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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) – Departamento de História

Disciplina: HH587A – História Contemporânea I.

Profª Raquel G. A. Gomes

1º semestre de 2018

Iara Gabriela de Oliveira RA: 169748

“A moça do internato” e a ideia de uma nova mulher

Há alguns milhares de anos que as perfeições se sacrificam!


Nadiêjda Khvoschínskaia

Este trabalho busca explorar alguns pontos da obra “A moça do internato”


escrita pela russa Nadiêjda Khvoschínskaia1 (1824 – 1889) em 1861 a partir da
tradução para o português efetuada por Odomiro Fonseca em 2017.

N.K. nasceu em Riazan, cidade provincial da Rússia, era filha de um


funcionário público e tinha três irmãs, cuja duas também eram escritoras, e um
irmão. Sua infância é considerada atípica por Diana Greene, pois ela recebia
apoio familiar para estudar italiano, música, desenho, latim, francês, etc. Além
desse suporte inicial, a família de N.K. incentivou a escrita de poesia. A poesia,
publicada e assinada com o próprio nome, acabou sendo deixa de lado pela
escritora e também pela posterioridade que a reconhece mais como escritora de
prosa, crítica e tradutora. Greene aponta que os biógrafos tiveram dificuldade de
construir uma narrativa para a vida de N.K. pelo sucesso que ela alcançou ser
incompatível com as expectativas da época. Discutiu-se seus hábitos e
condutas, sua feminilidade e sua sexualidade. Alguns biógrafos também se
preocuparam em contabilizar os ganhos financeiros obtidos por N.K. já que esta
conseguia sustentar mãe, irmã, dois sobrinhos, tias e marido. Greene cogita se
o abandono da poesia não estaria relacionado a estas questões financeiras já

1Existem diversas variações da grafia do nome “Nadiêjda Khvoschínskaia”. Aqui foi escolhida a
versão apresentada na tradução de Fonseca. Para facilitar a leitura, a escritora será chamada
por N.K. ao longo do texto.
que o rendimento das publicações dava pouquíssimo retorno. Como escritora de
prosa, N.K. publicou utilizando-se de pseudônimos, o que leva Greene a
questionar quais seriam os espaços da escrita na Rússia Imperial, ou seja, se os
espaços destinados a poesia e a prosa seriam diferentes. A pesquisadora propõe
alguns pontos a serem considerados para compreender esses diferentes
espaços, ente eles, a visão da poesia como espaço do sentimentalismo e por
tanto mais acessível as mulheres enquanto a prosa, especialmente a realista,
era mais dependente da racionalidade, característica tida como essencialmente
masculina. (GREENE, 2004).

Para Catriona Kelly, N.K. foi a primeira escritora realista do século XIX e
acabou sendo esquecida após a sua morte, mas atualmente vem ganhando
espaço entre os estudiosos (KELLY, 2003). Segundo Demidova, o romantismo
na literatura russa foi influenciador da escrita feminina no século XIX e uma
quantidade significativa de obras publicadas sob nomes femininos aumentou o
interesse pela escrita de mulheres a partir da década de 1820. (DEMIDOVA,
1996). Sally Livingston reconhece que o público de N.K. era principalmente de
mulheres provincianas e que por volta dos anos 1870 foi uma das mais bem
pagas escritoras, ficando atrás apenas de Turgenev e Tolstoy (LIVINGSTON,
2012).

“A moça do internato” foi escrito em um período muito particular para as


mulheres na Rússia. No centro do debate público encontrava-se o que ficou
conhecido como “questão das mulheres”. Barbara Alpern Engle identifica que o
período do czar Alexandre II (1855 – 1881) foi de muita mudança para a
comunidade russa, exemplo dessa mudança é o fim da servidão em 1861.
Segundo a historiadora, a crítica social estava questionando o papel da mulher
na sociedade e notando que o sistema educacional pouco contribuía para o
desenvolvimento desses sujeitos. Entretanto a crítica divergia quando pensava
qual a contribuição que as mulheres poderiam trazer para a construção de uma
nova ordem social. Deveriam elas se devotar as suas famílias e serem as
responsáveis pela criação de novos cidadãos ou elas deveriam ter um papel
mais amplo na sociedade? (ENGEL, 2004).

