Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
html
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
O RAPTO DE AMÉLIA:
São Cristóvão
Agosto/2008.
O RAPTO DE AMÉLIA:
São Cristóvão
2008.
iii
AGRADECIMENTOS
Ao Deus inexplicável à História, mas que para mim é mais real que qualquer evidência
palpável. “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois,
quem jamais conheceu a mente do Senhor? Ou quem se fez seu conselheiro? Ou quem
lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para
ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente”. (Rm 1:33-36)”
Também não poderia deixar de agradecer o apoio daquele que encontrei no caminhar
por terras do coração, e que estará comigo até que mais uma página da minha história
seja virada.
E aos meus amigos dos quais sempre ouvi “ECOS”, que também são amigos de Deus,
Aline, Danilo, Denise, Elma, Felipe, Madson, Poliana, Thamyres.
iv
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................vi
INTRODUÇÃO......................................................................................7
CAPITULO I
1. HISTÓRIAS E MULHERES....................................................9
CAPITULO II
CAPITULO III
DEFLORAMENTO...........................................................................................41
3.1. O
PROCESSO..........................................................................................41
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................51
4. TRANSCRIÇÃO DO PROCESSO..................................................................53
5. REFERÊNCIAS..............................................................................................201
vi
RESUMO
No final do século XIX, sob denuncia, o pai de Maria Amélia Sant’Anna queixa-se à
justiça do rapto e defloramento de sua filha, que em 1879 era menor. Através da
história.
INTRODUÇÃO
1
PERROT, Michelle. As Mulheres ou Os Silêncios da História. Tradução: Viviane Ribeiro. São Paulo:
Edusc, 2005, p. 33.
José Bernardino das Neves, 23 anos, pedreiro, intencionava casar com a jovem,
no entanto, ao ver seu desejo negado, fugiu com a mesma. Ressalva-se que não é um
caso tão singular na história, como podemos observar através da consulta à bibliografia
sobre o tema. Raptos e defloramentos não eram tão incomuns, o que pode ser explicado
por uma série de parâmetros sociais impostos pela sociedade.
Creio que um processo como este não se resume apenas ao fato de um rapto,
mas traz em si uma série de outras posturas e análises sociais implícitas, como, por
exemplo, regras de conduta, conceitos historicamente construídos.
Esta história de mulher do século XIX, mulher sujeito da história, permite que,
mesmo séculos depois, a palavra História também seja referenciada no feminino.
2
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais: Morfologia e História. Tradução Frederico Carotti. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 144.
3
Ibid., p. 149.
E se esses dados confrontarem o geral? Tudo o que se conhece, por ser ao menos
no caso da história numa perspectiva individualizadora por demais? Mas este é um risco
que se corre quando se pretende fazer uma micro-história, as individualidades humanas
compõem uma complexidade que varia em forma, e não pode ser teorizada por
completo.
A sociedade tem seus padrões que estão para ser desfeitos, por vezes a micro-
história possa confirmar toda uma tendência social, ou contrariá-la totalmente. Micro-
histórias são exemplos incomuns ou não, que compõem a própria feitura da história, que
nem sempre é lógica ou linear. Escreveu o autor no qual nos baseamos, que o paradigma
indiciário:
“Pode se converter em névoas da ideologia que, cada vez mais,
obscurecem a estrutura social (...) se a realidade é opaca, existem
zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la”.4
Por fim, e para comprovação de que este método indiciário, ou da micro história
é bastante reafirmado na historiografia, nos reportamos ao O Retorno de Martin Guerre.
Neste, Natalie Zemon Davis, compreende o universo narrativo e interpretativo do
protestantismo, os aldeões, as cortes criminais, os veredictos dos juízes, a vida
camponesa. A partir de um singular processo-crime contra o impostor de Martin Guerre.
Esse contexto está imbuído da história de um homem que durante a idade média se fez
passar por outro, até que fora desmascarado pelo retorno daquele que deveria ser o
personagem principal. Uma história que talvez não tivesse sido contada fossem as
contundentes fontes judiciais.
Sugestiva sua introdução na qual a autora diz que: “o que ofereço ao leitor é em
parte uma invenção minha, mas uma invenção construída pela atenta escuta das vozes do
passado”. 5
4
Ibid, p.177
10
A falta de preenchimento da história pela escassez das fontes, também pode ser
completa pela história em volta, a história social e cultural do que se sabe de outros
homens e mulheres que viveram em período simultâneo.
Sem contar que como afirmou Ginzburg em A Micro História e Outros Ensaios,
ao referir-se ao O Retorno de Martin Guerre: “a biografia das personagens de Davis
torna-se de vez em quando a biografia de outros homens e mulheres do mesmo tempo e
lugar”.6
Esse evidente fato, não se reporta apenas ao caso de Davis em seu trabalho
indiciário, mas é assim nas micro-histórias, as formas de apreensão dos indivíduos são
particulares, contudo os espaços e a maioria das opções sociais são quase que
inevitavelmente coletivas. Ou seja, preenche-se a lacuna com a história alheia.
6
GINZBURG, Carlo. A Micro História e Outros Ensaios. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998, p.183.
11
Nas histórias das duas personagens encontramos a nítida análise do século XIX,
principalmente na compreensão das relações sociais. O patriarcado, a escravidão, as
relações senhoriais, a situação da mulher, os paradigmas e padrões de uma época se
confirmam na vida de cada um dos indivíduos.
Disse Ginzburg que: “Quando as causas não são reproduzíveis só nos resta
inferi-las a partir dos efeitos”. 7 Isto é, empenhar-se em fazer com que as fontes não só
apareçam, mas revelem o passado através do método dos indícios.
Não se induz, segue-se uma seqüência, baseia-se até onde vão as fontes, e,
possivelmente, em alguma parte do fio da meada, a história é do historiador. Depois de
esgotar a análise das fontes com que trabalhou a autora Graham, diz que, pouco se
vislumbrou “das origens e conseqüências das ações”.8
E, ainda completa:
“Por mais sorte que tenhamos, em ter acesso a elas, as fontes, por
sua natureza são implacáveis silenciosas sobre as questões mais
profundas ou perturbadoras da motivação (...). Temos que nos
contentar com conclusões não claramente persuasivas, mas com
7
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais: Morfologia e História. Tradução: Frederico Carotti. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.144.
