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Revista Brasileira de Gestão Ambiental

ISSN:2317-3122
Grupo Verde de Agroecologia e Abelhas-GVAA Pombal-PB-Brasil

Pobreza e meio ambiente nas cidades do Brasil da América Latina

Poverty and the environment in Brazilian cities in Latin America

Luan Gomes dos Santos de Oliveira1, Aline Carla de Medeiros2, Aldeone Pereira Silva3 Fernanda Fernandes Barbosa4
e Patricio Borges Maracaja5

Resumo: A questão ambiental tomou dimensões alarmantes, as quais redefiniram a geopolítica mundial. Este trabalho
tem como objetivo principal realizar uma revisão de literatura acerca dos três eixos: cidade, meio ambiente e pobreza.
Destacando o seu viés político. Espera-se que as idéias aqui postas possam contribuir para a formação de um saber
prudente, não só crítico, mas interventivo, com condição sine qua non para o exercício da cidadania garantida, mas não
efetivada no espaço neoliberal.
Palavras-chave: Cidade, pobreza, meio ambiente, política pública ambiental.

Abstract: The environmental issue has taken alarming dimensions, which have redefined world geopolitics. The main
objective of this paper is to review the literature on the three axes: city, environment and poverty. Highlighting its
political bias. It is hoped that the ideas presented here can contribute to the formation of a prudent knowledge, not only
critical, but interventive, with a sine qua non condition for the exercise of guaranteed citizenship, but not realized in the
neoliberal space.

Keywords: City, poverty, environment, environmental public policy.

Recebido em 22/08/2019 aceito em 18/10/2019

Sociólogo-Antropólogo, Assistente Social, M. Sc. em Desenvolvimento e Meio Ambiente e D. Sc. em Educação pela UFRN, . CCJS/UFCG –
1

Campus de Sousa – PB. Email: luangomessantos@terra.com.br


2
Prof. M. Sc. em Sistemas Agroindustriais pela PPGSA/UFCG/CCTA – Pombal - PB e Doutoranda em Engenharia de Processos pelo CCTA-UFCG
– Campina Grande – PB – Licenciada em Biologia E-mail: alinecarla.edu@gmail.com;
3
Prof. da FAFIC - Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Cajazeiras, M. Sc. em Sistemas Agroindustriais pela PPGSA/UFCG/CCTA – Pombal.
Graduado em Filosofia e Teologia e Direito - E-mail aldeonesocial2026@gmail.com
4
Prof. da FAFIC - Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Cajazeiras, M. Sc. em Sistemas Agroindustriais pela PPGSA/UFCG/CCTA – Pombal -
PB. Graduada em Serviço Social e Direito - E-mail: nandafernandesrn@hotmail.com

Prof. Visitante do CCJS/UFCG – Campus de Sousa – PB D. Sc. em Agronomia pela UCO – Universidade de Córdoba – Espanha – Graduado em
5

Agronomia e Licenciado em Teologia - E-mail: patriciomaracaja@gmail.com

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INTRODUÇÃO Todo esse contexto tem raízes mais


profundas que passa pelo mercado, pela política, pelos
Este ensaio de natureza teórica, constitui um órgãos multilaterais, pela cultura, tornando-se uma
aprofundamento da pesquisa sobre cidade, meio ambiente, questão que rebate em diversos problemas atuais como o
questão agrária e o contexto da pobreza na América avanço da pobreza na América Latina. A utopia, lugar da
Latina. Tem como objetivo traçar um arcabouço teórico- criatividade, tem sido relegada por uma busca incessante
metodológico acerca da relação cidade, meio ambiente e do lucro e do consumo, mas, há quem se alimente da
políticas públicas. Insere a abordagem a respeito da mesma, para construir uma nova realidade de
pobreza no contexto do espaço urbano. Assim como pertencimento ao espaço-lugar. A frase de Bertold Brecht
explicita por último um pouco da questão política nos inquieta a entender este caminho de crises que não é
ambiental. O artigo ora proposto se alimentou de só do capitalismo, como aponta a vanguarda marxista,
referenciais tanto nacionais como internacionais para sobretudo do paradigma relacional humano. Podemos
entender a luz da realidade a problemática ambiental, não entender a questão ambiental com mais detalhes com
mais pelo viés da dualidade homem-natureza, mas pela Ribeiro (2010, pág. 09):
integração dessas dimensões. Desmistificando também a
cidade como espaço componente da questão ambiental.
Vinculada à condição de ser no
A geopolítica da questão ambiental: breves reflexões mundo, a questão ambiental é
fundamental à existência humana,
Nós vos pedimos com insistência: pois é do ambiente que provém a
não digam nunca isso é natural, base material de reprodução da
diante dos acontecimentos de cada vida, aliás, das diversas formas de
dia. Numa época em que corre o vida. Em outras palavras, é do
sangue; em que se ordena a ambiente que são extraídos os
desordem; em que o arbitrário tem recursos para produção do abrigo,
força de Lei; em que a humanidade alimento, artefatos técnicos,
se desumaniza...Não digam nunca, vestuário, entre tantas outras coisas
isso é natural! Para que nada passe necessárias à manutenção da vida,
por ser imutável! qualquer que seja a forma de
(Bertold Brecht) organização social que os humanos
estabeleceram ao longo de milhares
A sociedade contemporânea é marcada por de anos de presença no planeta.
uma cultura do medo diante das catástrofes ambientais,
como o aquecimento global, a redução da biodiversidade,
as enchentes e as secas que tem destruído cidades e Traçar um caminho investigativo acerca das
causado grandes danos a vida no planeta. raízes da relação natureza/cultura é um ponto
imprescindível para entender os problemas atuais não só
de natureza ambiental, mas sociopolítica. Este trabalho se
[...] nas últimas décadas essa interessa em compreender essas relações no contexto
temática emergiu como uma das brasileiro tendo inicialmente como pano de fundo a
mais importantes preocupações de América Latina.
governos de diversos países do O contexto da América Latina em relação
mundo, o que possibilitou a aos outros países é particular quanto a exploração e a
institucionalização da ordem colonização da cultura. Galeano (1979, pág.13),
ambiental internacional que visa criticamente nos diz: a América Latina “especializou-se
regular as relações humanas em em perder desde os remotos tempos em que os europeus
caráter mundial, envolvendo temas do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os
relacionados ao ambiente por meio dentes em sua garganta”. Começamos a entender que a
de protocolos e acordos multilaterais questão ambiental, apesar de recente emergência em
entre países e blocos de países. estudos dado o agravamento dos problemas quanto a
(RIBEIRO, 2010, pág.01) inadequada apropriação dos recursos naturais, já vinha
sendo gestada com a dominação da América Latina. E vai
além, segue na direção de uma questão cultural não só dos

