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Curso de Graduação a Distância

História de
Israel
(02 créditos – 40 horas)

Autores/as:
Mercedes de Budallés Diez
José Edmilson Schinelo

Universidade Católica Dom Bosco Virtual


www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335

289- 07026
UCDB VIRTUAL

Missão Salesiana de Mato Grosso


Universidade Católica Dom Bosco
Instituição Salesiana de Educação Superior

Chanceler: Pe. Gildásio Mendes dos Santos


Reitor: Pe. José Marinoni
Pró-Reitora de Graduação: Conceição A. Galvez Butera
Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori
Coordenadora Pedagógica: Prof. Blanca Martín Salvago

Direitos desta edição reservados à Editora UCDB


Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335
www.virtual.ucdb.br
UCDB -Universidade Católica Dom Bosco
Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário
Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302
CEP 79117-900 Campo Grande – MS

Diez, Mercedes de Budallés e Schinelo, José Edmilson.


Disciplina: História de Israel

Mercedes de Budallés Diez e José Edmilson Schinelo. Campo


Grande: UCDB, 2014. 88 p.

Palavras-chave:
1. Bíblia 2. História 3. Israel 4. Teologia

0216

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APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO

Este material foi elaborado pelos professores conteudistas sob a orientação da


equipe multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático
que norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico
do seu curso.

Elementos que integram o material


Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para
a avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina.
Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a
realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem
ultrapassar o prazo máximo indicado pelo professor.
Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do
professor sobre os diferentes temas objeto de estudo.
Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você
possa aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para
facilitar seu acesso aos materiais.
Atividades Virtuais: atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo.
As datas de envio encontram-se no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Como tirar o máximo de proveito


Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros
conteúdos e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de:
· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramentas
de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA;
· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas
audiovisuais, vídeo-aulas, fórum de discussão, etc.;
· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto
a calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros;
· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas
necessidades como estudante, organize o seu tempo;
· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua
aprendizagem, contando com a ajuda e colaboração de todos.

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Objetivo Geral
Propiciar noções gerais acerca da História de Israel, no contexto bíblico das
Sagradas Escrituras judaico-cristãs, incluindo informações sobre geografia e história de
Israel-Palestina, a memória que passa de geração em geração, as dominações nacionais e
internacionais, nos vários âmbitos (político, social, religioso, econômico, etc.) e os
movimentos de resistência nesse processo, percebendo o Deus da Vida nesta grande
“colcha de retalhos” que é a Bíblia.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO – SUMÁRIO

UNIDADE 1 – “OUVIMOS COM NOSSOS PRÓPRIOS OUVIDOS O QUE NOSSOS


PAIS NOS CONTARAM” (Sl 44,2) ........................................................................ 11
1.1 Fazendo memória ................................................................................................. 11
1.2 O que nossos pais e mães nos contaram: um povo a caminho .................................. 14
1.3 Quando Israel saiu do Egito ................................................................................... 17
1.4 Roteiro de leitura dos textos do Êxodo .................................................................... 18
UNIDADE 2 – “NESSE TEMPO NÃO HAVIA REI EM ISRAEL”
(Jz 17,6; 18,1; 19,1) ........................................................................................... 22
2.1 A experiência das tribos ......................................................................................... 22
2.2 Do sistema tribal à monarquia ................................................................................ 28
UNIDADE 3 – “ÀS TUAS TENDAS, Ó ISRAEL! E AGORA CUIDA DA TUA CASA,
DAVI” (1 Rs 12,16) ............................................................................................. 34
3.1 Divisão dos Reinos (930 a.C.)................................................................................. 34
3.2 Profetismo ............................................................................................................ 38
3.3 Entendendo o “profeta” ......................................................................................... 40
UNIDADE 4 – “ISSO ACONTECEU PORQUE ELES NÃO OBEDECERAM A PALAVRA
DE YHWH E VIOLARAM SUA ALIANÇA” (2 Rs 18,12) .......................................... 44
4.1 Dominados pelos Impérios ..................................................................................... 44
4.2 A Palestina sob a hegemonia assíria (738-630 a.C.) ................................................. 46
4.3 Projeto de um novo Israel (640-609 a.C.) ............................................................... 47
4.4 Acontecimentos do tempo do Exílio e suas consequências ........................................ 49
UNIDADE 5 – “ASSIM FALA CIRO, REI DA PÉRSIA: YHWH, O DEUS DO CÉU,
ENTREGOU-ME TODOS OS REINOS DA TERRA” (2 Cr 36,23) .............................. 53
5.1 Domínio do Império Persa...................................................................................... 53
5.2 Judaísmo .............................................................................................................. 55
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5.3 Neemias e Esdras.................................................................................................. 56


UNIDADE 6 – “VAMOS FAZER ALIANÇA COM NAÇÕES VIZINHAS PORQUE
DEPOIS QUE NOS AFASTAMOS DELAS, MUITOS MALES NOS ACONTECERAM” (1
Mc 1,11) .............................................................................................................. 62
6.1 Domínio do Império Grego ..................................................................................... 62
6.2 Consequências vitais para o Judaísmo: nova teologia ............................................... 66
6.3 Macabeus e Hasmoneus ........................................................................................ 68
6.4 Literatura da época grega ...................................................................................... 69
UNIDADE 7 – “NAQUELES DIAS, O IMPERADOR AUGUSTO PUBLICOU UM
DECRETO ORDENANDO O RECENSEAMENTO EM TODO O IMPÉRIO” (Lc 2,1-2) . 72
7.1 O período de dominação romana sobre Israel (63 a.C. - 135 d.C.)............................. 72
7.2 Movimento popular ............................................................................................... 76
7.3 Judaísmo formativo: comunidades judeu-cristãs ...................................................... 77

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 82
ATIVIDADES ....................................................................................................... 83

Avaliação
A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar, isto é, a finalidade da
avaliação é propiciar oportunidades de ação-reflexão que façam com que você possa
aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc.
A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no final
de cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do aluno ao
longo de cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das atividades. Todo o
processo será avaliado, pois a aprendizagem é processual.
Para que possa se atingir o objetivo da avaliação formativa, é necessário que as
atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo ao que se pede e tentando sempre
exemplificar e argumentar, procurando relacionar a teoria estudada com a prática.
As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de
cada disciplina. As atividades enviadas fora do prazo serão aceitas nas seguintes condições:
• As atividades enviadas 7 dias após o vencimento do prazo serão corrigidas com a
pontuação normal, isto é, sem penalização pelo atraso.
• Após os 7 dias, o professor aplicará um desconto de 50% sobre o valor da ati-
vidade.

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Critérios para composição da Média Semestral:

Para fazer a Média Semestral, leva-se em conta o desempenho atingido na avaliação


formativa e na avaliação somativa, isto é, as notas alcançadas nas diferentes atividades
virtuais e na(s) prova(s).
Antes do lançamento desta nota final, o professor divulgará a média de cada aluno,
dando a oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a
7,0 possam fazer a Segunda Chamada.
Após a Segunda Chamada, o professor já fará o lançamento definitivo da Média
Semestral, seguindo o procedimento abaixo:

A prova presencial tem peso 7,0 e as atividades virtuais têm peso 3,0. Portanto, para calcular a
Média, o procedimento é o seguinte:

1. Multiplica-se o somatório das atividades por 0,30;


2. Multiplica-se a média das notas das provas por 0,70.
Para termos a Média Semestral, somam-se os dois resultados anteriores, ou seja:
MS = MP x 0, 7 + SA x 0,3
MS: Média Semestral
MP: Média das Provas
SA: Somatório das Atividades

Assim, se um aluno tirar 10 na(s) prova(s) e tiver 10 nas atividades:


MS = 10 x 0,7 + 10 x 0,3 = 7,0 + 3,0 = 10

Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda
poderá fazer o Exame. A média entre a nota do Exame e a Média Semestral deverá ser igual
ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina.

FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES

O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu
cronograma e tenha um controle de suas atividades:

AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO **

Atividade 1.1
Ferramenta: Tarefas

Atividade 2.1
Ferramenta: Tarefas
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Atividade 3.1
Ferramenta: Tarefas

Atividade 4.1
Ferramenta: Tarefas

Atividade 5.1
Ferramenta: Tarefas

Atividade 6.1
Ferramenta: Tarefas

Atividade 7.1
Ferramenta: Tarefas

Atividade 7.2
Ferramenta: Questionário

* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade (consulte o
calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem).
** Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade.

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BOAS VINDAS

Olá, estimado/a acadêmico/a!


Neste módulo nós vamos passear juntos/as pela História de Israel. Trata-se da
história de um povo de Deus, visto que todos os povos são povos de Deus. Uma história de
um povo, gente como a gente, que com todas as limitações humanas e desejo de viver a fé,
foi tecendo seu caminho.
Para nós, pessoas cristãs, a História de Israel é de fundamental importância
porque, de acordo com nossa fé, Deus se encarnou em um palestino-israelita, um galileu
chamado Jesus. Conhecer a história de seu povo, portanto é conhecer melhor a história do
Filho de Deus feito gente!
Palestinos e judeus deixaram importante legado para a humanidade e para a
própria tradição judaico-cristã. Que nesse passeio pela História de Israel, possamos
reconhecer o Deus da Vida que se revela e se manifesta, lá e agora. Que, ao estudar a
história “povo de Deus”, nos sintamos incomodados/as ao ver um mesmo grupo que se
autoproclamou “povo de Deus” massacrar irmãos palestinos, muitas vezes justificando sua
prática por meio de uma leitura equivocada da Bíblia e da História.
Que uma compreensão mais ampla da História de Israel nos leve a realizar ações
em favor do diálogo, da paz entre todas as nações, que formam o grande “povo de Deus”.
Desejamos a você um bom estudo!
Um abraço!

Mercedes de Budallés Diez


José Edmilson Schinelo

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Pré-teste

A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos


prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta
disciplina. Não fique preocupado/a com a nota, pois a atividade não será
pontuada.

1. Em que períodos podemos dividir a História de Israel, no contexto bíblico?


Sinteticamente, quais as características de cada período?
2. Você sabe por que se utiliza YHWH ao invés de Javé ou “o senhor”? Como você
costuma traduzir o nome “El Shaddai”?
3. Que movimentos de resistência podemos citar na História de Israel, no contexto
bíblico?

Submeta o Pré-teste por meio da ferramenta Tarefas.

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APRESENTAÇÃO

Estimado/a acadêmico/a,
Nesta disciplina apresentaremos um panorama geral sobre a História de Israel, de
modo que você tenha elementos importantes para realizar um estudo bíblico, bem como
aprofundar o conteúdo de outras disciplinas decorrentes de Bíblia. É importante que você leia os
textos, assista aos vídeos que esclarecem os conteúdos, participe e interaja nos fóruns e chats
das unidades.
O material se estrutura em sete unidades. Na primeira, abordamos a metodologia do
estudo da História de Israel e a importância da memória e da compreensão dos fatos, lugares e
tempo em que foram escritos, contados e recontados.
Na segunda unidade, trataremos da formação do povo de Israel na terra de Canaã,
organizando-se em tribos. Você vai observar que muitas vezes utilizamos a expressão Israel-
Palestina. Trata-se de uma escolha política, visto que afirmar que “Israel venceu os cananeus”,
primeiros habitantes da terra, é uma forma de justificar ideologicamente o massacre do atual
estado de Israel sobre os palestinos (como se os palestinos fossem descendentes dos primeiros
habitantes, que Deus mandou derrotar). Na verdade o povo de Israel é fruto de mistura de
grupos distintos, como veremos nessa unidade. A introdução da Monarquia também será vista
nesta unidade.
A terceira unidade abordará a divisão dos reinos na monarquia (Norte e Sul) e as
diferentes experiências de vida e de Deus que levaram a essa ruptura entre o povo de Israel.
Também trataremos do surgimento do movimento profético, que no contexto monárquico,
anuncia, denuncia e anima.
Na quarta unidade, falaremos da dominação dos impérios assírio e babilônico, a
experiência de exílio, bem como a interpretação dada a todos esses acontecimentos. Na quinta,
veremos a dominação persa. Veremos como YHWH, Deus que caminhava com seu povo nos
tempos da saída do Egito e na época das tribos, agora sob o domínio de outras culturas, passa a
ser o “Deus do Céu”. Destacaremos as consequências sociais e teológicas dessa mudança.
Na sexta unidade, a dominação grega, procurando entender a influência do helenismo
grego no judaísmo e a mudança de valores do povo da Bíblia. E por fim, na sétima unidade
abordamos a dominação romana, entendendo no contexto bíblico seus impactos, que
culminaram com a destruição de Israel.
Expressando nossa palavra de gratidão a Ana Luiza Cordeiro, que fez boas sugestões
ao texto, desejamos a todos/as um bom estudo!
Um abraço!

Mercedes de Budallés Diez


José Edmilson Schinelo

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UNIDADE 1

“OUVIMOS COM NOSSOS PRÓPRIOS OUVIDOS O


QUE NOSSOS PAIS NOS CONTARAM” (Sl 44,2)

OBJETIVO DA UNIDADE: Introdução à História de Israel narrada na Bíblia, valorizando a


memória escrita e compreendendo melhor o lugar e tempo dos fatos descritos.

1.1 Fazendo memória


“Ó Deus, nós ouvimos com nossos próprios
ouvidos o que nossos pais nos contaram a obra
que realizaste com eles nos dias passados”
(Sl 44,2).

Você já fez uma boa Introdução à Sagrada Escritura e certamente já leu muitos
textos bíblicos que lhe ajudaram na vida. Isso é o mais importante, a vida! Assim, o mais
extraordinário do nosso livro sagrado é que proclama o Deus da vida. A Bíblia narra
acontecimentos e orações da vida de um povo que acreditava que Deus caminhava com ele.
Por isso é um livro tão importante para nós.
A Bíblia é, ainda, um livro de memórias e nós certamente podemos fazer a
experiência de re(cor)dar, passar pelo coração, todo o aprendido até agora e isso facilitará
nossa formação teológica.
Nem tudo que lemos nos textos bíblicos realmente aconteceu. Quem conta a
história, faz memória, sempre desde um ponto de vista. E como dizem os antigos, “quem
conta um conto aumenta um ponto”. Muitos anos contando histórias, muitos grupos
repetindo essas histórias, certamente essas narrações estão carregadas de muita fé e muito
empenho para nos ajudar.
Façamos uma comparação: na beleza de um iceberg podemos contemplar o
tamanho, a cor, as diferentes tonalidades e sombras. Mas, o que está abaixo do nível do
mar, de acordo com os/as cientistas, é até dez vezes mais do que conseguimos ver. Assim
acontece com os textos bíblicos. A vida que pulsou e ainda pulsa debaixo de cada frase é
muito maior. Na sua beleza e nas suas contradições.

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o que
vemos...

o que
o que não
vemos... vemos...

Fonte: Elaboração própria.

Se os fatos não são registrados tal como aconteceram, o mesmo podemos dizer dos
lugares geográficos. Muitos escritos, ao citar povoados, cidades, rios, etc., querem nos
ajudar a explicar sua força teológica. Isaías relata que Deus diz “farei jorrar rios por entre
montes desnudos, e fontes por entre os vales. Transformarei o deserto em açudes e a terra
seca em nascentes de água” (Is 41,18). Afirmar que Jesus nasceu em Belém, por exemplo,
é recuperar toda a riqueza teológica por trás desse nome. Lugar pequeno, periferia do
poder, Belém significa “casa do pão”. Aquele que nasce em Belém passa a vida lutando para
que as pessoas tenham pão em sua mesa. Jesus ensina a partilhar o pão e, ao morrer, se
faz pão.
Tomemos outro exemplo. Toda a tradição do êxodo encontra-se preservada nos
textos que relembram o deserto e a montanha no Novo Testamento: João Batista prega no
deserto (Mt 3,3) e para lá o Espírito conduz Jesus (Mt 4,1); e é no deserto que Jesus
partilha os pães (Mc 6,31). Tal como Moisés recebeu as tábuas da lei na montanha do Sinai,
ao anunciar o novo e definitivo êxodo, também numa montanha Jesus proclama a nova Lei,
que se abre com as Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12). Na montanha, Jesus vai orar (Mt
14,23), curar doentes e famintos (Mt 15,29-31) e se transfigura (Mt 17,1-9). E é a partir do
Monte das Oliveiras que ele realiza sua entrada em Jerusalém, montado num jumento (Mt
21,1), é lá, também, que está quando é traído e preso (Mt 26,30). E é a partir da montanha
que Jesus envia os seus a todas as nações (Mt 28,16-20).
Se deserto e montanha evocam a experiência do êxodo, o mesmo acontece com o
mar. Lugar de caos e de morte, na vitória sobre faraó, o mar foi aberto e o povo passou a
pé enxuto. No Novo Testamento, Jesus também é mais forte e tem poder de pisar sobre o
mar, mesmo quando ele se torna agitado e violento (Mc 6,45-51). No livro do Apocalipse, é

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a terra que se abre para engolir as águas (Ap 12,16). Na antiguidade, o dominador, o mal,
vinha pelo mar. Desde os “Povos do mar” até o Império Romano, que chamava o Mar
Mediterrâneo de “Mare Nostrum”, os que chegavam pelo mar eram temidos como invasores.
O mar era então o símbolo do mal, como afirma Jó: “Acaso sou eu o Mar ou o Dragão para
que me cerques com guardas?” (Jó 7,12). Por isso, na vida nova, não há espaço para o
mar: “Vi então um céu novo e uma terra nova, pois o primeiro céu e a primeira terra já se
foram, e o mar já não existe mais” (Ap 1,1).
Além disso, belíssimos trechos bíblicos são compreendidos melhor se sabemos que
na cultura hebraica os lugares geográficos são teológicos além de geográficos. Por exemplo,
deserto e monte são lugares de encontro com Deus. Verifique em sua Bíblia:
- Gn 16,7: O próprio Deus se encontra com Agar;
- Ex 3,1-6: Moisés vai para além do deserto, para a montanha de Deus, que Ele
mesmo diz que é terra sagrada;
- Ex 19,1-6: Moisés e o povo chegam ao deserto do Sinai e Moisés “subiu a Deus e
da montanha Deus o chamou”.
Faça uma revisão do que você já sabe a respeito da geografia da Palestina. Procure
nos mapas que estão à sua disposição os nomes geográficos que aparecem num texto
bíblico. Viaje pelas terras bíblicas. Faça a experiência! Isso facilitará muito a aprendizagem e
vivência bíblica. E agora recordemos onde está Israel-Palestina. Reveja o que você estudou
em Introdução à Sagrada Escritura (veja especialmente o item 5.3 - A Terra de Israel ocupa
lugar estratégico).

Fonte: Serviço de Animação Bíblica – SAB. Paulinas.


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Você percebe que Israel-Palestina (esta sofrida Palestina que hoje se reconhece só
como a Cisjordânia) está num lugar estratégico? No meio de dois grandes continentes,
África e Ásia, que certamente tinham muitas coisas em comum em etnia, cultura e vida com
o antigo Canaã, terra chamada mais tarde de Israel e Palestina.
Sobre esse pequeno território que alicerçou nossa fé, relembre o que já foi
comentado, visto que até nós chegaram interpretações e pinturas com características
europeias. Hoje, para decodificar as passagens bíblicas temos que nos espelhar nas culturas
de África e Ásia. Assim entenderemos melhor a história e conteúdo dos relatos.
Para ler a Bíblia é muito importante entender de geografia e história. Se João disse
que “a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), se Paulo proclama que o nosso
Deus se fez gente “tomando a semelhança humana” (Fp 2,5-11), poderíamos deixar de
conhecer a terra que o próprio Deus pisou e a história do seu povo?

Dica de Aprofundamento

Pegue os mapas da sua Bíblia ou outros e faça


diversas viagens de acordo com seu gosto. Viaje do
Egito a Israel com Mirian e Moisés, observando e
memorizando os nomes dos lugares por onde
passaram. Ou viaje pela Palestina com Jesus e seus
discípulos, parando nos lugares, lembrando o que
Fonte: http://migre.me/jFpwJ
aconteceu e verificando no texto bíblico todos os
detalhes.

1.2 O que nossos pais e mães nos contaram: um povo a caminho

“Caminhando e cantando e seguindo a canção


Somos todos iguais braços dados ou não...
Vem, vamos embora que esperar não é saber
quem sabe faz a hora não espera acontecer!”
(Geraldo Vandré, 1968).

O caminho vai ser longo. A Bíblia recolhe “histórias” desde uns 1800 anos antes de
Cristo até cerca de 130 anos da era cristã. Precisamos entender os diferentes momentos, as
diversas culturas dos impérios que invadiram as terras bíblicas e seu povo dominado, bem
como as consequências para a fé do povo palestino-israelita.

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Para simplificar, apresentaremos a história por


É importante conhecer alguma
etapas, numa espécie de “Linha do Tempo”. Essas CRONOLOGIA dos tempos antigos
etapas acompanham o que os livros da Bíblia contam que ajuda situar as Origens, o
tempo dos Patriarcas, dos Juízes,
e documentos extrabíblicos confirmam. É evidente dos Reis e dos Profetas, o Exílio, o
que com o avanço das ciências e dos métodos de Pós-Exílio e os tempos do chamado
Novo Testamento. O final da edição
pesquisa, questionamos datas, contradições que Bíblia de Jerusalém, por exemplo,
aparecem nos textos e muitos outros detalhes. O traz um Quadro Cronológico
bastante completo.
certo é que nossa fé não depende da verificação de
certas coisas. A confiança num Deus que caminhava com seu povo e que ainda caminha
hoje permanece, independente se os fatos contados são reais ou simbólicos, históricos ou
narrados de forma alegórica.
Os primeiros 11 capítulos do livro do Gênesis dificilmente poderiam ser históricos e
contados por testemunhas presentes na Criação, no Dilúvio ou na construção da Torre de
Babel. Alguns desses textos são liturgias com belos refrões repetitivos: “E Deus viu que tudo
era bom” (Gn 1,4.9.12.18.21.25.31). Outros, como as narrativas do Dilúvio e da Torre de
Babel, são tradições de outras culturas do Oriente atualizadas em Israel1.
Podemos, porém caminhar com os primeros dados históricos que a Bíblia nos dá:
Migrações de povos (Dt 26,1-11) como os Amoritas ou Amorreus que, vindos da Arábia,
chegaram ao Egito e à Mesopotâmia, conquistando espaço e construindo cidades.