Arja Rosenholm busca entender como que a questão da emancipação da


mulher forneceu (ou não) espaços para que as mulheres escritoras
expressassem o mundo a partir de suas experiências. Porém, através de suas
pesquisas pontua que

Houve aceitação que as mulheres necessitavam de educação,


porque poderia ser integrada a uma ideologia social e política
dominada pelos homens - e, por outro lado, as mulheres
puderam legitimar suas próprias demandas por referência ao
discurso, mas somente através dos homens que decretaram o
que constituía a educação das mulheres. O debate jornalístico
foi conduzido quase que exclusivamente por homens.
(ROSENHOLM, 1996, p. 115)2

Se o jornalismo era espaço majoritariamente de homens já que a socialização


das mulheres e sua educação as afastavam do espaço social e profissional dos
homens, a escritora afirma que as mulheres produziam suas formulações através
das belles-lettres. Para ela, a obra de N.K. aqui estudada é um exemplo de uma
contribuição escrita por uma mulher que buscava definir o que seria essa “nova
mulher” instruída e emancipada da segunda metade do século XIX. Isto se dá,
pois, como aponta Odomiro Fonseca, N.K. aborda na sua obra “[...] três temas
da Questão Feminina: educação, casamento e reconhecimento profissional [...]”
(FONSECA, 2017, p. 14).

Concentremo-nos agora no romance. Com exceção do capítulo final, a


história acontece na cidade de N., uma cidade provinciana genérica, e trata dos
anos formativos da jovem Liôlienka. A primeira aproximação do leitor com a
personagem se dá pela visão de Veretítsin e Ibráiev. O primeiro era vizinho de
Liôlienka, morava com a família de sua irmã e havia sido transferido de Moscou
onde lecionava para N. onde recebeu um cargo de copista na administração
pública sob vigilância policial. Os motivos dessa transferência não ficam
explícitos para o leitor. O segundo era um antigo conhecido e recém-chegado na
cidade para ocupar um cargo na administração pública com caráter promissor.
Ambos, enquanto caminham pelo jardim, veem Liôlienka estudando através da

2 Tradução livre. No original: “There was acceptance of women's need for education because it
could be integrated into a male-dominated social and political ideology - and conversely, women
were able to legitimize their own demands through reference to the discourse, but only via the
men who decreed what constituted women's education. The journalistic debate was conducted
almost exclusively by men.”
cerca e Veretítsin resolve atormentá-la, como se seu aborrecimento não pudesse
conviver com a calma e felicidade aparente que vinha do outro lado da cerca.

Veretítsin provoca Liôlienka questionando-a sobre seus estudos. A garota


se preparava para os exames da escola e o vizinho a provoca sobre os motivos
da sua dedicação que a seu ver era voltada para trazer alegria para os pais assim
como todas as outras ações que ela realizava:

Veja, agora você já está começando a substituí-los com as crianças mais


novas: você, para eles, é como uma professora; você será sempre boa
e carinhosa: tudo isso para o deleito do seu pai e sua mãe. Eu sei disso
tão bem que tô quase a cumprimentando por ser tão obediente, preciosa
e gentil: você cumpre maravilhosamente bem sua missão. Sempre se
comporte assim. Viva inteiramente para seu pai e sua mãe. Entristeça-
se ara alegrá-los. Enfie a cara nos livros, trabalhe e faça tudo que tiver
que fazer, de viver ao bel-prazer. Quando fali do novíssimo chapéu de
sol branco, eu estava imaginando a alegria da sua mãe escolhendo você
de acordo com o gosto dela, e eu quis precavê-la a não questioná-la. É
a alegria da sua mãezinha, não interfira. E quando eles a apresentarem
em público claro, os pais e mães dos seus coleguinhas ficarão se
questionando por que Deus não deu a graça de terem uma filha tão
encantadora quanto você. Se você encontrar suas amigas, lógico que
você não vai revelar que triunfo de seus pais veio à custa de sua
tristeza... (KHOVOSCHÍNSKAIA, 2017, p. 51)

