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Resumo
O artigo avalia a importância do Programa de Necessidades no processo do projeto nos
escritórios de arquitetura de Teresina-Piauí visando melhorias na qualidade dos projetos e
na satisfação do cliente. O questionamento surgiu diante da necessidade de criar um
"briefing" capaz de levantar informações claras e corretas para guiar o desenvolvimento do
projeto, e evitar falhas e equívocos no produto final. A análise teve como base trabalhos
científicos, referenciais teóricos e observações in loco do objeto de estudo, conceituando
termos como projeto, programa, qualidade e briefing. O artigo buscou mostrar a realidade
do mercado dos escritórios de arquitetura de Teresina-Piauí, mostrando os motivos e causas
que dificultam o alcance da qualidade nos projetos. A visão da relevância do cliente/usuário
na participação do projeto trás à tona a necessidade de um briefing mais profundo, baseado
na percepção e emoção. Como resultado da pesquisa, para fins práticos, elaborou-se um
modelo de briefing eficaz para projetos de design de interiores residenciais a ser aplicado
pelos escritórios, baseado nos valores contemporâneos e com abordação psicológica.
1. Introdução
A palavra projeto (do latim projectus, us) é um substantivo masculino que apresenta no
dicionário as seguintes definições: 1. desejo, intenção de fazer ou realizar (algo) no futuro;
plano. 2. descrição escrita e detalhada de um empreendimento a ser realizado; plano,
delineamento, esquema. 3. esboço provisório de um texto. 4. esboço ou desenho de trabalho a
realizar-se; plano. 5. plano geral para a construção de qualquer obra, com plantas, cálculos,
descrições, orçamento etc. Vê-se que em todas as suas definições, projetar é a “ação de lançar
para a frente, de se estender”.
O projeto de arquitetura, incumbido dessa ideia de planejamento necessária para este “lançar
para frente”, envolve diversas etapas a fim de conduzir o processo de projeto, etapas estas
conceituadas pela NBR 13531/1995. O Manual de Escopo de Projetos e Serviços de
Arquitetura e Urbanismo divide o projeto em: concepção do produto ou pré-projeto; definição
do produto e soluções de interfaces; projeto de detalhamento das especialidades, e pós-entrega
de projeto.
Na Concepção do produto ou pré-projeto o projeto arquitetônico subdivide-se em:
Levantamento de Dados (LV); Programa de Necessidades (PN); Estudo de Viabilidade (EV).
Briefing para os ingleses, pré-design para os norte-americanos, programa arquitetônico ou
programa de necessidades são fases iniciais do processo de projeto, conquanto não menos
importantes.
De acordo com a norma NBR 13531/1995, Programa de Necessidades é a “etapa destinada à
determinação das exigências de caráter ou de desempenho (necessidades e expectativas dos
usuários) a serem satisfeitas pela edificação a ser concebida” (ABNT, 1995:4). Segundo
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Moreira e Kowaltowski (2009), o programa trata das condições que deverão ser observadas
no transcurso do projeto e, portanto, deve se restringir a descrição do contexto ou dos
aspectos gerais da forma, sem sugerir ou impor soluções de projeto para o edifício, mas
representar e sintetizar os dados coletados. O Programa de Necessidades implica em levantar;
compreender e organizar as informações relativas às demandas ou requisitos de projeto.
Assim, aqueles mesmos autores defendem que “o programa deve estabelecer as prioridades
do projeto, tanto em termos da qualidade esperada pelo usuário e pelo cliente como a
quantificação das metas e indicadores”.
A norma NBR 13531/1995 diz que o produto gerado no processo do Programa de
Necessidades (PN) é o Escopo do Produto e/ou Briefing. Conforme Trentim (2011:89), o
“escopo tem como objetivo definir todo o trabalho necessário para completar o projeto com
sucesso e somente o trabalho necessário”. Phillips (2008:58) explica que o escopo pode servir
como acordo ou contrato formal entre as partes envolvidas e também como roteiro a ser
seguido durante o desenvolvimento do projeto, definindo as várias etapas ou fases do mesmo.