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hábitos e relações com a natureza, mas na nacionalidade. conseguido conviver com níveis dignos de
Pois perdemos até o direito de sermos chamados de vida para a grande maioria das populações
Americanos para os EUA, para sermos chamados de dos nossos países. Nossa história é feita de
Terceiro Mundo, países subdesenvolvidos, em projetos que nos englobam, de caminhos
desenvolvimento, ou até mesmo sub-América. truncados, de diálogos de surdos.
(PARREIRA, 2005, pág. 13)
É a América Latina, a região das
veias abertas. Desde o No entanto, outros caminhos estão sendo
descobrimento até nossos dias, tudo construídos para que as veias da América Latina comecem
se transformou em capital europeu a sarar, semeando uma cultura política apontada para a
ou, mais tarde, norte-americano, e democracia tão sonhada em meio aos conflitos. Tudo isso
como tal tem-se acumulado e se desemboca na famosa crise ambiental, que imediatamente
acumula até hoje nos distantes nos faz pensar nas hecatombes sofridas pelo planeta Terra,
centros de poder. Tudo: a terra, seus entretanto, é a partir dela que a questão ambiental, entra
frutos e suas profundezas, ricas em nas agendas públicas de muitos países e dos órgãos
minerais, os homens e sua multilaterais.
capacidade de trabalho e de
consumo, os recursos naturais e os 1.1 Brasil: uma veia forte da América Latina
recursos humanos. [...] Para os que
concebem a História como uma Assim como a América Latina foi explorada
disputa, o atraso e a miséria da e dominada pelos europeus, o Brasil também sofreu duras
América Latina são o resultado de opressões estes povos e isto pode ser visto nos ciclos que
seu fracasso, perdemos; outros aqui foram implantados: as especiarias, o café, a cana de
ganharam. Mas acontece que açúcar e a mineração. Todos estes ciclos da economia
aqueles que ganharam, ganharam brasileira eram regidos pela exportação, alimentando o
graças ao que nós perdemos: a mercantilismo. A questão ambiental brasileira tem outro
história do subdesenvolvimento da ponto em comum a América Latina que é o fortalecimento
América Latina integra, como já se do capitalismo. No Brasil com o processo de colonização
disse, a história do capitalismo dos portugueses, estes se apropriaram dos índios e dos
mundial. (GALEANO, 1979, pág.14) negros para o escravismo, configurando-se em uma
condição essencial da apropriação privada da base
material da sociedade. Além disso, isto também culminou
Poderíamos refletir que é na América Latina no racismo ambiental, que atualmente não só se expressa
que começa a ruptura da relação sociedade/natureza, pela cor da pele ou etnia, mas pelo espaço em que
resultando em um processo de desigualdade entre os habitam, vivendo em condições de vulnerabilidade e risco
povos latinos e europeus. Nesse sentido, a questão socioambiental.
ambiental não pode ser reduzida a um processo só de Assim, a questão ambiental é
escassez dos recursos naturais em contradição a essencialmente social, rompe-se aqui a dualidade
intervenção humana. Ela coopera com a reconfiguração da cartesiana natureza x cultura. Prova disso, Ribeiro (2010,
geopolítica mundial. Pois muitos acordos internacionais pág. 09) nos fala.
foram sendo realizados em torno do uso dos recursos
naturais. Vale salientar que estas reflexões também tocam A questão ambiental é fundamental à
no modelo de desenvolvimento a qual foi submetido a existência humana, é preciso insistir,
América Latina, um desenvolvimento desigual, pautado já que ela possui uma dimensão
em uma promessa de que um dia seremos uma grande territorial implícita. Os recursos
potência econômica, como os países desenvolvidos. A estão dispersos pela superfície
verdade é que começamos em crise e continuamos numa terrestre, como resultado de
crise que ora assume importância para um grupo que se processos naturais de milhões de
sente prejudicado em seus empreendimentos e ora revela- anos, e são apropriados pelos
se por meio do pensamento acadêmico. grupos sociais de acordo com sua
capacidade de gerar instrumentos
A crise ambiental, em diferentes escalas, da técnicos, e que a torna, em si, foco
planetária à local, se anuncia como o de poder, disputa e conflitos.
trágico desafio para a Humanidade do
século XXI. Muito mais na América Latina,
onde convivemos desde o começo da nossa Dessa forma, a apropriação da natureza é
história com “o imperialismo ecológico” e empreendida por uma racionalidade social capitalista, que
a injustiça ambiental, e onde nem temos vem fomentando a lógica da ciência e tecnologia para o

