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Gestão do
Sistema de
Transporte
Público
Coletivo
Em dezembro de 2015, o Governo Brasileiro e o Governo Alemão A Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por
assinaram um acordo que estabeleceu o projeto de cooperação téc- meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)
nica intitulado “Eficiência Energética na Mobilidade Urbana” (EEMU), GmbH, em nome do Ministério Federal da Cooperação Econômica e
com o objetivo de aprimorar condições institucionais e técnicas Desenvolvimento (BMZ), da Alemanha, e em parceria com o Ministério
no setor de mobilidade urbana no país, de forma a possibilitar o das Cidades, buscou, com o enfoque da inovação, contribuir para o
aumento da eficiência energética e, por conseguinte, a redução estabelecimento de sistemas de transporte mais equilibrados sob os
de emissões de gases de efeito estufa (GEE), através de ações da pontos de vista sociais, ambientais e econômicos no contexto brasileiro.
gestão da mobilidade urbana.
Nesse sentido, foi desenvolvido o Caderno Técnico de “Gestão
Inspirado nos princípios do desenvolvimento sustentável, co- do Sistema de Transporte Público Coletivo”, destinado a técnicos e
nhecido como A-S-I (Avoid – Shift – Improve) traduzido como evitar gestores das áreas de transporte e mobilidade urbana das esferas
– mudar – melhorar, o projeto tem como enfoque a mudança modal públicas municipal, estadual e federal, com o objetivo de orientar e
para modos mais energeticamente eficientes e também a melhora servir como ferramenta de apoio à decisão quanto aos processos de
dos sistemas de transporte existentes, deixando-os mais atrativos e licitação, concessão e gestão do transporte público coletivo. Para isso,
sustentáveis. Com esse enfoque, buscam-se cidades mais habitáveis o Caderno conta com orientações e discussão de melhores práticas
utilizando soluções alternativas de mobilidade que contribuam efeti- fundamentadas em estudos de casos nacionais e internacionais, li-
vamente para as reduções de emissões de GEEs, ajudando o Brasil a teratura técnica, instrumentos da Política Nacional de Mobilidade
alcançar as metas estabelecidas no âmbito do Acordo de Paris – NDC, Urbana (PNMU) e outras fontes. Acreditamos que o conteúdo resul-
ratificado pelo Brasil em 2016. Nesse sentido, o projeto incide sobre tante é suficientemente amplo para atender as necessidades dos
aspectos essenciais da promoção da mobilidade urbana no Brasil, diversos portes de cidades e denso o bastante para apoiar a tomada
além de contribuir para a efetivação da Política Nacional de Mobilidade de decisão. Esperamos que essa publicação venha a municiar os ges-
Urbana (Lei nº 12.587/2012) e possui forte correlação com a Política tores públicos com informações consistentes que possam auxiliá-los
Nacional sobre a Mudança do Clima (Lei Federal nº 12.187, de 2009). a usar de forma mais efetiva os recursos disponíveis.
2.1 Definições iniciais 39
2.1.1 Modalidades de concessão 40
2.1.1.1 Concessão Comum de serviço público 42
2.1.1.2 Parcerias Público-Privadas 46
2.1.2 Modalidades e tipos de licitação 54
2. ESTRUTURAÇÃO DO PROCESSO DE CONCESSÃO 2. ESTRUTURAÇÃO DO PROCESSO DE CONCESSÃO
2.2 Estudos prévios à licitação 62 2.4 Contrato de Concessão 129
2.2.1 Planejamento do sistema de transporte
63 2.4.1 Monitoramento do serviço prestado
130
2.2.2 Financiamento
65 2.4.2 Formas de extinção dos contratos
132
2.2.2.1 Política tarifária e receitas tarifárias 66 2.4.3 Bens reversíveis
135
2.2.2.2 Receitas extra-tarifárias 71
2.2.2.3 Subsídios 73
3. GESTÃO DO TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO 138
2.2.3 Elaboração do Projeto Básico
76
3.1 Sistema de transporte público coletivo 141
2.2.3.1 Caracterização socioeconômica 77
3.1.1 Acompanhamento das metas de atendimento 141
e do sistema de transporte coletivo
3.1.2 Reajuste da Tarifa pública 147
2.2.3.2 Definição de lotes 78
3.1.3 Comunicação com os usuários 154
2.2.3.3 Plano operacional 82
3.1.3.1 Pesquisas de satisfação 155
2.2.3.4 Especificação da frota, garagem e sis- 83
temas de bilhetagem e monitoramento 3.1.3.2 Atendimento aos usuários 158
2.3.1 Fase interna
97 3.2.1.1 Penalização por infrações 173
técnica e econômica
2.3.2.4 Garantia de proposta 125
2.3.2.5 Garantia de execução 127
2.3.2.6 Constituição de Sociedade 128
de propósito específico
Definição dos conceitos fundamentais
Definição dos
conceitos fundamentais
10 11
lista de abreviações
12 13
Apresentação
Apresentação
14 15
Apresentação
O Caderno de Referência está estruturado em 3 capítulos transporte coletivo urbano, com ênfase nos aspectos relativos aos
principais: sistemas de ônibus, que estão presentes em praticamente todos os
municípios de médio e grande porte do país.
1. Contexto, conceitos e motivação para a gestão do transporte
público coletivo urbano;
2. Estruturação do processo de concessão;
3. Gestão do transporte público coletivo.
1
Contexto, A mobilidade urbana é um tema que tem recebido cada vez mais
atenção nas cidades brasileiras. Os aumentos das taxas de motori-
conceitos e
zação, dos níveis de congestionamentos e os decorrentes atrasos e
perda de produtividade, tornam cada vez mais urgente a melhoria
no planejamento e gestão do sistema de transporte público coletivo
motivação
urbano. Esses impactos indicam que esse sistema coletivo, de forma
geral, não tem sido considerado como uma alternativa ao transpor-
te individual motorizado, pelas pessoas que têm a possibilidade de
do transporte
2012) estabeleceu diretrizes importantes para o enfrentamento dos
problemas da mobilidade urbana, conforme será destacado a se-
guir, neste capítulo. No entanto, ainda se observam dificuldades na
público coletivo
implementação dessa política.
Com relação ao planejamento da mobilidade urbana e do
transporte público coletivo urbano, a PNMU estabeleceu a obrigato-
urbano
riedade da elaboração de Planos de Mobilidade Urbana. Esses planos
têm sido desenvolvidos pelos municípios, incluindo diretrizes para a
melhoria e estímulo ao uso do transporte público coletivo urbano.
No entanto, ainda existem dificuldades em implementar os projetos
e medidas contidos nos planos.
Com relação à gestão do transporte público coletivo urbano,
a PNMU reforça a obrigatoriedade de licitar o sistema de transpor-
te e de estabelecer mecanismos regulatórios e metas de qualidade
nos contratos. Além disto, para atender às diretrizes propostas, é
necessário implementar melhorias no processo de estruturação
de concessões e o desenvolvimento de um sistema de gestão com
18 19
Contexto, conceitos e motivação para a gestão do transporte público coletivo urbano
capacidade para melhorar a capacidade de governança do sistema das concessões, para operação do transporte público coletivo urbano,
de transporte coletivo urbano. e sobre a gestão da qualidade nestes sistemas.
Nesse sentido, é possível observar um avanço nos municípios Desse modo, esse capítulo apresenta nos tópicos a seguir os as-
brasileiros, especialmente no que se refere aos processos de licitação pectos básicos das principais normas jurídicas que regem a elaboração
e concessão do transporte público coletivo. As novas concessões, em e regulação de concessões para a prestação de serviços de transporte
contraposição às permissões existentes previamente, na maioria dos público coletivo urbano, de qualidade, conforme indicado na Figura 1.
municípios brasileiros, definem regras claras para o concessionário, No topo, localiza-se a concessão de transporte público coletivo,
poder público e sociedade, assim como cria estabilidade jurídica pela que se sustenta nos quatro principais pilares apresentados:
existência de um contrato firmado entre as partes, assegurando ga-
• Lei Federal das Licitações (Lei n° 8.666, de 1993),
rantias ao operador para fazer os investimentos necessários, e per-
• Lei Federal das Concessões (Lei nº 8.987, de 1995),
mitindo que o poder público controle e exija o cumprimento do que
• Lei Federal de PPP (Lei nº 11.079, de 2004) e
está estabelecido no contrato, em termos de qualidade de serviço.
• Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587, de 2012).
Além disso, esta lógica imprime transparência a todo o processo.
No entanto, mesmo com os avanços observados nas últimas Além disso, concessões encontram sustentação também na
décadas, as melhorias no planejamento e gestão ainda não tem con- Constituição Federal de 1988 que, além de dispor sobre a natureza
seguido promover um aumento do uso do transporte público coletivo de serviços públicos, fundamenta todo o arranjo normativo e insti-
urbano pela população, o que acarretaria uma maior eficiência na tucional da federação brasileira.
política de mobilidade urbana.
Figura 1 Embasamento normativo das concessões de transporte público coletivo urbano
Para incrementar a implantação dessas melhorias, a Política
Nacional de Mobilidade Urbana poderá contribuir com os municípios,
por meio do estabelecimento de diretrizes nacionais para o sistema; Constituição Federal – 1988
pelo desenvolvimento de modelos de operação do transporte público
urbano; e fornecer referências técnicas, que possam ser efetivamente
utilizadas pelos municípios brasileiros. Este Caderno de Referência
tem como objetivo fornecer orientações aos entes federados, neste
20 21
Contexto, conceitos e motivação para a gestão do transporte público coletivo urbano Política Nacional de Mobilidade Urbana » Princípios, diretrizes e objetivos
Política Nacional de
Mobilidade Urbana
Tópicos relacionados
As definições da PNMU, por consequência, representam a base II. desenvolvimento sustentável das cidades, nas
para o desenvolvimento deste Caderno de Referência. Nos itens dimensões socioeconômicas e ambientais;
a seguir do caderno, são destacados alguns dos elementos mais III. equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo;
22 23
Contexto, conceitos e motivação para a gestão do transporte público coletivo urbano Política Nacional de Mobilidade Urbana » Diretrizes para a
regulação dos serviços de transporte público coletivo
IV. eficiência, eficácia e efetividade na prestação cobrir os reais custos do serviço prestado ao usuário por
dos serviços de transporte urbano; operador público ou privado, além da remuneração do
IX. eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana; prestador, resultante do processo licitatório da outorga do
poder público, constituída pelo preço público cobrado do
Dentre as diretrizes, destacam-se as que se seguem (artigo 6º):
usuário pelos serviços, somado à receita oriunda de outras
II. prioridade dos modos de transportes não motorizados fontes de custeio;
sobre os motorizados e dos serviços de transporte público • Subsídio tarifário (ou déficit): existência de diferença entre
coletivo sobre o transporte individual motorizado; o valor monetário da Tarifa de remuneração da prestação do
III. integração entre os modos e serviços de transporte urbano; serviço de transporte público de passageiros (maior valor) e a
VI. priorização de projetos de transporte público Tarifa pública cobrada do usuário (menor valor);
coletivo estruturadores do território e indutores • Reajuste das tarifas de remuneração: observarão a
do desenvolvimento urbano integrado; periodicidade mínima estabelecida pelo poder público
VIII. garantia de sustentabilidade econômica das redes de transporte delegante no edital e no contrato administrativo e incluirão
público coletivo de passageiros, de modo a preservar a a transferência de parcela dos ganhos de eficiência e
continuidade, a universalidade e a modicidade tarifária do serviço. produtividade das empresas aos usuários;
• Revisão tarifária: podem ser ordinárias (com periodicidade
1.1.2 Diretrizes para a regulação dos estabelecida em contrato administrativo) ou extraordinárias
serviços de transporte público coletivo (solicitada e justificada por alguma das partes), devendo
incorporar parcela das receitas alternativas em favor
Além das diretrizes gerais para a mobilidade urbana, a PNMU define da modicidade da tarifa ao usuário, incorporar índice
também as diretrizes específicas para a regulação dos serviços de de transferência de parcela dos ganhos de eficiência e
transporte público coletivo. Em especial, são abordados os temas de produtividade das empresas aos usuários; e aferir o equilíbrio
política tarifária e financiamento. econômico e financeiro da concessão e da permissão,
Com relação à política tarifária, é definido um conjunto de conforme parâmetro ou indicador definido em contrato.
diretrizes, que devem ser consideradas pelo poder público. Este con-
O atendimento destas diretrizes está relacionado com as ativi-
junto inclui aspectos associados com a organização dos serviços, tais
dades a serem desempenhadas tanto na elaboração dos planos de
como a melhoria da eficiência e eficácia na prestação dos serviços, e
mobilidade e processos de concessão, quanto na gestão do trans-
sobre o estabelecimento e publicidade de parâmetros de qualidade.
porte público coletivo.
Com relação ao regime econômico e financeiro das conces-
No âmbito da regulação dos serviços de transporte público
sões dos serviços, são definidos diversos conceitos:
coletivo, a PNMU define também uma série de requisitos e diretri-
• Tarifa pública: o preço público cobrado do usuário pelo uso zes quanto à contratação de sua prestação por empresas privadas.
do transporte público coletivo, instituído por ato específico Estes são utilizados como referência nos capítulos de Estruturação
do poder público outorgante; do Processo de Concessão e Gestão do Transporte Público Coletivo.
• Tarifa de remuneração da prestação de serviço de Alguns dos requisitos, como a fixação de metas de qualidade
transporte público coletivo urbano: tarifa destinada a e desempenho a serem atingidas e seus instrumentos de controle
24 25
Contexto, conceitos e motivação para a gestão do transporte público coletivo urbano Política Nacional de Mobilidade Urbana » Planejamento e gestão da mobilidade urbana
26 27
Contexto, conceitos e motivação para a gestão do transporte público coletivo urbano Constituição Federal e Leis Federais de Licitações, Concessões e PPP
Concessões e PPP
A Constituição Brasileira de 88 define no Artigo nº 175 que os ser-
Tópicos relacionados
viços públicos devem ser prestados direta ou indiretamente pela
administração pública. No segundo caso, a delegação da prestação A Constituição Brasileira possui papel relevante para a elaboração
do serviço a terceiros exige um regime de concessão ou permissão de concessões por, além de caracterizar-se como a norma jurídica
precedido de licitação pública. A Política Nacional de Mobilidade Urba- máxima nacional, trazer também importantes definições quanto à
na reforça este conceito, ressaltando que a concessão e contratação prestação de serviços públicos, aspecto que define os serviços de
de serviços básicos de transporte público coletivo de passageiros transporte público coletivo. Relaciona-se, portanto, ao conteúdo do
devem ser licitadas. Caderno de Referência por inteiro.
A licitação deve ser processada e julgada nos termos da Lei Por sua vez, as Leis Federais citadas possuem diretrizes e
n° 8.666, de 21 de junho de 1993 (“Lei Federal de Licitações”) e especificações acerca do processo licitatório e dos ritos que
adotando os princípios da impessoalidade, da moralidade, da igual- norteiam os contratos de prestação de serviços públicos por meio
dade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao de concessão e PPP. Estas conectam-se diretamente ao Capítulo2
instrumento convocatório e do julgamento objetivo. Estruturação do processo de concessão, bem como dispositivos
As concessões são uma forma de delegação dos serviços públi- para monitoramento e gestão do contrato acerca de temas como
cos de transporte reguladas pela Lei nº 8.987 de 1995 (“Lei Federal reajustes de tarifa e reequilíbrios, nos itens contidos em 3.2
de Concessões”). Além de reforçar a necessidade de realização de Contratos de concessão.
licitação para concessões de serviços públicos, esta lei regulamenta as
permissões e as chamadas concessões comuns, assim denominadas
após a criação das figuras de concessão administrativa e conces-
são patrocinada, ambas sob a forma de parceria público-privada,
consoante a Lei Federal nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004 (“Lei
Federal de PPP”).
Ainda que a legislação estabeleça claramente os critérios para
licitação e concessão dos serviços, existem diversos municípios em
que os requisitos legais ainda não são atendidos. É o caso de muni-
cípios em que não foram realizadas licitações e não foram firmados
contratos de concessão ou permissão com os operadores privados.
28 29
Contexto, conceitos e motivação para a gestão do transporte público coletivo urbano Prestação do serviço de forma direta pelo poder público
(...)
32 33
Contexto, conceitos e motivação para a gestão do transporte público coletivo urbano Importância e benefícios das concessões
Nesse sentido, é clara a vantagem da realização de concessões O capítulo sobre Estruturação do Processo de Concessão
frente ao modelo de permissões para a delegação dos serviços de apresenta referências para auxiliar os municípios brasileiros no
transporte público coletivo. A maior transparência e estabilidade de processo de estruturação e de concessão dos serviços de transporte
concessões é especialmente benéfica quanto à realização de inves- público coletivo.
timentos pela concessionária, que se sente motivada a fazê-los e ser
remunerada por eles em função da maior garantia de preservação do
equilíbrio econômico-financeiro e do prazo adequado para a amor-
tização dos investimentos realizados.
