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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DO DESENVOLVIMENTO


REGIONAL

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Muros (in) visíveis

Alexsander, Camila Lessa, Iago Panisset , Karyni Freitas e Lohan Barreto

Campos dos Goytacazes, RJ.

Fevereiro/2020
1. APRESENTAÇÃO DO TEMA

O modo de organização espacial das cidades brasileira sofre mudanças ao


longo dos períodos da história, como por exemplo, o processo de favelização e
periferização das classes mais pobres, que ocorreu por volta do período da ditadura
militar no brasil. Onde as comunidades mais pobres que ainda tinham a
oportunidade de morar em pequenas vilas nos centros das grandes capitais, com
incentivos do governo, através de programas sociais de auxílio de compra de seu
próprio imóvel, essas pessoas eram tiradas dos grandes centros e deslocadas às
periferias das cidades, o que se agrava com o êxodo rural da época, onde, estas
pessoas também, ao chegar às cidades, se estabeleceram nessas periferias,
formando as comunidades que conhecemos hoje. Segundo Pequeno (2008 p. 4):

Para parcela considerável da população que não possuía vínculos com organizações
trabalhistas, restou como opção, contribuir com a expansão das cidades, a partir da
aquisição de lotes em assentamentos periféricos, fazendo-se difundir a lógica da
propriedade privada em substituição à moradia de aluguel, através da autoconstrução
nas periferias urbanas.

“A favela constitui um fenômeno que, no espaço das últimas décadas,


evoluiu, criando vários mecanismos sociais ausentes em outras partes da cidade”
(POLAK, 2014, p.1). Estas comunidades então, vem a ter uma identidade própria
em relação às demais áreas do município por muitas vezes, não ter acesso aos
grandes centros, forma a qual o estado encontrou para segregar tais áreas
estigmatizadas, fazendo assim com que elas criem um próprio universo cultural e até
mesmo de poder, paralelo as demais áreas do município. Em função do abandono
sócio-político e das inúmeras mazelas aos quais é submetida esta população, como
a falta ou dificuldade de acesso à educação, saneamento básico, saúde, segurança
e emprego, a criminalidade urge e organiza-se em facções em meio a realidade
dicotômica de Estado ausente e presente, que ora se omite frente à oferta de direitos
básicos a população e ora intervém abruptamente na tentativa de impor a ordem
nessas áreas. Conforme Polak (2014):

A favela, operando no espaço do tempo em forma de enclaves, criava não


apenas as formas culturais em separação ao resto da cidade; um processo
semelhante ocorre no sentido das relações de poder, pois, à medida que os
governos oficiais por longos períodos de tempo não exerceram um controle
efetivo sobre o território e o espaço da favela, desenvolveram-se nelas as
estruturas paralelas.
No presente trabalho foram observadas estas dinâmicas nas comunidades
da Linha, Baleeira, Tira gosto (TG) e CODIM, localizadas no município de Campos
do Goytacazes. As comunidades citadas estão envoltas em uma realidade de
conflitos e disputas de poder. Segundo Souza (2010), o conflito entre Baleeira e Tira
Gosto teve início no final dos anos 80 e se mantém até os dias de hoje. A
comunidade da Linha está localizada ao lado da Baleeira, cuja facção é A.D.A.
(Amigos dos Amigos), enquanto a Tira Gosto pertence ao T.C.P. (Terceiro Comando
Puro) (POLAK, 2014). As facções atuam como as detentoras do poder na região,
muitas vezes oferecendo assistencialismo e estipulando regras e condutas para os
moradores e visitantes. As “leis” variam de comunidade para comunidade, adotando
práticas com padrões similares aos do poder legal, porém com métodos de
fiscalização e aplicação de penas diferentes dos habituais, que o Estado pratica.
Observamos regras como toques de recolher, a proibição da entrada de moradores
de outra comunidade (regida por facção rival), a proibição de furtos na região (sob
pena de morte), imposição de limites de velocidade para carros transitando dentro
da comunidade, a necessidade de identificação antes da entrada (“Apaga o farol e
abaixe o vidro”), entre outras.