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crescimento da economia. Daí, compreendemos a questão mundiais com a questão dos “limites do crescimento”,
ambiental como parte da humanidade e por ora a terminaram por estimular o surgimento, também no Brasil,
enxergamos desgarrada das relações sociais para atender de um discurso ambiental em nível governamental.
os interesses dos detentores de grande capitais.
Acserald(2001, pág. 76) comenta um pouco sobre a A questão ambiental não é um fenômeno
questão ambiental brasileira adequada as demandas do somente resultante de um processo de degradação do meio
modo de produção capitalista. biofísico, mas eminentemente político, atravessado pelos
conflitos e acordos internacionais. Assim, compreende-se
em meio a um mundo mercantilizado que a questão
Mas ao desenvolver-se tal concentração desencadeou-se ambiental é uma faceta transversal que toca no coração da
também, por meio do padrão tecnológico dominante, um existência da vida no planeta. Ela sempre foi um elemento
processo de homogeneização dos conteúdos biofísicos do fundante para o desenvolvimento brasileiro. Essa questão
território: disseminaram-se monoculturas, substituiu-se a atualmente teve visibilidade com a crise ambiental ou
diversidade biológica por espécies dominantes e, ecológica expressada pela depredação de atividades que
concomitantemente, substituiu-se a diversidade social por em sua essência degradam e inutilizam os recursos
formas sociais capitalistas. naturais em prol de um lucro imediato, trocado por uma
falsa responsabilidade socioambiental, reforçada pelo
Estado.
O processo de acumulação do capital
sempre foi predando a natureza tanto social quanto os
ecossistemas naturais. A formação social, econômica e Tanto as grandes hidrelétricas,
política do Brasil teve como principal pilar a aceleração quanto as grandes cidades, surgem
do processo industrial o que fez eclodir nos anos 1970 no como elementos centrais na
cenário político: os movimentos sociais, dentre os quais o produção do que se convencionou
movimento ambientalista que reivindicava um sistema de chamar de crise ecológica, cuja
proteção ao meio ambiente, a preservação e a interpretação não pode ser feita sem
conservação. levar em conta, mais uma vez, a
A industrialização no Brasil cooperou para tipologia dos objetos técnicos e as
o início do desmatamento de margens de rios e o motivações de seu uso no presente
assoreamento de corpos d’água, e constituiu-se uma período histórico. A busca de mais-
seqüência de grandes barragens – tudo em favor da valia ao nível global faz com que a
acumulação, apresentando-se como justificativa a sede primeira do impulso produtivo
necessidade de se responder a determinadas demandas de (que é também destrutivo, para usar
progresso e bem-estar. uma antiga expressão de J. Brunhes)
Mesmo havendo resistências por meio dos seja apátrida, extraterritorial,
ambientalistas, as forças das poderosas instituições a indiferente às realidades ambientais.
serviço de uma concepção industrialista de progresso não Certamente por isso a chamada crise
cessaram, ao contrário estão presentes nos países como o ambiental se produz neste período
Brasil. Em nome do progresso “[...] foram desestruturadas histórico onde o poder das forças
as condições materiais de existência de grupos desencadeadas num lugar ultrapassa
socioculturais territorialmente referenciados e destruídos a capacidade local de controlá-las
os direitos de populações inseridas em formas sociais de nas condições atuais de
produção não-capitalistas (ACSERALD, 2001, pág. 77).” mundialidade e de suas repercussões
Porém, em meio a emersão dos problemas nacionais. Da mesma forma, a
ambientais já abordados foi forjando-se o discurso vulnerabilidade ambiental pode
ambientalista que faria resistência em lutas aumentar como crescimento
socioambientais e formaria a questão ambiental. econômico local. (SANTOS, 2008,
pág. 253)
As lutas pela terra, pela água, pelos seringais etc,
precederam, por certo, a questão ambiental tal como A intenção deste início de estudo era
contemporaneamente formuladas. Tratava-se, no entanto, apresentar uma questão ambiental brasileira mais ampla,
desde seu início, de lutas por modos alternativos de não só fruto da dualidade capital/trabalho, como
apropriação da base material da sociedade. O discurso corriqueiramente é defendido. O caminho que trilhamos
ambiental veio posteriormente incorporar essas lutas num possibilita-nos ampliar a questão ambiental para além do
novo todo, dado margem a que diferentes percepções e espectro ambientalista, preservacionista, incorporando aí
estratégias fossem elaboradas, novos argumentos e as dimensões cidade, meio ambiente em suas múltiplas
projetos surgissem no debate público. Tais lutas, expressões de espaço, desenvolvimento e política, esta
juntamente, com as preocupações de parte das elites com “P maiúsculo”.

