Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
DIREITO CIVIL
AULA 03
Aula 03
Dos Bens
Sumário
INTRODUÇÃO .......................................................................................... 03
A problemática da conceituação .......................................................... 03
Classificação Supralegal: bens corpóreos e incorpóreos .......................... 04
CLASSIFICAÇÃO LEGAL ............................................................................ 05
Bens considerados em si mesmos ........................................................ 06
Bens reciprocamente considerados ...................................................... 18
Bens considerados em relação ao titular do domínio ........................... 23
Bens considerados em relação à possibilidade de negociação .............. 28
Bens de família .................................................................................... 29
Bens gravados com cláusula de inalienabilidade .................................. 35
RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ............................................................ 35
Bibliografia Básica ................................................................................... 40
EXERCÍCIOS COMENTADOS (FCC) ............................................................ 40
CLASSIFICAÇÃO
Definida a expressão que vamos usar e o seu conceito, vamos agora falar
sobre a classificação dos bens, que é feita segundo critérios de importância
científica, pois a inclusão de um bem de determinada categoria implica a
aplicação de regras próprias e específicas, uma que não se pode aplicar as
mesmas regras a todos os bens.
PATRIMÔNIO JURÍDICO
Anteriormente dizia-se que patrimônio era a representação econômica da
pessoa. Atualmente afirma-se que é uma universalidade de direitos e
obrigações (cada pessoa possui apenas um patrimônio). Trata-se, portanto, do
conjunto das relações jurídicas ativas e passivas (abrange bens, direitos e
obrigações) de uma pessoa (natural ou jurídica), apreciável economicamente.
Não se incluem aqui as qualidades pessoais, como a capacidade física ou
técnica, conhecimento ou a força de trabalho, porque estes são considerados
simples fatores de obtenção de receitas. No entanto, incluem-se a posse, os
direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes. O patrimônio é
composto de elementos ativos ou positivos (bens e direitos) e passivos ou
negativos (obrigações).
Patrimônio positivo é aquele em que o ativo é maior que passivo
(falamos em solvente). O patrimônio do devedor responde por suas dívidas e
constitui garantia geral dos credores. Patrimônio negativo (insolvente) é
aquele em que as dívidas superam os bens e direitos.
PATRIMÔNIO
Atenção Embora o atual Código não use mais o termo acessão intelectual
(mas sim pertença) o aluno deve ficar “ligado” na forma como foi redigida a
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Lauro Escobar 7
DIREITO CIVIL = ANALISTA JUDICIÁRIO (Área Judiciária) = TRE/SP
AULA 03: BENS E SUA CLASSIFICAÇÃO
Prof. Lauro Escobar
questão. Como alguns autores ainda a mencionam, é possível que essa
expressão ainda caia em concursos.
3. Por Determinação Legal: são bens que são considerados imóveis
somente porque o legislador assim resolveu enquadrá-los (ficção jurídica),
possibilitando, como regra, receber maior segurança e proteção jurídica nas
relações que os envolve. São eles:
• Direito à sucessão aberta. Falecendo uma pessoa, mesmo que a herança
seja formada apenas por bens móveis, o direito à sucessão (ou seja, o
direito de receber uma herança) será considerado como bem imóvel, com
todas as suas consequências. Ex.: uma pessoa faleceu e deixou um carro,
uma joia e dez mil reais em uma conta-poupança. É aberto o processo de
inventário. O conjunto dos bens deixados pelo falecido (de cujus) é
chamado de espólio. E este tem a natureza de bem imóvel por força de lei.
Assim, o que se considera imóvel não é o direito aos bens que compõe a
herança, mas sim o direito à herança como uma unidade. Somente
após a partilha é que os bens serão considerados de forma individual.
Assim, se o herdeiro quiser renunciar à herança, somente poderá fazê-lo de
modo expresso, por instrumento público ou termo judicial (art. 1.806, CC);
se quiser ceder sua quota de direitos hereditários dependerá de escritura
pública.
• Direitos reais sobre os imóveis (ex.: direito de propriedade, de usufruto,
uso, superfície, habitação, servidão predial, enfiteuse, hipoteca, etc.). A lei,
para dar maior segurança às relações jurídicas, trata os direitos reais sobre
bens imóveis com se imóveis fossem. Encaixam aqui também as ações que
asseguram os bens imóveis, como uma ação reivindicatória da propriedade,
hipotecária, etc.
• Penhor agrícola e as ações que o asseguram.
• Jazidas e as quedas d’água com aproveitamento para energia hidráulica
são consideradas bens distintos do solo onde se encontram (arts. 20, inciso
IX e 176, CF/88).