8
GRAHAM, Sandra Lauderdale. Caetana Diz Não. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia
das Letras, 2005.
12
O livro de Graham não só nos indica um método como também nos transporta à
história das mulheres, ele nos serve aos dois tipos de referência. Outros livros, mesmo
que não imbuídos diretamente na micro-história também serviram como importantes
interlocutores da história das mulheres.
Nas alusões sobre a história das mulheres nos baseamos numa historiografia em
que este gênero é sujeito, tem interesses em conflito, e revelam um poder mesmo que
aparentemente oculto na sociedade.
10
Ibid., p. 13.
11
GRAHAM, Sandra Lauderdale. Caetana Diz Não. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia, p. 213.
13
Ultimamente vem sendo muito comum ao prefácio dos livros, que se reportam
de alguma forma à história das mulheres, colocá-las como um sujeito histórico
plenamente ativo. A exemplo de Minha História das Mulheres, organizado por Mary
Del Priore e os livros de Michelle Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História, Os
Excluídos da História: Mulheres, Operários e prisioneiros.
História das Mulheres no Brasil traz uma mescla de vários artigos organizados
por Mary Del Priore, a visão das mulheres, a visão sobre as mulheres, os casos de
mulheres desde a “Eva Tupinambá” brasileira à compreensão de uma lógica mais atual.
De acordo com o texto quase epílogo no fim da coletânea, por Lygia Fagundes Teles:
“mulheres com desenvoltura ocupando espaços” 12, que inicialmente só eram delegados
ao primeiro sexo.
Não só aos prefácios, estes livros são inteiramente dedicados a uma feitura da
terceirizada história das mulheres colocando as mesmas em uma situação de paridade
frente ao outro sexo, não num sentido concorrente, mas de entendimento lógico do valor
do outro, por assim dizer, da outra.
12
DEL PRIORE, Mary. (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto. 2007, p.669.
14
Há bem pouco, os olhares para a constituição de uma história das mulheres vem
se aguçando, principalmente no que concerne a seus microcosmos, suas esfera privadas,
suas particularidades cotidianas. Pois, se os homens sempre angariaram dominar a
esfera total, a história então, prefere perceber a mulher em sua singularidade comum ou
ocasional.
13
NOVAIS, Fernando A. & SEVCENKO.,Nicolau. (orgs). História da Vida Privada no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 386.
14
FLAMARION, Ciro & VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História. Rio de Janeiro. Campus. 1997.
Pág. 275.
15
Ibid., p. 227.
15
Todavia, por agora, temos uma tendência mais popular da história, relativa à
história cultural, que se estendem a todas as perspectivas: tudo é história. História de
tudo, todos e todas. As mulheres aparecem em macro-história, numa perspectiva
comportamental ou social, ou em micro-histórias, nas quais anônimas ganham nomes.
Mas, quando nos reportamos à mulher, em tese, “comum”, cada mulher pode se
ver mesmo em suas normalidades, como um sujeito, viva e diária, não necessariamente
extraordinária, mas relevante em sua cotidianidade. Como tudo que é passível da
observação de um historiador/a é história, Maria(s), Joana(s), anônimas, neste caso
16
Ver Michele Perrot em “Minha História das Mulheres. Pág. 11.
17
FLAMARION. Ciro & VAINFAS. Ronaldo. Domínios da História. Rio de Janeiro. Campus. 1997.
Pág.278.
16
“Amélia”, fazem parte da construção de um universo, que não tende a ser paralelo e sim
congruente a todas as demais histórias.
Ainda encontramos alguns artigos que reafirmam a tendência dos livros no que
concerne à história das mulheres. Como é o caso de “As mulheres de Misael” &–
corrupção de menores, atentados ao pudor e atos libidinosos na Comarca de Ribeirão
Preto, 1871 a 1942. Nesse artigo, escrito por Rafael De Tilio e Regina Helena Lima
Caldana, vemos alguns exemplos de “crimes”, consentidos ou não; afirmam os autores
que a efetivação de casamentos poderia estar relacionado a determinadas situações de
criminalidade sexual.
Outro artigo que muito nos referendou foi “Questões de honra: sexualidade
feminina e sociedade na virada do século XIX em São Luís”, escrito por Veracley Lima
Moreira. Embora estes artigos correspondam a localizações diferentes; por se tratarem
de “crimes” sexuais, a legislação que os rege é a mesma.
17
E, além disso, mostram que a situação da mulher não era incomum em diferentes
lugares do território brasileiro, as sociedades buscavam claramente seguir o que estava
em voga e conformidade com os moldes do país, era como se assim, se conseguisse
chegar mais perto de uma sociedade ideal.
18
MOREIRA.Veracley Lima. Questão de Honra: Sexualidade Feminina e Sociedade na virada do Século
XIX, em São Luís. UEMA.
19
Ibid, 2.
18
uma história de mulheres padrão, a exemplo dos estudos de mulheres que participaram
efetivamente da educação ou religião.
Dos temas marginais, que marcam o âmbito da sexualidade, e que de certa forma
tem um texto que se predispõe ao nosso, destacamos de Hermelido Góis dos Santos. O
sexo da norma: Processos de defloramento em Aracaju (1901 – 1930).
Encontramos neste trabalho a versão dos médicos junto ao seu parecer técnico;
como são feitos os interrogatórios jurídicos, ou o modo pelo qual ele pretende obter
respostas, indícios, e ainda a visão da sociedade sobre “a mulher deflorada”, família,
pessoas em volta, enfim, o que se deveria compreender das “mulheres que cediam”.