O programa é tido como um documento contratual de suma importância, vez que descreve as
características que o cliente espera que o projeto alcance, com registro de todas as
informações obtidas somadas a outras informações necessárias à execução do projeto. Cabe
ao arquiteto compilar tais informações e expor de forma clara e objetiva, seja através de
quadros, diagramas, esquemas, animações, a fim de respaldar as soluções escolhidas para os
problemas levantados, bem como apoiar a defesa do partido arquitetônico adotado.
O Guia PMBOK (2004) define que o sucesso de um projeto está em “atender às expectativas
das partes interessadas”. E segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
(2005:8), qualidade é o grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz os
requisitos. Para um projeto de qualidade é preciso ter um adequado desenvolvimento das
etapas do projeto arquitetônico e por isso o processo de projeto precisa ser valorizado em
todas as suas etapas. O desenvolvimento correto de um Programa de Necessidades é o grande
alicerce para o projeto arquitetônico.
O brasileiro e seus fortes traços culturais baseados no improviso são um dos possíveis
motivos do retrocesso na qualidade dos projetos, onde escritórios de arquitetura têm
dificuldades na avaliação de seus processos de projetos. Quais os verdadeiros motivos desta
deficiência nos processos de projeto? Os escritórios de arquitetura estão valorizando todas as
etapas deste processo? A coleta, síntese e análise dos dados junto ao cliente estão sendo feitas
da melhor forma? As expectativas das partes interessadas estão sendo percebidas de forma
clara e objetiva? É possível captá-las?
Este artigo pretende responder a esses questionamentos e avaliar a importância do Programa
de Necessidades como processo para projetos de design de interiores em escritórios de
pequeno porte na cidade de Teresina-Piauí; e propor um Briefing para projetos de design de
interiores que seja capaz de extrair as aspirações pessoais e culturais do cliente/usuário.
Esse procedimento lida com dados de diversas fontes e naturezas, mas todas devem estar
agrupadas, organizadas e documentadas para servir como suporte ao desenvolvimento das
etapas seguintes do projeto de arquitetura. Moreira e Kowaltowski (2009) afirmam que na
sequência do processo “o desenvolvimento do projeto passa a resolver o problema colocado
no programa. É por esse motivo que muitos autores consideram o procedimento de projeto
uma atividade de síntese”.
O projeto de um edifício está sujeito à correta observação desses requisitos, não apenas com o
intuito de cumprir metas, mas a fim de incitar o seu uso nas mais diversas situações. Segundo
Carvalho (2012), Moreira e Kowaltowski (2009), Programa de Necessidades é sinônimo de
programa arquitetônico. Moreira e Kowaltowski (2009) ainda dizem que “o programa
arquitetônico é um elemento fundamental na busca da qualidade no processo de projeto e
construção, e não se deve se restringir a uma simples lista de ambientes e respectivas
dimensões”. O Programa de Necessidades pode ser considerado como um documento “vivo”,
visto que Kamara (1996) considera-o como uma atividade contínua que evolui durante o
processo do projeto.
Se entendermos o papel real do programa, fica claro que – por definição – ele não
pode nem determinar a solução nem dificultá-la. Na medida em que é um sistema de
atividades, o programa estabelece o âmbito de possibilidade da forma e, ao mesmo
tempo, atua como elemento de verificação do projeto em diversas fases do seu
processo (PIÑON, 2006:50).
A importância da consulta às pessoas que irão habitar a edificação está na identificação dos
requisitos funcionais que a edificação deve atender, visto que variam de acordo com o
usuário. Segundo Kowatowski e Moreira (2008), as participações do cliente/usuário permitem
uma diversidade de opiniões que priorizam os aspectos de conforto, funcionalidade, economia
e estética. Cada usuário tem seu parâmetro de avaliação de satisfação, e o arquiteto deve
atender a todas as demandas exigidas.
A ideia de conforto que se busca na arquitetura baseia-se em quatro contextos: físico,
psicossocial, sociocultural e ambiental. Pinto (2005) reconhece a arquitetura por seus valores
técnicos, práticos e artísticos.
Do programa de necessidade é que decorrerão os valores arquitetônicos referentes às
necessidades materiais e às espirituais, as primeiras definindo os valores práticos da
arquitetura, e as segundas, consequentemente, os valores artísticos, que se prendem
no campo do conhecimento estético. Na realização das necessidades aparecem os
valores técnicos. (PINTO, apud SCHMID, 2005, p.37 e 38).
