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V ENCONTRO INTERNO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

CONVÊNIO CNPq/UFU
IX SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
CONVÊNIO FAPEMIG/UFU
2005
Universidade Federal de Uberlândia
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
DIRETORIA DE PESQUISA
COMISSÃO INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

AS CONTRADIÇÕES DO SISTEMA E AS CRISES CAPITALISTAS


Resumo

O artigo em questão se propõe a discutir o fenômeno da crise capitalista a partir do arcabouço


teórico marxista. Para tanto, procura-se identificar os elementos constituintes dos ciclos econômicos: a
causa, o conteúdo, e suas formas de manifestação. As análises são feitas do ponto de vista do todo da
economia, sem incorrer na falácia da composição.
O capitalismo é uma forma de produção específica e historicamente determinada, e desde de sua
gênese apresenta um comportamento cíclico. A história econômica recente não é diferente e apresenta
situações recorrentes de crise. Nos anos 1990, o fenômeno se repetiu em vários países provocando
impactos globais. Eis a necessidade de explicá-la.
Nosso intento nesse trabalho é apresentar as leis econômicas que condicionam o desenvolvimento
das forças produtivas e embasam as relações sociais entre os indivíduos. A crise é uma delas, é um
desdobramento das contradições inerentes ao sistema. E como ela não é previsível tem suas
conseqüências devastadoras agravadas, atingindo em maior ou menor grau todos as pessoas de uma
sociedade.
Demonstramos que o objetivo principal do capitalismo é a valorização do valor, de forma que o
processo de trabalho é um meio (necessário) para o processo de valorização, que permite a extração da
mais-valia (fito da produção). Portanto, a produção não tem como fim a satisfação das necessidades
humanas, mas ao contrário a geração de lucro. Destarte, a valorização do valor desdobra-se na
autonomização da produção pela produção, levando à tendência do capital de se abstrair das
determinações de sua valorização, a força de trabalho.
Conclusão, o estouro de uma crise explicita a contradição entre o caráter social da produção e a
forma de apropriação privada capitalista. Ela representa estancamento da produção e depreciação do
capital por um lado, e por outro, engendra as condições de um novo processo de acumulação.

Palavras-chave: ciclos econômicos, contradições do sistema capitalista , forças produtivas , relações


sociais , crises.

1. INTRODUÇÃO

A historia econômica, em especial a que retrata as situações mais recentes tem apresentado
elementos suficientes para a compreensão de que a crise é uma característica inerente ao sistema
capitalista e é recorrente. As depressões de 1929 e da década de 1970 serviram para desmistificar a
aparente “harmonia” que constituiria o sistema capitalista, em que as desigualdades pareciam compor
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uma diversidade. Uma observação do fenômeno mais acurada, com foco na natureza cíclica do mesmo,
reforça esse entendimento que vem se tornando cada vez mais claro aos olhos daqueles que o analisam
com rigor científico.
Genericamente falando, nos países periféricos tal situação se mostra mais corriqueira, posto que
suas economias parecem estar sempre em crise ou pelo menos bem perto disto. Há elementos que
embasam a crença de que tais economias se encontram à margem da acumulação de capital e, portanto,
parecem estar sempre submetidas às economias centrais que são quem ditam as “regras do jogo”.
Em verdade, é o próprio Modo de Produção Capitalista que possui leis econômicas que
condicionam o desenvolvimento das forças produtivas e determinam as bases em que se estabelecem as
relações sociais entre os indivíduos. Nele encontram-se dois grandes extratos sociais opostos que
servem de motor para o desenvolvimento supramencionado. O maior deles, a classe trabalhadora possui
apenas sua própria força de trabalho, não tendo qualquer alternativa o trabalhador senão aliená-la a fim
de manter seu sustento e de sua família. Na outra ponta está o capitalista proprietário dos meios de
produção (máquinas, equipamentos, instalações e outros) necessários ao processo de valorização do
valor, o qual constitui seu objetivo mor. É na produção que o capitalista combina os elementos
objetivos (máquinas, matéria-prima) com os elementos subjetivos de produção (força de trabalho) a fim
de engendrar valor novo de onde ele extrai a mais-valia necessária a sua sobrevivência e,
principalmente, à sobrevivência do sistema.

