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Plano de Investigação

Fátima Fonseca
Estudante nº 43540
Métodos e Técnicas de Investigação Social
Educação Socioprofissional 1º Ano
Vila Nova de Gaia, Julho de 2010

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«(..) o lugar mais natural para viver a condição de
ancianidade continua a ser aquele ambiente onde
ele é “de casa”, entre parentes, conhecidos e
amigos, e onde pode prestar ainda algum serviço.
(...) é urgente promover esta cultura de uma
ancianidade acolhida e valorizada, não
marginalizada. O ideal é que o ancião fique na
família, com a garantia de ajudas sociais eficazes,
relativamente às necessidades crescentes que
supõem a idade e a doença.»

Carta aos Anciãos


Papa João Paulo II
(2000, p. 22)

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Índice

Introdução ................................................................................................. Pág. 4

Enquadramento Teórico .............................................................................. Pág. 5

Alcoolismo ...................................................................................... Pág. 5

Abandono familiar do idoso ............................................................ Pág. 11

Modelo de Análise .................................................................................... Pág. 17

Tema / Questão ............................................................................... Pág.17

Objectivos de Investigação ............................................................. Pág. 17

Questões de análise ........................................................................ Pág. 17

Dimensões de análise ..................................................................... Pág. 18

Metodologia ............................................................................................. Pág. 19

Considerações Finais ................................................................................ Pág. 21

Bibliografia .............................................................................................. Pág. 22

Sitografia ................................................................................................. Pág. 23

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Introdução

Este plano de investigação surge no âmbito da Unidade Curricular de Métodos e


Técnicas de Investigação Social do Curso Superior de Educação Socioprofissional
na Escola Superior de Educação Jean Piaget.

O tema escolhido para este plano de investigação foi “O alcoolismo e o abandono


familiar do idoso”. O que se pretende com esta investigação é apurar o impacto
que o alcoolismo, durante a vida de uma pessoa, tem no apoio familiar numa
situação de velhice.

O artigo está dividido em três partes, começando por fazer o enquadramento


teórico do alcoolismo. Assim, começa-se por definir alcoolismo, as consequências
ao nível físico, social, familiar, emocional e profissional do alcool, as etapas do
alcoolismo e os preconceitos que o mesmo acarreta. Como conclusão do sub-tema
alcoolismo surgem os papéis mais observados numa família marcado pelo
alcoolismo.

Ainda no enquadramento teórico apresenta-se diversas informações sobre o


abandono familiar do idoso, partindo da definição de abandono, de família e de
idoso. Conclui-se esta parte do plano de investigação com um enquadramento da
família como contexto desejado para envelhecer.

Na segunda parte é exposto o modelo de análise, identificando o tema, os


objectivos de investigação, as questões de análise e as dimensões de análise.

A metodologia surge na terceira parte como uma explicação do método adoptado


para completar o plano de investigação, justificando o porquê da utilização do
inquérito por entrevista semidirectiva ou semidirigida (para o idoso) e centrada
(para os familiares).

No final são apontadas as considerações finais, mediante o plano de investigação


desenvolvido.

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1. Enquadramento Teórico

1.1. Alcoolismo

A primeira e mais importante informação a reter quando se fala de alcoolismo é


que o alcoolismo não é uma fraqueza de carácter, nem um vício. Muito pelo
contrário, o alcoolismo é uma doença.

O alcoolismo é caracterizado por uma dependência do álcool (etanol), do ponto de


vista físico e psíquico. O álcool retira ao dependente a capacidade de se abster de
consumir bebidas alcoólicas, criando em si a constante necessidade de beber e
modificando o seu comportamento.

O alcoolismo é considerada uma doença complexa com causas diversas, como no


plano biológico, genético e psicológico do indivíduo ou no meio circundante, a um
nível social e cultural.

O alcoólico sente uma necessidade física de beber quando não bebe há algum
tempo, piorando com a necessidade psicológica de consumir. Assim, o indivíduo
dependente tem a ideia de não conseguir viver sem álcool.

O alcoolismo é uma doença que afecta toda a família da pessoa dependente do


consumo de bebidas alcoólicas. Os familiares são atingidos no plano afectivo e no
seu quotidiano, sentindo-se tão desamparados como o doente alcoólico.

Toda a família é atingida pelo alcoolismo, dividindo-a e isolando do resto do


mundo. Cada membro da família acaba por direccionar para a dependência
alcoólica todos os seus sentimentos, pensamentos e comportamentos.

