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CUMPRIMENTO E NÃO CUMPRIMENTO

DAS OBRIGAÇÕES

ALGUNS CASOS PRÁTICOS COM TÓPICOS DE CORRECÇÃO

HUGO RAMOS ALVES

Os presentes tópicos são parcelares. Por conseguinte, não cobrem a totalidade da


matéria abordada pelo programa, nem substituem a consulta de manuais
indicados no programa
Caso n.º 1

António celebrou com Bento contrato pelo qual aquele se obrigou a entregar a este,
no dia 20 de Maio, 100 sacos de cimento.
No dia 20 de Maio, António entregou a Bento 80 sacos, mas este disse-lhe logo que
mais valia levá-los de volta, porque o combinado tinha sido 100 sacos. António
respondeu que lhe conseguia entregar os outros 20 sacos oito dias depois e que não
compreendia a atitude de Bento, uma vez que ainda nem sequer tinha começado a
obra…
No dia 28 de Maio, António entregou então os 100 sacos a Bento, mas Bento veio a
saber que 15 sacos tinham sido roubados a Carlos.
Quid iuris?

1. Grosso modo, o cumprimento corresponde à realização da prestação. O


cumprimento não é um negócio jurídico. Este inova, mas o cumprimento executa.
2. Como acto jurídico que é, o cumprimento está sujeito a ser declarado nulo ou
anulado, de harmonia com o 295.º e o 766.º.
3. Relativamente ao credor, o cumprimento determina a extinção do seu crédito, como
contrapartida da prestação recebida. É, pois, uma das causas da extinção do direito.
4. Em relação ao devedor, normalmente também produz a extinção da obrigação. Por
vezes, porém, o antigo credor é substituído pelo novo credor (pense-se no
cumprimento por terceiro em que haja lugar a sub-rogação), caso em que o débito
não se extingue, antes é transmitido para o credor sub-rogado.
5. Cabe ter presente que obrigações duradouras o cumprimento, conquanto determine
a extinção do dever de prestar primário, pode estar na base de situações de culpa
post factum finitum.
6. Independentemente da correcção da organização sistemática, o artigo 406.º/1 afirma
o princípio da pontualidade: o contrato deve ser pontualmente cumprido. Ou seja, o
contrato deve ser cumprido ponto por ponto. Isto quer dizer que o devedor deve
realizar a prestação nos exactos termos em que ela estava convencionada. A
pontualidade não significa apenas execução no momento devido, mas cumprimento
nos termos da vinculação.

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7. O devedor não pode pois oferecer prestação diferente, maior ou menor daquela a
que se vinculou, ainda que isso traga benefício para o credor.
8. O devedor não pode invocar dificuldades económicas para obter a redução da
prestação ou o seu cumprimento em termos menos prejudiciais (não é admitido o
beneficium competentiae do direito romano, traduzido em o juiz poder reduzir a
dívida de certos devedores, v.g. dos pais em relação aos filhos) quando o seu
cumprimento integral o colocasse em situação económica difícil.
9. Perante prestação diferente, o credor pode aceitar, casos em que há dação em
cumprimento (837) ou recusar, entrando o devedor entra em mora.
10. De acordo com o artigo 763.º/1, a prestação deve ser realizada de uma só vez,
integralmente, por inteiro. Isto mesmo que a prestação seja perfeitamente divisível,
isto é, que pudesse ser fraccionada sem prejuízo para a sua substância e valor e para
o interesse do credor. Como refere Galvão Telles, o cumprimento tem carácter
indivisível, ainda que a prestação seja, em si, divisível.
11. Do artigo 763.º/1 resulta que
(i) as partes podem convencionar o contrário – neste caso, claro que a
prestação deve ser feita por partes. É o que sucede nas prestações
fraccionadas (cfr. arts. 781.º e 934.º). O credor não pode exigir o
cumprimento de uma só vez. Mas o devedor pode realizá-la por inteiro,
tendo apenas direito a ser ressarcido nos termos do enriquecimento sem
causa se, por erro desculpável, o fizer (cfr. artigo 476.º/3). Há uma só
obrigação cujo objecto é dividido em fracções com vencimentos
intercalados, daís que o cumprimento possa ser feito fraccionadamente,
por partes.
(ii) O contrário pode resultar da lei (cfr. 784.º/2, 649.º, 847.º/2).
(iii) O contrário pode resultar dos usos.
(iv) Um outro caso em que o cumprimento parcial é possível é quando a
recusa do credor, em face dele, é contrária à boa-fé (cfr. 762.º/2).
(v) Perante um oferecimento da prestação parcial: (i) - o credor pode recusar-
se a receber, sem entrar em mora, ou (ii) pode aceitar, pois que ele tem a
faculdade de exigir apenas uma parte da prestação, desde que a prestação
seja divisível (artigo 763.º/2, 1.ª parte). Neste caso não há mora.

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(vi) 763.º/2, 2ª parte: o devedor pode sempre oferecer a prestação por inteiro.
O credor, querendo-a em partes, não pode recusá-la.
12. O cumprimento é regigo ainda pelo princípio da boa-fé (762.º/2). Quer isto dizer
que o cumprimento não consiste apenas na realização formal da prestação. Deve, na
sua materialidade, corresponder à satisfação do interesse do credor, sem sacrifícios
excessivos para o devedor.
13. A violação do ditames da boa fé não dá origem à acção de cumprimento, mas sim a
responsabilidade civil contratual.
14. In casu, há violação do princípio da pontualidade e da integralidade. Quanto a este,
não houve convenção em contrário, nem há lei, nem usos a permitirem o
cumprimento parcial. Portanto, em princípio, B podia recusar os 80 sacos sem
entrar em mora.
15. Porém, parece contrária à boa-fé a reacção de B, porque não precisava já dos
oitenta sacos.
16. Assim, B, ao recusar-se a receber os 80 entra em mora. B devida ter recebido os 80
sacos. É responsável pelos prejuízos causados a A.
17. Quanto aos outros 20 sacos, há mora do devedor, que deve indemnizar B do
prejuízo causado, se prejuízo houver.
18. O devedor deve ter disponibilidade sobre a coisa para cumprir. Assim, pode
suceder que o devedor de prestação de coisa entregue coisa que não pode alhear –
por não lhe pertencer ou por ser própria mas dela não poder dispor (v.g.,
compropriedade – 1408 – ou nas situações de comunhão conjugal – 1682 ss.).
19. Neste caso, pergunta-se se pode ser impugnado o cumprimento. Há que distinguir:
(i) O credor pode fazê-lo, se estiver de boa-fé. Caso contrário podia ver ser
contra ele dirigida acção de reivindicação ou acção de anulação do
cumprimento (cfr. art. 1687.º)
(ii) O devedor, de boa ou má-fé, não pode anular o cumprimento, a não ser
que ofereça nova prestação em substituição da anteriormente realizada.
20. In casu, A cumpriu com 15 sacos de cimento de terceiro, sem a sua autorização. Ora,
B, estando de boa-fé, pode impugnar o cumprimento. De facto, mal seria que B
tivesse de dar por cumprida a obrigação se contra ele podia ser intentada acção de
reivindicação. Impugnado o cumprimento, A continuava a dever-lhe 15 sacos, salvo

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se fosse convertida a mora em incumprimento definitivo.

Caso n.º 2

Afonso, emigrado em França, tinha comprado, por 50.000,00 XOF, um revólver de


colecção a Bernardino, residente em Portugal.
Carlos, primo de Afonso, sabendo da dívida a Bernardino, pagou-lhe, numa visita à
casa deste, os 50.000,00 XOF, invocando que “não havia qualquer problema porque ele,
Carlos, tinha dinheiro a rodos”.
Por seu turno, Bernardino entregou a Carlos o revólver.
Afonso não quer reembolsar Carlos dos 50.000,00 XOF, mas recebeu dele o
revólver.
Quid iuris?

1. Em princípio, o cumprimento talvez devesse ser admitido apenas se efectuado pelo


devedor ao credor. Não é essa, todavia, solução plasmada no CC.
2. Comecemos pela legitimidade passiva, isto é, por quem pode ser cumprida a
obrigação
3. Desde logo pelo devedor. No caso, por A.
4. Cabe agora, aferir da legitimidade da realização da prestação por terceiro.
5. In casu, há um pagamento de uma dívida perante o verdadeiro credor efectuado por
um 3.º, o C. Temos aqui um problema de realização da prestação por 3.º ao
verdadeiro credor (B). Quanto à prestação de entrega do revólver, a situação é de
prestação pelo verdadeiro devedor a outrem que não o credor.
6. Quando se pergunta se pode ser a prestação realizada por terceiro não se quer ver se
um terceiro tem a possibilidade física de a fazer, claro. A possibilidade de
realização da prestação por terceiro diz respeito à realização da prestação sem a
oposição do credor. Isto é, o credor não poderá recusá-la. No caso, se puder ser
efectuada por C, B não pode recusar a prestação.
7. Há que distinguir:
(i) Se a prestação for fungível: pode. 767.º/1: a prestação tanto pode ser feita
pelo devedor como por terceiro. Prestações Fungíveis são aquelas que,