Importância e benefícios das concessões
Além disso, a clareza e transparência de concessões, ao dimi-
nuírem a percepção de riscos envolvidos na operação por parte da As concessões tornaram-se um importante instrumento de delegação para a
concessionária, possivelmente reduzem também o retorno exigido prestação de serviços públicos por permitirem aplicar a agilidade inerente ao
por ela, uma vez que empresas fundamentalmente exigem maior setor privado na prestação de um serviço público, mantendo o controle com a
retorno para realizarem projetos de maior risco e vice-versa. Ao exigir administração pública, contemplando os seguintes pontos:
menor retorno, cabe ao poder público comparativamente o paga-
• Concorrência pela concessão dos serviços, permitindo ao poder público escolher
mento de uma menor Tarifa de remuneração, otimizando a utilização
a proposta com menor custo e maior qualificação técnica, dependendo do Tipo
de recursos públicos e preservando a modicidade tarifária.
de licitação escolhido;
Na Figura 2, tem-se um diagrama que ilustra algumas das prin-
• Transparência com relação aos serviços especificados, padrões de qualidade,
cipais diferenças entre a utilização dos dois modelos.
custos dos serviços e a forma de seleção da empresa concessionária.
Figura 2 Comparação entre concessão e permissão • O poder público tenha garantias da execução dos serviços com o nível de
qualidade especificado em contrato;
• O concessionário tenha segurança jurídica para realizar os investimentos
CONCESSÃO DE PERMISSÃO DE
SERVIÇO PÚBLICO SERVIÇO PÚBLICO necessários para provisão dos serviços;
• Sejam estabelecidas regras para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro
e para resolução de impasses, evitando interrupções na prestação dos serviços.
Caráter Estável Caráter Instável
Reforça-se a importância da manuten- evidentes nos itens contidos no capítulo
ção do controle pelo poder público, o 2 Estruturação do processo de conces-
Formalizada por meio de
Formalizada por meio que significa que a prestação do ser- são, com evidências à maior segurança
contrato administrativo
de contrato de adesão
×
bilateral, com previsão viço é executada por um ente priva- jurídica tanto no processo realizado
que pode ser revogado
de encargos e direitos
unilateralmente pela do sob delegação do poder público, a dentro da administração pública, como
para o particular e
administração pública quem imputa-se a responsabilidade abordado em 2.3.1 Fase interna, quanto
administração pública
pelo serviço. aos interessados em prestar o serviço e
A importância e benefícios das nas etapas de sua participação, aborda-
Maior segurança jurídica Menor segurança jurídica
concessões ficam mais claramente do em 2.3.2 Fase interna.
ao contratado ao contratado
Serviços de natureza
Serviços que demandam
simples e reduzida
altos investimentos
demanda orçamentária
34 35
Estruturação do processo de concessão
2
Estruturação Nas cidades brasileiras, os serviços de transporte público coletivo
são geralmente prestados por empresas privadas, idealmente sob
do processo de
concessão, por pressupor uma segurança jurídica tanto para o pres-
tador quanto para o tomador do serviço e o beneficiário (passageiro).
No entanto, é responsabilidade do poder público garantir que estes
concessão
serviços sejam prestados de forma que contribua para atingir as di-
retrizes de mobilidade urbana sustentável estabelecida pela Política
Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) e pelo Plano de Mobilidade
de cada cidade.
Para que a concessão atenda aos objetivos propostos, é ne-
cessário que o processo de concessão e os contratos resultantes
atendam aos requisitos legais e, além disto, estabeleçam sólidos
instrumentos e mecanismos para a gestão do serviço prestado, de
modo que o poder público possa certificar-se que a operação aten-
de plenamente às diretrizes do plano de mobilidade urbana e aos
interesses e necessidades da população, que contemplam a garan-
tia da prestação contínua do serviço, a eficiência na sua prestação,
evitando custos elevados, e a garantia de cumprimento dos padrões
de qualidade desejados.
O conteúdo deste capítulo será exposto segundo uma divisão
em três itens distintos, sendo:
1. Definições iniciais
2. Estudos prévios à licitação;
3. Processo licitatório;
4. Contrato de concessão.
36 37
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais
2.1
O primeiro item aborda as definições iniciais, que consistem
do conjunto de diretrizes e objetivos para o sistema estabelecidos
pelo gestor público.
O segundo item aborda os estudos prévios à licitação. Entre os
temas abordados estão o planejamento do sistema de transporte,
Definições iniciais
a elaboração do projeto básico, o financiamento do sistema, a mo-
delagem financeira, a alocação de riscos e as licenças ambientais.
No terceiro item aborda-se o processo licitatório, trâmite que
obrigatoriamente deve preceder a contratação de uma concessão
de transporte público e cuja condução compete aos municípios. Para Uma vez definida a necessidade de prestação de um serviço público,
fins instrutivos, a discussão sobre o processo licitatório será dividida cabe ao ente governamental competente estruturar o processo para
em fases interna e externa, de acordo com a natureza das atividades viabilizar o atendimento das necessidades do cliente final (população)
que as compõem. A Fase interna diz respeito à preparação do edital e mediante a prestação de serviços por entes da iniciativa privada.
respectivos anexos e estende-se até a publicação do edital, enquanto Em primeiro lugar, serão discutidas as modalidades de con-
a Fase interna associa-se à competição entre os concorrentes e de- cessão, de modo a destacar os aspectos gerais de cada uma e suas
senvolve-se até a assinatura do contrato de concessão. vantagens e desvantagens. Existem as seguintes modalidades:
Por fim, são discutidos aspectos a serem considerados nos con-
• Concessão Comum;
tratos de concessão para permitir uma boa gestão contratual. São
• Concessão Patrocinada (PPP);
destacados os cuidados, ferramentas e mecanismos, em âmbito legal,
• Concessão Administrativa (PPP);
a serem desenvolvidos pelo poder público para assegurar uma boa,
completa e tempestiva execução do contrato de concessão. Na sequência, serão apresentadas as diferentes modalidades e
tipos de realização de licitações. A Lei Federal de Licitações indica as
seguintes modalidades de licitações, escolhidos em função do valor
estimado de contratação:
38 39
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades de concessão
de julgamento das propostas de empresas privadas interessadas no contempladas pela Lei Federal de Concessões, foram posteriormente
direito de prestação dos serviços. normatizadas pela Lei Federal de PPP. É o caso, por exemplo, da
Destacamos os seguintes tipos de licitação: constituição de Sociedades de Propósito Específico como condição
indispensável para a assinatura dos contratos de concessão.
• Menor valor de tarifa;
A concessão de serviço público efetiva-se por meio da celebra-
• Maior oferta pela outorga;
ção de contrato administrativo que se sujeita, também, às alterações
• Combinação de menor valor de tarifa e maior oferta pela
unilaterais do poder público e ao direito de recomposição do equi-
outorga;
líbrio econômico-financeiro.
• Combinação de menor valor de tarifa e melhor oferta
pela outorga, considerando primeiramente o resultado do Figura 3 Formas de contratação da iniciativa privada para execução de serviços de transporte público urbano
julgamento da melhor proposta técnica;
• Maior oferta pela outorga após a qualificação das propostas
Concessão
técnicas; comum
Poder
• Melhor proposta técnica (com preço fixado no edital); público Concessão
• Combinação de menor valor de tarifa e melhor técnica; atribui a Concessão
de serviço
particular o Patrocinada
• Combinação de maior oferta pela outorga e melhor técnica; público
exercício da Parceira
• Melhor oferta pela outorga após a qualificação de propostas prestação público-
técnicas; de serviço privada
• Menor valor da contraprestação (definida pela Lei Federal público,
mantendo Permissão Concessão
de PPP); para si a de serviço Administrativa
• Melhor proposta em razão da combinação dos critérios de titularidade público
menor valor da contraprestação e melhor técnica (definida do serviço
40 41
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades de concessão
transporte por empresas que não tenham vencido a licitação; me- No art. 2º, incisos II, III e IV da Lei Federal de Concessões, são
diante certas regras e procedimentos, pode o poder público delegar definidas as modalidades de concessão e permissão de serviços pú-
a prestação dos serviços a um ou mais prestadores, preservando, blicos por ela instituídas:
evidentemente, as condições econômicas e técnicas da coexistência
I. Concessão de serviço público: a delegação de sua
de diversos prestadores em um mesmo mercado relevante.
prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação,
O operador adquire, adicionalmente, porém algumas vezes
na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou
não de modo exclusivo, o direito de uso de bens públicos, tais como
consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu
pontos de embarque e desembarque, estações e terminais. Qual-
desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado;
quer operação do transporte de passageiros nas mesmas linhas ou
II. Concessão de serviço público precedida da execução de
rotas com caráter de serviço público – ou seja, com continuidade,
obra pública: a construção, total ou parcial, conservação,
regularidade dos intervalos e disponibilidade (independência da de-
reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de
manda) – implica usurpação dos direitos do concessionário a quem
interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante
foi delegado o direito de operar determinado bem.
licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou
Além disso, qualquer serviço de transporte prestado continua-
consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua
mente, regularmente e com disponibilidade, mas que não tenha
realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento
sido concedido ou permitido pelo poder público, implica prestação
da concessionária seja remunerada e amortizado mediante a
clandestina de serviço público e pode ensejar procedimento de ree-
exploração do serviço ou da obra por prazo determinado;
quilíbrio de contrato, abordado oportunamente. A hipótese exclui
III. Permissão de serviço público: a delegação, a título precário,
necessariamente serviços prestados em caráter suplementar para-
mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo
lelos aos concedidos, desde que não assumam características de
poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre
serviço público, como continuidade (a ser aferida pela inexistência
capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.
de qualquer sazonalidade), regularidade (a ser aferida pela prestação
em intervalos curtos) e disponibilidade (a ser aferida pela indiferença A concessão de serviço público, concessão de serviço precedi-
em relação ao número de passageiros). da da execução de obra pública e a permissão de serviço público,
não obstante as diferenças que ostentam, devem ser precedidas de
2.1.1.1 Concessão Comum de serviço público procedimento de licitação, na modalidade de concorrência, e são
formalizadas por meio de contrato por prazo determinado, cuja exe-
Concessão comum é a modalidade em que os investimentos realiza- cução, sob o aspecto da atividade desempenhada, ocorre por conta
dos pelo ente privado para viabilizar o fornecimento de um serviço e risco do particular.
de interesse público tem como contrapartida as tarifas pagas pelos Além disso, os investimentos, quando vinculados à realização
usuários dos serviços, ou seja, o poder público não é responsável de obras, também deverão assegurar ao concessionário responsável
por aportes orçamentários regulares. A seguir estão caracterizadas por sua realização um prazo mínimo para que sejam amortizados e
conforme a norma jurídica que as tipifica. para que o particular obtenha o retorno financeiro esperado.
Na Figura 4, indica-se as relações quanto à remuneração entre
os principais atores envolvidos em uma concessão comum.
42 43
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades de concessão
Figura 4 Concessão comum de serviço público Na Tabela 2, encontram-se as principais vantagens e desvanta-
gens associadas à formulação de concessões comuns em comparação
aos outros modelos.
Vantagens desvantagens
Acionista /
Patrocinador Relação contratual estabelecida
Conveniente para a realização
apenas entre o poder público
de empreendimentos com
e o contratado – o usuário
alto grau de definição
não é parte da relação
Cabem ao contratado
Permite maior controle sobre
apenas riscos previsíveis e
o processo pelo órgão gestor
decorrentes da má gestão
Estado Contrato de SPE
Financiamento Financiadores
Concedente concessão Concessionária Menos adequado para a
Adequado para a
prestação dos serviços com
execução de obras
certo grau de complexidade
Tarifa ($)
Riscos de elaboração
e dimensionamento do projeto
são arcados pelo poder público
Impossibilidade de
Usuários
financiamento pelo particular
44 45
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades de concessão
46 47
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades de concessão
Dado o caráter específico dos objetos compreendidos na Lei lei, a fim de proporcionar outra forma de receita para a concessão.
Federal de PPPs, é vedada a celebração das PPP para contratos que Neste sentido, o art. 17 da Lei Federal de Concessões prevê que:
tenham valor inferior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais). Tal
Considerar-se-á desclassificada a proposta que, para sua viabiliza-
diferenciação implica a segunda característica das PPP: o longo prazo.
ção, necessite de vantagens ou subsídios que não estejam previa-
Segundo a Lei Federal de PPP, seu prazo deve variar entre um mínimo
mente autorizados em lei e à disposição de todos os concorrentes.
de 5 (cinco) e um máximo de 35 (trinta e cinco) anos.
Destaca-se a possibilidade de oferecimento de garantia pela Como se disse, tal possibilidade abre caminho para que o usuá-
Administração Pública do pagamento da contraprestação devida ao rio do serviço público seja, na verdade, o grande beneficiário do
parceiro privado. Desse modo, na hipótese de a Administração Pú- Subsídio público, já que permite que o valor da tarifa cobrada seja
blica não honrar os compromissos assumidos, o parceiro privado reduzido: não fosse a parcela de Subsídio potencialmente destinada
poderá executar a garantia prestada. Este tipo de garantia não é à remuneração da concessionária, tal valor, invariavelmente, seria
admitido nas concessões comuns (art. 8º e 16 da Lei Federal de PPP). alocado à tarifa a ser paga pelos usuários.
Deste modo, é possível haver concessão comum que envolva
Concessão Comum Subsidiada e Concessão Patrocinada tarifas cobradas pelos usuários do serviço, receitas acessórias ou
derivadas de projetos associados, bem como a destinação de re-
Tanto as concessões comuns subsidiadas, como a PPP, na Modalidade cursos públicos (subsídios) repassados a título de subvenções para
de concessão patrocinada, atribuem ao poder público uma obrigação investimentos ou, de qualquer sorte, de ressarcimentos.
pecuniária em face da concessão, de modo que demandam o de- Na Figura 5, tem-se um diagrama que representa as relações
sembolso de recursos públicos para a viabilização dos projetos. No quanto à remuneração entre os principais atores envolvidos em uma
entanto, as obrigações pecuniárias do poder público, em tais moda- concessão comum subsidiada.
lidades, diferem-se quanto à destinação dos recursos, no âmbito da
Figura 5 Concessão comum
estrutura de negócio da prestação dos serviços públicos delegados. com Subsídio: Estrutura
Esta diferença recai, sobretudo, no aspecto relativo à função Acionista /
do poder público em prestar auxílio quanto à estrutura financeira Patrocinador
Usuários
48 49
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades de concessão
50 51
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades de concessão
Figura 6 Concessão Patrocinada convencional a operação de terminais ou estações onde a cobrança de tarifa se
mostra inconveniente, visto que o transporte propriamente dito con-
ta com remuneração (total ou, no caso de concessão patrocinada,
Acionista / parcialmente) pela tarifa paga pelos usuários.
Patrocinador
Tabela 4 Vantagens e desvantagens da concessão administrativa
Vantagens desvantagens
Capital/Equity
Desembolso orçamentário e
Remuneração por meio de tarifa e pagamento
limites de endividamento de 5%
Contrato de complementar por parte do poder público
da Receita Corrente Líquida
concessão
Estado SPE Financiamento Financiadores
Concedente Concessionária
Contra- Compartilhamento dos riscos entre o
Parcial risco de inadimplência do poder
prestação poder público e o parceiro privado, na
público e não incentivo ao investidor
pública ($$) forma estabelecida no contrato
≤ 70% da
receita total Tarifa ($) Pagamento posterior à disponibilização Apenas os riscos previsíveis e decorrentes
≥ 30% da receita total da infraestrutura da má gestão cabem ao contratado
Formalização da viabilidade
Valor mínimo de R$ 10 milhões de reais
Usuários econômica do empreendimento
Conforme o Art. 2º § 2o, da Lei de PPP, Concessão Administrativa é Possibilidade de inclusão de obrigações
de investimento não apenas na operação, Maior complexidade na definição de exigências
o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública mas também na infraestrutura
seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra
ou fornecimento e instalação de bens. Relação triangular entre Estado, Impossibilidade de financiamento
concessionária e usuários pelo particular
A principal característica da Concessão Patrocinada é o tipo de
serviço prestado que apresenta grande dificuldade ou inconveniência Forma de prestação de serviços:
quanto à cobrança de tarifa, portanto a totalidade da remuneração parâmetros objetivos fixados pelo poder Maior necessidade de definição dos riscos
da concessionária se dá mediante pagamento, pelo poder público, de público, flexibilidade organizacional pelo do particular e do crivo do equilíbrio
particular e cobrança por desempenho
valores à concessão, não existindo valores de Tarifa pública a serem
pagos pelos usuários. Possibilidade de obtenção
Até pela característica do transporte público coletivo, a figura de receita acessória
de concessão administrativa tem uma aplicação direcionada a al- Fonte: Elaboração própria
52 53
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades e tipos de licitação
54 55
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades e tipos de licitação
Modalidade Valor
a ser prestado com o de melhor técnica;
VI. Melhor proposta em razão da combinação dos critérios de maior
Concorrência Acima de R$1.500.000,00 (Obras e serviços de engenharia)
oferta pela outorga da concessão com o de melhor técnica; ou
Acima de R$650.000,00 (Compras ou outros serviços) VII. Melhor oferta de pagamento pela outorga após
Tomada Até R$1.500.000,00 (Obras e serviços de engenharia) qualificação de propostas técnicas.
de preços
Até R$650.000,00 (Compras ou outros serviços) O tipo da licitação indicará o critério que será utilizado pelo po-
Convite Até R$150.000,00 (Obras e serviços de engenharia) der concedente para julgamento das propostas dos licitantes. Nesse
Até R$80.000,00 (Compras ou outros serviços) sentido, trata-se de uma definição importante para permitir a parti-
Fonte: Elaboração própria a partir da Lei Federal de Licitações
cipação e a posterior classificação de proponentes, os quais devem
ter pleno conhecimento dos critérios de nota para a pontuação de
Quanto à prestação de serviços públicos, a Lei Federal de Con- proposta técnica e proposta comercial apresentada por licitantes.
cessões, no art. 2º, inc. II, define que sua contratação sob regime de A utilização do tipo I visa o menor desembolso para o usuário,
concessão será precedida por processo licitatório na modalidade de modo a promover a modicidade tarifária.
concorrência. A definição dos tipos de licitação, caracterizadas por No tipo II, visa-se a obtenção e conferência de maior vanta-
diferentes formas de julgamento das propostas, depende da Moda- gem econômica à administração pública. Nesse tipo, é necessário o
lidade de concessão a ser realizada. Além disso, conforme discutido estabelecimento prévio do valor da tarifa no edital. Nesses casos, a
anteriormente, concessões comuns são definidas pela Lei Federal de competição se dá não entre empresas dispostas a praticar a menor
Concessões, ao passo que concessões patrocinadas e administrativas tarifa (geralmente Tarifa de remuneração), mas sim entre empresas
são definidas pela Lei Federal de PPP. dispostas a pagar maior quantia pelo direito de prestação do serviço
No artigo 15, a Lei Federal de Concessões estabelece sete tipos concedido e que, para isso, foram mais competitivas ou otimistas
de licitação da modalidade concorrência, aplicáveis para a licitação em relação às projeções do fluxo de caixa, sobretudo de demanda e
das concessões e permissões abarcadas exclusivamente e precipua- de receitas ao longo da concessão. Esse Tipo de licitação, em estado
mente por seu regime: puro, é pouquíssimo explorado no Brasil no contexto dos serviços
de transporte público coletivo.