1.1. O Ciclo Econômico

Mas nem sempre tais condições de reprodução são repostas naturalmente. As crises se apresentam
como uma lei que se impõe redirecionando o curso do desenvolvimento, ainda que ela carregue consigo
conseqüências desagradáveis e, aparentemente impertinentes, à sociedade. Esse fenômeno é na verdade
um componente do ciclo econômico que faz parte do sistema capitalista e por pior que seja, ele
desempenha papel preponderante na economia.
A natureza cíclica da economia significa uma certa regularidade de fatos que se desdobram numa
determinada seqüência. O estouro de uma crise produz a depressão, que prepara o terreno para a
recuperação (nova acumulação) que, intensificada, promove o momento de auge, o qual, por sua vez é
pré-requisito para uma nova crise. Em outras palavras, uma crise e suas conseqüências gerais compõem
as condições elementares para o surgimento de uma nova crise que certamente virá após um momento
de auge caracterizado pelo desenvolvimento extremo das contradições do sistema.
Não se trata de um movimento regular e contínuo, de um “ciclo puro”, uma vez que ao longo de
vários momentos de auge e de depressão, novas condições são estabelecidas em função das mudanças
técnicas, organizacionais e financeiras que se processam, o que garante peculiaridades a cada novo
ciclo. Não se trata, portanto, de um fenômeno previsível.

1.2. Um debate polêmico

O debate sobre as crises passa por inúmeros aspectos político-sociais decorrentes e manifestantes do
fenômeno, os quais têm impactos significativos na vida das pessoas, sejam elas de quais classes forem,
a pesar de ser a classe trabalhadora quem mais é sacrificada para se restaurar a “ordem” econômica
capitalista. As crises, em geral, especialmente as mais duradouras, não poupam ninguém de suas
conseqüências devastadoras. A grande polêmica que se verifica nas formulações de autores marxistas e
até não-marxistas a respeito do tema demonstra que está longe de cessar as indagações e concepções

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teóricas elaboradas a respeito do tema, ainda que discussões mais intensas se verificassem quando das
manifestações do fenômeno e até mesmo logo após as crises ocorridas na história do capitalismo.
O trabalho em questão limitar-se-á ao estudo das crises com base em autores identificados à
corrente teórica marxista, cotejando as diversas abordagens a respeito do tema para ressaltar os aspectos
polêmicos e, principalmente, as questões que apresentam divergências fundamentais com o arcabouço
teórico marxiano.
Ainda que seja um assunto recorrente e que está sempre na pauta dos estudos econômicos
capitalistas, não se tem uma teoria pronta e acabada sobre as crises que se possa assegurar, sem
ressalvas, uma coerência plena com o legado de Karl Marx. Sem dúvida, os elementos deixados por
Marx a respeito daquilo que seria sua teoria das crises foram os pontos de partida para os autores de
tradição marxista.
Não significando, entretanto, que tenham todos aceitado ou mesmo compreendido totalmente os
pressupostos e caminhos percorridos pelo autor da obra O Capital. Mas, ao contrário disso, houve
muitas críticas que inclusive se propunham internas, isto é, objetivando criticar aquilo que seria o
pensamento marxiano sobre as crises, alguns autores tentaram manter os pressupostos e categorias
apresentadas pelo autor, porém muitos deslizes foram cometidos: por manipulações matemáticas
descabidas, mas principalmente por incompreensão de questões fundamentais da obra.