Pode-se observar também no município a segregação espacial entre as


comunidades e as áreas centrais e nobres, sendo esta uma representação da
segregação social existente, baseada no nível socioeconômico. O fenômeno da
segregação manifesta-se de formas tanto físicas, quanto simbólicas em Campos
(RJ). A colocação de barreiras de contenção pelo Estado em acessos à comunidade
próximos as grandes rodovias ou áreas centrais são um exemplo claro de muros
físicos impostos, bem como as barricadas feitas com entulho colocadas em suas
entradas pelas organizações criminosas, para melhor controle da entrada e saída.
Ao passo que são construídas delimitações físicas que separam a comunidade do
resto da cidade, enfatiza-se a segregação espacial.

Ademais, há a construção de uma espécie mais sutil de muros, mas


igualmente separatista, que se manifesta na dificuldade do acesso dos moradores
das comunidades às áreas centrais e a estigmatização sofrida por esta população.
Esta dinâmica dos muros invisíveis é notória no transporte público de Campos, que
possui frota insuficiente para as regiões periféricas, sendo necessária a atuação do
transporte alternativo para que os moradores das comunidades possam circular pela
cidade. Aos finais de semana identificamos o fluxo ainda menor de ônibus das
regiões periféricas para a central, dificultando o acesso a diversas áreas de lazer,
socialização e cultura que se concentram majoritariamente no centro. Em soma,
diversas linhas que transitavam dentro ou próximo a diversas comunidades foram
cortadas com a nova gestão do transporte Andacampos.

A estigmatização dessa população também contribui para a segregação,


pois esta é associada a uma classe perigosa (RODRIGUEZ et al, 2013),
“culturalmente pobre, indeterminada em sua identidade, o que não permite que seja
tratada de forma normal no sentido social” (POLAK, 2014). Além do estigma que os
moradores das comunidades carregam, estes costumam ser associados “à
desordem urbana pelo viés do tráfico de drogas” (RODRIGUEZ, 2011 apud
RODRIGUEZ, 2013). Diversos estudos demonstram que há a idealização do tipo
criminoso como jovem negro e morador de favela, demonstrando como o local de
moradia somado ao racismo são fatores determinantes para tornar esse grupo ainda
mais rejeitado e excluído socialmente. Considerando que conforme dados coletados
pelo IPEA nas favelas 40,1% das casas são chefiadas por homens negros, 26% por
mulheres negras, 21,3% por homens brancos e 11,7% por mulheres brancas, a
majoritariedade da população negra nas favelas é clara, bem como a dinâmica de
segregação pautada nas questões raciais.

2. POR QUE ESSE ASSUNTO É IMPORTANTE PARA PSICOLOGIA


SOCIAL?

A psicologia social crítica atua como um instrumento para a transformação social,


já que pode desvelar a realidade e mostrar diversas possibilidades de superação
que existem socialmente. Como destaca Goldman, (1979. p.16) "as ciências
humanas devem ser filosóficas para serem científicas". Todas as teorias científicas
expressam uma determinada concepção geral sobre o homem e o mundo. O mundo
material não pode ser transformado diretamente por ideias, mas certamente elas
podem atuar como mediadoras da ação humana transformadora. A psicologia social
ao estudar fenômenos sociais importantes- como o preconceito e a discriminação
abordados nesse trabalho- pode agir como agente de mudanças. A problematização,
questionamento de questões sociais naturalizadas fomenta novos olhares sobre uma
problemática e a criação de intervenções possíveis.

Uma vez que a temática da segregação das populações periféricas está


atravessada por diversas violências, entre elas as questões raciais, o preconceito, a
falta de acesso e oportunidades e visto que estas são questões de adoecimento
tanto individual (psíquico) quanto coletivo, entende-se a relevância da temática para
a Psicologia Social. Portanto, essa problemática é importante para a Psicologia em
geral para denunciar e combater as desigualdades geradoras de intenso sofrimento,
além de articular novas formas para se pensar e combater o problema.