Pais e Mãess

Fonte: Elaboração própria.

Nesse tempo que chamamos das Mães e Pais do povo (às vezes se usa a
expressão “Matriarcas e Patriarcas”), podemos identificar pelo menos cinco diferentes

1
Confira a Epopeia de Gilgamesh. Disponível em:
<http://www.domusaurea.org/disciplinas/ao/A_Epopeia_de_Gilgamesh.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2014.
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grupos de povos migrantes pelos diversos tipos de tumbas que deixaram, pela qualidade da
sua cerâmica, etc. A força desses povos foi tão grande que acabaram com alguns impérios,
como o dos sumérios e o dos acádios. O grande Hamurabi, que reinou na Babilônia, seria de
origem amorita (o código de Hamurabi2 foi uma das primeiras legislações escritas
existentes).
Outro grupo conhecido por sua força e organização foram os Hicsos ou príncipes
estrangeiros (indo-germânicos). Dominaram o Egito entre 1900 e 1550 a.C. Na mesma
época, surgiram os Hurritas (povo não semita) vindos do Norte. Por volta de 1700 a.C.
chegaram os Hititas, de origem indo-europeia, que dominaram a região até o ponto de
acabar com os amorreus.
E por volta de 1300 a.C. chegaram os “povos do mar” (filisteus e outros)
guerreiros bem treinados e organizados que, localizados na beira mar, na área de Gaza e
chegarão mais tarde até o Egito.
Estariam entre essas migrações as mães e os pais, antepassados do povo de Israel?
Poderiam ser originalmente de Ur, estariam situados em Arã. Conforme as tradições bíblicas,
no caminho para a Palestina e o Egito passaram pelas cidades de Mambré, Hebron, etc. Há
episódios bem conhecidos daquela época, como as disputas pelos poços (Gn 26,15-25), que
respondem à problemática de falta de água da região, o que acontece de fato em todas as
ocupações.
No Egito: Pelos anos de 1550 a.C., foi constituído o que ficou conhecido como Novo
Império Egípcio. Em 1468 a.C., o Egito conquista Retenu (Palestina-Síria), conforme os
egípcios chamaram esta região em seus documentos. Controlaram este “corredor
internacional” com a vitória em Meguido.
Em 1350 a.C., Amenófis IV, que mudou seu nome por Akhenaton, fez uma revolução
cultural e religiosa fundando uma nova capital: El Amarna. Lá se encontraram muitas cartas
que nos deram diversas informações sobre essa época. Tutankamon fez a contrarreforma,
mas um golpe de estado mudou tudo de novo. Ramsés I e Seti I recuperam o Egito no
esplendor passado.
Seu sucessor Ramsés II enfrentou os hititas em Cades. Sua fama como construtor
chegou até nós. Diversos documentos confirmam que os hebreus ou hapirus ajudaram nas
grandes construções. Na estela de Merneptah, Israel é citado como grupo ou povo já
existente.
Em Canaã apareceram conflitos com os hapirus. Segundo os/as estudiosos/as,
seriam grupos de origem amorita, conhecidos também por documentos da Mesopotâmia.

2
Confira o Código de Hamurabi. Disponível em:
<http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm>. Acesso em: 08 jun. 2014.
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Semitas seminômades dos quais o clã abraâmico faria parte? Parece que outros grupos
estariam dispersos por todo o Crescente Fértil de forma pacífica ou agressiva. Alguns teriam
chegado ao Egito, onde trabalharam para sobreviver. Em uma das listas genealógicas, a
Bíblia, fala de Heber como antepassado de Abraão (Gn 11,16). Quem era HeBeR? Existiria
uma relação com o povo HeBReu? E com os HaPiRu? Sabemos que o hebraico antigo só tem
consoantes, o que nos leva a suspeitar que estes diferentes nomes estão se referindo ao
mesmo grupo HBR. As cartas encontradas no Tel El Amarna confirmam nossas suspeitas.
Conheça uma:

Carta de Milkili de Gazer ao faraó

Ao rei, meu senhor, meu deus, meu sol


assim fala Milkili, teu servo a poeira de teus
pés: cai sete vezes e sete vezes aos pés do
rei, meu senhor, meu deus meu sol. Que o
rei saiba que são muitas as hostilidades
contra mim [...] que o rei, meu senhor,
salve seu pais das mãos dos hapirus.
Fonte: http://migre.me/jFrYz

Assim, chegamos ao Egito onde o povo da Bíblia vai viver uma profunda experiência
de “escravidão e libertação”, segundo conta o livro do Êxodo.

1.3 Quando Israel saiu do Egito

“Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo:


Eu sou YHWH3, teu Deus, que te fez sair do Egito,
da casa da escravidão!“ (Ex 20,2).

No leste do delta do Nilo, na terra que a Bíblia chama de Terra de Guesen, existiam
povos semitas. A carta de um oficial egípcio de Merneptah comunica que “passaram tribos
beduínas (shasu) de Edom para que elas e seus rebanhos sobrevivam”. Ou seja, no Egito
chegaram grupos de outros povos e culturas à procura de melhores condições de vida.
O grupo liderado por Mirian, Aarão e Moisés (Moisés é um nome egípcio), poderia ser
uma prova de que escribas de origem semita trabalhavam na administração do Egito, o que
nos ajudaria a entender o texto do Êxodo nesse contexto. Houve, portanto, migrações,
trabalho escravo e fuga de hebreus do Egito.

3
YHWH é a transliteração das quatro letras hebraicas utilizadas para grafar um dos nomes de Deus
na Bíblia: YHWH (ou Yahweh). Em respeito à sacralidade divina, os judeus não pronunciam esse
nome. Sempre que encontram a grafia YHWH, leem Adonai, que significa “senhor”.
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Algo importante para nós é que o livro do Êxodo conta o relato mais evocado e
repetido na Bíblia: Deus liberta seu povo da escravidão! Como lembrou Valmor da Silva
(2008), em conferência durante o II Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica, “o Êxodo é o
nosso MITO, é o relato fundante da Bíblia. É o barbante, o pavio da vela da Bíblia! O texto
que mais se repete e interpreta na Bíblia e na história”.4

1.4 Roteiro de leitura dos textos do Êxodo

Sugerimos abaixo um roteiro de leitura dos 15 primeiros capítulos do livro do Êxodo.


IMPORTANTE: Voltaremos nesses textos na próxima disciplina (Pentateuco e Livros
históricos). Por enquanto, é importante que tenhamos uma visão de conjunto, levando em
conta que o êxodo é chave de leitura para entendermos toda a história de Israel-Palestina.

a) Capítulos 1,1 –2,22 e 5,6-20: A opressão no Egito e a luta pela vida.


No contexto do Egito aparece a opressão por serviços pesados por um lado e a
resistência por outro. Resistência desde a casa, a família, a cultura, a tradição. Ainda,
encontramos a “saída”, a fuga que são os assuntos do Êxodo. Oprimidos, mulheres, crianças
fugindo das “ordens” do faraó a partir das suas alianças e parcerias. Até Moisés foge (Ex
2,15) e encontra seu lugar na casa, na família, onde há partilha do pão (Ex 2,20).
b) Capítulos 2,23-5,5 e 6,1-13: As etapas do caminho - Desafios e
procedimentos.
Depois das histórias do cotidiano, Deus se manifesta explicitamente como Aquele
que ouve, vê, está atento e presente na história do povo. “Eu estarei contigo” (Ex 3,12) não
é só uma resposta a Moisés. A afirmação está dentro de um contexto e em sintonia com
uma história de caminhada que já vem dos pais e mães do povo. Mas há uma novidade.
Deus responde a pergunta sobre o seu nome: “Eu sou Aquele sempre presente, que está
sempre junto”.
c) Capítulos 6,28-11,10 e 12,29-36: As etapas do caminho - os milagres ou
as pragas.
As chamadas pragas do Egito apresentam de outra maneira os assuntos do cotidiano
da vida do povo e como Deus está no nosso meio, ligado aos acontecimentos da história
humana.

4
Ver SILVA, Valmor. Leituras do Êxodo na América Latina. In: REIMER, Haroldo; SILVA, Valmor
(Org.). Libertação – Liberdade. Novos Olhares. São Leopoldo: OIKOS; Goiânia: UCG, 2008.

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Estamos diante de um conteúdo apresentado como uma liturgia. O que acontece no


dia a dia: doença, peste, praga, fenômenos naturais adversos, etc. são narrados de forma
intencional e querem deixar uma mensagem clara sobre o nosso Deus. É um “confronto de
poderes”. Deus em relação às autoridades humanas. Deus como aliado dos pequenos e que
de algum jeito, ainda no escuro, quer conduzir o grupo para a vitória.
d) Capítulos 12,1-28 e 12,37-13,16: As etapas do caminho - uma festa de
partida.
A última Páscoa celebrada no Egito é de fartura de comida e solidariedade. Come-se
pão sem fermento para não esquecer que o acúmulo entre uma colheita e outra é para a
festa. Come-se de pé, como quem quer mesmo sair para a mudança e sentindo-se capaz de
enfrentar o faraó. A festa é lugar de passagem, não de instalação. É ponto de partida, não
de chegada!
e) Capítulos 13,17-15,21. As etapas do caminho - Miriam canta a vitória.
Toda festa é um processo, muito mais do que um momento. Novamente estamos
diante de um texto contado como uma liturgia. Celebração das histórias passadas e das
esperanças do porvir. Trata-se de animar a fé para as próximas etapas e desafios da vida. E
uma mulher, ao ritmo africano (tambores e dança), puxa essa festa transformada em
louvação do Deus que liberta seu povo e proclama: “Cantai a YHWH, pois de glória se
vestiu, ele jogou ao mar cavalo e cavaleiro” (Ex 15,20).
f) A partir do capítulo 15,22 devemos considerar as lições do deserto.
As lições da necessidade da água em Mara e Massa e Meriba (Ex 15 e 17) e do
maná (Ex 16) nos ajudam entender que obedecer a YHWH é a base para garantir a vida.
Onde há acúmulo, há morte (vermes e podridão). A lição de Amalec (Ex 17,8-16) afirma
que nossa religião não é nem mágica nem alienante, temos que orar, trabalhar e lutar. A
lição do sogro (Ex 18) confirma como a organização e a partilha resolvem os problemas do
cotidiano da vida.
De fato, a organização é vital para a caminhada no deserto e para superar todas as
dificuldades da vida. No entender do povo, Deus proclamou suas Palavras (que costumamos
chamar de Mandamentos) para quem tinha saído do Egito e estava a caminho da Terra
Prometida (Ex 20,1-17). No ato da proclamação, entretanto, Deus declara o motivo e a
autoridade da nova Lei: “Eu sou YHWH, teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da
escravidão!“. Ora, decreta uma Lei quem tem autoridade. E a autoridade de Deus, nesta
proclamação, é a de ser Libertador. O Decálogo, neste contexto, deve ser entendido como a
ferramenta que Deus deixou na mão do povo para garantir e conquistar a libertação plena.
É a indicação do caminho: para não voltar à vida da escravidão; para todos/as viverem na

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justiça e fraternidade para não caírem na tentação do acúmulo, como os faraós, que
abusando do poder, submeteram o povo a um regime de opressão.
No início, o chamado Decálogo se compunha de leis curtas, como “dez palavras” (Dt
4,13; 10,4) fáceis para decorar. Com o tempo e de acordo com as necessidades, alguns
“mandamentos” foram elaborados de uma forma mais longa. O importante é entender o
que cada um quer preservar.
Desde o começo da história do povo de Israel e concretamente na caminhada pelo
deserto, Deus recebe múltiplos nomes que confirmam que diferentes grupos, culturas e
crenças foram construindo a fé de Israel. Ex 6,2-8 evidencia que YHWH foi um Deus deste
momento da história: “Deus falou a Moisés e lhe disse: Eu sou YHWH. Apareci a Abraão, a
Isaac e a Jacó como El Shaddai, mas pelo meu nome YHWH não lhes fui conhecido”.
Estamos no começo de uma rica e nova experiência: a Bíblia conta a relação do povo
com seu Deus a partir das diferentes realidades de vida!

Dica de Aprofundamento

* Para entender tanta migração nos dias de hoje, na


procura de uma vida mais digna, podemos ler certos mitos e
lendas mesopotâmicas como as que você encontra em:
Epopeia de Gilgamesh. Disponível em:
<http://www.domusaurea.org/disciplinas/ao/A_Epopeia_de_
Gilgamesh.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2014.
* E sobre a festa da passagem da morte para a vida, do
inverno para a primavera, que chegou até nós como a festa Fonte:
http://migre.me/jFpwJ
da Páscoa, em: Um estudo sobre a origem da Páscoa.
Disponível em: < http://portal.metodista.br/fateo/materiais-
de-apoio/estudos-biblicos/um-estudo-sobre-a-origem-da-
pascoa>. Acesso em: 08 jun. 2014.

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Síntese do estudo:
Olhando pelo retrovisor o

nosso estudo:
Olhando pelo retrovisor
Síntese do nosso estudo: Fonte: http://migre.me/jFtbQ

Olhando pelo
- Queremos ouvir com nossos próprios ouvidos, o que nossos pais e mães nos
retrovisor
contaram.
- No nosso estudo da Bíblia pretendemos conhecer o que dá para ver facilmente no
texto e o que está por baixo, por trás, escondido na Palavra, mas que tem a força de vida
ainda hoje.
- Desejamos entender o profundo sentido teológico dos relatos bíblicos.
- Aprender a geografia e a história descrita na Sagrada Escritura enriquecerá nossa
compreensão teológica da Palavra de Deus.
- Caminhar com o povo de Deus, rumo à libertação, enriquecerá nossa vida com
novos desafios.

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade


1.1.

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UNIDADE 2

“NESSE TEMPO NÃO HAVIA REI EM ISRAEL” (Jz


17,6; 18,1; 19,1)

OBJETIVO DA UNIDADE: Compreender como aconteceu a entrada do povo de Israel na


terra, sua organização em tribos e a passagem do tribalismo para a monarquia.

2.1 A experiência das tribos

“Então o povo respondeu: ‘Longe de nós


abandonar YHWH para servir a outros deuses!
YHWH nosso Deus é aquele que nos fez subir a
nós e nossos pais da terra do Egito, da casa da
escravidão...’” (Js 24,16-17).

O povo queria viver uma nova experiência, na liberdade, na sua terra. Os livros de
Josué e Juízes nos contam como se deu esse
Sabemos a formação do povo de
momento tão importante para a narrativa bíblica. O
Israel-Palestina se deu por meio da
tema central dos dois livros é a terra. Josué mistura de povos que habitavam a
apresenta a tomada da terra e sua distribuição. E o terra de Canaã. Não faz sentido,
portanto, falar de povos cananeus
livro de Juízes conta as lutas organizadas por como se fossem “pré-israelitas”. Esta é
líderes contra os cananeus para instaurar e manter a versão de muitos textos bíblicos,
escritos posteriormente para justificar
o projeto tribal.
a dominação sobre de supostos
Em Juízes 5, encontramos um dos textos israelitas contra palestinos.

mais antigos da Bíblia, possivelmente um canto de


mulheres junto aos poços de água. Com base no Cântico de Débora (o texto é um poema
escrito num hebraico arcaico, por isso um pouco difícil até mesmo para a tradução), é
possível entender:
1) YHWH é um Deus que se revela na história humana.
2) Os cananeus são apresentados como inimigos do projeto tribal. Entretanto, Jael,
uma mulher madianita ajuda ao povo de Israel (Jz 4,17-22). A luta é social, não é
racial.
Leia Jz 5. Para entender a história descrita no poema, leia também a versão em
prosa (Jz 4). Em seguida, leia Josué 24, texto que apresenta o “pacto” das tribos com o

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Deus único como meio de assegurar a identidade do povo de Israel. Josué 24 é considerado
uma espécie de memória celebrativa do compromisso tribal.
Mas, o que foi o sistema de vida tribal que aparece na Bíblia? De acordo
com os textos, trata-se de projeto de sociedade igualitária, sem aparelho central de
governo, caracteristicamente:
- é uma sociedade sem classes, organizada a partir da base: a família, o clã e a tribo
(Nm 1,1-2,34). O chefe é provisório e irmão do povo (Dt 17,4-20);
- com produção comunitária para atender às necessidades de todos: nada de
acúmulo (Ex 16,1-30);
- com poder descentralizado e participativo através dos conselhos de chefes de
famílias, clãs e tribos, e das assembleias (Ex 18,13-37; Nm 11,16-25; Js 24,1-28);
- sem nenhum aparelho militar ou policial: em caso de guerra, um líder convocava as
tribos a se unirem e lutarem juntas (Js 4,6-10; Jz 4,10; 6,34-35);
- com leis em defesa do sistema igualitário: (Ex 20,1-17), em defesa dos pobres (Ex
23, 3.6; Lv 23,22; Dt 17,7-11), e dos mais fracos (Ex 22,22; Dt 10,18);
- o culto celebra a vida e a história, não mitos e lendas. A comemoração dos fatos do
passado serve para renovar a esperança e o ânimo do povo (Ex 19,1-8); culto celebrado nas
famílias e nos clãs, onde os pais eram os sacerdotes (por exemplo, a festa da Páscoa),
embora tivessem santuários locais com seu culto e sacerdócio.
Experiências reais ou simbólicas? Memória ou sonho?
“Feliz és tu, ó Israel. Quem é como tu, povo vencedor?
Em Iahweh está o escudo que te socorre e a espada que te leva ao triunfo
Teus inimigos vão querer bajular-te, mas tu pisarás suas costas” (Dt 33,29).
Atualmente, os estudiosos postulam diferentes teorias para explicar o surgimento de
Israel como uma aliança de tribos. Mas, o que aconteceu para Israel conseguir entrar em
Canaã e ocupar essa terra?
1) Seria uma unidade racial primitiva? John Brigth e Yehezkel Kaufmann
sugerem que havia laços de parentesco suficientes entre as tribos para explicar a sua união.
E que Deus fez uma escolha por Israel. No entanto, podemos perguntar: Deus poderia ter
escolhido arbitrariamente um povo, os israelitas, deixando de lado outro povo, os cananeus?
2) Ou existiu uma unidade na prática do pastoreio? Hipótese defendida por
Albrecht Alt e Martin Noth, é uma teoria sociológica que postula que o conflito entre Israel e
Canaã seria um problema de pastores com agricultores, uma luta pelas terras melhores
(Josué 1-11 e Juízes).
M. Noth (1930) defende a tese da “anfictionia”, a partir do modelo grego de vida ao
redor do santuário. Noth afirma que as tribos teriam se unido a partir de três instituições: 1)
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o culto a YHWH em Siquém; 2) a lei (código da aliança - Ex 20-23), cuja promulgação anual
se fazia em Siquém; 3) a defesa comum (guerra santa).
Esta tese apresenta hoje vários problemas. Na realidade a defesa não era comum,
envolvia no máximo duas ou três tribos. A lei é cada vez mais datada como escrita no séc.
VIII a.C. O santuário comum existiu só a partir de Josias (séc. VI a.C.). Até então, cada
tribo fazia referência a seus santuários locais: Tabor, Silo, Betel, Mispa, Guilgal, Bersabeia,
etc. Também não existiu sacerdócio anfictiônico comum.
3) Teoria da insurreição camponesa. George E. Mendenhall pensou que
entender a união dos grupos seria procurar uma possível solução sociológica. Porém, foi
Norman Gottwald5 quem defendeu que as aldeias submetidas ao sistema tributário
poderiam ter subido as montanhas (com a novidade do cimento para fazer cisternas e
instrumentos de ferro para trabalhar as terras) libertando-se dos impostos dos reis cananeus
(Jz 17-18), que controlavam as pequenas cidades-estado em Canaã. Estes grupos
assumiriam os hebreus vindos do Egito com a sua experiência de libertação. O que regularia
esses grupos seria a organização tribal, mais ampla do que o clã familiar. E seria o empenho
no monojavismo, uma mesma fé em YHWH que solidificaria o sistema familiar.
Hoje, com novas informações sobre o monoteísmo, que estudaremos
posteriormente, questionamos parte desta teoria. Reconhecemos, entretanto, o quanto ela
ajudou na compreensão da história de Israel e na luta pela libertação de povos oprimidos
nos dias de hoje.
4) Uma nova tese, com elementos de algumas das teorias mencionadas
anteriormente, merece nossa atenção: Israel seria um conjunto de tribos, com vida,
tradições, religião própria, que se uniriam em determinados momentos e ao redor de
projetos de interesse comum. Entretanto, entendido como unidade política, Israel seria fruto
da monarquia quando uma ou mais tribos, movidas por interesses particulares e favorecidas
por momentos conjunturais, se sobressaíram e se impuseram no poder com a força militar,
ideológica e econômica sobre as outras tribos, com o objetivo de criar um pequeno estado-
império. Mas a ideologia imperialista, não conseguiu acabar com a vida das tribos. O
imperialismo estatal é como um vestido novo colocado por cima, mas que não acaba com o
que está por baixo. As tribos continuaram, dentro da monarquia. Umas morreram, outras
surgiram, até o tempo do exílio, onde a estrutura tribal desapareceu definitivamente.

5
Norman Gottwald (1986) é autor de um clássico As tribos de Iahweh – Uma sociologia da religião
de Israel liberto (1250-1050 a C)”, livro muito valorizado nos anos passados pela ajuda e incentivo
que deu à luta pela terra aqui no Brasil e a tantas outras lutas na América Latina.

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Mas, quais seriam as origens desse povo organizado em tribos? Quem seria seu deus
ou deuses? Lembremos que em Ex 6,2-8 YHWH foi o Deus de um momento da história.
Numa pesquisa pormenorizada dos textos Bíblicos encontramos diversos grupos que
formaram parte do povo de Israel. Levantamos os grupos mais relevantes e seu “deus”.