2. LEIS GERAIS CAPITALISTAS

A Lei Geral da Acumulação Capitalista, identificada por Marx, demonstra que a acumulação de
capital como um processo constante e crescente implica elevação contínua da produtividade do trabalho
e elevação contínua da composição orgânica do capital. Portanto, cada vez maior será a participação
relativa da maquinaria, das matérias-primas e dos materiais auxiliares no processo produtivo e menor
será o tempo de trabalho necessário para produzir uma mercadoria, o que significa que cada vez menos
trabalhadores são necessários para produzir um mesmo volume de mercadorias. Sem falar que o
aumento da intensidade do trabalho tem semelhante efeito no que tange à liberação de trabalhadores do
processo produtivo. Tanto o aumento da produtividade quanto o da intensidade do trabalho diminuem a
necessidade relativa de força de trabalho em uma determinada atividade produtiva.
Nesse contexto, a concorrência impele os capitalistas a adotar inovações técnicas para produzir
mais em menos tempo, pois eis a condição de existência que se impõe a eles. Ninguém quer estar nas
piores condições de produção com preço de produção superior ao preço de produção médio. Ao
contrário disso, todos se esforçam não só para estarem nas melhores condições, mas, outrossim, para
serem os melhores. Ser o melhor é a única maneira que um capitalista tem de manter a sua segurança,
de não sucumbir.
Da mesma forma, a concorrência entre os trabalhadores força os preços dos salários para baixo. A
cada movimento de aumento de produtividade - introdução de novas tecnologias - e sua conseqüente
liberação de trabalhadores (incremento da população supérflua), os salários sofrem golpes e se
reduzem. O valor da mercadoria força de trabalho é reduzido, pois também foi reduzido o valor das
mercadorias necessárias a sua reprodução, os meios de subsistência. Esse é o real motivo da queda dos
salários e do nível de preços da economia em geral, a saber, a queda de valor do conjunto das
mercadorias.
A contradição derivada da concorrência é que ao mesmo tempo em que se produz maior quantidade
de valores de uso e magnitudes maiores de valor com o aumento da produtividade do trabalho,
configura-se uma situação de queda relativa do valor, ou seja, cada nova mercadoria possui menos
valor. Como a acumulação capitalista se dá em escala alargada é de se supor que o capitalista terá de

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aumentar continuamente o volume de mercadorias que produz para valorizar o mesmo montante de
valor anteriormente acumulado. Mais do que isso, ele deverá produzir maior quantidade de valores de
uso para poder acumular em escala ampliada. Não há duvidas que no sistema capitalista a reprodução
se dá de forma ampliada, faz parte da lógica do mesmo.

2.1. As principais contradições do Sistema

Dentre o conjunto de contradições do sistema, destaca-se a contradição básica do mesmo que se


configura na unidade entre valor e valor de uso presente na constituição da forma elementar do capital:
a mercadoria. Nela se situa o germe da crise, a contradição primeira. As contradições implícitas na
produção (basicamente de valor de uso / valor) são generalizadas e transformadas pelo capital.
Com isso, a valorização do valor, ao desdobrar-se na autonomização da produção pela produção,
implica, contraditoriamente, na tendência recorrente do capital a se abstrair das determinações de sua
valorização (a força de trabalho) e, portanto, das determinações da própria produção de valores. É neste
contexto que o capital contém a tendência à superprodução e à negação do trabalho imediato.
É nas crises que as contradições imanentes da produção capitalista se exteriorizam de forma mais
marcante e aparentemente se resolvem. Elas são contornadas momentaneamente, para em seguida
serem retomadas quando do retorno à normalidade do regime. As crises explicitam como o capital
ultrapassa os limites de conservação e valorização do valor, e é com a desvalorização geral que a
produção volta a se dar no interior desses mesmos limites. Como a decisão de produzir possui um
caráter privado, nem tudo que é produzido necessariamente será aceito pela sociedade. Trata-se de uma
contradição originária da separação entre compra/venda, a qual por si só já abre a possibilidade de
crises. A partir do momento em que os valores produzidos não são confirmados pela sociedade
configuram-se uma crise de realização, caracterizada pela superabundância de mercadorias.