Assim, o alcoolismo é considerada muitas vezes uma doença do sistema familiar,


visto cada elemento da família ser envolvido tanto no processo de
desenvolvimento do problema como na sua resolução.

Para se sair da dependência do álcool, é preciso aprender a conhecer esta doença e


desfazer mitos, falsos conceitos e ideias pré-concebidas.

Quando se fala de doença alcoólica, fala-se de dependência física e psíquica do

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álcool, que só é visível quando se instala. Conhecer as diferentes etapas da doença
pode ajudar a família a melhor compreender o que é o alcoolismo e tornar eficaz a
ajuda a prestar ao doente e a ela própria.

As etapas do alcoolismo são:

Consumo de risco: certas pessoas perdem o controle do consumo de álcool,


encontrando no álcool efeitos tão particulares e vantagens tão importantes de
ponto de vista psíquico e/ou social, que não conseguem prescindir dele. Daí
resulta um consumo de risco, pois o organismo habitua-se ao efeito do álcool,
arranjando assim inúmeros pretextos para beber em sociedade.

Consumo problemático: o indivíduo bebe cada vez mais para sentir os seus efeitos,
acabando por se afastar pouco a pouco dos outros e começa a perder interesse
pelas coisas. Bebe diariamente, muitas vezes às escondidas e luta para controlar o
consumo. Pessoas próximas tentam definir os seus limites e conseguem deste
modo viver alguns períodos de abstinência, se bem que infelizmente estes períodos
são geralmente de curta duração. Nesta fase o consumo começa a influenciar
negativamente a vida do indivíduo, as suas responsabilidades e o seu ambiente
familiar e profissional. Há assim um sério risco de alcoolismo.

A dependência: o álcool domina a vida do indivíduo que se tornou totalmente


dependente do álcool. Nesses casos bebe, para não sentir os efeitos da sua falta; o
seu organismo tem necessidade de álcool para funcionar “normalmente”. O
alcoólico perde as suas ambições, sentindo-se cada vez mais inseguro, provocado
pela dependência. As suas faculdades intelectuais diminuem e tem medos não
habituais, tornando-se desconfiado e retraído. A família sofre também as
consequências dessa mudança.

Com o decorrer dos anos, o abuso do álcool causa inúmeros desgastes na saúde. O
álcool é um tóxico para o organismo e destrói células. O consumo de grandes
doses de bebidas alcoólicas durante um longo período de tempo pode danificar a
maior parte dos órgãos vitais.

O processo de dependência alcoólica é lento e insidioso. Antes mesmo de ser

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reconhecida a dependência pode ter já provocado inúmeros danos e, em alguns
casos, a morte. Esta degradação do corpo é felizmente reversível, ou pelo menos
controlável, se o indivíduo parar de beber.

Os primeiros sinais da dependência são a deteriorização da percepção, da


coordenação e das funções motoras, podendo mesmo perder a memória, uma vez
que o cérebro é o órgão mais vulnerável.

Um alcoolismo de longa duração afecta o cérebro, o fígado, o coração e o


pâncreas, para além de aumentar o risco de cancro e atinge o sistema imunitário. A
verdade é que as defesas orgânicas diminuem, tornando o indivíduo vulnerável a
doenças graves.

Enfim, o alcoolismo pode conduzir a graves lesões orgânicas, cancros, doenças


infecciosas, acidentes, suicídios e a uma morte prematura.

As pessoas alcoólicas têm uma constante necessidade de justificar os seus


excessos relativamente às bebidas. Desenvolvem um mecanismo de defesa, a
negação, que lhes permite ignorar que se tornaram dependentes do álcool. Podem
assim afirmar que não têm problemas com as consequências desse consumo.

A negação é uma forma de esconder o problema a si próprio e aos outros. Com


efeito ele faz batota com a realidade. É por isso que se ouve dizer que “...os
alcoólicos são mentirosos”.

A negação é uma atitude muito comum, mesmo admitindo a existência de um


problema, os alcoólicos atribuem a causa a tudo, menos ao consumo de álcool (ex.:
“tenho problemas com o meu chefe, mas é porque ele não gosta de mim...”).

Eles confundem muitas vezes as causas e as consequências: “...se nós não


discutíssemos tanto, eu beberia menos”, assim, enquanto o alcoólico encontrar
desculpas para continuar a beber, ele não conseguirá abordar o seu verdadeiro
problema.