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abandonar o procedimento funcionalista e adotar um


procedimento genealógico. Lipietz (1988), faz uma
análise de como se insere o espaço, enquanto instrumento
que coopera diretamente na dinâmica dos processos de
produção do capitalismo. Além disso, o autor traz algo
novo para romper com dualismo simplista capital-
trabalho, ampliando esta noção para a relação espaço-
mercado, numa tentativa não espontânea de formar uma
Espaço, Natureza e Meio ambiente: novas alternativas teoria da formação do espaço. Assim como vê o espaço
para se pensar a questão ambiental como produção do capitalismo.
A teoria do Espaço de Castells: “O enfoque
Até então não tínhamos nos atentado para o da teoria do espaço de Castells é o mesmo de Lefebvre,
estudo do espaço geográfico enquanto palco da história da para Castells o espaço é um produto material de uma dada
humanidade, o víamos pelo espectro de simples formação social.”(pág. 120). Não existe assim uma teoria
localização geográfica, dado os limites da nossa área de do espaço para Castells, o que há é a submissão do espaço
atuação. Mas por meio do curso “Abordagens sobre a economia. Acaba por reforçar as idéias de Althusser, ao
cidades e dinâmicas urbanas”, ministrado pela Profª. Drª. aplicar no debate um paradigma estruturalista.
Ana Cláudia Duarte Cardoso, estudiosa das cidades Compreende-se desta forma que Castells visa analisar o
amazônicas, no Programa de Pós-graduação em Estudos espaço como uma expressão da estrutura social, estudando
Urbanos e Regionais da Universidade Federal do Rio a sua formação por elementos do sistema econômico,
Grande do Norte (UFRN), tomamos conhecimento a partir político e ideológico.
das discussões em sala de aula, do quanto o espaço é vital O debate acerca da teoria do espaço foi
para a questão ambiental. Nesse sentido, pretendemos iniciado por Castells em contraposição a Lefebvre. Assim
jogar luz sobre a relação entre o espaço e o meio considerava-se importante saber das limitações da
ambiente, com o intuito de compreender mais a economia política marxista para entender a natureza da
complexidade do meio ambiente. organização espacial. Destacam-se neste texto as posições
O Espaço, objeto de estudo de diversos de Manuel Castells e Henri Lefebvre. Desta forma não se
pesquisadores pode ser compreendido em suas múltiplas pretenderia colocar a organização espacial encaixada na
facetas, dentre eles, Henri Lefebvre, Manuel Castells e teoria marxista, formando uma teoria marxista do espaço,
David Harvey, os quais escreveram no início dos anos mas entendê-la para além dos fatores ideológicos.
1960 e 1970 sobre a relação espaço com a sociedade A relação do espaço com o meio ambiente é
humana. Vale salientar que há diferenças entre aqueles e crucial para entendermos a produção do espaço nos
Milton Santos, pensador brasileiro que complementou e meandros da sociabilidade capitalista. O espaço ora é
em determinados momentos superou a análise do espaço entendido como meio ambiente, por ser o local em que se
daqueles. Quem traduz bem isto, é Steinberger (2006, pág. constrói a dinâmica da vida nas cidades. Para Santos
33): “[...] o foco de suas análises iniciais era, (2008), o espaço é entendido como componente material
respectivamente, o mundo rural, o espaço urbano e a que é crescentemente formado do natural e artificial.
cidade, e não o espaço como uma categoria permanente e Atualmente a nossa dinâmica de vida tende a superar a
histórica”. dinâmica dos ecossistemas naturais, mesmo sabendo que
Lipietz (1988) clarifica um pouco a noção ambas são interdependentes. Acrescenta-se deste modo a
de espaço. Inicialmente, ele retrata o espaço pelo viés da técnica, ou o espaço a relação sociedade/natureza.
localização, vendo-o como concreto, local de produção, e
o reduz as coordenadas geográficas. O espaço-superfície: Os meios naturais são desde as
o espaço mercadoria. “Somente que a inscrição no espaço origens da pré-história e por
não é apenas a escolha de uma melhor ‘intensidade’. É definição, meios relativamente
também o consumo de uma grandeza ‘extensiva’, a técnicos: Homo faber. A partir do
superfície, e é um consumo privativo. “[...] o espaço é um paleolítico superior, os trabalhos do
bem que pode ter um preço: preço do solo, renda homem para defender-se, alimentar-
fundiária: tributo fundiário.” (Pág.124). Além disso, vê se, alojar-se, vestir-se, decorar seus
também o espaço como sistema: o espaço como social, abrigos ou seus lugares de culto
crítica ao funcionalismo neoclássico. implicam técnicas já complexas.
Aqui, ele expõe a teoria dos lugares Inversamente, não conhecemos,
centrais, defendida por Losc e Christaller nos anos 1930- mesmo nos centros urbanizados,
1970. Ele articula aqui os sistemas de redes-centralização meio técnico ‘puro’, do qual esteja
das cidades-metrópoles. Ele cunha três críticas a teoria dos excluída qualquer ação de elementos
lugares centrais: 1. População e produção de base naturais (se bem que em última
repartida, espaços abstratos; 2. Pode inspirar os instância isto se possa conceber).
tecnocratas; 3. Constituição das próprias cidades:

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(G. FRIEDMANN, 1996 apud social e é natureza. A tese sobre esse


SANTOS, 2008, pág.233). erro fica evidente quando ele
ressalta que os atributos naturais do
Dessa forma, compreendemos que o espaço espaço não são permanentes e, assim
geográfico é um sistema híbrido, pois participa da como os atributos não-naturais, os
condição social, neste sentido é sociedade e também meio dois são destinados a mudar pelo
ambiente, mas não é sua totalidade. Então, há uma busca trabalho do homem.
permanente para se definir o espaço. Para Milton Santos, (STEINBERGER, 2006, pág. 47)
esta busca não tem fim, dada as mudanças contínuas na
ciência e na sociedade. Vale aqui expor que o tempo se
configura como uma das noções fundadoras do espaço. O Agora é visível a dimensão espacial no
espaço agora reveste-se e tem como alicerce a dimensão meio ambiente, aliás, o espaço é o cerne da integração
social. Para Harvey (s/d, pág. 38) há um encontro entre a sociedade/natureza. A questão ambiental, ou ecológica
formação espacial e o processo social: como queiram denominá-la, não pode mais ser resolvida
em termos de ciência e tecnologia, mas antes de tudo, um
termo visceralmente político e permeado de conflitos.
Nesse sentido, devemos caminhar para uma nova
construção social crítica de meio ambiente, em que o
Uma de suas conclusões mais maior desafio será mudar a nossa própria percepção de se
importantes é que as formas relacionar com o mundo que nos rodeia sob a égide de
espaciais não são objetos novos paradigmas. Teria muito que acrescentar acerca do
inanimados dentro dos quais o espaço, e suas expressões indefinidas, que até o
processo social se desenvolve, ou confundem: o território, o lugar e o ambiente.
seja, as formas espaciais contêm os
processos sociais, do mesmo modo
que os processos são espaciais. 2 Cidade, Meio ambiente e Pobreza: conceitos e análises

Muitos trabalhos de estudiosos da área da


As formas espaciais são objetos que questão urbana, pouco reconhecem a importância da
possuem um papel ativo nos processos sociais. O espaço questão ambiental em suas discussões. Acabam por
sendo compreendido como dimensão (re) significadora do despolitizá-la, discutindo os aspectos urbanos separados
meio ambiente, é uma chave para quebrar o dualismo do rural e do ambiente. Aqui, buscaremos integrar essas
homem-natureza, ou sociedade/meio ambiente. Em função dimensões, que ora se expressa por meio do urbano da
disso Lefebvre em suas obras, argüiu a a respeito da cidade e do rural enquanto reprodutores da pobreza.
relação entre o homem e a natureza para mostrar que, na Inicialmente, abordaremos um pouco sobre a emergência
práxis, há um desencontro entre o homem produtor da sua das cidades em conexão com o meio ambiente e a
própria história e divorciado da sua própria história, pois: pobreza. A principal inquietação aqui é romper com a
visão de que a cidade não é meio ambiente, é na cidade
[...] o homem age sobre a natureza que a questão ambiental assume formas diversas. Para
na atividade social de atender suas isto, nos ancoramos em Harvey (s/d, pág. 02-03) para
necessidades. Constroem relações quem considera a cidade como um espaço criado
sociais e concepções, idéias, relacional. Mas, além disso, diz que o significado criativo
interpretações que dão sentido da cidade é dado pela prática humana. Além disso,
àquilo e aquilo que carece.
Reproduz, mas também produz – isto A discussão sobre o futuro ideal desejável nas cidades
é, modifica, revoluciona – a brasileiras tem sido pautada pelos processos que
sociedade, base de sua atuação incomodam: congestionamento, carências de habitação,
sobre a natureza, inclusive a própria saneamento, condições do controle da terra urbanizada,
natureza. convergindo para a polarização entre a cidade formal e a
[...] Na mesma linha, em 1977, cidade informal. Urbanistas e gestores públicos brasileiros
Milton Santos declara que, ao apostaram na estruturação de políticas e de estratégias
aceitar a formação sócio-espacial claras de regulação como forma de superação das
como categoria, ou seja, aceitar o injustiças sociais criadas pela lógica de mercado, após
espaço como uma nova dimensão da uma longa alternância de períodos autoritários e
formação econômica e social, é democráticos. Mas, na segunda década do século XXI,
possível perceber o erro da percebese que esta estratégia foi claramente pautada pelos
interpretação dualista das relações contextos inseridos no mercado, com predominância de
Homem-Natureza, pois o espaço é economia formal e pleno emprego, e onde a propriedade