2.2. A Contradição entre Produção e Apropriação

Soma-se à anterior, a contradição entre a produção e a apropriação. Mas, aqui não se trata da
decisão de produzir, mas do esforço, do trabalho de produzir propriamente dito, no qual o trabalhador
exerce papel primordial e, por isso a produção é um resultado do trabalho social. Já a apropriação dessa
mesma produção é privada e é o capitalista quem tem direito ao valor adicional resultante dela. Mas
como a lógica do sistema o impele a acumular e aumentar o montante de valor a se valorizar, ele terá
muito motivos para tanto. Só assim o capitalista se vê capaz de vencer a concorrência ou mesmo capaz
de se manter operante.
Ainda que as crises, momentaneamente, contornem as contradições do sistema, elas não são
capazes de suprimi-las, pois fazem parte da lógica inerente ao sistema, são necessárias ao
funcionamento “normal” dele. É por meio das crises que a unidade entre opostos (produção e
realização) é reconstituída. A partir dela as condições para uma nova acumulação são repostas.
Já que a produção de mercadorias neste sistema é ilimitada, produz consumidores abundantes e,
concomitantemente, os impede de consumir, haveria de ter algum elemento que anulasse as leis que
produzem os efeitos acima citados e as demais contradições do modo de produção capitalista para que o
problema fosse resolvido plenamente. A crise definitivamente não tem essa capacidade de atuar na raiz
desse problema. Ao contrário disso, ela é uma lei capitalista necessária ao funcionamento do sistema e
por isso jamais poderia ser solução para algo que a contém.
Pelo fato da crise se manifestar como desequilíbrio entre oferta e procura não significa que ela
possa ser eliminada ao se combater suas formas de manifestação. É o mesmo que tentar resolver um

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problema atacando suas conseqüências e não a causa. Ainda assim não foram poucas as tentativas de se
resolver o problema por essa via. Mas, neste sistema é inconcebível pensar em planificação central da
produção a fim de compatibilizar a oferta com a demanda da sociedade. Primeiro porque a decisão
privada da produção é um direito do capitalista baseado em sua propriedade dos meios de produção. É a
propriedade privada, um dos principais pilares desta sociedade. Como se não bastasse, a necessidade
social também é de difícil mensuração principalmente ao permanecer a dinâmica capitalista em sua
essência, onde o indivíduo tem enorme autonomia.
Eis que a crise é deliberadamente um fenômeno inerente ao modo de produção vigente e, portanto,
regido pelas mesmas leis que regem o sistema capitalista. Esse fenômeno antes de manifestar-se tem de
preexistir de forma embrionária. Esta por sua vez, só é percebida se a ciência for além da aparência. O
embrião deve atingir um determinado estado de maturação até atingir a forma fenomenal. Neste
contexto, a mercadoria contém o germe da crise, a qual nada mais é do que a forma assumida pelo
produto do trabalho.
A mercadoria simboliza o conjunto de ações e relações sociais que caracterizam o sistema, sendo o
primeiro elemento mistificador desta sociedade que reifica as relações humanas conferindo exagerado
valor e importância aos objetos, que não passam de produtos da ação humana.
Por definição, a mercadoria deve conter valor e valor de uso, deixando de sê-lo a medida em que
perde qualquer uma delas. Para que esse valor seja realizado o mesmo tem de ser aceito pela sociedade
como tal. Isso significa que o produto do trabalho humano é apenas mercadoria em potencial, ou seja,
necessita ainda de ser reconhecido socialmente.
A possibilidade de um produtor não se apropriar dos valores que ele produziu se dá na medida em
que a mercadoria nega a condição de valor de uso para quem a produz. Por isso um produtor haverá
sempre de se relacionar com outro para se apropriar do valor que produziu e, caso isso não aconteça
configura-se uma destruição de trabalho humano gasto inutilmente. Por outro lado significará a redução
da capacidade de consumo social, dado que aqueles produtores que não conseguiram vender suas
mercadorias não terão como comprar outras.
Essa possibilidade de não realização dos valores das mercadorias está relacionada com o
surgimento do dinheiro como meio de circulação. Ao assumir a função de meio de circulação D
transforma o par compra-venda numa unidade de contrários ao separar a unidade entre as condições de
produção e as condições de realização (venda). Esta unidade só é restabelecida com as crises. Eis o
marco da transição para a sociedade mercantil em que a produção é direcionada para a venda e a
parcela destinada ao autoconsumo é insignificante.
A segunda forma de manifestação do fenômeno crise origina-se com a função do dinheiro como
meio de pagamento, a qual permite que atos de compra e venda sejam realizados sem a presença física
do dinheiro. De um lado isso significa que maior quantidade de mercadoria poderá circular com uma
quantidade inferior de dinheiro real. Por outro, a oposição Dinheiro e Mercadoria apresenta-se agora
como autonomia do primeiro em relação ao segundo. Se essa autonomia, porém, estende-se além de
certos limites, a unidade prevalecerá contra ela, violentamente, por meio de uma crise.