A maior parte das pessoas têm uma representação do alcoolismo que não
corresponde à realidade. Estes mitos e falsas ideias impedem uma melhor

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compreensão sobre a doença alcoólica e o seio da família, entre amigos ou no
meio laboral.

As justificações para se desviar do problema alcoolismo partem tanto da parte do


dependente como dos familiares, dos colegas de trabalho e da própria sociedade.
Por exemplo, os alcoólicos dizem:

“...mas eu bebo apenas cerveja” - a cerveja de 33cl tem tanto álcool como um copo
de vinho um cálice de aguardente.

“...mas eu tenho um bom emprego...” - a maioria dos alcoólicos estão ainda


inseridos profissionalmente, porque um bom local de trabalho não impede os
problemas com o álcool.

Já a família pensa, por exemplo, que:

“... Mas é uma pessoa tão simpática ...” - muitos alcoólicos são simpáticos e
agradáveis, uma vez que não existe “uma personalidade alcoólica”.

“Mas o nosso lar é tão afectuoso” - durante muito tempo os alcoólicos mantêm o
equilíbrio familiar.

“Mas ele quase nunca se embriaga” - são raros os alcoólicos que se embriagam,
visto beberem apenas o necessário para se sentirem bem.

No local de trabalho é usual ouvir-se:

“Mas ele é tão inteligente para ser alcoólico...” - não há qualquer ligação entre o
quotidiano e a doença alcoólica.

“Mas eu nunca o vi embriagado...” - as pessoas dependentes do álcool conseguem


muitas vezes esconder dos seus colegas e chefias as suas dependências.

“... Mas ele vem trabalhar todos os dias...” - muitos alcoólicos são assíduos ao
trabalho, chegando mesmo a dar a entender que estão em forma e a dissimular a
sua grande apetência para as bebidas.

Os preconceitos surgem também da sociedade, que acaba por passar a ideia que,
por exemplo, o alcoólico é “um vadio”. A maior parte dos dependentes do álcool é

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normal e respeitável. Só um pequeno número acaba na rua. Há também a
possibilidade de “ele não ter ar de alcoólico”. A verdade é que tal não existe e
mesmo que existisse o alcoólico saberia disfarçar bem, para não chamar à atenção.

Outra situação tem ligação a ser ou não ser de boas famílias. A doença alcoólica
afecta qualquer pessoa, independentemente do estrato social, familiar ou
económico. O meio familiar é um elemento importante da doença alcoólica,
porque os diferentes papéis de cada membro pode influenciar de maneira
determinante a evolução da doença.

Logo que se toma consciência do papel que cada um desempenha no mecanismo de


dependência, os familiares podem então reagir, modificar as suas atitudes e
distanciarem-se. Neste sentido, a família terá a possibilidade de influenciar
positivamente a evolução da dependência.

A maneira de viver do alcoólico afecta-o a si próprio e à sua família. As tensões e


a insegurança ocasionadas pelo seu comportamento influenciam todos e deterioram
o ambiente familiar.

Muitos membros da família desconfiam do doente alcoólico. Isto leva a numerosos


confrontos e conflitos, independentemente do facto de se beber ou não. Estas
desconfianças permanentes são desmoralizadoras.

Os doentes alcoólicos são frequentemente negligentes no que diz respeito às


responsabilidades familiares e sentimentos para com a família. O seu
comportamento põe também em risco o emprego e a economia familiar. Este facto
é causa de grande insegurança.

Uma família que luta com dificuldades imprevisíveis, vive um clima de stress e de
medo. Medo que o doente regresse à noite de novo embriagado, arriscando-se a um
acidente de condução ou irritado e violento. Medo de que a família se divida.

A família sente-se por vezes responsável pela alcoolização do doente. Cada um


pensa secretamente que “se eu fosse simpático, mais calmo para com ele, ele
beberia seguramente menos...”.

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As pessoas alcoólicas não são capazes de cumprirem as suas promessas. Assim,
também a família não se ilude, não esperando outra coisa do doente.

A lei do silêncio impõe á família não se pronunciar em conjunto, acerca do


problema do álcool. A comunicação fica perturbada e cada um fica sozinho face às
suas angústias.

O sentimento de vergonha leva a família a evitar os lugares onde possam ser vistos
com o familiar alcoólico. Esta vergonha vai também impedir a procura de ajuda no
exterior.

Os doentes alcoólicos exigem demasiado das suas famílias: paciência, coragem e


persistência. A cólera, a frustração e rancor aparecem. A unidade da família fica
em perigo.