(a) humanos: atividades funcionais para ser habitável, relações sociais a serem mantidas, as
características físicas e necessidades dos usuários, as características fisiológicas e
necessidades dos usuários, as características psicológicas e necessidades dos usuários;
(b) ambientais: terreno e vistas, clima, contexto urbano, recursos naturais, resíduos;
(c) culturais: histórico, institucional, político, legal;
(d) tecnológicos: materiais, sistemas estruturais, processos construtivos e de concepção da
forma;
(e) temporais: crescimento, mudança, permanência;
(f) econômicos: financeiros, construção, operação, manutenção, energia;
(g) estéticos: forma, espaço, significado;
(h) segurança: estrutura, incêndio, químico, pessoal, criminoso (vandalismo).
A elaboração de um bom Programa de Necessidades tem como intuito chegar cada vez mais
próximo do que o cliente/usuário espera de verdade da edificação, requisitos, parâmetros
pessoais de avaliação, desejos que na maioria das vezes não são verbalizados. Para tanto, o
programa inclui levantamento de informações através de entrevistas, questionários, avaliações
documentais, mapas comportamentais e dinâmicas de grupo. Para Rozenfedl et al. (2006), o
uso de guias/checklists auxilia o trabalho sistemático e diminuiu as chances de que alguma
informação relevante não seja percebida. O questionário também é uma das ferramentas e
técnicas sugeridas pelo Guia PMBOK (Project Management Body of Knowledge).
Cianciardi (2013:19) considera briefing como “a forma pela qual o cliente comunica ao
profissional as suas necessidades e as de sua família, para que se possa elaborar um programa
de necessidades”. O presente artigo aceita esta como a definição de briefing e posteriormente
irá propor um questionário eficaz para projetos de design de interiores.
O briefing deve ser capaz de levantar os desejos ocultos e desconhecidos, insatisfações
toleradas, expectativas, aspectos de personalização do projeto para o cliente. Algumas
necessidades nem mesmo o cliente conhece, ou sabe expressar, por isso é importante perceber
as rotinas, capacidades físicas e visuais, idade, estilo de vida e também diferenciar o que seria
as exigências dos clientes ou opiniões de terceiros. Por isso, corrobora-se com a ideia de
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Phillips (2008:17) sobre a importância do cliente em “atuar como parceiro, não se limitando
às simples relações do tipo compra/venda de serviços”.
A Missão Artística Francesa foi um grupo de artistas franceses que chegaram ao Brasil no
início do século XIX e revolucionaram o panorama das Belas Artes no país. As primeiras
instituições de ensino de arquitetura no Brasil tiveram como base o modelo École de Beux
Arts - estilo arquitetônico originado nas Escolas de Belas Artes de Paris – trazido pela Missão
Artística Francesa. O modelo em questão mantém-se vivo até hoje, visto que as instituições
de ensino brasileiras incentivam a formação artística do arquiteto. Ademais, a organização dos
primeiros escritórios de arquitetura no Brasil foi tardia, remonta à metade do século XX, e
fundamentada no talento pessoal do profissional responsável. Ante o exposto, vê-se que as
bases da dimensão estética e artística são bastante enraizadas na formação dos arquitetos.
Artigas (1985) dizia que antes de tudo o arquiteto é um artista.
Nas práticas nacionais de projetos e construção, tal formação implica diversas dificuldades de
ordem técnica e comercial aos escritórios de arquitetura. Dentre elas temos a falta de
definição da estrutura do processo de projeto, a deficiência de normas e regulamentações que
organizem as atividades e as relações entre contratantes e profissionais. Gerolla (2012) diz
que o projeto de arquitetura é um produto resultante de um fluxo de informações e de
soluções técnicas aliados a experiência de mercado adquirida.
O arquiteto, que deveria ser preparado para tratar de uma forma geral o projeto de
edificação, tem uma formação que valoriza os aspectos culturais e estéticos da
produção arquitetônica, deixando de lado técnicas construtivas reais, bem como a
liderança e a objetividade necessárias para atuação na coordenação de equipes
multidisciplinares (GERHARDT, 2014:13).
