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Um perfil de Guarapuava

Alessandro de Melo

Os leitores não se preocupem que não pretendo fazer um “retrato da cidade”, como
parece prometer o título. O título “Um perfil de Guarapuava” é uma provocação para trazer à
tona uma realidade pouco discutida e que uma grande pesquisa que estamos realizando na
Unicentro, junto ao Grupo de Pesquisas em Trabalho, Educação e História – GETEH, vem
desvendando, qual seja: a do trabalhador que estuda no ensino noturno da cidade.

O objetivo que nos propomos é compreender como é a vida destas milhares de


pessoas que frequentam as escolas no turno da noite, e que, geralmente, trabalham durante o
dia. Em especial nos interessa compreender como são as condições da vida destas pessoas, a
relação destas com o estudo, com o lazer e o descanso. Os resultados parciais já são suficientes
para chegarmos a alguns questionamentos sobre o tipo de trabalho médio realizado pela
maioria dos trabalhadores da cidade, e as perspectivas não são muito animadoras.
Apresentamos apenas alguns deles aqui.

O Diário de Guarapuava anunciou um aumento do poder de compra dos


guarapuavanos, na edição do dia 17 de maio, o que enche de esperanças os comerciantes e
outros setores econômicos. Mas, convenhamos, há que se averiguar a que custas isso se deu, e
quem são estes “consumidores”. Antes de adentrar nos dados da pesquisa, um fato parece
indiscutível apenas por andar nas ruas da cidade: os últimos tempos presenciou uma
multiplicação dos correspondentes bancários ou bancos ávidos por auferirem lucros com
transações de empréstimos. Daí que os dados referentes ao nível de consumo devem ser
conflitados com os dados do endividamento das pessoas, para, daí, podermos apreciar a
qualidade do consumo, ou seja, se as pessoas estão consumindo conscientemente, dentro dos
padrões que os orçamentos familiares permitem.

Voltando ao perfil dos nossos estudantes/trabalhadores, alguns dados saltam aos


olhos. A maioria destas pessoas trabalham 8 horas ou mais por dia, e mais que cinco dias por
semana, o que já nos alerta para uma situação controversa: se as pessoas trabalham tanto e
por tantos dias, como repõem as energias para trabalhar? De fato, mais da metade dos
pesquisados admitem que não acorda descansado para trabalhar, porque dormem pouco,
depois de uma dupla, ou até tripla jornada: trabalho, estudo e trabalho na própria casa. E se
estivermos certos, parece que esta situação é ainda pior para as mulheres, tradicionalmente
responsáveis pelos afazeres domésticos.

Interessante notar que na pesquisa não compreendemos jornada de trabalho apenas o


tempo gasto dentro do serviço, mas também o tempo todo do dia gasto para trabalhar, o que
engloba o tempo antes do trabalho, utilizado para as providências para o trabalho, bem como
o tempo de retorno para casa. E se o estudo noturno é também exigência do trabalho, o que
pode ser tema de outra coluna, é também incorporado como tempo dedicado ao trabalho. A
realidade destas milhares de pessoas é que vivem muito pouco, e com pouca qualidade, fora
do trabalho.
Mas, não esqueçamos, estamos tratando de estudantes, que, portanto, deveriam ter
tempo para estudar, ou isso não é necessário? O fato é que a pesquisa vem constatando
realmente que estes trabalhadores e estudantes são muito mais trabalhadores que estudantes,
ou seja, que pouco tempo lhes resta do dia para estudar. Isso, claro, coloca um grande
problema: qual a qualidade da educação destas pessoas? E mais: será que uma relação tão
precária com a educação escolar cumpre a “promessa integradora”, ou seja, de integrar estas
pessoas, com qualidade, no mercado de trabalho? A resposta parece clara, não?

Bem, para materializar o que disse acima, gostaria de encerrar deixando aqui um perfil
típico do trabalhador/estudante de Guarapuava constatado nas pesquisas até aqui realizadas:
mulher ou homem, 18 a 30 anos, cursando ensino médio ou fundamental, que trabalha 8
horas por dia ou mais, 6 dias dias por semana, ou mais, em comércio ou em serviços em geral,
que cumpre horas extras, que trabalha das 7h da manhã até 17 horas, e que acorda entre 5h30
e 6h30 da manhã e dorme próximo da meia noite, e, claro, não acorda descansado e sente
dores no corpo. Sua renda média é de 2 salários mínimos em média, conseguidos com a ajuda
de duas pessoas ou mais, e com grande chance de já ter realizado empréstimos.

Talvez este não seja o tipo de perfil desejado pelos leitores para classificar a cidade de
Guarapuava. Mas ele é real, e só não vê quem não quer.

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