3. CRISE: UM FENÔMENO NECESSÁRIO

Quando se fala em crise de abundância ou de superprodução não significa que não há consumidores
suficientes para as mercadorias produzidas, nem tampouco que as necessidades sociais estejam
completamente satisfeitas. Assim como se verifica o excesso de mercadorias, também existe excesso de
população consumidora em potencial. No sistema capitalista a produção não objetiva a satisfação das
necessidades humanas de consumo. Ela visa a valorização do valor pelo capitalista proprietário dos
meios de produção. No limite o que importa é o lucro resultante da atividade.
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Na verdade, o fenômeno chamado de superprodução não é caracterizado pela falta de capacidade de
consumo ou falta de procura. É marcado pela impossibilidade de consumir diante da abundância de
mercadorias, o que não permite concluir que há excesso de mercadorias propriamente dito. Mas, ao
contrário disso, existem necessidades que não estão sendo satisfeitas embora haja condições materiais
na sociedade suficientes para tanto. Eis então o conteúdo do fenômeno chamado de crise de
superprodução ou subconsumo.
É partindo da análise deste ponto da teoria marxiana que muitos estudiosos de economia concluíram
que a solução para as crises estava na criação de condições para consumir para esta população excluída
do consumo, através de políticas distributivas de renda e mecanismos de seguridade social, bem como
por meio de uma massiva participação do Estado na geração de demanda a fim de movimentar a
economia tornando-a mais dinâmica. Esse conjunto de ações deveria garantir uma “harmonia
econômica”, evitando as crises.
Uma vez que o capitalismo induz um aumento ilimitado da produção criando novos consumidores,
mas impedindo-os de consumir, aparece um abismo entre o que é produzido e o que é consumido, pois
o próprio sistema impõe limites, barreiras ao consumo das massas. E quando essa realidade é
artificialmente modificada, o máximo que se consegue é postergar o problema que virá “acumulado”,
mais forte.

4. FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA CRISE CONFUNDIDAS COM A CAUSA

As teorias que adotaram os esquemas de reprodução (seja para extrair novas conclusões da original,
seja para embasar novas formulações) demonstraram a incompreensão - por parte de seus autores - do
elevado nível de abstração da análise dos esquemas com dois setores desenvolvidos no livro II tomo III
de O Capital.
O longo desenvolvimento da concepção original da lei da queda tendencial da taxa de lucro levou
pesquisadores importantes a acreditar que estaria nela a chave para a explicação do fenômeno crise.
São três as principais interpretações da teoria marxista das crises. Para a teoria das Desproporções, a
anarquia da produção capitalista é a causa básica da crise cíclica. A falta de planejamento centralizado
da produção e, portanto, o caráter privado das decisões de produção impede que se estabeleçam
condições de equilíbrio espontaneamente entre o que é produzido de bens de produção e bens de
consumo, ou melhor, não se consegue estabelecer um crescimento proporcional do valor produzido e
fluxos de dinheiro gerado no departamento I e no Departamento II.
Todavia, os autores adeptos dessa linha que aponta a desproporção entre produção e consumo como
causa das crises não atentam para o fato de que essa situação de desequilíbrio é inerente ao capitalismo
e independe do desenvolvimento desproporcional entre os dois setores da economia. Eis uma
característica sempre presente na dinâmica do processo de acumulação.
O próprio Tugán-Baranóvski, um dos principais proponentes desta interpretação, demonstrou
“matematicamente” que o setor de bens de produção poderia se desenvolver de forma totalmente
independente do setor que produz bens de consumo. Mesmo que a produção deste último tendesse a
cair, esse descompasso de desenvolvimento entre os dois setores não resultaria em crise alguma.
Já a teoria subconsumista das crises aponta a diferença entre o que é produzido e o consumo das
massas como sendo a real causa das crises de superprodução capitalista, a qual se apresenta como um
excesso de bens de consumo produzidos no setor II da economia.
Segundo esse ponto de vista a capacidade produtiva da economia capitalista supera o poder
aquisitivo dos trabalhadores representado pelos salários reais, o que significa que o consumo dos
trabalhadores é que determinaria a demanda. Quando os salários tendem a diminuir, necessariamente, a
demanda da economia acompanha reduzindo-se também.
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Tal raciocínio desconsidera a importância da demanda produtiva nesse contexto. Entretanto, esta
pode vir a substituir parte do consumo popular que por ventura venha a se comprometer com uma
possível queda dos salários reais.
Pior do que desconsiderar a relevância da demanda por bens de produção é supor que o capitalismo
produz para a satisfação das necessidades humanas, o que parece compor a concepção subconsumista,
ainda que de maneira subjacente. É sabido que essa situação não é real. Nesse sistema a produção visa à
valorização do valor em escala ampliada e a realização das mercadorias produzidas é apenas uma
condição necessária para tanto.
O perigo das teorias subconsumistas é levar a conclusões reformistas, não muito diferentes das
implicações “harmonicistas” das teorias da desproporcionalidade. Pode-se inferir de ambas que o
próprio sistema apresenta soluções internas para as contradições que lhes são imanentes. As primeiras
conduzem à crença de que salários reais maiores e políticas governamentais distributivas na forma de
seguridade social podem evitar as crises. As últimas estabelecem que uma planificação central da
economia é capaz de minorar as diferenças entre os setores produtivos, possibilitando assim um
desenvolvimento conjunto proporcional entre o setor que produz meios de produção e aquele que
produz bens de consumo.
Admitir mudanças orgânicas no sistema a fim de acompanhar o desenvolvimento das forças
produtivas e promover ajustes com o fito de eliminar distorções do mesmo, pode parecer bastante
pragmático e viável, porém, os esforços empreendidos nesse sentido parecem apresentar efeito reverso,
potencializando as crises, intensificando as contradições e no máximo adiando o estouro de uma crise.
Políticas de redistribuição de renda não deixam de ser bem intencionadas, mas não resolvem o
problema. A produção capitalista objetiva lucro e não apenas a venda total das mercadorias a fim de
realizar toda a mais-valia produzida. Significando, portanto, que aumentar a parcela do produto paga
aos trabalhadores, reduz conseqüentemente a parcela apropriada pelos capitalistas. Trata-se de valores
inversamente proporcionais. Crescem os salários diminuem os lucros. Por isso, o aumento real da renda
dos trabalhadores nas vésperas de uma crise, momento em que a taxa de lucro já se encontra em
declínio representa uma intensificação dessa queda por meio da redução da taxa de mais-valia. Nessas
condições os capitalistas não aumentam seus investimentos, ainda que a produção e a venda dos bens
de consumo aumentem pela queda nos preços e, assim, a crise se manterá tendendo a piorar inclusive.
A teoria da superacumulação identifica como a razão principal das crises a massa insuficiente de
mais valia produzida, em comparação com a quantidade total de capital acumulado. Significa que o
capital passa a apresentar dificuldades de acumulação em escala ampliada. O valor não consegue se
valorizar dentro dos padrões desejados pelos próprios capitalistas.
Nesta concepção, o longo prazo reserva um estado em que o exército industrial de reserva tende a
se reduzir drasticamente depois de muito tempo de prosperidade capitalista. Em todo caso, o aumento
da demanda por trabalhadores para além de um determinado limite por si só já faz elevar os salários e
freia o ritmo da acumulação. Conseqüentemente os salários reais tenderão a crescer até o ponto em que
se configura uma baixa significativa da taxa de mais valia e da taxa de lucro, por conseguinte.
No entanto, deve-se ponderar a enorme capacidade do capitalismo de reconstituir velozmente
aquele exército. Os investimentos buscam, via de regra, a racionalização e a automatização da
produção, tendem a reduzir (relativamente) o emprego no agregado da economia. Quanto mais o lucro
capitalista é comprimido menor é o volume de capital posto em movimento por eles e
conseqüentemente, a demanda por trabalhadores num segundo momento também cairá, contribuindo
para a queda dos salários reais que se encontravam em patamares superiores aos desejados pelos
capitalistas.
Os defensores da teoria da superacumulação acreditam que embora cresça a acumulação, o
consumo de bens finais cresce a medida em que cresce o emprego (em geral a salários cada vez