Ao ingressar no mercado de trabalho, o arquiteto, devido sua formação, fica limitado aos seus
interesses. A indiferença diante do caráter multidisciplinar do projeto e da construção civil
interfere na qualidade do produto.
Para Zanetttini (2002), “(...) arquitetura de qualidade é adequação à cultura, aos usos e
costumes de cada época, ao ambiente no qual a obra se insere, à evolução científica,
tecnológica e estética, à satisfação das necessidades econômicas e fisiológicas direcionadas à
razão e à emoção do homem”. Gerhardt (2014) diz que “a qualidade esperada na obra deve
partir do projeto e não só do produto final”, e ainda fala que “a falta de qualidade do projeto é
considerada um empecilho para o avanço tecnológico e organizacional do setor da construção
civil brasileira”. A preocupação com a qualidade foi se intensificando e evoluindo para o que
hoje chamamos de Gestão da Qualidade. As políticas de qualidade abrangem conceitos de
planejamento e melhoria da qualidade, a fim de aprimorar os sistemas e os processos para
permitir uma melhoria continuada.
Rodriguez (2008) conta que só após a implantação da gestão da qualidade nas empresas
brasileiras da construção civil a partir dos anos 90, é que a gestão de processo de projeto
passou a ser considerada importante. Muitas empresas perceberam que os sistemas de gestão
aplicados na execução das obras não eram suficientes para racionalizar os recursos de
empreendimentos, e com a experiência das construções, ficou clara a necessidade de melhorar
a definição dos programas e escopos de projeto.
Identificar e compreender os processos de projeto é vital para que se possam
verificar mudanças buscando melhorias na qualidade e produtividade no ambiente
das empresas de projetos. Os benefícios têm reflexos diretos sobre o sucesso do
projeto, tanto em aspectos técnicos quanto em aspectos organizacionais, com o
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mínimo de alterações nos escopos, boa aceitação pelo cliente e dentro das condições
da empresa. (GONTIJO, 2009:03)
Planejamento demanda criatividade, rouba tempo e é visto como algo complicado para os
empreendedores, mas é a melhor chance de manter os escritórios de arquitetura de pequeno
porte no mercado.
fragmentados, com foco somente no produto final e com supervisão do próprio arquiteto”.
Para Barret, Hudson e Stanley (1999), o problema recorrente é que o arquiteto começa a
desenvolver o projeto muito cedo, com base em poucas informações acerca dos requisitos dos
clientes. O programa acaba se desenvolvendo com base na experiência pessoal do profissional
responsável.
Carvalho (2012) destaca que “em algumas empresas, além do desenvolvimento de projetos, os
agentes também fazem o acompanhamento de obras e gerenciamento das mesmas”, essa
intensidade de trabalho devido à sobrecarga de atividades a serem realizadas é a realidade dos
escritórios de arquitetura de pequeno porte.
Considerando a diversidade de clientes nos escritórios de pequeno porte, Carvalho (2012) diz
que estes escritórios “precisam de procedimentos tácitos, não formalizados, para a realização
do Programa de Necessidades. Procedimentos esses que sejam suficientemente flexíveis para
poder tratar com clientes diversificados (pessoas físicas, clientes corporativos,
institucionais)”. Porém, isso não deve interferir na noção da complexidade da atividade
projetual, muito menos representar falta de empenho no detalhamento do briefing. O cliente,
independente do porte do escritório, das formalidades ou não, continua acreditando que é fácil
e rápido realizar alterações no projeto.
O arquiteto necessita da colaboração dos clientes, visto que existem informações importantes
tanto antes como durante o processo de projeto que são essenciais para definir aspectos
projetuais, e em que as soluções adotadas devem ser aprovadas pelos clientes.
Carvalho (2012) afirma que “as empresas são unânimes ao afirmar a necessidade de serem
criados alguns roteiros básicos que tomem a atividade de coleta inicial (parte dos requisitos de
entrada dos projetos) mais completa e consistente, minimizando as modificações de projeto”.
A falta de um banco de dados consistente e confiável representa erros e retrabalhos, sendo
primordial na busca de soluções e para satisfazer as exigências do usuário.