19
É certo que o fato de ser analfabeto não era incomum à população do século XIX
no Brasil, e no que se refere às mulheres, temos um caso bem mais abrangente. A
20
A monografia da graduanda acima citada foi imiscuída deste trabalho. A obra citada deveria ser
encontrada na BICEN (Biblioteca Central da UFS), ou no PDPH (Programa de Documentação e Pesquisa
Histórica) pertencentes ao Departamento de História da UFS. Contudo não pudemos encontrá-la em
ambos os locais citados.
20
sociedade dos homens, também lhes poupava este direito. A idéia era baseada na falta
de necessidade de que esse sexo, considerado “frágil” e “inoperante” socialmente,
tivesse as mesmas oportunidades que os homens.
Não por acaso encontramos no processo que será foco de nossa análise a
seguinte referência: “assina o juramento auto pela Respondente que não sabe ler nem
escrever o cidadão Antonio de Cassarara”21. Antonio Cassarara era um homem, suas
oportunidades eram bem diferentes das de Amélia, Antonio sabia ler e escrever, Amélia
não.
21
Citação retirada apartir do processo crime aqui referenciado. Pág. 7.
22
DEL PRIORE, Mary (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 406.
23
PERROT, Michele. As Mulheres ou Os Silêncios da História. Tradução: Viviane Ribeiro. São Paulo:
Edusc, 2005, p. 271.
21
Seja só para o lar, no que concerne às tarefas domesticas, seja para a melhor
educação dos filhos e representatividade social, o fato é que desde muito cedo as
meninas/mulheres preparavam-se para o casamento.
24
AMARAL, Sharyse P. do. Uma Nação por fazer: escravos, mulheres e educação nos romances de
Manoel Macedo. Dissertação de Mestrado em História. UNICAMP, 2001, p. 97.
25
Citação de citação. , Sharyse P. do. Uma Nação por fazer: escravos, mulheres e educação nos
romances de Manoel Macedo. Dissertação de Mestrado em História. UNICAMP, 200. Pág.105.
22
Assim, desde bem jovens, “tão logo passadas as primeiras regras (menstruação),
os pais começavam a se preocupar com o futuro encaminhamento da jovem para o
matrimônio”. 26 E daí por diante este seria o motivo e a finalidade da sua educação.
26
DEL PRIORE, Mary (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 256.
27
Ibid, 256.
28
PRIORE, Mary (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto, 2007. Pág. 408.
23
Desse modo, a igreja sendo a célula matriz das intenções de que o casamento
fosse um vínculo sacralizado, de certa forma impedia o livre fluir destas uniões devido
aos “impostos para casar”. Luciano Figueiredo em “Mulheres das Minas Gerais”,
publicado em História das Mulheres no Brasil, demonstra a representatividade sagrada
do matrimônio:
29
GRAHAM, Sandra Lauderdale. Caetana Diz Não. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005, p.23.
24
O casamento era o legitimador de uma união perante toda a esfera social; além
disso, era o vínculo indissolúvel, estável, mantenedor de ordem, no sentido de que
apaziguava os instintos sexuais, os restringindo, ao menos em tese, ao leito conjugal, e
garantindo a continuidade de heranças, sejam de bens ou de filhos.
30
PRIORE, Mary (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto, 2007. Pág. 171.
31
FIGUEIREDO, Luciano. Mulher e Família na América Portuguesa. São Paulo: Atual, 2004, p.23.
25
Como mostrou Del Priore, devido ao referido fato do custo dos casamentos e de
toda a burocracia legal: “era proporcionalmente pequeno o número de pessoas casa das
em relação à população total”. Mesmo para as pessoas brancas: “as moças brancas, mas
pobres, abandonavam os nomes das famílias para viverem em concubinatos discretos.” 32
A autora também fez referência às mulheres de outros grupos sociais, como as moças
mestiças e negras: “quanto àquelas dos segmentos mais baixos, mestiças negras e mesmo
brancas, viviam menos protegidas à exploração sexual.33 Elas tinham “outro padrão de
moralidade”, que não chegava a influenciar na sociedade preponderante católica e de padrões
burgueses, era uma moralidade paralela.
“- Casar? Protestou a Rita. Nessa não cai a filha de meu pai! Casar?
Livra! Pra quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o
32
DEL PRIORE, Mary (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 368.
33
Ibid., p. 367.
34
Ibid, 234.
26
diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre!
Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu!”. 35
Entre as moças brancas pobres, as mestiças e negras, Maria Amélia está descrita no
primeiro padrão, moça branca e de família não abastada, que abandona a família, mesmo que
por um curto período para aventurar-se numa fuga permissiva, intitulada segundo a queixa de
seu pai, como rapto. Este era o seu protesto, uma forma de dizer “sim” ao casamento informal,
indo de encontro à vontade da família.
Não obstante as mulheres das camadas mais populares ousassem de uma certa
“liberdade” quanto à vigilância matrimonial, a questão era bem mais grave no que se refere à
burguesia, pois para esta classe:“ o casamento para as famílias ricas e burguesas era usado
como um degrau de ascensão social ou forma de manutenção de status”.36
35
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. Citação referente ao diálogo do romance na qual a personagem Rita
baiana expressa a sua opinião contrária ao casamento. Pág. 58.
36
DEL PRIORE, Mary (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 229.
37
NOVAIS, Fernando & SEVCENKO, Nicolau. (orgs.). História da Vida Privada no Brasil. Vol.3. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 386.
27
A união sagrada entre homem e mulher era então a solução, o remédio às paixões
abrasadoras, o reparador dos males, fossem eles cometidos ou pensados. Nos romances do
século XIX, a cura para as donzelas que amavam demais era o tão conhecido final feliz, o
casamento.
Casar por quê? Casar se constituiu enquanto solução que restringia os impulsos
sexuais garantia a continuidade da população, perpetuava um ordenamento social, e
resolvia alguns “males”. A exemplo dos crimes cometido contra mulheres, dentre eles
os RAPTOS.
Por hora informamos que Maria Amélia fora raptada por José Bernardino, e este
fora um rapto permitido, planejado. Programaram-se a fugir pelos matos, no silêncio da
noite, e é esta uma característica bem peculiar.