4. Regras Especiais: nos termos do art. 81, CC, não perdem o
caráter de imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis):
• Edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local (ex.: “casa pré-fabricada” transportada de uma
localidade para outra).
• Materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se
reempregarem (ex.: telhas retiradas de uma casa para reforma do telhado,
sendo nele reempregadas posteriormente).
IMÓVEIS MÓVEIS
Atenção
- Os bens imóveis são infungíveis.
- Os bens móveis podem ser fungíveis ou infungíveis.
Explicando. Os bens imóveis são personalizados (há uma escritura, possuem
um registro, um número, etc.), daí serem eles infungíveis, pois estão
individualizados. Excepcionalmente é possível que sejam tratados como
fungíveis. Ex.: devedor se obriga a fazer o pagamento por meio de três lotes de
terreno, sem que haja a precisa individualização deles; o imóvel nesse caso não
integra o negócio pela sua essência, mas pelo seu valor econômico.
Já os bens móveis, como regra, são fungíveis, mas em alguns casos
podem ser considerados como infungíveis. Ex.: um selo de carta, como regra é
fungível. Mas um “selo raro” é infungível, pois se destina a colecionadores.
Outros: uma moeda rara, o cavalo de corrida Furacão, um quadro pintado por
Renoir, etc. Um veículo automotor é considerado como um bem infungível, pois
possui número de chassis, número de motor, etc., personalizando e
diferenciando dos demais.
A fungibilidade pode ser da própria natureza do bem ou da vontade
manifestada pelas partes. Portanto, um bem fungível pode se tornar infungível
por ato de vontade. Ex.: uma cesta de frutas é um bem fungível, mas pode se
tornar infungível se ela for emprestada apenas para ornamento de uma festa
(chamamos esta hipótese de: comodatum ad pompam vel ostentationem) para
ser devolvida posteriormente, intacta. Outro: como regra um livro pode ser um
bem fungível. Mas se nele contiver uma dedicatória ou estiver autografado pelo
autor, este fato faz com que ele se torne único.
Uma obrigação de fazer também pode ser infungível ou fungível. Ex.:
contrato o famoso pintor “Z”, para pintar um quadro; percebam que a atuação
de “Z”, neste caso, é personalíssima, pois ele foi contratado tendo-se em vista
suas habilidades especiais. Portanto trata-se de uma obrigação infungível. Já a
pintura de um muro que foi pichado, ou a troca da resistência de um chuveiro
elétrico são exemplos de obrigações fungíveis, pois não requer uma habilidade
excepcional para o seu cumprimento, podendo ser realizada por qualquer
pessoa.
B) INCONSUMÍVEIS
São os que proporcionam reiterados usos, permitindo que se retire
toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade. Ex.: roupas de uma forma
geral, automóvel, casa, etc., ainda que haja possibilidade de sua destruição em
decorrência do tempo.
Quando alguém empresta algo (ex.: frutas) para uma exibição, devendo
restituir o objeto, o bem permanece inconsumível até a sua devolução (a
doutrina chama isso de ad pompam vel ostentationem). A consuntibilidade não
decorre propriamente da natureza do bem, mas sim da sua destinação
Observações
01) Na universalidade de fato a destinação é dada pela vontade humana; na
universalidade de direito a destinação é dada pela norma jurídica.
02) Nas coisas coletivas, se houver o desaparecimento de todos os indivíduos,
menos um, ter-se-á a extinção da coletividade, mas não o direito sobre o que
sobrou.
Observações
01) Esta regra estava prevista no art. 59 do Código anterior e não foi
reproduzida no atual. Trata-se de um princípio geral do Direito Civil,
reconhecido de forma unânime pela doutrina, tendo aplicação direta em nosso
Frutos X Produtos
Os frutos se renovam quando são utilizados ou separados da coisa,
não alterando a substância da coisa principal. Ex.: colhendo as frutas de um
pomar, as árvores não diminuem e continuam produzindo nas próximas
safras. Já os produtos se exaurem com o uso, sendo que a extração do
produto determina a progressiva diminuição da coisa principal. Ex.: a
extração do minério de ferro de uma mina faz com que a mesma vá
diminuindo a produção, até o seu esgotamento.
3) Rendimentos na verdade eles são os próprios frutos civis ou
prestações periódicas em dinheiro, decorrentes da concessão do uso e gozo de
um bem (ex.: aluguel).
4) Produtos orgânicos da superfície da terra (ex.: vegetais, animais, etc.).