Os possíveis grupos que formaram Israel

a) Trabalhadores forçados vindos do Egito


É possível que vários grupos fugiram ou migraram do Egito em direção a Canaã em
diferentes momentos. Mais significativa e conhecida é a história do grupo liderado por
Moisés, Aarão e Mirian. Tais grupos viviam em regime de corveia (trabalho forçado e
gratuito), em condição de semi-escravidão ou escravidão no campo e na construção de
cidades e pirâmides. Tiveram conflitos com o Faraó (Ex 1,8-22; Ex 5,1-21).
Os hebreus no Egito não conheciam ainda a Deus sob o nome de YHWH. Essa
tradição vem da região de Madiã (ou Midiã), a região do Sinai. Os textos do Êxodo falam do
“Deus dos Hebreus” (Ex 3,18; 5,3; 7,6;9,1.13; 10,3). Adotaram para si a fé no Deus
Libertador (Ex 3,7-10; 6,2-8). Atravessando o deserto, conseguiram migrar ou fugir e
atravessar até a Terra de Canaã.
O Êxodo (a "saída") foi possível graças: à fé no Deus que se colocou ao lado dos
oprimidos e os ajudou na luta pela libertação; a Miriam, Aarão e a Moisés que aceitou o
chamado de YHWH, liderando a luta contra o faraó; e à organização do povo. O povo
levantou-se contra a opressão do faraó, aprendeu na caminhada a viver em fraternidade
para que nunca mais surgisse a opressão entre eles.
b) Camponeses empobrecidos que já viviam em Canaã
As histórias contadas por quem veio do Egito foram as que mais se popularizaram.
E, de fato, esses grupos “fizeram a proeza” de escapar da proximidade do poder maior: no
Egito vivia o faraó Mas a dominação egípcia se estendia a toda a região, incluindo as terras
de Caanã. Pequenos reis cananeus, controlando as cidades-estado, oprimiam a população
local. Repassam tributo ao Egito, mas mantinham seus privilégios através da exploração dos
camponeses. As melhores terras junto às planícies eram controladas pelas cidades-estado,
ainda que cultivadas por camponeses empobrecidos.
Com algumas “novidades tecnológicas” introduzidas na região por volta de 1250
a.C., foi possível a grupos de camponeses ocupar as montanhas, até então tomadas de
matas (cf. Js 17,15.18). Tais novidades foram: o ferro, que passou a ser utilizado na
derrubada das árvores, na construção de armas e no preparo da terra para a lavoura (1Sm
13,19-22); o uso da cal para a fabricação das cisternas, permitindo o armazenamento da
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água das chuvas nas regiões montanhosas (ver Dt 6,11 e Nm 21,16-18); e a adoção dos
terraços, feitos com pedras para reter a terra e permitir o cultivo.
Passando a ocupar as montanhas (Js 17,14-18; Jz 1,19) esses grupos de gente
fugitiva e sem terra conseguiram organizar a sobrevivência e a resistência contra o sistema
das cidades-estado.
Denominados de Hapirus, palavra com a mesma raiz de Hebreus, eles saíram das
cidades e das planícies fugindo da opressão e da exploração, do trabalho forçado (corveia) e
dos tributos. E se instalaram nas serras, onde a terra era livre. Trabalhavam duro, mas a
vida era muito melhor do que quando moravam na cidade. O conhecido Cântico de Débora
(Jz 5 canta a vitória de grupos das montanhas enfrentando um rei Jabin, que controlava as
planícies. A história tem uma versão em prosa em Jz 4).
Os camponeses cultuavam a El, também a Baal e a Asherá. Em Gn 33,20 e 46,3
encontramos a expressão El, Deus de Israel. O termo Israel significa “Deus luta” (ou lutará).
Em nome de seu Deus, os camponeses lutaram por terra livre. E se os hebreus adotam para
si o nome Israel, significa que em sua origem, participaram da cultura e da religião
cananeia.
Pastores Seminômades de Canaã (grupos abraâmicos)
Moravam nas montanhas,
EL SHADDAY: “Estudos recentes voltaram a ligar o
na terra não cultivada e cuidavam do
epíteto ao acádico shadu, ‘montanha’, mas não no
rebanho e usavam. Sua divindade sentido estrito do termo, e sim na acepção de ‘seios’,
‘mamas’ (em hebraico, shaddayim; cf. Gn 49,25: ‘por El
era El: El Elion (“Deus Altíssimo” - Gn
Shaddai [...] bênçãos das mamas e dos seios’);
14,18-20); El Roí (“Deus que me vê” portanto, não o Deus da Montanha’, mas o ‘Deus da
- Gn 16,13-14): El Olam (“o Eterno” abundância’, como se pode observar também em outras
passagens do Gênesis (17,2; 27,1s. 35,11;49,25),nos
– Gn 21,33); El Shaddai (“Deus da quais a denominação el Shadday está ligada a
abundância”, ou “Deus das mamas”, formulações augurais de fecundidade. Nas nossas
bíblias, normalmente traduz-se por o ‘Todo
ou “o que acompanha” – Gn 17,1;
Poderoso,mas com pouco fundamento; esta tradução
28,3; 35,11; 43,14; 48,3; 49,25) – segue os LXX, que pressupõem uma raiz shdd,
‘devastar’, como ação de um ser forte.” (Vademecum
leia o quadro ao lado. Um deus que
para o Estudo da Bíblia. São Paulo: Paulinas, 2000,
acompanhava seu povo e que era p.281.
invocado com diferentes nomes (Ex
6,2-3). E em diversos lugares: árvore, poço, pedra (Gn 13,14-18; 26,24-25; 28,20.) É o
Deus que mantém a vida no caminho.
Tais grupos viviam do pastoreio de gado miúdo (ovelhas e cabras). Dele faziam
parte muitas famílias, como as dos antepassados, pais e mães do povo: Abraão, Agar e
Sara, Jacó e Rebeca, Isaac, Raquel e Lia. Enfrentavam conflitos com os camponeses que

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não gostavam de ver os rebanhos perto das suas roças. E com os donos das cidades, para
quem esses seminômades podiam ser ameaça.
c) Pastores seminômades, vindos do Sinai, em Madiã
Como o primeiro grupo, também sobreviviam da criação de gado miúdo. Mas
vieram de fora, da região de Madiã (ou Mídia), a leste do Golfo de Acaba e ao sul do Mar
Morto (confira em seus mapas). Juntando-se aos cananeus empobrecidos, aos fugitivos do
Egito, ajudaram na formação das tribos. E sua maior contribuição, com certeza, foi o culto a
YHWH.
A tradição bíblica (Ex 3) conta que foi junto aos pastores de Madiã que Moisés teve
contato com YHWH, “aquele do Sinai”, como lemos em Jz 5,4. YHWH é Deus da Montanha.
Nas origens, está ligado a fenômenos climáticos (chuva, raio, trovão) e vulcânicos
(terremoto, fumaça, fogo). Leia Ex 19,16-20. Mas aos poucos esse culto foi e tornando mais
próximo. Como que descendo da montanha ou de uma grande árvore, se manifesta numa
sarça e revela o seu nome: “Eu sou/estou contigo”, “Eu sou aquele que sou” (Ex 3, 12.14).
É possível que os grupos de Madiã já possuíssem uma experiência diferente de
exercício de poder. Confira isso lendo Ex 18,13-27. De acordo com a narrativa, mesmo bem
intencionado, Moisés estava se tornando um “pequeno faraó” na liderança de seu grupo. E
teve que aprender com seu sogro, um madianita, outra forma de exercer a liderança.
d) Outros grupos
 Os quenitas: nômades, também se juntaram ao Israel tribal. Uma tradição afirma que o
sogro de Moisés era quenita (Jz 1,16; 4,11). Conforme Jz 4,17-21, foi a mulher de Heber, o
quenita que, “lutando” junto com os israelitas, matou o general Sísara.
 Grupo de Cades (Nm 13,25-29; 20,1.14-22; Dt 1,19). O oásis de Cades tinha muitos
“olhos d'água”, pequenas fontes e nascentes. Seus moradores plantavam roças, criavam
rebanhos. Grupos vindos do Egito ficaram em Cades em sua viagem migratória para Canaã.
Na época da formação da Confederação de Israel, o povo de Cades, que estava sem terra,
se uniu a Israel.
 Assalariados (Gn 30,28-31; Gn 49,14-15). Grupos das planícies de Jezrael, na Galileia.
Moravam nas roças como lavradores assalariados. Foram morar na cidade, esperando levar
uma vida melhor e acabaram sendo explorados. Issacar, o nome de uma tribo, significa
“homem assalariado”.
 Portuários do mar (Gn 49,13; Dt 33,18-19; Jz 5,17). Pessoas que foram morar nos
portos do litoral da Terra de Canaã, porque procuravam trabalho e uma vida melhor na
cidade. Como se pode ver nos textos indicados, eram integrantes das tribos de Zabulon, Dã
e Aser.

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 O clã de Raab e os contestadores dentro da cidade (Js 2; Jz 1,22-26).


Contestadores do rei que se aliaram com os hapirus. Marginais, prostitutas, moravam dentro
das cidades, mas não pertenciam às famílias dos donos das cidades, nem às famílias dos
sacerdotes. Sofriam com a exploração. Rebelaram-se contra o sistema e procuraram aliança
com grupos que já conseguiram se libertar da opressão da cidade.
Muitos grupos, cada qual com seu Deus (ou Deuses). O povo precisava da chuva, da
terra, do alimento... Seus deuses eram invocados segundo a necessidade. Sem mais
problemas. YHWH era o Deus da montanha, o ciumento, o forte. Aos poucos, seu culto foi
se sobressaindo e quase se tornando único. Mas, isso acontecerá muito depois, no tempo de
Josias. Trataremos depois deste assunto.
Estamos acostumados a pensar na sociedade tribal como a ideal para todas as
épocas. De fato, ela tem muitas coisas boas e importantes para nossa vida atual. Mas, tem
também limites e problemas, que, escondidos, como o cupim, roem as suas bases. E assim
aconteceu naqueles tempos...

Dica de Aprofundamento

Releia detidamente todos os textos estudados e descubra novas


ideias. Pense e dialogue: Na sua compreensão, como podemos
interpretar o pedido de Gedeão (Jz 8,22-35)? Como entender o
episódio de Abimelec (Jz 9)? Seria um primeiro sinal da
monarquia que começa a nascer? O que poderia significar o
discurso de Samuel em 1 Sm 11?

2.2 Do sistema tribal à monarquia

“Hoje você é quem manda


Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu”
(Apesar de você, de Chico Buarque).

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Fonte: Elaboração própria.

Quem foram os reis?

Na Bíblia existem textos que defendem a Monarquia (1Sm 9,1-10,16; 10,27-11,45) e


outros que a condenam (1Sm 8; 10,17-26; 12,1-24; 15,22-23). É possível encontrar
também diversos projetos de Monarquia, mas todos eles alicerçados no poder de um só
sobre o povo. Não com pouca resistência, a monarquia se impôs em Israel Saul, Davi e
Salomão foram os primeiros reis. É interessante conhecê-los em seu contexto internacional,
nacional e pessoal.

REINADO DE SAUL
 Situação Internacional:
Foram tempos de ameaças externas por parte dos reinos vizinhos. Os israelitas
venceram Moab, Edom, Soba e os filisteus (1Sm 13,2-4; 14,47-52).
 Situação Nacional:
Sem exército permanente, só com soldados voluntários (1Sm 14,52); sem capital; a
organização se dá ao redor de Gabaá (1Sm 13,2-3; 15,34). Não há templo, nem sacerdócio
instituído (1Sm 11,14; 13,8-12; 14,34-35). Permanece o que podemos chamar de “teologia
tribal”.
 Quem foi Saul?
De família influente (1Sm 9,1), foi mais um “comandante militar” mais do que rei.
Venceu aos amonitas (1Sm 11,1-15) e os filisteus, eram fortes na tecnologia do ferro (1Sm
13,19-22; 17,7). Não cobrou impostos e em seu reinado não se consolidaram classes
sociais. Retomou a Arca que os filisteus tinham levado, mas não reconstruiu o santuário de
Silo!

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Preparando a chegada de Davi, os textos afirmam que Saul se mostrou um rei


depressivo (1Sm 16,14-23), invejoso (1Sm 18,10-11), que busco o acúmulo de poder (1Sm
22,6-19). Deus “teria se arrependido” de ter permitido a Saul ser rei (1Sm 15,11.22-23.26-
28.35).
A grande marca do governo de Saul, em resumo, foi estabelecer as marcas para a
existência de um exército permanente.

REINADO DE DAVI
 Situação Internacional:
Continua uma relação tensa com os reinos vizinhos (2Sm 8).
 Situação Nacional:
Muitas lutas pelo poder e divisões internas (2Sm 2,8-3,1). Davi conseguiu um
exército de pobres, endividados e descontentes (1Sm 22,1-2), ainda que com dificuldade
(1Sm 25; 27,1-12). Ao chegar ao poder, primeiro governa a partir de Hebron (2Sm 2,1-4) e
depois conquista Jerusalém (2Sm 5,6-12).
Davi alicerçou a ideia de Templo. Trouxe a Arca para a nova Capital (2Sm 6,1ss) e
“comprou” o terreno do Templo (2Sm 7,1-7; 24,18ss). Os filhos de Davi oficiavam o culto
(2Sm 8,18). E Davi se fez sacerdote e foi confirmado por Deus.
 Quem foi Davi?
A Bíblia apresenta Davi com uma nova teologia. Se na teologia tribal a aliança era
entre Deus e o povo, na teologia davídica a aliança é entre Deus e o Rei. E ela é eterna
(2Sm 7,12-16). Os reis são filhos de Deus (Sl 2,7-8; 89,4-5.35-36). Consequência:
Jerusalém, a cidade de Davi passa a ser a cidade de YHWH (Sl 132).
Como muitos textos bíblicos foram redigidos pela própria corte davídica, sulista, Davi
entrou para a história como um bom rei. Não teria cobrado tributo do povo e repartia os
despojos dos dominados (1Sm 30,16-31); respeitou YHWH como autoridade (2Sm 11-12) e
como Deus dos pobres (Sl 72). Sabemos que a história não foi bem assim. As revoltas de
Absalão (2Sm 15,7-12) e Seba (2Sm 20,1-3), bem como relatos de abuso de poder (2Sm
11) ou da omissão de Davi quando sua filha foi violentada (2Sm 13,1-22) permaneceram na
Bíblia. Leia o quadro abaixo.

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A grande marca do governo de Davi foi a conquista de Jerusalém, que passa a ser a
capital, a cidade de Davi.

A chegada de Davi ao poder é descrita como “vontade divina”. No entanto, uma leitura mais
atenda dos textos nos permite enxergar golpes políticos e muito “jogo sujo”. Tomemos apenas o
exemplo do acordo com Abner, quando este decide apoiar Davi ou subjugar-se a ele. Davi aceita,
mas com uma exigência: “Entrega-me a minha mulher Micol, aquela que adquiri por cem
prepúcios de filisteus” (2Sm 3.14). Moeda de negócio: a mulher, a mesma já antes comprada de
Saul (dote para o casamento), por nada menos que cem prepúcios. Aliás, na ocasião, Davi achou
pouco cem prepúcios filisteus, resolveu trazer duzentos (1Sm 18.27). Apesar dos choros do novo
companheiro de Micol (2Sm 3.16), ela é trazida. E Abner, numa traição, é assassinado. Davi, que,
segundo a narrativa, não sabia da cilada, apenas chorou e compôs um hino (2Sm 3.22-39).
Sobrava Isbaal, o filho de Saul, última ameaça aos planos de Davi. Também foi eliminado! E mais
uma vez a narrativa diz que Davi não tinha conhecimento de nada. Sua sentença, como “rei justo”
que era, para com os que lhe tinham trazido a cabeça de Isbaal: “ Aquele que me anunciou a
morte de Saul acreditava ser portador de uma boa notícia. Eu o agarrei e o matei em Siceleg, em
retribuição pela sua boa nova (...) Então Davi ordenou aos seus filhos mais novos que os
matassem. Cortaram-lhe as mãos e os pés e os penduraram perto do açude de Hebron” (2Sm
4.10-12).
Cf. NEUENFELDT, Elaine e SCHINELO, Edmilson. As relações de gênero na casa de Davi. Estudos
Bíblicos, 86, Petrópolis: Vozes, 2005, p.16-25.

REINADO DE SALOMÃO
 Situação Internacional:
Egito e Assíria estavam em decadência. Salomão fez alianças, casamentos políticos e
comércio com os reinos vizinhos para expandir seu reinado (1Rs 3,1; 9,10).
 Situação Nacional:
Salomão enfrentou muita resistência para subir ao trono: as forças do campo se
opuseram às forças de Jerusalém. O grupo de Adonias fez oposição (1Rs 1,11-40). Mas,
chegando ao poder Salomão teve a seu dispor um exército bem treinado. Fez uma nova
organização militar e econômica que “apagou as tribos” (1Rs 4,7-5,5). Foi mantida a capital
Jerusalém, com seu grande palácio (1Rs 7 e 9,10ss) e o Templo passou ser propriedade do
rei, com escolha dos seus sacerdotes. Ele mesmo foi sacerdote (1Rs 3,4; 8,62; 9,25).
Salomão foi o rei das elites da cidade e do comércio (1Rs 10,27ss).
Quem foi Salomão?
Foi realmente um rei sábio? A sabedoria e fama de Salomão são exaltadas
repetidamente (1Rs 3,12.16-28; 4,9-14). Logicamente, em seu palácio foi escrita pela
primeira vez uma história organizada do povo que legitima seu poder. A redação Incluiu
poesias e textos antigos, como o cântico de Débora (Jz 5), os oráculos de Balaão (Nm
22,20,31), etc. Salomão justificou a monarquia fazendo culminar a história de Abraão em
Davi e em si próprio. A promessa feita a Abraão de um “povo numeroso como as estrelas do
céu e as areias do mar” (Gn 22,17) se realiza no tempo de Salomão: “Judá e Israel eram

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tão numerosas como as areias das praias do mar. Comiam e bebiam e viviam felizes” (1Rs
4,20). A terra prometida a Abraão (Gn 15,18) é conquistada por Salomão que “dominava
todos os reinos desde o rio Eufrates até a fronteira do Egito” (1Rs 5,9-14). A organização e
o tributo da corte de Salomão são justificados pelo próprio José já que “esta lei dura até
nossos dias” (Gn 47, 26)6.
O templo se torna o centro da vida do povo. Os dez mandamentos de Deus (Ex
20,5-17) se transformam em mandamentos de Salomão (Ex 34,17-26) que justificam o
projeto de Salomão em nome de YHWH: o templo e o dízimo. Deus se alia ao trono. A
promessa a Davi se cumpre agora, com o seu filho Salomão: “Teu trono estará firme para
sempre” (2Sm 7,12-16). O Deus dos pobres passa ser o pai do rei. O Deus libertador passa
a ser usado para justificar a opressão do rei.
A grande marca do governo de Salomão foi a construção do templo, agora a
“morada de Deus”.
Fica a pergunta: Quem foi o Deus de Salomão? Foi o Deus dos oprimidos? Foi o
Deus de Jesus? A sabedoria de Salomão é a que Jesus agradece: “Eu te bendigo, Pai...
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”?

Dica de Aprofundamento

Quer conhecer um pouco mais da personalidade de Salomão e através dele o que foi a
monarquia? Intriga palaciana para a sucessão (1Rs 1,11-40). Assassino para
consolidar o poder (1Rs 2,12-35). Tributos organizados para sustentar a corte (1Rs
4,1-20; 5,1-7). Trabalhos forçados para manter o luxo da corte (1Rs 5,27-32).
Construção do palácio. Mobília para o Templo (1Rs 7,1-51). Ostentação e política
externa. Comércio (1Rs 9,10-14.26-10,13). Mulheres e idolatria (1Rs 11,1-13).
* Depois poste no fórum suas reflexões.

6
A pesquisa recente, especialmente com a ajuda da arqueologia, vem constatando que muita coisa
atribuída s Salomão foi construída na época de Josias. Este faz uso das histórias de Salomão
para justificar seu projeto expansionista.
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Síntese do estudo:
Olhando pelo retrovisor tdo

nosso estudo:
Olhando pelo retrovisor Fonte: http://migre.me/jFtbQ

- UmSíntese do nosso
povo na procura de terraestudo:
para viver.
Olhando
- A rica pelo
experiência da vida nas tribos.
retrovisor
- Grupos de “marginais” se unem na procura de liberdade.
- O Deus, Deuses libertadores.
- Do sistema tribal à Monarquia.
- O Rei.

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade 2.1.

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UNIDADE 3

“ÀS TUAS TENDAS, Ó ISRAEL! E AGORA CUIDA


DA TUA CASA, DAVI” (1Rs 12,16)

OBJETIVO DA UNIDADE: Compreender como as diferentes experiências de vida e de


Deus provocaram a ruptura entre o povo de Israel. Relação entre Monarquia e Profecia.

3.1 Divisão dos Reinos (930 a.C.)

“O rei Roboão respondeu duramente para o povo


[...] Meu pai Salomão tornou vosso jugo pesado,
eu o aumentarei ainda: meu pai os castigou com
açoites, eu vos castigarei com escorpiões”
(1Rs 12,13-14).

Aconteceu uma divisão interna, já que as forças contra o poder centralizado do rei
ainda estavam vivas: houve um confronto entre o povo e Roboão, filho de Salomão (1Rs
11,26-40). Na realidade foi um conflito provocado contra o domínio e as alianças de
Salomão para manter o poder (1Rs 11,9-13). A exploração e os altos tributos se fizeram
“fardo pesado” (1Rs 12,4). A religião não era mais um recurso de integração, ao contrário,
ela favorecia a exploração. Especialmente as tribos do Norte não agüentavam tamanha
exploração.
Um servo de Salomão, Jeroboão revoltou-se contra o rei (1Rs 12,26-40) e teve que
fugir para o Egito. Mas, na hora do conflito com Roboão e a corte, foi ele, Jeroboão quem
gritou: “Que parte temos com Davi? Não temos herança com o filho de Jessé. Às tuas
tendas, ó Israel! E agora cuida da tua casa, Davi” (1Rs 12,16).
O cisma político e religioso estava consumado. O Reino do Norte, que quis voltar
para as tendas da tradição do deserto e depois das tribos, ficou com o maior território e
com as terras mais férteis. Mas, sua população diversificada e num mundo de rotas
comerciais enfrentou lutas de poder entre os dirigentes que sem dinastia monárquica
sofriam golpes militares para conseguir o comando do Reino. Já o Reino do Sul ou Judá com
território menor e de terras na maior parte desérticas, teve população mais homogênea e
uma dinastia duradoura:a família de Davi ficou mais de 400 anos no poder!.
É interessante a narrativa de 1Reis 12. O grito de Jeroboão é uma clara denúncia
contra a Monarquia: “Que parte temos com Davi? Não temos herança com o filho de Jessé.