Sobre raptos não consentidos, estes eram os raptos violentos, e ocorriam por
forma de subtração da mulher do seu meio doméstico e convívio familiar, sem a
permissão da mesma. Cujo intuito era basicamente tornar a raptada uma subordinada
sexual para fins estritamente libidinosos.
Contudo, como já foi dito, não fora incomum o rapto como “desculpa” para
forçar um casamento. O indivíduo que fazia de tal forma tinha o consentimento da
raptada. Em alguns casos, a intenção inicial era que as relações mais intímas entre os
“fujões” não ocorressem imediatamente, pois ao dia seguinte o pai da moça deveria ser
28
avisado, e assim providenciasse de modo urgente para o casamento que ele inicialmente
não aprovara.
Este matrimônio, depois do rapto não seria apenas uma questão de aprovação ou
não, mas em prol de evitar os falatórios que logicamente ocorreriam, e também, os
prejuízos da moralidade, que isto acarretaria à raptada e sua família.
Acontecia que estes casos deveriam ser resolvidos de qualquer maneira para não
manchar a integridade da família. Como mostrou Miridan Falci:
38
DEL PRIORE, Mary (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto, 2007, p.267.
39
Ibid, 267.
40
Ibid, 267.
29
Como vimos, ao menos nos códigos criminais a punição era somente masculina,
nos referimos aqui à legislação que determinava ao homem nesta época a reclusão da
sociedade caso não fosse reparador do seu erro.
No entanto, vemos que a punição à mulher embora não fosse oficial era
evidente. À medida que se tornava conhecida por seu ato sexualmente não permitido,
mesmo considerado na condição de vítima pela Justiça, a mulher recebia outro tipo de
punição.
Esta não era uma punição escrita, e sim respaldada na lógica social, se o homem
corria o risco da castração, caso não cumprisse sua obrigação, a mulher era castrada
num sentido psicológico, ou social. O constrangimento que a sociedade iria lhe impor, a
puniria de uma forma diferente, entretanto tão cruel quanto o réu.
Em o Sexo da Norma, lemos que “percebe-se então que existiam na verdade dois
julgamentos, que em muitos aspectos coincidiam: o da justiça e o da sociedade” .41 O
segundo podia ser mais severo que o primeiro.
Mas de quem partiria a idéia? Como percebemos a culpa na forma da lei recaía
sobre o raptor, o que não impedia a mulher de ser punida numa atmosfera subliminar
pela sociedade, e talvez muito provavelmente pela família, além do constrangimento
que lhe causariam os processos recorrentes de queixa, julgamento, exames.
Era usual que oficialmente a “idéia” da fuga recaísse sobre o homem; o homem
enquanto ser pensante, ativo e, para a época, bem mais capaz em seu físico e intelecto.
Portanto, para a Justiça, o homem costumava ser o mentor do rapto.
Qual seria a parcela de culpa da mulher neste planejamento, tida como a parte
mais frágil, sensível, receptora? O pré-julgamento que se fazia era de que a mulher fora
sempre persuadida a tal acontecimento. Cito aqui a petição de abertura do processo:
“Maria Amélia de Sant’Anna raptada por meio de afagos e promessas de casamento”. 42
41
SANTOS, Hermelido Góis dos. O sexo da Norma: Processos de Defloramento (1901-1930), pág. 24.
42
Citação do processo, AJES, cx. 2543, p. 69, que justifica o motivo pelo qual a menor Maria Amélia de
Sant’Anna foi raptada.
30
O juízo que se faz é este: a mulher é que se deixa levar, “a mulher iludida”,
embora isso não exclua sua parcela de culpa ou os falatórios. Parece que é sempre o
gênero tido como fraco que é induzido pelo sexo oposto, em uma tentativa social de
demonstrar a incapacidade desta.
Uma vez “iludida”, mesmo que de maneira consentida, “tanto a sociedade quanto
as autoridades da lei pareciam concordar em um ponto. Uma vez tendo deflorado a moça o
rapaz devia a ela sua honra.” 44
A honra deveria ser preservada, porque logicamente as mulheres que não eram
mais virgens e também não constituíam um enlace matrimonial poderiam até ser
consideradas como “mulheres livres”, quase como prostitutas; elas fariam a constante
oposição à idealidade de mulher, seria o símbolo do desregramento social tão temido no
que concerne à falta de estrutura familiar padrão.
43
SANTOS, Hermelido Góis dos. O sexo da Norma: Processos de Defloramento (1901-1930), pág.50.
44
Ibid, 23.
31
45
DE TILIO, Rafael. & CALDANA, Regina Helena Lima. “As Mulheres de Misael. Corrupção de
menores, Atentados ao Puder e Atos Libidinosos na comarca de RibeirãoPpreto, 1871 a 1942”. A citação
refere-se de maneira integral a que está no artigo já citado sobre os crimes sexuais contra mulheres e suas
respectivas punições, p. 8.
32
Os crimes por assim dizer aqui citados no geral são mais severos quando as
práticas se referem a menores, ou na intensidade de quanto ferem uma reputação ou a
honra de moça de família.
Para o caso que discorremos, dois destes crimes serão importantes, os cometidos
contra Maria Amélia, Rapto seguido de Defloramento. As penas para estes crimes
seriam:
O código criminal do Brasil império, de 1830, punia o raptor violento com pena
de dois a dez anos de prisão, e a obrigação de dotar (reparar o mal de maneira
indenizatória); já no caso de rapto por sedução, o sedutor era obrigado a cumprir pena
que variava de um a três anos.
33
A avaliação feita a partir desse exame vai além de uma apreciação física ou
material, constitui a análise de uma moralidade incluída no fato ou não da existência de
um hímen.
A culpa que acompanhava a violada poderia ser uma questão de justiça para com
as demais mulheres consideradas puras. Pelos padrões, a violada, apenas poderia manter
uma união estável e sadia socialmente, se fosse com aquele que a desvirginara.
34
E o último questionamento que teria por finalidade saber qual o valor do dano
causado. As respostas aos itens anteriores são tão técnicas quanto à natureza das
perguntas; nesta última, porém, encontramos um teor de subjetividade. O que uma junta
de doutores avaliaria sobre o “mal” que fora feito à jovem?