Art. 15. No julgamento da licitação será considerado um dos se-
Em relação ao tipo III, vale destacar, conforme o § 1o do artigo
guintes critérios:
em questão, que a aplicação das combinações previstas no inciso
I. O menor valor da tarifa do serviço público a ser prestado; III só será admitida quando previamente estabelecida no edital de
II. A maior oferta, nos casos de pagamento ao poder licitação, inclusive com regras e fórmulas precisas para avaliação
concedente pela outorga da concessão; econômico-financeira.
III. A combinação, dois a dois, dos critérios São estas as combinações possíveis, de que trata o inciso III:
referidos nos incisos I, II e VII;
I. Menor valor da tarifa combinada com a maior oferta de
IV. Melhor proposta técnica, com preço fixado no edital;
pagamento pela outorga da concessão (incisos I e II);
56 57
Estruturação do processo de concessão Definições iniciais » Modalidades e tipos de licitação
II. Menor valor da tarifa com a melhor oferta de pagamento pela Além dos critérios a e b mencionados, são contemplados tam-
outorga da concessão, considerando, primeiramente, o resultado bém dois dos critérios da Lei Federal de Concessões:
do julgamento da melhor proposta técnica (incisos I e VII); e
• Critério I Menor valor da tarifa do serviço público a ser
III. Maior oferta de pagamento pela outorga da concessão após
prestado;
a qualificação das propostas técnicas (incisos II e VII).
• Critério V Melhor proposta em razão da combinação dos
Por sua vez, o tipo IV visa escolher a proposta que, do ponto de critérios de menor valor da tarifa do serviço público a ser
vista qualitativo, se apresenta mais vantajosa para a administração prestado com o de melhor técnica;
pública. A empresa que realizar o serviço pelo preço pré-determinado
Embora a Lei Federal de PPP esteja associada às concessões do
e dispor da melhor qualidade técnica será a primeira colocada. É mais
tipo patrocinada e administrativa, os critérios de Tipo de licitação da
aconselhável para projetos de grande complexidade técnica, em que
Lei Federal de Concessões que também fazem parte da Lei Federal
a diferença de técnica entre os competidores pode ser expressiva.
de PPP na verdade só podem ser utilizados para a concessão patro-
De modo geral, tal situação não costuma ser o caso de serviços de
cinada, pois é apenas nesta que se estabelece a possibilidade de
transporte público coletivo por ônibus, em que os operadores geral-
cobrança de tarifa dos usuários.
mente apresentam tecnologias semelhantes e devem disputar pelo
Na Tabela 6, tem-se um resumo dos possíveis tipos de licita-
nível de eficiência na operação.
ção a serem empregados para a realização de cada Modalidade de
Em relação ao inciso VII, segundo Marçal Justen Filho1 “o que se
concessão por concorrência (comum, patrocinada e administrativa).
exige é a apresentação de técnica suficientemente satisfatória para
ser aceita pela Administração. O critério de seleção, portanto, não é
a melhor técnica, mas a maior oferta. A técnica é relevante apenas
porque conduz à desclassificação das propostas insuficientes”. Assim,
o critério de escolha da melhor técnica funciona como uma etapa de
pré-qualificação, sendo que apenas as empresas aprovadas nesta
etapa passam ao julgamento da melhor oferta.
Por sua vez, a Lei Federal de PPP estabelece no artigo 12, inc. II,
quatro tipos de concessões, segundo critério de julgamento:
1 Teoria Geral das concessões de serviço público. São Paulo: Dialética, 2003, p. 257.
Tabela 6 Tipos de licitação por Modalidade de concessão No quadro a seguir, encontram-se a título de exemplos o Tipo
Concessão comum Concessão patrocinada Concessão administrativa de licitação utilizado em algumas cidades brasileiras.
IIIb – combinação de menor V – menor valor de tarifa Cidade Tipo de licitação por
valor de tarifa e melhor oferta e melhor técnica critério de julgamento
pela outorga, considerando
primeiramente o resultado
do julgamento da melhor São Paulo Menor valor de remuneração
proposta técnica para cada passageiro registrado,
desclassificando-se aquelas superiores
IIIc – maior oferta pela ao limite máximo imposto no edital.
outorga após a qualificação
das propostas técnicas
60 61
Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Planejamento do sistema de transporte
2.2
no âmbito da gestão e planejamento da concessão, mas sim
em um contexto mais amplo;
• Deseja-se conferir maior destaque à etapa, considerada
62 63
Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Financiamento
As metas de atendimento podem variar consideravelmente serviços decorrentes de mudanças na demanda, oferta,
entre as cidades, sendo definidas com base em determinações le- política tarifária, entre outros.1
gais como as da PNMU, políticas públicas locais e expectativas e
Para este planejamento, é recomendável que o poder públi-
demandas da população. Alguns exemplos de metas comumente
co conte com ferramentas adequadas e capacidade técnica em sua
utilizadas são:
governança para acompanhar os indicadores, propor mudanças e
• Nível máximo de ocupação dos veículos; tomar decisões relativas a cada um destes temas.
• Frequências mínimas dos serviços;
• Confiabilidade; 2.2.2 Financiamento
• Redução dos tempos de deslocamento;
• Modicidade tarifária; Em uma concessão de transporte público, o equilíbrio econômico-finan-
• Conveniência e conforto; ceiro é permeado por dois tipos diferentes de tarifas, de remuneração e
• Cobertura da rede; pública, as quais se encontram definidas na PNMU. Sua clara distinção
• Acessibilidade; é fundamental ao entendimento do funcionamento da concessão.
A Tarifa de remuneração consiste no valor que o órgão gestor
Entre as principais atividades de planejamento a serem desen-
deve pagar à concessionária devido à prestação do serviço de trans-
volvidas pelo poder público, podemos destacar:
porte público urbano. Seu método de cálculo é determinado por cri-
• Determinar as metas de prestação de serviço e diretrizes de térios estabelecidos no contrato e seu valor é atualizado ao longo do
atendimento desejadas com vistas a garantir o serviço ao período de concessão pelos processos de revisão e Reajuste tarifário.
público desejado pelo administrador; Por sua vez, o termo Tarifa pública diz respeito ao valor pago
• Elaborar plano operacional, definindo aspectos que pelos usuários pela utilização dos serviços. De modo equivalente,
caracterizam a oferta de serviços, como itinerários, receitas tarifárias consistem no valor total arrecadado em um dado
frequências, número e traçado de linhas e outras período em função do pagamento de todos os usuários para utili-
especificações, inclusive na integração com outros modos e zação do sistema.
serviços de transportes. O plano operacional deve atender Para custear a Tarifa de remuneração, o poder público conta
às metas e diretrizes estabelecidas e estimular a eficiência e com algumas opções de fonte de receita. Dentre elas, os principais
eficácia dos serviços; tipos são receitas extra-tarifárias, subsídios e Tarifa pública, conforme
• Formular diretrizes da política tarifária para tornar indicado na Figura 8.
o transporte financeiramente acessível à população,
Figura 8 Relação entre as fontes e usos de receita em uma concessão de transporte público
compatibilizar o volume de receita tarifária às demais
fontes de recursos e à Tarifa de remuneração e atrair e
fidelizar usuários;
Tarifa de
remuneração = Tarifa
pública + Receitas
extra-tarifárias + Subsídios
64 65
Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Financiamento
Receitas extra-tarifárias dizem respeito a recursos originados integração entre as redes de transporte público e privado, entre ou-
por outras fontes além da Tarifa pública, mas ainda relacionadas à tras. Estas diretrizes devem ser levadas em consideração quando se
operação do sistema e que não existiriam com a mesma relevância define a política tarifária do sistema em questão.
na ausência do sistema de transporte público relacionado. Exemplos Uma das possibilidades ao dispor do órgão gestor para a atra-
de fontes deste tipo são propaganda em ônibus, terminais e paradas ção de usuários ao sistema é a definição da estrutura de valores da
e aluguel de espaços em terminais para usos comerciais. Tarifa pública, como indicado na Tabela 8 a seguir.
Por fim, tendo em vista o direito dos usuários ao transporte O tipo de estrutura mais comum em concessões brasileiras é
público de qualidade e o conjunto de políticas públicas traçadas pelo do tipo Única, onde cada usuário paga um valor fixo para o uso do
governo, este pode contribuir para a viabilidade financeira da con- serviço. Pode-se definir apenas um valor de Tarifa pública para todas
cessão por meio de um fluxo anual de subsídios. as linhas municipais ou um conjunto de valores distintos para deter-
Nos itens a seguir, discute-se de forma segregada sobre receitas minados conjuntos de linhas no sistema. No segundo panorama, a
tarifárias, extra-tarifárias e subsídios, principais fontes de recursos tarifa continua sendo única, pois apesar da diferenciação de valores,
para custeio da Tarifa de remuneração. os usuários continuam pagando um único valor para utilização de
cada linha, independentemente da distância percorrida.
2.2.2.1 Política tarifária e receitas tarifárias Além disso, pode-se também cobrar tarifas variáveis pela dis-
tância percorrida pelo usuário, sendo esta variação do tipo discreta,
Segundo a ANTP (2017), a política tarifária estabelece as várias mo- com patamares de valores correspondentes ao embarque/desem-
dalidades de tarifas para os usuários, as formas de pagamento, os barque em determinadas paradas. A Tabela 8 ilustra a diferença
descontos, eventuais benefícios e vantagens, bem como os respec- entre os dois tipos de estrutura tarifária.
tivos beneficiários.
Tabela 8 Tipos de estruturas tarifárias
A política tarifária é parte da política pública e das diretrizes
para a mobilidade urbana em cada cidade. Ela deve ser idealmente Tipos de estruturas Descrição
tarifárias
discutida e ter suas diretrizes definidas no âmbito do Plano de Mo-
bilidade Urbana. Única/Plana Valor de Tarifa pública fixo por uso e
independente da distância percorrida (em um
Nas etapas de elaboração do Projeto Básico e modelagem finan- sistema, pode haver conjuntos de linhas com
ceira para a concessão dos serviços, no entanto, é possível estimar as diferentes valores de Tarifa pública única).
potenciais receitas tarifárias que serão obtidas e avaliar a melhor forma Distância de percurso Diferentes patamares constantes de
de implementar a política tarifária de forma que permita manter o acordo com as estações de embarque e
desembarque em uma mesma linha
equilíbrio financeiro do sistema de transporte público coletivo ao longo
Fonte: Elaboração própria
do tempo. Não obstante, a política tarifária deve ser permanentemente
estudada com o objetivo de tornar o transporte público coletivo mais
atrativo e a mobilidade urbana energeticamente mais eficiente. Além da estruturação do preço da Tarifa pública, pode-se tam-
A Política Nacional de Mobilidade Urbana define uma série de bém oferecer descontos para tornar o sistema financeiramente mais
diretrizes para a política tarifária, incluindo a promoção da equida- acessível aos usuários e aproveitar capacidade ociosa do sistema.
de no acesso aos serviços, melhoria da eficiência e eficácia, promo- É possível, por exemplo, estabelecer descontos ou gratuidades em
ção da ocupação equilibrada da cidade, modicidade para o usuário, horários ou dias específicos, para grupos específicos de usuários, na
66 67
Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Financiamento
integração entre modos, ou ainda para usuários frequentes (por tem- No Brasil é comum contar com tarifas únicas ou planas (que não
poradas). A Tabela 9 apresenta algumas das estratégias utilizadas pelo variam com a distância), com gratuidades ou descontos para grupos
poder público para fornecimento de descontos e atração de usuários. específicos de usuários (idosos, estudantes, portadores de necessi-
dades especiais, entre outros), descontos ou gratuidades em dias
Tabela 9 Formas de variação da Tarifa pública
específicos (por exemplo nos domingos) e descontos na integração
Mecanismos utilizados na
Possibilidades entre serviços de ônibus ou entre modos de transportes.
cobrança de tarifas variáveis
Em outros países desenvolvidos, por outro lado, é comum en-
Dias úteis
contrar tarifas por distância (ou por zonas) e descontos para tempo-
Fim de semana radas (diário, semanal, mensal ou anual). Em alguns casos, inclusive,
Dia típico
Férias o valor varia se é pago com o sistema de bilhetagem eletrônica, ou
Feriados
pago em dinheiro no ônibus.
É importante ressaltar que o poder público não necessariamen-
Horário de pico
Hora do dia te deve ajustar a política tarifária para que ela cubra completamente
Períodos de baixa demanda
a Tarifa de remuneração, dado que, em alguns casos, essa medida
Estudantes poderia tornar o transporte público coletivo menos atrativo para al-
Empresas - Vale-transporte guns grupos de usuários. Por sua vez, a utilização apenas de subsídios
Tipo de usuário
para custeio do sistema em geral também não é viável, pois o poder
Desempregados
público possui a necessidade de investir e prover outros serviços aos
Turistas
usuários além do transporte público.
Viagem simples De fato, a política tarifária é uma das principais ferramentas
Integração
Viagem integrada do poder público para intervir na mobilidade urbana, para atrair
Temporada Dia, semana, mês, ano usuários de outros modos para o transporte público coletivo e, con-
sequentemente, para aumentar a eficiência energética na mobilidade
Bilhetes múltiplos
urbana do município.
Quantidade de viagens Bilhetes unitários
No quadro a seguir, tem-se uma breve contextualização da
contempladas por bilhete Bilhetes ida política tarifária das cidades de Londres e Frankfurt.
Bilhetes ida e volta
Pré-pagamento
Pós-pagamento
Fonte: Modelos de Concessão do Transporte Urbano - Carlos Henrique
Carvalho (IPEA), adaptado de Portal Capacidades
68 69
Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Financiamento
2.2.2.2 Receitas extra-tarifárias
Londres e Frankfurt: Considerações sobre
As receitas extra-tarifárias são aquelas obtidas pelas empresas
políticas tarifárias internacionais
operadoras ou pelo poder público decorrente de outras atividades
As políticas tarifárias em Londres e Além disto, nestas cidades também que não a provisão dos serviços de transporte público coletivo. O
Frankfurt possuem nível de complexi- há descontos para grupos específicos objetivo, de forma geral, é complementar as receitas do sistema de
dade maior que as observadas no Bra- de usuários, incluindo estudantes e forma a permitir a redução das tarifas públicas ou a redução dos
sil. Nas cidades brasileiras, dentro do crianças, por exemplo. No entanto, subsídios necessários.
mesmo município geralmente existe com relação aos usuários idosos, que São frequentes os sistemas de transporte público coletivo que
uma tarifa única para cada grupo de possuem gratuidades no Brasil, em contam com fontes de receita extra-tarifárias, sendo a publicidade o
usuários, não dependendo da distân- Frankfurt existe um desconto de apro- tipo mais frequente delas. Os contratos devem definir, por exemplo,
cia. Por outro lado, frequentemente as ximadamente 30% apenas nos passes se a receita de publicidade nos ônibus fica com o operador, como par-
viagens mais longas ocorrem em um mensais e anuais para os idosos com te da sua remuneração, ou se deve ser compartilhada com o poder
sistema de ônibus metropolitano, que mais de 65 anos de idade e em Londres público, contribuindo com a modicidade tarifária e complementando
pode ter tarifas mais elevadas. Com re- não foram identificados descontos. o lucro dos concessionários.
lação a este ponto, a decisão de adotar Cabe observar, no entanto, que as Além disso, podem existir receitas advindas da locação de es-
zonas tarifárias depende principalmente políticas tarifárias dependem da legis- paços comerciais em terminais e estações, por exemplo.
das políticas públicas de cada local e da lação local, das políticas públicas, dos Na elaboração do modelo financeiro e dos editais para licitação,
capacidade de Subsídio para que a tarifa objetivos relacionados a mobilidade ur- devem ser definidas as regras quanto à obtenção e uso destas recei-
seja acessível a todos usuários. bana e da capacidade de financiamento tas, especialmente no caso em que são obtidas pelos concessionários.