É particularmente doloroso para os familiares ver quem amam modificar-se por


causa do álcool. Mais ainda se os esforços para o ajudarem não tiverem qualquer
efeito, levando ao afastamento.

A dependência desenvolve-se de forma dissimulada. Os familiares adoptam muitas


vezes papéis que acentuam, ainda que involuntariamente este fenómeno. Estes
papéis são muitas vezes uma adaptação inconsciente da família a uma situação
demasiadamente pesada. Eles trazem todos benefícios a curto prazo. Mas a longo
prazo prolongam e reforçam os comportamentos de dependência. É por isso que é
importante reconhecer estes papéis, a fim de os poder ultrapassar. O sistema
familiar pode assim reencontrar, com muita paciência e persistência, a sua
serenidade.

Os papéis mais observados na família onde há problemas ligados ao álcool, estão


descritos abaixo, no masculino, mas tanto podem ser adoptados por homens como
por mulheres.

O defensor: insinua-se muitas vezes na vida do alcoólico para o ajudar. Se um


indivíduo alcoólico é incapaz de trabalhar ou de cumprir uma obrigação, o
defensor estará lá para justificar a sua ausência e para o substituir no seu trabalho.
Estas atitudes vão ajudar a proteger o alcoólico das consequências desagradáveis.

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O Protector: assume tudo para que o alcoólico não seja responsabilizado. Neste
caso também é reforçado o comportamento abusivo do alcoólico.

O Revoltado: tenta, por uma conduta inadaptada, desviar a atenção da família para
outros aspectos que não o problema ligado ao álcool. Assim as crianças sentem-se
prisioneiros desta situação familiar, podendo reagir com maus resultados
escolares, com agressividade ou outros comportamentos excessivos.

O Herói: tenta desviar a atenção do problema com o álcool, adoptando um


comportamento exemplar. Ele espera secretamente que esta atitude ajude o
alcoólico a deixar de beber.

O Acusador: atribui ao álcool a causa de todos os problemas familiares. O


alcoólico torna-se o principal alvo, o que vai reforçar a raiva e a impotência da
pessoa dependente, dando-lhe novas razões para beber.

O Passivo, fechado em si próprio: é apático para se distanciar e se proteger da dor


e da culpa. Esta indiferença é um mecanismo de defesa muito profundo, que não
significa em caso nenhum, um desinteresse pelo doente alcoólico. A pessoa
passiva sofre interiormente, recusando-se a confrontar-se com o problema do
álcool e suas consequências.

(Fonte: Alcoologia.net e “Generalidades sobre o Alcoolismo”)

1.2. Abandono familiar do idoso

No decorrer de um plano de investigação sobre o abandono familiar do idoso


surgem questões pertinentes que complementam o estudo do tema escolhido.
Convém, por isso, começar por definir abandono, família e idoso, para além de
identificar as situações em que uma pessoa se sente abandonada.

Na procura da definição de abandono, surgem vários estudos direccionados ao


abandono na velhice. Estudos esses que chegam a uma conclusão básica:
“abandono é ser sozinho no mundo, estar só, sem ninguém para partilhar a vida,
para auxiliar durante a velhice. É sentir-se sozinho, ainda que rodeado de seres
humanos, pela falta de um bem-querer espontâneo e sincero, de carinho, de amor

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dos filhos, do aconchego da família, da intimidade com o outro. É não ter
ninguém por si. É não ter a presença dos familiares, de amigos, de companhia, de
visitas. É não ter filhos, não ter nada.” (Herédia, Vânia).

Mais difícil será definir família, dada a sua complexidade e actual mobilidade.
Enquanto Holstein e Gubrium (1999) procuram definir família a partir duma
abordagem “construcionista social”, Bernardes (1999) afirma que não se deve
definir a família, dado haver muitas classes de família.

Na verdade outros surgem com propostas para definir família, como Castellan
(1994, p. 5), que define família como “uma reunião de indivíduos unidos pelos
laços de sangue, vivendo sob o mesmo tecto ou num mesmo conjunto de
habitações e numa comunidade de serviços”.

Esta procura incessante de uma definição de família levou muitos a uma solução
fácil para o problema. Entendiam família como “um grupo social” que possuísse
“pelo menos três das características seguintes: a) tem origem no casamento; b) é
formado pelo marido, pela esposa e pelos filhos nascidos do casamento, ainda que
seja concebível que outros parentes encontrem o seu lugar junto do grupo
nuclear; c) os membros da família estão unidos por laços legais, direitos e
obrigações económicas, religiosas e de outro tipo, uma rede precisa de direitos e
proibições sexuais, além duma quantidade variável e diversificada de sentimentos
psicológicos, tais como amor, afecto, respeito, temor, etc” (Lévi Strauss in Levi-
Strauss, Gough e Spiro, 1977).

