante os últimos vmte a~os eu P1;1 /quNão era possível nem desejável retomar to-
quitetura soviética dos anos vmte ebtnn ª· na-o é repito uma his.tória_da_ ~uitetura 30. Status lypes pour les communes ouvrieres. Jn : La reconstruction du mode de vie et
0
r sente o ra que - ,___,. · ' 1 í _E__ _ les tâches de la commune. (SOROKINE, A. e MARKOVITCH, l .) Moscou, \928.
dos os seus aspectos na P " . b tos de seus aspectos em a guns pa ses. por
"moderna" mas antes um ~saio so Ore 1~~~imo) - cÕnsagradoàUmão SoviTtica, h:a.tu~: 3~. -~ão me foi possível _consultar em Moscou <.locumcntos <.l c arquivo (de acesso muito
isso que este capítulo (assim como • P. ~ políticos ligados à idéia diretriz dessa época d1h~1l para os_ e~trangeiros) . Esse estudo, portanto, utiliza ape na s os documentos dis-
pomve1s em b1bhoteca.
sencialmente apenas dos aspectos socia~so modo de vic:lá..,.,1Perestroikã' bytar.-Pãr"ã nfãio- ·
da-::-,.- ,. . _..ua tTRSS:"Ã
u1sru--ru1 · recons fruçao
t e urbanismo- - russos, ver- a b'bl'
1 10gra - fi·ia. . 32. GRIGORIEVITCH, A. Naus vivo11S . Moscou, 1930.
. f oes sobre a arqu1te ura O . 33. Idem.
res m ormaç S ierican utopias: The architecture of commumtarian
2. Ver: HAYDEN, Dolores. even an
34. MAIAKOVSKI, Vladimir. La marche des brigades d e choc. Moscou 1928: "Dans
socialism. Cambridge Mass., 1974 · l'obscurite / de l'Egypte russe / comme dcs clous / plantes dcs lampcs ". ·
3. "Tvortchiskii organisatsii". 35 . Jn: SA n.º 1. 1927.
4. Associação dos arquitetos de Moscou. 36. PASTERNAK , Ale"andre. ln : SA n.º 4/5, 1927.
5 Associação dos arquitetos de Leningrado. . 1
· b . d ASNOVA' como por exemplo El Lissitzky, algumas vezes sao co- 37. Citado por KHAZANOVA, V. l.'archit ect1.1re .r nvietique du premier p/an quinquenna/.
Moscou, 1980.
6· Algun~ mem ros
locados ª
Juntos com os c onstrutÍvistas O que · do ponto de vista estritamente organiza- 38. Regulame nto estabelecido pela Ccntral,iylstroi.
cional, é falso. . . 39. KOUZMINE , V. In : SA n .º 4/5, 1928.
7 A OSA (União dos Arquitetos Contemporâneos) se declarava ela mesma construt1v1sta.
s: BOUKHARINE, Nicolai e PREOBRAJENSKI, Evgeni. L'A. B. C. du commumsme.
Moscou, 1920. Paris, Reedição Maspero, 1965.
40. KOLLONTAI, Alexandra. f,a famili e et l'Etat communist e. Moscou, 1920.
41. SABSOVITCH , L. Les villes socialis tcs. Mosco u , 1930.
9. GAN, AJeksei. Konstruktivism . Tver, 1922. _. _ 42. LUNATCHARSKI, Anatoli. Le dixienu: anniversaire d'Octobre et la culture. Moscou ,
1927.
10. "No que consiste nossa tarefa hoje, o que devemos aprender em pnme1ro lu~a~, em
que direção devemos seguir? a necessário trabalhar corretamente - com prec1sao - 43. TCHELNOKOV , S. Nou s détruison.\ l'an cíen mode de vie. ln : Raho tc hiikrai n .° 72,
1925.
com correção, com economia. Temos necessidade de d,esenvolver a cultura do trabalho,
a cultura da vida, a CULl'URA DO MOD<? DE V~~A. ' 1~: TR~T~KY , ~eo~ . . Les ques- 44. ln: Sobremennaia Arkhitektura . n." 4/5, 1927.
tions du mode de vie. Moscou, 1923. Pans, Reed1çao Umon Generale d Ed1t10ns, 1977.
11. "A arte de esquerda é apenas parte do que mais freqüentemente ~hamamos de arte
de vanguarda russa." Ver: GRA Y, Camila. L'avant garde russe dans I art moderne. Lau-
sanne, 1965.
12. PASTERNAK, Alexandre. ln: Sovremennaia Arkhitektura. n .º 4/5, 1927.
13. GUINZBURG, Moisei. Les nouvelles methodes de la pensée arcltí~ecturale. ln : Sovre-
mennaia Arkhitektura. n.º 1, 1926.
14. MAIAKOVSKI, Vladimir. Les ouvriers et les paysans ne vous comprennent pas. Mos-
cou, 1929.
15. Idem.
16. O congresso de 1928 da OSA foi o último, pois a partir de 1929 a União dos Arquite-
tos Contemporâneos e seu órgão Arquitetura Contemporânea (SA) serão alvo de seus
adversários, particularmente a União dos Arquitetos Proletários (VOPRA), grup? _de
arrivistas demagógicos e sem escrúpulos, que em breve ocupariam na URSS as pos1çoes
mais elevadas na área da arquitetura.
17. GUINZBURG, Moisei. ln: SA, n.º 5, 1928.
18. Trata-se, é claro, do Palácio de Cristal construído em Londres por Paxton para a
Exposição Internacional de 1851.
19. TCHERNYCHEVSKI, Nicolai. Que faire? Moscou, 1865. Reedição Editions du Pro-
grés, Moscou, 1967.
20. SEMACHKO, N. Le mode de vie et les relations sexuelles. Moscou, 1928.
21. IANOVSKI, M. Pour un homme nouveau. Leningrado, 1927. _
22. LUNATCHARSKI, Anatoli. Du mode de vie. Moscou/Leningrado, 1927.
23. Idem.
24
-. Essa idéia foi desenvolvida por F. ENGELS em Origem da família da propriedade
privada e do Estado. '
25
- KOLLONTAI, Alexandra. La famille et l'Etat communiste. Moscou, 1920.
26. Idem.
27. Idem.

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