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Às tuas tendas, ó Israel! E agora cuida da tua casa, Davi” (1Rs 12,16). De fato, Jeroboão
disse: fiquem com o poder monárquico inventado por Davi. Nós voltamos à simplicidade da
vida nas tendas.

Fonte: Elaboração própria.

Situação internacional
Os dois reinos foram atingidos pela mesma situação dos Impérios vizinhos. O Egito
estava em auge. O faraó Sesac atacou Palestina (1Rs 14,25). E o já temido Império da
Assíria reapareceu e venceu, aos poucos, os reinos vizinhos de Israel, que tiveram que fazer
alianças para se manter durante um tempo.

Fonte: http://migre.me/jIq7T Fonte: http://migre.me/jIqbZ

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REINO DE ISRAEL ou NORTE (931-722 a.C.)

Situação Nacional
Acompanhando o esquema que mantinha o poder precisamos entender como foi a
precária organização do Reino: o exército era de voluntários. Como já afirmamos não
tiveram dinastia familiar, mas sempre houve luta pelo poder (1Rs 15,27; 16,9).
Sua capital não foi fixa: entre elas foram relevantes Siquém e Fanuel (1Rs 12,25).
Tirsa (1Rs 14,17; 15,33) e Sumária (1Rs 16,24).
Sem templo: voltaram aos santuários tradicionais com sacerdotes do povo em Dã e
Betel (1Rs 12,26-33).
Certo ou errado? As contradições bíblicas confirmam que a Bíblia foi escrita por
diferentes autores e com ideologias diversas. Se 1Rs 12,26-33 afirma que Jeroboão voltou
ao Deus YHWH, o libertador do Egito, como aceitar os comentários a quase todos os Reis
de Israel (1Rs 15,34; 16,26ss): “Fez o mal aos olhos de YHWH e imitou a conduta de
Jeroboão e o pecado ao qual ele tinha arrastado a Israel”. Nossa suspeita é que esses
textos seriam o juízo de Jerusalém, no Reino de Judá, onde nunca aceitaram a liberdade da
vida no Norte, em Israel, e sua procura de um Deus libertador ainda que não conseguisse a
verdadeira liberdade dos filhos de Deus, que todos/as procuramos.
Quem foram os reis mais significativos do Reino de Israel?
885-874 a.C. Omri (ou Amri) fundou a Samaria e estabeleceu uma pequena dinastia.
874-853 a.C. Acab casou-se com Jezabel, filha do rei de Tiro e Sidônia.
Propagou o culto a Baal.
841-814 a.C. Jeú que “extirpou de Israel o culto a Baal” (1Rs 10,28).
783-743 a.C. Jeroboão II que restabeleceu os limites de Israel querendo ser outro
Salomão.
Em 722 a.C., a Assíria destruiu a cidade da Samaria, o que significou o fim do Reino
de Israel.

REINO DE JUDÁ ou SUL (930 - 587 a.C.)

Situação Nacional:
A situação do país não mudou muito do tempo de Salomão para seu filho Roboão já
que este continuou com a mesma política do seu pai: Exército pago; Capital em Jerusalém
com os luxos e mordomias de sempre. E o Templo e seus sacerdotes submetidos ao rei.
Quem foram os reis mais significativos do Reino de Judá?

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736-716 a.C. Acaz. Isaías aconselhou ao rei não entrar na guerra siro-efraimita. Não
entrou, mas se aliou à inimiga Assíria, foi o começo do fim.
716-687 a.C. Ezequias, tentou uma pequena Reforma (2Rs 18,1-6).
687-642 a.C. Manassés foi o pior rei da história. Não houve profetas durante o seu
reinado. Os judeus contam que Isaías foi mártir nessa época.
640-609 a.C. Josias promoveu a grande Reforma. Morreu em Meguido quando enfrentou
o Egito.
598-597 a.C. Joaquin. Primeira deportação para o Exílio da Babilônia. Substituído por seu
tio Sedecias.
597- 587 a.C. Sedecias negou o tributo. A Babilônia reagiu e acabou com Jerusalém.

Fonte: Serviço de Animação Bíblica – SAB. Paulinas.

O povo foi levado ao cativeiro da Babilônia


Os livros que contam essa história foram escritos a partir dos Anais da Corte,
provavelmente no Exílio Babilônico e logo depois. Um dos seus interesses foi justificar a
mudança do tribalismo para a monarquia e apresentar essa como um sistema melhor que o
tribalismo. Outro empenho de quem escreveu foi proclamar a teologia da retribuição. Para

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explicar o fracasso da Monarquia afirmam que Deus castiga o mal que fizeram seus pais,
por isso destaca as infidelidades do próprio povo desde a época tribal. Ler os livros com
esta ideia em mente esclarece muita coisa, inclusive no entendimento da radicalidade de
alguns profetas e do próprio Jesus ao falar do Deus da Aliança, do Deus da vida. Vamos
tentar compreender!
Existem outros textos na Bíblia que dão uma visão diferente da Monarquia. Veremos
no tempo do Pós-Exílio como os livros das Crônicas, em certo modo copiados dos livros dos
Reis, mudam alguns textos porque a sua intenção é ajudar o povo no sofrimento a manter a
esperança que chamaremos “messiânica”. Neste mesmo intuito, alguns salmos, como os
Salmos 72 e 132 refletem a figura do rei ideal do futuro. A tradição tanto judaica como
cristã verá neste rei messiânico, talvez, o rei predito pelo profeta Isaías (Is 9,5; 11,1-5).
Também o profeta Zacarias nos anima a esperar o novo rei justo e vitorioso (Zc 9,9-10).

3.2 Profetismo

“Depois disso, derramarei o meu espírito sobre


todos os viventes, e os filhos e filhas de vocês se
tornarão profetas. Entre vocês, os velhos terão
sonhos e os jovens terão visões! Nesses dias
especialmente sobre os escravos e escravas
derramarei meu espírito!” (Jl 3.1-2).

Entre os povos cuja história é narrada


na Bíblia, a profecia aparece como uma fonte,
um poço. Num período determinado, durante o
tempo da Monarquia. Os Profetas, diríamos
hoje que unidos ao movimento social, são os
adversários dos Reis, como a consciência do
povo que tem outra experiência de Deus. No
fim da Monarquia os profetas acabam
também. Mas continua o espírito e o conteúdo
da profecia como água corrente que perpassa Fonte: Arquivo pessoal.

toda a história e chega até nós.


Ser profeta, na Bíblia, supõe entrar na realidade:
1) Identificar o problema e se fazer portador das dores e sofrimento do povo.
2) Ser radical no julgamento: fim do sistema opressor. Temos que agir!
3) Ter esperança. O profeta confia no clã, na família, no pequeno, nos pobres.

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Os verdadeiros profetas se diferenciam dos falsos pelo agir. Eles são chamados e enviados:
O convite é “Vai!”. (Is 6,8; Jr 1,7; Am 7,15) E eles vão. A profecia passa pelos pés.
Ainda hoje, podemos reconhecer e experimentar profetas e profetizas: mulheres e
homens num lugar concreto, num momento determinado; intérpretes da situação
sociopolítica do seu tempo, convidando-nos à ação.

Quem foram os profetas bíblicos e como profetizaram?


A palavra «nabi» em hebraico quer dizer «profeta» em grego. Quem prega, anuncia,
tem visões.
No AT aparecem profetas com diferentes modalidades: Pessoas meio doidas que
caem em delírio (1Sm 19,24), interpretam sonhos (Dt 13,2.4), consultam a Deus (1Sm
28,6.15) e tem até quem ganha a vida com a profecia. Há profetas falsos. Há contradições
entre os profetas (1Rs 22,1ss). E ao mesmo tempo aparecem na Bíblia profetas como
Samuel (1Sm 3,20) com um lugar importante na sociedade, Amós (Am 7,14) que não aceita
ser chamado de profeta, Jeremias que amaldiçoa o dia em que foi chamado (Jr 20,14), Joel
que garante que um dia todos vão profetizar (Jl 3,1) e Zacarias que manda matar a quem
se diz profeta (Zc 13,3-6). Aparecem profetisas como Miriam (Ex 15, 20), Débora (Jz 4,4),
Hulda (2Rs 22,14), a esposa de Isaías (Is 8,3), Noadias (Ne 6,14), as profetizas das quais
fala Ezequiel (13,17-19), etc.
No seu início, a Monarquia teve o apoio crítico dos profetas. Alguns deles chegaram
a ser conselheiros do rei (1Sm 22,5; 2Sm 24,11-19). Mas quando a monarquia se desviou
para criar um sistema contrário à Aliança e ao Projeto de Deus (1Rs 19,10.14), aí, aos
poucos, a profecia tomou rumo independente e transformou-se em força crítica, livre diante
do poder, expressão da liberdade do próprio Deus. E começou a permanente tensão entre
profecia e monarquia!
Essa separação dos caminhos aconteceu, pela primeira vez, mais claramente, na
época de Elias. Com ele, o profetismo tomou o rumo da defesa da Aliança e da vida do povo
contra a prepotência do poder dos reis. E o profeta passou a ser considerado pelos reis
como “inimigo”, como “flagelo de Israel” (1Rs 21,20; 18,17). Mesmo assim, nunca
conseguiram calar a voz dos profetas e das profetisas. Essa situação provocou a divisão
interna nos próprios movimentos de profetas. De um lado, havia profetisas e profetas
ligados ao poder opressor do Rei que usavam sua autoridade profética para apoiar os reis.
Foram os chamados “falsos profetas”. De outro lado, havia profetas e profetisas, os nossos
profetas bíblicos, que se opunham às pretensões dos reis e dos “falsos profetas” (Jr 28,1-
17; 14,13-16; 23,9-40).

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Na Bíblia hebraica encontramos os chamados “Profetas Anteriores”: Josué, Juízes, os


dois livros de Samuel e os dois livros dos Reis, para distingui-los dos “Profetas Posteriores”
que são Isaías, Jeremias e Ezequiel e os doze Profetas menores: Oseias, Joel, Amós, Abdias,
Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageus, Zacarias e Malaquias. Nas nossas Bíblias
temos além dos profetas posteriores já citados, as Lamentações, Baruc e Daniel. São
variantes de caráter histórico que não deixam de ser uma riqueza para nós.

3.3 Entendendo o “profeta”

Tenho de gritar, tenho de arriscar,


Ai de mim se não o faço!
Como escapar de ti, como calar,
Se tua voz arde em meu peito! (Cf. Jr 1).

“Meu Senhor YHWH é minha força, Ele me dá pés


de gazela e me faz caminhar altaneiramente”
(Hab 3,19).

Jeremias gritando, Habacuc e todos os outros profetas nos ensinam o que é ser
profeta: com pés no chão, na realidade (pés de gazela) e com dignidade (altaneiramente).
Assim foram os profetas reais. Um encontro com dois deles num estudo um pouco mais
detalhado nos ajudará entender a realidade do que foi a Monarquia e o Profetismo.

ELIAS

Encontramos a história do profeta Elias, cujo nome significa “meu Deus é YHWH”,
nos livros dos Reis (1Rs 17-21 e 2Rs 1-2). E ainda o Novo Testamento fará memória deste
querido profeta.
O contexto político do seu tempo está bem definido. Nos primeiros 57 anos de
independência, o Reino de Israel teve 7 reis, dos quais 3 foram mortos em golpes de
estado. O Reino teve quatro capitais: Siquém, Fanuel, Tersa e Samaria. Ou seja, como já
dissemos anteriormente era tempo de grande instabilidade. Conseguiu-se certo
desenvolvimento econômico, contudo, com grande desequilíbrio social. O comércio
aumentou e as relações com outros reinos cresceram.
Assim, Israel pactuou com Tiro e depois com Judá, porém teve problemas com
Damasco. Para ganhar amigos, Acab, rei de Israel casou-se com Jezabel, filha do rei de
Tiro, a qual devia levar seus deuses à Israel.
Dentro do contexto religioso do tempo de Elias podemos considerar o fato de Acab,
que era rei israelita, adorar a Baal, deus da chuva (1Rs 18,18). Aparecem também 450
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profetas de Baal que foram vencidos pelo próprio YHWH (1Rs 18,20-40). Já o profeta fala
em nome de Deus (1Rs 21,17-24). Assim a viúva reconhece Elias como homem de Deus
(1Rs 17,7-24) e Acab o considera agitador, flagelo de Israel (1Rs 18,17).
Encontramos em Elias belos exemplos de como um profeta se relacionava com o
povo. Na falta de chuva, o profeta vai pedir alimento à uma viúva de Sarepta que partilha
com ele. E acontece a morte e ressurreição do filho
dela (1Rs 17,7-24). No entanto, também
encontramos o confronto com os profetas no monte
Carmelo (1Rs 18,1-46), e consequentemente Elias
tem que fugir para o deserto. No deserto a
manifestação de Deus (1Rs 19,1-18), a leve brisa,
enche o profeta de graça e ocorre o encontro, a
vocação e disposição de Eliseu.
O texto que mais evidencia a vocação do
nosso profeta, porém, é a narrativa sobre a vinha de
Fonte: http://migre.me/jIubd
Nabot (1Rs 21,1-29). Homem simples e fiel à tradição
dos seus pais, morre pela ambição do rei. Elias condena ao rei e defende Nabot, sempre em
favor do pequeno contra o poderoso. No fim Elias é arrebatado ao céu, mas Eliseu lhe
sucede (2Rs 2,1-18).
Elias, de acordo com a memória do povo, é o novo Moisés (como ele, Elias foge para
o deserto, sobe ao Horeb, encontra com Deus). Sempre se mostra defensor da religião
javista contra as crenças que os reis aliados aos povos vizinhos deixam introduzir em Israel.
É bom perceber que dentro da profecia além do profeta Elias, apareceram outras
sementes de resistência. O chefe do palácio Abdias contrariou a ordem da rainha, como
tinha feito Nabot. É evidente que os pobres eram fiéis ao projeto de partilha das tribos.
Assim, encontramos a viúva de Sarepta (1Rs 17,7-16). Talvez por isso Elias é tão lembrado
no Novo Testamento: João é Elias que devia vir? És tu Elias? (Mt 11,14; Jo 1,21. 25); Uns
dizem que tu és Elias (Mt 16,14); Na transfiguração (Mt 17,1-9); Elias já veio (Mt 17,10-13;
Mc 9,11-13); Nos dias de Elias havia muitas viúvas em Israel (Lc 4,25); O que diz a
Escritura a propósito de Elias (Rm 11,2); Elias que era homem semelhante a nós (Tg 5,17),
etc.
O “Ciclo de Elias” é a lembrança que seus discípulos contaram como incríveis
histórias de um homem de Deus. Este ciclo é o centro de uma roda de recordações e
releituras do Primeiro Testamento.

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AMÓS

Estamos no Reino do Norte. O momentâneo enfraquecimento da Assíria e de Aram


faz com que Jeroboão II reconquiste certos territórios tomados pelos vizinhos. Aumenta o
comércio, se dá o milagre econômico que acentua os contrastes sociais. Em Betel chega ser
introduzido o “bezerro de ouro”. A teologia sacerdotal (sacerdote Amasias) justifica a
exploração (o poder do rei).
Ao estudar o livro de Amós, encontramos nele textos históricos e textos apocalípticos
onde aparece terremoto, fogo, rugir (Am 1,1.14; 2,2.13). Isso significa que podemos falar
de um primeiro Amós, anterior, aquele que mostra seu amor pela terra. E um segundo
Amós, com uma visão mais ampla, apocalíptica.
Haroldo Reimer (2000), privilegia duas partes: a primeira (Am 1-6) “palavras” e uma
segunda (Am 7-9) “visões”7. Porém, o importante é a mensagem de Amós que está
sintetizada no anúncio do “castigo” e a denúncia de suas “causas” que são principalmente o
luxo, as injustiças, o culto e a segurança da eleição de Israel. Como também afirma Haroldo
Reimer “em Amós, a crítica social e o anúncio do juízo divino articulam a visão de um Deus
que toma partido pelas pessoas pobres e oprimidas na sociedade do próprio povo de Israel
e também dos povos vizinhos (1,3.6.13; 9,7)”.
Em Amós verifica-se uma profunda defesa dos fracos e empobrecidos e uma luta
pelos seus direitos. A profecia articula o movimento e esperança por um Deus que através
de um “dia mau” (Am 5,18-20; 5,8-9; 6,3b) fará com que na terra reinem a justiça, a paz e
a dignidade humana. Que brote o direito como água e corra a justiça como riacho que não
seca! (Am 5,24). Podemos conhecer o profeta por suas próprias palavras. Façamos a
experiência lendo os textos de Am 7,10-17 e 8,1-8 e respondendo
as perguntas: Qual é o conflito? Qual é a causa do conflito? De
que lado está o profeta? Hoje, como ser também profeta?
Os profetas e profetisas voaram alto e longe. Na liberdade
da palavra, na fidelidade ao projeto de Deus, sua mensagem é
ainda válida para os nossos dias e nos animam nas dificuldades

cotidianas da vida. Fonte: http://migre.me/jG2jY

7
REIMER, Haroldo. Amós – profeta de juízo e justiça. Revista de Interpretação Bíblica Latino-americana,
Petrópolis; São Leopoldo, v. 35/36, p.171-190, 2000.
42
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Dica de aprofundamento

Ler os livros bíbicos sobre a história de Israel é, às


vezes, cansativo. Mas, surprende a riqueza de dados e o
conteúdo teológico neles, manipulado por quem escreve.
Faça a experiência de ler detalhes sobre a vida de Davi
como em 2Sm 12,1-13,25 e seu paralelo em 1Cr 20,1-3
Fonte: http://migre.me/jFpwJ
comparado à história contada. Porque será que o livro
das Crônicas não conta o episódio completo?
*Depois poste no fórum da unidade suas reflexões.

Síntese do estudo:
Olhando pelo retrovisor tdo

nosso estudo:
Olhando pelo retrovisor
Fonte: http://migre.me/jFtbQ
Síntese do nosso estudo:
- Acontecimentos e rupturas dentro do próprio povo de Israel.
Olhando pelo
- Características do Reino de Israel ou Norte e do Reino de Judá ou Sul. Divergências
retrovisor
políticas e teológicas.
- Profetismo: resposta de Deus à nova situação criada pelos reis.
- Profetas: Homens e mulheres da Palavra; homens e mulheres de pé no chão.

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade


3.1.

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UNIDADE 4

“ISSO ACONTECEU PORQUE ELES NÃO


OBEDECERAM A PALAVRA DE YHWH E
VIOLARAM SUA ALIANÇA” (2Rs 18,12)

OBJETIVO DA UNIDADE: Compreender os acontecimentos narrados na história e


procurar o porquê da interpretação desses fatos na Bíblia. Abordar as dominações da
Assíria, da Babilônia e da Pérsia e as consequências para a fé do povo da Bíblia. Teologia
da retribuição.

4.1 Dominados pelos Impérios

“Depois o rei da Assíria invadiu toda a terra e pôs


cerco a Samaria durante três anos” (2Rs 17,5).

“Isso aconteceu porque os israelitas pecaram


contra YHWH seu Deus que os fizera subir da
terra do Egito, libertando-os da opressão do Faraó
Rei do Egito. Adoraram outros deuses e seguiram
os costumes das nações que YHWH havia
expulsado de diante deles” (2Rs 17,7-8).

“Correndo atrás da Vaidade, eles próprios se


tornaram vaidade, como as nações ao redor,
apesar de YHWH lhes ter ordenado que não
agissem como elas” (2Rs 17,15).

Primeiro a Assíria, depois a Babilônia e ainda a Pérsia dominaram desde o Oriente as


nossas terras bíblicas. E aconteceu... Encontramos escritos contraditórios nos quais alguns
contam, outros interpretam e até tem aqueles que falam em nome de Deus. O que está por
trás dessas palavras?
Entendamos num olhar rápido o contexto histórico da dominação da época para
compreender a situação do povo e as palavras dos profetas nesse contexto.

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Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

SÍNTESE DO DOMÍNIO DOS IMPÉRIOS ASSÍRIO E BABILÔNICO

SITUAÇÃO INTERNACIONAL SITUAÇÃO NACIONAL

ASSÍRIA X EGITO X BABILÔNIA REINOS DO NORTE E SUL ameaçados

734 a.C. Teglatfalassar III, da Assíria Guerra siro-efraimita contra Acaz rei de
chegou até Galileia. Cobrou tributos de Israel que pediu ajuda à Assíria. Isaías
Acaz. interveio. Pregação de Miqueias.

732 Fim do Reino de Damasco.

722 Sargon II chegou até Egito. Fim do Reino do Norte, queda da Samaria.
Ezequias tentou reforma.

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Troca de populações Manassés (45 anos de terror).

701 Senaquerib de Assíria atacou


Jerusalém.

630 Profeta Sofonias.

627 Vocação de Jeremias.

626 Babilônia ressurgiu com Nabopolasar.

Josias: Reforma. Centraliza o culto em


Jerusalém. Profetisa Hulda.

612 Destruição de Nínive. Profeta Naum.

609 Josias é morto quando tentou impedir o


avanço de Necao do Egito que, aliado a
Assíria, queria fazer frente a Babilônia.
Profeta Habacuc.