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maiores) e o consumo improdutivo originário na mais-valia também tende a crescer. Tal afirmação
aponta que o consumo cresce, mas não prova que o faz na mesma proporção que a capacidade
produtiva do setor II. O consumo é minorado pelo aumento da composição orgânica de capital no
mesmo setor e o aumento da taxa de mais-valia no conjunto da economia.
Da mesma forma, uma diminuição nos investimentos correntes levará a uma crise, antes que aja
qualquer superprodução de mercadorias. Trata-se da forma em que se manifestam as crises. É bem
verdade que as decisões de investimentos sejam função da mais-valia acumulada no passado e da
esperança de lucro futuro. Mesmo assim, as projeções de lucro incluem as tendências presentes e as
estimativas de condições do mercado e da participação no mesmo no futuro. Eis uma das razões para o
excesso de investimentos. Muitas empresas podem acreditar que se expandirem seus investimentos e
produção podem aumentar suas participações no mercado e beneficiar-se com um emprego mais
intenso de tecnologia. Na verdade, trata-se de uma imposição a todas elas. A lógica individual impõe
que as empresas lutem para serem as primeiras para se configurar nas melhores condições de produção.
Mas, não há nada que garanta ao capitalista que o aumento dos investimentos resultará em melhores
resultados ou maior participação no mercado.
Todas as teorias acima expostas, tomando como cerne da discussão a causa do problema da crise,
mostram-se inconsistentes, ainda que seus elementos base sejam constitutivos do fenômeno em estudo,
eles se apresentam como formas de manifestação do fenômeno crises. Significa que tudo aquilo que
fora levantado como causa da crise, é na verdade as conseqüências dela. Ainda que todas essas
correntes do pensamento marxista tenham contribuído bastante para o debate a respeito do tema,
nenhuma delas chegou a uma solução satisfatória que respeitasse as construções lógicas de Marx em
sua plenitude.

5. A CAUSA DA CRISE DE SUPERPRODUÇÃO

Para compreender a real causa desse fenômeno é necessário lembrar que a taxa de lucro é
efetivamente o motor propulsor da produção de mercadorias, não sendo, portanto, a satisfação de
necessidades humanas o objetivo último dela. É por esse motivo que o movimento do capital é
condicionado pela extração e, principalmente, pela apropriação da mais-valia.
Cabe recorrer a uma afirmação do próprio Marx, que é bastante pertinente:
“...O objetivo do capital não é satisfazer as necessidades, mas produzir lucro, alcançando essa finalidade por
métodos que regulam o volume da produção pela escala da produção, e não ao contrário.” (MARX, 1894:
LIVRO III, 294)
Talvez, a única necessidade que a produção busca satisfazer seja a necessidade de lucros crescentes.
A crise explicita as contradições do sistema, inclusive essas acima expressas.
Outra afirmação de RIBEIRO, também vem a calhar para concluir o raciocínio até então
desenvolvido:
“...No estouro de uma crise é possível perceber uma manifestação violenta da contradição que está no âmago
do sistema capitalista, qual seja: a contradição entre o caráter social da produção e a forma de
apropriação privada capitalista. Tal contradição se externa como contradição entre produção e consumo,
como desproporcionalidade entre os setores produtivos, como anarquia da produção e consumo, como
contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e a base estreita das relações de consumo. É esta a
causa fundamental das crises de sobreprodução e é por isso que tais crises são inerentes ao capitalismo,
são uma lei econômica desse sistema.” (RIBEIRO, 1988: SEÇÃO 2.2, 377).
Eis a explicação mais plausível para a causa das crises. É uma explicação que procure respeitar na
íntegra as categorias e construções lógicas elaboradas por Marx.