3. POR QUE O TEMA É IMPORTANTE PARA NÓS?

É de suma importância que todos nós, tanto como cidadãos ou futuros


psicólogos, pensemos na devida situação na qual se encontra o país com seus
inúmeros “muros invisíveis”. As desigualdades e exclusões sociais são produzidas e
reproduzidas pela ação social dos diversos tipos de atores sociais e esta, por sua
vez, é estruturada pelas condições pré-existentes das desigualdades. As favelas
refletem a desigualdade de um sistema econômico baseado na exclusão, tema que
nos toca por estar próximo às nossas vivências.

4. O QUE SE TEM FALADO SOBRE ISSO? (BIBLIOGRAFIA)

As transformações socioespaciais que ocorrem, sobretudo na área urbana,


são produzidas por ações de agentes sociais. Por este contexto, as áreas de maior
concentração de poder aquisitivo, acabam por receber maiores investimentos
públicos e privados. Paralelo a essa distribuição desigualitária, há as comunidades,
que confrontam esses interesses através do uso do seu espaço, criando uma forma
não legitimada de poder.

Ao definir Poder como algo que difere de um objeto e que não tem uma
essência, Foucault dirá que o poder está localizado em toda sociedade, coexistindo
ao social. Há uma rede de poderes moleculares e formas de poderes que não
pertencem ao Estado, que se articulam de várias formas indispensáveis e com
atuação eficaz. Como consequência da negligência do poder estatal sobre o bem
estar social dos que habitam esses espaços, ocorre uma brecha e uma necessidade
de articulação entre os poderes locais, para preencher as lacunas do Estado.

"A questão do poder fica empobrecida quando é colocada unicamente em


termos de legislação, de Constituição, ou somente em termos de Estado ou
de aparelho de Estado. O poder é mais complicado, muito mais denso e
difuso que um conjunto de leis ou um aparelho de Estado. Não se pode
entender o desenvolvimento das forças produtivas próprias ao capitalismo;
nem imaginar seu desenvolvimento tecnológico sem a existência, ao mesmo
tempo, dos aparelhos de poder".
(FOUCAULT, 2001, p. 221)

Foucault (2001) também aponta o poder como algo que circula e que só
funciona em cadeia, por isso jamais estaria em um lugar fixo, pois não pode ser
apossado. Há uma rede de poderes onde se encontram formas mais periféricas que
se aproximam do corpo social. O autor define então o conceito de micro-poder, que
seria esse poder periférico e que tem efeito direto na vida dos excluídos socialmente;
e o macro-poder, que seria um poder central, vindo do aparato estatal, considerado
superior e que se distancia do corpo social. Em consonância, Polak (2014) em seu
artigo discorre sobre as relações de poder nas favelas, estabelecendo que como “os
governos oficiais por longos períodos de tempo não exerceram um controle efetivo
sobre o território e o espaço da favela, desenvolveram-se nelas as estruturas
paralelas” e logo se criaram novas formas de culturais em separação ao resto da
cidade.

Podemos observar o micro-poder nas favelas sendo exercido pelos ditos


marginais, por se tratar de um poder exercido em um âmbito espacial limitado, ele
está mais atento às necessidades e interesses daquele lugar, tomando decisões que
muitas das vezes acabam por ser harmônicas com a realidade do local, seja através
da disponibilização de internet, TV, pela proibição de roubo de moradores, etc. O
que difere do que acontece quando tais decisões partem do Poder Central. Que se
utilizam do pretexto de beneficiar famílias para atender as demandas de agentes
superiores, desconsiderando o bem estar dos que ali habitam.
Um exemplo bem próximo da nossa realidade que encontramos, foi a
realocação dos moradores da comunidade chamada “favela da linha” aqui de
Campos, através de um projeto chamado morar feliz. Esse projeto foi responsável
por realocar os moradores para conjuntos habitacionais localizados em regiões
completamente distantes da área central da cidade, essas casas ficaram conhecidas
popularmente como “casinhas”, gerando inúmeros problemas de acesso à saúde
básicas aos moradores, como: dificuldade de transporte até as escolas, ausência de
Unidades Básicas de Saúde (UBS) próximas, conflitos entre moradores que eram de
favelas rivais, etc.