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atendendo ao interesse do credor, podem ser realizadas por outra pessoa
diferente do devedor, por um empregado seu ou alguém que ele determine tal
conduta.
As prestações de coisa são em regra fungíveis, mesmo que a coisa seja em si
infungível. O cavalo, coisa infungível (infungíveis são as coisas que estão
individualizadas; fungíveis são aquelas que apenas estão determinadas quanto
ao género, quantidade e qualidade) por hipótese, pode ser entregue por
qualquer pessoa.
As prestações de facto podem ser fungíveis ou infungíveis. Muitas vezes são
infungíveis, porque o interesse do credor só ficará satisfeito com a realização
pessoal da prestação pelo credor. Outras vezes são fungíveis – o advogado.
pode fazer-se substituir pelo colega no julgamento; pintar o muro de uma
casa, et cetera
Portanto, o credor tem de receber a prestação do terceiro, sem poder recusá-
la. Se recusar, entra em mora do credor – 768/1 e 813.
Há casos em que, embora sendo a prestação fungível, pode ser recusada pelo
credor – 768/2. Para isso é necessário que o devedor se oponha ao
cumprimento; e o terceiro º não possa ficar sub-rogado nos termos do artigo.
592.º.
(ii) Se a prestação for infungível: não pode. 767.º/2: neste caso, o credor pode
recusar a prestação por 3º sem entrar em mora. Pode exigir que seja o
devedor, pessoalmente, a pagar.
Prestações Infungíveis são aquelas q só podem ser efectuadas pelo devedor,
que não pode fazer-se substituir por 3º no cumprimento.
A infungibilidade pode resultar:
a) de acordo das partes – 767/2 (infungibilidade convencional – é
expressamente convencionado que só o devedor pode cumprir). Por
exemplo, pode o credor contratar com o médico que este nunca se fará
substituir no exercício da profissão. Nesse caso, o credor podia recusar
a prestação. A prestação naturalmente fungível é assim convertida em
infungível.
b) da natureza da prestação, atendendo ao interesse do credor, de maneira a

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que a substituição o não prejudique – 767.º/2 (infungibilidade natural).
Por exemplo, não será permitida a prestação por terceiro se alguém
contrata pintor famoso para pintar quadro e este se faz substituir por um
seu aprendiz. Nestes casos, a substituição acarreta prejuízo para o
credor, pelo q a prestação é infungível – naturalmente.
8. In casu, a prestação era fungível, pelo que podia ser realizada por Carlos. C tinha
um interesse no cumprimento, porque era primo de A.
9. De acordo com Menezes Cordeiro, a prestação pode ser realizada por terceiro desde
que se cumpram as regras relativas ao lugar e tempo do cumprimento. No caso, o
preço devia ser pago no lugar da entrega da coisa vendida e a coisa devia ser
entregue no lugar onde se encontrava ao tempo da conclusão do negócio (casa de
B). Quanto ao tempo do cumprimento, não havendo prazo, A podia cumprir em
qualquer altura e C igualmente.
10. Efeitos da realização da prestação por terceiro: º dependem da relação que exista ou
se estabeleça entre o terceiro e o devedor. Assim:
(i) Se C agir com espírito de liberalidade em relação a A, há uma doação
indirecta a A – 940.º. Nestes casos, a obrigação de A extingue-se perante
B e C não tem direito a receber nada. Com efeito, o terceiro age movido
pelo animus donandi, com o intuito de satisfazer puramente o interesse
do devedor, sem intuito de pedir qualquer reembolso. Em vez de dar o
dinheiro ao devedor, paga a dívida — há uma doação indirecta. Mas
note-se que é preciso que o devedor aceite, pois que a doação tem
carácter contratual. Esta situação ocorre muitas vezes no âmbito familiar
(o pai paga a dívida do filho).
(ii) Se C agir em gestão de negócios (assume a direcção de negócio de A no
interesse e por sua conta sem a sua autorização, pagando a dívida), pode
depois, sendo a gestão regular ou aprovada, obter o reembolso de todas
as despesas em que tenha incorrido e o pagamentos dos prejuízos
sofridos. Nestes casos, a obrigação de A extingue-se perante B. A fica
liberado, mas C adquire um direito de crédito ex novo na sua esfera
jurídica.
(iii) Se C agir em mandato sem representação, C este foi incumbido pelo

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devedor de cumprir, mas o terceiro age em nome próprio. O terceiro fica
com direito de receber do devedor o que houver despendido, é um direito
de crédito novo, não o crédito pago (1182).
(iv) Se C agir convencido de que está a cumprir uma obrigação própria, por
erro desculpável, 477.º: goza do direito a repetição contra o credor.
Nestes casos, a obrigação de A não se extingue perante B.
(v) Se C agir, por erro desculpável, convencido de que está obrigado perante
A a cumprir a sua obrigação, a obrigação de A, goza do direito de
repetição contra A. Nestes casos, a obrigação de A extingue-se perante B.
(vi) Se C pagar a dívida de A, sendo sub-rogado por A ou por B ou havendo
sub-rogação legal, transmite-se o crédito para si e ele passa a ser credor
de A. Nestes casos, a obrigação de A não se extingue; transmite-se para
C. A não fica liberado.
(vii) Se C pagar a dívida, simplesmente, sem espírito de liberalidade (não quer
doar o dinheiro a A), sem gestão de negócios (é o caso, porque C paga
no seu exclusivo interesse, para se fazer grande em face a B), sem
mandato, sem enriquecimento sem causa (sabe que a dívida é de B e que
não está obrigado a cumpri-la), sem sub-rogaçao (não é sub-rogado pelo
credor, nem pelo devedor, nem está interessado no cumprimento), MC –
acção contra o devedor.
11. Passemos à legitimidade passiva: a quem pode ser efectuado o cumprimento?
12. No caso, quanto à entrega do revólver, é o B que realiza a prestação, portanto, o
devedor. Não há nenhum problema de realização da prestação por terceiro, mas há
um problema de realização da prestação pelo devedor a terceiro.
13. Do artigo. 769.º flui a regra de que o cumprimento pode ser feito perante o credor
ou perante o seu representante. Portanto, não pode ser efectuado perante terceiro
(em regra).
14. Há que distinguir o representante legal do voluntário.
a) Legal: a prestação tem de ser realizada ao representante legal, porque o
credor é incapaz. Neste caso, o artigo 769 não pode ser aplicado
literalmente. Deve ser interpretado restritivamente. O credor tem de ter
capacidade de exercício para receber a prestação – 764.º/2.

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b) Voluntária: a prestação pode ser feita perante o representante voluntário
do credor, mas o devedor não é obrigado a fazê-lo. Só é obrigado a fazê-
lo se tiver isso sido convencionado com o credor – 771.º. Assim, se
aparecer o representante voluntário do credor a exigir a prestação, o
devedor pode recusar-se a prestar, sem entrar em mora. E o credor, por
seu turno, entra em mora (813) (Menezes Leitão)
15. No caso, C não invocou a qualidade de representante de A, nem era seu
representante. Mas, se invocasse, B podia recusar-se a cumprir ou podia cumprir.
Se não cumprisse, A podia entrar em mora.
16. Portanto, no caso, em princípio o cumprimento só podia ser efectuado perante A e
nunca perante C.
17. Sendo a prestação realizada a terceiro, C, pode o B exigir a restituição do indevido
– 476/2.
18. O cumprimento, por seu turno, é nulo e não desonera o devedor (Galvão Telles).
Ou seja, B ficava ainda vinculado perante A. terá de cumpir perante ele como se
não entregara a C. Quem paga mal paga duas vezes (“solve et repete”). O credor
conserva a acção contra o devedor. Mas este também pode exigir a repetição contra
o terceiro. Não pode é o devedor exigir que o credor demande o terceiro.
19. No entanto, há situações em que a prestação pode ser efectuada perante terceiro e
isso provoca a liberação do devedor perante o credor, isto é, a extinção da
obrigação. – art. 770.º.
A) Art. 770.º/a) – se o credor tiver estipulado ou consentido a realização da
prestação a terceiro.º. Nestes casos, o terceiro tem legitimidade originária
para a recepção da prestação. Para Menezes Leitão, estão aqui abrangidas
as situações de delegação: negócio pelo qual alguém autoriza que o
devedor efectue a prestação perante terceiro por sua conta, ficando então
o terceiro autorizado a receber a prestação em nome próprio.
B) 770.º/b) – se o credor ratificar a prestação a terceiro. Neste caso, o
terceiro passa também a ter legitimidade para receber a prestação,
supervenientemente. Inicialmente, o devedor não podia pagar a terceiro e
o cumprimento era nulo. Mas valida-se, torna-se liberatório
supervenientemente. O devedor fica também exonerado. A ratificação

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tem efeitos retroactivos porém – 268.º/2.
No caso, não houve ratificação.
C) 770.º/c) e e) – o terceiro passa a ser o titular do crédito. Isto é, depois de
ter recebido a prestação, o terceiro ou adquire o crédito (c) ou se torna
sucessor do credor, adquirindo igualmente o crédito. Aqui o
cumprimento valida-se também supervenientemente.
Também não é o caso.
D) 770.º/d) – se o credor vier a aproveitar-se do cumprimento e não tiver
interesse fundado em não considerar a prestação como feita a si próprio.
No caso, A vem a aproveitar-se da prestação efectuada a 3.º, C, porque
vem a receber o revólver das mãos dele. Portanto, a obrigação de
entrega deve considerar-se extinta.
Por outro lado, o cumprimento podia ser feito, por B, em qualquer altura
e no seu domicílio. Estão respeitadas as regras sobre o local e tempo do
cumprimento.

