Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
1º semestre de 2018
1Existem diversas variações da grafia do nome “Nadiêjda Khvoschínskaia”. Aqui foi escolhida a
versão apresentada na tradução de Fonseca. Para facilitar a leitura, a escritora será chamada
por N.K. ao longo do texto.
que o rendimento das publicações dava pouquíssimo retorno. Como escritora de
prosa, N.K. publicou utilizando-se de pseudônimos, o que leva Greene a
questionar quais seriam os espaços da escrita na Rússia Imperial, ou seja, se os
espaços destinados a poesia e a prosa seriam diferentes. A pesquisadora propõe
alguns pontos a serem considerados para compreender esses diferentes
espaços, ente eles, a visão da poesia como espaço do sentimentalismo e por
tanto mais acessível as mulheres enquanto a prosa, especialmente a realista,
era mais dependente da racionalidade, característica tida como essencialmente
masculina. (GREENE, 2004).
Para Catriona Kelly, N.K. foi a primeira escritora realista do século XIX e
acabou sendo esquecida após a sua morte, mas atualmente vem ganhando
espaço entre os estudiosos (KELLY, 2003). Segundo Demidova, o romantismo
na literatura russa foi influenciador da escrita feminina no século XIX e uma
quantidade significativa de obras publicadas sob nomes femininos aumentou o
interesse pela escrita de mulheres a partir da década de 1820. (DEMIDOVA,
1996). Sally Livingston reconhece que o público de N.K. era principalmente de
mulheres provincianas e que por volta dos anos 1870 foi uma das mais bem
pagas escritoras, ficando atrás apenas de Turgenev e Tolstoy (LIVINGSTON,
2012).
2 Tradução livre. No original: “There was acceptance of women's need for education because it
could be integrated into a male-dominated social and political ideology - and conversely, women
were able to legitimize their own demands through reference to the discourse, but only via the
men who decreed what constituted women's education. The journalistic debate was conducted
almost exclusively by men.”
cerca e Veretítsin resolve atormentá-la, como se seu aborrecimento não pudesse
conviver com a calma e felicidade aparente que vinha do outro lado da cerca.
De acordo com Catriona Kelly, “A moça do internato” é uma obra que pode
ser considerada um “Conto Provincial”. Esta forma de escrita enfatiza as ações
externas contadas do ponto de vista do escritor onisciente em terceira pessoa
(LIVINGSTON, 2012). As cenas que passam a se desenvolver no jardim e na
cerca mostram a ação externa sobre Liôlienka. A personagem chega a afirmar
para Veretítsin: “Graças a você, eu comecei a pensar, a ver o mundo e a
entender como ele é terrível... Como minha mãe, minha casa, meu pai... Agora
eu sou uma infeliz!” (KHOVOSCHÍNSKAIA, 2017, p. 144). As conversas com o
vizinho e a troca de livros iniciam um processo de transformação na jovem que
decide fracassar nos exames finais por não encontrar mais sentido naquela
forma de estudo e na competitividade que se estabelecia entre as colegas de
turma.
O desenrolar da história nos conta que a família de Liôlienka planejava
casá-la com um rapaz da cidade. Somos apresentados a sua tia e madrinha que
morava em São Petersburgo, pois seus pais pediram o dote para este familiar.
Enquanto estes tramites para o casamento estão acontecendo com a ajuda da
colega de sua mãe, Pelagueia Semiônova, Liôlienka encontra-se muito abatida
com a represália que sofria na casa por ter falhado nos estudos, com a ausência
de Veretítsin e com as confissões amorosas que ele havia feito a sua amada
Sophie Khmeliévski e que a jovem ouviu através da cerca.
3 Tradução livre. No original: “We are left with the picture of an independent woman, fulfilled by
work and study rather than by a family. By rejecting Veretitsyn’s idea of a perfect woman, Lelenka
is, in fact, closing the circle that began in the garden. She no longer needs him to be the only
model of an alternative life. Her physical and psychological journey into the outside world has
enabled her to feel free in what was once the claustrophobic world of the
home. In rejecting the marriage plot, Lelenka has, instead, adopted one
that is much more satisfying.”
tornou seu verdadeiro eu, por mais solitária que possa parecer” (ANDREW,
2007, p. 124)4.
Fonte
Referências Bibliográficas
ANDREW, Joe. ‘A Room of One’s Own’, Part I: Narrative, Space and Gender in
The Boarding-School Girl. In: ____. Narrative Space and Gender in Russian
Fiction: 1846-1903. New York: Rodopi, 2007.
ENGEL, Barbara Alpern. Reformers and Rebels. In: ____. Women in Russia,
1700 – 2000. Cambridge University Press, 2004.
____. The Petrine Revolution. Reform and Reaction. In: ____. Women in
Imperial, Soviet, and Post- Soviet Russia. Washinton, D.C.: American
Historical Asosciation, 1999.
KELLY, Catriona. The Slavonic and East European Review. The Slavonic and
East European Review, vol. 81, no. 3, 2003, pp. 530–532.
4
Tradução livre. No original: “ She has become her true self, however lonely a position that may
seem.”
FONSECA, Odomiro. Prefácio. In: KHOVOSCHÍNSKAIA, Nadiêjda. A moça do
internato. Porto Alegre: Zouk, 2017.
ROSENHOLM, Arja. The ‘qoman question’ of the 1860s, and the ambiguity of the
‘learned woman’. In: MARSH, Rosalind. Gender and Russian Literature: New
Perspectives. Cambridge University Press, 1996.