Em análise ao processo de briefing realizado em escritórios de arquitetura de pequeno porte
na cidade de Teresina–PI, percebe-se que na grande maioria, são feitos sem padronização,
interatividade, e com graves deficiências na comunicação dos agentes envolvidos.
O projeto de arquitetura tem como base o sentido de unidade, sendo uma expressão do seu
tempo. Mas foi apenas após o fenômeno cocooning (encasulamento) que o mercado de
Design de Interiores ganhou força.
Desde a década de 80, que a consultora de marketing Faith Popcorn, sócia de uma das
empresas de tendências mais conceituadas no mundo, prévia para a década de 90 o fenômeno
do encasulamento. Cocooning é a tendência dos indivíduos de ficar mais tempo recolhidos a
casa quando o lado de fora se torna difícil e ameaçador (medo e violência); e foi devido a este
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fenômeno (menor socialização) que um maior número de pessoas busca transformar suas
casas em verdadeiros ninhos. O advento da internet e novas tecnologias propiciaram o reforço
de tal comportamento, onde se é possível ver filmes pela internet (home theaters), fazer
compras online, trabalhar em casa (home office) etc. Os condomínios fechados e apartamentos
dotados de áreas comerciais, os shopping centers, são exemplos da busca pelo
enclausuramento e pela segurança, são exemplos do cocooning. Para Cianciardi (2013:10), “o
homem passou desta forma a possuir um cuidado maior com a sua casa, e o desejo de melhor
equipá-la e compô-la”.
O arquiteto designer de interiores tem como objetivo adequar o espaço ao usuário final de
forma física e psicológica, isso implica em qualificar e personificar o espaço. Desde o início
da civilização que o ser humano tem a necessidade de imprimir sua marca no espaço onde
habita, e para tanto, conforme Cianciardi (2013) diz:
Cabe à decoração fazer com que os ambientes nos caibam física, sócio e
psicologicamente; para que possamos informar ao mundo e a nós mesmos, quem
somos e o que queremos deste. Também é uma forma de demarcarmos o nosso
território, para comunicarmos as pessoas onde começa e termina os limites de cada
membro da família (CIANCIARDI, 2013:16).
A Casa para ser Lar é preciso ser uma extensão da personalidade de seus habitantes.
Cianciardi (2013:13) afirma que “uma casa não é um lar, é um objeto arquitetônico,
inanimado, destinado a habitação do ser humano, que somente após um processo etológico de
domínio territorial efetuado por seus ocupantes é que se transforma em um lar”.
A arquitetura contemporânea retoma a valorização dos sentimentos proporcionados pela
edificação, da domesticidade e do transcendental. O conforto que a arquitetura procura tem
como objetivo garantir aos usuários abrigo, proteção e segurança, condições estas,
encontradas por excelência dentro da casa. A expressividade na casa, conforme Schmid
(2005:39) é contida, ela apenas deseja “estar acolhidos, protegidos, estáveis, supridos em
nossas necessidades fisiológicas, guarnecidos para o futuro, flexíveis para enfrentar os
imprevistos, aptos a repousar e sonhar e entretidos para que o vazio existencial não nos venha
a corromper a paz”. Portanto, a casa é o ápice do conforto, onde se tem: privacidade,
intimidade e comodidade plena.
Cabral (2013:5) diz que “na transcendência, espera-se que o espaço induza emoção,
modificando positivamente o estado do espírito”. A emoção é o elemento de fundamental
importância para a percepção do ambiente, e consequentemente para a relação entre homem e
o espaço.
De acordo com Okamoto (2002:10), “as percepções decorrentes das sensações vão além das
simples reações aos estímulos externos, pois são acrescidas de outros estímulos internos, que
intervêm e conduzem o comportamento”. A percepção é um estímulo externo que é captado
através dos sentidos, e processado e interpretado a partir de valores pessoais, sociais,
familiares e culturais.
Os cinco sentidos (visão, olfato, tato, audição e paladar) nos auxiliam na percepção dos
espaços e provocam um comportamento imprevisível, que alteram de acordo com nosso
estado emocional, instinto, memória, necessidades e valores pessoais, fazendo com que
captemos os fatos de maneira individual e específica.