48
Baseado nos questionamentos do auto do exame de corpo de delito. Processo citado, cx. 2543(Rapto e
Defloramento), p. 17.
49
Referente à frase retirado do processo de Maria Amélia, cx. 2543(Rapto e Defloramento). Pág.17.
35
Por mais que estivesse no papel de vítima, como foi dito, a jovem citada estava
fora da conformidade padrão, muito provavelmente o parecer sobre ela seria: “Aquelas
dotadas de erotismo intenso e forte inteligência, seriam despidas do sentimento de maternidade,
característica inata da mulher normal, e consideradas extremamente perigosas”. 52
Em oposição à figura cândida que deveria ser seguida pela mulher, encontramos
no mesmo texto a referência feita ao papel do homem: “o homem conjugava a sua força
física, a natureza autoritária, empreendedora, racional e uma sexualidade sem freios.”53
50
SANTOS, Hermelido Goís dos. O Sexo da Norma: Processos de Defloramento em Aracaju (1901-
1930), p. 69.
51
DEL PRIORE. Mary (org). História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 363.
52
Ibid, p. 363.
53
Ibid, p. 363.
36
55
Ibid, p. 390.
37
expande das vivências familiares, chega até a corresponder a uma violência física.
Algumas mulheres estiveram submetidas aos dois tipos de violência. De qualquer
forma, “todas” elas estavam submetidas à primeira violência, que de tudo as poupava, e
aos homens tudo permitia.
Poder-se-ia arriscar supor que entre rapto e defloramento, este último era o crime
mais grave. Pois este se reportava muito mais diretamente ao hímen, neste caso igual
honra, era uma representação da entrega por sedução aos desejos sexuais do rapaz que
lhe jurara casamento.
Isto significa dizer que a moça já não era mais virgem, e assim esta não o sendo,
ele deveria ser livre da culpa de defloramento, ou parcialmente abonado em sua pena, já
que seu crime teria sido apenas o rapto.
56
Ibid, p. 389.
57
Ibid, p. 393.
38
José Bernardino não chega a afirmar com contundência que deflorou Amélia
para tal verificação de honra, mas informa com todas as letras, que esta moça já teria
sido violada anteriormente, ele também não informa que se certificara da violação após
a prática do ato sexual, ao contrário disse que soubera por meio da mesma, que
confessou isso não só a ele, mas a outras pessoas.
58
SANTOS, Hermelido Góis dos. O sexo da Norma: Processos de Defloramento (1901-1930), p. 73.
39
3.1. O PROCESSO
Consta que este réu tinha pretensões de casar-se com a menor Maria Amélia de
Sant’Anna; como o pai da mesma se opusera devido à sua pouca idade, 12 anos, a
solução vista pelo réu para objetivar suas intenções foi a de rapto da mesma. Por este
fato foi José Bernardino acusado por Agostinho Nunes dos Santos, pai da menor.
40
Durante a noite, conta a moça, teve lugar à “violação de sua honra”, não fora por
violência, e sim por sedução e promessa de casamento. E, em conseguinte, seguiram
para a ilha de Santo Amaro, lá Maria Amélia ficou depositada em casa de uma tal
Maria, que vivia amasiada com um certo José Januário, até que seu pai a tivesse
mandado buscar por uma tia de nome Mathildes.
O Corpo de Delito
41
ocorrido defloramento; e caso tivesse ocorrido, se fora usada a violência; e se era ou não
de pouco tempo a referida relação sexual, e por fim, a natureza do dano causado.
Segundo as análises dos autos dos exames e corpo de delito, foi constatado
defloramento num período próximo passado, contudo não se utilizou de violência.
Como já vimos no capítulo anterior, para a junta de doutores que avaliaram a menor, a
natureza do dano causado era incalculável, devido ao fato de que a reputação da mesma
fora violada.
E, ainda para este processo, acrescentam que embora a menina tivesse apenas
12 anos, a sua constituição física era correspondente a 14 anos, não obstante já tivesse
sido comprovada sua idade anteriormente no processo através de sua certidão de
batismo.
Os testemunhos
“Outras pessoas” nitidamente fazem parte deste processo. Além do réu, vítima e
demais familiares interessados, terceiros sempre se imbuem na história de um processo
tal como é este. “os terceiros”, são aqueles que convivem de perto e tornam-se a par de
cada detalhe, às vezes antes mesmo que os mais interessados.
42
encontrado, em seu lugar foi convocado José Elias. Após longos mandados, idas e
vindas do oficial de justiça, as mesmas depuseram e confirmaram os fatos já citados:
que ouviram falar que a “menina do José Agostinho” foi raptada e conduzida pela
estrada do Porto das Redes.
Em seu testemunho Belizário afirmou que ouvira dizer que ele (José Bernardino)
a tinha tirado e levado com sua canoa para Santo Amaro, e ainda respondendo aos
questionamentos do promotor, disse que conhecia a menor Amélia há pouco tempo,
então não sabia se ela costumava agir dessa forma, contudo, nunca ouvira falar mal de
sua honra.
Por fim, a última testemunha, José Elias dos Santos dissera que vira quando a
menina Amélia saiu pelo quintal correndo pelos matos e, posteriormente, escutou um
choro na casa de Agostinho Nunes. Só depois soubera que era por causa da fuga da
menor.
Assim sendo, a promotoria pediu a condenação em grau máximo para o réu por
ter deflorado a virgem Maria Amélia, argumentando que mesmo que a menor não fosse
(virgem) era respeitada como tal.
O Réu
43
Afirmou o réu que tinha intenções de casar, todavia soubera que Maria Amélia
era posta para fora de casa pelo pai, pois não encontrava um rapaz para casar-se com
ela. Diz ainda o réu que após seu encontro com Amélia, eles foram pela estrada do
Porto das Redes até Santo Amaro, onde ele a deixou em casa de uma prostituta, até que
seu pai a mandara buscar.