É importante destacar que em Lon- da tarifa por parte dos usuários e do po- Por um lado, devem ser definidos os locais e as especificações
dres e Frankfurt existe uma variedade der público na forma de subsídios. A re- de anúncios que são permitidos, por exemplo nos veículos. Por outro
de bilhetes temporais, sendo diários, se- comendação, neste caso, é desenvolver lado, deve ser definido se o operador deve considerar a apropriação
manais, mensais e anuais, com descon- a política tarifária buscando, da forma dessas receitas na sua proposta comercial com o objetivo de oferecer
tos importantes para os usuários. Ainda mais eficiente possível, atrair os usuá- uma Tarifa de remuneração inferior, ou se as receitas obtidas são com-
que os descontos impliquem, de forma rios para o transporte público coletivo, partilhadas, ficando uma parte como recompensa ao operador pela
geral, na necessidade de subsídios pú- visando melhorar a sustentabilidade e obtenção das receitas adicionais e outra parte com o poder público,
blicos, esse tipo de estratégia é útil para eficiência energética das cidades. para ser utilizada para redução da Tarifa pública ou investimentos
fidelização dos usuários e aumento da no sistema, conforme prevê a PNMU.
demanda do transporte público coletivo. No quadro a seguir, tem-se um exemplo de fontes de receitas
extra-tarifárias utilizadas em cidades brasileiras.
70 71
Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Financiamento
2.2.2.3 Subsídios
Receitas extra-tarifárias
No momento de definição da fonte de recursos para custeio dos ser-
Nos contratos de concessão de Belo Horizonte (2008), estão previstas diversas viços públicos contratados por meio da concessão, o poder público
formas de receitas alternativas, complementares e acessórias ou de projetos pode optar por manter as tarifas públicas em níveis mais baixos que
associados. Estas, devem ser contabilizadas separadamente. Entre os exemplos o valor da Tarifa de remuneração ou, baseado em políticas públicas,
especificados nos contratos*, constam os seguintes: oferecer descontos e gratuidades na Tarifa pública a grupos específi-
cos de usuários. Para cobrir a diferença, o poder público pode contar
I. Rendimentos financeiros derivados da venda antecipada de direitos de viagem;
com subsídios cruzados, intrassetoriais, intersetoriais provenientes
II. Rendimentos financeiros derivados da gestão de recursos
de outros grupos de usuários e principalmente orçamentários.
custodiados pelo agente de liquidação;
Durante a etapa de estudos prévios, o poder público deve cer-
III. Receitas originadas de convênios e da venda de produtos, dados ou serviços
tificar-se, como parte do planejamento do procedimento, do nível de
explorados por meio da infraestrutura e plataformas do SITBus;
Subsídio tarifário que estará ao seu dispor para garantir a remuneração
IV. Receitas oriundas da comercialização de espaços publicitários em mídia,
dos operadores e continuidade do oferecimento do serviço. Mesmo
eletrônica ou não, em ônibus, lojas, cartões, postos e equipamentos de
nos casos em que o poder público deseja cobrir a Tarifa de remunera-
vendas e demais instalações sob responsabilidade da concessionária;
ção integralmente com a Tarifa pública, pode haver desbalanceamentos
V. Receitas oriundas da exibição e distribuição de informações em sistemas
ao longo da concessão, caracterizados por aspectos de risco como
de áudio e vídeo, celulares, modens, dispositivos de comunicação, totens
variações da demanda, custos do sistema e valores de Tarifa pública
eletrônicos ou quaisquer outros mecanismos de transmissão ou recepção;
insuficientes estabelecidos pelo poder público, por exemplo.
VI. Receitas oriundas de parcerias com financeiras, operadoras de crédito, bancos,
Nesses casos, configura-se o déficit tarifário e, dentre as pos-
agentes financeiros, operadoras de telecomunicações e redes de varejo.
síveis formas de cobri-lo, encontram-se subsídios ou subvenções. A
Nos contratos de concessão de Brasília (2013), as receitas extra-tarifárias também PNMU define, em seu Art. 9º, parágrafo 5,
estão previstas em contrato, decorrentes da exploração publicitária, de qualquer
§ 5o Caso o poder público opte pela adoção de Subsídio tarifário,
natureza, no interior ou na parte externa dos veículos das concessionárias, na forma
o déficit originado deverá ser coberto por receitas extra-tarifárias,
física ou eletrônica por meio de televisores ou similares, se e quando implantada, ao
receitas alternativas, subsídios orçamentários, subsídios cruzados
longo da concessão, serão rateadas da seguinte forma:
intrassetoriais e intersetoriais provenientes de outras categorias
I. 50% auferidas pela concessionária, como incentivo e de beneficiários dos serviços de transporte, dentre outras fontes,
II. 50% comporão a conta de compensação, sendo contabilizadas para instituídos pelo poder público delegante.
manutenção do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de
Por sua vez, o Art. 10º da mesma lei define:
concessão e a preservação da modicidade da Tarifa pública.
Parágrafo único. Qualquer Subsídio tarifário ao custeio da opera-
ção do transporte público coletivo deverá ser definido em contrato,
com base em critérios transparentes e objetivos de produtividade
* Contratos de Concessão, Cláusula 12 – Das outras fontes de receitas
e eficiência, especificando, minimamente, o objetivo, a fonte, a
72 73
estruturação Do processo De concessão estuDos prévios à licitação » financiamento
periodicidade e o benefi ciário, conforme o estabelecido nos arts. É importante notar que, em países desenvolvidos, é comum
8o e 9o desta Lei. contar com subsídios públicos no sistema de transporte público co-
letivo. A European Metropolitan Transport Authorities (EMTA) publica
No quadro a seguir, tem-se alguns dos aspectos jurídicos a
anualmente um estudo relativo ao transporte público coletivo em
serem considerados na adoção de subsídios orçamentários para
cidades europeias. A Figura 9 apresenta um gráfico com o percentual
custeio do serviço contratado.
dos custos operacionais que são cobertos por subsídios públicos (eixo
vertical) e cobertos por receitas tarifárias (eixo horizontal).
Observa-se que a maior parte das cidades estudadas contam
com subsídios públicos que cobrem entre 40 e 60% dos custos ope-
Determinações relativas à utilização de subsídios no transporte público racionais. As receitas tarifárias cobrem, em geral, os 40 a 60% restan-
tes. No entanto, em alguns casos existem receitas extra-tarifárias e
Quando o Subsídio utilizado para custeio de uma concessão for proveniente do
subsídios privados (como por exemplos taxas de contribuição pagas
orçamento público (o que costuma ser a regra no Brasil), devem ser observadas
por empresas privadas), como é o caso de Paris.
as regras aplicáveis na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1694 (“Lei do Orçamento
O tamanho das esferas fornece uma visão relativa dos valores
Público”), que estabelece normas gerais de direito financeiro para elaboração e
que cada sistema analisado possuía em 2016 da razão entre custos
controle dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos municípios e do
operacionais anuais e número de pessoas que residem na área con-
Distrito Federal, além da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (“Lei de
templada pelo sistema.
Responsabilidade Fiscal”).
As cores utilizadas refletem a porcentagem dos custos opera-
A Lei do Orçamento Público estabelece particularidades para as subvenções
cionais paga por meio de subsídios orçamentários. A maioria dos
(art. 12, §2º), para as transferências de capital (art. 12, §3º) e para contraprestações
sistemas analisados encontra-se na faixa de 40 a 60%, sendo que
pela aquisição serviços e bens pela entidade governamental que realiza o Subsídio
sistemas (I) abaixo de 40% receberam a cor amarela, (II) entre estes
(art. 12, 6º). Tendo em vista que as contraprestações são aplicáveis aos subsídios
limites receberam a cor verde e (III) acima de 60% receberam a cor
utilizados em regime de preço do serviço, resta claro que os subsídios mencionados
laranja, como é o caso de Praga.
na PNMU não possuem tal natureza.
No que toca às subvenções, o art. 19 da Lei de Orçamento Público obriga que a fiGura 9 Cobertura de gastos operacionais do transporte público coletivo urbano na Europa
sua realização a empresas lucrativas, tal qual as concessionárias em contratos de
• Art. 19. A Lei de Orçamento não consignará ajuda financeira, a qualquer título, a
empresa de fins lucrativos, salvo quando se tratar de subvenções cuja concessão
tenha sido expressamente autorizada em lei especial.
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Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Elaboração do Projeto Básico
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Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Elaboração do Projeto Básico
habitação, perfil de deslocamentos, distâncias viajadas, motivos de das metas, a segmentação da rede é também uma boa prática a ser
viagens etc dentro da área de estudo. utilizada no processo licitatório, durante a definição dos objetos a
A determinação dessa dinâmica tem por objetivo subsidiar as serem concedidos.
políticas públicas de mobilidade de modo a atender a população de
maneira eficiente e otimizada. Figura 10 Definição de bacias/setores/lotes
A caracterização do sistema de transporte coletivo, por sua vez, objeto de outorga bacias / setores / lotes
visa retratar o sistema existente na área de estudo e compreender com diversas linhas
como a população e sua dinâmica de deslocamentos (como citado (itens) cada uma
anteriormente) se enquadram nesse sistema.
divisão espacial
De posse desse cenário, finalmente o gestor pode partir para
as definições do sistema para o atendimento das necessidades e
satisfação das políticas públicas definidas pela administração.
Exemplo de aplicação
Assim, durante o planejamento do processo licitatório, o órgão
Durante a caracterização socioeconômica, identificou-se um bairro cuja população é
gestor deve estudar o perfil e as particularidades da área (ou tota-
composta de famílias de renda baixa e com deslocamentos diários para o centro da
lidade da rede) cujos serviços de transporte público coletivo serão
cidade por motivo de trabalho, predominantemente. Paralelamente, identificou-se
concedidos à iniciativa privada e, visando aspectos como a promoção
que a oferta de transporte coletivo à região sofre a pressão da demanda, devido à
de competitividade à licitação, economia de escala e melhor proposta
sua baixa frequência.
para o poder público e usuários, propor uma adequada segmentação
O administrador, apoiado por essas informações, pode então definir uma rede
e definição de objetos das concessões.2
mais frequente para atendimento de tal local de modo a prover à população um
A segmentação pode ocorrer em:
transporte com a frequência adequada e a um custo compatível com a faixa de
renda identificada. • Bacias, áreas ou lotes
·· Trata-se do método mais adequado para a outorga
de serviços que exijam uma escala maior de demanda
e recursos, o que é compatível com a concessão dos
2.2.3.2 Definição de lotes serviços de transporte público urbano;
·· Na prática, ocorre a concessão de um conjunto de linhas
É comum que a regulação municipal organize o sistema de trans- para um mesmo e único licitante, individual ou em
porte público coletivo em áreas (ou bacias, setores ou, ainda, lotes), consórcio, e torna mais simples a criação e extinção de
que correspondem a uma divisão espacial do território do municí- linhas dentro das bacias, por exemplo;
pio servida por uma parte da rede de transporte público coletivo.
• Itens ou linhas
Além de ser uma prática que pode facilitar a gestão do sistema de
·· Tendo em vista a estrutura necessária ao órgão gestor
transporte público coletivo como um todo e o acompanhamento
para a gestão e monitoramento de cada concessão, a
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Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Elaboração do Projeto Básico
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Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Elaboração do Projeto Básico
Esse plano deve estar alinhado com o planejamento do sistema • Possibilitar às empresas privadas participantes do processo
de transporte público coletivo como um todo e ser orientado pelas licitatório maior confiabilidade na estimativa de investimentos
diretrizes da mobilidade urbana do município ou região em que está a serem feitos por ela nessas áreas, dando a elas maior
inserido. Nesse sentido, esse dimensionamento deve tomar como propriedade na elaboração de suas propostas comerciais;
base os resultados oriundos do planejamento, tais como a rede de • Estabelecimento com maior precisão dos gastos
serviços, demandas e regras tarifárias, para então definir as frequên- do operador e consequentemente de sua Tarifa de
cias e as frotas de cada linha conforme as metas do sistema. Essas remuneração, tendo em vista que os investimentos sob
metas podem incluir, por exemplo, uma taxa de ocupação máxima responsabilidade da concessionária serão, durante o
dos veículos e/ou uma frequência mínima para cada tipo de serviço. período do contrato, remunerados pelo poder público por
Os itinerários e frequências dos serviços são fatores centrais meio da Tarifa de remuneração.
para torná-lo atrativo. Nesse sentido, além de garantir que as metas
O foco e objetivos de especificações de cada tipo de ativo varia
de atendimento e cobertura do planejamento sejam atingidas, é ne-
um pouco conforme sua natureza e aplicação. No caso de sistemas
cessário dimensionar a operação para garantir que os níveis de con-
ITS (Sistemas Inteligentes de Transporte, em inglês), caso aplicável,
forto, regularidade e confiabilidade, por exemplo, sejam adequados.
o edital deve prever todos os equipamentos a serem instalados nos
No entanto, é importante destacar que o dimensionamento
ônibus e centro de controle para monitoramento tecnológico da ope-
dos serviços deve considerar também as questões relacionadas com
ração, especialmente por sistema de posicionamento global (GPS) e
o custo da operação. Por exemplo, ao aumentar a frequência dos
bilhetagem automática, bem como funcionalidades de cada equipa-
serviços, é importante verificar se as receitas (tarifárias, extra-tarifá-
mento e a configuração do fluxo de informações coletadas por eles
rias e subsídios) são suficientes para cobrir o aumento dos custos.
para o órgão gestor. Seu foco reside principalmente no aumento de
eficiência do monitoramento dos serviços.
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Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Modelagem financeira
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Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Alocação de responsabilidades e riscos
como a alocação de riscos e atendimento às metas de transporte Por meio da modelagem financeira, pode-se calcular os fluxos
público coletivo, para encontrar o arranjo que concilie da melhor de remuneração necessários para cada um dos possíveis prazos da
forma possível o atendimento aos interesses do poder público e concessão. Desse modo, pode-se unir o planejamento estratégico,
população a redução de custos do serviço. associado a aspectos qualitativos de alocação de riscos, gestão da
Dentre essas premissas de arranjo e plano de negócios, uma das concessão e arranjo contratual, ao planejamento financeiro, com
principais é o prazo da concessão. De modo geral, pode-se dizer que: o cálculo de uma estimativa de quanto cada alternativa custará ao
orçamento público e à população, de modo a otimizar o uso de re-
• Prazos curtos
cursos e a obter maior assertividade no planejamento da concessão.
·· Aumentam o poder de barganha do órgão gestor durante
a gestão da concessão e favorecem a competitividade no
setor, já que haverá um número elevado de processos
2.2.5 Alocação de responsabilidades
licitatórios e, portanto, de oportunidades para a obtenção
e riscos
do direito de prestação dos serviços;
Um dos aspectos que contribuem para a clareza e transparência de
·· Por outro lado, o órgão gestor possui um período menor
concessões é a correta definição dos direitos e deveres de cada uma
para remunerar os operadores pelos investimentos
das partes a serem considerados durante a gestão contratual. Este
realizados, como aquisição de frota e reformas de
processo consiste na alocação de responsabilidades, diretamente
garagens. Isto faz com que a Tarifa de remuneração paga
relacionada à especificação dos serviços e seu nível de qualidade,
em cada período seja maior do que na situação em que o
bem como à remuneração exigida pelos operadores.
prazo é mais longo;
Uma vez estabelecidos os critérios de remuneração pela pres-
·· Além disso, o aumento da frequência de realização de
tação dos serviços, os parâmetros de qualidade e de nível de serviço
licitações pode ampliar os custos do poder público;
desejado e as responsabilidades do órgão gestor e operadores, está
• Prazos longos
garantido o equilíbrio econômico-financeiro na concessão enquanto
·· Apresentam maior atratividade para os operadores, que
as definições iniciais forem mantidas. Ao longo do prazo contratual,
em geral sentem-se mais confortáveis quanto à realização
no entanto, podem ocorrer eventos que influenciem a relação entre
de investimentos de grande porte;
as partes envolvidas no contrato, em geral com implicações econô-
·· Há uma possível redução da tarifa técnica devida
mico-financeiras, o que consiste em risco da concessão.
principalmente à ampla extensão do prazo para
Assim, deve-se definir no edital quais desses eventos de risco
remuneração dos investimentos realizados pelos
motivam a realização de reajuste ou revisão da Tarifa de remunera-
operadores;
ção e quais devem ser assumidos pela parte contratual correspon-
·· Operadores possuem maior poder de barganha, o que
dente, sem direito a correções do fluxo de pagamentos. Na Tabela 10,
pode levar a dificuldades no diálogo entre as partes
tem-se um exemplo de alguns dos principais tipos de riscos a serem
contratuais e em eventuais ajustes do contrato;
considerados na modelagem jurídica e arranjo geral da concessão.
• Prazos médios
·· Combinam, em menor escala, as vantagens e
desvantagens dos outros dois tipos;
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Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Alocação de responsabilidades e riscos
Tabela 10 Exemplos de fatores de risco e suas possíveis causas De modo geral, o retorno exigido por empresas é proporcional
Fator de risco Exemplos de causas ao risco que elas correm. No âmbito da concessão de transporte
Demanda Erros de projeção da demanda nos público coletivo, quanto maior a quantidade de riscos alocados na
estudos do poder concedente concessionária, maior será a rentabilidade exigida, embutida na pro-
Variação do poder de compra da população, posta econômica enviada durante o processo licitatório.
renda e demais aspectos macroeconômicos
A isenção de cada tipo de risco por parte do poder público, des-
Competição modal
se modo, em geral leva a maiores valores de Tarifa de remuneração.