O usuário está sujeito à influência do meio: pessoas e climas que afetam suas preferências,
seus sentimentos, logo, o arquiteto designer de interiores deve, segundo Cianciardi (2013:17),
“decodificar, através dos cinco sentidos a linguagem dos objetos, materiais e demais
elementos que possam vir a compor uma casa, de modo a revelar a personalidade de seus
usuários, sua história, hábitos e costumes”.
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Os métodos de projeto passaram por várias transformações nos últimos anos, e foi na segunda
metade da década de 1960 e metade da década de 1970 que surgiu: a crítica crescente às
falhas das abordagens técnicas da primeira fase; a participação dos usuários na criação e
gerência do ambiente construído; e a metodologia de projeto passou a considerar novas
disciplinas, como a psicologia ambiental e a sociologia habitacional.
Essas novas características do método de projetar mostram a importância da fase inicial do
processo de projeto, bem como a necessidade de um melhor desenvolvimento do programa de
necessidades, para que assim, o arquiteto consiga se comunicar corretamente com o
cliente/usuário e criar o estímulo emocional certo para garantir a sua satisfação.
Cianciardi (2013:19) propõe uma entrevista como briefing. Esse guia encontra-se na Figura 1.
O foco do projeto está na satisfação do cliente, e para tanto, não se pode esquecer as relações
entre espaço físico e o contexto, bem como as influências do espaço no comportamento
humano. Para alcançar o estímulo emocional correto para cada cliente é preciso empatia. E
para compreender o sentimento ou a reação de outra pessoa é preciso antes de tudo escutá-la.
Um questionário eficiente deve ser capaz de captar qual a forma de comunicação do usuário, e
transmitir isso para o projeto.
O estilo pessoal do cliente/usuário tem relação direta com a forma de comunicação dele com
o mundo e com si próprio, podendo ser: conservador, arrojado, esotérico, incrédulo,
masculino, feminino, alegre, triste etc. Na maioria dos casos, os clientes não sabem expressar
sobre estética, por isso o teste visual é uma boa alternativa. Apresente imagens ilustrativas
(referências) ao cliente, dentre as quais as que ele possa indicar as suas favoritas e comentar
os pontos positivos e negativos de cada uma, ou peça para que ele mesmo selecione imagens
de suas pesquisas na internet ou revistas. Fazer com que o cliente participe da concepção do
projeto, cria uma forte conexão entre arquiteto, cliente e projeto. Outro aspecto importante é
quanto ao que o cliente não tolera ou não deseja, porque muitas vezes ele pode não saber o
que quer, mas quase sempre ele sabe o que não quer.
Os parâmetros de levantamento de informações definidos na Tabela 1 são as informações
mínimas que devem ser levantadas em todo briefing e, portanto, foram considerados na
elaboração da proposta de briefing para interiores constante no Anexo 1 deste artigo.
6. Conclusão
7. Referências Bibliográficas
GEROLLA, Giovanny. Gestão do conhecimento: porque fazer. Artigo Revista AU ano 27,
n.219, junho 2012.
PHILLIPS, Peter L. Briefing: A gestão do projeto de design. São Paulo: Blucher, 2008.
PIÑÓN, Hélio. Teoria do projeto. Tradução Edson Mahfuz. Porto Alegre: Livraria do
Arquiteto, 2006.
8. Anexo 1
USUÁRIOS
Profissão/área
Nome Sexo Gênero Idade Naturalidade Observações
de atuação
1
2
3
ROTINA DOMÉSTICA
Fazem refeições juntos? Quais? E que dias da semana?
Gostam de cozinhar?
Recebem amigos? (Com que frequência? Que tipo de recepção?)
Recebem hóspedes? (Com que frequência?)
14
ESPAÇOS
Ambiente Problemas Função/ Tempo de Número de Metragem Tipo e cor
estruturais/ atividade permanência usuários do forro e
restrições simultâneos paredes
1
2
3
estilo
suave ou forte
ELEMENTOS EXISTENTES
Quais quadros, mobiliários e coleções serão preservados? Ou reaproveitados?
DEFINIÇÕES DO USUÁRIO
Defina o que significa LAR para você?