Caso n.º 33

Bento comprou a António a sua televisão e o seu frigorífico. Combinaram que


António entregaria este último quando quisesse, nada tendo acordado quanto à
televisão. O preço deveria ser pago 30 dias depois.
Porém, oito dias depois, Bento apresentou-se na casa de António e exigiu-lhe a
televisão e o frigorífico.
Por seu turno, António exigiu o pagamento do preço, tendo-se Bento oposto com
fundamento em que só pagava depois dos 30 dias e se António lhe passasse recibo.
Quid iuris?

1. Tempo do cumprimento/prazo do cumprimento ou da prestação


2. Nesta matéria, a distinção fundamental a fazer é entre obrigações puras e
obrigações a prazo.
3. Obrigações puras são aquelas que não têm prazo estabelecido pelas partes ou pela
lei para o cumprimento; isto é, não têm um termo dentro do qual a prestação deve

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ser feita.
4. Como normalmente a lei não estabelece prazo, quando as partes o não estabeleçam,
a obrigação é então pura, porque não tem prazo. Constituem a regra geral, portanto.
[Na falta de estipulação ou disposição especial da lei… - 777.º/1]
5. Mas, se não têm prazo, quando podem ser efectuadas ou quando podem ser
exigidas? Isto é, quando podem ou devem ser efectuadas? De acordo com o artigo
777.º/1, o devedor pode efectuar a prestação a todo o tempo e o credor pode exigi-la
a todo o tempo.
6. Portanto, enquanto o credor não exigir a prestação, o devedor pode efectuá-la
quando quiser, sem entrar em mora. Só entra em mora após a interpelação, com a
exigência do cumprimento – 805.º/1. E oferecendo-se para cumprir, não pode o
credor recusar o cumprimento, sob pena de mora.
7. Portanto, nem o credor pode recusar a prestação quando o devedor se oferece para
cumprir, nem o devedor pode recusar a prestação quando o credor a exige.
8. O credor exige o cumprimento através daquilo a que se designa de interpelação,
i.e., o acto pelo qual o credor comunica ao devedor a sua vontade de receber a
prestação; é a reclamação do cumprimento dirigida ao devedor pelo credor. É um
acto jurídico não negocial. Pode ser judicial ou extrajudicial.
9. É com a interpelação que a obrigação pura se vence. Nas obrigações puras, o
vencimento depende da interpelação do credor. Salvo se o devedor se furtar á
interpelação, caso em que a obrigação se vence independentemente dela (805/2/c)),
rectius, é dispensada a interpelação.
10. O vencimento da obrigação é o momento a partir do qual o credor pode exigir o
cumprimento, pondo o devedor em mora.
11. No caso, a obrigação de entregar a tv era pura, pelo que tanto B pode exigi-la a
qualquer momento como A pode cumprir em qualquer momento. Se A se oferecer
para cumprir e B recusar entra em mora. Se B exigir a qualquer momento e A
recusar entra em mora. Como B exigiu a tv, A deve cumprir e entregar logo, sob
pena de entrar em mora.
12. Com efeito, na compra e venda, aplicam-se as regras gerais do tempo do
cumprimento quanto à obrigação de entregar a coisa.
13. Temos, ainda, as obrigações a prazo, i.e., aquelas em que o devedor só pode

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cumprir depois de certo prazo ou o credor só pode exigir a prestação depois de
certo prazo. Ou seja, a exigibilidade do cumprimento ou a possibilidade do
cumprimento são diferidas para momento posterior ao da celebração do contrato.
14. Pode ser certo quanto ao momento e à sua verificação (no dia 1), certo quanto ao
momento mas incerto quanto à verificação (no próximo campeonato do mundo),
incerto quanto a ambos (quando o FCP ganhar o campeonato).
15. Nas obrigações a prazo certo, o vencimento dá-se independentemente de
interpelação. O simples findar do prazo provoca automaticamente o vencimento,
sem necessidade de o credor intimar o devedor. Isso não quer dizer que o credor
não exija a prestação; mas não tem de o fazer para que o devedor fique obrigado a
cumprir já.
16. Segundo Galvão Teles, é necessário que a obrigação esteja sujeita a prazo certo. Se
for incerto, a hipótese é equiparável à das obrigações puras e a interpelação é
necessária. Enquanto o devedor não for interpelado, a obrigação não se vence. –
805.º/2/a). claro que a interpelação só pode ter lugar depois de o prazo findar.
17. Normalmente, a fixação do prazo resulta da convenção. Mas pode resultar da lei.
18. Quando as partes não fixam prazo, nem a lei, mas a sua fixação se impõe, a sua
fixação pode ser requerida ao tribunal.
19. Se as partes não fixarem logo o prazo, podem, porém, deixar a sua fixação ao
critério de uma delas.
20. Se for deixado ao critério do credor – 777.º/3. O credor deve proceder segundo as
regras da boa fé, não podendo fixar um prazo tal q o devedor não possa ou tenha
extrema dificuldade em cumprir (Galvão Telles).
21. Se for deixado ao critério do devedor – 778.º. Pode suceder que o prazo é deixado
ao critério do devedor, sendo certo que esse critério consiste num factor objectivo:
o devedor ter os meios necessários para realizar a prestação. Estas obrigações são
denominadas cum potuerit – são aquelas em que o devedor presta quando puder –
778/1/1ª parte. O credor só pode exigir o cumprimento quando o devedor tiver a
possibilidade de cumprir, coisa q ele tem de demonstrar. Se não conseguir
demonstrar – pode exigi-la dos herdeiros (778.º/1/2ª p).
22. Pode suceder que o critério consista num factor subjectivo: o devedor querer
realizar a prestação em certo momento. Obrigações cum voluerit. O prazo é deixado

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ao arbítrio do devedor – o devedor tem inteira liberdade para cumprir quando
quiser. Nestes casos, o artigo 778.º/2, determina que o prazo é deixado ao arbítrio
do devedor, pois que, de facto, ele só paga quando quiser e nenhum prazo tem de
respeitar. Quando quiser é diferente de se quiser. O devedor está obrigado, mas só
paga quando quiser.
23. Se o devedor não pagar em vida, só dos herdeiros pode exigir a prestação o credor.
No fundo, a cláusula cum voluerit consiste na fixação de um prazo incerto
coincidente com a vida do devedor
24. Tudo isto é diferente da estipulação de uma cláusula si voluerit, i.e., de ser deixado
ao credor a possibilidade de cumprir se quiser. Neste caso, não pode ser exigido o
cumprimento ao devedor nem aos herdeiros. Menezes Leitão não admite esta
cláusula, porque isso era o mesmo que renunciar ao direito de exigir o cumprimento
(cfr. artigo 809.º); Galvão Telles admite a hipótese, advogando que há mera
obrigação natural.
25. Pode também suceder que o prazo é deixado ao critério do devedor para que este o
fixe, sem estar a fixação dependente da possibilidade ou da vontade. Simplesmente
convenciona-se que o devedor deverá, no futuro, dizer quando vai cumprir. Galvão
Telles sustenta aplicação analógica do artigo 777.º/3. O exercício deste direito pelo
devedor é judicialmente controlável.
26. No caso, a obrigação de entregar o frigorifico era uma obrigação a prazo cum
potuerit. Logo, B pode exigir a prestação só se demonstrar que A já pode cumprir –
778/1. Se o não fizer, A não entra em mora.
27. Quando a obrigação tem prazo, fixado por convenção das partes ou pela própria lei
— e, portanto, não é deixado ao critério de uma só das partes — há que ver a favor
de quem corre o prazo, isto é, quem tem o benefício do prazo.
28. Em princípio, tendo a obrigação prazo, o devedor só poderia cumprir depois do
prazo e o credor só poderia exigir depois do prazo. Porém, não é bem assim.
(i) Benefício do prazo a favor do devedor: Art. 779/1ª p – o prazo tem-se por
estabelecido a favor do devedor. É a regra supletiva. O prazo é, em regra,
um benefício do devedor.
Significado: o devedor pode renunciar a esse beneficio, cumprindo antes do
prazo, a todo o tempo. Já o credor só pode exigir a prestação depois do