Outros estudos questionaram as teorias anteriores, se bem que foi a Organização


Mundial de Saúde (1994) que ampliou finalmente o conceito de família ao afirmar
que “o conceito de família não pode ser limitado a laços de sangue, casamento,
parceria sexual ou adopção. Qualquer grupo cujas ligações sejam baseadas na
confiança, suporte mútuo e um destino comum, deve ser encarado como família”.

Depois de definir abandono e família, resta-nos definir idoso. O que é uma pessoa
idosa ou da terceira idade? Mais do que a idade, contam certamente a saúde ou a
doença e outras variáveis que levam a considerar caso por caso. Todavia, em geral
considera-se pessoa idosa a que atingiu os 65 anos, embora haja estudos que

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contam já como idosos os que chegam aos 60 anos.

Com o passar do tempo, o organismo multicelular sofre mudanças fisiológicas,


sendo costume dividir em três fases a vida do organismo. Essas são, como referiu
Cancela, Diana (2007), “a fase do crescimento e desenvolvimento, a fase
reprodutiva e a senescência ou envelhecimento. Durante a primeira fase, ocorre o
desenvolvimento e crescimento dos órgãos especializados, o organismo vai
crescendo e adquirindo capacidades funcionais que o tornam apto a se reproduzir.
A fase seguinte é caracterizada pela capacidade de reprodução do indivíduo, que
garante a sobrevivência, perpetuação e evolução da própria espécie. A terceira
fase, a senescência, é caracterizada pelo declínio da capacidade funcional do
organismo.”.

A família é o contexto desejado para envelhecer, tal como é o lugar apetecível para
viver em todas as outras fases do desenvolvimento familiar. A família é um lugar
de aconchego, segurança, identidade e lembranças, independentemente da
dificuldade por que as relações passam.

Assim pode chegar-se a algumas situações que poderão fazer com que um
indivíduo se sinta abandonado. Quais são então essas situações? Abandono na
velhice é um sentimento de tristeza e de solidão, provocado por circunstâncias
relativas a perdas, as quais se reflectem basicamente em deficiências funcionais do
organismo e na fragilidade das relações afectivas e sociais, que por sua vez
conduzem a um distanciamento, podendo culminar no isolamento social.

Abandono é um sentimento de sofrimento trazido por essas circunstâncias, o que


impede o indivíduo de viver e conviver plenamente e de permanecer inserido na
família, no grupo e na cultura. Essa situação rompe o contacto vital com o mundo,
favorece a inércia do corpo e rouba a possibilidade de ser e de conhecer. O estar
indefeso, a falta de intimidade compartilhada e a pobreza de afectos e de
comunicação tendem a mudar estímulos de interacção social e de interesse com a
própria vida. Aparentemente, o idoso espera ser salvo desse sentimento, espera que
o seu grupo o acolha e permaneça com ele até à morte.

O idoso quer em vida o acolhimento, a presença, o amor dos seus. Ele quer

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compatilhar a experiência e o conhecimento que construiu ao longo da sua
existência. Quer entender as contradições que o envolvem, o porquê da distância
emocional entre as pessoas do seu grupo familiar e social e seus sentimentos, o
que o separa dos outros no momento em que precisa ser apoiado para a travessia
que envolve o processo da morte.

Ser deixado de lado, ser ignorado provoca o sentimento de abandono. Esse


sentimento pode revelar-se no seio da família e no meio social, e ser provocado
pela fragilidade das relações, negligência, perdas afectivas, doença ou ausência de
trabalho.

A família é o meio natural de inserção do ser humano. Quando há ausência ou


rompimento dessa inserção, o idoso sente-se ignorado, desvalorizado, excluído. A
família é a esperança do idoso como forma de manutenção das relações familiares
e das possibilidades de evitar o isolamento. Como a família é o grupo através do
qual o ser humano é gradativamente inserido no mundo, ela representa o vínculo
do indivíduo com a sociedade. Dessa maneira, carrega valores que sustentam essa
relação de estar com, de estar junto. O grupo constitui-se ainda no espaço de
ligação entre os seus membros. A família pode ser uma solução para evitar o
sentimento de abandono, mas não garante necessariamente que esse sentimento
não exista. Pelo contrário, depende dos vínculos estabelecidos ao longo da vida e
da força dessas relações.