605 Nabopolasar chega até Síria.

597 1ª Deportação à Babilônia. Joaquin se rende a Nabucodonosor e é


levado ao cativeiro.
Ezequiel prediz a ruína de Jerusalém.
Os babilônios deixam Sedecias como rei, até
que ele se nega pagar o tributo.
Reação: novo cerco e queda de Jerusalém.

587 2ª Deportação à Babilônia. Godolias, governador.

Exilados: Reféns: Rei + Corte. Remanescentes: camponeses pobres,


grupos proféticos, levitas, cantores, do
interior.
Jeremias fica entre eles.

538 Edito de Ciro, rei da Pérsia, para que os


exilados voltem à sua terra.

4.2 A Palestina sob a hegemonia assíria (738-630 a.C.)

A Assíria estabeleceu como uma de suas prioridades, controlar todo o acesso


terrestre ao Egito. Para assegurar o domínio desta rota, era necessário, do ponto de vista
do império, ter reinos vizinhos aliados entre os dois reinos de Israel e de Judá. Após um
confronto, Israel foi reduzido à montanha de Efraim em torno da capital Samaria. No ano de
722 a.C., sendo rei assírio Sargão II, a cidade de Samaria foi sitiada, derrotada e convertida

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numa nova província. Judá converteu-se em um reinado submetido à Assíria. Porém, após a
campanha de Senaquerib em 701 a.C., ficou para o reino de Judá somente a cidade e seus
arredores. Israel ficou desde a queda da Samaria totalmente incorporado a Assíria, e Judá
submisso como reino vassalo. Com esta incorporação do território de Israel ao império
assírio, ficou só Judá como o herdeiro da identidade nacional e religiosa do povo que se
conhecia como povo de YHWH.

4.3 Projeto de um novo Israel (640-609 a.C.)

Chegou, também, a hora do colapso do poderio assírio. Os sacerdotes e outras


pessoas no poder fizeram um significativo esforço para restaurar Israel. Foi a chamada
Reforma de Josias. Os textos de 2Rs 22,1-23,30 e seus paralelos nos livros das Crônicas
informam que a política renovadora de Josias foi inspirada no “livro da Lei” (Deuteronômio)
encontrado no Templo.
O rei Josias procurou legitimar o reino sob uma Aliança entre YHWH, o rei e o povo
(2Rs 23,1-3), onde o rei assumia o papel de intermediário e fiador da aliança. Assim, o
agente capaz de executar as profundas reformas sugeridas pelo livro da aliança não podia
ser outro senão o rei de Jerusalém.
Surpreendente é que Jeremias denuncia a reforma de Josias como uma conversão só
aparente (Jr 3,6-13). Samaria, disse o profeta, foi mais honesta que Jerusalém, pois nunca
pretendeu converter-se. A conversão de Jerusalém é mentirosa, pois a injustiça continuou
sendo a base da vida nacional. Com a diferença de que naquele momento pretendiam ter
YHWH de seu lado. Converteram o Templo escolhido por YHWH em um covil de ladrões! (Jr
7, 11). Lembremos essas palavras também na boca de Jesus (Mt 21,13).

Um outro olhar!
Fonte: http://migre.me/jGGS8

Fonte: http://migre.me/jGGS8

Uma palavra a mais sobre o reinado de Josias: Conhecemos as motivações que


justificaram a divisão do Reino e o fim do reino do Norte pelo domínio da Assíria.
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Logicamente o declínio desse Império deu oportunidade para a elite do reino do Sul reforçar
sua política econômica centralizada em Jerusalém.
A chamada reforma josiânica proclamada para purificar e centralizar o culto em
Jerusalém aboliu os santuários locais e forçou a população rural ir à Jerusalém para
manifestar sua fé. A elite de Jerusalém expandia assim sua política centralizadora do
estado. A imposição de uma só religião oficial fortaleceu os sacerdotes de Jerusalém e sua
situação dentro do reino de Israel.
Uma leitura fundamentalista só enxerga a fidelidade de Josias para com YHWH.
Entendendo o contexto sociopolítico da época, compreendemos a grande manipulação do
povo que a reforma conseguiu fazer.
Vejamos por exemplo a celebração da Páscoa em 2Rs 23,21-23. Conhecemos a
evolução da celebração da Páscoa na História de Israel. É bom, agora entender o porquê
essa festa passou ser celebrada no Templo quando na realidade era a festa da casa, da
família. E o significado que teve nas mudanças proclamadas por Josias8.
Analisaremos só um exemplo, a palavra “sacrifício”, o que nos ajudará entender algo
importante da realidade da celebração da Páscoa.
O sacrifício na sociedade tribal, o zebah era uma refeição comunitária das famílias
no clã. A gordura do animal sacrificado era oferecida a YHWH e a carne partilhada com
quem fazia a oferta. Era a renovação do pacto entre Deus e seu povo, a aliança. O pai de
família realizava o sacrifício sem necessidade de sacerdote.
Na sociedade monárquica, a festa passou aos poucos a ser celebrada no santuário
ou no templo (1Sm 1,1-7). O sacerdote era o ofertante que ficava com as melhores partes
da carne (1Sm 2,14-16). Depois foi o rei quem oferece este sacrifício (1Sm 15,22-23) com
reação por parte do povo e dos profetas (Am 5,22; Os 6,6). No tempo de Josias “não se
havia celebrado uma Páscoa semelhante a esta em Israel...” (2Rs 23,22). Até o acontecido
na sociedade pós-exílica quando o sacrifício foi não só cooptado pelo templo, mas celebrado
junto a outros sacrifícios (em hebraico se usam nomes diferentes como shelamim e olah
citados no livro de Levítico, capítulos 6 e 7) que não tem nada a ver com o sacrifício do
cordeiro para ser partilhado na família.

Qual é a síntese do próprio autor bíblico?

2Rs 23,26-27: Contudo, YHWH não abrandou o furor de sua grande ira,
que se havia inflamado contra Judá, por causa das provocações que

Acompanhamos e aconselhamos ler as preciosas orientações no livro do nosso colega: NAKANOSE,


8

Shigeyuki. Uma história para contar: A Páscoa de Josias - Metodologia do Antigo Testamento a partir
de 2Rs 22,1-23,30. São Paulo: Paulinas, 2000.
48
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Manassés lhe havia feito. YHWH decidiu: “Também a Judá expulsarei da


minha presença, como expulsei Israel; rejeitarei esta cidade de Jerusalém,
que eu tinha escolhido e o Templo do qual eu dissera: Aí residirá o meu
Nome” (BIBLIA DE JERUSALÉM, 2002).

Jesus ao ser perguntado pela mulher samaritana sobre o lugar de adoração


respondeu que “aqueles que adoram devem adorá-lo em espírito e verdade” (Jo 4,20-24). E
ao ser perguntado pelos seus discípulos sobre o cego de nascença, “quem pecou ele ou
seus pais para que nascesse cego”, Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram...”
(Jo 9,2-3). O Deus de Jesus, nosso Pai, se revela como aquele que sempre acompanhou e
está junto do seu povo.

4.4 Acontecimentos do tempo do Exílio e suas consequências9

“No seu tempo Nabucodonosor rei


da Babilônia marchou contra Joaquim que lhe
esteve sujeito durante três anos”
(2Rs 24,1).

“Naquele tempo, os oficiais de Nabucodonosor,


rei da Babilônia, marcharam contra Jerusalém e a
cidade foi sitiada [...] Nabucodonosor levou todos
os tesouros do Templo de YHWH e os tesouros do
palácio [...] Levou para o cativeiro Jerusalém
inteira, todos os dignitários e todos os notáveis”
(2Rs 24,10- 17).

“No nono ano de seu reinado [...]


Nabucodonosor, rei da Babilônia veio atacar
Jerusalém com todo o seu exército” (2Rs 25,1).

A história relatada na Bíblia é bem conhecida por outros documentos extrabíblicos,


anais dos Impérios. Mas, precisamos ler detalhadamente no segundo livro dos Reis os
capítulos 24 e 25 para compreender os sentimentos de quem foi levado ao Exílio, a
memória feita por quem contou. Quem foi ao cativeiro da Babilônia e quem ficou na terra
de Judá?
Provavelmente não foram muitas pessoas levadas ao Cativeiro da Babilônia. Algumas
foram obrigadas, outras foram porque quiseram. Muitas pessoas fugiram para outros
lugares (diáspora). O certo é que na cabeça de todos ficou a saudade da terra, do Rei, do
Templo e sacerdotes, dos profetas. Então, criaram e fortaleceram outros espaços como:
PALAVRA escrita, registro da memória. E radicalizada na lei.

9
Agradeço esta síntese sobre o Exílio aprendido com frei Carlos Mesters, no Curso Intensivo do
Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), no ano 1987, na Universidade Metodista de São Paulo.
49
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SÍMBOLOS como a circuncisão, festas e espaço (que mais tarde será a sinagoga).
No fundo existiram questões profundas em relação ao poder, ao passado e à
missão.
O poder: Já não era mais dos judeus. O povo foi levado e trazido sem se perguntar
sua opinião. Durante o tribalismo: Deus dava o poder ao POVO. Durante a Monarquia, Deus
dava-o ao REI. Agora...
537 a.C.: Nabucodonosor os leva, submete, tenta acabar com sua cultura, religião.
538 a.C.: Ciro, depois precisará de um grupo para assegurar a paz. Com o decreto,
os judeus que voltam, exultam a Ciro, como salvador da Pátria!
O relacionamento com o passado: Sem patriarca, sem juiz, sem rei, sem
sacerdote, sem profeta. Para os judeus, naquele momento, a fala de Deus estava no
passado! Assim, no cativeiro da Babilônia e entre os que ficaram na terra de Israel foi um
tempo de síntese! Graças à preocupação de guardar o passado temos a Bíblia escrita.
Como ficou a missão?
A lembrança do passado não podia ser lineal. Aconteceu, passou... Tinha-se que
reconstruir a história! Escreveu-se a Bíblia como janela, porque através dela podemos ver o
passado. Mas também como espelho. O povo se olhava nele, olhava ao redor e criava uma
nova consciência: O passado faz sentido! Nosso Deus ainda é um Deus Criador, Libertador...
No sofrimento “maior” do Exílio, os feitos do nosso Deus são maiores também (por
exemplo: o rio Nilo vira sangue!).
Tratava-se de RE-CRIAR, de fazer novas todas as coisas. Se Deus libertou ao povo
com poder criador (Gênesis) hoje, também o faz assim. Temos que caminhar como Abraão,
sair da escravidão como Moisés e o povo oprimido no Êxodo. Se Abraão foi pai do povo,
fonte de vida, agora temos que reler Abraão incluindo todas as nações. Surgiu assim, o
projeto do 2º Isaías (capítulos 40-55): A missão do povo que sofre é universal, no serviço
(não no poder como nossos opressores), somos chamados a ser luz das nações, nossa
missão é universal.
Entendamos uma vez mais que a história
bíblica é como uma colcha de retalhos. Recolhendo o
mais belo das memórias contadas e escritas pelos
“nossos pais e mães” que transmitiram a fé aos/às
seus/suas filhos/as, neste tempo de exílio, de forma

especial foram costurados os retalhos que hoje


Fonte: http://migre.me/jGO9P
encontramos nas nossas Bíblias!

50
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Muitos foram os exílios, os retornos do povo dominado. E muitos foram os relatos


tantas vezes contraditórios. Quando comparamos o texto de 2Reis 24,10-25,30 com o de
2Crônicas 36,6-23 e levamos em conta as narrativas de Jeremias 39,1-41,18 e 52,4-34
sentimos a sintonia com a versão do segundo livro dos Reis, porém, apresentando
novidades importantes.
Segundo os dados recolhidos encontramos, por um lado os exilados que, segundo o
testemunho do livro de Jeremias, foi uma minoria: 4.600 pessoas ao todo, mesmo que
nesta contagem tenham sido considerados só os homens. Entre eles, a elite que foi em 597
a.C. e o "resto da população da cidade" (2Rs 25,11), quando Jerusalém foi destruída.
Por outro lado, os remanescentes, em grande número, já que houve esse “resto”
que ficou numa situação de desânimo ao ver seu Templo queimado, mas com meios de vida
podendo cultivar a terra. E isso deu ânimo na vida deles e na memória que faziam. Neles
encontramos a profecia (Jeremias ficou na terra e ainda com seu possível pessimismo deu
testemunho de profeta) e a vontade de um projeto igualitário e justo, sem corrupção.
É bem possível que esse grupo tenha colaborado na coleção de memórias da história
do povo. Jerusalém, mesmo com os muros destruídos, continuou sendo o lugar do culto. Lá
devia estar um grupo de sacerdotes e de levitas e eles contribuíram na coleção das
memórias ligadas aos santuários populares, ao templo de Jerusalém e à monarquia como
ficara expresso no livro das Lamentações.
Os/as exilados/as que viviam na Babilônia não deixaram de sonhar com seu regresso
a Jerusalém. Seus sentimentos de saudade e nostalgia se recolhem no belo, mas também
triste canto, do Salmo 137: “À beira dos canais da Babilônia nos sentamos e choramos com
saudades de Sião. Nos salgueiros que ali estavam penduramos nossas Harpas”.
Surgiu ainda o livro reconhecido como Dêutero-Isaías ou Segundo Isaías, afirmando
o propósito de YHWH em restaurar a terra. As importantes promessas eternas feitas a Davi
se cumprirão não em um novo rei, mas em uma nova situação paradisíaca para todo o povo
(Is 55, 1-3). Seus sofrimentos têm uma função salvífica. As nações irão maravilhar-se e
crerão quando YHWH exaltar o servo antes castigado (Is 52, 13 – 53, 12).
Is 52,13-15: Eis que meu Servo prosperará, ele se elevará, será exaltado,
será posto nas alturas. Exatamente como multidões ficaram pasmadas à
vista dele – pois ele não tinha mais figura humana e sua aparência não era
mais a de homem – assim, agora nações numerosas ficarão estupefactas a
seu respeito, reis permanecerão silenciosos, ao verem coisas que não lhes
haviam sido contadas e ao tomarem consciência de coisas que não tinham
ouvido (BIBLIA DE JERUSALÉM, 2002).

No sofrimento, o povo reflete, articula, organiza e mantém sua fé até hoje! É


esperança de ressurreição.

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Estes textos nos trazem as experiências atuais de migração que é cativeiro, com
sofrimento na esperança de uma vida nova.

Dica de aprofundamento

Para conhecer a História de Israel é necessário ler os livros


reconhecidos como históricos. Leia os livros dos Reis,
especialmente agora a partir do capítulo 17 de 2 Reis e os
seus paralelos no livro de Crônicas a partir de 2 Crônicas
28. Certos Salmos e as Lamentações ajudam experimentar Fonte: http://migre.me/jIB35
os sentimentos do povo no cativeiro e diante da destruiçõo
de Jerusalém.
Fonte: http://migre.me/jFpwJ
*Depois poste no fórum da unidade suas reflexões.

Síntese do estudo:
Olhando pelo retrovisor nosso

estudo:
Olhando pelo retrovisor
- O domínio dos Impérios.
Síntese do nosso estudo:
- O domínio da Assíria e a queda da Samaria, que provoca o fim do Reino do Norte.
Olhando pelo
- A sobrevivência do Reino do Sul, seus reis e sua concentração do poder até conseguir
retrovisor
manipular a Religião, ao próprio Deus.
- Babilônia e seu poder destruidor. Consequências da experiência de cativeiro.

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade


4.1.

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UNIDADE 5

“ASSIM FALA CIRO, REI DA PÉRSIA: YHWH, O


DEUS DO CÉU, ENTREGOU-ME TODOS OS
REINOS DA TERRA” (2 Cr 36,23)

OBJETIVO DA UNIDADE: Entender, no contexto bíblico, como YHWH, Deus que


caminhava com seu povo nos tempos da saída do Egito e na época das Tribos, agora sob o
domínio de outras culturas, passa ser o Deus do céu. As consequências sociais e teológicas
desta mudança.

5.1 Domínio do Império Persa

Estamos no Pós-Exílio. Todo “pós” é difícil de definir, é algo difuso. Entramos no


tempo do “2o Templo”. O imperialismo (domínio da Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma) foi
quebrando o poder político, cultural e religioso semita. Israel – Palestina, neste tempo, foi
uma “colônia”. E toda colônia sobrevive na dialética de “assimilar” ou “reagir”. Na literatura
bíblica deste tempo encontraremos assimilação (história cronista, por exemplo) e reação
(novelas de resistência).
Prestemos atenção ao momento que vamos estudar.

Fonte: http://migre.me/jFpwJ

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Situação internacional e nacional. Edito de Ciro (2Cr 36,22; Esd 1,1; 6,3-5)
Características do Imperialismo Persa:
1) Pérsia é Oriente. Judá era o fim do mundo para os persas e de repente Judá é
dominada por esse outro povo e cultura que não tinha muito interesse em conhecer e
respeitar o ocidente. Os persas estavam na rota da
seda, na cultura do macarrão sempre para o oriente,
não na cultura do vinho e do trigo do ocidente.
2) Porém, se preocuparam em preservar a
convivência pacífica. Para isso, favoreceram a
autonomia dos povos dominados (podiam ter sua
religião, seus templos, suas festas e costumes). Houve
Fonte: http://migre.me/jFpwJ uma mistura de tradições religiosas, festas, símbolos,
etc.
3) Cuidaram de organizar o território do seu Império para garantir: a unidade do
Império e o pagamento do tributo. Para isso, cogitam e têm novas estratégias de poder:
Divisão em Satrapias, estas em províncias e ainda em distritos.
Na realidade de Israel estamos no distrito de Jerusalém, na província da Samaria, na
Satrapia da Transeufratênia. Logicamente, por cima do Governador, está o Satrapo e por
cima com todo poder, o Rei. Aparecem muitos cargos
e responsabilidades (Esd 7,12-26). Cria-se um
sistema secreto de informação (a CIA?), o satrapo é
“os olhos do rei”. Nos textos apocalípticos deste
tempo aparecem muitos “olhos”... No cotidiano tinha
muita gente vigiando!
Criação de estradas: De Sardes a Susa =
2.400 km. Na estrada, o governo vai agilizar o
correio, já que cada 30 km havia um posto onde se
Fonte: http://migre.me/jFpwJ
trocava de cavalo. As notícias deviam ser enviadas e
vigiadas.
4) Centralizaram o poder de diversas formas:
- Com novas moedas: dáricos, para o tributo e o comércio.
- Com um idioma comum: o aramaico foi a língua oficial em todo o Império, ainda
não sendo a fala da Pérsia. Mas, era o mais simples e com possibilidade de ser entendido
com facilidade.

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Consequências para Israel:


Em 539 a.C., Ciro promulgou um edito que autorizava a reconstrução do templo de
Jerusalém. Deste modo, o novo templo seria construído pelos exilados, que questionaram a
legitimidade dos que viviam na Palestina. Quer dizer que estamos numa conflituosa situação
política, econômica, social e religiosa em Israel. Muitas pessoas que foram ao exílio, não
voltaram. Os que o fizeram, tiveram problemas. Depois de 50 anos, a terra dos seus
antepassados estava na mão de outros que a cultivaram durante esses anos. Surgiram
questões de Genealogias ligadas à posse da terra. Problemas de identidade, herança,
resgate. De repente, estava nascendo ou talvez cristalizando um novo estilo de ser judeu.

5.2 Judaísmo

No Exílio, o povo ficou sem suas referências: sem terra - sem rei - sem templo.
Perguntavam-se: Como conservar nossa identidade? Como passar para os nossos
filhos a nossa grande experiência de nação?
Na volta do Exílio, Israel não era mais um conjunto de 12 tribos, nem era uma
nação. Era uma mistura de muitos povos. Dos filhos de Israel muitos ficaram na diáspora.
De novo a pergunta: Como conservar e até recuperar nossa identidade? Aos poucos, a lei, a
sinagoga, a circuncisão e o cumprimento do descanso do sábado foram sinais visíveis da
pertença ao povo judeu. E assim se desenvolveu o judaísmo.

Fonte: http://migre.me/jFpwJ Fonte: http://migre.me/jFpwJ

Depois do Exílio, em Israel, desde o ponto de vista social e ideológico, apareceram


dois grupos bem definidos, cada vez mais, e duas posições sociais e religiosas diferentes:

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- a “golah” (exilados, segundo a terminologia hebraica) era a origem da comunidade


de judeus que foram para o Exílio e voltaram (muitos ficaram na Babilônia!) com um
projeto: RESTAURAR.
- o ‘povo da terra’ que foi o grupo de remanescentes que ficou na terra de Israel e
tinha outro tipo de concepção social, queria RE-CRIAR, fazer novas todas as coisas.
Desde o ponto de vista religioso, encontramos nos escritos bíblicos, uma síntese das
mudanças religiosas: YHWH, o Deus da História de Israel, aquele que caminhava com seu
povo foi “elevado” pelos deuses da Pérsia que estavam no céu. Agora YHWH, o Deus do céu
será o Deus do novo Rei (“Assim fala Ciro, rei da Pérsia: YHWH, o Deus do céu, entregou-
me todos os reinos da terra” 2 Cr 36,23).
Portanto, o Deus criador é visto como aquele que dirige os acontecimentos da
história desde o céu. E o povo de Israel, povo da Aliança será o centro da criação.
Neste tempo, aconteceu outra grande mudança. A Aliança do povo com seu Deus já
não era gratuita por parte de Deus, já que por definição dos sacerdotes e dirigentes do
povo a graça dependia da observância da Lei. A profecia virou lei. Os profetas viraram
doutores. Só o movimento popular, os anawin resistiram até o tempo de Jesus e teimam até
hoje! (Lendo alguns esclarecimentos mais sobre o Judaísmo nas Atividades entenderemos a
reação de Jesus frente a certos judeus e a situação atual Israel Palestina. Faça isso logo!)