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vencimento. A dívida já é pagável (pagabilidade), mas não é exigível
(exigibilidade). O prazo é concedido em regra ao devedor justamente como
lapso de tempo de que ele dispõe para cumprir.
Se o devedor decidir pagar antes, o credor entra em mora se não receber. E o
devedor, por seu turno, não pode pedir a restituição do indevido, salvo o
disposto no artigo 476.º/3. O pagamento é válido, porque paga o que deve.
Mas se o credor enriquecer (v.g. com os juros do que recebeu até à data do
vencimento), pode ter de restituir.
— Em certos casos, o devedor pode perder o benefício do prazo, isto é,
pode o credor passar a poder exigir-lhe a prestação a qq momento. É o que
sucede se (i) o devedor se tornar insolvente, mesmo que não judicialmente
declarada a insolvência (780.º/1) e (ii) as garantias do crédito diminuírem ou
não forem prestadas por causa imputável ao devedor (780.º/1).
(ii) Não realização de uma prestação nas dívidas a prestações – 781. Se a
prestação puder ser realizada em duas ou mais prestações, a falta de
realização de uma implica o vencimento de todas. Salvo estipulação
contrária das partes.
Existe um vencimento imediato ipso iure ou perda do benefício do prazo do
devedor?
Para Galvão Telles, há vencimento imediato e automático das restantes
prestações. Não é preciso interpelação.
Para Menezes Leitão (e, em termos próximos Menezes Cordeiro), não há
vencimento imediato (Menezes Leitão diz que foi lapso do legislador, já que
no artigo 934.º se fala de perda do benefício do prazo), mas sim de perda de
benefício do prazo. Ou seja, o credor passa a poder exigir as outras antes do
prazo, quando antes não podia; mas só exige se quiser, sem haver
vencimento imediato automático. Pelo que o devedor não fica logo
constituído em mora quanto às restantes prestações. É preciso a interpelação
para que se dê o vencimento.
Ponto assente é o de que o artigo 781.º cede perante regras especiais.
Exemplo: na compra e venda, o artigo 934.º/2ª parte determina a perda de
benefício do prazo relativamente às prestações seguintes só ocorre se faltar

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o pagamento de uma das prestações que exceda a oitava parte do preço ou
então se faltar o pagamento de duas ou mais prestações, mesmo que o valor
seja inferior à oitava parte do preço. E esta norma é imperativa.

29. No caso:
— a obrigação de pagar o preço por parte de B era uma obrigação a prazo, pq
tinham combinado que seria pago 30 dias depois. O prazo foi estipulado pelas
partes e não era cum potuerit nem cum voluerit.
— Este prazo tem-se por estabelecido a favor do devedor, isto é, de B (que era o
devedor do preço): logo, B podia pagar antes de decorrido esse prazo, mas A,
vendedor, não podia exigir o pagamento antes dos 30 dias. Ao exigir 8 dias
depois, B pode recusar-se a pagar sem entrar em mora. E isto ainda que B
pudesse exigir a entrega da tv oito dias depois. B podia exigir a tv, mas A só
podia exigir o pagamento do preço após 30 dias.
— Se as partes nada tivessem acordado quanto ao prazo de pagamento do
preço, ele teria de ser pago no momento da entrega da coisa, ou seja, no
momento da entrega da tv e do frigorifico (934). Como B podia exigir a tv
quando quisesse (obrigação pura), então logo após a entrega deveria pagar o
preço e A podia exigir logo o pagamento do preço contra a entrega da tv.
30. Benefício do prazo a favor do credor: Art. 779.º/2ª parte. Pode resultar de
estipulação ou da lei.
Significado: o devedor não pode cumprir antes do prazo, só depois, mas o credor
pode exigir o cumprimento antes do prazo, a todo o tempo. Ou seja: suspende-se a
+possibilidade de cumprimento, mas não a exigibilidade.
Exemplo: obrigação de o depositário (gratuito) restituir a coisa – 1194.º. O
depositário só pode cumprir depois do prazo do deposito; o depositante pode exigir
a coisa em qualquer altura, mesmo antes do depósito.
Isto mesmo no depósito oneroso: só quem neste, o depositante, como contrapartida
de poder exigir a coisa a todo o tempo, deve remunerar o depositário por inteiro.
31. Benefício do prazo a favor de ambas as partes: Art. 779/3ª p.Pode resultar de
estipulação ou da lei.
32. Significado: Nenhuma pode antecipar o cumprimento. Nem o devedor pode

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cumprir antes, renunciando ao benefício; nem o credor pode exigir antes,
renunciando ao benefício.
33. Exemplo: mútuo oneroso – 1147.º. O devedor, mutuário, tendo interesse em não
devolver o capital antes do prazo, não pode ficar sujeito a que o credor lho exija
antes do prazo. O credor, tendo interesse nos juros, também não pode ficar sujeito a
que o devedor restitua o capital antes.
Porém, o mutuário pode restituir antes, desde que pague os juros por inteiro.
34. Lugar do cumprimento. Onde deviam ser efectuadas as prestações?
35. O princípio geral está vertido no artigo 772.º/1: as partes podem escolher o lugar
da prestação. Esta convenção pode ser tácita, derivando da natureza da
prestação. Exemplo: pintar casa só pode ser onde está a casa.
36. As partes podem estipular obrigações de colocação (o lugar do cumprimento é
onde a prestação for colocada à disposição do credor, o que pode ser no
domicilio do devedor ou noutro lugar – se o credor a não levantar nesse local, há
mora), obrigações de entrega (o lugar do cumprimento é onde a coisa deve ser
entregue efectivamente ao credor, o que pode ser no domicílio deste ou noutro
lugar) ou obrigações de envio (o lugar do cumprimento é onde a coisa deve ser
remetida ao credor, é onde a coisa é entregue ao transportador para ser
enviada ao credor – nestes casos, se o transporte se atrasa ou a coisa se perde ou
deteriora no seu curso, o risco corre por conta do credor. Cfr. artigo 797.º).
37. Se não houver convenção, o lugar do cumprimento é o lugar do domicílio do
devedor — 772/2ª parte. Portanto, o credor é que tem de se deslocar ao
domicilio do devedor para obter a prestação, que este deve entregar ou pôr à sua
disposição.
38. Em caso de mudança de domicílio entre a data da conclusão e a data do
cumprimento, rege o artigo 772.º/2.
39. Regras especiais:
(i) O artigo. 772/1ª p ressalva a existência de lei especial. Há, de facto,
regras especiais no que toca a certos tipos de prestações, que
praticamente consomem a regra geral.
(ii) Se a prestação tiver por objecto coisa móvel determinada (773.º), o lugar
do cumprimento é onde a coisa se encontrava ao tempo da conclusão do

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negócio.
(iii) In casu, estávamos perante coisas móveis específicas. Ora, assim sendo,
o lugar da prestação de entrega era onde se encontravam ao tempo da
conclusão do negócio (casa de A). Portanto, A devia entregar as coisas
nesse lugar ou pô-la à disposição de B para que este a recolhesse.
Com efeito, também quanto a lugar do cumprimento da obrigação de
entrega da coisa na compra e venda se aplicam as regras gerais.
A solução é a mesma se a obrigação tiver por objecto coisa genérica que
deve ser escolhida de um conjunto determinado ou coisa a produzir em
certo lugar. O local do cumprimento é onde se encontra o conjunto ou
onde a coisa foi produzida (cfr. 773.º/2).
Portanto, o devedor deve disponibilizar a coisa ou entregá-la ao credor
nesse lugar.
A partir do momento em que a coisa for escolhida pelo devedor e
entregue ao credor nesse lugar, tem-se por cumprida a obrigação e o
risco corre por conta do credor. Nas ob. genéricas, basta pois que o
devedor ponha a coisa a disposição do credor ou lha entregue no seu
domicílio para que se tenha a obrigação por cumprida e transferido o
risco. Mas não chega escolher a coisa e separá-la das demais; é preciso
que ela fique efectivamente à disposição do credor para a recolher ou
então que seja entregue ao credor quando a for buscar ao domicílio do
devedor.
Excepções: Artigo 1195.º: no depósito, o lugar do cumprimento da coisa
depositada (da restituição) é o lugar onde ela deve ser guardada e não o
lugar onde se encontrava ao tempo da conclusão do negócio.
(i) Se a prestação tiver por objecto certa quantia em dinheiro (774.º), o lugar
do cumprimento é o do domicílio do credor ao tempo do cumprimento
(não ao tempo da celebração do contrato). Excepções: na compra e
venda, o lugar do cumprimento da obrigação de pagar o preço é onde a
coisa vendida deve ser entregue.
No caso, em princípio, o preço deveria ser pago na casa do A (885/1).
Porém, se por convenção o preço não dever ser pago no momento da

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entrega da coisa, deve ser pago no domicilio do credor ao tempo do
cumprimento. No caso, A e B tinham convencionado que o preço não
devia ser entregue com a entrega, mas sim num momento fixo. Logo, o
preço deve ser pago no domicílio do credor (também em casa) – 885.º/2
40. Em princípio, a prova do cumprimento compete ao devedor, uma vez que se trata
de um facto extintivo da obrigação (342.º/2).
41. Não pode ser provado por testemunhas (395.º), pelo que o devedor deve pedir uma
declaração escrita ao credor de que cumpriu se quiser facilitar a prova. Esta
declaração chama-se quitação, uma vez que por ela o credor declara que o devedor
se encontra quite para com ele. Quando a quitação consta de documento avulso,
costuma dar-se a esse documento o nome de recibo.
42. Ora, o devedor (bem como qualquer terceiro que realize a prestação debitória) tem
o direito de exigir quitação (ao credor ou ao terceiro que recebe a prestação) e, se
tiver interesse legítimo nisso, até quitação que conste de documento autêntico ou
autenticado.
43. Se o credor não der quitação, o devedor pode recusar o cumprimento – 787.º/2 – e o
credor entra em mora.
44. A quitação pode ser pedida mesmo depois do cumprimento – 787.º/2.
45. In casu, B tinha direito a exigir recibo a A.
46. Presunções de cumprimento: 786.º. Estas distinguem-se das chamadas prescrições
presuntivas (312 ss), pois que nestas se presume o cumprimento em virtude do
decurso do tempo sobre a constituição da obrigação.