Sobre a menina, Bernardino disse que ao ter relações sexuais com ela, “a
encontrou imperfeita”, ou seja, já deflorada em sua honra. E acrescentou que a dita
“vítima” disse por ela mesma, na casa de tal de Moura Matos, que seu ofensor fora um
soldado de nome Olegário. Este teria ido ao Rio de Janeiro acerca de um ano.
Embora o exame de corpo de delito relatasse que Amélia deixara de ser virgem
há pouco tempo, o acusado reafirmou tal posição e concluiu dizendo que Agostinho (o
pai da moça) fizera a ele esta acusação por vingança.
O Julgamento
44
E tendo em vista a decisão do júri, José Bernardino das Neves foi condenado ao
grau máximo para este tipo de crime, três anos de reclusão segundo o artigo 227 do
código criminal, na cadeia da capital.
Por fim, o pai da moça, Agostinho Luis dos Santos, fez uma solicitação para que
se retirasse a pena do incriminado, desistindo da ação que lhe facultava contra o referido
raptor, pois o mesmo estava disposto “reparar o mal que fizera”, casando-se com sua
filha.
Um nome comum, Amélia, uma personagem comum, apenas mais uma mulher.
Do século XIX, quem se lembraria de uma moça de 12 anos, que ousara a definição de
seu destino ao ser raptada.
Honra esta moldada por uma sociedade patriarcal, machista, que impõe a mulher
o silêncio, a sujeição e a abnegação, do que ela é, e de tudo que pensa. Limita-se até a
construção de um pensamento próprio.
45
acordo com a moralidade social, e passa a assemelhar-se muito mais com as mulheres
de vida desregrada.
Pudera assim estivesse implícito que mulher não pode ousar, e sim, apenas,
reproduzir os modelos do contexto social que a conformam, ou melhor, que a
constrangem a seguir os protótipos previstos, impostos. E que por supressão abafam
cada história de mulher, das mulheres.
O que se pode conhecer através de um processo tal como o que relata a história
de Maria Amélia de Sant’Anna é ad infinito. Com todas as restrições que o documento
mesmo nos impõe, compreendemos que ele está imerso na lógica da sociedade que o
produziu.
59
GRAHAM, Sandra Lauderdale. Caetana Diz Não. Tradução:Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005, p. 11.
46
O que se pode conhecer com um processo como este é a soma dos elementos
implícitos, notórios e até subliminares, a exemplos das autoridades familiares,
representadas no discurso pelo pai, enquanto o tal que devia preservar a honra familiar.
E que por conseqüência acaba por reproduzir o paradigma sócio - religioso sobre
a questão do casamento, da educação da mulher, preponderantes no XIX. E ainda a
diferenciação entre o tratamento ou a conduta exigida à mulher tanto de classe popular
quanto de uma classe mais abastada.
A partir dele percebemos que este tipo de Crime era comum nas classes
populares ou não, sendo que a repercussão de um crime assim seria bem maior caso a
família possuísse bens e respaldo social. Como fora neste caso do rapto da Jurema.
60
DANTAS, Orlando Vieira. Vida Patriarcal em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. Na parte
referente aos documentos Dantas cita o Rapto da Jureminha do Engenho Massapê. O tal rapto ocorrera
pelo fim da tarde, 28 homens armados sob ordens de Braz Maciel invadiram o engenho e levaram Joana
Jurema a força, ao que tudo indica o motivo fora uma briga política entre as famílias. Cerca de 1 mês
depois a vítima foi resgatada, o réu condenado, muito embora, cumpriu muito pouco de sua pena pois
47
48
A moça, para a família é quase um objeto de valor, sua pureza é cobiçada, quase
colocada a prêmio, ela em si, reporta o nome da família, e a qualidade de pai que
preserva pelos seus entes. Guarda, protege dos perigos da sociedade.
Moças raptadas podiam/podem ser moças faladas, mal faladas, muito embora
sejam o símbolo de uma atitude livre, de uma representação de vontade própria. Não
que estas sejam símbolo de liberdade da mulher, no entanto foram ao menos
impulsionadas a uma ação que propõe a emancipação.
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, não poderia deixar de citar a benevolência, por assim dizer, das fontes
judiciais para com o trabalho de historiador (a). Segundo Flamarion e Vainfas61:
61
FLAMARION, Ciro. & VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia.
Rio de Janeiro: Campos, 1997, p. 295.
62
Ibid, p. 296.
63
PERROT, Michelle. As Mulheres ou Os Silêncios da História. Tradução: Viviane Ribeiro. São Paulo:
Edusc, 2005, p. 34. Ao refereir-se à criminologia como mas referendada no universo masculino.
50
Diários, cartas, romances são por onde o historiador está sempre por “caçar” a
apreensão do feminino. Da mesma maneira os arquivos judiciais também oferecem um
manancial de fontes para a história das mulheres.
Como expressou Graham, no livro aqui bem citado: “A justiça tenta ser
conclusiva, a história nunca o é. Os historiadores buscam expandir as fronteiras das
histórias que contam.64”
TRANSCRIÇÃO DO PROCESSO
18-02-1879
64
GRAHAM, Sandra Lauderdale. Caetana Diz Não. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005, p. 221.
51
Juízo municipal
Aracaju
A justiça publica
Processo crime
Escrivão
Ezequiel B. Santos
Ano do nascimento
cidade de Aracaju, em um
to da actual(...)
52
PÁG. 01
O escrivão
53
PÁG. 02
2° parágrafo
54
PÁG. 03
determina a lei
Baptista.
Deus Guarde V. S.
Da Capital.
55
PÁG. 04
1879
Secretaria da Policia de
Sergipe
servindo de Escrivão V. B.
de Rezende
termo.
56
PÁG. 05
abaixo nomeado
57
PÁG. 06
seu pai?
58
PÁG. 07
59
cidade
dinoso?
Promessa de casamento.
60
Nome Mathildes.
Fé
PÁG. 08
(Assinatura)
PÁG. 09
61
PÁG. 10
62
tregue .
ASS.