Interferência do poder público, como Cabe ao órgão gestor, portanto, o estudo dos riscos envolvidos na
decisões de política tarifária
concessão para a obtenção de um arranjo de eficiência econômico-
Oferta Variação da frota necessária devido
ao aumento da demanda -financeira, de modo a preservar os recursos públicos e princípio da
Variação da frota necessária devido a modicidade tarifária.
excessivos eventos de defeito e reparos Desse modo, recomenda-se a alocação objetiva dos riscos entre
Erros de projeção da quilometragem percorrida as partes para alavancar a atratividade financeira do projeto sem
nos estudos do poder concedente prejudicar a adequada prestação do serviço. Os riscos da atividade
Custos operacionais Responsabilidade civil, administrativa e criminal empresarial não impedem que o poder concedente assuma riscos
penal por danos ambientais e a terceiros
relativos à demanda dos serviços e a eventos de ordem política,
Variação nos preços de equipamentos
tecnológicos a serem implementados
mesmo no âmbito das concessões comuns.
88 89
Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Alocação de responsabilidades e riscos
Em 2015, a Prefeitura Municipal de São José, município localizado na Região conforme indicada na Tabela 11. Caso ocorram em algum momento durante o
Metropolitana de Florianópolis, em Santa Catarina, publicou edital de concor- prazo do contrato, os tipos de eventos alocados no poder público motivam a
rência relativo à concessão da prestação de serviços de transporte público realização do processo de Revisão tarifária. Por sua vez, eventos alocados na
coletivo. Um dos editais publicados junto ao edital refere-se à matriz de risco concessionária não o motivam, sendo que para mitigá-los, a concessionária
formulada para a orientação da alocação de riscos entre as partes contratuais, deve contar com mecanismos de controle da operação.
Ambiente Redução/aumento inesperada da demanda Público/Privado Médio/Alto Incentivos tarifários e outros para estimular a
Macroeconômico causada pelo desempenho da economia demanda. Cláusula contratual prevendo reequilíbrio
pelo excesso/redução da demanda
Desvio de modal Redução da demanda permanente por desvio Público Médio Implantação pela concessionária de mecanismos
para novo modal concorrente (trem teleférico) que visem o aumento da competitividade
Greves ou paralisações Econômico Greves ou paralisações promovidas Privado Médio Implantação pela concessionária de
dos empregados pelos empregados da concessionária mecanismo que visem o entendimento
Custos operacionais Tecnologia Tecnologia empregada nos Privado Baixo Implantação pela concessionária de mecanismos de controle
serviços da concessão
Responsabilidade Responsabilidade civil, administrativa e Privado Baixo Implantação pela concessionária de mecanismos de controle
criminal penal por danos ambientais e a
terceiros decorrentes da operação das linhas
Perecimento Perecimento, destruição, roubo, furto Privado Baixo Implantação pela concessionária de mecanismos de controle
ou perda de bens da Permissão
Financeiros Capital Aumento do custo de capital Privado Médio Implantação pela concessionária de mecanismos de controle
Taxas de câmbio Variação das taxas de câmbio Privado Médio Implantação pela concessionária de mecanismos de controle
Inflação Inflação superior ou inferior ao índice Privado Médio Implantação pela concessionária de mecanismos de controle
utilizado para reajusta da tarifa
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Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Licenças ambientais
A utilização do transporte público coletivo possui maior eficiência Licença prévia Concedida na fase preliminar do 12 (doze) meses, caso haja
energética do que o transporte privado individual (automóveis), pois planejamento do empreendimento ou a necessidade de EIA/RIMA
atividade, aprovando a sua localização e e/ou audiência pública;
é capaz de transportar um dado número de pessoas com menor concepção, atestando a viabilidade ambiental
consumo de combustível, utilização da malha viária e emissão de e estabelecendo os requisitos básicos e 6 (seis) meses, nas
condicionantes a serem atendidos nas demais hipóteses;
poluentes. No entanto, ainda sim trata-se de uma atividade potencial-
próximas fases de sua implementação.
mente causadora de degradação ao meio ambiente. Nesse sentido,
pode ser necessário o licenciamento ambiental de alguns dos objetos Licença de Autoriza a instalação do empreendimento ou 6 (seis) meses
instalação atividade de acordo com as especificações
da outorga, tais como as garagens, por exemplo. constantes dos planos, programas e
A Lei Federal n° 6.938/1981 (“Lei da Política Nacional do Meio projetos aprovados, incluindo as medidas
Ambiente”), alterada pela Lei Complementar n° 140, de 08 de dezem- de controle ambiental e condicionantes, da
qual constituem motivo determinante.
bro de 2011 (“Lei Complementar 140/2011”), dispõe que a constru-
ção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e Licença de Autoriza a operação da atividade ou 6 (seis) meses
operação empreendimento, após a verificação do
atividades utilizadores de recursos naturais, efetiva ou potencialmen-
efetivo cumprimento do que consta das
te poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação licenças anteriores, com as medidas de
ambiental, dependem de prévio licenciamento do órgão ambiental controle ambiental e condicionantes
determinadas para operação.
competente, o qual estabelecerá as condições, restrições e medidas
de fiscalização do empreendimento. Fonte: Elaboração própria
92 93
Estruturação do processo de concessão Estudos prévios à licitação » Licenças ambientais
94 95
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase interna
2.3
• Celeridade;
• Competição.
96 97
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase interna
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Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase interna
posta do licitante vencedor do processo licitatório, sendo suscetível Nomenclatura Cost-Plus Gross-Cost Net-Cost
a alterações por meio de revisões e reajustes tarifários – processos em inglês
abordados no Capítulo 3 e que também devem ser especificados no Forma Indireta Indireta Direta
contrato – para a retomada do reequilíbrio econômico-financeiro Principais Foco na qualidade Foco na eficiência Foco na eficiência operacional,
entre as partes contratante e contratada. Vantagens do serviço e oferta operacional, dado que os dado que os operadores
adequada, dado operadores são motivados são motivados a buscarem
O cálculo da Tarifa de remuneração pode ser estruturado se-
que os operadores a buscarem maior maior receita tarifária (não
gundo três principais formas, podendo haver variações dentro de são remunerados demanda e reduzirem necessariamente demanda) e
cada um deles. pela oferta custos operacionais reduzirem custos operacionais
A primeira delas é a remuneração em função da oferta, geral- Reforça a autonomia Órgão gestor com Menor custo de
mente expressa pela quilometragem total percorrida pela frota no do órgão gestor em autonomia em relação monitoramento
relação à especificação à especificação do realizado pelo
intervalo especificado. Também chamado em inglês de Cost-plus con-
do serviço (criação de serviço (criação de órgão gestor
tract, o modelo possui foco na qualidade do serviço, pois o operador linhas, aumento da linhas, aumento da
possui motivação financeira para atender às solicitações do órgão oferta, definição da Tarifa oferta, definição da Tarifa
pública, dentre outros) pública, dentre outros)
gestor de aumento da quilometragem percorrida, pois é remunerado
em função dela. Principais Falta de incentivo à Pode comprometer a Pode comprometer a
Desvantagens eficiência operacional, qualidade do serviço, dado qualidade do serviço, dado
Em seguida, tem-se a remuneração por passageiro equivalente, dado que o que o operador pode sentir-se que o operador pode sentir-se
também chamada em inglês de Gross-cost. Esse modelo prioriza a operador recebe motivado a reduzir a oferta motivado a reduzir a oferta
eficiência, dado que a receita do operador é proporcional à receita pela quilometragem e aumentar a ocupação e aumentar a ocupação
percorrida média dos veículos média dos veículos
tarifária recolhida e, ao reduzir seus custos para valores aquém dos
Órgão gestor deve ter - Compromete a autonomia
indicados na proposta durante o processo licitatório, o operador pode
alta capacidade de do órgão gestor de
obter ganhos de produtividade e ampliar sua rentabilidade, desde monitoramento para especificação do sistema,
que não haja piora na qualidade dos serviços prestados. ter pleno conhecimento pois o operador pode exercer
da demanda e custos pressão para aumento da
Por fim, tem-se a remuneração diretamente pela Tarifa pública,
do operador Tarifa pública, desativação
em que a receita tarifária recolhida durante a operação vai direto de linhas deficitárias/pouco
para o operador. Assim como no modelo anterior, nesse modelo, eficientes e alterações
no plano operacional
também chamado em inglês de Net cost, o órgão gestor deve moni-
torar o serviço para garantir que o operador não reduza a oferta e o Fonte: Elaboração própria
100 101
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase interna
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Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase interna
2.3.1.2 Elaboração do edital
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Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase interna
alguns dos principais tópicos de editais, de modo a discutir breve- • Principais termos utilizados nas cláusulas contratuais ao
mente cada um deles para se obter um panorama introdutório geral longo do corpo do contrato;
das definições presentes em um edital. A seguir, encontram-se os
seguintes subitens: Habilitação, critérios de julgamento das propostas e recursos
• Definições gerais;
Atendendo aos princípios da clareza e transparência no processo
• Habilitação, critérios de julgamento das propostas e
licitatório, bem como de fornecer a mesma quantidade de informa-
recursos;
ções a todos os interessados visando a competitividade no processo,
• Orientações gerais do procedimento;
os critérios de habilitação das empresas, julgamento das propostas
• Bens reversíveis;
e formulação de recursos que devem ser extensivamente definidos
• Prorrogação e extinção do contrato;
no edital.
• Deveres da concessionária;
Deve haver ainda uma clara relação da documentação neces-
• Critérios de remuneração e outras questões financeiras;
sária à concessionária para entrada no processo de habilitação e
• Especificação do nível de serviço e instrumentos de gestão
direito à participação no processo de concorrência.
contratual;
• Anexos: minuta do contrato, descrição dos serviços,
Orientações gerais do procedimento
especificações da frota, equipamentos e veículos, forma de
fiscalização dos serviços, entre outros.
Além dos processos de obtenção de habilitação, julgamento das pro-
postas e recursos, alguns dos eventos principais da Fase interna do
Definições gerais
processo licitatório, o edital deve orientar as empresas interessadas
também quanto às demais etapas do procedimento, como:
Na primeira página e no conjunto inicial de cláusulas do edital, de-
verão estar presentes aspectos gerais que caracterizem o arranjo de • Local e data para retirada do edital;
concessão adotado, como, por exemplo: • Instruções para formulação e modo de envio das propostas;
• Condições de participação no processo licitatório;
• Tipo e modalidade da licitação;
• Condições de entrega e protocolo dos documentos;
• Principais leis e demais normas jurídicas que regulam a
• Representantes legais e mandatários dos concorrentes.
licitação;
• Aspectos da homologação e adjudicação;
• Definição do objeto;
• Metas do planejamento do transporte público coletivo as
Bens reversíveis
quais se deseja atender por meio da concessão;
• Prazos da concessão e para início da concessão;
Entre os ativos necessários à prestação dos serviços e relacionados
• Estrutura do edital;
à concessão, o contrato deve especificar aqueles considerados como
• Objetivos da concessão;
bens reversíveis, bem como definir valores de indenização caso ocor-
• Valor do contrato;
ra a reversão dos bens e suas condições de ocorrência.
• Garantias;
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Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase interna
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Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase interna
é importante por orientar os processos de gestão contratual durante • Caracterização ou especificação de garagens, terminais,
todo o período de contrato e que definirão o sucesso da concessão. estações, pátios e garagens;
O nível de serviço desejado pode ser definido por instrumentos • Definição dos investimentos a serem realizados pela
como indicadores e índices de desempenho, os quais podem, além concessionária e demais responsabilidades;
de quantificarem a qualidade do serviço prestado, ser empregados • Modelagem financeira;
no cálculo de bônus e penalidades à concessionária. • Modelos para apresentação das propostas;
Outros instrumentos a serem utilizados na concessão e defi-
nidos junto ao edital são regulamentos de penalidades – os quais 2.3.1.3 Audiência pública e consulta pública
podem estar em um anexo do edital ou regulamento de transpor-
tes separado - e coleta de informações por inspeções presenciais e A melhor forma de garantir que a concessão planejada atenda satis-
equipamentos ITS, por exemplo. fatoriamente aos interesses da sociedade é por meio do extensivo
diálogo entre a sociedade e os principais atores da gestão pública e
Anexos corpo técnico envolvidos na estruturação de processos de contra-
tação de concessões.
Disponibiliza-se em anexos aos interessados na concessão um apa- Embora ambas possuam o propósito de garantir a aderência
nhado de informações técnicas, muitas delas obtidas e compiladas dos termos da licitação às necessidades da população, audiência e
durante a realização de estudos prévios, que lhes permite realizar consulta pública possuem diferenças entre si. Audiências são defini-
estimativas de aspectos como custos envolvidos na prestação do das na Lei Federal de Licitações e consultas na Lei Federal de PPPs,
serviço, riscos e receitas e rentabilidade esperadas. Desse modo, sendo que cada lei define prazos específicos. As diferenças entre
podem então formular com maior clareza e propriedade uma pro- audiência e consulta pública encontram-se na Tabela 15.
posta para participação no processo licitatório visando a obtenção
Tabela 15 Diferenças entre os processos de audiência e consulta públicas
dos direitos de prestação do serviço de transporte público coletivo
a ser concedido. Audiência pública Consulta pública
Além da minuta do contrato, os anexos contêm dados obtidos Lei de 8.666/93 (Lei Federal 11.079/04 (Lei Federal de PPPs)
nos estudos prévios à elaboração do edital, aspectos relacionados definição de Licitações)
à modelagem jurídica elaborada e especificações dos serviços e dos Aspecto • Oralidade e • Formal e dilatado;
instrumentos de fiscalização. De modo geral, os editais são acom- concentração dos atos; • Recebimento de manifestações
• Única sessão de e sugestões em prazo
panhados dos seguintes anexos: perguntas e respostas; previamente estabelecido;
110 111
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase EXterna
De acordo com a Lei Federal de Licitações, sempre que o va- • Procedimentos sistemáticos de comunicação, de avaliação
lor estimado para uma licitação ou para um conjunto de licitações da satisfação dos cidadãos e dos usuários e de prestação de
simultâneas ou sucessivas for superior a 150 milhões de reais, o contas públicas.
procedimento licitatório deve ser iniciado com a realização de uma
audiência pública com antecedência mínima de 15 (quinze) dias úteis 2.3.2 Fase externa
da data prevista para a publicação do edital concedida pela autori-
dade responsável. A Fase externa é didaticamente definida como o período entre a data
Tal audiência pública deve ser divulgada, com a antecedên- de publicação do edital de licitação na imprensa oficial e a assinatura
cia mínima de 10 (dez) dias úteis de sua realização, pelos mesmos do contrato de concessão, envolvendo todos os processos que ocor-
meios previstos para a publicidade da licitação, à qual terão acesso rem nesse intervalo e os mecanismos relacionados a esses processos.
e direito a todas as informações pertinentes e a se manifestar todos Destacam-se, dentre referidos processos, aqueles relativos à ha-
os interessados. bilitação de proponentes, a apresentação de propostas e documentos,
O art. 10, VI da Lei Federal de PPP determina que a contratação classificação e julgamento e homologação e adjudicação do objeto
de PPP será condicionada à submissão da minuta de edital e de da outorga. Nos itens seguintes, tem-se alguns dos tópicos da Fase
contrato à consulta pública, mediante publicação na imprensa oficial, externa a serem explorados com maior aprofundamento no caderno.
em jornais de grande circulação e por meio eletrônico, que deverá
informar a justificativa para a contratação, a identificação do objeto,
Figura 16 Principais processos da Fase externa
o prazo de duração do contrato, seu valor estimado, fixando-se pra-
zo mínimo de 30 (trinta) dias para recebimento de sugestões, cujo
Homologação
termo dar-se-á pelo menos 7 (sete) dias antes da data prevista para Classificação e do resultado
a publicação do edital. Essa regra deve ser considerada aplicável Início da sessão julgamento das do certame e
propostas adjudicação do
também para a contratação de concessões. objeto licitado
Além de sua aplicação durante a Fase interna de processos lici-
i n v er s ã o
tatórios, audiências e consultas públicas são também utilizadas em
d e f a s es
um contexto mais amplo, na participação da população nas metas
do transporte público coletivo. A PNMU dispõe, em seu Art. 15º, a Apresentação
das propostas e
realização de audiências e consultas públicas como instrumentos Habilitação do(s) documentos de Assinatura do
Publicação do edital
de participação da sociedade civil no planejamento, fiscalização e proponente(s) qualificação técnica contrato
e/ou econômica
avaliação da PNMU. Outros instrumentos previstos nessa lei são: dos proponentes
112 113
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase EXterna
O consórcio é uma associação entre sociedades e, de acordo com Ressalta-se que o consórcio deverá indicar uma empresa líder,
os artigos 278 e 279 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976 que tratará diretamente com o poder público, não necessariamente
(“Lei das S.A.”), não têm personalidade jurídica. Lembra-se, porém, a de maior participação no consórcio, mas, em todo caso, brasileira.
que, diferentemente do determinado na Lei da S.A., o consórcio, no O licitante vencedor deve constituir o consórcio sob a forma,
direito administrativo, prevê, como regra geral, a responsabilidade como regra, de uma Sociedade de propósito específico, a qual adquire
solidária dos consorciados pelos atos praticados ao longo da exe- personalidade jurídica distinta de seus acionistas, os quais participa-
cução do contrato. ram diretamente da licitação.