Caso n.º 4

António vendeu a Bento, para quando fossem colhidas, as peras do seu pomar, pelo
preço de 5.000.000,00 XOF.
Devido a uma enorme trovoada de granizo, a peras ficaram completamente
destruídas.
António recusa-se a compensar Bento, mas este diz que tem direito, pelo menos, ao
valor do seguro que António recebeu pela destruição das colheitas.
Quem tem razão?

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1. Há impossibilidade causal da prestação: superveniente, objectiva, absoluta,
definitiva, total.
2. Consequência: Extinção total da obrigação (790.º/1), pelo que: A fica exonerado do
dever de entregar as peras; B suporta o risco da impossibilidade prestação, pois
que não pode exigi-la mais, perdendo o seu direito de crédito e não pode exigir
indemnização.
3. Mas sendo o contrato bilateral: será que A, ficando exonerado, pode exigir o
pagamento dos 5.000.000 XOF, pois que o risco da prestação corre por conta de B?
4. Artigo 795.º/1, que regula este caso para a hipótese de a impossibilidade não ser
imputável ao credor: o devedor fica exonerado nos termos do 790.º/1; A continuava
exonerada, mas B fica desobrigado da sua contraprestação ou tem direito à sua
devolução nos termos do enriquecimento sem causa.
5. Ou seja, caduca o contrato, porque se extingue a obrigação do credor e a do
devedor (Menezes Leitão). O risco é distribuído por ambas as partes. Seria de facto
injusto que B tivesse de pagar o preço ficando A desonerado. B já suporta risco da
prestação, ao não poder mais exigi-la de A. Mas é justo e equilibrado que fique
liberado da sua contraprestação.
6. Esta mesma solução resulta do regime de distribuição do risco.
7. No caso punha-se também um problema de distribuição do risco de
desaparecimento da coisa. Não só se põe o problema da distribuição do risco da
impossibilidade da prestação, que corre por conta do credor, ao não poder exigi-la
mais, como também se põe o problema da distribuição do risco de perda das peras.
8. Dado tratar-se de frutos pendentes, o risco só se transmitia para o credor no
momento da colheita (408.º/2).
9. Portanto: A ficava desonerado, por impossibilidade da prestação (790.º/1); mas,
como o risco corria por conta dele, também não podia exigir o preço a B; perdia a
contraprestação. A solução era pois a mesma que resulta da aplicação do art. 795/1,
pois que, embora o risco da prestação corresse por conta de B (credor), o risco da
perda da coisa (e, portanto, da contraprestação) correria por conta de A: logo,
embora desonerado, suportava o risco do desaparecimento da coisa, o que
significava que não podia exigir a contraprestação a B.

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10. Quando o risco corre por conta do devedor, os artigos 795.º/1 e 796.º/1 levam à
mesma solução: o credor fica desonerado.
11. No caso, A ficava pois desonerado e B também.
12. Mas B podia exigir, em substituição do A, o valor do seguro. Commodum de
representação (794.º).
13. Mas se se faculta a B exigir o valor do seguro, então é de bom senso que ele pague
o preço. Ou seja, seria profundamente desequilibrado que B pudesse receber o valor
equivalente à prestação e ficasse desonerado da sua obrigação.
14. Se o credor decidir exercer o commodum, pode exigi-lo ao devedor, mas deve
realizar a contraprestação ou não pode exigir a sua restituição. Ou seja, o credor
tem direito a optar entre exonerar o devedor e a si mesmo ou exercer o commodum,
exigir a prestação do devedor (com outro objecto) e manter-se a si vinculado
(Menezes Leitão; Antunes Varela)
15. Em suma: nos casos de commodum e de contratos bilaterais, a impossibilidade
objectiva não desonera as partes: ambas continuam vinculadas, se o credor por
isso optar.

Caso n.º 5

Afonso chamou as “Chaves do Areeiro” para arranjar a fechadura da sua porta de


casa, que estava encravada.
Quando o funcionário chegou a casa de Afonso, verificou que a fechadura já se
tinha desencravado e que já não precisava de ser arranjada, pelo que regressou às
instalações da empresa.
Afonso ficou furioso quando, 15 dias depois, recebeu a factura no valor de 100.000
XOF “pelo serviço de arranjo da fechadura”.
Quid iuris?

1. Neste caso não estamos perante uma hipótese de impossibilidade da prestação: com
efeito, a prestação continua a ser fisicamente possível. O funcionário pode
substituir a fechadura ou arranjá-la.
2. Também não é um caso de mora, porque A não recusa a prestação sem motivo

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justificado: pura e simplesmente, o seu interesse já se encontra realizado, pelo que
pode recusar a prestação.
3. Também não há incumprimento do funcionário.
4. Estamos perante uma hipótese de impossibilidade por frustração do fim da
prestação: o fim da prestação, desencravar ou arranjar a fechadura, foi atingido por
outra via. Já está preenchido, pelo que a prestação não representa qq benefício para
o credor. E, por isso, não faz sentido que seja realizada ainda.
5. O funcionário continuava vinculado à prestação, se A ainda lha exigisse? Podia ter
regressado à empresa sem arranjar a fechadura?
6. Antunes Varela recorre ao regime da impossibilidade e acham que se trata de
hipóteses de impossibilidade, porque já não é possível satisfazer o interesse do
credor. Logo, aplicar-se-ia o art. 790/1 e A ficaria desonerado.
7. Menezes Leitão: não se pode dizer que é um caso de impossibilidade, porque a
prestação é possível. No entanto, o facto de o credor não poder retirar qualquer
benefício da prestação torna disfuncional a realização da prestação, que deve
corresponder a um seu interesse. Justifica-se a equiparação destas situações à
impossinilidade, da qual resulta a exoneração do devedor.
8. Ficando o funcionário desonerado, pode ele exigir a contraprestação a A? É que se
trata de contrato sinalagmático: sem dúvida que o devedor fica exonerado, mas o
credor deve ficar desonerado da contraprestação, já que o devedor se desloca
efectivamente ao credor e só não cumpre por causa de um factor externo a ele?
— Pelo artigo 795/1, o credor deve ficar desonerado. E este artigo pareceria ter
aplicação, pois que a “impossibilidade” se não deve ao devedor.
— Antunes Varela: repugna ao espírito do artigo 795.º obrigar o credor a realizar
a prestação, pois que não é por culpa dele que a “impossibilidade” se dá; mas
também é injusto que o devedor fique sem compensação, pois que a causa da
impossibilidade da prestação se registou numa zona de risco que é mais do
credor do que do devedor. Aplica analogicamente a Gestão de Negócios (468.º)
e o devedor tem direito a ser reembolsado das despesas que fez e dos prejuízos
que sofreu.
— Baptista Machado também não aplica o 795.º/1 e o credor não tem de realizar a
contraprestação; enquadra-na no artigo 1227.º/2ª parte, pelo que o devedor

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suporta a perda da sua remuneração, mas tem direito a ser reembolsado pelo
trabalho efectuado e despesas realizadas.
Em suma, o funcionário podia exigir a A as despesas realizadas, mas não a
contraprestação na totalidade.

Caso n.º 6

Na manhã do passado dia 3 de Maio, Afonso contratou um electricista para ir,


durante a tarde, resolver um problema com a instalação eléctrica da sua cozinha.
Comprou também à X Airlines um bilhete de avião para, na noite desse dia, viajar para
Dakar.
Adoeceu repentinamente e não abriu a porta ao electricista (embora estando em
casa) e não fez a viagem.
No dia seguinte, dirigiu-se à bilheteira da X Airlines a pedir o reembolso do preço
do bilhete.
Desde esse dia que não tem atendido os telefonemas do electricista, pois que ficou a
saber que há outros no mercado mais baratos.
Tem razão?

1. Há mora do credor quando este se recusa a receber a prestação ou a prestar


colaboração.
2. 1.º requisito: a mora pressupõe que se trate de prestação em que o credor deva
colaborar ou aceitar. É o caso.
3. 2.º requisito: que o credor não aceite a prestação ou não colabore na sua realização.
É o caso.
4. 3.º requisito: que haja motivo justificado. Motivo justificado não é igual a ausência
de culpa por parte do credor. É sim igual a motivo legítimo, lícito à luz das regras
sobre o cumprimento da obrigação. Assim, mesmo que o credor haja sem culpa, há
mora do credor. Mesmo que ele adoeça…
5. Actualmente tende a considerar-se que há mora apesar da culpa. Pelo que o credor
não fica desonerado da contraprestação. Na mora incluem-se todos os casos de falta