De acordo com Catriona Kelly, “A moça do internato” é uma obra que pode
ser considerada um “Conto Provincial”. Esta forma de escrita enfatiza as ações
externas contadas do ponto de vista do escritor onisciente em terceira pessoa
(LIVINGSTON, 2012). As cenas que passam a se desenvolver no jardim e na
cerca mostram a ação externa sobre Liôlienka. A personagem chega a afirmar
para Veretítsin: “Graças a você, eu comecei a pensar, a ver o mundo e a
entender como ele é terrível... Como minha mãe, minha casa, meu pai... Agora
eu sou uma infeliz!” (KHOVOSCHÍNSKAIA, 2017, p. 144). As conversas com o
vizinho e a troca de livros iniciam um processo de transformação na jovem que
decide fracassar nos exames finais por não encontrar mais sentido naquela
forma de estudo e na competitividade que se estabelecia entre as colegas de
turma.
O desenrolar da história nos conta que a família de Liôlienka planejava
casá-la com um rapaz da cidade. Somos apresentados a sua tia e madrinha que
morava em São Petersburgo, pois seus pais pediram o dote para este familiar.
Enquanto estes tramites para o casamento estão acontecendo com a ajuda da
colega de sua mãe, Pelagueia Semiônova, Liôlienka encontra-se muito abatida
com a represália que sofria na casa por ter falhado nos estudos, com a ausência
de Veretítsin e com as confissões amorosas que ele havia feito a sua amada
Sophie Khmeliévski e que a jovem ouviu através da cerca.

O capítulo XII, penúltimo capítulo da história, se encerra com uma


discussão entre os vizinhos que deixa Liôlienka muito abalada. Sua mãe e
Pelagueia Semiônova a encontram aos prantos e tentam acalmá-la contando
que ela irá se casar com um homem “bonitão”,

E um homem dos mais maravilhosos! Com posses. Você viverá


entre as damas da sociedade. Agradeça a Deus, que enviou um
pretendente desses! Você mesma é o que? As pessoas têm
vergonha de você. Isso é uma dádiva divina! Para que rugir? [...].
Então, esse é um motivo para que você se alegre pelo dia todo.
Mas, mesmo que você não se alegre, a darei em casamento de
todo jeito. Eu contarei isso ao seu pai, assim que ele chegar,
portanto trate de se alegrar! Seu pai não gosta de gracinhas e
você ainda não o conhece de verdade. (KHOVOSCHÍNSKAIA,
2017, p. 143).

Apesar do apelo e ameaça da mãe, Liôlienka é convicta em dizer: “Mamãe, pode


me matar aqui mesmo onde estou, mas eu não me casarei com Farfórov!”
(KHOVOSCHÍNSKAIA, 2017, p. 143).

Catriona Kelly afirma que os “Contos Provinciais” seguem um enredo que


termina com o escape pelo casamento ou o espace do casamento. O capítulo
seguinte e final muda o tempo e o espaço da história e insere a obra no segundo
grupo apontado por Kelly. Somos levados para São Petersburgo oito anos
depois. Veretítsin encontra Liôlienka nos salões do Hermitage trabalhando na
cópia pinturas. Eles caminham até a casa dela conversando sobre o passado e
os rumos que as vidas tomaram. Liôlienka busca se afastar do seu passado,
não fala de seus pais e considera a família uma escravidão. O diálogo se torna
mais acalorado quando Liôlienka pergunta sobre Sophie Khmeliévski e Veretítsi
conta que ela se casou com “um bom homem, senhor de terras m N.”. Liôlienka
se irrita por seu convidado ver em Sophie uma mulher perfeita enquanto ela
enxerga “uma mulher que vendeu a própria vontade”. Essa conversa abre
espaço para que Liôlienka critique não só a atitude de Sophia, mas a cultura do
casamento e como ele exige uma renúncia de si mesma por parte das mulheres.
Sophia, para ela, passou de uma mulher talentosa para uma mulher subjugada.
O final da obra nos apresenta a imagem

[...] de uma mulher independente, preenchida por trabalho e


estudo e não por uma família. Ao rejeitar a ideia de Veretítsin de
uma mulher perfeita, Liôlienka está, de fato, fechando o círculo
que começou no jardim. Ela não precisa mais que ele seja o
único modelo de vida alternativa. Sua jornada física e
psicológica para o mundo exterior permitiu-lhe sentir-se livre no
que antes era o mundo claustrofóbico da casa. Ao rejeitar o
enredo matrimonial, Lelenka adotou um que é muito mais
satisfatório (LIVINGSTON, 2012, p. 152)3.