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privada da terra estava estabelecida, o que a torna Castells citado por Gottidiener (1997) nos
insuficiente e inadequada para o contexto amazônico convoca para pensarmos a crise social para além da
(CARDOZO, 2019, p. 1). expansão urbana, que tem como fundação a economia.
“Acredito que estamos à beira de uma catástrofe sócio
espacial gigantesca, mas não, como dizem os ecologistas,
O contexto de origem das sociedades por causa do processo de metropolitanização e devastação
humanas insere a contradição tão já conhecida, cidade- dos recursos naturais. É por que os novos interesses
campo. A cidade, com a divisão do trabalho e o comércio, dominantes e as novas revoltas sociais tendem a dissociar
logo se caracterizou como espaço de poder econômico, o espaço das organizações e o espaço da experiência. (pág.
político e cultural. A relação já posta pode ser mais 124). O pensamento de Castells começa a ser bifurcado,
entendida com Monte-Mór (s/d). Cidade e campo se ele volta o seu olhar para as relações sociais, essas sim
desenvolveram assim em relações antagônicas, mas estruturantes de uma civilização. Castells definiu a cidade
complementares, e a criação do município, outra herança como unidade espacial da reprodução da força de trabalho,
romana, acolhe em sua essência esse sentido rompeu com esse discurso de formação de uma teoria do
complementar de unidade urbano-rural tornando-se escala espaço e se aplicou a estudar a relação entre o Estado e o
de gestão autônoma entre nós. Espaço de assentamento. O urbano agora era percebido
enquanto um objeto autônomo de estudos sociais. Vale
ressaltar que Castells foi critcado por Gottidiener quanto
ao consumo coletivo definido por uma questão
O surgimento do território da urbana/territorial, Gottidiener afirma que o processo de
cidade, entretanto, prescindia de os consumo não é definível num contexto puramente
membros da comunidade residirem territorial, não corresponde a uma “questão urbana”, mas
no espaço delimitado pelo urbanum; antes, é parte da questão social geral. (pág. 125).
a cidade, urbe, simbolizada na urbs Diante do que foi citado da questão
de Roma, passou a ser o território social e suas múltiplas expressões
que materializou a sociedade serem o caminho para entender suas
politicamente definida pela polis ou facetas, é relevante os estudos
pela civitas, dando assim o sentido realizados sobre as novas questões
acabado à idéia de civilização. O sociais, tais a ambiental, a urbana, a
campo, espaço circundante dessa agrária, e tantas outras. O todo e o
centralidade – do poder religioso, particular se inter-relacionam, ao
político e/ou econômico – constituiu ponto de se fundirem a história da
sempre um território complementar humanidade. Assim, a cidade é uma
a uma centralidade urbana. dimensão de suma importância para
(MONTE-MÓR, S/D, pág. 02) entender todas as outras questões, a
ambiental, a social, a agrária, a
urbana, a espacial, etc. Vale
Posto isso, a cidade foi o grande ressaltar que essas questões trazem
empreendimento para o avanço da economia capitalista, diferenças dado contexto político em
mas também foi considerada como marca da estão inseridas. Um exemplo disso é
modernização com desenvolvimento. Daí poderíamos nos a violência. Segundo Patel (1997).
questionar se as cidades não eram importantes no período As características da violência no
colonial. Neste período, caracterizado em sua essência contexto urbano são: primeira os
pelo desenvolvimento da agricultura no campo, as cidades seus atos tem as principais
eram importantes “por seu papel como lugar de características, dados estatísticos
financiamento e comercialização dos bens primários apontam uma maior freqüência de
exigidos pelo mercado europeu.” (pág. 216). O avanço da violência nas áreas urbanas do que
industrialização foi operacionalizado pelo estímulo a nas rurais. São Paulo, por exemplo,
urbanização extensiva. Agora não haveria somente a tem 5% de mortes, homicídios, o
dominação da cidade sobre o campo, mas uma extensão mesmo para a Colômbia em 1995.
da primeira na segunda. Tal industrialização sempre foi Segunda característica: a
em nome de investimentos de capitais estrangeiros, intensidade com a violência é
verdadeiros sanguessugas dos recursos nacionais. praticada no meio urbano do que no
Principal exemplo disso são as multinacionais que se meio rural. No contexto doméstico,
instalaram no Brasil no período pós ditadura militar e particularmente, a violência é
cravaram seus dentes sobre os recursos naturais a custos freqüente em mulheres e crianças,
baixos. existem altos níveis de violência
física, sexual e não-física. Aumento