A família é o primeiro referencial de socialização e de estabelecimento de


vínculos, sendo responsável pelo equilíbrio físico, psíquico e afectivo. O idoso
espera que a família o mantenha e cumpra com o papel estabelecido pela
sociedade, mesmo que conheça a família e saiba e os seus limites. Crê que esse
grupo social será o seu cuidador final e que lhe dará a atenção necessária para
enfrentar as agruras que a vida impõe. Essa crença é fortificada pela intensidade
das relações pessoais estabelecidas com o grupo familiar.

Quando os laços afectivos são frágeis ou não existem, quando falta amor, quando
existem perguntas sem resposta ou conversas sem atenção, o idoso é deixado de
lado pelos filhos, pelos familiares e pelos amigos. A sua presença participativa,

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cooperativa e operativa é ignorada, não havendo convívio familiar nem espaço
para partilhar – dar e receber atenção. A oportunidade de integração é-lhe negada,
ficando sem apoio e carinho e sentindo-se negligenciado afectiva e socialmente.

A perda das forças, o aparecimento de doenças, as dificuldades para estabelecer e


manter um diálogo são acontecimentos que podem levar o idoso ao abandono. São
agravantes dessa situação o facto de não ter condições de saúde para manter
relações sociais fora do seu meio familiar e as dificuldades financeiras.

Da mesma forma, a dependência, que gera a necessidade de cuidados especiais e


de auxílio para a realização das actividades de vida diária, pode fazer com que o
idoso seja deixado de lado pelos familiares, sem que lhe seja dispensada a atenção
necessária. Nessas situações é habitual o idoso ser afastado da família e colocado
numa instituição de longa permanência.

O abandono dá-se mais facilmente na velhice, quando o idoso não pode trabalhar.
Perder o estatuto de trabalhador é perder a consideração: não vale quem não
produz. Perde o seu papel e, muitas vezes, vê-se numa situação de dependência
financeira, que deve ser suprida pelos filhos ou familiares mais próximos. Por isso
pode ser excluído da família, desvalorizado ou tratado com desrespeito.

Enquanto há saúde, maior a probabilidade da manutenção da independência e da


autonomia, que proporcionam à pessoa mais facilidade e disposição para preencher
o tempo, manter relações sociais, realizar actividades pessoais. A doença, além de
trazer sofrimento, provoca o estado de dependência e de inutilidade, a necessidade
de cuidados e pode aproximar a possibilidade do abandono.

Se a família não estiver fortalecida pela convivência e por laços afetivos, a


presença da doença e das dificuldades dela advindas pode provocar tristeza,
amargura, angústia, desânimo, melancolia e a constatação de que o abandono é
algo cruel, injusto, ruim. Maltratar o idoso, deixá-lo sem apoio, passando por
necessidades e sem alguém que cuide dele, é abandoná-lo.

A longevidade pode trazer transformações negativas de ordem física, cognitiva,


afectiva, social que levam à dependência e à falta de autonomia, condenando o

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indivíduo a perder a liberdade, a memória, familiares, amigos, afectos e relações.
Esta situação foi identificada há muito, conforme se verifica na Conferência
Episcopal Portuguesa de 2004, abaixo transcrita.

“A evolução médico-científica, a melhoria da higiene, da salubridade e das


condições de vida globais, provocaram o aumento da esperança de vida. Como
consequência, aumentou significativamente o número de pessoas idosas na
sociedade actual. Trata-se de uma questão que, além do seu impacto óbvio nas
estruturas sociais, laborais e económicas, tem também consequências sérias na
comunidade familiar.

Muitos idosos, por vontade própria ou por exigência das circunstâncias, vivem
sozinhos, numa situação de especial vulnerabilidade. Por vezes, essa realidade
significa pobreza, isolamento, solidão, esquecimento, tristeza e desamparo,
apesar do apoio e do acompanhamento das instituições de solidariedade social
públicas e privadas. (...) As suas carências económicas não lhes permitem, muitas
vezes, o acesso a determinados bens de primeira necessidade – nomeadamente aos
cuidados de saúde – nem o aproveitamento do tempo de lazer a que têm direito.

Muitos idosos estão, felizmente, integrados em comunidades familiares mais


alargadas, constituídas pelos seus descendentes. […] A sua presença e a sua
afectividade são particularmente importantes no apoio, no acompanhamento e na
transmissão de valores às gerações mais jovens da comunidade familiar.