À luz do disposto no artigo 33 da Lei Federal de Licitações, é É recorrente que empresas submetidas a controle societário
possível concluir que a admissão de licitantes reunidos em consórcio é comum integrem um mesmo consórcio, quando os editais não admi-
uma faculdade da Administração Pública. Desse modo, para que exista tem que a licitante use atestados de capacidade técnica que estejam
a possibilidade de participação em consórcio, é necessária a previsão emitidos em nome de suas empresas afiliadas.
expressa no ato convocatório, à discrição da Administração Pública. Ponto que merece atenção é sobre a limitação ao número de
Ainda à luz do art. 33 supra, caso seja admitida a participação empresas consorciadas: deve haver um equilíbrio para, de um lado,
em consórcio, deve ser observado o seguinte: não restringir a competitividade, mas, ao mesmo tempo, não ampliar
demasiadamente o universo de composição, sob o risco de não se
I. Comprovação do compromisso público ou particular de
atraírem empresas efetivamente capazes de desempenhar, com de-
constituição de consórcio, subscrito pelos consorciados;
sejável repartição do escopo, o conjunto das obrigações contratuais.
II. Indicação da empresa responsável pelo consórcio
que deverá atender às condições de liderança,
obrigatoriamente fixadas no edital;
III. Apresentação dos documentos exigidos de habilitação
por parte de cada consorciado, podendo ser admitido:
114 115
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase EXterna
2.3.2.2 Inversão de fases
Condições de participação
Tradicionalmente, os editais de licitações previam que a análise da ha-
Na Tabela 16, encontram-se condições de participação de empresas brasileiras e bilitação das licitantes deveria preceder o julgamento das propostas.
estrangeiras nos processos licitatórios de algumas cidades brasileiras. A possibilidade de inversão de fases foi incorporada como facul-
dade na Lei Federal de PPP, em seu artigo 13, em que se determinou
Tabela 16 Exemplos de condições de participação da concorrência em cidades brasileiras que o edital poderá prever a inversão da ordem das fases de habili-
tação e julgamento. Sendo assim, encerrada a fase de classificação
Cidade Condições de participação
das propostas ou de oferecimento dos lances, serão examinados os
São Paulo Apenas empresas brasileiras, isoladamente ou em consórcio, documentos de habilitação do primeiro colocado apenas; se esse
vedada a sua participação (superior a 10% do capital social), direta cumprir com todas as exigências será considerado vencedor. Po-
ou indiretamente, em mais de três áreas objeto da outorga.
rém, se os documentos de habilitação não estiverem corretos, serão
As empresas puderam apresentar proposta para quantas áreas examinados os seguintes na ordem de classificação até se chegar a
desejassem, observado o limite acima relativo à adjudicação. uma proposta vencedora.
Em 2005, houve alteração na Lei Federal de Concessões, opor-
Belo Empresas brasileiras e estrangeiras, isoladamente ou em
Horizonte consórcio, desde que cumprissem as exigências do edital. tunidade em que, por meio do novo artigo 18-A, previu-se a possi-
bilidade de inversão de fases da licitação também nas concessões
As empresas podiam apresentar proposta para quantas redes
comuns. Este artigo reproduz exatamente o artigo 13 da Lei Federal
desejarem, limitada a adjudicação a apenas uma rede.
de PPP. Sendo assim, tanto no modelo de parceria público-privada
Brasília Empresas brasileiras e estrangeiras, isoladamente ou em como nas concessões comuns a inversão de fases é um instrumento
consórcio, desde que (a empresa ou uma das empresas
que pode ser utilizado.
consorciadas) tivessem no seu objeto social a previsão de atividade
econômica compreendendo a operação de serviços de transporte A introdução da possibilidade de inversão de fases de habili-
coletivo de passageiros. tação e julgamento objetivou garantir maior agilidade ao procedi-
mento licitatório.
As empresas puderam apresentar propostas para quantos lotes
desejarem, limitada a adjudicação a apenas um lote. Em oposição ao argumento da celeridade, há a tese de que a
inversão de fases resultaria na perda da transparência do procedi-
Sorocaba Empresas brasileiras e estrangeiras, exceto as cooperativas,
mento e da neutralidade do julgamento.
permitida a participação em consórcio, desde que as empresas
consorciadas não apresentem outra proposta, individualmente ou Sob a perspectiva do poder público, modelar uma licitação com
por meio de outro consórcio. inversão de fases traz benefícios significativos, uma vez que diminui o
contencioso entre os licitantes, proporcionando celeridade à escolha
Deverão ser atendidas as exigências dos editais, sobretudo
previsão no objeto social de atividade que permita a operação de do contratado.
serviço de transporte coletivo urbano de passageiro e disposição
de capital mínimo de R$ 3.000.000.
118 119
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase EXterna
120 121
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase EXterna
122
foto: SUTP Photo Gallery 123
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase EXterna
2.3.2.4 Garantia de proposta
Tabela 17 Exemplos de critérios de habilitação em cidades brasileiras
A garantia de proposta corresponde ao documento que prevê o di-
Cidade Habilitação jurídica Habilitação técnica Habilitação reito do poder público ao ressarcimento por eventuais prejuízos que
econômico- venham a ser causados por fatos como a desistência injustificada da
financeira
proposta e recusa injustificada na assinatura do contrato por parte
Brasília Apresentação dos Apresentação de Comprovação da empresa vencedora da licitação.
atos constitutivos/ atestado que de- de Índice de Vale lembrar que, de acordo com o que estabelece a Lei Fe-
societários que monstre a realiza- Endividamento Geral
deral de Licitações, a garantia de proposta será limitada a 1% do
demonstram que ção de atividades ≤ 0,8.
o objeto social similares à atividade valor estimado do objeto da contratação, podendo ser prestada,
compreende outorgada, conside- a critério do licitante, à luz do o artigo 56, §1°, da Lei Federal de
a atividade de rando, no mínimo:
Licitações, mediante:
transporte público • 50% do número
de passageiros e de veículos da frota
I. Caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, devendo
declaração indicando inicial de determina-
a preferência de do lote indicado pelo estes ter sido emitidos sob a forma escritural, mediante registro
determinado lote, se edital (ou o maior em sistema centralizado de liquidação e de custódia autorizado
for o caso. lote tencionado, se
pelo Banco Central do Brasil e avaliados pelos seus valores
for o caso) e
• Quantidade econômicos, conforme definido pelo Ministério da Fazenda;
mínima de 50% II. Seguro-garantia;
do número de
III. Fiança bancária.
passageiros médios
mensais estimados
Caso a garantia seja prestada mediante caução, o licitante de-
pelo edital para de-
terminado lote (ou o verá transferir para a Administração Pública a posse de um bem
maior lote tenciona- corpóreo. O seguro-garantia, por sua vez, consiste em contrato fir-
do, se for o caso).
mado entre o licitante e instituição seguradora, pelo qual está se
Sorocaba Empresas Apresentação de Comprovação de compromete a arcar com o risco de eventos danosos, relativos ao
estrangeiras deviam atestado compro- índice de Liquidez não cumprimento da proposta apresentada à Administração Pública.
apresentar decreto vando experiência Corrente ≥ 1,0 e
Constará como beneficiária a pessoa integrante da Administração,
de autorização de na execução de índice de Solvência
funcionamento. serviço similar ao Geral ≥ 1,0. cabendo ao licitante o pagamento do prêmio do seguro. Em relação
serviço outorgado à fiança, a Lei de Licitações somente admite a bancária, sendo, assim,
e comprovação de
vedada a apresentação de outra espécie de fiança.
que é proprietária,
locatário, arrenda- Em relação à execução da garantia de proposta, vale mencionar
tário ou, de alguma que o artigo 81 da Lei Federal de Licitações prevê que, caso o ven-
forma mantenha a
cedor da licitação se recuse injustificadamente a assinar o contrato,
posse de equipa-
mentos exigidos para aceitar ou retirar o instrumento equivalente, dentro do prazo esta-
a concessão. belecido, referida garantia poderá ser executada.
124 125
Estruturação do processo de concessão Processo licitatório » Fase EXterna
Figura 17 Garantia de proposta A garantia de execução, por sua vez, é definida no art. 56 da Lei Fede-
ral de Licitações e consiste no mecanismo cujo foco encontra-se na
Descumprimento proteção do poder concedente nas hipóteses de eventual descum-
de obrigação no
primento do contrato de concessão por parte da concessionária já
âmbito da licitação
durante a execução do contrato de concessão.
Sua função é a de proteger o Poder Concedente do eventual des-
cumprimento do contrato de concessão por parte da concessionária e,
Encerramento da
Apresentação além disso, objetiva garantir ao contratante o ressarcimento de valores
licitação com a
de garantia de
homologação do de multas e indenizações a ele devidos, ou, ainda, para a hipótese de
proposta
resultado o contratado dar motivo ao término do contrato de concessão.
A garantia de execução destina-se ao ressarcimento de custos
e despesas incorridos face ao inadimplemento das obrigações as-
Execução da garantia Restituição da sumidas pela concessionária. A garantia outorgada pela concessio-
prestada garantia ao licitante, nária poderá assumir quaisquer das modalidades abaixo descritas,
pelo licitante com correção
podendo ser substituídas com a anuência do Poder Concedente:
monetária
Fonte: Elaboração própria
I. Depósito a ser mantido em conta remunerada, em
Encerrado o processo licitatório sem que a Administração tenha moeda corrente do país, liberado total ou parcialmente
feito uso da garantia, esta será devolvida ao licitante. Em se tratando em favor do Poder Concedente, segundo suas
de caução em dinheiro, segundo a doutrina, a devolução se fará, no instruções em caso de execução da garantia;
mínimo, com correção monetária7. II. Títulos da dívida pública, desde que registrados em sistema
Pode ser exigido da concessionária, posteriormente à homo- centralizado de liquidação e de custódia autorizado pelo Banco
logação do resultado da licitação, mas por vezes como condição Central do Brasil e não sujeito a nenhum ônus ou gravames;
prévia à assinatura do contrato de concessão, a apresentação de III. Fiança bancária contratada perante instituições
garantia de execução do contrato, nos termos do art. 56 da Lei financeiras que tenha vigência até o cumprimento
Federal de Licitações. 8
total das obrigações contratuais;
IV. Seguro-garantia, cuja apólice cobertura deverá vigorar até a
extinção das obrigações da concessionária, que deverá efetuar
7 Nesta linha, Marçal Justen Filho, Comentários à lei de licitações e contratos
administrativos. 10. Ed. São Paulo: Dialética, 2004, p. 489, e Jessé Torres o pagamento do prêmio por todo o período da garantia,
Pereira Júnior, Comentários à lei de licitações e contratações da administração independentemente do prazo de vigência indicado na apólice.
pública, 5. ed. rev. atual. e ampl., Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 364.
8 O artigo 56 da Lei Federal de Licitações determina que “a critério da autoridade
competente, em cada caso, e desde que prevista no instrumento convocatório, poderá
ser exigida prestação de garantia nas contratações de obras, serviços e compras”.
O valor exigido para garantia de execução não excederá a 5% (cinco por cento)
do valor do contrato. Contudo, para obras, serviços e fornecimentos de grande
vulto envolvendo alta complexidade técnica e riscos financeiros consideráveis,
demonstrados por meio de parecer tecnicamente aprovado pela autoridade
competente, o limite de garantia poderá ser elevado para até 10% (dez por
cento) do valor do contrato (art. 56, §§ 2° e 3° da Lei Federal de Licitações).
126 127
Estruturação do processo de concessão Contrato de Concessão
128 129
Estruturação do processo de concessão Contrato de Concessão » Monitoramento do serviço prestado
Sendo assim, é por ele prestada, seja por meio de pessoas jurídicas VI. Cumprir e fazer cumprir as disposições regulamentares
integrantes da Administração Pública, direta ou indireta, seja por do serviço e as cláusulas contratuais da concessão;
meio de pessoas jurídicas de direito privado legalmente permitidas VII. Zelar pela boa qualidade do serviço, receber, apurar e
para tanto. solucionar queixas e reclamações dos usuários, que serão
O fundamento do regime jurídico a que se submetem as em- cientificados, em até trinta dias, das providências tomadas;
presas privadas prestadoras de serviço público encontra respaldo
Ao longo de todo o período da concessão, o órgão gestor co-
no art. 175 da Constituição Federal. Nele, há expressa determinação
leta dados sobre o serviço prestado e os compara às especificações
no sentido da exigência da edição de lei específica sobre:
do serviço previamente determinadas. O monitoramento, assim,
I. Regime das concessionárias e permissionárias de serviços depende fundamentalmente de uma especificação adequada do
públicos, o caráter especial de seu contrato e eventual serviço concedido, capaz de motivar, orientar e alinhar a atuação
prorrogação, assim como as condições de caducidade, dos operadores privados às metas de atendimento formuladas pelo
fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; poder público.
II. Direitos dos usuários de referidos serviços, Além disso, devem ser bem definidos também os mecanismos
III. Política tarifária; e e instrumentos que serão utilizados pelo órgão gestor para a fisca-
IV. Obrigação [da concessionária] de manter serviço adequado. lização do sistema, como regulamento de penalidades e utilização
de fórmulas de cálculo da remuneração dos operadores atrelada a
Na sequência, serão discutidos alguns dos principais aspectos
valores de índices de desempenho.
jurídicos relacionados à gestão contratual:
Os principais mecanismos de avaliação da qualidade e proces-
• Monitoramento do serviço prestado; sos ao dispor do órgão gestor para monitoramento contratual são
• Formas de extinção dos contratos; discutidos no Capítulo 3.
• Bens reversíveis. A viabilidade do monitoramento depende ainda de dois ou-
tros pontos:
2.4.1 Monitoramento do serviço prestado • O órgão gestor deve dispor de estrutura adequada para
desenvolver todos os processos envolvidos na gestão
Ao delegar a prestação de serviços públicos à iniciativa privada, é
contratual como o de monitoramento, conforme discutido no
responsabilidade do poder público monitorar e fiscalizar o sistema
Capítulo 3;
para garantir o bom funcionamento do serviço. Em relação a isso,
• O conjunto de dados a serem coletados deve ser definido de
assim definem os arts. 29 e 30 da Lei Federal de Concessões, Capítulo
modo que caracterize bem o serviço executado e, ao mesmo
VII (Dos encargos do poder concedente):
tempo, seja compatível com a estrutura e realidade do órgão
Art. 29. Incumbe ao poder concedente: gestor e as dimensões do objeto da concessão e rede local de
transporte público coletivo – uma estrutura complexa demais
I. Regulamentar o serviço concedido e fiscalizar
de monitoramento pode inviabilizar a execução processo;
permanentemente a sua prestação;
II. Aplicar as penalidades regulamentares e contratuais;
(...)
130 131
Estruturação do processo de concessão Contrato de Concessão » Formas de extinção dos contratos
Falência ou Falência ou Assunção, pelo Estado, da operação do serviço mediante • Retorno ao Poder Concedente na ocasião de extinção da
extinção da extinção da apropriação imediata dos bens sob concessão, concessão por advento do término do contrato;
empresa empresa garantindo a continuidade do serviço. Indenização devida
• Caso a concessão seja mantida até o final do prazo previsto
concessionária concessionária posteriormente pelos bens reversíveis bem como por
ou morte ou aqueles não totalmente depreciados, sem qualquer no contrato, a reversão de bens geralmente é gratuita, pois
incapacidade do indenização por perdas e danos por ser a extinção do ao longo do prazo de concessão espera-se que tenham sido
titular no caso contrato não imputável ao Estado.
de empresa 1 RIBEIRO, Maurício Portugal. Concessões e PPPs – Melhores
individual. Práticas em Licitações e Contratos. Ed. Atlas. 2011.
134 135
Estruturação do processo de concessão Contrato de Concessão » Bens reversíveis
depreciados e que os investimentos neles feitos tenham No quadro a seguir, encontram-se considerações a respeito
sido amortizados; de bens reversíveis feitas em concessões nacionais de transporte
• Não podem ser penhorados ou objeto de desapossamento público coletivo.
compulsório por dívida da concessionária;
• Podem ser substituídos ou alienados, incluindo a alienação a
título de garantia real, desde que havendo prévia aprovação
do poder concedente e sem prejuízo da continuidade na
Bens reversíveis em concessões nacionais
prestação do serviço público.
Em Belo Horizonte, foram considerados Em São Paulo, considera-se bens re-
O contrato de concessão deve caracterizar plenamente os bens
bens reversíveis: versíveis todos os bens vinculados à con-
reversíveis vinculados à concessão, destacando ainda fórmula para
I. Licença de uso de softwares do cessão, com as ressalvas previstas no Art.
o cálculo do pagamento e demais hipóteses relativas à indenização
SITBus – Sistema Inteligente de 17 da Lei nº 13.241/01, a qual estabelece
da reversão de bens ainda não totalmente depreciados ou investi-
Transporte do Município de Belo que os seguintes bens não são reversíveis:
mentos não amortizados no eventual caso de extinção antecipada do
Horizonte: composto por sistemas I. Veículos e frota de ônibus;
contrato. Recomenda-se que bens específicos à operação do objeto
principais (pelo menos um deles II. Garagem;
de uma dada concessão ou para os quais haja a necessidade de
de interface), complementados por III. Instalações e equipamentos de
investimentos ao longo da concessão sejam caracterizados como
centrais de supervisão, operação e garagem.
reversíveis pelo contrato, retornando automaticamente ao poder
fiscalização, equipamentos, infra-es- Em Brasília, considera-se que não há
concedente no final da concessão.
trutura e aplicações, com destaque bens reversíveis no início da concessão.