5.3 Neemias e Esdras

Temos dois livros na Bíblia chamados Neemias e Esdras que foram escritos lá pelos
anos 340 a.C., como sempre, falando de tempos passados, mas refletindo os problemas do
presente. O autor do livro uniu com versículos redacionais duas histórias para dar sua
mensagem. É curioso perceber que os últimos versículos das Crônicas, escritas também
neste tempo, se repetem no livro de Neemias como dando continuidade. De fato, tudo
indica que Neemias foi anterior a Esdras (ainda que na ordem dos livros que aparecem na
Bíblia encontramos primeiro a Esdras e depois Neemias).
Neemias achou a capital destruída e por isso trabalhou na sua reconstrução fazendo
a muralha, que apareceu como símbolo da reconstrução da vida do povo. Já Esdras
preocupou-se com outra segurança: a lei.
A nossa pergunta poderia ser: Como estes homens de confiança do dominador se
apresentavam como lideranças dos dominados? De que lado eles estavam?

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Quem foi Neemias?


No ano 20 de Artaxerxes (445 a.C.), como rei da Pérsia, enviou a Jerusalém
Neemias, esse israelita de sua confiança, com uma missão bastante ampla. Devia
reconstruir os muros de Jerusalém, povoar a cidade e tomar as medidas civis necessárias
para consolidar a região. Judá ficou assim separada da Samaria, com sua própria
administração (persa).
Neemias era copeiro do Rei da Pérsia (Ne 1,11), sim, seu homem de confiança. Fez
duas viagens a Jerusalém. Com o poder do rei, foi Governador (Ne 5,6-13), reconstruiu as
muralhas da cidade. Preocupado com o problema político, social (Ne 5,1-6) voltou para
Jerusalém (Ne 13,7) para promover outras mudanças.
Para Neemias, como para outros muitos, Jerusalém era a luz dos povos, eixo da
roda (existem documentos interessantes sobre a família Murachu, muito rica e que provam
essa afirmação sobre Jerusalém) e tinha que se preservar a identidade original do povo.
Neemias era um homem bom, sensível aos problemas do povo. Via como os ricos
exploravam os pobres (Ne 5,1-5). Ele convocou uma assembleia exigindo a quem tinha
acumulado que devolvesse terras até a penhora em dinheiro, trigo, vinho (Ne 5,6-13).
Mas Neemias acabou agindo autoritariamente exigindo a reconstrução da muralha
da cidade para dar segurança aos seus moradores (Ne 2,11-3,38), e obrigando o povo
lavrador a trabalhar e morar na cidade (Ne 7,4-72; 11,1-2.20.25). Ainda favoreceu o poder
do grupo sacerdotal (Ne 13,13; 13,30). Para Neemias os sacerdotes eram os intermediários
entre Deus e o povo. Surgiu aqui o sacrifício como expiação indispensável para Deus
perdoar o pecado do povo. Aquela teologia que distanciou Deus do povo e o povo do seu
Deus.
Junto com Esdras exige a ruptura dos casamentos mistos, o que produz uma reação
triste e sofrida (Ne 13,23-25; Esd 9).

Quem foi Esdras?


Provavelmente atuou em torno dos anos 398 a.C. Era doutor da lei, escriba que fazia
parte do grupo intelectual que chegou a Jerusalém (Esd 7,6-7). Ele também achava que o
sofrimento do povo era castigo de Deus pelo relaxamento deles já que muitos se casaram
com estrangeiras e deixaram entrar costumes diferentes aos do povo de Israel.
Esdras propôs expulsar as mulheres estrangeiras e seus filhos e observar a lei como
meio de purificação (Esd 9,1-10,44). Chegou e deu o nó na teologia que Neemias propagou:
a lei, a observância em torno ao templo daria a identidade da raça, confirmando o povo
eleito.

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Para o povo simples a lei era diferente como prova o Salmo 19. Os hassidim
(piedosos) e os anawin (pobres) propõem nesse salmo e em tantos outros escritos um
novo jeito de viver a fé. O jeito que Jesus assumiria mais tarde!
A lei de YHWH é perfeita,
Consolação para a vida
O testemunho de YHWH é firme
Sabedoria para os pequenos (Sl 19,8).

É importante citar alguns outros personagens bíblicos pelo seu envolvimento social e
religioso nessa época. Pelo lado dos exilados, encontramos os profetas Ageu e Zacarias que
apoiaram com suas profecias a reconstrução do templo. Pelo lado oposto, o lado dos que
estavam sendo excluídos de participação nesse projeto, se situam os profetas anônimos,
cujas profecias foram recolhidas numa parte do livro de Isaías (Is 56 – 66).
Inicialmente os profetas que falaram por esse povo, negam qualquer interesse de
YHWH pelo templo que a Golá estava construindo, pois para eles YHWH é o criador de tudo
e não necessita do Templo. O jejum desejado por YHWH era libertar os oprimidos e
alimentar os famintos, e não o inclinar a cabeça como juncos (Is 58,1-12). YHWH é um
Deus que habita nas alturas, mas, também está com os oprimidos e humildes da terra (Is
57,15).
A complicação que as genealogias queriam verificar são questionadas pelo
testemunho profético que afirma: YHWH aceita até eunucos, os estrangeiros que guardam o
sábado e a aliança (Is 56,1-7). Pelo lado da Golá, também encontramos profetas como
Ageu e Zacarias que deram um grande impulso na construção do Templo, interpretando as
limitações econômicas como resultado das suas poucas ofertas e seus fracos esforços em
prol desta causa. Ageu via em Zorobabel o comissário responsável pela obra ante o império,
um novo Davi escolhido por YHWH como sinete para “destruir o poder das nações”.
Porém, por que será que o profeta Ageu, com tanta firmeza encorajou seus
compatriotas a construir o Templo? De fato, ele convocou os camponeses a construir o
Templo (Ag 1,5-11) dizendo: Se o Templo for reconstruído, tudo vai melhorar, pois Deus
habitará no meio do povo e espalhará suas benções. O Templo será o sinal e o lugar da paz
(Ag 2,6-9). Tratava-se de evitar a desintegração total e de proteger os fracos, os pequenos.
Ainda era tempo de viver a fartura (Ag 2,19) e a liberdade frente aos reinos das nações (Ag
2,20-23).
Já os argumentos de Zacarias, profeta contemporâneo de Ageu que também
animava o povo para reconstruir o Templo e Jerusalém como sede do governo de YHWH,
era assegurar uma dupla estrutura: Zorobabel, príncipe davídico e Josué, Sumo Sacerdote.

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Seu projeto foi monárquico-sacerdotal (Esd 4,14) e não deve ter sido assumido pelo poder
persa já que na inauguração do Templo Zorobabel não está presente (Esd 6,15-17)
Porém, aqui, em 515 a.C. acaba de vez a monarquia davídica como experiência
política. Ainda que, o davidismo, a utopia davídica permanecesse até hoje entre os judeus.
O Pós-Exílio é um tempo difícil de ser avaliado. Acerca da perspectiva ideológica, o
conflito de poder é percebido nitidamente nos escritos e
nas profecias da época. E as opções dos diferentes grupos
nos ajudam a compreender o que aconteceu no tempo de
Jesus e acontece até hoje. Afortunadamente para nós, a
Bíblia nos oferece outro tipo de literatura, livros que como
pequenas luzes iluminam nossos olhos e esquentam nosso Fonte: http://migre.me/jFpwJ
coração.
Assim, chega até nós, a narrativa de Rute. Num cenário de seca, fome, pobreza e
migração, aparece uma clara mensagem sobre a herança, reação contra a realidade vivida
no tempo do domínio persa com sua nova ideologia.
No livro de Rute aparecem em cena
Rute, mulher pobre, estrangeira,
personagens carregadas de sentido, que já, desde seu viúva. “Entra” para fazer parte do
povo de Israel. Ela, mulher
nome apresentam chaves de leitura para nós: Um casal moabita é quem resolve a trama
com todos os direitos de herança.
Elimelek (meu pai é rei) e Noemi (Graça) com dois
filhos Maalon (Doença) e Quelion (Raquítico).
Em tempo de seca e fome saem de Bethelem, a casa do pão, na procura de
alimento e vão a Moab, terra vizinha e na história, inimiga de Israel. Os filhos casam com
mulheres moabitas Rute (Amiga) e Orfa (Costas). Morrem os homens da família e Noemi
resolve voltar na procura dos seus parentes se autodenominando Mara (Amarga). Rute a
acompanha mostrando fidelidade e amor.
Na procura de soluções aparece uma trama de
amizade e relação profunda entre a sogra e nora. Rute
vai respigar10, na procura de alimento, e o faz, por
acaso no campo de Booz (Pela força) que a recebe e
acolhe até com paixão. Há casamento e nasce o filho
chamado Obed (Servo).
No livro de Rute existe uma releitura do
passado: Abraão e o seu povo deixaram sua terra. No

Fonte: http://migre.me/jFpwJ Êxodo voltaram. No Exílio saíram e voltaram para

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Apanhar no campo as espigas que aí ficaram após a colheita.
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casa. No nosso livro: Noemi sai de Belém para Moab e volta. Rute vai até o campo e volta.
Vai até a eira e volta. Vai até a porta da cidade e volta.
Há também uma releitura do presente: O direito do pobre passou de ser esmola,
quando é direito! Se refaz a aliança na terra, lá se dá a fartura. E tudo graças a uma mulher
estrangeira. Rute é o avesso de Esdras!
Rute representa uma reação universalista frente ao nacionalismo do pós-exílio,
sobretudo depois de Esdras. Rute, uma estrangeira que se casa com Booz, passa ser uma
ascendente de Davi e até de Jesus de Nazaré.
a) Canto a providência. Não com grandes manifestações como no Êxodo. Mas
sim, de uma forma simples e discreta. As mulheres chegam a Belém no tempo da colheita
(Rt 1,22), Rute por sorte vai aos campos de Booz, parente do seu marido de Noemi (Rt
2,3), etc.
b) Universalismo. Que se opõe abertamente à atuação de Esdras tanto pelo
argumento, como pelo fim da história.
c) Mulher a serviço é reconhecida. Vó de Davi. Que em Rt 1,16-17 declara uma
das mais belas profissões de amizade e fé: "[...] para onde fores, irei também, onde for tua
moradia, será também minha; teu povo será meu povo e teu Deus será meu Deus".
O livro de Rute confirma também a fé messiânica. Sabendo que a espera do Messias
para alguns é a certeza de um enviado por Deus, como rei forte e dominador, para outros,
o Messias, o Ungido será “consagrado para anunciar a Boa Notícia aos pobres, para
proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os
oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Is 61,1-2; Lc 4, 18-21).
Poderíamos ler o livro de Rute assim dividido:

1,1-5 = situação que se cria


1,6-22 = a volta
2,1-23 = respigar (PÃO)
3,1-18 = noite na eira (FAMÍLIA)
4,1-17 = o resgate (TERRA)
4,18-22 = apêndice.

Pão, família e terra poderiam ser a solução para tantos problemas de vida na
atualidade?

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Sugestão para seu aprofundamento:

Estamos conhecendo um dos momentos mais


importantes da história de Israel. Tempo de síntese, de
escrita no meio da dor e da procura de identidade. Leia
o livro de Rute, curto e cheio de encanto.
*Depois poste no fórum suas reflexões. Fonte: http://migre.me/jFpwJ

Síntese do estudo:
Olhando pelo retrovisoro nosso

estudo:
Olhando pelo retrovisor
Síntese do nosso estudo:
Fonte: http://migre.me/jFtbQ
Olhando pelo
- Domínio do Império Persa.
retrovisor
- Consequências para Israel: Judaísmo.
- Neemias e Esdras: o fechamento na Lei.
- O livro de Rute, resposta ao cotidiano.
- Quem é nosso Deus?

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade


5.1.

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UNIDADE 6

“VAMOS FAZER ALIANÇA COM NAÇÕES


VIZINHAS PORQUE DEPOIS QUE NOS
AFASTAMOS DELAS, MUITOS MALES NOS
ACONTECERAM” (1Mc 1,11)

OBJETIVO DA UNIDADE: Entender a influência do helenismo grego no judaísmo e a


mudança de valores do povo da Bíblia. O sentido da morte e da vida.

6.1 Domínio do Império Grego

“O macedônio Alexandre, filho de Filipe já


era rei de Élade. Ele saiu do país de Cetim,
venceu a Dario, rei dos persas e medos, e se
tornou rei no seu lugar” (1Mc 1,1).

Houve uma passagem do domínio persa ao comando grego. A Pérsia invadiu três
vezes a Grécia destruindo cidades e massacrando povos, mas os gregos sempre
conseguiram expulsá-los. Em 356 a.C. nasceu na Macedônia Alexandre chamado depois o
Magno. Ele reinou entre 330-323 a.C., e morreu com 33 anos doente, enfraquecido por
tantas andanças e guerras. Alexandre, o Grande, conquistou um dos maiores impérios da
história em tão pouco tempo e espalhou a filosofia e as ideias gregas, sua cultura,
conhecida como helenismo (da palavra grega "Hélade", que significa Grécia), a partir da
filosofia de Aristóteles. O império dele chegou até a Índia.
Depois da morte de Alexandre, este império se dividiu em três partes:
- Macedônia e Grécia (capital Atenas), que ficou sob a dinastia dos Antígonos.
- Egito (capital Alexandria), governada pela dinastia dos Ptolomeus.
- Ásia e Síria (capital Antioquia), submetida pela dinastia dos Selêucidas (ou
Lágidas).
A Palestina, primeiro foi governada pelos Ptolomeus, desde o Egito. Depois passou
para ser conduzida pelos reis Selêucidas, desde a Síria.

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Fonte: http://migre.me/jFpwJ

Características do imperialismo grego:


Enormemente organizado, poderíamos dizer, os gregos conseguiram:
1) Novo Império: Reorganização a partir da polis (cidade), nomos (aldeia) e oikos
(casa).
2) Nova Sociedade: Democracia. (Se bem que foi uma classe dominante, a aristocracia
que impunha um Estado novo)
3) Nova Ordem Econômica: (2Mc 3-4)
3.1) Ótima reorganização administrativa strategos (funcionário militar), dioketes
(administrativo) e epistates (escrivão).
3.2) Modo de produção escravagista ao serviço do mercado.
3.3) Livre circulação de mercadorias, nas novas estradas do Império.
3.4) Grandes projetos agrícolas (até irrigação artificial!).
4) Nova Sabedoria: Novo modo de pensar,
para manter a “ordem”. Fusão de culturas orientais e
ocidentais. Lógica da lei natural, imutável. Sabedoria
a serviço dos nobres, dos ricos, dos homens, das
cidades. Lógica baseada na divisão da realidade
dualista: racional x espiritual; alma x corpo; rico x

pobre; homem x mulher; patrão x escravo; belo x


Fonte: http://migre.me/jFpwJ
puro; etc.

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Do ponto de vista político, o mundo grego era um império imenso, conquistado


pela guerra e organizado como um conjunto de "cidades livres".
O núcleo da organização política era a cidade, a "polis". Cada uma tinha sua
autonomia política e econômica, e cada cidade era diferente das outras: podia ter conselhos
populares, tiranos, aristocracias ou reis no poder.
Elemento central da política eram os "homens livres" (da cidade). Campo, camponês,
mulher, escravos eram elementos periféricos que não contavam.
A forte "democracia" (governo do povo) das cidades, se contrapunha ao estado
forte. Só foi possível um sistema monárquico imperial (uma confederação de polis) para o
controle do mercado. O palácio do imperador estava a serviço das cidades (e não o
contrário!). O rei cobrava tributo, pedágio, taxa do sal, ou "per capita" (1Mc 10,29-45) só
nas regiões e cidades que ainda não eram livres.
O ideal de vida na cidade era nossa “modernidade”: ambiente limpo, arte, encontro
na praça ("ágora"), democracia (conselhos dos homens livres), religião (templos), estudo
(ginásios), teatro (tragédias), lazer (jogos), comércio (porto) e língua comum para todos os
povos ("koiné").
A dedicação a sabedoria, a arte e o belo transformaram a mentalidade e a vida no
mundo ocidental.

Fonte: http://migre.me/jFpwJ Fonte: http://migre.me/jFpwJ

Porém, desde o ponto de vista econômico, o eixo da organização foi o mercado


livre chamado empório. O comércio não era controlado pelo palácio, mas era livre nas
cidades livres. Cada cidade tinha um mercado que era um armazém, onde se podia comprar
e vender de tudo (Ap 18,12s.). A riqueza não era o produto em si, mas seu valor comercial,
sua capacidade de virar mercadoria, de ser comprado e vendido. O ideal era fazer circular a
riqueza, não acumular.
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O palácio protegia o mercado, isto é, as rotas comerciais (contra os piratas) o que


garantia mais mercadorias. Ele estava a serviço do mercado. Assim sendo surgiu um
sistema monetário único para todo o império.
As Colônias que eram reprodução das cidades gregas fora da Grécia (260-300 ao
redor do Mar Mediterrâneo) ampliaram o volume do mercado e do produto. A organização e
rede autônoma de cidades e colônias era mais poderosa e rica do que o próprio estado. Os
comerciantes tinham mais poder do que o próprio rei.
A conquista dos "Mares". A Grécia precisou controlar os mares como rotas
comerciais. Na terra funcionava o poder do estado (pedágio, tributos), nos mares o
comércio livre das cidades.
Logicamente as relações sociais iam mudando. O mercado exigia o aumento da
produção. O sistema de produção tributarista centrado no palácio do rei ou no templo, não
funcionava mais. O novo sistema de produção que os gregos inventaram foi o "latifúndio
escravagista", com características bem definidas:
- a terra era do rei: o trabalhador da terra não era mais dono da terra;
- da terra não tirava seu sustento já que o patrão era quem o sustentava;
- era e vivia como escravo na sua própria terra;
- o ser humano podia ser vendido ou trocado como qualquer mercadoria;
- não podia decidir o que plantar já que o produto era também do patrão;
- o trabalhador era só instrumento de trabalho, como o arado, a foice, a enxada.
Para o camponês, o helenismo foi escravidão e desapropriação total de suas terras e
de seu trabalho. Surgiu a propriedade privada e o latifúndio: o rei doava as terras aos seus
amigos e seguidaores. Como consequência as pessoas tiveram que sair das suas terras,
começando assim o êxodo rural já que o povo teve que ir morar nas cidades.
Realmente uma filosofia materialista, o lado ideológico do domínio grego, foi a base
desta organizaçao e vida. O Olimpo grego (a montanha onde moram os deuses), estava
cheio de deuses com experiências humanas: brigas, intrigas, amores, paixões, etc. Os
deuses eram manipulados, dando-lhes projeção humana e as pessoas humanas viraram
deuses ou semideuses. Essa era a religião do estado.
Para explicar os conflitos dentro da história humana, não se precisava mais de um
deus ou dos deuses. Tudo se explicava pela pessoa humana e seu dualismo: o conflito
estava na própria pessoa humana, nos seus elementos constitutivos, conflito interior entre
alma que era superior e o corpo considerado inferior. A ordem consistia no fato de que um
deve governar sobre o outro. A desordem era ir contra esta lei da natureza. A submissão do
inferior (corpo, pobre, escravo, mulher, etc.) ao superior (alma, rico, patrão homem, etc.)
era a ordem natural.
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Aristóteles dizia: "Os escravos devem ser escravos porque não são homens. É bom
para o escravo ser escravo, porque, sem governante não sabe se governar. Sua única
virtude é não faltar ao trabalho".
O estado só devia servir aos homens livres, uma revolta contra o governo era uma
revolta contra a própria natureza. Tudo isso foi a legitimação do mercado. A religião dos
filósofos era a religião do mercado!

Fonte: http://migre.me/jFpwJ Fonte: http://migre.me/jFpwJ

6.2 Consequências vitais para o Judaísmo: nova teologia

A situação social e religiosa foi mudando no mundo conquistado pelos gregos. O


helenismo chegou também ao Egito, à Síria e à Ásia e no meio deles a Israel. O domínio dos
Ptolomeus (323-200 a.C.) desenvolveu um estado burocrático, fortemente centralizado, mas
que trouxe paz nas novas cidades como Aco (Ptolomeida) e Betsã (Scitópolis) habitadas por
cidadãos livres que participavam da vida pública e governavam as terras vizinhas onde
trabalhavam seus escravos.
A cultura dos judeus foi até valorizada, reconhecendo a Torá tão respeitada pelos
judeus como livro de valor. Em 275 a.C. o rei Ptolomeu II pediu a tradução desse escrito ao
grego, em Alexandria, o que se converteu na Bíblia dos LXX.
Essa “Bíblia dos Setenta” se tornou importante para os judeus da diáspora,
certamente é "a" Bíblia do judaismo helenista. Existem várias lendas para explicar o nome:
seriam 70 sábios, cada um trabalhando sozinho, que pelo Espírito de Deus, chegaram a 70
traduções absolutamente idênticas. Ou: tradução em 70 dias. Ou: 72 escribas, 6 de cada
tribo, que teriam feito a tradução em 6 dias. Para os cristãos foi importante porque

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acompanhamos essa tradução, que hoje é fonte de estudo e de comparação da escrita


anterior em hebraico.

Fonte: http://migre.me/jFpwJ
Fonte: http://migre.me/jFpwJ

Também, a Sinagoga, que existia como ideia desde o Exílio, como casa de reunião,
agora, com Ptolomeu III (247-221 a.C.) passa a existir como lugar concreto: casa de
estudo. Para ler a Torá, para rezar e discutir a lei.
Porém, os ginásios gregos, também no Egito e na Síria, eram os lugares de
formação física e mental, onde especialmente os jovens, tanto judeus como gregos se
preparavam para a guerra e para a vida.
Verificamos que desde o ponto de vista político, entre os próprios gregos houve lutas
de poder. Antíoco III, o Grande, dos Selêucidas, derrotou o exército de Ptolomeu V em
Páneas (200 a.C.) e estabeleceu sua soberania sobre Síria e Fenícia. Jerusalém, que
continuava sendo uma cidade sacerdotal, foi mudando. E durante o governo de Antíoco IV
se transformou numa cidade helenística chamada “Antioquia em Jerusalém” (2Mc 4,9).
Em 175 aC, Antíoco IV Epífanes quis acabar com a cultura e religião judaica. Como
já dissemos profanou o Templo de Jerusalém introduzindo o culto ao deus Zeus, o que no
ano 167 a.C. fez estourar a revolta dos Macabeus, para "purificar" o Templo e libertar a
Palestina do jugo dos gregos.
Se até esse momento o universalismo, a abertura, a sabedoria dos gregos ficava
com uma elite, aos poucos se confirmou dentro do judaísmo que com os pobres permanecia
o peso da lei. No Templo, os sacerdotes divinizavam a lei, que diziam ter sido escrita pela
mão de YHWH e entregue a Moisés e por isso tinha-se que cumprir ao pé da letra. Mas
eram os pobres quem deviam cumprir já que nessa mentalidade eram vistos como culpados

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da sua pobreza. Lembremos que no princípio da história, no tempo das tribos, a riqueza era
fruto da partilha. Na solidariedade do clã se ajudavam uns aos outros, partilhando a vida.
Depois do exílio, como já vimos anteriormente, o Deus que caminhava com seu povo
converteu-se num Deus castigador dos pobres que pagavam com sua pobreza e sofrimento
o pecado das gerações anteriores ou deles mesmos porque agora influenciados pela filosofia
helenista, cada um tinha o que merecia. Os pobres eram os responsáveis da sua pobreza,
ela era castigo. A Teologia da retribuição foi fortalecida neste momento histórico.