63
PÁG. 11
se (afim?) attestar a o e ou
Miserabilidadde
Atesta affirmativamente .
1897
PÁG. 12
N.43
ILM (Exl)
64
Deus Guarde a V. E.
(Assinatura)
PÁG. 13
65
PÁG. 14
De 1897.
66
offensor
assim(pois)
PÁG. 15
P.a V. S. deferimento
(Assinatura)E.RM.
O promotor publico
Auto do exame
67
Fevereiro
da província de Sergipe, e na
e encarregam-lhes de procederem
68
PÁG. 16
no cauzado: em conseqüência
investigação, concluin
do as quais declaram a se
69
pouco de escoriações
chy.....em(....) do meto
redes da vagina
70
PÁG. 17
o exame e de tudo se
71
Jose de Maria
(Assinaturas)
PÁG. 18
Junta
To a certidão ao(...)mesmo
(Assinaturas)
PÁG. 19
Mandado notificar
72
Para as testemunhas a
Archangela, Anna Ba
Da lei.
Mando a quais
73
PÁG. 20
24 de fevereiro de 1879.
official de justiça
(Assinaturas)
74
De 1879.
PÁG. 21
Ajuntar
de Aracajú na casa
cumprimento de preparatório
75
já foram juramentadas e de
1° testemunha
76
PÁG. 22
PÁG. 23
24 de fevereiro de 1879.
2° Testemunha
77
e raptor conduziu a me
PÁG.24
78
Escrivão.
(Assinaturas)
24 de fevereiro de 1879.
79
3° testemunha
de cincuenta annos, na
PÀG. 25
80
acha-se offendida da
to conforme assi
(...) a (...)
público. Eu EZequiel Ba
81
PÀG. 26
ILM. SR.
Assinatura
Elego
Escrivão a escrevi.
Assinatura
82
ASS.
escrivão escrevi???
notificado.
PÀG. 27
Ao oficial Estevão
27 de fevereiro de 1879.
83
de fevereiro de 1879.
(ASS)
PÀG. 28
Juntada
PÀG. 29
Manda notificar as
Abaixo de declara.
84
Assinatura
85
PÀG. 30
Assinatura
Assinatura
86
PÀG. 31
Neste
(...) Promotor pu
Nesta.
justiça, a..............indiciou?)
Santo Antonio.
87
O promotor público
Data.
Cho depor.
Público(...)
Nesta(...)
Escrivão nesta.
88
PÀG. 32
Data
Do(...)juiz(...)faço(...)tragam
89
Escrivão Nesta.
Juntada
Caju, em ((...)...)
Nesta.
PÀG. 33
Mando notificar as
Testemunhas, Belizário
ra.
90
siglas.
notifiquem as testemunhas a ci
91
Escrivão nesta.
Assinatura
PÀG. 34
6 de Março de 1879.
(ASS).
PÀG. 35
92
(Assinatura).
93
Data
Possui mandado
10 de Março de 1879.
Assinatura
PÀG. 36
Juntada
de mil oitocentos e se
cidade do Aracaju, em
no Cartório, juntada
94
Nesta.
PÀG. 37
Mandado de notificação à
testemunha Belizário
Declara.
Siglas.
Mando a qualquer
95
(...)
Assinatura
PÀG. 38
96
foram? o referido
Março de 1879.
(ASS).
PÀG. 39
Assinatura
97
público. 14 de Março
de 1879.
Assinatura
Is eu Ezequiel Bap
Nesta.
Escrivão nesta.
Assinatura
PÀG. 40
98
Em substituição a testemunha
vê-se da certidão(...)
Quanto a testemunha
Aracaju 24 de Março
De 1879.
O promotor
Data.
me foi entre
Assinatura
99
de março de mil
oitocentos e setenta e
nove, em um cartório
pal. Em cujo(...)
Assinatura
PÀG. 41
De 1897.
Assinatura
100
de março acima
Assinatura
Informação
(linha ilegível)
101
PÀG. 42
Justas.
Assinatura
Ta Bastos. Escrivão......
Assinatura
102
PÀG. 43
Mandado de notificação a
Declara.
Siglas.
Mando a qualquer
103
a testemunha José
Aracaju, 28 de março de
Ta Bastos. Escrivão...
Assinatura
PÀG. 44
104
Assinatura
PÀG. 45
Juntada
105
Escrivão que(...)
PÀG. 46
Assinatura
P. V.S deferimento.
Assinatura
106
O promotor publico.
PÀG. 47
Panheiro.
Assinatura
Requeiro que(...)
Aracaju 18 de agosto de
107
1879.
O promotor publico
Data.
Conclusão
PÀG. 48
108
França. Escrivão
Assinatura
Afim de no dia 22 de
Data.
Juntada
109
PÀG. 49
as testemunhas abaixo
denominadas.
O cidadão
Municipal de Aracaju
Mando à
110
Bernardino pelo
de França. Escrivão
Assinatura
PÀG. 50
22 de agosto de 1879.
111
Assinatura
A justiça...levou a convalecimento
(ASS)
Conclusão
(ASS)
112
PÀG. 51
Data
Certifico (...)
Que em própria(...)intimação
113
a elle ficou........Aracaju
26 de agosto de 1879.
Assinatura
PÀG. 52
Juntada
escrivão
PÀG. 53
Agora a ficarão
114
Agosto de 1879.
Assinatura
PÀG. 54
115
Agostinho, e que o
116
Assinatura
PÀG. 55
117
Escrivão
Assinatura
118
29 de Agosto de 1879.
PÀG. 56
5° Testemunho
119
PÀG. 57
120
Escrivão
Assinatura
Assinatura
29 de Agosto de 1879.
121
Assinatura
Conclusão
PÀG. 58
Do Araújo intimo(...)
Data
Assinatura
V. S. a vista
122
(Assinatura)
PÀG. 59
Sugiro a promuncia de
do artigo criminal.
Aracaju 5 de setembro de
1879.
O promotor público
123
Assinatura
Seguintes irregularidades:
124
PÀG. 60
De 11°
Do facto.
125
No crime.