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da violência relacionado a impedido de ter, o que aponta muito mais para uma
incidência elevada de alcoolismo e questão de ser do que ter. Esse conceito de pobreza não
abuso de drogas no urbano. despreza a renda desigual de milhares de brasileiros, mas
justifica a importância de ampliá-la.
Para Lefebvre (1999), a cidade significou a Compreende-se também que o problema
total subordinação do campo. Isto é, o campo é sinal de não é fato de ambicionar o crescimento econômico
atraso econômico e até muitas vezes de local de pobreza. sacrificando o meio ambiente. É crescer com equidade e
O autor citado, denomina a cidade política, perpassada por justiça socioambiental. Assim, os níveis mais altos de
contradições e disputas. renda podem possibilitar padrões de consumo
ambientalmente mais limpos, induzindo uma trajetória
tecnológica com menor intensidade de degradação de
O tecido urbano prolifera, entende- consumo. Para o Brasil a questão ambiental, talvez tenha
se, corrói os resíduos de vida sido uma questão marginalizada e de ameaça ao
agrária. Estas palavras, “o tecido crescimento da economia industrial. Porém, sem a
urbano”, não designam, de maneira efetivação de um planejamento democrático, as agendas
restrita, o domínio edificado nas públicas acabam sendo atropeladas pelas necessidades
cidades, mas o conjunto das mais urgentes, especialmente do mercado, perpetuando-se
manifestações do predomínio da a expansão da pobreza.
cidade sobre o campo. Nessa Um exemplo disso é a política de habitação,
acepção, uma segunda residência, requerida por necessidades imediatas, tanto do mercado,
uma rodovia, um supermercado em com a especulação imobiliária, como do Estado em suas
pleno campo, fazem parte do tecido políticas públicas. Cardoso (2007) apoiando-se em
urbano. (LEFEBVRE, 1999, pág. Burgess et al.,(1997, pág. 38) “a suposição neoliberal de
17). um mercado auto-regulado transformou a habitação num
conceito econômico, dissociado de sua dimensão espacial.
Assim, os pobres começaram a invadir as terras, em
lugares de risco até, extendendo a sua má qualidade de
Nos anos 1930 a industrialização é vida. O neoliberalismo consolidou o capitalismo neste
reforçada para o desenvolvimento tardio das cidades século, mas por outro lado, este vem sofrendo com as
brasileiras. Em torno desse processo, gestam-se conflitos mazelas ambientais que vem prejudicando os seus
econômicos. Há também a repolitização das cidades, com empreendimentos. Dentro dessa perspectiva entendemos
o aparecimento dos movimentos sociais, destacando-se o que o desenvolvimento vem sendo discutido não como
movimento por reforma urbana. Assim, o meio urbano crescimento econômico, mas como liberdade de expansão
deixa de ser apenas o espaço da cidade, para se das capacidades (SEN, 2001).
transformar na totalidade do espaço. A década de 1980 em Há várias concepções de pobreza que são
diante revela um Brasil que caminha para a democracia, importantes para a compreensão da questão
com desigualdades regionais, e o grande inchaço ocorrido socioambiental. Com o desenvolvimentismo e
principalmente pelo movimento migratório campo-cidade. neoliberalismo, a pobreza se tornou a marca dos países
Segundo Maricato (2001, pág. 217): “A evolução dos chamados em desenvolvimento. Segundo Rakodi, C.;
acontecimentos mostrou que, ao lado de intenso Lloyd-Jones (2002) há que se levar em conta, nós
crescimento econômico, o processo de urbanização com precisamos entender como os contextos locais influenciam
crescimento da desigualdade, resultou numa inédita e na pobreza e quais as mudanças que nos contextos locais
gigantesca concentração espacial da pobreza.” podem reduzi-la. Há diferenças entre as áreas urbanas e
A segregação ambiental é uma das faces rurais, mas paradoxalmente, há também ligações, a
mais importantes da exclusão social e como pobreza assume características diferentes nesses
conseqüências deste processo, Maricato (2001) reforça, a contextos. Destaca-se a importância da agricultura para a
dificuldade de acesso aos direitos garantidos. A autora economia de muitos centros urbanos, e a redução da
criticamente argumenta que os pobres ocupam a cidade pobreza-diferenças dos contextos.
ilegal e são vítimas dos desastres ambientais, por Para Cardoso (2007) as cidades são os
habitarem em lugares vulneráveis e de riscos territórios que mais tem concentração espacial de pobreza.
socioambientais. Ela ainda afirma que “Isso desviou do meio rural para o
A pobreza é um campo que tem sido meio urbano a discussão sobre pobreza que ocorria até os
bastante estudado, e na maioria dos estudos tem sido anos 1980. Para definir pobreza a autora citada, faz uma
reduzida a uma questão de renda. Maricato (2001) nos leitura de determinados autores que a definem, em termos
alerta: quanto a caracterização da pobreza a partir de econômicos, por meio da renda e outros indicadores
números mensuráveis relativos à carência material sociais universais, para permitir comparações entre
obscurece o “cerne político da pobreza” ou a pobreza lugares diferentes, e por meio do tempo, por parte de
política. Ser pobre não é apenas não ter, mas sobretudo ser