É importante ressaltar que o Estado também está presente nesses lugares,


o que difere da sua atuação nas áreas nobres, é que nas favelas ele atua como
estado penal, através de uma necropolítica, que tem como alvo de extermínio o
corpo preto, pobre e favelado. Tornando todos os moradores alvos em potencial
para atuações de extrema violência. Um exemplo recente é o governador do Estado
do Rio de Janeiro sobrevoando uma comunidade e acompanhando disparos de tiros
em direção a essa comunidade sem distinção de alvo.

Diversos autores mais atuais também trazem como estudo essa


problemática. Rodriguez et al (2013) realizou um estudo sobre as perspectivas de
estudantes do projeto "Imagens do Povo - Escola de Fotógrafos Populares da Maré",
onde foi perguntado a estes moradores sobre o lugar que habitavam. Nos resultados
foi estabelecido que os jovens apesar de falarem sobre a violência e as mazelas
trazidas pela segregação, diversos outros aspectos tomaram o discurso desses
jovens. Segundo os autores “a representação hegemônica de que os jovens
moradores das favelas somente vivem uma realidade caracterizada pela violência é
simplista e borra a complexidade de suas vivências”. Logo, a visão construída sobre
as comunidades e seus habitantes vem contaminada com uma série de preconceitos
advindos da segregação, entre eles “as representações sociais que alimentam
gradativamente um medo e incômodo na população que não reside em favelas
sobre essas áreas e seus moradores” (RODRIGUEZ et al, 2013).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem das comunidades pela mídia, o racismo estrutural e a visão
popular construída em torno do tema reforçam a favela como zonas de violência e a
marginalização de seus moradores. Esta dinâmica pôde ser observada em campos
(RJ) com a criação de muros visíveis e invisíveis que segregam física e
simbolicamente grande parte de sua população, os privando do acesso livre à cidade
e de um tratamento digno e igualitário.

Podemos concluir que, um estado que não assume responsabilidade pelas


especificidades do seu povo, perpetua essas mazelas sociais. A falácia da
democracia racial acarreta na criação de políticas ditas igualitárias, mas que acabam
por privilegiar uma raça (branca) em detrimento da outra. As políticas públicas
existentes não possuem engajamento o suficiente para atender as demandas
dessas comunidades, pois elas não são ouvidas. Através do que foi apontado ao
longo do seminário, podemos constatar que onde o estado se ausenta, outra força
se faz presente.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOLDMAN, Lucien. Ciências Humanas e Filosofia. Rio de Janeiro: Paz e Terra,


1979.

RODRIGUEZ, Andrea et al . Olhares sobre a favela: intervenção junto à Escola de


Fotógrafos Populares da Maré. Psicol. teor. prat., São Paulo , v. 15, n. 3, p. 107-
117, dez. 2013.

PEQUENO, Luis Renato Bezerra. Políticas habitacionais, favelização e


desigualdades sócio-espaciais nas cidades brasileiras: transformações e tendências.
2008.

FOUCAULT, Michel. Sobre a história da sexualidade. In: Microfísica do Poder.


Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2001,
p.243-276

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da prisão. 30. ed. Petrópolis: Vozes,
2005.
POLAK, Marek. Relações de poder na favela carioca: um breve esforço
analítico », Espaço e Economia [Online], 5 | 2014, posto online no dia 22 dezembro
2014, consultado o 07 fevereiro 2020. URL :
http://journals.openedition.org/espacoeconomia/1141 ; DOI :
https://doi.org/10.4000/espacoeconomia.1141

RODRIGUEZ, A. Labirintos do tráfico: vidas, práticas e intervenções. Em busca


de saídas possíveis. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, 2011.

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