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6. CONCLUSÃO

A acumulação de capital é um movimento contínuo e que se dá em escala alargada, expandindo a


produção para além dos limites do próprio sistema. O caráter ilimitado da produção se contrapõe ao
caráter limitado do consumo. Não por falta de consumidores ou mesmo de capacidade de consumo, ao
contrário disso, por excesso de consumidores que são privados do consumo, que são excluídos dessa
sociedade fundada no consumismo. Com isso a base de consumo dessa mesma sociedade se torna
restrita. Constitui-se, assim, uma incompatibilidade entre a produção e o consumo.
É a contradição fundamental do sistema que impulsiona de modo absoluto e ilimitado o
desenvolvimento das forças produtivas e, ao mesmo tempo, restringe a capacidade de consumo pessoal
e produtivo de maneira a impossibilitar a satisfação das necessidades sociais.
A partir dos elementos trabalhados até então é possível inferir que os processos econômicos não são
provocados e controlados pelas ações dos homens em sua essência como queriam alguns autores. A
objetividade dos fenômenos decorre das leis que constituem e promovem o desenvolvimento
capitalista. São elas que regem os fenômenos e processos nesse sistema. Independente da ação política
dos homens aqueles permanecerão sujeitos a lógica capitalista. A verdade é que nenhuma política
anticíclica até então implementada não se mostrou eficaz no longo prazo. Tudo isso leva a convir que a
solução para todas as contradições e leis capitalistas não deverá ser encontrada no próprio sistema.
Nele a contradição entre o todo da economia e suas partes se mostra insuperável.

7. AGRADECIMENTOS

Agradeço a Sesu pelo apoio na confecção deste trabalho.

8. REFERÊNCIAS

MARX, K. (1981). O Capital : crítica da economia política. 6 volumes, terceira edição, Civilização
Brasileira, São Paulo.
RIBEIRO, Nelson Rosas. A Acumulação do Capital no Brasil: Expansão e Crise. Dissertação
apresentada no Instituto Superior de Economia para a obtenção do Grau de Doutor em Economia.
Parte II: As Crises no Capitalismo: Uma Visão Marxista. Lisboa. Dezembro. 1988.
CARCANHOLO, M.D (1996). Causa e Formas de Manifestação da Crise: uma interpretação do debate
marxista. Dissertação de Mestrado apresentada na Universidade Federal Fluminense.
CARCANHOLO, M. D. (1997) Formas, conteúdo e Causa: uma proposta de interpretação marxista
para o fenômeno crise. Leituras de Economia Política, IE Unicamp, n.5, dezembro.
MANDEL, E. (1985) El Capital: cien años de controvérsias em torno a la obra de Karl Marx. Siglo
XXI editores, México.
MARX, K. (1981). O Capital : crítica da economia política. 6 volumes, terceira edição, Civilização
Brasileira, São Paulo.
MAZZUCCHELLI, F.(1985) A Contradição em processo: o capitalismo e suas crise. Brasiliense. São
Paulo.
ROMO, H.G. (1988) Lecciones de Economía Marxista. Fondo de Cultura Econômica, México.

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TITLE: THE SYSTEM CONTRADICTION AND THE CAPITALISM CRISIS

Abstract

The article in question if considers to argue the phenomenon of the capitalist crisis from outline
marxist theoretician. For in such a way, it is looked to identify the constituent elements of the economic
cycles: the cause, the content, and its forms of manifestation. The analyses are made of the point of
view of all of the economy, without incurring into the fallacy of the composition.
The capitalism is a form of specific production and historicly determined, and since of its genesis it
presents a cyclical behavior. Recent economic history is not different and presents recurrent situations
of crisis. In years 1990, the phenomenon if repeated in some countries provoking global impacts. Here
it is the necessity to explain it.
Our intention in this work is to present the economic laws that condition the development of the
productive forces and base the social relations between the individuals. The crisis is one of them, is an
unfolding of the inherent contradictions to the system. As it is not previsible has its aggravated
devastators consequences, reaching in greater or minor degree all the people of a society.
We demonstrate that the main objective of the capitalism is the valuation of the value, of form that
the work process is a way (necessary) for the valuation process, that allows the extration of the more-
value (aim of the production). Therefore, the production does not have as end the satisfaction of the
necessities human beings, but in contrast the profit generation. Moreover, the valuation of the value is
unfolded in the redundancy of the production for the production, leading to the trend of the capital of if
abstracting from the determination of its valuation, the work force.
Conclusion, the burst of a crisis shows the contradiction enters the social character of the
production and the form of capitalist private appropriation. It represents stopped of the production and
depreciation of the capital on the other hand, and for another one, she produces the conditions of a new
process of accumulation.

Keywords: economics cycle, captalism system contraditions, productives powers, social


relationships, crisis

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