PÀG. 61
126
Prescrita na lei.
rito.
127
Público.
50 do reg.n°4824 de 22 de abril de
1871.
PÀG. 62
final.
128
zar um inquérito(...) do
(ASS).
129
Assinatura
PÀG. 63
Assinatura
130
ridade policial.
um processo independen
te de inquérito policial
em vista da disposição
4824 de 22 de Novembro de
PÀG. 64
131
A queixa procedente em
(...)
Aracaju 13 de setembro de
1879.
O promotor publico
Assinatura
132
Assinatura
PÀG. 65
De 1° testemunha de(...)
Assinatura
133
Remetto
(ASS).
Remettido.
Recebimento
134
PÀG. 66
Escrivão
Assinatura
Conclusão
de direito (...)
135
Pereira França
os despachos decorridos, pe
de setembro de 1879.
Assinatura.
PÀG. 67.
Data
136
Conclusão
de direito (...)
Pereira França
de setembro de 1879.
Data
137
Conclusão
Muncipal
PÀG. 68.
Assinatura
138
Vista
Data
139
Assinatura
PÀG. 69.
forma de direito.
Assinatura.
140
Como tal.
Criminoso a noite.
PÀG. 70
141
julgada aprovado.
Assinatura.
Testemunhas
142
Moradores da estrada de
S. Antonio
O Promotor Publico
PÀG. 71
De 1879.
Assinatura.
Conclusão
143
144
3 de outubro de 1879.
Assinatura.
PÀG. 72
Data
Assinatura.
Juntada
145
PÀG. 73
146
PÀG. 74
147
148
PÀG. 75
(...)para faze
149
França Escrivão.
Esta conforme
Encaminhou o Juiz.
Assinatura.
Juntada
de França. Escrivão
Assinatura.
150
PÀG. 76
Mandado de intimação
A testemunha abaixo
Declara.
151
4 de novembro a casa da
Assinatura.
PÀG. 77
152
1879
Assinatura.
Assinatura.
Data
PÀG. 78
Data
153
Assinatura.
Juntada
te despacho e
França. Escrivão
PÀG. 79
Jose Bernardino das Neves tendo sido por este juiz pro
154
(Assinatura)
31 de Outubro de 1879.
PÀG. 80
Assinatura.
155
Assinatura.
Outubro de 1879.
156
Assinatura.
Juntada
te despacho e
França. Escrivão
PÀG. 81
Aracaju 31 de outubro de
1879.
157
Assinatura.
Conclusão
Assinatura.
Data
PÀG. 82
158
Assinatura.
159
França. Escrivão
Conclusão
PÀG. 83
160
De 1879.
Data
161
Assinatura.
PÀG. 84
162
França. Escrivão
Gonçalo
PÀG. 85
163
Assinatura.
164
Vão do juiz
PÀG. 86
temunha.
PÀG. 87
165
4 de novembro de 1879.
Assinatura.
e testemunhas.
166
Temunhas Archangela
Assinatura.
PÀG. 88
167
168
PÀG. 89
169
PÀG. 90
170
Escrivão do juiz
PÀG. 91
171
(...) livro e um
Escrivão do juiz
(Assinaturas)
Diversas
PÀG. 92
(Assinaturas)
Diversas
PÀG. 93
Auto de qualificação
172
Seguintes:
do juiz
(Assinaturas)
173
PÀG. 94
174
PÀG. 95
175
coisa a propor-lhes?
176
PÀG. 96
177
(Assinaturas)
178
PÀG. 97
Auto de acusação
Feito leitura
179
va a culpabilidade do reo. De
PÀG. 98
Declaração de defesa
Advogado do reo
inocência apresentando em
180
PÀG. 99
nestes termos.
P. V. S
Despacho
(Iniciais)
181
(Assinaturas)
PÀG. 100
(Trabalhador?). 5 de fevereiro
De 1879.
182
O Administrador.
(Assinatura)
De 1879.
(Assinatura)
PÀG. 101
Resumo de debates
183
do jury
PÁG. 102
184
PÁG. 103.
185
(Assinatura)
PÀG. 104
Quesitos
186
1°
Amélia de Sant’Anna?
2°
gem?
3°
4°
187
5°
em favor do reo?
De 1879.
(Assinatura)
PÀG. 105
188
1° quesito
promessa de casamento de
2° quesito
era virgem.
3° quesito.
189
4°quesito
5°quesito
PÀG. 106
secreta do jury, 7 de
novembro de 1879.
(Assinatura) diversas.
190
(Assinatura)
Publicação e Recurso
PÁG. 108
191
Jury
(Assinatura)
(Assinatura)
Juntada
Escrivão do jury
PÁG. 109
192
Promotor publico
Aracaju, 13 de novembro
De 1879.
193
(Assinatura)
PÁG. 110
crivão do juiz
(Assinatura)
(Assinatura)
194
Data
Conclusão
França escrivão
PÁG. 111
195
(Assinatura)
Data
Termo de Desistência
196
PÁG. 112
ra de França escrivão
(Assinatura)
Diversas
Conclusão
197
França escrivão
(Assinatura)
PÁG. 113
de 1879.
(Assinatura)
Data
198
Escrivão
REFERÊNCIAS
65
As páginas 114, 115, 116 e 117 do processo correspondem aos números, contas e gastos do mesmo.
199
Referências Bibliográficas
AMARAL, Sharyse Piroupo do. Uma nação por fazer: escravos, mulheres e
DANTAS. Orlando Vieira. Vida Patriarcal em Sergipe. Rio de Janeiro. Paz e Terra.
1980.
DEL PRIORE. Mary. (Org.). Historia das Mulheres no Brasil. Carla Bassanezi
Atual. 2004.
GRAHAM. Sandra Lauderdale. Caetana Diz Não. Tradução Pedro Maia Soares. São
200
__________. Minha História das Mulheres. Tradução Angela M.S. Correa. São Paulo
Contexto. 2007.
NOVAIS. Fernando & SEVCENKO. Nicolau( Org.). História da vida Privada. Vol. 3.
Referência Eletrônica
201