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de colaboração, independentemente da culpa do credor.
6. No caso, A adoeceu. Não teve culpa, mas não prestou a colaboração devida. Em
princípio haverá mora. [Mas isto não é consensual, pq há quem considere
justificada a conduta do credor se agir sem culpa, v.g., em caso de doença).
7. Logo: o credor continua obrigado a realizar a contraprestação.
8. Mas o considerar-se que é mora tem também o efeito de o devedor continuar
obrigado à prestação.
9. Será mesmo assim? Isto é: será que a falta de colaboração do credor significa
sempre que credor e devedor continuam vinculados? Não, há casos em que a mora
significa que o devedor fica logo desonerado.
10. De facto há casos em que a manutenção do vínculo do devedor se mostra ser uma
sanção demasiado pesada, haja ou não culpa do credor na falta de colaboração.
11. Quanto ao bilhete
12. Antunes Varela dá os seguintes exemplos:
— A adquire bilhete para competição desportiva, para o recital, para o teatro,
cinema e falta ao espectáculo, pq não quis ir ou porque não pôde
— A inscreve-se em cruzeiro, paga a inscrição e falta à partida, porque não quis
ir ou porque não pôde partir, por doença ou outro motivo
Entende que estes casos não são propriamente de impossibilidade, porque a
possibilidade da prestação em si mesmo se mantém. De facto, no caso, a X
Airlines pode ainda facultar a viagem a A.
13. Mas também não são casos de verdadeira mora, em que o devedor permaneceria
vinculado.
14. Antunes Varela: nestes casos, a falta de colaboração determina a desoneração
definitiva do devedor, porque se obrigou a oferecer a prestação em determinado
momento (prazo absolutamente fixo) e fê-lo, sendo o credor quem a não recebeu.
15. São situações de perda do direito por não exercício ou de risco que corre a cargo
do credor. Aplica porém o regime dos artigos. 795.º/2 e 815.º/2 por analogia ou do
1227.º nos casos de empreitada.
16. Menezes Leitão enquadra estas hipóteses em situações em que a mora provoca a
automática extinção do crédito. Ou seja: há mora, pelo que o credor deve continuar
a prestar; mas a dívida do devedor extingue-se logo.

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17. Em certos casos, a falta de colaboração significa a automática extinção do crédito.
São as situações em que há um prazo fixo para prestar
18. Em suma: haja ou não mora de A, a X Airlines estava desonerada; A não podia
pedir a contraprestação de volta se já a tivesse pago; se a CP tivesse vendido o
lugar, A podia descontar esse valor.
19. Quanto ao electricista
20. A prestação continua ainda possível, porque não havia um prazo peremptoriamente
fixo. Logo, o electricista continua obrigado e o A também.
21. Desencadeiam-se os efeitos da mora:
a) Obrigação de indemnização do devedor — artigo 816:º (v.g., A teria de pagar
as despesas com a deslocação; as despesas com os telefonemas do electricista
para conseguir efectuar a prestação…)
b) Diminuição da responsabilidade do devedor — artigo 814.º (não se aplica)
c) Transferência do risco para o credor — artigo 815.º (não se aplica) (Nos
contratos bilaterais, a impossibilidade da prestação durante a mora tb não
desonera o credor da contraprestação. Tem de a efectuar (815.º/2). Exemplo:
se a prestação do electricista fosse infungível e ele ficasse impossibilitado de
cumprir por causa que lhe não era imputável, ficava desonerado e devia
prestar).
22. Extinção da mora:
a) Ocorre com a prestação da colaboração ao cumprimento pelo credor. A partir
desse momento, a mora inverte-se e quem passa a estar em mora é o devedor.
b) Com a consignação em depósito — no caso é impossível.
c) Se se tratar de prestação de facto, não é possível a consignação em depósito.
Isso quer dizer que o devedor fica ad aeternum vinculado à prestação? Não
esquecer que esta prestação exigia a colaboração do credor. Menezes
Cordeiro defende que, para as obrigações de dare e de facere, porques nestas
não é admissível a consignação em depósito e naquelas ela é facultativa, será
lícito ao devedor fixar ao credor um prazo razoável para cooperar no
cumprimento; ultrapassado esse prazo, a obrigação extingue-se (808.º/1 por
analogia).
No caso, o electricista podia fixar um prazo para A aceitar a prestação.

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Findo o qual ficava desvinculado, sem prejuízo da indemnização do 816.

Caso n.º 7

António vendeu o seu Mercedes a Bento pelo preço de 50.000.000,00 XOF. O


preço não foi logo pago e ficou acordado que o carro deveria ser entregue até ao dia 31
de Maio.
Na mesma altura, António deu de aluguer um carro antigo a Carlos, tendo ficado
estabelecido que o carro deveria ser entregue de maneira a ser utilizado no casamento da
filha de Carlos, marcado para o dia 31 de Maio.
Chegado o dia 1 de Junho sem que os carros fossem entregues, Bento comunicou
a António que deveria entregar o carro até dia 20 de Junho, “sob pena de entregar o caso
ao seu advogado e de ter de o indemnizar com os custos que tem tido em táxis”.
Por seu turno, Carlos fez chegar a António uma carta a dizer que escusava de “ir
entregar o carro porque agora já não precisava dele, devendo devolver-lhe o valor do
aluguer”.
Quid iuris?

1. Começando pela obrigação de entregar o carro vendido até ao dia 31 de Maio.


2. Trata-se de uma obrigação a prazo certo. Sendo o prazo a favor do devedor. A
podia cumprir antes, mas B só pode exigir o cumprimento depois. Mas A tinha de
cumprir no prazo acordado (pontualidade).
3. Ora, A não entregou até ao prazo. Isso significa um incumprimento.
4. Dentro do cumprimento, há que distinguir o incumprimento definitivo, a mora e o
cumprimento defeituoso. No caso, qualquer das hipóteses é em abstracto possível.
5. A hipótese de cumprimento. defeituoso está fora de causa. Entre a mora e o
incumprimento definitivo, temos de decidir.
6. Comecemos pela mora, pois que é um estádio de incumprimento menos grave e
frequentemente prévio ao incumprimento definitivo.
7. Pressupostos da mora: art. 804/2:
A) Não realização da prestação — 804/2: a prestação “não foi efectuada…”
B) Na data do cumprimento, isto é, na data do vencimento da obrigação —

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804/2: a prestação não foi efectuada “no tempo devido”.
C) Portanto, tudo depende de saber quando se dá o vencimento.
⎯ Nas obrigações puras é com a interpelação (805/1), salvo se o devedor se
furtar a ela (805/2/c)).
⎯ Quando a obrigação tem prazo certo (805/2/a)). O vencimento ocorre com o
decurso do prazo — mora ex re (vencimento tem outra origem).
⎯ Quando a obrigação provém da prática de facto ilícito (805/2/b)) — mora ex
re.
⎯ Quando o devedor declara ao credor que não quer cumprir, há quem entenda
que o devedor entra em mora, mesmo que a declaração seja feita no âmbito
de uma obrigação a prazo certo (Menezes Leitão, Menezes Cordeiro, Galvão
Telles);
D) Por culpa do devedor — 804/2: “por causa que lhe seja imputável”
Não há culpa se o devedor, por exemplo, não entrega o livro pq o credor não
lhe paga (exceptio); o devedor não entrega as mercadorias porque há um
motim.
Se não houver culpa do devedor, seria uma impossibilidade temporária
No caso não sabemos. Mas a culpa presume-se (799/1).
E) A manutenção da possibilidade da prestação — art. 804/2: “a prestação,
ainda possível”.
A prestação tem de ser ainda possível no futuro; caso contrário, seria
impossibilidade definitiva (790.º ou 801.º).
No caso, a prestação era ainda a possível.
F) A manutenção do interesse do credor: não está no 804/2, mas retira-se do
artigo. 808/1.
Tem de ser apreciada objectivamente. No caso o interesse mantém-se, tanto
que ele fixa novo prazo.
Ergo, há mora do devedor.
8. Extinção da mora.
⎯ Acordo das partes: é a chamada moratória. A e B podiam diferir o
cumprimento por mais 15 dias, por exemplo. Nesse caso, sanava-se a mora.
Não é o caso.

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⎯ Purgação: o devedor apresenta-se a cumprir e a satisfazer a indemnização
moratória. Não é o caso.
⎯ por via de declaração do devedor de que não cumprirá. Não é o caso.
⎯ Por via da extinção da obrigação por impossibilidade superveniente de
cumprimento causada pelo devedor. Não é o caso.
⎯ Por via da transformação da mora em incumprimento definitivo — art. 808.º.
Esta convolação faz-se ou por perda de interesse após a mora (não é o caso),
ou pela fixação de um prazo admonitório razoável: interpelação admonitória.
A interpelação admonitória deve cumprir os seguintes requisitos:
- ser feita depois do vencimento da obrigação.;
- conter uma intimação (cominação) para cumprir;
- consagrar um prazo peremptório, suplementar, razoável e exacto
para cumprir;
- advertência de que, findo o prazo, a obrigação se considera
definitivo o inccumprimento. Diz Antunes Varela tratar-se de um
prazo-limite, que o credor terá de fixar sob a cominação de se
considerar a obrigação não cumprida. O credor tem de levar ao
conhecimento do devedor que, após o prazo, se desliga da obrigação
- não precisa de forma especial.
Com efeito, depois do vencimento, o credor pode fixar um prazo
findo o qual a prestação se considera definitivamente incumprida. De
outra forma, o credor que não perdesse o interesse ficaria
indefinidamente ligado. Visa-se, precisamente, evitar que a outra
parte fique eternamente vinculada, apesar de objectivamente
continuar a ter interesse. Fica aberta a porta ao credor para exigir:
uma indemnização pelos danos pelo não cumprimento (interesse
contratual positivo) ou para resolver o contrato.
No caso, a comunicação de B: contém uma intimação para cumprir;
consagra um prazo peremptório, suplementar, razoável (atendendo ao
interesse do credor e à natureza da prestação) e exacto para cumprir;
mas não contém a advertência de que, findo o prazo, a obrigação se
considera definitivo o incumprimento.