Com relação aos ônibus, de modo geral, justifica-se o tratamen-
para uma estrutura de armazena- Todavia, eventuais bens transferidos
to de bens reversíveis ou vinculados à concessão apenas quando o
mento e processamento de dados pelo poder concedente às concessioná-
órgão gestor exigir das concessionárias adaptações nos veículos ou
(DATACENTER) e a infraestrutura de rias no decorrer da vigência do contrato,
aquisição de veículos com características especiais (ex: ônibus adap-
rede de comunicações.; assim como os bens para os quais o po-
tado para um corredor do sistema Bus Rapid Transit – BRT), de modo
II. Direito de propriedade de softwa- der concedente determina à concessio-
que sua utilização em outros sistemas ou objetos de concessões pode
res desenvolvidos para o SITBus, nária que realize investimentos (tenham
ser dificultada. Nesse caso, haveria a indenização da concessionária
incluindo todos os artefatos dos sido eles transferidos ou não) após iní-
na hipótese de extinção antecipada do contrato.
sistemas, tais como manuais de cio da concessão, serão caracterizados
Nas outras situações em que não se impõe às concessionárias
sistema de operação e de usuário, como bens reversíveis.
do sistema de transporte coletivo público a adaptação da frota de
modelos de dados, de arquitetura, No município de Sorocaba, os con-
modo a inutilizar em alguma medida os ônibus em outros sistemas,
scripts de criação de componentes tratos de concessão não preveem quais-
boas práticas apontam para a não atribuição da natureza de bens
e elementos de softwares; código quer hipóteses de reversibilidade de
reversíveis aos ônibus, o que consequentemente faz com que estes
fonte e qualquer outro elemento bens vinculados à concessão. Inclusive,
não sejam indenizados na sua parcela não amortizada ou não de-
que auxilie no entendimento e im- ao determinar as hipóteses de rescisão,
preciada nas situações de extinção antecipada.
plantação dos sistemas; os contratos de concessão determinam
III. Equipamento que compõem o siste- que, com exceção de decisão do poder
ma central do SITBus. judiciário, não cabe às concessionárias
o pagamento de quaisquer valores, a
título de indenização
136 137
Gestão do transporte público coletivo
3
Gestão do A gestão do sistema de transporte público coletivo é um tema
abrangente, que envolve diversas atividades que estão sob respon-
transporte
sabilidade do poder público, conforme define a Política Nacional de
Mobilidade Urbana (Lei n° 12.587 / 2012).
Existem diferentes níveis de gestão pública associados direta ou
público coletivo
indiretamente ao transporte público coletivo, conforme indicado na
Figura 18, sendo que cada nível possui escopos de atuação com dife-
rentes níveis de abrangência e detalhamento e que se complementam
para o pleno atendimento aos interesses e necessidades da população.
Nos níveis mais abrangentes, tem-se a gestão das políticas públi-
cas e da mobilidade urbana, de caráter estratégico e generalista e que
estão relacionadas com a definição das diretrizes e execução de ativi-
dades que envolvem respectivamente todas as medidas e funciona-
mento do poder público nacional e a gestão e regulação da mobilidade
urbana. Os dois níveis seguintes, por sua vez, estão efetivamente mais
próximos do oferecimento de soluções de transporte público coletivo,
sendo que o Caderno de Referência promove discussões acerca destes
dois níveis – principalmente o de elaboração e gestão de concessões.
Este capítulo aborda mais especificamente a gestão do trans-
porte público coletivo – a qual encontra-se no item 3.1 - em que
o órgão gestor planeja, coordena e gerencia o funcionamento da
rede de transporte como um todo, e a gestão dos contratos de
concessão – cuja discussão encontra-se no item 3.2 - destacando as
principais atividades e processos a serem desenvolvidos pelo órgão
gestor para a gestão dos serviços oferecidos por cada concessionária.
Em seguida, são abordados os requisitos da governança para uma
gestão adequada do transporte público coletivo.
138 139
Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Acompanhamento das metas de atendimento
3.1
Figura 18 Níveis de gestão associados ao transporte público
GESTÃO PÚBLICA
Sistema de transporte
GESTÃO DA MOBILIDADE URBANA
público coletivo
GESTÃO DO TRANSPORTE
PÚBLICO COLETIVO
3.1.1 Acompanhamento
das metas de atendimento
As concessões dos serviços de transporte público coletivo geralmente
são realizadas com base em um projeto básico, que especifica os
itinerários das linhas e frequências de cada uma, entre outras caracte-
rísticas. Esse projeto básico deve ser desenvolvido com base em metas
de atendimento e universalização da oferta do transporte público
coletivo, conforme sugere a Política Nacional de Mobilidade Urbana.
140 141
Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Acompanhamento das metas de atendimento
O acompanhamento das metas ao longo do tempo é uma das Outro indicador importante de cobertura está relacionado com a
principais atividades da gestão do sistema de transporte público co- rede frequente, composta pelos eixos ou linhas de ônibus com maior
letivo. Nesse sentido, os principais objetivos são: frequência do sistema. Por exemplo, poderia se considerar que um ser-
viço frequente como sendo aquele com intervalo entre os ônibus menor
• Verificar o atendimento do serviço de transporte público às
que 5 minutos na hora do pico e menor que 15 minutos fora do pico.
metas propostas;
Neste sentido, um indicador poderia ser o percentual das vias estru-
• Identificar ações necessárias para garantir o atendimento às
turais do município que contam com serviços frequentes, ou outro
metas e oportunidades para a melhoria dos serviços.
indicador que avalie a cobertura da rede formada por linhas frequentes.
Esse acompanhamento está relacionado principalmente com
o planejamento do sistema de transporte público coletivo como
um todo. A fiscalização do desempenho operacional, que tem um
enfoque diferente, será tratada em item específico da gestão dos
Exemplo de mapa de cobertura do transporte público coletivo
contratos de concessão.
Com relação a metas ou indicadores de cobertura da rede, O mapa temático a seguir também Além disso, nesse mapa temático
no caso mais usual, se define uma distância máxima de caminhada permite avaliar a cobertura do sistema a cor das áreas (setores censitários do
aceitável e se calcula o percentual da população do município que de transporte público coletivo. Nesse IBGE) representa o tempo de caminhada
possui pontos de parada a uma distância menor que esse limite. exemplo, a espessura do eixo viário está até os eixos viários por onde passam pelo
Por exemplo, poderia ser utilizado um indicador que represente o relacionada com a frequência total dos menos 30 viagens de ônibus por hora. A
percentual da população atendida pela rede considerando uma serviços que o utilizam, permitindo ava- informação deste mapa também permi-
distância de caminhada de 300 metros ou 5 minutos. liar o percentual de eixos viários estrutu- tiria calcular a população que está a uma
rais com linhas frequentes. distância máxima aceitável de caminhada
até os eixos.
142 143
Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Acompanhamento das metas de atendimento
Existem diversos indicadores que podem ser utilizados para coletados e indicadores e índices calculados para a tomada de de-
acompanhar metas do planejamento do sistema. Alguns outros exem- cisão e eficiente gerenciamento do contrato de modo a moldar os
plos relacionados com aspectos especificados pelo poder público são: serviços às definições do planejamento da totalidade do sistema.
A seguir, apresenta-se o exemplo de Belo Horizonte no moni-
• Percentual de veículos acessíveis por cadeira de rodas;
toramento das metas da mobilidade urbana no município.
• Percentual de veículos com ar condicionado;
• Velocidade operacional média dos ônibus;
• Número de viagens que podem ser realizadas com um
salário mínimo, ou outros indicadores relativos preço do
transporte público coletivo. Balanço da Mobilidade Urbana de Belo Horizonte
Além dos indicadores específicos do transporte público coletivo, Belo Horizonte conta com um Observatório da Mobilidade Urbana,
há também os indicadores da mobilidade urbana como um todo, que acompanha uma série de indicadores de mobilidade urbana e
relevantes para o planejamento neste âmbito. Esses, por sua vez, do transporte público coletivo do município. As informações estão
podem exigir outras formas de coleta de dados e processamentos, disponíveis no site do observatório. Além disto, frequentemente são
além do sistema de monitoramento e bilhetagem: elaborados relatórios com o balanço da mobilidade urbana.
Observatório de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte: http://
• Percentual das viagens realizadas no transporte coletivo
www.bhtrans.pbh.gov.br/portal/page/portal/portalpublico/Temas/
(divisão modal, que também pode ser considerado indicador
ObservatorioMobilidade/Apresentacao
de eficiência energética);
Relatório Balanço da Mobilidade Urbana de Belo Horizonte
• Tempo médio de viagem dos passageiros no transporte
2016 (ano-base 2015): https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/
público coletivo ou razão entre o tempo de viagem no
files/estrutura-de-governo/bhtrans/Balan%C3%A7o%20anual%20
transporte coletivo e no transporte individual motorizado;
da%20mobilidade%20urbana%20de%20Belo%20Horizonte%20
Os itens que não estão fundamentalmente ligados à operação 2016%20(ano-base%202015).pdf
do transporte podem ser levantados utilizando-se metodologias pró- A seguir, são apresentados
prias como, por exemplo, pesquisas de campo (Origem e Destino, alguns dos indicadores utilizados
preferência declarada), pesquisas de satisfação, levantamento de ma- relativos ao transporte público
nifestações espontâneas junto aos órgãos públicos e equipamentos coletivo, tais como a taxa
de medição próprios (radares com tecnologia de contagem veicular de utilização do transporte
ou leitura de placas – “OCR”). público coletivo (em número
Já no caso de informações relacionadas especificamente à de passageiros por 100
operação, pode-se fazer uso frequente dos sistemas inteligentes de habitantes), custo (relativo ao
transportes (ITS, na sigla em inglês), dados de bilhetagem, vistorias custo de 50 tarifas médias do
e inspeções de campo e informações geradas pelo sistema de ge- sistema dividido pelos valores
renciamento de frotas com GPS, entre outros. dos salários mínimo e médio),
Além disto, é necessário que a estrutura de governança do ór- acessibilidade e velocidade média
gão gestor conte com capacidade técnica para utilização dos dados operacional, dentre outros.
144 145
Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Reajuste da Tarifa pública
consiste em:
146 147
Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Reajuste da Tarifa pública
Figura 21 procedimento básico para o reajuste da Tarifa pública Depois de questionamentos sobre a transparência no processo
de reajuste das tarifas públicas, algumas cidades passaram e desen-
volver relatórios com os resultados dos estudos para os reajustes
1. Avaliar a variação nas despesas com a operação tarifários. No quadro a seguir, tem-se o exemplo do relatório desen-
(com o aumento nas tarifas de remuneração de cada
volvido para SPTrans na ocasião de reajustes tarifários.
contrato de concessão ou prestação de serviços).
148 149
Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Reajuste da Tarifa pública
Resumo da planilha tarifária – base: dezembro de 2017 3. Quem paga a conta do transporte 100% 686.5 6.66
(não considera reajustes dos contratados em 2018)
3.1 Usuário + empregador 60% 414.9 4.02
1.2 Passageiros transportados (inclui todas as modalidades 236.3 3.2.1 Subsídio direto ao usuário 30% 208.9 2.02
de pagamento de tarifa) – milhões/mês
3.2.1.1 Política de transporte 7% 45.6 0.44
1.3 Passageiros equivalentes (exclui gratuidades, integração 103.2 coletivo (integração ônibus-
ônibus-ônibus e considera cada estudante pagante igual ônibus e ônibus-trilhos)
a 0,5 pagante e cada integração com trilhos igual a 0,82 3.2.1.2 Política educacional 11% 77.7 0.75
pagante) – milhões/mês (custo da gratuidade e
1.4 Frota (inclui reserva técnica operacional) 14,457 meia tarifa de estudantes)
1.5 Quilometragem percorrida (inclui operação comercial 82.2 3.2.1.3 Políticas sociais (idosos, 12% 85.6 0.83
e deslocamento entre garagens e pontos) – milhões/mês pessoas com deficiência e
desempregados)
2. Quanto custa o sistema de transporte 100% 686.5 6.66 4. Quem ganha com a operação 100% 686.5 6.66
de transporte
2.1 Custo de operação de transporte 91% 624.9 6.06
4.1 Fornecedores (veículos, diesel, 30% 206.0 2.00
(ônibus, pessoal, diesel, lucro do
desp. administrativas, peças...)
operador etc)
4.2 Empregados (das empresas 40% 273.5 2.65
2.2 Custo de operação da infraestrutura 9% 61.7 0.60
que operam o serviço de transporte)
(comercialização de créditos de
Bilhete Único, terminais, gerenciamento) 4.3 Tributos e encargos 15% 106.1 1.03
(em todos os níveis de governo)
150 151
Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Reajuste da Tarifa pública
Para que consiga planejar com antecedência a estrutura tarifá- Elaboradas por órgãos e instituições da área de transportes, pla-
ria e os valores de Tarifa pública a serem propostos, o órgão gestor nilhas de custos consistem em um tipo de ferramenta de simples
pode traçar estratégias e tomar decisões com maior propriedade e rápida utilização pelo poder público e, podem fornecer ao poder
caso possua uma sólida e detalhada visão a respeito da estrutura público subsídios técnicos que amparem e justifiquem a tomada
de custos do serviço de transporte público coletivo. de decisão.
Uma prática usual consiste na utilização de planilhas de No quadro a seguir, encontra-se um resumo das principais pla-
cálculo de custos para orientação do reajuste da Tarifa pública. nilhas de custos utilizadas no país.
152 153
Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Comunicação com os usuários
• Combustível
ARLA 32
No conceito de ciclo da qualidade do serviço de transporte coletivo,
• Lubrificantes
Variáveis
• Rodagem
Custos proposto, descrito por exemplo na CEN EN13.816, a medida de satis-
Ambientais
• Peças e acessórios fação é dada pela relação entre a qualidade esperada e a percebida
NOVOS! pelos clientes. Acompanhar a satisfação é fundamental para a gestão
• Depreciação da qualidade do transporte público coletivo, porque:
• Remuneração do capital Bilhetagem
Fixos
• Despesas com pessoal ITS • O baixo nível de satisfação dos usuários pode indicar
• Despesas administrativas
uma baixa atratividade do sistema do transporte público
coletivo, e um potencial de perda de usuários para outros
• Comercialização de bilhetes e créditos de viagem
• Serviços em corredores, terminais e estações modos de transporte;
Outros
• Operação de centrais de controle operacional • Se a qualidade do serviço contratada (parâmetros de
• Locação de equipamentos, veículos de apoio e garagem
qualidade nos contratos) estiver abaixo da qualidade
NOVOS!
esperada pelos usuários, será difícil atrair usuários para o
• Remuneração da prestação dos serviços transporte público coletivo;
Gestão · Taxa de remuneração incidente sobre o somatório
dos custos variáveis e fixos. • Se a qualidade percebida pelos usuários estiver distorcida, de
forma que não tenham clareza sobre os benefícios que estão
Fonte: ANTP –Apresentação da nova Planilha ANTP 2017 sendo oferecidos, uma melhor comunicação com os usuários
Saiba mais: http://www.antp.org.br/planilha-tarifaria-custos-do-servico-onibus/apresentacao.html
pode ajudar a melhorar os níveis de satisfação;
• Entender a satisfação e insatisfação dos usuários permite
orientar melhor os esforços de gestão, identificando
3.1.3 Comunicação com os usuários problemas na prestação dos serviços e ou a necessidade de
implementação de melhorias em aspectos específicos.
As atividades relativas à comunicação com os usuários e a população
em geral são fundamentais para a gestão do sistema de transpor- Do ponto de vista de gestão da qualidade do sistema, as pes-
te público coletivo e para garantir alguns dos direitos dos usuários quisas de satisfação podem indicar os níveis de satisfação com o
destacados na Política Nacional de Mobilidade Urbana. Neste item são sistema em geral, ou com aspectos específicos relacionados como a
apresentadas as atividades relativas a pesquisas de satisfação, aten- disponibilidade dos serviços, confiabilidade, conforto, atendimento, in-
dimento aos usuários e disponibilização de informações aos usuários. formações disponíveis, entre outros, que requeiram atenção especial.
Do ponto de vista da gestão, as pesquisas de satisfação e o aten- Diversas cidades contam com pesquisas de satisfação do trans-
dimento aos usuários permitem que eles participem do planejamento porte público coletivo regulares. As metodologias utilizadas variam
e fiscalização dos serviços fornecendo informações importantes para consideravelmente entre os municípios. Mais recentemente surgiu
a melhoria da qualidade do sistema. Além disto, a disponibilização uma nova iniciativa de padronização das pesquisas com usuários
de informações garante o direito dos usuários de ser informados de ônibus, coordenada pelo WRI Cidades Sustentáveis, através da
sobre os serviços e torna o transporte público coletivo mais atrativo. Pesquisa de Satisfação Qualiônibus, apresentada no quadro a seguir.