Rosenholm aponta que o final não agradou a crítica contemporânea que


afirmou que a visão de liberdade de Liôlienka era sem espírito e egoísta pela
ausência de final feliz. No entanto, a escritora argumenta que é exatamente pelo
contexto da obra e pela ambiguidade da noção de liberdade que o final não se
faz feliz: ser livre tem o custo da solidão (ROSENHOLM, 1996). Já Joe Andrew
vê a cena final com outros olhos. Para ele, a personagem está sozinha porque
sempre esteve sozinha. Em casa a mãe se ocupava do ambiente doméstico e
suas extensões, como a casa de famílias conhecidas que visitava, enquanto
Liôlienka preferia estar no jardim. Na escola ela não era próxima das suas
colegas e não entendia a competitividade que existia. No jardim, depois que suas
decisões começam a ter um peso emocional gigantesco, ela se depara com a
ausência do vizinho. O escritor conclui que talvez ela deva estar sozinha: “Ela se

3 Tradução livre. No original: “We are left with the picture of an independent woman, fulfilled by
work and study rather than by a family. By rejecting Veretitsyn’s idea of a perfect woman, Lelenka
is, in fact, closing the circle that began in the garden. She no longer needs him to be the only
model of an alternative life. Her physical and psychological journey into the outside world has
enabled her to feel free in what was once the claustrophobic world of the
home. In rejecting the marriage plot, Lelenka has, instead, adopted one
that is much more satisfying.”
tornou seu verdadeiro eu, por mais solitária que possa parecer” (ANDREW,
2007, p. 124)4.

Fonte

KHOVOSCHÍNSKAIA, Nadiêjda. A moça do internato. Porto Alegre: Zouk,


2017.

Referências Bibliográficas

ANDREW, Joe. ‘A Room of One’s Own’, Part I: Narrative, Space and Gender in
The Boarding-School Girl. In: ____. Narrative Space and Gender in Russian
Fiction: 1846-1903. New York: Rodopi, 2007.

DEMIDOVA, Ol’ga. Russian woman writers of the nineteenth century. In:


MARSH, Rosalind. Gender and Russian Literature: New Perspectives.
Cambridge University Press, 1996.

ENGEL, Barbara Alpern. Reformers and Rebels. In: ____. Women in Russia,
1700 – 2000. Cambridge University Press, 2004.

____. The Petrine Revolution. Reform and Reaction. In: ____. Women in
Imperial, Soviet, and Post- Soviet Russia. Washinton, D.C.: American
Historical Asosciation, 1999.

GRENE, Diana. Nadezhda Khvoshchinskaia. In: ____. GREENE,


Diana. Reinventing romantic poetry: Russian women poets of the mid-
nineteenth century. University of Wisconsin Press, 2004.

HUTTON, Marcelline. Nadezhda Khvroshchinskaya. In: ____. Remarkable


Russian Women in Pictures, Prose and Poetry. Lincoln: Zea Books, 2013.

KELLY, Catriona. The Slavonic and East European Review. The Slavonic and
East European Review, vol. 81, no. 3, 2003, pp. 530–532.

LIVINGSTON, Sally. Mid-nineteenth-century Russia: Women Writers Reject the


Marriage Plot. In: ____. Marriage, Property, and Women's Narratives. New
York: Palgrave Macmillan, 2012.

4
Tradução livre. No original: “ She has become her true self, however lonely a position that may
seem.”
FONSECA, Odomiro. Prefácio. In: KHOVOSCHÍNSKAIA, Nadiêjda. A moça do
internato. Porto Alegre: Zouk, 2017.

ROSENHOLM, Arja. The ‘qoman question’ of the 1860s, and the ambiguity of the
‘learned woman’. In: MARSH, Rosalind. Gender and Russian Literature: New
Perspectives. Cambridge University Press, 1996.

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