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Portanto, ainda não haveria incumprimento definitivo quanto à
obrigação de entregar o carro. A continuava em mora.
9. Quanto ao carro alugado para o casamento
10. Trata-se também de uma obrigação a prazo: até 31 de Maio.
11. Em princípio também haveria mora, pois que a prestação não foi realizada, no
tempo devido, por culpa do devedor e sendo ainda possível (o carro pode ser
entregue depois).
12. No entanto, já não se mantém o interesse do C. O prazo fixado tem a natureza
de um termo essencial, a partir do qual não mais é possível o cumprimento.
Nestes casos, o simples retardamento implica logo incumprimento definitivo.
13. Efeitos das actuações das partes
14. No tocante à mora relativamente ao carro a entregar ao B:
A) Obrigação de indemnizar os danos causados com o atraso (804/1).
a) Esta obrigação acresce ao dever de prestar. O credor, além de poder
exigir a prestação através da acção de cumprimento, pode pedir uma
indemnização. Ou seja: indemnização (Menezes Cordeiro: inclui
todos os danos, mesmo os morais), acrescida de cumprimento.
b) Conteúdo da indemnização: no caso, B podia de facto exigir o valor
que teve de despender em alugueres de táxis e outros prejuízos
durante o período da mora.
c) Porém, se se tratasse de ob. pecuniárias, o prejuízo equivale ao juro
desde a data da mora. Antunes Varela: a lei presume inilidivelmente
que há sempre danos causados pela mora e fixa quais são esses
danos.
B) B tinha a possibilidade de recorrer à excepção de não cumprimento
(428.º)
C) B não tinha o direito de resolver o contrato – esta só é possível com o
incumprimento definitivo (801.º/2).
15. Quanto ao carro a entregar ao C: Como havia incumprimento definitivo, B
podia de facto resolver o contrato e foi o que fez ao exigir a devolução do valor
do aluguer. O artigo 801/2 aplica-se não só aos casos de impossibilidade
cumprimento como aos casos de falta de cumprimento (como era o caso).

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16. Se António, no dia 30 de Maio, ao preparar o carro para entregar a Bento, por
descuido incendiasse o carro, daí resultando a sua completa destruição, como
podia reagir Bento, admitindo que: se o carro lhe tivesse sido entregue em
tempo, ele o teria revendido com lucro e não teria gastado qualquer quantia
euros em táxis;
17. Neste caso haveria impossibilidade de cumprimento (801/1) culposamente
causada pelo devedor.
18. Esta impossibilidade de cumprimento é equiparada pelo CC à falta de
cumprimento. Portanto, podemos usar uma classificação do não cumprimento
em sentido amplo em que se inclui a falta de cumprimento, a impossibilidade, a
mora e o cumprimento. defeituoso. Mas também podemos usar apenas uma
classificação tripartida: incumprimento definitivo, mora e cumprimento
defeituoso; neste caso metemos a impossibilidade e a falta de cumprimento no
incumprimento definitivo, enquanto uma das suas causas.
19. O incumprimento definitivo ocorre nos seguintes casos
⎯ Nos casos do artigo 808.º/1 e demais casos de falta de cumprimento
⎯ No caso de declaração inequívoca e séria e expressa do devedor de não
querer cumprir (v.g., afirma de forma inequívoca que não realizará a
prestação). Neste caso, não é necessário a fixação de um prazo admonitório
para haver incumprimento definitivo. Para alguns autores, esta declaração é
constitutiva de mora e não de incumprimento definitiva, salvo nos casos em
que seja feita quando há mora.
⎯ No caso de impossibilidade física ou jurídica culposa (v.g. confisco)
imputáveis ao devedor – 801.º/1
20. O incumprimento definitivo que resulta de conversão em mora ou de declaração
é normalmente designado por falta de cumprimento. A ele se referem os artigos.
798.º e ss..
21. O incumprimento definitivo nascido da impossibilidade, isto é, da circunstância
de o cumprimento se tornar irrealizável, é designado pelo nosso CC por
impossibilidade de cumprimento. Vem regulado nos arts. 801.º e ss. nestes
casos, a prestação torna-se impossível, fisicamente (o livro ardeu, o músico
adoeceu e não vai ao concerto) ou juridicamente (o devedor vendeu a coisa).

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22. Quer isto dizer que seguem regimes diferentes quanto aos efeitos de um e
outro? Não.
23. Em abstracto, os efeitos do incumprimento são:
⎯ Direito de requerer a realização coactiva da prestação através da acção de
cumprimento
⎯ Direito de pedir uma indemnização pelos danos advenientes do
incumprimento (icp)
⎯ Resolução do contrato, se o contrato for bilateral
⎯ Redução da contraprestação
24. No tocante à indemnização, esta é corresponde à responsabilidade contratual,
cujos pressupostos são os seguintes:
⎯ Facto voluntário;
⎯ Ilicitude;
⎯ Culpa, que é presumida iuris tantum (799.º/1 e 350.º/1).
Segundo Menezes Cordeiro, a presunção do 799/1 abrange a ilicitude, a
culpa e o nexo de causalidade (presunção de faute). Cabe ao devedor a prova
de que não teve culpa, de que cumpriu e de que não foi por culpa sua que os
danos se produziram. Em rigor é, apenas, uma mera presunção de culpa e
nada mais.
⎯ Dano;
⎯ Nexo de causalidade entre facto e dano.
25. Tradicionalmente, a doutrina entende que a indemnização corresponde ao
interesse contratual negativo (Menezes Leitão, Galvão Telles, Antunes Varela,
Almeida Costa). Ou seja, para esta doutrina, o credor tem opção entre (i) exigir
a indemnização pelo incumprimento, a qual abrange o incumprimento, mas
ficando o credor obrigado a efectuar sua prestação ou a mantê-la, se já a tiver
realizado; (ii) exigir a realização coactiva da prestação, mantendo a sua
contraprestação ou realizando-a, se ainda o não fez; ou (iii) pedir a resolução do
contrato (o que acarreta a destruição retroactiva do contrato, liberando-se o
credor da sua obrigação, não a realizando ou pedindo a sua restituição),
acrescida de indemnização limitada aos danos derivados da não conclusão do
contrato (interesse contratual negativo).

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Nesta óptica, quando o contrato é resolvido visa-se somente que o contraente
não faltoso seja ressarcido dos danos emergentes e de lucros cessantes
decorrentes da celebração do contrato incumprido, sofridos por causa dessa
celebração; visa-se colocar o credor na situação em que estaria o seu
património se não tivesse negociado e ajustado o contrato que foi cumprido pelo
devedor. Ou, por outras palavas, tem direito a ser indemnizado do prejuízo que
não sofreria se o contrato não tivesse sido celebrado.
26. Outro sector da doutrina (Romano Martínez, Baptista Machado, Ribeiro de
Faria) ~entende ser ressarcível o interesse contratual positivo, avançando com
vários argumentos:
⎯ — a lei não distingue os conteúdos da indemnização nos arts. 801.º/2 e
802.º/1 (Ana Prata)
⎯ — a resolução pode não ter eficácia retroactiva: nos contratos de execução
continuada e mesmo nos de execução instantânea (434.º/1).
⎯ — do artigo 802.º/1 resulta que a resolução pode ser cumulada com a
indemnização pelo interesse contratual positivo. Na parte final diz.se que,
em qualquer dos casos, mantém o credor o direito à indemnização. Em qq
dos casos abrange a hipótese de o credor exigir o cumprimento parcial,
reduzindo a contraprestação, ou de resolver o contrato. Não se distinguindo o
modo de cômputo da indemnização, pode ele ser igual quer o negócio seja
resolvido quer ele subsista.
⎯ — nos casos de cumprimento defeituoso e de resolução, tem de se admitir a
indemnização dos chamados danos subsequentes especialmente relacionados
com os defeitos de prestação. Exemplo: se fosse indemnização pelo icn não
podia o credor ser ressarcido da perda de clientes pelo facto de a máquina
defeituosa instalada na fábrica ter levado a atrasos nas entregas de
mercadoria.
⎯ — a resolução acrescida da indemnização pelo interesse contratual negativo
não são estruturalmente incompatíveis, pois que as partes podem nisso
acordar ao abrigo da autonomia privada.
Nesta ótica, são indemnizáveis os danos resultantes do incumprimento
definitivo. E tendo em conta o artigo 562.º, tais danos correspondem ao interesse

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contratual positivo.
a. Argumentos (ver pp. 205 ss. do RM, Cessação):

27. Em termos próximos, Menezes Cordeiro entende que a lei prevê, no artigo
798.º, a indemnização de todo o prejuízo causado ao credor (devendo observar-
se o disposto na lei sem sede de nexo de causalidade.