As necessidades particulares dos idosos dependentes — por motivo de deficiência


profunda, doença grave ou idade avançada — constituem, contudo, uma realidade
a que as famílias nem sempre conseguem dar a resposta adequada. A exiguidade e
a falta de condições do espaço familiar, a dificuldade — por parte dos filhos —
em conciliar a vida profissional com o acompanhamento dos pais em situação de
dependência, constituem uma grave dificuldade experimentada por muitas
famílias.”

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2. Modelo de Análise

2.1. Tema

O tema escolhido para este plano de investigação, como já foi adiantado


anteriormente, é “O alcoolismo e o abandono familiar do idoso”. O que se
pretende com esta investigação é apurar o impacto que o alcoolismo, na vida de
uma família, tem no apoio familiar numa situação de velhice.

Assim, a investigação parte de uma questão principal relacionando uma vida


marcada pelo alcoolismo ou Síndrome de Dependência de Álcool e a decisão por
parte da família em apoiar essa pessoa numa situação de velhice.

2.2. Objectivos da Investigação

O objectivo geral deste plano de investigação é apurar o impacto que o


alcoolismo, na vida de uma família, tem no apoio familiar numa situação de
velhice.

Os objectivos específicos deste plano de investigação são:

Conhecer o impacto do alcoolismo no seio familiar.

Identificar as razões que levam ao abandono do idoso.

Descobrir medidas de prevenção ou de correcção de distúrbios familiares.

2.3. Questões de análise

A investigação pretende responder a três questões básicas:

1. Qual o impacto que o alcoolismo tem no seio familiar e no abandono do idoso?

2. Que apoio poderá esperar um idoso, que durante a sua vida marcou o seu
agregado familiar devido a uma dependência alcoólica?

3. Que direito terá a família de negar apoio a um idoso, mesmo com toda a
bagagem que o mesmo provocou na família?

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2.3. Dimensões de análise

Pretende-se realizar esta investigação junto de 20 idosos e 40 familiares (dois de


cada idoso entrevistado) que obedeçam aos seguintes critérios:

Idosos:

- vida marcada pelo alcoolismo – ex-alcoólicos, actuais alcoólicos;

- idade entre os 65 e os 90 anos;

- residentes na freguesia de Rio Meão do concelho de Santa Maria da Feira.

Familiares:

- familiares dos idosos entrevistados;

- idade acima dos 18 anos;

- com grau de parentesco ao nível do conjuge e descendentes directos.

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3. Metodologia

No dicionário online da Porto Editora, inquérito é definido como “acto ou efeito


de inquirir; pesquisa metódica baseada em questões e recolha de testemunhos;
investigação; sondagem da opinião pública sobre uma questão política, social ou
económica ou indagação”. Da etimologia da palavra extrai-se a ideia de que é um
processo em que se tenta descobrir alguma coisa de forma sistemática (Carmo,
Hermano e Ferreira, Manuela Malheiro – 2008).

Num plano de investigação esta expressão é usada de uma forma precisa para
designar processos de recolha sistematizada, no terreno, de dados susceptíveis de
poder ser comparados.

Existem dois tipos de inquérito que podem ser utilizados no decorrer de uma
investigação em ciências sociais, como por exemplo: inquérito por entrevista e
inquérito por questionário. O principal factor distintivo entre os dois tipos de
inquérito está na presença do entrevistador no inquérito por entrevista, sendo que
o inquérito por questionário é administrado à distância.

Mediante o tema escolhido, a metodologia utilizada neste plano de investigação é


o inquérito por entrevista. O que se pretende com a utilização desta metodologia é
ter uma interacção directa com o entrevistado, proporcionando assim um maior
grau de profundidade dos elementos de análise recolhidos. Para além disso, a
flexibilidade e a fraca directividade do inquérito por entrevista permite recolher os
testemunhos e as interpretações dos interlocutores, respeitando os próprios
quadros de referência, ou seja, a sua linguagem e as suas categorias mentais.

Neste plano de investigação detectou-se duas fontes fundamentais de informação,


o idoso com uma vida marcada pelo alcoolismo e respectiva família. Visto terem
vivências distintas da problemática escolhida, parece importante distinguir a forma
de recolha das mesmas. Assim, com o idoso será levada a cabo uma entrevista
semi-directiva ou semi-dirigida e com a família será a entrevista centrada.