6.3 Macabeus e Hasmoneus

Hanuká, candelabro de
nove braços para celebrar
a festa lembrança da
vitória dos macabeus que
conseguiram óleo puro
para as lâmpadas do
Templo.

Fonte: http://migre.me/jFpwJ

Acompanhando a história contada nos livros dos Macabeus da Bíblia e outros textos
extrabíblicos, podemos confirmar que a partir de Antíoco IV o helenismo se incorporou
vitalmente ao judaísmo.
O Sumo Sacerdote Jasão, que ficou do lado dos gregos, obteve o cargo aumentando
os impostos do povo a favor do rei. Ele substitui o irmão, Onias III. Apoiado pelos
sacerdotes, estabeleceu em Jerusalém a polis com ginásio e tudo (2Mc 4,7-15). A corrupção
aumentou quando Menelau comprou o sumo sacerdócio por 300 talentos (2Mc 4,23-29). E
ainda Antíoco IV saqueou o Templo (1Mc 1,16-28) e posteriormente como já dissemos o
consagrou a Zeus Olímpico (2Mc 6,2). Talvez para humilhar os judeus, no dia do seu
aniversário proibiu a circuncisão de crianças, e obrigou sacrifícios no altar do templo a
outros deuses e participação nas procissões em honra a Dionísio (2Mc 6,7-9).
Diante desta situação, aconteceu a insurreição judaica conhecida como a Guerra dos
Macabeus (o termo macabeu significa “martelo”). Matatias, um fiel judeu, respondeu às
provocações com violência em Modim (1Mc 2,24-25), fugindo para as montanhas com filhos
e voluntários, começando a luta contra os que violavam a lei de Deus.
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Nos anos 167-63 a.C. a família dos Hasmoneus, sacerdotes levitas de Modim,
constituíram o Governo da Judeia. Depois de Matatias, Judas Macabeu (“martelo”) venceu
ao exército selêucida, tomou o Templo de volta, o purificou e consagrou de novo (1Mc 4,36-
37).
Os judeus foram derrotados em Bet-Zacarias e o rei ofereceu ao povo, cansado de
guerra, o direito de viverem suas leis (1Mc 6,59). Alcimo foi nomeado sacerdote e aceito
pelos “assidim”, os piedosos, que queriam a paz e a atrelavam ao cumprimento da lei. Mas
foi rejeitado pelos seguidores de Judas que continuaram a luta armada.
Outro momento trágico foi no ano 152 a.C. quando Jonatam, irmão de Judas, tomou
o comando e assumiu o sumo sacerdócio. Os assideus e os fariseus não queriam a luta pelo
poder nacional e também romperam com os hasmoneus.
Seu irmão Simão “sumo sacerdote, general e líder dos judeus” (1Mc 13,42)
comportou-se cada vez mais como rei, renovando alianças com Esparta e Roma. Seu filho,
João Hircano e seu neto Alexandre Janeu conseguiram completar a conquista da Palestina.
A esposa desse, Salomé Alexandra e seus filhos Hircano II e Aristóbulo II foram os últimos
hasmoneus. Esses disputaram o poder até chamar a Pompeu, general romano no Oriente,
para ajudar resolver suas brigas pelo poder. Pompeu veio, mas foi para ficar. E o domínio
romano facilmente chegou até nossas terras bíblicas e completou uma história triste de
predomínio político, social e até religioso como vimos até agora.
O fato de aparecer histórias como as narradas em 2Mc 6,1-11 das mulheres que
circuncidaram seus filhos ou da mãe e os sete irmãos (2Mc 7,1-42) mostram a realidade da
resistência e do martírio de um povo que quis defender seus valores e até dar sua vida por
esta causa.

6.4 Literatura da época grega

Fonte: http://migre.me/jFpwJ Fonte: http://migre.me/jFpwJ

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Todas esses últimos acontecimentos deram origem a uma nova literatura, livros que
foram incluídos nas nossas Bíblias.
Assim sendo, verificamos que grande parte da literatura sapiencial foi recolhida
nesse tempo. Ela mostra a vida do povo e a fidelidade a YHWH no cotidiano. Sapienciais são
os livros:
a) Eclesiastes (Ecl): ou em hebraico "Qhoelet" que significa "da comunidade".
Surgiu ao redor de 250 a.C. e é uma crítica a ideologia dos gregos, o helenismo: “Tudo é
vaidade!” (Ecl 1,2). Para ele, a felicidade é ter a panela cheia e poder amar. É uma forte
crítica ao sistema escravagista que deixa os pratos vazios.
b) Eclesiástico (Eclo): o nome grego significa "do clero". O livro é também
conhecido pelo nome do autor "Jesus Sirac" ou "Sirácide". O pano de fundo do livro é o
medo de que o povo perca sua identidade. Reflete a serenidade e confiança com que a
aristocracia judaica podia enfrentar os perigos do momento. Diante disso, é necessário um
ato de fé no Deus vivo, presente na história e sabedoria do povo.
c) Sabedoria (Sb): livro escrito em grego, em Alexandria, bem mais tarde, ao redor
de 50-30 a.C. Quer ajudar o povo da diáspora a viver sua fé dentro da cultura grega. A
mensagem principal é: a vida é fruto da justiça.
Dentro dos livros históricos, os livros dos Macabeus são o grito e sofrimento de
quem vê sua fé e sua cultura massacrada:
a) O 2º livro dos Macabeus: escrito ao redor de 160 a.C. provavelmente pelos
Assideus, para justificar a dinastia Asmonea. Escreveram na ótica da cidade, num tom
extremamente triunfalista.
b) O 1º livro dos Macabeus: É o livro da luta ou guerrilha dos Macabeus, à luz
da visão profética da história. Escrito na ótica do campo e na memória do Deuteronômio,
proclama a resistência ao redor de um único Deus.
Deste mesmo tempo da mesma época da revolta dos Macabeus temos a visão
apocalíptica da história no livro de Daniel, nos capítulos 7 ao 12 escritos em tempos de
perseguição, entre símbolos, visões e sonhos.
E ainda encontramos os romances ou novelas populares como:
a) Ester (de 250 a.C.): Deus vence qualquer manobra política. Aparecem mulheres
que contestam o sistema vigente.
b) Judite (167-164 a.C.): Deus derrota os poderosos através de novo por mãos de
uma mulher. Fala, na verdade, da revolta dos Macabeus. Holofernes, é Antíoco IV Epífanes.
c) Daniel 1-7.13: também da época da revolta dos Macabeus.

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Sugestão para seu aprofundamento:


De novo encontramos momentos importantes da
história de Israel sintetizados na escrita de diversos
livros. História, novelas que tentam se defender da
grande influência helenista na cultura e fé judaica.
Mulheres agindo como Ester e Judite ou no silêncio
como Susana contestam o sistema vigente.
Fonte: http://migre.me/jFpwJ
*Depois poste no fórum suas reflexões.

Síntese do estudo:
Olhando pelo retrovisoro nosso

estudo:
Olhando pelo retrovisor
Síntese do nosso estudo:
Fonte: http://migre.me/jFtbQ
Olhando pelo
- Domínio do Império Grego.
retrovisor
- Grande influência do helenismo grego.
- A luta dos Macabeus.
- Muitos livros, muitas histórias.
- O sentido da vida e da morte.

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade


6.1.

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UNIDADE 7

“NAQUELES DIAS, O IMPERADOR AUGUSTO


PUBLICOU UM DECRETO ORDENANDO O
RECENSEAMENTO EM TODO O IMPÉRIO” (Lc 2,1-
2)

OBJETIVO DA UNIDADE: Entender, no contexto bíblico, o domínio do Império Romano,


sua brutalidade e a destruição da Palestina.

“Fazia quinze anos que


Tibério era imperador de Roma. Pôncio Pilatos era
governador da Judeia. Herodes governava a
Galileia, seu irmão Filipe, a Itureia e a Traconítide
e Lisânias e Abilene. Anás e Caifás eram sumos
sacerdotes” (Lc 3, 1-2).

7.1 O período de dominação romana sobre Israel (63 a.C - 135 d.C.)

O território da Palestina esteve sob dominação romana de 63 a.C. a 135 d.C.,


período de intensas lutas populares que terminaram com o fim violento de Israel nas mãos
de brutal repressão das legiões romanas.
No ano 63 a.C., o general romano Pompeu, que estava na província romana da Síria,
foi chamado a Israel para resolver brigas internas de poder entre os irmãos Aristóbulo II e
Hircano II. Ele chegou e facilmente conquistou Jerusalém, resolvendo levar Aristóbulo e seu
filho Antígono para Roma, deixando Hircano em Jerusalém, como Sumo Sacerdote. Assim,
os imperadores romanos facilmente dominaram outra parte do mundo mediterrâneo,
impondo altos tributos e saqueando tesouros.

Os imperadores romanos
O mundo romano é citado inúmeras vezes e por diferentes motivos em toda a Bíblia
e especificamente no Novo Testamento (Lc 2,1; Mc 12,17; Jo 11,47b-48, assim como no
livro dos Atos, nas cartas de Paulo e nas Cartas Católicas).
A seguir, uma síntese dos fatos mais importantes para a compreensão da nossa
história de Israel.

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Em 47 a.C. o imperador Júlio César nomeou como etnarca a Hircano. E a Herodes,


filho de seu ministro Antipater, como “estrategós” (general) da Galileia. Herodes sufocou as
revoltas da região e conquistou espaço, tendo sido mais tardei nomeado tetrarca de toda a
região. Anos depois recebeu de Roma o título efetivo de rei.
César foi assassinado em 44 a.C. Depois de nova disputa entre generais (Otaviano,
Marco Antonio e Lépido), Otaviano (Otávio Augusto) conseguiu se impor no trono,
expandindo enormemente as fronteiras do império.
- 14 a.C. até 37 d.C.: Tibério continuou deu continuidade à mesma
política do seu pai Otávio Augusto.
- 37-41 d.C.: Calígula intensificou a obrigação de adorar ao
imperador como meio de unificação do Império. Como nos tempos
de Antíoco IV, que desencadeou a revolta dos Macabeus (aqueles
tempos apocalípticos refletidos no livro de Daniel), os judeus não

aceitam a imagem de um imperador no Santo dos Santos do Fonte: http://migre.me/jMAb2


Templo de Jerusalém. Flávio Josefo, no seu livro
Antiguidades Judaicas, conta que quando o Procurador Romano Petrônio veio para executar

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a ordem do imperador, dez mil camponeses se reuniram diante do palácio em Ptolomaida.


Jogando-se no chão, esticando o pescoço para morrer. Herodes Agripa ajudou a adiar o
decreto. Mais tarde, ao apoiar o Cláudio como imperador, Agripa recebeu o poder sobre a
Judeia e a Samaria, mantendo a ordem com extrema
violência. Foi Agripa que mandou matar o apóstolo Tiago (At
12,2).
- 41-54 d.C.: Cláudio: Expulsou os cristãos de Roma (At

18,2).
Fonte: http://migre.me/jFtbQ
- 54-68 d.C.: Nero perseguiu de novo aos cristãos, mais
como forma de justificar suas loucuras. Neste período morrem Pedro e Paulo (entre 64 e 67
d.C.). Após a morte de Nero, em um ano houve quatro imperadores, tamanha foi a luta pelo
poder.
- 69-79 d.C.: Vespasiano obteve vitórias na Galileia e Judeia. Depois foi proclamado
imperador, o “único Senhor do Império”. Confiou ao seu filho Tito a destruição de Jerusalém,
o que aconteceu no ano 70 d.C.

Fonte: http://migre.me/jFtbQ Fonte: http://migre.me/jFtbQ

- 79-81 d.C.: Tito Imperador continuou o governo do seu pai, confirmando uma dinastia.
- 81-96 d.C.: Domiciano, irmão de Tito, Imperador provoca nova perseguição aos cristãos.
Afirma-se que mandou executar até seu primo Flávio Clemente, por ser cristão. Decretou a
expulsão de todos os que praticassem a “religio illícita”. São conservadas cartas dirigidas ao
“senhor e deus nosso” como ele se fazia chamar.

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Tito e seu irmão Domiciano:

Fonte: http://migre.me/jFtbQ

- 96-98 d.C.: Nerva, eleito pelo Senado. A partir dele, se escolhem pessoas que
responderiam ao ideal de soberano segundo o estoicismo.
- 117-138 d.C.: Adriano. Em 131-135 d.C. acontece a segunda grande revolta judaica,
liderada por Bar Kocba (o “filho da Estrela”). Jerusalém é tomada mias uma vez pelos
romanos e os judeus sobreviventes são dispersos pelo mundo.
Por que o Império Romano acumulou tanto poder com tanta violência? O Império se
apresentava como o grande benfeitor dos povos dominados, trazendo-lhes “paz, segurança e
desenvolvimento”. Era a ideologia da “Pax Romana” apoiada na ideia da “Pax Deorum” (Paz
dos Deuses). Como no panteão, onde havia hierarquia e organização entre os deuses, na
terra deveria haver ordem e perfeita harmonia. Assim, o Império podia submeter e acabar
com culturas diferentes em favor de “ordem e progresso”.

Consequências para o cotidiano da vida em Israel

Na Palestina, o tempo de dominação de Herodes, o Grande (37 a 4 a.C), foi marcado


por extrema violência. Herodes chegou ao ponto de mandar matar esposa e filhos. Fez
grandes construções (o Herodium, o palácio de Massada, etc), e ampliou o Templo de
Jerusalém. Depois da morte de Herodes, na Páscoa de 4 a.C. seu filho Arquelau se
apresentou como “governador” da Judeia. A população não aceitou. Protestos explodem por
todo o país. Em um deles, 3.000 pessoas teriam sido massacradas Jerusalém.

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Reconstrução do que seria o Templo


embelezado por Herodes.
Detalhe do Arco de Tito, que celebra a
destruição do templo de Jerusalém. Os
soldados romanos carregam como despojos
os símbolos da fé israelita.
Fonte: http://migre.me/jFtbQ

Entre 4 a.C. a 6 d.C. os romanos repartiram o reino de Herodes entre seus filhos de.
Arquelau (4 a.C. a 6 d.C.) ficou com a Judeia e a Samaria. Herodes Antipas (4 a.C. a 39 d.C.)
com a Galileia e a Pereia. E Filipe (04 a.C. a 34 d.C.) com a Bataneia, Traconítide, Auranítide,
Gaulanítide, Paneias e Iturea. Essa informação foi registrada pelo evangelho de Lucas
(capítulo 3).
No caso da Judeia, Arquelau não conseguiu se firmar no poder. Foi destituído por
sua incompetência. Roma passou a nomear procuradores, desde o não 6 até 70 d.C..
Quando se decretou um censo para reorganizar a administração e o pagamento do tributo,
novas revoltas eclodiram. E Roma, sob o comando de Vespasiano, decidiu destruir de
Jerusalém.

7.2 Movimento popular

Desde a chegada dos romanos à Palestina, no ano 63 a.C., sempre houve revolta
popular. De forma especial na Galileia, foram muitos os movimentos, agindo ora como
“guerrilheiros ou cangaceiros”, ora com “proféticos e messiânicos”. Vejamos alguns
exlemplos.
Em 54 a.C. Pitolau, um agricultor, chegou a ocupar a cidade de Tariquea (Magdala).
O galileu Ezequias liderou uma revolta contra latifundiários e romanos. Em função disso
Herodes, filho de Antípater, “varreu” a Galileia, chegando a incendiar as grotas onde
estariam escondidos os rebeldes.
Mais tarde, quando Herodes instalou a águia romana na fachada do Templo, os
doutores da Lei Matias e Judas e seus alunos, se rebelaram. Herodes mandou queima-los.

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Uma revolta na Galileia, durante a infância de Jesus, culminou com a crucificação de


2.000 pessoas ao redor de Séforis, a capital. E a cidade foi totalmente destruída.

7.3 Judaísmo formativo: comunidades judeu-cristãs

Desde o ponto de vista religioso, o judaísmo era pluralista. Os grupos religiosos


eram diversificados e até inimigos no seu entendimento e na prática da Lei (Mt 22,23.34; Jo
4,9.20; 23,1-12; Jo 11,47-53). Famosas foram as escolas de Shammai e Hillel, escribas
conhecidos por suas ideias opostas. O rigoroso Shammai se opunha ao manso e
benevolente Hillel, cuja mística prevaleceu depois da destruição do Templo de Jerusalém. A
essa escola pertencia Gamaliel, o mestre de Paulo (At 22,3).
Confirmados pelos textos dos essênios do deserto de Judá, pelo Novo Testamento e
pela história preservada por Flávio Josefo e outros, são conhecidos os seguintes grupos:
essênios, saduceus, fariseus, batistas, samaritanos, zelotas ou sicários que se organizaram
como grupo posteriormente. Vejamos as características dos grupos mais influentes:
Os essênios: Quando Jonatam no ano 152 a.C. foi Sumo Sacerdote, um grupo de
judeus observantes se separou. O Documento de Damasco encontrado na Geniza de El
Cairo explica o começo dos essênios: “20 anos sem rumo até que veio o Mestre de Justiça”.
Em Qumram sabemos que estiveram lá pelo ano 152 a.C. e que de 34 a.C. até 4 d.C.
sumiram (por um terremoto? Ou pela rejeição de Herodes?). É importantíssimo o trabalho
que deixaram escrito. Uma autêntica biblioteca de manuscritos no deserto,
independentemente da opinião de muitos estudiosos que pensam que os rolos e os
pergaminhos encontrados eram em grande parte a biblioteca do Templo de Jerusalém
escondida no deserto.
Os saduceus: Era o grupo da situação (opostos aos fariseus que sempre estiveram
na oposição). Seu nome poderia vir de Sadoc, sacerdote influente perto de Davi e que
tomou o partido de Salomão. Na volta do Exílio apareceu entre eles a função do Sumo
Sacerdote. Assim, os saduceus em grande parte passaram de ser um grupo ou categoria, a
ser a família do Sumo Sacerdócio. Flavio Josefo diz que eles vêm do ano 152 a.C. ligados a
Jonatam, ao culto e à tradição. Eram conservadores. Sua fé num Deus rigoroso fez que
aplicassem um direito penal muito severo. Não acreditavam na ressurreição. O importante
para os saduceus era o presente, o “Israel Grande” já! Não tinham esperança messiânica
nem apocalíptica. Com a chegada dos romanos se refugiaram no Templo. Mas assim que
Roma tomou o poder se passaram para o seu lado para não perderem os privilégios.

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Os fariseus: Seu nome deve vir de farás que quer dizer “separados”. Há diferentes
opiniões sobre suas origens:
- Fariam parte dos “homens da grande Assembleia”, do tribunal criado por Esdras e
Neemias.
- Ou do grupo de hassidim reagrupados em torno de Matatias por motivos religiosos
e não políticos.
Ainda que divididos em vários grupos, se caracterizavam pela fé e observância da Lei. Pela
sua fidelidade aos rituais da pureza. Eram organizados em haburot ou irmandades.
Realmente foram os divulgadores das sinagogas como assembleias populares. Esperavam o
Messias e acreditavam na outra vida e na ressurreição.
No tempo de Jesus, segundo alguns estudiosos seriam uns 6.000. Deles se separariam os
zelotas organizados lá pelo ano 56 d.C. É o grupo dos sábios que continuaram a tradição
farisaica depois do 70 d.C.
Os samaritanos: Eram os descendentes dos remanescentes do tempo do Exílio na
Babilônia. Povo pobre proveniente da mistura racial nesta época. Não acreditavam que o
Messias era descendente de Davi. No exílio, sofreram influências de outras culturas. Os
samaritanos eram solidários e acolhedores.
Os batistas: Seguidores de João Batista desapareceram em pouco tempo.
Os zelotas ou sicários: Foram grupos violentos que se revoltaram e mantiveram
pela violência até o seu fim, quando Simão Bar-Kokba os levou até sua destruição,
dominados pelas armas romanas.
Existem dados de situações extremas: Quando Roma interferiu e requisitou o
dinheiro do Templo, em 66 d.C., os grupos se uniram, apesar de suas divergências internas
e a revolta popular se transformou na Guerra Judaica que durou 7-8 anos. Só os judeus
fariseus e os judeus cristãos não assumiram a guerra. Para eles, a revolta contra Roma não
era expressão da chegada do Dia de YHWH.
Conta Flavio Josefo que durante o cerco de Jerusalém o respeitável Iohanan Ben-
Zakai, líder dos fariseus, se fez carregar ostensivamente num esquife para fora da cidade
em sinal de desacordo. Como esses fariseus e escribas já estavam estruturados em volta da
sinagoga, nesse momento trágico, foram apoio para muitos outros judeus e assim se
reorganizaram com certa facilidade em Jâmnia como judaísmo formativo (precursor do
judaísmo rabínico normativo) que assumiu a função teológica de ensinar e interpretar a Lei.
Para eles, a libertação do povo só aconteceria quando a Lei fosse rigorosamente
observada. Quem não cumpria a Lei (pobre, doente, ignorante) era maldito porque atrasava
a vinda do messias.