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com
Pobreza e meio ambiente nas cidades do Brasil da América Latina

agências internacionais e governos nacionais. Cardoso comumente definidas como periféricas pelo resto da
(2007, pág. 42), complementa: sociedade, surgindo as favelas, estereotipadas como um
lugar de criminalidade e pobreza extrema.
O debate acerca da pobreza e sua relação
íntima com a questão ambiental que atravessa as
dimensões sociais, urbanas, rurais e políticas, revela uma
incessante inquietação, que Brasil nós estamos
construindo, e quanto tempo temos para mudar? Este
simples texto, embora de natureza teórica, é um fluido de
esperança que tenta tocar na realidade, tão distante muitas
[...] a pobreza definida pela renda vezes dos acadêmicos de renome.
não é um indicador muito útil Em suma, tudo isso, faz nos remeter a
quando a capacidade de acesso é atualidade da história ambiental no Brasil, tecida pelas
considerada, porque o acesso pode políticas públicas, concebidas como ações do Estado,
ser influenciado por fatores como principalmente com a constituição de 1988, que trata o
educação, informação, direitos meio ambiente enquanto direito no seu art. 225. A questão
legais, condições de saúde, violência ambiental de natureza política tornou-se pauta na agenda
e insegurança. governamental, e agora sofre com a disputa
Por conseguinte, para entender interministerial, ou até mesmo traduzida na má
como as pessoas pobres sobrevivem, implementação dos programas, projetos e políticas. Mas
algumas vezes vivendo abaixo da não podemos deixar de considerar as conquistas, a Política
linha de pobreza estabelecida Nacional de Meio Ambiente datada de 1981, que institui o
internacionalmente ou em pobreza Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), apontou
extrema, é preciso considerar outras para uma transversalidade das ações estatais na proteção
evidências baseadas em estudos ao meio ambiente, em decorrência disso, também fora
antropológicos. Esses estudos têm criado o Conselho Nacional de Meio Ambiente,
mostrado que o entendimento das importante espaço de exercício da participação da
pessoas sobre o que sejam sociedade, embora na prática não se configure desta
desvantagens difere daquele de forma, quando é tomado por uma democracia falsamente
profissionais (WRATTEN, 19995, representativa. A política ambiental urbana torna-se em
pág. 15), realçando que uma sua essência uma política urbana, norteada pelas agendas
importância significativa é dada a marrom, preocupada com a qualidade ambiental da
aspectos qualitativos tais como sociedade e a verde com um desenvolvimento urbano que
“independência, segurança, auto- insere o cuidado com as áreas de preservação da
estima, identidade, relacionamentos biodiversidade.
próximos e não-exploradores, Em 1989 foi criado o Instituto Brasileiro do
liberdade para tomar decisões e Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, que
direitos políticos legais” seria responsável por executar a política ambiental da
(WRATTEN, 1995, pág.15). Isso Presidência da República, que anteriormente isto era feito
implica que para produzir uma pela Sema (Secretaria Especial de Meio Ambiente), órgão
imagem clara da pobreza, são criado no governo dos militares. Em 1992, foi criado o
necessárias contribuições dos Ministério do Meio Ambiente para executar a política.
próprios pobres. Para Acserald (2001), a crise do Estado
neoliberal, aponta para um desmantelamento da política
Além dessas a autora, traz uma importante ambiental, esta sempre foi fragmentada em sua execução,
contribuição de Moser (1998), uma espécie de pobreza criando dificuldades para se integrar as ações do próprio
participativa em sua definição aliada a vulnerabilidade. governo. Daí destacamos que a convivência de vários
Entendemos que tal definição se vincula a relação pessoa- projetos políticos na execução das políticas ambientais,
ambiente, costurada pelos fatores subjetivos, geralmente interferem no resultado e alcance das ações, planos,
desconsiderados em análise quantitativas de pobreza, estes projetos e programas. A preocupação hoje é como fazer a
influenciam na qualidade de vida das populações em política ambiental acontecer em seus entes federados de
vulnerabilidade social e ambiental. Outra concepção forma descentralizada, sem Estado. Ou melhor,
abordada pela mesma autora é a pobreza enquanto concordamos com Francisco de Oliveira, com um
ausência de perspectivas na vida. Depreende-se desta “Estado-anão”, para realizar as políticas ambientais. Dado
abordagem que a pobreza também se expressa que a participação do terceiro setor é de suma importância
espacialmente. Segundo Cardoso (2007, pág. 45): “em no trato das questões ambientais, mas as ONG’s tem
países em desenvolvimento, o pobre é freqüentemente despolitizado este campo. Assim, a estrada já existe, e
isolado geograficamente em certas áreas das cidades, vale ressaltar que ao tentar conhecermos a questão da

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com
Luan Gomes dos Santos de Oliveira, et al

cidade-meio ambiente-política no Brasil, nos instiga em VIANA, Gilney; SILVA, Marina; DINIZ, Nilo
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