5) Obras de aderência obras que são realizadas acima ou abaixo da
superfície da terra (ex.: uma casa, um prédio de apartamentos, o metrô,
pontes, túneis, viadutos, etc.).
6) Pertenças segundo o art. 93, CC, são os bens que, não constituindo
partes integrantes (como os frutos, produtos e benfeitorias), se destinam, de
modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Exemplos
que costumam cair nas provas: moldura de um quadro que ornamenta uma
casa de eventos, máquinas agrícolas (trator), animais ou materiais destinados a
melhor explorar o cultivo de uma propriedade agrícola, máquinas e instalações
de uma fábrica, geradores de energia, escadas de emergência e outros
equipamentos contra incêndio, aparelho de ar-condicionado em um escritório,
órgão de uma igreja, etc.
Benfeitoria X Pertença
• Benfeitorias: obras realizadas diretamente no bem para conservá-lo
(necessária), melhorá-lo (útil) ou embelezá-lo (voluptuária). Assim que
realizadas, estas obras se tornam parte do próprio bem; elas se
incorporam ao principal. Por isso, como regra, elas não possuem
autonomia e existência própria. Quando se vende uma casa e o contrato
nada fala, a piscina e a garagem (benfeitorias) acompanham o negócio.
• Pertenças: bens que se destinam de modo duradouro ao uso, ao serviço
ou ao aformoseamento de outro bem, sem perder a sua autonomia. O
bem está a serviço da finalidade econômica de outro bem, não havendo
incorporação. Quando se vende uma fazenda e o contrato nada fala, o
trator (pertença) não acompanha o negócio.
Atenção Alguns bens deixam de ser acessórios e passam a ser principais.
Estas exceções se justificam para valorizar um trabalho artístico, daí a inversão.
Ex.: a pintura em relação à tela, a escultura em relação à matéria-prima, a
escritura ou qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, etc.
B) RES NULLIUS
São as chamadas “coisas de ninguém”. Existem no universo, mas não
são públicas nem particulares, pois não têm dono. Ex.: animais selvagens
em liberdade, pérolas de ostras que estão no fundo do mar, peixes no mar,
conchas na praia, etc. As coisas abandonadas (também chamadas de res
derelictae) são espécies do gênero ‘coisas de ninguém’; elas já pertenceram a
alguém, mas foram abandonadas.
O atual Código Civil não trata mais desta categoria de bens de forma
explícita. No entanto ela continua existindo e a doutrina se refere a ela
normalmente. Ela é relativa à possibilidade de comercialização dos bens.
Lembrando que comércio (em sentido técnico) é possibilidade de compra e
venda, doação, ou seja, é liberdade de circulação e transferência de bens.
Vejamos:
1. Bens que integram o comércio: são os negociáveis, disponíveis;
podem ser adquiridos e alienados. Estão livres de quaisquer restrições que
impossibilitem sua apropriação ou transferência, podendo passar, gratuita ou
onerosamente de um patrimônio para outro.
2. Bens que estão fora do comércio: são os que não podem ser
transferidos de um acervo patrimonial a outro. Espécies:
a) insuscetíveis de apropriação (inalienáveis por natureza): são bens
de uso inexaurível (ex.: ar, luz solar, água do alto-mar, etc.); como não são
raros, não despertam interesse econômico. São também chamados de “coisas
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Lauro Escobar 28
DIREITO CIVIL = ANALISTA JUDICIÁRIO (Área Judiciária) = TRE/SP
AULA 03: BENS E SUA CLASSIFICAÇÃO
Prof. Lauro Escobar
comuns a todos” (res communes omnium). No entanto, se atender a
determinadas finalidades, pode ser objeto de comércio (captação do ar ou da
água do mar para a extração de determinados elementos).
b) personalíssimos: são os preservados em respeito à dignidade
humana (ex.: vida, honra, liberdade, nome, órgãos do corpo humano, cuja
comercialização é expressamente proibida pela lei, etc.).
c) legalmente inalienáveis: apesar de suscetíveis de apropriação, têm
sua comercialidade excluída pela lei para atender a interesses econômicos-
sociais, defesa social e proteção de certas pessoas. Só excepcionalmente podem
ser alienados, exigindo uma lei específica ou uma decisão judicial (alvará).
Alguns exemplos:
• bens públicos (uso comum do povo e uso especial: art. 100, CC).
• bens das fundações (arts. 62 a 69, CC).
• terras ocupadas pelos índios (art. 231, §4°, CF).
• bens de menores (art. 1.691, CC).
• terreno onde foi construído edifício de condomínio por andares, enquanto
persistir o regime condominial (art. 1.331, §2°, CC).