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Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Comunicação com os usuários
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Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Comunicação com os usuários
Fonte: https://www.facebook.com/rmtcgoiania.oficial/
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Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Comunicação com os usuários
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Gestão Do transporte público coletivo sistema De transporte público coletivo » comunicação com os usuários
fiGura 27 Roteirização de transporte público coletivo usando Google Maps Transit Divulgação das diretrizes do sistema e marketing institucional
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Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Governança
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Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Governança
• Informações e ferramentas suficientes para o forma do caput deste artigo deverão promover a governança
acompanhamento adequado da operação do sistema, de interfederativa, sem prejuízo de outras determinações desta Lei.
modo a coletar dados suficientes para embasamento da
(...)
tomada de decisão;
• Investimentos em programas de capacitação, renovação e
Art. 7o Além das diretrizes gerais estabelecidas no art. 2o da Lei no
atualização de conhecimentos, promovendo o estudo de boas
10.257, de 10 de julho de 2001, a governança interfederativa das
práticas de gestão de transportes utilizadas em outras cidades;
regiões metropolitanas e das aglomerações urbanas observará as
• Promoção de uma cultura orientada à qualidade do
seguintes diretrizes específicas:
transporte público coletivo e à transparência;
I. implantação de processo permanente e compartilhado
No caso de regiões metropolitanas, por exemplo, a integração
de planejamento e de tomada de decisão quanto
entre os serviços municipais, de atribuição dos municípios, e dos ser-
ao desenvolvimento urbano e às políticas setoriais
viços intermunicipais, atribuídos ao estado, frequentemente requer
afetas às funções públicas de interesse comum;
um arranjo institucional diferenciado.
II. estabelecimento de meios compartilhados de organização
Nesse aspecto, um dos grandes avanços na área da integração
administrativa das funções públicas de interesse comum;
metropolitana foi a criação, em 2015, da Lei Federal nº 13.089, conhe-
III. estabelecimento de sistema integrado de alocação
cida como Estatuto da Metrópole. Seu objetivo consiste em criar regras
de recursos e de prestação de contas;
para a governança compartilhada de grandes aglomerados urbanos
IV. execução compartilhada das funções públicas de interesse
que envolvam mais de um município.
comum, mediante rateio de custos previamente pactuado
O Estatuto estabelece o PDUI (Plano de Desenvolvimento Urbano
no âmbito da estrutura de governança interfederativa;
Integrado), de edição estadual e que consiste em um instrumento para
V. participação de representantes da sociedade civil nos
a articulação dos parâmetros de planejamento urbano interfederati-
processos de planejamento e de tomada de decisão;
vo, ao qual os planos diretores municipais possam estar vinculados
VI. compatibilização dos planos plurianuais, leis de
e pelo qual podem ser discutidas as questões da mobilidade urbana
diretrizes orçamentárias e orçamentos anuais dos
metropolitana e de modelos de gestão para integração metropolitana
entes envolvidos na governança interfederativa;
dos sistemas de transporte público coletivo.
VII. compensação por serviços ambientais ou outros
Assim dispõe o Estatuto da Metrópole em relação à criação e
serviços prestados pelo Município à unidade territorial
objetivos de uma estrutura de governança interfederativa:
urbana, na forma da lei e dos acordos firmados no
Art. 3o Os Estados, mediante lei complementar, poderão instituir âmbito da estrutura de governança interfederativa.
regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, constituídas
Parágrafo único. Na aplicação das diretrizes estabelecidas neste
por agrupamento de Municípios limítrofes, para integrar a or-
artigo, devem ser consideradas as especificidades dos Municípios
ganização, o planejamento e a execução de funções públicas de
integrantes da unidade territorial urbana quanto à população, à
interesse comum.
renda, ao território e às características ambientais.
§1º O Estado e os Municípios inclusos em região metropolitana
A viabilização política dos arranjos institucionais metropolita-
ou em aglomeração urbana formalizada e delimitada na
nos para a gestão da mobilidade urbana depende da adesão dos
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Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Governança
responsáveis pelos sistemas municipais, tendo em vista as competên- IV. Convênio Simples: também chamado convênio comum, baseia-
cias constitucionais dos entes federativos brasileiros, de modo que o se na celebração de termo, por ato do Poder Executivo, sem
ganho de eficiência advindo do planejamento integrado dos sistemas ratificação legislativa, entre os municípios e o estado ou entre
municipais e metropolitanos implica em processos participativos dos municípios entre si, com definição de responsabilidades recíprocas,
entes que constituem a metrópole, baseados nas demandas técnicas geralmente para uma ação colaborativa de curto prazo.
e sociais desenvolvidas em âmbito local, mas analisadas e debatidas • Fundamenta-se no art. 116, da Lei nº 8.666, de 21 de junho
na perspectiva regional. de 1993 (“Lei 8.666/93”), e, diferentemente do convênio de
A implementação de uma estrutura para a gestão metropoli- cooperação, regulado pela Lei 11.107/05, não é ratificado
tana do transporte público coletivo pode ocorrer por uma (ou uma ou previamente disciplinado por lei;
combinação delas) das seguintes formas de integração: V. Entidade metropolitana: baseia-se na criação de uma entidade
intergovernamental, por iniciativa do estado, abrangendo
I. Consórcio público – Associação Pública ou Privada, instituído
municípios que façam parte de uma região metropolitana, para
pela edição de leis municipais e lei estadual ratificando
promover integração nas decisões do estado e dos municípios.
protocolo de intenções e constituindo ente intergovernamental
• Quando em conformidade com o Estatuto da Metrópole,
de caráter público ou privado sem fins lucrativos;
essas entidades podem se revestir de grande potencial
II. Convênio de Cooperação: formado a partir
de integração por se caracterizar como uma instância de
de edição de leis municipais que ratificam ou
governança interfederativa.
disciplinam previamente o termo de convênio.
• O tipo jurídico dessa entidade é aberto, podendo ir
• Diferentemente do convênio simples, entende-se que,
desde associações e autarquias estaduais até empresas
por meio do convênio de cooperação, devidamente
estatais controladas pelo estado (em todos os casos, com
aprovado, ocorre uma efetiva delegação do exercício de
governança compartilhada com critérios consistentes para
competência a órgão, autarquia ou a qualquer outra
fins de integração).
entidade, inclusive dos municípios para o estado, ou de
um município para outro. Como exemplos de experiências bem-sucedidas na área de
• Com base na Lei nº 11.107/05, foram exaustivamente estruturas de governança interfederativa, pode-se citar a criação
disciplinados pelo Decreto nº 6.017, de 17 de janeiro de das Transit Alliances, modelo alemão aplicado ao transporte público
2007 (“Decreto 6.017/07”); coletivo e que se encontra no quadro a seguir,
III. Comitês e fóruns: baseiam-se em estruturas sem poder
formal de decisão, várias vezes estabelecidas por iniciativas
individuais das esferas de governo – representam o
menor nível de integração entre entes federativos.
• Geralmente criados por acordos de cooperação técnica
ou convênios simples, celebrados por iniciativa do Poder
Executivo ou de entidades de terceiro setor;
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Gestão do transporte público coletivo Sistema de transporte público coletivo » Governança
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Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Monitoramento
3.2
As metas de qualidade podem ser definidas de diferentes
formas, nos contratos ou em outros regulamentos aplicáveis ao
transporte público coletivo. Para garantir seu atendimento e moti-
O monitoramento é o processo contínuo de observação dos serviços • Advertências: geralmente associadas a infrações leves,
prestados pelos operadores com o objetivo de avaliar o cumpri- visam a notificação oficial à empresa operadora acerca do
mento dos serviços conforme as metas de qualidade especificadas descumprimento de uma dada diretriz ou parâmetro de
em contrato. qualidade acordado. Caso o evento ou atributo gerador
do desvio de qualidade não seja corrigido no prazo
172 173
Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Monitoramento
estabelecido, há a aplicação de multa ou outras penalidades Tabela 20 Aspectos e atributos relacionados à aplicação de penalidades
mais robustas;
Atributos das Possibilidades
• Multas: principal instrumento de motivação da empresa
penalidades
operadora a cumprir com o nível de serviço acordado, multas
são cobranças de valores monetários a serem pagos pela Forma Advertência
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Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Monitoramento
Uma das principais formas da fiscalização do regulamento é a parte na fiscalização do sistema. Além de promover o engajamento
partir de inspeções de campo. Essa é uma importante ferramenta e participação da população local na caracterização dos serviços, a
para avaliação do desempenho dos operadores por sua flexibilidade, utilização de canais de ouvidoria permite também uma otimização
facilidade de implementação e eficiência. dos recursos necessários ao órgão gestor para a fiscalização da em-
As inspeções requerem que os agentes do órgão gestor passem presa operadora, visto que ela pode promover inspeções de campo
por uma série de treinamentos de fiscalização e visitem garagens, extraordinárias ao receber reclamações de usuários, sem prejuízo
corredor, paradas, terminais e demais localidades para a verificação ou perda de compromisso com a rigorosidade exigida para garantia
do atendimento aos itens estabelecidos no início da concessão e que do nível de serviço adequado.
definem os parâmetros da qualidade a ser buscada. O órgão gestor Para que o processo de fiscalização contribua para a melhoria
deve ainda dimensionar o tamanho de sua equipe de agentes de da qualidade, a aplicação de penalidades deve ser punitiva o sufi-
modo que hajam membros suficientes para a realização efetiva de ciente para que a empresa concessionária sinta-se realmente mo-
fiscalização em todos os sistemas concessionados e com o crono- tivada a melhorar a qualidade do serviço, mas sem comprometer
grama de vistorias planejado. a saúde financeira do operador a ponto de impedir o investimento
para atender o regulamento ou impossibilitá-lo de prosseguir com
Figura 30 Fiscal da SPTrans no corredor de ônibus a operação do sistema.
A empresa concessionária deve ainda ter o direito de contes-
tação das penalidades aplicadas. Para isso, deve haver a criação de
instituições ou comissões de julgamento dos recursos de caráter
imparcial para avaliação da fundamentação por trás de cada pena-
lidade contestada, com prazos e demais condições bem definidas
para contestação. Tal comissão deve ainda dispor de capacidade
suficiente para evitar a morosidade no processo de julgamento de
multas, dado que em situações onde há grandes passivos de multas a
serem julgados, operadores podem sentir-se motivados a apresentar
recursos apenas para ganho de tempo e acúmulo de capital de giro.
As penalidades não precisam necessariamente serem definidas
no texto do contrato de concessão. Em cidades como São Paulo, Belo
Fonte: Verificação Independente do Transporte Público de São Paulo – Produto 4 - Relatório
de Avaliação do Modelo de Gestão, Monitoramento e Fiscalização dos serviços contratados Horizonte e Brasília, foram publicados instrumentos normativos de-
nominados Regulamentos de Transporte. Referenciados no contrato,
Inspeções podem ser ordinárias, com padrões de regularidade estes regulamentos contém uma relação de todas as ações, condutas
bem definidos, e extraordinárias, sendo realizadas de modo e fre- e características físicas, técnicas e operacionais passíveis de sanção,
quência arbitrários pelo órgão gestor, buscando detectar desvios de bem como o tipo de penalidade, valores a serem desembolsados,
qualidade ocorridos no dia a dia da operação do sistema, ou a partir prazos para correção e outros aspectos.
de reclamações de usuários. A seguir, encontra-se como exemplo algumas ocorrências defi-
Nesse sentido, é clara a importância de canais de ouvidoria por nidas pelo RESAM, Regulamento de Sanções e Multas desenvolvido
serem um importante instrumento que permite ao usuário tomar pela SPTrans.
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Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Monitoramento
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foto: SUTP Photo Gallery 181
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Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Monitoramento
Sendo:
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Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Monitoramento
Indicadores de qualidade do transporte coletivo (IDO, ICP, IPV e ICV) site e frequentemente repercute na o valor mínimo admitido em contratos
imprensa local. especificamente no pico da tarde.
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Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Regulação do equilíbrio econômico-financeiro
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Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Regulação do equilíbrio econômico-financeiro
Tabela 23 Resumo – reajuste e Revisão tarifárias As condições de equilíbrio do contrato estão ligadas a um poder
de compra e remuneração das empresas privadas em valores reais,
Aspectos Reajuste tarifário Revisão tarifária
isto é, descontando-se por completo os efeitos da inflação. Dado
Periodicidade Anual Ordinária: periodicidade especificada em contrato que os custos, despesas e investimentos incorridos pelas empresas
(por exemplo a cada quatro anos); operadoras são constantemente ampliados de forma natural por
culpa da inflação, o reajuste da Tarifa de remuneração visa a correção
Extraordinária: solicitada pelo órgão gestor ou e aumento dos valores desta de modo que as condições de renta-
operadores privados a qualquer momento,
bilidade determinadas no contrato de concessão sejam mantidas.
apresentando justificativa;
Caso os custos de empresas operadoras de ônibus sejam am-
Motivação Inflação Fatores extraordinários de caráter imprevisível ou pliados devido à inflação e sua Tarifa de remuneração se mantenha
previsível de consequências incalculáveis;
constante, sua rentabilidade pode diminuir para valores aquém dos
Mudanças consideráveis no escopo dos serviços; especificados no contrato e edital. A lógica por trás do reajuste da
Tarifa de remuneração, portanto, é a garantia de que a receita dos
Incorporar ganhos de eficiência e produtividade,
operadores acompanhe o comportamento de aumento de custos re-
bem como perdas de eficiência causadas por
fatores externos; lativo à inflação dos seus principais insumos e itens de custos. Deste
modo, trata-se de um importante instrumento para a manutenção
Resultado Variação da Tarifa de Variação da Tarifa de remuneração
do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos.
remuneração
A utilização de fórmulas paramétricas é a solução utilizada nos
Metodologia Fórmulas paramétricas Fluxo de caixa marginal contratos de concessão para Reajuste tarifário. O método consiste
(considerando variações em
na atualização dos preços de insumos por meio de uma expressão
preços ou índices de custos
representativos da operação) matemática que considera:
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Gestão do transporte público coletivo Contratos de concessão » Regulação do equilíbrio econômico-financeiro
Fonte: Elaboração própria a partir de dados de editais da última licitação de cada cidade
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foto: SUTP Photo Gallery 199
Passo a passo de aplicação
1.1 Situação presente
O município A tem uma população de 150 mil habitantes e a gestão
municipal conta com um sistema de transporte público coletivo por
ônibus em regime de permissão, onde uma única empresa detém o
direito de exploração das linhas.
A situação enfrentada pela gestão municipal é de frequentes
reclamações dos passageiros quanto à qualidade dos veículos e
frequência de atendimento em uma área periférica de baixa renda
domiciliar. Por outro lado, os gestores da empresa reivindicam que
os valores que recebem não são suficientes para ampliar o serviço
ou trocar a frota.
Em função da realidade, a administração municipal resolveu
atacar o problema e buscar uma solução, isto é, um sistema que
propicie uma rede de transporte público coletivo com boa permea-
bilidade no município e tenha atratividade para que operadores se
interessem em prestar o serviço.
201
Passo a passo de aplicação » 1.2 Estudos prévios » 1.2.4 Elaboração do projeto básico
202 203
Passo a passo de aplicação » 1.3 Processo licitatório » 1.3.1 Fase interna
O gestor então elabora o plano operacional relativo a cada lote que Por se tratar de um serviço público delegado a um operador priva-
será concedido. O plano operacional define, para cada linha do lote: do, o gestor elabora um documento que atribui responsabilidades
e aloca os riscos assumidos por cada parte no contrato, oferecendo
• Itinerário;
um cenário jurídico bem definido por estabelecr regras a situações
• Demanda;
outrora imponderáveis.
• Extensão da linha;
• Frequência ou número de viagens (por período e por dia);
1.2.7 Obtenção de licenças
• Frota.
1.3.1.1 Formas de remuneração
204 205
Passo a passo de aplicação » 1.4 Contrato de concessão
206 207
Figura 34 Passo a passo de aplicação
Diagnóstico da
situação presente
Caracterização
Planejamento socioeconômica
do sistema de e do sistema de
Situação presente
transportes transporte público
coletivo
Financiamento
Definição de lotes
Elaboração do
projeto básico
Plano operacional
Modelagem
financeira
Especificação da
frota, garagem
Alocação de e sistemas de
Estudos prévios responsabilidades bilhetagem e
e riscos monitoramento
Obtenção
de licenças
Passo a passo
de aplicação Formas de
remuneração
Elaboração
Fase interna
do edital
Processo
licitatório
Fase externa Audiência e
consulta pública
Contrato de
concessão
Referências Bibliográficas
210 211
Referências bibliográficas
ANTP. Planilha ANTP - Custos dos Serviços de Transporte por ônibus COUTO, D.M. Regulação e Controle Operacional no Transporte Cole-
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w/f?p=204:110:0::::FSP_LANG_ID,FSP_PROJECT:25,15341&cs=1E- Metropolitana no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa
9344D1227F2843135B92A111FB14D95.
212 213
Referências bibliográficas
214 215
O Caderno Técnico de Referência – Gestão do Sistema de
Transporte Público Coletivo tem o objetivo principal de orientar
e servir como ferramenta de apoio à decisão para gestores e
técnicos públicos quanto aos processos de licitação, concessão
e gestão do transporte público coletivo. Para isso, o Caderno
conta com orientações e discussão de melhores práticas fun-
damentadas em estudos de casos nacionais e internacionais,
literatura técnica, instrumentos da Política Nacional de Mobi-
lidade Urbana (PNMU) e outras fontes.
Destinado a técnicos e gestores públicos das áreas de
transporte e mobilidade urbana das esferas públicas municipal,
estadual e federal, foi elaborado pela Secretaria Nacional de
Mobilidade Urbana (SEMOB), com recursos e apoio técnico da
Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável por
meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusamme-
narbeit (GIZ) GmbH, em nome do Ministério Federal da Coo-
peração Econômica e Desenvolvimento (BMZ), da Alemanha.
A partir deste Caderno, o leitor terá acesso ao conteúdo
estruturado em três capítulos principais: A. gestão do trans-
porte público coletivo urbano; B. estruturação do processo de
concessão; C. gestão do transporte público coletivo.