EX PROFESSO: CUMPRIMENTO DEFEITUOSO:


1. De acordo como Romano Martinez os requisitos da figura são:
⎯ Haja cumprimento. defeituoso, ou seja, desconformidade entre a prestação
devida e a realizada (ou seja, que tenha sido realizada uma prestação, mas ela
seja desconforme, por violação da pontualidade);
⎯ O credor aceitou a prestação por desconhecer o vício ou, conhecendo-o, com
reserva.
⎯ O defeito é relevante (?).
⎯ Dele resultaram danos típicos.
2. No tocante ao regime:
⎯ o credor pode exigir o cumprimento, isto é, a eliminação do defeito ou, se ele
não for eliminável, a substituição da coisa;
⎯ Enquanto o defeito não for eliminado ou a prestação substituída pode usar a
exceptio (cfr. 428.º) e recusar a sua contraprestação.
⎯ Os defeitos da prestação têm de prejudicar a integral satisfação do interesse
do credor.
⎯ O ónus da prova de que o defeito é relevante cabe a quem invoca a exceptio.
⎯ Credor pode ainda reduzir a contraprestação, sempre que o cd implique uma
perda de valor da prestação efectuada, de modo a reequilibrar a relação
contratual.
⎯ Credor tb pode resolver o contrato (acrescendo indemnização), se:
— perder o interesse por virtude do defeito, se ele for suficientemente
grave;
— conceder prazo para a eliminação do defeito ou a substituição e isso
não for feito (prazo admonitório), sendo o defeito grave;

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— o devedor declarar que não procederá à eliminação do defeito nem à
substituição da prestação.
⎯ Para além disso, há dever de indemnizar os danos causados.

Caso n.º 8

António vendeu a Bento o seu cavalo ficando este de pagar o preço em 10


prestações de 1.000.000,00 XOF. Combinaram, porém, que, apesar de António receber
o cavalo na data da celebração do contrato, a propriedade do mesmo só passava para
Bento no momento em que este pagasse a última prestação.
Meses depois, o cavalo morre numa enxurrada provocada por uma trovoada.
Bento recusa-se a pagar o resto do preço, ao que António responde dizendo que ele
deve pagar até à última prestação.
Quid iuris?

Sub-hipótese 1
Se o cavalo fosse vendido a Carlos por Bento, podia António reclamar o seu
direito perante Carlos?

Sub-hipótese 2
Se o cavalo fosse vendido a Daniel por António, podia Bento opor-se à venda?

i. Cláusula de reserva de propriedade.


A) Por virtude de a transferência da propriedade se dar logo, o vendedor pode ficar
numa posição fragilizada se o comprador não pagar o preço:
⎯ porque fica sem a propriedade da coisa e tem apenas um direito de crédito
sobre o preço, sem qualquer garantia de pagamento;
⎯ salvo convenção em contrário, nem sequer pode resolver o contrato por
incumprimento, sendo a transferência da propriedade imediata e sendo
entregue a coisa – 886.º.
⎯ Isto pode ser mais grave na compra e venda a crédito (a prestações), pois q

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há normalmente um grande hiato entre a venda e o pagamento final.
B) Por isso, tornou-se comum vender a crédito sob reserva de propriedade. (Exemplo –
A vende a B carro por preço q deve ser pago em 24 prestações mensais, reservando
para si a propriedade do automóvel até que todas as prestações estejam pagas.)
C) Noção: é a convenção pela qual o alienante reserva para si a propriedade da coisa
até ao cumprimento parcial ou total das obrigações da outra parte, ou até à
verificação de qualquer outro evento.
D) Ou seja, é o acordo pelo qual se difere para momento posterior ao da celebração do
contrato a transferência da propriedade sobre a coisa, mantendo-se ela na esfera do
vendedor. Esse momento posterior é normalmente o do pagamento do preço pelo
credor.
E) Mas pode ser outro, porque o artigo 409.º se refere, em geral ao cumprimento total
ou parcial; e, além disso, à verificação de qualquer outro evento.
F) A cláusula pode ser aposta à venda de coisas móveis genéricas ou especificas ou
imóveis. Se for aposta à venda de coisas genéricas, só produz efeitos depois da
concentração da prestação, pois que até lá nem sequer é possível a transferência da
propriedade para o comprador.
G) A cláusula não pode ser aposta depois da celebração do contrato de compra e
venda, mas apenas aquando da celebração. Se a propriedade se transfere com o
contrato, não pode depois da celebração apor-se a cláusula, porque a propriedade já
se transferiu. Isso só é possível nos casos excepcionais em que a propriedade se não
transfere logo, v.g., na venda de coisas genéricas.
H) Esta cláusula é diferente da promessa de venda – nesta a alienação carece de
declaração futura; na reserva de propriedade opera automaticamente logo que o
evento previsto para que a transferência se dê se verifique; ou seja a transferência
pode não dar-se imediatamente, mas é sempre efeito directo do contrato.
I) Objetivo – não é facultar o gozo da coisa ao vendedor, mas garanti-lo contra o
credor, de duas maneiras:
⎯ porque fica com o direito de resolver o contrato caso não seja pago o preço,
uma vez que o art. 886 pressupõe, para excluir o direito de resolução, a
transferência da propriedade. No entanto, este direito de exclusão não existe,
imperativamente, se: se tratar de venda a prestações; o comprador apenas

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faltar a cumprimento de 1 prestação (se forem duas já há direito, mesmo de
valor inferior à oitava parte); esta não exceder a oitava parte do preço;
⎯ porque os credores do credor não podem, claro, executar o bem no
património deste em caso de incumprimento deste, podendo o vendedor
reagir através de embargos de terceiro;
J) Forma: é a do negócio jurídico em que é aposta.
K) Oponibilidade a terceiros:
⎯ Por parte do alienante – é desta situação que trata o 409.º:
⎯ Se respeitar a imoveis ou moveis sujeitos a registo, só é oponível a terceiros
se for registada – 409.º/2.
⎯ Se respeitar a móveis, o artigo 409.º/2 nada diz. Para Antunes Varela e
Menezes Leitão, a cláusula é oponível a terceiros de boa fé, sem necessidade
de qualquer publicidade, a não ser que o 3.º adquira a propriedade a título
originária (artigo 409.º/2 a contrario). Ou seja, pode o alienante opor a sua
propriedade quer aos credores do adquirente, quer aos subadquirentes do
adquirente (Antunes Varela).
⎯ Por parte do adquirente – esta situação não é tratada pelo artigo. 409/2,
porque não se trata da oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade,
mas sim da situação jurídica em que fica o adquirente sob reserva de
propriedade.
L) Natureza jurídica
⎯ Galvão Telles, Antunes Varela, Almeida Costa: é condição suspensiva, na
medida em que a transmissão da propriedade fica subordinada a um facto
futuro e incerto – o pagamento do preço. Logo: (i) aplicam-se os artigos
273.º e 274.º e (ii) aplica-se o artigo 796.º/3 e o risco corre por conta do
vendedor, ainda que a coisa tenha sido entregue ao comprador.
⎯ Menezes Leitão critica esta solução no que toca à distribuição do risco que
faz. É “claramente inaceitável” impor o risco ao vendedor, uma vez q o
comprador, sendo-lhe a coisa entregue, passa a gozar e fruir a coisa. Só não é
formalmente proprietário. Ora, o risco deve correr por conta de quem
beneficia do direito, é o credor que deve suportar o risco. Se a coisa perecer,
deve pagar o preço.

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⎯ Além disso, a cláusula de reserva de propriedade não pode ser sequer
considerada condição, porque esta é uma cláusula acessória do negócio
jurídico que determina a subordinação do negócio jurídico a um
acontecimento futuro e incerto e exterior ao mesmo. Ora, na cláusula de
reserva de propriedade, a subordinação não é face a um evento exterior ao
negócio jurídico, antes é em face do cumprimento de uma das obrigações do
negócio, a qual é mesmo um dos efeitos essenciais deste. Não há condição,
antes há uma alteração na ordem de produção dos efeitos negociais: sem a
reserva, a transmissão ocorre logo e antes do pagamento do preço; com a
reserva, o pagamento do preço é prévio.
⎯ Para Romano Martinez é condição ou termo suspensivos. Porém, o risco
deve correr por conta do adquirente desde que a coisa lhe seja entregue. Tal
seria justificado por causa da regra de que o risco se transfere com o
cumprimento da prestação (v.g. 541.º), no caso com a entrega da coisa cujo
direito incide sobre a reserva de propriedade. Romano Martínez ajunta ainda
que o risco se relaciona com a fruição das vantagens sobre a coisa, com a
relação material sobre a coisa e, havendo entrega, essas vantagens são
conferidas ao adquirente. Note-se que o 796 se refere à transferência de
domínio. O risco não se relaciona só com a titularidade do direito real.
⎯ Segundo Menezes Leitão, como o negócio jurídico de transmissão da
propriedade confere-se ao comprador uma expectativa jurídica de aquisição
do bem - é uma expectativa real de aquisição de um direito. (Também Ana
Peralta entende que a posição jurídica do comprador com reserva de
propriedade corresponde a um direito real de aquisição). Esta expectativa é
oponível pelo comprador a terceiros.
Então, tal como o vendedor, que continua proprietário, o comprador é titular
de uma situação jurídica real, havendo que distribuir o risco de acordo com o
proveito q cada um tira da respetiva situação jurídica. Ora, o comprador já se
encontra a tirar proveito da coisa, sendo ele que deve suportar o risco pela
sua perda ou deterioração.

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