A entrevista semi-directiva ou semi-dirigida não é inteiramente aberta nem


encaminhada por um grande número de perguntas precisas. Aqui pretende-se ter

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uma série de perguntas guia, relativamente abertas, a propósito das quais é
imperativo receber uma informação por parte do idoso, respeitando sempre a
espontaneidade deste. Nesse sentido, pretende-se deixar fluir o diálogo para que o
idoso possa falar abertamente, com as palavras que desejar e pela ordem que lhe
convier. Ter-se-á sempre como linha condutora os objectivos pré-estabelecidos,
para evitar desvios, muito frequentes no decorrer de uma entrevista.

“A entrevista centrada tem por objectivo analisar o impacto de um acontecimento


ou de uma experiência precisa sobre aqueles a que a eles assistiram ou que neles
participaram; daí o seu nome.” (Quivy, Raymond e Campenhoudt, LucVan –
1995).

Assim é desenvolvida uma lista de tópicos relativos ao tema escolhido para


orientar a entrevista realizada com os familiares do idoso marcado pelo
alcoolismo. Os tópicos listados devem ser abordados necessariamente durante a
entrevista, se bem que de um modo livre escolhido no momento de acordo com o
desenrolar da conversa. Pretende-se com isto obter mais informações sobre os
laços familiares existentes e detectar indicadores de um potencial abandono e
exclusão familiar e social.

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Considerações Finais

O tema escolhido para este Plano de Investigação foi o “Alcoolismo e o Abandono


Familiar do Idoso”, tendo início na questão “Qual o impacto que o alcoolismo tem
no seio familiar e no abandono do idoso?”.

Nesse sentido foi desenvolvida uma vasta pesquisa sobre o alcoolismo, o


abandono, a família e o idoso, procurando fundamentar teoricamente todo o plano
de investigação que daí nascesse.

Mediante a pesquisa desenvolvida, pode concluir-se que o alcoolismo provoca


distúrbios físicos e emocionais no alcoólico, levando assim a uma desvinculação
afectiva por parte dos restantes elementos da família e a um afastamento de
elementos que fazem parte do seu quotidiano profissional e social.

Assim, verifica-se que, numa situação de dependência na velhice, existe uma


grande probabilidade da família não reconhecer o dever de apoiar o familiar em
causa.

Por fim, sabendo-se que o alcoolismo é transversal, nota-se que o


acompanhamento dado ao alcoólico e à família é mais na ordem física, ou seja, há
uma preocupação em tratar o doente fisicamente e esquece-se a parte emocional e
familiar, que acaba sempre por levar a uma exclusão.

Ainda que haja uma intervenção a nível médico, é também fundamental


acompanhar e dotar a família de ferramentas de prevenção e de reacção, para além
de todo o apoio emocional ao alcoólico.

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Bibliografia

CARMO, Hermano e FERREIRA, Manuela Malheiro - Psicologia da Família


(Lisboa, Universidade Aberta, 2008)

Citação de BERNARDES - Psicologia da Família (Lisboa, Universidade Aberta,


2008)

Citação de CASTELLAN - Psicologia da Família (Lisboa, Universidade Aberta,


2008)

Citação de HOLSTEIN e GUBRIUM - Psicologia da Família (Lisboa,


Universidade Aberta, 2008)

Citação de LÉVI-STRAUSS - Psicologia da Família (Lisboa, Universidade Aberta,


2008)

Citação de OMS – Organização Mundial de Saúde - Psicologia da Família (Lisboa,


Universidade Aberta, 2008)

GUARDINI, Romano - As idades da vida (São Paulo, Quadrante Editora, 1990)

PROVOST, Robert - Generalidades sobre o Alcoolismo (Lisboa, Editora Piaget,


1977)

RINPOCHE, Chagdud Tulku - Vida e morte no Budismo tibetano (São Paulo, Palas
Athena, 2000)

SOUSA, Liliana; FIGUEIREDO, Daniela; CERQUEIRA, Margarida - Envelhecer


em família (Porto, Âmbar Ideias no Papel, S.A., 2004)

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Sitografia

Alcoologia.net: http://alcoologia.net

Cancela, Diana: http://www.psicologia.com.pt

Conferência Episcopal Portuguesa (2004) Carta Pastoral A Família, esperança da


Igreja e do mundo: http://pastoralfamiliarporto.planetaclix.pt

Herédia, Vânia: http://www.unati.uerj.br

JOÃO PAULO II, Papa. (2000) Carta aos anciãos: http://www.vatican.va

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