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Gamaliel II, sucessor de Zakai foi bem mais rigoroso. Do seu tempo é o cânon
bíblico judaico e uma série de atividades religiosas para substituir o culto e sacrifício do
Templo. Entre elas a prática das 18 orações, três vezes ao dia. Uma das 18 benções é
maldição aos hereges: “Para os apóstatas que não haja esperança [...] e deixa os nazareus
e os minim perecerem em um momento. Deixa-os ser apagados do livro da vida. E que não
sejam escritos junto com os justos”.
Os cristãos, que já antes da destruição de Jerusalém, se reuniam nas casas e pouco
a pouco se tinham distanciado do Templo, saíram também de Jerusalém para o além do
Jordão, o norte da Galileia e a Síria. No confronto com os judeus foram também expulsos
das sinagogas.
Pixley (1990) sintetiza o fim de Israel dizendo que sobreviveu à hecatombe somente
a “diáspora”, uma grande comunidade religiosa dispersa pelo mundo todo, desarraigada do
seu solo e da natureza camponesa que em parte constituía a essência do projeto israelita.
Também sobreviveu outra comunidade religiosa, a igreja cristã. Durante os duzentos anos
do domínio romano sobre Israel até seu desaparecimento definitivo, houve muita troca na
administração da região. Uma das preocupações dos romanos foi a defesa da fronteira
oriental do império. Que impunha controle sobre o território e a população da Palestina para
obter riquezas através do complexo sistema de tributos e impostos. Assim, o império extraia
riqueza da Palestina por três vias: 1) diretamente, mediante os cobradores de impostos que
arrecadavam tributo de toda a população; 2) mediante os conselhos das cidades, que eram
obrigados a contribuir para vários serviços que lhes prestava o Estado; 3) mediante o
templo, por cujos rendimentos as autoridades sempre mantiveram um especial interesse.
Ao longo dos anos 6-135 d.C. devemos entender
os muitos conflitos havidos como expressões de um
provável movimento popular que não conseguiu
articular-se atrás de uma liderança senão nos últimos
anos, quando Simão Bar-Kokba (Bar Coshiba) o dirigiu
até sua destruição pela força das armas romanas.
Por volta do ano 30 d.C surgiu na Galileia um
movimento em torno de um mestre de Nazaré chamado
Jesus. O conhecemos graças aos escritos de quatro
Evangelhos redigidos por seguidores interessados em
Jesus não como líder popular e sim como fundador de Fonte: http://migre.me/jFtbQ
um novo caminho rumo a Deus e à salvação aberta
para todos/as, judeus e gentios.

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Destacam-se vários elementos no movimento de Jesus: primeiro e antes de tudo, viu


o templo de Jerusalém e os mestres fariseus da Galileia como o antagonismo principal ao
Reino de Deus. Em segundo lugar, a estratégia do movimento de Jesus foi fundamentar seu
ideal no plano ideológico, buscando deslegitimar um domínio sustentado acima da lei de
Deus. Deus é um pai bondoso e não um juiz temível. Em terceiro lugar, Jesus buscava
desde já criar uma pequena comunidade que se organizasse segundo as relações de
irmandade que caracterizarão o Reino de Deus.
Depois da perseguição dos romanos, o movimento de Jesus não teve papel de
importância na defesa de Jerusalém. Foi obrigado a sair de Jerusalém, sobrevivendo nas
cidades do império, onde se formaram “igrejas” para pôr em prática a esperança popular do
movimento. Houve resistência, porém o decisivo, na derrota das forças populares foi o
poderio incomensuravelmente superior das legiões romanas, que terminou esmagando toda
resistência. As medidas tomadas pelos romanos conseguiram eliminar da Palestina os restos
do experimento Israel. Cidades helenísticas dominaram o território, os centros religiosos e
culturais de Israel foram destruídos, e a identidade cultural dos camponeses foi rapidamente
eliminada. Aqui termina a história de Israel, o povo de YHWH.

“Pronuncie minha boca o louvor do Senhor,


que todo vivente bendiga seu santo nome
para sempre” (Sl 145,21).

Sugestão para seu aprofundamento:

Estamos no fim de Israel neste tempo da história.

É importante entender o fim do que chamamos


Primeiro ou Antigo Testamento ao Segundo ou Novo
Testamento nas nossas Bíblias. Leia nas Atividades
certos artigos que lhe ajudam entender a evolução da
história e de tantos grupos religiosos que foram
Fonte: http://migre.me/jFpwJ
derivados da fé do povo de Israel.

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Síntese do estudo:
Olhando pelo retrovisor tdo
nosso estudo:
Olhando pelo retrovisor
Síntese do nosso estudo:
Fonte: http://migre.me/jFtbQ
Olhando pelo
- Domínio do Império Romano.
retrovisor
- Sua brutalidade e loucuras por manter o poder.
- A teimosia e organização do povo por manter sua cultura e sua fé.
- O movimento popular.

Antes de continuar seu estudo, realize as Atividades


7.1 e 7.2.

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO LAICAL DE CULTURA BÍBLICA. Vademecum para o Estudo da Bíblia. São


Paulo: Paulinas, 2000.

BIBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.

CORDEIRO, Ana Luisa A. Onde estão as deusas? Asherah, a deusa proibida, nas linhas e
entrelinhas da Bíblia. São Leopoldo: CEBI, 2011.

DONNER, Herbert. História de Israel e dos Povos Vizinhos. Vol 1 e 2. São Leopoldo:
Sinodal/EST. 5 ed, 2010.

NEUENFELDT, Elaine e SCHINELO, Edmilson. As relações de gênero na casa de Davi.


Estudos Bíblicos, 86, Petrópolis: Vozes, 2005, p.16-25.

GASS, Ildo Bohn (Org.). Formação do Povo de Israel. 7 ed. São Leopoldo: CEBI; São
Paulo: Paulus, 2005. [Coleção Uma Introdução à Bíblia, Volume 2]

_____. Formação do Império de Davi e Salomão. São Leopoldo: CEBI; São Paulo:
Paulus, 2005. [Coleção Uma Introdução à Bíblia, Volume 3]

_____. Reino Dividido. Coleção São Leopoldo: CEBI; São Paulo: Paulus, 2004. [Coleção
Uma Introdução à Bíblia, Volume 4]

_____. Período Grego e Vida de Jesus. São Leopoldo: CEBI; São Paulo: Paulus, 2005.
[Coleção Uma Introdução à Bíblia, Volume 5]

GOTTWALD, Norman Karl. As tribos de Iahweh: Uma sociologia da religião de Israel


liberto 1250-1050 a.C. São Paulo: Edições Paulinas, 1986.

NAKANOSE, Shigeyuki. Uma história para contar: A Páscoa de Josias - Metodologia do


Antigo Testamento a partir de 2Rs 22,1-23,30. São Paulo: Paulinas, 2000.

PIXLEY, Jorge. A história de Israel a partir dos pobres. Petrópolis: Vozes, 1990.

REIMER, Haroldo. Amós – profeta de juízo e justiça. Revista de Interpretação Bíblica


Latino-americana, Petrópolis; São Leopoldo, v. 35/36, p.171-190, 2000.

SILVA, Valmor. Leituras do Êxodo na América Latina. In: REIMER, Haroldo; SILVA,
Valmor (Org.). Libertação – Liberdade. Novos Olhares. São Leopoldo: OIKOS; Goiânia: UCG,
2008.

THE FORBIDDEN GODDESS: Archaeology on the Learning Channel (documentário-vídeo).


Arizona/EUA: Discovery Channel, 1993, 28 min., inglês, dublado português.

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ATIVIDADES

ATIVIDADE 1.1

1. Leia os textos indicados e responda com atenção:


1.1 Qual o papel das mulheres no processo de resistência e de organização dos
hebreus? Para essa resposta, tome como base Ex 1,15-22; 2,1-10.
1.2 Releia Ex 2,11-15 e compare o método de Moisés em relação ao método das
parteiras em uma situação de injustiça. A que resultado cada método
chegou?
1.3 Releia Ex 3,7-10 e responda: Qual a imagem de Deus presente no texto?
Como você relacionaria esse texto com Jo 1,14?

2. Apresente um pequeno estudo comparando o Decálogo tal como se


apresenta na Bíblia (Ex 20) com a forma como ainda é, em muitos lugares,
“decorado” na catequese.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefas.

ATIVIDADE 2.1

1. Observe o quadro abaixo, leia com atenção as características do ‘Sistema


Egípcio e Cananeu’ e do ‘Sistema Tribal’, e responda:
 Entre os dois projetos em disputa, quais os aspectos que você considera mais
importantes no sistema tribal?

A. Sociedade desigual, fundada no interesse A. Sociedade igualitária, fundada no


particular e organizada a partir de cima: rei- interesse comum e organizada a partir da
funcionários-notáveis-soldados-camponeses e base: família patriarcal-clã-tribo (Nm 1,1-
artesãos (Js 11-12). 2.34).
B. Exploração da força de trabalho. A terra B. Autonomia produtiva. A terra pertence
pertence ao rei e o povo é obrigado a ao povo e é distribuída entre as famílias
trabalhar sob as duras condições impostas ou grupos. Proíbe acumulação (Ex 16) e
pelo rei, que se apropria do excedente da celebra o ano jubilar e o ano sabático,
produção dos camponeses (Ex 5,6-18). para devolver a terra aos seus antigos
donos (Lv 25; Dt 15,1-18).
C. Poder centralizado no rei. O rei é dono de C. Poder participado. As decisões são
tudo e decide sobre tudo (1Sm 8,10-17). tomadas pelos anciãos (chefes de família,
de clã e de tribo). Grandes decisões são
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tomadas em assembleias do povo (Ex


18,13-27; Nm 11,16-25; Js 24).
D. Exército estável de mercenários. O rei D. Exército ocasional improvisado. Para se
mantém exércitos regulares que lhe garantem defenderem, as tribos se reúnem e
a dominação e a repressão (1Sm 8,11-12). organizam suas forças para lutar contra o
inimigo comum (Jz 4,6-10).
E. As leis defendem os interesses do rei. E. As leis defendem a igualdade. Os
Graças ao seu poder, a palavra do rei é lei mandamentos preservam a liberdade
para o povo (Ex 1,8-10.22; 5,6-9). conquistada (Ex 20,2-17; Dt 5,6-21).
F. Vários deuses, manipulados pelo rei, a fim F. Fé unicamente em YHWH, o Deus
de legitimar e promover a exploração e a libertador que promove a liberdade e a
opressão: Baal, outros (Js 24,14-15). vida, através da fraternidade e da partilha
(Ex 3,1-15; 22,20-26; Dt 24,6-22).
G. Culto centralizado para celebrar mitos que G. Culto descentralizado para celebrar a
legitimam o poder do rei. Poderoso meio de vida e a história. Realizado nas famílias e
dominação, sujeito a um esquema rigoroso. depois nos santuários, celebra a presença
Nada deve mudar (1Sm 5; 1Rs 11,1-8). e a ação de Deus na vida (Ex 19,1-18; Dt
26,1-11; Js 24,1-28; Jz 17).
H. Sacerdotes e sacerdotisas a serviço do H. Sacerdotes-levitas a serviço do povo.
sistema. Os sacerdotes, ricos e donos de Exercem uma liderança que não permite a
terra, são também os intermediários entre o acumulação de bens. Não podem ter
povo e os deuses, colocando-se inteiramente terras e vivem de seu trabalho, ao lado
a serviço do sistema (Gn 47,20-22). dos pobres e necessitados (Nm 18,20;
35,1-8; Dt 12,12.18-19; 14,27; Js 13,14).
Mas não havia sacerdotisas.
GASS, Ildo Bohn (Org.). Formação do Povo de Israel. 7. ed. São Leopoldo: CEBI; São Paulo:
Paulus, Volume 2, 2005, p. 89-90. [Coleção Uma Introdução à Bíblia]

2. Leia 1Sm 8,1-22 que relata o pedido de um rei e responda:


2.1 Quais são os motivos que levam a pedir um rei?
2.2 Quais as vantagens de ter um rei, segundo esse texto?
2.3 Quais as desvantagens de ter um rei, segundo esse texto?

3. Leia 2Sm 13,1-22 que relata a história de Tamar, violentada por Amnon e
responda:
 Quais são as atitudes dos homens nessa narrativa: Amnon, Jonadab, Davi e
Absalão? Como Tamar viveu esses acontecimentos?
 O que é possível e necessário fazer para diminuir a violência contra as
mulheres atualmente?

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ATIVIDADE 3.1

1. Leia Am 2,6-8 e perceba os sete crimes de Israel, procurando identificar:


1.1 Quais os responsáveis pelas injustiças cometidas?

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1.2 Quais são as vítimas injustiçadas?


1.3 Que acusação é feita aos responsáveis?

2. Leia a vocação de Isaías em Is 6,1-13 e responda:


2.1 Quais são as características do Deus que se manifesta ao profeta (vv. 1-4)?
2.2 Qual é a reação de Isaías (v. 5)?
2.3 Qual é o sentido da “brasa nos lábios” do profeta (vv. 6-7)?
2.4 Que atitude Isaías toma diante da pergunta do Senhor (vv. 8-9)?
2.5 Quem é “esse povo” (vv. 9-13)?
2.6 O que o relato da vocação de Isaías diz para sua vida e para nossa realidade de
hoje?

3. Leia o artigo “Monoteísmo e Identidade”, de Haroldo Reimer. Depois


apresente uma síntese (máximo 20 linhas) relatando, a partir do artigo, o
que é o monoteísmo hebraico e quais suas características. Disponível em:
<http://www3.est.edu.br/nepp/revista/016/16haroldo.htm>. Acesso em: 22 jul. 2015.

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ATIVIDADE 4.1

1. Leia 2Rs 23,1-27, que trata da Reforma de Josias, uma reforma


importante pois, entre muitas coisas, fez de Jerusalém o centro político e
religioso de seu governo. Então, reflita e responda:
1.1 Que medidas da reforma de Josias aparecem no texto?
1.2 À luz do que você leu sobre a reforma de Josias, o que ela representou para a
nobreza e para o povo?
1.3 Que lições podemos tirar dessa reforma para a nossa caminhada em direção a
uma sociedade mais de acordo com os planos de Deus?

2. Pesquise sobre Asherah e redija um texto (máx. de 2 laudas)


comentando:
2.1 Quem era Asherah, a “deusa proibida”?
2.2 Quais suas principais características (símbolo, lugar de culto, etc.)?
2.3 Quais as principais descobertas arqueológicas que remontam à existência de um
culto a essa divindade feminina?

a) Há um pequeno vídeo (menos de 5 minutos) Ashera la diosa


madre:https://www.youtube.com/watch?v=_HCTf5n9vIA. Acesso em 22 jul 2015.
Caso tenha dificuldade com o espanhol, acompanhe com a tradução abaixo.
b) Para completar o estudo, você pode também ler o texto ASHERAH: A Deusa
Proibida, de Ana Luísa CORDEIRO. In: Dossiê Religião N.4 – abril 2007/julho 2007
(Org.: Karina K. Bellotti e Mairon Escorsi Valério). Disponível
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em:http://www.unicamp.br/~aulas/Conjunto%20I/4_1.pdf. Acesso em 31 jul. 2014.

A Deusa Mãe

(tradução livre do video Ashera la diosa madre)


Na antiguidade, o culto à Deusa Mãe se estendia desde o Mediterrâneo até a
Mesopotâmia. Cada cultura tinha a sua própria deusa com um nome diferente. No
Egito era Isis, a deusa da fecundidade. Para os sumérios era Inana, a deusa amada
do deus Anus, e uma figura importante no Panteão da Suméria. Para os assírios e
babilônicos era conhecida como Ishtar. Pelos cananeus, foi chamada de Astarote
(Astarte). Para os gregos foi Afrodite, e, finalmente, para os romanos foi a deusa
Vênus.
O povo primitivo de Israel adorava a deusa mãe Asherá. A tradução grega dos
LXX, assim como a Vulgata Latina traduzem Asherá como arvoredo, “dos bosques”, ou
seja, conectada com as árvores. A tradução grega dos LXX utiliza o termo Terebinto
Sagrado. A versão da Bíblia King James traduz Asherim como árvores, arvoredo,
normalmente mantendo a associação das “Asherás” com cada colina e árvore verde.
Também esta tradução compreendeu Asherim relacionadas a arvores.
Assim, pois, parece claro que originalmente, no Antigo Israel, havia uma deusa
chamada Asherá associada com as árvores e santuários em lugares altos, que podia
ser simbolizada às vezes pela imagem de um pedaço de madeira (poste sagrado)[2].
Esta tradição referente à deusa veio a ser rejeitada com o tempo, mas permaneceu
perpetuada somente em referências veladas na bíblia hebraica.
Apesar de forte batalha contra as deusas cananeias, no primeiro momento os
profetas somente conseguiram medianamente seus propósitos. Segundo o Primeiro
Livro dos Reis, Salomão não seguia plenamente a Javé, como fazia Davi, seu pai, visto
que oferecia sacrifícios e queimava incensos em lugares altos. Uma imagem de
madeira da deusa Asherá permaneceu por três séculos no tempo de Salomão, até que
o rei Ezequias a retirou, ainda que apenas transitoriamente. Em 1Rs 15,13-14, supõe-
se que as imagens e o culto a Asherá enojam a Javé, pois vão encontrar sua
identidade como Deus único e irrepresentável.
“Derrubareis seus altares, quebrareis suas estátuas, queimareis suas imagens
de Asherá, destruireis suas esculturas de seus deuses, fazendo com que o nome deles
desapareça de tal lugar” (Deuterônomio 12,3). “Não plantarás nenhuma árvore de
para Asherá, ao redor do altar de Javé, teu Deus, que terás construído”
(Deuteronômio 16,21). Apesar dessas sentensas, as evidências e a arqueologia
insistem em associar Asherá com Javé.
Em 1968 foram descobertas, num túmulo localizado nas colinas da Judéia, uma
inscrição que diz: “E o salvou dos seus inimigos graças a Asherá”. Uma década depois
foi encontrada outra inscrição no que deve ter sido um depósito de vasilhas de um
antigo santuário a leste do Sinai. Na inscrição hebraica pode-se ler que a pessoa seja
abençoada por “Javé e por sua esposa Asherá”.
Recentemente, no tel de Arat, foi descoberto um templo onde, provavelmente
Javé e Asherá eram conjuntamente adorados. Em seu santa sanctorum (altar principal
ou Santo dos Santos) foram encontradas duas pedras verticais de culto, uma maior
que representava Javé e outra menor que representava Asherá. Por outro lado, no

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pátio exterior do templo havia outro altar onde foram encontrados vasilhas
sacerdotais com cinzas de animais a partir do que se supõe tratar-se de um lugar de
culto. Além disso, sob a base do templo foi encontrado um leão de bronze, tendo-se
em conta que Asherá se associava a figura do leão.
Muitos arqueólogos e estudiosos do tema pensam que os interesses políticos e
econômicos determinaram a eliminação do culto a Asherá.

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ATIVIDADE 5.1

1. Você estudou a situação de exílio. Leia a visão do vale dos ossos secos
em Ez 37,1-14. Reflita sobre a situação dos/as deportados/as e responda:
1.1 Como e por meio de quem os ossos revivem?
1.2 Que luzes traz essa visão para nossa caminhada?

2. Você já deve ter lido o livro de Rute, conforme proposto no


aprofundamento da unidade. No entanto, releia e responda:
2.1 Quais são e o que significam as leis que Rute e Noemi fizeram acontecer em favor
dos pobres?
2.2 Interpretando para nossos dias, o que significam na prática de hoje essas leis de
Israel?

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ATIVIDADE 6.1

1. Leia os textos indicados abaixo e faça uma síntese (máximo duas


páginas) da história narrada nos livros de Macabeus:
1.1 Quais foram os acontecimentos contados nos livros dos Macabeus? (1Mc 1,1-50;
2,1-28)
1.2 Quem e como tentou segurar o poder e ameaçou a identidade do povo? (2Mc
3,1-12; 4,7-17; 6,1-11)
1.3 Qual foi a resposta do povo? (2Mc 6,1-11 e 2Mc 7,1-42)
1.4 Como e quando expressa o povo, na sua fé, a certeza de que a vida vence a
morte? (2Mc 7,9.11.14.23.29.33-34.36; 12,43-45)

2. Assista ao documentário “Construindo um Império – Grécia”, da History

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Channel. Depois redija um texto (uma página) destacando os pontos que


mais lhe chamaram a atenção, como características da dominação grega.
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=ZNU-VbaOIzI>. Acesso em: 31
jul. 2014.

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ATIVIDADE 7.1

1. Leia o texto de Airton José da Silva, e com base também no conteúdo


estudado na unidade, responda: Em que consistia a “Pax Romana”?
Disponível em: <http://www.airtonjo.com/historia44.htm>. Acesso em: 09 jun. 2014.

2. Assista ao documentário “Construindo um Império – Roma”, da History


Channel. Depois redija um texto (uma página) destacando os pontos que
mais lhe chamaram a atenção, como características da dominação romana.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=liMvesSFM0A>. Acesso em: 09
jun. 2014.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefas.

ATIVIDADE 7.2

Com base no mesmo texto da atividade anterior (Disponível em:


<http://www.airtonjo.com/historia44.htm>), marque a alternativa correta.

a) Para manter-se no poder, Herodes Magno controlou possíveis revoltas, matou seus
inimigos e seleciona seus herdeiros e destruiu todas as marcas do helenismo, cultura
do império grego, anterior à chegada dos romanos.

b) Ao chegar ao poder, Herodes construiu uma estrutura de poder independente da


tradição judaica: nomeou o sumo sacerdote do Templo.

c) Uma das medidas adotadas por Herodes para assegurar a Paz Romana foi proibir a
venda de escravos. Desta forma, conseguiu diminuir as revoltas populares.

d) Em 37 a.C. Herodes, o Grande, torna-se o senhor da Palestina. Casa-se com


Mariana I, parente de Aristóbulo II e Hircano II, entrando definitivamente para a
família asmoneia. Foi responsável pela matança de crianças narrada em Mateus e pela
execução de João Batista.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Questionário.

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