• usufruto (art. 1.393, CC: Não se pode transferir o usufruto por alienação;
mas o seu exercício pode ceder-se por título gratuito ou oneroso),
excetuando a possibilidade de sua alienação unicamente para o nu-
proprietário (art. 1.410, VI, CC).
• bens de família (veremos melhor adiante).
• bens gravados com cláusula de inalienabilidade (veremos melhor adiante).
BEM DE FAMÍLIA
(Arts. 1.711 a 1.722, CC)
Observações
01) O STJ firmou os seguintes entendimentos (Recurso Especial nº
1.178.469-SP: a) É possível a penhora de parte do imóvel, caracterizado como
bem de família, quando for possível o desmembramento sem sua
descaracterização; b) A avaliação da natureza do bem de família, amparado
pela Lei n° 8.009⁄90, por ser questão de ordem pública e não se sujeitar à
preclusão, comporta juízo dinâmico. E essa circunstância é moldada pelos
princípios basilares dos direitos humanos, dentre eles, o da dignidade da pessoa
humana, um dos fundamentos do nosso Estado Democrático, nos termos do art.
1°, inciso III, da Constituição da República; c) Para que seja reconhecida a
impenhorabilidade do bem de família, de acordo com o art. 1°, da Lei n°
8.009⁄90, basta que o imóvel sirva de residência para a família do devedor,
sendo irrelevante o seu valor.
02) O STJ tem admitido, para efeito de bem de família, que a renda
proveniente de imóvel locado também seja considerada impenhorável.
Exemplo clássico: um casal possui uma casa muito grande. No entanto, devido
às altas despesas que esta casa exige, resolve alugá-la, sendo que com o
dinheiro alugam um apartamento pequeno. Como ainda sobra um “dinheirinho”,
para a jurisprudência esta sobra também é impenhorável, pois mesmo não
morando na casa, esta é o único bem residencial de propriedade da família.
03) O STJ considera possível que a impenhorabilidade do bem de família
atinja simultaneamente dois imóveis do devedor: aquele onde ele mora
com sua esposa e outro no qual vivem suas filhas menores (e a mãe delas),
nascidas de relação extraconjugal. Isso porque, a impenhorabilidade do bem de
família visa resguardar não somente o casal, mas o sentido amplo de entidade
familiar. Portanto, a jurisprudência do STJ vem reforçando o entendimento de
que a impenhorabilidade prevista na lei 8.009/90 não se destina a proteger
somente a família em sentido estrito, mas, sim, a resguardar o direito
fundamental à moradia, com base no princípio da dignidade da pessoa
humana.
04) No caso da pessoa não ter imóvel próprio (ex.: locação, usufruto), a
impenhorabilidade recai sobre os bens móveis quitados que guarneçam a
residência e que sejam da propriedade do locatário (geladeira, fogão,
televisão, etc.). Se o casal ou entidade familiar for possuidor de vários imóveis
EXCEÇÕES
Vimos que o bem de família do Código Civil (voluntário) só pode ser
penhorado em duas hipóteses: tributos devidos em relação ao próprio bem
imóvel ou condomínio.
Já os bens de que trata a Lei n° 8.009/90 tem um número maior de
exceções, ou seja, de hipóteses em que o bem será vendido para pagar a
dívida. Assim esses bens (apontados na lei especial), não responderão por
dívidas civis, mercantis, fiscais trabalhistas, etc., salvo se o processo de
execução for movido em razão de (art. 3°):
• execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia.
• crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição
do imóvel.
• cobrança de impostos (ex.: IPTU ou ITR) taxas e contribuições devidas em
função do imóvel.
• dívidas de condomínio também referente ao próprio imóvel.
• credor de pensão alimentícia (resguardados os direitos, sobre o bem, do
seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal,
observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida).
• bem adquirido com produto de crime.
• obrigação decorrente de fiança nos contratos de locação.
Observação
Esse dispositivo possuía mais uma hipótese: créditos de trabalhadores da
própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias. No entanto o
inciso foi expressamente revogado pela Lei Complementar n° 150/2015 (que
dispõe sobre o contrato de trabalho doméstico).
I. CONCEITO
Bens são valores materiais ou imateriais, que satisfazem uma necessidade
humana (úteis), economicamente valoráveis e suscetíveis de apropriação, que podem
ser objeto de uma relação de direito. Toda relação jurídica entre dois sujeitos tem
por objeto um bem sobre o qual recaem direitos e obrigações. Obs.: há divergência
doutrinária acerca da utilização das expressões “coisa” e “bem”.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
Exercícios Comentados
Fundação Carlos Chagas